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Uma história da

INTERNET

Dr. Manuel Monteiro


O início

Tudo começou há mais de trinta anos durante o auge da

guerra fria. Os soviéticos, em 1957, lançavam o primeiro

satélite Sputnik, ultrapassando os EUA na corrida para o

espaço. Em resposta, o Departamento de Defesa dos EUA

criou a Advanced Research Projects Agency (ARPA), para

acelerar o progresso tecnológico do país. Sobe a

hipotética ameaça de um ataque nuclear por parte da União

Soviética, os EUA enfrentavam o problema da falha das

comunicações militares caso acontecesse o pior. Por essa

altura o mundo da informática era dominado por

computadores de grande porte acessíveis por terminais. O

Computador Pessoal (PC) ainda não existia. O sistema

central guardava todas as informações, às quais os

terminais acediam através de ligações por cabo.

Rede centralizada

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Estes sistemas eram obviamente bastante vulneráveis.

Bastaria bombardear o sistema central para desactivar toda

a rede.

Em 1962, o relatório "On distributed Communications

Network" escrito por Paul Baran, foi publicado pela Rand

Corporation. A investigação de Baran, patrocinada pela

Força Aérea Americana, apresentava soluções para protecção

dos sistemas de comunicações militares. Alguns dos

conceitos assentavam num princípio: não existir autoridade

central, ou seja, uma rede descentralizada. Todos os nós

da rede seriam iguais em status aos outros nós, cada nó

com a sua própria autoridade para originar, passar, e

receber mensagens.

Os primeiros registos existentes sobre interacções sociais

através de redes de computadores datam de Agosto de 62,

escritas por J.Licklider do MIT onde se discute o conceito

de "Galatic Network". Em Outubro de 62, Licklider liderava

um programa de pesquisa na ARPA onde convencia os seus

sucessores Ivan Sutherland, Bob Taylor e o investigador do

MIT Laurence G. Roberts, da importância do seu conceito de

rede.

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Rede descentralizada

Num dos muitos artigos escritos por Licklider, em co-

autoria com Taylor lia-se: "In a few years men will be

able to communicate more effectively through a machine

than face to face... When mind interacts, new ideas

emerge."

("the computer as a communication device" in IN Memoriam:

J.C.R.Licklider 1915-1990, p.21)

Em Julho de 1961, Leonard Kleinrock do MIT publicou o

primeiro documento sobre a teoria da comutação de pacotes

e o primeiro livro sobre o assunto data de 1964. Neste

processo, actualmente ainda em uso, as mensagens são

divididas em pedaços, chamados pacotes (“packets”), para

serem enviados de computador para computador. Cada um dos

pacotes contém o endereço do destinatário, do remetente e

a informação a enviar, tal como se de uma carta se

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tratasse. Quando todos os pacotes chegam ao destino, a

mensagem original é reconstruída. Mesmo que, por qualquer

motivo, um dos pacotes se perca, poderá ser reenviado de

forma a completar a informação original.

Kleinrock convencia Roberts da flexibilidade das

comunicações usando pacotes.

Em 1965 trabalhando com Thomas Merrill, Roberts ligou o

computador TX-2 em Massachussets ao Q-32 na California

através de uma linha de telefone criando a primeira WAN

(Wide Area Network).

Em 1966, Roberts ingressou na ARPA para desenvolver os

conceitos de redes de computadores e publicou em 67 o seu

plano para uma rede, a ARPANET.

Em 1968, Licklider e Taylor publicavam um documento onde

se lia:

"The collection of people, hardware, and software -- the

multi-access computer together with its local community of

users -- will become a node in geographically distributed

computer network. Let us assume for a moment that such a

network has been formed. Through the network of message

processors, therefore, all the large computers can

comunicate with one another. And through them, all the

members of the super community can communicate -- with

other people, with programs, with data, or with a selected

combinations of those resources."

(in http://www.columbia.edu/-rh120/ch106.x01)

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Os conceitos de partilha de recursos referidos nesse

documento coincidem com os da actualidade.

Utilizando os conceitos de descentralização e comutação de

pacotes, foi então criada em 1969 a rede denominada

ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network)

apadrinhada pelo Pentágono. Esta rede ligou inicialmente

quatro pontos dentro dos E.U.A.. No Outono de 69 foi

colocado o primeiro nó na UCLA, em Dezembro do mesmo ano

foram colocados os restantes nós na Universidade da

California em Santa Barbara, na Universidade do Utah e no

Stanford Research Institute permitindo que cientistas e

investigadores destas instituições partilhassem informação

sobre as suas pesquisas. Esta estrutura conseguia

transmitir dados através de linhas dedicadas de alta

velocidade. Embora permitisse que os seus utilizadores

partilhassem os recursos uns dos outros verificou-se que o

tráfico principal não era de resultados de computação de

longa distância mas sim de notícias e de mensagens

pessoais. Os utilizadores estavam a utilizar a ARPANET

para colaborar em projectos, para trocar notas de

trabalhos, e eventualmente, conversar sobre assuntos

fúteis.

Durante os anos 70 a rede cresceu bastante. A sua

estrutura descentralizada facilitou bastante a sua

expansão.

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Em 1971 existiam já quinze nós, tendo este número

aumentado para trinta e sete em 1972.

Nesse ano o InterNetworking Working Group (INWG) foi

criado. Esta organização foi o primeiro de muitos grupos

responsável pela especificação de standards para

comunicações.

As ligações através de cabos começavam a tornar-se

demasiado lentas e limitadas, e por isso começaram-se a

estudar novos meios de comunicação. Chegou-se à conclusão

que o uso de satélites e de frequências de rádio seriam

soluções bastante interessantes o que levou ao nascimento

da SATNET (Atlantic Packet Satellite Network) em 1973.

Nesse ano a rede atravessou o atlântico ligando o

University College de Londres e o Royal Radar

Establishment da Noruega. Esta ligação foi feita usando

satélites comerciais Intelsat em vez de satélites

militares.

O protocolo de comunicações utilizado, o NCP (Network

Control Protocol) foi sendo refinado tendo sido

substituído pelo TCP/IP (Transmission Control

Protocol/Internet Protocol) em 1983.

Nesse mesmo ano, devido ao rápido desenvolvimento e à

necessidade de segurança por parte dos militares, a

ARPANET foi dividida em duas partes: a ARPANET e a MILNET

(Military Network).

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Em 1984 o número de “clientes” ligados à Internet excedia

os 1000.

Em 1987 eram já 10,000 os utilizadores ligados.

O número de ligações excedia as 300,000 em 1990. Em 1996,

150 países estavam ligados à Internet, totalizando

aproximadamente 10 milhões de clientes.

A actualidade

A palavra actualidade no contexto da Internet é um pouco

vã. O que é hoje pode não ser amanhã, mas pelos dados a

seguir apresentados podemo-nos aperceber da realidade da

utilização da Internet em Portugal. As estatísticas

apresentadas referem-se a uma amostra de 760 utilizadores

no período de Janeiro a Abril de 1997. De referir que 10%

dos inquiridos eram mulheres.

À quanto tempo utiliza a Internet?

7,90%
23,70%
19,70% 1 mês
1 a 6 meses
7 a 12 meses
13 a 24 meses
11,80% 25 ou + meses
36,80%

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Quais as habilitações literárias?

2,60%
25,00%
Ciclo
Secundário
Universitário

72,40%

Profissões?

Tec. Informática
Estudantes
22,40% 18,40%
Professores
0,00%
Comunicação
7,90% Emp. Nome Individual
27,60% Area Económica/Financeira
6,60%
11,80%
5,30% Industria
Outras

De onde costuma ligar para a Internet?

12,00% Casa
21,30% 49,30% Trabalho

Casa e Trabalho

17,30% Escola

Quanto tempo por semana utiliza a Internet?

< 1 hora
6,60%
31,60% 23,70% 1 a 4 horas

5 a 10 horas

38,20%
> 10 horas

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Da interpretação destes dados conclui-se que a maioria dos

utilizadores são estudantes e que dentro destes o maior

número são universitários. Infelizmente estas estatísticas

não nos dão a informação dos motivos que levam estes

utilizadores a usarem a Internet. Por diversão?

Curiosidade? Pesquisa? Estudo?

Qualquer que seja a razão, com os melhoramentos e aumento

das facilidades que se prevêem para breve, o número de

utilizadores será cada vez maior.

O gráfico seguinte mostra a evolução das estatísticas

entre Outubro/Dezembro de 1996 e Janeiro/Abril de 1997 (já

apresentadas).

60%

50%

40%
Casa
30% Escola
Trabalho
20%

10%

0%
OUT/DEZ 96 JAN/ABR 97

Evolução do local de ligação

Como podemos verificar pelo gráfico houve entre os

períodos comparados um aumento das ligações feitas a

partir do local de trabalho e da escola em detrimento das

ligações a partir de casa que reduziram a subida. Esta

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estatística revela um aumento do investimento das empresas

e das instituições de ensino no acesso à Internet. Com o

investimento do actual governo em 1600 escolas secundárias

equipando-as com computadores multimédia e ligação à

Internet, certamente que estes números vão aumentar até o

final de 98.

A integração dos media (rádio, televisão e vídeo) na

Internet, os vários projectos para construção de redes de

satélites de comunicações, as mais recentes evoluções nas

tecnologias de videoconferência e meios de comunicação

pessoais deixam antever um futuro, não muito longe, onde a

Internet, se é que se chamará assim, irá conquistar um

lugar de destaque entre as comunicações tradicionais como

o telefone, o fax, a televisão e o rádio tal como as

conhecemos hoje.

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