IC IONARIO
DE,....
;
DICIONARIO
DE
IN GUISTI CA
LINGUÍSTICA DA
DA
ENUNCIAÇAO N UNCI AÇAO
O objetivo deste Diciondrio é ambicioso: enfocar a definição
conceituai de um campo teórico que apenas recentemente tem
recebido maior atenção da comunidade científica brasileira. Para
isso, os organizadores reuniram mais de 40 linguistas de todo o
país, que escreveram cuidadosamente cerca de 400 verbetes.
Cada verbete traz informações referenciais: definição sucinta;
termos relacionados que permitem ao leitor conhecer a terminolo-
gia destacada de um determinado autor; nota explicativa e referên-
cias bibliográficas. Ao final do livro, especialistas da área elaboraram
uma minibiografia de 14 consagrados autores da linguística.
Esta obra não está direcionada somente para especialistas em
linguística da enunciação. Professores de português, de línguas e
de linguística, bem como estudantes de graduação e pós-graduação
em Letras, encontram aqui uma referência única nesse campo do
conhecimento no Brasil.
VALDIR DO NASCIMENTO fLORES
LECI BORGES BARBISAN
MARIA JosÉ BocoRNY FrNATTo
~editora MARLENE TEIXEI RA
~~contexto
Promovendo a Circulação do Saber
ISBN 978-85-7244-430-9
111111 111111111111111111111111
Biblioteca Paruc I
Prof•. Katla Franu ar
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ICIONÁRIO
DE
INGUÍSTICA
DA
NUNCIAÇÃO
Comelho Editorial
Ataliba Teixeira de Castilho
Felipe Pena
Jorge G respan
José Luiz Fiorin
Magda Soares D IC IONÁRIO
Pedro Paulo Funari
Rosâ,ngela Doin de Almeida DE
L INGUÍSTICA
DA
E NUNCIAÇÃO
Foto de capa
Jaime Pinsky
Montagem de capa e diagramarão
Gusravo S. Vilas Boas
Prepararão de uxtos
Lilian Aquino
Revisão
Márcia Nunes
Diccionario, no eres
twnba, sepulcro, féret ro,
túmulo, mausoleo,
sino preservación,
fuego escondido,
plantación de rubfes,
perpetuidade viviente
de la esencia,
granero dei idioma
Pablo Neruda, Ode ao diccionario
Diz Greimas, em Du sens II, que "os lexemas se apresentam muitas vezes
como condensações que recobrem, por pouco que se as explicitem, estruturas nar-
rativas e discursivas bastante complexas" (p. 225) . Isso implica que o dicionário
não é um depósito de palavras, no qual elas estão inertes. Ao contrário, ele deixa
ver a história dos vocábulos e, por meio deles, a história de um povo, com suas
vicissitudes e vitórias, suas preferências, crenças, normas, costumes, interesses,
carências, sentimentos, conhecimentos, emoções, paixões, afetos ... Os sentidos,
como numa escavação arqueológica, desvelam camadas estratificadas da vida hu-
mana, com seus anelos e fracassos. O dicionário contém heranças de antepassados
perdidos em tempos longínquos, que nos legaram, expressos por palavras, ferra-
mentas e modos de fazer, tristezas, alegrias e modos de ser, metáforas, substanti-
vos, tempos verbais e modos de simbolizar. Pode-se dizer do dicionário o que disse
Guimarães Rosa das línguas, em Ave, palavra: "são rastros de velhos mistérios".
Um dicionário contém a sabedoria de um povo armazenada durante a vida
da língua, mostra como ele vê o mundo, como concebe a vida, como sofre, como
ama, como conhece, como se decepciona, como se revolta, como se resigna, como
se desespera, como espera ...
Por tudo isso, não basta ler seus verbetes, é preciso saboreá-los, manejá-los, Ao mesmo tempo em que temos de fazer esse movimento de eliminação,
jogar com eles, navegar por entre eles. É necessário perceber as múltiplas relações de afastamento, de recusa, aspiramos a compreender a totalidade: no caso da lin-
tecidas pelas palavras, relações evidentes e estranhas, metafóricas e metonímicas, guagem, anelamos a apreender seu mistério e sua epifania. Por isso, o dicionário
sincrónicas e diacrónicas, mas que sempre fascinam, surpreendem e intrigam. É desvela gestos de inclusões daquilo que os antecessores deixaram à parte na sua re-
preciso deixar as palavras falar, ouvir seus ecos e gritos, ver suas obscuridades e dução metodológica. Portanto, ele revela-nos as polêmicas, os diálogos, as recusas
cintilações, saborear sua doçura e sua acidez, sentir seus aromas deleitosos e de- e as aceitações, as filiações e as oposições.
sagradáveis, experimentar suas texturas macias e ásperas. Dizia Fernando Pessoa Depois, ele faz-nos conhecer objetos teóricos, abstrações, já que a ciência
pela voz de Bernardo Soares no Livro do desassossego: "Gosto de dizer. Direi me- trata sempre do geral. Não existe uma ciência das estradas de ferro brasileiras ou da
lhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, construção do Ipod. É por isso que a física não trata dos corpos na sua singularida-
sensualidades incorporadas". A aproximação do dicionário exige rigor, mas prin- de, mas de abstrações, como a massa, que os atravessam e os tornam comparáveis.
cipalmente deslumbramento. Ela requer de nós todas as paixões contemplativas, Da mesma forma, não existe ciência das vogais, dos textos de telenovela. Por isso,
pede-nos paciência e lentidão. um dicionário de enunciação é, antes de tudo, uma cartografia dos objetos teóricos
Poder-se-ia dizer que tudo o que se considerou até aqui a respeito do da linguística. É a história da construção desse objeto poliformo que é o discurso.
dicionário é justo e adequado, mas não é pertinente a este prefácio em que se Foi para reconstruir essa narrativa de idas e vindas, de sucessos e fracas-
apresenta um dicionário científico, mais especificamente, um dicionário sobre sos, de rasgos de genialidade e de trabalho laborioso no domínio da linguística da
linguística da enunciação. enunciação que Valdir do Nascimen to Flores, Leci Borges Barbisan, Maria José
Um dicionário especializado, em vez de nos mostrar a totalidade da cul- Bocorny Finatto e Ma rlene Teixeira, num gesto de abertura científica, convidaram
tura que se desenvolveu numa dada formação social, desvenda-nos um segmento diferentes especialistas, que buscaram resgatar a história delineada anteriormen-
dela. Assim, um dicionário científico permite que extraiamos dele as mil histórias te na obra de autores tão diversos como Benveniste e Culioli, Bréal e Bakhtin,
que nele estão entranhadas: as da constituição de um campo do saber, as de sua Authier-Revuz e Ducrot, Greimas e Récanati, Jakobson e Fuchs, etc. Os organiza-
institucionalização, as de sua aceitação, os esquecimentos e as recuperações. Um dores tiveram um trabalho enorme para tornar homogêneos os verbetes, para fazê-
dicionário de ciência começa por ilos indicar os gestos de exclusão, que constituem los legíveis para os não especialistas, para transformá-los em textos dotados de
o gesto científico primeiro, já que as exigências metodológicas e epistemológicas "autonomia". E tudo isso sem que perdessem a qualidade e o rigor, de modo que
pedem objetos claramente delimitados e questões que têm origem em problemas o dicionário fosse útil também para o especialista do campo. Posso afirmar, com
claramente enunciados. O principio da pertinência obriga a ciência a renunciar a segurança, que o trabalho incansável e pertinaz dessa equipe teve êxito. Ela entrega
tratar a realidade, seja ela natural ou simbólica, da maneira como a apreendemos, esta obra aos leitores, convidando-os para a aventura de entender o dicionário, de
do modo como a vivemos na experiência imediata. A ciência abdica de abordar a sentir o dicionário, de navegar por seus verbetes, perdendo-se, encontrando-se,
totalidade. Por isso, seu gesto inaugural é a exclusão. Borges mostrou isso em belo desconstruindo e reconstruindo a cartografia do campo. Este dicionário é um
texto do livro História universal da infâmia: mapa, é uma súmula, é uma história da linguística da enunciação. Mas ele não está
Naquele Império, a Arte da Cartografia conseguiu tal perfei- pura e simplesmente voltado para o passado, ele está aberto para o futuro. Ele não
ção que o mapa de uma só província ocupava toda uma cidade, e o fecha, ele torna patentes perspectivas e possibilidades. Ele desafia a imaginação,
mapa do Império, toda uma província. Com o tempo esses mapas provoca os pesquisadores, incita ao trabalho acadêmico. U nindo o que foi feito
enormes não satisfizeram, e os Colégios de Cartógrafos levantaram e 0 que pode ser feito, este dicionário é um instrumento indispensável a todos os
um mapa do Império, que tinha o tamanho do Império e coincidia que têm paixão pela linguagem, a todos aqueles que se deslumbram com ela e a
com ele ponto por ponto. Menos apaixonadas pelo Estudo da Car- analisam com rigor.
tografia, as gerações seguintes entenderam que esse mapa ampliado
era inútil e não sem impiedade o entregaram às inclemências do sol
j
José Luiz Fiorin
e dos invernos. Nos desertos do oeste perduram despedaçadas ruí-
nas do mapa, habitadas por animais e por mendigos; em todo o país
não há outra relíquia das disciplinas geográficas.
Desde a edição do Dicionário de linguística e gramática, 1 de Joaquim Matto-
so Câmara Júnior, a linguística brasileira não tem produzido muitos dicionários de
linguística. É com entusiasmo, portanto, que apresentamos ao público brasileiro
o nosso Dicionário de linguística da enunciação, que reúne termos e definições que
circulam no campo da enunciação. Uma equipe de mais de quarenta colaborado-
res trabalhou nos últimos anos com o intuito de fornece r ao leitor uma obra de
referência representativa dos principais construtos teóricos da área.
No momento em que vem à luz o Dicionário, é de suma importância que
sejam fei tos alguns esclarecimentos a respeito do contexto de sua emergência e
também dos motivos que justificam sua elaboração.
1
Conforme Matos (2004, p. 159), o dicionário de Mattoso Câmara "tem uma história singularfssima:
foi lançado em 1956, pelo Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa (RJ), com o título de Dicioná-
rios de fatos gramaticais (DFG); cm 1965, ]. Ozon-Editor (RJ) publicou a segunda edição, intitulada
Dicionário de filologia e gramática e, em 1977, postumamente, a Editora Vozes (Pelrópolis, RI) pu-
blicou a sétima edição, sob o título atualizado de Dicionário de lingufstica e gramática (DLG)".
Ver: MATOS, Francisco Gomes de. O Diciondrio de lingufstica e gramática: notas de um leitor-pos-
faciador. DELTA, 2004, v. 20, n.spe, p. l59-164.
As teorias da enunciação receberam uma leitura muito particular no cenário tratamento diferenciado entre si quanto à exaustividade da indicação das suas
linguístico b rasileiro. Algumas foram identificadas às pragmáticas, outras ao trata- terminologias. Privilegiamos, nesse momento, os autores cujas teorias têm maior
mento do texto e houve também as que foram ligadas às perspectivas discursivas. circulação no Brasil atualmente. Por ora, julga mos que o Dicionário deve atender
Nesse sentido, houve, no caso de algumas teorias- como a de Jacqueline às exigências mais prementes dos consulentes.
Authier-Revuz e a de Oswald Ducrot, por exemplo-, uma espécie de "apropria- Também gostaríamos de registrar que, com este Dicionário, esperamos co-
ção" do aparato metodológico sem a incorporação da teoria subjacente aos mo- operar para a autonomia do campo da enunciação nos estudos da linguagem no
delos. Ou, ao contrário disso, houve uma apropriação de termos e definições fora Brasil, além de encorajar o leitor a se aprofundar na leit u ra dos textos a partir dos
d o construto epistemológico do qual fazem parte. Esse é o caso, muitas vezes, das quais os verbetes foram construídos. Desse modo, após cada verbete, são indicadas
leituras feitas de termos importantes de reflexões como a de Mikhail Bakhtin e a leituras para um ma ior aprofundamento.
de Émile Benveniste.
Essa constatação não encerra uma crítica. Somos cientes de que os saberes
se instauram de maneira singularizada e em sintonia com as condições sócio-his- SoBRE OS FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS
tóricas, epistemológicas e disciplinares de cada organização social e cultural. Ape- QUE NORTEARAM A ELABORAÇÃO DO DICIONARIO
nas registramos, com isso, que o' surgimcnto do campo da enunciação no Brasil se O Dicionário, a exemplo do que sugerem Flores & Teixeira (2005), fala em
dá, de certa forma, mediado por outras disciplinas dos estudos da linguagem. teorias da enunciação, no plural, e em linguística da enunciação, no singular. Utiliza
Certamente que essa mediação determinou o entendimento dos termos do também a palavra "campo", em construções como "campo enunciativo", "campo
campo. Basta uma vista de olhos na produção bibliográfica da área para se perce- da enunciação", "campo da linguística da enu nciação", en tre outros. Ora, mesmo
ber a variação no tratamento conceituai de termos como discurso, texto, enunciado, que não seja possível, neste momento, fazer uma discussão epistemológica aprofun-
enunciação, para citar os mais comuns. dada2 sobre as diferenças sugeridas pelo uso de "campo", "teorias" e "linguística",
Assim, a necessidade de produzir o Dicionário de linguística da enuncia- alguns esclarecimentos ao menos devem ser feitos. An tes, porém , duas observações.
ção deve-se, em especial, à demanda de definição conceituai de um campo teórico A p rimeira, e talvez a mais importante, é que essas distinções têm validade
que apenas recentemente tem recebido maior atenção da comunidade científica somente pa ra os fins estabelecidos neste Dicio11ário. Ou seja, não estamos propon-
brasileira. Como bem lembram Krieger; Finatto (2004) "[ ... ] o uso de termos téc- do algo q ue seja extensível à li nguística geral. Como se sabe, a elaboração de um
nicos é um importante recurso para a precisão conceituai nas comunicações pro- dicionário especializado exige de quem o faz uma visada epistemológica sobre a
fissionais" (p. 18) ao que as autoras acrescentam: "[ ...] as linguagens das técnicas área em estudo. Aqueles que já se ocuparam da tarefa de elaborar um sabem das di-
e das ciências mostram-se muito além de meras listas de palavras ou conjunto ficuldades encon tradas para mapear epistemologicamente uma determinada área,
de rótulos denominativos" (p. 124). Sendo assim, consideramos que o Dicionário
logo, saberão avaliar os percalços por nós enfren tados.
deve contribuir para a construção de um conhecimento compartilhad o do campo, A segunda observação é que palavras como "campo", "teoria" e mesmo
assegurando-lhe um mínimo de unidade. "linguística" são, hoje em dia, carregadas de múltiplos sentidos. Boa parte das ve-
Em outras palavras, um dicionário especializado - obra de referência que zes, elas se fazem acompanhar de longas explicações. Certamente, não é da natu-
serve, entre outras coisas, de instrumento de apoio à leitura das teorias de um de- reza de um dicionário dar a conhecer todas as discussões que possibilitaram a sua
terminado campo-, ao oferecer subsídios para maior precisão terminológica, deve feitura. U m dicionário deve, em princípio, atender às necessidades de consulta de
colaborar para a sistematização do conhecin1ento de base da área, minimizando 0
estabelecimento de falsas homonímias e de precárias equivalências teóricas.
Temos consciência de que uma obra com essas características já nasce de-
mandando revisão e ampliação. Muito há ainda que se acrescentar com relação 2 Para isso, consultar: CREMONESE, Lia Emília. Bases epistemológicas para a elaboração de um dicio-
nário de Linguística da Enunciação. Mestrado em Estudos da Linguagem. Un iversidade Federal do
tanto aos termos e definições quanto às teorias contempladas. Claro está que, Rio Grande do Sul (UFRGS). Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras. Orienta-
nos tempos atuais, a diversidade de teorias exige de um dicionário d e linguística ção: Prof. Dr. Valdir do Nascimento Flores. Coorientação: Profa. Dra. Maria José Bocorny Finatto.
constante renovação e revitalização. Assim, cabe dizer que as teorias receberam Porto Alegre, 2007.
seu leitor. A explicitação da epistemologia subjacente a ele deve ser feita em âmbito Primeiramente, entendemos que há um a divisão geral do campo da enun-
acadêmico. 3 Ao público leitor, cabem as explicações que facilitam a consulta ao di- ciação, obtida segundo o critério da existência, ou não, de um modelo de análise
cionário. Com isso, queremos dizer que seremos concisos acerca dessas palavras. da enunciação. Segundo esse critério, temos: .,o
Nesse sentido, usamos "campo" para nomear o conjunto das teorias que o grupo de autores que, mesmo sem explicitar um modelo de análise da
dizem respeito à enunciação. Nesse caso, a referência é genérica. Consideram os in- linguagem , refletiu sobre a enunciação. A teoria que esses autores auto-
cluídos no campo todos os estudos que visam à abordagem de problemas teóricos rizam é, em b oa parte, derivada da leitura do conj un to de seus escritos
e descritivos da enunciação. Constituem o campo todas as teorias da enunciação e não do estabelecimento explícito de uma metodologia. Esse é o caso,
integrantes do Dicionário. Para esse uso da palavra, fomos inspirados po r Jacque- n este Dicionário, de autores como Michel Bréal, Charles Bally, Émile
line Authier-Revuz, que assim procede em Ces mots quine vont pas de sai: boucles Benveniste e Mikhail Bakhtin. Notadamente autores que figuram dentre
réflexives et non-coi·ncidence du dire (1995). A autora fala em "balisages dans le os "fundadores" do campo;
champ énonciatif', que se pode traduzir por "balizagens no campo enunciativo". 4 o grupo de autores cujas propostas teórico-metodológicas de análise
O sintagma "teorias da enunciação", por sua vez, nomeia, no contexto deste enunciativa são explicitamente elaboradas e, m uitas vezes, reelabora-
dicionário, os diferentes construtos teórico-metodológicos que integram o campo. das. Estão nesse grup o autores como Ro man Jakobson, Oswald Ducrot,
São as propostas individualizadas, normalmente, assimiladas aos nomes de seus Jacqueline Authier-Revuz, Antoine Culioli,5 Claude Hagege.
autores. É assim que se fala na teoria de Émile Benveniste, na teoria de Oswald o grupo de autores que, mesmo sem propor um a teoria própria, se vale
Ducrot, entre outros. Cabem aqui alguns aponta mentos mais específicos. de teorias da enunciação par a uma descrição bastante original de fenô-
menos en un ciativos. É o caso, por exemp lo, da reflexão acerca da pará-
As teorias da enunciação são diversas e diferentes uma da outra. H á muitas
formas de agrupá-las. frase desenvolvida por Catherine Fuchs.
Fuchs (1985), por exemplo, propõe a existência de duas correntes: 1) a cor- Propomos, ainda, uma segunda clivagem, obtida de acordo com o critério
rente enunciativa em sentido estrito, aí incluídos os estudos que consideram os de a teoria estar, ou não, inserida em um cont exto maior das reflexões do autor.
subsistemas de unidades e as formas da língua. Fuchs denomina-os de "neoes- Desse segundo critério, obtemos dois grupos:
truturalistas" e dá como exemplo os trabalhos de Bally, Benveniste e Culioli, e 2) no primeiro, figuram , por exemplo, os nomes de Michel Bréal, Émile
a corrente enunciativa em sentido amplo, aí incluída a pragmática que recorre a Benveniste, Charles Bally, Roman Jakobson, François Récanati, Fran-
conceitos lógico-linguísticos, a atos de fala o u à interação. çois Flahault , Claude Hagege, Algirdeas Greimas, Patrik Charaudeau,
Dahlet (1998) faz também uma distinção interna a " uma disciplina que já Mikhail Bakhtin;
nasce plural" (p. 69). Para ele, há uma grande clivagem n o campo da en unciação, no segundo, encontra mos, por exemplo, Oswald D ucrot, Jacqueline
que dá origem a dois domínios: há a perspectiva indiciai - na qual Dahlet inclui as Authier-Revuz e An toine Culioli.
teorias de Charles Bally e Érnile Benveniste- e a perspectiva operatória- na q ual
A diferença, n esse últim o caso, é que os autores constantes do primeiro
se incluem as teorias de Gustave G uilha ume e Antoine Culioli.
grupo desenvolveram um p ensamento em torno de temáticas muito mais amplas
De certa forma, também nós fazemos uma distinção interna ao campo, na do que as circunscritas ao campo da enunciação. Em outras palavras, há autores
medida em que reconhecemos que as teorias apresentadas no Dicionário têm esta- dentre os contemplados no Dicionário cuja teorização ultrapassa o campo da enun-
tutos diferenciados.
ciação e q ue n ão poderiam ter seu pensamento reduzido à temática enunciativa.
Na verdade, essa d iferença colocou-nos frente a um problema para a ela-
boração do Dicionário: que recorte fazer no interior dessas teorias de forma a não
3
Uma versão aprofundada dessa discussão pode ser encontrada em Cremonese (2007), conforme mutilá-las do conjun to do qual fazem parte? Observemos alguns exemplos.
nota 2, supra.
' A autora, inclusive, intitula um texto usando a palavra "campo" de maneira muito próxima a que
fazemos aqui. Trata-se de Psychanalyse et champ linguistique de l'énonciation: parcours dans Ia méta-
éno11ciation, publicado por ocasião do Colloque international de Ce.risy-La Salle (1998), Linguistique ' Mesmo que a teoria de Culioli se encontrcesparsamente construída em inúmeros artigos, a reunião dos
ct psychanalyse, sob a direção de Michel Arrivé e Claudine Normand. volumes dePour une linguistiquede l'énonciation permite uma visão do conjunto da proposta do autor.
A obra de Roman Jakobson comporta números que falam por si: são mais de Falta ainda falar do sintagma "linguística da enunciação", que dá título ao
seiscentos livros e artigos dos quais apenas a metade encontra-se reunida nos sete Dicionário. Esse termo nomeia o conjunto das teorias da enunciação- o que torna
volumes dos Selected Writings. 6 São incontáveis os temas de estudo: a poesia, a pin- o seu uso próximo da ideia de "campo" - com a particularidade de enfatizar se tra-
tura, a métrica, a teoria linguística, o folclore, a fonologia, a patologia da linguagem/ tar de teoria e análise linguística. Com a expressão "linguística da enunciação", es-
a aquisição da linguagem, as línguas no mundo, a semiótica, entre outros. peramos dar a entender ao consulente que estão reunidos no Dicionário os termos
O linguista Émile Benveniste, além dos trabalhos reunidos em Problemas de de um conjunto de teorias do campo da enunciação que têm o propósito de ana-
linguística geral I e Problemas de linguística geral II, assina o monumental Vocabulá- lisar a linguagem de um ponto de vista linguístico que, como veremos, se constrói
rio das instituições indoeuropeias e os dois tomos Origines de La formation des noms de maneira muito singular relativamente, em especial, à linguística saussuriana.
em indo-européen e Noms d'agentet noms d'action em indo-européen. Em todos, Ben- Isso não impede de se admitir que algumas das teorias contempladas de-
veniste demonstra preocupação com aspectos diacrónicos, sintáticos, lexicais etc. senvolvem análises pa ra além do linguístico- é notadamente o caso de Greimas,
Em Charles Bally, encontramos um autor que se dedicou a fazer do francês Jakobson e Bakhtin, por exemplo. Apenas registramos que, ao fazermos o Dicio-
alvo de suas reflexões não apenas com relação ao que chama de estilística, mas nário de linguística da enunciação, optamos por produzir uma obra de referência,
também com relação à didática da língua, à literatura e ao francês falado. prioritariamente, do campo da linguística.
Mikhail Bakhtin, por su'a vez, paralelamente à contribuição aos estudos lin-
guísticos, a partir de uma concepção de linguagem que implica necessariamente
a enunciação, produz reflexão de extremo interesse para os estudos literários e às SOBRE A ESCOLHA DAS TEORIAS
ciências humanas de modo geral.
Em linhas gerais, foram usados quatro critérios para justificar a inclusão
Assim, se d e um lado, não era possível reduzir a obra de tais autores ao cam-
das teorias neste Dicionário:
po da enunciação, uma vez que inúmeros textos seus demonstram interesses mui-
to maiores; de outro, o recorte se impunha, já que não se tratava de fazer um dicio- a) a referência (continuidade ou ruptura) à dicotomia saussuriana língua/
nário de Roman Jakobson, por exemplo, mas apenas da sua elaboração no campo fala e, por ela, ao quadro sistêmico-estrutural;
enunciativo. E o caso de Jakobson é paradigmático: sua "teoria da enunciação" é, b) a proposição de uma análise da linguagem do ponto de vista do sentido;
na verdade, consubstancial à proposição da noção de shifter - termo que o autor c) a reflexão em torno de mecanismos de produção do sentido entendidos
importa de O. Jespersen - no texto "Shifters, verbal categories, the russian verb". como marcas da enunciação com a elaboração explícita de uma teoria
O interessante, nesse caso, é que não conh ecemos outros trabalhos de Jakobson sobre o tema da enunciação;
que versem sobre a enunciação. Sua notoriedade no campo deriva somente desse d) a inserção do elemento subjetivo no âmbito de estudos da linguagem.
artigo, complexo sem dúvida, mas limitado se comparado com o número de pro- A seguir, tentaremos explicitar cada um desses critérios, com especial ênfa-
blemas estudados por contemporâneos seus. se para o primeiro, em nossa opinião, determinante dos demais.
Enfim, como dissemos, as divisões internas ao campo da enunciação que
fazemos aqui têm validade apenas no contexto do Dicionário e atendem às d eman-
LíNGUA E FALA: CONCEITOS PRODUTIVOS DE TEORIAS ENUNCIATIVAS
das específicas de sua elaboração.
A percepção de que a linguagem é um todo multiforme (Saussure, 2000,
p. 17) e a preocupação em construir os princípios da ciência linguística que neces-
sitava definir um objeto único e autónomo para análise fizeram com que o concei-
6
São eles: 1: Phonologica/ Studies, 1971; II: Word and Language, 1971; III: Poetry of Grammar and to de língua se tornasse o ponto de partida das reflexões saussurianas contidas no
Grammar of Poetry, 1981; IV: S/avic Epic Studies, 1966; V: On Verse, its Masters m1d Explorers, 1979;
VI: Early Slavic Paths and Crossroads, partI: 1985, part //: 1985; Vll: Contributions to Comparative Curso de linguística geral.
Mythology. Studies in Unguistics and Philology, 1972-1982, 1985; VIII: Completion Volume I. Major Para os nossos propósitos neste Dicionário, importa considerar que par-
Works, 1976-1980, 1986 (1987/1988).
7
Foi a atitude de recortar um tema do conjunto das reflexões de um autor que possibilitou a elabora-
timos do princípio de que a definição de linguagem, sob seus dois aspectos, o de
ção do livro Introdução aos estlldos deRoman ]akobson sobre afasia, de Flores; Surreaux; Kuhn (2008). língua e o de fala, que fundamentaram a teoria saussuriana, foram muito pro-
dutivos -reinterpretados, modificados, alargados - para as teorias enunciativas. para o estudo da língua. A fala vem antes, faz evolu ir a língua. Há interdependência
Em outros termos: as teorias presentes no Dicionário se remetem, cada uma a seu entre elas. Mas n ão se poderia reunir, sob o mesm o ponto de vista a língua e a fala,
modo, ao pensamento saussuriano, principalmente, à problemática da construção explica Saussure, para quem cada uma é objeto de uma linguística.
do objeto da linguística. Assim, ao se ler o cap ítulo III ( Objeto da Linguística) da Introdução do CLG,
Flores & Teixeira (2005) defendem que h á vinculação da linguística da observa-se que a distinção entre língua e fala apresenta p rop ósitos bem definidos:
enunciação, quanto à formulação de seu objeto de estudo, à dicotomia saussuria- 1) o de mostrar sua intenção de instituir uma ciência da linguagem; 2) o de enfati-
na língua/fala, sem, contudo, haver identificação completa. Segundo eles, entre os zar a necessidade de defin ição de um objeto único e classificável para essa ciência;
autores do campo enunciativo, se vê um duplo movimento -de conservação e de 3) o de defender sua tese de q ue esse o bjeto é criado a parti r de um ponto de vista;
alteração - em relação a Saussure. 4) o de demonstrar, apoiado em vários argumentos, que esse objeto só pode ser a
Não seria um excesso de generalização dizer que os fenômenos estudados língua como é por ele entendida.
nas teorias da enunciação pertencem à língua, mas não se encerram nela; p erten- Partindo-se dos conceitos saussurianos de língua e fala, como foram pro-
cem à fala à medida que só nela e por ela têm existência, e questionam a existência postos no Curso de linguística geral, podemos fazer algumas reflexões sobre o papel
de ambas já q ue emanam das duas. Relembremos, então, os termos pelos quais que eles assumem nas teorias da enunciação. Tom emos, inicialmente, apenas dois
língua e fala comparecem no Cu'rso de linguística geral. exemplos: Benveniste e Ducrot.
No capítulo intitulado "Objeto da Linguística", Saussure parte do fato de Benveniste, sobre Saussure, diz:
que, diferent emente de outras ciências, que têm objetos previamente estabelecidos, Quando Saussure introduziu a ideia de signo linguístico, ele
na linguística isso não ocorre, já que a linguagem se apresenta ao pesquisador com pensava ter dito tudo sobre a n atureza da língua: n ão parece ter vis-
faces diferentes como som, como ideia, como estrutura sintática etc. Na linguísti- to que ela podia ser outra coisa ao mesmo tempo, exceto no quadro
ca, o objeto não preexiste à teoria com a qual ele vai ser analisado. Ao contrário, é da oposição bem conh ecida que ele estabelece entre língua e fala.
Compete-nos ir além do ponto a que Saussure chegou na análise da
à luz de um ponto de vista que o objeto deve ser construído.
língua como sistema significante (PLG II, p. 224). (grifo n osso)
Encontran do, então, na linguagem um aglomerado confuso de coisas heteró-
clitas que, além de poder ser analisado linguisticamente de diferentes ângulos, está Oswald Ducrot (1987), desde muito cedo em sua teoria da argumentação
a cavaleiro de diferentes domínios (p. 17), tais como a Psicologia, a Antropologia, a na língua, a firma, em texto intitulado Estruturalismo, enunciação e semântica, que
Gramática normativa, a Filologia etc., e, no esforço para fundamentar uma ciência a descrição semântica de uma língua, considerada como conjun-
da Linguística, e, consequentemente p ara definir um objeto como um todo em si e to de frases ou de enunciados, não só não pode ser acabada, como
como princípio de classificação, Saussure propõe a língua como objeto da linguística. não pode ser empreendida de forma sistemática, se n ão m encionar,
Vários argumentos apoiam esse ponto de vista no Curso: a língua tem defi- [... ] certos aspectos da atividade linguística realizada graças a essa
língua". E acrescen ta: "Se utilizarmos, para exprimir tal tese, a ter-
nição autônoma, é vista como sistema, é norma para todas as manifestações da lin-
minologia saussuriana tradicional, seremos levados a afirmar [... ]
guagem , portanto, pode ser estudada cientificamente. A língua é só uma parte da que uma linguística da língua é impossível se não for também uma
linguagem, é seu produto social e, como tal, é compartilhada pela comunidade de linguística da fala (p. 63). (grifo nosso)
fala por meio de um contrato que se estabelece entre seus membros; é o produto que
O que queremos ilustrar com os exemplos dados é q ue os a utores do campo
o indivíduo registra passivamente (p. 22) po r aprendizagem, é de natureza concreta.
da en unciação, em geral,8 partem dos conceitos de lfngua e fala para fundamentar
A fala- o outro aspecto da linguagem - é a utilização da língua, sua part e
individual, de caráter criador e livre. É o acessório, o acidental da linguagem . As-
sim sendo, a fala não pode ser o objeto próprio da linguística, qu e d eve se ocupar
1
do estável, do geral, isto é, da lingua, porque esta é homogênea, porque faz a uni- O caso de Bakhtin merece uma observação. Em Marxismo e filosofia da linguagem, encontra-se
uma crítica ferrenha à teorização saussuriana da linguagem que, se examinada superficialmente,
dade da linguagem. A fala se subordina à língua. pode soar como uma recusa radical da perspectiva forma l para o estudo da linguagem. No entanto,
A língua pode ser estudada separadam ente, mas língua e fala são estreita- uma leitura em filigrana do conjunto da obra do Círculo de Bakhtin, revela que a "semântica" aí
pressuposta comporta, necessariamente, as dimensões do reiterável e do instável em estreita correla-
mente relacionadas: a lingua é necessária para a fala inteligível, e a fala é n ecessária ção. A esse respeito, ver Faraco, 2006.
suas reflexões, embora enraízem neles suas teorias de modos diferentes. Há, na de sai: boucles réflexives et non-coi"ncidence du dire (1995 ), aborda as incisas, a pseu-
linguística da enunciação, uma espécie de retomada da oposição saussuriana, no do-anáfora, correções, glosas. Oswald Ducrot, ao longo de seus inúmeros trabalhos
entanto, cada teoria da enunciação reformula-a, amplia-a e até mesmo, num certo dos últimos 30 anos, trata os conectores, os operadores, os m odalizadores, a nega-
sentido, dela diverge em relação à teoria saussuriana. ção, os pressupostos etc. Catherine Fuchs, em La Paraphrase e l'énonciation ( 1994),
Fuchs (1985, p. 120) considera, também, que o questionamento da oposi- desenvolve uma abordagem singular do fenôm eno da paráfrase. Claude Hagege, em
ção língua/fala se realiza em duas direções: a) na da constatação de que existem na L 'homme de paroles, dedica-se a estudar os fenômenos da variação social, da conota-
língua categorias que remetem ao funcionamento da própria língua e que não po- ção, da díade tema-rema, do tempo etc. Em Benveniste encontramos estudos sobre
dem ser estudadas sem que se leve em consideração a situação de enunciação; b) na derivação, temporalidade verbal, pronomes (aí incluídas as discussões sobre a cate-
adm issão de que, no plano do funcionamento concreto do discurso, é impossível goria de pessoa), modalidade, fraseologia, advérbios, funções sintáticas, negação etc.
dissociar o plano objetivo do subjetivo: "o sujeito est á sempre presente em tudo, Cabe ressaltar, porém, que, se de um lado, podemos ver a linguística da
mesmo quando se mascara" (idem). enun ciação como um campo constituído por diferentes teorias sem ânt icas da
enunciação - e isso é um fator unificador-, por outro, não se pode tomá-las em
Em suma, a linguística da enunciação é uma continuidade ou uma ruptura
bloco, quando o que está em questão é o tipo de análise semântica que fazem - e
com Saussure? Há espaço para identificarmos ambas as possibilidades. Porém , o
isso é um fator de diferenciação entre elas. Nada há em comum entre a descrição
que cabe salientar é que, independentemente do vínculo que o campo da enun-
semântica feita por Oswald Ducrot e a feita por Jacquelin e Authier-Revuz, por
ciação tem com Saussure, as teorias da enunciação constituem um novo objeto,
exem plo. I nú m eros são os distanciamentos entre ambos: con cep ção de sujeito,
que não encontra, ao menos não totalmente, abrigo na dicotomia língua/fala. Este
con ceito de enunciação, entendimento do q ue é língua etc. Nesse caso, é oportuno
novo objeto tem um nome: enunciação.
o comentário de Fuchs (1985), para quem a concepção de semântica das teorias da
en unciação "está longe de ser unificada: há provavelmente tan tas concepções da
0 PONTO DE VISTA DO SENTIDO semântica quantas são as teorias" (p. 121).
Dizer que as teorias da enunciação estudam a linguagem do ponto de vista
do sentido merece algum comentário, inclusive porque, muitas vezes, tais teorias Os MECANISMOS DE PRODUÇÃO DO SENTIDO NO DISCURSO
são também nomeadas "semântica da enunciação".
Em decorrência do q ue dissemos anteriormente, podemos situar outro--ªs-
O leitor perceberá que preferimos utilizar a expressão "estudo do sentido" pecto unificador das teorias da enunciação: os mecanismos de produção do sentido
em vez de "semântica da enun ciação", e isso não por vermos algum equívoco nesta da enunciação. Tais mecanismos são de diferentes naturezas e adquirem relevância
última. A opção tem mesmo uma função didática. O uso de "semântica da enun- no escopo da t eoria em que fo ram concebidos. I
ciação" poderia levar a associar as teorias da enunciação a um nível da análise lin- Mas, em linhas gerais, são descrit os os mecanismos, as marcas, as opera-\_1
guística. Assim como há os níveis sintático e fonológico, haveria o nível semântico ções, que revelam a relação do dizer com o dito, da en unciação com o enunciado
ao qual estariam ligadas as teorias da enunciação. ou ainda, do processo de produção de um enunciado com o produto. Fuchs a esse
Preferimos outra configuração. ~studar a linguagem do prisma de uma teo- respeito comenta:
ria da enunciação é estudá-la do ponto de vista do sentido, sim, mas isso não sig-
Sabemos que a hipótese de base de toda teoria enunciativa é a
nifica que os demais níveis de análise linguística não sejam contemplados pelas
inscrição do sujeito no próprio âmago do sistema lin guístico, mani-
teorias enunciativas. É uma questão de ponto de vista: o núcleo de qualquer teoria festada em particular pela existência de certas categorias gramaticais
e_nunciativa é o sentido. No entanto, todos os níveis da-;;_nálise linguística (morfo- específicas,9 que marcam a relação do sujeito com seu próprio enun-
logia, sintaxe, fonologia etc.) podem ser analisados, na enunciação, da perspectiva
do sentido. Exemplifiquemos.
Antoine Culioli, nos volumes de Pour une linguistique de l'énonciation ( 1990, 9
Paralelamente, gostaríamos de destacar que, mesmo concordando com a hipótese de base de Fuchs, temos
1999a, 1999b), analisa a negação, a representação metalinguística em sintaxe, a quan- reservas quanto à existência de "categorias específicas" para marcar a relação entre o sujeito e o seu enun -
ciado. Há em Benveniste, em especial, no texto citado por Fuchs, uma considerável ampliação dessa visão
tificação, a temporalidade, o aspecto. Authier-Revuz, em Ces mots qui ne vont pas "localizacionista" daenunciação.Estaideiaédescnvolvidanaspáginas 105-107 de Florcs&Teixeira (2005) .
r
I
ciado (pessoas, modalidades, temporalidade, dêixis etc. cf. 'O apare- o que coloca a n ecessidade de convocar "exteriores teóricos" à linguística propria-
lho formal da enunciação' de Benveniste). (Fuchs, 1985, p. 77). mente dita para apoiar a descrição de fatos de linguagem. Assim, a proposta de
..
o São, então, c<msiderados mecanismos de produção de sentido na enun-
Authier-Revuz torna legítima a aspiração do teórico da enunciação de se pronun-
ciar sobre a natureza do sujeito, desde que fundamentado em campos exteriores
ciação: os indicadores de subjetividade em Benveniste (os pronomes, os tempos
à linguística- como, por exemplo, no caso de Authier-Revuz, a psicanálise- que
verbais, os verbos de fala, os advérbios de tempo e de lugar, as fu nções sintáticas
tem uma teoria da subjetividade.
de interrogação, de intimação ou de asserção, as modalidades); os shifters em Jako-
bson (as categorias verbais de tempo, modo pessoa); os fenômenos estudados na
estilística linguística de Bally (dictum e modus, tema e rema); o discurso citado e
A VISUALIZAÇÃO DO CAMPO
suas variantes, tal como abordado por Bakhtin/Volochínov.
Em teorias mais recentes, porém, é possível encontrar uma vasta lista de Finalmente, fazemos acompanhar estas Palavras ao leitor de uma visuali-
problemas linguísticos que integram a abordagem enunciativa (cf. Authier-Revuz, zação do campo da enunciação, tal como ele foi tomado, em linhas gerais, para
Ducrot, Culioli) e que vão além das "marcas" lembradas por Fuchs. a elaboração do Dicionário. Temos consciência de que uma representação gráfica
Em linhas gerais, podemos perceber que cada teoria elege mecanismos es- é sempre insuficiente para dar a conhecer uma epistemologia. No entanto, mais
pecíficos para dar a conhecer a sua perspectiva do estudo enunciativo. De nossa uma vez, nos ve_mos na situação de ter que optar entre aprofundar uma discussão
parte, c~be apenas lem~·ar que não é o fenômeno linguístico em si que determina ou apenas dá-la a conhecer ao nosso consulente. A opção que fazemos está, acre-
1
o_gue pode, ou não, ser considerado mecanismo enunciativo, mas o ponto de vista ditamos, em consonância com o perfil do usuário suposto para este Dicionário,
_teórico que o aborda. Em outras palavras e a título de exemplo: o estudo acerca da aqueles que se iniciam nos estudos da enunciação.
paráfrase desenvolvido por Catherine Fuchs não invalida, nem desconhece, o utras Assim, decidimos apresentar uma "árvore de domínio" 10, isto é, uma repre-
abordagens do fenômeno, no entanto, a autora apresenta uma análise dos meca- sentação gráfica, do campo da enunciação que sintetize tão-somente o princípio
nismos parafrásticos circunscrita à enunciação. geral sobre o qual o Dicioná1io foi feito, qual seja, o de que a linguística da enuncia-
Atitude similar pode ser vista em Enunciação e gramática (cf. Flores et al. ção é uma parte da linguística para onde convergem diferentes teorias da enuncia-
2008). Nesse livro, os autores apresentam análises enunciativas de mecanismos ção que se originam da discussão em torno da dicotomia saussuriana língua/fala.
linguísticos não comu mente abordados no campo: pronomes indefinidos, prepo- Esperam os poder ilustrar com a árvore o aspecto de conversão que, acreditamos, é
sições, frase nominal, aspecto verbal etc. É claro que não se ignora que tais fenô- inerente ao campo. Essa representação está na figura a seguir.
menos são, desde sempre, objeto de estudo das mais diferentes teorias linguísticas,
no entanto, o que se vê em Enunciação e gramática é a proposição de uma análise
enunciativa dos fenômenos.
Enfim, integram o escopo de análise das teorias da enunciação todos os me-
canismos linguísticos que permitam estudar o que-..__
Fuchs (1985) nomeou generica-
mente de "inscrição do sujeito no próprio âmago do sistema linguístico" ( cf. supra).
Ü ELEMENTO SUBJETIVO
10
Ainda que não do mesmo modo, a~_teorias da enunciação levam em conta Esta "árvore de domínio" foi desenvolvida em Cremonese (2007, p. 136-139) e faz parte de uma de-
tida reflexão epistemológica para a construção do Dicionário, leitura por nós recomendada àqueles
o elemento subjetivo, não como acessório, mas como parte essencial da descrição que quiserem se aprofundar no tema. Sobre a árvore diz a autora "Pensamos que wn campo como
linguística. Entretanto, é p reciso dizer que não é o próprio sujeito que essas teorias a Linguística da Enunciação não seja passível de uma representação linear, especialmente porque
contemplam, mas a representação que a enunciação dele fornece. muitos de seus aspectos e características não podem ser facilmente planificados". Ao que acrescenta
a autora: "Temos plena consciência[ ... ] de que tal representação[ ... ] não consegue abarcar a totali-
A esse respeito, a posição deAuthier-Revuz é singular. A autora vê uma ine- dade de dados que deveriam estar presentes. Trata-se de um modelo simplificado, buscando ser mais
vitável heterogeneidade (incompletude) teórica afetando o campo da enunciação, didático, e que tem como objetivo situar o consulente".
Árvore de domínio - linguística da enunciação era importante empreender o reconhecimento terminológico de um campo mul-
tifacetado. Assim imbuídos, cada redator, cada membro das equipes de pesquisa
encarregadas de repertoriar, selecionar os termos de cada teórico e, situar as suas
contribuições em meio aos diferentes desenhos do campo que se descortinava, re-
elaborados tais desenhos à medida que avançávamos, soube enfrentar bravamen te
toda uma sucessão de desafios. Um dos p rincipais desafios foi o de explicitar no-
ções complexas de um modo que fosse, ao mesmo tempo, conceitualmente correto
e acessível para o nosso público-alvo.
Cumprida a jornada, vemos que foram m uitas p essoas envolvidas nas mais
diferentes tarefas ao longo de cada uma das suas etapas. As atividades primeiras do
desenho macro e microestrutural do Dicionário, as reuniões de planejamento do
trabalho, o desenho inicial da nossa base de dados e as testagens iniciais de seu fun-
cionamento das informações com usuários contaram com o auxílio da tradutora
de francês e terminóloga Aline Vasconcelos. Suas inquietações e questionamentos
motivaram a todos. Na continuidade do trabalho, contamos com o apoio técnico
Figura l -Árvore de domínio - representação do campo- Linguística da Enunciação. de Daniel Costa da Silva, igualmente tradutor e terminólogo. Seus cuidados e sua
dedicação constantes acabaram inspirando todos os envolvidos na aventura e, com
Nessa configuração, o leitor pode ainda verificar alguns pontos: a) resguar- certeza, são responsáveis pelo bom norteamento de várias decisões tomadas. Agra-
da-se que os autores possam ligar-se a outros campos do conhecimento que não 0 decemos também os auxilios de pesquisa recebidos do CNPq, através de Bolsas de
linguístico (caso de Bakhtin, por exemplo); b) a direção das setas permite visualizar Iniciação C ientífica, Bolsas de Apoio Técnico, Bolsas de Produtividade em Pesqui-
que uma parte da reflexão desses autores configura-se em uma teoria da enuncia- sa e sob a forma de recursos financeiros. Cabe também registrar a cooperação do
ção, a contemplada no Dicionário, e que outra parte liga-se a outras reflexões; c) de- grup o TERMISUL, que nos permitiu ut ilizar alguns recursos informatizados para
monstra-se a vinculação das teorias ao quadro saussuriano e, por ele, à linguística. sup01te à nossa base de dados. Finalmente, agradecemos à Pró-Reitoria de Pesqui-
Nesse modelo, abdica-se da representação do aspecto semântico das teo- sa da UFRGS e à Editora da UFRGS pelos apoios recebidos.
rias, uma vez que o concebemos como um ponto de vista sobre a linguagem e não
como um nível da análise linguística. Uma árvore de domínio é, pois, uma forma
sempre parcial de caracterização de um campo. Apesar disso, essa representação Valdir do Nascimento Flores
cumpre, cremos, seu papel de fornecer ao leitor as informações epistemológicas Leci Borges Barbisan
Maria José Bocorny Finatto
gerais que nortearam a elaboração do Dicionário.
Marlene Teixeira
AGRADECIMENTOS
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ao concluir estas Palavras ao leitor, importa ainda registrar que empreen-
de~ u~a obra como esta equivale a uma trajetória, uma verdadeira aventura, cujo AUTHIER-REVUZ. Ces mots quine vont pas de soi: boucles réjlexives et not~-coi'ncidences du dire. Paris:
Larousse, 1995.
pnme1ro passo não se deve dar sem antes contar com alguns recursos vitais. En- BENVENISTE, Émile. Problemes de linguistique générale I. Paris: Gallimard, 1966.
tre es~es recursos, destacamos dois muito especiais: o espírito de cooperação e o _ __. Problemes de linguistique générale li. Paris: Gallimard, 1974.
entusiasmo. Esses elementos foram responsáveis por manter animado todo um CREMONESE, Lia Emília. Bases epistemológicas para a elaboração de um dicionário de Lingufsticn da
Emmciação. Mestrado em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul
conjunto de pessoas que havia se reunido em torno de uma crença; a crença de que (UFRGS). Instituto de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras.
CULIOLI, Antoine. Pour une linguistique de /'enonciation, T. 1. Paris: Ophrys, 1990.
___. Pour une linguistique de /'enonciation, T. 2. Paris: Ophrys, 1990a.
___. Pour tme liuguistique de /'enonciation, T. 3. Paris: Ophrys, 1990b.
DAHLET, Patrick. Dialogização enunciativa e paisagens do sujeito. ln: BRAIT, B. (Org). Bakhtin, dialo-
gismo e construção do sentido. Ed. da Unicamp: São Paulo, 1997.
DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
FARACO, Carlos Alberto. Voloshinov: um coração humboldtiano? ln: FARACO, Carlos Alberto;
TEZZA, Cristovão; CASTRO, Gilberto de (orgs.). Vinte ensaios sobre Mikhail Bakhtin. Petrópolis:
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FLORES, Valdir do Nascimento; TEIXEIRA, Marlene. Introdução à litJguística da enunciação. São Pau-
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FLORES, Valdir do Nascimento; SURREAUX, Luiza Milano; KUNH, Tanara Zingano. Introdução aos
EXPEDIÇÃO TERMINOLÓGICA
estudos de Romat1 ]akobson sobre afasia. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
FLORES, Valdir do Nascimento et al. Enunciação e gramática. São Paulo: Contexto, 2008.
FUCHS, Catherine. As problemáticas enunciativas: esboço de uma apresentação histórica e crítica.
Alfa. Unesp: São Paulo: 1985, p. 111-129.
KRJEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à terminologia: teoria e prática.
São Paulo: Contexto, 2004.
MATOS, Francisco Gomes de. O Dicio~ário de Linguistica c Gramática: notas de um leitor-posfaciador. Ter participado da organização de uma obra como esta equivale à sensação
DELTA, 2004, v. 20, p.159-164.
de ter empreendido uma aventura. Fizemos uma expedição rumo a um território
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2000.
que nos surpreendeu a cada passo dado. E, ao longo da verdadeira aventura que foi
auxiliar o planejamento e a execução do desenho deste Dicionário de linguística da
enunciação, optamos por nos ajustar às situações que se apresentaram, sem o que,
dito isso com a certeza dos sobreviventes, teríamos sucumbido.
Tal ajustamento significou respeitar as especificidades de uma terminologia
viva, multifacetada, inscrita em meio a um campo para o qual convergem estudos de
diferentes ramos das ciências huma nas e sociais, como também preservar os modos
de dizer dos elaboradores e das equipes envolvidas na redação dos verbetes de cada
teórico contemplado. Tivemos em mente o usuário e o caráter didático e descritivo
de uma obra como esta. Por isso, fizemos vários testes com estudantes de Letras
que comentaram os verbetes ao longo de suas construções e sucessivas revisões.
Além disso, procuramos respeitar alguns princípios terminológicos bási-
cos: a) conceitos diferentes demandam verbetes diferentes; b) definições devem ser
concisas, sempre que possível; c) notas explicativas são muito importantes e devem
situar a definição de um conceito em meio a outros conceitos de um mesmo teóri-
co; d ) as terminologias identificadas devem ser passíveis de localização em meio a
uma representação da estrutura conceituai do campo (sua "árvore de domínio") e
de associação aos seus produtores e campos de conhecimento; e) as terminologias,
como produtos histórico-culturais, são o que são e não devem moldar-se ao que
os terminólogos desejariam que fossem.
No percurso de auxiliar a reconhecer os termos mais relevantes para com-
por o desenho de um campo de conhecimento, uma pergunta nos acompanhou.
Afinal, de que é feito um termo (científico ou técnico)? Essa questão assombra,
diariamente, todos aqueles que, como nós, dedicam-se ao trabalho-aventura de modos de dizer de uma equipe de mais de quarenta redatores de verbetes e de
ajudar a reconhecer e repertoriar terminologias dos mais variados matizes e de notas, que preencheram muito mais fichas terminológicas do que se pode supor
diferentes territórios do saber. A resposta, apressada, parece simples: "Ora, um apenas considerando o número de termos integrados ao Dicionário.
termo é uma palavra técnica, tal como policarbonato ou pancreatite. É uma palavra Por fim, devemos sempre ter em mente que colaborar para identificar uma
diferente, em suma, que tem um sentido bem específico em meio a uma comuni- terminologia, como esta que aqui se apresenta, implica relacionar os termos aos
cação específica". seus autores e textos-fonte e, sobretudo, colocar-se no lugar dos destinatários do
Concordando com a grande maioria dos estudiosos de Terminologia, 1 trabalho: o consulente. Esse usuário tem um determinado perfil e determinadas
entendemos que a resposta acima é realmente apressada. Afi nal, um termo nem necessidades. Assim, nossa função também se situou entre atender às necessidades
sempre é uma só palavra. Mostra-se, também, como uma cadeia de palavras. E, do usuário - um estudante brasileiro da área de Letras em fase final de curso ou
ao apresentar-se como cadeia, revela-nos uma unidade de sentido cujos limites que inicia seus estudos de pós-graduação - e atender às necessidades de represen-
nem sempre são fáceis de precisar. .. Se esse "perigo" de limites imprecisos entre tação do campo que se quer dar a conhecer por seus termos, conceitos, pontos de
as construções e os termos já foi apontado por quem percorreu o caminho das conta tos e diversidades fundamentais.
terminologias das ferramentas e das máquinas, o que mais se poderia esperar no Além de compreender a informação posta, acreditamos ser importante
campo das Linguísticas? ' colaborar para favorecer um entusiasmo do usuário pelo campo e dar condições
As especificidades das terminologias que circulam menos e das que se mis- para quem queira prosseguir sua pesquisa a partir de um verbete consultado. Daí
turam mais com as palavras do dia a dia estão igualmente presentes na terminologia porque sempre estão indicados termos relacionados e fontes para um aprofunda-
da Linguística da Enunciação. Ideia, sui-referencial e eu são termos em Benveniste; mento das noções apresentadas.
ilocutório implfcito e ilocutório explícito são termos cunhados por Flahault; Qnt e Qlt Do ponto de vista de algumas teorias terminológicas e práticas termino-
são outras denominações em Culioli; a confluência de duas linguas verificamos no gráficas sistematizadas internacionalmente, esta obra poderia ser chamada de
termo relação de répérage, da obra do mesmo teórico. Assim, cada um dos teóricos glossário visto que tem uma abrangência limitada- ao menos em relação ao trata-
tomados como referência para a construção desse campo dos estudos da lingua- mento dado a algumas teorias enunciativas aqui repertoriadas. Entretanto, cabe a
gem apropria-se de suas palavras de um modo que lhe é particular. Além disso, um denominação dicionário uma vez que o conjunto das terminologias reconhecidas
mesmo teórico pode estabelecer três ou quatro conceituações para um termo ao é suficiente para instrumentalizar a leitura feita das teorias no cenário da linguís-
longo de sua obra ... Essa apropriação e seu espelhamento, justamente, integram o tica brasileira.
núcleo do fazer de quem ajuda a reconhecer e a sistematizar uma dada terminologia. Em meio ao dia a dia do trabalho, aprendemos a reconhecer e a admirar,
Não se pode mais pensar, de um modo ingênuo, que caberia ao terminó- com respeito, algumas especificidades terminológicas desse campo. Vimos, por
logo apenas o trabalho de "arrumar" as diferenças e de colocá-las em ordem al- exemplo, que a influência do francês sobre a terminologia em português, em alguns
fabética. O terminólogo não deve, conforme entendemos, sublimar as diversida- momentos, é bastante presente. Deparamo-nos com termos criados pela tradução
des, as polissemias, as conceituações diferentes, tampouco conter a necessidade de e leituras brasileiras, que não nos pareceram funcionar como termos nos originais
longas notas explicativas em determinados casos, como ocorreu em enunciação dos autores, caso de agenciamento, por exemplo. Assim, foi possível testemunhar
de Bakhtin. Ele deve, sim, respeitar os modos de dizer, descrever as variações e como uma palavra do original pode transmutar-se em termo a partir da sua tra-
explicitá-las de uma maneira que seja claro, para o usuário, justamente o quadro dução e recepção. Esse fenômeno, entre tantos outros, bem poderia compor um
da diversidade. E, nesse caso, também foi preciso respeitar e conciliar os diferentes longo diário da expedição, material que auxiliaria outros exploradores tão pouco
experientes nesse campo como nós mesmos. Organiza r tal diário, contar sobre as
curvas do caminho percorrido, poderá prestar boa colaboração para novas aven-
turas em áreas afins.
' Grafada com t maiúsculo, pois corresp onde a uma •\rea de estudos já bem desenvolvida nas nossas
Universidades, enquanto terminologia com t minúsculo equivale a conjunto de termos ou termo de Esperamos que o trabalho terminológico empreendido, no que aqui é apre-
uma dada especialidade. sentado, possa ter ficado à altura das expectativas dos nossos usuários e que tenha
contemplado boa parte das necessidades de apresentar o tão rico e multifacetado
campo de conhecimentos em foco. E, para fechar o relato, vale lembrar que:
2. (2): o número ao lado do termo indica que a mesma forma, com sen- foco no verbete. Todos os itens indicados como termos relacionados
tido diferente, ocorre em outros autores. Advertência: Oswald Ducrot corresp ondem a verbetes com informações completas.
é o único autor que apresenta sen tidos diferen tes para um m esmo ter-
mo. Quando isso ocorre, para facilitar a leitura, seus termos são apre-
sentados antes dos dem ais autores. O UTRAS INDICAÇOES IMPORTANTES
3. s.f.: classificação gramatical do termo ou expressão (s.f. == substan- 1) Em casos como o abaixo, V. significa q ue a definição e todas as demais
tivo feminino). informações est ão apresentadas no termo a que se remete (enunciação),
4. Nome: autor/teórico em foco. seu equivalente preferencial, mais empregado ou mais explorado pelo
teórico. Observe que o núm ero (2) ao lado da remissão conduzirá sem-
S. Outras denominações: variante do termo verificada na obra do mes-
pre a outro termo do mesmo teórico (Bakhtin). Não há remissões en-
mo a utor. Embora haja registro da denominação variante como ter-
mo, o verbete respectivo não tem informações nocionais. Isso significa tre autores diferentes.
que o termo que encabeça o verbete é a forma preferencial de uso e
conceituação. Para siglas simples, não há verbetes remissivos. enunciado (5) S. m. Bakhtin
6. Definição: coletada na(s) obra(s) do autor e/o u elaborada pela equi- V . enunciação (2)
pe responsável.
7. Fonte da definição: o código BAK95b corresponde à referência biblio- 2) Ao final do Dicionário estão os dados biográficos e bibliográficos de
gráfica BAK (BAKHTIN), 95 ( 1995), b (segunda obra do autor n o mes- cada um dos teóricos cuja terminologia, mais diretamente relacionada
mo ano). Há casos em que o código não remete a uma obra, m as, sim, ao campo em foco, está presente nesta obra.
à equipe que redigiu a definição. Por exemplo, EBE06 significa que a A ordenação é pelo último sobrenome de cada teórico.
definição foi elaborada pela EQUIPE BENVENISTE. Há casos em que
essa indicação significa que apenas um ou mais autores dessa equipe
são responsáveis pela definição. A informação específica sobre autoria
consta da seção COLABORADORES EREDATORES DE VERBETES.
H á casos em que uma fonte é ao mesmo tempo uma equipe e uma fon-
te bibliográfica. Isso significa que a informação contida na bibliografia
origin almente citada sofreu interferência da equipe, que reapresenta
a informação conforme a fonte, mas a altera de algum modo. Todas
as referências das fontes consultadas encontram-se n a seção FONTES
BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA.
8. Nota explicativa: informações que complementam a definição.
9. Fonte da nota: indica a fonte consultada conforme codificação an tes
citada. Aplica-se aqui o mesmo sistema d e fontes de definições acima
indicado.
10. Leitura recomendada: fontes que podem complementar as info rma-
ções oferecidas sobre o termo, conforme codificação antes citada.
DE ABREVIATURAS E SIGLAS
c.f conforme
Mackenzie Universidade Presbiteriana Mackenzie
op. cit. obra citada
PUC-RS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
S. substantivo
S. f. substantivo feminino
s. m. substantivo masculino
UCPEL Universidade Católica de Pelotas
ucs Universidade de Caxias do Sul
UERGS Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCAR Universidade Federal de São Carlos
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
Unicerto Faculdades Integradas da União de Ensino Superior Certo
Unipampa Universidade Federal do Pampa
Unifra Centro Universitário Franciscano
Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UPF Universidade de Passo Fundo
USP Universidade de São Paulo
v. verbo
v. vide
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline
Coordenação: Marlene Teixeira (Unisinos)
Equipe: Aracy Ernst Pereira (UCPel), Débora Linck, Elsa Ortiz (UFRGS), Fernan-
do Hartmann (Associação Clínica Freudiana de São Leopoldo), Karina Giacomelli
(Unipampa), Pedro de Sousa (UFSC), Vera Helena Dentee de Mello (Unisinos) e
Walkyria Wetter Bernardes (Unicerto)
Colaboração: Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)
BAKHTIN, Mikhail
Coordenação: Marlene Teixeira (Unisinos) e Maria da Glória Corrêa di Fanti
(UCPEL)
Equipe: Ca rlos Alberto Faraco (UFPR) e Vera Lúcia Pires (UFSM)
BALLY, Charles
Coordenação: Lia Cremonese
BENVENISTE, Émile
Coordenação: Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)
Equipe: Magali Lopes Endruweit (UERGS), Thaís Weigert, Silvana Silva (Unisinos)
e Sônia Lichtenberg
Colaboração: Célia Della Mea (Unifra) e Daniel Costa da Silva
BRÉAL, Michel
Coordenação: Thaís Weigert
Colaboração: Valdir do Nascimento Flores (UFRGS) e Daniel Costa da Silva
CHARAUDEAU, Patrick
Coordenação: Maria Eduarda Giering (Unisinos)
Equipe: Maria Helena Albé Veppo (Unisinos) e Vera Helena Dentee de Mello
(Unisinos)
CULIOLI, Antoine
Coordenação: Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)
Colaboração: Adriana Zavaglia (USP) e Marília Blundi Onofre (UFSCAR)
DUCROT, Osvald
Coordenação: Leci Borges Barbisan (PUC-RS) e Carmem Luci da Costa Silva
(UFRGS). ALFABÉTICA DE TERMOS
Equipe: Clá udia S. Toldo (UPF), Jocelyne da C. Bocchese (PUC-RS), Lia Marquardt
(PUC-RS), Rejane F. Machado (PUC-RS), Susana Q. de Creus (PUC-RS), Tânia
Ma ris de Azevedo (UCS) e Telisa F. Graeff (UPF)
59. contexto-Jakobson
..
a"'.
n
"'-
ro
60. contradição pragmática-Récanati
99. dominante expressiva-Bally
100. domínio de comunicação-
135.
136.
enunciação-Greimas
enunciação-Jakobson
177.
178.
fato de linguagem-Bally
fato expressivo-Bally
-o
"'u..,
.·c
..0
61. contrato de comunicação-
...nr Charaudeau 13 7. enunciação-Récanati 179. figurativização-Greimas ~
Charaudeau
"'"'
3
o I OL domínio do semiótico- 138. enunciado 1 - Ducrot 180. focalização-Greimas t;
"' 62. correferência-Benven iste ;.:::l
Benveniste 139. enunciado 2 - Ducrot 181. forças centrífugas-Bakhtin
63. correlação de personalidade-
Benveniste 102. domínio nocional-Culioli 140. enunciado 3 - Ducrot 182. forças centrípetas-Bakhtin
64. correlação de pessoalidade- 103. domínios de constrangimentos- 141. enunciado 4 - Ducrot 183. forma-Benveniste
Benveniste Hagege 142. enunciado-Benveniste 184. forma abstrata-Culioli
65. correlação de subjetividade- 104. domínios de iniciativas-Hagege 143. enunciado-Bakhtin 185. forma composicional-Bakhtin
13enveniste 105. efeito-sujeito-Authier-Revuz 144. enunciado-Bally 186. forma de hererogeneidade
66. cronotopo-Bakhtin 106. efeitos diretos-Bally 145. enunciado-Greimas mostrada-Authier-Revuz
67. debreagem-Greimas 107. efeitos naturais-Bally 146. enunciado-Récanati 187. forma esquemática-Culioli
68. debreagem actancial-Greinias 108. efeitos por evocação-Bally 147. enunciado concreto-Baldltin 188. forma metaenunciativa-Authier-
69. debreagem enunciativa-Greimas 109. efeitos por evocação 148. enunciado perfomativo-Flahault Revuz
70. debreagem enunciva-Greimas do meio-Bally 149. enunciador psicossocial-Hagege 189. forma tópica-Ducrot
71. debreagem espaciai-Greimas llO. ele-Benveniste 150. enunciador 1 - Ducrot 190. forma vazia-Benveniste
72. debreagem interna-Greimas 111. ele-Bréal 151. enunciador 2- Ducrot 191. frase-Bally
73. debreagem temporal-Greimas 112. elemento subjetivo-Bréal 152. enunciador 3 - Ducrot 192. frase-Benveniste
74. delocu tividade- Ducrot 113. embrayeur-Jakobson 153. enunciador-Culioli 193. frase-Ducrot
75. denegação-Authier-Revuz 114. embreador-Jakobson 154. enunciador-Greimas 194. fronteira-Culioli
76. destinatário-Ducrot 115. embreante-Jakobson 155. enunciatário-Greimas 195. função cognitiva-Jakobson
77. destinatário-Jakobson 156. epilinguística-Culioli 196. função conotativa-Jakobson
116. embreagem actancial-Greimas
78. diacronia-Jakobson 157. escala argumentativa-Ducrot 197. função denotativa-Jakobson
117. embreagem enunciativa-Greimas
79. dialogicidade interna-Baldltin 158. espacialização-Greimas 198. função emotiva-Jakobson
118. embreagem enunciva-Greimas
80. dialogismo- Bakhtin 159. espaço de realização dos sujeitos- 199. função expressiva-Jakobson
119. embreagem espacial-Greimas
81. dialogização-Bakhtin Flahault 200. função fática-Jakobson
120. embreagem heterocategórica-
82. diálogo-Bakhtin 160. espaço-tempo-Bakhtin 201. função metalinguística-Jakobson
83. diálogo-Benveniste
Greimas
161. estilística-Bally 202. função poética-Jakobson
84. diálogo-Hagege 121. embreagem homocategórica-
162. estilística comparativa externa- 203. função referencial-Jakobson
85. diálogo interno-Bakhtin Greimas
Bally 204. gêneros discursivos-Bakhtin
86. dictum-Bally 122. embreagem interna-Greimas
163. estilística da expressividade-Bally 205. gêneros do discurso-13akhtin
87. dimensão axiológica-Bakhtin 123. embreagem temporal-Greimas
164. estilística externa-Bally 206. gêneros textuais-Bakhtin
88. discursivização-Greimas 124. embreagem-Greimas
165. estilística interna-Bally 207. glosa-Culioli
89. discurso 1 - Ducrot 125. encadeamento argumentativo-
166. estilo-Bakhtin 208. glosa metaenunciativa-Authier-
90. discurso 2 - Ducrot Ducrot
167. estilo-Jakobson Revuz
91. discurso-Bakhtin 126. encenação da linguagem-
168. eu-Benveniste 209. gradualidade-Ducrot
92. discurso-Benveniste Charaudeau 210. heterogeneidade constitutiva-
169. eu-Bréal
93. discurso-Greimas 127. entidade abstrata-Ducrot
170. excedente de visão-Bakhtin Authier-Revuz
94. discurso bivocal-Bakhtin 128. entidade concreta-Ducrot 171. exotopia-Bakhtin 211. heterogeneidade mostrada-Au-
95. discurso citado-Bakhtin 129. enunciação-Authier-Revuz 172. expressividade-Bally thier-Revuz
96. dispositivo de mise en scene da 130. enunciação-Bakhtin 173. exterioridade discursiva-Authier- 212. heterogeneidade teórica-Authier-
linguagem -Charaudeau 131. enunciação-Bally Revuz Revuz
r< 213. heteroglossia-Bakhtin 254. localização espacial-Greimas 290 . não-coincidência entre as pala- 327. polo metonímico-Jakobson Cl
!a" E
214. hibridismo-Bakhtin 255. localização temporai-Greimas vras e as coisas-Authier-Revuz 328. posição avaliativa-Bakhtin ...
"'"'
;;r 215. hibridização-Bakhtin 256. locutor-Bally 291. não-coincidência interlocutiva- 329. posto 1 - Ducrot
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216. hipótese externa-Ducrot 257. locutor-Benveniste Authier-Revuz 330. posto 2 - Ducrot "'
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ft 218. homem dialogal-Hagege 259. lugar-Flahault Authier-Revuz 332. práxis enunciativa-Greimas ....
~
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219. ideia-Benveniste
220. ilocutório-Flahault
260.
261.
marca-Authier-Revuz
marcador-Culioli
293. não-pessoa-Benveniste
294. não-um-Authier-Revuz
333.
334.
predicação de identidade-Fuchs
presente-Benveniste
3
22 1. ilocutório explícito-Flahault 262. marcador de reformulação 295. narrado-Greimas 335. pressuposto 1 - Ducrot
222. ilocutório implícito-Flahault parafrástica-Fuchs 296. narratário-Greimas 336. pressuposto 2 - Ducrot
223. indicadores auto-referenciais- 263. marcador discursivo parafrásti- 297. negociação-Authier-Revuz 337. primeira pessoa-Bréal
Benveniste co-Fuchs 298. nível complexo-Ducrot 338. princípio da dupla estruturação-
224. indicadores de dêixis-Benveniste 264. marcador parafrástico-Fuchs 299. nível elementar-Ducrot Hagege
225. indicadores de subjetividade- 265. margem-Récanati 300. noção-Culioli 339. processo metafórico-Jakobson
Benveniste 266. meio-Bally 301. observador-Greimas 340. processo metonímico -Jakobson
226. indicar-Récanati 267. meio de expressão-Bally 302. ocorrência-Culioli 341. programação espacial-Greimas
227. indíviduo falante-Bally 268. mensagem-Jakobson 303. opacidade-Authier-Revuz 342. programação temporal-Greimas
228. insígnia-Flahault 269. metaenunciação-Authier-Revuz 304. opacidade-cum-transparência- 343. Qlt-Culioli
229. instância de discurso-Benveniste 270. metáfora-Jakobson 344. Qnt-Culioli
Récanati
230. instrução-Ducrot 271. metalíngua-Culioli 305. opacidade-Récanati 345. qualidade-D ucrot
231. intenção reflexiva-Récanati 272. metalinguística-Bakhtin 306. opacificação-Authier-Revuz 346. qualificação-Culioli
232. interdiscurso-Authier-Revuz 273. metassemântica-Benveniste 347. quantificação-Culioli
307. operação dinâmica de
233. interlocutário-Greimas 274. metonímia-Jakobson 348. reconhecimento-Benveniste
identificação-Fuchs
234. interlocutor-Ducrot 275. mise en sci!ne da linguagem- referência-Benveniste
308. operação enunciativa-Culioli 349.
Charaudeau
235. interlocutor-Greimas 309. operador 1 - Ducrot 350. referencialização-Greimas
276. modalidade-Bally
236. internalizador-Ducrot 310. operador 2 - Ducrot 351. reflexividade generalizada-
277. modalização autonímica-Au-
23 7. intersubjetividade-Benveniste 311. ordem própria da língua- Récanati
thier-Revuz
238. isotopia-Greimas Authier-Revuz 352. reformulação-Fuchs
278. modalização autonímica de
239. leis argumentativas-Ducrot 312. ordem semiótica-Benveniste 353. refração-Bakhtin
empréstimo-Authier-Revuz
240. leis lógicas-Ducrot 313. palavra-Bakhtin 354. regra-Ducrot
279. modificador 1 - Ducrot
241. lexis-Culioli 314. palavra-Benveniste 355. relação de localização-Culioli
280. modificador 2 - Ducrot
242. língua-Bally 315. palavra bivocal-Bakhtin 356. relação de interlocução-Hagege
28 1. modo de organização do discur-
243. língua-Benveniste so-Charaudeau 316. paradoxo pragmático-Récanati 357. relação de répérage-Culio!i
244. língua-Jakobson 282. modo enunciativo desdobrado- 317. paráfrase-Fuchs 358. relações dialógicas-Bakhtin
245. língua-discurso-Benveniste Authier-Revuz 318. parentesco semânico-Fuchs 359. relações lógicas-Bakhtin
246. língua falada-Bally 283. modo semântico-Benveniste 319. performatividade generalizada- 360. rem etente-Jakobson
24 7. linguagem- Bally 284. modo semiótico-Benveniste Récanati 361. retorno do dizer-Authier-Revuz
248. linguagem-Benveniste 285. modus-Bally 320. perspectivização-Greimas 362. segmento-Ducrot
249. linguagem-Culioli 286. monólogo-Benveniste 321. pessoa-Benveniste 363. segunda pessoa-Bréal
250. linguagem-Jakobson 287. mostrar-Récanati 322. plurilinguismo-Bakhtin 364. semântica argumentativa-Ducrot
251. linguagem natural-Bally 288. não-coincidência das palavras 323. plurivocalidade-Bakhtin 365. semântica linguística-Ducrot
252. linguística sócio-operativa- com elas mesmas-Authier-Revuz 324. plurivocidade-Bakhtin 366. semântica pragmática-Ducrot
Hagege 289. não-coincidência do discurso 325. polifonia-Ducrot 367. sem ântico-Benveniste
253. linguística-Culioli com ele mesmo-Authier-Revuz 326. polo metafórico-Jakobson 368. semantização-Benveniste
369. semiótico-Benveniste 401. sujeito empírico-Ducrot
370. sentido literal-Ducrot 402. sujeito falante-Bally
371. sentido-Benveniste 403. sujeito falante-Ducrot
372. sentido-Ducrot 404. tema-Bakhtin
373. sentido implícito-Ducrot 405. tematização-Greimas
374. shifter-Jakobson 406. tempo crônico-Benveniste
375. significação-Bakhtin 407. tempo da língua-Benveniste
376. significação-Ducrot 408. tempo linguístico-Benveniste
ALFABÉTICA DE VERBETES
377. significação-Récanati 409. temporalização-Greimas
378. signo ideológico-Bakhtin 410. Teoria da Argumentação na
379. signo-Benveniste Língua-Ducrot
380. signo-Récanati 411. Teoria da Polifonia-Ducrot
381. signo vazio-Benveniste 412. Teoria dos Blocos Semânticos-
382. símbolo-índice-Jakobson Ducrot
383. símbolos-Bally 413. Teoria dos Topoi-Ducrot
384. sinal-Bakhtin 414. Teoria dos Três Pontos de
385. sincronia-Jakobson Vista-Hagege acento de valor S. m. Bakhtin
386. sintagmatização-Benveniste 415. terceira pessoa-Benveniste Outras denominações: dimensão axiológica, posição avaliativa, valoração.
387. situação de comunicação- 416. terceira pessoa-Bréal Definição: tratamento avaliativo que constitui todo enunciado.
Charaudeau 417. termo da frase-Bally Fonte da definição: BAK95b.
388. situação de discurso-Benveniste 418. texto-Ducrot Nota explicativa: O acento de valor (apreciativo, avaliativo) acompanha toda forma
389. situação de enunciação-Culioli 419. texto-Récanati
de enunciação, sendo uma condição para sua existência. Por isso, para uma dada
390. subentendido-Ducrot 420. textualização-Greimas
391. subjetividade-Benveniste unidade da língua tornar-se enunciado, ela deve receber um tratamento avaliativo,
421. token-reflexividade-Récanati
392. sui-referencial-Benveniste 422. topos-Ducrot que acontece quando um locutor na relação com o outro toma atitude responsiva
393. sujeito-Bally 423. translinguística-Bakhtin frente a uma realidade específica. Logo, todo enunciado compreende uma orien-
394. sujeito- Benveniste 424. transparência-Récanati tação valorativa que permite a criação de variados sentidos a um mesmo segmento
395. sujeito barrado-Authier-Revuz 425. tu-Bréal linguístico. Há, assim, uma reavaliação, um deslocamento de uma palavra deter-
396. sujeito clivado-Authier-Revuz 426. um-Authier-Revuz minada de um contexto para outro, marcando sua apreciação social e evolução
397. sujeito descentrado- 427. unicidade-Benveniste histórica. A materialização dos acentos valorativos impressos nos enunciados pode
Authier-Revuz 428. valor argumentativo-Ducrot
ser observada pela entonação (entoação) expressiva (como tom amistoso, auto-
398. sujeito dividido-Authier-Revuz 429. valor expressivo-Bally
399. sujeito da enunciação-Greimas 430. valoração-Bakhtin ritário, irônico, professoral, demagógico, científico) inscrita em diferentes situa-
400. sujeito-efeito-Authier-Revuz 43 1. verbos delocutivos-Benveniste ções de comunicação discursiva, fazendo os temas variarem. A expressividade do
enunciado, situada na fronteira entre o verbal e o não-verbal, o dito e o não-dito, é
uma resposta que faz emergir a relação do locutor não só com o próprio objeto do
discurso, mas também com os enunciados do outro sobre o mesmo objeto, o que
reflete a dialogicidade constitutiva (entre discursos e sujeitos) e a sua dimensão
social. Enunciar, dessa forma, é atribuir valor ao q ue se diz e aos outros dizeres,
é se posicionar ideologicamente em relação ao outro. Pela mudança de acento de
valor da palavra, podemos observar a pluriacentuação do enunciado, as possibi-
lidades de sentido, sua irrepetibilidade. Nesse contexto, toda palavra utilizada em
uma dada interação possui expressividade, valoração, constituindo-se como enun-
~ ciado, cuja dimensão axiológica expressa juízo de valor e posições ideológicas de actorialização s.f Greimas
!ir sujeitos do discurso. Definição: procedimento de instituição dos atores do discurso.
e.
~ Fonte da nota: BAK95b: 107, 132, 134-135; BAK03E; VOL81B. Fonte da definição: GRE79a: 8-9.
"'
§· Leitura recomendada: BAK95b; BAK03E; DIF04; PONOS. Nota explicativa: A actorialização é um dos componentes da discursivização. É o
~ Termos relacionados: enunciação (2), signo ideológico, tema. procedimento pelo qual se instituem os atores do discurso, seja os da en unciação
~
,.
& (aquele que fala ou aquele para quem se fala), seja os do enunciado (aqueles de
li actante da narração S. m. Greimas quem se fala) .
V. actante do enunciado Fonte da nota: FI096: 117-118.
Leitura recomendada: FI096: 59-126; GRE79a: 8-9; GRE08.
actante do enunciado S. m. Greimas Termos relacionados: aspectualização, ato r da enunciação, discursivização.
Outras denominações: actante da narração
Definição: posição narrativa que compreende o ele, indicadora daquele que realiza agendamento S. m. Benveniste
ou sofre uma ação, independentemente de qualquer outra determinação semântica. Definição: processo de organização sintagmática pelo sujeito.
Fonte da definição: GRE79a: 3. ' Fonte da definição: EBE06.
Nota explicativa: O conceito de _actante do enunciado substitui, na Semiótica fran- Nota explicativa: Através do agendamento, o sujeito organiza as formas da língua
cesa, o de personagem, porque, de um lado, ele engloba não somente seres huma- para transmitir a ideia a ser expressa em seu enunciado.
nos, mas também animais, objetos ou conceitos; de outro, é anterior aos investi- Nota terminológica: agenciamento é um termo dentro da teoria benvenistiana que
necessita de atenção por parte do leitor brasileiro. Revendo algumas ocorrências,
mentos semânticos que constroem as personagens.
no texto em francês, de agencement e de agencer e suas formas derivadas, assim
Fonte da nota: GRE79a: 3-4.
como as de agenciamento e do verbo agenciar, no texto traduzido em português, e
Leitura recomendada: BAR02b: 28-43; BER03: 287-303; FI005: 27-41; GREOS.
fazendo um cotejamento entre tais ocorrências, constata-se que o verbo original
Termos relacionados: actantes da enunciação, enunciador (5), enunciatário.
agencer resulta em quatros formas na tradução: agenciar, arrumar, arranjar e or-
ganizar. Ocorre que, quando se traduz agencement por agenciamento, deixa-se de
actantes da comunicação s. m. Greimas usar um sinónimo natural de organização e se institui um novo termo, diferente da
V. actantes da enunciação acepção da palavra original. Assim, acontece uma espécie de deslocamento concei-
tuai que, pelo uso específico dentro da teoria, confere o estatuto de termo a agen-
actantes da enunciação s. m. Greimas ciamento, isto é, um caráter único frente a todos outros usos que se possa fazer da
Outras denominações: actantes da comunicação palavra fora desse contexto. Observando alguns contextos em que aparece o vocá-
Definição: parceiros do ato enunciativo que compreende o eu e o tu. bulo agencement, percebe-se que Benven iste o utiliza em combinação com diversas
Fonte da definição: GRE79a: 3. outras unidades: agencement des mots, agencement syntagmatique, agencement des
Nota explicativa: Os actantes da enunciação aparecem em três níveis distintos: formes, agencement du langage, agencement de la langue, agencement d'un répertoire
1) o autor e o leitor implícitos, que são pressupostos pela própria existência do de termes, agencement designes, agencement du systeme des classes sociales.
enunciado, chamados enunciador e enunciatário; 2) aquele que narra e aquele para Fonte da nota: BEN95: 230-233.
quem se narra, que estão projetados no interior do enunciado, denominados nar- Leitura recomendada: BEN89A.
rador e narratário; 3) as personagens que dialogam entre si no interior do texto, Termos relacionados: apropriação, referência, sintagmatização.
nomeados de interlocutor e interlocutário.
Fonte da nota: FI004a. alocutário ( 1) S. m. Ducrot
Leitura recomendada: FI096: 59-72; GRE79a: 3-4; GRE08. Definição: aquele para quem as palavras do locutor são dirigidas.
Termos relacionados: enunciador (5), enunciatário, interlocutor. Fonte da definição: DUC80b; EDU06.
Nota explicativa: O termo alocutário (l) refere-se ao momento em que Ducrot
r No próprio texto de 1970, é possível deduzir dos contextos de ocorrência do termo
vinculava seus estudos à Pragmática em 1980. Nessa época, postula, na noção ge- certa flutuação conceituai. Observe-se: "Os 'tempos' verbais cuja forma axial, o
nérica de interlocutor, a distinção entre os pares locutor/alocutário; enunciador/ 'presente', coincide com o momento da enunciação, fazem parte deste aparelho
destinatário. Exemplo: no enunciado "A ordem será mantida custe o que custar", necessário" (BEN95: 85) (grifo nosso); "Desde o momento em que o enunciador
supostamente dita por um ministro de estado, em decorrência de desordens, rea- se serve da língua para influenciar de algum modo o comportamento do alocutá-
rio, ele dispõe para este fim de u m aparelho de funções" (BEN95: 86) (grifo nosso).
liza, segundo Ducrot , dois atos: o de promessa e o de ameaça. O locutor (inscrito
no dizer do ministro) dirige-se ao alocutário (representado pelo povo em geral), Fonte d a nota: BEN95; BEN95; EBE06.
produzindo os atos de promessa e de ameaça, respectivamente dirigidos a dois Leitura recomendada: BEN89C.
Termos relacionados: enunciação ( 4), língua (2), d iscurso ( 4).
destinatários distintos: bons cidadãos e desordeiros.
Fonte da nota: DUC80b; EDU06.
Termos relacionados: destinatário (1), interlocutor (1), locutor (2).
apropriação s.f Benveniste
Definição: processo de uso da língua pelo sujeito por meio de sua enunciação.
Fonte da definição: BEN89: 84; BEN95: 281, 288.
alocutário (2) s.m. Ducrot Nota explicativa: Benveniste ressalta que o processo de apropriação ocorre com a
Definição: aquele que é iinguisticamente representado n o enunciado como alvo
tomada, por inteiro, da língua. É o estabelecimen to pelo sujeito de relações com as
da enunciação.
formas da língua, de modo a selecio nar aquelas que forem compatíveis com a ideia
Fonte da definição: DUC87B; DUC88; EDU06.
a ser expressa. Cabe lembrar, porém, que o termo apropriação, a exemplo de muitos
Nota explicativa: O termo alocutário (2) refere-se ao momento em que Ducrot
outros utilizados por Benveniste, pode receber nuances de sentido muito impor-
esboça a Teoria da Polifonia em 1984. Alocutário é um ser do discurso distinto do
tantes em função do tema ao qual o aut or está se referindo. Assim, em Estruturalis-
ser empírico (ouvinte). É indicado n o enunciado como aquele a quem se dirige a mo e linguística, entrevista a Pierre Daix em 1968, encontra-se a seguinte passagem:
enunciação. Por isso, o alocutário é intralinguístico como o locutor, e o ser empí- "A apropriação da linguagem pelo homem é a apropriação da linguagem pelo con-
rico (falante ou ouvinte) é extralinguístico. junto de dados que se considera que ela traduz, a apropriação da língua por todas
Fonte da nota: DUC87B; DUC88; DUC95b; EDU06. as conquistas intelectuais que o manejo da língua permite. É algo de fundamental:
Termos relacionados: enunciado (1 ), locutor, sujeito falante (2). o processo dinâmico da língua, que permite inventar novos conceitos e por con-
seguinte refazer a língua, sobre ela mesma de algum modo" (BEN89: 21) (grifo
aparelho formal da enunciação S. m. Benveniste nosso). Ou ainda em A natureza dos pronomes: "os indicadores eu e tu não podem
Definição: dispositivo que permite ao locutor transformar a língua em discurso. existir como signos virtuais, não existem a não ser na medida em que são atuali-
Fonte da definição: EBE06. zados n a instância de discurso, em que marcam para cada uma das suas próprias
Nota explicativa: Ao apropriar-se do aparelho formal da enunciação, o locutor instâncias o processo de apropriação pelo locutor" (BEN95: 281) (grifo nosso).
produz uma referência única e irrepetível, permitindo a semantização da língua. Fonte da nota: BEN89: 84; BEN95: 281, 288.
Tal movimento faz emergir os índices de pessoa (a relação eu-tu), os índices de Leitura recomendada: BEN89C; BEN95A; BEN95B.
ostensão (este, aqui) e as formas temporais, produzidas na e pela enunciação. Não Termos relacionados: atualização (2), língua (2), subjetividade.
se pode deixar de acrescentar que a noção de aparelho é recorrente e não sem am-
biguidades na teoria benvenistiana. Embora o autor lhe tenha dedicado um tex- argumentação (1) s.f Ducrot
to especial, O aparelho formal da enunciação, de 1970, muitas são as ocorrências Definição: operação semântico-discursiva em que o sentido do enunciado é cons-
do termo no conjunto da obra. Assim, Benveniste, ao fazer a distinção entre a truído a partir de um segmento-argumento e um segmento-conclusão, mediados
enunciação histórica e a enunciação d e discurso, em As relações de tempo no verbo por um lugar-comum argumentativo.
francês, texto de 1959, considera que "o historiador não dirá jamais eu nem tu nem Fonte da definição: DUC88; DUC89b; EDU06.
aqui nem agora, porque não tomará jamais o aparelho formal do discurso que con- Nota explicativa: Essa definição de argumentação apoia-se na Teoria dos Topai.
siste em primeiro lugar na relação de pessoa eu: tu" (grifo nosso) (BEN95: 262). Segundo essa teoria, a argumentação é construída pela relação entre os segmentos
argumento e conclusão e garantida por um princípio argumentativo, o topos, que Fonte da nota: CAR99; CAR02b; DUC02a; DUC02b; EDU06.
estabelece a passagem de um segm ento a outro. No exem plo "Pedro é inteligente, Termos relacionados: argumentação interna, aspecto, encadeamento argumentativo.
portanto é um bom aluno", a passagem do argumento Pedro é inteligente para a
conclusão é um bom aluno é mediada pelo seguinte princípio argumentativo (to- argumentação interna s.f Ducrot
pos): os inteligentes são bons alunos. Definição: encadeamento argumentativo que parafraseia uma entidade lexical
Fonte da nota: DUC88; DUC89b; EDU06. Fonte da definição: DUC02a; DUC02b.
Termos relacionados: argumento, conclusão, topos. Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão
atualizada no discurso/enunciado.
argumentação (2) s.f Ducrot Nota explicativa 2: Como a argumentação interna de uma entidade lexical é um
Definição: operação semântico-discursiva em que o sentido de uma entidade lin- encadeamento argumentativo que se constitui numa espécie de reformulação, essa
guística é construído a partir da interdependência entre os dois segmentos do en- entidade não é, ela p rópria, um segmento desse encadeamento. Ex.: a argumenta-
cadeamento argumentativo. ção interna de prudente é perigo DC (donc =portanto) precaução, que não con-
Fonte da definição: CAROl; CAR02a; DUC02a; DUC02b; EDU06. tém a entidade lexical prudente.
Nota explicativa: Essa definição de argumentação apoia-se na Teoria dos Blocos Fonte da nota: CAR99; CAR02b; DUC02a; DUC02b; EDU06.
Semânticos (versão mais recente da Teoria da Argumentação na Língua), pela qual Termos relacionados: argumentação externa, aspecto, encadeamento argumentativo.
argumentar consiste em construir sentido pela interdependência entre dois seg-
mentos que compõem o encadeamento argumentativo. Nos encadeamentos "Pedro
argumento S. m. Ducrot
é rico: ele deve ser feliz" e "Pedro casou-se com Maria: ele deve ser feliz", não se
Definição: segmento do enunciado que orienta para uma conclusão.
trata da mesma felicidade, já que, no primeiro encadeamento, há interdependên-
Fonte da definição: DUC89b; EDU06.
cia entre felicidade e riqueza e, no segundo, entre felicidade e amor.
Nota explicativa: O argumento é definido como um segmento que juntamente
Fonte da nota: CAROl; CAR02a; DUC02a; DUC02b; EDU06.
com o segmento conclusão constitui o sentido do enunciado. Essa concepção apa-
Termos relacionados: encadeamento argumentativo, segmento, Teoria dos Blo-
rece desde a chamada versão Standard da Teoria da Argumentação na Língua até
cos Semânticos.
a versão denominada Teoria dos Topai. No exemplo "Faz calor lá fora, vamos pas-
sear.", temos um enunciado constituído por dois segmentos, sendo o primeiroFaz
argumentação externas.f. Ducrot
calor lá fora argumento para o segundo vamos passear. Note-se que o sentido de
Definição: pluralidade de discursos que podem seguir uma entidade lexical.
calor só pode ser apreendido na relação entre os dois segmentos. Assim, calor nesse
Fonte da definição: DUC02a; DUC02b; EDU06.
Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão enunciado é favorável ao passeio. Se tivéssemos Faz calor lá fora, não vamos passe-
atualizada no discurso/enunciado. ar, calor seria desfavorável a um passeio.
Nota explicativa 2: Uma entidade lexical é evocada de modo externo se essa en- Fonte da nota: DUC88; DUC89b; EDU06.
tidade constitui um segmento do encadeamento argumentativo. Se uma entidade Termos relacionados: argumentação (1), enunciado (3), sentido.
lexical, como, por exemplo, ter pressa é o primeiro segmento do encadeamento
argumentativo, o aspecto está relacionado a ela de modo externo à direita, e são as- articulador S. m. Ducrot
sinaladas as consequências de ter pressa: ter pressa DC (dane= portanto) agir rapi- Definição: entidade lexical cuja função é comparar as argumentações que consti-
damente. Se a entidade lexical ter pressa é o segundo segmento do encadeamento, tuem o sentido do segmento que a precede e do que a segue.
o aspecto está relacionado a ela de modo externo à esquerda: andar rapidamente Fonte da definição: DUC02a; DUC02b; EDU06.
DC (dane= portanto) ter pressa, em que é indicada a causa de ter pressa. Uma Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão
possibilidade de argumentação externa para a expressão t er pressa é ter pressa DC atualizada no discurso/enunciado.
(dane= portanto) agir rapidamente. Nesse caso, a expressão ter pressa participa do Nota explicativa 2: Articuladores são entidades lexicais como e, porque e mas, uti-
encadeamento argumentativo. lizadas para relacionar e comparar enunciados e segmentos no discurso. Assim,
_ d ecto à espacialidade e à actorialidade. A
por exemplo, diante do convite para uma caminhada, o discurso 1 faz bom tempo, iótica estende a noçao e asp . , . ) ,
lenta). A sem . , d' tância (lugares acessíveis e macesstVets 'a
mas eu estou cansado argumenta por uma recusa, enquanto o discurso 2 estou . d de do espaço concel ne a JS M l
aspectuaIt a . . d d . poemas denominados Belo Belo, de anue
cansado, mas faz bom tempo argumenta por uma concordância. Em ambos os ltmtares Num os ms d'd I
extensão e aos . ·;, . l'd- dos píncaros/ A água da fonte escon 1 a
discursos, tem-se o mas articulando dois segmentos: o locutor de 1 afirma que os .. oeta diZ: Quero aso I ao -
Bandena, o P . , l" Para mostrar que quer o que nao
fi . ceu/ Sobre a escarpa macesstVe . . ..
desagrados do cansaço são mais importantes do que os agrados do bom tempo, en- A rosa que QleS . om a distância, a inacessibilidade. A as-
quanto o locutor de 2 afirma, ao contrário, que o agrado do bom tempo prevalece. . poeta aspectuahza o espaço c . d
pode ser, o . . , l'dade da realização. Asstm, um gesto po e
Fonte da nota: CAROl; DUC02a; DUC02b; EDU06. .d d d to r dtz respeitO a qua 1
pectuah a e o a -d de ser segura ou hesitante, pode-se falar uma
Termos relacionados: argumentação (1), conector, sentido (2). I t ou desastra o, a voz po . . d
ser e egan e • . d'fi Idade uma atitude pode ser prectptta a
·. com fluencta ou 1 cu ' .
língua estrangeua miótica é sempre uma quahfica-
momento certo. O aspecto, em se ' . b
aspecto S. m. Ducrot ou toma da no Q estabelece esse ponto de VIsta so re
Definição: classe de encadeamentos argumentativos de um mesmo bloco semântico. ção do tempo, do espaço ou da pessoa. uem
Fonte da definição: CAR98; DUC02a; DUC02b; EDU06. as categon··as da enunciação é o observador.
. GRE?9a: 21 -22; GRE79b: 19-20.
Nota explicativa: Um bloco semântico formado por estudar/ser aprovado, por Fonte da no ta.
exemplo, pode ser expresso no encadeamento argumentativo sob dois aspectos: eitura recomendada: F1089; GRE08; SIL04. . -
~ermos relacionados: actorialização, espacialização, temporahzaçao.
o normativo com o conector do tipo geral de donc (=portanto), em que se tem
"estudar DC (donc) aprovado", e o transgressivo com o conector do tipo geral de
pourtant (= no entanto), em que se tem "estudar PT (pourtant) não ser aprovado".
ativa compreensão responsiva s.f Bakhtin
São considerados de aspecto normativo os encadeamentos (1) João estudou, por- v. compreensão (1)
tanto foi aprovado; (2) Se Pedro estudou, então será aprovado; (3) João foi apro-
· ·d de linguística sf. Ducrot
vado porque estudou. Da mesma forma, são considerados de aspecto transgressivo atlVl a . .fi .ológicos e psicológicos que tornam possível a
os encadeamentos: (4) João estudou, mesmo assim não foi aprovado; (5) Embora Definiç~o:dco~Jiuntolde·p~~~~~::s e: um ponto particular do espaço e do tempo.
tenha estudado, João não foi aprovado; (6) Ainda que tenha estudado, João não produçao a 1a a, pe o m '
será aprovado. d d finição· DUC80a; EDU06.
Fonte a r e t' . ~ noção de atividade linguística diz respeito ao conjunto de ~~o
Fonte da nota: CAR98; DUC02a; DUC02b; EDU06. Nota exp tca tva. , 1a produção da fala por um suJeitO
Leitura recomendada: CAR98. cessos externos à linguagem que tornam posslVe
Termos relacionados: bloco semântico, encadeamento argumentativo, regra. falante em dada enunciação.
Fonte da nota: DUC80a; EDU06. . . ( )
. . _ (S) enunciado (2), suJeito falante 2 ·
aspectualização s.f Greimas Termos relaciOnados: enunctaçao '
Definição: processo de estabelecimento de um ponto de vista a respeito das cate-
d enunciação s. m. Greimas . ,
gorias de tempo, espaço e pessoa. at Of a . . d t enunciativo dotada de característiCaS pSI-
Fonte da definição: GRE79a: 21. Definição: imagem dos parcetros o a o
Nota explicativa: O aspecto sempre foi entendido pela Linguística como "um pon- quicas e físicas e de um tom de voz.
to de vista do sujeito sobre o processo". Ele modula o conteúdo do predicado, Fonte da definição: FI004a. . - roxima-se do éthos de retóri-
ao considera r o processo, inscrito no tempo, como acabado (perfectivo) ou não Nota explicativa: O conceito de ator da endunctaça~ ap_o (enunciador/enunciatário;
· d actantes a enunCtaça
acabado (imperfectivo), pontual ou durativo. A duratividade pode ser vista em sua ca clássica. É uma tmagem os , . , · fi · de um tom
continuidade ou descontinuidade (iterativo). Além disso, o processo que tem du- narrador/narratário) constituída de caractensttcas pstqultc~s e ~::ss;o porém, o
. d nciatário são o autor e o et or. '
ração pode ser encarado em seu início (incoativo), em seu desenvolvimento (cur- de voz. O enunCia ore o enu t e o let'tor implícitos, ou seja,
. . d osso mas o au or
sivo) ou em sua conclusão (terminativo). Ainda, a duração pode ser considerada autor e o lettor reats, e carne e ' , I D mesma forma, a ima-
uma imagem do autor e do leitor constrmda pe o texto. a
quantitativamente (em horas, dias, meses, anos etc.) ou qualitativamente (rápida,
~ gem do narrador e a do narratário são depreendidas do texto. Quanto à diferença sujeito tem da realidade. A atualização tem por efeito inverter a relação entre a
~ entre elas, pode-se dizer que, enquanto a imagem do narrador e a do narra tá rio são extensão e a compreensão dos conceitos. Um conceito virtual é indeterminado
g: apreendidas num texto singular, a do enunciador e a do enunciatário são captadas em extensão (por não haver como definir o total de possibilidades de uso) e de-
"''·
g na totalidade da obra. Machado de Assis é o enunciador de Memórias póstumas terminado em compreensão (por apresentar um número limitado de caracteres
~ de Brás Cubas e Dom Casmurro é seu narrador. A imagem d este é percebida no distintivos). Já um conceito atualizado é determinado em extensão (por ser carac-
~
g- conjunto dessa obra, enquanto a do enunciador é depreendida da totalidade da terizado em relação a um determinado uso por um sujeito) e indeterminado em
ii obra do autor. Isso permite dar uma definição enunciativa à heteronírnia: uma compreensão (por referir-se a uma noção individual, à representação de realidade
pluralidade de enunciadores na obra de um m esmo autor real. do sujeito que faz uso dele).
Fonte da nota: FI004a. Fonte da nota: BAL65: 77 e s.
Leitura recomendada: FI004a; FI004b; DIS03. Leitura recomendada: CHI85; DUR98; MED85.
Termos relacionados: conceito real, conceito virtual, frase (1).
Termos relacionados: actorialização, ator do enunciado, discursivização.
hlt l
Leitura recomendada: AUT98; AUT04a.
Termos relacionados: heterogeneidade most1·ada, nao-comc1
- · 'd enc1as
A · do diz
opacificação. er,
linguagem ( 1) s. r Bally
língua (3) s.t ]akobson Outras denominações: linguagem natural.
Definição: sistema de signos que cons tituem o rep ertório linguístico comum aos Defin ição: conjunto dos sistemas estrutural e de uso da língua.
m embros de uma comunidade. Fonte d a definição: BALSl; BAL65; BAL67.
Fon te da definição: JAK69b. Nota explicativa: A linguagem é o conjunto formado p ela união do sistema de
Nota explicativa: Jakobson parte da concepção de língua apresentada p or Saussu- símbolos linguísticos e pelo sistema de unidades expressivas. O primeiro conjunto
re, como a de um sistema de signos, p ara am pliá -la ao incluir a noção de subcódi- é constit uído por associações e oposições de elemen tos na co nsciência dos sujei-
gos (funções da linguagem) . Esse sistema é por ele considerado um conjunto di- tos. Como os símbolos dificilmente corresp ondem às unidades de pen samento,
nâmico de signos diversificado (confo rme p redom in ância de determinada função os sujeitos, em seu meio social específico, criam o sistema expressivo, de fatos de
da linguagem) e conversível (ent re as funções da linguagem ). A visão d inâmica de expressão, isto é, um grupo de u nidades que têm relação com a afetividade e com
língua em Jakobson leva à consideração de q ue, em suas variantes locais, ela sofre a subjetividade, atualizando-o constantemente a partir do uso. O termo linguagem
ação dos fato res do tempo e d o espaço. No que tange ao fator tempo, Jakobson (di- está estreitamente ligado ao uso da língua e consta na p rimeira fase da obra de
ferentem ente de Saussure, para quem a língua era vista como um sistema estático Bally, a Estilística. Embora reconheça a existên cia de dois sistem as (o de símbolos
e uniforme, pois as m udanças só ocorreriam através da fala) entende q ue a língua e o de uso), em inúmeros momentos, linguagem e língua são tratados como sinô-
nimos, pois, para o autor, o objeto de estudo é a língua como um instrumento de (BEN89: 221); b) alterna o termo com língua. Como em: "a linguagem se realiza
expressão e de ação da vida real. Para 13ally, a manifestação da subjetividade está sempre dentro de uma língua, de uma estrutura linguística definida e particular,
sempre em primeiro plano na linguagem, acima das formas lógicas; a inteligência inseparável de uma sociedade definida e particular." (BEN95: 31); c) alterna o ter-
parece se sobressair porque é preciso para o falante fazer-se entender. É importante mo com línguas. Como em: "A universalidade dessas formas [dos pronomes] e
destacar, contudo, que o falante só pode exprimir parcialmente seu pensamento, dessas noções faz pensar que o problema dos pronomes é ao mesmo tempo um
sua face acessível, aos demais indivíduos. A linguagem é, assim, um meio sempre problema de linguagem e um problema de línguas, ou melhor, que só é um proble-
imperfeito para a transmissão das ideias. Embora isso seja uma ilusão, à medida ma de línguas por ser, em primeiro lugar, um problema de linguagem." (BEN95:
que a língua está em constante evolução, os falantes têm o sentimento de que a 277); d) alterna o termo com língua e com línguas. Como em: "Chega-se assim a
língua é um sistema em que cada elemento se relaciona com os demais e que esse esta constatação - surpreendente à primeira vista, mas profundamente de acordo
sistema não só sempre existiu como existirá sempre. Essa ilusão, destaca o autor, é com a natureza real da linguagem - de que o único tempo inerente à língua é o
necessária para a crença de que a realidade é um estado imutável. É justamente essa presente axial do discurso, e que este presente é implícito. [... ] Esta parece ser a
experiência fundamental do tempo, de que todas as línguas dão testemunho à sua
a razão pela qual Bally crê que os estudos linguísticos devam ser sincrônicos.
Fonte da nota: BAL51; BAL65; BAL67. maneira" (BEN89: 76).
Fonte da nota: BEN89; BEN95; FL007.
Leitura recomendada: CHiey5; DUR98; MED85.
Leitura recomendada: FL007.
Termos relacionados: língua (1), sujeito falante (1).
Termos relacionados: língua (2), língua-discurso.
se: "Só o infelicitava na existência abundante gozada em Silves a desconsideração do presente (postenor ao momento e re1erenc1a presente ; um presente
(utUI'O . A • • •
com que o tratavam o Vigário e o povo". O espaço indicado pelo adjunto adverbial retérito (concOJmtante ao momento de referencia preténto), um preténto do
do p d c A • , • )fu d é .
em Silves não tem relação com o espaço da enunciação. Trata-se, portanto, de urn retérito (anterior ao momento e re1erenc1a pretento e um turo o pret nto
espaço enuncivo. Não se pode dizer, num raciocínio mecânico, que os espaços r osterior ao momento de referência pretérito); um presente do futuro (conco-
indicados pelos pronomes demonstrativos e pelos advérbios de lugar são enuncia- n~itante ao momento de referência futuro), um pretérito do futuro (anterior ao
tivos e os marcados pelos adjuntos adverbais são enuncivos. De um lado, há casos 1110111
ento de referência futuro) e um futuro do futuro (posterior ao momento de
em que o lá ou o ali podem indicar um espaço enuncivo. Nesse caso, significa referência futuro). Os momentos dos acontecimentos relacionados ao momento
" naque1e 1ugar" : "I sso mesmo: uma cueca provocantemente acompan had a por urn de referência presente são os tempos enunciativos; aqueles ordenados em relação
tweed clássico, com o célebre logotipo dos dois "c" entrelaçados e, como transgres- aos momentos de referência pretérito e futuro são os tempos enuncivos. Alguns
são final, a camélia que se tornou um dos ícones do estilo Coco Chanel fincada exemplos de referências temporais expressas pelo verbo do português: 1) o preté-
bem ali, al i mesmo" (·Veja, 1259, 28/10/1992, p. 75). De outro, há advérbios enun- rito do presente é um tempo enunciativo, manifestado pela forma verbal deno-
civos, embora pouco usados no português moderno: algures, alhures, nenhures. minada pretérito perfeito do indicativo: Você viu a notícia sobre o escândalo de
Tanto os espaços enunciativos como os enuncivos podem ser colocados nos eixos corrupção?; 2) o presente do pretérito é um tempo enuncivo do pretérito, expresso
da categoria topológica horizontalidade (perspectividade vs.lateralidade) vs. verti- pela forma verbal conhecida como pretérito perfeito do indicativo, quando indicar
calidade. Nesse caso, são localizados em cima, embaixo, na frente, atrás, à direita, um acontecimento acabado, limitado, pontual, ou pela forma verbal chamada pre-
à esquerda, assim por diante. Essas localizações espaciais podem ser investidas de térito imperfeito, quando designar evento inacabado, ilimitado, durativo: O Brasil
valores: em A morte e a morte de Quincas Berro d'Água, de Jorge Amado, o alto é 0 teve, no século passado, uma das mais altas taxas de crescimento do planeta; Às
espaço do dever, da rotina, enquanto o baixo é o espaço do querer, do prazer; no cinco horas da tarde, havia um nevoeiro que a luz do sol irisava; 3) o pretérito do
poema "Vou-me embora pra Pasárgada", de Manuel Bandeira, o aqui é o espaço futuro é um tempo enuncivo do futuro, manifestado pela forma verbal denomina-
da obrigação, enquanto o lá é espaço do prazer, da inconsequência, da felicidade. da futuro do presente composto: Quando tudo isso acabar, terei comprado minha
Fonte da nota: FI096: 261-265. passagem para o inferno.
Leitura recomendada: FI096: 261-299; GRE79a: 215-216; GRE08. Fonte da nota: GRE79a: 145-162.
Termos relacionados: espacialização, debreagem espacial, programação espacial. Leitura recomendada: FI096: 127-256; GRE79a; GRE79b; GRE08.
Termos relacionados: debreagem temporal, embreagem temporal, temporalização.
localização temporal s.f Greimas
Definição: processo de construção de um sistema de referências que permite situar locutor ( 1) S. m. Bally
temporalmente estados e acontecimentos. V. sujeito falante ( 1)
Fonte da definição: GRE79a: 216.
Nota explicativa: A localização temporal diz respeito à construção de um siste- locutor (2) S. m. Benveniste
ma de referências constituído a partir do agora, momento da enunciação. A ele, Definição: indivíduo linguístico cuja existência se marca na língua toda vez que
aplica-se a categoria concomitância vs. não concomitância (anterioridade vs. pos- toma a palavra.
terioridade) e obtêm-se, assim, três momentos de referência: um presente, um pre- Fonte da definição: BEN95: 286.
térito e um fu turo. O momento de referência presente é equivalente ao momento Nota explicativa: Locutor é aquele que fala em uma dada instância de discurso e
da enunciação; o pretérito e o futuro, marcados no enunciado, estabelecem um que, ao falar, se autoindica através de marcas específicas na língua. Trata-se de uma
tempo do então. A cada um desses momentos de referência reaplica-se a categoria noção importante na teoria porque ela permite a Benveniste formular a noção de
acima mencionada e passa-se a ter três momentos dos acontecimentos: um pre- sujeito e, por esta, a de subjetividade. Esse movimento de passagem de uma noção
a outra é bem claro no texto "A natureza dos pronomes", em que ele afirma que "é
se identificando como pessoa única pronunciando eu que cada um dos locutores
se coloca como 'sujeito'" (BEN95: 280-281). Ou, ainda, em "Da subjetividade na
linguagem": "A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta c01110
sujeito, remetendo a ele mesmo como eu no seu discurso" (BEN95: 286). Em resu-
mo, a noção de locutor é necessária para que Benveniste possa formular a noção de marca s.f Authier-Revuz
sujeito, uma vez que sua teoria dedica-se bastante a estudar a subjetividade enten- Outras denominações: forma de heterogeneidade mostrada.
dida como "capacidade do locutor para se propor como sujeito" (BEN95: 286). Definição: forma que atribui ao outro um lugar linguisticamente descritível.
Fonte da nota: ON007; FL007. Fonte da definição: AUT04aC: 21. . .
Leitura recomendada: ON007; FL007. Nota explicativa: No quadro teórico de Authier-Revuz, o termo marca d1z respei-
to às formas da heterogeneidade mostrada (d iscurso relatado, aspas, glosas etc.),
Termos relacionados: subjetividade, sujeito (2).
através das quais o enunciador representa a heterogeneidade que o constitui. Essa
representação n ão pode ser tomada como u ma evidência, como se, via linguagen:,
locutor (3) S. m. Ducrot
a falta pudesse ser mostrada. O estatuto do representado só pode ser compreendi-
Definição: sujeito responsável pelo enunciado.
do na articulaç_ão necessária com o irrepresentável da heterogeneidade constituti-
Fonte da definição: DUC88; EDU06.
va, isto é, com o que, na enunciação, escapa radicalmente ao enunciador. A marca
Nota explicativa: O locutor, nem sempre linguisticamente marcado, é o ser do dis-
aponta para o caráter heterogêneo do processo enunciativo e, simultaneamente,
curso, distinto do sujeito falante (ser empírico). Na Teoria da Polifonia, o locutor
procura preservar a ilusão da homogeneidade desse pr~cesso . Uma vez que a ~a~
apresenta enunciadores, em relação aos quais demonstra diferentes atitudes.
ca é uma explicitação de um comentário que o enunCiador faz sobre seu propno
Fonte da nota: DUC88; EDU06.
dizer, o enunciador deve ser tomado não pelo que diz, mas no que diz, pois há o
Termos relacionados: enunciador (1), sujeito falante (2), Teoria da Polifonia.
outro no que ele coloca como sendo próprio. As marcas não têm o mesmo estatu-
to, mas estão situadas numa escala que varia de um grau maior a um grau menor
lugar s. m. Flahault de explicitação no nível do discurso. Passando por esse continuum de formas re-
Outras denominações: ilocutório.
cuperáveis da presença do outro no discurso, chega-se inevitavelmente à presen-
Definição: espaço de dizer do sujeito, restrito e variável conforme a circunstância social.
ça do outro (palavras dos outros, outras palavras) no discurso (heterogeneidade
Fonte da definição: FLA79: 54.
constitutiva), aspecto que, na perspectiva de Authier-Revuz, não depende de uma
Nota explicativa: O espaço de dizer do sujeito é restrito e variável. Restrito, pois a
abordagem linguística, mas necessita de ancoragem em exterioridades teóricas.
posição do sujeito não coincide com a posição do falante natural, o qual pode dizer
Fonte da nota: PED96: 33; TEIOSa: 162-163.
tudo que quiser na língua que domina. Variável, pois o dizer do sujeito depende da
Leitura recomendada: AUT95a; AUT9Sb.
posição que ele e o interlocutor ocupam em uma dada circunstância social. Assim,
Termos relacionados: heterogeneidade constitutiva, heterogeneidade mostra-
a cada enunciação, o lugar do sujeito varia. A variabilidade do espaço do sujeito da, negociação.
aponta para a existência de uma instância terceira aos interlocutores - a própria
situação que estabelece a interlocução. Algumas vezes, a colocação da instância marcador s. m. Culioli
terceira não é a mesma para os interlocutores- situação em que cada interlocutor Definição: ente linguístico que remete à indicação das operações de linguagem que
atribui lugares diferentes para si e para o outro. se atualizam no sistema lingUístico por meio de diferentes ocorrências de formas
Fonte da nota: FLA79. engendradas, responsáveis por gerar a significação.
Leitura recomendada: FLA79. Fonte da definição: FRA98; CUL90.
Termos relacionados: insígnia. Nota explicativa: Culioli parte do princípio teórico de que existem três níveis de
representação. Nível I (da linguagem) [noções; operações]: nível da representação
mental que organiza as experiências individuais; Nível II (das línguas) [arranjos de
marcadores] : nível das marcas das atividades de nível I, isto é, traços linguísticos também chamados marcadores fortes, por terem a sua função específica inscrita
5l
1
que se materializam nos textos; Nível III (da metalinguagem): nível do trabalho na própria significação lexical, instituem uma relação parafrástica em qualquer
contexto em que aparecem; os outros, denominados também de marcadores fra-
"'
~
~
I
metalinguístico desenvolvido pelos analistas/linguistas, pautando-se nas produ- Q)
ções do nível II, tendo em vista represen tar os processos de linguagem do nível I. cos, não constituem, por sua significação lexical, um índice exclusivo de relação de "'"'u
~
Culioli considera que o nível I, embora inacessível ao trabalho do linguista, deixa equivalência semântica, podendo exercer outras funções nos diferentes contextos .o
em que ocorrem. Um exemplo de marcador especializado é o que se registra na fala ~
sua marca no nível II, por meio de diferentes arranjos de formas linguísticas. As- 19
U)
sim, a marca de uma dada operação de linguagem, por exemplo de quantificação, acima. Com essa mesma função, são recorrentes, nas interações faladas, expressões ;.:l
pode ser reconhecida em cada processo de enunciação, dados os arranjos de for- do tipo "como você falou", "retomando em outras palavras", "voltando ao que
mas linguísticas que o constituem. disse no início", "em resumo" e similares. Todas elas introduzem, por força de
Fonte da nota: FRA98. sua especificidade semântica, enunciados parafrásticos. A passagem a seguir traz
Leitura recomendada: FRA98; FUC84. um exemplo de marcador parafrástico não especializado. "L2- agora nessa parte
Termos relacionados: linguagem (2), metalíngua. de Engenharia também a parte que eu conheço é a parte de eletricidade ... entende?
[EO] o:: normalmente os engenheiros ... eletrotécnicos que eles chamam ... eles vão
marcador de reformulação parafrástica s. m. Fuchs buscar especialidade no exterior ... entende?... principalmente financiado pela pró-
Outras denominações: marcador discursivo parafrástico, marcador parafrástico. pria empresa entende? [P] então normalmente você vê ... indivíduos se deslocarem
Definição: operador discursivo que anuncia formalmente uma predicação de daqui fazerem curso na França... em Porto Rico .. . ficam dois seis meses ... tudo
identidade semântica entre dois enunciados. custeado pela empresa entende? Ll- uhn uhn" (CAS87: 82). A palavra "então"
Fonte da definição: FUC94. exerce a função de marcador parafrástico nesse contexto, porque abre um enun-
Nota explicativa: O marcador de reformulação parafrástica anuncia que determina- ciado que, em relação ao primeiro, revela evidente natureza parafrástica. Não se
da reformulação de um enunciado-origem é de natureza parafrástica. Sua presença trata, porém, de uma função especializada dessa palavra, já que, em outros contex-
é provável na relação parafrástica cujos enunciados não apresentam eles própr ios tos, ela assume outras funções, dentre as quais se destaca a de introduzir enuncia-
traços linguísticos de equivalência semântica, mas só a assumem no discurso. Nes- dos conclusivos. Da mesma forma exercem com frequência, na fala, a função de
se caso, cabe ao marcador parafrástico predicar essa equivalência em determina- marcador parafrástico não especializado palavras e expressões como "m as", "exa-
do momento e contexto do desdobramento enunciativo. Registre-se, no entanto, tamente", "realm ente", "certo", "justamente", "isso", "agora", "é", "quer dizer",
que mesmo as paráfrases já li nguisticamente identificadas como tais podem vir "mas realmente", "então realmente", "digamos assim", "vamos dizer que", "mas
introduzidas por marcadores, o que ocorre particularmente em contextos em que realmente então" e muitas outras. Em relação a essa distinção, cabe ainda acres-
elas não vêm adjacentes ao enunciado parafraseado. A reintrodução parafrástica centar q ue , os marcadores não especializados ou fracos são reconhecidos como
desse enunciado no desenvolvimento de um tópico, em geral determinada pela parafrásticos a posteriori, isto é, somente quando a natureza parafrástica do enun-
necessidade de assegurar coesão e coerência ao discurso, costuma vir fo rmalmente ciado refomulador tiver sido revelada pela equivalência semântica entre matriz e
anunciada por um marcador parafrástico, conforme mostra este segmento de fala: paráfrase para serem reconhecidos como tais.
"[EO] Ll - é mas eu acho que está indo bem o negócio está todo mundo queren- Fonte da nota: CAS87; FUC94; HIL06.
do partir para o campo da constr ução (PJ Ll- como disse há pouco:: acho que Leitura recomendada: FUC82; FUC94; GUL83; HIL06; MOR82.
esse ramo da construção .. . está ótimo hoje em dia né? está todo mundo querendo Termos relacionados: paráfrase, predicação de identidade, reformulação.
casa própria ... " (CAS87: 77-88). O marcador parafrástico "como disse há pouco",
mais do que predicar um grau de equivalência semântica entre os dois enuncia- marcador discursivo parafrástico S. m. Fuchs
dos, anuncia a retomada parafrástica do enunciado-origem, num ponto já distante V. marcador de reformulação parafrástica
dele na evolução do discurso, trazendo de volta à consciência dos interlocutores
o tópico discursivo em foco. Podem-se distinguir dois tipos de marcadores de re- marcador parafrástico s. m. Fuchs
formulação parafrástica: os especializados e os não especializados. Os primeiros, V. marcador de reformulação parafrástica
margem s. r Récanati mensagem s.f Jakobson . - . . ' o
Definição: local do texto em que se encontram indicações a respeito deste. · - . )emento do ato de comurucaçao verbal caractenzado pelo arranJO um-
pefimçao. e
Fonte da definição: REC79: 142-145. co das palavras a cada evento de fala.
Nota explicativa: No enunciado "Qualquer um sabe que Frege morreu em 1925",
Fonte da definição: JAK69b. . , .
há uma oposição entre aquilo que é propriamente dito (Frege morreu em 1925), tiva· Segundo Jakobson ( 1969b: 122-3), todo processo hngutstlco-
Nota explica · , . , . .
chamado de texto, e aquilo que é mostrado a respeito do texto (Qualquer um de comunicação verbal- e constttUJdo de sets elementos. remetente,
ou tod o a to .
sabe que), chamado de indicador, que se aloja na margem. A margem pode ser tinatário contexto código e contato. Cada um desses sets
mensagem, des , , , . fatores
explícita, como no exemplo acima, ou implícita. Ao dizer que a margem pode ser · uma diferente função da linguagem. A mensagem e determmante da
determma . .
implícita, Récanati confirma sua existência como parte da significação de todo e - po e'tt'ca , caracterizada pela seleção e combmação smgular dos elementos do
funçao
qualquer texto. código a cada evento de fala.
Fonte da nota: REC79: 142-145. Fonte da nota: EJA06; JAK69b.
Leitura recomendada: REC79. Leitura recomendada: JAK69a; JAK69bC.
Termos relacionados: texto (2). Termos relacionados: metáfora, metonímia, função poética.
manifestação o percurso de uma personagem, conservar ambos os percursos, mas Outras denominações: heteroglossia, plurivocidade, plurivocalidade.
explicitar longamente um deles, enquanto o outro é manifestado fragmentaria- Definição: combinação de diferentes linguagens, vozes sociais, falares, q ue for-
mente. O conto Dentro do bosque, de Yabu No Naka, adaptado para o cinema mam uma unidade superior.
por Akira Kurosawa, joga com diferentes perspectivas. Nele narra-se o suposto Fonte da definição: BAK98: 75.
assassinato de um samurai e o estupro de sua mulher por um bandido. O texto é Nota explicativa: O plurilinguismo configura-se com o um arranjo de diversas lin-
composto pelos depoimentos de um lenhador, um bonzo andarilho, um policial, guagens (línguas sociais), constitutivamente dialógicas, as quais, independente-
uma velha, o bandido, a mulher do samurai e uma médium, que recebe o espírito mente do princípio de seu isolamento, são pontos de vista específicos sobre o mun-
do samurai morto. Cada um, de sua perspectiva, narra ao juiz de instrução os fatos do, formas de interpretação verbal, perspectivas semânticas e axiológicas. As lin-
ocorridos. Na versão do samurai assassinado, ele não foi morto pelo bandido, mas guagens estão em inter-relação, podendo ser confrontadas, servir de complemento
se suicidou. Na versão do bandido, ele não assassinou o samurai, mas o venceu entre si, oporem-se umas às o utras. Bakhtin apresenta o plurilinguismo como uma
num d uelo; não estuprou a mulher, pois ela ofereceu-se a ele. Os fatos vão sendo perspectiva diferente de olhar os estudos literários, linguísticos e filosóficos da lin-
interpretados diferentemente segundo cada uma das perspectivas. guagem. O romance, em especial, passa a ser observado discursivamente a partir
Fonte da nota: GRE79a: 274. da combinação de diferentes línguas sociais e estilos, já que a verdadeira premissa
Leitura recomendada: BER03: 11 1-150; GRE08. da prosa romanesca está na estratificação interna da linguagem, na sua diversidade
Termos relacionados: focalização, textualização. social e na divergência de vozes que ela encerra. Resgata, assim, a pluralidade de
discursos (pluridiscursividade), a diversidade de vozes discursivas (plurivocidade).
pessoa s.f Benveniste O plurilinguismo, desse modo, estabelece-se com o uma proposta de deslocamento
Definição: categoria linguística que se constitui na e pela enunciação. dos estudos estritamente literários para os estudos discursivo-literários. Por conse-
Fonte da definição: EBE06. guinte, amplia a abordagem dos estudos linguísticos para linguístico-discursivos,
Nota explicativa: Por meio da noção de pessoa, Émile Benveniste introduz, na abarcando a concepção de linguagem como atividade essencialmente heterogênea,
Linguística, a noção de sujeito, que corresponde à enunciação: eu diz eu - e porque dialógica e dinâmica. Bakhtin destaca ser o plurilinguismo dialogizado o verda-
o diz - diz tu. Em outras palavras, essa noção implica constituição recíproca: o ato deiro meio da enunciação, considerando não só a diversidade de vozes sociais e
históricas (posições, pontos de vista) em conco rrência na formalização do dizer,
por meio do qual eu se constitui como sujeito, constitui tu. Eu e tu são mutuamen-
mas também as relações dialógicas, relações de sentido, que se estabelecem neces-
te constitutivos, tu é implícito ao dizer de eu. A categoria de pessoa é sempre dual,
sariamente entre as linguagens. Nessa perspectiva, todo enunciado é plurilingue,
um par linguístico que tem existência concomitante. Esse par linguístico apresenta
plurivocal e plw·idiscursivo, ou seja, é constituído por uma diversidade de lingua-
as seguintes características: a) é indissociável porque não há como enunciar eu sem
gens, que fazem ressoar outros discursos (vozes).
prever tu, ainda q ue este tenha existência imaginada ou mesmo, no monólogo, seja
Fonte da nota: BAK98: 71; 73; 75-76; 82; 98-99.
desdobramento do próprio eu; b) é reversível uma vez que tu pode tornar-se eu
Leitura recomendada: BAK98; DIF05 ; FAR03.
pela tomada da palavra; c) é, a cada vez, único, entendendo-se unicidade como au-
Tennos relacionados: dialogismo, diálogo (1), hibridização.
..........---------------
plurivocalidade s.f Bakhtin posto ( 2) s.m. Ducrot
Definição: sentido explícito inscrito em um enunciado, cuja responsabilidade é
V. plurilinguismo .
atribuída a um enunciador.
plurivocidade s.f Bakhtin Fonte da definição: DUC87; EDU06.
V. plurilinguismo Nota explicativa: A acepção de posto (2) está vinculada à Teoria da Polifonia, em que
a pressuposição é concebida como uma das manifestações polifônicas da lingua-
polifonias.f Ducrot . gem. Nesse sentido, o autor descreve o fenômeno da pressuposição, considerando
Definição: fenômeno que possibilita ao locutor apresentar drferentes pontos de o fato de que certas palavras do enunciado possibilitam um sentido pressuposto e
vista em um determinado enunciado. outro posto, cujos responsáveis são dois enunciadores, Ele E2. A sequência "todos
Fonte da definição: DUC87; EDU06. vieram à aula, até Joana" contém um posto, sentido explicitado pelo locutor no
Nota explicativa: Opondo-se à ideia de unicidade do sujeito falant~, Ducrot afirma enunciado (E2). Além disso, devido ao uso da palavra "até", a sequência contém um
que 0 autor de um enunciado (sujeito empírico) não se expressa drretamen~e, mas pressuposto, argumento implícito de que a presença de Joana à aula é inusitada (El).
0
faz por meio da figura de um locutor (sujeito discursivo), q~e apresenta drfere~ Fonte da nota: DUC87; EDU06.
tes vozes, diferentes pontos de vista, cuja origem são enuncr~dores. Isso mostra Termos relacionados: enunciador (2), pressuposto (2), Teoria da Polifonia.
que 0 sentido de um enunciado nasce da confrontação das drferentes vozes que
ali aparecem. potencial argumentativo S. m. Ducrot
Fonte da nota: DUC87, DUC88. Definição: conjunto de enunciados que podem servir de conclusão a um enuncia-
Termos relacionados: enunciador (2), locutor, sujeito falante (2) . do-argumento.
Fonte da definição: DUC88.
polo metafórico S. III. Jakobson Nota explicativa: A noção de potencial argumentativo vincula-se à primeira versão
V. metáfora da Teoria da Argumentação na Língua. Um enunciado P como "Pedro estudou
pouco" e um en unciado P' como "Pedro estudou um pouco" têm diferentes po-
polo metonímico S. III. Jakobson tenciais argumentativos. No primeiro caso "Pedro estudou pouco", pode-se ter,
V. metonímia entre outras conclusões, "Pedro não passou no concurso", "Pedro foi mal na pro-
va", "Pedro perdeu a bolsa de estudos". Já, no segundo caso "Pedro estudou um
posição avaliativas.f Bakhtin pouco", outras conclusões são encaminhadas como "Pedro passou no concurso",
V. acento de valor
"Pedro foi bem na prova", "Pedro ganhou a bolsa de estudos".
posto ( 1) s. m. Ducrot Fonte da nota: DUC88.
Definição: ato de fala explícito realizado pelo locutor. Termos relacionados: conclusão, enunciado (3), valor argumentativo.
Fonte da definição: DUC77; EDU06. . _
Nota explicativa: A noção de posto (1) está vinculada à des~r~ção d~ pre~s~posrçao práxis enunciativa s./ Greimas
como um ato de fala, constituído em um esquema geral de atrvtdadelmgursttca. Nes- Definição: hábito linguístico que condiciona a enunciação individual.
se momento, Ducrot situa seu estudo no interior da semântica pragmática~ ~a q~al Fonte da definição: BER03: 87-88.
mais tarde se distancia. Inserido nessa reflexão, o posto diz respeito à exphcrt~ça~, Nota explicativa: A expressão práxis enunciativa não é de Greimas, mas foi intro-
pelo locutor, de diferentes atos de fala contidos em uma enunciação. Na.s~quencta duzida por seus continuadores para operacionalizar na análise uma preocupação
"Fulano vem me ver, logo ele tem problemas", o locutor apresenta exphCJtamen~~ recorrente do semioticista francês: a de que o caráter idioletal dos textos indivi-
dois atos de afirmação: (1) "Fulano vem me ver" e (2) "Fulano tem problemas · duais não pode fazer esquecer o caráter eminentemente social da comunicação
Fonte da nota: DUC77; EDU06. humana. Há duas ordens de restrições que determinam a enunciação: de um lado,
Termos relacionados: atividade linguística, pressuposto (1), sentido literal. o sistema da língua; de outro, os limites, de caráter sociocultural, impostos pelos
hábitos, pelas ritualizações, pelos esquemas, pelos gêneros, pela fraseologia etc. A Leitura recomendada: FUC82; FUC94; GUL83; HIL06; MOR82.
enunciação individual não se realiza independentemente das enunciações coleti- Termos relacionados: marcador de reformulação parafrástica, paráfrase, paren-
vas que a precederam e que a tornam possível. Os usos sedimentados, resultantes tesco semântico.
da história, determinam todo ato de linguagem. O enunciador, no momento da
enunciação, convoca, atualiza, repete, reitera um "já dado" (gêneros, modos de di- presente S. m. Benveniste
zer etc.), mas também o revoga, o recusa, o renova e o transforma. Há um domínio Definição: eixo do tempo linguístico que fundamenta a temporalidade da enunciação.
do impessoal que rege a enunciação individual. É preciso ficar claro, no entanto, Fonte da definição: BEN89: 74-75.
que, muitas vezes, a enunciação individual insurge-se contra esses modos de dizer Nota explicativa: Como eixo ou centro da t emporalidade linguística, a enunciação
sedimentados, dando lugar a práticas inovadoras, que criam significações inéditas. de "eu", além de instaurar o presente concomitante ao passado e ao futuro, esta-
Esses enunciados, assumidos pela prática coletiva, podem sedimentar-se em novos belece a temporalidade do "tu". Assim, a cada enunciação de "eu", em havendo
usos, que, por sua vez, podem ser revogados e assim sucessivamente. O discurso instaura~ão singular do presente, será produzido um passado e um futuro igual-
literário exibe uma tensão entre conservação e revolução das formas. Na "Carta mente smgulares. Além disso, pode-se dizer que o presente é o fundamento da
pras icarniabas", capítulo do livro Macunaíma, Mário de Andrade ridiculariza a intersubjetividade, isto é, quando eu diz "ontem", esse "ontem" converte-se com-
práxis enunciativa dos pré-modernist as, com sua sintaxe clássica, seu léxico pre- pulsoriamente no "ontem" do "tu". De forma recíproca, "tu", ao tomar a palavra
ciosista e até arcaizante, suas citações latinas etc. Stanislaw Ponte Preta, na crônica convertendo-se em "eu", converte minha demarcação temporal na sua.
"O repórter policial", ironiza a práxis enunciativa desses profissionais da imprensa Fonte da nota: EBE06.
de sua época: "Qualquer cidadão q ue vai à Polícia prestar declarações que possam Leitura recomendada: BEN89B, BEN95B.
ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar) é logo Termos relacionados: intersubjetividade, tempo linguístico.
apelidado de testemunha-chave. Suspeito é Mister X, advogado é causídico, solda-
do é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a pressuposto ( 1) S. m. Ducrot
vítima de um crime- de costas ou de barriga - fica numa dessas duas incômodas Definição: ato de fala implícito inscrito no sentido do enunciado.
posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral". Fonte da definição: DUC77; EDU06.
Fonte da nota: BER03: 85-89. Nota explicativa: A noção de pressuposto (l), em Ducrot, está vinculada à descri-
Leitura recomendada: FONOl: 171-202; FON07. ção da pressuposição como um ato de fala. Na sequência "Fulano vem me visitar;
Termo relacionado: enunciação (6). logo ele tem problemas", o locutor apresenta os atos de afirmação "Fulano vem
me visitar" (X) e "Fulano tem problemas" (Y). Além disso, apresenta uma outra
predicação de identidade s./ Fuchs proposição a partir do articulador logo de que "a pessoa referida não poderia vir,
Outras denominações: operação dinâmica d e identificação. senão por interesse" (Z). Nessa terceira proposição (Z), o locutor diz algo como se
Definição: operação por meio da qual se atribui, no discurso, um grau de equivalên- não tivesse dito, o que constitui o pressuposto.
cia semântica a dois enunciados, instituindo-se entre eles uma relação parafrástica. Fonte da nota: DUC77; EDU06.
Fonte da definição: FUC94. Termos relacionados: atividade linguística, posto (l), sentido literal.
Nota explicativa: A predicação de identidade semântica é um procedimento de
discurso que se identifica com o próprio parafraseamento como atividade discur- pressuposto (2) s.m. Ducrot
siva. Por meio dela, o enunciador institui, na evolução do discurso, um parentesco Definição: sentido implícito inscrito em um enunciado, cuja responsabilidade é
semântico entre dois enunciados. Essa predicação pode ocorrer por meio de traços atribuída a um enunciador.
linguísticos que inscrevem o parentesco semântico nos próprios enunciados ou, Fonte da definição: DUC87; EDU06.
então, por meio de marcadores de reformulação parafrástica, quando nos enun- Nota explicativa: A acepção de pressuposto (2) está vinculada à Teoria da Polifo-
ciados em relação esse parentesco não for linguisticamente perceptível. nia, em que a pressuposição não é mais concebida como ato, mas como uma das
Fonte da nota: FUC94. manifestações polifônicas da linguagem. Nesse sentido, o autor descreve o fenô-
meno da pressuposição considerando o fato de que certas palavras do enunciado ridas pelos participantes de um ato de interlocução. Constitui-se em exemplo a
possibilitam um sentido pressuposto e outro posto, cujos responsáveis são dois propriedade dos pronomes pessoais de não terem referente fixo para além de uma
enunciadores, E1 e E2, sendo o último aquele com quem o locutor se identifica. A instância dialogal particular.
sequência "todos vieram à aula, até Joana" contém um posto, sentido explicitado Fonte da nota: HAG90: 115-118.
pelo locutor no enunciado, cujo responsável é E2. Além disso, devido ao uso da
Leitura recomendada: HAG90.
palavra "até", a sequência contém um pressuposto, argumento implícito de que a
Termos relacionados: domínios de constrangimentos, domínios de iniciativas, teo-
presença de Joana à aula é inusitada, cujo responsável é El.
ria dos três pontos de vista.
Fonte da nota: DUC87; EDU06.
Termos relacionados: enunciador (2), posto (2), Teoria da Polifonia.
processo metafóricos. m. Jakobson
V. metáfora
primeira pessoa s.f Bréal
Outras denominações: eu.
Definição: pessoa verbal pela qual o indivíduo se opõe aos demais.
processo metonímico S. ttl. Jakobson
Fonte da definição: BRE92: 161. V. metonímia
Nota explicativa: Michel Bréai diz que a parte que o indivíduo dá a si mesmo na
linguagem é desproporcionada, porque das três pessoas do verbo há uma que ele se programação espacial s.f Greimas
reserva de modo absoluto, a que se convencionou chamar primeira pessoa. Definição: processo de encadeamento sintagmático dos espaços construídos
Fonte da nota: BRE92: 161. no enunciado.
Leitura recomendada: BRE92. Fonte da definição: GRE79a: 295.
Termos relacionados: elemento subjetivo, segunda pessoa, terceira pessoa (2). Nota explicativa: A programação espacial efetua-se pelo estabelecimento da cor-
relação entre as ações dos sujeitos e os espaços em que elas ocorrem. No romance
princípio da dupla estruturação s. Hagege 111. Germinal, de Zola, estão localizados, no eixo vertical, os espaços do alto, da super-
Definição: princípio de ordenamento linguístico de objetos e de noções. fície, e os do baixo, do fundo, da mina. Na superfície, vigem os valores culturais
Fonte da definição: HAG90: 21 1. da burguesia; nas profundezas da mina, os valores naturais. Num, os operários
Nota explicativa: A primeira estruturação é a que cria categorias por abstração e as estão submetidos à exploração do trabalho; noutro, às explosões de gás grisu e aos
hierarquiza. Para Hagêge, o mundo não contém objetos que representem a plura- desmoronamentos. Esses dois espaços encadeiam-se sucessivamente: do fundo à
lidade, a singularidade, a dualidade, o animado, o humano, a qualidade, a posse, superfície e desta para aquele. Os mineiros não têm um espaço próprio. Sua luta
a determinação, o agente, o paciente, a transitividade, a cor, o parentesco. Tais é pela busca de um território para construir sua axiologia. Tentam conquistar a
categorias estão presentes nas línguas como universais, ainda que não simultanea- superfície durante sua grande greve. Quando esta fracassa, voltam ao fundo. O
mente e nem com as mesmas estruturas formais, mas como conjunto de elementos desmoronamento do poço por causa da sabotagem precipita a planície no abismo.
possíveis, dentro do qual cada categoria ocupa uma posição. A segunda estrutura- A metáfora da germinação, que é, ao mesmo tempo, subterrânea, terrestre e aérea,
ção organiza as próprias línguas, em vários níveis, como redes de solidariedade. O indica o estabelecimento de uma nova axiologia, a do proletariado, que ultrapassa
significado de um sinal, dentro do léxico e, em particular, de uma zona semântica, o lugar da burguesia num processo ascensional. Essa programação espacial está
é definido pela sua diferença. O sistema fonológico e o sistema gramatical de cada relacionada a um discurso ideológico concernente ao progresso social e político
língua estão ligados entre si, tanto na história como na sincronia, por relações de da humanidade: o proletariado, liberto das coerções da natureza e do mundo bur-
interação que não correspondem à realidade exterior e moldam, por oposição a guês, constrói um mundo novo num lugar acima do ocupado pela burguesia.
esta, a autonomia das línguas como modelos de produção de sentidos. Em suma, Fonte da nota: BER03:144-149; GRE79a: 295-296.
ao postular a independência (relativa) da língua em relação ao mundo, Hagege Leitura recomendada: BER85; GRE08.
considera que as línguas tornam o mundo dizível na medida em que são profe- Termos relacionados: debreagem espacial, embreagem espacial, espacialização.
programação temporaL.t Greimas
Definição: processo de encadeamento das ações e dos acontecimentos num eixo
de sucessões.
Fonte da definição: GRE79a: 296.
Nota explicativa: A programação temporal não se reduz à disposição numa linha
de tempo dos acontecimentos que se sucedem uns depois dos outros. Ela implica qualidade s.f Ducrot
também uma medida dos tempos em durações, operando, assim, com a aspectuali- Definição: noção de positividade ou negatividade manifesta pelos encadeamentos
zação: há as ações durativas e pontuais, por exemplo. A programação temporal argumentativos.
constrói periodizações. Além disso, ela opera com simultaneidades, mostrando Fonte da definição: CAR94; EDU06.
que dois acontecimentos ocorrem paralelamente. No capítulo V de O Guarani, Nota explicativa: O termo qualidade é apresentado por Marion Carel nos primeiros
de Alencar, narra-se uma conversa entre Cecília e Isabel no jardim da casa do Pa- estudos sob re a Teoria dos Blocos Semânticos. Segundo a autora, os encadeamen-
quequer. O capítulo VI inicia-se com a seguinte frase: "Ao mesmo tempo que esta tos argumen tativos não exprimem somente blocos, mas também um certo tipo de
cena se passava no jardim, dois homens passeavam do outro lado da esplanada, positividade ou negatividade, denominada qualidade. Essa qualidade, juntamente
na sombra que projetava o edifíçio". Essa introdução serve para mostrar que 0 com o bloco, constitui uma regra. Os encadeamentos "Pedro é rico: ele deve ser fe-
diálogo entre D. Antônio de Mariz e Aires Gomes, que será relatado em seguida, liz" e "Pedro é rico: ele não deve ser feliz" relacionam-se ao mesmo bloco (riqueza/
ocorre paralelamente ao colóquio ent re Isabel e Cecília. A programação temporal felicidade), mas não têm o mesm o sentido. Suas qualidades opõem-se e exprimem
constrói uma rep resentação cronológica da organização narrativa do texto. regras distintas (a riqueza traz felicidade e a riqueza não t raz felicidade).
Fonte d a nota: GRE79a: 296-297. Fon te da nota: CAR94; EDU06.
Leitura recomendada: GRE08; SIL04: 142-164. Termos r elacionados: bloco semântico, encadeamento argumentativo, regra.
Termos relacionados: debreagem temporal, localização temporal, temporalização.
qualificação s. f Culioli
Outras denominações: Qlt.
Definição: operação associada à estruturação nocional pela qual são construídas
diferenciações qualitativas ent re ocorrências de uma mesma classe.
Fonte da definição: CUL99a.
Nota explicativa: Qualificação é uma delimitação que permite distinguir o que é X do
que é qualitativamente diferente de X. A qualificação está associada à estruturação no-
cional de uma noção e instaura relações de complementaridade nocional baseada em
uma operação de diferenciação qualitativa. Érepresentada por Qlt. Tal operação supõe a
pertença das ocorrências diferenciadas a uma mesma classe (somente se pode comparar
o comparável). Diferenciar supõe conjuntamente a possibilidade de identificar, uma
vez que ocorrências somente são qualitativamente distinguíveis se forem identificáveis.
Fonte da nota: CUL99a.
Leitura recomendada: FRA98; FUC84.
Termos relacionados: noção, ocorrência, quantificação.
quantificação s. f Culioli
Outras denominações: Qnt.
Definição: operação pela qual é construída a representação da ocorrência de uma
noção em um espaço-tempo de referência.
c: Fonte da definição: CUL90.
ifr Nota explicativa: A quantificação permite efetuar duas operações essenciais:
e.
g:... (1) construir ocorrências da noção na produção/reconhecimento de enunciados;
~· (2) construir a existência de uma ocorrência (ocorrência de uma noção fragmenta-
li" da) situada no espaço-tempo enunciativo que um sujeito enunciador constrói em
~
& relação a um coenunciador.
reconhecimento s. Benveniste 111.
"'~ Definição: atividade exercida por quem utiliza a língua, q ue consiste e_m atribuir
Fonte da nota: CUL90.
significado relativo à pertença ao sistema.
Leitura recomendada: FRA98; FUC84.
Fonte da definição: EBE06.
Termos relacionados: dom ín io nocional, noção, ocorrência.
Nota explicativa: Esta atividade, que implica, em uma situação de uso, reconhe-
cer um signo como p ertencente ao sistema, é fu ndamental para o estabelecimento
de comunicação, entretanto não é o basta nte. Daí reconhecimento estar sempre
associado à compreensão; é necessário que o sistema seja comum a locutor e alo-
cutário e q ue a situação discursiva também o seja. Por meio de reconhecimento e
compreensão associados, percebe-se relação entre a significação do já-conhecido
e a significação a tua!.
Fonte da nota: EBE06.
Leitura recomendada: BEN89A; BEN89D; BEN89E.
Termos relacionados: atualização (2), compreensão (2), palavra (2).