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Uma pesquisa mostra que a preferência alimentar das bactérias do sistema digestivo pode definir nosso
paladar. Elas escolhem nosso cardápio?
Dieta
Uma mulher come um sanduíche de cogumelos com salada de folhas. A flora intestinal dos vegetarianos é dominada por bactérias Prevotella, que
ajudam a digerir os vegetais (Foto: Getty Images )
O estudo foi feito com um grupo de estudantes cuja dieta foi monitorada. Por dez dias, os
carnívoros foram submetidos a uma dieta vegetariana. Os vegetarianos foram obrigados a comer
carne. “Basta um dia da nova dieta para a flora começar a mudar,” diz Hoffmann. “Ao fim dos dez
dias, a mudança foi sensível. Mas não suficiente para destronar a bactéria dominante. Mudar de
um grupo para outro pode levar meses ou anos.”
A pesquisa despertou uma questão. As bactérias influenciam nosso paladar? Ou nossa dieta é
que determina nossa flora intestinal? “É a pergunta que fazemos todos os dias no laboratório”, diz
Hoffmann. Se as bactérias comandam nosso paladar, isso poderia explicar por que é tão difícil
mudar os hábitos alimentares. Quem passou por um processo de reeducação alimentar sabe
como é complicado largar o refrigerante, o doce, a massa, a cervejinha, as frituras e a picanha,
em troca da saladinha e do frango grelhado. Exige disciplina e força de vontade.
Se a culpa for mesmo das bactérias, novos tratamentos, que mudem a composição da flora
intestinal, podem ajudar nas dietas. “Daqui cinco anos, será possível mapear o microbioma de um
paciente e desenvolver tratamentos sob medida para mudar sua composição da flora”, diz
Hoffmann. Outra possibilidade seria usar tratamentos de flora intestinal para eliminar a
intolerância à lactose. A lactose é o açúcar do leite. O sistema digestivo dos bebês é capaz de
digerir a lactose. Mas, quando a criança desmama, a maioria perde essa capacidade. É a
intolerância à lactose. Segundo Hoffmann, essa condição poderá ser atenuada com um
tratamento à base da bactéria Bacteroides especializada em digerir laticínios. “As bactérias
consumirão a lactose, que causa mal-estar, eliminando os sintomas.” No futuro, tratamentos à
base da bactéria Prevotella poderão ajudar os diabéticos a eliminar o açúcar que não conseguem
digerir. Outra hipótese é combater o alcoolismo reduzindo a composição de Ruminococcus no
sistema digestivo. “Mas isso, por enquanto, é uma possibilidade esotérica”, diz Hoffmann.