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Noções de Direito

Prof.ª Danielle Boppré de Athayde Abram

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Prof.ª Danielle Boppré de Athayde Abram

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

34
A158n Abram, Danielle Boppré de Athayde
Noções de direito/ Danielle Boppré de Athayde Abram.
Indaial: Uniasselvi, 2013.
181 p. : il

ISBN 978-85-7830-814-8

1. Noções essenciais de direito.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Prezados Acadêmicos!

Desde que o homem passou a viver em sociedade, tornou-se necessá-


rio estabelecer regras que regulassem as relações humanas, a fim de garantir a
paz social. Estas normas de conduta buscam evitar que cada um “faça justiça
com as próprias mãos”, o que significa a prevalência da força, uma vez que a
vontade do mais forte sempre prevalecerá, gerando desordem na sociedade.
Assim, desde os primórdios da civilização, afirma-se que ubu homo, ibi jus,
que significa dizer que “onde está o homem está o Direito”. Em uma visão
ampla, podemos dizer, que o Direito é a ciência que estuda estas normas de
conduta.

Em sua futura atividade profissional, você se deparará com situações


que demandam um conhecimento básico da ciência jurídica, que é objeto de
nossa disciplina. Serão parte de seu dia a dia situações que envolvem con-
tratos, direitos trabalhistas, títulos de crédito, reclamações de consumidores,
entre muitas outras em que você necessitará de conhecimentos jurídicos.

Na Unidade 1 teremos uma ampla visão do Direito, para podermos


entender o que é Direito Positivo, quem são os sujeitos de direito, o que são
normas jurídicas e como elas são aplicáveis aos fatos jurídicos. Estudaremos
também a clássica divisão entre o Direito Público e Privado, para reconhecer-
mos quais os ramos do Direito que integram cada uma das classificações.

Na Unidade 2 estudaremos conteúdos de Direito Público, entendendo


aspectos importantes desse conteúdo em cada um dos seus ramos.

Por fim, na Unidade 3, estudaremos especificamente o Direito Priva-


do, com ênfase no Direito Civil, que, a partir de 2007, com a entrada em vigor
do Código Civil, passou a disciplinar o Direito Empresarial, que traz conte-
údos aplicáveis à sua futura profissão. Pela sua importância, o Direito Em-
presarial será estudado em um caderno de estudos específico, com o Direito
Tributário, sendo que, neste estudo introdutório, optamos por trazer aspectos
práticos da aplicação do Direito à atividade empresarial.

Desejo a você uma feliz trajetória. Bons estudos!



Profª. Danielle Boppré de Athayde Abram

III
UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – NOÇÕES GERAIS DE DIREITO ............................................................................. 1

TÓPICO 1 – CONCEPÇÃO DE “DIREITO” ..................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 O QUE É DIREITO? ............................................................................................................................ 4
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 8
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 9

TÓPICO 2 – DIREITO E MORAL ....................................................................................................... 11


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 11
2 DIREITO E MORAL ............................................................................................................................ 11
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 13
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 14

TÓPICO 3 – DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO ........................................................................... 15


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 15
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 18

TÓPICO 4 – FONTES DO DIREITO .................................................................................................. 19


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 19
2 CARACTERIZAÇÃO DAS FONTES DO DIREITO .................................................................... 19
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 23

TÓPICO 5 – NORMA JURÍDICA ........................................................................................................ 25


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25
2 CONCEITO DE NORMA JURÍDICA .............................................................................................. 25
3 CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA ............................................................................ 26
RESUMO DO TÓPICO 5 ...................................................................................................................... 28
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 29

TÓPICO 6 – RELAÇÃO JURÍDICA .................................................................................................... 31


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 31
2 CONCEITO DE RELAÇÃO JURÍDICA .......................................................................................... 31
3 ESPÉCIES DE RELAÇÃO JURÍDICA .............................................................................................. 32
3.1 SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA ......................................................................................... 33
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 34
RESUMO DO TÓPICO 6 ...................................................................................................................... 37
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 38

UNIDADE 2 – DIREITO PÚBLICO .................................................................................................... 39

TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL .................................................................................... 41


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 41
2 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO ..................................... 41

VII
2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ..................................................................................... 42
2.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 . ................. 43
2.2.1 Direitos e Garantias Individuais e Coletivos ........................................................................ 45
2.2.2 Direitos Sociais .......................................................................................................................... 52
2.2.3 Direitos da Nacionalidade ....................................................................................................... 53
2.2.4 Direitos Políticos ....................................................................................................................... 55
2.2.5 Direitos Relacionados à Organização, Participação e Funcionamento dos
Partidos Políticos ........................................................................................................................ 56
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 58

TÓPICO 2 – DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL .................................. 61


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 61
2 DIREITO ADMINISTRATIVO ......................................................................................................... 61
2.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO ......................................................................... 61
2.2 ATOS ADMINISTRATIVOS .......................................................................................................... 61
2.3 PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................ 63
2.3.1 Princípio da Legalidade ........................................................................................................... 63
2.3.2 Princípio da Impessoalidade ................................................................................................... 64
2.3.3 Princípio da Moralidade .......................................................................................................... 64
2.3.4 Princípio da Publicidade .......................................................................................................... 65
2.3.5 Princípio da Eficiência .............................................................................................................. 66
2.3.6 Contratos Administrativos ...................................................................................................... 66
3 DIREITO PROCESSUAL ................................................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 70

TÓPICO 3 – DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO ............................................................ 71


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 71
2 DIREITO PENAL ................................................................................................................................. 71
2.1 CONCEITO E FUNÇÃO . .............................................................................................................. 71
2.2 DIVISÃO DO DIREITO PENAL . ................................................................................................. 71
2.3 FATO TÍPICO - CRIME E CONTRAVENÇÃO . ......................................................................... 72
2.4 DOLO E CULPA ............................................................................................................................. 72
2.5 CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE ............................................................. 74
2.6 CULPABILIDADE .......................................................................................................................... 74
2.7 IMPUTABILIDADE PENAL ......................................................................................................... 75
2.8 PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA ..................................................................................... 75
2.9 AÇÕES PENAIS .............................................................................................................................. 76
2.10 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ........................................................................................ 77
3 DIREITO TRIBUTÁRIO .................................................................................................................... 79
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 82

TÓPICO 4 – DIREITO ELEITORAL E DIREITO MILITAR .......................................................... 83


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 83
2 DIREITO ELEITORAL ........................................................................................................................ 83
3 DIREITO MILITAR ............................................................................................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 85

TÓPICO 5 – RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E


DIREITO DO CONSUMIDOR ...................................................................................... 87

VIII
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 87
2 DIREITO DO TRABALHO ................................................................................................................ 87
3 DIREITO DO CONSUMIDOR ......................................................................................................... 88
3.1 OBJETO DO DIREITO DO CONSUMIDOR .............................................................................. 88
3.2 CONCEITOS DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR . ............................................................. 88
3.3 DIREITOS E DEVERES DO CONSUMIDOR ............................................................................. 90
3.3.1 Direitos do consumidor . ......................................................................................................... 90
3.3.2 Deveres do consumidor .......................................................................................................... 91
3.4 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR .............................................................................. 91
3.5 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO ................................................................................................. 92
3.6 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA .................................................. 94
3.7 PROTEÇÃO DOS CONTRATOS DE CONSUMO .................................................................... 94
3.8 PUBLICIDADE E PROPAGANDA ............................................................................................ 95
4 DIREITO AMBIENTAL ...................................................................................................................... 96
RESUMO DO TÓPICO 5 ...................................................................................................................... 97
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 98

TÓPICO 6 – DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ........ 99


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 99
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 100
RESUMO DO TÓPICO 6 ...................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 106

UNIDADE 3 – DIREITO PRIVADO ................................................................................................... 107


TÓPICO 1 – DIREITO CIVIL - NOÇÕES E ESTRUTURA ............................................................ 109
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 109
2 NOÇÕES E ESTRUTURA DO DIREITO CIVIL ........................................................................... 109
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 112
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 113

TÓPICO 2 – PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL .......................................................................... 115


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 115
2 PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL - LIVRO I: DAS PESSOAS ............................................ 115
2.1 PESSOA FÍSICA .............................................................................................................................. 115
2.1.1 Domicílio e Residência da Pessoa Natural . .......................................................................... 118
2.1.2 Extinção da Pessoa Natural ..................................................................................................... 118
2.2 PESSOA JURÍDICA ........................................................................................................................ 118
2.2.1 Constituição da Pessoa Jurídica .............................................................................................. 118
2.2.2 Classificação das Pessoas Jurídicas . ....................................................................................... 119
2.2.3 O domicílio da Pessoa Jurídica . .............................................................................................. 121
2.2.4 Extinção da Pessoa Jurídica ..................................................................................................... 121
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 123

TÓPICO 3 – PARTE GERAL - LIVRO II: DOS BENS ..................................................................... 125


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 125
2 CONCEITO DE “BEM” ...................................................................................................................... 125
3 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS .......................................................................................................... 126
3.1 BENS MÓVEIS E IMÓVEIS . ......................................................................................................... 126
3.2 BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS ........................................................................................... 126
3.3 BENS CONSUMÍVEIS OU INCONSUMÍVEIS .......................................................................... 127
3.4 BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS ............................................................................................. 127
3.5 BENS SINGULARES E COLETIVOS ........................................................................................... 127

IX
3.6 BENS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS ............................................................................................ 127
3.7 BENS PÚBLICOS E PRIVADOS ................................................................................................... 129
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 130
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 131

TÓPICO 4 – PARTE GERAL - LIVRO III: DOS FATOS JURÍDICOS .......................................... 133
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 133
2 CONCEITO DE FATO JURÍDICO ................................................................................................... 133
3 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS ................................................................................ 134
4 NEGÓCIO JURÍDICO ........................................................................................................................ 135
4.1 REQUISITOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO ....................................................... 135
4.2 NULIDADE E ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO ............................................... 136
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 138
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 139

TÓPICO 5 – CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL .......................................................................... 141


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 141
2 SUBDIVISÕES DA PARTE ESPECIAL DO DIREITO CIVIL .................................................... 141
2.1 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ...................................................................................................... 141
2.1.1 Conceito de Obrigação ............................................................................................................. 141
2.1.2 Fontes das Obrigações ............................................................................................................. 142
2.1.3 Espécies de Obrigações ............................................................................................................ 142
2.1.4 Transmissão das Obrigações ................................................................................................... 143
2.1.5 Cumprimento ou Pagamento da Obrigação ......................................................................... 143
2.1.6 Descumprimento da Obrigação . ............................................................................................ 144
2.1.7 Obrigações Contratuais ........................................................................................................... 144
2.2 DIREITO EMPRESARIAL ............................................................................................................. 145
2.3 DIREITO DAS COISAS .................................................................................................................. 145
2.3.1 Propriedade ............................................................................................................................... 146
2.3.1.1 Classificação da propriedade ............................................................................................ 146
2.3.1.2 Formas de aquisição da propriedade .............................................................................. 146
2.3.2 Posse ........................................................................................................................................... 148
2.3.3 Classificação da Posse .............................................................................................................. 148
2.3.4 Direitos reais sobre as coisas alheias . .................................................................................... 150
2.3.4.1 Direitos reais sobre coisas alheias de gozo e fruição ..................................................... 150
2.3.4.2 Direitos reais sobre coisas alheias de aquisição . ............................................................ 151
2.3.4.3 Direito reais sobre coisas alheias de garantia ................................................................. 152
2.3.5 O Direito de Construir . ............................................................................................................ 153
2.4 DIREITO DE FAMÍLIA .................................................................................................................. 154
2.4.1 Regime de Bens no Casamento .............................................................................................. 154
2.5 DIREITO DAS SUCESSÕES ........................................................................................................... 157
RESUMO DO TÓPICO 5 ...................................................................................................................... 158
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 159

TÓPICO 6 – OUTROS RAMOS DO DIREITO PRIVADO: DIREITO COMERCIAL E


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ................................................................. 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 163
2 DIREITO COMERCIAL ..................................................................................................................... 163
3 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ....................................................................................... 164
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 164
RESUMO DO TÓPICO 6 ...................................................................................................................... 171
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 172
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 173

X
UNIDADE 1

NOÇÕES GERAIS DE
DIREITO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você deverá ser capaz de:

• apresentar uma visão geral da ciência do Direito;

• compreender a inter-relação entre Direito e Moral;

• identificar e diferenciar os conceitos de Direito Objetivo e Direito Subjetivo;

• reconhecer as fontes do Direito;

• compreender o conceito e as características das Normas e Relações Jurídicas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em seis tópicos. Em cada um deles você
encontrará atividades para maior compreensão das informações apresentadas.

TÓPICO 1 – CONCEPÇÃO DE “DIREITO”

TÓPICO 2 – DIREITO E MORAL

TÓPICO 3 – DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO

TÓPICO 4 – FONTES DO DIREITO

TÓPICO 5 – NORMA JURÍDICA

TÓPICO 6 – RELAÇÃO JURÍDICA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEPÇÃO DE “DIREITO”

1 INTRODUÇÃO

Como já dissemos, o Direito é a ciência que estuda as normas de conduta


que regem a vida em sociedade. Trata-se de uma ciência ampla, com aplicação em
todas as áreas do conhecimento.

Nesta unidade vamos obter conhecimentos básicos referentes à ciência do


Direito que irão nos auxiliar em nossos estudos futuros.

Para que possamos estudar a interligação entre o Direito e a atividade


empresarial, é importante que primeiro entendamos alguns conceitos ligados à
ciência do Direito.

UNI

Mas afinal, o que é Direito? A palavra “direito” vem do latim directum, “literalmente
direto, trazendo à mente a concepção de que o direito deve ser uma linha direta, isto é, conforme
uma regra” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 2). O termo tem muitos significados e não
é possível resumi-lo em um só conceito.

Para Gusmão (2006, p. 48):


De um modo muito amplo, pode-se dizer que a palavra “direito” tem
três sentidos: 1º. regra de conduta obrigatória (direito objetivo), 2º.
sistema de conhecimentos jurídicos (ciência do direito), 3º. faculdade
ou poderes que tem ou pode ter uma pessoa, ou seja, o que pode uma
pessoa exigir da outra (direito subjetivo).

Estabelecido o conceito de “Ciência do Direito”, vamos analisar


primeiramente os outros dois sentidos, para entendermos os conceitos de “direito
objetivo” e “direito subjetivo”. Poderemos então nos aprofundar no estudo do
Direito Positivo, em sua mais clássica divisão, ou seja, o Direito Público e o Direito
Privado, objeto da Unidade 2. Iniciaremos pela noção de “Direito”.
3
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

2 O QUE É DIREITO?
Das palavras de Nader (2008, p. 22), extraímos que o homem é um ser
essencialmente programado para viver em sociedade:

A própria constituição física do ser humano revela que ele foi


programado para conviver e se completar com outro ser de sua espécie.
A prole, decorrência natural da união, passa a atuar como fator de
organização e estabilidade do núcleo familiar. O pequeno grupo,
formado não apenas pelo interesse material, mas pelos sentimentos de
afeto, tende a propagar-se em cadeia, com formação de outros pequenos
núcleos, até se chegar à constituição de um grande grupo social.

Neste grande grupo social, as pessoas interagem, formando inúmeras


relações interpessoais e intergrupais, que se desenvolvem em razão de interesses
próprios. A estas relações sociais dá-se o nome de “interação social” (NADER, 2008,
p. 25, grifos nossos).

Da interação social surge a cooperação, quando se unem os esforços; a


competição, quando uma das partes procura atingir seu objetivo excluindo a outra,
sem que haja o combate direto; e o conflito, em que um interesse se opõe ao outro
de forma direta (NADER, 2008, p. 25). Desta forma, “o conflito se faz presente a
partir do impasse, quando os interesses em jogo não logram uma solução pelo
diálogo e as partes recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a mediação da
justiça” (NADER, 2008, p. 25).

Para fixarmos bem estes conceitos, podemos visualizar o seguinte:

FIGURA 1 - INTERAÇÃO SOCIAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS.

Cooperação
gera
Interação Relação entre as
Competição
Social pessoas e os grupos
em sociedade
Conflito

FONTE: A autora

Podemos afirmar, assim, de uma forma bem simplificada, que o Direito


existe para regulamentar as relações sociais, buscando resolver os conflitos que
se originam desta interação social. “Sua finalidade é a de favorecer o amplo
relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do
progresso da sociedade”(NADER, 2008, p. 27). Ou seja, o Direito, visto como

4
TÓPICO 1 | CONCEPÇÃO DE “DIREITO”

ciência, objetiva estudar as normas que regulamentam a conduta humana na vida


em sociedade e que devem ser cumpridas a fim de se garantir a paz social.

FIGURA 2 – THÊMIS (DEUSA DA JUSTIÇA)

FONTE: Disponível em: <www.navegamp3.org>. Acesso em: 20 maio 2008.

Ao analisar a ação do Direito, Nader (2008, p. 27) esclarece que:


Ao separar o lícito do ilícito, segundo valores de convivência que a
própria sociedade elege, o ordenamento jurídico torna possíveis os
nexos de cooperação, disciplina e competição, estabelecendo as limitações
necessárias ao equilíbrio e à justiça nas relações.

É, pois, na existência do conflito que o Direito atua de forma mais marcante,


e em dois momentos distintos:

l antes da existência do conflito (preventivamente), quando busca informar a


cada um o limite do direito que julga ter, ou

l para resolver o conflito de interesses já existente, quando o Direito fornecerá as


regras aplicáveis para a resolução do impasse.

Agora, podemos completar o esquema anterior:

5
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

FIGURA 3 – APLICAÇÃO DO DIREITO

Cooperação

Relação
gera

DIREITO
entre as aplicação preventica:
Interação traz limites ao direito
pessoas e os
Social de cada um
grupos em
sociedade

Competição

aplica-se o Direito

Conflito

Para resolver o
conflito e se obter a
paz social
FONTE: A autora

Gagliano e Pamplona Filho (2003, p. 3) bem ressaltam que o Direito tem


uma “característica essencialmente humana, instrumento necessário ao convívio
social [...]. Isso significa que não há como falar em direito sem falar em alteridade,
isto é, a relação com o outro.”

Ainda sobre a relação entre a sociedade e o Direito, Nader (2008, p. 18-19)


afirma que:
A vida em sociedade pressupõe organização e implica a existência do
Direito. A sociedade cria o Direito no propósito de formular as bases
da justiça e segurança. Com este processo, as ações sociais ganham
estabilidade. A vida social torna-se viável. [...]
As necessidades de paz, ordem e bem comum levam a sociedade
à criação de um organismo responsável pela instrumentalização e
regência desses valores. Ao Direito é conferida esta nobre missão.

Como vimos, a vida em sociedade é regulamentada por normas. Estas


normas valem para todos, sendo seu conhecimento e cumprimento obrigatórios,
como se lê do artigo 3º. da Lei de Introdução do Código Civil: “ninguém se escusa
de cumprir a lei alegando que não a conhece”. Assim, vale lembrar que:

6
TÓPICO 1 | CONCEPÇÃO DE “DIREITO”

Onde há a sociedade, há o Direito. (ubi societas ibi jus)

Por fim, cabe apenas ressaltar que também a política e a religião


desempenham importante papel no sentido de minimizar os conflitos na sociedade,
como mostra a figura a seguir:

FIGURA 4 – FORMAS DE CONTROLE E RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS

Moral

Relações
Humanas

Religião
Política

(Controlar, orientar
ou punir desvios para
diminuir os conflitos
entr os seres
humanos)

Direito

FONTE: Disponível em: <bp2.blogger.com/.../s320/MoralDireito.jpg>. Acesso


em: 25 maio 2008.

7
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

l O Direito é fruto da vida em sociedade (onde está o homem, está o Direito).

l De uma forma ampla, o Direito pode ser considerado como a ciência que estuda
as normas que regulamentam a vida em sociedade.

l Paradiminuição e resolução dos conflitos, também são utilizadas a Política, a


Moral e a Religião.

8
AUTOATIVIDADE

1 A partir do conhecimento que você adquiriu até aqui, preencha o quadro


a seguir resumindo os conceitos estudados, como forma de reflexão sobre
esses e como forma de fixação do conhecimento.

RELAÇÃO ENTRE DIREITO E


SOCIEDADE

INTERAÇÃO SOCIAL E FORMAS DE


INTERAÇÃO

COOPERAÇÃO

COMPETIÇÃO

CONFLITO

9
10
UNIDADE 1
TÓPICO 2

DIREITO E MORAL

1 INTRODUÇÃO
Vimos anteriormente que o Direito, juntamente com a Moral, a Religião e
a Política, desempenha papel fundamental na prevenção dos conflitos que nascem
do convívio social.

A partir de agora, vamos focar nossa atenção nos conceitos de Moral e Direito.

Porém, antes de continuarmos o nosso estudo, é importante esclarecer que


o Direito não pode ser confundido com a Moral, como frequentemente acontece.

Neste tópico vamos entender as semelhanças e as divergências entre o


Direito e a Moral, que são institutos diferentes, mas que se completam.

2 DIREITO E MORAL
Como dissemos anteriormente, Direito e Moral são institutos distintos,
mas que se completam. Ao tratar dos pontos em comum entre Direito e Moral,
Führer e Milaré (2005, p. 33) esclarecem que “A vida social só é possível uma vez
presentes regras determinadas para o procedimento dos homens. Essas regras, de
cunho ético, emanam da Moral e do Direito – repositórios de normas de conduta,
evidentemente apresentam um campo comum.”

E acrescentam, citando Washington de Barros Monteiro, que as “normas


morais tendem a se transformar em normas jurídicas”.

Porém, demonstram também que há pontos que distinguem o Direito da


Moral:
Ações existem, de fato, que interessam apenas ao Direito, como ocorre,
por exemplo, com as formalidades de um título de crédito. Finalmente,
outras existem que ao Direito são indiferentes, mas que a moral procura
disciplinar. É o que acontece, por exemplo, com a prostituição. A
mulher que se dedica à prostituição, que mercadeja seu corpo, não sofre
qualquer sanção legal, por isso que a prostituição em si não encerra
conduta reprovada pelo Direito. (MAX; ÉDIS, 2005, p. 34).

11
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

A Moral, conforme ensinam Gagliano e Pamplona Filho (2003, p. 6-7): TEM


UM CAMPO DE AÇÃO MAIS AMPLO QUE O DIREITO [...], EMBORA
A “MORALIDADE DEVA SEMPRE SER UM NORTE NA APLICAÇÃO
DA NORMA JURÍDICA, [...] NÃO HÁ COMO NEGAR QUE A MORAL
TEM UMA PREOCUPAÇÃO EXPRESSIVA COM O FORO ÍNTIMO,
ENQUANTO O DIREITO SE RELACIONA, EVIDENTEMENTE, COM
A AÇÃO EXTERIOR DO HOMEM.

Apesar de existirem pontos de distinção, há também pontos de semelhança


entre o Direito e a Moral, uma vez que as normas jurídicas sofrem grande influência
da Moral. Para ilustrar esta afirmação, vemos a figura a seguir:

FIGURA 5 - DIREITO E MORAL

Moral Direito

FONTE: Führer; Milaré (2005)

De uma forma bem simplificada, mas suficiente neste ponto do nosso


estudo, podemos distinguir o Direito da Moral pelo seguinte:

A Moral atua no foro íntimo do indivíduo (campo do pensamento),


trazendo sanção (punição) individual e de foro íntimo (arrependimento,
remorso). O Direito se preocupa com a ação (atitude) e estabelece punições em
lei mais severas, que podem atingir a liberdade ou patrimônio do infrator.

Führer e Milaré (2005, p. 35) fornecem exemplo que bem ilustra esta
situação: A maquinação de um crime que é indiferente ao Direito, mas repudiada
pela Moral.

Outra diferença marcante entre o Direito e a Moral é que o Direito é


coercível (cumprimento obrigatório, não depende da vontade) enquanto a
Moral não é obrigatória (incoercível).

Ainda como diferença entre Direito e Moral, podemos citar que:

Das normas jurídicas “decorrem relações com efeitos bilaterais, entre duas ou
mais pessoas, ao passo que da regra moral derivam consequências unilaterais. Isto
é, ninguém está obrigado ao seu cumprimento” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 36).

12
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:

l Direito e Moral não se confundem.

l A Moral tem um campo de ação mais amplo do que o Direito.

l O Direito sofre influência da Moral.

13
AUTOATIVIDADE

1 Cite um ponto comum entre os conceitos de Direito e Moral.

2 Cite três diferenças entre Moral e Direito.

14
UNIDADE 1
TÓPICO 3

DIREITO OBJETIVO E
SUBJETIVO

1 INTRODUÇÃO
Do que estudamos até agora, você viu que o direito traz o conjunto de
normas aplicáveis às relações sociais. É a este conjunto de normas vigentes e
impostas, que devem ser conhecidas e cumpridas por todos, que se denomina
direito objetivo.

O direito objetivo pode ser conceituado como “o complexo de normas


jurídicas que regem o comportamento humano, de modo obrigatório, prescrevendo
uma sanção no caso de sua violação (jus est norma agendi)” (DINIZ, 2003, p. 244).
Trata-se, portanto, da norma de comportamento a que a pessoa deve
se submeter, preceito esse que, caso descumprido, deve impor, pelo
sistema, a aplicação de uma sanção institucionalizada. Por exemplo,
respeitar as normas de trânsito é um direito objetivo imposto ao
indivíduo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 2).

O descumprimento das regras de direito objetivo, por se tratar de obrigação


do indivíduo, permite àquele que se sentir prejudicado procurar a autoridade
competente, Polícia, Administração Pública ou Judiciária, para “fazer valer seu
direito”, defender-se, fazer cessar a violência, etc. (GUSMÃO, 2006, p. 52).

Já o direito subjetivo, segundo Godofredo Telles (apud DINIZ 2003, p. 244):


É a permissão dada por meio de norma jurídica para fazer ou não fazer
alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para
exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou por meio
de processos legais, em prejuízo causado por violação de norma, o
cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido. Por
ex.: são direitos subjetivos as permissões de casar e constituir família, de
adotar pessoa como filho [...].

Podemos, então, conceituar o direito subjetivo como “a possibilidade


de agir e de exigir que as normas de Direito atribuem a alguém como próprio”
(NADER, 2008, p. 307).

Observe, então, que o direito subjetivo se diferencia do objetivo em razão


de este, como anteriormente mencionado, ter caráter coativo (cumprimento
obrigatório), enquanto o direito subjetivo representa uma faculdade do titular de
invocar a lei para tutelar seu direito.

15
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

E
IMPORTANT

O direito objetivo é obrigatório, enquanto o subjetivo é uma faculdade (eu


exerço esta possibilidade se eu quiser).

Porém, apesar de diferentes e inconfundíveis, o direito subjetivo e o objetivo


estão ligados. Ao tratar desta ligação, Diniz (2003, p. 248) afirma que:
Nítida é a correlação existente entre o direito objetivo e o subjetivo.
Apesar de intimamente ligados, são inconfundíveis [...] Um não pode
existir sem o outro. O direito objetivo existe em razão do subjetivo, para
revelar a permissão de praticar atos. O direito subjetivo, por sua vez,
constitui-se de permissões dadas por meio do direito objetivo.

Führer e Milaré (2005) trazem um interessante exemplo que bem ilustra esta
ligação, que pode ser assim resumido: o meu direito de propriedade é garantido pela
Constituição Federal (regra de direito objetivo), sendo que, se alguém violar este
direito e invadir a minha propriedade, poderei acionar o Poder Judiciário para que a
irregularidade seja sanada, sendo esta faculdade o que se chama de direito subjetivo.

Quando afirmamos, que o proprietário tem “direito” de entrar com uma


ação na justiça para ter sua propriedade devolvida, quando dizemos que, em caso
de separação, o pai que não ficou com a guarda do filho tem “direito” de visitá-lo
ou que o locador tem o “direito” de receber o aluguel de seu imóvel, nos referimos
ao direito subjetivo. Este decorre de normas legais que garantem estes direitos.

Assim, o Direito Empresarial, que faz parte do Direito Civil, traz regras de
direito objetivo, e os “direitos” dele resultantes serão regras de direito subjetivo.

Concluímos, assim, que, apesar das diferenças, grande ligação existe entre o
direito subjetivo e o objetivo. Podemos dizer, pois, de uma forma bem simplificada,
que o direito subjetivo decorre do direito objetivo e que ambos formam o que
conhecemos por “Direito”.

O direito objetivo, quando ordenado e visto de forma técnica, transforma-


se no direito em vigor em um determinado país, chamado “Direito Positivo”, que
estudaremos na Unidade 2.

16
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:

• Uma das principais classificações do Direito é a que o divide em direito objetivo


e subjetivo.

• O que diferencia o direito objetivo é a coatividade, o que significa que o direito


objetivo são as normas impostas, de cumprimento obrigatório, enquanto o
direito subjetivo representa a permissão de agir prevista em lei.

• Apesar de diferentes, o direito objetivo e o subjetivo estão ligados, formando


“um todo”, que conhecemos por “direito”.

17
AUTOATIVIDADE

1 Para a fixação do conteúdo deste tópico, preencha os parênteses usando o


seguinte código:

(1) Direito Objetivo


(2) Direito Subjetivo

a) O ( ) pode ser conceituado como as regras de cumprimento obrigatório,


enquanto o ( ) é visto como decorrência deste e representa uma faculdade
do agente.

b) Como exemplo, podemos citar as regras do contrato de seguro. Todas as


disposições legais são tidas como regras de direito ( ). Já quando o direito do
segurado for violado, este poderá, assim agindo, se quiser, ingressar em juízo,
a fim de garantir o cumprimento do ( ) previsto em lei. Esta possibilidade de
agir é regra de ( ).

c) Pode-se afirmar, que o ( ) é uma “ferramenta” para garantir a aplicação do


( ). O ( ) é preexistente, mas somente poderá ser cumprido se o titular utilizar
seu ( ).

d) O que diferencia ( ) do ( ) é a coatividade, uma vez que, enquanto o ( )


representa uma faculdade de agir, o ( ) é imposto pelas normas jurídicas,
que todos estão obrigados a obedecer.

e) Porém, apesar das diferenças, existe uma grande ligação entre o ( ), que é
coercitivo, e o ( ), que é facultativo. Podemos dizer que, de uma forma bem
simplificada, o ( ) decorre do ( ) e que ambos formam o que conhecemos
por “Direito”.

18
UNIDADE 1
TÓPICO 4

FONTES DO DIREITO

1 INTRODUÇÃO
A palavra “fonte” tem o sentido de “origem, gênese, de onde provém” (água).

As chamadas “fontes do direito” nada mais são, portanto, do que os meios


pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2003, p. 9-10).

Isto posto, podemos dizer que a lei é a principal fonte do Direito, como se
vê do art. 4º. da Lei de Introdução do Código Civil:

‘‘Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de Direito”.

Além da Lei, também são fontes do Direito: a Doutrina, a Jurisprudência, a


Equidade, a Analogia e os Princípios Gerais de Direito. Vejamos, a seguir, de forma
sucinta, como se caracteriza cada uma destas fontes.

2 CARACTERIZAÇÃO DAS FONTES DO DIREITO


A lei, ou legislação, como preferem alguns autores, é a primeira e principal
fonte do Direito. Segundo Nunes (2003, p. 72), é
“o conjunto das normas jurídicas emanadas do Estado, através de seus
vários órgãos, dentre os quais, realça-se, com relevo, nesse tema, o
Poder Legislativo. No ordenamento jurídico, há várias espécies de leis
(constitucional, ordinária, delegada etc.) e uma hierarquia. No patamar
mais alto está a Constituição Federal, que é a principal lei do país, sendo,
por isso, muitas vezes chamada de “Lei Magna” ou “Carta Magna”.
Abaixo da Constituição Federal vêm as leis complementares, as leis
ordinárias (e também os tratados internacionais), as leis delegadas, os
decretos legislativos e resoluções e as medidas provisórias. A seguir,
estão os decretos regulamentares e, por fim, as normas inferiores, como
portarias, circulares etc.

Trazemos, a seguir, algumas noções gerais sobre cada uma delas:

19
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

l Lei complementar: “alusiva à estrutura estatal ou aos serviços do Estado,


constituindo as leis de organização básica” (DINIZ, 2003, p. 287).

l Lei ordinária: “fruto da atividade típica e regular do Poder Legislativo. Como


exemplo de lei ordinária, temos: O Código Civil, o Código de Processo Civil
[...]” (NUNES, 2003, p. 77).

l Leis delegadas: “serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá


solicitar a delegação ao Congresso Nacional” (NUNES, 2003, p. 77). Ainda no
mesmo patamar estão as Medidas Provisórias que o Presidente da República
poderá utilizar no caso de relevância e urgência, conforme o art. 62 da
Constituição Federal.

l Decreto regulamentar: “É ato do Poder Executivo e deve ser baixado para


regulamentar norma de hierarquia superior, como, por exemplo, a lei
ordinária”(NUNES, 2003, p.79).

l Resoluções: são “atos normativos administrativos através dos quais o Legislativo


dispõe sobre matéria que não se insere nem no âmbito da Lei, nem do Decreto
legislativo [...] cuidam, geralmente, de algum assunto interno do Legislativo”
(FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 54).

O costume, por sua vez, “é o uso geral, constante e notório, observado


socialmente e correspondente a uma necessidade jurídica [...]. Baseia-se,
indubitavelmente, no argumento de que algo deve ser feito porque sempre o foi,
tendo sua autoridade respaldada na força conferida ao tempo e no uso contínuo
das normas (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 17). É, assim, uma norma
jurídica não escrita, “que surge da prática longa, diuturna e reiterada da sociedade”
(NUNES, 2003, p. 94).

A jurisprudência é definida por Nunes (2003, p. 87) “como o conjunto das


decisões dos tribunais a respeito do mesmo assunto.” É reconhecida como fonte
do direito, porque “acaba por prevalecer na maioria dos casos” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2003, p. 17), ou seja, as decisões dos tribunais são citadas
como fundamento nas teses jurídicas e apontadas como precedentes, “impondo
ao legislador uma nova visão dos institutos jurídicos, alterando-os, às vezes,
integralmente, forçando a expedição de leis que consagrem sua orientação”
(VENOSA apud DINIZ, 2003, p. 296).

A doutrina pode ser definida como o pensamento dos estudiosos do


Direito, que são chamados de doutrinadores. Todos os conceitos citados neste
caderno fazem parte da doutrina. É importante fonte do Direito, porque “é
essencial para aclarar pontos, estabelecer novos parâmetros, descobrir caminhos
ainda não pesquisados, apresentar soluções justas, enfim interpretar as normas,
pesquisar os fatos e propor alternativas, com vistas a auxiliar a construção sempre
necessária e constante do Estado de Direito, com o aperfeiçoamento do sistema
jurídico” (NUNES, 2003, p. 104).

20
TÓPICO 4 | FONTES DO DIREITO

Já a equidade, segundo Raposo e Heine (2004, p. 31), é o princípio pelo qual


“deve o juiz valorizar mais a razão (observando sempre a boa-fé) que a própria regra
de Direito [...], observando o que for justo e razoável [...]”. Gagliano e Pamplona
Filho (2003, p. 26) explicam que nos casos em que pode julgar por equidade, “é
facultado expressamente ao julgador valer-se de seus próprios critérios de justiça
quando for decidir, não estando adstrito às regras ou métodos preestabelecidos”.
Porém, o julgamento por equidade não é a regra geral e o juiz só pode julgar por
equidade quando autorizado por lei. Como exemplo de julgamento por equidade,
Raposo e Heine (2004, p. 31) citam a aplicação da regra in dubio pro misero, ou seja,
“em alguns casos, havendo dúvida, o juiz pode decidir em favor do mais fraco
economicamente, como ocorre no Direito do Trabalho”.

O juiz julgará com emprego da analogia, quando “um fato não foi regulado
de modo direto ou específico em lei de ser julgado pelo juiz e esse vai buscar a
solução em uma lei prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso
não regulado” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 31).

Por fim, os princípios gerais do Direito são “regras gerais de conduta


que o juiz segue quando vai interpretar o caso que está analisando. Essas regras
normalmente não estão escritas” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 30). Citam como
exemplo de princípios gerais do Direito: viver honestamente, não causar danos a
outra pessoa e dar a cada um o que é seu. Visualizando o que aprendemos até aqui,
temos o seguinte:

FIGURA 6 – FONTES DO DIREITO

Lei
Doutrina
Fontes do Costume
Analogia
Direito
Jurisprudência
Equidade
Princípios Gerais do Direito

FONTE: A autora

21
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você estudou que:

l As “fontes do direito” são as origens do Direito, ou seja, é através dessas que o


direito nasce e evolui.

l A principal fonte do Direito é a Lei.

l Além da Lei, são também fontes do Direito: Doutrina, Equidade, Jurisprudência,


Analogia, Costumes e os Princípios Gerais de Direito.

22
AUTOATIVIDADE

Para a fixação do conteúdo deste tópico, assinale a alternativa CORRETA:

1 Primeira e principal fonte do Direito:

a) ( ) Doutrina.
b) ( ) Lei.
c) ( ) Jurisprudência.
d) ( ) Costume.

2 “Deve o juiz valorizar mais a razão (observando sempre a boa-fé) que a


própria regra de Direito [...], observando o que for justo e razoável [...]”
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 26). A qual fonte do Direito os
autores se referem?

a) ( ) Equidade.
b) ( ) Costume.
c) ( ) Lei.
d) ( ) Jurisprudência.

3 A _____________ representa o pensamento dos estudiosos da ciência do


Direito.

a) ( ) Lei.
b) ( ) Analogia.
c) ( ) Jurisprudência.
d) ( ) Doutrina.

4 “É o uso geral, constante e notório, observado socialmente e correspondente a


uma necessidade jurídica [...]. Baseia-se, indubitavelmente, no argumento de
que algo deve ser feito porque sempre o foi, tendo sua autoridade respaldada
na força conferida ao tempo e no uso contínuo das normas” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2003, p. 17). Podemos dizer que os autores se referem
a qual fonte do Direito?

a) ( ) Lei.
b) ( ) Doutrina.
c) ( ) Jurisprudência.
d) ( ) Costume.

5 Viver honestamente, não causar danos a outra pessoa e dar a cada um o que
é seu são exemplos de qual fonte de Direito:

a) ( ) Princípios Gerais de Direito.


b) ( ) Lei.

23
c) ( ) Doutrina.
d) ( ) Costumes.

6 “Conjunto das decisões dos tribunais a respeito do mesmo assunto” (NUNES,


2003, p. 87). Este é o conceito de qual fonte do Direito?

a) ( ) Doutrina.
b) ( ) Jurisprudência.
c) ( ) Equidade.
d) ( ) Analogia.

7 “Um fato não foi regulado de modo direto ou específico em lei de ser julgado
pelo juiz e esse vai buscar a solução em uma lei prevista para uma hipótese
distinta, mas semelhante ao caso não regulado” (RAPOSO; HEINE, 2004, p.
31). A que fonte do Direito se referem os autores?

a) ( ) Equidade.
b) ( ) Jurisprudência.
c) ( ) Doutrina.
d) ( ) Analogia.

24
UNIDADE 1
TÓPICO 5

NORMA JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
Já vimos anteriormente que o Direito é uma ciência que estuda as normas
jurídicas. Mas, o que são normas jurídicas?

Este tópico objetiva estudar a teoria da norma jurídica, que é imprescindível


no estudo do Direito, porque é a sua materialização.

“Conhecer o Direito é conhecer as normas jurídicas em seu encadeamento


lógico e sistemático. As normas ou regras jurídicas estão para o Direito de um
povo, assim como as células estão para um organismo vivo” (NADER, 2008, p. 83).

Estas palavras de Paulo Nader demonstram o quão importante é o estudo


deste tema e seu entendimento para também entendermos o Direito.

Iniciaremos pelo conceito de norma jurídica, para depois estudarmos suas


características. Então, vamos em frente...

2 CONCEITO DE NORMA JURÍDICA


Relembrando o que estudamos até agora, temos que o Direito é o
responsável por traçar normas de conduta que permitam às pessoas e aos grupos
sociais viverem em harmonia, agindo preventivamente, para evitar o conflito, ou
após sua ocorrência, a fim de garantir a paz social.

A norma jurídica é, pois, o meio, o instrumento de que se utiliza o Direito


para atingir seu objetivo. É através da norma jurídica que o Direito revela à
sociedade os padrões de comportamento exigidos pelo Estado.

Podemos afirmar, assim, que a norma ou regra jurídica “é um padrão de


conduta imposto pelo Estado para que seja possível a convivência dos homens em
sociedade. [...] Ela esclarece ao agente como e quando agir [...] Em síntese, norma
jurídica é a conduta exigida ou o modelo imposto de organização social (NADER, 2008,
p. 83). No mesmo sentido:

25
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

As normas jurídicas são as normas “que disciplinam condutas ou atos


(comportamentos) através do seu caráter coercitivo (que reprime), imperativo
(que ordena) e compulsório (que obriga)” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 29).

Existem as normas de Direito Civil, Direito Penal, Direito Tributário e


muitas outras específicas em cada ramo de atuação do Direito Positivo, que vamos
conhecer na segunda unidade.

Visto o conceito de norma jurídica, passaremos à análise de suas


características.

3 CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA


Como característica geral a todas as normas jurídicas, temos a
obrigatoriedade de seu cumprimento. Como materialização do direito objetivo, as
normas jurídicas terão que ser obrigatoriamente respeitadas, sob pena de o agente
ficar sujeito à sanção prevista na lei.

No que se refere às características da norma jurídica, podemos afirmar,


de acordo com os ensinamentos de Gusmão (2006), que as normas jurídicas são:
bilaterais, abstratas, imperativas e coercitivas.

Veja o esquema a seguir:

26
TÓPICO 5 | NORMA JURÍDICA

FIGURA 7 – CARACTERÍSTICAS DE NORMA JURÍDICA

BILATERAIS
- "Por enlaçar o direito
ABSTRATA - Por "não de uma parte com o dever
regular caso singular e por de outra". Ex. Quando se tem
estabelecer modelo aplicável a um cheque ou uma promissória, o
vários casos, enquadráveis no detentor do cheque tem o "direito"
tipo nela previsto" de receber e o emitente do
chque o "dever" de
pagar

AS NORMAS JURÍDICAS
são:

COERCITIVAS
- Pois uma vez
IMPERATIVAS - porque desrespeitada, a sanção é
contém "um comando, uma imposta pelo Estado, ou seja,
prescrição, impondo uma condita a a norma jurídica traz consigo
ser observada". uma sanção, que poderá cair sobre
a pessoa ou seu patrimônio. Por
exemplo, quando uma pessoa bate
no carro de outra e não paga,
ficará seu patrimônio sujeito a
ser vendido para recuperar
os danos que causou.

FONTE: A autora, com base em Gusmão (2006).

27
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico você estudou que:

l O estudo da norma jurídica é importante no estudo do Direito.

l A norma jurídica traz a forma de conduta exigida pelo Estado.

l Como característica geral, em todas as normas jurídicas há a obrigatoriedade de


seu cumprimento.

l São também características da norma jurídica: bilateralidade, imperatividade,


coercibilidade e abstratividade.

28
AUTOATIVIDADE
1 O que é norma jurídica?

2 Qual a importância da norma jurídica para o estudo do Direito?

3 Aponte a principal característica da norma jurídica.

4 Por que se diz que a norma jurídica é abstrata?

5 O que significa dizer que a norma jurídica deve ser necessariamente


imperativa?

6 Explique a questão da bilateralidade da norma jurídica.

7 Por que se diz que a norma jurídica é coercitiva?

29
30
UNIDADE 1
TÓPICO 6

RELAÇÃO JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico da nossa unidade, vamos estudar a relação jurídica.

As relações entre as pessoas, entre si ou em grupos e estes grupos entre si,


geram vínculos que estão previstos nas normas jurídicas. Assim, o casamento, por
exemplo, é uma relação jurídica. Dele decorrem inúmeros direitos e obrigações
que interessam ao Direito, como a propriedade, a honra, a vida etc.

Em sua futura atividade profissional, você ou a empresa em que for


trabalhar fará parte de muitas relações jurídicas, quando, por exemplo, forem
devedores ou credores de uma dívida. Também podemos citar as relações com
os funcionários, fornecedores, entre muitas outras. Preparado(a) para mais esta
tarefa? Então, antes de mais nada, vamos conhecer o conceito de relação jurídica.

2 CONCEITO DE RELAÇÃO JURÍDICA


Conforme Gusmão (2006, p. 258), a relação jurídica é “o vínculo que une
uma ou mais pessoas, decorrente de um fato ou de um ato previsto em norma
jurídica, que produz efeitos jurídicos”, ou mais singelamente,

“vínculo jurídico estabelecido entre pessoas, em que uma delas pode


exigir de outra determinada obrigação.”

As relações jurídicas são originadas de atos ou fatos jurídicos (cujos conceitos


veremos adiante), que envolvem pessoas físicas ou jurídicas. Essas relações são
chamadas “jurídicas”, pois seu objeto é um interesse juridicamente protegido, ou
seja, que interessam ao Direito, como o patrimônio, a vida, a honra etc.

Pode-se afirmar, pois, que a relação jurídica “não depende exclusivamente


da vontade das partes, pois tem por base a lei, que está acima do interesse delas”
(GUSMÃO, 2006, p. 258).

31
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

3 ESPÉCIES DE RELAÇÃO JURÍDICA


São várias as espécies de relação jurídica. Para o nosso estudo, é suficiente
conhecermos três classificações: relações jurídicas de direito público e privado,
relações jurídicas solenes e não solenes e relações jurídicas pessoais e reais.

Primeiramente, podemos apontar as relações jurídicas de direito público


ou privado. Nas relações jurídicas de direito público, temos, “de um lado, o ente
público com poderes e competências, e de outro, o particular (pessoa física ou
pessoa jurídica não investida do poder público) com obrigação de observar as suas
determinações (sentença, regulamento e portaria, etc.)” (GUSMÃO, 2006, p. 259).
Já na relação jurídica de direito privado, há apenas particulares (pessoas físicas e
jurídicas), sendo que uma é titular de um direito que poderá exigir da outra. Por
exemplo, um contrato é uma espécie de relação jurídica de direito privado.

A relação jurídica pode ser também solene ou não solene. As relações


jurídicas solenes são aquelas em que há a necessidade de se observar uma
determinada formalidade para que tenha validade. Podemos citar, como exemplos
de relações jurídicas solenes, o casamento e a compra e venda de imóveis, que a
lei exige que seja feita por escritura pública. Já as relações jurídicas não solenes
dispensam maiores formalidades, tais como a venda de bens móveis, que se torna
perfeita e acabada com a entrega (que se chama tecnicamente de tradição) do bem.

A relação jurídica pode ser ainda pessoal, quando envolve relação das
pessoas entre si (ex.: contratos), ou real, quando envolvem as relações das pessoas
com as coisas, como, por exemplo, no direito de propriedade ou posse sobre um
imóvel.

Resumindo:

32
TÓPICO 6 | RELAÇÃO JURÍDICA

FIGURA 8 – ESPÉCIES DE RELAÇÃO JURÍDICA

RELAÇÃO JURÍDICA = "Vínculo


jurídico estabelecido entre pessoas,
em que uma delas pode exigir de outra
determinada obrigação" (GUSMÃO,
2006, p 258)

As relações jurídicas podem ser:

De DIREITO SOLENES: exigem


PÚBLICO (presença alguns requisitos PESSOAIS (pessoas
do ente público) formais para serem entre si)
válidas.
ou ou
NÃO SOLENES:
De DIREITO Não exigem forma REAIS (pessoas e
PRIVADO (entre especial para ter coisas)
particulares) validade

FONTE: A autora (2008)

3.1 SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA


Os sujeitos da relação jurídica, também chamados sujeitos de direito, são “os
que estão aptos a adquirir e exercer direitos e obrigações” (NUNES, 2003, p. 134).

Por isso, podemos dizer que “Não há direito que não tenha sujeito, pois ele
tem por objetivo proteger os interesses humanos” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 33).

Na relação jurídica de direito privado, objeto de nosso estudo, podemos


dizer que o sujeito ativo é o que é o titular de direitos e que pode exigi-lo de quem
deva cumprir uma obrigação, que é chamado sujeito passivo, que deve fazer ou
deixar de fazer alguma coisa.

Assim, por exemplo, quando falamos que Pedro tornou-se titular de um


direito de propriedade sobre determinado bem que adquiriu, podemos dizer que
este é o Sujeito Ativo nesta relação jurídica, enquanto aquela pessoa que o vendeu

33
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

torna-se Sujeito Passivo nesta relação, pois terá que cumprir o que determina a
norma (entregar o bem).

Verificamos, pois, que os sujeitos de direito podem ser assim classificados:

FIGURA 9 – ESPÉCIES DE SUJEITO DE DIREITO

FONTE: A autora

ATENCAO

Não somente as pessoas físicas são sujeitos de direito. Também poderão ser
sujeitos de direito, por exemplo, as empresas, os condomínios etc.

Prezados acadêmicos. Para aprofundar seus conteúdos, bem como para que
você tenha noção do que estudaremos na unidade seguinte, sugerimos a leitura de
parte do texto “Noções de Direito Civil”.

LEITURA COMPLEMENTAR

NOÇÕES DE DIREITO CIVIL

Direito Civil - Teoria Geral do Direito Civil

Direito positivo, objetivo e subjetivo, teorias, fontes do direito, norma


jurídica em sua classificação, princípios e divisões do direito civil.

Direito Positivo: é a ordenação heterônoma das relações sociais, baseada


numa integração normativa de fatos e valores (Miguel Reale); é o conjunto de
regras jurídicas em vigor num determinado país e numa determinada época.

Direito objetivo (norma agendi): é o complexo de normas jurídicas que


regem o comportamento humano, de modo obrigatório, prescrevendo uma sanção
no caso de sua violação.

Direito subjetivo (facultas agendi): é a permissão dada por meio de norma


jurídica, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou ainda, a

34
TÓPICO 6 | RELAÇÃO JURÍDICA

autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do Poder Público ou por
meio dos processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o
cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido; é a faculdade
que cada um tem de agir dentro das regras da lei e de invocar a sua proteção e
aplicação na defesa de seus legítimos interesses.

Teoria da vontade (Savigny): entende que o direito subjetivo é o poder da


vontade reconhecido pela ordem jurídica.

Teoria do interesse (Ihering): o direito subjetivo é o interesse juridicamente


protegido por meio de uma ação judicial.

Teoria mista (Jellinek, Saleilles e Michoud): define o direito subjetivo como


o poder da vontade reconhecido e protegido pela ordem jurídica, tendo por objeto
um bem ou interesse.

Direito público: é o direito composto, inteira ou predominantemente,


por normas de ordem pública, que são normas imperativas, de obrigatoriedade
inafastável.

Direito privado: é o composto, inteira ou predominantemente, por normas


de ordem privada, que são normas de caráter supletivo, que vigoram apenas
enquanto a vontade dos interessados não dispuser de modo diferente do previsto
pelo legislador.

Fontes do direito: são os meios pelos quais se formam as regras jurídicas;


as fontes diretas são a lei e o costume; as fontes indiretas são a doutrina e a
jurisprudência.

Norma jurídica: é um imperativo autorizante; a imperatividade revela seu


gênero próximo, incluindo-a no grupo das normas éticas, que regem a conduta
humana, diferenciando-a das leis físico-naturais, e o autorizamento indica sua
diferença, distinguindo-a das demais normas.

Classificação das normas jurídicas:

1) quanto à imperatividade, podem ser: a) de imperatividade absoluta ou impositivas,


que são as que ordenam ou proíbem alguma coisa (obrigação de fazer ou não
fazer) de modo absoluto; b) de imperatividade relativa ou dispositiva, que não
ordenam, nem proíbem de modo absoluto; permitem ação ou abstenção ou
suprem a declaração de vontade não existente.

2) quanto ao autorizamento, podem ser: a) mais que perfeitas, que são as que por
sua violação autorizam a aplicação de duas sanções: a nulidade do ato praticado
ou o restabelecimento da situação anterior e ainda a aplicação de uma pena ao
violador; b) perfeitas, que são aquelas cuja violação as leva a autorizar a declaração
da nulidade do ato ou a possibilidade de anulação do ato praticado contra sua
disposição e não a aplicação de pena ao violador; c) menos que perfeitas, que são
35
UNIDADE 1 | NOÇÕES GERAIS DE DIREITO

as que autorizam, no caso de serem violadas, a aplicação de pena ao violador,


mas não a nulidade ou anulação do ato que as violou; d) imperfeitas, que são
aquelas cuja violação não acarreta qualquer consequência jurídica.

3) quanto à sua hierarquia, as normas classificam-se em: normas constitucionais;


leis complementares; leis ordinárias; leis delegadas; medidas provisórias;
decretos legislativos; resoluções; decretos regulamentares; normas internas;
normas individuais.

[...]
FONTE: Disponível em: <http://www.centraljuridica.com>. Acesso em: 10 jun. 2008.

36
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico você estudou que:

l A relação jurídica é um vínculo que une pessoas entre si ou pessoas e coisas.

l Estevínculo nasce de uma norma jurídica que impõe direitos e deveres a cada
um dos participantes.

l Quando as pessoas se relacionam entre si, temos uma relação jurídica pessoal
(ex.: casamento). Quando a relação envolve coisas, temos uma relação jurídica
real (ex.: direito de propriedade).

l São sujeitos da relação jurídica o sujeito ativo, que é o titular de um direito, e o


passivo, é o que deve cumprir uma obrigação.

37
AUTOATIVIDADE

Para melhor fixação deste conteúdo, leia as decisões jurisprudenciais a


seguir e responda às questões que seguem:

1 EMENTA:  APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CHEQUE


PRÉ-DATADO. APRESENTAÇÃO ANTES DO VENCIMENTO
ACERTADO. INSCRIÇÃO NO BANCO CENTRAL. DEVER DE
INDENIZAR. MANUTENÇÃO DO QUANTUM FIXADO. 1. O cheque
pré-datado recebido para pagamento de combustível não pode ser
descontado antes da data avençada. 2. Apresentado ao Sacado antes
da data e, por isso, devolvido por insuficiência de fundos, acarretando
inscrição no Banco Central, constitui ato ilícito capaz de ensejar indenização
por danos morais. 3. Levando em conta os critérios estabelecidos pela
doutrina e jurisprudência, bem como parâmetros adotados nesta Câmara,
merece ficar mantido o quantum indenizatório. APELAÇÃO E RECURSO
ADESIVO DESPROVIDOS (Apelação Cível nº 70019279793, Sexta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em
24/07/2008).

1 Como nasceu a relação jurídica que gerou a demanda judicial?


2 Trata-se de relação pessoal ou real?
3 Quem é o sujeito ativo desta relação jurídica? E o passivo?

2 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO. POSSE AD USUCAPIONEM.


ANIMUS DOMINI. NÃO CONFIGURAÇÃO. Caso em que a posse da
autora sobre o imóvel decorre de contrato de locação verbal. Inexistindo
qualquer ruptura no exercício da posse direta, a qual foi mantida após o
inadimplemento dos aluguéis por mera tolerância do proprietário do
imóvel, não há falar no exercício de posse ad usucapionem. Precedentes
dessa Egrégia Corte Estadual. RECURSO DESPROVIDO (Apelação Cível
nº 70023774367, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Luiz Renato Alves da Silva, Julgado em 17/07/2008).

1 Como nasceu a relação jurídica que gerou a demanda judicial?


2 Trata-se de relação pessoal ou real?

38
UNIDADE 2

DIREITO PÚBLICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade o(a) acadêmico(a) estará apto a:

• compreender o conceito de Direito Público;

• compreender os diversos ramos que o compõem;

• conhecer os institutos regulados pelo Direito Público.

PLANO DE ESTUDOS
O conteúdo desta unidade está dividido em seis tópicos. Após estudá-los,
você deverá fazer os exercícios propostos ao final.

TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL

TÓPICO 2 – DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL

TÓPICO 3 – DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO

TÓPICO 4 – DIREITO ELEITORAL E DIREITO MILITAR

TÓPICO 5 – RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E


DIREITO DO CONSUMIDOR

TÓPICO 6 – DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO INTERNACIONAL


PÚBLICO

39
40
UNIDADE 2
TÓPICO 1

DIREITO CONSTITUCIONAL

1 INTRODUÇÃO
Este tópico 1 foi reservado para o estudo do Direito Constitucional que
estuda as normas constitucionais. Iniciaremos pelo seu conceito, para então
estudarmos especificamente a Constituição da República de 1988, principal objeto
do estudo do Direito Constitucional.

Nos itens seguintes, estudaremos matérias constitucionais de grande


importância e conheceremos os principais direitos e garantias fundamentais, quais
são os direitos sociais e ainda como funcionam e quais são as obrigações que os
partidos políticos terão que cumprir.

2 CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E


CONSTITUIÇÃO
O Direito Constitucional, como o próprio nome diz, é aquele que “engloba
as normas jurídicas constitucionais, isto é, aquelas pertencentes à Constituição, em
toda a sua amplitude [...]” (NUNES, 2003, p. 125).

Segundo Alexandre Moraes (2003, p. 35), o Direito Constitucional “é um


ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental (sic) à organização e
funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao
estabelecimento das bases da estrutura política”.

A Constituição, conforme Canotilho apud Moraes (2003, p. 36), “pode ser


entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas
referentes à estruturação do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de
governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos,
garantias e deveres dos cidadãos.” Ou seja,

41
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

LEI FUNDAMENTAL
CONSTITUIÇÃO E SUPREMA DE UM
ESTADO

E
IMPORTANT

Por isso é que nenhuma lei poderá ser contrária à Constituição, sob pena de ser
considerada inconstitucional e retirada do ordenamento jurídico. Em razão da supremacia da
Constituição, é comum a utilização da expressão “Carta Magna” para nos referirmos à Constituição.

É importante entendermos que o princípio que rege o Direito Constitucional


Brasileiro é o do “Estado de Direito”, “isto é, do Estado que tem como princípio
inspirador a subordinação de todo poder ao Direito.” Como o Estado é o responsável
pela criação e aplicação da Constituição, ficando ao mesmo tempo submetido a ela,
esta relação é também objeto de estudo pela Teoria Geral do Estado.

Entendido o conceito de Constituição e sua supremacia, vamos estudar


especificamente a Constituição Federal de 1988.

2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


No Estado Brasileiro, a atual Constituição foi promulgada em 1988 e já foi
modificada por algumas Emendas.

A Carta Magna em vigor traz em seu preâmbulo o seguinte:

FIGURA 10 - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em
Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.
FONTE: Disponível em: <www.sbef.org.br>. Acesso em: 11 jun. 2008.

42
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

NOTA

O preâmbulo da Constituição, segundo Alexandre Moraes (2003, p.48), “é o


documento de intenções do diploma, e uma certidão de origem e legitimidade do novo texto
e uma proclamação de princípios, demonstrando a ruptura com o ordenamento constitucional
anterior e o surgimento jurídico de um novo Estado. E continua: “[...] por não ser norma
constitucional não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal [...]”, mas
deverá ser usado como instrumento de interpretação da Constituição (MORAES, 2003 p.49).

Também segundo Moraes (2003), extraímos como pode ser classificada a


Constituição Federal de 1988:

l formal: porque “consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento


solene estabelecido pelo poder constituinte originário” (MORAES, 2003, p.
37);

l escrita:
porque é um “conjunto de regras codificado e sistematizado em um
único documento [...]”(MORAES, 2003, p. 38);

l dogmática: por ser “um produto escrito e sistematizado por um órgão


constituinte, a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e
do direito dominante (MORAES, 2003, p. 38);

l promulgada (democrática, popular): porque derivou “do trabalho de uma


Assembleia Nacional Constituinte composta de representantes do povo,
eleitos com a finalidade de sua elaboração [...]”(MORAES, 2003, p. 39);

l rígida:porque para sua modificação é necessário “um processo mais solene


e mais dificultoso do que o existente para a edição das demais espécies
normativas” (MORAES, 2003, p. 39). “A Constituição Federal de 1988 pode
ser considerada como super-rígida, uma vez que em regra poderá ser alterada
por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente, em alguns
pontos é imutável (CF, art. 60 § 4º - cláusulas pétreas)” (MORAES, 2003, p. 39);

l analítica:porque “examina todos os assuntos que entende relevantes à


formação, destinação e funcionamento do Estado” (MORAES, 2003, p. 40).

2.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA


CONSTITUIÇÃO DE 1988
Os direitos e garantias fundamentais são previstos na Constituição Federal
em seu artigo 5º. Este artigo traz, em seus setenta e seis incisos, vários direitos e

43
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

garantias, dentre eles: a inviolabilidade da casa das pessoas (inciso XI), a liberdade
da manifestação do pensamento, a liberdade de consciência e de crença (inciso VI),
o direito de propriedade (art. XXII), entre muitos outros.

Conforme Moraes (2003, p. 59), podemos dividir os direitos e garantias em


cinco espécies. Para visualizarmos melhor esta divisão, atende à figura a seguir:

FIGURA 11 – CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

FUNDAMENTAIS

FONTE: A autora

UNI

É importante que você tenha em mãos um exemplar da Constituição Federal,


que vai ajudá-lo(a) bastante... Se você não tiver uma Constituição Federal, acesse o site “www.
planalto.gov.br” e no link “legislação”, copie o teor do art. 5º, da Carta Magna, que será nosso
objeto de estudo neste tópico.

Agora que conhecemos as espécies de direitos e garantias fundamentais,


partiremos para o estudo de seus conceitos em separado. Após, de forma resumida,
abordaremos cada um dos direitos e garantias fundamentais.

Os direitos fundamentais “representam só por si certos bens, as garantias


destinam-se a assegurar a fruição desses bens” (MIRANDA apud MORAES, 2003,
p. 62).

As garantias traduzem-se “quer no direito dos cidadãos a exigir dos


poderes públicos a proteção dos seus direitos quer no reconhecimento de meios
processuais adequados a essa finalidade (exemplo: direito de acesso aos tribunais
para a defesa de direitos [...]” (CANOTILHO apud MORAES, 2003, p. 62).

Podemos entender esta diferença no exemplo seguinte: A Constituição


Federal garante o direito à liberdade. Violado este direito, nasce para a vítima a
garantia constitucional que é o de impetrar um habeas corpus e ver cessada esta
ilegalidade. Não só as pessoas físicas, mas também as jurídicas são protegidas pela
Constituição Federal.

44
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

2.2.1 Direitos e Garantias Individuais e Coletivos


Observando a imagem a seguir, iniciaremos pelo conceito dos direitos e
garantias individuais e coletivos. Para estudá-los, vamos conhecer o art. 5º. da
Constituição Federal:

Art. 5º.: Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e estrangeiros residentes
no Brasil a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. (grito nosso)

Da leitura do artigo 5º. e de seus vários incisos, concluímos que a


Constituição Federal adotou diversos princípios, dos quais passaremos a estudar
os principais:

Iniciamos com o princípio da igualdade. Já no começo do artigo, lemos que


“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]” , ou seja,
todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei [...]” (MORAES,
2003, p. 64). Também no inciso I, a Constituição garante que “homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.”

Pelo princípio da igualdade, a Constituição Federal garante a todos o


direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O direito
à vida é o principal direito, “já que se constitui em prerrequisito à existência e
exercício de todos os demais direitos.” O direito à vida, compreende, além da
própria existência, o direito a uma subsistência digna (MORAES, 2003, p. 63).

E
IMPORTANT

Saiba que por proteção constitucional estende-se também a vida intrauterina


(MORAES, 2003, p. 64).

A liberdade também é tutelada pela Constituição Federal, sendo que é o


próprio texto constitucional que prevê as garantias a esta liberdade, ou seja, os
meios de que disporá a vítima para ver seu direito respeitado. Assim, poderá
impetrar:

45
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

l Habeas Corpus: (art. 5º. LXVIII): a vítima de ilegalidade ou abuso de poder poderá
impetrar habeas corpus. “Portanto, o habeas corpus é uma garantia individual
ao direito de locomoção, consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou
Tribunal ao coator, fazendo cessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção
em sentido amplo – o direito do indivíduo de ir, vir e ficar” (MORAES, 2003, p.
138). Interessante é o fato de que não é necessário ser advogado para impetrar
habeas corpus, podendo até ser impetrado pelo próprio paciente (vítima). O habeas
corpus pode ser preventivo ou repressivo.

l Habeas Data (art. 5º. LXXII): objetiva “fazer com que todos tenham acesso às
informações que o Poder Público ou entidades de caráter público (ex.: serviços
de proteção ao crédito) possuam a seu respeito” (MORAES, 2003, p. 153). O
habeas data cabe quando houver negativa de fornecimento destas informações,
que também poderão ser retificadas. É a lei n. 9.507/97 que estabelece as regras
referentes ao habeas data.

l Mandado de Segurança (art. 5º., LXIV) : caberá mandado de segurança quando


houver um ato ilegal e coator de uma autoridade contra direito líquido e certo
e contra este ato não for cabível habeas corpus e habeas data. Além do art. 5º.,
LXIV da Constituição da República, temos disposições sobre o Mandado de
Segurança na Lei n. 1.533/51.

NOTA

Conforme MORAES (2003, p. 138), “Habeas Corpus eram as palavras iniciais da


fórmula do mandado que o Tribunal concedia e era endereçado a quantos tivessem em seu
poder ou guarda o corpo do detido, da seguinte maneira: “Tomai o corpo desse detido e vinde
submeter ao Tribunal o homem e o caso.”

O direito líquido e certo é aquele que pode ser comprovado já no ajuizamento


do mandado de segurança por documentos, sem a possibilidade de produção de
provas.

Para você entender bem quando cabe o mandado de segurança, podemos


citar como exemplo a exigência de prévio pagamento de multas para o licenciamento
de veículos, sem que tenha sido oportunizada a defesa ou também o corte de
energia elétrica sem a prévia notificação, dentre outros.

O mandado de segurança pode ser impetrado (ajuizado) por pessoa física


ou jurídica, que é chamado “impetrante”. Pode ser individual (quando uma só
pessoa impetra) ou coletivo, quando é impetrado em nome de uma coletividade
(ex.: sindicato representando os sindicalizados).

46
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

Quanto à finalidade do mandado de segurança, podemos, pois, dizer que:

O Mandado de segurança é conferido aos


indivíduos para que eles se defendam
de atos ilegais ou praticados com abuso
de poder, constituindo-se verdadeiro
instrumento de liberdade civíl e liberdade
política (GUIMARÃES apud MORAES,
2003,p.163)

O mandado de segurança pode ser impetrado de duas formas: preventiva


e repressiva. Vejamos:

l Preventiva: para tentar evitar a ofensa ao direito líquido e certo;

l Repressiva: quando há ofensa ao direito líquido e certo, devendo o impetrante


“demonstrar justo receio de sofrer uma violação de direito líquido e certo por
parte da autoridade impetrada (MORAES, 2003, p. 163).

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conhecimentos sobre as ações


constitucionais estudadas anteriormente, sugiro a leitura completa da Lei n. 1.533/51.

l Mandado de Injunção: O Mandado de Injunção está previsto no art 5º, LXXI da


Constituição Federal “sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável
o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania” (MORAES, 2003, p. 179). Assim:

O mandado de injunção [...] visa suprir


uma omissão do Poder Público, no intuito
de viabilizar o exercício de um direito, uma
liberdade ou uma prerrogativa prevista na
Constituição Federal.

Existem algumas normas constitucionais que são “incompletas”. Por


exemplo, Moraes (2003, p. 180) cita o artigo 7º, XI que prevê a participação dos
empregados nos lucros ou resultados da empresa, conforme previsto em lei
(grifamos). Por isso, como não existe a lei que regulamenta esta matéria, poderá

47
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

ser impetrado Mandado de Injunção para este fim, a fim de possibilitar o exercício
desta garantia.

O mandado de injunção também poderá ser impetrado por pessoas físicas


ou jurídicas, mas sempre será impetrado contra o Estado.

l Ação Popular: Esta ação constitucional é prevista no art. 5º., LXXIII. Pode ser
definida como:

Resumidamente, podemos dizer que só poderá ajuizar ação popular o


cidadão, ou seja, quem estiver “no gozo de seus direitos políticos” (MORAES, 2003,
p. 193). Por isso, somente a pessoa física, desde que no gozo de seus direitos políticos,
é que poderá propor esta ação. Quanto à natureza do “ato ou a omissão do Poder
Público a ser impugnado, que dever ser obrigatoriamente lesivo ao patrimônio
público, seja por ilegalidade, seja por imoralidade” (MORAES, 2003, p. 192).

De forma esquematizada e bem simplificada, podemos resumir as principais


ações constitucionais e o direito que protegem no seguinte:

FIGURA 12 - AÇÕES CONSTITUCIONAIS E OS DIREITOS QUE PROTEGEM

MANDADO DE
SEGURANÇA (direito
líquido e certo contra ato
coator de autoridade
ilegal ou abusivo)

HABEAS DATA
(conhecer e retificar
dados que contam de HABEAS CORPUS
registros públicos) (liberdade - direito de ir
e vir)

AÇÕES
CONSTITUCIONAIS

MANDADO
DE INJUNÇÃO
(garantia AÇÃO POPULAR
constitucional – (Patrimônio público -
omissão da norma) existência de ato lesivo)

FONTE: A autora

48
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

NOTA

Quer conhecer mais sobre as ações constitucionais? Sugiro que leia a obra
Mandado de Segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, habeas data.
São Paulo: Revista dos Tribunais.

Além do princípio da liberdade que estudamos anteriormente, outro


importante princípio constitucional é o princípio da legalidade. Por este princípio,
previsto no inciso II do art. 5º da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” Segundo Moraes
(2003, p. 69), “Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio
das espécies normativas devidamente elaboradas conforme as regras do processo
legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo.”

Também o artigo 5º, em seu inciso VI e VIII, garantem a liberdade de


consciência e de crença (VI), impedindo expressamente, que alguém seja privado
de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
a não ser se alegar esta situação para tentar descumprir uma obrigação legal (por
exemplo alguém que diga que não paga impostos porque sua religião não permite),
ou se recusar a cumprir prestação alternativa fixada em lei.

Outro importante princípio é o que garante a indenização por dano


material, moral ou à imagem. O dano material é aquele que se traduz em perda
material, enquanto o direito moral é aquele que atinge o indivíduo de forma
pessoal, quando, por exemplo, a situação expõe a vítima a um constrangimento ou
sofrimento desnecessário. Interessante ressaltar que as pessoas jurídicas também
podem sofrer danos morais, estando, porém ligado ao abalo de crédito que a ofensa
poderá gerar. Além da indenização, é garantido o direito de resposta.

A liberdade do pensamento também é garantida pela Constituição Federal,


(inciso IX), garantida a inexistência de censura prévia. Porém, como adverte Moraes
(2003, p. 78-79), esta liberdade não é absoluta, quando afirma que:
A inviolabilidade prevista no inciso X do art. 5º., porém, traça os limites
tanto para a liberdade de expressão do pensamento, como para o direito
à informação, vedando-se o atingimento à intimidade, à vida privada, à
honra e à imagem das pessoas (MORAES, 2003, p. 78).

Ao se manifestar sobre a liberdade de imprensa, adverte:


Essa previsão, porém, não significa que a liberdade de imprensa é
absoluta, não encontrando restrições nos demais direitos fundamentais,
pois a responsabilização posterior e/ou responsável pelas notícias
injuriosas, difamantes, mentirosas sempre será cabível, em relação a
eventuais danos materiais e morais. (MORAES, 2003, p. 79).

49
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

O inciso X do art. 5º garante proteção constitucional à vida privada,


“salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas
externas” (MORAES, 2003, p. 79). A utilização indevida ou não autorizada de
imagem, por exemplo, ou a ofensa da honra de uma pessoa sujeitarão o infrator a
responder civil e criminalmente por esta ofensa.

Como dissemos anteriormente, também a pessoa jurídica pode ser afetada


em sua honra, quando, por exemplo, vê encaminhado a protesto um título “frio”,
mostrando-se assim ser indevido.

Outro princípio que merece destaque é o da inviolabilidade do domicílio,


previsto no art. 5º, XI da CF. Domicílio é “todo local, delimitado e separado, que
alguém ocupa com exclusividade, a qualquer título, inclusive profissionalmente,
pois nessa relação entre pessoa e espaço, preserva-se, mediatamente, a vida
privada do sujeito” (MORAES, 2003, p. 81). Assim como no direito à liberdade
do pensamento, esta inviolabilidade não é absoluta. As exceções estão previstas
no próprio texto constitucional: casos de flagrante delito ou desastre, para prestar
socorro, e também durante o dia, por determinação judicial.

Também são garantidos constitucionalmente (art. 5º, XII) o sigilo da


correspondência, de dados e das comunicações. Ainda nesta categoria, podemos
incluir a garantia do sigilo bancário e fiscal. Porém, estas garantias também sofrem
exceções quando o interesse público for o motivo determinante para sua quebra,
como ocorre, por exemplo, na instrução criminal. Conforme a Constituição, a
interceptação telefônica somente será possível mediante autorização judicial nos
termos que a lei estabelecer, e para fins de investigação. Com relação ao sigilo
dos dados, estes também poderão ser quebrados pelo Ministério Público ou pela
CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), entre outros casos previstos na Lei e na
própria Constituição Federal.

NOTA

A Lei que regulamenta este artigo é a Lei n. 9.296/96, estabelecendo disposições


para que seja possível a interceptação telefônica que vulgarmente se conhece por “grampo”.

E
IMPORTANT

“O sigilo bancário individual coloca-o na condição de “cláusula pétrea” (CF, art. 60,
§4º,IV), impedindo, dessa forma, a aprovação de emenda constitucional tendente a aboli-lo ou
mesmo modificá-lo estruturalmente” (MORAES, 2003, p. 97).

50
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

Também o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada são


protegidos pela Constituição Federal, que garante que a lei não os prejudicará (art.
5º. XXXVI).

Bastos apud Moraes (2003, p. 105), ao definir o direito adquirido e o ato


jurídico, observa que este:

constitui-se num dos recursos de que se vale a Constituição para limitar


a retroatividade da lei. Com efeito, esta está em constante mutação;
o Estado cumpre seu papel exatamente na medida em que atualiza
suas leis. No entretanto, a utilização da lei em caráter retroativo, em
muitos casos, repugna porque fere situações jurídicas que já tinham por
consolidadas no tempo, e esta é uma das fontes principais do homem
na terra.

O ato jurídico perfeito:

Isto não quer dizer, por si só, que ele encerre em seu bojo um direito
adquirido. Do que está o seu beneficiário imunizado é de oscilações de
forma aportadas pela lei nova.

De uma forma resumida, podemos dizer, então, que por este princípio a lei
não poderá retroagir para modificar uma situação já concretizada.

O princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório


são expressos nos incisos LIV e LV do art. 5º e também o princípio da presunção
da inocência (art. 5º., LVII). Vejamos cada um deles:
O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo,
atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito da liberdade,
quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições
com o Estado-persecutor e plenitude de defesa [...]

Este princípio garante, assim, tanto nos processos judiciais quanto nos
administrativos, que serão respeitadas todas as fases do processo e garantida a
defesa em toda a sua amplitude (meios e provas). Como consequência da ampla
defesa, é assegurado ainda o contraditório, que garante que aquele que for acusado
terá o direito de se defender.

Já o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII), estabelece que


“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.” Ou seja, por este princípio, presume-se que todo mundo é inocente,
sendo função do Estado provar a culpa do sujeito. Passemos à segunda espécie de
direitos e garantias fundamentais: direitos sociais.

51
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

2.2.2 Direitos Sociais


Os direitos sociais são os direitos fundamentais do trabalhador, que é o
“empregado que mantiver algum vínculo de emprego” (MORAES, 2003, p. 202).

Estes direitos são previstos no art. 7º da Constituição Federal e têm por


objetivo principal a proteção dos direitos do trabalhador. Além disso, os direitos
sociais têm que ser obrigatoriamente respeitados.

UNI

É importante que você leia no inteiro teor o art. 7º Da Constituição Federal. Caso
não tenha um exemplar, baixe-o no site <www.planalto.gov.br>.

Estas regras “formam a base do contrato de trabalho, uma linha divisória


entre a vontade do Estado, manifestada pelos poderes competentes, e as dos
contratantes” (SUSSEKIND apud MORAES, 2003, p. 203). De uma forma resumida,
são os seguintes os principais direitos fundamentais do trabalhador:

l proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa


causa;
l seguro-desemprego em caso de desemprego involuntário;
l Fundo de Garantia por Tempo de Serviço;
l salário-mínimo;
l piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
l irredutibilidade do salário, salvo previsto em convenção ou acordo coletivo de
trabalho;
l décimo terceiro salário;
l férias;
l licença à gestante e licença paternidade;
l aviso prévio;
l aposentadoria;
l seguro contra acidentes de trabalho, entre outros.

TUROS
ESTUDOS FU

Você conhecerá estes direitos mais profundamente em uma disciplina específica.

52
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

2.2.3 Direitos da Nacionalidade


Pode-se conceituar a nacionalidade como sendo “o vínculo jurídico político
que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo
um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado” (CARVALHO apud
MORAES, 2003, p. 213). Segundo Moraes (2003, p. 213), este vínculo “capacita o
indivíduo a exigir sua proteção, mas, ao mesmo tempo, o sujeita ao cumprimento
dos deveres impostos”.

Como salienta Moraes (2003), o conceito de nacionalidade está ligado aos


conceitos de povo, população e nação, os quais também extraímos das ideias do
referido autor:

conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado


POVO (MORAES, 2003, p. 213).

conjunto de habitantes de um território, de um


POPULAÇÃO país, de uma região ou de uma cidade. Abrange os
nacionais e os estrangeiros (MORAES, 2003, p. 213).

agrupamento humano, em geral numeroso, cujos


membros fixados num território, são ligados
NAÇÃO
por laços históricos, culturais, econômicos e
linguísticos (MORAES, 2003 p. 214).

A nacionalidade pode ser adquirida com o nascimento (ex.: brasileiro nato),


chamada “originária” ou posteriormente, através de um pedido de naturalização
(ex.: o estrangeiro que pede naturalização e se torna brasileiro naturalizado), que
se chama nacionalidade “adquirida”.

53
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

E
IMPORTANT

A Constituição proíbe que a lei faça diferenciação entre brasileiros natos e


naturalizados a não ser em casos previstos na própria Carta Magna. Assim, apesar de se tornar
brasileiro pela naturalização, o estrangeiro naturalizado não adquire os mesmos direitos que os
brasileiros natos. Por exemplo, existem cargos públicos privativos de brasileiros natos, tais como
o de Presidente da República e Ministro do Supremo Tribunal Federal, como veremos a seguir.

Quanto aos critérios utilizados para o reconhecimento da nacionalidade


originária, segundo Moraes (2003, p. 215) são basicamente dois:

l a origem sanguínea – todo descendente de nacionais será nacional,


independente de onde nasceu.

l a origem territorial – quem nasce em determinado território terá a respectiva


nacionalidade, independente de sua ascendência.

E qual o critério adotado pela atual Constituição Brasileira? O critério


adotado pela nossa Carta Magna foi, como regra geral, o da origem territorial.
Ou seja, em princípio, quem nascer em território nacional, será considerado
brasileiro. Porém, há exceções a esta regra, previstas no próprio ordenamento
constitucional, qual seja, no artigo 12, I da CF:

Art. 12: São brasileiros:


 
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
(exceção à origem territorial - Nota da autora)

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,


desde que sejam registrados em repartição brasileira competente
ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira;

II – naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas
aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por
um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver

54
TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL

reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos


inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

No parágrafo terceiro deste mesmo artigo, encontramos os cargos que só


poderão ser ocupados por brasileiros natos:

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII - de Ministro de Estado da Defesa.

Segundo o art. 12, §4º da Constituição da República, o brasileiro perderá sua


nacionalidade, quando:

[...]
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude
de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro
residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em
seu território ou para o exercício de direitos civis.

2.2.4 Direitos Políticos


No capítulo V da CF (arts. 14 ao 16), estão expressos os direitos políticos
e as condições de elegibilidade, alistamento e voto etc. Segundo Moraes (2003, p.
232), os direitos políticos formam “o conjunto de regras que disciplina a forma de
atuação da soberania popular [...]”. Dos ensinamentos do referido autor, podemos
apontar, de forma resumida, como direitos políticos os seguintes:

l direito ao sufrágio  direito de votar e ser votado;


l direito de votar em eleições, plebiscitos e referendos;
l elegibilidade  possibilidade de concorrer a cargos políticos. Para ser elegível,
é necessário que o candidato cumpra as seguintes condições, as previstas no
art. 14, §3º da CF: a nacionalidade brasileira, o alistamento eleitoral, o domicílio
eleitoral na circunscrição; a filiação partidária; a idade mínima para cada cargo.
Os analfabetos e os inalistáveis (art. 14 §4º);
l iniciativa Popular de lei;
l ação Popular;
l organização e participação de partidos políticos.

Poderá haver a perda ou a suspensão dos direitos políticos. A perda é


definitiva, enquanto a suspensão é temporária.

55
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

O art. 15 da CF estabelece os casos de perda e suspensão, sendo que


em razão da Constituição não estabelecer o critério diferenciador, colhemos da
doutrina de Moraes (2003, p. 258-263):
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
(perda)
II - incapacidade civil absoluta; (suspensão)
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos; (suspensão)
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; (suspensão)
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º (suspensão).

2.2.5 Direitos Relacionados à Organização, Participação


e Funcionamento dos Partidos Políticos
Segundo a Constituição Federal (art. 17), os partidos podem ser livremente
criados, fundidos, incorporados e extintos, devendo ser observados: a soberania
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da
pessoa humana . Ainda segundo o mesmo artigo, deverão ser seguidos os seguintes
preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros
de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação
de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Os partidos políticos, após se constituírem em conformidade com a lei


civil, deverão registrar seus estatutos no Tribunal Regional Eleitoral, conforme
exige a Constituição Federal. Nos demais parágrafos do art. 17, lemos que os
partidos políticos são autônomos para definir sua estrutura interna, organização
e funcionamento, entre outros direitos previstos na Constituição, tais como
participação em fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão, que serão
disciplinados por leis específicas.

UNI

Agora que você já conhece alguns aspectos do Direito Constitucional, após


resolver nossos exercícios de fixação, vamos, no próximo tópico, passar ao estudo do Direito
Administrativo.

56
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

l O Direito Público é o Direito em que o Estado participa como parte na relação


jurídica.

l O Direito Público é dividido em Direito Público interno e externo.

l ODireito Público Interno é dividido em diversos ramos, dentre eles o Direito


Constitucional.

l O Direito Constitucional tem como objeto de estudo a Constituição Federal, que


é a Lei Magna de um país.

l AConstituição Federal de 1988 traz vários direitos e garantias fundamentais


previstos no art. 5º.

l Hávárias ações constitucionais que tutelam a liberdade, tais como habeas corpus,
habeas data, entre outros.

l Os direitos sociais protegem o trabalhador.

l Há duas espécies de nacionalidade: a que se adquire com o nascimento


(originária), reconhecida pelos critérios da origem sanguínea ou territorial e a
que decorre da naturalização também chamada “adquirida”.

l Osdireitos políticos e os relativos à organização e funcionamento dos partidos


políticos.

57
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa que não contém uma característica da Constituição


Federal de 1988:

a) ( ) Formal.
b) ( ) Rígida.
c) ( ) Sintética.
d) ( ) Dogmática.

2 Com relação aos direitos políticos, pode-se afirmar que o cancelamento da


naturalização por sentença transitada em julgado resultará:

a) ( ) Na perda dos direitos políticos.


b) ( ) Não é caso de perda nem suspensão dos direitos políticos.
c) ( ) Suspensão dos direitos políticos.
d) ( ) Pagamento de multa à Justiça Eleitoral.

3 Sobre as formas de interposição do mandado de segurança, é correto afirmar:

a) ( ) Admite-se sua impetração de forma individual, mas apenas repressivamente.


b) ( ) Pode ser impetrado de forma individual ou coletiva, mas apenas
preventivamente.
c) ( ) Apenas se admite sua impetração de forma coletiva e de forma preventiva.
d) ( ) Admite-se sua impetração de forma coletiva ou individual, preventiva ou
repressivamente.

4 O artigo 7º, XI prevê a participação dos empregados nos lucros ou resultados


da empresa, conforme previsto em lei. Como não existe a lei que regulamenta
esta matéria, aponte o remédio constitucional cabível:

a) ( ) Mandado de Injunção.
b) ( ) Ação Popular.
c) ( ) Ação Civil Pública.
d) ( ) Habeas Data.

5 Ao propor uma Ação Popular, podemos afirmar que o objetivo do autor é


proteger:

a) ( ) A liberdade de ir e vir.
b) ( ) Direito líquido e certo.
c) ( ) Patrimônio público.
d) ( ) Liberdade de pensamento.

58
6 Segundo a Constituição Federal, não existirá no Brasil censura prévia.
Podemos dizer que esta afirmação decorre do princípio:

a) ( ) Da presunção de inocência.
b) ( ) Da liberdade de pensamento.
c) ( ) Da inviolabilidade do domicílio.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

7 “É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários à


sua formação, debaixo da lei velha”. Este é um conceito de:

a) ( ) Ato jurídico perfeito.


b) ( ) Ato jurídico julgado.
c) ( ) Direito líquido e certo.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

8 Este princípio garante tanto nos processos judiciais quanto nos


administrativos, que serão respeitadas todas as fases do processo e garantida
a defesa em toda a sua amplitude (meios e provas):

a) ( ) Presunção de inocência.
b) ( ) Inviolabilidade do domicílio.
c) ( ) Devido processo legal.
d) ( ) Direito líquido e certo.

9 Qual dos seguintes cargos não é privativo de “brasileiro nato”?

a) ( ) Presidente e Vice-Presidente da República.


b) ( ) Vereador.
c) ( ) Presidente da Câmara dos Deputados.
d) ( ) Presidente do Senado Federal.

10 Enquanto durarem os efeitos da condenação criminal transitada em julgado,


os direitos políticos do réu:

a) ( ) Ficarão suspensos.
b) ( ) Serão extintos.
c) ( ) Não serão nem extintos nem suspensos.
d) ( ) Serão transferidos para outro membro do partido.

11 Leia as afirmações a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F


para as falsas:

( ) Na ação popular, há a necessidade de haver ato lesivo do patrimônio


público.

59
( ) O mandado de segurança só pode ser impetrado por cidadãos.
( ) O mandado de segurança pode ser impetrado preventivamente.
( ) O habeas data serve para se ter acesso a informações constantes nos registros
públicos.
( ) O mandado de injunção e mandado de segurança têm o mesmo objetivo.
( ) A ação popular pode ser proposta por uma pessoa jurídica.
( ) O habeas corpus é impetrado para garantir o direito de ir e vir.
( ) Os princípios constitucionais são sempre absolutos.
( ) O direito à vida abrange não somente o direito de existir, mas também de
ter uma vida digna.
( ) O direito à liberdade de pensamento não é absoluto.
( ) Direito Moral e Material são expressões sinônimas.

60
UNIDADE 2 TÓPICO 2

DIREITO ADMINISTRATIVO
E DIREITO PROCESSUAL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar o Direito Administrativo que traz as regras
que disciplinam a atividade da Administração Pública. Iniciaremos pelo estudo
do conceito deste importante ramo do Direito, para então estudarmos os atos
administrativos. Por fim, estudaremos os princípios que regem a Administração
Pública e conheceremos os princípios e características dos contratos administrativos.

Apenas em razão da necessária divisão do conteúdo neste tópico,


estudaremos também o Direito Processual.

Preparado? Então, mãos à obra!

2 DIREITO ADMINISTRATIVO

2.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), o Direito Administrativo “é o
conjunto de normas que regem a Administração Pública”, ou seja, traz as regras
que “organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a
forma de ação para a consecução de seus objetivos (NUNES, 2003, p. 125).

É, pois, no Direito Administrativo que encontraremos as regras que


determinam, por exemplo, porque será realizada a desapropriação de um bem de
um particular, como deverá ser realizado um contrato com um particular etc.

Importante salientar que estas normas são de cumprimento obrigatório e


nem por acordo entre a Administração e o particular podem ser modificadas.

2.2 ATOS ADMINISTRATIVOS


A Administração Pública realiza sua função através dos atos administrativos.
O ato administrativo, segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), pode ser:

61
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

l unilateral: quando a Administração, “cria, modifica ou extingue direitos em


relação aos administrados, aos seus servidores ou a ela própria”. Ou seja, neste
tipo de ato a administração age “sozinha”.

l bilateral: no ato administrativo bilateral, existem duas partes envolvidas na


relação jurídica. “Refere-se aos contratos realizados pela Administração, tendo
por fim a satisfação de algum interesse público”.

O ato administrativo será ainda vinculado, “quando o modo de praticar o


ato já vem descrito na lei (FÜHRER; MILARÉ 2003, p. 128-129) ou discricionário,
quando o administrador tem certa liberdade de escolher a oportunidade ou a
forma de realizar o ato”.

Dentre os poderes da Administração regulamentados pelo Direito


Administrativo há ainda o poder de polícia, que “consiste na faculdade de a
Administração Pública coibir atos individuais que contrariem a lei e os interesses
públicos” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 128). Advertem os mesmos autores que
este poder também é limitado, sendo que, em caso de abuso, o particular poderá
recorrer ao Judiciário, para fazer cessar o abuso, impetrando geralmente habeas
corpus ou mandado de segurança. Veja que interessante este caso extraído da
jurisprudência:
Poder de polícia. Estabelecimento comercial. Drive-in. Fechamento por
ordem de autoridade municipal, sob alegação de desvirtuamento das
respectivas finalidades. Inexistência, contudo, de prova nesse sentido,
ao menos de instauração de sindicância. Ato ilegal. Segurança concedida
(RT 445/186).

Entenderemos, a partir de agora, quais são e como funcionam as entidades


estatais e as autarquias.
“As entidades estatais são a União, os Estados e os Municípios e as
suas autarquias. As autarquias são entes públicos autônomos, com
personalidade jurídica e patrimônio próprios, detentoras de uma parcela
do poder estatal, destacadas da administração indireta, com a finalidade
de descentralizar os serviços públicos. Exemplos de autarquias: INSS,
Caixas Econômicas etc.”(FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 131).

Além das atividades estatais, existem as entidades paraestatais, que


“assumem forma civil, embora sejam públicas na essência” (FÜHRER; MILARÉ,
2003, p. 131). Com base nos ensinamentos dos referidos autores (p. 131-132),
podemos afirmar que são entidades paraestatais, resumidamente, as seguintes:
“empresas públicas (pessoas jurídicas de direito privado com capital
inteiramente público (ex.: BNDES, Embratel etc.), sociedades de
economia mista (pessoas jurídicas de direito privado, formadas
com capital público e particular, com predominância de direção
estatal, exemplo: Petrobrás), fundações públicas, constituem uma
universalidade de bens, com personalidade jurídica própria, destacada
do patrimônio da entidade estatal instituidora, com finalidades
predeterminadas [...] Ex.: FUNAI.

62
TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL

2.3 PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


A Administração Pública não poder agir indistintamente. Os limites a esta
atuação são delineados por princípios que estão previstos no art. 37 da Constituição
Federal:
Art. 37: A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. (grifo nossos)

Para fixar bem este conhecimento, visualize a figura a seguir (DICA: caso
necessite “decorar” estes princípios, veja que, na ordem em que aparecem na
figura, formam a palavra “LIMPE”):

FIGURA 13 - DIREITO ADMINISTRATIVO E SEUS PRINCÍPIOS

FONTE: A autora

Apesar dos princípios se destinarem à Administração Pública, também


os outros poderes (Legislativo e Judiciário) ficam obrigados a cumpri-los quando
praticam atos administrativos.

Assim, os atos da Administração Pública, devem, necessariamente, cumprir


alguns princípios, previstos no art. 37 da Constituição da República:

2.3.1 Princípio da Legalidade


Já estudamos este princípio no tópico anterior. Ele garante que: "ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
Também já afirmamos que o princípio da legalidade é considerado uma das bases
do Estado Democrático de Direito.

Este princípio, quando aplicado ao Direito Administrativo, impõe certos


limites à atuação da Administração Pública, que assim não poderá agir em
desconformidade com a lei, sob pena de configuração de ato abusivo.

63
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

Vejamos os ensinamentos de Mello (2004 , p. 57):


Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e captar-lhe o
sentido profundo, cumpre atentar para o fato de que ele é a tradução
jurídica de um propósito político: o de submeter os exercentes do poder
em concreto – administrativo – a um quadro normativo que embargue
favoritismos, perseguições ou desmandos. Pretende-se através da norma
geral, abstrata e impessoal, a lei, editada pelo Poder Legislativo – que é
o colégio representativo de todas as tendências (inclusive minoritárias)
do corpo social – garantir que a atuação do Executivo nada mais seja
senão a concretização da vontade geral.

2.3.2 Princípio da Impessoalidade


Por este princípio, impõe-se uma igualdade de tratamento entre os
particulares (administrados), focando-se os atos administrativos no interesse
público, não sendo assim possível o favorecimento de uns em detrimento dos
outros, conforme ensina Mello (2004, p. 57):
No princípio da impessoalidade se traduz a ideia de que a Administração
tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas
ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis.
Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não
podem interferir na atuação administrativa e muito menos interesses
sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. O princípio em
causa é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia.

Segundo Meirelles (2005, p. 91):


O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37,
caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe
ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E
o fim legal é unicamente aquele que a norma de direito indica expressa
ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal.[...] Desde
que o princípio da finalidade exige que o ato seja praticado sempre com
finalidade pública, o administrador fica impedido de buscar outro
objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros. Pode,
entretanto, o interesse público coincidir com o de particulares, como
ocorre normalmente nos atos administrativos negociais e nos contratos
públicos, casos em que é lícito conjugar a pretensão do particular com
o interesse coletivo. O que o princípio da finalidade veda é a prática
de ato administrativo sem interesse público ou conveniência para a
Administração, visando unicamente satisfazer interesses privados, por
favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de
desvio de finalidade.

2.3.3 Princípio da Moralidade


Por este princípio, os atos administrativos devem ser realizados com base
na moral, o que pode ser traduzido na necessidade de os atos administrativos
serem praticados com base na probidade.

64
TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL

Sua importância é tal, que a inobservância deste princípio gera a


invalidade do ato administrativo (você se lembra da ação popular que estudamos
anteriormente, que tem por objetivo justamente anular o ato administrativo lesivo
ao patrimônio público?) e ainda a suspensão dos direitos políticos do agente
ímprobo (art. 37, §4º da CF).

É necessária, pois, além da observância dos ditames legais (princípio


da legalidade) que a prática dos atos administrativos ocorra de acordo com a
moralidade administrativa que traz as regras de conduta ética que devem permear
sua realização.

UNI

Você se lembra do conceito de moral que estudamos na Unidade 1? Se não


lembra, volte um pouquinho em seus estudos e confira este conceito.

Sobre este princípio, colhemos dos ensinamentos de Meirelles (2005, p. 89):


A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto da
validade de todo ato da Administração Pública (Const. Rep., art. 37,
caput). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da
moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como "o conjunto
de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração".
Desenvolvendo a sua doutrina, explica o mesmo autor que o agente
administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E,
ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim,
não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o
conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também
entre o honesto e o desonesto. Por considerações de direito e de moral,
o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas
também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal
é honesto, conforme já proclamavam os romanos – non omne quod licet
honestum est. A moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem
para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente
público para a sua conduta interna, segundo as exigências da instituição
a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum.
[...] O certo é que a moralidade do ato administrativo, juntamente com a
sua legalidade e finalidade, constituem pressupostos de validade, sem os
quais toda atividade pública será ilegítima.

2.3.4 Princípio da Publicidade


Por este princípio, torna-se necessário que os atos administrativos sejam
praticados com transparência, permitindo o conhecimento por todos (pela
publicação, por exemplo, no Diário Oficial, ou comunicação) dos atos que estão
sendo praticados pela Administração Pública.

65
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

Medauar (2005, p. 147) ressalta a relevância do princípio quando aduz que


“O tema da transparência e visibilidade, também tratado como publicidade da
atuação administrativa, encontra-se associado à reivindicação geral da democracia
administrativa”.

Proíbe, pois, este princípio, como regra geral, uma atuação da administração
pública que não permita o conhecimento pela coletividade de seus atos. Ao
contrário, exige, assim, que seja possível o acompanhamento e a fiscalização dos
atos dos entes públicos pela sociedade.

2.3.5 Princípio da Eficiência


Conforme Medauar (2005, p. 149), o vocábulo eficiência está ligado “à
ideia de ação para produzir resultado, de modo rápido e preciso para satisfazer a
população”.

Este princípio estabelece que não basta o administrador praticar o ato de


acordo com os princípios antes estudados, mas deve praticá-lo com eficiência, o
que significa dizer economia do dinheiro público e resultados mais efetivos.

Exige-se não apenas cumprimento da lei, mas atos capazes de realizar as


necessidades dos administrados.

2.3.6 Contratos Administrativos


O contrato é um negócio jurídico realizado por duas ou mais pessoas e
nasce da junção destas “vontades”, chamado consentimento.

Para a validade deste negócio jurídico, são necessários: agente capaz, forma
prescrita ou não defesa em lei e objeto lícito, conforme exige o art. 104 do Código Civil.

TUROS
ESTUDOS FU

Você estudará cada um destes requisitos na Unidade 3.

O contrato administrativo se diferencia do contrato comum em razão de


possuir a característica de publicidade e da participação do Poder Público. Este
poder aparece “como parte predominante, e pela finalidade de atender a interesse
público” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 135). Além disso, possui características
próprias, apontada por Führer e Milaré (2003, p. 135), as quais resumimos no mapa
conceitual a seguir:

66
TÓPICO 2 | DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO PROCESSUAL

FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO

FONTE: Adaptado de Führer e Milaré (2003, p. 135)

TUROS
ESTUDOS FU

Você estudará a licitação, suas formas e características em disciplina futura.

67
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

3 DIREITO PROCESSUAL
O Direito Processual é o ramo do Direito Público que regulamenta a forma
que as ações judiciais se desenvolverão no Judiciário. Traz as regras que chamamos
de “direito formal”, enquanto o Direito Civil, por exemplo, traz as regras de “direito
material”. Para entendermos este sistema, podemos visualizar o direito material
como sendo “o jogo”, enquanto o direito processual traz “as regras do jogo”.

Assim, tomemos como exemplo o direito de propriedade. Enquanto o direito


civil estabelece como se origina e se extingue este direito, o direito processual civil
determinará como se deve proceder para retomá-lo.

O Direito Processual é dividido em três grandes ramos: Direito Processual


Civil, Direito Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, correspondentes
a cada uma das áreas do direito material.

O Código de Processo Civil, Lei n. 5.869/73, é a lei que serve de instrumento


para o Direito Processual Civil.

O Código de Processo Penal (decreto-lei n. 3.689 - de 03 de outubro de


1941) é o instrumento que traz as disposições relativas ao processo penal.

Já as regras de direito processual do trabalho estão na Consolidação das


Leis do Trabalho, (Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943) conhecida como
“CLT”, e subsidiariamente utiliza-se o CPC.

68
RESUMO DO TÓPICO 2
Prezado(a) acadêmico(a), este tópico permitiu a você:

l Compreender que o Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que traz


as regras que se aplicam ao Estado como administrador público.

l Conhecer os princípios que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelo


administrador público: Legalidade, Moralidade, Publicidade, Impessoalidade e
Eficiência.

l Entender o conceito de ato administrativo e compreender suas espécies.

l Conhecer o conceito de contrato administrativo e suas características.

l Compreender o conceito de direito processual e suas subdivisões.

69
AUTOATIVIDADE

Para verificar seu aprendizado sobre os conteúdos deste tópico,


responda às questões a seguir:

1 Cite duas diferenças entre o contrato comum e o contrato administrativo.

2 Explique a característica execução inafastável que é própria do contrato


administrativo.

3 O que são autarquias?

4 Quais são as características das entidades paraestatais?

5 Como se explica a característica “alteridade” dos contratos administrativos?

6 O que ocorrerá com o contrato administrativo, caso não seja respeitado o


princípio da moralidade?

7 O que estabelece o princípio da impessoalidade?

8 Cite os princípios previstos na Constituição Federal e que devem ser


respeitados obrigatoriamente pela administração pública.

9 Quais os ramos do Direito Processual?

10 Quais os principais diplomas legais que trazem as normas de Direito


Processual?

70
UNIDADE 2
TÓPICO 3

DIREITO PENAL – DIREITO


TRIBUTÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Partiremos agora para o estudo do Direito Penal e do Direito Tributário.
Inicialmente, vamos estudar o Direito Penal, analisando o fato típico, seu principal
objeto e as ações ou omissões culposas e dolosas que os configuram. Estudaremos
também a questão da culpa, para definirmos o que vem a ser um crime doloso ou
culposo. Ainda neste tópico, conheceremos as causas que excluem a antijuridicidade
do crime, tais como a legítima defesa e os crimes que têm por objeto a defesa do
patrimônio.

Também neste tópico, teremos uma breve noção do Direito Tributário, uma
vez que o seu estudo será objeto de disciplina própria de seu curso.

2 DIREITO PENAL

2.1 CONCEITO E FUNÇÃO


O Direito Penal “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que regulam
os crimes e as contravenções penais” (condutas ilícitas penais de menor potencial
ofensivo), com as correspondentes penas aplicáveis (NUNES, 2003, p. 127).

Sua função é a “proteção de bens jurídico-penais – bens do Direito –


essenciais ao indivíduo e à comunidade” (PRADO, 2005, p. 23). Estes bens são
a vida, o patrimônio, os costumes, a paz social etc. Uma vez atingidos estes bens
jurídicos, o infrator ficará sujeito às sanções previstas na própria legislação penal
(penas ou medidas de segurança).

2.2 DIVISÃO DO DIREITO PENAL


O Direito Penal é regulamentado pelo Código Penal, que é o Decreto-Lei
nº 2.848/1940, que é composto de uma parte geral (art. 1º. a 121) e de uma parte
especial (art. 121 ao 361). A parte especial traz os crimes divididos de acordo com
o bem jurídico tutelado (ex.: crimes contra a vida, crimes contra o patrimônio

71
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

etc.). Ainda é parte do Direito Penal a legislação extravagante, tais como a Lei de
Entorpecentes, a Lei Maria da Penha, a Lei de Execução Penal, entre outras.

2.3 FATO TÍPICO - CRIME E CONTRAVENÇÃO


Segundo Damásio de Jesus (2006, p. 33), “Para que haja crime, é preciso,
em primeiro lugar, uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão)”.

Porém, para que esta ação ou omissão seja relevante para o Direito Penal,
é necessário que esta ação ou omissão esteja tipificada. Ou seja, é necessário que a
lei preveja que esta ação ou omissão seja enquadrada como crime ou contravenção,
chamados “tipos penais”. Caso contrário, esta ação será irrelevante para o Direito
Penal. O homicídio, o furto, o estupro e todos os crimes previstos na Parte Especial
do Código Penal são exemplos de tipos legais. Damásio de Jesus (2006, p. 33) fornece
um exemplo, ao citar o furto de uso, em que a pessoa pega um bem de outrem para
usar e após devolver, sem a intenção de subtraí-lo para si, como ocorre no furto
previsto no art. 155. Podemos dizer assim que se trata de um ato atípico, ou seja,
que não se enquadra no tipo legal, sendo assim irrelevante para o Direito.

Além de típico, o fato precisa ser antijurídico, ou seja, contrário à lei. O fato
antijurídico pode ser considerado como o “fato que, além de típico, não tem a seu
favor nenhuma justificativa como a legítima defesa ou o estado de necessidade”
(FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 141). Assim, um homicídio praticado em legítima
defesa será típico, mas não será antijurídico, porque haverá uma excludente de
antijuridicidade que é a legítima defesa, que estudaremos mais adiante.

Podemos dizer, assim, conforme assentado na doutrina, que crime é “fato


típico e antijurídico”.

Já na contravenção, há uma conduta menos grave e que causa menos


prejuízo, sendo que, por isso, se cominam penas mais brandas. As contravenções
penais são regulamentadas pelo Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de Outubro de 1941,
conhecido como “Lei das Contravenções Penais”, à qual se aplicam as disposições
do Código Penal, naquilo que for aplicável. Exemplos de contravenção são: o
jogo do bicho, uso indevido de uniforme, entre outras.

2.4 DOLO E CULPA


Nos crimes e contravenções, há de se distinguir a conduta dolosa da conduta
culposa.

72
TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO

Assim, “são dolosos os crimes intencionais. Diz-se o crime doloso, quando


o agente quis o resultado (dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo
eventual)” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144).

Então: DOLO = INTENÇÃO DE PRODUZIR O RESULTADO OU ASSUMIR


O RISCO DE PRODUZI-LO.

Na culpa, ao contrário, não há intenção na prática do fato delituoso,


“faltando também o agente a um dever de atenção e cuidado” (FÜHRER; MILARÉ,
2005, p. 144).

A ação culposa ocorre em três tipos de conduta: negligência, imprudência


e imperícia. Veja a seguir o conceito de cada uma das modalidades:

l NEGLIGÊNCIA: “displicência, relaxamento, falta de atenção devida, como não


observar a rua ao dirigir” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144).

l IMPRUDÊNCIA: “Conduta precipitada ou afoita, a criação desnecessária de um


perigo, como dirigir veículo em excesso de velocidade” (FÜHRER; MILARÉ,
2005, p. 144).

l IMPERÍCIA: “É a falta de habilidade técnica para certas habilidades, como não


saber manobrar direito um veículo” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144).

Por isso, podemos dizer que há crime culposo quando o agente deu causa
ao resultado por negligência, imprudência ou imperícia.

Do que estudamos até agora, podemos visualizar o seguinte:

FIGURA 15 - DIFERENÇAS ENTRE CRIMES CULPOSOS E DOLOSOS

FONTE: A autora

73
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

2.5 CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE


Como vimos anteriormente, a antijuridicidade é a prática de um ato contrário
à lei, sem que haja uma justificativa para tanto. O ato pode ser assim antijurídico
(ex.: matar alguém), mas haver uma justificativa (ex.: legítima defesa). Neste item,
vamos conhecer cada uma das causas que excluem a antijuridicidade, também
chamada ilicitude de um ato típico. São causas excludentes de antijuridicidade:
estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e
exercício regular de direito. Vamos conhecer cada uma delas?

Age em estado de necessidade, segundo o art. 24 do Código Penal, quem


“pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.” “Exemplo de estado de necessidade é a
disputa de náufragos pela posse de uma tábua de salvação” (FÜHRER; MILARÉ,
2005, p. 149).

Em legítima defesa, segundo o art. 25 do Código Penal, age quem “usando


moderadamente dos meios necessários, impele injusta agressão, atual ou iminente
a direito seu ou de outrem.” Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2005, p. 149),
podemos, resumidamente, apontar que “são critérios para a configuração da
legítima defesa: a defesa deve ser contra ser humano, deve ser injusta, atual ou
iminente (acontecendo ou em vias de acontecer)”. Deve ainda ser moderada, ou
seja, ser proporcional à agressão sofrida. Ex.: não será considerada legítima defesa
a reação de quem atira em uma pessoa que ataca com as mãos vazias.

A configuração do estrito cumprimento do dever legal ocorre quando o


agente “cumpre exatamente o determinado pelo ordenamento jurídico, realizando,
assim, uma conduta lícita [...]. Há de ser dever legal, proveniente de disposição
jurídico-normativa (lei, decreto, portaria, regulamento,etc.) v.g., oficial de justiça
que cumpre o mandado de prisão, e não simplesmente moral, religioso ou social”
(PRADO, 2005, p. 114).

Por fim, conforme Prado (2005, p. 115, grifos nossos)


“aquele que age no exercício regular de direito, quer dizer, que exercita
uma faculdade de acordo com o direito, está atuando licitamente, de
forma autorizada – art. 5º., II, CF [...] (v.g., [...] defesa no esbulho possessório
- Art. 1.210 do CC; [...]. Não se pode considerar ilícita a prática de ato
justificado ou permitido pela lei, que se consubstancie em exercício
de direito dentro do marco legal, isto é, conforme os limites nele
inseridos,de modo regular e não abusivo.

2.6 CULPABILIDADE
Havendo a conduta típica e antijurídica, para que tenha lugar a aplicação
da pena, há necessidade de haver a culpabilidade. Assim, diante de um fato típico
e antijurídico, verificar-se-á a conduta do agente, sendo a culpabilidade, segundo

74
TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO

Prado (2005, p. 115), “um juízo de censura ou reprovação pessoal, ou seja, que recai
sobre a pessoa do agente, já que podia ter agido conforme a norma e não o fez [...]”.
A seguir, estudaremos os elementos da culpabilidade.

2.7 IMPUTABILIDADE PENAL


A imputabilidade penal “é a capacidade de culpabilidade, entendida
como capacidade de entender e de querer” (PRADO, 2005, p. 115). Em nosso
ordenamento penal, entende-se, como regra geral, como imputável penalmente o
maior de 18 anos, sendo que os menores ficam sujeitos à legislação específica.

Pode se considerar imputável, pois, “o sujeito mentalmente são e


desenvolvido, capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de
acordo com este entendimento” (JESUS, 2006, p. 124).

E
IMPORTANT

Como regra geral, apenas as pessoas físicas (seres humanos) podem ser sujeitos
ativos dos crimes. Como exceção a esta regra, temos a legislação ambiental, que prevê a
responsabilização penal da pessoa jurídica (Lei n. 9.605/98).

O artigo 26 do CP traz as causas de inimputabilidade, que, uma vez


presentes, afastam a imputabilidade do agente: doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, menoridade e embriaguez acidental completa.

2.8 PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA


Presentes os requisitos que configuram o crime (fato típico e antijurídico)
e ainda a culpabilidade, terá lugar a aplicação da penalidade respectiva. De uma
forma bem didática, podemos dizer que são três as espécies de penas: privativas de
liberdade, restritivas de direitos e multa, que serão aplicadas conforme a gravidade
do crime.

As restritivas de liberdade classificam-se em reclusão e detenção.

Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2003, p. 156-157) extraímos os


regimes de cumprimento de cada uma das espécies de penas:

l Regime fechado (cumprimento na penitenciária)  reclusão.

l Regime semiaberto (cumprimento em colônia agrícola ou similar)  reclusão e


detenção.
75
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

l Regime aberto (cumprido em casa do albergado)  reclusão e detenção.

As restritivas de direitos serão cumpridas através de prestação de serviços


à comunidade (tarefas gratuitas junto a hospitais, escolas ou orfanatos), interdição
temporária de direitos (com a proibição do exercício de profissão ou atividade
ou suspensão da licença para dirigir veículo) e limitação de fim de semana (com
a obrigação de permanecer o condenado, aos sábados e domingos, por 5 horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado).

Por fim, as penas de multa que variam de 10 a 360 dias-multa (1 dia multa
= 1/30 do salário-mínimo (mínimo) a 5 salários-mínimos (máximo), conforme a
situação econômica do réu.

Por fim, as medidas de segurança, segundo Führer e Milaré (2003, p. 156-157):


As medidas de segurança não são penas, mas tão somente meios
defensivos da sociedade. A pena refere-se mais à gravidade do delito,
ao passo que a medida de segurança preocupa-se com a periculosidade
do agente. [...]. As medidas de segurança são aplicáveis aos loucos. E
também, em caráter substitutivo da pena, aos semiloucos. As medidas
de segurança consistem na internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou na sujeição a tratamento ambulatorial,
por tempo indeterminado, no mínimo de 1 a 3 anos, até a cessação da
periculosidade verificada em perícia médica.

2.9 AÇÕES PENAIS


As ações penais são os meios através dos quais o Estado realizará a
persecução penal. De uma forma geral, as ações penais são de duas espécies:
públicas ou privadas.

Na maioria dos crimes, as ações penais são públicas, ou seja, quem inicia
a ação penal é o Ministério Público, representado pelo Promotor de Justiça, que
oferece a denúncia, independentemente da vontade do ofendido. A este tipo de
ação damos o nome de ação penal pública incondicionada. Há casos, porém, em
que a ação penal é pública, mas depende de iniciativa do ofendido para que possa
ser iniciada. A esta iniciativa, dá-se o nome de “representação”.

Já as ações privadas são aquelas em que o início da ação penal somente


ocorre mediante a iniciativa do ofendido, que ocorre através da “queixa-crime”.
São exemplos de crimes que somente terão a ação penal iniciada mediante queixa-
crime: a calúnia, a injúria e a difamação.

76
TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO

2.10 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


Na parte especial do Código Penal, existem crimes que protegem os
principais bens jurídicos, a vida, o patrimônio, a paz social etc.

Para nossa disciplina, será suficiente conhecermos os crimes contra o


patrimônio, previstos do art. 155 ao art. 183 do CP, conhecendo os tipos legais,
com suas características principais e as penas a ele cominadas, os quais constam
do quadro abaixo (os arts. 181 a 183 do CP não constam do quadro por trazerem
disposições relativas à ação penal):

QUADRO 1 - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


Tipo Legal Características
Furto Intenção de permanecer com o bem (furto de uso não é
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia crime). Existem as formas qualificadas, que aumentam a
móvel: pena, tais como a utilização de chave falsa ou se o crime é
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. praticado durante o repouso noturno.
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para
si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa
comum:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
Roubo Semelhante ao furto, o roubo dele se diferencia em razão do
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, emprego de violência. Também existe a forma qualificada,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de a exemplo do emprego de arma ou a violência ser cometida
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de por mais de uma pessoa.
resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave Na extorsão, pretende especificamente a obtenção de
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica (JESUS, 2006, p. 605).
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou Na extorsão mediante sequestro, não há apenas a violência
deixar fazer alguma coisa: ou grave ameaça como no artigo anterior, mas há também
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. um crime contra a liberdade de locomoção. Trata-se de crime
Extorsão mediante sequestro hediondo (Lei n. 8.072/90).
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou
para outrem, qualquer vantagem,como condição ou preço
do resgate:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Extorsão indireta Não há necessidade de recebimento efetivo do documento,
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, apenas a exigência é suficiente para configurar o crime.
abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra
terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Alteração de limites Este delito tem como objeto jurídico a posse e a propriedade.
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer Só pratica este crime o proprietário do prédio vizinho àquele
outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, em que se alteram os limites (JESUS, 2006, p. 614). Além
no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: do tipo previsto no caput (cabeça) do artigo, os parágrafos
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. preveem outras hipóteses que também se consideram como
§ 1º - Na mesma pena incorre quem: alteração dos limites.
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem,
águas alheias;
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou
mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou
edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a
esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de
violência, somente se procede mediante queixa.

77
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

Supressão ou alteração de marca em animais


Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou
rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Este artigo trata do crime de dano, inclusive o proprietário
Dano
de coisa comum. Existe também a forma qualificada,
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
quando o dano, por exemplo, for praticado contra bem de
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
propriedade da União.
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o
fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou
multa.
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico Interessante que até mesmo o proprietário poderá ser
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada sujeito ativo neste crime, uma vez que o objeto jurídico é o
pela autoridade competente em virtude de valor artístico, patrimônio histórico protegido.
arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Alteração de local especialmente protegido
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o
aspecto de local especialmente protegido por lei:
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.
Apropriação indébita Neste crime, o agente apropria-se de bem móvel de que tem
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a a posse ou detenção. Ex.: Caixa que se apropria de dinheiro
posse ou a detenção: do banco. Também existe a forma qualificada.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Apropriação indébita previdenciária
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma
legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força No estelionato, o agente busca obter indevidamente
da natureza vantagem, induzindo uma pessoa ao erro. Também são
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu formas de estelionato, a ele equiparados: a disposição
poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: de coisa alheia como própria; a alienação ou oneração
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. fraudulenta de coisa própria, a defraudação de penhor, a
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: fraude na entrega de coisa, a fraude para recebimento de
Apropriação de tesouro indenização ou valor de seguro; a fraude no pagamento por
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no meio de cheque. O Crime também pode ser qualificado, nos
todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário casos previstos no 3º.
do prédio;
Apropriação de coisa achada Este crime é o que conhecemos como “duplicata fria”. Toda
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total duplicata, necessária e obrigatoriamente, deverá ser emitida
ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo a partir de uma nota fiscal ou fatura, motivo pelo qual se
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro chama este título de crédito de título causal.
no prazo de 15 (quinze) dias.
Estelionato e outras fraudes
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Duplicata simulada
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que
não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou
qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incorrerá aquele que
falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de
Duplicatas.
Abuso de incapazes
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da
alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito
jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

78
TÓPICO 3 | DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO

Induzimento à especulação
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental
de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou
à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Fraude no comércio
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o
adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade
ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra
verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender
pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de
outra qualidade:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos
para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou
multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante
representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena.
Fraudes e abusos na fundação ou administração de
sociedade por ações
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações,
fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público
ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da
sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato
não constitui crime contra a economia popular.
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou
"warrant"
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em
desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando,
destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
Receptação Para que se configure a receptação, não é necessário que o
Art. 180- Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, crime seja contra o patrimônio. Damásio de Jesus (2006, p.
em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto 691) dá o exemplo de um funcionário público que pratica o
de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, crime de peculato.
receba ou oculte:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

FONTE: A autora

3 DIREITO TRIBUTÁRIO
O Direito Tributário estuda todas as normas que dizem respeito à
arrecadação de tributos. Existem várias formas de tributo, especialmente: impostos,
contribuições de melhoria e taxas.

É a ocorrência do fato gerador que determinará a incidência do tributo.


Assim, por exemplo, auferindo renda, o contribuinte pagará imposto de renda,
adquirindo um carro, terá que pagar o IPVA e assim por diante.

79
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

O Direito Tributário estudará, pois, tudo que se refere aos tributos, desde
sua origem, fato gerador, o responsável pelo seu pagamento, qual a alíquota
correspondente, a base de incidência e como se faz o recolhimento. Este ramo do
Direito também especifica quem ficará isento do pagamento, o que é elisão fiscal etc.

As regras do Direito Tributário estão especialmente previstos na


Constituição da República e no Código Tributário Nacional. Também encontramos
suas regras em diversas leis esparsas, como, por exemplo, a lei n. 6.830/80, que
trata da Execução Fiscal.

TUROS
ESTUDOS FU

ESTUDOS FUTUROS: Prezado(a) acadêmico(a)! Como dissemos anteriormente,


você estudará o Direito Tributário mais a fundo em disciplina específica.

80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou o Direito Penal e aprendeu que:

l O Direito Penal “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que regulam os


crimes e as contravenções penais”.

l O crime é ato típico e antijurídico.

l O crime pode ser doloso (intencional) ou culposo (não intencional).

l Para que seja aplicada a sanção prevista em lei, será necessário que também
esteja presente a culpabilidade.

l As espécies de pena (privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa), penas


de detenção e reclusão e ainda medidas de segurança.

l Os tipos de ação penal (pública condicionada e incondicionada e privada).

l Os crimes contra o patrimônio são previstos na legislação penal.

l O Direito Tributário é o ramo do Direito Público que tem por objeto o estudo das
obrigações entre o contribuinte e o Fisco.

81
AUTOATIVIDADE

1 Relacione os grupos 1 e 2, a fim de fixar os conhecimentos deste tópico:

Grupo 1
(1) Requisitos para a configuração do crime.
(2) Fato antijurídico.
(3) Dolo.
(4) Modalidades de culpa.
(5) Imprudência.
(6) Imperícia.
(7) Modo de agir no crime de roubo.
(8) Excludentes de ilicitude.
(9) Modo de agir no crime de furto.
(10) Imputabilidade penal.
(11) Prestação de serviços à comunidade.
(12) Representação.

Grupo 2

( ) É a falta de habilidade técnica para certas habilidades.


( ) Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
( ) Adquire-se, como regra geral, aos 18 anos completos, salvo exceções
previstas em lei.
( ) Tipicidade e antijuridicidade.
( ) Exemplo de pena restritiva de direitos.
( ) Estado de necessidade, legítima defesa e estrito cumprimento do dever
legal e exercício regular de direito.
( ) Negligência, imprudência e imperícia.
( ) Propósito de praticar o fato descrito na lei penal.
( ) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência à pessoa, ou depois de havê-la por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência.
( ) Documento que representa o início da ação penal pública condicionada.
( ) Fato que, além de típico, não tem a seu favor uma justificativa como a
legítima.
( ) Conduta precipitada ou afoita, a criação desnecessária de um perigo.

82
UNIDADE 2
TÓPICO 4

DIREITO ELEITORAL E DIREITO


MILITAR

1 INTRODUÇÃO
Neste penúltimo tópico de nossa unidade, vamos conhecer o Direito
Eleitoral e o Direito Militar.

2 DIREITO ELEITORAL
O Direito Eleitoral disciplina o processo eleitoral.

Segundo Rizatto Nunes (2003, p. 127), o Direito Eleitoral:


compõe-se do conjunto das normas jurídicas que disciplinam a escolha
dos membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Essas normas
estabelecem os critérios e condições para o eleitor votar, para alguém se
candidatar, bem como as datas das eleições, as formas das apurações, o
número de candidatos a serem eleitos, fixando as bases para a criação e
funcionamento dos partidos políticos etc.

O principal instrumento do Direito Eleitoral é o Código Eleitoral (Lei n.


4.737, de 15 de julho de 1965). Também são parte do Direito Eleitoral, a lei dos
partidos políticos, a lei das inelegibilidades, entre outros.

3 DIREITO MILITAR
Para Martins, (2008 p. 42) , “o direito militar pode ser definido como o
conjunto harmônico de princípios e normas jurídicas que regulam matéria de
natureza militar, podendo ser de caráter constitucional, penal ou administrativo.”
É, pois, o direito que regulamenta a atividade dos militares.

São instrumentos do Direito Militar, primeiramente a Constituição Federal,


que regulamenta a matéria no art. 42. Também dele são instrumentos o Código Penal
Militar (Decreto-lei 1001/69) e o Código Processual Penal Militar (Dec-lei 1002/69),
conforme Martins (2008).

83
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você estudou que:

l O Direito Eleitoral é o que regulamenta as eleições.

l O Direito Militar traz as regras aplicáveis aos militares.

84
AUTOATIVIDADE

1 Complemente a coluna 2 de acordo com o que você aprendeu neste tópico:

Principal objetivo do Direito Eleitoral.


Principal instrumento legal do Direito
Militar.
Espécies de relações militares que o Direito
Penal regulamenta.
Enumere 7 matérias que são disciplinadas
pelo Direito Eleitoral.

85
86
UNIDADE 2
TÓPICO 5

RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO:


DIREITO DO TRABALHO E DIREITO
DO CONSUMIDOR
1 INTRODUÇÃO
Serão objetivos deste tópico 5 o Direito do Trabalho e o Direito do Consumidor,
que trarão conhecimentos que, certamente, serão úteis no seu dia a dia.

Em que pese esta unidade 2 tratar dos ramos do Direito Público (apenas
para fins de divisão do nosso conteúdo) o Direito do Trabalho e o Direito do
Consumidor têm sido enquadrados pela doutrina como ramos especiais, que não
pertencem nem ao Direito Público, nem ao Direito Privado.

Estes ramos, segundo Rizatto Nunes (2003, p. 122), são:


[...] caracterizados basicamente por serem difusos, ao contrário das
outras duas espécies que se distinguem, basicamente, por estarem
relacionados ao interesse público ou privado. [...] os direitos difusos
são aqueles cujos titulares não podem ser especificados. São fatos que
determinam a ligação entre essas pessoas, cujos direitos não podem ser
partidos: são indivisíveis. Por exemplo, todos – indeterminadamente –
estão sujeitos à publicidade enganosa; o direito de respirar ar puro é de
todos etc.

Neste tópico, traremos uma breve noção sobre o Direito do Trabalho, tendo
em vista que este será objeto de uma disciplina mais adiante. Em seguida, traremos
os principais institutos do Direito do Consumidor e do Direito Ambiental.

2 DIREITO DO TRABALHO
Regulamenta as relações trabalhistas, ou seja, “entre empregado e
empregador (patrão)” (NUNES, 2003, p. 131).

O Direito do Trabalho tem a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) como


sua principal norma, mas também a Constituição da República e a legislação esparsa.

São objeto do Direito do Trabalho as relações trabalhistas, sejam elas


individuais (entre empregado e empregador) ou coletivas, “[...] que contemplam as
relações entre grupos ou associações de trabalhadores e de patrões, seus contratos
e suas lutas” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 160).

87
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

Dentre os institutos regulados pelo Direito do Trabalho estão: contrato


individual do trabalho, jornada de trabalho, descanso semanal remunerado, férias,
remuneração, FGTS etc.

TUROS
ESTUDOS FU

Como mencionamos anteriormente, você estudará estes institutos a fundo,


futuramente, em disciplina específica.

3 DIREITO DO CONSUMIDOR

3.1 OBJETO DO DIREITO DO CONSUMIDOR


As relações entre fornecedor e consumidor são estudadas por este importante
ramo do Direito que está concentrado no Código de Defesa do Consumidor (CDC, Lei n.
8.078/90). É este diploma legal que prevê a responsabilidade objetiva (independente de
culpa) do fornecedor e as consequências do descumprimento desta responsabilidade.
Prevê também os crimes nas relações de consumo e suas penas.

Veja o artigo 1º do CDC:

3.2 CONCEITOS DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR


Para o estudo do Direito do Consumidor, é necessário conhecermos os
conceitos de consumidor e fornecedor, trazidos pelo próprio Código:

88
TÓPICO 5 | RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO CONSUMIDOR

Também são considerados consumidores: “a coletividade de pessoas,


ainda que indetermináveis que haja intervindo nas relações de consumo”. Ainda
segundo o CDC, são consumidores todas as vítimas de evento danoso, bem como
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas comerciais, conforme
art. 29 do Código Consumerista (art. 29).

O conceito de fornecedor também é trazido pelo CDC, conforme Silva


(2005), em seu art. 3º.:

Neste conceito, certamente se enquadra o conceito de empresário.

Dos parágrafos 1º e 2º do citado artigo, extraímos os conceitos de produto


e serviço (SILVA):
§ 1º - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

O Código do Consumidor reconhece, na relação de consumo, o consumidor


como a parte mais fraca, mais vulnerável, tanto no aspecto econômico como no
técnico. Esta vulnerabilidade é expressamente reconhecida pela lei art. 4º, I do
CDC. Assim,

Ao tratar da hipossuficiência do consumidor, Silva (2005 p. 35) ensina:


A partir desse reconhecimento de vulnerabilidade, o Código
disponibiliza vários outros instrumentos que possibilitam a busca da
igualdade, dentre os quais cita-se:
a) possibilidade de inversão do ônus da prova em benefício
do consumidor quando verossímil a alegação ou diante de sua
hipossuficiência percebida segundo as regras de experiências(art. 6°,
VIII);
b) a interpretação de cláusulas contratuais de maneira mais favorável ao
consumidor em todo e qualquer contrato de consumo (art. 47);

89
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

c) manutenção de assistência jurídica integral e gratuita ao consumidor


carente e instituição de Promotorias, Varas e Delegacias especializadas
em matéria de consumo (art.5º, I, II, III e IV);
d) concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações
de Defesa do Consumidor (art. 5º, V);
e) proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas abusivas ou impostas
no fornecimento de produtos e serviços (art. 6°, IV).

NOTA

A igualdade a que nos referimos é aquela entre consumidor e fornecedor.

3.3 DIREITOS E DEVERES DO CONSUMIDOR

3.3.1 Direitos do consumidor


Segundo o CDC , são direitos básicos do consumidor (SILVA, 2005 p. 36):

ART. 6º – São direitos básicos do consumidor:


I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos
produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a
igualdade nas contratações;
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como
sobre os riscos que apresentem;
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
V– a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
Morais, individuais, coletivos e difusos;
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com
vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
MORAIS, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

90
TÓPICO 5 | RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO CONSUMIDOR

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com


a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;
IX – (VETADO).
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

3.3.2 Deveres do consumidor


Além de direitos, o consumidor também tem deveres. São deveres do
consumidor:

l exigir sempre as notas fiscais;

l exigir um contrato ao solicitar prestação de serviço;

l solicitar os termos de garantia de serviços e produtos por escrito e definidos


em contrato;

l pedir o manual ou o rótulo de qualquer produto em língua portuguesa;

l guardar os recibos para comprovar os pagamentos efetuados;

l colocar no verso do cheque a data combinada para a compensação (caso seja


pré-datado) e a que ele se destina;

l não se esquecer que as lojas de roupas são obrigadas apenas a trocar peças


com defeitos.
FONTE: Disponível em: <http://cidadania.terra.com.br>. Acesso em: 15 maio 2008.

3.4 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR


A responsabilidade do fornecedor no CDC está prevista no art. 14 do CDC
(SILVA, 2005, p. 40):
ART. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que
o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

91
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

III - a época em que foi fornecido.


§ 2º - O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.
§ 3º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.

Afirma-se que a responsabilidade do fornecedor é objetiva, ou seja,


existe independente da existência de culpa, porque decorre da própria atividade
comercial.

Com o advento do CDC, a atividade empresarial passou por uma


transformação, deixando de visar apenas ao lucro e passando a preocupar-se
também com a qualidade dos produtos e serviços em razão da responsabilidade
prevista na lei consumerista.

A responsabilidade do fornecedor, no CDC, engloba assim, a


responsabilidade pelo fato do produto e pelo fato do serviço.

3.5 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO


Apesar de ser garantido ao consumidor o direito de reclamar, este direito
não é eterno. O art. 26 do CDC, (SILVA, 2005), traz os prazos de decadência e
prescrição do direito de reclamar. Em ambos os casos, há perda do direito pelo
decurso do prazo, ou seja, por não ter reclamado no tempo máximo previsto na lei.
A diferença é que na decadência a perda é do direito, não cabendo ao consumidor
nenhum meio para materializar seu descontentamento.

Visando a uma abordagem bem didática, podemos afirmar que, segundo


o art. 26 do CDC:

92
TÓPICO 5 | RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO CONSUMIDOR

FIGURA 16 - PRAZO DE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

FONTE: Silva (2005)

93
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

3.6 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


É regra no Direito Societário a existência da sociedade de forma distinta
de seus membros. Ou seja, o patrimônio da sociedade não se mistura com o
patrimônio de seus sócios, respondendo cada qual por suas dívidas.

Porém, o CDC permite ao juiz “desconsiderar a personalidade jurídica” da


sociedade, quando em prejuízo do consumidor”, segundo Silva (2005), nos casos
em que:

l houver abuso de direito;

l excesso de poder;

l infração da lei;

l fato ou ato ilícito ou violação de estatuto ou contrato social;

l falência;

l estado de insolvência;

l encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má


administração;

l quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento


de prejuízos causados aos consumidores, ou seja, quando a personalidade
jurídica for utilizada para frustrar a concretização dos direitos do consumidor.

3.7 PROTEÇÃO DOS CONTRATOS DE CONSUMO


Em razão do princípio de que o consumidor é hipossuficiente, o CDC traz
princípios e normas que deverão ser obrigatoriamente observados nas relações
contratuais que envolvem o consumo. Estas normas são de ordem pública, ou seja,
as partes não poderão modificá-las por sua vontade.

A exemplo, veja o que estabelece o art. 47 do CDC (SILVA, 2005, p. 42):


As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.

94
TÓPICO 5 | RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO CONSUMIDOR

DICAS

Entre no site do IDEC (www.idec.org.br) e veja a versão atualizada do CDC. Leia


o Capítulo VI, que trata da Proteção Contratual.

Neste capítulo, você encontrará disposições legais que se aplicam à relação


contratual e que envolve a relação contratual de consumo. Dentre estes artigos,
destacamos a possibilidade de o consumidor desistir do contrato, a proibição
de haver cláusulas abusivas, o tratamento diferenciado do contrato de adesão, a
nulidade de cláusulas que importem na perda de parcelas pagas etc.

3.8 PUBLICIDADE E PROPAGANDA


O CDC regulamenta também a publicidade, especialmente no que se
refere à oferta de produtos e serviços, também como reflexo do reconhecimento da
hipossuficiência do consumidor.

Sobre a publicidade, exige o CDC, de acordo com Silva (2005):

l sua fácil identificação pelo consumidor (art. 36);

l proibição de publicidade enganosa ou abusiva (art. 37).

O próprio CDC traz os conceitos de publicidade enganosa no §1º e de


publicidade abusiva no §2º (SILVA, 2005, p. 43):

§1º - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação


de caráter publicitário inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor
a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos
e serviços. (grifamos)

§2º - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de


qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da
criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir
o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança (grifo nosso).

Também é enganosa a publicidade, segundo o §3º do art. 37, “por omissão


quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço”.

A utilização da publicidade enganosa ou abusiva gerará para o fornecedor


responsabilidade civil, penal e administrativa, previstas no próprio Código de
Defesa do Consumidor.

95
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

DICAS

Indicamos os seguintes sites, que cuidam dos direitos do consumidor que


constam no portal Terra: <http://cidadania.terra.com.br/interna/0,,OI89570-EI1239,00.html>:
sites das agências reguladoras: <www.aneel.gov.br> (agência nacional de energia elétrica;
<www.anp.gov.br> (agência nacional de petróleo); <ans.gov.br> (agência nacional de saúde
suplementar); <Anatel.gov.br> (agência nacional de telecomunicações); <www.anvisa.gov.br>
(agência nacional de vigilância sanitária). Também é importante que você conheça os órgãos
de proteção do consumidor: IDEC – INSTITUTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. (www.idec.
org.br) – PROTESTE – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (www.proteste.org.br) e
também o PROCON de cada Estado.

4 DIREITO AMBIENTAL
O Direito Ambiental “é composto das normas jurídicas que cuidam do
meio ambiente em geral, tais como a proteção de matas, florestas e animais a serem
preservados, o controle de poluição e do lixo urbano” (NUNES, 2003, p. 132).

Na legislação ambiental, encontramos não só disposições de proteção ao


meio ambiente, mas também penalidades e outras sanções para quem descumprir
suas regras. Sobre esta “multidisciplinaridade”, extraímos do site do Instituto
Brasileiro de Produção Sustentável, o conceito de Direito Ambiental:

É um dos mais modernos ramos do direito. É multidisciplinar, pois se


utiliza de institutos de direito penal, civil e administrativo para tornar efetivas
suas normas, visando regular a relação do homem e seus meios de produção
com a natureza, como forma de permitir o equilíbrio dessa relação, dando
sustentabilidade ao desenvolvimento e minimizando os efeitos degradantes
sobre o meio ambiente. Pode-se dizer que é um direito indutor de um novo
paradigma de relação entre o homem e o meio ambiente.

Além da Constituição Federal, há outras normas de direito ambiental na


legislação esparsa.

96
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico você aprendeu que:

l O Direito do Trabalho “regulamenta as relações trabalhistas, ou seja, entre


empregado e empregador (patrão)”.

l As relações trabalhistas, são objeto do Direito do Trabalho sejam elas individuais


(entre empregado e empregador) ou coletivas.

l As relações entre fornecedor e consumidor são objeto do Direito do Consumidor.

l O CDC traz diversas disposições sobre proteção contratual, publicidade e ainda


as hipóteses em que se permite a desconsideração da pessoa jurídica.

l O Direito Ambiental traz as regras que regem a proteção do meio ambiente,


sendo um direito multidisciplinar.

97
AUTOATIVIDADE

Para verificar seu aprendizado, responda ao questionário a seguir:

1 Cite três institutos que são regulados pelo Direito do Trabalho.

2 Por que se diz que a responsabilidade do fornecedor é objetiva?

3 Qual é o prazo de prescrição para reclamar por vício aparente ou de fácil


constatação em um produto ou serviço?

4 Cite uma hipótese prevista no CDC que é prazo de decadência.

5 Cite três hipóteses em que o juiz desconsidera a “personalidade jurídica da


sociedade, quando em prejuízo do consumidor”.

6 Havendo dúvida na interpretação de um contrato referente à relação de


consumo, como se deve resolver o impasse?

7 O que caracteriza a publicidade enganosa?

8 O que caracteriza a publicidade abusiva?

9 Quando a publicidade por omissão deixar de informar sobre dado essencial


do produto ou serviço será tratada pelo CDC como qual tipo de publicidade?

10 Por que se diz que o Direito Ambiental é multidisciplinar?

98
UNIDADE 2
TÓPICO 6

DIREITO PÚBLICO EXTERNO:


DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

1 INTRODUÇÃO
Como último tópico desta unidade, trazemos noções gerais de direito
internacional público.

Accioly e Silva (2005, p. 1) conceituam o Direito Internacional Público como


sendo: “O conjunto de regras e princípios destinados a reger os direitos e deveres
internacionais tanto dos Estados, de certos organismos interestatais, quanto dos
indivíduos”.

O Direito Internacional cuida, assim, das relações entre os Estados entre


si e entre seus integrantes, que são instrumentalizadas em acordos (tratados e
convenções) que são respeitados por aqueles que o firmaram.
         
São, assim, fontes do direito internacional público: convenções internacionais;
o costume internacional; os princípios gerais de direito, decisões judiciárias, doutrina
dos publicistas, tratados e convenções internacionais.

TUROS
ESTUDOS FU

Prezado(a) acadêmico(a): A Globalização é um fenômeno que também atinge


a atividade empresarial e interfere na questão da segurança jurídica. É um tema interessante
e atual. Caso queira saber um pouco mais sobre este assunto, sugerimos a leitura do texto
“GLOBALIZAÇÃO, ATIVIDADE EMPRESARIAL E A SEGURANÇA JURÍDICA, de Adyr Garcia
Ferreira Neto, disponível no site <http://www2.uel.br/revistas/direitopub/pdfs/volume_2/
num_1/adyr%20garcia.pdf>.

99
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

LEITURA COMPLEMENTAR

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA COMO ATITUDE


POSITIVA ORIENTADA PELA LEI

SANDRA APARECIDA LOPES BARBON LEWIS, doutora e mestre em


Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP),
advogada especialista em Direito Tributário, Direito do Terceiro Setor e consultora
em Responsabilidade Social para Organizações.

SUMÁRIO: I – Uma breve definição de responsabilidade social; II –


Responsabilidade Social não é Filantropia; III – Responsabilidade Social como
Orientação Legal; IV - A proposição de uma Lei Social; V – Conclusões.

Almeja-se demonstrar com o presente artigo que aquilo que as empresas


realizam sob o rótulo da “responsabilidade social” nada mais é do que decorrência
da lei ou orientação legal. Em razão das modernas legislações que preconizam
um tratamento adequado à relação da empresa com o consumidor, com o meio
ambiente, com o trabalhador, com o público externo, dentre outros, seja em razão
de incentivos, em especial tributários, em alguns casos obriga-se, em outros,
motiva-se a empresa a exercer sua atividade de modo a obter um desempenho
consentâneo com a melhoria das condições socioeconômicas e ambientais.

Dado o intuito, conceituar-se-á filantropia, para se afirmar que a mesma


não se confunde com responsabilidade social, cotejar-se-á a legislação que autoriza
compreendê-la como uma orientação ou decorrência legal e, por fim, invocar-se-á
proposição de uma Lei Social, como forte argumento a embasar a tese ora defendida,
em especial para desmistificar a ideia segundo a qual a responsabilidade social é
ato voluntário das empresas. A pergunta que se faz neste contexto é: quais são os
motivos que ensejam uma atuação socioeconômica e ambientalmente orientada por
parte da empresa? Será que a principal motivação advém de uma preocupação das
empresas com o social, com o ambiental e o econômico? Ou será que a lei constitui
instrumento motivador de uma conduta responsável, na maioria das vezes?

I – Uma breve definição de responsabilidade social. A utilização da


expressão Responsabilidade Social virou “moda” nos últimos tempos. Várias são
as empresas que se dizem responsáveis sob o ângulo social ou, num espectro mais
amplo, socioeconômico e ambiental. Para se ter um parâmetro ao desenvolvimento
do presente artigo, adota-se a definição conferida pelo Instituto Ethos, na
seguinte linha: “Empresa socialmente responsável é aquela que possui capacidade de
ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,funcionários, prestadores de serviços,
fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-
los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não
apenas dos acionistas ou proprietários, além de pressupor o bom relacionamento da empresa
com seus públicos”.

100
TÓPICO 6 | DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

A definição acima traz implícita a ideia do que seja um comportamento


socialmente orientado por parte da empresa. Estabelecida esta ideia, precisa-se
saber se a empresa atua de modo responsável socialmente por mera liberalidade
ou voluntariedade (porque simplesmente quer, em razão de sentimentos
humanitários), em razão de uma obrigação legal ou estimulada pelos incentivos
especialmente fiscais em razão daquela atuação vislumbrados.

II – Responsabilidade Social não é Filantropia. Responsabilidade social


não se confunde com filantropia. Fabiane BESSA defende que a filantropia foge ao
objeto da empresa, para se inserir na ideia de humanitarismo e de voluntariedade,
sendo perfeito retrato da seguinte conjuntura: “abro meu bolso, minha carteira,
se eu quiser”. Ao contrário, a atuação empresarial socialmente orientada dá-se
na execução das atividades inerentes ao negócio, ao objeto social da empresa, de
forma a obter o melhor desempenho, implicando necessariamente a observância
da legislação, de forma a se institucionalizar a ação voltada à observância estrita
dos direitos dos consumidores, dos trabalhadores, dos fornecedores, dentre outros
stakeholders (partes interessadas) que com a empresa se relacionam. Ademais, além
de fugir à atividade empresarial, a filantropia vai além da lei. Melhor dizendo:
a empresa faz algo a que não está obrigada. Assim, a criação de uma fundação
cultural não se enquadra no objeto social descrito no contrato social de uma
indústria metalúrgica, não representando esta atitude da empresa, em que pese
seus reflexos sociais, responsabilidade social, mas em mera filantropia.

Recentemente, a propósito, este ponto de vista foi reforçado em importante


artigo escrito por Michael PORTER, no qual critica o equívoco em se entender a
responsabilidade social como sinônimo de filantropia, em especial porque ações
meramente filantrópicas são incapazes de patrocinar melhorias estratégicas
para a empresa. Ricardo VOLTOLINI, no artigo “Porter e a responsabilidade
social empresarial”, descreve, brevemente, a tese de Porter: “O resultado é a
fragmentação de ações, uma mistura de iniciativas filantrópicas e medidas
paliativas que até produzem algum dividendo de relações públicas, mas, isoladas,
não geram resultados transformadores nem para as comunidades nem para o
êxito empresarial”. Percebe-se, portanto, que responsabilidade social não é o
mesmo que filantropia, consistindo a responsabilidade social no privilégio de
ações relacionadas ao objeto social da empresa, que tenham a capacidade de fazer
o melhor em termos estratégicos para a empresa e para a sociedade, diante dos
reflexos ambientais, culturais, sociais, econômicos e trabalhistas.

III – Responsabilidade Social como Orientação Legal Como decorrência


da função social da propriedade e dos valores que devem ser realizados pela
ordem econômica, tais como defesa do consumidor, defesa do meio ambiente,
redução das desigualdades sociais e regionais, entre outros, como preconizado pela
Constituição Federal de 1988 (CF/88), e, por conseguinte, pelas inúmeras legislações
que vêm sendo editadas, as empresas passam a ser motivadas e em alguns casos
obrigadas a adotarem determinadas atitudes consideradas socioeconômica e
ambientalmente responsáveis.

101
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

Diante disso, autoriza-se dizer que a Responsabilidade Social é, sobretudo,


uma orientação legal. Conclusão que se coaduna, a propósito, com o espírito dirigente
da Constituição Federal de 1988 de concretizar uma sociedade livre, justa e solidária.

Vale dizer, é como se as empresas fulcrassem seus planejamentos estratégicos


a partir de ações preconizadas pela legislação, relativas ao envolvimento da empresa
com todos os segmentos interessados, quais sejam: consumidores, trabalhadores,
fornecedores, governo, ambientalistas, entre outros stakeholders. Como assevera
Fabiane BESSA, “quando a empresa potencializa os vetores legais atinentes à
sua atividade, quando suas opções estratégicas dirigem-se a produzir ou prestar
serviço de maneira a trazer melhor desempenho social, ambiental ou adotando
práticas econômicas que promovam a concorrência saudável e leal, está-se diante
de uma atuação imbuída de responsabilidade social: a lei brasileira não obriga a
que a empresa se responsabilize por todo o ciclo de vida do seu produto. Mas, se
a própria empresa assume esta responsabilidade, trata-se de uma expressão de
responsabilidade social”.

Embora a responsabilidade social não componha o objeto social da empresa,


é indubitável que é a partir das ações empreendidas para a execução do seu objeto
social que a empresa revelar-se-á responsável socioeconômica e ambientalmente ou
não. Quer-se com isso dizer, por exemplo, que é responsável a empresa que no trato
com o consumidor, figura integrante das atividades praticadas para a concretização
do objeto social, obedecederá às normas ditadas para sua proteção, responsabilizando,
como no exemplo acima dado, por todo o ciclo de vida do produto.

Diante disso, adotar uma postura socialmente responsável não é exercício de


filantropia, beneficência, mas estrita observância à lei naquilo que se refere à atividade
desempenhada pela empresa, com o intuito de obter o melhor desempenho possível
em termos estratégicos empresariais e reflexos sociais, econômicos e ambientais para
os públicos e segmentos com os quais a empresa se relaciona.

No âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, verifica-se a existência de


normas voltadas a estatuir que é dever das empresas atuar de modo responsável. Em
decorrência das diretrizes constitucionais, há toda uma disciplina infraconstitucional,
no sentido de orientar a atuação da empresa no contexto da defesa do consumidor,
da promoção, defesa e preservação do meio ambiente, da promoção da cultura,
entre outros. Em breve remissão, as principais disposições da Constituição Federal
e da legislação infraconstitucional que orientam socioeconômica e ambientalmente
a conduta empresarial: Constituição Federal de 1988: art. 1º da CF/88 - princípios
fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre os quais se destacam a
cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa; art. 3º da CF/88 –objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil, dentre os quais se destacam a construção de uma sociedade livre, justa
e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e a
redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem de todos; art.
5º, XXIII – a propriedade atenderá à sua função social; art. 170 – dos princípios
gerais da atividade econômica; art. 185, parágrafo único, 186 e 219 – critérios. Art.
170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
102
TÓPICO 6 | DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II -
propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades
regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX – tratamento favorecido para
as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre
exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de
órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei, para o atendimento da função
social da propriedade e desapropriação ante o não atendimento daquela.

Legislação infraconstitucional: Código Civil; Legislação Ambiental;


Norma Brasileira Contábil n. 15 de 01/01/2006; Resolução do Conselho Federal de
Contabilidade n. 1003 de 19/08/2004; Legislação de Deficientes Físicos; Código de
Defesa do Consumidor; Consolidação das Leis Trabalhistas. No âmbito das políticas
públicas, exemplos de condutas socioeconômica e ambientalmente orientadas pela
Lei: Lei Rouanet; Programa Nacional de Apoio à Cultura; Programa de Atividade
Audiovisual; Fundos de Direitos da Criança e do Adolescente; Benefícios para o
Trabalhador; Doações às Entidades Sem Fins Lucrativos; Imunidade Tributária das
Instituições sem Fins Lucrativos; Programas Governamentais de Responsabilidade
Social com participação do Setor Privado – Parcerias; Programas Governamentais
de Responsabilidade Social com participação do Setor Privado – Parcerias; Projetos
Sociais; Incentivos à Pesquisa; Incentivos aos Programas de Educação; Incentivos
aos Programas de Meio Ambiente; Incentivos aos Programas de Assistência Social;
Incentivos à Pesquisa Tecnológica; Programas de Inclusão Digital. A propósito,
é em forma de obrigações que a UNCTAD, no documento denominado Social
Responsability (2001), contempla a responsabilidade social. Assim, este documento
menciona obrigações para com o desenvolvimento, obrigações sociopolíticas,
obrigações para com o consumidor, obrigações corporativas, obrigações para com
a promoção dos direitos humanos.

IV – A proposição de uma Lei Social


A procedência das assertivas acima se revela a partir da existência das
legislações e políticas públicas acima mencionadas, em especial relativamente
àquela que orienta a adoção do balanço social. Lívio GIOSA, convicto da
importância da lei como instrumento motivador da responsabilidade social, propõe
a confecção de uma lei social, capaz de permitir incentivos fiscais ou isenções em
parte de tributos federais, estaduais ou municipais, de ensejar a prestação de
contas das empresas, sob a forma do balanço social com o aval de uma auditoria
externa, comprovando a aplicação destes recursos e os resultados obtidos. Para
Lívio GIOSA, “Esta seria a verdadeira revolução social do Brasil. Um chamamento
coletivo para uma performance inédita no país carente até de boas ações. Milhões
de organizações e pessoas interessadas, voluntárias ou obrigadas. Não importa.
O que importa é a causa, é o combate à miséria e à pobreza de uma forma ampla,
completa e irrestrita”. Essa Lei Social, não obstante já se tenha inúmeras leis no
Brasil fundamentando a atuação socioeconômica e ambientalmente orientada das
103
UNIDADE 2 | DIREITO PÚBLICO

empresas, talvez contribuiria para fomentar ainda mais esta atuação e para firmar
o entendimento de que a responsabilidade social decorre da lei.

V – Conclusões
Diante das breves considerações acima lançadas, têm-se as seguintes
conclusões:

1. Responsabilidade Social não se confunde com Filantropia, consistindo esta em


ações diversas do objeto da empresa e realizadas além daquilo preconizado pela
lei e a responsabilidade social, ao contrário, de atitudes ligadas ao objeto social
da empresa e orientadas pela lei.

2. Responsabilidade Social é uma conduta orientada pela lei, resultando numa


opção estratégica da empresa, por motivos relacionados a um desempenho
empresarial ótimo e com reflexos sociais, seja ainda em razão dos incentivos
fiscais decorrentes desta atuação.

3. A proposta de criação de uma Lei Social reafirmaria o ora defendido, de que a


Responsabilidade Social decorre da Lei, bem como contribuiria para fomentar
condutas socioeconômicas e ambientalmente orientadas por parte da empresa.

FONTE: BESSA, Fabiane Lopes Bueno Netto. Responsabilidade Social das Empresas – Práticas
Sociais e Regulação Jurídica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2006, p. 140-141.
VOLTOLINI, Ricardo. Porter e a responsabilidade social empresarial. Gazeta Mercantil,
sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007. Disponível em: <www.gazeta.com.br/integraNoticia.aspx?>.
Acesso em: 23 fev. 2007.
GIOSA, Lívio. Responsabilidade Social forma um novo retrato das organizações brasileiras. Revista
Brasil Responsável, São Paulo. Disponível em: <www.liviogiosa.com.br>. Acesso em: 7 mar. 2007.

104
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, resumidamente, você estudou:

l O Direito Internacional Público como ramo do Direito Público externo.

l ODireito Internacional Público cuida das relações entre os Estados entre si e


entre seus integrantes.

105
AUTOATIVIDADE

1 A qual ramo do Direito pertence o Direito Internacional Público?

2 Qual o principal objetivo do Direito Internacional Público?

3 Cite as principais fontes do Direito Internacional Público.

106
UNIDADE 3

DIREITO PRIVADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender o Direito Privado e seus ramos;

• conhecer o Direito Civil, seu conteúdo, estrutura e ramos;

• conhecer outros ramos do Direito Privado, tais como o Direito Comercial.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos e em cada um deles você encon-
trará atividades que o(a) ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados.

TÓPICO 1 – DIREITO CIVIL - NOÇÕES E ESTRUTURA

TÓPICO 2 – PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

TÓPICO 3 – PARTE GERAL - LIVRO II: DOS BENS

TÓPICO 4 – PARTE GERAL - LIVRO III: DOS FATOS JURÍDICOS

TÓPICO 5 – CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

TÓPICO 6 – OUTROS RAMOS DO DIREITO PRIVADO: DIREITO


COMERCIAL E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

107
108
UNIDADE 3
TÓPICO 1

DIREITO CIVIL -
NOÇÕES E ESTRUTURA

1 INTRODUÇÃO
Como vimos na unidade1, o Direito Privado regulamenta as relações dos
particulares, sejam pessoas físicas ou jurídicas, sem que o Estado seja parte desta
relação.

Neste primeiro tópico, entenderemos como está estruturado o Direito Civil.

Antes, porém, vamos estudar o conceito deste ramo do Direito, que é tido
como o principal ramo do Direito Privado, especialmente com a inserção do Direito
Empresarial no Código Civil, que entrou em vigor em 2003.

2 NOÇÕES E ESTRUTURA DO DIREITO CIVIL


Para iniciarmos o estudo do Direito Civil, vamos trazer um conceito da
doutrina de Führer e Milaré (2005, p. 224):

DIREITO CIVIL é “O conjunto de normas que regulamentam


as relações jurídicas dos particulares entre si.”

As normas de Direito Civil estão reunidas no Código Civil, Lei nº 10.406/02


de 2002, que entrou em vigor em 2003, e também em outras leis, como a lei de
Locações Urbanas, Registros Públicos, Divórcio, entre muitas outras.

Neste momento do nosso estudo, concentrar-nos-emos no Código Civil. Ele


inicia com a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro LINDB (LICC), que
traz importantes normas jurídicas sobre a aplicação da lei no tempo e no espaço,
entre outras. Após a LICC, o Código Civil é dividido em duas partes, a parte geral
e a parte especial.

Podemos então dizer que o Código Civil é dividido em duas grandes partes:

l a parte geral (arts.1º ao 232) e;


l a parte especial (arts. 233 ao 2046).

109
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Na parte geral, encontraremos dispositivos legais sobre as pessoas, os bens


e os fatos jurídicos. A parte geral é, assim, subdividida em três partes, chamadas
“Livros”:

l Livro I - Das pessoas;


l Livro II - Dos bens e;
l Livro III – Dos fatos jurídicos.

Já na parte especial, vamos encontrar o Direito das Obrigações, o Direito


da Empresa, o Direito das Coisas, o Direito de Família e o Direito das Sucessões.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá mais adiante um conceito de cada um deles.

A figura a seguir, ajudará a ter uma visão melhor desta divisão:

FIGURA 17 – DIVISÕES E SUBDIVISÕES DO DIREITO CIVIL

FONTE: A autora

110
TÓPICO 1 | DIREITO CIVIL - NOÇÕES E ESTRUTURA

DICAS

Como sugestão, entre no site <www.planalto.gov.br>, e no link “legislação” e


baixe uma versão atualizada do Código Civil e dê uma olhada nesta divisão de que tratamos
anteriormente. Será importante para nosso estudo futuro e para sua vida.

111
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você estudou o Direito Civil e aprendeu que:

l ODireito Civil trata das relações entre particulares, sem que o Estado participe
desta relação.

l ODireito Civil é composto de uma parte geral e uma especial. A Parte Geral é
precedida da LICC (Lei de Introdução do Código Civil).

112
AUTOATIVIDADE

1 Complemente a segunda coluna de acordo com a informação contida na


primeira:

Principal Objeto do Direito Civil.

Estrutura do Direito Civil (Código


Civil).

Quantos e quais são os livros da parte


geral do CC?

Cite os ramos do Direito que compõem


a parte especial do Código Civil.

113
114
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

1 INTRODUÇÃO
Agora que você já conhece a estrutura do Direito Civil, vamos estudar
separadamente cada uma das suas partes.

Como você já viu, a parte geral do Código Civil trata Das pessoas, Dos bens
e Dos Fatos Jurídicos.

Importante ressaltar que esta parte geral do Código Civil traz regras que
se aplicam a todos os ramos do Direito que compõem a parte Especial do Código e
que também será aplicável nas organizações empresariais.

O Código Civil é o principal instrumento do Direito Civil, que também


tem como instrumentos a legislação esparsa, tais como a lei do Divórcio, Lei das
Locações Urbanas, dos Registros Públicos. Contudo, para bem compreender o
Direito Civil, precisamos conhecer bem o Código Civil.

Então, vamos em frente.

2 PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL – LIVRO I: DAS PESSOAS


No livro I do Código Civil encontramos as regras que disciplinam as
pessoas. Estas são divididas em pessoas físicas e jurídicas, como veremos a seguir:

2.1 PESSOA FÍSICA


Como já dissemos anteriormente, o Código Civil trata das pessoas no Livro
I. Quando falamos em “pessoas”, podemos nos referir às pessoas físicas (naturais),
ou às pessoas jurídicas.

A pessoa física, também chamada de pessoa natural, é o ser humano. Diz-


se natural, porque sua existência legal se inicia por um fato natural (o nascimento).

115
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Na definição de Coelho (2006, p. 156), “homens e mulheres são todos


considerados pessoas para o direito, isto é, aptos a titularizar direitos e obrigações
e autorizados à prática dos atos jurídicos em geral”.

Quando tratamos da prática destes atos jurídicos, precisamos entender


que as pessoas físicas têm personalidade jurídica e capacidade jurídica.

Porém, personalidade jurídica e capacidade jurídica não se confundem.


De uma forma simplificada, podemos dizer que:

A personalidade jurídica é a aptidão para ser titular de direitos e


obrigações civis.

Fica, assim, a pessoa natural “autorizada a praticar qualquer ato jurídico


que deseja, salvo se houver proibição expressa” (COELHO, 2006, p. 156).

Toda pessoa natural tem personalidade jurídica, desde que nasça com vida,
porém o Código Civil protege o nascituro (bebê em gestação) desde a concepção. Da
personalidade decorrem vários direitos, tais como ao nome, ao corpo, à honra etc.

A capacidade jurídica, por sua vez,

Ou seja, uma pessoa física pode ter personalidade jurídica para praticar
um determinado ato da vida civil, porém ser incapaz para praticá-lo por si só, ou
“pessoalmente”, conforme diz o Código Civil. A capacidade é a regra, como nos
ensina Coelho (2006, p. 160):

As pessoas são, por princípio, capazes e podem, assim, praticar os atos e


negócios por si mesmas. A incapacidade é uma situação excepcional prevista
expressamente em lei com o objetivo de proteger determinadas pessoas. Os incapazes
são considerados, pela lei, não inteiramente preparados para dispor e administrar
seus bens e interesses sem a mediação de outra pessoa (represente ou assistente).

Quando falamos em capacidade, é necessário, ainda, que se diferencie a


incapacidade absoluta da incapacidade relativa.

Os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente (por si) os atos da


vida civil são entendidos pelo Direito como pessoas que não têm a mínima condição
de decidir sobre seus direitos e interesses. Por isso, terão que ser representados.

116
TÓPICO 2 | PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

Já os relativamente incapazes, segundo o Direito, já têm algum


discernimento e podem expressar sua vontade, que é levada em consideração.
Por isso, diz-se que serão assistidos (ou seja, auxiliados). Para facilitar seu
entendimento, elaboramos o quadro a seguir:

QUADRO 2 – INCAPACIDADE ABSOLUTA E RELATIVA


ABSOLUTAMENTE INCAPAZES l lMENORES DE 16 ANOS (CHAMADOS DE
(SERÃO REPRESENTADOS) MENORES IMPÚBERES).

l lOS QUE POR ENFERMIDADE OU DOENÇA


MENTAL NÃO PUDEREM EXPRIMIR SUA
VONTADE.

l lOS QUE, MESMO POR CAUSA TRANSITÓRIA,



NÃO PUDEREM EXPRIMIR SUA VONTADE.

l lMAIORES DE 16 E MENORES DE 18 ANOS


RELATIVAMENTE INCAPAZES (CHAMADOS DE MENORES PÚBERES).
(SERÃO ASSISTIDOS)
OS ÉBRIOS HABITUAIS (ALCOÓLATRAS),
OS VICIADOS EM TÓXICOS E OS QUE,
POR DEFICIÊNCIA MENTAL, TENHAM O
DISCERNIMENTO REDUZIDO.

l lOS EXCEPCIONAIS, SEM DESENVOLVIMENTO


MENTAL COMPLETO.

l lOS PRÓDIGOS (AQUELES QUE SEMPRE


GASTAM TUDO O QUE TÊM).
FONTE: A autora

Podemos ilustrar o que acabamos de ver através do seguinte exemplo: João,


que é menor, com quinze anos de idade, recebeu um imóvel de herança de seu avô.
Pode-se afirmar que João tem personalidade jurídica, porém o Código Civil dispõe
que os menores de 16 anos são absolutamente incapazes de exercer atos da vida civil.
Assim, não poderá vender “sozinho” o imóvel de que é titular, porque, apesar de
ter personalidade jurídica, lhe falta “capacidade civil” para tal, sendo necessário,
para que o negócio se concretize, que seja representado por seu pai, mãe ou por seu
representante legal, na falta deles.

A incapacidade civil em razão da menoridade cessa aos 18 anos. Porém,


esta incapacidade poderá terminar antes, caso ocorram os casos previstos no
Código Civil: a emancipação, que é concedida pelos pais ou pelo juiz nas condições
previstas em lei; pelo exercício de emprego público efetivo; pela colação de grau
em curso superior; pelo estabelecimento civil ou comercial que garanta economia
própria.

117
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

2.1.1 Domicílio e Residência da Pessoa Natural


Outro tema de importância no estudo das pessoas naturais é o relativo
ao domicílio e à residência. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, as
expressões não são sinônimas. O domicílio da pessoa natural é definido pelo
próprio Código Civil, sendo o lugar onde a pessoa estabelece sua residência de
forma definitiva. Assim, como regra geral, a pessoa natural terá um só domicílio
e várias residências. Podemos citar como exemplo uma pessoa que mora em uma
cidade com sua família (domicílio), mas três vezes por semana fica em cidades
vizinhas onde tem filiais de sua empresa. Estas cidades podem ser consideradas
como o local de suas residências.

2.1.2 Extinção da Pessoa Natural


Como já dissemos anteriormente, o nascimento com vida é o início da
personalidade civil. Já a extinção da pessoa natural ocorre com a morte. Deste
modo, “A morte implica o fim da pessoa natural. A partir desse fato jurídico,
nenhum novo direito ou dever pode ser-lhe imputado” (COELHO, 2006, p. 215).

2.2 PESSOA JURÍDICA


A pessoa jurídica, por sua vez, “é a entidade constituída de homens ou
bens, com vida, direitos, obrigações e patrimônios próprios” (RAPOSO E HEINE,
2004, p. 33). É constituída pelo homem, e nasce da junção da vontade destas
pessoas. Segundo o dicionário jurídico De Plácido e Silva (1991, p. 368):
a expressão é utilizada para designar as “instituições, corporações,
associações e sociedades, que por força ou determinação da lei, se
personalizam, tomam individualidade própria, para constituir uma entidade
jurídica, distinta das pessoas que a formam ou que a compõem. Diz-se
jurídica porque se mostra uma encarnação da lei.[...]

2.2.1 Constituição da Pessoa Jurídica

Para a constituição da pessoa jurídica, o acordo de vontades de seus


constituintes (que serão seus representantes legais) será materializado em um
documento próprio, chamado estatuto ou contrato social, dependendo do tipo de
sociedade.

Este documento deverá ser redigido de acordo com o que dispõe a lei. Para
que a pessoa jurídica exista juridicamente, passando assim a ser sujeito de direito,
é necessário o registro deste documento no órgão competente (Junta Comercial
ou Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas ou Títulos e Documentos, conforme
denominação em cada Estado), que também dependerá do tipo de sociedade.

118
TÓPICO 2 | PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

Neste órgão, deverão ser também registradas todas as alterações e modificações


do contrato social ou do estatuto.

E
IMPORTANT

O Contrato Social das Sociedades Limitadas deverá ser vistado por um advogado
em todas as suas páginas.

Uma vez constituída de acordo com o que determina a legislação, a pessoa


jurídica passa a ter vida própria, sendo, portanto, sujeito de direito e, assim sendo,
titular de direitos e obrigações.

Apenas a pessoa jurídica responde por suas obrigações como regra geral,
tendo existência e patrimônio próprios. Pode, contudo, ocorrer a desconsideração
da pessoa jurídica, nos casos previstos em lei, tanto no Código Civil como no
Código do Consumidor, em caso de abuso por parte dos seus componentes,
a exemplo do que ocorre quando usam a pessoa jurídica para cometer fraudes.
Quando houver a desconsideração da pessoa jurídica, os bens particulares de seus
integrantes poderão responder por dívidas da empresa.

2.2.2 Classificação das Pessoas Jurídicas


As pessoas jurídicas podem ser classificadas, segundo Raposo e Heine
(2004, p. 36), quanto à orbita de atuação:

l pessoa jurídica de direito público externo, e de direito público interno. As pessoas


jurídicas de direito público externo são os países estrangeiros, organismos
internacionais e outros do gênero; e as de direito público interno: a União,
Estados, Municípios, Distrito Federal, etc.

l pessoa jurídica de direito privado, que são as que interessam ao nosso estudo,
uma vez que são regidas pelos princípios de direito privado. São elas: as
sociedades, as associações e as fundações.

De forma resumida, podemos dizer que as sociedades, são “pessoas


jurídicas de fins econômicos” (COELHO, 2006, p. 253). Ou seja, o que motiva a
constituição e a manutenção deste tipo de pessoa jurídica é a obtenção de lucro,
sendo esta sua principal finalidade.

As sociedades, por sua vez, de acordo com o Código Civil, podem ser
classificadas em empresárias ou simples.

119
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Esta classificação decorre “de acordo com a forma como é organizada a


exploração da atividade econômica” (COELHO, 2006, p. 254). O mesmo autor nos
ensina que as sociedades empresárias são as que combinam os quatro fatores de
produção (capital, mão de obra, consumo e tecnologia), organizando as atividades
como empresa. Aponta como sociedades empresárias: um banco, um hospital, um
supermercado, etc. Destas sociedades cuida o Direito Comercial. As “sociedades
limitadas” e as “sociedades anônimas” que conhecemos são espécies de sociedades
empresárias.

Já nas sociedades simples, “o objetivo é a exploração de atividade


econômica de atividade intelectual” (COELHO, 2006, p. 254), e que são estudadas
pelo Direito Civil.

A Associação, por sua vez, caracteriza-se como sendo “a pessoa jurídica


em que se reúnem pessoas com objetivos comuns de natureza não econômica”
(COELHO, 2006, p. 248). O mesmo professor exemplifica como associações as
constituídas por moradores de um bairro, “Associação de Moradores”, ou uma
“Associação de Lojistas” de uma cidade.

A Fundação, por fim, resulta da “afetação de um patrimônio a determinada


finalidade [...]” (COELHO, 2006, p. 255). Uma determinada pessoa, chamada
“instituidor” (pessoa física ou jurídica), escolhe bens do seu patrimônio (em vida
ou por testamento) e “vincula a administração e os frutos destes bens à realização
de objetivos (não econômicos) que gostaria de ver realizados. Diferem da sociedade
e da associação por não possuir membros, pois nem mesmo o instituidor pode ser
assim considerado. As fundações são fiscalizadas pelo Ministério Público, que é
representado, em âmbito estadual, pelo Promotor de Justiça, que pode, inclusive,
pedir a sua extinção judicial.

Podemos visualizar os diferentes tipos e sociedade de forma esquematizada:

FIGURA 18 – ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO

FONTE: A autora

120
TÓPICO 2 | PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

2.2.3 O Domicílio da Pessoa Jurídica


O domicílio da pessoa jurídica é o local que for escolhido nos seus atos
constitutivos, ou em não tendo havido esta escolha, será considerado como
domicílio o local de sua sede, por ser este o local onde deverá cumprir suas
obrigações.

2.2.4 Extinção da Pessoa Jurídica


A extinção da pessoa jurídica pode ser chamada de dissolução ou
liquidação, dependendo do tipo de sociedade. De forma simplificada, podemos
afirmar que a dissolução da pessoa jurídica pode ocorrer por vontade dos sócios
(convencional), por determinação legal ou administrativa e, ainda, por decisão
judicial.

121
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você aprendeu que:

l O Livro I da Parte Geral do Código Civil trata das pessoas físicas e jurídicas.

l Personalidade e capacidade jurídica não se confundem.

l Existem os relativamente incapazes, que serão assistidos pelo seu representante


legal, e os totalmente incapazes, que serão representados.

l Como nascem e se extinguem as pessoas físicas e jurídicas.

l Os diversos tipos de pessoa jurídica.

122
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a). Fixe os conteúdos que você aprendeu neste


tópico, correspondendo os grupos a seguir:

Grupo 1

(1) Personalidade civil.


(2) Capacidade civil.
(3) Totalmente incapaz.
(4) Relativamente incapaz.
(5) Emancipação.
(6) Domicílio.
(7) Estatuto ou contrato social.
(8) Desconsideração da pessoa jurídica.
(9) União, Estado ou Município.
(10) Sociedades.
(11) Sociedades simples.
(12) Forma de extinção das sociedades.

Grupo 2

( ) É a aptidão para ser titular de direitos e obrigações civis.


( ) É a “aptidão de alguém para exercer por si os atos da vida civil”.
( ) Menor de 16 anos.
( ) Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.
( ) Determina o fim da incapacidade jurídica.
( ) Lugar onde a pessoa estabelece sua residência de forma definitiva.
( ) Documento de constituição das sociedades.
( ) Consequência da utilização da pessoa jurídica para cometer fraudes.
( ) Pessoa jurídica de direito público interno.
( ) Esta pessoa jurídica tem como principal característica os fins econômicos.
( ) Nestas sociedades o objetivo é a exploração de atividade econômica e de
atividade intelectual.
( ) Dissolução e Liquidação.

123
124
UNIDADE 3
TÓPICO 3

PARTE GERAL - LIVRO II: DOS BENS

1 INTRODUÇÃO
Os bens são estudados no Livro II da Parte Geral do Código Civil. Este
tópico será dedicado ao seu estudo, especialmente conceitos e classificação.

Então, vamos continuar?

2 CONCEITO DE “BEM”
Para entendermos o conceito de bem, precisamos primeiro entender que,
para o Direito, “bem” e “coisa” não se confundem. São bens apenas as coisas que
têm valor econômico e que podem ser apropriados pelo homem.

Podemos, pois, chamar de “bem” “tudo aquilo que satisfaz uma obrigação”
(GONÇALVES, 2006, p. 238-239), podendo também ser considerados bens as
“coisas materiais, concretas, úteis aos homens e de expressão econômica, suscetíveis
de apreciação, bem como as de existência imaterial economicamente apreciáveis”.

Existem várias espécies de bens, previstas no Código Civil: bens


considerados em si mesmos (imóveis, móveis, fungíveis e consumíveis, divisíveis e
bens singulares e coletivos), bens reciprocamente considerados, bens públicos etc.
Para a nossa disciplina, será suficiente conhecermos as principais divisões. Vamos
ver cada conceito separadamente?

125
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

3 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS

3.1 BENS MÓVEIS E IMÓVEIS


Inicialmente vamos estudar a clássica divisão entre bens móveis ou
imóveis. O conceito de bens móveis é trazido pelo próprio Código Civil, em
seu art. 82. Como o próprio nome diz, móveis são [...] “os bens suscetíveis de
movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância
ou da destinação econômico-social.” Os animais, chamados semoventes (porque
se movem por si sós), são considerados pelo direito como bens móveis. Também
são considerados bens móveis perante o direito civil as ações das sociedades, os
papéis do mercado de valores, entre outros.

Os imóveis, como regra geral, são os bens “que se não se podem


transportar, sem destruição, de um para o outro lugar” (BEVILÁCQUA apud
GONÇALVES, 2006, p. 246). Assim, podemos considerar como bens imóveis o solo
e seus componentes, o subsolo e o espaço aéreo. Porém, segundo o Código Civil,
em seu art. 79, “são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural
ou artificialmente” e, assim sendo, são imóveis as construções, as plantações, as
árvores e os frutos etc.

Esta distinção é de suma importância por diversos motivos. Por exemplo,


a aquisição da propriedade de bens móveis se dá pela simples tradição (entrega),
enquanto a dos bens imóveis só ocorre depois do registro da escritura pública no
cartório do registro de imóveis. Para as pessoas casadas entregarem bens imóveis
como garantia (ex.: hipoteca), dependem da autorização do cônjuge, o que não
acontece nos bens móveis, entre outros.

3.2 BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS


Outra classificação divide os bens em fungíveis ou infungíveis. Os
bens fungíveis, conforme o art. 85 do Código Civil, são “os móveis que podem
substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade”, a exemplo
do dinheiro e de alimentos. Ao contrário, os infungíveis são os que não têm as
características acima. Porém, é interessante como um bem fungível pode se tornar
infungível, como nos exemplos trazidos por Carlos Roberto Gonçalves (2006, p.
255), quando uma pessoa empresta a outra uma moeda rara de colecionador, ou
um boi que, emprestado para serviços de lavoura, é infungível, enquanto o mesmo
boi, se destinado ao corte, se torna fungível.

Exemplo da importância desta distinção se dá no estudo dos contratos, pois


é ela que vai determinar a espécie de contrato cabível. Por exemplo, no mútuo, o
objeto deve ser coisa fungível, enquanto no comodato o bem será necessariamente
infungível.

126
TÓPICO 3 | PARTE GERAL - LIVRO II: DOS BENS

3.3 BENS CONSUMÍVEIS OU INCONSUMÍVEIS


Os bens também podem ser classificados em consumíveis ou inconsumíveis,
sendo que os bens consumíveis, segundo o art. 86 do Código Civil, são “os móveis
cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também
considerados tais os destinados à alienação, e inconsumíveis os que podem ser
utilizados sem que haja destruição de sua substância.

3.4 BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS


O conceito de bens divisíveis também consta do Código Civil em seu art.
87, que diz que bens divisíveis “são os que se podem fracionar sem alteração de
sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se
destinam”, e indivisíveis, aqueles que não possuem esta qualidade, como exemplo,
uma máquina, uma vez que se tirarmos uma peça, ela deixa de funcionar.

3.5 BENS SINGULARES E COLETIVOS


Conforme o art. 89 do Código Civil, são singulares os bens que, “embora
reunidos se consideram de per si, (por si só) independente dos demais”. Assim,
um carro é um bem singular quando considerado individualmente, como a
maioria dos bens. Os bens coletivos, também chamados universalidades, são os
que, “sendo compostos por várias coisas singulares se consideram em conjunto”
(GONÇALVES, 2006, p. 260). Assim, o mesmo carro, que é um bem singular, pode
integrar um conjunto e assim formar um bem coletivo, como uma frota.

3.6 BENS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS


Os bens podem ser ainda principais ou acessórios.

Os bens acessórios são assim chamados porque dependem da existência


de outro, o principal para existirem. “Assim o solo é bem principal, porque existe
sobre si, concretamente, sem qualquer dependência” (GONÇALVES, 2006, p. 261),
enquanto a árvore é bem acessório, pois depende do solo onde está plantada para
existir. Apesar desta relação de dependência, o Código Civil permite que os bens
acessórios (frutos e produtos) sejam objeto de negócio jurídico.

Os bens acessórios são subdivididos em frutos, produtos, pertenças e


benfeitorias.

Os produtos se distinguem dos frutos porque não podem ser colhidos


periodicamente, “como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das
minas (BEVILÁCQUA apud GONÇALVES, 2006, p. 263).

127
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Já os frutos, segundo (Gonçalves, 2006, p. 264-265) “são utilidades que uma


coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa, sem acarretar-lhe a
destruição no todo ou em parte [...]”. Os frutos são ainda classificados em naturais,
como o fruto das árvores, industriais, como por exemplo “a produção de uma
fábrica” (GONÇALVES, 2006, p. 264) e, também, civis, “que são os rendimentos
produzidos pela coisa, em virtude de sua utilização por terceiros, como os juros e
os aluguéis” (GONÇALVES, 2006, p. 263).

As pertenças, segundo o art. 93, ao contrário dos frutos e produtos, não são
partes integrantes do bem, como os produtos e os frutos, mas se destinam, de modo
duradouro, ao uso, serviço ou amorfoseamento de outro. Como exemplo, podem-
se citar os “objetos de decoração de uma residência” (GONÇALVES, 2006, p. 265).
Por fim, as benfeitorias “são os melhoramentos que podem ser inseridos na coisa”
(GONÇALVES, 2006, p. 267). O tipo de melhoramento que for inserido na coisa
determinará o tipo de benfeitoria, qual seja, necessárias, úteis ou voluptuárias.

A distinção entre os tipos de benfeitoria é encontrada no Código Civil


em seu art. 96. Assim, de forma resumida, são necessárias aquelas destinadas à
conservação do bem (ex.: manutenção de um telhado de uma casa), enquanto as
necessárias são as que aumentam ou facilitam seu uso (ex.: instalação de um ar
condicionado), e, por fim, as voluptuárias que são aquelas de mero deleite ou
recreio, mas que não aumentam nem facilitam o uso do bem (como por exemplo um
jardim). Vistas as diferenças entre as classes de bens principais e suas subdivisões,
para uma melhor compreensão, de forma esquematizada, podemos visualizar o
seguinte:

FIGURA 19 – BENS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS E SUAS SUBDIVISÕES

FONTE: Gonçalves (2006)

128
TÓPICO 3 | PARTE GERAL - LIVRO II: DOS BENS

3.7 BENS PÚBLICOS E PRIVADOS


Já os bens públicos, conforme o art. 98 do Código Civil, são os “pertencentes
às pessoas jurídicas de direito público interno”, como, por exemplo, as praias, as
praças e outros bens pertencentes à União, Estados e Municípios, e os privados
são os que pertencem aos particulares. Os bens públicos são inalienáveis, ou seja,
a titularidade do direito de propriedade, como regra geral, não podem ser objeto
de transferência. Somente em casos especiais, com regras específicas constantes
do Direito Administrativo é que a alienação destes bens será permitida. Já os bens
particulares, salvo as exceções previstas na lei civil, poderão ser alienados, e assim,
transferido o direito de propriedade sobre eles, quando forem, por exemplo, objeto
de contrato de compra e venda, doação, e outras transações imobiliárias.

129
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você aprendeu que:

l Bens e coisas não se confundem.

l São diversas as classificações de bens e que esta classificação é importante.

130
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a), você compreendeu bem os conceitos trazidos


neste tópico? Então, de acordo com as frases, escolha as palavras que completam
o lacunas:

Para o estudo do Direito, é importante conhecermos as diversas


espécies de bens. Inicialmente, podemos dividi-los em bens móveis e
__________________.

Por isso, podemos dizer que são bens _______________ aqueles


“que não se podem transportar, sem destruição, de um para o outro lugar”
(BEVILÁCQUA apud GONÇALVES, 2006, p. 246).

Outra classificação importante que devemos registrar é a que divide os


bens em principais e _____________, que só existem mediante a existência dos
bens principais, como, por exemplo, ocorre com a árvore em relação ao solo.

Os bens _______________ são os bens móveis que não se podem


substituir por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Outra classificação importante para o estudo do Direito é a que os


divide em bens principais e acessórios. Estes, por sua vez, se subdividem em
_____________, _______________, ____________ e benfeitorias.

As benfeitorias podem ser úteis, necessárias ou _____________________,


que são aquelas que apenas tornam o bem mais belo ou luxuoso.

131
132
UNIDADE 3
TÓPICO 4

PARTE GERAL - LIVRO III: DOS


FATOS JURÍDICOS

1 INTRODUÇÃO
No Livro III do Código Civil, vamos encontrar a legislação referente aos
fatos jurídicos. O entendimento deste conceito é também fundamental no estudo
das relações entre o Direito e as atividades empresariais.

2 CONCEITO DE FATO JURÍDICO


Primeiramente, precisamos entender: o que é um fato jurídico?

É qualquer acontecimento que tenha consequências no mundo jurídico, ou


seja, todo acontecimento que produz efeito jurídico. Em outras palavras, fatos que
“interessem” (sejam importantes) para o Direito, e assim:

Só é fato jurídico o acontecimento que produz efeitos no mundo jurídico.

Desta forma,

Não é todo acontecimento que será um fato jurídico.

Para entendermos bem esta afirmação, podemos imaginar que o nascimento


de uma pessoa é um fato jurídico, pois produz efeitos no mundo jurídico. Você se
lembra que o nascimento com vida é o início da personalidade jurídica? Então, o
nascimento é um fato que tem relevância para o Direito, e, por isso é considerado
um fato jurídico.

133
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

3 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS


Os fatos jurídicos podem ser naturais, porque vêm da natureza (ex.:
nascimento, morte, terremoto, raios etc.), e, assim, independem da vontade
humana para ocorrerem; ou humanos, que dependem da vontade humana para
se verificarem, que também são chamados atos jurídicos. Para o nosso estudo, é
preciso que entendamos bem o conceito de ato jurídico. Mas antes, vamos visualizar
de forma esquematizada o que vimos até agora?

FIGURA 20 – FATOS JURÍDICOS E SUAS SUBDIVISÕES

FONTE: A autora

Os atos jurídicos são divididos em lícitos, quando seus efeitos são voluntários,
e ilícitos, quando os efeitos são involuntários, conforme explica Gonçalves (2006,
p. 278).

Desta forma, um contrato de compra e venda, que seja firmado dentro do


que dispõe a lei, será um ato jurídico lícito, pois seu efeito será aquele esperado,
ou seja, o pagamento do preço resultará na transferência da propriedade. Já um
acidente de trânsito será um ato ilícito, pois gerará efeitos não pretendidos pelas
partes envolvidas.

134
TÓPICO 4 | PARTE GERAL - LIVRO III: DOS FATOS JURÍDICOS

4 NEGÓCIO JURÍDICO
Dentre a classificação dos atos jurídicos, temos o NEGÓCIO JURÍDICO,
como você pode ver do esquema anterior, tendo como característica principal a
junção da vontade dos agentes (particulares) que produzirá os efeitos pretendidos,
ou seja, criar, modificar, transferir ou extinguir direitos. Por isso se diz que o
contrato é seu símbolo (AMARAL apud GONÇALVES, 2006, p. 281).

CONTRATO = NEGÓCIO JURÍDICO

E
IMPORTANT

Você entendeu por que este conceito é tão importante? Porque as transações
empresariais geralmente envolvem contratos, que são as principais espécies de negócio jurídico.

4.1 REQUISITOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO


Para que o negócio jurídico seja VÁLIDO, ou seja, para que possa produzir
os efeitos de criar, modificar, transferir ou extinguir direitos, é necessário que
estejam presentes seus requisitos de validade, previstos no art. 104 do Código Civil:

NEGÓCIO JURÍDICO VÁLIDO

AGENTE CAPAZ + OBJETO LÍCITO + FORMA PRESCRITA OU


NÃO DEFESA (PROIBIDA) EM LEI

Para que o agente seja CAPAZ, é preciso que tenha CAPACIDADE CIVIL,
que é a aptidão para praticar por si os atos da vida civil. Esta incapacidade pode ser
absoluta ou relativa, como vimos acima. Em caso de incapacidade absoluta do agente
(por exemplo, menores de 16 anos) ele será representado e em caso de incapacidade
relativa (por exemplo, maior de 16 e menor de 18 anos) o agente será assistido.

135
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

O OBJETO LÍCITO é “o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons


costumes” (GONÇALVES, 2006, p. 320). Assim, como você já viu, os bens públicos
não podem ser objeto de compra e venda, pois sua alienação não é permitida por lei.

A FORMA é a maneira pela qual o negócio jurídico se exterioriza. Segundo


o Código Civil, a forma deve ser a prescrita (prevista) ou não defesa (proibida) em
lei. Assim, por exemplo, falando em transações imobiliárias, podemos dizer que a
compra e venda de um bem imóvel para ser válida DEVE NECESSARIAMENTE
SER REALIZADA POR ESCRITURA PÚBLICA, e não apenas por contrato, pois
assim exige o Código Civil.

4.2 NULIDADE E ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO


Quando faltarem os requisitos legais, o negócio jurídico será NULO, como
previsto no art. 166 do Código Civil.

No negócio jurídico, a vontade é o elemento essencial, porque ele nasce da


conjunção de duas vontades. Por isso, ela deve ser LIVRE, ou seja, não deve haver
nada que influencie a manifestação desta vontade. Se assim não for, o negócio
jurídico será viciado, e será anulável, no prazo de 04 anos (conforme art. 178, CC).

Poderá também ser ANULÁVEL, em caso de incapacidade relativa do


agente ou vício de consentimento, também chamado defeito do negócio jurídico
que se originam da vontade viciada.

São defeitos do ato jurídico os previstos nos artigos 138 ao 165 do Código
Civil: o erro substancial, o dolo, a coação, o estado de perigo, a lesão e a fraude
contra credores. De uma forma simplificada, podemos dizer que:

l No erro, a pessoa não tem noção da verdade, e, se soubesse, a manifestação da


vontade seria diferente.

l No dolo, há o emprego de um artifício para induzir alguém para realizar o


negócio em benefício próprio ou de terceiro.

l Na coação, há um fundado temor de dano próximo a acontecer (iminente) à


pessoa, à família ou aos seus bens.

l Na fraude a credores, o devedor se desfaz de seus bens, de forma maliciosa para


escapar das dívidas.

l No estado de perigo, ficará demonstrado quando alguém se obrigar por uma


prestação muito onerosa, para salvar a si, pessoa de sua família, ou outro ente
querido de grave dano conhecido da outra parte.

136
TÓPICO 4 | PARTE GERAL - LIVRO III: DOS FATOS JURÍDICOS

l Por fim, haverá lesão quando uma pessoa, em razão de necessidade ou


inexperiência se obriga por uma prestação manifestamente desproporcional ao
valor da prestação oposta. Por exemplo, quando uma pessoa vende um bem por
um valor muito inferior ao que ele realmente vale, por dificuldades financeiras.

Assim, se um negócio jurídico for assinado por um menor de 16 anos, ele


será nulo e não poderá produzir efeitos. Porém, se uma pessoa maior for coagida
a assiná-lo, ele será anulável, só não produzindo efeitos depois desta declaração.

137
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você estudou que:

l Ocontrato é o principal símbolo do negócio jurídico que, para sua validade,


depende da existência de agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não
proibida em lei.

l Na falta dos requisitos legais ou em ocorrendo “defeito” no negócio jurídico, o


ato poderá ser nulo ou anulável.

138
AUTOATIVIDADE
Com base nos conhecimentos adquiridos neste tópico, responda ao
questionário a seguir:

1 Qual a principal diferença entre fato e ato jurídico?

2 Cite o principal exemplo de negócio jurídico.

3 Como se caracteriza a fraude a credores?

4 Qual o traço marcante da coação?

5 Caso um bem público seja vendido em afronta à lei, o que ocorrerá com o
contrato? Por quê?

6 Qual a principal característica do negócio jurídico?

139
140
UNIDADE 3
TÓPICO 5

CÓDIGO CIVIL -
PARTE ESPECIAL

1 INTRODUÇÃO
Agora sim podemos conhecer os ramos do Direito Civil que compõem
a parte especial do Código Civil: Direito das Obrigações, Direito da Empresa,
Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões. Cada um dos ramos
específicos desta parte especial disciplina uma espécie de relação jurídica, como
veremos nos próximos itens.

2 SUBDIVISÕES DA PARTE ESPECIAL DO DIREITO CIVIL

2.1 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


O Direito das Obrigações “trata do vínculo pessoal que liga credores e
devedores, tendo por objeto uma prestação patrimonial” (MAX; ÉDIS, 2005, p. 224).

2.1.1 Conceito de Obrigação


Do conceito de Direito das Obrigações que estudamos anteriormente,
podemos extrair o conceito de obrigação, que, como o próprio nome diz, é uma
relação jurídica de natureza pessoal (você lembra o conceito de relação jurídica
pessoal que vimos na Unidade 1?), de natureza patrimonial, em que o credor de
um lado tem o direito de exigir do devedor, de outro, uma prestação de dar, fazer
ou não fazer. Diniz (2008, p. 3) fornece como exemplos desta relação o locador,
que tem o direito de exigir o preço do aluguel, e o do vendedor, que tem direito de
exigir do comprador o preço. Veja a figura:

141
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

FIGURA 21 – VÍNCULO JURÍDICO DA OBRIGAÇÃO

FONTE: A autora

Analisando este conceito, podemos ver que alguém se obriga a uma


prestação que pode ter três modalidades, que correspondem ao tipo de obrigação:
obrigação de dar, fazer ou não fazer.

A obrigação de é de dar (entregar) uma coisa quando este é o seu objeto,


como no contrato de compra e venda. A obrigação de dar pode ser de dar coisa
certa (específica, o carro X, o imóvel Y) ou incerta (ex: a venda de uma safra). Já a
obrigação de fazer, como a que envolve um contrato de prestação de serviços, e de
não fazer, quando as partes se obrigam a deixar de fazer alguma coisa, como, por
exemplo, quando um vizinho se obriga a não construir um muro. Nas obrigações
há três elementos: o sujeito ativo e o sujeito passivo e o objeto. O sujeito ativo,
ou o credor, é aquele que pode exigir a prestação; o sujeito passivo, ou devedor, é
o que deve cumprir a obrigação; e o objeto, a obrigação de dar, fazer ou não fazer,
conforme vimos acima.

2.1.2 Fontes das Obrigações


No nosso sistema, as fontes das obrigações são: os contratos e declarações
unilaterais de vontade (obrigações contratuais) e as que nascem dos atos ilícitos
(obrigações extracontratuais). Como exemplo desta última, podemos citar a
indenização a que tem direito a vítima de um acidente de trânsito.

2.1.3 Espécies de Obrigações


A obrigação será alternativa quando o devedor puder escolher entre
cumprir uma obrigação ou outra. Por exemplo, poderá o devedor escolher entre
entregar um carro OU o seu equivalente em dinheiro.

A obrigação será cumulativa quando o devedor necessitar cumprir todas


as obrigações para que se libere. Exemplo: o devedor deverá construir e pintar
um muro. Divisível será a obrigação que pode ser dividida entre os credores ou
devedores. Por exemplo, a dívida é de R$ 1.500,00, e cada um dos devedores fica
responsável pelo pagamento de R$ 500,00. Será indivisível quando essa divisão não

142
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

for possível. Exemplo: dois devedores se obrigam a entregar uma casa ao credor. A
obrigação será personalíssima, quando o cumprimento da obrigação só possa ser
executado pelo próprio devedor, de forma exclusiva e pessoal. Exemplo clássico
deste tipo de obrigação é o pintor famoso contratado para pintar um quadro.

2.1.4 Transmissão das Obrigações


As obrigações podem ser cedidas para outra pessoa que não o devedor
ou o credor? Podem sim, através das figuras jurídicas que estudaremos a seguir:
Cessão de Crédito e Assunção de Dívida.

A Cessão de Crédito “é a transferência de crédito de uma pessoa para a


outra.” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 51). Esta transferência que parte do credor pode
ou não envolver o pagamento de valores (onerosa), ou ser gratuita. Quem transfere
se chama Cedente, e aquele que recebe o crédito se chama Cessionário. Já a Assunção
de Dívida ocorre quando uma terceira pessoa, com a concordância do credor (por
escrito) assume o lugar do antigo devedor, que fica então livre da dívida.

2.1.5 Cumprimento ou Pagamento da Obrigação


O cumprimento da obrigação é o ato que libera o devedor. Assim,

Pagamento do credor  satisfação da obrigação  liberação do


devedor  extinção da obrigação.

Mas, para que o cumprimento ou pagamento da obrigação seja efetivo,


temos que observar:

l Quem deve pagar  o próprio devedor, outra pessoa por ele, a não ser que a
obrigação seja personalíssima (que só pode ser cumprida pelo próprio devedor),
por exemplo, a obrigação de pintar um quadro.

l A Quem se deve pagar  a obrigação, como regra geral, deve ser paga ao
próprio credor, ou pessoa por ele autorizada, para ter eficácia.

l A prova do pagamento  ao pagar, o devedor deverá exigir o recibo, que é seu


direito e a única prova do pagamento, pois este não se presume.

l Local do pagamento  a obrigação como regra geral, deve ser paga no local
em que for convencionado. Na omissão, deverá ser cumprida no domicílio do
devedor. Se a prestação for a entrega do imóvel ou prestação relativa a este, o
local do pagamento será o da localização do bem.

143
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

l Data do pagamento  o pagamento deverá ser realizado na data convencionada,


e se assim não acontecer, ficará o devedor sujeito aos encargos do não pagamento.
Se não houver data convencionada, considera-se que o pagamento deve ser feito
à vista.

Pode haver ainda o perdão da dívida, que se chama remissão.

2.1.6 Descumprimento da Obrigação


Pode acontecer de o devedor não cumprir a obrigação na data combinada.
Então, diremos que o devedor é inadimplente. Porém, este não cumprimento
sujeitará o devedor a algumas consequências, que vamos conhecer agora.

A primeira consequência é a mora, que é o atraso ou o retardamento do


pagamento. A mora tanto pode ser do devedor (que não paga) ou do credor (que
se recusa a receber). O devedor poderá ficar assim sujeito ao pagamento de multa,
juros, ou outros encargos previstos no contrato.

As perdas e danos se referem àquilo que o devedor perdeu (danos


emergentes) e o que deixou de ganhar (lucros cessantes), em razão do
descumprimento da obrigação.

Outra consequência é o pagamento de juros moratórios, que só podem ser


estipulados no máximo em 12% ao ano, conforme o Código Civil.

A cláusula penal, por sua vez, será aplicada quando houver


descumprimento da obrigação, a exemplo do que acontece nos aluguéis quando o
locador ou locatário quiser terminar antecipadamente o contrato, ficando sujeito
ao pagamento de três meses de aluguel.

Por fim, temos as arras ou sinal de negócio. As arras são uma quantia que
o comprador paga ao vendedor para garantir o negócio (arras compensatórias), ou
como compensação pelo arrependimento (arras penitenciais). Conforme o Código
Civil, quando o comprador desistir do negócio, perderá os valores das arras em
favor do vendedor. Quando for o vendedor o desistente, este deve devolver o que
recebeu em dobro.

2.1.7 Obrigações Contratuais


As obrigações contratuais são aquelas que se originam de um contrato,
que é uma espécie de negócio jurídico (como vimos acima), pois cria, modifica,
conserva ou extingue direitos.

As partes contratantes têm plena liberdade de contratar, que é o princípio


conhecido como autonomia da vontade.

144
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

Porém, costuma-se dizer que o Código Civil limitou este princípio quando
exige que, quando as partes firmarem um contrato, será necessário haver a boa-
fé objetiva (art. 422 do Código Civil), que significa que a parte deverá pensar e
agir com probidade e honestidade. Também limitam a liberdade de contratar e a
função social do contrato (art. 421 do Código Civil).

Podemos citar como exemplos de contratos que você poderá utilizar em


sua atividade profissional: o comodato (empréstimo gratuito de bem infungível),
a locação (cessão de uso mediante remuneração), o mútuo (empréstimo de bem
fungível), mandato (concessão de poderes de representação através de uma
procuração), entre outros.

2.2 DIREITO EMPRESARIAL


Já o Direito da Empresa “refere-se ao exercício profissional da atividade
econômica organizada, para a produção ou circulação de bens e serviços”
(FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 224).

O Direito Empresarial envolve conceitos e matérias que antes pertenciam ao


Direito Comercial e que, com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, passaram
a fazer parte do Direito Civil, tais como os tipos de sociedades, obrigações sociais,
títulos de crédito, entre outros.

TUROS
ESTUDOS FU

Prezado(a) acadêmico(a). Diante da importância que o Direito Empresarial


representa em sua futura atividade como Gestor ou Contador, seus conteúdos serão estudados
em uma disciplina específica chamada “Direito Empresarial e Direito Tributário”, que você
cursará mais adiante.

2.3 DIREITO DAS COISAS


O Direito das Coisas, por sua vez, disciplina a relação que “se estabelece
entre as pessoas e os bens, como a propriedade, a posse ou a hipoteca” (FÜHRER;
MILARÉ, 2005, p. 224). Para nosso estudo, será suficiente conhecermos seus
principais institutos. Iniciaremos pela posse e propriedade que são direitos reais.

O direito real é o direito que uma pessoa exerce sobre uma coisa, tendo
o direito de buscar (através de uma ação judicial) esta coisa das mãos de quem
quer que se encontre. A este poder chama-se “direito de sequela”, que cria um
vínculo jurídico entre a pessoa e o bem e permite, por exemplo, que a pessoa
entre na justiça para pedir uma reintegração de posse de suas terras invadidas.
Além disso, tem efeito erga omnes, o que significa dizer que, estando devidamente
145
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

registrado no Registro de Imóveis, tem validade contra todos, sem que se possa
alegar desconhecimento da titularidade deste direito.

Existem os direitos reais sobre as coisas próprias, como a propriedade e os


direitos reais sobre as coisas alheias, tais como a hipoteca, o usufruto e o penhor.
Iniciaremos pelo estudo da propriedade, principal objeto do Direito das Coisas.

2.3.1 Propriedade
Segundo o art. 1.228 do Código Civil, a propriedade ou domínio é o direito
que seu titular possui de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la de quem
injustamente a possua ou detenha. É garantido pela Constituição Federal, em seu
art. 5º, XXII da Carta Magna, que, porém, diz que a propriedade deve atender
sua função social. Esta limitação também está expressa no parágrafo primeiro do
referido art. 1228 do Código Civil.

2.3.1.1 Classificação da propriedade


Diz-se que a propriedade é plena quando todos estes direitos podem ser
realizados pelo proprietário, sendo assim considerada até que se prove o contrário,
conforme art. 1.231 do Código Civil. A propriedade será limitada, quando sobre
ela recair um direito real (ex.: hipoteca), ou for resolúvel, quando tem prazo certo
para se extinguir. E como se adquire a propriedade imóvel?

2.3.1.2 Formas de aquisição da propriedade

São várias as formas de se adquirir a propriedade: registro do título,


usucapião e acessão. Vejamos cada um deles.

A forma mais comum de aquisição da propriedade é o registro do título


(art. 1.245 do CC) que transfere a propriedade do bem imóvel.

UNI

Você já ouviu dizer que quem não registra não é dono? Quer saber o que é este
título e este registro? É o que vamos ver em seguida.

O título a que a lei se refere é a escritura pública, uma vez que, em se


tratando de bens imóveis é obrigatório que esta seja lavrada em um cartório que se
chama tabelionato.

146
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

É importante lembrar que “sobre a propriedade o mais importante é


sabermos identificar quem realmente é o proprietário do bem” (RAPOSO; HEINE,
2004, p. 84). E acrescentam:

No caso de bens imóveis, só é proprietário aquele


que figura como tal no Registro de Imóveis.

ATENCAO

Você viu que para ser proprietário de um bem imóvel não basta ter um contrato
ou uma escritura. É preciso que esta escritura esteja registrada no Registro de Imóveis. Assim,
se um imóvel for vendido duas vezes, será considerado proprietário aquele que primeiro
registrar a escritura.

O Registro de Imóveis é o cartório responsável por manter um cadastro,


chamado “matrícula”, de todos os imóveis existentes na cidade. Na matrícula,
consta um número, todos os dados do imóvel e o “histórico” de seus proprietários,
ônus reais etc. É como se fosse uma “carteira de identidade” do imóvel. Nas
cidades maiores, os registros de imóveis são geralmente divididos em regiões que
se chamam “ofícios”. Assim, dependendo do endereço do imóvel, ele pertencerá
ao 1º, ou 2º Ofício, e assim por diante.

Outra forma de aquisição da propriedade é a usucapião, que é o direito


de propriedade que o possuidor da coisa que a possui como sua (animus domini),
sem que haja oposição de ninguém durante um certo prazo de tempo, passa
a ter. Este direito deve ser reconhecido em sentença judicial, que servirá como
título de transferência da propriedade no Registro de Imóveis. Porém, o pedido
deve obedecer a alguns requisitos legais, que variam de acordo com o prazo de
ocupação, o tipo de área e a existência de justo título, ou seja, de um documento
(ex.: contrato de compra e venda) que comprove a posse nos termos exigidos pelo
Código Civil. Não entraremos aqui nas espécies de usucapião, por não ser objeto
específico de nosso estudo, mas é importante que se deixe claro que o possuidor
pode somar a sua posse a do seu antecessor, desde que seja de boa-fé e que os bens
públicos não podem ser objeto de usucapião.

Enfim, adquire-se a propriedade pela acessão, que quer dizer “agregar,


unir. Logo, aquisição por acessão significa tudo aquilo que é acrescido ao imóvel,
que pode se dar de forma natural ou artificial” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 87). De
forma resumida, os mesmos autores esclarecem que:

147
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

A acessão ocorre de forma natural, quando há a formação de ilhas, pela


aluvião (acréscimos sucessivos e imperceptíveis nas margens ou na foz de rios,
de materiais trazidos pelas correntes), pela avulsão (acréscimo de porção de terra
arrancada por força natural violenta) ou pelo álveo abandonado (leito de rio
que secou). A acessão de forma artificial são as construções e as plantações que,
segundo o art. 1.253 do CC, presumem-se feitas pelo proprietário às suas custas.

Já vimos como se adquire a propriedade. E como se perde a propriedade?


Quanto à perda da propriedade, podemos dizer que os meios previstos no Código
Civil são:

l Alienação  transferência voluntária da propriedade (ex.: a compra e a venda,


a doação etc.).

l Renúncia  desistência do direito de propriedade sobre o imóvel.

l Abandono do imóvel.

l Perecimento da coisa.

l Desapropriação  quando o imóvel for de necessidade pública ou utilidade


pública, hipótese em que a Constituição Federal garante a justa e prévia
indenização.

Para a defesa da propriedade, o titular deverá entrar em juízo com uma


ação reivindicatória.

2.3.2 Posse
Posse, segundo Raposo e Heine (2004, p. 81), é a ocupação de uma coisa. O
Código Civil considera, em seu art. 1196, como possuidor aquele que tem de fato
ou não algum dos poderes relativos à propriedade. O locatário pode ser citado
como exemplo de possuidor. Ele tem o poder de usar da coisa, e de buscá-la de
alguém que injustamente a possua.

2.3.3 Classificação da Posse


A posse pode ser classificada de diversas formas:

148
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

FIGURA 22 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

FONTE: A autora

Vamos ver os conceitos separadamente?

l Direta ou indireta: A posse direta é aquela exercida efetivamente sobre o


bem. Para entender seu conceito, podemos retomar o exemplo da locação. O
proprietário transfere ao locador a posse direta. Porém, não perde sua posse,
mas a exerce de forma indireta, o que lhe possibilita defender sua posse em
juízo.

l Justa ou injusta (violenta, clandestina ou precária): A posse justa é aquela que


é amparada em um fato legal, de acordo com a lei, tais como a decorrente de um
contrato, a ocupação de um imóvel como dono sem contestação (que depois
pode originar o direito à usucapião, como vimos anteriormente) etc. Diz-se que
não contém vícios. A posse justa dá direito ao possuidor de receber os frutos
e o recebimento de uma indenização, caso venha a perder judicialmente esta
posse. A posse injusta, ao contrário, tem como fato gerador um ato violento (ex.:
invasão), clandestino (tomada da posse com utilização de artifícios) ou ainda a
posse precária, que decorre da não devolução por uma pessoa que recebe o bem
temporariamente. Um exemplo que pode ser citado é o do contrato de comodato,
contrato imobiliário em que se empresta um bem infungível gratuitamente.
Findo o prazo do contrato, o comodatário se recusa a devolver o bem. Sua posse,
que era justa (porque amparada no contrato), torna-se injusta, porque viciada
pela precariedade. A posse injusta não pode se transformar em justa.

l De boa-fé e de má-fé: O possuidor de boa-fé é aquele que “tem a posse com a plena
convicção de ser legítima, desconhecendo eventual vício na aquisição”, ao contrário
da de má-fé, onde o possuidor sabe que a posse é viciada. [...] Ele sabe que o bem
não lhe pertence e mesmo assim o detém (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 83).

l Posse nova e posse velha: Diz-se posse nova aquela que é exercida pelo
possuidor há menos de um ano e um dia, enquanto a posse velha é exercida há
mais de um ano e um dia. Esta diferenciação é importante para a determinação
do tipo de ação judicial que deverá ser ajuizada para a defesa da posse.

149
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

A posse pode ser esbulhada ou turbada. Quando o possuidor perde a


posse, diz- -se que ocorreu esbulho possessório. Já quando não há perda da posse,
mas apenas uma “perturbação”, diz-se que ocorreu turbação.

Para ilustrar esta diferença, vamos pensar no seguinte exemplo: dois terrenos
vizinhos. O dono de um deles, entendendo que a cerca divisória está errada e que
sua área é maior, sem ter razão, derruba a cerca. Praticou um ato de turbação da
posse. Já se, neste mesmo caso, ele mudar a cerca de lugar, “invadindo” o terreno
do vizinho, ele praticará nítido ato de esbulho. Também a lei admite a possibilidade
de o possuidor evitar a ocorrência de ato de esbulho ou turbação, por exemplo,
evitando uma invasão, através de uma ação chamada interdito proibitório.

Para defender judicialmente a sua posse, o possuidor pode ajuizar as


seguintes ações, dependendo do ato praticado:

Reintegração de posse  quando houver perda da posse.

Manutenção de posse  quando houver turbação da posse.

Interdito proibitório  para evitar que haja a turbação ou o esbulho.

2.3.4 Direitos reais sobre as coisas alheias


Como já dissemos, o direito real é aquele que a pessoa exerce sobre a coisa.
Já vimos também que este direito real pode ser exercido sobre coisa própria, como
ocorre com a propriedade. Contudo, este direito real também pode ser exercido
sobre uma coisa de outra pessoa, ou seja, sobre coisa alheia.

Estes direitos podem recair sobre coisas móveis, como, por exemplo, o
penhor ou sobre imóveis, a exemplo da hipoteca. Os direitos reais sobre as coisas
alheias serão apresentados a seguir.

2.3.4.1 Direitos reais sobre coisas alheias de gozo e fruição


Os direitos reais sobre coisas alheias de gozo e fruição são os que se referem
à utilização da coisa alheia, sendo que são os seguintes que recaem sobre imóveis:
superfície, servidão, usufruto, uso, e habitação.

O direito de superfície é o previsto no art. 1.369 do Código Civil e é aquele


em que o proprietário concede a outra pessoa o direito de construir ou plantar
em seu terreno, por prazo determinado. Esta concessão pode ser gratuita ou não.
Aquele que recebe o imóvel tem nome de superficiário e ficará responsável pelo
pagamento dos tributos relativos ao imóvel. Ao final, a construção ou plantação

150
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

ficará para o proprietário, a não ser que haja um contrato estipulando uma
indenização.

Já o direito de servidão consiste “na utilização do imóvel serviente por


parte do imóvel dominante” (RAPOSO; HEINE, 2004, p. 91). A servidão mais
conhecida é a servidão de passagem, ou passagem forçada, em que parte de um
terreno (imóvel serviente) serve de passagem para um outro (dominante). A
servidão pode ser estabelecida por contrato, testamento ou decisão judicial e o
proprietário do imóvel serviente é obrigado a respeitá-la.

O usufruto, como o próprio nome diz, é o direito de “usar” e “fruir” da


coisa. O proprietário, que passa a ser conhecido por “nu-proprietário”, transfere
estes direitos ao “usufrutuário”. Utiliza--se muito o usufruto em nosso país em
processos de separação e quando se realiza partilha em vida, para evitar o processo
de inventário. Pelo usufruto, os pais passam a propriedade dos imóveis para os
filhos, ficando-lhes reservado o usufruto. Como podem usar e fruir, podem morar
no bem ou até mesmo alugá-lo, porque o aluguel é uma espécie de fruto, como
vimos anteriormente. O nu-proprietário até pode vender o bem, mas este ônus real
vai acompanhá-lo e o novo proprietário terá que aguardar a extinção deste direito
real, pela morte do usufrutuário ou concordância deste em extinguir o usufruto.

Semelhante ao usufruto, há o direito de uso, com a diferença que, no uso,


a pessoa usará a coisa e perceberá seus frutos de acordo com a necessidade de sua
família. O Código Civil determina que se aplique ao uso, aquilo que for compatível
às regras do usufruto.

Por fim, o direito de habitação é o de utilizar o imóvel para moradia, de


forma gratuita, a exemplo do que ocorre no caso de falecimento de um dos cônjuges.
Também se aplica a este direito real as disposições legais relativas ao usufruto.

UNI

Agora que você já conhece os direitos reais sobre coisas alheias de uso e gozo,
vamos partir para os direitos de aquisição.

2.3.4.2 Direitos reais sobre coisas alheias de aquisição


Como direito real sobre coisa alheia de aquisição, temos o Direito
de Promitente Comprador do Imóvel, previsto no Código Civil e também a
promessa de cessão de direitos, relativos a imóveis não loteados, sem cláusula
de arrependimento e com imissão de posse, inscrito no registro de imóveis –
Lei n. 4.380/64 e art. 167, I, 9 (RAPOSO; HEINE 2004, p. 99). São chamados de
direitos reais sobre coisa alheia de aquisição, porque permitem ao comprador a
possibilidade de exigir a concessão da escritura pública que transfere o direito de

151
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

propriedade, sem que o vendedor possa “voltar atrás”. A Promessa de Venda ou


Cessão de Unidades Condominiais (Lei n. 4591/64) e Propriedade Fiduciária de
Imóveis também são apontados como direitos reais sobre coisas alheias (RAPOSO;
HEINE, 2004, p. 100).

2.3.4.3 Direitos reais sobre coisas alheias de garantia


Por fim, os direitos reais de garantia. Por este direito, o bem fica vinculado
ao cumprimento de uma obrigação, por exemplo, uma dívida, mas desde que
estejam presentes todos os requisitos exigidos pela lei, especificamente nos arts.
1.419 e seguintes do Código Civil. Porém, o credor não poderá ficar com o bem se
a dívida não for paga, porque o artigo 1.428 do Código Civil proíbe esta prática. O
bem será vendido e o dinheiro entregue ao credor.

São direitos reais de garantia: o penhor, a hipoteca e a anticrese. O penhor


tem por objeto bens móveis.

O penhor, segundo o art. 1431 do CC, constitui-se quando uma pessoa


transfere a posse de um bem móvel para o credor de uma dívida. Exemplo típico de
penhor é o realizado com joias na Caixa Econômica Federal em garantia de dívida.

ATENCAO

Cuidado para não confundir PENHOR e PENHORA. A penhora é a garantia dada


em um processo judicial. Por isso, quando estiver falando sobre penhor, deve-se dizer que as
joias foram EMPENHADAS (e não penhoradas, como se ouve frequentemente).

Na hipoteca, o devedor permanece na posse do imóvel e somente o perderá


se não cumprir a obrigação. Quando tiver por objeto bem imóvel (o art. 147 do
CC traz uma lista de bens e direitos que podem ser objeto de hipoteca, além dos
imóveis, tais como as estradas de ferro, os navios e as aeronaves), que é o tema
do nosso estudo, a hipoteca abrange também seus acessórios. É importante dizer
que, para efeito de hipoteca, os navios e as aeronaves são considerados imóveis,
podendo assim haver uma hipoteca sobre estes bens.

No direito real de anticrese, o devedor ou outra pessoa em seu nome


entrega ao credor um bem de sua propriedade para que este receba os frutos em
pagamento da dívida e dos juros.

152
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

E
IMPORTANT

lembre-se de que os direitos reais sobre coisas alheias devem ser registrados no
Registro de Imóveis do local onde se localiza o imóvel, para terem eficácia erga omnes (contra
todos). Este registro seguirá a ordem em que são apresentadas, fazendo-se a prenotação.

Outro importante instituto do Direito das Coisas é o direito de construir.

2.3.5 O Direito de Construir


Este direito é previsto no art. 1299 do Código Civil:

O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe


aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.

Ou seja, podemos afirmar que o direito de construir e plantar é livre, porém


não é pleno, pois sofre limitações previstas nos arts. 1.300 a 1.312 do Código Civil.
Dentre as limitações ao direito de construir estão:

l não despejar água no terreno vizinho;

l não abrir janelas ou construir terraços a menos de um metro e meio do terreno


vizinho;

l respeitar, na zona rural, a distância mínima de três metros entre as construções;

l não construir na parede confinante fornos, fogões, chaminés ou quaisquer outras


construções que possam causar infiltrações ou interferências no terreno vizinho;

l cumprir outras disposições relativas ao terreno confinante (arts. 1.305, 1.306


etc.);

l não efetivar construções que possam poluir ou tirar poço ou nascente de outrem;

l não realizar obras ou escavações que possam comprometer a segurança do


terreno vizinho.

Assim sendo, o direito do proprietário construir é sempre limitado, podendo


o proprietário ou possuidor ingressar na justiça para fazer cessar este uso anormal
da propriedade. Neste caso, segundo o Código Civil (art. 1.312), o proprietário
poderá exigir, além da demolição da construção, a reparação dos danos causados.

153
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Além das hipóteses referentes ao uso nocivo da propriedade, o direito de


vizinhança trata ainda: das árvores limítrofes, que são as que ficam na linha divisória
entre dois terrenos. Se o tronco estiver na linha divisória, esta será considerada
como propriedade comum entre os vizinhos. Se houver invasão de raízes e galhos
no terreno, poderão ser cortados até a linha divisória pelo proprietário do terreno
invadido. Os frutos caídos serão de propriedade do proprietário do terreno onde
caírem; da passagem forçada, permitindo ao vizinho que tenha acesso à via pública,
mediante indenização; da obrigação do proprietário de permitir a passagem de
tubos e tubulações de utilidade pública, mediante indenização; da passagem das
águas e do direito de tapagem, tais como cercar, murar, valar ou tapar de qualquer
modo o seu prédio urbano e rural.

2.4 DIREITO DE FAMÍLIA


O Direito de Família, segundo Gusmão (2006, p. 204), é “a parte do direito,
norteado pelo interesse social, rege as relações jurídicas constitutivas da família e
as dela decorrentes. Tem por matéria as relações jurídicas que formam a família,
ou seja, as entre esposos, entre pais e filhos e entre parentes.”

Dentre os institutos do Direito de Família, destacamos: o casamento e


seus regimes de bens, filiação, união estável, tutela e curatela. Entendemos ser
importante para nossa disciplina o estudo dos regimes de bens no casamento.

2.4.1 Regime de Bens no Casamento


O regime de bens escolhidos no casamento trará as normas que vigorarão
no que diz respeito à comunicabilidade ou não dos bens em caso de separação ou
morte. O regime legal é o da comunhão parcial de bens, o que significa dizer que
no silêncio das partes este será o regime de bens a ser observado. Vamos conhecer
cada um dos regimes previstos no CC?

Segundo Hironaka (2003), resumidamente, são os seguintes os regimes de


bens previstos no Código Civil:

[...]

Do regime de comunhão parcial.

Como já se disse, este é o regime oficial de bens, no casamento,


selecionado, pois, pelo legislador pátrio, desde a promulgação da Lei do
Divórcio, em 1977, pelo qual comunicar--se-ão apenas os bens adquiridos na
constância do casamento, e revelando, por isso mesmo, um acervo de bens que
pertencerão exclusivamente ao marido, ou exclusivamente à mulher, ou que
pertencerão a ambos.

154
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

Com a dissolução da conjugalidade, restará comunicável, então – e


por isso passível de partilha entre os cônjuges que se afastam – o acervo dos
bens comuns, ficando excluídos, dessa partilha, os bens ressalvados pelos arts.
1659 e 1661 do novo Código Civil, dispositivos esses que repetem as mesmas
exclusões já anteriormente previstas pelos arts. 269 e 272 do Código Civil de
1916. Excluídos estavam, e permanecem, então, os bens que cada cônjuge já
possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do matrimônio por
doação, sucessão ou sub-rogados em seu lugar (art. 269, inciso I, CC/1916 e
1659, inciso I, CC/2003). [...]

 Do regime de comunhão universal.

Este regime foi aquele que, entre nós, e até o advento da Lei do Divórcio,
posicionou--se como o regime legal, casando-se sob sua regulamentação a
esmagadora maioria de brasileiros, até 1977.

Conforme suas regras, comunicam-se entre os cônjuges todos os


seus bens presentes e futuros, além de suas dívidas passivas, ocorrendo um
enorme amálgama entre os bens trazidos para o casamento pela mulher e pelo
homem, bem como aqueles que serão adquiridos depois, formando um único
e indivisível acervo comum, passando, cada um dos cônjuges, a ter o direito à
metade ideal do patrimônio comum e das dívidas comuns.

No novo Código Civil, o regime da comunhão universal de bens, o


regime da unificação patrimonial mais completa, encontra-se disciplinado entre
os arts. 1667 a 1671.

Do regime de separação de bens.

Relativamente a este regime de bens, isto é, o regime que visa promover


a completa separação patrimonial do acervo de bens pertencente a cada um dos
cônjuges [...]. Antes de encerrar a análise deste regime de bens do casamento,
o regime da separação total, não devo esquecer de mencionar que ele pode ser
adotado, pelos nubentes, como fruto da eleição ou escolha, convencionando-o
por meio de pacto antenupcial. Se assim for, o regime em pauta vai se desvendar
como um excelente regime patrimonial, no casamento, tendo em vista que ele
representa exatamente o contrário disso, quer dizer, ele é a total ausência de
regime patrimonial, mantendo bem separados e distintos os patrimônios do
marido e da mulher.

Do regime de participação final nos aquestos.

Cria, o legislador civil nacional, outro regime de bens, que vem ocupar
o lugar deixado pelo regime dotal, sem que, no entanto, guarde relativamente
a este qualquer semelhança. Ocupa o lugar, não as características. Ao contrário,
o regime da participação final nos aquestos guarda semelhanças e adquire
características próprias a dois outros regimes, na medida em que se regulamenta,

155
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

em seu nascedouro e sua constância por regras semelhantes às desenhadas


pelo legislador para o regime da separação de bens, em que cada cônjuge
administra livremente os bens que tenha trazido para a sociedade conjugal,
assim como aqueles que adquirir, por si e exclusivamente, durante o desenrolar
do matrimônio. Por outro lado, assume de empréstimo regras muito parecidas
àquelas dispensadas ao regime da comunhão parcial, quando da dissolução da
sociedade conjugal por separação, divórcio ou morte de um dos cônjuges.

Nesse sentido, cada cônjuge possui patrimônio próprio, que administra


e do qual pode dispor livremente, se de bens móveis se tratar, dependendo da
outorga conjugal apenas para a alienação de eventuais bens imóveis (CC, arts.
1.672 e 1.673). Mas se diferencia do regime da separação de bens porquanto, no
momento em que se dissolve a sociedade conjugal por rompimento dos laços
entre vivos ou por morte de um dos membros do casal, o regime de bens como
que se transmuda para adquirir características do regime da comunhão parcial,
pelo que os bens adquiridos onerosamente e na constância do matrimônio serão
tidos como bens comuns desde a sua aquisição, garantindo-se, assim, a meação
ao cônjuge não proprietário e não administrador.

Desta feita e porque afastado um dos cônjuges da administração


dos bens adquiridos, traça o Código Civil uma série de disposições que,
pormenorizadamente, visam disciplinar a apuração dos bens partíveis em
meação, pelo valor e no montante verificados na data em que cessou a convivência
dos cônjuges (art. 1.683), tudo para evitar se consubstancie qualquer espécie de
lesão ao direito do cônjuge que até então figurava como não proprietário e não
administrador.

TUROS
ESTUDOS FU

Caso queira se aprofundar mais neste assunto, sugiro a leitura do artigo “Alguns
Efeitos do Direito de Família na Atividade Empresarial”, da autoria de Pablo Stolze Gagliano,
Disponível em <http://www.mundojuridico.adv.br/cgi-bin/upload/texto590.rtf>.

156
TÓPICO 5 | CÓDIGO CIVIL - PARTE ESPECIAL

2.5 DIREITO DAS SUCESSÕES

Por fim, o Direito das Sucessões, tem por objetivo dispor sobre como ocorrerá
a transmissão dos bens das pessoas falecidas” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 224).

Segundo o artigo 1.829 do CC, a ordem de vocação hereditária, ou seja, a


preferência no recebimento da herança será o seguinte: primeiro os filhos, os pais, o
cônjuge e por último os colaterais (ex.: irmãos). Neste sentido, é o art. 1829 do CC:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo
se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no
da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Interessante observar que o cônjuge, nas hipóteses do inciso I do art. 1829,


além de meeiro (dependendo do regime de bens) será herdeiro, quando então
concorrerá com os filhos, inovação trazida pelo Código Civil de 2003.

157
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico você estudou que:

l O estudo dos institutos de Direito das Obrigações é muito importante no estudo


do Direito, porque as transações empresariais envolvem obrigações.

l Existem diversas espécies de obrigações, como dar, fazer ou não fazer.

l O não cumprimento das obrigações gera consequências.

l O direito de contratar sofre limitações por princípios como da função social do


contrato e boa-fé objetiva.

l A propriedade é um direito que permite gozar, usar, dispor e reaver um bem de


quem injustamente o possua.

l Os conceitos de posse e propriedade não se confundem.

l A posse se classifica em diversas espécies, como posse justa, injusta, precária,


violenta, clandestina etc.

l Existem vários direitos reais sobre as coisas alheias, tais como a hipoteca, a
anticrese etc.

l O direito do proprietário de construir é sempre limitado, podendo o


proprietário ou possuidor ingressar na justiça para fazer cessar este uso anormal
da propriedade, podendo ainda exigir, além da demolição da construção, a
reparação dos danos causados.

l O Direito de Família é “a parte do direito, norteado pelo interesse social, rege as


relações jurídicas constitutivas da família e as dela decorrentes”.

l O Direito das Sucessões rege a transmissão dos bens das pessoas falecidas.

158
AUTOATIVIDADE

1 Preencha os campos em branco:

1. Objeto do Direito das Obrigações. Relações ________________.

2. Modalidades das Obrigações. Dar, ______________, ou ____________.

3. Quando o devedor pode escolher a Obrigação ________________________.


prestação que vai cumprir.
4. ______________ das Obrigações. Contratos, declarações unilaterais de
vontade e atos ilícitos.

5. Obrigação personalíssima.

6. Uma das formas de Transmissão das


Obrigações é a Cessão de Crédito. A _________________de Dívida.
outra é
7. Local do pagamento em havendo
omissão do contrato.
8. Uma das consequências pelo
inadimplemento. Significa atraso. Pode
ser do devedor ou do credor.
9. São limitados em 12% ao ano, segundo
o Código Civil.
10. Quando a desitência for do
comprador, este perde o que pagou.
Quando for do vendedor, este devolve
em dobro o que recebeu.

2 Assinale a alternativa CORRETA:

1 É o poder de o proprietário ou possuidor buscar a coisa de quem


injustamente a possua ou detenha:

a) ( ) Usucapião.
b) ( ) Direito de sequela.
c) ( ) Propriedade.
d) ( ) Habitação.

159
2 Não se caracteriza como meio de perda da propriedade:

a) ( ) Usufruto.
b) ( ) Alienação.
c) ( ) Renúncia.
d) ( ) Abandono.

3 Por meio desta ação o possuidor defende sua posse que foi perdida:

a) ( ) Ação de Reintegração de Posse.


b) ( ) Ação de Manutenção de Posse.
c) ( ) Ação de Usucapião.
d) ( ) Ação de Execução.

4 A posse injusta pode ser violenta, clandestina ou precária. Pode ser


considerada posse clandestina:

a) ( ) A que decorre de ato violento.


b) ( ) A que decorre de utilização de artifícios.
c) ( ) A que decorre da não devolução do bem no prazo.
d) ( ) Nenhuma das alternativas.

5 É modo aquisitivo da propriedade:

a) ( ) Hipoteca.
b) ( ) Penhor.
c) ( ) Aluvião.
d) ( ) Usufruto.

6 Por este direito real sobre coisa alheia, o proprietário cede o imóvel a outra
pessoa, que poderá usar o mesmo e até receber os aluguéis:

a) ( ) Usufruto.
b) ( ) Hipoteca.
c) ( ) Servidão.
d) ( ) Penhor.

7 A hipoteca, o penhor e a anticrese têm como característica comum:

a) ( ) Serem modos de aquisição da propriedade.


b) ( ) Serem direitos reais de aquisição.
c) ( ) Serem direitos reais de garantia sobre coisa alheia.
d) ( ) Terem por objeto bem imóvel.

160
8 Diz-se que a posse é velha quando

a) ( ) O possuidor a exerce há menos de 1 ano e 1 dia.


b) ( ) O possuidor a exerce há mais de 1 ano e 1 dia.
c) ( ) O possuidor soma a posse a de seus antecessores para entrar com pedido
de usucapião.
d) ( ) Quando esta posse se origina no usufruto.

9 De acordo com a lei, não pode ser objeto de hipoteca:

a) ( ) Navio.
b) ( ) Aeronave.
c) ( ) Estradas de ferro.
d) ( ) Automóveis.

10 O compromisso de compra e venda, desde que atendidos os requisitos


exigidos pela lei, é uma espécie de direito de aquisição da propriedade,
porque:

a) ( ) Permite que o comprador exija na justiça a escritura de compra e venda


para transferir a propriedade.
b) ( ) Permite que o comprador requeira o usufruto do bem.
c) ( ) Garante o direito de moradia.
d) ( ) Permite a reintegração de posse.

11 Regime de bens pelo qual “comunicar-se-ão apenas os bens adquiridos na


constância do casamento”:

a) ( ) Separação de bens.
b) ( ) Comunhão Universal de Bens.
c) ( ) Participação final nos aquestos.
d) ( ) Comunhão parcial de bens.

12 Conforme suas regras, “comunicam-se entre os cônjuges todos os seus bens


presentes e futuros, além de suas dívidas passivas”:

a) ( ) Pacto antenupcial.
b) ( ) Separação de bens.
c) ( ) Participação final nos aquestos.
d) ( ) Comunhão Universal de Bens.

13 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) É obrigação do vizinho não construir obra que despeje água no terreno


vizinho.
( ) A construção de janelas ou terraços a menos de um metro do terreno
vizinho é permitida.

161
( ) Na zona rural a distância mínima entre as construções é de três metros.
( ) As árvores limítrofes são as que ficam na linha divisória entre dois
terrenos.
( ) Se o tronco estiver na linha divisória, a árvore limítrofe será considerada
como propriedade do vizinho que a tiver plantado.
( ) Se houver invasão de raízes e galhos no terreno poderão ser cortados até
a linha divisória pelo proprietário do terreno invadido.
( ) Os frutos caídos serão de propriedade do proprietário da árvore.
( ) O direito de construir é também limitado por regulamentos administrativos,
tais como o plano diretor de cada município.

162
UNIDADE 3
TÓPICO 6

OUTROS RAMOS DO DIREITO


PRIVADO: DIREITO COMERCIAL E DIREITO
INTERNACIONAL PRIVADO

1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a). Chegamos ao último tópico desta unidade e
também de nossa disciplina.

Vamos compreender quais são os conceitos e abrangência do Direito


Comercial e Direito Internacional Privado.

2 DIREITO COMERCIAL
O Código Civil de 2002 revogou a primeira parte do Código Comercial
(Lei n. 566/1850), passando então a regular vários institutos que eram do Direito
Comercial, segundo Requião (2006). Por isso, alguns autores entendem que não há
mais porque se distinguir o Direito Comercial, que passou a se denominar Direito
Empresarial.

Contudo, as demais partes do Código Comercial continuam em vigor, sendo


que alguns autores, tais como Rubens Requião, apontando suas características
próprias, que chama de “traços peculiares”: “cosmopolitismo, individualismo,
onerosidade, informalismo, fragmentarismo e solidariedade presumida”
(REQUIÃO, 2006, p. 31).

TUROS
ESTUDOS FU

Caso queira saber mais sobre este assunto, sugiro a leitura da seguinte obra:
REQUIÃO, Rubens. Direito Comercial. vol. 1. Ed. Saraiva, 2006.

163
UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

3 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


Conforme Strenger (2003, p. 29), o Direito Internacional Privado:
Nasce do desenvolvimento tomado pelas relações de ordem privada
entre os diferentes povos. Da diversidade de legislação surge o conflito,
porquanto, cada vez mais se hesita na aplicação das leis dos diversos
países põe-se em movimento o direito internacional privado, a fim de
determinar em que condições legais o problema pode ser resolvido.

Assim sendo, seu principal campo de atuação é o conflito de leis no espaço,


ou seja, ele determinará qual a lei aplicável em uma situação em que haja conflito.

Em nosso ordenamento jurídico, a LICC (Lei de Introdução as Normas do


Direito Brasileiro LINDB) contém inúmeros dispositivos que trazem regras de
direito internacional, quando estabelece, por exemplo, que nos que se referem aos
bens, aplicar-se-á a lei do país onde estes estiverem situados.

LEITURA COMPLEMENTAR

Para a complementação de seus estudos, recomendamos a leitura do texto


a seguir.

A REALIDADE CONTRATUAL À LUZ DO NOVO CÓDIGO CIVIL

Prof. Flávio Tartuce

Todos os institutos do Direito Civil vêm perdendo a estrutura abstrata e


generalizante para, aos poucos, substituí-las por disciplinas legislativas cada vez
mais concretas (1). Com o intervencionismo estatal consagrado pela Constituição
de 1988, institucionaliza-se a interferência do Estado nas relações contratuais,
“definindo limites, diminuindo os riscos do insucesso e protegendo camadas da população
que, mercê daquela igualdade aparente e informal, ficavam à margem de todo o processo de
desenvolvimento econômico, em situação de ostensiva desvantagem” (2).

Nessa nova estrutura, o contrato, típico instituto do Direito Privado, vem


sofrendo uma série de alterações conceituais e a antiga visão de autonomia plena
da vontade perde espaço para uma elaboração mais voltada para a realidade social
dos envolvidos na relação contratual. Aqui, segundo aponta a melhor doutrina
italiana, percebe-se que não se pode mais falar em Princípio da Autonomia da
Vontade, mas em Autonomia Privada.

Como se sabe, e tal fato constitui uma realidade social, dificilmente a parte
consegue manifestar de forma plena e inequívoca a sua vontade no momento
negocial. Esse elemento tão raro e inerente à própria dignidade da pessoa humana

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TÓPICO 6 | OUTROS RAMOS DO DIREITO PRIVADO: DIREITO COMERCIAL E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

perdeu o papel orientador que tinha no passado, eis que vivemos sob a égide do
“Impérios dos Contratos-Modelo”.

Sob esta ótica, muito se fala, no âmbito do Direito Civil, na socialização


dos velhos conceitos herdados do Direito Romano, o que leva a um conflito na
mente dos estudiosos da ciência jurídica, levando a conclusões erradas quanto às
transformações no seu âmbito privado (3).

O contrato, cerne principal das relações privadas, como destacam vários


doutrinadores, não poderia ficar alheio a tal fenômeno de evolução. Como bem
observa Caio Mário da Silva Pereira, sendo o contrato conceito intimamente
relacionado à vontade humana e suscetível de influência pelas transformações pelas
quais passam os interesses da sociedade, não poderia ficar alheio às modificações
sociais.

O nobre doutrinador menciona que várias são as facetas de evolução social,


podendo- -se falar em evolução etimológica, em evolução biológica, em evolução
linguística, em evolução antropológica e, claro, em evolução do contrato, uma
“transformação temporal ou espacial ” pela qual passa o instituto (4).

Lembramos a importância do instituto “contrato” para o Direito Privado.


No nosso caso, interessante auferir que vários livros do Código Civil em vigor,
senão todos, são de vital importância para o instituto em análise.

Sendo o contrato negócio jurídico, não se pode olvidar a importância da


Parte Geral do Novo Código Civil para a existência e validade dos pactos celebrados.
Vital o estudo dos elementos essenciais, acidentais e naturais do negócio jurídico,
eis que também são esses os elementos formadores e orientadores do contrato. Os
defeitos ou vícios do negócio jurídico são de grande valia à matéria contratual, já
que geram a anulabilidade ou nulidade do pacto em diversas situações. As situações
em que se tem a nulidade e anulabilidade do negócio jurídico são plenamente
aplicáveis aos contratos, hipóteses em que se tem a extinção dos contratos por
ineficácia contratual.

O capítulo do Código Civil que trata da Teoria Geral das Obrigações


também é de grande importância para a concepção dos contratos, já que os
mesmos constituem a principal fonte do direito obrigacional. No contrato se tem
uma relação jurídica transitória entre credor e devedor, várias obrigações de dar,
fazer ou não fazer, solidariedade, obrigações divisíveis e indivisíveis, obrigações
singulares e plurais. Os contratos têm extinção normal pelo cumprimento, pelo
pagamento direto, mas também por consignação em pagamento, imputação, sub-
rogação, dação em pagamento, novação, compensação, confusão e remissão de
dívidas.

Tem-se também no Código Civil um capítulo que trata da Teoria Geral


dos Contratos, em que se propõe nova concepção do instituto, de acordo com
o Princípio da Socialidade concebido pela nova codificação e muitas vezes
mencionado pelo seu principal idealizador, que dispensa apresentações. Aqui,
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UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

a função social do contrato e a boa-fé objetiva são concebidos como verdadeiros


princípios orientadores da matéria contratual.

Na parte em que se estuda os contratos em espécie, o aplicador da norma


terá à sua disposição os ditames naturais de cada instituto negocial. O Novo
Código Civil inova trazendo outros contratos com institutos típicos, o que não é
objeto central do nosso estudo, mas que merece realce. O jurista, desse modo, deve
estar inteirado das regras previstas na codificação privada, aplicáveis a cada figura
contratual, mas sem perder de vista também as leis especiais, caso, por exemplo,
da Lei de Locação (Lei n. 8.245/91), da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/98) e do
Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), de grande valia para a figura
jurídica em questão.

Sem prejuízo de outras leis especiais, percebe-se que quase todo o Código
Civil está dedicado aos negócios jurídicos e aos contratos, lembrando também
que mesmo os livros de Direito de Família e Direito das Sucessões também são
relacionados com o instituto. Lembramos que muitos consideram o casamento
como sendo um contrato “sui generis”, e o testamento, verdadeiro negócio jurídico
unilateral.

Na realidade, o Novo Código Civil, em vários dos seus artigos, concebe


de forma plena a conscientização normativa da alteração dos velhos institutos do
Direito Civil, exprimindo a função social do contrato como fonte necessária para a
harmonização dos interesses privativos dos contratantes com os interesses de toda
a coletividade.

Percebe-se, em todo o Direito Privado, a compatibilização do princípio da


liberdade com o da igualdade, a busca da expansão da personalidade individual
de forma igualitária. Há a busca do desenvolvimento do conjunto da sociedade,
mesmo que ao custo de diminuir a esfera de liberdade individual.

Em sua excelente obra traduzida para o português, “Fundamentos do Direito


Privado”, o doutrinador Ricardo Luis Lorenzetti aponta todas as alterações pelas
quais vêm passando os principais institutos do Direito Civil e Direito Privado.
Critica o mesmo o chamado “big bang” legislativo demonstrando o surgimento
de inúmeros microssistemas jurídicos. Procura Lorenzetti também afastar o
pessimismo exagerado que circunda os institutos civis, principalmente o contrato:
a concepção da chamada “crise dos contratos” (5).

Colocando a pessoa no centro do ordenamento jurídico, o mestre


argentino procura uma nova concepção de contrato, de acordo com as principais
alterações sociais sentidas nos últimos séculos. Lembra que “a ordem jurídica
atual não deixa em mãos dos particulares a faculdade de criar ordenamentos contratuais,
equiparáveis ao jurídico, sem um interventor” (6). Para tanto aponta a necessidade do
intervencionismo estatal, do dirigismo estatal, com a concepção do princípio da
autonomia privada. Chega a afirmar que “o Estado requer um Direito Privado, não
um direito dos particulares. Trata-se de evitar que a autonomia privada imponha suas
valorações particulares à sociedade; impedir-lhe que invada territórios socialmente sensíveis.
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TÓPICO 6 | OUTROS RAMOS DO DIREITO PRIVADO: DIREITO COMERCIAL E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Particularmente, trata-se de evitar a imposição a um grupo, de valores individuais que lhe


são alheios. Aqui faz seu ingresso a ordem pública de coordenação, de direção” (7).

A necessidade da concepção de um direito social também em matéria


contratual tornou--se crescente após a emergência dos Direitos da Personalidade,
crescente principalmente após a Segunda Revolução Industrial e que trouxe uma
nova maneira de negociar, novos elementos subjetivos, em posições díspares no
momento contratual.

Sob o enfoque social, tal realidade tem origem, segundo as palavras de


Fernando Noronha, na relação entre direito e sociedade, que constitui uma “relação
de interdependência, com dois atributos: é mútua e assimétrica. É interdependência,
porque os acontecimentos registrados numa das esferas produzirão efeitos também na
outra; é interdependência mútua, porque cada uma das esferas depende da outra, embora a
dependência do direito em relação à sociedade seja bem maior do que a desta em relação ao
primeiro; é uma relação de interdependência assimétrica, porque as partes não dependem
uma da outra em medida igual” (8).

Instituto também presente no Direito Romano (9), não resta dúvidas que
poucos conceitos evoluíram tanto quanto o contrato. Tal evolução foi objeto de um
estudo clássico de San Thiago Dantas, para quem a doutrina contratual representa
o “termo de uma evolução, através da qual foram sendo eliminadas normas e restrições sem
fundamento racional, ao mesmo tempo em que se criavam princípios flexíveis, capazes de
veicular as imposições do interesse público, sem quebra do sistema” (10).

Como já foi dito, atualmente, está em voga no Direito Comparado, e mesmo


entre nós, afirmar sobre a “crise dos contratos”, chegando Savatier a profetizar que o
contrato tende a desaparecer, surgindo outro instituto em seu lugar.

O Professor Titular de Direito Comercial da Universidade de São Paulo,


Luiz Gastão Paes de Barros Leães, em prefácio da primeira edição de “Contratos
Internacionais do Comércio”, de Irineu Strenger, comenta tal crise, ao elucidar que:
“há alguns anos, a decadência do Direito Contratual é apregoada num tom fúnebre,
que anuncia iminente desenlace. Há inclusive quem já tenha lavrado a sua certidão de
óbito. Grant Gilmore, em 1.974, publicou um livro com título provocador – The Death
of Contract (Columbus, Ohio) – onde assinalou a ação demolidora dos novos tempos no
edifício conceitual do contrato. O fenômeno da padronização das transações, decorrente de
uma economia de mass production, teria subvertido inteiramente o princípio da liberdade
contratual, transformando o ‘contrato’ numa norma unilateral imposta pela empresa
situada numa posição dominante. Teria ocorrido assim um retorno ao status” (11).

Sobre tal profetização Fernando Noronha comenta que “para Gilmore,


professor da Yale Law School, ‘contract is being reabsort into the mainstream of “tor”’: ‘A
teoria clássica do contrato poderia bem ser descrita como uma tentativa para instituir um
enclave dentro do domínio geral da responsabilidade civil (tort). Os diques foram erguidos
para proteger o enclave, está bastante claro, têm vindo a derrocar a uma velocidade cada vez
mais rápida” (12).

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UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

Na realidade, “crise” pode significar alteração na estrutura – e é realmente


isto que entendemos estar ocorrendo quanto ao tema –, uma convulsiva
transformação, uma renovação dos pressupostos e princípios da Teoria Geral
dos Contratos, que tem por função redimensionar seus limites, e não extingui-
los. Entendemos que o contrato não está em crise, mas sim em seu apogeu como
instituto emergente e central do Direito Privado. Isso justifica porque o contrato
é um dos primeiros temas a ser discutido na Parte Especial da Nova Codificação.

Conforme já defendemos, uma das principais alterações em matéria


contratual se refere à autonomia da vontade das partes na avença. Discute-se
muito atualmente, a possibilidade da revisão do contrato, a liberdade de extinguir
o pacto e de se decidir a conclusão da relação entre as partes.

Não se pode mais aceitar o contrato com sua estrutura clássica, concebido
sob a égide do “pacta sunt servanda” puro e simples, com a impossibilidade da
revisão das cláusulas. O Direito do Consumidor trouxe inovações nesta matéria,
inovações que constam agora no Novo Código Civil, como a proteção do aderente
prevista nos artigos 423 e 434 da nova codificação, o que pode gerar a nulidade
absoluta de cláusulas abusivas, diminuindo a amplitude da Força Obrigatória das
Convenções.

Aqui, lembramos as palavras de Atílio Aníbal Alterini, emergente autor


argentino que alerta ao fato de não estarmos vivenciando a chamada “crise dos
contratos”, mas uma modificação nas suas estruturas principais:

“Ahora bien. Está en crisis el contrato? Se dice: ‘El contrato desaparece.


Perece. Outra cosa se coloca en su lugar’. (Savatier). Se agrega: El contrato está en
crise”.

Crisis puede significar cambio. En realidad, ‘lo que a veces se denomina


crisis del contrato – afrima Larroumet – no es nada más que una crisis de la
autonomia de la voluntad’, o sea, del “derecho de los contratantes de determinar
como lo entendian su relacion contractual” (Weill- Terré). No se trata de declinatión
o de crepúsculo del contrato, sino ‘de transformación y de renovación’ (Josserand)”
(13).

Também repudiamos o conceito de “crise de contratos”, conforme construído


pelo Direito Comparado, acreditando em um novo conceito emergente, dentro da
nova realidade do Direito Social. Acreditamos nas antigas palavras de Manuel
Inácio Carvalho de Mendonça, para quem “os contratos hão se ser sempre a fonte mais
fecunda, mais comum e mais natural dos direitos de crédito” (14).

Não se pode falar em extinção do contrato, mas no renascimento de um


novo instituto, como uma verdadeira “Fênix” que surge das cinzas. Importante
revolução atingiu também os direitos pessoais puros e as relações privadas,
devendo tais institutos ser interpretados de acordo com a sistemática lógica do
meio social.

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TÓPICO 6 | OUTROS RAMOS DO DIREITO PRIVADO: DIREITO COMERCIAL E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Somos adeptos de uma posição otimista na análise do Direito Privado,


acreditando na emergência de novos institutos, renovando todo o Direito,
afastando-nos dos cientistas que afirmam estar ocorrendo uma verdadeira crise do
Direito Privado.

NOTAS
1 Nesse sentido, Tepedino, Gustavo. “As relações de Consumo e a Nova Teoria
Contratual”. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, In: Temas de Direito Civil.

2 Tepedino, ob cit., p. 204.

3 Sobre o tema, interessante notar os comentários do Professor Caio Mário da


Silva Pereira, na introdução da sua recente obra Direito Civil – Alguns aspectos de
sua evolução. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001, entre as páginas 1 e 15.

4 Direito Civil. Alguns Aspectos da sua Evolução. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2001, p. 226.

5 Hoje se fala em “crise” de todos os institutos do Direito Privado: “crise da Parte


Geral do Direito Civil” (cf. Lorenzetti. Ob. cit. p. 60 a 63), “crise da família” ou
“crise do Direito de Família”, “crise do contrato”, conforme veremos, e assim
suscessivamente.

6 Fundamentos do Direito Privado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998, p.
540.

7 Ob. cit. p. 540.

8 O Direito dos Contratos e seus Princípios Fundamentais. São Paulo: Editora Saraiva,
1994, p. 26.

9 “Sentiu-se, entretanto, na sociedade romana, cuja vida se tornou cada vez mais complexa
com o surgimento de maior pluralidade de negócios, a necessidade de dar uma certa
materialidade aos contratos. E surgiram, então, as quatro modalidades mencionadas
por Gaius. Primeiro, os contratos r, como uma espécie de contrato real, que se perfazia
mediante a entrega de uma coisa; contrato litteris, que se completavam pela inscrição
no codex do devedor; contrato verbis, que se realizavam mediante a troca de palavras
sacramentais, dos quais o mais importante era a stipulatio. Somente mais tarde veio o
contrato consensu, cujo nascimento foi lento e complexo, a que me referirei no segmento
seguinte. Nem por isto perdeu sentido a afirmativa de Gaius: as obrigações ora nascem
de um contrato ora do delito (vel ex contractu nascitur, vel ex delicto – Institutiones
Commentarius, Vol. III, n. 88)” (Silva Pereira, Caio Mário Da,. Direito Civil – Alguns
aspectos de sua evolução, Editora Forense, 2.001, Rio de Janeiro, p. 228).

10 Evolução contemporânea do Direito Contratual. São Paulo: Revista dos Tribunais.


RT, v. 199, p. 144.

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UNIDADE 3 | DIREITO PRIVADO

11 Contratos Internacionais do Comércio. São Paulo: Editora LTR, 3. ed. p. 17.

12 O Direito dos Contratos e seus Princípios Fundamentais. São Paulo: Editora Saraiva,
1994, p. 1.

13 Vallespinos, Carlos Gustavo (Org.). Contratos. Presupuestos. Córdoba: Editora


Advocatus, Sala de Derecho Civil, Colégio de Abogados de Córdoba,, p. 12 .

14 “Contratos no Direito Brasileiro”. Tomo I. Rio de Janeiro: Editora Forense, 4ª


Edição, 1957, p. 7.

FONTE: TARTUCE, Flávio. A realidade contratual à luz do novo Código Civil . Jus Navigandi,
Teresina, ano 8, n. 190, 12 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.
asp?id=4389>. Acesso em: 12 set. 2008.

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RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico você aprendeu, especialmente, que:

l O Direito Internacional Privado nasce do desenvolvimento tomado pelas


relações de ordem privada entre os diferentes povos.

l Destas relações surgem conflitos sobre a aplicação da lei e que o Direito


Internacional Privado busca justamente resolver estes conflitos.

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AUTOATIVIDADE

Para realizar esta atividade, você terá que ter em mãos uma cópia da
LICC. Caso não tenha cópia impressa, baixe-a da internet no link “legislação”.
Responda às seguintes perguntas:

1 De acordo com a LICC, qual a lei aplicável quando se tratar de início e fim
da personalidade?

2 Qual a legislação a ser observada para o regime de bens no casamento?

3 Qual a lei que regerá a sucessão de estrangeiro morto fora de seu domicílio?

4 Qual a lei aplicável a imóvel de estrangeiro situado no Brasil?

5 Como se regem as obrigações, ou seja, um contrato celebrado no Brasil


entre estrangeiros será regido por qual legislação?

172
REFERÊNCIAS
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Direito Internacional Público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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______. Art. 62 da Constituição Federal, de 1988. Título IV. Da Organização dos


Poderes. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato
ao Congresso Nacional. Disponível em: <www.dji.com.br/constituicao_federal/
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______. Lei Federal nº 1.533/51. Altera disposições do Código do Processo Civil,


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______. Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados
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da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 set. 1980.
 
______. Lei º 4.737 de 11 de Julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Diário
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______. Lei nº 10.406, de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da]
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Leis do Trabalho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
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173
______. Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941. Lei das Contravenções
Penais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,  03 out.
1941.
 
______. Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
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______. Lei n. 8.072, de 25 de Julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos,
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ANOTAÇÕES

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