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4 março 2020
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Quando o presidente Jair Bolsonaro tomou posse, no dia 1º de janeiro, a mediana das
estimativas de consultorias e instituições financeiras para o Produto Interno Bruto (PIB)
reunidas pelo Banco Central no boletim Focus apontava um avanço de 2,53%.
O dado oficial, divulgado nesta quarta (4/03) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), não chegou à metade disso: 1,1%.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 1/16
05/03/2020 PIB: Por que 2019 frustrou mais uma vez as expectativas de crescimento da economia? - BBC News Brasil
3,0
2,8
2,6
2,4
2,2
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
01/02/2019 01/06/2019 01/10/2019
Em 2018, os números eram ainda mais otimistas, 2,7%. Em um ano em que a redução de
juros pelo Banco Central não teve o efeito positivo esperado sobre a economia e em que
uma greve de caminhoneiros parou o país por dez dias, a economia cresceu 1,3%.
Após sair da maior crise de sua história, o Brasil cresce há três anos seguidos no mesmo
ritmo, contrariando a lógica de outros ciclos de recessão, em que a recuperação geralmente
foi mais vigorosa em um primeiro momento.
O que aconteceu?
Parte do crescimento modesto do PIB em 2019 se deve a três choques importantes.
A indústria extrativa, de acordo com os dados do IBGE, recuou 1,1% no ano passado.
A recessão na Argentina, por sua vez, teve um impacto forte sobre a indústria de
transformação.
PIB do Brasil
Entre 2010 e 2019
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 2/16
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8
7
6
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Não por acaso, o segmento que mais contribuiu para a queda de 1,1% da produção industrial
no Brasil em 2019 foi o de bens intermediários, que recuou 2,2% em relação a 2018.
O "efeito Argentina" tirou 0,55 ponto percentual do PIB brasileiro no ano passado, de acordo
com a estimativa da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV)
Luana Miranda.
O cenário internacional mais adverso ajuda a explicar, por exemplo, porque as exportações
brasileiras caíram quase 6% no ano passado — apesar do dólar mais caro.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 3/16
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Um estudo publicado pelo Banco Central com uma análise do comércio exterior no Brasil
entre 2002 e 2018 destacou que as exportações no Brasil são mais sensíveis ao crescimento
global do que ao câmbio.
Quando o mundo cresce menos, o Brasil vende menos para fora, apesar do ganho de
competitividade que vem do real desvalorizado.
A medida desse indicador dentro do PIB, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), cresceu
2,2% no ano passado. O resultado é inferior ao de 2018 (3,9%) e bem mais modesto do que
o esperado pelos economistas no início de 2019 — a projeção do Ibre era de 4,7%.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 4/16
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FBCF
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180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1T08 1T09 1T10 1T11 1T12 1T13 1T14 1T15 1T16 1T17 1T18 1T19
É uma componente importante do PIB porque, via de regra, sinaliza aumento no potencial de
crescimento da economia.
Com o resultado de 2019, o nível dos investimentos ainda está mais de 20% abaixo do pico
registrado em 2013.
Apesar de os choques terem tido papel importante no resultado, o ambiente interno, apesar
dos juros baixos, não contribuiu para que as empresas tirassem os projetos da gaveta, avalia
a coordenadora do Boletim Macro do Ibre, Silvia Matos.
"A falta de clareza na agenda de reformas gera muita incerteza no investidor", ela pontua.
ADRIANO MACHADO/REUTERS
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 5/16
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"A sensação é de que estamos fazendo pouco para construir o futuro", diz a economista,
referindo-se ao aumento da instabilidade política e fiscal no país.
A situação atual seria em parte um "ajuste aos excessos que aconteceram antes", que podia
ser minimizado com uma maior participação do capital privado.
A incerteza política e fiscal, contudo, aumentam o risco para esses investimentos, pondera a
especialista, que é um dos seis membros do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos
(Codace) da FGV.
Essa composição, entretanto, limita o potencial de crescimento do país, diz Silvia Matos, já
que o comércio e os serviços não têm o mesmo "efeito multiplicador da indústria".
São setores menos produtivos, que demandam nível menor de investimentos e pagam
salários mais baixos.
"O crescimento pautado no consumo é mais volátil", concorda Rafael Pananko, da Toro
Investimentos.
O economista destaca, por outro lado, que a recuperação do setor da construção civil, que
avançou 1,6% em 2019 após cinco anos consecutivos de retração, de acordo com os dados
do PIB, deve contribuir para o crescimento em 2020.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51714002 6/16
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A do Ibre-FGV foi revisada de 2,2% para 2%. Matos considera "prematuro" falar em um
crescimento mais próximo de 1,5%, que ela reserva para um "cenário mais pessimista".
Em sua avaliação, o efeito positivo da redução da taxa básica de juros sobre o crédito deve
sustentar o consumo neste ano.
Em janeiro, ainda antes da incerteza trazida pelo coronavírus, ele estimava crescimento de
1,5% para o PIB brasileiro em 2020.
Sua leitura é que, além das limitações impostas pelo baixo investimento e pela fragilidade da
indústria, o consumo tem uma capacidade limitada de estimular a economia neste ano.
De outro, o mercado de trabalho segue dando sinais de que se recupera de maneira lenta,
com geração de emprego de baixa qualidade.
Nesta semana, o analista cortou a projeção para 1,3%, antecipando parte dos efeitos
negativos que o coronavírus deve ter sobre a economia brasileira.
Não foi a única revisão. O economista Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América
Latina do Goldman Sachs, diminuiu significativamente a estimativa para o Brasil, de 2,2%
para 1,5%.
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O país está exposto aos riscos econômicos que surgiram com a disseminação do
coronavírus de diferentes formas.
Uma delas é a balança comercial. A queda nos preços de commodities como petróleo, soja e
minério de ferro — resultado da expectativa de desaceleração da economia chinesa —
devem reduzir o superávit esperado para o ano.
Se o surto afetar a China por muito tempo, há ainda um risco de queda na demanda do país
por esses produtos. Nesse caso, o impacto sobre a balança não viria apenas pelo canal do
preço, mas também do volume.
Em um relatório divulgado na segunda (2/03), a OCDE revisou de 2,9% para 2,4% a projeção
para o crescimento global por conta da disseminação da covid-19.
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Esse cenário leva em consideração que os efeitos negativos para a economia causados pela
doença ficarão concentrados no primeiro trimestre e que o surto fora da Ásia será mais
suave.
Com essas premissas, a instituição manteve inalterada a estimativa que tinha para o PIB do
Brasil, de 1,7%.
A OCDE alerta, entretanto, que se o surto for mais intenso e disseminado do que o esperado,
o PIB global poderia cair à metade do esperado antes da revisão, para 1,5%, levando países
como o Japão e a Zona do Euro à recessão.
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