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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Psicologia

Marcos de Araújo Ângelo

INCLUSÃO DA DIMENSÃO ESPIRITUAL E RELIGIOSA NA FORMAÇÃO EM


PSICOLOGIA:
Possibilidades de uma visão de Ser Humano Integral

Belo Horizonte
2019
Marcos de Araújo Ângelo

INCLUSÃO DA DIMENSÃO ESPIRITUAL E RELIGIOSA NA FORMAÇÃO EM


PSICOLOGIA:
Possibilidades de uma visão de Ser Humano Integral

Monografia apresentada ao Curso de Psicologia, da


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profa. Ma. Joana d’Arc Alves


Leitor: Prof. Me. Álvaro Emilio Guimaraes

Belo Horizonte
2019
Marcos de Araújo Ângelo

INCLUSÃO DA DIMENSÃO ESPIRITUAL E RELIGIOSA NA FORMAÇÃO EM


PSICOLOGIA:
Possibilidades de uma visão de Ser Humano Integral

Monografia apresentada ao Curso de Psicologia, da


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profa. Ma. Joana d’Arc Alves


Leitor: Prof. Me. Álvaro Emilio Guimaraes

Prof. Ma. Joana d’Arc Alves - PUC Minas (Orientadora)

Prof. Me. Álvaro Emilio Guimaraes


Ao meu pai e minha mãe por todo o apoio.
AGRADECIMENTOS.

A minha orientadora, Profa. Joana d’Arc, por acolher a ideia deste trabalho.
As colegas Ana Márcia e Ludmila por compartilhar e auxiliar na construção deste trabalho.
[...] buscar o “si mesmo” com o olho dessa racionalidade (analítica) “é o maior de todos os
erros. [...] Quanto mais se falar sobre o ‘si mesmo’, mais longe se ficará da verdade deste”
(SENGSTAN, 1975 apud VAUGHAN; WALSH, 1997, p. 28)
RESUMO

Procurou-se investigar a contribuição da inclusão da espiritualidade e religiosidade na


formação em Psicologia. Para tal intuito, dividiu-se a monografia em três capítulos. O
primeiro descreve como a Psicologia desde seus primórdios esteve relacionada a vários
campos do conhecimento, inclusive os metafísicos. E como o seu processo para se constituir
ciência, sofreu uma fragmentação. Também averiguou-se mostrar as possibilidades de uma
formação multiparadigmática para os cursos de Psicologia. O segundo capítulo, traz conceitos
sobre as espiritualidades, religião e religiosidade, para melhor situar o leitor. Apresenta-se a
importância da espiritualidade/religiosidade na vida e cultura das pessoas e que as práticas
(meditação e oração) podem beneficiar no tratamento de doenças. No terceiro capítulo,
utilizou-se de fontes para demonstrar que a subjetividade do ser humano não é fixa, mas sim
um processo e a dimensão sobre a qual a mesma se constitui é a espiritualidade, e já existem
movimentos dentro dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) pelo Brasil, para a inclusão
dos estudos sobre a Espiritualidade e Religiosidade. E também núcleos de pesquisas nas
universidades estudando sobre as espiritualidades e fenômenos ligados a essa temática. Assim
buscando correlacionar o início da Psicologia e suas possibilidades de diálogo com outros
saberes, até uma visão de ser humano biopsicossocioespiritual, não separado do meio
ambiente, para assim ser possível a inclusão na formação em Psicologia de estudos da
dimensão espiritual e religiosa, presente no ser humano e consequentemente na sociedade. Os
referenciais teóricos foram a Psicologia Transpessoal, a Ontologia Dimensional, teoria dentro
da Logoterapia e a teoria multiparadigmática. A metodologia utilizada foi a revisão
bibliográfica. A mesma é a base para um trabalho cientifico, colocando o autor em contato
com o que já foi estudado sobre o tema. Foi alcançado de maneira parcial os objetos,
teoricamente foi demonstrado diversas fontes sobre a importância da
espiritualidade/religiosidade para o ser humano e para a formação em Psicologia, mas não foi
possível embasar melhor a pesquisa com a utilização de entrevistas. Também em meio as
buscas bibliográficas, surgiu um outro questionamento, se a inclusão somente teórica de tais
temas seria suficiente e entende-se que não, pois se a busca é de um ser humano integral,
somente a teoria sem a vivência, iria fragmentá-lo. Deixando assim trilhas para novas
pesquisas e aprofundamentos sobre o tema.

Palavras-chave: Inclusão. Transpessoal. Espiritualidades. Religiosidade. Psicologia.


Formação. Ontologia Dimensional
ABSTRACT

We sought to investigate the contribution of the inclusion of spirituality and religiosity in


training in Psychology. For this purpose, the monograph was divided into three chapters. The
first describes how psychology from its earliest days has been related to several fields of
knowledge, including the metaphysical ones. And as its process to become science, has
undergone a fragmentation. We also tried to show the possibilities of a multiparadigmatic
formation for Psychology courses. The second chapter brings concepts about spirituality,
religion and religiosity, to better situate the reader. The importance of spirituality / religiosity
in the life and culture of people is presented and practices (meditation and prayer) can benefit
in the treatment of diseases. In the third chapter, sources were used to demonstrate that the
subjectivity of the human being is not fixed, but a process and the dimension on which it is
constituted is spirituality, and there are already movements within the Regional Councils of
Psychology ( CRP) for Brazil, for the inclusion of studies on Spirituality and Religiousness.
And also research centers in the universities studying about the spiritualities and phenomena
related to this theme. Thus, the aim is to correlate the beginning of Psychology and its
possibilities of dialogue with other knowledge, to a biopsychosoespiritual human vision, not
separated from the environment, so as to be possible to include in the Psychology formation
studies of the spiritual and religious dimension present in the human being and consequently
in society. The theoretical references were Transpersonal Psychology, Dimensional Ontology,
theory within Logotherapy and multiparadigmatic theory. The methodology used was the
bibliographic review. The same is the basis for a scientific work, placing the author in contact
with what has already been studied on the subject. It was partially achieved the objects,
theoretically it was demonstrated diverse sources on the importance of spirituality / religiosity
for the human being and for the formation in Psychology, but it was not possible to base the
research better with the use of interviews. Also in the middle of the bibliographical searches,
another question arose, if the theoretical inclusion of such subjects would suffice and it is
understood that no, because if the search is of an integral human being, only the theory
without the experience, it. Thus leaving trails for further research and insights on the subject.

Keywords: Inclusion. Transpersonal. Spiritualities. Religiosity. Psychology. Formation.


Dimensional Ontology
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Modelo 1ª Lei Ontologia Dimensional................................................................42


FIGURA 2 – Modelo 2ª Lei Ontologia Dimensional................................................................43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABP Associação Brasileira de Psicotécnica CRP Conselho Regional de Psicologia DCNs


Diretrizes Curriculares Nacionais EBE Escala de Bem-Estar Espiritual FAFIRE Faculdade
Frassinette do Recife GT Grupo de Trabalho
GPPC-PUCRS Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES Instituições de Ensino Superior
ISOP/FGV Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas LDB
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
OMS Organização Mundial da Saúde
NIETE Núcleo Interdisciplinar de Estudos Transdisciplinares sobre Espiritualidade PUCRS
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
R/E Religiosidade e Espiritualidade
UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do
Sul USP Universidade de São Paulo
WHOQOL módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais
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1 INTRODUÇÃO

Qual vínculo na formação em Psicologia pode ser estabelecido com a


espiritualidade/religiosidade? De que maneira o estudo da dimensão espiritual/religiosa pode
contribuir para a formação dos psicólogos e psicólogas? Tais perguntas tiveram a função de
faróis para poder escrever essa monografia que se apresenta.
Se a ciência psicológica busca proporcionar um bem-estar das pessoas e da sociedade,
acolher e lidar com a pluralidade dos elementos constitutivos da sociedade, não ter em sua
formação elementos que proporcione um atendimento de pessoas que dão como causa de seus
problemas ou sentido para as suas vidas, a dimensão espiritual/religiosa, é excluir tal
dimensão. Verifica-se um aumento de estudos na área da saúde sobre a
espiritualidade/religiosidade, conforme Moreira-Almeida e Lucchetti (2016), nosso país vem se
tornando relevante no cenário mundial sobre a Religião/Espiritualidade (R/E). Na lista
mundial, está em décimo terceiro e em quinto lugar: “nos artigos em medicina, psicologia e
enfermagem com a temática R/E nos últimos cinco anos. Atrás apenas dos EUA, Reino
Unido, Canadá e Austrália (conforme levantamento
realizado pelos autores no dia 14 de outubro de 2015).”.
Segundo Volcan et al (2003 apud OLIVEIRA; JUNGES, 2012), no ano de 1988 a
Organização Mundial de Saúde (OMS): “incluiu a dimensão espiritual no conceito
multidimensional de saúde, remetendo a questões como significado e sentido da vida, e não se
limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa.”. Sendo a dimensão
espiritual a união do espectro emocional, das crenças do universo intangível, complementando
com a: “suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido ou plenamente
compreendido”, segundo Volcan et al, citados por Oliveira e Junges (2012).
A não pesquisa da dimensão religiosa/espiritual pode contribuir para a estigmatização
daqueles que professam ou praticam alguma fé religiosa ou significam suas vidas, não só pela
dimensão material, mas espiritual também. Além de contribuir com uma visão não patológica
de pessoas que dizem ter vivenciado alguma experiência religiosa/espiritual.
Inicia-se a exploração sobre a importância da espiritualidade e religiosidade na
formação em Psicologia, fazendo um levantamento histórico de como a Psicologia surgiu, desde
sua fase embrionária e como a mesma estava em contato com saberes filosóficos que buscavam
entender questões metafísicas do ser humano.
Após a consolidação como ciência e da criação das Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), buscamos embasar a pesquisa, demonstrando as possibilidades de uma formação
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multiparadigmática, que mantivesse os núcleos das DCNs (o que é básico para o aluno e
manter
a flexibilidade e inovação) e procurando manter as bases em que a Psicologia se formou e
ainda mantem, quando verificamos que a mesma possui mais de um objeto de estudo, sendo não
uma somente, mas Psicologias.
No capítulo seguinte, são colocados os diferentes conceitos sobre espiritualidade,
religião e religiosidade e também as contribuições de autores que procuram demonstrar através
de seus estudos, a importância da espiritualidade e religiosidade na vida das pessoas, em seu dia
a dia e em tratamentos de suas doenças.
No capítulo quatro, traçamos um paralelo entre a formação multiparadigmática, a
importância da espiritualidade/religiosidade e subjetividade. Sendo que a perspectiva de
subjetividade, se dá como processo e não algo fixo e por tanto sua fonte é mutável, pertencente
a dimensão espiritual. Se a subjetividade, aqui denominada subjetivação, é um processo e não
fixa, fazendo parte da integralidade do ser humano, por tanto, uma formação
multiparadigmática em Psicologia, que incluísse a espiritualidade/religiosidade, seria
condizente com uma visão de ser humano, não separado do meio ambiente e único em sua
diversidade.
Pesquisas sobre o interesse de alunos do curso de Psicologia, sobre a temática
espiritualidade e religiosidade demonstram que: “86% dos participantes da pesquisa disseram
ter uma religião e 83,8% tem o interesse no espiritual e 77,9% tem o interesse em falar sobre o
assunto em sua formação acadêmica.”, segundo Costa et al (2008).
Além de existir núcleos dentro de universidades, como o Grupo Psi-Alfa-Ômega,
(DORNELES et al, 2004) com pesquisas sobre fenômenos da memória extracerebral e
paranormalidade.
Os referenciais teóricos foram as Psicologias Transpessoais, a Logoterapia de Viktor Frankl
com sua teoria sobre a Ontologia Dimensional e a teoria multiparadigmática.
Como metodologia de exploração, após averiguação sobre o tema e questões sobre
tempo e espaço, utilizou-se do levantamento bibliográfico, que será melhor exemplificado no
capítulo destinado a metodologia.
2 SURGIMENTO DA PSICOLOGIA NO ÂMBITO NACIONAL

Começaremos a traçar um trajeto do curso de Psicologia no Brasil, até chegarmos nas


diretrizes curriculares e quais possibilidades para se chegar a uma formação que vise tratar
das dimensões biológicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano.
Segundo Lisboa e Barbosa (2009, p.720): “No Brasil, o ensino de Psicologia, enquanto
disciplina autônoma, teve início na segunda metade do século XIX”, fazendo parte de outras
áreas do saber (Medicina, Direito, Teologia, Pedagogia e Teologia Moral). E também na
formação religiosa, como disciplina que tratava da dimensão além mundo concreto, chamada
de metafísica. Aqui, faz-se necessário já chamar a atenção para o meio em qual a Psicologia
surgiu, estando em contato com outras áreas do saber, o qual Wundt citado por Figueiredo e
Santi (2008, p.58), dizia: “a Psicologia é uma ciência intermediária entre as Ciências Naturais
e as Ciências da Cultura”, por tanto, uma ciência que não tem um objeto único, uma ciência
embasada sobre várias epistemologias. E por estar desde sua origem, na fronteira de outros
conhecimentos, possibilita novos métodos de pesquisa e novas visões de ser humano.
Mas tal quadro de uma possibilidade plural de saberes na Psicologia, já começa a
sofrer modificações, quando o Brasil inicia um projeto político-sócio-cultural de unificação
das dimensões educacionais, da saúde, religiosas e morais, que ficariam a cargo do controle
estatal, conforme Massimi (2013, p.181). Tal intuito era construir uma visão de homem e
sociedade que atendesse a um objetivo mecanicista e positivista da época.
Concomitantemente, instituições de proliferação do conhecimento surgiam, como
escolas e faculdades, o intuito era oferecer um campo ao qual fosse possível alcançar esses
objetivos, segundo Massimi (2013, p.159).
E foi nesse campo que deu-se o início da Psicologia no âmbito universitário, quando
abriu a Universidade de São Paulo, dentro da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras. “Era
permitido aos alunos licenciados em Filosofia, Pedagogia e Ciências Sociais, desenvolver
especializações em Psicopatologia, Psicologia Clínica e Psicologia Educacional”, segundo
Mello citado por Nico e Kovac (2003, p.52).
Tal quadro, de estar nas instituições universitárias dentro de outras áreas do saber, começa
a mudar ainda no século XIX, com o surgimento das escolas normais, instituições com o
objetivo, segundo Massimi (1990, p.36), de: “formar um corpo docente competente e adequado
às necessidades do sistema educacional brasileiro”. Os alunos dessas escolas normais, eram
ensinados através de métodos científicos com inspirações europeias e dos Estados Unidos.
Assim, iniciando a
“era normalista”, que deu os primeiros passos antes do ensino da Psicologia ser regulamentado
nas universidades, segundo Cabral (2004, p.49).
Com a Reforma Benjamin Constant, no período já da República do Brasil, em 1890,
incorpora-se disciplinas de Psicologia nas escolas normais. De acordo com Massimi (1990,
p.36), a pedagogia aplicada nessas escolas normais tinham seu embasamento na Psicologia
experimental, que tinha surgido há pouco tempo na época.
Até esse momento, a disciplina de Psicologia tinha migrado, de uma especulação dos
fins últimos do ser humano, tendo uma forte influência das filosofias metafisicas e da igreja,
para uma filosofia positivista, que buscava uma base cientifica para demonstrar que os
fenômenos humanos estão: “sujeitos a leis fixas e invariáveis e por isto podem ser inteiramente
submetidos à investigação conduzida pelo método experimental.”, segundo Massimi (2013,
p.186). Tais parâmetros eram pautados na fisiologia, a qual dava base para os fenômenos
psíquicos.

Décadas à frente, em 1932, acontece uma transformação feita por Anísio Teixeira1 na
Escola Normal do Rio de Janeiro, que passou a ser o Instituto de Educação. Fazendo fronteira
com a área da Educação, possibilitou uma maior flexibilização da Psicologia, mesmo com os
parâmetros positivistas da época. Já que para Anísio Teixeira, o mundo está em transformação
e necessita de seres humanos preparados para tais mudanças, e segundo Teixeira citado por
Ferrari (2008): “uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução”.
Segundo Lourenço Filho (2004, p.87), “cursos de especialização e aperfeiçoamento
para diretores e orientadores de ensino”, são lecionados no Instituto de Educação, entre os
quais também são lecionadas disciplinas de Psicologia. A Psicologia passa a fazer parte do
ensino superior, na década de 30, quando foi criada a primeira universidade do País,
Universidade de São Paulo (USP). Em 1934, na USP, a Psicologia passa a ser disciplina
obrigatória durante os três anos dos cursos de Pedagogia, Ciências Sociais e Filosofia, além
desses cursos, a disciplina de Psicologia passa a fazer parte de todos os cursos de licenciatura.
Como exposto, a Psicologia estava inserida nos cursos superiores, mas ainda não tinha
um caráter profissionalizante, segundo Rosas et al (1988, p.33), a disciplina era um elemento
a mais nos cursos, sendo um saber que complementava.
No ano de 1946, começa a ocorrer mudanças nesse cenário da Psicologia, sendo não
uma profissão mas uma disciplina complementar. Com a Portaria nº 272, referente ao
Decreto-
1 FERRARI, Márcio. Anísio Teixeira, o inventor da escola pública no Brasil. [S.l.]: Nova Escola, 2008.
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1375/anisio-teixeira-o-inventor-da-escola-publica-no-
brasil>. Acesso em: 20 dez. 2018.

Lei nº 9.902, que segundo Soares (1979/2010, p.20) “institucionalizou, pela primeira vez na
história brasileira, a formação profissional do psicólogo”.
Com a institucionalização da profissão através do Decreto-Lei nº 9.092, houve uma
grande disseminação de profissionais, que segundo Rosas et al (1988, p.33): “Consultórios,
gabinetes, serviços, institutos, centros destinados a diversos campos da Psicologia aplicada
vinham funcionando em quase todo o Brasil ou vinham sendo instalados nos anos
subsequentes”. Com a grande expansão dos profissionais em Psicologia, mesmo ainda sem
uma regulamentação específica, passos para firmar ainda mais a institucionalização no meio
acadêmico foram dados: “Em 1952, Madre Cristina Sodré Dória criou o primeiro curso de
Psicologia Clínica no Brasil, estabelecido na Faculdade de Filosofia do Instituto Sedes
Sapientiae e, em 1958, iniciou- se o curso de graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia
da Universidade de São Paulo”, segundo Nico e Kovac (2003, p.53).
Com essa grande disseminação de profissionais sem uma regulamentação adequada, a
Associação Brasileira de Psicotécnica (ABP) e o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da
Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV), em 1953, elaboram um anteprojeto de Lei, em que o
curso seriam de três anos de Bacharelado, os quais teriam a função de embasar teoricamente com
os fundamentos da Psicologia incluindo a Biologia, Sociologia entre outras e mais dois anos de
Licenciatura, de uma formação técnica e prática, segundo os Arquivos Brasileiros de Psicotécnica
citado por Esch e Jacó-Vilela (2012, p.5-6).
Podemos perceber aqui um movimento da Psicologia saindo de um aspecto mais teórico e
buscando estar inserida na sociedade de forma prática. Em seus primórdios lidando com áreas
especulativas do significado e sentido e agora buscando materializar seus conhecimentos.
A formação em Psicologia se daria então em dois momentos, um teórico e outro
prático. A formação teórica ficaria a cargo de faculdades de Filosofia e a formação prática
mediante mandato universitário, por instituições dedicadas somente a aplicação, segundo
Esch e Jacó- Vilela (2012, p.7).
Em 1957, o anteprojeto é substituído, através de uma comissão, pelo Conselho Nacional
de Educação. Os cinco anos de formação seriam nas faculdades de Filosofia, mantendo o caráter
técnico e de pesquisa na licenciatura, mas de acordo com interesses coorporativos da medicina, a
prática clínica só se daria com o aval de algum médico:
Não cuida no entanto o anteprojeto, da regulamentação de especialistas em Psicologia
Clínica, dado que julgou a Comissão que essa parte deve ser do âmbito da
regulamentação da profissão médica com a qual tem relações muito estreitas. A
Comissão formula um voto no sentido de que as Faculdades de Medicina estabeleçam
logo que oportuno as bases de estudos necessários disciplinando a especialidade.
(ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA, citado por JACÓ-VILELA,
2012, p.7-8).

Pode-se perceber que desde seu surgimento, a Psicologia luta para ser uma área de
conhecimento autônoma, não cortando os laços com as demais áreas de conhecimento da qual foi
seu berço, mas estabelecendo limites de sua área de atuação.
Após várias reformulações, a maneira de conciliar a Psicologia e Medicina, foi a
substituição do: “exercício da prática psicoterápica pela solução de problemas de
ajustamento, esta última assumindo a feição de função privativa do psicólogo”, segundo Esch
e Jacó-Vilela (2012, p.8). Já em 1962, mudanças referentes a profissão e formação tiveram
início, “[...] a profissão de psicólogo foi reconhecida pela Lei 4.119, de 27.8.62, que também
versava sobre os cursos de formação em Psicologia, e sua regulamentação se deu pelo Decreto
53464/64, [...]”, segundo Nico e Kovac (2003, p.53).
Podemos observar que a Psicologia buscando ser autônoma dentro dos outros saberes
em que surgiu, avanço de suma importância para os profissionais da Psicologia, foi se
fragmentando também, o qual no surgimento dos primeiros currículos havia um embate sobre
a prevalência do conhecimento da Psicologia embasar-se exclusivamente na Filosofia ou
embasar-se exclusivamente do conhecimento cientifico positivista. O qual Radecki citado por
Esch e Jacó-Vilela (2012, p.9), exprime a valorização do conhecimento advindo
exclusivamente da Filosofia e frisando que a disciplina de estatística não deveria fazer parte
do currículo. Já para Mira y Lópes, a estatística deveria ser obrigatória no currículo do curso
de Psicologia e fazendo um contraponto com Radecki, defendia a exclusão da Filosofia, por
entender que a Psicologia deveria intervir e ser prática, segundo Esch e Jacó-Vilela (2012,
p.9).
Tais questionamentos sobre a fragmentação da formação em Psicologia ainda se dá até
os dias atuais e também da tendência de preparar o estudante somente em uma área ou
negligenciar outros referências teóricos, de acordo com Nico e Kovac (2003):
1. Tendência nacional de preparar o estudante de Psicologia para atuar em apenas uma área: a
clínica. Mais do que isto, mesmo quando era oferecida ao estudante a oportunidade de
aprender a atuar em outras áreas, o ensino era conduzido de modo a reproduzir o modelo
de atuação clínico, ou seja, baseado no atendimento individual;
2. Negligência no ensino dos múltiplos referenciais teóricos que compõem a Psicologia e
tendência nacional de abordar, quase que exclusivamente, o estudo do referencial
psicanalítico. (NICO; KOVAC, 2003, p.54)

Como descrito até aqui, a Psicologia teve seu surgimento em meio a vários outros
saberes, sendo desde seu início interdisciplinar. Sua fase embrionária estava em contato com
saberes sobre o corpo humano (medicina), o social (direito) e psíquico, com caráter
espiritual/religioso (Teologia). Sofrendo mudanças para atender a novas propostas de visões
de um ser humano concreto e mensurável e de mundo mecânico e controlável.
No próximo capítulo, será abordado de maneira geral a formação em Psicologia no
Brasil nos tempos atuais e de que forma a mesma pode aproximar-se de uma formação
multiparadigmática, em uma perspectiva que abarque as dimensões biológicas, psíquicas,
sociais e espirituais do ser humano.

2.1 Diretrizes Curriculares e proposições para uma formação integral do ser humano

Buscando inspiração nas palavras de Figueiredo (2008, p.151), a formação tem o


intuito de proporcionar uma forma, em nosso caso a Psicologia, mas tal formação não é para
delimitar, trazendo restrições, mas sim, proporcionar ferramentas para lidar com a
multiplicidade, o inesperado, indo além de habilidades e técnicas, buscando o ser psicólogo,
calcado numa epistemologia e ética.
Iremos então discutir o desenvolvimento dos currículos até a criação das DCNs, o que
as mesmas propõem para a formação em Psicologia e de que forma, a inserção da dimensão
espiritual/religiosa pode contribuir para a formação desse discente que adentra ao curso.
Com a regulamentação da profissão e um currículo mínimo, demais autores também
discutiam uma formação vazia no ensino da pesquisa e por demais tecnicista, de acordo com
Nico e Kovac (2003):

A partir do mapeamento do ensino de Psicologia em todo o país e do conjunto de


reflexões sobre formação em Psicologia, o termo ‘generalista’ começou a ser
empregado para uma formação oposta à de ‘especialista’, ou seja, uma formação não
limitada à área e ao modelo de atendimento clínico. (NICO; KOVAC, 2003, p.55).

Tais reflexões começaram também a fazer com que questionamentos quanto a base
teórica utilizada nos cursos de formação em Psicologia, tanto que Bastos citado por Nico e
Kovac (2003, p.55), diz que os debates sobre a formação também discutiam se o termo
generalista, mesmo buscando ampliar a prática além de uma especialidade apenas, não estaria
também restringindo ao aluno quanto a utilização de somente uma base teórica, daí
questionou- se o termo pluralista, e se o mesmo, não seria mais adequado. Tal tentativa de
deixar o currículo mais generalista e pluralista, incluindo novas áreas de atuação, mais
disciplinas teóricas e mais estágios, acabou fragmentando o curso, segundo Bastos citado por
Nico e Kovac (2003, p.55). Com esse impasse sobre um currículo por demais generalista ou
por demais especialista, propuseram diretrizes que fossem mais flexíveis ao invés de uma
diretriz por demais rígida, como foi o caso do currículo mínimo, tendo em vista que a
Psicologia é uma ciência não- paradigmática, segundo Nico e Kovac (2003, p.55), sendo
várias Psicologias, cada qual com uma visão de ser humano.
Após diversas comissões, sobre como deveria ser a formação em Psicologia, no ano de
1996, extinguiu-se os currículos mínimos, e deixou a cargo da Psicologia formular suas
diretrizes, conforme Nico e Kovac (2003, p.56): “[...] foi promulgada em 20 de dezembro de
1996 - Lei 9394/96. O artigo 53, § 2º, atribui às universidades a fixação de novos currículos a
partir de diretrizes definidas por área de formação superior.” Com a publicação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996 os currículos mínimos deixaram de
existir e assim cada área do saber ficou responsável por organizar como o ensino superior
deveria ser estruturado, de acordo com Yara Nico e Roberta Kovac (2003, p.56).
Tais discussões e estudos continuaram até o ano de 1999, ao qual ainda duas perguntas
não tinham sido respondidas com um mínimo de consenso, que eram: “o que é básico na
formação do psicólogo?”, e, “como configurar possibilidade de concentração em domínios da
Psicologia, garantindo flexibilidade e inovações nos currículos sem correr os riscos de uma
especialização precoce?”, (NICO e KOVAC, 2003, p.57).
De acordo com Nico e Kovac (2003, p.57), para a primeira questão, foi proposto um
Núcleo Comum organizado por seis eixos: os quais são: fundamentos epistemológicos e
históricos; fenômenos e processos psicológicos básicos; fundamentos metodológicos;
procedimentos para a investigação científica e a prática profissional; interfaces com campos
afins do conhecimento e práticas profissionais. Para a segunda questão, as Diretrizes
Curriculares foi a resposta, tendo a possibilidade de aprofundar em algum campo da
Psicologia, através de uma ênfase, e assim desenvolver competências e habilidades.
A divisão entre núcleo comum e ênfase não pretende fazer uma separação entre teoria
e prática, tema o qual essa pesquisa busca levantar, a fragmentação do ser humano, e trazer
propostas para uma visão bio-psico-social e espiritual. Segundo Bastos (2002), citado por
Seixas (2014, p.117), ressalta que com essa divisão, auxilia numa maior variabilidade e menos
enrijecimento nos cursos e para além, atender os anseios da instituição superior e as demandas
da sociedade. E essa demanda posta pela sociedade é um dos embasamentos utilizados nesse
levantamento bibliográfico, para entender melhor a dimensão espiritual do ser humano, tendo
como um dos elementos de sua trama cultural (a sociedade) a religiosidade/espiritualidade,
sendo por tanto, algo a ser estudado, ouvido e acolhido por nós psicólogos.
Tal preocupação em tentar traçar paralelos entre a formação em Psicologia nos moldes
que se apresenta nos dias atuais com a espiritualidade/religiosidade é de expandir e integrar as
dimensões corporais, emocionais, mentais, sócio-culturais e espirituais. E tais experiências
sendo vividas na formação em Psicologia de acordo com Cunha (2017, p.32), podem
contribuir para desenvolver valores humanos que vão além do indivíduo separado do
ambiente e capacidade de inovar e ser criativo perante as mudanças no seu dia a dia.
Pensar na formação em Psicologia por si é fragmentar o ser humano, já que além de
formar para uma área de conhecimento, deve-se ter como base a Formação Humana, que
conforme Freitas (2010b,), citado por cunha (2017, p.33): “a formação humana configura-se
como um campo de experiências marcado pela multidimensionalidade”. E tal
multidimensionalidade é embasada na visão de Röhr citado por Cunha (2017, p.33) em que o
ser humano tem as dimensões fisiológicas, sensoriais, emocionais, mentais e espirituais.
Conforme os autores citados acima e entendendo estar de acordo com as propostas das
Diretrizes Curriculares de ter uma formação que busque o básico para um Psicólogo,
mantendo a flexibilidade e inovação, a Formação Humana Multiparadigmática é uma das
propostas que busca auxiliar na busca do que é único para o ser humano em meio a
multiplicidade, visa por tanto o que é básico em meio a diversidade de conteúdos. O básico,
não só para o futuro profissional da Psicologia, visa ir além do profissional, mas atingir o(a)
mesmo(a), justamente por serem seres humanos.
De acordo com a tese de Cunha (2017, p.33), para uma formação humana ser
construída, são necessários entre outros, o desenvolvimento do conhecimento das relações
intersubjetivas, entender as emoções, colocar em prática valores e virtudes, vivenciar a
autoformação até levar a uma consciência espiritual e social na escola e nessa monografia
discute-se a vivência no âmbito acadêmico também. Além desses elementos, Cunha (2017,
p.33) propõe uma participação dos educadores também nesse processo, para tanto, os
mesmos devem ter uma visão integral do ser humano, em suas dimensões bio-psico-social-
espiritual.
O termo educador utilizado acima, expande-se além dos professores, mas à todos os
profissionais que colaborem no processo do desenvolvimento do ser humano com focos nas
“relações interpessoais e aos processos de autoconhecimento”, segundo Santos-Neto (2013,
p.13), ao qual também entende-se como objetivo dos profissionais da Psicologia.
Corroborando com a tese de Cunha (2017), de uma formação integral, que abarque o
educador e o educando, Santos-Neto (2013), propõe uma Educação Transpessoal que lute na
construção de uma educação que busque a inteireza do ser humano:

Mediante a transmissão/construção - crítica, criativa e interdisciplinar - dos


conteúdos culturais necessários à manutenção e desenvolvimento da vida, e,
também, mediante o trabalho de autoconhecimento que possibilita religar as
dimensões da pessoa: o corporal, o emocional, o racional, o espiritual, o natural e o
histórico-cultural. (SANTOS-NETO, 2013, p.24)

O conceito Transpessoal, sugere ir além do pessoal, do racional, do “eu” ao qual


imagina-se estar isolado no mundo e por entender uma interdependência da pessoa e do
ambiente, a Educação Transpessoal busca ir além do eu pessoal, mas sem desprezá-lo.
Assim para Cunha (2017, p.98), “A educação transpessoal pode promover o
desenvolvimento integral do ser, a partir do momento que emprega as experiências
transpessoais como meio de explorar e integrar as múltiplas dimensões do ser”, sendo as
mesmas a biológica, psicológica, social e espiritual. Explorando tais dimensões, possibilitaria
inúmeras maneiras de aprender e o autoconhecimento uma forma de harmonizar tais
conhecimentos em si, com os outros. Uma harmonia entre o indivíduo e o ambiente.
Com tais proposições, a Formação Humana Multiparadigmática e Educação
Transpessoal atenderiam as Diretrizes Curriculares quanto a flexibilidade e inovação e ao
básico para a formação em Psicologia.
Por tanto, num mundo globalizado, em que através das tecnologias, como a internet,
pode-se estar em contato praticamente com qualquer pessoa no mundo. Uma proposta
multiparadigmática na educação faz jus a realidade em que vivemos nos dias atuais. Finaliza-
se esse capítulo tentando lançar novos olhares sobre a formação acadêmica, em especial de
Psicologia.
No capítulo a seguir, iremos voltar nossos olhares para o ser humano, foco dos estudos
em Psicologia, e como a espiritualidade/religiosidade é compreendida em sua constituição,
seus conceitos e modos de práticas e vivências.
3 ESPIRITUALIDADE, RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE E A COMPREENSÃO
DESSAS DIMENSÕES NA CONSTITUIÇÃO DO SER HUMANO

Falamos da importância que a formação multiparadigmática e transpessoal podem trazer


aos acadêmicos, mas entendendo que toda uma proposta de nova visão de ser humano, parte do
próprio ser humano, e portanto falar sobre espiritualidade e religiosidade, é entender que as
mesmas constituem o ser humano. Assim, iremos discorrer de que maneira a
espiritualidade/religiosidade afetam as pessoas, quais formas as mesmas vivenciam essa
dimensão espiritual/religiosa e quais os conceitos dados para essas dimensões.
Áreas da saúde, como a medicina e psicologia, já tem um histórico de publicação de
artigos, dissertações e teses, falando da importância da espiritualidade/religiosidade na prevenção
e tratamentos das mais diversas enfermidades. Com tal aumento da inclusão da dimensão
espiritual e religiosa do ser humano, nos tratamentos de doenças, vê-se como importante também
trazer conceitos mais bem delineados do que seria a dimensão espiritual, religiosa e suas práticas,
como: a espiritualidade e religiosidade. Trazemos também um aspecto da ciência positivista de
delineamento sobre o objeto de estudo, vendo como importante, mas sem encerrar em si tal
delineamento. Deixando portas abertas para fazer interlocução com demais áreas de
conhecimento da ciência e também do saber popular. Buscando assim uma visão total do ser
humano.
Tal visão total, não se estagna, mas está em movimento. Como temos diversas formas
de expressão da espiritualidade e religiosidade em várias culturas, os conceitos de religião,
religiosidade e espiritualidade são múltiplos. Rocha e Fleck (2008, p.171), exemplificam que a
palavra “espirito” no dicionário Oxford tem o significado de “parte do homem imaterial,
intelectual ou moral”. Já a espiritualidade nos remete as questões do significado e sentido da
vida e não se fecha a alguns ritos ou crenças. A religião é a “crença na existência de um poder
sobrenatural, criador e controlador do universo, que deu ao homem uma natureza espiritual
que continua a existir depois da morte de seu corpo”, já a religiosidade é a extensão da
religião, com suas práticas.
A dimensão espiritual, ratificando, não se trata necessariamente da adesão a uma
religião, conforme Gomes, Farina e Forno (2014, p.108): “a dimensão espiritual vai além de
uma confissão religiosa, não dependendo de lugar, tempo ou códigos que a definam”. Por tanto,
um psicólogo que venha a lidar com algum assunto de cunho espiritual/religioso, pode auxiliar
o indivíduo ou grupo sem incorrer em pregação ou pré-conceito, para Faria e Seidll, citados
por Gomes, et al (2014, p.108): “No campo da intervenção psicológica, o terapeuta pode
se deparar com a emergência dessa questão, cabendo-lhe atitude ética e respeitosa ao lidar
com a demanda advinda dos diversos contextos em que atua”.
Tal postura, é descrita por Ancona-Lopez (1999), entre mais três, como: negação
literal; afirmação literal; interpretação redutiva e interpretação restauradora. A negação literal
é a atitude em que o psicólogo nega por completo a espiritualidade daquela pessoal a qual está
atendendo. Já a afirmação literal, é por um lado, a negação da espiritualidade do cliente e por
outro, a afirmação da religião e maneira de ver o mundo por parte do psicólogo. Já a
interpretação redutiva são o uso de argumentos científicos para interpretar e analisar os
conteúdos com cunho religioso/espiritual do cliente e pôr fim a interpretação restauradora é
tida pela autora como um estado de maturidade psicológica do psicólogo(a), dando abertura
aos conteúdos religiosos/espirituais do cliente, sem julgá-los e podendo desenvolvê-los
juntamente com o cliente.
Conforme Gomes et al (2014, p.109): “A espiritualidade é a dimensão peculiar de todo
ser humano e o impulsiona na busca do sagrado, da experiência transcendente na tentativa de
dar sentido e resposta aos aspectos fundamentais da vida.”. Questões como: “de onde vim?”,
“Para onde vou?”, “Qual é o sentido e propósito da minha vida?”.
Traçando um paralelo com a definição de espiritualidade que outros campos da área
da saúde tem feito, como a medicina, Moreira-Almeida e Stroppa (2012, p.35), trazem
uma definição de espiritualidade como uma dimensão além da religião: “Relação com o
sagrado, o transcendente (Deus, poder superior, realidade última). Referente ao domínio do
espírito, à dimensão não material ou extrafísica da existência (Deus ou deuses, almas, anjos,
demônios)”. A espiritualidade é tida como um movimento interno e externo ao qual
integramos as vivências externas e internas. As vivências externas, segundo Leonardo Boff
(2008, p.183), são aglomerados inter-relacionais embarcando homens, mulheres, sociedade e
natureza. Ao passo que produz respeito a pluralidade. Já as vivências internas são a
conversa consigo mesmo, buscando o que há de mais íntimo, com os ancestrais que residem
em nosso interior, com esse
mistério que nos faz morada.
Por se tratar de uma dimensão heterodoxa em seus significados, iremos traçar 4 norteadores
em que a espiritualidade pode ser exemplificada. Tais conceitos se embasam na Psicologia
Transpessoal.
1. Espiritualidade como acontecimento não religioso:
O acontecimento religioso, é uma atividade que se dá em grupo, de maneira institucionalizada
e organizada, podendo ou não tender a espiritualidade, para Silva e Ferreira que citam
Stanislav Grof (2016, p.107). E tal distinção se deu por entender que
um sistema de crenças é fechado em si e não flexível. Por tanto a espiritualidade não se dá de
maneira institucionalizada, podendo ser uma vivência em grupo ou solitária.
2. Espiritualidade como processos de mudança e transformação do sujeito:
Aqui encontram-se as experiências capazes de modificar a vida de uma pessoa, na maneira de
relacionar consigo e com o mundo. E por tanto chamadas de: “experiências fundamentais”,
segundo Tart citado por Silva e Ferreira (2016, p.108).
3. Espiritualidade acontecendo como aquisição de valores supremos e altruístas:
Através dessa modificação de como se vive, as experiências espirituais, manifestam valores
éticos, estéticos e humanitários. A pessoa assim, nessa transformação consigo e com o
mundo, adquiri: “atitudes especiais, como bondade, amabilidade, sabedoria etc.,”, segundo
Wilber (2006 apud SILVA; FERREIRA, 2016, p. 111).
4. Espiritualidade como acontecimento integral:

Tal termo foi cunhado por Ken Wilber (criador do campo de Estudos Integrais) 2, que busca
um conceito inclusivo e holístico, abarcando também as religiões. Em que o processo de
crescimento do ser humano se dá numa dimensão horizontal e outra vertical. O qual, no
campo horizontal estão as religiões, que oferecem significado para as pessoas, e na dimensão
vertical está a “espiritualidade autêntica, pois exerce a função de transformação radical nos
indivíduos”, Wilber (2000 apud SILVA; FERREIRA, 2016, p. 111).

Assim, de maneira sintética, a espiritualidade, apresenta-se como: “por tudo aquilo que
desmonta as sólidas estruturas identitárias e aponta para a natureza criativa, aberta e sem
limites da subjetividade.”, segundo Silva e Ferreira (2016, p.106). O que apresenta-se de
comum em meio aos vários conceitos, é a transformação da relação da pessoa com ela mesma
e com o mundo, não sendo possível continuar com a vida da mesma maneira.
A religião está no campo do institucional, como dito anteriormente que a espiritualidade
está além da religião e não necessariamente a dimensão espiritual relaciona-se com uma
religião.

2 INSTITUTO INTEGRAL BRASIL. Ken Wilber. São Paulo, 2019. Disponível em: <

http://institutointegralbrasil.com.br/ken-wilber/>. Acesso em: 11 abr. 2019.


A prática daquele(a) pertencente a uma religião, a religiosidade, conforme Silva e
Siqueira citados por Gomes et al (2014, p.110): “[...] é a expressão ou prática do crente que
pode estar relacionada com uma instituição religiosa”. Tal prática, segundo Fornazari e
Ferreira, citados por Gomes et al (2014):

[...] contribui com a convicção de que existe uma dimensão maior, responsável pelo
controle sobre as contingências presentes na vida, capacitando o indivíduo a lidar
com os acontecimentos de forma mais tranquila, confiante e reduzindo o estresse e a
ansiedade. (GOMES et al, 2014, p.110).

Moreira-Almeida e Stroppa (2012, p.35), definem religião como: “Sistema organizado de


crenças e práticas desenvolvidos para facilitar a proximidade com o transcendente. É o aspecto
institucional da espiritualidade. Religiões são instituições organizadas em torno da idéia de
espírito”.
A religião, em seu significado etimológico, para Silva e Siqueira citados por Gomes et
al (2014, p.11): “[...] proveniente do latim “religio” e “ligare”, que significa ligar de novo,
[...]”. Já seu conceito está ligada a institucionalização da mesma, com suas: “crenças e ritos”,
segundo Gomes et al (2014, p.110).
Fazendo um paralelo com o significado etimológico da palavra religião, Viktor Frankl,
enxerga aspectos positivos entre a Religião e a Psicologia, deixando claro uma vivência
religiosa além da busca imediata (visando favores egoístas) ou material (mas que não a
desconsidera) e que vise religar-se a uma totalidade. Sendo a mesma um fator de uma possível
cura das neuroses. Esclarecendo, que a vida do ser humano pode ter sentido sem ter a religião
como fundamental para tal, de acordo com Paulo Sérgio Carrara (2016, p.66).
É interessante estar em contato com diferentes maneiras de conceituar as palavras,
nessa pesquisa, por exemplo, lidar com os conceitos de religião e espiritualidade, que por
vezes são diametralmente opostas e por outra praticamente sinônimos, fortalecendo a postura
multiparadigmática do pesquisador, ao lidar com tais temas.
A espiritualidade para Frankl, relaciona-se com a abertura que o ser humano tem para
algo que está além de suas identificações. A chamada “Vontade de Sentido”, que está além
das racionalizações. Aqui Frankl citado por Carrara (2016, p.67), faz uma distinção entre dois
grandes pilares dos estudos sobre o ser humano, Freud e Frankl, sendo que para o primeiro: “o
ser humano é movido por impulsos inconscientes” e para Viktor Frankl o ponto onde começa-
se o propriamente humano são na “liberdade e na responsabilidade”, justamente nessa
dimensão espiritual, o qual o mesmo tem a possiblidade de escolher, além dos impulsos, mas
sem negar os impulsos humanos.
A questão de sentido para Frankl é tão basilar, que o mesmo considera como algo
primário no ser humano, sendo que o mesmo se move na sua jornada existencial buscando um
sentido para sua vida. Carrara (2016, p.68), traz uma definição do sentido na Logoterapia, o
qual: “consiste na capacidade de dar forma a uma situação específica, seja ela qual for.” É
colocar-se para uma tarefa com toda a potencialidade possível de suas dimensões físicas,
psíquicas e emocionais, é o colocar-se para fora de si em nome de um objetivo.
Um dos pontos em que a Logoterapia, a Psicologia Transpessoal e Integral, convergem
ao lidar com os conceitos de religião e espiritualidade, é no fato de que as mesmas tratam do
além ego do ser humano e que nessa transcendência está o sentido para as questões últimas na
vida das pessoas. E ao lidar com o sentido último na vida das pessoas, Viktor Frankl
demonstra uma humildade, ou pelo menos, um senso de limite para o objetivo da Psicologia, a
qual: “se encontra na cura psíquica da pessoa humana”, (FRANKL apud CARRARA, 2016, p.
75), por isso ele lega uma importância para a Religião e Espiritualidade, que vão tratar dessas
questões últimas, do totalmente outro, que integra a vida e existência humana.
Além dos benéficios que a vivência religiosa pode trazer, iremos trazer um outro
aspecto que infelizmente acontece, quando se utiliza da manipulação da crença das pessoas.
Tal fato é importante ser relatado como forma de prevenir abusos por parte de psicólogos que
também possam se utilizar de um momento de fragilidade de seus clientes para induzi-los ou
tirar algum tipo de vantagem dos mesmos. Segundo Gomes et al (2014, p. 110): “[...], a
religião pode se transformar em mercadoria à mercê da demanda do crente”.
A religião, pode ser uma maneira de viver segundo certos preceitos, de maneira
intrínseca, mas também, pode ser uma maneira de conseguir benefícios em sua vida diária:
“[...] quando se vive a religião de maneira extrínseca, como meio de obter benefícios, essa é
assumida superficialmente, [...]”, segundo Gomes et al (2014, p.110).
Retomando os estudos que procuram avaliar os benefícios das práticas
religiosas/espirituais, como a oração, Angerami-Camon, (2008. p..11), nos traz o caso de Denise
(nome fictício), o qual depois de avaliações médicas, não obteve um diagnóstico das manchas
vermelhas que estavam aparecendo em sua pele. A mesma procurou um templo espiritualista e
também uma psicoterapia, sendo que o psicoterapeuta a deixou confortável ao dizer que ela não
precisaria escolher entre a psicoterapia e o acompanhamento no templo espiritualista. Tais
manchas segundo Angerami-Camon (2008, p.12) eram devido a somatização ao alto grau de
estresse emocional, e outra perspectiva da causa dessas manchas que Denise obteve, foi uma
resposta do templo espiritualista, por estar em contato com energias e entidades não evoluídas.
Foi recomendado no templo espiritualista, dentre outras, que fizesse orações, e as práticas
de oração tem seu efeito catártico. “[...] ao orar a pessoa se fortalece tanto em suas crenças
religiosas quanto em sua própria condição emocional.”, de acordo com (Angerami-Camon, 2008,
p.12). Vasconcellos (2007 apud ANGERAMI-CAMON, 2008, p.12), um dos maiores estudiosos
sobre a relação entre psíquico e o sistema imunológico, proferiu no IV Congresso Brasileiro de
Psicossomática, a importância da oração para a própria pessoa e também tal benefício estende-se
para aquelas pessoa as quais as orações são destinadas, e acrescenta como o sistema imunológico
de uma pessoa que passa por um processo de enfermidade, se fortalece com orações frequentes.
Com esse exemplo iremos adentrar num campo de opiniões divergentes sobre a
importância dos efeitos das práticas religiosas/espirituais, pois até então, lidamos com as questões
que estão mais no campo do sentido, significado, das questões que não tem um parâmetro
quantitativo, apesar de estudos na área da medicina começarem a traçar paralelos entre as
práticas religiosas/espirituais e melhoras na condição da saúde física de pacientes, trazendo dados
qualitativos.
O grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (GPPC-PUCRS), o qual buscam correlação entre: “Saúde e Bem-Estar
Espiritual, em Adultos de Porto Alegre, realizada com 506 adultos entre 16 e 78 anos” Marques
(2000 apud SARRIERA, 2004, p.80), demonstra que tal correlação é positiva. Já a correlação
entre bem-estar religioso e saúde, foi menor.
O conceito de espiritualidade utilizado na pesquisa foi o de Viktor Frankl, citado
anteriormente, relacionado ao estar aberto para algo além das identificações, busca de sentido
na vida, ao ligar-se novamente a uma totalidade.
Não somente a Psicologia tem empenhado estudos sobre a relação entre saúde e
espiritualidade, médicos também procuram trazer uma visão que abarque a espiritualidade
como um dos fatores de cura e bem-estar. Em uma das mais conceituadas universidades do
mundo, Harvard, na década de 1970, um médico chamado Herbert Benson: “iniciou seus
estudos sobre mentalização ou técnica de meditação na Harvard Medical School, apoiado pelo
seu Diretor, publicando nessa mesma década, o livro A resposta do relaxamento”, segundo
Roberto (2004, p.151).
Após décadas de estudos, apoiando outros pesquisadores que procuravam respostas
além do modelo materialista, em seu último livro “Medicina Espiritual”, lançado no ano de
1996, o mesmo diz: “[...] em meus 30 anos de prática da medicina nenhuma força curativa é
mais impressionante ou mais universalmente acessível do que o poder do indivíduo de cuidar
de si e de se curar”, Benson (1996 apud ROBERTO, 2004, p.152). Herbert Benson acrescenta
as crenças como determinantes para a cura e dividiu-as em dois conceitos: “bem-estar
evocado” e “fator fé”, sendo o primeiro com três elementos: “1º - crença e expectativa do
paciente; 2º - crença e expectativa do paciente e de quem cuida; 3º - crenças e expectativas
geradas por um relacionamento entre o paciente e quem cuida.”. Benson citado por Roberto
(2004, p.153). O segundo e terceiro elemento corroboram com a importância das orações não
somente do paciente mas para quem é destinada.
Estudos de Herbert Benson citado por Roberto (2004, p.153), sobre a fisiologia dos
pacientes, demonstram que práticas de relaxamento ou meditativas, geram alívio emocional,
alterações químicas e físicas, e tem sido expandida pelo mundo na prevenção de doenças. Tais
alterações químicas e físicas são relatadas no livro “Remarkable recovey”, em que pacientes
com diagnóstico de câncer terminal, tiveram seu quadro revertido, através da prece, meditação
e da fé, segundo Hirshberg e Barasch citados por Roberto (2004, p.153).
Trazendo uma visão de complementariedade entre as práticas médicas e espiritualistas,
temos um exemplo da medicina tibetana, que busca enxergar o ser humano como um todo,
biopsicossocioespiritual. A cura por tanto é uma junção do tratamento medicamentoso,
juntamente com práticas de meditação, orações e mudanças na maneira de agir no seu dia a
dia, de acordo com Roberto (2004, p.154). Com esse exemplo, lidamos com um aspecto muito
importante, o cuidar de si, o qual não tem tido tanta importância e que é considerado fator
fundamental para o processo de tratamento e cura, de acordo com Benson citado por Roberto
(2004, p.152). Tal postura de uma relação médico/paciente de buscarem um melhor
tratamento não só das enfermidades, mas da própria relação entre eles, visa um processo não
fragmentado, mas integral.
Até o momento, trouxemos exemplos dos conceitos sobre a espiritualidade, a
religião/religiosidade e como as práticas ligadas a essas dimensões podem influenciar no
tratamento e cura das pessoas. Agora iremos focar em como as pessoas, vivenciam ou não,
essa dimensão na modernidade ou pós-modernidade.
Nos dias atuais, o homem vivencia uma laicização em seu modo de viver. Os
referenciais tidos como absolutos antigamente, como a igreja, ruiu. Autores, dentre eles
Giovanetti (2004), ressalva que a perda de referenciais espirituais, e aqui faz-se uma ressalva
que não foi o referencial da igreja, da instituição, mas sim dessa dimensão além religião,
provocou um “grande mal-estar no homem moderno”. Passa-se de um referencial externo,
para uma autorreferência, o surgir da subjetividade. Essa mudança de referencial teve seu
apogeu no século XIX, em que não somente o ser humano passou a ser o parâmetro de todas
as coisas mas também foi declarada: “a morte de Deus”, sendo assim: “o desaparecimento da
dimensão da transcendência”, Giovanetti (2004).
Aqui, faz-se um parênteses, em que tal perda de referencial externo como deus e da
igreja, pode ser lido também como uma transformação do ser humano tentar encontrar o
transcendente em si e perceber que nunca esteve desconectado do universo, pois a visão que
busca a não separatividade, visa entender que os conceitos de externo e interno, separados,
são muito tênues ou mesmo inexistentes.
O que Giovanetti frisa, é uma total desilusão do ser humano consigo e com o mundo, e
tal fator é preocupante se levarmos em consideração que a depressão está relacionada com a
maioria dos problemas de saúde no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS,
2017) e será levado em consideração no próximo capítulo tal dado, para falarmos da
importância da inclusão da dimensão espiritual/religiosa na formação em Psicologia.
Tal desvinculação de um princípio organizador da sociedade, meio da geração
cultural, como a religião e seus “fins últimos” e sua substituição pela racionalização, contribui
para que
o ser humano enxergue-se separado do meio que vive, sujeito versus objeto.
A ressalva, feita anteriormente do ser humano encontrar o transcendente em si,
desvinculado dos parâmetros espirituais/religiosos de outrora, é debatido por Giovanetti
(2004), ao falar que tal senso de religiosidade, que o mesmo defende e é corroborado nessa
pesquisa, é ontológico do ser humano, está intrínseco ao mesmo e conforme Giovanetti (2004):
“Isto significa que o ser humano precisa da relação de transcendência para se constituir como
sujeito de sua vida, uma vez que, a relação de transcendência faz parte ontológica de sua
constituição [...]”.
Se o ser humano traz em si essa dimensão ontológica, de transcender a si, buscando
religar-se a um todo e nos dias atuais lidamos ainda com uma prevalência de um mundo da
racionalização e positivista, de que maneira essa dimensão está presente? Libânio e Filho,
citados por Giovanetti (2004), relatam que tal busca está manifesta na sociedade pós-moderna
de outras formas, a qual elencam quatro:
• A primeira presente de maneira bem disfarçada, utilizando-se de formas seculares juntamente
com elementos míticos e religiosos, como exemplo, a busca da juventude nos anos de 1960,
para escapar de uma vida automática e sem sentido, utilizando-se de drogas, juntamente com
músicas, como exemplo, no festival de Woodstock, visando uma experiência
espiritual/religiosa, Libânio e Filho (1991 apud GIOVANETTI, 2004).
• A segunda chamada de “Sagrado burguês intimista”, sendo um antagonismo que na contra
mão da laicização, mais terreno a dimensão religiosa ganha, passa-se do referencial externo
para o interno, Libano e Filho (1991 apud GIOVANETTI 2004). Um exemplo são as práticas
religiosas do “Santo Daime”, utilizando-se das tradições indígenas amazônicas.
• A terceira é chamada de “Sagrado popular”, com o aumento das ramificações de igrejas
evangélicas e católicas, como: “as Assembleias de Deus e as Igrejas Pentecostais, por
exemplo. Seu número torna-se cada vez maior. Tal aspecto atinge também a Igreja Católica
em que os santuários, como os de Aparecida e Juazeiro do Norte”, segundo Libânio e Filho
citados por Giovanetti (2004).
• A quarta e última, chamado de “Sagrado libertador”, são movimentos dentro da Igreja
Católica que lutam pelos direitos humanos, com duas frentes de atuação sendo: “as
campanhas da fraternidade em que a cada ano escolhe-se um tema fundamental que é posto
em evidência e as Comunidades Eclesiais de Base, com o compromisso das lutas populares”,
conforme Libânio e Filho (1991 apud GIOVANETTI, 2004).

Independente da classificação das diversas formas de vivências espirituais/religiosas


na qual as pessoas buscam para dar sentido as suas vidas, frisa-se a qualidade dessas vivências
e tal tema é sempre retomado por diversos autores, ao citar que o vivenciar o sagrado mobiliza
uma transformação na maneira de enxergar o mundo.
Tais parâmetros que serão citados, não visam fechar o que seria ou não uma vivência
espiritual/religiosa autêntica, mas de alguma forma colaborar para tal. Giovanetti (2004), cita:
O sagrado ao tocar o homem em sua radicalidade envolvê-lo-á, provocando uma
transformação (conduta ativa) diante da realidade. É uma vivência diferente que quando
ocorre provoca um posicionamento mais original. O contato com o Absoluto provoca uma
gama de transformações, mas o encontro mais imediato, sem reflexão, com a realidade
transcendente é o que constitui a vivência religiosa. (GIOVANETTI, 2004).
Outro autor que nos norteia quanto a uma vivência com o sagrado é Foucault (2006), o
qual resume a espiritualidade, como uma transmutação, que necessita ir além do ego, ao dizer:

[...] a espiritualidade, um ato de conhecimento, em si mesmo e por si mesmo, jamais


conseguiria dar acesso à verdade se não fosse preparado, acompanhado, duplicado,
consumado por certa transformação do sujeito, não do indivíduo, mas do próprio
sujeito no seu ser de sujeito. (FOUCAULT, 2006, p.21)

E ao tocar em um tema tão polêmico, que é a busca pela verdade, o mesmo cita que tal
encontro se dá em: “Aquele ponto de iluminação, aquele ponto de completude, aquele
momento da transfiguração do sujeito pelo ‘efeito de retorno’ da verdade que ele conhece
sobre si mesmo, e que transita, atravessa, transfigura seu ser, [...]”, Foucault (2006, p.23).
Nesse capítulo, redigimos sobre conceitos de espiritualidade, religiosidade e como
pode trazer certa dificuldade para falar sobre, caso não situe de qual conceito irá partir, e
como as mesmas podem estar interligadas ou não. Também de que maneira as vivências
espirituais e religiosas podem afetar a vida e saúde do ser humano e como a medicina,
utilizando-se de pesquisas sobre o tratamento de doenças, através da oração e meditação, tem
encontrado correlação na melhora ou até a cura.
E levantando um adendo, ao falar da relação entre medicina e espiritualidade e
religiosidade, tal conflito entre a espiritualidade/religião e medicina, começou no século XIX,
sendo em sua grande maioria mitos e que a relação entre espiritualidade/religião e medicina
tem sido mais positiva do que negativa, Numbes (2009 apud MOREIRA-ALMEIDA;
STROPPA, 2012, p.36).
O próximo capítulo será a síntese do que discorremos sobre uma formação que incluísse a
dimensão da espiritualidade/religiosidade, a importância dessa dimensão espiritual e religiosa na
subjetivação do ser humano e quais possíveis vínculos para uma formação em Psicologia que
enxergue um ser humano biopsicossocioespiritual.
4 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE E FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA:
POSSÍVEIS VÍNCULOS

No capítulo anterior, colocou-se em evidência os conceitos de espiritualidade, religião


e religiosidade. Vendo como necessário, devido aos múltiplos significados que podemos
encontrar ao tratar-se desses temas, e assim poder esclarecer melhor de que espiritualidade se
fala ou de que religião/religiosidade. Ao passo que também levantamos pesquisas sobre, a
importância das orações e meditações, em pessoas enfermas que estão em tratamento médico
e como a oração pode beneficiar tanto quem dela faz uso, como a quem a oração é
direcionada.
Por fim, procurou-se embasar a importância da vivência espiritual/religiosa para as
pessoas que buscam um sentido em e para suas vidas
No capítulo vigente, será discutido de que maneira a espiritualidade e a dimensão
religiosa está presente na subjetivação das pessoas, sendo que o termo subjetivação designa a
noção que a pessoa tem do “eu” e está sempre em modificação. Figueiredo (2011 apud
FRANCIULLI, 2003, p.130), entende a subjetivação como: “o processo de reflexão individual
e de foro íntimo”, que ao passar dos séculos o ser humano utilizou-se para engendrar
parâmetros internos sobre seus sentimentos, bem como: “sobre conceitos do que é certo e
errado, desenvolvendo uma reflexão moral.”.
A partir de referenciais da espiritualidade/religiosidade como constitutiva do ser
humano e de sua importância na sociedade, será proposto possíveis vínculos com a Psicologia
e quais maneiras de sua inserção na formação dos discentes.
Para a Logoterapia, tendo como fundador o psiquiatra e filósofo austríaco Viktor
Frankl, compreender a visão de Homem é fundamental, já que a partir dela, será elaborada os
métodos de tratamento. E de acordo com Pereira (2015, p.2), para analisar essa visão de ser
humano é necessário uma organização tríplice: corpo, mente e espírito, mas somente como
abstração, já que ao se falar sobre o corpo automaticamente faz-se menção a mente e ao
espírito e da mesma maneira ao referir-se a mente ou ao espírito.
Tal postura de uma visão total de ser humano e não fragmentada, era uma crítica que
Victor Frankl, direcionava sobre a especialização da ciência, mas não pelo fato de se tornar
especialista, mas por buscar uma generalização na visão de ser humano, dos resultados
encontrados em suas pesquisas. Com isso, colocava-se uma lente para enxergar
biologicamente, psicologicamente ou socialmente o ser humano. Diante de tal cisão, Frankl
propôs explorar tal questionamento: “(...) como será possível preservar o caráter de unidade
do homem face ao
pluralismo da ciência, num momento em que esse pluralismo é o solo fértil sobre o qual o
reducionismo floresce?”, Frankl (1988 apud PEREIRA, 2015, p.3).
Esse questionamento feito por Viktor Frankl de como lançar uma visão sobre o ser
humano de maneira integral, o enxergando como uma unidade biopsicossocioespiritual,
também foi um dos motivadores para escrever essa monografia. Tal unicidade do ser humano,
era radical para Viktor Frankl, que o mesmo a definiu, após seus estudos, através de uma
analogia, como: “Ontologia Dimensional”, segundo Frankl citado por Pereira (2015, p.3-4).
O termo dimensional, foi utilizado com o seguinte intuito: “A ideia de ‘dimensão’
deve ser entendida, realmente, em sua acepção matemática, na ‘concepção geométrica de
dimensão, como uma analogia relativa às diferenças qualitativas que não anulam a unidade
mesma de uma estrutura’”, Frankl citado por Pereira, (2015, p.4). Essa foi a lente que Viktor
Frankl encontrou para enxergar o ser humano na totalidade das dimensões físicas, psíquicas e
espirituais.
A Ontologia Dimensional apresenta-se em duas leis, a primeira diz: “quando um mesmo
fenômeno é projetado de sua dimensão particular em dimensões diferentes, mais baixas do que
a sua própria, as figuras que aparecerão em cada plano serão contraditórias entre si”, Frankl
(1988 apud PEREIRA, 2015, p. 8). Faz-se necessário frisar o “mais baixo” e “mais alto” como
níveis de complexidade e não de valor. Então, ao lançar a dimensão espiritual, no plano
psíquico ou corpóreo, lança-se uma dimensão mais complexa em uma menos complexa, não
sendo possível explicar a mais complexa pela menos complexa, gerando contradições ou
mesmo antagonismos.
Para representar a Ontologia Dimensional, será utilizada a seguinte figura:

Figura 1

Fonte: Frankl, (2003 apud PEREIRA, 2015, p.8)

Na figura apresentada, o cilindro seria o ser humano em sua unicidade radical, mas ao
projetá-lo na parede ou no chão, geram-se figuras distintas, na projeção feita na parede forma-
se um retângulo e no chão um círculo. Sendo que não seria adequado afirmar que o cilindro é
composto por um retângulo e um círculo, por tanto: “assim também o homem não se compõe
de corpo, alma e espírito. Trata-se, antes, no que tange ao corporal, ao psíquico e ao espiritual,
de dimensões do homem”, Frankl segundo Pereira, (2015, p.8).
Devemos então, para tentarmos alcançar a superação das contradições entre o físico,
psíquico e espiritual, não explica-los a partir dos mesmos, já que são projeções ou partes de
um todo. E seria na dimensão espiritual que compreenderíamos a “espacialidade do
fenômeno, isto é, integra e eleva as contradições surgidas com as operações projetivas”,
segundo Pereira (2015, p.8). Frankl citado por Pereira (2015), complementa a noção de
unicidade pela não exclusão, mas sim pela inclusão, no seguinte trecho:
A dimensão do homem é superior à do animal, e isso significa que ela contém a dimensão
inferior. A identificação de fenômenos especificamente humanos no homem e o
reconhecimento simultâneo de fenômenos sub-humanos nele não se contradizem de forma
nenhuma, pois, entre o humano e o sub-humano, não existe uma relação de exclusão mas sim
– se eu assim posso dizer – de inclusão. Frankl (1991 apud PEREIRA, 2015, p.8).

A segunda lei da Ontologia Dimensional vai tratar da projeção de uma dimensão mais
complexa para outra menos complexa. Gerando diferentes fenômenos, mas que devido
estarem numa dimensão mais complexa, são lidos da mesma maneira, sendo que são
ambíguos, Frankl (1988 apud PEREIRA, 2015, p. 9). Tal definição será demonstrada na
figura 2, abaixo:

Figura 2

Fonte: Frankl, (2003 apud PEREIRA, 2015, p.9)

Como exemplo, duas pessoas, uma sendo esquizofrênica e a outra Joana D’arc. As
duas pessoas tem alucinações visuais, daí que no campo dos fenômenos físicos, ela seria
tratada simplesmente como psicótica. O que para Viktor Frankl, a alucinação em si, não seria
condição de dizer que é ou não um conteúdo de uma dimensão espiritual, Frankl citado por
Pereira (2015, p.9). Por tanto: “Ser portadora de um transtorno mental – defende Frankl – não
denega, não prejudica sua importância em outras dimensões. E vice-versa: o fato de ela ser
uma santa em nada modifica, para Frankl, a existência de sua patologia.”, segundo Frankl
citado por Pereira (2015, p.9).
Tal concepção é completada, quando Frankl (1978 apud PEREIRA, 2015, p.9), cita:
“Joana D’arc e a esquizofrênica –, no plano da psiquiatria, apareceriam sob a mesma forma
ambígua de uma circunferência, ‘como as sombras que não sou capaz de identificar ou não
posso determinar se pertencem ao cilindro, ao cone ou à esfera’”. Tais concepções seriam
ferramentas também para lidarmos no campo da saúde mental.
Um adendo a ser feito sobre a concepção do que seria patologia ou não, mas trazendo
para o campo da singularidade de cada pessoa. Nos dias atuais, a questão sobre normalidade
já é bem discutida e a partir das reformas psiquiátricas e da luta antimanicomial, entende-se
que uma pessoa com esquizofrenia existe de maneira singular no mundo, não mais portando
uma patologia. Mas responde de sua maneira, uma determinada configuração de mundo,
Deleuze e Guattari citados por Baremblitt (2003, p.53), falam que o pensamento
Esquizofrênico, mas: “não o dizem referindo-se à Esquizofrenia entendida como enfermidade
mental, senão à Esquizofrenia como a característica essencial desse processo de produção
caótico” e tal pensamento é uma manifestação de algo novo e drástico.
A dimensão espiritual para Viktor Frankl, constitui o aspecto da liberdade: “Por
definição, o espiritual é só o livre no homem. (...) chamamos ‘pessoa’ só aquilo que pode
comportar-se livremente, sejam quais forem as circunstâncias”, Frankl (1995 apud PEREIRA,
2015, p.7). É nessa dimensão que o ser humano é capaz de deixar de ser automático para ser
autônomo. E somente nessa dimensão que se dá a integralidade do ser humano, sua totalidade,
segundo Pereira (2015, p.7): “[...] ‘onde” o homem aparece enquanto tal, não podendo afirmar
que ‘possui’ um espírito, assim como pode dizer que ‘possui’ (no sentido particular que
trabalhamos acima) um corpo ou um psiquismo.”.
Nessa dimensão estão: “as decisões pessoais de vontade, intencionalidade, interesse
prático e artístico, pensamento criativo, religiosidade, senso ético e compreensão do valor”,
Lukas (1989 apud PEREIRA, 2015, p.7). E voltando o foco para a dimensão
espiritual/religiosa, no sentido de vivencias que incluem o físico, psíquico, social, mas que
vão além dos mesmos, Frankl citado por Pereira (2015, p.11), diz: “Inevitavelmente, a
unidade do ser humano (...) não pode ser achada em suas faces psicológica, nem biológica,
mas deve ser procurada em sua dimensão noológica, da qual o homem foi, de início,
projetado”.
Levanta-se uma hipótese, pois, indiretamente Frankl fala de uma dimensional
espiritual que abarca a do sentido. Já que a dimensão noológica foi projetada, por tanto, por
uma dimensão além dessa.
Viktor Frankl, buscou embasar sua visão de unicidade radical do ser humano e da
impossibilidade de falar do corpo físico sem fazer menção a mente ou ao espirito, a não ser
como abstração teórica. Agora, iremos tratar da subjetivação e da noção de “eu”, em que tal
noção é um processo, apesar das identificações na qual uma pessoa pode agarrar-se. E o que
pode-se chamar de subjetividade, é um campo totalmente aberto, no qual a Psicologia
Transpessoal vai denominar, Espiritual.
A Psicologia Transpessoal, surgida nos anos de 1960, alça a subjetividade do ser
humano como fundamentalmente espiritual, Maslow (1968 apud FERREIRA; SILVA;
SILVA, 2016, p.64). Sendo a subjetividade:

Aquilo que denominamos de “si mesmo”, como um modo possível de ação, relação,
pensamento; um espaço onde tudo isso é possível de acontecer e a capacidade de
tudo isso colocar-se em criação. Assim, o que caracteriza nossa subjetividade e
constitui nosso si mesmo não é um “eu” particular, sólido, fixo e fixado; é uma
potência criativa, compassiva e divina que dignifica a vida humana, deixando aberta
e sempre presente o mistério que é ser espiritualidade. (FERREIRA; SILVA;
SILVA, 2016, p.63)

Com tais definições da subjetividade como espiritual e além de um “eu” particular, a


essência do ser humano é transpessoal. Devido ser um campo aberto, a Psicologia Transpessoal,
defende ser esse o motivo de termos tantas Psicologias e também pelas ciências estarem pautadas
numa racionalidade quantitativa e materialista, da dificuldade de explicar o que seria a
espiritualidade, conforme Ferreira, Silva e Silva (2016, p.64). E tomando como referencial a
subjetividade como um campo aberto, poderia ser um passo, para começar a entender o porquê
de ter várias Psicologias, e tendo como um desses referenciais, a Ontologia Dimensional de
Viktor Frankl e as projeções de cada dimensão, sendo cada Psicologia partindo de determinada
dimensão.
Para Bugental, citado por Ferreira, Silva e Silva (2016, p.66): “O ‘si mesmo’ do
humano é livre, divino, e, nesse caso, espiritual.”.
Tomando-se como espiritual a natureza humana, e se a Psicologia procura entender o ser
humano ou, entende-lo a partir de determinados fenômenos, gera-se uma pergunta: “Como,
então, a perspectiva transpessoal considera a natureza humana? Que tipo de imagem ela tem
desenhado para pensar o humano a partir daquilo que o constitui?”, conforme Ferreira e Silva
(2016, p.83). Para tal, o problema encontra-se justamente sobre a pergunta: “imagem do ser
humano”, pois ao gerar uma imagem, fixa-se, delimita-se algo. Um dos desafios da Psicologia
Transpessoal, é justamente trabalhar com uma natureza humana que é essencialmente aberta. E
que, segundo Ferreira e Silva (2016, p.83), o sentimento que temos de “eu”, dessa imagem
interna, dessa unicidade, é uma evolução e desenvolve-se através das experiências com os
objetos.
Outro autor da Psicologia Transpessoal, que corrobora com a visão de unicidade, não
através de uma imagem fixa, é Tabone (1995 apud FERREIRA; SILVA, 2016, p.84), que
cita: “[...] o homem é visto como um sistema ou totalidade cuja estrutura específica emerge da
interação dos níveis da consciência – físico, emocional, mental, existencial e espiritual –
interligados e interdependentes.”, buscando ir além de uma visão de ser humano fragmentada,
que o reduz a uma máquina.
Entendendo que a natureza humana é espiritual, que esse “eu” fixo ao qual o ser
humano imagina-se o limita mais do que o liberta de novas possibilidades, poderia se fazer o
seguinte questionamento: O porquê da inclusão da Psicologia Transpessoal? Além do cuidar
do outro, que a Psicologia visa, Michael Foucault, traz também a perspectiva do auto cuidado,
no qual Koppensteiner (2009 apud FERREIRA; SILVA; RIBEIRO, 2016, p.223), em sua tese
de doutorado, faz uma analogia da descrição da Psicologia Transpessoal com o “cuidado de
si” de Foucault, sendo os tratamentos transpessoais como trilhas de “dobras sobre si no intuito
de operar transformações subjetivas”.
Outro aspecto levantado é o da resistência, na acepção de Michael Foucault, presente na
Psicologia Transpessoal, em que Ferreira (2011), cita:

[...] em tempos nos quais os discursos normalizador e medicalizante dominam o


cenário psicológico, resgatar o “transpessoal” como dimensão formativa e
constitutiva humana é opor-se frontalmente às regras do jogo de dominação que
desde o início da modernidade tentam obliterar toda forma de transcendência.
(FERREIRA; SILVA; RIBEIRO, 2016, p.223)

Ao falar da integralidade, da unicidade do ser humano, da importância da espiritualidade


e religiosidade e de como ambas constituem o processo de subjetivação do mesmo, e se a
Psicologia, além dos seus objetos de estudo, lidam com o ser humano, entende-se da importância
da inclusão desses temas (espiritualidade/religiosidade) na formação em Psicologia.
Depois de tanta luta para a Psicologia ser reconhecida como ciência, poderia se
perguntar qual motivo para tal desconstrução e torna-la ainda mais instável? O intuito com a
inclusão da dimensão espiritual/religiosa na formação em Psicologia, apesar de exigir uma
nova postura e visão de mundo, que sim, estaria ainda mais distante do paradigma positivista
e materialista, não é com o desígnio de excluir ou desconsideração dos avanços que a ciência
tradicional obteve, ou a Psicologia, mas sim, agregar mais uma forma de procurar
compreender o ser humano. (FRIEDMAN apud MARALDI; MACHADO; ZANGARI, 2016 /
GRISI; FIGUEIREDO apud FERREIRA; SILVA; RIBEIRO, 2016).
Sobre os rumos em que a Psicologia tomou no seu processo como ciência, Massimi
(2013, p.185), nos traz dados sobre a mudança de conceituação da palavra psique, que passou
de “alma”, respectivo a herança de Aristóteles e Tomas de Aquino, influente no Brasil do século
XVI ao XVIII, para “eu”, ou “espírito”. Conforme Massimi (2013, p.185): “o espiritualismo
determinara uma transformação considerável na psicologia filosófica do século XIX, pois o
‘eu’ assim entendido não é mais uma categoria ontológica (essência) e sim um dado
fenomênico, [...]”, passa a ser um saber da ciência similar aos eventos naturais, a realidade
passa a ser objetiva, percepção essa que foi criticada conforme os autores anteriormente
citados.
Até aqui, buscou-se explanar a integralidade das dimensões do ser humano. Daqui
adiante, será exposto, os possíveis vínculos da inclusão da dimensão espiritual/religiosa na
formação em Psicologia ou mesmo uma reconexão com os primórdios da Psicologia e seus
vínculos com a metafisica. Pois ocorreu um afastamento dos conhecimentos que utilizavam-se
das explicações do campo religioso para os modelos científicos, mas continuou com a “fé
dogmática a qual era criticada pelos fiéis religiosos”, segundo Angerami-Camon (2008, p.4).
Tal crítica quanto a uma fé dogmática na ciência, tem a intenção de trazer uma
reflexão sobre a teia em que a própria Psicologia por vezes está envolvida.
Dogma, segundo Valdemar Augusto Angerami-Camon (2008, p.4), é: “o fundamento
de qualquer sistema ou doutrina; é aquela fé estruturada em algo que não depende de fatos
para se tornar realidade. Assim, alguém que acredita em Deus não precisa de nada além da
sua própria fé para Nele acreditar.”. Uma ressalva feita por Angerami-Camon, é a confusão
por vezes de associar o termo “fé dogmática” somente a aspectos religiosos, mas que a mesma
tem um alcance muito mais abrangente, englobando saberes filosóficos até sistemas teóricos.
O qual: “para aceitar os princípios da psicanálise ou de qualquer outro modelo teórico, por
exemplo, é necessário que tenhamos uma fé dogmática em suas asserções.”, de acordo com
Angerami- Camon, (2008, p.4).
Partindo desses parâmetros de um saber não hegemônico, conforme Angerami-
Camon, (2008):
Ao definirmos a psicologia como uma área do saber que se enquadra em um constitutivo
metafísico, em sua tentativa de compreensão da condição humana, há, então, questões que
envolvem aspectos de uma epistemoliga que não apenas vai além das questões meramente
genéticas, como também de aspectos de nossa condição senso-perceptiva. A própria definição
do que é definível pela psicologia em seus aspectos de busca científica, sem cair em metro
reducionismo teórico, é um desafio que os fatores envolvidos em tais questionamentos ainda
não conseguiram balizar. (ANGERAMI-CAMON, 2008, p.2)
Tendo como apoio a Constituição Federal, para os estudos da dimensão
espiritual/religiosa na formação em Psicologia, no ano de 2013, o Grupo de Trabalho (GT)
Nacional – Psicologia, Religião e Espiritualidade, embasado na constituição, conforme prevê
o Artigo 5º da Constituição Federal: a laicidade do Estado e a liberdade religiosa, diz que:

II. A laicidade do Estado deve ser entendida como princípio pétreo, jamais pode ser
colocada em questão, pois é sob essa base, segura e inquestionável, que se assenta a
igualdade de direitos aos diversos segmentos da população brasileira, cuja
extraordinária diversidade cultural e religiosa, uma das maiores do planeta, constitui
um formidável potencial para resolução de inúmeros problemas da sociedade
contemporânea. (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2014, p.15)

Conforme o Estado garante o direito da diversidade, o mesmo também prevê a


espiritualidade como forma de expressão, ou não, da população brasileira: “IV. Afirmar que
o Estado é laico não implica alegar que o povo deva ser desprovido de espiritualidade e da
prática religiosa. [...], segundo o Conselho Regional de Psicologia (2014, p.15). Os princípios
constitucionalmente assegurados concedem aos cidadãos brasileiros tanto a ampliação das
vertentes religiosas quanto a não adesão a nenhuma religião. “Afirma-se, portanto, e, antes de
tudo, o ‘direito à liberdade de consciência e de crença’.” conforme o Conselho Regional de
Psicologia (2014, p.16). A Psicologia, também estando sob a constituição brasileira, deve
portanto respeitar e acolher a não adesão a uma crença religiosa/espiritual como também
respeitar e acolher aqueles que possuem uma crença religiosa/espiritual.
A Psicologia sendo um dos campos do saber que está inserida socialmente e como
uma promovedora do bem estar social, tem um compromisso com a sociedade e para tal deve
agir eticamente. Orientar-se pela laicidade, não implica negar um contato entre a
psicologia/religião e psicologia/espiritualidade. E a religião/espiritualidade, sendo um dos
elementos mais intricados na cultura, aborda questões como: “IX. A busca do fundamento
sagrado da vida, daquilo que confere sentido à existência é, entretanto, de ordem espiritual.”
(CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2014, p.16).
Por reconhecer a importância da religião, religiosidade e espiritualidade, na
constituição da subjetividade, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (2014), cita:
XI. Reconhecemos a importância da religião, da religiosidade e da espiritualidade na
constituição de subjetividades, particularmente num país com as especificidades do Brasil.
Neste sentido compreendemos que tanto a religião quanto a psicologia transitam num campo
comum, qual seja, o da produção de subjetividades, entendendo ser fundamental o
estabelecimento de um diálogo entre esses conhecimentos. (CONSELHO REGIONAL DE
PSICOLOGIA, 2014, p.17)
Outro dado relevante, são os levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), sobre a crença da população brasileira, na existência de um Ser
Criador do Cosmos, o qual, segundo o IBGE (2010 apud BERNI, 2016, p.48): “Em um país
como o Brasil, onde 90% da população afirma acreditar na existência de Deus ou numa
dimensão suprassensível à Vida Humana [...]”, tal dado é mais um fator para que os
psicólogos(as), que tenham a intenção de acolher as pessoas que tragam essa demanda da
dimensão espiritual/religiosa, possam ter disciplinas em sua grade curricular, e assim ter
ferramentas para lidar com tais demandas.
Trouxemos o foco de alguns motivos da Psicologia acolher a demanda de parte da
população com conteúdos relacionados a espiritualidade/religiosidade. Mas, voltando a
importância do cuidado de si, também será apresentado dados de pesquisas que buscam
correlacionar a qualidade de vida e bem-estar espiritual, dos estudantes do curso de
Psicologia.
A primeira foi realizada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS), com alunos de Psicologia, com a intenção de fazer uma correlação entre qualidade de
vida e bem-estar espiritual.
Primeiramente, iremos trazer à tona os conceitos de qualidade de vida, que segundo
Fleck, Bolognesi e Rocha (2003 apud COSTA et al, 2008, p.250) são: “harmonização de
diferentes modos de viver e dos níveis físico, mental, social, cultural, ambiental e espiritual.”. Já
para Dimenas, Dahlöf, Jern e Wiklund, citados por Costa et al (2008):

[...] a qualidade de vida pode ser entendida como constituída de três fatores: o bem-estar
subjetivo, que se refere à percepção do indivíduo, seus valores e crenças; saúde,
entendida como um estado de bem-estar físico, mental e social, e não meramente como
a ausência de doença; e em terceiro lugar, o bem-estar social, que se refere à situação da
pessoa em relação ao seu ambiente e sociedade. (COSTA et al, 2008, p.250)

Já o conceito de bem-estar espiritual, segundo Marques citado por Costa et al (2008,


p.250): “é uma experiência de fortalecimento, de apoio buscado de forma proposital pelo
indivíduo para a realização de um enfrentamento de sucesso é importante para a melhora da
qualidade de vida e para a evolução do ser humano em uma visão biopsicossocioespiritual”.
Para ser realizada a pesquisa referente a formação universitária, utilizaram-se dois
instrumentos: o módulo abreviado de: espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais
WHOQOL-BREF e a Escala de Bem-Estar Espiritual (EBE). Segundo Costa et al (2008, p.250),
o WHOQOL-BREF, foi construído pela OMS (1948), tal instrumento analisa a qualidade de
vida geral, sendo organizado por 26 tópicos, dentre os quais:

[...] subdivididos pelos domínios físico (dor e desconforto; energia e fadiga; sono e
repouso; mobilidade; atividades da vida cotidiana; dependência de medicação ou de
tratamentos; capacidade de trabalho), psicológico (sentimentos positivos; pensar,
aprender, memória e concentração; auto-estima; imagem corporal e aparência;
sentimentos negativos; espiritualidade/religião/crenças pessoais), relações sociais
(relações pessoais; suporte- apoio- social; atividade sexual) e meio ambiente
(segurança física e proteção; ambiente no lar; recursos financeiros; cuidados de
saúde e sociais: disponibilidade e qualidade; oportunidades de adquirir novas
informações e habilidades; participação e oportunidades de recreação/lazer;
ambiente físico: poluição/ruído/trânsito/clima; transporte). Fleck et al (2000 apud
COSTA et al, 2008, p.250).

Já a EBE, constitui-se por 20 partes, decompostos em duas categorias: “a de bem-estar


religioso e a de bem-estar existencial. Esses itens são respondidos por uma escala que varia de
‘concordo fortemente’ a ‘discordo fortemente’.”, (COSTA et al, 2008, p.251). A de bem-estar
religioso faz uma referência a Deus e a de bem-estar existencial remete a sensações de ligação
com uma experiência que traga sentido para a vida da pessoa.
A pesquisa passou pela comissão de ética da faculdade para obter autorização e
comunicou a direção da faculdade. Foram 136 participantes, desses: “117 (86%) referiram ter
religião, destacando-se a católica (47,2%). Quanto à participação em atividade espiritual-
religiosa, 95 alunos (70,4%) referiram não ter participação.”, (COSTA et al, 2008, p.251). Quanto
ao interesse pelo assunto espiritualidade: “114 (83,8%) tinham interesse pelo assunto
espiritualidade. Cento e dez dos universitários (80,9%) afirmaram conversar com alguém sobre o
assunto, sendo que 85 alunos (63%) afirmaram conversar com amigo e/ou colega.”, (COSTA et
al, 2008, p.251). Com relação a formação: “Cento e seis (77,9%) tinham interesse em discutir o
assunto na sua formação. Dos 86 participantes, 63,2% não se depararam, em alguma prática de
extensão universitária, com questões relacionadas à espiritualidade em seus
atendimentos/experiências ou outra atividade.”, (COSTA et al, 2008, p.251).
Após terem sido feito os levantamentos dos dados, a pesquisa demonstrou que os
universitários correlacionam o bem-estar existencial mais a experiências significativas em suas
vidas do que a uma referência a “deus”. Conforme tal resultado, verifica-se um bem-estar
espiritual, ligado aos sentidos da vida, a liberdade e responsabilidade, ao ir além de uma visão
individualista, sendo que para Frankl e Martín-Baró: “Para esses autores, o compromisso ou a
responsabilidade social são decorrentes da espiritualidade e da fé, que se transformam no suporte
de uma vida realizada e saudável nos comportamentos e na prática dos valores dos seres
humanos.”. (SARRIERA, 2004, apud COSTA et al, 2008, p.253).
Para Costa et al (2008, p.253), os temas relacionados a espiritualidade e religiosidade
apesar de sua presença em nossa sociedade ainda não fazem parte das grades curriculares de
nossas universidades. Outro ponto tocado pela pesquisa são os diversos significados para a
espiritualidade e a religiosidade, e que muitas vezes não são explicadas nas falas dos pacientes e
de profissionais, podendo causar confusões nesses atendimentos.
A pesquisa contribui para lançar mais um ponto de vista a favor da inclusão da
espiritualidade, religião e religiosidade, já que: “86% dos participantes referiram ter religião,
83,8% têm interesse pelo assunto espiritualidade e 77,9% têm interesse em discutir o assunto na
sua formação.”, (COSTA et al, 2008, p.253). Também a pesquisa contribui para uma das
justificativas da monografia quanto a relevância do tema, ao que se refere as pesquisas mostrando
os benefícios das práticas meditativas e orações, de acordo com Costa et al (2008):
Dessa maneira, não há como desconsiderar o aspecto benéfico da espiritualidade que as
pesquisas têm indicado. Torna-se essencial aproximar a formação profissional das
experiências de religiosidade e espiritualidade, considerando-se os aspectos sociais e culturais
dos contextos no quais os indivíduos estão inseridos. (COSTA et al, 2008, p.254).
Outra pesquisa, também realizada no Rio Grande do Sul, aponta não somente o interesse
sobre o tema espiritualidade ou a quantidade de alunos que possuem uma religião ou prática
religiosa, mas além desses dados, como o tema espiritualidade/religiosidade, vem sendo tratado
nos cursos de Psicologia do Rio Grande do Sul. Pois a pesquisa demonstrou, de acordo com a
população investigada: “1064 estudantes (672 calouros e 392 formandos) de todas as
universidades gaúchas com formandos em 2009.”, (FREZZA CAVALHEIRO; FALCKE, 2014,
p.35), que pode ter uma tendência dos cursos de Psicologia contribuir para o declínio da
espiritualidade.
Tais dados tem a intenção de trazer a reflexão se existe um excesso da racionalidade em
detrimento a outros saberes, sem dar juízo de valor a um ou outro, mas de tentar entender os
motivos desse declínio da espiritualidade nos formandos, Frezza Cavalheiro e Falcke (2014),
citam:
No que se refere aos estudantes de Psicologia do Estado do Rio Grande do Sul, esse dado se
confirma e parece justificado pelas abordagens teóricas predominantemente desenvolvidas
durante a formação, baseando-se em postulados que coincidem com os que emergiram
séculos atrás, quando da busca de legitimação científica da psicologia e questionamento das
instituições religiosas. (FREZZA CAVALHEIRO; FALCKE, 2014, p.42).
Com o objetivo de sondar o intercâmbio da Psicologia com a espiritualidade, perguntou-
se aos discentes do curso, o quão era para eles relevante a espiritualidade no exercício clínico. E
nos dados obtidos: “uma porcentagem maior de formandos (69,3%) do que de calouros (46,2%)
considera que ela seja pouco ou nada importante. Somente 13,4% de calouros e 4,2% de
formandos consideraram a espiritualidade extremamente importante para a prática clínica em
psicologia.”, (FREZZA CAVALHEIRO; FALCKE, 2014, p.41). Para Peres et al (2007 apud
FREZZA
CAVALHEIRO; FALCKE, 2014, p.41), faz menção que a prática psicoterápica e a
espiritualidade/religiosidade, são dimensões bastante intercambiáveis, mas que no Brasil, são
poucas as abordagens que tem no seu escopo a espiritualidade e religiosidade.
Frezza Cavalheiro e Falcke (2014, p.42-43), buscam alertar de uma fé dogmática sobre os
pressupostos científicos da psicologia: “que tem negligenciado uma dimensão inerente ao humano
que interfere na saúde psíquica.”.
Outra fonte utilizada, foi uma dissertação de mestrado (SILVA, 2016), com uma
amostra de 202 estudantes de Psicologia, das seguintes Instituições de Ensino Superior
(IES): Faculdade Frassinette do Recife (FAFIRE) e Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). Na qual, após levantamentos das respostas através da EBE, e com foco nas
respostas das seguintes perguntas: “2) Essa temática é/foi tratada em sua graduação? Em
que situação(s)? e 3) Para você, a temática da espiritualidade deveria ser tratada numa
graduação em Psicologia? Por quê?”, (SILVA, 2016, p.187), relacionadas a espiritualidade
e religiosidade. E as respostas encontram-se nas páginas: 191 a 193 e 196 a 203, da
dissertação, e apontam para um interesse em se discutir sobre o tema em suas formações.
Com os resultados das respostas, a autora (SILVA, 2016), entende a necessidade de tratar-
se do tema espiritualidade na graduação em Psicologia, não somente pelos achados “teóricos-
científicos sobre o tema, mas também pela necessidade que os/as estudantes apontam de saberem
sobre e como lidar com as experiências de espiritualidades que terão enquanto profissionais.”,
(SILVA, 2016, p.190).
Um cuidado em que a autora também levanta é de não tratar de levar para as salas de
aula: “ensino de religião” ou “de moral e cívica”, segundo Silva (2016, p.195). Mas sim:
A discussão das espiritualidades acontecem em torno da perspectiva de homem e mulher
integrais, que são também espiritualidade, que essa espiritualidade também é o fenômeno
humano, que há diversas e infinitas formas de experimentar, mas que é importante estudar sobre
elas e como elas operam no humano. E ainda viver as espiritualidades na formação implica
diretamente na formação humana. (SILVA, 2016, p.195).
Laila Anine Candida da Silva (2016, p.209), aponta para uma vivência ao que tange as
espiritualidades, pois tratar somente de forma teórica do tema, também é fragmentar essa
dimensão que necessita ser vivenciada para ser integral. Silva (2016), cita Sócrates, para
exemplificar não somente a inclusão da espiritualidade/religiosidade na formação em
Psicologia de forma teórica, mas que seja buscada no seu dia a dia de maneira prática, para
assim chegarmos a uma formação humana:

O processo de educar se constitui de forma complexa e transdimensional, repassar


informações não é educar. Sócrates ensinava a Alcebíades que para governar a cidade
era preciso antes que ele governar-se a ele mesmo. Assim também o é na arte da
educação, da formação humana. É preciso que todos/as envolvidos/as no processo
estejam se formando humanamente de forma constante e ininterrupta. Ser educador/a,
formador/a, educando/a em quaisquer experiência que se viva e experimente. (SILVA,
2016, p.209).

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no ano 2000, foi criado o
Núcleo Interdisciplinar de Estudos Transdisciplinares sobre Espiritualidade (NIETE), com as
seguintes propostas:

Criar espaço acadêmico para estudos, pesquisas e debates sobre Espiritualidade em


uma perspectiva cosmoética; produzir conhecimento sobre espiritualidade, através
da proposta e desenvolvimento de projetos e estudos e de pesquisa, articulando-os
com as demais áreas de conhecimento da Universidade e com propostas decorrentes
de paradigmas emergentes; socializar o conhecimento sobre espiritualidade
produzido na universidade através de publicações, Eventos Acadêmicos, entre
outros; promover o intercâmbio com Instituições locais, nacionais e Internacionais
da área. (DORNELES et al, 2004, p.207-208).

O NIETE também acolheu outra iniciativa de estudos sobre uma visão de ser humano
integral, o Grupo Psi-Alfa-Ômega, com uma gama de profissionais de diferentes áreas do
conhecimento. Teve inicialmente, os seguintes temas: “Ciência, Espiritualidade e Educação para a
Paz; O Ser Humano Psi e Educação para a Paz no 3º Milênio; Espiritualização e Espiritualidade na
visão das diferentes tradições filosóficas e religiosas; O Ser humano Psi, relações e Educação para
a Paz.”, (DORNELES et al, 2004, p.218). Além de linhas de pesquisa sobre: “Projeto Memória
Extracerebral; Projeto Percepção Extra-Sensorial abrangendo: paranormalidade humana e de
animais e demais.”, segundo Dorneles et al (2004, p.219).
Tal iniciativa, soa como um apoio para o intuito dessa monografia, da inclusão da
dimensão espiritual/religiosa na formação em Psicologia.
Por fim, trilhou-se um caminho desde os aspectos históricos do surgimento da Psicologia
e como desde seus primórdios, a mesma manteve ligações com demais áreas do conhecimento,
entre as quais a metafísica, que lidava sobre questões da espiritualidade e religiosidade e como
esses vínculos, possibilita uma formação mais ampla para a Psicologia, a qual aqui nessa
monografia, tal amplitude seria também, a inclusão da espiritualidade e religiosidade. E como
essas dimensões fazem parte do ser humano e por tanto cabíveis de serem acolhidas pela
Psicologia.
5 METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa utilizada foi a revisão bibliográfica, tendo como um dos


principais motivos, o não tempo hábil para poder utilizar de outras metodologias para um
enriquecimento da exploração do tema. Fonseca (2002 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009,
p.37), traz que a pesquisa bibliográfica é realizada a partir da coleta de referenciais teóricos
que já foram analisados e publicados por mídia impressa ou via internet, tais como: livros,
artigos científicos e sites na internet.
A pesquisa bibliográfica é a base para um trabalho cientifico, colocando o autor em
contato com o que já foi estudado sobre o tema.
Outro fator que motivou essa pesquisa com característica exclusiva bibliográfica, foi a
definição que Gil (2005, p.44), nos traz: “As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que
se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser
desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas.”. Devido ter como
proposição a possibilidade da inserção da dimensão espiritual/religiosa na formação em
Psicologia, lidamos com múltiplos referenciais teóricos.
Por se tratar de um tema extenso e complexo, utilizou-se de uma abordagem qualitativa,
que tem por objetivo, explicar o porquê de determinados fenômenos. Sendo tais dados não
quantificados ou tendo que demonstrar prova de fatos, utilizando várias abordagens,
(GERHARDT e SILVEIRA, 2009, p.32). Lembrando que tal critério qualitativo não tem o intuito
de dicotomizar com a metodologia quantitativa, mas de complementar.
Buscando ir além das dicotomias e fragmentações, Pedro Demo (2012, p.105) nos faz
refletir sobre as dicotomias entre os métodos qualitativos e quantitativos, fazendo uma referência
dos estudos entre mente e cérebro, lembrando que um não existe sem o outro, por tanto: “parece
mais adequado acreditar que o espírito faz parte da matéria, e a matéria, parte do espírito”. E
ainda traz outra reflexão do papel do pesquisador, sendo de sua escolha utilizar de metodologias
qualitativas ou quantitativas, mas ter em mente/cérebro, que sua pesquisa não é exclusivamente
quantitativa ou qualitativa.
Além dessa perspectiva não fragmentada da realidade que o pesquisador deve ter, um
questionamento ao qual o mesmo deve fazer é se o assunto é “qualitativo” para ele. Pedro Demo
(2012, p.105) diz: “ao contrário do que se pensa, pesquisa qualitativa é mais complexa e
arriscada”. Além do pesquisar lidar com temas ao qual são importantes para ele, correndo o risco
de contaminar a pesquisa de maneira a deturpá-la, vai lidar com conteúdos não lineares, como
felicidade, amor, espiritualidade e religião. Demo (2012, p.107), recomenda que o pesquisador
deixe claro suas
intenções e caso a pesquisa tenha um cunho ideológico defendido, que o mesmo seja discutível,
sendo: “sempre embasada em processos de desconstrução/reconstrução de conhecimento.”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia discorreu sobre o processo histórico da consolidação da Psicologia


até ser reconhecida como ciência e como a mesma, por estar em contato com outras áreas do
saber, desde seus primórdios, não tem um objeto de estudo único. E como questionamentos
primeiros, em sua fase embrionária, lidava também com questões da metafísica, procurando
entender de onde o ser humano veio, qual sua missão na terra e para onde vai após a morte.
Tendo como embasamento esse arcabouço teórico das modificações em que a Psicologia
sofreu até os dias atuais e como tais mudanças foram influenciadas por visões de mundo de
uma ciência mecânica e materialista, procurou-se de certa forma, manter a Psicologia aberta a
outros saberes, como o das espiritualidade e religiões. Mantendo esse aspecto de ciência
fronteiriça.
Também foi de preocupação, a não exclusão das conquistas as quais a Psicologia
obteve, desde seu surgimento como ciência, e também da ciência tradicional. As ditas
Psicologias Transpessoais, a Logoterapia Dimensional e os saberes multiparadigmáticos,
utilizados como referencial teórico, tem como premissa a inclusão do diferente, no intuito de
potencializar, um saber já estabelecido, e considerando também os saberes populares. Tais
posturas assemelham- se também a postura da Psicologia de ser uma ciência que acolhe ao
outro, ao diferente, sem fazer pré-julgamentos, mas buscando aprender de forma conjunta.
Como objetivos, tinha-se, demonstrar como a Psicologia desde seu início e mesmo
antes, sempre esteve ligada a questões espirituais e religiosas e que a proposta de uma
formação que fosse multiparadigmática, estava em consonância com as Diretrizes
Curriculares, buscando o essencial ao aluno em sua formação, não o restringindo a ver o
mundo e ao ser humano de maneira única, estanque e cindido.
Também levantamos informações bibliográficas que coadunassem sobre a importância
da espiritualidade e religiosidade para o ser humano e como a vivência das mesmas,
contribuem para uma vida mais saudável, inclusive em tratamentos médicos. E por último,
como a subjetividade do ser humano, não é algo estanque e fixo, mas sim aberta e flexível e
por isso, além de um “eu” identificado, sendo por tanto, uma subjetividade espiritual. E por
ser uma subjetividade que é espiritual, a inclusão na formação em Psicologia de temas sobre a
espiritualidade e religiosidade, fazem-se relevantes, não apenas para os alunos, mas para a
sociedade, que em sua grande maioria tem uma religião ou possui uma espiritualidade.
Assimilando que a inclusão da dimensão espiritual/religiosa nos cursos de Psicologia visa
expandir a compreensão do ser humano e em algumas grades curriculares enriquecer, com
estudos da Psicologia Transpessoal e demais teorias similares, pois já possuem disciplinas que
tratam sobre
aspectos religiosos e espirituais na sociedade, faz-se um movimento de reconexão, de religar,
conforme o conceito etimológico da palavra religião, a um princípio em que os primórdios da
Psicologia lidava com as questões fundamentais do ser humano: “De onde vim?”; “Quem eu
sou?” e “Para onde vou?”. Sem contudo, não tirar do raio de visão a posição crítica de não
deixar-se levar por posições autoritárias que visem desconsiderar a verdade de cada um, pois
conforme explicitado anteriormente, a busca pelo sentido na e da vida, por uma vivência autêntica
espiritual/religiosa, se dá de maneira singular em cada ser humano. Pois assim, como na ciência
tradicional, existem pessoas que buscam dogmatizar seus conhecimentos, no campo da
espiritualidade e religiosidade não é diferente.
Na dimensão espiritual, do sentido, da liberdade e responsabilidade, a vivência
autêntica espiritual, se dá através de uma transformação radical da pessoa, por tanto, mesmo
sendo inerente ao ser humano a dimensão espiritual e suas potencialidades, a mesma exige um
movimento para que tal potência manifeste-se na vida da pessoa.
Por tanto, a inclusão da Espiritualidade/Religiosidade contribui para nós
Psicólogos(as), possibilidades de uma formação que vise enxergar o ser humano não fixo, mas
um processo, que sua subjetivação está em interação com as dimensões do físico, psíquico e
espiritual. Que a interdisciplinaridade entre os conhecimentos é fundamental, inclusive da
ciência positivista, talvez não como método, devido as questões de tempo e espaço de uma
grade curricular, mas como campo de visão.
Deixa-se portas abertas para os estudos das vivências espirituais, como uma mudança
radical de sentido da própria vida, mas também para as vivências de uma dimensão divina.
Também para o campo da religião e religiosidade, pois conforme demonstrado, podem estar
interligadas a espiritualidade.
Em termos instrumentais, as escalas utilizadas para fazer o levantamento sobre
Qualidade de Vida e Bem-Estar Espiritual, apresentou certos problemas, como não atender a
determinadas culturas ou grupos monoteístas, ou terem mais escalas sobre religiosidade do
que sobre espiritualidade, e como já foi exposto, as espiritualidades são muitas. E ao se tratar
sobre religiosidade, as escalas tendem a uma visão judaico-cristã.
Outro apontamento ao se tratar das escalas, é submeter religiosidade e espiritualidade
a qualidade de vida, de forma direta. Pois daria a entender que um alto grau de
religiosidade/espiritualidade estariam ligados ao alcance de fins puramente externos.
Correndo o risco de uma normatização. Por tanto a necessidade de adaptações.
Com relação ao aspecto conceitual, sobre as espiritualidades e religião/religiosidade,
verificou-se a necessidade de quando for falar sobre tais temas, esclarecer de qual ponto de
vista
está partindo, para evitar confusões e deixar mais claro para o leitor ou espectador, sobre o
que está escrevendo/falando.
Depreende-se ter chegado de forma parcial aos objetivos da pesquisa, pois
teoricamente, através da metodologia qualitativa de levantamento bibliográfico, encontrou-se
muitas fontes que corroboram sobre a importância da espiritualidade e religiosidade para o ser
humano, em sua vivência e forma de trazer sentido a sua vida e nos tratamentos de
enfermidades. E, assim como a espiritualidade é aberta e multidimensional, a formação em
Psicologia deveria também dialogar com possibilidades de uma formação que possibilitasse
essa visão de mundo e de ser humano. Já que em seu processo de consolidação como ciência,
a mesma sempre esteve em diálogo com outros saberes.
Outra questão que ficou em aberto e que apareceu no decorrer da pesquisa, foi o
questionamento de que somente a inclusão teórica sobre a espiritualidade e religiosidade não
basta, mas que cada pessoa busque a vivência em sua vida, para não cairmos numa teorização
e mesmo indiretamente, fragmentar o ser humano, visando sua integralidade.
Ao se tratar da parte prática, devido ao tempo escasso para redigir a monografia e ir a
campo, não foi possível embasar mais a pesquisa com dados obtidos através de entrevistas ou
demais metodologias com público alvo.
Como contribuição acadêmica, a pesquisa traz uma nova visão de ser humano, uma
nova possibilidade de formação acadêmica e de mais um saber para os psicólogos(as),
poderem atender e acolher a sociedade, que entre as diversas demandas, possuem as que
tratam sobre o sentido de sua vida e visão de mundo, questões ligadas a sua religião ou sobre
suas crenças espirituais.
Assim, que busque-se vivências autênticas e transformadoras, como também na
formação em Psicologia.
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