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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ESTADO DE SÃO PAULO


9ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

Registro: 2013.0000192473

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de

Execução Penal nº 0235450-06.2012.8.26.0000, da Comarca de São José

do Rio Preto, em que é agravante ROBSON FRANCISCO DE OLIVEIRA, é

agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de

Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao

recurso defensivo, para cassar a decisão recorrida, cancelando a anotação

da falta disciplinar de natureza grave, referente aos fatos ocorridos em

22/02/2012, no prontuário do sentenciado Robson Francisco de Oliveira.

V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores

OTÁVIO HENRIQUE (Presidente sem voto), PENTEADO NAVARRO E SOUZA

NERY.

São Paulo, 4 de abril de 2013.

SÉRGIO COELHO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DE SÃO PAULO
9ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

VOTO Nº 18195
AGRAVO EM EXECUÇÃO Nº 0235450-06.2012.8.26.0000
COMARCA: SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VARA DAS EXECUÇÕES
CRIMINAIS
AGRAVANTE: ROBSON FRANCISCO DE OLIVEIRA
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO

Ementa: Agravo em execução. Uso de aparelho de telefone


celular por habitante da cela ocupada pelo agravante.
Agente penitenciário que não consegue identificar o
infrator. Apuração. Falta grave reconhecida tanto no âmbito
do procedimento disciplinar administrativo como pelo Juízo
das Execuções. Inconformismo defensivo. Acolhimento.
Inexistência de provas de que tenha sido o sentenciado o
autor da infração. Recurso provido para absolver o
agravante.

Trata-se de agravo em execução interposto pelo sentenciado


Robson Francisco de Oliveira contra a r. decisão de fls. 28/29vº, que
reconheceu a prática de falta disciplinar de natureza grave, ocorrida em
22/02/2012, declarando a perda de 1/3 dos dias eventualmente remidos e
determinando o reinício da contagem do prazo para fins de progressão a
partir da data da infração.

Na minuta de agravo, postula o sentenciado, por meio de seu


combativo defensor, a nulidade da r. decisão por inobservância ao artigo
118, § 2º, da LEP. No mérito, pleiteia a desconstituição da falta grave e,
subsidiariamente, requer seja afastada a determinação de reinício da
contagem do prazo para benefícios a partir da data da infração (fls. 64/72).

Regularmente contrariado (fls. 75/81) e processado o agravo, o


MM. Juiz de primeiro grau manteve a decisão recorrida (fl. 82).

O parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça é pelo não


provimento do recurso (fls. 86/89).

Agravo de Execução Penal nº 0235450-06.2012.8.26.0000 São José do Rio Preto


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É o relatório, em síntese.

É oportuno referir, desde logo, que, consoante já decidiu o C.


Superior Tribunal de Justiça, "no procedimento de regressão, o
sentenciado deve ser ouvido, pessoalmente, desde que possível,
pelo Juiz, nos termos do artigo 118, § 2o da LEP" (RHC 7.464/
DF - STJ - 5ª T - j. em 12.05.1998 - DJU 22/06/1998 - Rel. Min. Félix
Fischer) (g.n.).

Feito tal registro, observo que o recurso comporta provimento.

Com efeito, não obstante as informações trazidas aos autos


sobre a prática de falta disciplinar de natureza grave, o fato não pode ser
atribuído ao sentenciado, sob risco de punir-se um inocente. Isso porque,
além da singela negativa do agravante no procedimento disciplinar (fl. 12),
nenhum outro elemento foi produzido nos autos da sindicância a apontar,
sem sombra de dúvidas, sua efetiva participação no evento noticiado.

Ora, não há como negar que a prova é duvidosa em relação ao


agravante. O que a sindicância apurou de concreto foi que funcionários, a
partir da torre de vigilância, avistaram alguém utilizando aparelho de
telefone celular no interior da cela onde o reeducando habitava.

Ocorre que os agentes de segurança penitenciária ouvidos no


procedimento disciplinar Joel dos Santos Silva e Laurency Carvalho
Martins admitiram que não foram capazes de identificar, entre os
ocupantes da cela, qual sentenciado utilizava o aparelho de telefone (fls. 3,
7, 10 e 11). Além disso, não há nos autos notícia de que referido aparelho
tenha sido encontrado. Ao contrário, afirmou o agravante que na data dos
fatos foi realizada revista na cela, mas nada de ilícito foi encontrado (fl. 12).

Ademais, tampouco se poderia exigir do reeducando que,

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presenciando a prática de infração por companheiro de cela, tomasse a


iniciativa de delatá-lo, colocando em risco a própria vida. Seria exigir um
comportamento além do razoável no ambiente carcerário.

Enfim, não se está colocando em dúvida os depoimentos dos


agentes penitenciários que, de forma diligente, vislumbraram um detento a
praticar falta disciplinar de natureza grave. Apenas se reconhece que o caso
não comporta presunção de culpabilidade, não se admitindo, legalmente, a
aplicação de penalidade coletiva, que, como se sabe, coloca na mesma
situação reeducandos que se encontram em níveis diferentes.

De fato, diante da incerteza, deve prevalecer a absolvição. Neste


sentido, aliás, já decidiu esta Corte:

“AGRAVO EM EXECUÇÃO - interposição visando a reforma


da decisão que reconheceu a prática de falta grave e
elaboração de novo cálculo de liquidação de penas -
POSSIBILIDADE não ficou comprovada a autoria da falta grave,
não sendo razoável presumir a prática da escavação de buraco
na cela ou omissão no conhecimento do fato, a todos os
ocupantes do local” (TJSP 6ª Câmara de Direito Criminal Agravo nº
1.105.293-3/4 Rel. Ruy Alberto Leme Cavalheiro voto 5315 j.
29.11.2007 registro 01526696).

Nessas condições, pelo meu voto, dou provimento ao recurso


defensivo, para cassar a decisão recorrida, cancelando a anotação da falta
disciplinar de natureza grave, referente aos fatos ocorridos em 22/02/2012,
no prontuário do sentenciado Robson Francisco de Oliveira.

SÉRGIO COELHO
Relator
(Assinatura Eletrônica)

Agravo de Execução Penal nº 0235450-06.2012.8.26.0000 São José do Rio Preto


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