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II. Apresentação
Como e o que pensam, agem e em que condições se deixam perceber aqueles que
levantam ou levantaram o manto colonialista que cobre pensamento e percepção do
mundo? Epistemologia, ética e estética a partir da crítica política do
decolonialismo/pós-colonialismo/anti-colonialismo são os temas centrais deste conjunto
de encontros que temos pela frente. Outras são ainda as portas de entrada nessa
temática: como a abordagem econômica, religiosa, tecnológica, artística e suas
complexas combinações. A provocação principal, entretanto, para se enfrentar tal tema
é a absurda atualização do pensamento, práticas e estéticas (neo)colonialistas, mas
também, por outro lado, um surgimento e amadurecimento inédito de reação e
resistência, tanto no mundo das artes visuais e da reflexão como no cotidiano em suas
mais variadas práticas. É dentro dessa grande sala panorâmica que pretendemos apontar
para algumas dessas portas temáticas e construir uma introdução geral ao problema.
O processo colonizatório no ocidente foi uma prática política de expansão territorial que
implicou em ocupação, saques, sequestros e guerras contra os habitantes originários e
suas respectivas culturas. É marcado, sobretudo, por uma desproporção bélica e ética
entre as partes envolvidas, cuja armas foram a tecnologia, a imunização biológica, a
ganância, a truculência, etc. Numa análise mais severa, o processo de colonização das
Américas, por exemplo, foi marcado pelo maior extermínio de etnias jamais visto na
história recente do homo sapiens, daí o termo genocídio não ser suficiente para abarcar
tamanha tragédia, nem tampouco o de limpeza étnica. Etnocídio implica o
desaparecimento de culturas inteiras, cujos saberes, práticas, línguas, estéticas jamais
conheceremos, porque foram povos apagados da história e da memória coletiva. Esse
processo é marcado, no melhor dos casos, por um profundo despreparo, por parte desse
grupo, quanto a como lidar com o radicalmente diferente, sobretudo porque essa era
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uma questão que não existia no início dos primeiros contatos do processo de
colonização (XVI), nem na sua atualização (neocolonialismo) em pleno século XIX
com a revolução industrial e o loteamento da África. Este ano a ONU celebra as línguas
indígenas do mundo e lembra que muitas ainda estão em franco processo de
desaparecimento, continuando sofrendo o mesmo processo iniciado com toda sua
barbaridade sobretudo no século XVI pelos europeus.
A revisão dessa fase da história e sua exposição detalhada precisa ainda ser consolidada
dentro dos livros de história dos países colonizados e colonizadores, assumindo um
lugar inquestionável e patrocinado pelo poder público. Esse ponto de partida é decisivo
para o início do próprio curso. Numa etapa seguinte, será preciso levar em conta os
processos de reação e resistência, que incluem apropriações das culturas invasoras por
parte daqueles que sobreviveram, reconstrução de culturas transplantadas, críticas
dirigidas a políticas públicas e a processos de construção de conhecimentos
herdados/impostos. Para tanto contaremos, de maneira introdutória, com trechos dos
livros de Eduardo Galeano (Veias abertas da América Latina, Memórias do Fogo) e
Darcy Ribeiro (O povo Brasileiro, Processo Civilizatório), Ailton Krenak (Ideias para
adiar o fim do mundo), Davi Kopenawa (Queda do céu), e com o filme documentário
The Colonial Misunderstanding, de Jean-Marie Teno.
Essa revisão histórica, que diz respeito, em última instância, a uma crítica dirigida a
uma filosofia da história cuja narrativa supervalorizou a história dos colonizadores, será
trabalhada com uma compreensão de política oferecida por Han em Que é poder?,
segundo a qual são as formas mais imperceptíveis de dominação, as mais poderosas e
eficientes, assim como aquela oferecida por Mbembe em Necropolitica. A proposta
seria visitar os autores que propuseram um descobrimento dessas formas de dominação
ou de colonização, tanto de uma perspectiva da construção do conhecimento e das suas
teorias (epistemologia e “colonialidade do saber”) quanto da perspectiva da construção
de “regimes estéticos ou sensível”, que se mostram tanto no cotidiano em suas inúmeras
práticas (religiosa/econômica/acadêmica/administrativa/etc.) quanto no mundo das
artes.
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de hoje. A crítica dirigia à estética como instrumento e aplicação de uma racionalidade
moderna, servindo ao projeto colonial. A padronização estética. O outro. Etc.
IV. Avaliação
V. Metodologia
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VI. Referências preliminares
Livros:
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__________Teoria do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.
__________Entrevista Programa Roda Viva (17.04.1995), Disponível em 01.08.2019:
https://www.youtube.com/watch?v=AAFzOemlAbg
SANTOS, Boaventura de Souza. “Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma
ecologia de saberes”. In SANTOS, B.S. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010
SANTOS, Milton. “O lugar e o cotidiano”. In SANTOS, B.S. Epistemologias do Sul. S.Paulo:
Cortez, 2010.
SARR, Felwine. “Écrire les humanités à partir de l’Afrique”. In MBEMBE, A. et SARR Felwine.
Ecrire L’Afrique-Monde (Les Ateliers de la pensée – Dakar et Saint-Louis-du-Senegal). Dakar:
Philipe Rey/Jimsaan, 2017.
SCHOLETTE, Gregory. Delirium and Resistance: Activist Art and the Crisis of Capitalism.
London; Pluto Press, 2017.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.
________. An Aesthetic Education in the Era of Globalization. Cambridge/MA: HUPress, 2103.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. São Paulo:Cosac Naify, 2015.
___________A inconstância da alma selvagem. São Paulo:Cosac Naify, 2012
VERGÈS, Françoise. “Utopies émancipatrices”. In MBEMBE, A. et SARR Felwine. Ecrire
L’Afrique-Monde (Les Ateliers de la pensée 2016 – Dakar et Saint-Louis-du-Senegal). Dakar:
Philipe Rey/Jimsaan, 2017.
Filmes/Curtas/Entrevistas:
5) Entrevista com Walter Mignolo por Aïcha Diallo, Março de 2018– Estética/Estesia tornou-se um
conector transversal...08.03.2018: http://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/argentine-
semiotician-walter-mignolo/
Artistas/Críticas/Projetos Curatoriais:
Paulo Nazareth
Desmantelando o poder colonial (crítica): http://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/paulo-
nazareth-ica-miami/