Fortaleza
Agosto/2015
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Fortaleza
Agosto/2015
2
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BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof.ª Maria Lírida Calou de Araújo e Mendonça, Pós-Drª.
Orientadora - Universidade de Fortaleza
________________________________________________
Prof. Carlos César Sousa Cintra, Dr.
1º Examinador - Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Prof. Antônio Jorge Pereira Júnior, Dr.
2º Examinador - Universidade de Fortaleza
4
AGRADECIMENTOS
próximo.
À professora doutora Gina Pompeu, por instigar desafios desde o primeiro e-mail.
Aos amigos Ana Paula, Cândido Alexandrino, Jahyra, Jovina, Mary Andrade, Roberto
Os amigos da coordenação do PPGD - Ana Lima, Ana Paula, Fabiano, Luis Carlos,
Mário Quintana
7
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation is to investigate the scope imposing budget modeling in Brazil introduced
from the enactment of Constitutional Amendment No. 86/2015, before the reality of the
presidential coalition model. To this end, the research part of the questioning proposed to
question the need to adopt a budget model (supposedly) imposing, as a political alternative to
minimize the effects of the political crisis and the asymmetry between the legislature and
national executive. However, there was need for further research in the historical context of
the formation of the modern state and the philosophy of history to understand the separation
of state functions, and duties of constitutional powers of each branch. In addition to research
questions the exacerbated opening additional credits to the budget as well as the presidential
contingency in the release of expenses resulting from parliamentary amendments included in
the budget despite the PLOA. Thus, the research aims to investigate the contents of the
constitutional amendment, collated to coalition politics in the Brazilian presidential model.
The methodology used for the dissertation collated historical aspects, and state philosophy, as
well as legal, doctrinal and jurisprudential program-budget of modeling, confronted with the
changes introduced by the constitutional amendment. The dissertation is divided into four
parts: the first involves the formation of the modern state; the second separation of powers, as
well as the skills of powers; third current budget modeling; the fourth supposedly imposing
budget, the opening of additional credits and parliamentary amendments to the budget. With
fulcrum in the democratic state it is concluded that the constitutional amendment does not
innovated, but withdrew a portion of the discretion of the head of executive power in the
curtailment of parliamentary amendments, despite the Supreme Court's position in the
opposite direction.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
DJ – Diário da Justiça
EC – Emenda à Constituição
MP – Medida Provisória
OP – Orçamento Participativo
UG – Unidade de Gestão
UO – Unidade Orçamentária
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 14
1 ESTADO, FILOSOFIA E DEMOCRACIA............................................................... 21
1.1 Destaque sobre a embriogenia do Estado............................................................. 22
1.2 Pensamento filosófico do Estado e a soberania.................................................. 23
1.3 Estado democrático e humanista de Direito......................................................... 35
2 A SEPARAÇÃO DAS FUNÇÕES ESTATAIS À LUZ DA HISTORIOGRAFIA
CONSTITUCIONAL BRASILEIRA.......................................................................... 49
2.1 A ideia de separação dos poderes na Modernidade............................................. 52
2.1.1 Constituição imperial de 1824.................................................................... 58
2.1.2 A Constituição republicana de 1891........................................................... 59
2.1.3 A Constituição liberal com tendências sociais de 1934............................. 60
2.1.4 A Carta política do Estado Novo de 1937.................................................. 61
2.1.5 A Constituição democrática de 1946.......................................................... 62
2.1.6 Carta política militar de 1967 e a Emenda n 1/1969º................................ 62
2.1.7 A Constituição do Estado Democrático de Direito de 1988....................... 63
2.2 Das atribuições de competências........................................................................ 71
2.1.1 Poder Executivo.......................................................................................... 73
2.1.2 Poder Legislativo....................................................................................... 77
2.1.3 Poder Judiciário......................................................................................... 83
3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E ASPECTOS GERAIS DO ORÇAMENTO.... 88
Historiografia do Orçamento Público.................................................................. 91
3.1.1 A experiência inglesa.................................................................................. 92
3.1.2 A experiência francesa................................................................................ 93
3.1.3 A experiência estadunidense....................................................................... 94
3.1.4 A experiência brasileira.............................................................................. 95
3.2 As modelagens orçamentárias no Brasil............................................................... 107
3.2.1 Princípios orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.... 111
3.2.2 Consensos e divergências doutrinarias a respeito do Orçamento Público 112
4 ANÁLISE DO ORÇAMENTO E DOS CRÉDITOS ADICIONAIS NO MODELO
121
PRESIDENCIALISTA BRASILEIRO.......................................................................
4.1 Execução e cumprimento das metas no orçamento-programa brasileiro............. 124
14
INTRODUÇÃO
Estes são, de fato, indispensáveis para balizar e evidenciar, com fidelidade científica,
a formação das instituições como as conhecemos hoje. Portanto, não se pode pretender
alcançar um fenômeno humano dissociado do contexto cultural, espaçotemporal, da mesma
forma como, também, não é possível examinar um fenômeno na atualidade, sem uma
contextualização política e jurídica.
A questão foi, temporariamente, solucionada por Del Vecchio (1979), para quem o
Direito decorre da intersubjetividade. Para compreender a extensão do Direito, entretanto, se
torna indispensável conhecer a Filosofia, a História, a Sociologia, a Hermenêutica do Direito,
bem como suas teorias, que lhe definem os contornos, ficando a cargo da Epistemologia
15
Estes reconhecem no Estado um ente que se atém a cuidar da coisa pública, deixando
para a atividade privada e a livre concorrência as relações de natureza econômica particular,
ficando as questões de natureza legais a cargo das agências setoriais reguladoras. Do outro
lado, está o Estado totalitário, autoritário, que concentra o poder político e econômico, público
e privado na pessoa do Estado, detentor único de patrimônio e capital.
As mudanças são recentes e, por este motivo, ainda não se encontram estudos
aprofundando o teor da Emenda. A situação é agravada em razão da quantidade de PECs
acostadas ao projeto discutido e aprovado no Congresso Nacional. O exame da Emenda é
parte essencial da pesquisa, que inclui a leitura dos demais projetos de emendas.
Roberto Bocaccio Piscitelli (2006), James Giacomoni (2012) e Regis Fernandes de Oliveira
(2013). Encontram-se, ainda, alguns artigos acadêmicos e científicos sobre o tema, dispersos
na Web, principalmente sobre o presidencialismo ministerial de coalizão. Sobre a modelagem
impositiva, no entanto, há são poucos estudos.
Por certo que, uma mudança na modelagem orçamentária do País requer sucessivas
análises, até que sejam esgotadas as reflexões e debates acerca dos efeitos e alcances de tais
alterações, o que justifica a atualidade e necessidade da pesquisa acadêmica. Alem de atual o
estudo evidencia um aspecto relevante para o aperfeiçoamento das instituições nacionais,
especialmente as que afetam diretamente o Estado Democrático no Brasil.
Ademais, para alcançar este escopo foram traçados os seguintes objetivos específicos
para a pesquisa:
Por se tratar de uma pesquisa que privilegia aspectos sociais, políticos, históricos e
de filosofia do Estado, e em razão do elevado grau de subjetividade, a abordagem da
dissertação é qualitativa, adequada aos estudos sociais, como no caso circunstancial, em que
se estudam o Estado Democrático e o Orçamento Público. Quanto aos fins, a pesquisa é
19
Neste cotejo, são identificados alguns autores que compartilham esta ampliação do
sentido de Estado, cujo escopo é a necessidade de leitura dos diplomas legais com suporte na
universalidade de direitos, ou prevalência da interpretação do Direito, desde a necessidade de
efetivação dos Direitos fundamentais. Em seguida, a pesquisa busca, com a leitura dos
clássicos da Ciência Política e do Estado, conhecer e evidenciar a separação dos poderes do
Estado, partindo da história do pensamento filosófico absolutista (baseado no Direito divino
do soberano, uma espécie de jusnaturalismo), passando pelo iluminismo (com prevalência dos
juscontratualistas), até chegar à moderna (juspositivistas) concepção da separação das funções
do Estado, com suas peculiaridades nos Brasil.
Neste ponto, com amparo na leitura dos textos constitucionais, desde a Carta
imperial até a Cidadã de 1988, procura compreender o processo de consolidação dos Poderes
do Estado no Brasil. Neste momento, a doutrina representa um relevante meio facilitador da
apreensão de aspectos culturais e políticos que contribuíram para aquelas configurações de
Poderes.
Outrossim, vale aqui destacar o pensamento de Marco Túlio Cícero, em 44 a.C., "é
justo e conforme à natureza humana haver autoridade civil com poder temporal para reger os
homens [...]”. Para o Pensador romano, havia necessidade de um Poder capaz de conter o
ímpeto humano. Cícero justifica sua afirmação com amparo em dois princípios: “primeiro,
que o homem é um animal social, que tende naturalmente e com toda a razão para viver em
sociedade [...], segundo, que na sociedade perfeita é necessário que haja um poder a que
pertença o governo da coletividade [...]. Sem isso haveria nela a maior confusão".
22
Assim, o criador do Estado, a que Becker chamou de Ser Social, é o ser humano,
que, por instinto e irracionalidade por natureza, atrai os homens a uma sociedade política do
tipo gênero, entretanto se os homens agem por um ato consciente também racional, dirigindo-
se para uma determinada sociedade política, esta não se configura como causa natural,
portanto, deve ser entendida como espécie daquele tipo gênero.
Ademais, cabe ressaltar que, uma vez criado este Ser Social (Estado), não se mantém
por si, mas tão somente num processo criativo com seu criador, “numa perpetua reafirmação
de sua própria unidade”. Portanto o Estado nasce por uma relação natural e sobrevive por ele
mesmo - utilizando a força natural imanente no fato da existência real do Ser Social - que
transfigura aquela relação natural, em relação de direito com o surgimento da personalidade
jurídica.
É este Bem Comum que sustenta e alimenta esta relação entre as pessoas e que se
pode chamar de relação constitucional (no sentido de constituir) do Estado, distinto dos seres
23
que o constituíram. Becker adverte para o fato de que o Estado não age como o centro
gravitacional dessas relações, mas coordena e atua como um fenômeno de natureza espiritual
da sociedade Assim, as pessoas orbitam na periferia, enquanto no centro está o Bem Comum.
Deste modo, o Estado não atua nesse vínculo de constituição nem como pólo ativo, nem
passivo, pois aquele é a própria relação constitucional.
1
Com as revoltas sociais dos camponeses, pela recusa do pagamento de impostos feudais e pelo crescimento das
cidades e do comércio, os feudos foram sendo minados pouco a pouco. A partir do século XIV, ocorreu um
processo de centralização e concentração das forças armadas e do monopólio da violência, da cobrança de
impostos para manter também o exercito e a estrutura jurídica. A centralização e a concentração desses poderes e
instituições caracterizam o estado moderno, que tem várias formas até hoje (BONAVIDES, 2004d, p.32-33).
2
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527).
24
amado.
Cabe ressaltar que, como homem de sua época, Jean Bodin3 entendia que este poder
absoluto do monarca adivinha de Deus, ficando conhecido como o teórico do Direito divino
dos reis. Para Jean Bodin, entretanto, a soberania é uma síntese de três aspectos: “soberania
como o poder de influencia elevada e eminente; o poder normativo e legislativo senhorial;
poder senhorial de gerir a administração pública”(2011, p.196).
3
Jean Bodin (1530-1596).
4
Utilizou-se desta teoria para asseverar a legitimação do poder do homem sobre a mulher, bem como o poder da
monarquia sobre a gerontocracia [...] a investidura do Império, que prestam fé e homenagem ao Império, em
suma que são súditos naturais do Império, originários de terras sujeitas ao Império: como poderiam ser
absolutamente soberanos? Como poderia ser soberano aquele que reconhece a justiça de uma maior? [...] O que
mais se pode desejar de um Príncipe soberano?(2011, p.291).
5
Gerontocracia é o governo dos mais velhos, dos anciãos.
25
homens, e torná-lo superior, Bodin descreve as cinco marcas da soberania: o poder de dar a lei
a todos em geral e a cada um em particular; o poder de declarar a guerra e tratar a paz; o poder
de instituir os primeiros oficiais [...] todos os magistrados; o poder em última alçada; o poder
de conceder graças aos condenados por sobre as sentenças e contra o rigor das leis(2011, p.
298-314).
Neste contexto, a finalidade do Estado para Hobbes era a segurança pessoal que não
existe no Direito (lei) natural, assim como não existe no homem, nem na família, nem nas
grandes multidões, que somente pode ser assegurada por este homem artificial, isto é,
somente um poder acima das individualidades poderia garantir a segurança de todos.
6
Thomas Hobbes (1588–1679).
7
John Locke (1632-1704).
26
Estado absoluto para o Estado liberal não foi pacifica, porém marcada por profundas
transformações no modo de ver e ser do homem e da sociedade, em especial, do Estado.
Neste momento, é mister fazer breve contextualização da obra “Dois tratados sobre
o governo”. Locke se dedicou, no primeiro livro, a refutar as ideias de Sir Robert Filmer e no
segundo foi levado por Filmer a expressar-se como liberalista e acabam sendo mal
interpretado. Por este motivo, muitos entendem tratar-se de contraposição ao pensamento
hobbesiano. Foi sob a influência de Filmer, porém, que Locke apresentou suas crenças na
liberdade e na igualdade de todos os homens e sua concepção de Estado8. Locke(2005, p.433-
434) acentua que a liberdade somente poderá ser atingida por meio da lei, pois “[...] o fim da
lei não é abolir ou restringir, mas conservar e ampliar a liberdade, pois onde não há lei, não há
liberdade”.
E continua, mais adiante “[...] presume-se que saiba até que ponto essa lei deve ser
guia e até que ponto fazer uso de sua liberdade, e assim chega a obtê-la”. Para o autor no
estado de natureza todos os homens estão “[...] em perfeita liberdade para regular suas ações e
dispor de suas posses e pessoas do modo que julgarem acertado, dentro dos limites da lei da
natureza [...]” (2005, p.382). Isto é, assegurar os direitos naturais do homem, direito à vida, à
liberdade e à propriedade privada, reconhecendo no trabalho o princípio de toda propriedade,
garantido pelo direito de resistência.
8
Nesses últimos tempos, brotou entre nós uma geração de homens dispostos a adular os príncipes com a opinião
de que têm eles um direito divino ao poder absoluto, [...] porquanto também eles, segundo o sistema desses
homens, nascem escravos salvo um único, e estão submetidos, pelo direito divino, ao herdeiro legítimo de Adão
(2005, p.205).
9
Charles-Louis de Secondat, Baron de La Brède et de Montesquieu (1689-1755).
27
pelos homens para reger as relações entre os homens, isto é, o espírito das leis, ou melhor, o
espírito entre as leis e as coisas (organização comercial, relações de classes, organização e
instituições do Estado), buscando explicar essas coisas com suporte em leis da Ciência
Política (ALBUQUERQUE, 2011, p.116). Ainda sobre a lei, quando Montesquieu (2010,
p.31) se refere ao sufrágio e à participação do povo no governo, ressalta que “[...] é lei
fundamental da democracia que só o povo faça as leis”.
Para Montesquieu (2010, p. 508), “A lei política destrói o Estado deve-se decidir pela
lei política que o conserva, que se torna cada vez um direito das gentes”, portanto, para ele o
imperativo da “separação do poder” funcionava como freio ao poder estatal, e somente a lei
(produção legislativa) seria capaz de conter a concentração desse poder, daí por que o império
da lei, a separação dos poderes e a enumeração por lei das garantias dos direitos individuais.
Ao discorrer sobre a divisão feita por Sólon10 do povo de Atenas em quatro classes,
Montesquieu (2007, p.30-31) descreve o Estado popular, cujo povo é dividido em classes e
10
Sólon 638 – 558 a.C.- Considerado pelos antigos um dos sete sábios da Grécia antiga. Iniciou a reforma das
estruturas social, política e econômica em Atenas. Como profundo conhecedor das leis, artículos a reforma
legislativa: abolição da escravidão por dívidas; reforma timocrática ou censitária - a participação não era mais
por nascimento, mas censitária, através do Conselho de 400; reforma do sistema de pesos e medidas
(BONAVIDES, 2004d, p. 379-381).
28
“foi na maneira de fazer esta divisão entre classes que os legisladores se assinalaram; e
sempre dependeu disso a duração da democracia e a sua prosperidade”. Montesquieu aborda o
“direito de voto” de algumas classes na república e “como a lei fundamental” deve estabelecer
o modo de exercer o direito de voto, de forma que todo cidadão saiba como “servir a pátria”.
A seguir adverte “que o voto deve ser público” e “[...] ao tornarem secretos os sufrágios,
destruíram tudo”.
Para ele haveria liberdade no Estado, uma “forma associativa, que defenda e apoie
com toda a força coletiva a pessoa e os bens de cada um dos membros e por meio da qual
cada um, unindo-se livremente a todos, obedeça somente a si mesmo e permaneça livre como
antes” (2012, p. 26). Para Rousseau, a liberdade civil era baseada na submissão à lei. Não se
trata de liberdade perante uma instituição formal, mas uma participação consciente e de
acordo com a lei do Estado, que consiste no arcabouço do Estado Democrático.
11
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
29
O Estado de Direito do século XVIII é fruto de uma profunda contradição, pois, nas
palavras de Bonavides (2007, p.42-43), “A burguesia acordava o povo, que então despertou
para a consciência de suas liberdades políticas [...]”, ou seja, “[...] a escola do direito natural
da burguesia racionaliza o problema delicadíssimo do poder [...]” e “fez, pretensiosamente, da
doutrina de uma classe a doutrina de todas as classes”.
Com se observa, não existe a priori uma definição ou conceito único de Estado de
Direito, todavia seria possível afirmar suas características preponderantes, pois, nele se
destacam o império da lei, a divisão dos poderes do Estado e a existência de enunciados e
garantias de direitos individuais, portanto, uma conquista da civilização de influência
liberalista. Assim, tem-se que, dependendo da concepção o Estado de Direito, admitirá
significações diferentes, sem, contudo, perder sua essência e características.
Vale ressaltar que, durante esta fase, algumas características foram sendo observadas
e cotejadas, tornando possível identificar a origem do Estado de Direito. Como mostrado por
José Afonso da Silva (2002, p.112-115), o Estado de Direito remonta aos ideais liberais e
exprime características marcantes que diferem das demais associações: primeiro a submissão
ao império da lei, resultado da produção do Parlamento que representava o povo, ou a
vontade do povo. A segunda era a divisão dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos
30
12
Alexander Hamilton (1755-1804).
13
James Madison, Jr. (1751-1836).
14
John Jay (1745-1829).
31
civil garante da vontade geral para uma sociedade positivada, partindo da ideia de que mesmo
o contrato social, positivado, era insuficiente para assegurar a liberdade e a igualdade
conquistada a duras penas. Com efeito, outras forças passaram a interagir no Estado, com o
sistema capitalista, expresso por John Stuart Mill15, com o pensamento econômico político,
que consistia numa crítica ao direito pós-industrialização inglesa do século XIX.
No século XIX, John Stuart Mill já antecipava a necessária justiça social, onerando
os mais abastados em detrimento dos mais pobres, mas a soberania popular somente teve
origem no Estado Democrático de Direito, pós-guerra fria, quando passou a existir uma
soberania jurídica estatal, já indicada por Kelsen (2003, p.215-217) em sua teoria da norma
fundamental.
15
John Stuart Mill, de1806 a1873.
16
Referindo-se “aos fatores do poder e as instituições jurídicas, com base numa “Folha de Papel”.
32
“dá-se-lhes expressão escrita e, [...] incorporados a um papel, não são simples fatores reais de
pode [...]”. Lassalle rejeitava os movimentos burgueses na França e o lassez-faire, pensamento
fisiocrático dominante à época.
Por sua vez, Hesse, contrapondo-se às crítica de Lassalle, exprime suas reflexões
sobre a obra do primeiro. De forma resumida, para Hesse os fatores reais do poder formam a
Constituição real do país. A Constituição escrita, esse pedaço de papel (nas palavras de
Lassalle), terá que sucumbir diante dos fatores reais de poder dominantes no País. Atribuiu à
Constituição uma força superior à força das normas jurídicas, pois a normatividade se
submete à realidade fática, isto é, a força condicionante da realidade e a normatividade da
Constituição que não podem ser separadas. Para Hesse (1991, p.16), a “Constituição adquire
força normativa na medida em que logra realizar essa pretensão de eficácia”.
Ressalte-se que não se pretende dizer que haja uma só terminologia correta, mas este
significado de Estado de Direito representa uma evolução na Teoria do Conhecimento, e
admite esta variedade de configurações ao longo do tempo. Para José Afonso da Silva (2002,
p. 115), esta doutrina “converte o Estado de Direito em mero Estado Legal”, e em verdade
“destrói qualquer ideia de Estado de Direito”.
que é uma criação divina. Na perspectiva de Burke17 (2014, 19), “Deus criou um Universo
ordenado, governado por leis eternas”. Neste sentido, Bonavides oferece valiosa contribuição
que possibilita conhecer e compreender a origem e formação do Estado, exprimindo a
“construção do Estado jurídico, como cuidavam os pensadores do direito natural” em especial
os racionalistas, como Kant, cujo núcleo central do pensamento gravitava ao redor da
liberdade ilimitada do homem em sociedade, devendo o Estado primitivo figurar como
verdadeiro servo do individuo, mas de relevância para “organização da liberdade no campo
social”. O Estado é armadura, defesa e proteção da liberdade (BONAVIDES, 2007, p. 40-62).
Portanto, nem a Revolução Francesa (não foi pela guilhotina que ocorreram as
transformações históricas, mas pelo Estado de Direito, a legitimidade republicana, o
constitucionalismo, o regime representativo, as liberdades políticas, os direitos individuais, a
majestade da pessoa humana), nem a Revolução Russa (não foi somente pela ditadura do
proletariado, nem pela burocracia soviética, ou pelo absolutismo de Stalin, nem os campos de
concentração foram capazes de corporificar o Estado social democrático) isoladamente, são
reconhecidas como forças motrizes de tão profundas transformações, em tão curto espaço de
tempo, mas, sim, o processo histórico que passou a ser considerado o “centro de gravidade de
todo o processo de libertação civil e social do Homem e razão de ser da nova ordem jurídica e
constitucional da Sociedade” (BONAVIDES, 2007, p. 210-211).
17
Edmund Burke (1729 – 1797).
18
O terceiro Estado - consiste no Poder político da burguesia, fruto da Revolução Francesa, que implanta na
França o Estado liberal-democrático. Trata-se de um Poder progressista e necessário á liberdade humana. À
exceção da Inglaterra que preservou a monarquia, portanto a nobreza se mistura com a burguesia para a
formação do terceiro estado (BONAVIDES, 2004d, 145-160).
19
O quarto estado - consiste no Poder da classe operária, nasce da Revolução Industrial, produto político do
Poder soviético, que cria a ditadura do proletariado e burguesia soviética e antecede à democracia social
(BONAVIDES, 2004d, 299-300).
35
Muito embora a Constituição dos Estados Unidos de 1787 tenha sido a primeira,
historicamente, seguida da Francesa Revolucionária de 1789, o advento do primeiro Estado
constitucional cunhado das ruínas do feudalismo, cuja noção de povo, herança do
jusnaturalismo, foi a mola impulsionadora da ação revolucionaria francesa, que incorporou o
espírito de nação e tomou consciência do seu destino, propagando a imortalidade do povo, e a
nação sintetiza a vocação de perpetuação. Nasce o Poder legítimo e inconteste do povo,
cotejado ao recuo do “direito da força” que cede lugar à “força do Direito”, e constitui
elementos, dentre outros aspectos históricos já mencionados, que antecipam a pré-
compreensão do Estado constitucional contemporâneo (BONAVIDES, 2004d, p.34-37).
Destarte, a conversão do Estado absolutista em Estado constitucional decorre da “força do
Direito”, isto é, da lei.
Bonavides (2004, p. 37) esclarece que o Estado constitucional ostenta três distintas
modalidades essenciais: o Estado constitucional da separação dos poderes, o Estado
constitucional dos direitos fundamentais e o Estado constitucional democrático, que
correspondem, respectivamente, ao Estado Liberal, o Estado Social e o Estado Democrático-
participativo. Não se pode acreditar, entretanto, que o Estado tenha ou possa parar de evoluir,
tampouco tenha perdido sua identidade como Estado de legalidade, apesar das crises por que
passa. Tal como o Homem, o Estado está em constante evolução e em perene transformação
dentro de uma dialética teleológica da sociedade. Para Adam Smith o soberano deveria tratar
da justiça, da segurança, das estradas, pontes, portos e canais, da educação da juventude, alem
de cuidar da imagem e respeitabilidade de seu cargo (GIACOMONI, 2012, p.21).
normas de direitos abstratos, tais como o direito de ir e vir) pela democracia substancial
(material, como a democratização dos bens econômicos).
O Estado brasileiro introduziu no seu ordenamento jurídico o § 3º, do art. 5º, CF/88 -
uma verdadeira mudança de paradigma que se deu após a edição da Emenda Constitucional nº
45/2004. Pela dicção da EC, os tratados internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por um quorum qualificado
de três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais; desta feita adquirem o status de EC, passando a compor o bloco de
constitucionalidade, ou seja, passam a integrar formalmente o conjunto das normas
constitucionais (MAUÉS, 2013).
20
O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda,
inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema da concorrência entre tratados
internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre prevalecer
sobre os atos de direito internacional público. Os tratados internacionais celebrados pelo Brasil - ou aos quais o
Brasil venha a aderir - não podem, em consequência, versar matéria posta sob reserva constitucional de lei
complementar. É que, em tal situação, a própria Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado
tema ao exclusivo domínio normativo da lei complementar, que não pode ser substituída por qualquer outra
espécie normativa infraconstitucional, inclusive pelos atos internacionais já incorporados ao direito positivo
interno.(ADI 1480 MC, Relator(a): Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-05-
2001).
21
A Constituição do Brasil e as convenções internacionais de proteção aos direitos humanos: prevalência da
Constituição que afasta a aplicação das cláusulas convencionais antinômicas. [...] alinha-se ao consenso em torno
da estatura infraconstitucional, na ordem positiva brasileira, dos tratados a ela incorporados. [...] mesmo em
relação às convenções internacionais de proteção de direitos fundamentais, preserva a jurisprudência que a todos
equipara hierarquicamente às leis ordinárias. (BRASIL, 2003, p. 343-360).
38
A questão acima é ainda mais radicalmente por Torres (2009, p. 31), no sentido de
que “a norma internacional prevalece sobre a norma constitucional posterior, mesmo naquele
caso em que uma norma constitucional posterior tente revogar uma norma internacional
constitucionaliza [...]”, tese esta compartilhada pela minoria vencida dos ministros do STF no
julgamento que declarou a supralegalidade da CADH e paralisou a eficácia do inciso LXVI,
do art. 5º, da Constituição Federal de 1988.
Outro ponto de vista doutrinário a ser analisado é o defendido por Sarlet (2013, 101-
103), ao reconhecer que a questão está longe de ser resolvida. Alerta para o fato de que a
hierarquia Constitucional entre os tratados incorporados (aqueles equivalente a EC) e o Texto
constitucional ainda pode ser declarada inconstitucional em casos de conflito com as cláusulas
pétreas da Constituição (limites matérias explícitos e implícitos na Carta Política), uma
possibilidade real de conflito. Sarlet adverte sobre a desvantagem da implementação do § 3º,
do art. 5º, em relação ao sistema das normas “materialmente constitucionais dos direitos
assegurados nos tratados, em função especialmente da abertura expressamente consagrada no
art. 5º, § 2º, da CF, por si só [...] já asseguram a hierarquia constitucional aos tratados em
matéria de direitos humanos [...]”.
Para o autor, o art. 5º, § 3º, “não seria apenas desnecessário, mas, admitindo-se uma
sentença numa ADI da emenda pelo simples fato de contrastar com os limites materiais ao
poder de reforma da Constituição, até mesmo desvantajoso”(2013, p.103). Portanto, bastaria o
status materialmente constitucional da norma infraconstitucional para que os aplicadores do
Direito “exigissem uma exegeses sistêmica pautada por uma adequada ponderação dos
40
interesses (valores) em pauta, sempre privilegiando [...] uma solução mais favorável à
garantia da dignidade da pessoa [...]”.
Esse status constitucional material se justifica pelo fato de os direitos humanos serem
o resultado de incessantes tensões que marcaram a história da humanidade e de uma gradual
evolução desses direitos nos ordenamentos jurídicos internos, assim como dos tratados e
convenções internacionais. O constituinte de 1988 resolveu abrir o “sistema jurídico nacional
consagrando o valor positivo da democracia e o valor positivo dos direitos humanos”
(BONIFÁCIO, 2008, p.131-180) e não somente como indicado na pirâmide kelseniana das
normas jurídicas.
41
O mesmo ocorre por, exemplo, com o Paraguai e com o Uruguai, cujo controle de
constitucionalidade é concentrado, fechado e reservado a uma só Corte Suprema; também o é
o controle de convencionalidade. Nesta matéria, o Brasil e o Chile adotam um sistema misto
de controle difuso e concentrado das leis, ou seja, tanto juízes/tribunais podem reconhecer a
constitucionalidade/inconstitucionalidade de leis como o concentrado na Corte constitucional.
Assim, Mazzuoli (2013b, p. 20-21) aponta para quatro situações que podem vir a
ocorrer no ordenamento interno. Primeiramente, no caso de lei anterior conflitante com a
Constituição posterior, “[...] o fenômeno jurídico é o da não recepção e consequente
invalidade material da norma a partir daí”. A segunda é no caso em que lei posterior conflita à
Constituição. Assim a norma já nasceu eivada pela inconstitucionalidade que pode ser
declarada pela via difusa ou concentrada de controle de constitucionalidade. A terceira ocorre
nos casos em que uma “[...] lei anterior conflita com um tratado ratificado pelo Brasil e já em
vigor no país, ela é revogada de forma imediata”. A quarta sucede quando uma lei posterior
conflitar com um tratado, posteriormente ratificado, tem-se que tal norma é inválida, apesar
da vigência e, consequentemente, totalmente ineficaz.
Não é o que se vê, porém como identifica Barbosa (2013, p. 168) sobre decisões
recentes em que o STF atribuiu supremacia do Texto Constitucional em conflito com tratados
internacionais ratificados pelo Governo brasileiro, como no caso GATT (RE-114.784) e no
conflito com a Convenção de Varsóvia (RE-391.032).
Vê-se que, apesar de ratificada pelo Estado brasileiro, a norma internacional para
produzir efeitos internos (ser valida e eficaz) requer estar compatível com ordem jurídica
interna (a Constituição), ou seja, na contramão das decisões proferidas nos tribunais
internacionais que determinam a compatibilização dos ordenamentos nacionais às normas
internacionais de direitos humanos ou não.
Some-se a isso o fato de que o Poder Legislativo se omite de legislar diante dos casos
mais polêmicos da sociedade pós-moderna, e dos hardcases, elevando cada vez mais a
necessidade de atuação do Poder Judiciário (o chamado ativismo judicial) na solução dos
casos envolvendo direitos fundamentais (mínimo existencial, direito à saúde, educação etc.) e
dos casos lacunosos pela ausência de norma jurídica interna. Apesar das críticas, o ativismo
judicial se justifica e se torna imprescindível ante essa situação e perante o caso concreto.
22
STF Súmula Vinculante nº 25 - PSV 31 - DJe nº 27/2010 - Tribunal Pleno de 16/12/2009 - DJe nº 238, p.1, em
23/12/2009 - DOU de 23/12/2009, p.1. Ilicitude - Prisão Civil de Depositário Infiel - Modalidade do
Depósito - É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Referências:
- Art. 5º, LXVII e § 2, Direitos e Deveres Individuais e Coletivos - Direitos e Garantias Fundamentais -
Constituição Federal - CF - 1988. - Art. 7º, § 7º, Direitos Civis e Políticos - Deveres dos Estados e Direitos
Protegidos - Convenção Americana Sobre Direitos Humanos - Pacto de São José da Costa Rica - D-000.678-
1992. - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 11). Precedentes: - RE 562051 RG, - RE
349703, - RE 466343, - HC 87585, - HC 95967, - HC 91950, - HC 93435, - HC 96687 MC, - HC 96582, - HC
90172, - HC 95170 MC.
45
Não se pode deixar de mencionar o art. 7º dos Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias, que estabelece a “formação de um tribunal internacional de direitos humanos”,
mas tal dispositivo chegou tarde, pois a proposta de criação da Corte Interamericana de
Direitos Humanos foi formulada pelo Brasil e aceita décadas antes (PEREIRA, 2014). Vários
Estados-membros da CADH adotam distintos posicionamentos quanto à adoção de sistemas
de controle das leis. No Brasil, a Corte constitucional já reconhece e admite o controle de
convencionalidade que ultrapasse ao clássico controle de constitucionalidade das leis,
instrumentos de compatibilização do ordenamento internacional com a ordem jurídica
doméstica.
O Estado que esteve sobre um regime ditatorial mais violento vai exibir mecanismos
de proteção, mais rígidos, do ordenamento doméstico, como o caso brasileiro, argentino e
chileno. Isto reverbera não somente nas constituições, mas, também, no ordenamento
infraconstitucional e no processo legislativo de produção de normas.
No art. 5º23 do texto reformado de 1994 se infere que cada província deve decretar
sua Constituição sob o sistema representativo republicano, de acordo com os princípios,
declarações e garantias da Constituição; e assegurar a sua administração da justiça, regime
municipal e educação primária. Nestas condições, o Governo Federal deve garantir a cada
província o pleno exercício das suas instituições; diferentemente do Brasil, não adotou uma
Corte ou Tribunal Constitucional, portanto, o controle de constitucionalidade é exercido pela
Corte Suprema de Justiça, órgão máximo do Poder Judiciário argentino, a que levou juristas e
doutrinadores argentinos a afirmarem uma unanimidade em reconhecer a falta de
monitoramento do controle de constitucionalidade. Alegam que tal situação era mais evidente
antes da reforma constitucional de 1994, que recepcionou o Pacto de São José da Costa Rica
com status de norma constitucional. O constituinte da reforma constitucional de 1994,
recepcionou a CADH com status de norma constitucional, evidenciado na leitura do art. 3124,
da Constituição Argentina.
23
Art. 5º.- Cada provincia dictará para sí una Constitución bajo el sistema representativo republicano, de acuerdo
con los principios, declaraciones y garantías de la Constitución Nacional; y que asegure su administración de
justicia, su régimen municipal, y la educación primaria. Bajo de estas condiciones el Gobierno federal, garante a
cada provincia el goce y ejercicio de sus instituciones. (ARGENTINA, 2014).
24
Art. 31.- Esta Constitución, las leyes de la Nación que en su consecuencia se dicten por el Congreso y los
tratados con las potencias extranjeras son la ley suprema de la Nación; y las autoridades de cada provincia están
obligadas a conformarse a ella, no obstante cualquiera disposición en contrario que contengan las leyes o
constituciones provinciales, salvo para la provincia de Buenos Aires, los tratados ratificados después del Pacto de
11 de noviembre de 1859. (ARGENTINA, 2014).
48
Já o Brasil (art. 5º, § 2º), Bolívia (art. 13, II), Colômbia (art. 94), Equador (art. 417),
Panamá (art. 13, II), República Dominicana (art. 74.1) e Uruguai (art.72) incorporam
cláusulas abertas de recepção de outros direitos conforme a normatividade convencional.
Outros possuem cláusulas constitucionais para a interpretação dos direitos e liberdades
consoante os instrumentos internacionais em matéria de direitos humanos, como a Bolívia
(art. 13,IV), Colômbia (art.93), Haiti (art.19) e México (art. 1º, § 2º). Em todas estas
situações, no entanto, nestes Estados, as normas convencionais adquirem o caráter
constitucional (MAC-GREGOR, 2013, p. 595).
Por outro lado, a desigualdade social acarreta aumento na atuação dos organismos
não governamentais nas respostas mais imediatas das necessidades mínimas, ampliando a
rede de solidariedade que ultrapassa as fronteiras dos Estados alcançando dimensão
internacional. Há quem discorde, entretanto, da necessidade dessas organizações de
solidariedade, atribuindo ao Estado o “dever de agir” e garantir o “mínimo existencial”, no
malgrado a educação, saúde e moradia.
Cabe ressaltar algumas das circunstâncias apontadas como responsáveis pela crise do
projeto democrático apresentadas por Friedrich Müller (2003) com reflexo direto nos Poderes
do Estado brasileiro. Primeiro, o povo ativo (uma cidadania ativa) ou participação coletiva
direta; segundo, a densidade qualitativa que deixou a política “refém das práticas
metodológicas, das referencias tecnológicas, das estatísticas, das probabilidades e das
valorações macro e microeconômicas”; terceiro, a densidade quantitativa que consiste no
volume e diversidade de “questões postas à solução, que implicou em uma atividade full time
e profissional da política que exclui o cidadão”.
Acrescente-se a esta última circunstância apontada por Müller o fato de que, desde o
período imperial, a população está à margem e excluída dos acontecimentos políticos (a
exemplo da Independência, e da Proclamação da República) em razão de sua formação social
e econômica que promoveu o isolamento do homem - individualizando-o. Neste contexto
histórico, só a pessoa valia sem necessidade da sociedade; o individualismo que prevalece
sobre a comunidade como descreve Oliveira Viana25. De certo, na contramão do que afirmou
Aristóteles, III séculos aC.: “o homem é um animal político” (zoon politikon) e está destinado
a viver em sociedade. Isto é, a natureza fez o homem um animal como qualquer outro, mas, ao
lhe impelir ao convívio uns com os outros, o transformou no único animal político.
25
No Brasil, só o indivíduo vale e, o que é pior, vale sem precisar da sociedade - da comunidade. Estude-se a
história da nossa formação social e econômica e ver-se-á como tudo concorre para dispersar o homem, isolar o
homem, desenvolver, no homem, o indivíduo. O homem socializado, o homem solidarista, o homem dependente
de grupo ou colaborando com o grupo não teve, aqui, clima para surgir, nem temperatura para desenvolver-se.
(2014, v.i, p.141,)
52
O autor tentou decifrar o caráter brasileiro, e o que mais lhe saltou aos olhos foi “a
falta de coesão social, o desagregamento dos indivíduos [...] que os reduz ao isolamento
absoluto, [...] de uma poeira impalpável e estéreo”, ou seja, “certas anomalias que acanham e
entorpecem as nossas relações políticas e sociais”, a que Barreto chamara de “defeito do
caráter nacional”, ao mesmo tempo em que José Bonifácio advertia para o mesmo fato com
expressão “caráter geral dos brasileiros”.
26
O urbanismo colonial não era um movimento espontâneo do povo; surgia em conseqüência de uma política: --
a política administrativa da Coroa, que procurava estabelecer a ordem e a legalidade no meio da desordem e da
anarquia colonial. (VIANA, 2014, v.i. p.142)
27
Egoístas somos nós, e a nossa sociedade, onde os homens não dobram o sentimento da vida própria com o
sentimento da vida comum; e por isso não podem resistir nem protestar contra a tirania das coisas e a pressão das
circunstâncias [...] (BARRETO, 1977, p. 90).
53
Em outro contexto, mas ainda tratando do Poder, Marco Túlio Cícero28, o romano,
em 57 aC., já refletia sobre a justiça atrelada a um Poder vinculado ao Direito. Outrossim,
destacava a necessidade deste Poder por meio da prestação jurisdicional para que houvesse
uma igualdade na realização da justiça. Isto revela a existência de poderes, a que ele
denominava de Magistrados, Pessoas (no sentido de povo) e o Senado, fazendo clara distinção
entre o Direito universal e o civil (os esclarecimentos do tradutor às questões formuladas pelo
pensador romano), a Justiça e o Estado29.
Somente, porém, com a exposição feita por Montesquieu (2010, p.168) para justificar
a separação dos poderes, ao afirmar que “Para que não se possa abusar do poder é preciso que,
pela disposição das coisas, o poder freie o poder” identificando que “há em cada Estado três
28
Para Cícero (1985, 289), a justiça está ligada ao poder. É preciso que haja uma organização de poder conforme
ao direito (justa imperium), para que a igualdade da justiça se realize, vez não se tratar apenas de virtude moral,
mas de prestação jurídica, institucionalizada, portanto. Em primeiro lugar, a igualdade é considerada como um
critério de equilíbrio entre os três poderes tradicionais: magistratus, populus e Senatus. No Império, essa trilogia
aparece do ponto de vista das forças sociais, a aristocracia e o povo, cujo momento de unidade se dá na pessoa
do Imperador.
29
Entre nós existiram homens ilustres que se dedicaram a interpretar esse direito para o público e a resolver
casos jurídicos; no entanto, anunciando grandes projetos, consagraram-se a miudezas. Porque nada existe de
mais importante que o direito do Estado e nada tão insignificante – por mais necessário que seja ao povo – que a
tarefa dos que se dedicam a consultas jurídicas. Não quero dizer que tais especialistas ignoravam o direito
universal, mas, ao tratarem do denominado direito civil, só o fizeram na medida em que consultavam o desejo de
prestar serviços ao povo, o que, sob a ótica teórica, é insuficiente, ainda que necessário sob o aspecto prático.
Para que assunto me chamas e a que me convidas? Será para escrever livretes jurídicos sobre as calhas d‟água,
ou as paredes divisórias, ou redigir formulários de julgamentos? Tais assuntos são batidos e, segundo creio,
inferiores à nossa expectativa. CÍCERO, DL I, 4, p. 44. No original, “Egone? Summos fuisse in ciuitate
nostra uiros, qui id interpretari populo et responsitare soliti sint, sed eos magna professos in paruis esse
uersatos. Quid enim est tantum quantum ius ciuitatis? Quid autem tam exiguum quam est munus hoc eorum qui
consuluntur? Quam est [populo] necessarium, nec uero eos, qui ei muneri praefuerunt, uniuersi iuris fuisse
expertis existimo, sed hoc ciuile quod uocant eatenus exercuerunt, quoad populo praestare uoluerunt; id autem
in cogniti tenue est, in usu necessarium. Quam ob rem quo me uocas, aut quid hortaris? ut libellos conficiam de
stillicidiorum ac de parietum iure? An ut stipulationum et iudiciorum formulas conponam? Quae et conscripta a
multis sunt diligenter, et sunt humiliora quam illa quae a nobis exspectari puto”.
54
Cabe aqui destacar o fato de que, neste período - Estado absolutista - já havia regras
jurídicas, mas imperava a insegurança nas relações jurídicas, pois há registros da existência de
pelo menos três ordens jurídicas, uma para os nobres, a segunda para o clero e outra para o
terceiro Estado - faltava uma ordem jurídica que unificasse as relações mercantis dificultadas
pelos privilégios, monopólios e favores reais.
Cabe ressaltar que Locke percebe a necessidade de que a última palavra fosse sempre
do monarca, isto é, do Poder Executivo. Foi, porém, no ideal liberal dos federalistas
Hamilton, Madison e Jay (1984, p. 401-404) que a separação de poderes passou a representar
um sistema de freios e contrapesos, adotado na Constituição estadunidense de 1787, grande
difusora também responsável pelo sucesso da obra de Montesquieu. Estes propuseram ser
necessária certa independência entre estes poderes para que “a cada um seja garantido o
controle constitucional dos demais”, deixando sua marca no constitucionalismo que se
55
Para o autor, “Estado instituído é quando uma multidão de pessoas concorda e pactua
que a qualquer homem ou assembleia de homens [...]” deverão autorizar e acatar todos os seus
atos, estabelecendo regras de convívio social e de subordinação política “[...] a fim de
viverem em paz uns com os outros e serem protegidos do restante dos homens”.
Deste pacto (contrato) surge o soberano, que se conserva fora dos compromissos e
isento de obrigações. Assim, no estado absoluto de Hobbes “[...] o soberano é conferido
mediante o consentimento do povo reunido”. No mesmo século, Locke (2005, p. 498-499)
critica a divindade dos príncipes, bem como a soberania no Estado. Para o autor, “a soberania
repousa na população”, muito embora admita a supremacia do “Estado que tem que respeitar
as leis naturais e as leis civis”.
Como ressalta Weffort (2006a, p.198), o exercício da vontade geral, para Rousseau,
por meio da representação, significa uma sobreposição de vontades, mas reconhece a
necessidade de representantes no plano de governo, um parlamento capaz de vigiar o Poder
Executivo, “por sua tendência a agir contra a autoridade soberana” - a população. A soberania
deve ser “[...] compreendida sempre como uma pilar da construção do Estado
moderno”(SALDANHA, 1969, p.144).
Outra abordagem que se faz necessária é a adotada por Karl Loewenstein (1986, p.
62), para quem a separação de poderes clássica está ultrapassada diante da realidade imposta
pelo Welfare State. Para Loewenstein, tem-se uma nova divisão tripartite: a decisão política
conformadora fundamental, a execução da decisão política e o controle político. A decisão
política fundamental estaria atribuída aos órgãos do governo e aos órgãos do parlamento.
Neste cenário mundial do século XIX, no Brasil, também havia uma grupo de
intelectuais que discutiam a separação dos poderes do Estado, mas nenhum como Tobias
Barreto (considerado o primeiro pensador político brasileiro, além de abolicionista e
republicano e um dos maiores interpretes do caráter nacional). Uma de suas criticas mais
debatida foi o enfretamento contra a divisão de poderes - para ele uma abstração - e a questão
da soberania popular - elemento imanente ao Estado.
30
Benjamin Constant identificara cinco poderes numa monarquia constitucional: 1º o poder real; 2º o poder
executivo; 3º o poder representativo da duração; 4º o poder representativo da opinião pública; 5º o poder
judiciário (2005, p. 18-30).
31
Art.10, da Constituição Política do Império do Brazil.
32
A divisão dos poderes de um Estado é uma abstração. É um trabalho subjetivo que a ciência faz, mas que
objetivamente, isto é, no mesmo organismo do Estado, não tem realidade. Os poderes políticos, para que
funcionem, precisam de unidade de ação, o que repugna a divisão; e num organismo onde há divisão, não pode
haver funções coordenadas. Repito: a tal divisão é toda subjetiva. Quem quer que se aplique ao estudo do Estado,
pode descobrir quantos poderes políticos distintos queira (1977, p. 138).
58
Barreto (1977, 140) afirmava que esta soberania “não é um direito, é um fato”, e
fundamentava seu posicionamento no artigo 11 da Constituição: “Assim é que no Estado
brasileiro o sujeito da soberania, ex-vi, é o Imperador com a Assembleia Geral, numa espécie
de poder coletivo [...]”. O autor adverte para o fato de que na Constituição Imperial com
respeito à divisão e a harmonia dos poderes, o Poder Moderador foi instituído para manter o
equilíbrio e a independência entre os demais poderes, mas, para o constituinte, era a garantia
das garantias da preservação do status quo.
Findos o período imperial e uma das últimas monarquias da América Latina, foi
proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, em 1889, e em 1891 foi promulgar a
primeira Constituição republicana no Brasil33, após a extinção definitivamente do quarto
poder (Moderador), consagrando a separação dos poderes em: Poder Legislativo (bicameral),
Poder Executivo e Poder Judiciário34. Este modelo foi recepcionado pelas demais
constituições brasileiras.
Com o rompimento com o velho regime imperial, seria natural (como ocorreu com
os demais Estados independentes) que se atribuíssem maiores poderes aos representantes do
povo (ao Poder Legislativo) do que a qualquer outro. O Poder mais fortalecido foi o
Judiciário, que passou a controlar os atos legislativos e da Administração Pública.
33
O sistema de separação de poderes na Constituição brasileira de 1891 cujo texto foi revisado por Ruy Barbosa
- grande leitor e profundo conhecedor dos escritos dos federalistas norte-americanos.
34
O art. 15, da Constituição republicana de 1891 estabelecia: “são órgãos da soberania nacional os Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, harmônicos e independentes entre si”.
35
Os principais argumentos com os quais se ataca na França a instituição do júri repousa na falta de zelo, na
ignorância, no descaso, na frivolidade dos franceses. Não é a instituição, é a nação que se acusa; mas quem não
perceber que uma instituição pode, nos seus primeiros tempos, parecer pouco conveniente a uma nação, em
virtude da falta de costume e tornar-se conveniente e salutar, se for intrinsecamente boa, porque a nação adquire,
59
Para o autor político, depois do “poder neutral na pessoa do rei”, o Poder Judiciário é
único capaz de preservar as instituições e assegurar a justiça. Ademais Constant alertava para
necessidade “toda corporação política, em nosso século, de se prender a prerrogativas
constitucionais e determinadas [...]” (2005, p. 228).
O cenário que marca a passagem do milênio, do século XIX para o século XX, e os
avanços tecnológicos que chegam ao acesso dos mais abastados, em especial nos anos de
1920 e 1930, culminando com o crash da Bolsa de Nova York, em 1929, e a revolução
constitucionalista em São Paulo, em 1932, provocou a eleição de uma Assembleia
Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição liberal de 1934. Os ideais desta
Constituição já haviam sido defendidos por Barbosa em sua campanha civilista, que passou a
fazer parte do programa do Partido Liberal, especialmente quanto à unidade da Magistratura,
que decorre da unidade do próprio Direito.
pela própria instituição, a capacidade que tinha – digo isso unicamente das instituições fixas e legais, e não dos
costumes e dos usos que as leis não podem alterar. Sempre me recusarei a crer que uma nação não se preocupe
com o primeiro dos seus interesses: a administração da justiça e a garantia a dar à inocência acusada (2005, p.
265)
60
Com o advento do Estado Novo e o golpe de Estado de Getúlio Vargas, foi outorgada
a Carta de 1937, nos moldes fascista e autoritário, resultado do momento totalitário. A
Constituição retoma o sistema tripartite, somente na aparência, pois retirou a independência
do Legislativo e do Judiciário, e delegou poderes ao Executivo para paralisar as atividades do
Poder Legislativo e de revisão das decisões do Poder Judiciário (originalmente a revisão das
decisões36 que tratassem de declarações de inconstitucionalidade eram de competência do
Legislativo, mas, estando em recesso, esta caberia ao Poder Executivo).
36
Art 96 - No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República,
seja necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o
Presidente da República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois terços de
votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal.
37
Art.170 - Durante o estado de emergência ou o estado de guerra, dos atos praticados em virtude deles não
poderão conhecer os Juízes e Tribunais.
38
ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada
por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma,
notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos
ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a
Nação sob a funesta iminência da guerra civil; ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela
infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical
e permanente; ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de
preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo; Sem o apoio das forças armadas e
cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que
ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições
civis e políticas; Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao
povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-
estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde hoje em todo o Pais:
61
39
Art. 4º. Dentro de noventa dias contados desta data serão fixadas em lei, na forma do art. 180 da Constituição,
as datas das eleições para o segundo período presidencial e Governadores dos Estados, assim como das primeiras
eleições para o Parlamento e as Assembleias Legislativas. Considerar-se-ão eleitos e habilitados a exercer o
mandato, independentemente de outro reconhecimento, os cidadãos diplomados pelos órgãos incumbidos de
apurar a eleição. O Presidente eleito tomará posse, trinta dias depois de lhe ser comunicado o resultado da
eleição, perante o órgão incumbido de proclamá-lo. O Parlamento instalar-se-á sessenta dias após a sua eleição.
62
do Poder Executivo, que passaram a ser exercidos por um Conselho de Ministros, restando ao
Presidente da República algumas atribuições elencadas no art. 3º40, da referida Emenda
(BRASIL, 1961), portanto uma representativa mudança no sistema político e na separação dos
Poderes do Estado. Nos primeiros anos do regime militar, ficou mantida a Constituição de
1946, com alterações que ampliaram os poderes do Poder Executivo, retirados pela EC nº 4,
de 1961.
Este foi o tempo necessário para que fossem deflagradas as inconsistências do novo
regime e a Constituição democrática de 1946, quando foi editado o Ato Institucional nº 4, de
1966, que convocou o Congresso Nacional para se reunir extraordinariamente, de 12 de
dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, para discussão, votação e promulgação do projeto
de Constituição apresentado pelo Presidente da República - um novo texto nos moldes da
Carta de 1937 (BRASIL, 1966).
40
Art. 3º Compete ao Presidente da República: I - nomear o Presidente do Conselho de Ministros e, por
indicação deste, os demais Ministros de Estado, e exonerá-los quando a Câmara dos Deputados lhes retirar a
confiança; II - presidir as reuniões do Conselho de Ministros, quando julgar conveniente; III - sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis; IV - vetar, nos têrmos da Constituição, os projetos de lei, considerando-se
aprovados os que obtiverem o voto de três quintos dos deputados e senadores presentes, em sessão conjunta das
duas câmaras; V - representar a Nação perante os Estados estrangeiros; VI - celebrar tratados e convenções
internacionais, ad referendum do Congresso Nacional; VII - declarar a guerra depois de autorizado pelo
Congresso Nacional ou sem essa autorização, no caso de agressão estrangeira verificada no intervalo das sessões
legislativas; VIII - fazer a paz, com autorização e ad referendum do Congresso Nacional; IX - permitir, depois de
autorizado pelo Congresso Nacional, ou sem essa autorização no intervalo das sessões legislativas, que fôrças
estrangeiras transitem pelo território do país, ou por motivo de guerra, nêle permaneçam temporariamente; X -
exercer, através do Presidente do Conselho de Ministros, o comando das Fôrças Armadas; XI - autorizar
brasileiros a aceitarem pensão emprego ou comissão de governo estrangeiro; XII - apresentar mensagem ao
Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do país; XIII - conceder
indultos, comutar penas, com a audiência dos órgãos instituídos em lei; XIV - prover, na forma da lei e com as
ressalvas estatuídas pela Constituição, os cargos públicos federais; XV - outorgar condecorações ou outras
distinções honoríficas a estrangeiros, concedidas na forma da lei; XVI - nomear, com aprovação do Senado
Federal, e exonerar, por indicação do Presidente do Conselho, o Prefeito do Distrito Federal, bem como nomear
e exonerar os membros do Conselho de Economia (art. 205, § 1º).
41
Art. 58 - O Presidente da República, em casos de urgência ou de interesse público relevante, e desde que
não resulte aumento de despesa, poderá expedir decretos com força de lei sobre as seguintes matérias: I -
segurança nacional; II - finanças públicas. Parágrafo único - Publicado, o texto, que terá vigência imediata, o
Congresso Nacional o aprovará ou rejeitará, dentro de sessenta dias, não podendo emendá-lo; se, nesse prazo,
não houver deliberação o texto será tido como aprovado,
63
Ao abordar o tema da separação dos poderes, José Afonso da Silva (2002, p. 109-
111) define separadamente independência e harmonia, e ao final destaca: para que esta
harmonia ocorra entre os três poderes e se desenvolvam a bom termo “[...] há de haver
42
Expressão utilizada por Ulisses Guimarães no dia 5 de outubro de 1988, com a Constituição na mão esquerda
e a mão direito no peito proclamou o preâmbulo, em seguida referiu-se a ela como: nossa Constituição Cidadã.
65
consciente colaboração e controle recíproco (que, aliás, integra o mecanismo) para evitar
distorções e desmandos”. Esta colaboração e integração imanente ao sistema revela um grau
de interdependência.
Noutro sentido, a análise feita pela Suprema Corte no Brasil adotou o entendimento
de que a separação de poderes pressupõe o princípio da simetria (MENDES e BRANCO,
2012, p.872-875) Assim, em regra, as questões políticas não são passíveis de apreciação pelo
Judiciário por serem de competências privativas e exclusivas do Legislativo e Executivo,
66
O STF tem atuado como legislador negativo46, como foi no caso da Emenda
Constitucional nº 03/93 que dispunha sobre a inconstitucionalidade do Imposto Provisório
sobre Movimentação Financeira - IPMF. Originalmente, uma Emenda constitucional proposta
pelo Poder Executivo ao Legislativo, que aprovou um texto (apesar de aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça do Congresso Nacional, a quem compete o exame da
43
ADPF nº 1, DJ. 07/11/2003.
44
ADIN nº 1397-1, DJ. 27/06/1997
45
RE 592377 / RS. DJ 19/03/2015. Ementa: CONSTITUCIONAL. ART. 5º DA MP 2.170/01. CAPITALIZA
ÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO. REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA
EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA. SINDICABILIDADE PELO PODER JUDICIÁRIO. ESCRUTÍNIO
ESTRITO. AUSÊNCIA, NO CASO, DE ELEMENTOS SUFICIENTES PARA NEGÁ-LOS. RECURSO
PROVIDO. 1. A jurisprudência da Suprema Corte está consolidada no sentido de que, conquanto os
pressupostos para a edição de medidas provisórias se exponham ao controle judicial, o escrutínio a ser feito neste
particular tem domínio estrito, justificando-se a invalidação da iniciativa presidencial apenas quando atestada a
inexistência cabal de relevância e de urgência. 2. Não se pode negar que o tema tratado pelo art. 5º da MP
2.170/01 é relevante, porquanto o tratamento normativo dos juros é matéria extremamente sensível para a
estruturação do sistema bancário, e, consequentemente, para assegurar estabilidade à dinâmica da vida
econômica do país. 3. Por outro lado, a urgência para a edição do ato também não pode ser rechaçada, ainda
mais em se considerando que, para tal, seria indispensável fazer juízo sobre a realidade econômica existente à
época, ou seja, há quinze anos passados. 4. Recurso extraordinário provido.
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Reconhecimento, Poder Judiciário, Relevância, Urgência, Medida Provisória ADI 162 (TP), RE 217162
(2ªT), ADI 2150 (TP), AI 489108 Agr (2ªT), ADI 4627 (TP), RTJ 190/139, RTJ 165/173, RTJ 145/101. RTJ
165/174. Apreciação, Urgência, Relevância, Medida Provisória, Excepcionalidade em ADI 1397 MC (1ªT),
ADI 2213 MC (TP), ADC 11 MC(TP), ADI 4049 MC (TP), ADI 2527 MC (TP), ADI 162 MC (1ªT), ADI 1753
MC (1ªT). Controle de Constitucionalidade, Emenda Constitucional - ADI nº 939.
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Cabe aqui ressaltar que, há dois séculos, Ruy Barbosa47, enquanto ministro da
Fazenda (1889/1891), já alertava para a judicialização de questões políticas, distinguindo duas
categorias: uma altamente política e outra puramente política, ambas fora do domínio judicial,
entretanto uma vez formalmente revestida de um pleito, esta passa a competência do Tribunal,
desde que o ato praticado pelos poderes do Estado fira a Constituição, ou direitos nela
consagrados. Assim, na ordem vigente, a competência constitucional de cada função, quanto
à forma está dividida em: competências exclusivas, competências concorrentes e
competências complementares ou, como indicado por Canotilho (1991, p.693) “competências
exclusivas, competências concorrentes e competências-quatro”. Ou ainda como é expresso
por Jose Afonso da Silva (2002, p.478) em competência material - que pode ser exclusiva ou
comum, cumulativa ou paralela; e competência legislativa - que pode ser exclusiva, privativa,
concorrente e suplementar.
47
[..]de uma vez com o equívoco, definindo (que)... uma questão pode ser distintamente política, altamente
política, segundo alguns, até puramente política, fora dos domínios da justiça, e, contudo, em revestindo a forma
de um pleito, estar na competência dos tribunais, desde que o ato, executivo ou legislativo, contra o qual se
demande, fira a Constituição, lesando ou negando um direito nela consagrado. [...] Noutras palavras: a violação
de garantias constitucionais, perpetrada à sombra de funções políticas, não é imune à ação dos tribunais. A estes
compete sempre verificar se a atribuição política, invocada pelo excepcionante, abrange nos seus limites a
faculdade exercida. Em substância, exercendo atribuições políticas e tomando resoluções políticas, move-se o
poder legislativo num vasto domínio, que tem como limites um círculo de extenso diâmetro, que é a Constituição
Federal. Enquanto não transpõe essa periferia, o Congresso elabora medidas e normas que escapam à
competência do Poder Judiciário. Desde que ultrapasse a circunferência, os seus atos estão sujeitos ao
julgamento do Poder Judiciário, que, declarando-os inaplicáveis por ofensivos a direitos, lhes tira toda a eficácia
jurídica (OBRA COMPLETA, 1947).
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A história recente do Brasil, desde a independência até o momento atual, releva uma
experiência cíclica e de alternância na dogmática separação dos poderes. Ora prevalece a
concentração de poderes nas mãos do chefe do Poder Executivo, e consequente mitigação dos
demais poderes; ora - em oposição ao regime anterior - retiram-se poderes do chefe de Estado
e se restabelece o equilíbrio entre os poderes, mas com preponderância do Legislativo na
representação soberana da vontade geral. E ainda há momentos nesta história em que o
Executivo e o Legislativo, perdendo a credibilidade e a confiança do povo, produzem uma
hipertrofia do Poder Judiciário, único, institucionalmente obrigado a resolver os clamores e
demandas da sociedade.
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Parte-se do pressuposto de que o poder político é indivisível, e que o povo, que não
se divide, é seu titular, exceto em face do da ação do Poder Constituinte, conferindo poderes
diferentes a órgão encarregados de exercer diferentes funções. Outrossim, o Poder político
soberano consubstancia relações de força de classes sociais diferentes e grupos antagônicos;
“relação sem forma definida, mas que, de qualquer modo se condensa e, por vezes,
materializa-se, dando origem a instituições, praticas sociais, convenções, aparatos funcionais,
como, inclusive, o Estado e o Direito. Logo não pode ser dividido”(CLÈVE, 2011, p. 31).
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A ideia da divisão das funções estatais segundo o critério funcional foi esboçada pela primeira vez por
“Aristóteles (que não desconheceu o fato de que o Estado desempenha distintas espécies de funções), Platão e
Políbio propuseram formas de governo com a ambição de alcançar o equilíbrio político mediante a limitação do
poder. Também Heródoto e Xenofonte preocuparam-se com a questão. Muito mais tarde, Maquiavel e Althusius,
para citar apenas dois, incursionaram, outra vez, sobre tão importante tema”(CLÈVES, 2011, p.25).
71
49
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar
Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de
responsabilidade à ausência sem justificação adequada. (“Caput” e Parágrafo§2º com redação dada pela
Emenda Constitucional de Revisão nº 2, de 1994)
Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...]
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (“Caput” do artigo com redação dada
pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001).
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao
Congresso Nacional. § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso
Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III - planos
plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de
resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. § 3º Se a
resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional.
73
No caso brasileiro, o Presidente da República é eleito pelo voto direto, portanto tem-
se uma legitimação democrática, cuja autoridade e confiança advêm do povo pelo sufrágio,
mas que também necessita de apoio do Congresso para governar. O Presidente da República
conta para o exercício da função não somente com o apoio dos ministros de Estado, como
também do Vice-Presidente da República, do Conselho da República e do Conselho de Defesa
Nacional.
50
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; II
- exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III - iniciar o
processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV - sancionar, promulgar e fazer
publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V - vetar projetos de lei, total
ou parcialmente; VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Inciso com redação dada pela Emenda Constitucional nº
32, de 2001)a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa
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nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Alínea acrescida pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)b)
extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (Alínea acrescida pela Emenda Constitucional nº 32, de
2001)VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar
tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; IX - decretar o estado de
defesa e o estado de sítio; X - decretar e executar a intervenção federal; XI - remeter mensagem e plano de
governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e
solicitando as providências que julgar necessárias; XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se
necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os
cargos que lhes são privativos; (Inciso com redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)XIV -
nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do
Banco Central e outros servidores, quando determinado em lei; XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os
Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição,
e o Advogado-Geral da União; XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; XIX - declarar guerra,
no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no
intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização
nacional; XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI - conferir
condecorações e distinções honoríficas; XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII - enviar ao
Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento
previstas nesta Constituição; XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; XXV - prover e extinguir os cargos
públicos federais, na forma da lei; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. Parágrafo único. O Presidente da República
poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado,
ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
respectivas delegações.
51
O Veto é político quando o Executivo entende que o projeto de lei é contrario as políticas públicas
desenvolvidas pela sua administração ou contrária ao interesse público. O Veto é jurídico quando o Executivo
entender, preventivamente, que o projeto de lei submetido à sua sanção/veto é inconstitucionalidade.
75
Assim, sempre que deputados e senadores são licenciados de seus mandatos para assumir
ministérios e fazer parte do Governo, tem-se a transfiguração do Presidencialismo de coalizão
em um regime de cooptação – o Presidencialismo a qualquer custo.
52
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I - autorizar, por dois terços de seus membros, a
instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; II -
proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III - elaborar seu regimento interno; IV – dispor
sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e
funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; (Inciso com redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998); V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
53
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da
República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (Inciso com redação dada pela
Emenda Constitucional nº 23, de 1999)II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os
membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; (Inciso com redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a
escolha de: a) magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; b) Ministros do Tribunal de Contas da
União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d) presidente e diretores do Banco
Central; e) Procurador-Geral da República; f) titulares de outros cargos que a lei determinar; IV - aprovar
previamente, por voto secreto, após argüição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de
caráter permanente; V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites
globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII
- dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo poder público
federal; VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito
externo e interno; IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios; X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; XI - aprovar, por maioria absoluta e por
voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato; XII -
elaborar seu regimento interno; XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da
respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; (Inciso com
redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)XIV - eleger membros do Conselho da República, nos
termos do art. 89, VII. XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua
estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Distrito
Federal e dos Municípios. (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 42, de 2003)Parágrafo único. Nos
casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a
condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis.
79
Cabe ressaltar que o julgamento realizado pelo Senado não é jurídico, mas sim
político-administrativo, limitado à perda do cargo, sem prejuízo das sanções judiciais. Ainda
é função atípica do Legislativo, mas privativa do Senado, a aprovação de autoridades
indicadas pelo Presidente da República para o exercício de cargos e funções públicas; da
mesma forma atípica é a autorização do Senado para as operações externas de natureza
financeira, tanto da União como dos municípios.
Dentre as funções típicas do Senado Federal está fixar o limite global da divida de
todos os entes da Federação, mediante proposta do Presidente da República; dispor sobre o
limite para operações de credito interno e externo de todos os entes federados, bem como da
Administração Pública indireta; dispor sobre a concessão de garantia da União em operações
de crédito interno e externo; estabelecer limites e condições para dívidas mobiliárias dos
estados, Distrito Federal e municípios.
podem ser exercidas pelas duas casas legislativas. Tais funções estão previstas no art. 4954 da
Constituição. Em seções separadas, resolver sobre tratados, acordos e atos internacionais de
caráter oneroso para o Estado brasileiro; autorizar o Presidente da República a declarar
guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiros transitem pelo Território Nacional
ou nele permaneçam temporariamente; autorizar o Presidente e o Vice presidente a se
ausentarem do pais por mais de 15 dias consideradas funções típicas do Poder Legislativo,
pois impõem normas de conduta positiva. Também são havidas como funções típicas positivas
a aprovação pelo Congresso Nacional do estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o
estado de sítio ou suspendê-las e negativamente ao sustar os atos do Presidente da República
que exorbitem o poder regulamentar.
54
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; II -
autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei
complementar; III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a
ausência exceder a quinze dias; IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de
sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que
exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; VI - mudar temporariamente sua sede;
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37,
XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Inciso com redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998) VIII – fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado,
observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Inciso com redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República
e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo; X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por
qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; XI - zelar pela
preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes; XII - apreciar os
atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; XIII - escolher dois terços dos
membros do Tribunal de Contas da União; XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades
nucleares; XV - autorizar referendo e convocar plebiscito; XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o
aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; XVII - aprovar, previamente, a
alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.
81
55
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e
de 1º de agosto a 22 de dezembro. (“Caput” com redação dada pela Emenda constitucional nº 50, de 2006)
(...)
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão
em sessão conjunta para: I - inaugurar a sessão legislativa; II - elaborar o regimento comum e regular a criação
de serviços comuns às duas Casas; III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar.
56
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao
Congresso Nacional. § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso
Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III - planos
plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de
resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. § 3º Se a
resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada
qualquer emenda.
82
Assim, parlamentares das mais diversas facções políticas são contemplados com
ministérios, secretarias, presidências de autarquias, fundações, agências reguladoras e outros
cargos importantes dentro do governo e, com isso, cedem às pressões do Executivo passando
57
O art. 154 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados estatui sobre o requerimento de urgência. Ao que
Limongi e Figueiredo advertem para a urgência urgentíssima, que, se aprovada, implica a apreciação imediata da
matéria. Para ser apreciado, o requerimento precisa ser submetido pela maioria dos deputados ou por lideres que
representem este número e requer aprovação em plenário por maioria absoluta (1998, p.98).
83
a barganhar entre seus correligionários no Congresso Nacional apoio para aprovação dos
projetos de iniciativa do Executivo. Portanto o Estado brasileiro não veda a participação de
parlamentares em outro Poder, em especial no primeiro escalão do Poder Executivo, o que é
expressamente vedado no presidencialismo dos Estados Unidos58 “[...] and no Person holding
any Office under the United States, shall be a Member of either House during his
Continuance in Office” (USA, 1787).
Com efeito, o Poder Legislativo perde cada vez mais autonomia legislativa e poder
para a Chefia do Executivo, uma vez que os representantes perdem a capacidade de intervir
nas políticas públicas, pela falta de consenso interno, que dão lugar às concessões, uma
anomalia que agrava ainda mais a crise de representatividade. Isto é, a crescente falta de
identificação dos eleitores com seus congressistas eleitos. Assis (2012, p.35) considera “o
presidencialismo de coalizão59 à brasileira, em verdade, legitima uma relação de subserviência
do Parlamento aos interesses do próprio Executivo”. Vê-se a fragilidade da separação dos
poderes e da própria democracia sob a óptica do processo legislativo brasileiro.
58
A Constituição norte-americana dispõe na seção 6, do artigo I: Os Senadores e Representantes deverão receber
uma Compensação por seus Serviços, a ser acertada por Lei, e paga pelo Tesouro dos Estados Unidos. Eles
deverão em todos os Casos, exceto Traição, Ilicitude e Brecha da Paz, ser liberados de Prisão durante sua
Presença na Sessão das suas respectivas Câmaras, e ao ir e retornar das mesmas; e por qualquer Discurso ou
Debate em qualquer Câmara, eles não deverão ser questionados em qualquer outro Lugar. Nenhum Senador ou
Representante pode, durante o período para o qual foi eleito, ser nomeado para qualquer cargo público do
Governo dos Estados Unidos que tenha sido criado ou cuja remuneração for aumentada nesse período; e
nenhuma pessoa ocupando cargo no Governo dos Estados Unidos poderá ser membro de qualquer das Câmaras
enquanto permanecer no cargo. (Traduziu-se e grifou-se).
59
“O Brasil é o único país que, além de combinar a proporcionalidade, o multipartidarismo e o ‘presidencialismo
imperial’, organiza o Executivo com base em grandes coalizões. A esse traço peculiar da institucionalidade
concreta brasileira chamarei (...) ‘presidencialismo de coalizão’ (...). É um sistema caracterizado pela
instabilidade, de alto risco e cuja sustentação baseia-se, quase exclusivamente, no desempenho corrente do
governo e na sua disposição de respeitar estritamente os pontos ideológicos ou programáticos considerados
inegociáveis, os quais nem sempre são explícita e coerentemente fixados na fase de formação da coalizão. O
Brasil retorna ao conjunto das nações democráticas, sendo o único caso presidencialista de coalizão”
(Abranches, 1988; p. 22/27).
84
Isto enseja um aparente, mas necessário ativismo judiciário, uma vez que este não
pode se negar ao exame do que lhe é demandado. Em razão da ausência de políticas públicas
(atuação Executiva) que atendam as necessidades básicas e mais essenciais dos cidadãos, e
ante a impossibilidade de o Parlamento intervir nessas políticas públicas, só resta à sociedade
buscar o Poder Judiciário para a satisfação de suas necessidades e interesses mais imediatos.
60
[…] argumenta-se que o Poder Judiciário, o qual estaria vocacionado a concretizar a justiça do caso concreto
(microjustiça), muitas vezes não teria condições de, ao examinar determinada pretensão à prestação de um
direito social, analisar as consequências globais da destinação de recursos públicos em benefício da parte com
invariável prejuízo para o todo.
Por outro lado, defensores da atuação do Poder Judiciário na concretização dos direitos sociais, em especial do
direito à saúde, argumentam que tais direitos são indispensáveis para a realização da dignidade da pessoa
humana. Assim, ao menos o 'mínimo existencial' de cada um dos direitos, exigência lógica do princípio da
dignidade da pessoa humana, não poderia deixar de ser objeto de apreciação judicial. (2012, p. )
61
Quais são, no fundo, os argumentos para reduzir os direitos sociais a uma garantia constitucional platónica?
Em primeiro lugar, os custos dos direitos sociais. Os direitos de liberdade não custam, em geral, muito dinheiro,
podendo ser garantidos a todos os cidadãos sem se sobrecarregarem os cofres públicos. Os direitos sociais, pelo
contrário, pressupõem grandes disponibilidades financeiras por parte do Estado. Por isso, rapidamente se aderiu
à construção dogmática da reserva do possível (Vorbehalt des Möglichen) para traduzir a ideia de que os direitos
sociais só existem quando e enquanto existir dinheiro nos cofres públicos. Um direito social sob 'reserva dos
cofres cheios' equivale, na prática, a nenhuma vinculação jurídica. Para atenuar esta desoladora conclusão
adianta-se, por vezes, que a única vinculação razoável e possível do Estado em sede de direitos sociais se
reconduz à garantia do mínimo social. Segundo alguns autores, porém, esta garantia do mínimo social resulta já
do dever indeclinável dos poderes públicos de garantir a dignidade da pessoa humana e não de qualquer
densificação jurídico-constitucional de direitos sociais. Grifo do original.
62
Reserva do Possível - consiste em critério hermenêutico oriundo de decisão da Corte Constitucional alemã que
afirmou, quanto aos direitos prestacionais, em que se pode exigir a prestação de determinado serviço público,
como educação, saúde e outros, que o atendimento à prestação de tais direitos 'estão sujeitos à reserva do
possível no sentido daquilo que o indivíduo, de forma racional, pode esperar da sociedade' e das respectivas
86
No atual contexto político brasileiro, vê-se uma incontestável crise interna nos
poderes do Estado, que passaram a ser, permanentemente, investigados pela Polícia Federal a
pedido do Ministério Público por crimes de corrupção, desvio do Erário, enriquecimento
ilícito, formação de quadrilha, ao que o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal
denominou de “crime no atacado, não mais no varejo"63. Tais questões abalam não somente a
credibilidade no Governo, e nos políticos, mas também a economia nacional, a imagem do
Estado brasileiro para investidores estrangeiros - o chamado risco Brasil64, bem como a
governabilidade do País65.
condições históricas.
63
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo,
datada de 03/08/2015 comentou: o escândalo de corrupção investigado na Lava Jato "envolve o crime no
atacado, não mais no varejo". Na avaliação do ministro, a Lava Jato mostra que o mensalão não pode ser mais
considerado o maior escândalo de corrupção do país. Marco Aurélio participou do julgamento da ação penal 470,
conhecido como o processo do mensalão." Quando eu tomei posse, em 2006, no TSE, eu fiz um discurso que foi
considerado muito ácido. Mas, foi um discurso leve. Eu falei que era o maior escândalo da República
[mensalão]. Hoje, nós temos aí esse, que envolve o crime no atacado, não mais no varejo", disse. Para Marco
Aurélio, as prisões efetuadas durante todas as fases da operação mostram que as instituições que participam da
investigação, como a Polícia Federal, o Ministério Publico e o Poder Judiciário, estão funcionando no país. "A
quadra ao meu ver é alvissareira, porque não se esconde mais essas mazelas. Elas afloram a partir, inclusive, do
que foi veiculado pela imprensa, há descoberta de fatos e, ante esses fatos, se têm os inquéritos e as ações penais.
Vamos buscar novos rumos, melhores dias para o Brasil", declarou o ministro. (transcrição literal da entrevista
realizada pelo Jornalista André Richter, do Jornal Folha de São Paulo, de 03/08/2015).
64
Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+) - expressa utilizada para medir o grau de perigo que um país
representa para o investidor estrangeiro. Tal “risco” é calculado por agências de classificação de risco e bancos
de investimentos internacionais.
65
Apesar de todos os desmandos no Estado, há muito perdulário e repleto de desigualdades, possui instituições
solidas que não sofreram com os sucessivos escândalos envolvendo políticos brasileiros e alguns poucos
empresários que se utilizam de meios ilícitos (corruptores) que levam o Ministro Teori Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal, a autorizar o indiciamento de quarenta e sete políticos com foro privilegiado, além dos quase
cem indiciados sem o privilegio, computadas as dezessete fases da operação lava jato.
87
66
Escândalo da Mandioca (1979 e 1981); Escândalo da Proconsult (1982); Caso Chiarelli (1988); Caso Jorgina
de Freitas; Caso Edmundo Pinto (1992); Caso Nilo Coelho; Caso Eliseu Resende; Caso Queiroz Galvão; Caso
Ney Maranhão; CPI do Detran (em Santa Catarina); Dossiê da Pasta Rosa (1995); Escândalo dos Anões do
Orçamento; Caso Rubens Ricupero (também conhecido como "Escândalo da Parabólica"); Escândalo do
Sivam; Escândalo do Banestado; Escândalo da Encol; Escândalo da Mesbla; Dossiê Cayman (ou Escândalo do
Dossiê Cayman ou Escândalo do Dossiê Caribe); CPI do Banestado; Banco Nacional de Minas Gerais; Banco
Noroeste; Banco Econômico; Bancos Marka e Fonte Cindam; Escândalo da SUDAM e da SUDENE; Caso
Luís Estêvão; Caso Toninho do PT; Caso Celso Daniel; Operação Anaconda; Escândalo do Propinoduto;
Escândalo dos Bingos (ou Caso Waldomiro Diniz); Caso Kroll; Escândalo dos Correios (Também conhecido
como Caso Maurício Marinho); Escândalo do IRB; Escândalo do Mensalão; Mensalão mineiro; Escândalo do
Banco Santos; Escândalo dos Fundos de Pensão; Escândalo do Mensalinho; Caso Escândalo da Quebra do Sigilo
Bancário do Caseiro Francenildo); Escândalo das Sanguessugas (Inicialmente conhecida como Operação
Sanguessuga e Escândalo das Ambulâncias); Operação Confraria; Operação Dominó; Operação Saúva;
Escândalo do Dossiê; Escândalo da Renascer em Cristo; Operação Hurricane (também conhecida Operação
Furacão); Operação Navalha; Operação Moeda Verde; Caso Renan Calheiros ou Renangate; Caso Joaquim
Roriz (ou Operação Aquarela); Escândalo dos cartões corporativos; Caso Bancoop; Esquema de desvio de
verbas no BNDES; Máfia das CNH's; Caso Álvaro Lins, no Rio de Janeiro; Operação Satiagraha ou Caso
Daniel Dantas; Escândalo das passagens aéreas; Escândalo dos atos secretos; Caso Gamecorp; Escândalo dos
Correios; CPI das ONGs; Operação Faktor; Caso Erenice Guerra; Operação Tsunami; Esquema do Plano Safra
Legal; Operação Esopo ou Escândalo do Ministério do Trabalho; Caso Siemens (e Caso Alstom); Operação
Maet (Judiciário corrompido no TJ-TO); Caso Ana Cristina Aquino (Escândalo do PDT); Operação Lava Jato;
Operação Zelotes (CARF) (VEJA, 2015).
88
67
Os fins do Estado vão desde as necessidades públicas básicas inseridas na ordem jurídico-constitucional,
mediante a prestação de serviços públicos, a intervenção no domínio econômico, o exercício regulador do poder
de polícia e o fomento às atividades de interesse público/social (BALEEIRO, 2010, p. 3-8).
89
68
O Direito Financeiro, em nossa percepção, pode ser definido como o ramo didaticamente autônomo do
Direito, formado pelo conjunto harmônico das proposições jurídico-normativas que disciplinam as relações
jurídicas decorrentes do desempenho da atividade financeira do Estado, exceto o que se refira à obtenção de
receitas que correspondam ao conceito de tributos. Tal definição destaca que a autonomia do Direito Financeiro,
como de qualquer outro ramo do Direito, é exclusivamente didática, pois, embora destacado para efeito de
estudo, relaciona-se com os demais ramos jurídicos (RAMOS FILHO, 2012, p. 66) (Grifo original).
90
Cabe aqui ressaltar o fato de que da função alocativa das rubricas, do orçamento
público, depreendem-se três tipos de planejamento: primeiro, é o modelo socialista que
estabelece um plano de reforma objetivando o interesse coletivo e o máximo bem-estar em
detrimento dos interesses individuais; segundo, é o modelo intervencionista cepalino69
adotado pelo Consenso de Washington dos anos de 1970 e 1980 para a promoção do
desenvolvimento socioeconômico dos países periféricos; terceiro, é o modelo indicativo
capitalista, que visa à eficácia econômica com a redução das incertezas em lugar do
intervencionismo econômico. O Brasil adotou um sistema misto de modelagem orçamentária
com a integração indicativo-cepalina70, que buscou conciliar a eficácia do modelo indicativo e
o intervencionismo no desenvolvimento socioeconômico (BRESSER-PEREIRA, 2009, 261-
280).
Ainda no âmbito das considerações gerais sobre o orçamento público, este pode ser
compreendido sob três perspectivas: a dimensão jurídica que consiste no caráter e força de lei,
decorrente do processo legislativo para sua realização Outrossim, tal perspectiva ganhou
maior amplitude após o julgamento no STF da ADI nº 4.048, em 17/04/2008, que admite o
controle de constitucionalidade em matéria de lei orçamentária; a dimensão política – por seus
antecedentes históricos o orçamento era considerado, apenas, como um mecanismo de
controle político do Poder Executivo pelo Parlamento.
69
Cepalino - modelo estruturante de intervencionismo para o desenvolvimento dos países periféricos da América
latina e Caribe, cuja origem é a sigla CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, criado em
1948 vinculado à ONU Organização das Nações Unidas (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 291)
70
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei,
as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo
para o setor privado. § 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento, da
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
91
O Ente estatal torna-se responsável pela ordenação de suas políticas públicas, bem como
do processo econômico, capaz de delimitar tais políticas - muitas das vezes promessas de
palanques que se tornam realidade - e que necessitam de certos direcionamentos, e o
orçamento é este instrumento de direcionamento da política (LDO) delimitação e dotação
(LOA) e de planejamento (PPA).
Outra referência, no entanto, reporta aos limites para a arrecadação tributária e para
os respectivos gastos públicos Estes remontam à Magna Carta inglesa de João sem Terra, de
1215, a qual trazia em seu art. 12 a máxima: “nenhum tributo ou auxilio será instituído no
Reino, senão pelo seu consenso comum, [...]”. O artigo atribuiu competência ao Parlamento
para a realização de um controle representativo, que desencadeou reações por parte do
monarca inglês estimulado pelo absolutismo.
71
As colônias do norte ou Nova Inglaterra - Província de New Hampishire, Província da Baía de Massachusetts,
Colônia de Rhode Island, Colônia de Connecticut.
72
As colônias centrais - Província de Nova Iorque, Província de Nova Jérsei, Província de Pensilvânia, Colônias
de Delaware.
73
As colônias do sul - Província de Maryland, Colônia de Domínio da Virgínia, Província da Carolina do Norte,
Província da Carolina do Sul, Província da Geórgia
95
Dois anos mais tarde, o Presidente encaminhou para o Congresso um relatório (a que
ele denominou de um plano e um programa administrativo de trabalho claramente expresso)
que se aproximava a um orçamento. O maior avanço, contudo, ocorreu após a publicação da
Budget and Accounting Act (Lei do Orçamento e Contabilidade), de 1921, que implantou a
Contabilidade Pública e o Orçamento Anual nos Estados Unidos da America, fonte de
inspiração para os demais países da América Latina.
74
Os movimentos emancipacionistas - Inconfidência Mineira em 1789, Conjuração Carioca em 1794,
Conjuração Baiana em 1798, Conspiração dos Suaçunas em 1801 e Revolução Pernambucana em 1817.
75
Os movimentos nativistas - Aclamação de Amador Bueno em 1641, Revolta da Cachaça de 1660-1661,
Conjuração de "Nosso Pai" em 1666, Revolta de Beckman em 1684, Guerra dos Emboabas de 1708-1709,
Revolta do Sal de 1710, Guerra dos Mascates de 1710-1711, Motins do Maneta em 1711 e Revolta de Filipe dos
Santos em 1720.
76
Durante o ciclo do ouro no Brasil, a Coroa portuguesa cobrava o Quinto, que era um tributo, com a retenção
de 20% do ouro levado às Casas de Fundição, que pertenciam Coroa, e a Derrama, foi um novo tributo instituído
pelo Rei de Portugal para atingir as metas estabelecidas para o Brasil.
96
77
Art. 172. O Ministro de Estado da Fazenda, havendo recebido dos outros Ministros os orçamentos relativos ás
despezas das suas Repartições, apresentará na Camara dos Deputados annualmente, logo que esta estiver
reunida, um Balanço geral da receita e despeza do Thesouro Nacional do anno antecedente, e igualmente o
orçamento geral de todas as despezas publicas do anno futuro, e da importancia de todas as contribuições, e
rendas publicas. Grifo nosso.
78
Art. 37. Tambem principiarão na Câmara dos Deputados. I. O Exame da administração passada, e reforma dos
abusos nella introduzidos. A discussão das propostas, feitas polo Poder Executivo. [...]
79
Art. 36. É privativa da Câmara dos Deputados a Iniciativa. I. Sobre Impostos. [...]
97
obter dos membros da administração imperial uma prestação de contas de atos e recursos do
Império (CARVALHO, 1999, p. 204-247).
Após extensas reflexões sobre o melhor modelo de Tribunal de Contas para o Estado
brasileiro, Barbosa (1949, p. 387) encerra sua Exposição de Motivos com um exemplo de
moralidade administrativa e de nacionalismo80. Todos estes dados colhidos por Barbosa são
elementos imprescindíveis e de inestimável valor para a consecução de um tipo ideal de
Tribunal de Contas para o Brasil. E conclui: “Faço votos, para que os executores deste
pensamento se mostrem dignos desta missão salvadora”.
80
Entre nós há, na atual organização do Thesouro, elementos, que se poderão e deverão destacar para o serviço
da nova instituição, reduzindo assim o desembolso, a que ela nos obrigará. Qualquer que o dispêndio seja,
porém, há de representar sempre uma economia enorme, incomensurável para o contribuinte; contanto que a
escolha do pessoal inaugurador não sofra a invasão do nepotismo; que ela fique absolutamente entregue à
responsabilidade de um ministro consciencioso, inflexível, imbuído no sentimento da importância desta criação;
que aos seus primeiros passos presida a direção de chefes escolhidos com a maior severidade, capazes de impor-
se ao país pelo valor nacional dos seus nomes e de fundar a primeira tradição do Tribunal sobre arestos de
inexpugnável solidez. (BARBOSA, 1949, p. 386).
81
Integrantes da comissão - Joaquim Saldanha Marinho, signatário do Manifesto Republicano de 1870, que foi
escolhido presidente da Comissão; os republicanos Américo Brasiliense, Francisco Rangel Pestana e os juristas
Antônio Luís dos Santos Werneck e José Antônio Pedreira de Magalhães Castro.
100
que somente perderiam os seus lugares por sentença (BRASIL, 1891). O Tribunal de Contas,
porém, foi regulamentado no ano seguinte pelo Decreto nº 1.166, de 17 de dezembro de 1892.
82
Art.34 - Compete privativamente ao Congresso Nacional: §1º - orçar, annualmente, a Receita e fixar,
annualmente, a Despeza e tomar as contas de ambas, relativas a cada exercício financeiro, prorogado o
orçamento anterior, quando até 15 de janeiro não estiver o novo em vigor;(Incluído pela Emenda Constitucional
de 3 de setembro de 1926) [...]..(Redação pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926).
101
83
Pelo que a Carta brasileira de 1937 restou denominada “Constituição Polaca”.
102
84
Antecedente histórico relevante o Presidente da República, José Linhares, editou a Lei Constitucional nº 13, de
12 de novembro de 1945 delegando poderes constituintes aos membros da Câmara dos Deputados.
84
O orçamento, entretanto, evoluiu para aliar-se ao planejamento, surgindo o orçamento-programa como
especialização, devendo, na prática, operar como elo entre os sistemas de planejamento e de finanças. Com isto
torna-se possível a operacionalização dos planos, porque para a criação do que se concebe hoje por Ministério do
Planejamento.
85
O orçamento, entretanto, evoluiu para aliar-se ao planejamento, surgindo o orçamento-programa como
especialização devendo, na prática, operar como elo entre os sistemas de planejamento e de finanças. Com isto
torna-se possível a operacionalização dos planos, porque os monetariza, isto é, coloca-os em função dos recursos
financeiros disponíveis, permitindo que o planejador tenha os pés no chão, em face das disponibilidades dos
recursos financeiros. [...].
103
Nos anos 1980, após a crise mundial do petróleo, com o aumento do endividamento
público nacional, associado à crise fiscal, e o inicio da redemocratização cujo efeito foi a
busca pela redução e eficiência da máquina administrativa do Estado, surgem as pressões
políticas e populares para a abertura democrática, que resultou no movimento das “Diretas Já”
e na eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República bem assim a eleição do
86
Cabe ressaltar que o Decreto lei n°200/1967 resultou de estudos elaborados, porém não utilizados pelo
Governo de João Goulart, que havia encomendado os estudos. O planejamento torna-se princípio dominante. A
Secretaria de Planejamento (SEPLAN) adquire status de agência central, controlando os sistemas de
planejamento, contábil e de auditoria interna. O DL representou marco histórico na tentativa de superação da
rigidez burocrática, haja vista que efetivou uma descentralização funcional no intuito de maior dinamismo
operacional.
87
Para alguns constitucionalistas a EC n° 1/1969 revogou da Constituição de 1967.
88
Comparativamente à disciplina traçada pela Lei Magna vigente, nota-se que esta tornou mais rígidos os
critérios de escolha dos Ministros do Tribunal de Contas da União, além de haver alterado a forma de
composição da corte, atribuindo ao Congresso Nacional a indicação de parte de seus membros.
104
89
Ressalta Ferreira (2003, p.96): 3.10. O planejamento é, assim, um processo, a atividade de aplicação de um
sistema racional de escolhas entre um conjunto de alternativas reais de investimentos e de outras possibilidades
para o desenvolvimento, baseado na consideração dos custos e benefícios econômicos e sociais. 3.11.O plano é o
documento que retrata o planejamento estratégico do Governo. Deve conter os objetivos gerais a serem
atingidos; identificar as fontes dos recursos; e estabelecer as políticas para o uso desses recursos. Assim, se o
planejamento é o processo; a planificação é o resultado; e o plano, o documento que o formaliza. 3.11.1. O
orçamento é um plano, um instrumento de ação administrativa, caracterizando-se como plano de ação
governamental expresso em termos físicos e financeiros.
105
Ademais, a Constituição de 1988 prevê três regras básicas para o sistema orçamentário
brasileiro, valendo ressaltar serem todas de iniciativa privativa do Poder Executivo: a Lei do
Plano Plurianual (PPA), a Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei dos Orçamentos
Anuais (LOA), que cotejam e compatibilizam os programas de duração continuados, com os
planos e diretrizes das políticas públicas, com as previsões orçamentárias a cada ano - é mister
distinguir o orçamento da lei orçamentária, constituída de três orçamentos distintos: o
orçamento fiscal da União (§ 5º, art. 165), o orçamento de investimentos e o orçamento da
seguridade social. Cabe ressaltar sobre os quatro aspectos fundamentais do orçamento:
jurídicos, políticos, econômicos e técnico-burocráticos.
das despesas”(BALEEIRO, 2010, p. 530). Por tais razões, o orçamento surgiu da necessidade
de fiscalização das finanças e como solução para refrear e reprimir as “tendências perdulárias”
dos governantes em face dos interesses da sociedade em geral.
O controle político dos orçamentos remonta aos abusos do absolutismo dos séculos
XVII e XVIII, às hostilidades ao Terceiro Estado e, atualmente, na maioria dos Estados
democráticos, os parlamentos fazem os controles e o planejamento orçamentário
politicamente, segundo interesse da maioria destes Parlamentos, muito embora os governos
não se deixem resignar.
90
Para Baleeiro (2010, p. 522) este aspecto do orçamento envolve: (...) o estabelecimento das regras práticas
para a realização dos fins do orçamento, com clareza de objetivos, metodologicamente respaldado em lei,
demonstrando toda a racionalidade entre receitas e despesas, bem como os processos estatísticos para cálculo tão
aproximado quanto possível de uma e de outros, apresentação gráfica e contábil do documento orçamentário etc.\
91
Mendes (2012, p. 1491-1492) ressalta que: As finanças públicas, (...) além de sua função instrumental, são um
saber ético: forçam a levar em conta, de modo público, os sacrifícios que nós, como comunidade, decidimos
fazer a explicar do que pretendemos abrir mão em favor de objetivos mais importantes.
92
Antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988 antevia Grau (1978, p.46-47): (...) É certo que,
implicando o processo de planejamento a tomada de decisão política, deve ser objeto de controle democráticos e
a participação mais ativa da comunidade na sua elaboração - via Poder Legislativo - e execução não pode ser
negada como objetivo a ser perseguido.
107
controle das ações governamentais, tornando obrigatórios o PPA e a LDO que passaram a
nortear a elaboração das LOA’s.
Neste sentido, dispõe o art. 48, da LRF/2000, que assegura o “incentivo à participação
popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão
dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos”. Ademais, esta participação popular
na elaboração orçamentária possibilita maior transparência e visibilidade dos interesses
políticos em discussão, imprescindíveis à nova ordem democrática. O enunciado do art. 3º,
dos objetivos da República, somente poderá ser atingido pela vontade popular legitimada na
Constituição Federal, e participação ativa da sociedade nos rumos do País.
93
Em documento de 1959, a ONU conceituava Orçamento-programa como: um sistema em que se presta
particular atenção às coisas que um governo realiza mais do que às coisas que adquire. As coisas que um
governo adquire, tais como serviços pessoas, provisões, equipamentos, meios de transporte etc. não são,
naturalmente, senão meios que emprega para o cumprimento de suas funções. As coisas que um governo realiza
em cumprimento de suas funções podem ser estradas, escolas, terras distribuídas, casos tramitados e resolvidos,
permissões expedidas, estudos elaborados ou qualquer das inúmeras coisas que podem ser apontadas. O que não
fica claro nos sistemas orçamentários é esta relação entre coisas que o governo adquire e coisas que realiza
(GIACOMONI, 2012, p.162).
108
94
Arnaldo Vasconcelos (2006, p.140-145) diz-se que a norma é geral, porque seu preceito se dirige
indiscriminadamente a todos. Especificando melhor: a todos, segundo a igualdade de situações. [...] a caracteriza
da abstratividade aspira-se assegurar a certeza do Direito, único valor que o Positivismo jurídico soube
distinguir.
109
Outrossim, os partidos políticos buscam o poder para realizar e por em prática seus
programas de governo, entretanto, a realização do programa requer novas despesas ou
aumento de despesas. Nesta realidade, o Governo Federal tem desviado recursos de
investimentos para a realização de programas sociais como o “Fome Zero”, “Bolsa Família” e
o “Plano de Aceleração do Crescimento” (PAC). O remanejamento de recursos se incorpora
95
O art. 202 da Constituição de Estado do Rio Grande do Sul. Lei estadual 9.723. Manutenção e
desenvolvimento do ensino público. Aplicação mínima de 35% (trinta e cinco por cento) da receita resultante de
impostos. Destinação de 10% (dez por cento) desses recursos à manutenção e conservação das escolas públicas
estaduais. Vício formal. Matéria orçamentária. Iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo. Afronta ao
disposto nos arts. 165, III, e 167, IV, da CF. Preliminar de inviabilidade do controle de constitucionalidade
abstrato. Alegação de que os atos impugnados seriam dotados de efeito concreto, em razão da possibilidade de
determinação de seus destinatários. Preliminar rejeitada. Esta Corte fixou que ‘a determinabilidade dos
destinatários da norma não se confunde com a sua individualização, que, esta sim, poderia convertê-lo em ato de
efeitos concretos, embora plúrimos’ (ADI 2.137-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12.5.2000).
A lei estadual impugnada consubstancia lei-norma. Possui generalidade e abstração suficientes. Seus
destinatários são determináveis, e não determinados, sendo possível a análise desse texto normativo pela via da
ação direta. Conhecimento da ação direta. A lei não contém, necessariamente, uma norma; a norma não é
necessariamente emanada mediante uma lei; assim temos três combinações possíveis: a lei-norma, a lei não
norma e a norma não lei. Às normas que não são lei correspondem leis-medida (Massnahmegesetze), que
configuram ato administrativo apenas completável por agente da Administração, portando em si mesmas o
resultado específico ao qual se dirigem. São leis apenas em sentido formal, não o sendo, contudo, em sentido
material. Os textos normativos de que se cuida não poderiam dispor sobre matéria orçamentária. Vício formal
configurado – art. 165, III, da CF – iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo das leis que disponham
sobre matéria orçamentária. Precedentes. A determinação de aplicação de parte dos recursos destinados à
educação na ‘manutenção e conservação das escolas públicas estaduais’ vinculou a receita de impostos a uma
despesa específica – afronta ao disposto no art. 167, IV, da CF/1988 (ADI 820, Rel. Min. Eros Grau, julgamento
em 15-3-2007, Plenário, DJE de 29-2-2008, grifo original).
96
No julgamento da Medida Cautelar na ADI 4.048-DF, julgada em 17/04/2008, ficou assentado que: “O STF
deve exercer sua função precípua de fiscalização da constitucionalidade as leis e dos atos normativos quando
houver um tema ou uma controvérsia constitucional suscitada em abstrato, independentemente do caráter geral
ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto. Possibilidade de submissão das normas orçamentárias ao
controle abstrato de constitucionalidade“.
110
Vale destacar o fato de que, nesta fase de transição, o orçamento público recebeu
97
influências das técnicas de gerenciamento (contabilidade gerencial), ao descrever com
clareza elementos: um núcleo estratégico normativo e de políticas públicas, um específico da
atividade estatal, indispensável à manutenção do Estado; um atípico que privilegia a prestação
de serviços; e outro atípico de produção e bens e serviços para o mercado. Com suporte nesta
visão de orçamento gerencial, foi possível evidenciar a necessidade de minimizar custos e
maximizar eficiência na prestação de serviços públicos.
97
Na Administração Pública são os seguintes os sistemas de contabilidade, cada um com a sua própria finalidade
Contabilidade orçamentária - que tem por finalidade acompanhar e demonstrar a execução do orçamento da
receita e da despesa, inclusive as alterações que porventura o orçamento sofrer por injunções da própria
execução; - Contabilidade financeira - que tem por finalidade acompanhar e demonstrar o fluxo de caixa, no
período financeiro, resultante da execução do orçamento, bem como dos recebimentos e pagamentos extra-
orçamentários; - Contabilidade patrimonial - que tem por finalidade acompanhar e demonstrar a situação
patrimonial da entidade pública, demonstrar os resultados financeiros e patrimoniais obtidos durante o período
financeiro; e Contabilidade de custos - que tem por finalidade apurar, analisar e demonstrar os custos dos
serviços ou produtos oferecidos pela instituição pública. (LUNELLI, 2015).
111
hierárquicos entre regras e princípio, ambos dotados de eficácia jurídica98. A diferença está no
papel que desempenha no sistema.
Neste diapasão, vale ressaltar que o §7º, do art. 5º, da Lei de Responsabilidade
Fiscal, vetada pela Presidência da República sob a justificativa de que o §2º, do art. 35, do
Ato das Disposições Transitórias determina que, até a entrada em vigor da lei complementar a
que se refere o art. 165 99, § 9º, I e II, da Constituição Federal, “o projeto de lei orçamentária
98
Eficácia jurídica das regras e princípio consiste na pretensão, que ambas possuem de atuar na realizada, ligada
a ideia de utilidade e de justiça. (VASCONCELOS, 2006, p. 241).
99
Art. 165 - Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
(...)
112
da União seja encaminhada até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro”.
Vê-se que o texto da LRF/2001 não difere do disposto no artigo da ADCT, que previa o prazo
“até o dia 31 de agosto”.
Por fim, o princípio da não afetação conforme inciso IV, do art. 167 da CF, com
redação dada pela Emenda Constitucional nº 42/2003, que dispõe ser vedada a vinculação de
receitas de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvada a repartição do produto da
arrecadação dos impostos a que se referem os artigos 158 e 159, a destinação de recursos para
as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para
realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente,
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por
antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo.
§ 9º Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a
organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer
normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a
instituição e funcionamento de fundos.
113
Cabe, ainda, questionar se a lei orçamentária poderia ser objeto de iniciativa popular,
independentemente da participação democrática do Parlamento na sua aprovação. O Texto
Constitucional de 1988 prevê tratar-se de competência privativa e exclusiva do chefe do Poder
101
Executivo a iniciativa de em matéria orçamentária do poder; ou seja, o projeto de lei do
Plano Plurianual, da lei de Diretrizes Orçamentárias e de lei Orçamentária Anual é de
iniciativa privativa do Presidente da República, enquanto são da competência dos demais
100
Enquanto as processadas são as despesas inscritas em restos a pagar, liquidadas e não pagas, as não
processados são as despesas empenhados e não liquidados. Assim a apuração é feita identificando os restos a
pagar das despesas liquidadas e não pagas (processadas) e os restos a pagar das despesas empenhadas e não
liquidadas (não processadas) Indicadores: total dos restos a pagar processados e total dos restos a pagar não
processados, que necessitam ser discriminados por cada Poder. BRASIL. Sítio do Tesouro Nacional.
101
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as
propostas de orçamento previstas nesta Constituição;
114
poderes do Estado seus respectivos orçamentos. Destarte, a doutrina dominante entende não
ser possível o plebiscito, referendo ou iniciativa popular; do contrário, como ficará a
administração dos recursos caso a lei seja rejeitada?
Para o Autor italiano, as elites no poder não eliminam a diferença entre regimes
democráticos e regimes autoritários, destarte “a diferença entre uma aristocracia e uma
democracia não está na diferença entre os poucos (indivíduos) e os muitos (indivíduos),” mas
sim, todos os cidadãos, visto que a democracia moderna repousa em uma concepção
individualista da sociedade”(2000, p.377-380)102. Não se pode, entretanto, deixar de destacar
o papel da hegemonia no processo de transformação democrática de Lênin103.
Sabe-se, contudo, que a democracia não é capaz de derrotar por completo o poder
das oligarquias dominantes, sendo ainda menos habilitada a preencher todos os espaços
deixados pelo exercício do poder que delibera e toma as decisões vinculatórias para todo um
grupo de cidadãos. Trata-se de saber quais as pessoas autorizadas a constituir suas vontades
em legislação universal na sociedade contemporânea, na medida em que o princípio
isonômico é meramente formal, que torna imperativo conhecer e compreender, não apenas;
102
Segundo Bobbio no Estado democrático: [...] indivíduo e Estado não estão mais armados um contra o outro,
mas se identificam na mesma vontade geral, é a vontade de todos que comanda cada um. Na luta entre
liberalismo e socialismo, deflagrada no século XIX e presente ainda hoje, a democracia sempre representou a
salvação do Estado liberal que não quer se transformar no seu oposto e do Estado socialista que não quer cair na
anarquia. Algumas vezes foi invocada como corretivo de um e de outro. Como tal, também representou o ponto
de acordo das tendências opostas. E hoje representa sem duvida o ponto de chegada da nossa situação (2000, p.
123).
103
Lênin: Segundo o ponto de vista proletário, a hegemonia pertence a quem se bate com maior energia, a quem
se aproveita de toda ocasião para golpear o inimigo; pertence aquele a cujas palavras correspondem os fatos e
que portanto, é o líder ideológico da democracia, criticando-lhe qualquer inconsistência (2010, p, 68).
104
Para Gramsci, existem passagens em que a sociedade civil é considerada um momento do Estado como
depreende: [...] podem ser fixados, por enquanto, dois grandes planos superestruturais: o que pode ser chamado
de sociedade civil, que seja, o conjunto de organismos habitualmente dito privados e a da sociedade política ou
Estado. E eles correspondem, à função de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e a do
domínio direto ou de comando, que se expressa no Estado e no governo jurídico (BOBBIO, 1999, p. 55).
116
“quantos e quem são os votantes”, ainda que todos os membros da sociedade sejam os
votantes (pelo sufrágio universal), mas, ainda, é necessário que se saiba quem são os
autorizados a transformar as suas vontades em legislação universal e tomar as decisões; e em
que constitui a “sociedade política”(BOBBIO, 2000, 40-63).
Esta técnica, o Zero base Budgeting, foi introduzida nos Estados Unidos da América
durante o Governo de Jimmy Carter, e estabelecia que as despesas deveriam ser avaliadas, a
cada ano, como se nunca tivessem existido, isto é, deveriam ser zeradas todas as despesas no
inicio de cada exercício, mesmo quando estas fossem continuadas. É exatamente o oposto ao
que se entende por orçamento baseline, o qual permite uma abordagem incremental,
justificando as variações de um ano para o outro. Este tipo de orçamento traz uma série de
dificuldades, como, por exemplo, requer que o orçamento seja, permanentemente, avaliado e
revisado
No Brasil, este modelo é inviável em razão das escolhas feitas pelos constituintes de
1987/1988 ao estabelecerem no art. 84, XXIII 105 o plano plurianual de governo e as diretrizes
a serem seguidas na elaboração dos orçamentos anuais, ou seja, a lei orçamentária que
contempla o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual
necessitam ser vistas e analisadas em conjunto e não cada um separadamente (OLIVEIRA,
2013, p. 465).
105
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as
propostas de orçamento previstas nesta Constituição.
117
O orçamento funcional foi criado pelo Pentágono para frear as despesas em certos
setores do Governo, portanto, atua como um controle a mais dos gastos governamentais.
Assim a atividade administrativa do Estado é tratada, individualmente, programa a programa,
buscando otimizar as despesas públicas. Evidentemente, este tipo de orçamento consiste em
mera técnica de aplicação do orçamento, em que o planejamento de longo prazo deve ser
realizado segundo critérios de análise do custo/benefício dos gastos e desembolsos. Este
modelo se mostrou não factível no longo prazo e por este motivo foi abandonado, entretanto
continua sendo amplamente estudado.
Como visto, o Direito orçamentário insurge com abordagens que suscitam, sempre
que possível, uma visão multidisciplinar da política, sociedade, economia, finanças públicas,
dimensões jurídicas e instituições que compõem o Estado. O orçamento é uma das instituições
que permite evidenciar o estádio em que se encontram as outras instituições, como: o
federalismo, a democracia, o equilíbrio entre os Poderes (funções) do Estado, a realização dos
fundamentos e objetivos constitucionais da República.
O Direito orçamentário insurge com abordagens que suscitam, sempre que possível,
um olhar multidisciplinar da política, da sociedade, da economia, das finanças públicas, das
dimensões jurídicas, e das instituições que compõem o Estado. É capaz de identificar a
realização dos direitos e garantias fundamentais, a sujeição e o cumprimento dos direitos
individuais e sociais, assim como aspectos bem específicos relacionados ao endividamento
público, a planificação das políticas públicas do governo, dentre tantas outras, mas somente
mediante o controle da sociedade.
Com efeito, o orçamento é antes de tudo uma peça política, utilizada pelos
administradores para decidir o destino dos recursos públicos. Assim sendo, há muito não se
pensa o orçamento como peça contábil ou de mera técnica106, mas como instrumento de
previsão de políticas públicas e de escolhas feitas pelo governante. São, no fundo, escolhas
políticas. Baleeiro (2010, p. 531) considera “essencialmente um ato político, [...] o orçamento
como um instrumento pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao Poder Executivo a
realização dos interesses programáticos [...]”.
106
Para Assis (2012, p. 200), a programação orçamentária ganha mais forca como instrumento delineador do
orçamento público, capaz de permitir que o orçamento não seja uma peça meramente técnica ou contábil, mas
sim um instrumento efetivo de escolhas de políticas públicas que servirão, inclusive, para estruturar o modelo de
Estado que se pretende ter.
122
O autor, todavia, não admite a natureza, de lei em sentido formal, do orçamento, mas
sim como ato-regra ou ato-subjetivo (2012, p.556). Assim, ele admite o seu caráter jurídico e
político. No todo ou em parte Baleeiro se refere à Constituição de 1967 e não à de 1988, a
despeito das atualizações e notas de Machado Segundo. A questão expressa, no entanto, di
respeito ao caráter político do orçamento, em sentido lato, objetivando a realização dos fins a
que se presta a Administração pública. Igualmente, é imperativo estabelecer os objetivos e
propósitos a serem seguidos pelos governantes no uso dos recursos orçamentários.
Neste sentido, o ideal seria partir de claras escolhas políticas, coerentes e bem
fundamentadas, que possibilitassem a interação de esforços do Poder público, com os grupos
e agentes sociais, comprometidos com a formulação de um orçamento verdadeiramente
voltado aos interesses da sociedade; também, reconhecendo, no entanto, a necessidade de
assegurar os interesses da Administração pública (ASSIS, 2012, p.202).
Cabe frisar a data da publicação da lei que aprovou os valores de receitas e despesas
para o ano calendário de 2015, ocorrida no dia 22/04/2015, portanto, findo o primeiro
trimestre do ano fiscal, quando em princípio já se poderia ter conhecimento dos resultados
daquele trimestre. Tal inobservância de prazos acarreta transtornos não somente aos Poderes
(Executivo e Legislativo) envolvidos, mas também à sociedade em geral, pois enseja
instabilidade política e econômica.
Vale ressaltar que fornecedores deixam de receber seus créditos com a União,
projetos são paralisados, consequentemente, elevando os custos para a retomada das obras,
assim como servidores públicos deixam de receber seus salários. Em virtude do atraso na
elaboração e encaminhamento do PLOA ao Congresso Nacional, em janeiro de 2015, foi
necessário editar o Decreto nº 8.389/2015 para dispor sobre a execução orçamentária dos
órgãos, fundo e entidades do Poder Executivo até a publicação da Lei Orçamentária de 2015;
embora, em setembro de 2014, a Associação Nacional dos Agentes de Segurança do Poder
Judiciário da União – AGEPOLJUS, já houvesse demandado contra a Presidente da República
e o Congresso Nacional na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, “em
decorrência de omissão inconstitucional verificada no processo legislativo do PL 13/2014 –
CN, que tratava do Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2015”107.
107
Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. Lei Orçamentária Anual de 2015. Supressão, pelo Poder
Executivo, das propostas do Poder Judiciário e do Ministério Público da União. providências processuais. adoção
do rito do art. 12 da lei n. 9.868/1999. providências processuais. Rel.Min. Cármen Lúci. Brasília, 16 de
123
Feitas essas considerações, são indicados alguns relatórios dos Projetos de Lei
Orçamentária Anual PLOA (2014 e 2015), que evidenciam o grau de complexidade e
aprimoramento das informações disponíveis para, apesar de nunca ser fácil, facilitar a
compreensão da metodologia adotada na elaboração dos orçamentos no País. O acúmulo
continuado de informações possibilita o controle permanente e imediato dos dados estimados
(metas), sua realização (resultados obtidos) que possibilita os ajustes das políticas e finanças
do Estado.
Cabe destacar o fato de que tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo dispõem de
órgãos permanentes de acompanhamento dos orçamentos públicos da União. Somente em
caráter elucidativo, o Tribunal de Contas da União108, de acordo com o plano de controle
externo, realizou 136 sessões em 2014109, entre sessões ordinárias e extraordinárias110, de
julgamento, de tomadas de contas, em grau de reclamações e recursos, dentre outras.
setembro de 2014.
108
Regimento Interno do Tribunal de Contas da União – Resolução - TCU nº 246, de 30/11/2011.
109
Sessão realizada no dia 05/06/2014 - Tribunal de Contas da União (TCU) analisou a previsão de receitas do
Projeto da Lei Orçamentária da União para 2014. O objetivo do trabalho – que subsidia à Comissão Mista de
Orçamento do Congresso Nacional (CMO) – foi verificar a adesão dos demonstrativos constitucionais e legais,
em especial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A proposta de lei para o exercício de 2014 contempla
receitas de R$ 2.467,59 bilhões, sendo R$ 2.361,98 bilhões destinados aos orçamentos fiscal e da seguridade
social e R$ 105,61 bilhões para o orçamento de investimento das estatais. A auditoria do tribunal verificou
que a previsão total das receitas de capital para 2014 chegou a aproximadamente R$ 974 bilhões. Este valor é
5,76% superior à previsão de 2013. Em relação ao montante das operações de créditos internas e a amortização
de empréstimos em contrato, o levantamento identificou aumento de 15,2% e 33,2%, respectivamente. O
relatório apontou, ainda, reduções de 37,8% nas operações de créditos externas de 57,3% no resultado do
Banco Central (BC) e 61,9% em outras receitas de capital. No que diz respeito aos benefícios financeiros,
creditícios e tributários, incluindo os previdenciários, constatou-se que o projeto para 2014 aferiu um valor de R$
323,17 bilhões, o que representa R$ 75,05 bilhões a mais do que o previsto no projeto do ano anterior. Nas
receitas de capital que estão sendo estimadas a menor, verificou-se que a variação negativa prevista nas demais
receitas de capital é impactada, especialmente, pela reestimativa ocorrida na avaliação bimestral do resultado do
BC, que passou para R$ 96,7 bilhões, mais de 250% acima do inicialmente previsto em 2013. Em suas
conclusões acerca da metodologia empregada nas estimativas das receitas primárias, especialmente, em relação
ao montante das demais receitas primárias, a unidade técnica constatou, a partir do exame do inciso XXV das
124
Informações Complementares que as disposições do art. 12 da LRF não foram atendidas na sua completude. Isso
quando analisada a projeção da receita para os dois anos seguintes ao da previsão.
110
Secções disponíveis no Pontal do TCU e com previsão legal nos Arts. 92 à 133, do RI do TCU.
111
Risco inflacionário: fossem as despesas não financeiras e receitas reais do governo constantes, defender-se-ia
a plena indexação da dívida, de forma a isolar o “ruído” gerado pelo nível de preços às contas do governo. Tal
componente sugere, então, títulos com rendimentos reais não correlacionados com a inflação (a elasticidade da
dívida indexada é zero com respeito à inflação). · Risco de câmbio real: uma desvalorização cambial acima da
inflação aumenta o serviço real da dívida pública. Para amortecer os "ruídos" gerados pela variação do câmbio
real, seria preferível reduzir a dívida indexada ao câmbio à medida em que sua volatilidade aumenta (diminuindo
a elasticidade da dívida com respeito ao câmbio). Um corolário deste raciocínio é a redução da parcela da dívida
em dólar sob um regime de câmbio flutuante, imunizando o orçamento governamental de maiores variabilidades
cambiais. · Correlação entre gastos e inflação: se a correlação entre gastos reais do governo e inflação é
positiva, um maior nível de despesas do governo tenderia a ser acompanhado por uma maior inflação. Assim,
para amenizar a variabilidade total das despesas, seria recomendável que a autoridade fiscal aumentasse a
125
Vê-se que os valores de receitas e despesas estão distribuídos nos três orçamentos
que compõem a lei orçamentária: o Orçamento Fiscal, o da Seguridade Social e o de
Investimentos em Estatais. Mediante o refinamento da dívida, é retirada boa parte das
distorções para chegar às receitas e despesas líquidas, que correspondem ao valor mais
aproximado do importe disponível para a efetiva realização. Outrossim, os valores não são os
recepcionados pelo Anexo IV da LOA aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela
emissão de ativos nominais, cujos encargos reais diminuem com o aumento da inflação. A estrutura de choques
da economia pode, então, sugerir um papel importante para a dívida nominal (vide em especial Bohn [1988]). ·
Correlação entre produto e inflação: se o produto tende a diminuir quando a inflação aumenta, é preferível que
as despesas totais do governo não aumentem simultaneamente, permitindo que a carga tributária necessária para
financiar os gastos permaneça relativamente constante. Títulos nominais, cujo valor real decresce com a inflação,
tenderiam, sob tais condições, a estabilizar a razão entre gastos totais e produto atenuando a variação da carga
tributária em face a variações no produto. · Correlação câmbio real e gastos: se os gastos do governo são
positivamente correlacionados com a moeda estrangeira, é recomendável a diminuição da dívida em moeda
estrangeira e aumento da dívida nominal, de forma a imunizar o orçamento de variações imprevistas no câmbio.
Texto para Discussão nº 411. Uma nota sobre A Composição Ótima da Dívida Pública – Reflexões para O caso
brasileiro- Departamento de Economia PUC - Rio. Disponível em: http://www.econ.puc-rio.br/pdf/td411.pdf
112
Informativo Conjunto PLOA 2015 Principais aspectos característicos do Projeto de Lei Orçamentária para
2015 (PL nº 13/2014-CN, encaminhado por intermédio da Mensagem nº 251/2014)
126
113
Casa Civil da Presidência da República - Lei nº 13.115/2015
114
Anexo I, quadros de Emendas Parlamentares aprovadas em 2014 e 2015.
115
Previstas nos artigos 157 a 162, da Constituição Federal,
127
Deste modo, o passo inicial para a elaboração é estabelecer uma previsão de receitas
com suporte nos inúmeros fatores econômicos, políticos, sociais, em contexto
macroeconômico e globalizando, que afetam a arrecadação de tributos e das demais receitas
da União. Encerrada esta fase, definida a previsão de recursos, inicia-se o periodo de escolha
de distribuição das receitas, priorizando os gastos com a Administração e com os programas e
políticas públicas de cada governante, que dependem sempre de contextos flexíveis a cada
ano.
Mais uma vez, apenas três meses após a aprovação117 da LOA de 2015, os ministros
Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, Orçamento e Gestão,
divulgaram a revisão, para baixo, das metas de superávit primário de receitas e despesas
orçadas para 2015, sob a alegação de retração econômica com reflexos na arrecadação dos
tributos, que levou a aumentar o contingenciamento das despesas fixadas para 2015.
116
Parecer nº 45, de 2014 - CN (Projeto de Lei n° 3, de 2014 – CN) Sítio do Senado Federal
117
Aprovada a LOA de 2015 em 22/04/2015.
129
Esta revisão promoveu um corte na LOA de 2015 na ordem de 8,6 bilhões de reais de
despesas e o mesmo valor em expectativas de receitas. Os cortes foram expressos no
Relatório118 de Avaliação do Cumprimento das Metas Fiscais publicado em julho de 2015,
que evidencia as revisões de receitas fiscais e extrafiscais, assim como de despesas em
distintos órgãos da Administração pública federal.
Como expresso anteriormente, todavia, o orçamento é elaborado com base nos dados
do orçamento do exercício financeiro anterior, com alterações em um número limitado de
rubricas e variáveis econômicas. O ideal seria a adoção de um sistema orçamentário que
admitisse não só o acompanhamento, mas também que possibilitasse contínuas revisões não
somente das metas traçadas, mas também do orçamento, e que resultasse em uma algum tipo
de satisfação social.
O corte acima representa uma redução de R$ 8,6 bilhões de reais nas despesas.
Somente no Poder Executivo, onde ocorreu o maior corte, a redução foi de 8,4 bilhões de
reais, com repercussão imediata e de curto prazo no pagamento das dívidas públicas e nos
planos sociais e de desenvolvimento regional no Governo Federal, conforme planilhas
descritivas dos cortes apontados no Relatório de Avaliação do Cumprimento das Metas
Fiscais. Os outros 125,5 milhões de reais estão distribuídos nos demais poderes e Ministério
Público da União, conforme Tabela 05.
118
Relatório Disponível no Sítio: http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/arquivo-
relatorios-de-avaliacao-fiscal-e-cumprimento-de-metas/2015.pdf
130
Cabe salientar que o Poder Legislativo tem a função atípica de fiscalizar e controlar
os atos do Executivo119 e, em matéria de finanças, o faz por meio do orçamento anual. Para
que haja segurança jurídica é mister que tais normas sejam alteradas em caráter de exceção,
assim como somente tais alterações devem ser motivadas. Além da segurança, a regra de
rigidez atua com função estabilizadora da economia. Para Giacomoni (2012, p.27), as
mudanças no orçamento, tanto na receita como na despesa, podem ser adicionadas pela
política de estabilização.
119
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
(...)
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os
da administração indireta.
131
120
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
(...)
§ 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não
se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações
de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. (Grifou-se)
121
Art. 167. São vedados:
132
(...)
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos
correspondentes;
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra
ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa;
(...)
§ 2º Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no exercício financeiro em que forem autorizados,
salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos
nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente.
A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes,
como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62.
122
Giacomoni possivelmente estaria se referindo ao último mandato de Presidente Lula, pois esta edição é datada
de 2012. Ademais corresponde ao período de maior apoio do Governo federal pelo Congresso Nacional.
133
Deste modo, observa-se que houve ampliação excessiva, para muitos, das
possibilidades de abertura dos créditos adicionais, que justifica a colocação de Giacomoni ao
assinalar que houve aumento na utilização dos créditos nos “últimos quatro anos, [...]
empregado de forma ampla e variada”, que beira a banalização do orçamento público. A
abertura de crédito para aumentar despesas não previstas no orçamento está prevista no art.
35, da Constituição de 1934, somente em “caso de guerra, comoção interna e calamidade
pública”.
Cabe aqui destacar o fato de que não foram feitas considerações sobre a última
modalidade de adicional de crédito, isto é, que trata das alterações nas novas categorias
classificatórias, podendo se desviar do objeto da pesquisa e cujas anotações decorrem da
própria LDO.
A Constituição dos Estados Unidos dispõe na seção 6, do artigo I, que “[...] nenhuma
pessoa ocupando cargo no Governo dos Estados Unidos poderá ser membro de qualquer das
Câmaras enquanto permanecer no cargo”. A inversão do texto revela com clareza a questão:
os membros das Câmaras (Congresso), enquanto permanecerem nos cargos, não poderão
ocupar cargos no Governo. Esta é a diferença entre o modelo ianque e o brasileiro.
123
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição
Federal e, especialmente, contra:
(...)
VI - a lei orçamentária.
124
Lobbying – atividade de pressão de um grupo organizado (de interesse, de propaganda etc.) sobre políticos e
poderes públicos, que visa exercer sobre estes qualquer influência ao seu alcance, mas sem buscar o controle
formal do governo; campanha, lobismo. Disponível em: http://bemfalar.com/significado/lobby.html. Acesso em
22/05/2015.
125
Pork Barrel – Appropriations of public funds by Congress (or other legislative assemblies) for projects that do
not serve the interests of any large portion of the country's citizenry but are nevertheless vigorously promoted by
a small group of legislators because they will pump outside taxpayers' money and resources into the local
districts these legislators represent. Successful promotion of such pork-barrel legislation (often through skillful
logrolling) is very likely to get the legislator re-elected by his constituents. Classic examples of such pork-barrel
legislation include Federal appropriations bills for dams, river and harbor improvements, bridge and highway
construction, and job-training centers, as well as legislation designed to prevent closure of obsolete or unneeded
military installations, prisons, VA hospitals and the like. Disponível em: https://www.auburn.edu/~johnspm
/gloss/pork-barrel-legislation
135
Neste sentido, o orçamento impositivo mostra-se como possível solução para uma
antiga demanda do Parlamento nacional, de pôr fim à subserviência do Poder Legislativo ao
Executivo, que, em tese, encerraria os contínuos embates entre estes Poderes. Não é essa,
porém, a leitura que se faz da Emenda Constitucional nº 86, de 17 de março de 2015, como se
verá nos itens a seguir.
126
Conceitos apresentados por Eduardo Mendonça. Disponível em: http://jota.info/constituicao-e-sociedade-o-
falso-orcamento-impositivo. Acesso em: 25/05/2015.
127
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e
aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento
comum.
(...)
§ 9º As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e
dois décimos por cento) da receita corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo,
sendo que a metade deste percentual será destinada a ações e serviços públicos de saúde.
136
Hoje, vigoram pelo menos três versões de orçamento impositivo: uma extrema (de
cunho democrático), em que as propostas submetidas e aprovadas pelo parlamento deverão
ser obrigatoriamente obedecidas pelo Poder Executivo. A segunda é semiflexível que
determina (vincula) a obrigatoriedade a certos elementos do orçamento, deixando uma
margem que poderá ou não ser implementada pelo Poder Executivo. A última privilegia uma
visão menos rígida, ou ainda mais flexível do que a anterior, que permitiria que o Poder
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem
um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
(...)
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)
(...)
IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de
2000).
137
Do outro lado estão os que afirmam tratar-se de mais uma importação do sistema
orçamentário dos EEUU, que não se aplica à realidade política e econômica nacional. Para
este grupo, em que se destacam Abraham, Dallari e Oliveira, para quem o Brasil já adota uma
modelagem Orçamento Impositivo129, antes mesmo da EC nº 86/2015. Em oposição aos que
vêem o orçamento impositivo como mecanismo de aperfeiçoamento do modelo vigente,
colocam-se os demais, que depositam no presidencialismo coalizão e segurança das
instituições políticas do País. Igualmente, advertem para o fato de que a tensão entre os
Poderes do Estado é benéfica, desde que dentro de certos padrões, e deverá continuar
existindo, sob pena de desintegração do sistema tripartite dos poderes.
129
Art. 165 § 8º Constituição Federal de 1988.
138
exceção e não a regra, como destaca Lima (2003), especialmente no caso brasileiro, onde
muitas mudanças necessitariam ser feitas130, que representam obstáculos a serem removidos;
até mesmo porque o orçamento no Brasil representa um importante instrumento para a
governabilidade e que hoje a maioria dos recursos orçamentários possui vinculação
obrigatória no seu cumprimento. Neste sentido, há quem defenda a ideia de que a Lei de
Responsabilidade Fiscal introduziu o modelo impositivo de orçamento no Brasil.
A LRF estabeleceu padrões e limites para a fixação de gastos e despesas, tendo como
base as expectativas de receitas de cada exercício financeiro. Tem-se como exemplo as
transferências para os entes da Federação - estados, Distrito Federal e municípios; as
transferências relativas à Lei Kandir; as relativas à Lei Orgânica da Assistência Social; os
subsídios e subvenções com o Sistema Único de Saúde, os benefícios da previdência social
são todas despesas de cumprimento obrigatório, que, para Lima (2003, p.7), abrangem quase
90% das despesas totais.
Outras despesas obrigatórias são as com: custeio dos ministros de Estado e com
obras em andamento, cujas interrupções acarretariam em grandes prejuízos ao Erário. A
vinculação de recursos arrecadados foi bem assimilada, após uma fase polêmica nos anos que
se seguiram à promulgação da Constituição, e representou um avanço nas normas de Direito
financeiro no Brasil. Ademais, a LRF regulamentada pela Lei nº 10.028/2000 instituiu a
criminalização dos atos do gestor público, consolidando princípios e regras, já existentes, para
a Administração Pública. A lei introduziu um capítulo especial no Código Penal, dos “crimes
contra as finanças públicas” (art. 359-A a 359-H).
130
Edilberto Carlos Pontes Lima (2003) enfatiza as mudanças, em especial, no sistema partidário e eleitoral,
capaz de assegurar a governabilidade, com a maioria do Congresso Nacional.
139
Para Menezes e Pederiva (2014, p.19), “[...] o orçamento impositivo não resolverá
aos problemas orçamentários brasileiros. O capital político empregado nessa discussão seria
bem mais utilizado no aperfeiçoamento dos mecanismos institucionais existentes ou já
previstos [...]”.
Como aponta Batista (2015), a solução encontrada pelos políticos brasileiros foi a
adoção da coalizão política, em que todos são beneficiados com arranjos políticos. A coalizão
representa bem a realidade do abrandamento das tensões entre Poder Legislativo e o
Executivo no Brasil, e será examina nos itens a seguir. É mister fazer uma análise abordando
os aspectos econômicos, políticos e jurídicos da Emenda Constitucional nº 86/2015, para
esclarecer alguns pontos ainda obscuros sobre a modelagem vigente e a pequena alteração a
que chamam de orçamento impositivo, a saber.
131
Emendas individuais são recursos do orçamento público da União recebido por parte de cada parlamentar
para utilizar em programas e projetos em suas bases distritais Uma espécie de promoção pessoal feita pelo
parlamentar com seus eleitores que lhe assegure uma reeleição. Semelhante ao que ocorre na pork-barrel
legislation.
132
Ilha em sentido metafórico.
133
Art. 49. Cada parlamentar poderá apresentar até 25 (vinte e cinco) emendas ao projeto, cabendo ao Parecer
Preliminar fixar o valor total do conjunto das emendas a serem apresentadas, por mandato parlamentar, nos
termos do art. 52, II, i.
Art. 50. As emendas individuais: I - que destinarem recursos a entidades de direito público, deverão observar a
programação passível de ser objeto de emendas, definida pelo Parecer Preliminar; II - que destinarem recursos a
entidades privadas, deverão observar a programação passível de ser objeto de emendas, definida no Parecer
Preliminar e, cumulativamente: a) atender às disposições contidas na lei de diretrizes orçamentárias; b) estipular
as metas que a entidade beneficiária deverá cumprir, demonstrando a sua compatibilidade com o valor da
emenda; c) identificar a entidade beneficiada, seu endereço e o nome dos responsáveis pela direção; III -
deverão, no caso de projetos, resultar, em seu conjunto, em dotação suficiente para conclusão da obra ou da
etapa do cronograma de execução a que se refere. Parágrafo único. O Parecer Preliminar especificará os
elementos que deverão constar da justificativa das emendas individuais.
134
Pelo relatório preliminar da LOA, aprovado na madrugada de 21 de novembro, cada parlamentar teve R$
14,68 milhões para apresentar em emendas individuais ao Orçamento de 2014, sendo R$ 7,34 milhões
necessariamente para saúde, incluídas despesas de custeio, como pagamento de água e luz, e excluídos o
pagamento de pessoal e os encargos sociais, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O total
destinado a apresentação de emendas individuais, de acordo com o relatório preliminar da LOA, ficou em R$
8,72 bilhões. Disponível no Sítio da Câmara: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/459319.html.
141
135
Os 594 deputados e senadores que compõem o Congresso Nacional terão direito a apresentar R$ 9,7 bilhões
em emendas individuais ao orçamento de 2015. Cada parlamentar poderá apresentar até R$ 16,32 milhões em
emendas, sendo que metade deste valor (R$ 8,15 milhões) terá que ir obrigatoriamente para ações e serviços de
saúde. No Orçamento de 2014, os congressistas apresentaram R$ 8,6 bilhões em emendas, geralmente destinadas
para investimentos em suas bases eleitorais. http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/479163.html
136
O exame das Leis nº 4.320/64 e LC nº 101/2000
142
Este foi o marco histórico, jurídico e político que fundou a ordem jurídica e
estabeleceu as regras para a reestruturação das instituições (tradicionalmente instituições
autoritárias) do Estado brasileiro, assentado no principio democrático de direito. Partindo
desse encadeamento, leva a uma compreensão do sentido e axioma que se pretende para a
sociedade.
Assim, são destinados aos parlamentares aqueles recursos que poderiam ser
utilizados pelo Poder Executivo para a realização daquelas finalidades escolhidas pelo
legislador constituinte, preteridas em prol das emendas parlamentares, que só beneficiam,
politicamente, os próprios congressistas, que visam à perpetuação no poder, por meio da
política de pork barrel.
não o poder em si. A identidade política no Estado deriva, inevitavelmente, do povo e deve
estar a serviço deste mesmo povo.
Em recente decisão, o ministro Luiz Lux137, do STF, emitiu parecer na ADI nº 4.663
sobre as normas orçamentárias
Como visto no capítulo 2 desta dissertação, o Brasil irrompeu o século XX com uma
137
STF ADIn 4.663/RO, Rel. Min. Luiz Fux. Sítio do STF. Disponível em: http://stf.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/25342061/referendo-na-medida-cautelar-na-acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-4663-df-
stf/inteiro-teor-159437241.
145
Vale observar que, mesmo antes do golpe militar de 1964, as relações do chefe do
Poder Executivo com o parlamento eram baseadas em alianças formadas com apoio em
acordos entre partidos políticos, durante as campanhas eleitorais. Por certo, o objetivo sempre
foi o poder, isto é, formar a maior bancada, com o maior número de aliados políticos. Qual
seria, porém, a contrapartida por este apoio para obtenção do poder?
Nos anos de 1960, nos Estados Unidos, William Riker publicou sua teoria política
denominada The theory of political coalitions ou “a Teoria de Coalizão Política”. Nela Riker
exprime os argumentos baseados na barganha política para a formação do governo, que não
significa a formação de uma maioria absoluta no Legislativo como no regime parlamentarista,
146
mas apenas o número de cadeiras necessárias para governar. Como esclarece Mariana Batista
(2015), “o foco está na formação do Governo com base na barganha entre atores racionais
maximizando a sua participação na distribuição do prêmio”.
O autor percebeu uma semelhança entre eles, entretanto, esta semelhança não poderia
ser descrita por se tratar de regimes de governo diferentes. Nos regimes parlamentaristas, o
“resultado imediato do enfraquecimento da aliança é a dissolução do gabinete e a tentativa de
recomposição de uma coalizão de governo, enquanto que no caso do presidencialismo de
gabinete demite-se o ministro preservando a autoridade do presidente”. O regime
presidencialista de “coalizão é o próprio presidente quem deverá demitir o ministro e buscar a
recuperação de sua base de apoio” (ABRANCHES, 1988).
138
Uma das mais graves distorções do presidencialismo concentra-se ao redor de elementos que agravam
habitualmente a crise do sistema, quais sejam: a ausência de confiança na competência dos quadros dirigentes,
com grave dano às bases da legalidade governativa; a elevação do grau de influência do estamento burocrático
que, em vez de ser um braço da administração, se transmuda na cabeça de todo o sistema de governo com o
poder que o presidencialismo outorga neste País aos tecnocratas; o declínio da função parlamentar, que se mede
estatisticamente pela perda da participação do Congresso na feitura das leis; o dilúvio normativo de decretos-leis
e atos ministeriais que não raro arrebatam a competência constitucional do Poder Legislativo; o exercício de
prerrogativas da soberania nacional, sem audiência do Congresso, pelos ministérios da área econômica, quando
147
Destaca ser uma dificuldade histórica, que encontrou no final do túnel o Presidencialismo de
Coalizão.
Para o autor, “é um ciclo de gestão da coalizão facilitada pelo ambiente e pelo alto
poder de atuação do presidente”. Mostra que não são raras as coalizões que controlam mais de
70% da Câmara dos Deputados e mais de 51% do Senado Federal. Neste contexto, as forças
concentradas em torno e centradas no Presidente, Abranches apresenta o Quadro 3, abaixo.
Abranches chama atenção para o fato de que essas composições são realizadas a cada
situação contingencial, pois “as coalizões são formadas por partidos de serviço [...] que
decidem sobre matéria econômica e financeira de caráter internacional, produzindo um ônus que compromete
toda uma geração; o desprestígio da lei e da Constituição como regras jurídicas abstratas de fixação de direitos e
deveres dos cidadãos; o excesso de decisionismo causuítico refletidos numa torrente de atos e medidas
executivas, eivadas de contradições, recuos, inconstitucionalidades e surpresas, caracterizando a indecisão e a
perplexidade; enfim, o divórcio entre o Estado e a Nação, o governo e a sociedade, o poder e a opinião: um fosso
que o presidencialismo tem alargado pela insuficiência de seus instrumentos participativos e pela privação do
diálogo ou de formas mais eficazes de comunicação da autoridade com o povo, este grande ausente do processo
político, este soberano tão sub-representado na modalidade presidencial de governo (BONAVIDES, p. 271-272).
148
Neste sentido, há uma contrapartida pelos ganhos obtidos, assim como quando um
partido passa a integrar o Governo, o parlamento assume, extensivamente, a responsabilidade
na direção das políticas públicas, e a participação nas escolhas financeiras do Estado, mesmo
que indiretamente, via ministros de governo.
Luiz Inácio Lula da Silva, com nove partidos políticos139 na base aliada, distribuídos entre os
24 ministérios. Isto pode ser compreendido com a visualização da Tabela 06, que evidencia o
número de ministérios nos governos dos presidentes de José Sarney até Dilma Rousseff.
139
Dados disponíveis no Sítio da Presidência da República Disponível em: http://blog.planalto.gov.br/assunto/
base-aliada/.
140
25 Ministérios e nove Secretarias ligadas à Presidência da República.
141
26 Ministérios e nove Secretarias ligadas à Presidência da República.
142
Os cargos estão previstos na Lei nº 11.526, de 4 /11/2011, que fixa a remuneração dos cargos e funções
comissionadas da Administração Direta e Indireta da União.
150
Por certo a reflexão remete ao jogo de barganhas, troca de cargos e/ou verbas, como
indicado por Abranches (2014). O prêmio, entretanto, não pode ser somente o Governo e o
Poder como expressado por Batista (2015). Sob essa perspectiva, é notório outro viés da
função ministerial – a repartição dos recursos orçamentários destinados à sua subunidade
executiva, complementada pela repartição dos cargos, e o Poder em si.
143
Cota é o montante de recursos financeiros que, em cada período, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN)
coloca à disposição dos Órgãos Setoriais de Programação Financeira (OSPF).
152
Sabendo que a LRF veda os repasses e sub-repasses sem que estejam destinados
desde a fase de solicitação pelo ministro de Estado, este necessita remanejar as solicitações
encaminhadas à STN para as emendas, pelo critério de contingenciamento, o que é justificado
perante o Tesouro Nacional, sem violação aos princípios gerais do orçamento.
Por outro ângulo de visão, é possível assinalar que, dentre os efeitos da política de
coalizão, está o compromisso do Governo em promover as demandas do Poder Legislativo,
representando um dever político assumido com os parlamentares, mesmo que estes tenham
sido assumidos pelo corpo ministerial e não pelo Presidente da República.
Esta consideração leva a outra. O aspecto central da Emenda Constitucional pode ser
resumido às emendas parlamentares, isto é, a um falso orçamento impositivo, que obriga o
Poder Executivo a executar emendas parlamentares até o limite de 1,2% da receita corrente
liquida em cada exercício financeiro. A norma constitucional impositiva retira-lhe a
discricionariedade e rompe o pacto de cooperação política, haja vista que seu principal
elemento de barganha deixa de existir.
144
Descentralização interna ou provisão – entre uma unidade orçamentária (UO) e uma unidade da gestão (UG)
do mesmo ministério ou órgão.
145
Descentralização externa ou destaque – ocorre cessão de um crédito orçamentário entre UO, ou entre UG de
ministérios ou órgãos distintos.
153
Neste sentido, é o parecer do ministro do STF, Luiz Fux, tratando das emendas
parlamentares: ressalta a força vinculante que se pretendeu dar às emendas, que esbarra na
motivação administrativa, [...] respaldada pelo postulado da razoabilidade “a atribuição de
regime formal privilegiado exclusivamente às normas oriundas de emendas parlamentares
viola a harmonia entre os poderes político” - citação feita no item 4.2.2.3.
CONCLUSÃO
Findo o exame dos aspectos históricos, filosóficos e políticos dos capítulos iniciais,
conclui-se, à luz do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, e com baliza na Hermenêutica
Constitucional, não fazer sentido inferir que o homem é elemento constitutivo do Estado, mas
que este só se justifica se a serviço da efetivação dos direitos fundamentais, da mesma forma
que a soberania estatal não é imanente do Estado, mas advém da vontade geral - a soberania
do povo.
156
povo quem determina, onde, quando e como serão gastos os recursos públicos, retirando uma
boa parcela da discricionariedade do Poder Executivo na condução da res publica.
Pode-se, outrossim, constatar que não é possível organizar o Estado, sua burocracia e
instituições em volta de uma modelagem orçamentária; mas sim, o orçamento, como sendo
uma instituição, deve acompanhar o processo cultural, acompanhando o desenvolvimento da
sociedade e do Estado. Isto seria inverter o fluxo natural do Estado em função do orçamento
público.
É possível que, num futuro próximo, o STF precise intervir, decidindo pela
constitucionalidade ou não na emenda à Constituição. É até mesmo plausível que a Corte
reitere o parecer o Min. Luiz Fux na ADI nº 4.663, de que, a priori, as emendas individuais
devam ser acatadas pelo Chefe do Poder Executivo, “ressalvada a motivação administrativa
que justifique o descumprimento [...]”. E que as “[...] emenda apresentada pelo Poder
Legislativo, de rocas modo que a atribuição de regime formal privilegiado exclusivamente às
normas oriundas de emendas parlamentares viola a harmonia entre os poderes políticos (art.
2º da CF/88)”.
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ANEXO I