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Para o estudo do direito comercial torna-se mister um breve bosquejo histórico. Embora, como
adiante veremos, o direito comercial não se confunda com a actividade comercial, a sua
compreensão está a ela intrinsecamente ligada, o que justifica uma breve referência a evolução da
actividade comercial.
Trata-se duma actividade que remota a antiguidade, indicando-se os fenícios como exemplo, que já
nos séc X e IX a.C. tinham colónias no norte de África, (Cartago).[3] A palavra comércio surge
assim do cum merx ou escambo de mercadoria, derivando em cummercium para CAVALCANTE.[4] Ou
do latim commutatio mercium significando troca de mercadoria segundo TOMAZETTE.[5]
O comércio surge assim como “o ramo de actividade que tem por objecto a aproximação de
produtores e consumidores, para a realização ou facilitação de trocas” BORGES.[6]
É controversa a fixação da data do surgimento do direito comercial, havendo autores que indicam o
código de Hamurabi elaborada a mais de 2000 a.c como precursor, não sistematizada do direito
comercial.
Mais do que a referida controversa importa reconhecer o contributo, mesmo que indirecto que tanto
os povos da antiguidade como assírios, babilónicos gregos, passando pelos indianos até aos romanos
deram para o seu surgimento.
A actual doutrina pacificamente assente, aponta a idade média, com o surgimento e ascensão da
burguesia, como marco da sistematização de normas referentes a actividade dos comerciantes,
direito comercial.
A crise e o declínio do sistema feudal condicionaram o surgimento dos burgos (cidades de muros
onde habitavam os comerciantes) e corporações de mercadores nas quais se encontravam pessoas
de uma mesma profissão, de uma mesma religiosidade e que mantinham uma relação de protecção
mútua
Elas visavam a protecção dos comerciantes contra o sistema feudal decadente e foram ganhando
poder político, militar e económico.
A insatisfação com as regras do direito comum fez com que os comerciantes criassem uma estrutura
jurídica própria das corporações comercias, dando corpo a primeira sistematização do direito
comercial.
SISTEMA SUBJECTIVO
XII a XVIII – Período Subjectivo – Critério Corporativista – Direito Fechado e classista, privativo de
quem era matriculado nas corporações de mercadores (corporações de ofício). Lex Mercatoria.
O direito comercial exercido no interior das corporações era subjectivistas, pois baseado nos
estatutos das corporações e no costume mercantil, e mais tarde na jurisprudência, só se aplicava aos
membros das corporações pelos juízes consulares.
Com o tempo os juízes consulares ampliaram o seu poder e modificaram as regras das corporações
tornando as extensivas aos que não estando inscritos nas corporações praticavam actos condizentes
com o comércio. Código Comercial de 1833 de Ferreira Borges
SISTEMA OBJECTIVO
XVII em diante – Período Objectivo – Liberalismo Económico – Destaque para o Código Comercial
Francês (Código de Napoleão de 1807) – liberdade para comerciar – Comerciante era aquele que
praticava ato de comércio – Ato de Comércio previstos em lei.
Passou-se desta a forma a considerar comerciante não só o sujeito membro das corporações, mas
também o acto por si mesmo considerado como sendo de comércio, fosse quem fosse o indivíduo
que o praticasse.
Este foi o sistema acolhido no primeiro código francês de 1673, depois no de 1807. E acolhido no
código português 1888 de Veiga Beirão, que por força da colonização vigorou no nosso pátrio solo
até 2006, altura em que entrou em vigor o Decreto-Lei n.º 02/2005, de 27 de Dezembro.
Importa recordar que o diploma legal retro citado constitui o instrumento pelo qual foi aprovado o
primeiro Código Comercial Moçambicano, pois com a independência do país em 1975, herdou-se o
código comercial colonial limitando-se o legislador nacional a aprovar legislação complementar
avulsa.
Refira-se que enquanto no sistema subjectivista, classista os comerciantes eram os que no exercício
de suas profissões praticavam regular e não aleatoriamente o comércio. No sistema objectivista
baseado no acto de comércio já se admitia actos avulsos ou isolados de comércio praticado por não
comerciantes (profissionais).
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A concepção de que o direito comercial devia regular outras matérias, ultrapassando os limites do
acto de comércio, conduziu a alteração do foco deste ramo, elegendo-se o empresário, a empresa
como um todo como o seu novo objecto de regulamentação.
O direito comercial moderno também designado direito empresarial voltou a centrar-se no carácter
objectivo focando a categoria profissional do empresário enquanto pessoa que exerce actividade
voltada para produção e circulação de bens e serviços.
Direito comercial
Conceito
É o conjunto de normas jurídicas (direito privado) que disciplinam as actividades das empresas e dos
empresários comerciais (actividade económica daqueles que actuam na circulação ou produção de
bens e a prestação de serviços), bem como os actos considerados comerciais, ainda que não
directamente relacionados às actividades das empresas, conforme MAMEDE 2007[8].
O direito comercial consiste no corpo de normas, conceitos e princípios jurídicos que regem os factos
e as relações comerciais
Objecto
O direito comercial tem como objecto o empresário, o estabelecimento comercial bem como os
actos considerados comerciais. [9] ou seja a lei comercial regula a actividade dos empresários, bem
como os actos considerados comercias.[10]
Natureza jurídica
Na dicotomia direito público e direito privado, o direito comercial revistas as teorias tanto da
qualidade do sujeito, quanto a do interesse prosseguido como a eclética pertence ao ramo do
direito privado visto que cuida de relações entre sujeitos em mesma posição jurídica, prossegue fins
particulares e o Estado despe-se do ius imperium quando em relações comerciais.
Âmbito
Trata-se dum ramo de direito, como já vimos, que se autonomizou para primeiro regular as relações
dos comerciantes satisfazendo necessidades peculiares da classe e depois estendeu-se a outros
sectores da economia obrigando a surpreender num conjunto de actos a sua aplicação. Aplicando-se
modernamente actividades humanas que convenientemente carecem de tutela jurídica desta
disciplina.
Por isso, entende-se pacífico esteiar - se nas próprias normas jurídicas para se delimitar o seu
objecto, elas é que qualificam e caracterizam os sujeitos e as matérias comerciais, dai tratar-se dum
conceito jurídico.
O direito comercial actual abrange a teoria geral da empresa; as sociedades comerciais; os títulos de
crédito; os contratos mercantis; a propriedade intelectual; a relação jurídica de consumo; a relação
concorrencial; a locação empresarial; a falência e recuperação de empresas[11]
Autonomia
Duas teses digladiaram-se neste aspecto. A tese unitária encabeçada por VIVANTE defendia, em
suma, que era cinzenta a zona de fronteira entre o direito civil e do direito comercial, por não haver
um critério objectivo seguro, com institutos comuns entre os dois ramos por um lado.[12] Por outro,
a tese encabeçada por Rocco e Heck que aponta para a necessidade de regulação específica da
actividade comercial dada sua peculiaridade, sobretudo considerando-se a actual concepção de
direito da empresa.[13]
O carácter dinâmico e inovador da actividade comercial que serviu de fundamento para um sistema
derrogatório do direito civil comum, passando das antigas corporações de ofícios manufactureiras
por exemplo às actuais multinacionais, explica a autonomia do direito comercial.
Embora seja um ramo autónomo do direito privado, mantém íntimas relações com outras áreas do
direito, com relevo para o Direito Civil.
Tanto o direito civil quanto o comercial regulam as relações jurídicas entre os particulares. Contudo,
diversamente do direito civil que regula as relações particulares no geral, o direito comercial regula
uma gama especial de relações particulares.
Assim o direito comercial é um ramo especial em relação ao direito privado comum (civil) donde se
desintegrou para acomodar exigências concretas dum sector até então com regulamentação
insatisfatória.
Importa destacar que a relação de especialidade do direito comercial nate o direito civil não se
traduz em excepcionalidade, o direito comercial é especial e não excepcional ao direito civil.
Apontam-se como diferenças entre o direito comercial e o direito civil com base nas seguintes
características, de acordo com Crepaldi [14]
Esmiuçando adianta
. Livre iniciativa
. Livre concorrência
. Propriedade privada
. Preservação da empresa
. Princípios contratuais
. Princípios cambiários
Fontes
Primária
Como fontes primárias temos os meios pelos quais as normas jurídicas se manifestam exteriormente,
(artigo 1.º CC). Nessa categoria temos as leis no sentido lato. Exemplos a Constituição da República
de Moçambique - CRM; Código Comerciais – C.Com, aprovado pelo Decreto Lei n.º 02/2005 de 27 de
Dezembro, o Decreto Lei n.º 01./2013 de 04 Julho que aprova o regime da Falência e Recuperação
Judicial das empresas ; Decreto n.º 06/2004, de 12 de Abril que aprova o código da Propriedade
Industrial.
Secundárias
Na ausência de norma específica de direito empresarial deve-se recorrer a essas fontes, nessas
enquadram-se os usos e costumes, podem ser: Secundum legem: previstos em lei; Praeter legem –
na omissão da lei; e Contra legem: contra lei (cheque pós-datado), a doutrina e a jurisprudência.
O regime da interpretação da lei comercial apela para aplacação do regime geral previsto pelo
artigo 9.ºCC,donde ressaltam a necessidade de se atender a mens legis, a sua mínima
correspondência literal, a presumida sabedoria do legislador e a unidade do sistema jurídico, dando
azo aos vários tipos de interpretações sobejamente conhecidas, mormente a literal, a histórica e a
teleológica.
A integração de lacunas na lei comercial por sua vez obedece a especificidade prevista no artigo 7.º
C. Com donde resulta o dever de se recorrer antes as normas internas do direito comercial e só na
falta destas as normas externas do direito civil que não sejam contrárias aos princípios deste especial
ramo de direito.
A aplicação da analogia das próprias normas do direito comercial para casos omissos justiça-se pelo
facto deste ramo ser autónomo, com um corpo de normas que lhe são peculiares por um lado. Por
outro porque as suas normas não são de carácter excepcional, pois para normas excepcionais a
analogia é proscrita nos termos da previsão do artigo 11.º CC.
Embora especial o direito comercial, as normas do direito civil são lhe subsidiárias. Dai que se
permita que em casos omissos e na falta de previsão nas normas do direito comercial se recorra as
normas do direito civil para que a lacuna seja integrada.
Percutindo, a integração de lacunas na lei comercial verifica-se com recurso, primeiro de normas do
próprio direito comercial e na falta destas com recurso as normas do direito civil, o que levanta
questão de identificação de umas e outras.
A habilidade para destrinçar normas do direito comercial das do direito civil depende da delimitação
do âmbito do direito comercial. Com recurso a teoria subjectivista e objectivista se aferirá se um acto
ou relação é comercial, se não o for será civil. Exemplos previstos pelos artigos 3.º e 4.º C.Com.
Só depois de se tornar assente que o acto ou relação jurídica é comercial pode-se definir o seu
regime e verificar a existência ou não de lacunas a integrar.
[1] PERINE, Marcelo, República /Platão; Tradução e adaptação em português, 1 edição. São Paulo:
Scipione, 2001
[2] MARTINS, Fran Martins. CURSO DE DIREITO COMERCIAL, Rio de Janeiro, 1996
[3] ALEJARRA, luís Eduardo Oliveira, Historia e evolucao do Direito Emperarial.Jus Navigandi, ano 18
n 3553, 24 mar.2013,Disponivel em <http:jus.com.br/artigos/23971>.acesso em 13 de Fev.2014
[4] CAVALCANTE, Benigno, Manual do Direito Comercial, 1 edição, Leme: Cronus, 2010
[5] TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: teoria geral e direito societário, 2 edição São
Paulo, Atlas, 2009
[6] BORGES, José Ferreira, Dicionário Jurídico Comercial, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1953.
[8] MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: empresa e atuação empresarial, volume 1. 2.
ed. São Paulo: Atlas, 2007. 370 p
[11] CREPALDI, Silvio Aparecido. Direito empresarial: apliação e características. In: Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XI, n. 53, maio 2008. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2772>. Acesso em fev 2014.