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Resumo

Educação de jovens e adultos: reflexões a partir da prática


Organizadores: Jaqueline Luzia da Silva e Pedro Carlos Pereira

Introdução:
O livro é uma coletânea de textos que foram produzidos no Programa de Educação de
Jovens e Adultos (PEJA), da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

A produção dessa coletânea teve como objetivo: compartilhar reflexões,


conhecimentos adquiridos na pratica educativa de sala de aula, isto é, as narrativas
apresentadas tem no fazer da sala de aula seu ponto de partida para o diálogo acerca
dos caminhos para a educação de jovens e adultos.

Ao longo dos nove artigos que compõem o trabalho, as reflexões são marcadas pelo
diálogo e apropriações conceituais das proposições freireanas, assim como do sócio
construtivismo e da perspectiva histórico-cultural.

Educação de Jovens e Adultos: contribuições para a alfabetização


Autora: Jaqueline Luzia da Silva

O artigo tem como objetivo, contribuir com o debate sobre alfabetização na EJA; sua
construção recupera a própria trajetória da autora no espaço acadêmico (mestrado,
doutorado) e profissional (professora de alfabetização e gestora de EJA, junto a
secretaria municipal).

Refletindo sobre as concepções da alfabetização

A autora localiza nas práticas da EJA algumas mudanças ocorridas nos últimos anos,
notadamente no que tange: flexibilização de tempos e espaços, formulação de
propostas pedagógicas e curriculares; ações essas que consideraram a bagagem
experiencial dos sujeitos dessa experiência educativa.

Tais mudanças, sobretudo, a partir dos nos de 1990, ratificam a ideia de que a
alfabetização na EJA deve ser um meio de emancipação e transformação das pessoas e
da sociedade e, para isso: a grande contribuição do trabalho apresentado é a ênfase
na formação de leitores e escritores durante o processo de alfabetização.
Influenciada por diversas contribuições de campos teóricos que vão da produção
freireana, passando pelo construtivismo, como também, pelo interacionismo, além da
perspectiva sócio histórica, a alfabetização pensada e proposta pelo PEJA, atrela-se ao
caminho sócio histórico da aquisição da leitura e escrita pelos sujeitos.

Dessa maneira, existe uma defesa de que não é possível dissociar a perspectiva de
alfabetização de letramento e, portanto, entende que a aquisição do sistema
convencional de escrita ocorre concomitante ao desenvolvimento de habilidades de
uso desse sistema em atividade de leitura e escrita, sendo que estes processos não
são independentes, mas interdependentes e indissociáveis:

“ a leitura do mundo prece sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a


continuidade daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A
compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura critica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto”

Freire, Paulo, 198 2- A importância do ato de ler

Alfabetização e currículo

Para pensar a alfabetização, o debate sobre currículo se faz necessário, pois a


construção curricular precisa considerar as condições materiais de vida dos
estudantes, na perspectiva que esse currículo possa vir a constituir sentido para jovens
e adultos.

Desta forma, a ruptura com a fragmentação disciplinar existente no currículo da


educação básica, requer um currículo pautado numa perspectiva interdisciplinar e
contextualizado, possibilitando assim que a EJA seja um lugar que as diferenças
culturais e etárias sejam consideradas para que almeje eficácia na aprendizagem.

Portanto, a prática dos educadores na realização do currículo demanda a compreensão


sobre o que de fato os alunos precisam aprender e, consequentemente, como a escola
possa contribuir para a significação do aprendizado:

“Nas classes de alfabetização, a leitura do mundo auxilia a aprendizagem da leitura d


apalavra, e nunca é possível esquecer que os educando jovens e adultos tem suas
próprias estratégias de leitura, que não podem ser desconsideradas na prática
pedagógica.”

Por conseguinte, a tarefa da escola (EJA) deve objetivar que esta leitura da palavra
sirva como instrumentos da (re)leitura do mundo, prática realizada constante e
concomitantemente a leitura do mundo.
Assim, o currículo da EJA precisa ser construído cotidianamente em sala de aula, com
os alunos. Essa construção apresenta uma demanda que a sala de aula se efetive
como um espaço de aprendizagem e leitura.

A necessidade de organizar a sala de aula requer do educador: conhecer os alunos,


estabelecer uma relação afetuosa e, sobretudo, planejar as aulas para que nessas, os
alunos possam identificar a função social da leitura e escrita.

Tamanho compromisso curricular faz com que na EJA, os professores sejam


referenciais de leitura para os estudantes; tal situação que se revela no cuidado com o
fazer pedagógico, possibilitando assim, ratificar que o gosto de ler não é algo que se
ensina, mas se transmite por meio de interações com outros sujeitos-leitores e com
experienciais de leituras estrategicamente organizadas.

Vale pontuar que a prática da EJA pode proporcionar através de situações de escrita e
leitura reflexões sobre o próprio desenvolvimento da aprendizagem, tornando os
estudantes em corresponsáveis do seu percurso.

Métodos de alfabetização; um pouco de reflexão

A questão do método de alfabetização ganhou importância no momento em que a


escola se responsabilizou pela alfabetização da população. Essa responsabilidade
tornou-se objeto do campo da educação, notadamente pelas disputas em relação aos
métodos e a eficácia no ato de alfabetizar.

Em relação à EJA, a discussão sobre método é pouco abordado nas pesquisas, no


entanto, em virtude das diversas experiências nas praticas de educação de jovens e
adultos, se faz necessário investigar, pois o método ocupa lugar privilegiado no
processo pedagógico.

Na perspectiva apresentada na experiência do PEJA, no Rio de Janeiro, vale pontuar


que a ideia de alfabetização envolve a aprendizagem para alem da decodificação,
necessitando que sejam ensinados e aprendidos os princípios de organização do
sistema alfabético-ortográfico da escrita e s construção de sentidos em contextos de
uso sociais da escrita e leitura.

As narrativas dos alunos revelam algumas necessidades para o “fazer e pensar” sobre
alfabetização na EJA:

“Eu não sei falar direito. Eu vim pra escola pra aprender a falar certo”

A escola deve facilitar o desenvolvimento da capacidade de compreensão,


reconstrução critica do conhecimento e a reorganização racional e significativa da
informação reconstruída.
É importante que a alfabetização relacione os conteúdos curriculares aos
conhecimentos produzidos pela experiência existencial dos educandos, desde o seu
primeiro dia de aula até o fim.

Ainda nesta linha, é preciso trabalhar com o respeito às diferenças presentes no


espaço escolar para que estas não sejam encaradas com deficiências ou desigualdades.

“Quando cheguei aqui na escola, eu não sabia nada”

Poucos acreditam no que sabem ou valorizam seus conhecimentos, tão desvalorizados


socialmente. Paulo Freire pontua a importância da tomada de consciência, isso
acontece quando há uma valorização daquilo que o sujeito traz para a escola.

Uma contribuição pratica para a alfabetização diz respeito à formação de grupos


heterogêneos em sala de aula, para que a interação possibilite novos conhecimentos a
partir da troca.

“Não sei por que você vem com texto se eu não sei ler...o que eu vou fazer com ele?”

O sentimento de incapacidade exige que as práticas pedagógicas de alfabetização que


trabalham a aprendizagem a partir do texto tenham o cuidado para que os estudantes
alcancem uma leitura real da palavra, por meio da leitura de textos autênticos, que
garantam a apropriação de uma visão não fragmentada da realidade.

Para isso deve a escola investir na leitura de diferentes tipos de textos, pois aprender
a ler e praticar a leitura implica saber como funcionam os textos nas diversas praticas
sociais, transitar entre estas práticas e saber buscar conhecimento para continuar
aprendendo ao longo da vida deve ser objeto de cuidado no fazer pedagógico da EJA.

Mais do que nunca as diversas praticas pedagógicas na Educação de Jovens e Adultos


precisam atentar que um adulto em processo de escolarização e aprendizagem da
leitura da palavra, torna o processo de alfabetização um momento significativo de
conquista de um direito negado. A apropriação desse direito vai além do domínio da
leitura e da escrita, pois precisa alcançar o real sentido da alfabetização, conforme
pontua Freire, no texto: Educação para a Liberdade, 1999:

“ só assim nos parece válido o trabalho da alfabetização, em que a palavra seja


compreendida pelo homem na sua justa significação: com uma força de transformação
do mundo”

O ato de ler na educação de jovens e adultos


Autora: Solange Freitas da Mota

Os sujeitos da EJA

Nas classes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) encontramos uma intensa


pluralidade social e cultural, diante disso, a proposta de trabalho politico-pedagógico
deve buscar uma educação adequada e contextualizada que atenta aos interesses e
necessidades dos jovens e adultos.

Para autora, a relação entre ensino e aprendizagem requer a percepção das diversas
possiblidades de educar e dos diferentes meios utilizados para alcança-lo, dentre os
quais enfatiza a leitura de textos literários.

Livro e educação

Ao longo do tempo, o livro proporcionou que histórias fossem compartilhadas como


meio de entretenimento, conhecimento e preservação da cultura, constituindo-se em
elemento fundamental para a construção de sociedades democráticas.

Em meados dos anos de 1950, o corre uma ruptura em relação às praticas escolares e
o uso do livro. Com Paulo Freire um novo paradigma teórico pedagógico voltado para a
educação de adultos, pautada em uma educação dialógica, de cooperação, e de
solidariedade, na qual a formação do aluno leitor adulto estabelece um novo estatuto
para o ato de ler:

“ A leitura do mundo precede a leitura da palavra(...) Linguagem e realidade se


prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
critica implica a percepção das relações entre texto e contexto.”

A leitura e o prazer de ler

Atualmente o livro não se constitui um objeto comum nas famílias dos educandos, seja
pela dificuldade de acesso, seja pela não valorização social e cultural.

Diante disso, a autora pontua que ao inserir o livro no contexto escolar da EJA, a
resistência se fez presente, sobretudo pelo fato de que alunos consideravam que não
dominavam o código escrito a contento.

Para superar isso, a proposição apresentada reafirma que o domínio da leitura e a


relação com os textos literários ou não passa por um ato continuo, pois se aprende a
ler lendo.
A questão posta passa a ser como se ensina o gosto pela leitura?

Para que os alunos desenvolviam o gosto e, isso tem que ser constituído no cotidiano,
pontua a autora que os professores precisam revelar no ato de ler com eles, a
personalidade leitora, pois o professor é o principal referencial de leitura para o aluno.

Sendo assim, no cotidiano escolar da EJA deve se promover os diferentes gêneros


textuais, já que é na gama de experiências e vivências de cada aluno que na interação
com as obra acrescenta-se uma nova interpretação, validando a condição de leitor.

Portanto, a EJA precisa contar com atividades como contação de historia, rodas de
leituras e tertúlias, pois essas tem um papel fundamental na construção do processo
de relação entre leitor e o livro.

A possibilidade de realizar a aproximação entre o leitor e o livro se dá de diversas


maneiras, cabendo ao educador planejar essas atividades, no entanto, este deve ter
claro que o livro deve chegar aos alunos da EJA em sua sala de aula, assim como, nos
diversos espaços, como: espaços de leitura públicos, bibliotecas, salas de leituras,
criando assim no leitor o hábito de ir ao encontro com o livro.

Finalmente, é importante reafirmar que refletir sobre a EJA significa refletir sobre os
múltiplos sujeitos que a compõem, proporcionado a vivência de novas experiências,
conceitos e abordagens a partir de diferentes oportunidades, consolidando assim o
papel da escolarização para esse público, no compromisso que faz da leitura uma
condição fundamental para a construção da leitura do mundo, que sempre precede a
leitura.

A educação de jovens e adultos e a educação inclusiva: desafios e


possibilidades
Autora: Katia Regina das Chagas Moura
O texto apresentado pela autora baseia-se nas experiências, nos estudos e
observações dos trabalhos: com crianças, jovens e adultos e, tem como perspectiva
apresentar ao leitor:

A) Panorama geral sobre o EJA no Brasil, focando, sobretudo suas funções;


B) Panorama sobre a Educação Inclusiva e,
C) Um entrelaçamento de ambas, na intenção de constituir-se um olhar inclusivo
na EJA.

Sobre a Educação de Jovens e Adultos

Nos trabalhos de Freire já se revelavam a preocupação de mostrar a Educação de


Jovens e Adultos (EJA) como um direito de todos os que não puderam ter acesso a
escolarização no momento certo.

Documentos como a Constituição Federal (CF) de 1988 e, sobretudo, as Diretrizes


Curriculares Nacionais para a EJA de 2000, estabelece-se três funções norteadoras do
trabalho com esse público:

1) Função reparadora, que resgata o direito à escolarização não consolidada


quando criança. Vale pontuar que essa modalidade demanda um modelo
pedagógico próprio, que atenda as necessidades educativas desse grupo.
2) Função equalizadora, que cuida de pensar politicamente a necessidade de de
oferta maior de aceso aos jovens e adultos.
3) Por fim, a função qualificadora, entendida como o verdadeiro sentido da EJA,
por possibilitar o aprender por toda a vida, em processos de educação
continuada.

Desde os anos de 1990, para realizar tal perspectiva, o governo brasileiro vem
pensando a importância da formação continuada para educadores e professores da
EJA. O destaque maior para esse debate consolida-se com a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos, quando a UNESCO (órgão da ONU) produz um relatório sobre as
demandas por educação no mundo todo:

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, as nações do mundo


convencionaram que “toda pessoa tem direito à educação”.
Mais de 100 milhões de crianças, das quais 60 milhões de meninas, não tem acesso a
escola primaria.
Mais de 960 milhões de adultos (2/3 dos quais são mulheres) são analfabetos. O
analfabetismo funcional é um problema para inserção no séc. XXI.
Mais de 100 milhões de crianças não conseguiram concluir o ciclo básico.

Importante, dessa maneira, é entender que a EJA, antes vista como suplência, hoje é
uma modalidade de ensino que deve assegurar o acesso a educação a todos que tem
mais de 15 anos e que encontram-se em distorção idade-série. Não considerar isso, faz
com que o sistema educacional ratifique as discriminações e preconceitos socialmente
construídos para essa população.

Vale pontuar que ainda neste momento, do ponto de vista educativo, a escola não tem
conseguido com suas propostas curriculares responder as demandas diárias dos
sujeitos que frequentam a escola. Diante disso, tem-se evidenciado um afastamento
de alunos do Ensino Fundamental regular; retornando, posteriormente na EJA. Soma-
se a esse grupo, a migração para essa modalidade, de alunos da Educação Inclusiva
que ao atingirem o limite de idade de permanência nessa modalidade, deslocam-se
também para a EJA.

A questão que se coloca atualmente é: como trabalhar com esse grupo?

Este questionamento tem levado educadores a buscarem soluções no intuito de não


discriminarem, mas de ajudarem na socialização, adaptação e na assimilação dos
conteúdos da melhora maneira.

Alguns subsídios para o trabalho com a Educação Inclusiva

Foi a partir da Declaração de Salamanca (1994), que a educação inclusiva ganhou


diretrizes básicas para a inclusão das pessoas com deficiência. A declaração ampliou o
conceito de “necessidades educacionais especiais” que passou a incluir a maior
diversidade de deficiências.

Vale pontuar que a maioria dos sujeitos desse grupo quando atingem a maioridade
passam a integrar a EJA e, o debate sobre a perspectiva inclusiva ganha novos
contornos.

Tal demanda ratifica a validação da Declaração Mundial sobre Educação para Todos,
notadamente em seu 3º artigo que diz respeito a diversidade.
Vale lembrar que a deficiência é compreendida a parti da relação entre os aspectos
biológicos e socioculturais, no qual cada um deles não pode ser pensado sem estar
articulado com o outro.

O entrelace entre as funções da EJA e da Educação Inclusiva

A defesa de politica de inclusão escolar e social aparece nos diversos movimentos pela
igualdades de condições sociais, entre os quais o de educação. Desta forma, aparecem
nas propostas educacionais baseadas em novas teorias educacionais que sinalizam
para a necessidade de mudanças nas concepções pedagógicas dos profissionais da
educação.

Diante disso, tem sido objeto de atenção nas universidades a questão de formação do
profissional que atua com esta modalidade na escola, seja em sua formação inicial,
assim como na formação continuada.

Este profissional precisa entender que o sujeito (educando) da EJA deve ser motivado a
aprender, respeitando suas potencialidades e possibilidades, o que inclui a
necessidade de considerar suas deficiências.

Outro desafio posto é o tempo para aprender, pensando nas funções do EJA, requer-se
a compreensão de que esses educandos precisam de um tempo maior e de uma
atenção mais individualizada.

A escola não tem como definir ate que nível de aprendizagem o aluno pode chegar,
tampouco definir que aprende ou não, mas pode definir estratégias diferenciadas para
cada um aprender. Diante desse quadro, o sujeito com deficiência não se distancia dos
demais.

As tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) na Educação de


Jovens e Adultos
Autora: Herica Ferreira dos Santos Marinate

Integração da TIC’s na aprendizagem de jovens e adultos


Atualmente contamos com uma perspectiva de EJA que rompe coma ideia de suprir o
tempo escolar perdido por jovens e adultos. O desenho proposto para o nosso
contexto tem como principio garantir o direito à educação em um tempo especifico
dos jovens e adultos.

Essa mudança é significativa, pois a maioria do público da EJA ainda se encontra no


Ensino Fundamental e, as pesquisas identificam que o maior desejo dos alunos é
conseguirem avançar para outros níveis de escolarização, assim como ganhar
repertorio para sua inserção plena na vida social.

Diante disso, as pesquisas identificam que essa modalidade de ensino necessita


proporcionar a jovens e adultos uma educação que permita “a compreensão da vida
moderna em seus diferentes aspectos e, como decorrência, o posicionamento critico
em face de sua realidade”. Tal perspectiva reforça o compromisso estabelecido nas
diretrizes curriculares de que o processo de formação para a cidadania , exige acesso a
informações e ao conhecimento, assim como a capacidade critica para processá-los.

Portanto, os alunos da EJA, como qualquer pessoa, atuam num mundo marcado por
elementos das tecnologias como: bancos, caixas eletrônicos, catracas de acesso, entre
outros dispositivos que interferem na vida social.

Desta maneira, o acesso a TIC’s promovem certo tipo de inserção social, que não pode
ser desconsiderado por essa modalidade de ensino.

Neste sentido, a abordagem da utilização das tecnologias na EJA remete ao conceito


de letramento digital, no qual, esse deve ser entendido como o estado em que o
sujeito domina um conjunto de praticas sociais que usam a escrita enquanto sistema
simbólico e, enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos.

Assim, está posto a ideia que a alfabetização não significa apenas dominar a língua
oral e escrita, é necessário que os sujeitos tenham a capacidade para utilizar,
reformular as informações e os conhecimentos advindos das TIC’s.

Por conseguinte, a inclusão digital não significa apenas alfabetizar jovens e adultos em
informática, as também melhorar o manuseio, ou seja, não basta colocar o
computador na frente desses sujeitos, é preciso ensina-los a utilizá-lo em beneficio
próprio e coletivo.

Desta forma, para não limitar o processo formativo, desprezando os elementos que
configuram nossa época, não é possível entender o trabalho educativo na EJA,
desconsiderados as questões que envolvem as TIC’s. Não contribuir com a cesso,
manuseio e a formação de jovens e adultos neste universo, é ratificar a exclusão
digital.
As TIC’s ratificam as proposições de Freire, no qual o processo formativo deve garantir
que os indivíduos possam ler o mundo, assim como, transformá-lo.

A informática na Educação de Jovens e Adultos

A LDB 9.394/96 ratifica, em seu artigo 37, que os sistemas de ensino assegurarão aos
alunos da EJA oportunidades educacionais, inclusive proporcionando o acesso as
tecnologias digitais, que para muitos é a porta de entrada para o mundo moderno.

A realização dessa inserção no universo digital (computadores, internet, aplicativos...)


no processo ensino aprendizagem de jovens e adultos exige o engajamento dos
professores, como também um bom nível de conhecimento para a utilização dos
diferentes recursos de informática.

A inclusão da informática na EJA é um desafio para muitas escolas, porem não deve ser
vista como um fator desmotivador para os professores, mas sim um desafio de vincular
os conhecimentos necessários para a modalidade com o uso do computador.

Estudos sobre praticas de uso das TIC’s na EJA

O texto relata algumas experiências ocorridas com TIC’s em contexto da EJA em


diferentes cidades (Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Carlos),
sendo que os resultados dessas práticas demonstraram que o computador tem como
função facilitar a aprendizagem, assim como favorecer a qualificação profissional dos
jovens e adultos da modalidade.

Tal demanda por uso desse suporte ficou evidente numa pesquisa com o público
escolar (Belo Horizonte), no qual para 98% dos alunos da EJA ressaltam a importância
de ter o computador na escola.

Educação Física no Ensino Noturno: a construção dos sentidos em jogo


Autora: Giane Moreira dos Santos Pereira

O texto da autora decorre reflexão realizada na investigação do mestrado sobre as


representações sociais presentes no universo dos alunos e professores no ensino
noturno. A pesquisa ocorreu em duas cidades (Rio de Janeiro e Belford Roxo), sendo
que na cidade do Rio, a pesquisa ocorreu em escolas que não possuem Educação Física
no currículo, já a investigação em Belford Roxo, ocorreu em escolas que possuem a
disciplina no currículo.

Portanto, resgatar o trabalho investigativo permite refletir sobre os sentidos atribuídos


à Educação Física no ensino noturno e, assim contribuir para aumentar o debate e a
reflexão sobre a controversa inserção desta disciplina no contexto da EJA.

Inicio de partida e entrada em campo

A autora resgata historicamente como as diversas sociedades organizaram as


concepções do corpo nas praticas educativas. Pode-se afirmar que a historia da
disciplina escolar (Educação Física) associa-se a historia do corpo, no entanto, esse
sentido não criou uma unanimidade nas abordagens utilizadas pelos professores em
sala de aula.

No caso do Ensino Noturno, segundo a autora, a inclusão da Educação Física nesta


modalidade ainda é controvertida, pois a Lei 10.1793/2003, determina que a disciplina
é facultativa aos alunos que se enquadrem nos critérios estabelecidos pela lei.

Diante disso, varias questões apareceram para a autora: quais atividades, quais idades,
que atividades podem ou não ser apropriadas?

Com essas questões, seu objetivo foi investigar as representações presentes em


professores e alunos acerca da presença ou não da Educação Física, bem como seus
conteúdos de trabalho.

Análise das entrevistas: a construção dos sentidos em jogo

No universo dos alunos, constatou-se que sempre há uma tomada de posição contra
ou a favor da Educação Física. A autora percebeu que a representação social da
disciplina associa-se a metáfora REMÉDIO E DEPÓSITO DE ENERGIA.

Para alunos mais jovens, os signos esta relacionados a um corpo bonito, que sabe fazer
esportes, por isso a Educação Física é PARA FAZER. Os alunos mais velhos, o prestigio
da disciplina está atrelado a melhoria da saúde (REMÉDIO), por isso a Educação Física é
PARA FALAR.

No universo dos professores, constataram-se três aspectos e representações:

1º) A função da disciplina esta associado a melhoria da saúde e qualidade de vida.

2º) O sentido da disciplina esta associado ajudar no rendimento de outras disciplinas


( mens sana in corpore sano).

3º) A Educação Física e suas atividades servem da relaxar e desestressar das


dificuldades da vida e da escola.
O fim da partida

Com base na analise das entrevistas dos alunos e professores, apreendeu-se indícios
de que há pelo menos duas representações sociais para a Educação Física. Nos alunos
se condensa na metonímia ESPORTE/DIVERSAO/SAUDE, sendo que os valores estão
hierarquizados conforme a idade. No caso dos professores, ficou forte a representação
social que atrela à disciplina a ideia de RESGATE.

A autora constatou que tanto para alunos e professores as representações do corpo


passa pela Idéia de ENERGIA, sendo que se relacionou JOVEM/ENERGIA versus
VELHOS/FALTA DE ENERGIA e, essa percepção estrutura as atividades propostas.

Portanto, a autora conclui o artigo sinalizando como importante que para elaborar
praticas de Educação Física para o ensino noturno, é de suma importância comparar o
que pensam professores e alunos, reconhecendo consensos e divergências, para que
assim se efetive uma prática de Educação Física mais significativa para os alunos.

A Educopédia como ferramenta para o processo de ensino aprendizagem


na Educação de Jovens e Adultos da cidade do Rio de Janeiro
Autora: Marcia Roberto da Silva

A partir da pergunta: Qual é a nossa prioridade: a exposição ou aquisição de


conhecimentos?

A autora vai narrar como a ressignificação da relação ensino aprendizagem e,


consequentemente a busca ou criação de novos instrumentos, planejamento e ações
educativas são de suma importância para tornar os alunos, notadamente da EJA, em
sujeitos aprendente e portadores da capacidade de aprender a aprender.

Para isso, o texto recupera como a criação da Plataforma Educopédia, em 2010, com
uma perspectiva colaborativa, on line e pautada numa base teórica da Metacognição
contribuiu com o ensino aprendizagem de jovens e adultos.

São esses os momentos:

A) O que é a Educopédia?
B) Metodologia proposta.
C) Vantagens dessa ferramenta na EJA.

A Educação de Jovens e Adultos e a escola


Um dos princípios difundidos na EJA é a incorporação da cultura e da realidade dos
alunos como ponto de partida para as aulas e para o currículo. Tendo em vista esses
pressupostos pedagógicos, considerou-se necessário que nessa modalidade estivesse
presente o uso de computadores, pois o compromisso da EJA não é com a transmissão
de conhecimento e, sim possibilitar aos alunos aprender a aprender e aprender a
pensar.

Sabendo que o computador, nos dias de hoje, adquiriu também um papel na formação
e na humanização dos sujeitos, em 2010, a Secretaria Municipal de Educação, do Rio
de Janeiro, criou uma plataforma colaborativa e on line que tem o papel de subsidiar
professores e alunos em relação aos processo de aprendizagem.

As aulas incluem planos de aula, atividades (presenciais e virtuais) apresentações,


desafios, temas e são articuladas por competências e habilidades estabelecidas nas
orientações curriculares do município, buscando assim desenvolver nos sujeitos
autonomia na tomada de decisão e na resolução de problemas.

A plataforma tem como referencial teórico os estudos da Psicologia Cognitiva,


baseada fundamentalmente na Teoria do Processamento de Informações e na
Neurociência Cognitiva, no qual o processo de aprendizagem proposto deve levar em
conta “estratégias cognitivas e meta-cognitivas” que enfatizam a importância de
habilidades cognitivas como: metacognição, funções executivas, planejamento,
atenção, concentração, criatividade, planejamento e tomada de decisão.

As aulas são produzidas de forma a estabelecer conhecimento se habilidades que não


só se adquire, mas que, também, possam ser utilizadas em situações diversas. Para
isso, a estratégia mental da metacognição ganha a maior relevância.

Por ser uma pratica pedagógica inovadora por buscar promover a tomada de
consciência dos modos próprios de pensar, isto é, é o conhecimento que temos, como
percebemos, pensamos, relembramos e agimos::

“ metacognição refere-se ao conhecimento que se tem sobre os próprios processos


cognitivos, e produtos ou qualquer coisa relacionada a eles, isto é, o aprendizado das
propriedades relevantes da informação ou dados.”

Portanto, as atividades (aulas) na plataforma são divididas em cinco momentos, nos


quais no processo estão presentes ações que auxiliam o aluno a desenvolver a
capacidade de protagonizar o percurso da aprendizagem:

1º momento: revisão, apresentação, justificativa, diagnóstico.

2º momento: construção do conhecimento superficial e verificação.

3º momento: construção do conhecimento aprofundado e verificação.


4º momento: desafio do aluno com atividades complexa de produção.

5º momento: resumo e ligação com a próxima aula.

A Educopédia busca assim, auxiliar aos educadores da EJA com subsídios teóricos e
metodológicos que os auxiliem no cotidiano escolar a criarem perspectivas de
aprendizagem que possibilite aos alunos a descobrirem por si mesmos a utilidade de
estratégias e de desenvolverem a metacognição, contribuindo assim para que esses
sujeitos aprendam a aprender e aprendam apensar.

Conversando sobre multiculturalismo e a Educação Matemática na


Educação de Jovens e Adultos
Autor: Pedro Carlos Pereira

O objetivo do texto é retomar um pressuposto freireano, no qual “a leitura do mundo


precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura
daquele” para pensar os caminhos do ensino da Matemática no contexto da EJA.

Ao dialogar com a Etnomatemática, o autor acredita que a dialética palavra e mundo


devem constantemente nortear a ação pedagógica em sala de aula da EJA, pois nessa
perspectiva ir a escola é apenas uma das maneiras de se aprender.

Vale pontuar que a Etnomatemática é uma área de pesquisa transcultural e


transdisciplinar sobre a história e epistemologia da Matemática que tem implicações
pedagógicas.

Portanto, uma educação multicultural como se propõe na Etnomatemática implica


incluir na sala de aula, o contato, o dialogo, a interação com as contendas, colocando o
próprio saber escolar em questionamento.

Para o autor, ensinar Matemática implica utilizar contextos do cotidiano dos alunos,
valorizando e criando pontes com os conteúdos apresentados em sala de aula. Diante
disso, o ensino de Matemática na EJA deve ser mais do que memorização de
algoritmos e fórmulas, pois os alunos dessa modalidade já passaram por experiências
que não foram enriquecedoras.

O processo de humanização que a Matemática também contribui, exige que


educadores tenham sempre em suas ações, dentro e fora da sala de aula, a ideia de
que não somos capazes de mudar o passado nosso, nem dos alunos, mas somos
inteiramente responsáveis pelas mudanças que podemos proporcionar para um novo
amanhã.
Construindo saberes: A EJA na prisão e as possibilidades de múltiplas
aprendizagens
Autores: Janaina de Azevedo Corenza e Marcelo Coimbra Biar

O texto é resultado da reflexão que os autores fazem sobre: a questão do sistema


prisional, o perfil do preso fluminense e a experiência de um ano como gestores de
uma escola prisional no Rio de Janeiro.

A narrativa inicia-se com uma reflexão acerca de como num contexto neoliberal, o
Estado passou a construir a imagem do delito como um desvio de conduta, resumindo
o ato desviante a questão moral, ou seja passa a ser visto como falha moral ou metalo
ato criminoso, já que a sociedade em suas relações, oferta a possibilidade progresso
aos cidadãos.

Ao naturalizar as relações desiguais, o contexto neoliberal não consegue identificar


que as vitimas de um modelo desigual passam a ser culpados por suas próprias
agruras.

Tendo explicitado, a partir do ponto de vista particular, a questão prisional na


sociedade contemporânea, os autores destrincham a partir dos dados do
IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o perfil do apenado fluminense; os
autores sabem da possíveis especifidade que ganham a analise, porem acreditam que
os dado revelam questões por demais interessantes para pensar a questão da
educação de jovens e adultos em situação prisional.

Ao identificar que as informações sobre etnia (cor de pele), grau de instrução e faixa
etária apresentam problemas metodológico a partir dos itens elaborados na pesquisa
do instituto, a interpretação dos dados merecem preocupação:

Item Percentual (%) Dado(s)

Etnia (negra e parda) 68 Predominância não branca


no sistema prisional.

Grau de instrução 3
(analfabeto)

A escolarização brasileira
Grau de instrução 10 confirma as diferenças
(Ensino Fundamental sociais quando se
concluído) analisam os extratos de
origem.
Faixa Etária 54,63 Os dados apontam para o
(- de 30 anos) ingresso prematuro na
vida criminosa.

A observação dos aspectos acima mostra um quadro revelador que o apenado


fluminense é majoritariamente: afrodescendente, de baixa escolaridade e jovem. Tal
situação aponta para um setor especifico da sociedade do Rio de Janeiro.

Percebe-se assim, que o jovem afrodescendente, de baixa escolarização é, em sua


grande parte, pertencente aos setores mais baixos da sociedade. Vale pontuar os
dados:

População do População de Numero de preso


estado do Rio de apenados no Rio por/habitantes Extratos sociais
Janeiro de Janeiro (A,B, C, D e E)
(base 2011)

14.821.340 25.514 560 Todos


2.964.268
( 20% de pessoas 25.514 Para cada 116 DeE
que moram em moradores de
favelas) favela, 1 está preso

Diante desse quadro, pensar a questão da educação prisional sinaliza problemas de


politicas publicas que revelam o aumento das desigualdades sociais.

Para os autores, diante do quadro revelado pelos dados, deve-se refletir se a educação
prisional pode ajudar a inserir um preso na sociedade. Tal reflexão, não desconsidera
que desde a LDB 9.394/96 tem sinalizado a importância de dispositivos legais para a
educação no sistema penitenciário.

Para isso, não basta a legislação prever a garantia de existência de escolas prisionais,
também necessário garantir um trabalho efetivo que vise a transformação da
realidade.

Com essas informações, os autores desenvolveram um trabalho de diretores de uma


escola prisional na cidade do Rio de Janeiro, no qual o trabalho junto com a equipe de
professores se deu por meio de propostas de trabalho que valorizavam a reflexão,
exposição e a troca de ideias de conhecimentos e a criticidade das temáticas
apresentadas.

Com base no pensamento de Paulo Freire sobre educação e o papel da escola e dos
educandos, o trabalho organizou-se em torno da leitura e escrita.

Para os autores, a condução pedagógica buscou ir à contramão das propostas de


trabalho que são trancadas em currículos, conteúdos, grades, disciplinas, etc. O
compromisso de buscar um caminho que não rotulasse os alunos é fundamental, pois
suas experiências já revelavam serem sujeitos incapazes, incompetentes e pouco
inteligentes.

Territorialidade, negritude e cultura imaterial no Brasil: possibilidades de


abordagem
Autores: Pedro Carlos Pereira e Rafael dos Santos

O artigo proposto pelos autores objetiva revelar para o leitor, assim como para um
trabalho a ser desenvolvido com os alunos da EJA sobre a importância do
reconhecimento das dimensões imateriais da cultura para a questão racial negra.

Diante disso, a intenção da reflexão é trazer o leitor para reflexões acerca de


diferentes temas que envolvem a etnicidade negra, a cultura imaterial em situações
transversais com temas que compõem as políticas da vida e o cotidiano. São exemplos
dessas questões: meio ambiente, direitos humanos, globalização, território, políticas
publicas, diversidade, entre outros temas.

Os autores lembram que nos últimos tempos s debates sobre cultura imaterial ou
patrimônio intangível ganharam mais visibilidade e, que revelam experiências que não
podem ser tocadas, mas nem por isso deixam de ser sentidas e recebem a valoração
por parte da sociedade.

Na narrativa dos autores aparecem situações desde a primeira proposição por parte
da UNESCO para a cultural intangível ou imaterial presentes em nossa cultura ( caso do
Samba de Roda do Recôncavo Baiano) até situações sobre territorialidade decorrente
de reflexões de Milton Santos, ou até mesmo situações como de preservação cultural
associadas ao meio ambiente como as Áreas de Proteção do Ambiente
Cultural(APACS), no Rio de Janeiro.

A presença da cultura imaterial é reconhecida cada vez mais no mundo inteiro. No


Brasil, esta concepção cresce a cada dia. Por isso, entende os autores que devemos
estimular os alunos da EJA a preservação e o reconhecimento da cultura imaterial
como elemento identitário em condições de igualdade ao modelo eurocêntrico.

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