Introdução:
O livro é uma coletânea de textos que foram produzidos no Programa de Educação de
Jovens e Adultos (PEJA), da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
Ao longo dos nove artigos que compõem o trabalho, as reflexões são marcadas pelo
diálogo e apropriações conceituais das proposições freireanas, assim como do sócio
construtivismo e da perspectiva histórico-cultural.
O artigo tem como objetivo, contribuir com o debate sobre alfabetização na EJA; sua
construção recupera a própria trajetória da autora no espaço acadêmico (mestrado,
doutorado) e profissional (professora de alfabetização e gestora de EJA, junto a
secretaria municipal).
A autora localiza nas práticas da EJA algumas mudanças ocorridas nos últimos anos,
notadamente no que tange: flexibilização de tempos e espaços, formulação de
propostas pedagógicas e curriculares; ações essas que consideraram a bagagem
experiencial dos sujeitos dessa experiência educativa.
Tais mudanças, sobretudo, a partir dos nos de 1990, ratificam a ideia de que a
alfabetização na EJA deve ser um meio de emancipação e transformação das pessoas e
da sociedade e, para isso: a grande contribuição do trabalho apresentado é a ênfase
na formação de leitores e escritores durante o processo de alfabetização.
Influenciada por diversas contribuições de campos teóricos que vão da produção
freireana, passando pelo construtivismo, como também, pelo interacionismo, além da
perspectiva sócio histórica, a alfabetização pensada e proposta pelo PEJA, atrela-se ao
caminho sócio histórico da aquisição da leitura e escrita pelos sujeitos.
Dessa maneira, existe uma defesa de que não é possível dissociar a perspectiva de
alfabetização de letramento e, portanto, entende que a aquisição do sistema
convencional de escrita ocorre concomitante ao desenvolvimento de habilidades de
uso desse sistema em atividade de leitura e escrita, sendo que estes processos não
são independentes, mas interdependentes e indissociáveis:
Alfabetização e currículo
Por conseguinte, a tarefa da escola (EJA) deve objetivar que esta leitura da palavra
sirva como instrumentos da (re)leitura do mundo, prática realizada constante e
concomitantemente a leitura do mundo.
Assim, o currículo da EJA precisa ser construído cotidianamente em sala de aula, com
os alunos. Essa construção apresenta uma demanda que a sala de aula se efetive
como um espaço de aprendizagem e leitura.
Vale pontuar que a prática da EJA pode proporcionar através de situações de escrita e
leitura reflexões sobre o próprio desenvolvimento da aprendizagem, tornando os
estudantes em corresponsáveis do seu percurso.
As narrativas dos alunos revelam algumas necessidades para o “fazer e pensar” sobre
alfabetização na EJA:
“Eu não sei falar direito. Eu vim pra escola pra aprender a falar certo”
“Não sei por que você vem com texto se eu não sei ler...o que eu vou fazer com ele?”
Para isso deve a escola investir na leitura de diferentes tipos de textos, pois aprender
a ler e praticar a leitura implica saber como funcionam os textos nas diversas praticas
sociais, transitar entre estas práticas e saber buscar conhecimento para continuar
aprendendo ao longo da vida deve ser objeto de cuidado no fazer pedagógico da EJA.
Os sujeitos da EJA
Para autora, a relação entre ensino e aprendizagem requer a percepção das diversas
possiblidades de educar e dos diferentes meios utilizados para alcança-lo, dentre os
quais enfatiza a leitura de textos literários.
Livro e educação
Em meados dos anos de 1950, o corre uma ruptura em relação às praticas escolares e
o uso do livro. Com Paulo Freire um novo paradigma teórico pedagógico voltado para a
educação de adultos, pautada em uma educação dialógica, de cooperação, e de
solidariedade, na qual a formação do aluno leitor adulto estabelece um novo estatuto
para o ato de ler:
Atualmente o livro não se constitui um objeto comum nas famílias dos educandos, seja
pela dificuldade de acesso, seja pela não valorização social e cultural.
Diante disso, a autora pontua que ao inserir o livro no contexto escolar da EJA, a
resistência se fez presente, sobretudo pelo fato de que alunos consideravam que não
dominavam o código escrito a contento.
Para que os alunos desenvolviam o gosto e, isso tem que ser constituído no cotidiano,
pontua a autora que os professores precisam revelar no ato de ler com eles, a
personalidade leitora, pois o professor é o principal referencial de leitura para o aluno.
Portanto, a EJA precisa contar com atividades como contação de historia, rodas de
leituras e tertúlias, pois essas tem um papel fundamental na construção do processo
de relação entre leitor e o livro.
Finalmente, é importante reafirmar que refletir sobre a EJA significa refletir sobre os
múltiplos sujeitos que a compõem, proporcionado a vivência de novas experiências,
conceitos e abordagens a partir de diferentes oportunidades, consolidando assim o
papel da escolarização para esse público, no compromisso que faz da leitura uma
condição fundamental para a construção da leitura do mundo, que sempre precede a
leitura.
Desde os anos de 1990, para realizar tal perspectiva, o governo brasileiro vem
pensando a importância da formação continuada para educadores e professores da
EJA. O destaque maior para esse debate consolida-se com a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos, quando a UNESCO (órgão da ONU) produz um relatório sobre as
demandas por educação no mundo todo:
Importante, dessa maneira, é entender que a EJA, antes vista como suplência, hoje é
uma modalidade de ensino que deve assegurar o acesso a educação a todos que tem
mais de 15 anos e que encontram-se em distorção idade-série. Não considerar isso, faz
com que o sistema educacional ratifique as discriminações e preconceitos socialmente
construídos para essa população.
Vale pontuar que ainda neste momento, do ponto de vista educativo, a escola não tem
conseguido com suas propostas curriculares responder as demandas diárias dos
sujeitos que frequentam a escola. Diante disso, tem-se evidenciado um afastamento
de alunos do Ensino Fundamental regular; retornando, posteriormente na EJA. Soma-
se a esse grupo, a migração para essa modalidade, de alunos da Educação Inclusiva
que ao atingirem o limite de idade de permanência nessa modalidade, deslocam-se
também para a EJA.
Vale pontuar que a maioria dos sujeitos desse grupo quando atingem a maioridade
passam a integrar a EJA e, o debate sobre a perspectiva inclusiva ganha novos
contornos.
Tal demanda ratifica a validação da Declaração Mundial sobre Educação para Todos,
notadamente em seu 3º artigo que diz respeito a diversidade.
Vale lembrar que a deficiência é compreendida a parti da relação entre os aspectos
biológicos e socioculturais, no qual cada um deles não pode ser pensado sem estar
articulado com o outro.
A defesa de politica de inclusão escolar e social aparece nos diversos movimentos pela
igualdades de condições sociais, entre os quais o de educação. Desta forma, aparecem
nas propostas educacionais baseadas em novas teorias educacionais que sinalizam
para a necessidade de mudanças nas concepções pedagógicas dos profissionais da
educação.
Diante disso, tem sido objeto de atenção nas universidades a questão de formação do
profissional que atua com esta modalidade na escola, seja em sua formação inicial,
assim como na formação continuada.
Este profissional precisa entender que o sujeito (educando) da EJA deve ser motivado a
aprender, respeitando suas potencialidades e possibilidades, o que inclui a
necessidade de considerar suas deficiências.
Outro desafio posto é o tempo para aprender, pensando nas funções do EJA, requer-se
a compreensão de que esses educandos precisam de um tempo maior e de uma
atenção mais individualizada.
A escola não tem como definir ate que nível de aprendizagem o aluno pode chegar,
tampouco definir que aprende ou não, mas pode definir estratégias diferenciadas para
cada um aprender. Diante desse quadro, o sujeito com deficiência não se distancia dos
demais.
Portanto, os alunos da EJA, como qualquer pessoa, atuam num mundo marcado por
elementos das tecnologias como: bancos, caixas eletrônicos, catracas de acesso, entre
outros dispositivos que interferem na vida social.
Desta maneira, o acesso a TIC’s promovem certo tipo de inserção social, que não pode
ser desconsiderado por essa modalidade de ensino.
Assim, está posto a ideia que a alfabetização não significa apenas dominar a língua
oral e escrita, é necessário que os sujeitos tenham a capacidade para utilizar,
reformular as informações e os conhecimentos advindos das TIC’s.
Por conseguinte, a inclusão digital não significa apenas alfabetizar jovens e adultos em
informática, as também melhorar o manuseio, ou seja, não basta colocar o
computador na frente desses sujeitos, é preciso ensina-los a utilizá-lo em beneficio
próprio e coletivo.
Desta forma, para não limitar o processo formativo, desprezando os elementos que
configuram nossa época, não é possível entender o trabalho educativo na EJA,
desconsiderados as questões que envolvem as TIC’s. Não contribuir com a cesso,
manuseio e a formação de jovens e adultos neste universo, é ratificar a exclusão
digital.
As TIC’s ratificam as proposições de Freire, no qual o processo formativo deve garantir
que os indivíduos possam ler o mundo, assim como, transformá-lo.
A LDB 9.394/96 ratifica, em seu artigo 37, que os sistemas de ensino assegurarão aos
alunos da EJA oportunidades educacionais, inclusive proporcionando o acesso as
tecnologias digitais, que para muitos é a porta de entrada para o mundo moderno.
A inclusão da informática na EJA é um desafio para muitas escolas, porem não deve ser
vista como um fator desmotivador para os professores, mas sim um desafio de vincular
os conhecimentos necessários para a modalidade com o uso do computador.
Tal demanda por uso desse suporte ficou evidente numa pesquisa com o público
escolar (Belo Horizonte), no qual para 98% dos alunos da EJA ressaltam a importância
de ter o computador na escola.
Diante disso, varias questões apareceram para a autora: quais atividades, quais idades,
que atividades podem ou não ser apropriadas?
No universo dos alunos, constatou-se que sempre há uma tomada de posição contra
ou a favor da Educação Física. A autora percebeu que a representação social da
disciplina associa-se a metáfora REMÉDIO E DEPÓSITO DE ENERGIA.
Para alunos mais jovens, os signos esta relacionados a um corpo bonito, que sabe fazer
esportes, por isso a Educação Física é PARA FAZER. Os alunos mais velhos, o prestigio
da disciplina está atrelado a melhoria da saúde (REMÉDIO), por isso a Educação Física é
PARA FALAR.
Com base na analise das entrevistas dos alunos e professores, apreendeu-se indícios
de que há pelo menos duas representações sociais para a Educação Física. Nos alunos
se condensa na metonímia ESPORTE/DIVERSAO/SAUDE, sendo que os valores estão
hierarquizados conforme a idade. No caso dos professores, ficou forte a representação
social que atrela à disciplina a ideia de RESGATE.
Portanto, a autora conclui o artigo sinalizando como importante que para elaborar
praticas de Educação Física para o ensino noturno, é de suma importância comparar o
que pensam professores e alunos, reconhecendo consensos e divergências, para que
assim se efetive uma prática de Educação Física mais significativa para os alunos.
Para isso, o texto recupera como a criação da Plataforma Educopédia, em 2010, com
uma perspectiva colaborativa, on line e pautada numa base teórica da Metacognição
contribuiu com o ensino aprendizagem de jovens e adultos.
A) O que é a Educopédia?
B) Metodologia proposta.
C) Vantagens dessa ferramenta na EJA.
Sabendo que o computador, nos dias de hoje, adquiriu também um papel na formação
e na humanização dos sujeitos, em 2010, a Secretaria Municipal de Educação, do Rio
de Janeiro, criou uma plataforma colaborativa e on line que tem o papel de subsidiar
professores e alunos em relação aos processo de aprendizagem.
Por ser uma pratica pedagógica inovadora por buscar promover a tomada de
consciência dos modos próprios de pensar, isto é, é o conhecimento que temos, como
percebemos, pensamos, relembramos e agimos::
A Educopédia busca assim, auxiliar aos educadores da EJA com subsídios teóricos e
metodológicos que os auxiliem no cotidiano escolar a criarem perspectivas de
aprendizagem que possibilite aos alunos a descobrirem por si mesmos a utilidade de
estratégias e de desenvolverem a metacognição, contribuindo assim para que esses
sujeitos aprendam a aprender e aprendam apensar.
Para o autor, ensinar Matemática implica utilizar contextos do cotidiano dos alunos,
valorizando e criando pontes com os conteúdos apresentados em sala de aula. Diante
disso, o ensino de Matemática na EJA deve ser mais do que memorização de
algoritmos e fórmulas, pois os alunos dessa modalidade já passaram por experiências
que não foram enriquecedoras.
A narrativa inicia-se com uma reflexão acerca de como num contexto neoliberal, o
Estado passou a construir a imagem do delito como um desvio de conduta, resumindo
o ato desviante a questão moral, ou seja passa a ser visto como falha moral ou metalo
ato criminoso, já que a sociedade em suas relações, oferta a possibilidade progresso
aos cidadãos.
Ao identificar que as informações sobre etnia (cor de pele), grau de instrução e faixa
etária apresentam problemas metodológico a partir dos itens elaborados na pesquisa
do instituto, a interpretação dos dados merecem preocupação:
Grau de instrução 3
(analfabeto)
A escolarização brasileira
Grau de instrução 10 confirma as diferenças
(Ensino Fundamental sociais quando se
concluído) analisam os extratos de
origem.
Faixa Etária 54,63 Os dados apontam para o
(- de 30 anos) ingresso prematuro na
vida criminosa.
Para os autores, diante do quadro revelado pelos dados, deve-se refletir se a educação
prisional pode ajudar a inserir um preso na sociedade. Tal reflexão, não desconsidera
que desde a LDB 9.394/96 tem sinalizado a importância de dispositivos legais para a
educação no sistema penitenciário.
Para isso, não basta a legislação prever a garantia de existência de escolas prisionais,
também necessário garantir um trabalho efetivo que vise a transformação da
realidade.
Com base no pensamento de Paulo Freire sobre educação e o papel da escola e dos
educandos, o trabalho organizou-se em torno da leitura e escrita.
O artigo proposto pelos autores objetiva revelar para o leitor, assim como para um
trabalho a ser desenvolvido com os alunos da EJA sobre a importância do
reconhecimento das dimensões imateriais da cultura para a questão racial negra.
Os autores lembram que nos últimos tempos s debates sobre cultura imaterial ou
patrimônio intangível ganharam mais visibilidade e, que revelam experiências que não
podem ser tocadas, mas nem por isso deixam de ser sentidas e recebem a valoração
por parte da sociedade.
Na narrativa dos autores aparecem situações desde a primeira proposição por parte
da UNESCO para a cultural intangível ou imaterial presentes em nossa cultura ( caso do
Samba de Roda do Recôncavo Baiano) até situações sobre territorialidade decorrente
de reflexões de Milton Santos, ou até mesmo situações como de preservação cultural
associadas ao meio ambiente como as Áreas de Proteção do Ambiente
Cultural(APACS), no Rio de Janeiro.