Você está na página 1de 1

Começamos o ritual assim como Marion nos instruiu, conforme estava escrito no livro.

De Vermiis
Mysteriis. A lareira foi acessa e um pentagrama foi desenhado com giz no chão, marcado com
símbolos apropriados e iluminado por duas velas pretas colocadas perto do centro. O pedaço de âmbar
com o espírito aprisionado foi colocado no centro. Os outros se sentaram em círculos enquanto eu, o
guarda que vigia os espíritos malevolentes, sentei no canto mais longe da sala.
Marion jogou um punhado de pó no fogo, produzindo uma fumaça mal cheirosa e diminuindo as
chamas, que agora queimam com uma cor esverdeada e acastanhada. Os que estavam sentados
começam a entoar um cântico em latim que Marion Allen traduziu do livro.
Depois de quase duas horas, eu vejo um rastro de fumaça rodeando a peça de âmbar. Sua superfície
parece estar borbulhando, derretendo. Isso é possível? Finalmente alcançamos o sucesso? Posso ver
uma forma –
Estamos no dia seguinte. Acabamos com nossos planos e juramos nunca falar o que aconteceu na noite
passada. Explicamos a morte de Robert, e de alguma maneira a loucura de Harold. O xerife aceitou
a explicação do acidente de carruagem – planejamos bem. Robert quebrou o pescoço com a batida,
falamos a ele. Harold atingiu a cabeça em uma pedra quando a perna do cavalo quebrou-se e a
carruagem capotou. Poderia ser que fosse só isso. Para o restante de nós, mudamos para sempre depois
do que vivenciamos a noite passada.
A coisa formada no centro do pentagrama não tinha forma, era quase invisível. Sua voz terrível deveria
ter nos dado uma pista, mas nós fomos tolos. Aquilo falou, Marion jogou aquele maldito pó, o Pó de
Ibn-Ghazi, e foi então que pudemos ver a criatura.
Palavras não conseguem descrever aquela coisa sem rosto, com milhares de buracos parecidos com
bocas. Ela babou, nunca se revelando completamente. Seu aspecto era tão aterrorizante que sentei e
congelei no chão, a caneta caiu da minha mão. Cecil e Marion pareciam tão inertes quanto eu, foi
então que Crawford emitiu um curto e agudo grito. Robert, entretanto, antes que alguém pudesse
impedi-lo, deu um passo à frente para abraçar nossa horrorosa visita. Com seus braços, ou aqueles
apêndices que pareciam muito com braços, segurou o pobre Robert e girou sua cabeça como se fosse a
de uma boneca. O corpo já sem vida foi jogado no colo de Harold, e então ele começou com a gritaria
– que não parou nem mesmo quando o entregamos ao xerife.
Nós aparentemente ainda temos uma chance. Marion agora acredita que se mantivermos o juízo,
poderíamos entoar o cântico ao contrário e eventualmente fazer com que a criatura volte de onde saiu.
Mas Crawford entrou em pânico, achando que iria dispersar a criatura, destruiu parte do pentagrama,
fazendo com que ele perca seu efeito. Libertada daquele símbolo, a coisa – com um grito penetrante –
fugiu da casa, desaparecendo pela janela como um sopro de vento.
Marion acredita que a coisa ainda pode ser destruída, ou pelo menos afastada, mas nenhum de nós
terá estômago o suficiente para essa tarefa. Acreditamos que a magia que realizamos, inextricavelmente
prende a coisa a casa, e é verdade que quando voltamos alguns dias depois para buscar nossos
pertences, ouvimos a criatura no sótão acima de nossas cabeças. Os sinais protetores entalhados por
Marion Allen aparentemente são efetivos e barram a entrada da coisa na casa, exceto no sótão.

Você também pode gostar