Você está na página 1de 6

ARREBATAMENTO NO CONTEXTO BÍBLICO

Danilo Pallar Lemos

A promessa de Jesus em João 14.1 a 3.

A promessa feita no início do capítulo quatorze de João por Jesus tem


um sentido, também de conforto e instruções finais a seus discípulos, e tem
uma conotação escatológica mais incisiva referente ao arrebatamento. Para
analisar esse texto iremos dividi-lo em partes, e vamos fazer uma exegese, a
fim de compreender alguns sentidos expressos nele contidos. Carson (2007,
p.490.)Enfatiza a ocorrência do verbo pisteiuô no imperativo; concedendo a
conotação em “confiam em Deus confiam também em mim”. Jesus como nos
diz Hendriksen (2004, p.645) “[...] Sabia que a fé deles com a sua ausência
pessoal poderia ser minada, porém precisavam permanecer na fé. ” Uma
autêntica fé com total segurança, é o que estava esperando Jesus, ao enfatizar
que seus discípulos deveriam acreditar e confiar em Cristo realmente.
No versículo 2, vemos em destaque as palavras “morada” e “lugar”,
sendo mais destacado o termo “monê” que é cognata do verbo “menô”
(permanecer, ficar e habitar), segundo nos informa Carson (2007, p.645), ao
afirmar que “menô” “Significa exatamente habitação”. Assim podemos perceber
que a ênfase está sendo concedida à “casa do Pai”, um local para os seus
seguidores habitarem, uma morada eterna.
No versículo três, inicia a nossa verificação com maior incidência do
arrebatamento ou sua defesa nesta passagem e, a partir de agora ampliaremos
sobre a posição dispensacionalista e pré-tribulacionista para o referido texto.
Assim, acrescentaremos no transcorrer de nossa abordagem, um subtítulo a
este capítulo. Pois, neste versículo está clara, a ênfase da “parusia”, do
momento do “encontro” com a Igreja; sendo assim dedicaremos um aparte no
capítulo para desenvolvermos uma exegese dentro deste contexto, que nos
esclarecerá sobre o arrebatamento.. Concluindo sobre a promessa expressa
por Jesus nesta passagem, podemos considerar alguns pontos: Jesus
primeiramente está confortando e reanimando os seus discípulos, um segundo
aspecto destacado é que Jesus lhes dá a diretriz que precisam ter depois de
sua partida: fé, fidelidade e esperança; enfocando estes fatores com
progressividade e amplitude. O terceiro aspecto, é a promessa de que os seus
seguidores sendo fiéis e permanecendo em Cristo, obterão um lugar, uma
“morada” no Céu, para viver com Ele para sempre. No quarto aspecto,
observamos o seu retorno e a busca dos fiéis. Cristo virá buscar os seus fiéis, a
fim de que estejam com Ele para sempre nos céus. Portanto, essa promessa
se encontra dividida em partes, porém todas com o sentido de esperança e
retorno, ou seja, escatológico. Parafraseando “fiquem firmes, não desanimem e
nem enfraqueçam a fé; permaneçam fiéis. Haverá um retorno, Eu voltarei os
levarei para habitar comigo, onde eu estou indo e um dia vocês também
comigo estarão”.

1.1.1 A ênfase no arrebatamento em João 14.3

Neste subtítulo do capítulo, utilizaremos alguns pontos da exegese feita


pelo Dr. George Gunn, que nos traz uma visão dispensacionalista e pré-
tribulacional; que vai pontuar o seguinte sobre esta passagem:

Ponto principal de Jesus aqui não é ensinar o caminho


posicional justiça, mas para mostrar o caminho de entrada
para o céu. Para ter certeza somente aqueles que são
posicionalmente justificados vai encontrar essa entrada,
mas o ponto principal aqui não é imediato e pessoal;
contrário, escatológico e local. Para entender a linguagem
de "ir" aqui de Jesus, é importante notar que em todo o
evangelho de João, há uma significativa subtema de "ir e
vir”. (GUNN, 2001, p.36)

Podemos verificar que o enfatizado é estar se preparando para o retorno


e conseguinte entrada no Céu. Está ressaltado que Jesus está indo e se
despedindo, porém, prometendo sua volta, porque se existe um “ir” neste texto,
aqui também exclusivamente ocorre um “vir”. O retorno fica, portanto,
ressaltado com a informação da partida, pois “ irá ao Pai”, mas “voltará outra
vez”. Fica, também, explícito neste texto duas expressões de cunho
escatológicos ligadas ao arrebatamento; a “realização e a eminência”. O “ir”
indica o retorno que está ligado com uma realização ou tarefa, “preparar”.
Jesus está indo realizar a preparação para a recepção da Igreja. Na última
ceia, Ele pediu para os discípulos prepararem uma casa para passar com Eles
a Páscoa. Agora Ele está anunciando que preparará a morada celestial, para
que todos seus seguidores estejam com Ele, assim juntos participarão da ceia
com Cristo, Ele prometeu que voltaria a beber do cálice: “[...] Não beberei deste
fruto da vide até aquele Dia em que o beba de novo convosco no Reino de meu
Pai” (Mt 26.29p/b); sendo esta a ceia das “bodas do Cordeiro”.
Já falamos da realização, agora veremos também no texto de Jo. 14.3 o
“retorno”, este com um propósito, buscar sua Igreja, os seus “servos fiéis”, que
estiveram se preparando e aguardando o momento do reencontro com o seu
Senhor, ou seja, o arrebatamento.

1.1.2 O alerta do Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 15.52

O Apóstolo Paulo escreve, não na condição de um profeta, mas como


um hagiógrafo, ou seja, autor sagrado inspirado pelo Espírito Santo. As
palavras por Ele pronunciadas sobre o arrebatamento são por Jesus,
validadas. Em 1Co 15.52, o Apóstolo Paulo está abordando sobre a
ressurreição e trata do assunto detalhadamente, porém não vamos mencionar
nada sobre esse tema, tendo em vista, que trataremos do referido assunto em
outro capítulo, na sequência desta obra. Portanto, aqui só enfatizaremos os
versículos que nos trazem uma maior elucidação pela temática deste livro.
Nesta posição, só enfocaremos o versículo cinquenta e dois, a partir do qual
será embasada a ocorrência da remoção da Igreja da face da terra, pelo
arrebatamento; lembrando que sobre a glorificação, mencionada, trataremos
em outro capítulo deste livro.
O texto nos traz dois sentidos relevantes sobre o arrebatamento,
primeiro sobre tempo, segundo Hendriksen (2003, p.466) “a palavra grega
utilizada é átomos, do qual temos a palavra derivada átomo, que se refere a
algo tão pequeno que não pode ser mais dividido”. Fica evidente assim que o
Apóstolo está concedendo o sentido de mínima fração de tempo, que
surpreenderá. O outro sentido relevante é sobre o toque “a última trombeta”,
aqui o Apóstolo Paulo não está aludindo às trombetas escatológicas, ou seja,
as que fazem parte do grupo de sinais “selos, trombetas e taças” do
Apocalipse. Com a conotação, segundo Hendriksen (2003, p.466) de “o toque
final na história da redenção”. Outro teólogo renomado que convalida esta tese
de Hendriksen é John MacArthur, que assim diz: “Trombeta soará (v.52) para
anunciar o fim da era da Igreja, quando todos os crentes serão removidos da
terra no arrebatamento (1 Ts 4.16). Esse versículo é bem elucidativo e se
relaciona com o mesmo assunto tratado por Paulo aos Tessalonicenses,
consolidando a ida da Igreja “nos ares”, encontrar-se com Jesus Cristo.

1.1.3 “Nos ares” (1 Tessalonicense 4.16 e 17)

O Apóstolo Paulo, nesta epístola, enfatiza sobre a parusia, tendo o tema


aparecido desde o princípio, porém tem maior incidência no quarto capítulo.
Vemos nestes dois versículos, algumas expressões e acontecimentos
relevantes sobre o arrebatamento que pontuaremos adiante. No v.16, veremos
primeiro a expressão e ação “descer do céu com alarido”, sobre esta frase e
fato a acontecer ainda, diz Glubish:

Haverá um “alarido” (keleusma) este é um termo técnico,


usado em situações militares como um grito de guerra ou
ordem autoritária. Alguns o entendem como a ordem de
Deus ao seu Filho, para que retorne aos crentes, porém é
mais provável que Paulo esteja apresentando aimagem
de um anúncio ou de um chamado para que os santos
encontrem seu Senhor. (GLUBISH, 2003, p.1396)

Este posicionamento de Glubish nos inteira com a ação tríplice que


ocorrerá no momento glorioso do arrebatamento, primeiro, Jesus virá nos ares,
em glória; segundo, um bradar que será o alarido; como uma ordem e grito de
vitória final e, terceiro, o soar da trombeta para que os vencedores, a Igreja, vá
ao encontro de seu Amado e Noivo. Sobre este terceiro, podemos inclusive
relembrar o que ocorria com o povo de Deus na Antiga Aliança, conforme está
registrado em Êxodo 19.16 a 19. Nesta dispensação, quando Deus “descia” por
meio de uma manifestação teofânica, em “fogo sobre o monte”, Moisés levava
o povo para fora do arraial para o encontro com Deus. Ocorria então o “sonido
da trombeta” e o monte tremia e fumegava.
No momento do arrebatamento, o povo de Deus, antiga e nova aliança,
encontrar-se-ão com Jesus, “o Verbo”, não em manifestação de um fogo, mas
em glória. O seu povo O contemplará em glória, sentindo sua presença como
nunca em nenhuma dispensação foi sentida, pois Jesus estará presente ao
lado de todos os santos.
O versículo16 menciona a ressurreição dos que já morreram e estão
com Jesus no paraíso, indicando que “ressuscitarão primeiro”. Neste versículo,
Paulo relaciona o mesmo assunto já tratado em 1 Co 15.52, quando fala da
transformação corpórea, ou seja, a glorificação. Não entraremos em detalhes
em nenhuma destas explanações sobre a glorificação, pois como já
mencionamos, será o assunto de outro capítulo deste livro. Contudo, convêm
ressaltar que os mortos em Cristo serão ressuscitados e participarão em
estado de glória junto com a Igreja, ou seja, já estarão ao seu lado, quando nós
os vivos formos ao “encontro nos ares”.
O versículo 17 se torna texto magno da incidência do termo Harpazo, ou
seja, arrebatamento. Novamente vemos a utilização do verbo “encontrar”, neste
encontro, está expressa a diferença entre arrebatamento e segunda vinda. No
arrebatamento, a Igreja vai ao encontro nos ares com Jesus, e na segunda
vinda Jesus desce dos ares, ou seja, do Céu com todos os Santos, pisando a
plantas dos seus pés no monte das Oliveiras. Walvoord sobre essa sequência,
a ressurreição dos mortos em Cristo e a ida dos vivos até Ele nos ares, diz:

Em termos práticos toda essa sequência acontecerá


instantaneamente. Os que estiverem vivos sobre a Terra e
forem trasladados não esperarão pela ressurreição dos
salvos porque, na verdade, estes ressuscitarão um
momento antes deles. (WALVOORD, 2.000, p.420).

Fizemos questão de mencionar sobre este momento, pois muitos


possuem algumas dúvidas, referentes a estas duas etapas que, na verdade,
estão ligadas e não separadas como muitos pensam. Ao citar o Apóstolo Paulo,
vemos que ele menciona o termo “nuvens” que demonstra o caráter essencial
do arrebatamento. Walvoord (2.000 p.420) acrescenta que ocorrerá “[...] Um
rapto, erguimento corporal dos que estiverem na terra, vivos ou mortos”. A
translação pode ser comparada a uma sucção, de todos os vivos até a
presença de Cristo nos ares. Neste momento é selada a união da Igreja com
Jesus para a eternidade, que nada separará. As “nuvens” também podem ser
entendidas com um significado simbólico como diz Hendriksen: “Estão
associadas à vinda do Senhor em majestade, para a punição dos inimigos de
seus santos, portanto, para a salvação de seu povo (Cf. Dn 7.13/a seguir
Mt26.64; finalmente, Êx 19. 16,20; Sl.97.2, Na.1.3) ” (HENDRIKSEN, 2.007,
p.140).
Dentro desta proposta de interpretação vemos mais uma possibilidade,
para dizer que o Apóstolo Paulo, menciona as “nuvens”, porém preferimos ficar
com uma citação da expressividade gloriosa do momento, que ocorrerá o
arrebatamento impactando os “ares”, ou seja, os céus. Mas, também não
radicalizamos, descartando outras hipóteses como a que citei de Hendriksen. O
que este versículo nos deixa é que este será o encontro glorioso do povo de
Deus com o seu Senhor e Soberano Rei.
Concluindo essa parte, que nos trouxe uma interpretação sobre os três textos
fundamentadores do evento glorioso do arrebatamento, podemos pontuar
alguns fatos a ocorrer neste acontecimento. Tais como, Jesus virá nos ares,
com o sentido de buscar aqueles que o aguardaram, mantendo-se fiéis. Fica
também evidente nas três passagens, em relação ao momento do
arrebatamento, que será um momento causador da esperança da Igreja, a
simultaneidade dos mortos ressuscitando e os vivos indo aos ares se
encontrar, trazem o sentido de que ocorrerá dois fenômenos em fração de
segundos, mortos ressuscitando e sendo erguidos em estado de glóriaaté Ele e
os vivos sendo transladados todos ao mesmo tempo em um só movimento até
aos ares, para se encontrarem com Cristo. Fica explícito nestas passagens que
o arrebatamento não será sucedido de um julgamento como na Segunda
Vinda, pois não é citado nem juízo e nem julgamento no contexto imediato
destas passagens. Portanto, ficam bem distinto e evidente, a diferença e
propósito destes eventos, a partir da interpretação que se faz, da forma como
apresentamos destes três textos.

Você também pode gostar