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Escuta - Crianças - Adolescentes - Indd Capitulo 18
Escuta - Crianças - Adolescentes - Indd Capitulo 18
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Escuta de crianças e adolescentes em situação de violência sexual: aspectos teóricos e metodológicos
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Capítulo 18 - Procedimentos éticos e protocolares na entrevista com crianças e adolescentes
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A Entrevista Cognitiva
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Capítulo 18 - Procedimentos éticos e protocolares na entrevista com crianças e adolescentes
O Protocolo NICHD
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Escuta de crianças e adolescentes em situação de violência sexual: aspectos teóricos e metodológicos
discutir verdade e mentira está apoiada em evidências de pesquisa que indicam que
solicitar a uma criança que somente relate “as coisas que realmente aconteceram
com ela” diminui a possibilidade de relatos fabricados (LAMB et al., 2008).
O investimento no rapport também é estimulado pelo Protocolo NICHD.
Nesse protocolo, o rapport se faz por meio da discussão de temas prazerosos à
criança e do estímulo à produção de narrativas detalhadas sobre eventos positivos.
Essa ação pressupõe que o entrevistador conheça os interesses da criança com base
em pelo menos uma entrevista com o cuidador não agressor.
Em seguida, há a técnica do treino da memória episódica, isto é, a técnica
de treinar a pessoa a falar, em detalhes, sobre os eventos acontecidos no passado. O
treino ocorre com o estímulo da narrativa sobre um evento positivo previamente
abordado, sobre o dia anterior e sobre “o dia de hoje”, com ênfase no detalhamento
de cada um desses eventos com perguntas abertas, tais como: “E depois, o que
aconteceu?”.
Na próxima etapa, há a transição para os eventos significativos, com
questionamento do conhecimento da criança sobre o objetivo da entrevista.
Nesta etapa, o entrevistador introduz, deliberadamente, o assunto, por exemplo,
perguntando: “Você sabe por que veio conversar aqui hoje?” Se não houver a
revelação, o Protocolo NICHD solicita que sejam realizadas tentativas de introduzir,
gradualmente, informações conhecidas sobre a denúncia: “Eu soube que sua mãe
está preocupada com você. Fale-me por que sua mãe está preocupada.” ou “Eu
soube que você contou para a professora que alguém estava te incomodando. Fale-
me sobre isso.”
Em seguida, ocorre a avaliação dos incidentes, no caso de haver qualquer
revelação na etapa anterior, com base na maneira como a criança narrou o evento
e com a formulação de perguntas abertas, focais, como: “Você me disse que o tio
João pegou no seu piu-piu. Conte-me como foi isso”. Em seguida, o protocolo
solicita que sejam explorados os vários incidentes, desde “a última vez em que isso
aconteceu”, até “a primeira vez em que isso aconteceu”. Nesse modelo, há a avaliação
de incidentes não mencionados pela criança, mas necessários ao entendimento da
situação, por exemplo: “Ele tocou você por debaixo da roupa?” Ressalta-se que,
apenas nesta etapa do protocolo, admitem-se perguntas fechadas, porém, seguidas
de questões abertas: “Conte-me como isso aconteceu”. O uso de convites para a
narrativa também é empregado visando a ajudar crianças que não conseguem falar
sobre experiências já conhecidas pelo entrevistador: “Eu ouvi dizer que você falou
com a tia Maria sobre quando o papai pegou na sua florzinha. Conte-me o que
você contou para a sua tia Maria”. Também se estimula a obtenção de informações
sobre a revelação anterior, como: “Como foi que você contou para o tio João sobre
isso que aconteceu?”
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Capítulo 18 - Procedimentos éticos e protocolares na entrevista com crianças e adolescentes
O Protocolo Ratac
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Idade
Questões Indiretas &
Fechadas
Abertas
Habilidade Narrativa
(Favorece o uso de questionamentos abertos)
Trauma Emocional
(Desfavorece o uso de questionamentos abertos)
Sugerida
Narrativa Limitada / pelo
Narrativa Selecionada
Focalizada Selecionada Entrevistador
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3 anos
4-6 anos
7-8 anos
9-10 anos
11-12 anos
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Capítulo 18 - Procedimentos éticos e protocolares na entrevista com crianças e adolescentes
Conclusão
Com base nos princípios éticos e técnicos descritos anteriormente,
recomendamos que as adaptações regionais da entrevista forense de crianças e de
adolescentes no contexto jurídico sejam pautadas pela:
- Adoção de um ou de mais modelos de entrevista forense citados neste
artigo, por terem fundamentos científicos.
- Garantia de que todas as ações propostas antes, durante e após a audiência
especial sejam aderentes à declaração dos direitos das crianças, ao Estatuto
da Criança e do Adolescente e aos princípios éticos profissionais daquele
que realizará a escuta da criança ou do adolescente.
- Capacitação continuada dos profissionais sobre desenvolvimento humano
em condições de adversidade, tais como a violência.
- Reflexão com pares sobre as perguntas que não podem ser feitas por ferirem
a dignidade da criança ou adolescente ou as recomendações técnicas.
- Apresentação e discussão com os operadores do Direito do protocolo,
salientando o embasamento ético e cientifico que fundamentam as etapas
do protocolo. Recomenda-se que os operadores do direito recebam o
protocolo por escrito.
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Referências
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