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Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos em Belo Horizonte:


identificação de áreas com potencial para instalação de LEV
(Locais de Entrega Voluntária) em curto prazo.

Eduardo Coutinho de Paula


Raphael Tobias de Vasconcelos Barros
Anderson Paulino de Souza

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG


Endereço: Avenida Antônio Carlos, 6.627 - Bloco 1 - Sala 4618 - Pampulha - Belo Horizonte
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Contextualização

• Aumento da geração per capita de resíduos: contaminação dos recursos solo,


água e ar, desvalorização imobiliária, desencadeamento de vetores de doenças e
enchentes.

• Déficit sanitário: estima-se que metade da população urbana de países em


desenvolvimento não é atendida por serviços de coleta de resíduos e o volume de
resíduos municipais gerados deve continuar a crescer de forma acelerada até 2025.

• Gestão ineficiente: baixos investimentos em infraestrutura e educação socioambiental.

• Coleta Seletiva: redução do volume de resíduos sólidos descartados no meio


ambiente e reinseri-los na cadeia produtiva como insumos/matéria-prima ou produtos.
Conceitos e Legislação
• Coleta Seletiva
Separação de materiais recicláveis, orgânicos e
inorgânicos nas fontes geradoras, sendo coletados e
encaminhados para a reciclagem (IBGE, 2008).

• Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010)


• Marco regulamentar da gestão de resíduos sólidos.
• Lei Municipal 10.534/2012 (Belo Horizonte)
Classifica resíduos sólidos em:
• I. Resíduos sólidos públicos (resíduos lançados em logradouros públicos,
recolhidos por serviços regulares de limpeza urbana);
• II. RDO - Resíduos sólidos domiciliares (resíduos originários de residências,
edifícios públicos e coletivos, de comércios e indústrias, desde que
apresentem características típicas de residências);
• III. Resíduos sólidos especiais (requerem manipulação técnica diferenciada,
resíduos de serviços de saúde, resíduos da construção civil, volumosos,
perigosos, entre outros).
Coleta Seletiva - Capitais
• Coleta Seletiva nas Capitais das Regiões Sul e Sudeste

Tabela 3: Dados Gerais da Coleta Seletiva em Capitais das Regiões Sul e Sudeste, SNIS (2016)
Dados Gerais da Coleta Seletiva em Capitais da Região Sul e Sudeste do Brasil - SNIS - 2016
Município Massa Total de Quantidade Massa per capita Relação Taxa de Valor
resíduos coletada recolhida recolhida via entre cobertura contratual
per capita em (exceto coleta seletiva quantidade da coleta do serviço
relação à matéria (kg/habitante/dia) via coleta seletiva de coleta
população total orgânica) seletiva e porta-a- seletiva
atendida (t) RDO (%) porta (%) (R$/t)
(kg/habitante/dia)
São Paulo 0,87 86.064,00 7,21 2,32 70,00 100,00
Belo Horizonte 0,93 7.281,90 2,90 1,08 14,95 613,98
Curitiba 0,88 25.543,90 13,49 4,96 99,23 1000,00
Vitória 0,93 2.670,80 7,43 - 4,21 595,10
Rio de Janeiro 1,33 32.546,10 5,01 1,65 63,35 -
Florianópolis 1,15 11.700,00 25,45 - 80,32 -
Porto Alegre 1,10 21.463,00 14,49 5,38 100,00 450,86
Reciclagem: Custos e GEE
Tabela 1: Custo Primário x Custo a Partir da Reciclagem (2018)
Material Custo da Custo da Produção a Benefício Líquido Relação Custo
Produção Partir da Reciclagem (R$/t) Reciclagem/Custo
Primária (R$/t) (R$/t) Primário (%)
Aço 860,26 662,34 197,92 76,99%
Alumínio 9603,14 5371,96 4231,18 55,94%
Celulose 1070,65 556,36 514,29 51,96%
Plástico 2789,62 957,59 1832,03 34,33%
Vidro 409,87 222,86 187,01 54,37%

Tabela 2: Emissão de GEE: Produção Primária x Produção a partir da Reciclagem


Material Custos ambientais Custos ambientais Benefício Relação Emissão
associados à emissão de associados à emissão Líquido da GEE
GEE para Produção de GEE para Reciclagem Reciclagem/Produção
Primária (t COeq/t) Reciclagem (t COeq/t) (t COeq/t) Primária (%)
Aço 1,46 0,02 1,44 1,37%
Alumínio 5,1 0,02 5,08 0,39%
Celulose 0,28 0,01 0,27 3,57%
Plástico 1,94 0,41 1,53 21,13%
Vidro 0,6 0,35 0,25 58,33%
Belo Horizonte, MG
Área de Estudo
- 331 km² / 2,5 milhões de habitantes
- 96% atendida por serviços de coleta de resíduos
sólidos urbanos domiciliares (RDO).
- Geração de RDO: 671.803,70 t (2016)
• Custo de coleta: R$ 121,25/t
- Gasto total com manejo de RDO:
• R$ 387.874.197,93 (2016)
• Suficiente para suprir 53,53% das despesas
relacionadas à gestão de resíduos
• Aterro Sanitário: CTR Macaúbas (Sabará, MG)
• Distância: 17 km
• Custo de tratamento: R$ 46,16/t

• Modalidades de Coleta de RDO


• Indiferenciada: áreas de urbanização formal.
Frequência: diárias, duas ou três vezes por semana.
• Seletiva de Materiais Recicláveis: Papel, Metal,
Plástico e Vidro. Frequência: semanal ou quinzenal.
Gestão de Resíduos
• Fluxo básico de gestão de resíduos: Belo Horizonte (2013)
Coleta Seletiva em Belo Horizonte
• Atende 15% da população
• Taxa de material recolhido (exceto matéria orgânica): 1,08%
• Massa per capita recolhida via coleta seletiva: 2,27 kg/habitante.ano
• Porta a Porta:
população segrega em
seu domicílio os
recicláveis, acondiciona e
dispõe no passeio para o
recolhimento semanal
agendado.
• 470 t/mês (SLU, 2014).

• Ponto a Ponto: população


separa os recicláveis e os
deposita em contentores
instalados pela prefeitura,
Locais de Entrega Voluntária
(LEV).
• 70 LEV ativos
• 225 contentores
• 143 t/mês (SLU, 2014).
• Cooperativas: programa
de reciclagem da prefeitura
• 7 associações
• 9 unidades
Gestão de Resíduos
• Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte
Locais de Entrega Voluntária - LEV
• Projeções de ampliação da disposição de LEV
• Foco do PMGIRS-BH: aumentar taxa de reciclagem de RDO
• 2016: 7.281,90 t/ano de RDO foram recolhidas via coleta seletiva
• 2036 a quantidade de recicláveis recolhidos será de 76.813 t/ano
• 30.725 t/ano via sistema Ponto a Ponto
• 38.407 t/ano via coleta Ponto a Ponto Conteneirizada Automatizada
• 7.681 t/ano via Porta a Porta (não considerado como LEV)
• Coletas Ponto a Ponto e Ponto a Ponto Conteneirizada Automatizada foram
consideradas LEV, totalizando 69.139 t/ano (2036)

• Limitações da estrutura atual de LEV


• Capacidade atual de recebimento: 1.716 t
• Meta: 69.139 t/ano (2036)
• Necessidade: aproximadamente 2.820 LEV,
número cerca de 40 vezes superior ao
existente
Objetivos
• Identificar áreas no município de Belo Horizonte com potencial
para instalação de equipamentos destinados ao
recebimento/armazenamento de resíduos recicláveis em curto
prazo: LEV (Locais de Entrega Voluntária).

• Analisar potencialidades e fatores limitantes relacionados à


gestão de resíduos recicláveis em Belo Horizonte/MG.

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Metodologia
• Consultas, obtenção de dados e informações
• Referências digitais/bibliográficas, legislação, bases cartográficas, mapas
temáticos, documentos e relatórios técnicos relacionados à gestão de resíduos
sólidos no município de Belo Horizonte/MG.

• Aplicação de técnicas de geoprocessamento


• Análises espaciais e processamentos: softwares ArcGis 10.5.1 e QGis 3.1.0
• Fonte de Dados vetoriais (shapefile): PRODABEL
• Técnicas aplicadas: Álgebra de Mapas e Superposição
• Critérios de seleção de localidades (potencial para instalação de LEV):
a) Bairros com densidade populacional superior à densidade populacional
média identificada no município de Belo Horizonte (7.593 habitantes/km2),
disponível no CENSO 2010 (IBGE);
b) Proximidade a escolas e/ou praças: distância máxima de 200 m;
c) Áreas situadas fora da região de abrangência usual de LEV instalados:
distância mínima de 1.000 m;
d) Áreas situadas fora de regiões associadas a alto risco de inundação e/ou
enchentes.
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Seleção dos Locais para Instalação de LEV
A B C D

A B AB C ABC D

A ∩ B = AB AB ∩ C = ABC ABC ⊄ D

• Álgebra de Mapas (apenas mapas de entrada e fluxos, mapas resultantes das operações não são apresentados acima)

• A) Bairros com densidade populacional superior à densidade populacional média de Belo Horizonte;
• B) Proximidade a escolas e/ou praças;
• C) Áreas situadas fora da região de abrangência usual de LEV já instalados;
• D) Áreas situadas fora de regiões com alto risco de inundação/enchentes
Resultados – Locais de Instalação de LEV

• Locais com maior potencial para instalação de LEV em curto prazo


• Os mapas com as áreas sugeridas para instalação de LEV abrangem 5.609 logradouros (subdivididos em trechos de
arruamento), conferindo razoável nível de acessibilidade aos equipamentos de reciclagem, sendo que cerca de 36%
dos logradouros registrados na cidade de Belo Horizonte foram contemplados (15.465 logradouros cadastrados,
PRODABEL, 2017).
Resultados - Financeiros
Quadro 1: Custos Evitados e Não Recuperados com Aterro/Tratamento de Recicláveis
Projeção de Geração de Resíduos Sólidos Recicláveis - PMGIRS-BH
Ano Gerados (t) Coletados (t) Taxa de Recuperação Recuperados (t) Destinados ao Aterro (t)
2036 216.163,00 76.813,00 90% 69.131,70 7.681,30
2016 (ano base) 7.281,90 78% 5.697,20 1.584,70
Ano Custos Evitados - Aterro Sanitário CTR Macaúbas: R$ 46,19 / tonelada (Referência 2016)
2036 R$ 3.193.193,22
2016 R$ 263.153,67
Ano Custos Não Recuperados - Aterro Sanitário CTR Macaúbas: R$ 46,19 / tonelada (Referência 2016)
2036 R$ 354.799,25
2016 R$ 73.197,29
Ano Saldo (Custo Evitado - Custo Não Recuperado)
2036 R$ 2.838.393,98
2016 R$ 189.956,38
Resíduos Totais Gerados em Belo Horizonte (t) Custo de Tratamento/Aterramento
Ano de Referência Geração (t) CTR Macaúbas, Sabará-MG (2016)
2036 677.444,00
R$ 46,19
2016 671.803,00

• Análise de Custos (2036)


• Observa-se que, para o ano 2036, os gastos evitados com aterro de recicláveis podem alcançar o valor de R$
3.193.193,22, enquanto os custos destinados ao aterro de material não recuperado poderiam chegar a R$
354.799,25, tendo como resultado uma economia de R$ 2.838.393,98 (SLU, 2016)
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Considerações Finais
- Gestão de resíduos tem caráter multidisciplinar, ao passo que
soluções pontuais e não integradas resultam em baixa efetividade.
- Reciclagem tem papel importante para a redução de custos,
mitigação de impactos, conservação de recursos/energia e inserção
social de pessoas que dependem economicamente da coleta,
processamento e venda de resíduos.

- Um dos entraves à gestão de resíduos é o baixo investimento em


ações de planejamento e pouca informação referente às
características, quantidade e composição dos recicláveis.
- O PMGIRS-BH, embora apresente metas tímidas referentes à
reciclagem, mostrou-se um instrumento importante para
implementação de políticas de gestão de resíduos de longo prazo.

- Este estudo evidenciou o potencial de reciclagem vinculado à


implantação de LEV, equipamentos com capacidade para prover
maior efetividade na recuperação de insumos/matéria-prima,
redução do consumo energético, integração social, geração de
renda e conservação dos recursos naturais.
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Referências
• 1. BELO HORIZONTE (Município). Lei nº. 10.534, de 11 de setembro de 2012.
Disponível em: <http://www.cmbh.mg.gov.br/leis/legislacao/pesquisa>. Acesso em:
Maio de 2018.
• 2. BELO HORIZONTE (Município). Prefeitura de Belo Horizonte – PBH. Plano
Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte - PMGIRS/BH.
2015.
• 3. BELO HORIZONTE (Município). Prefeitura de Belo Horizonte – PBH. Relatório
Consolidado do Diagnóstico dos Resíduos Sólidos - PMGIRS/BH. 2016.
• 4. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 12.305/2010. Institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>, acessado em 18. mai. 2018.
• 5. COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM (CEMPRE), 2015. Cempre
Review 2015. Http://Cempre.Org.Br/Artigo-Publicacao/Artigos, 21.
• 6. DAMBROS, I. V.; CRUZ, S. F. de O. Gestão dos resíduos sólidos. In: SCALOPPE, L.
A. E. (Org.) Seminários Regionais Ambientais – Vol. I. Cuiabá: KMC Editora, 2012.
• 7. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Indicadores de
desenvolvimento sustentável: Brasil 2008. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/default_2008.shtm>.
Acesso em: 20 mai.
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Referências
• 8. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Relatório sobre
Pagamento por Serviços Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos. Brasília: IPEA
2010. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/100514_relatpsau.pdf>. Acesso
em: 17 de Julho de 2018.
• 9. MUCELIN, Carlos Alberto; BELLINI, Marta. Lixo e impactos ambientais perceptíveis
no ecossistema urbano. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v.20, N.1, 111-124 p., jun.
2008.
• 10. SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (2014,2016).
Disponível em: <http:\\www.snis.gov.br>. Acesso em: Maio de 2018.
• 11. ORNELAS, A. R. (2011). Aplicação de métodos de análise espacial na gestão dos
resíduos sólidos urbanos, 101.
• 12. SUPERINTENDÊNCIA DE LIMPEZA URBANA. SLU. Dados. Belo Horizonte, 2012-
2018.
• 13. THEISEN, H. Integrated solid waste management. Nova Iorque: McGraw-Hill,
1993.
• 14. THOMAS, J. M. (2010). Economia Ambiental: Fundamentos, políticas e aplicações.
São Paulo: Cengage Learning.

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III-163

Obrigado.

Eduardo Coutinho de Paula


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Raphael Tobias de Vasconcelos Barros


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