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Taxas de concepção e prenhez de vacas mestiças

(3/8 Holandês x 5/8 Gir) submetidas a um tratamento


hormonal à base de GnRH e prostaglandina F2α αe
inseminadas com hora marcada1
Conception and pregnancy rates of crossbred dairy cows (3/8 Holstein x
5/8 Gir) treated with GnRH and prostaglandin F2α and time-inseminated
Péricles Afonso Montezuma Júnior2, Alethéia Carízia Baracho de Lima2, Arlindo de Alencar Araripe Moura2, Airton Alencar
de Araújo2 e Carlos Eduardo Azevedo Souza2
.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
................................................. . . . . . . . .

RESUMO
Um experimento foi conduzido a fim de avaliar as taxas de concepção e prenhez de vacas mestiças tratadas com
GnRH e PGF2α (Ovsynch) na região semi-árida do Nordeste brasileiro. Quarenta e duas vacas (171,5 ± 63,7 dias pós-
parto; 34 primíparas e oito de 2a lactação) com escore corporal de 3, 3 ± 0, 3, foram divididas em dois tratamentos.
No grupo controle, os animais não receberam tratamento hormonal e foram inseminados a partir da observação do
estro e no grupo “Ovsynch”, inseminados após 15 horas, sem detecção do estro. Nos dois grupos, realizaram-se no
máximo três serviços. Antes dos tratamentos, 19% das vacas apresentaram corpo lúteo, enquanto o restante apresen-
tava folículos com diâmetro de 7,5 ±1,9 mm. Não foram incluídas fêmeas com histórico de alterações reprodutivas.
Confirmou-se a gestação através de ultra-sonografia 45 a 50 dias após as inseminações. Os resultados foram avalia-
dos através de análise de variância (P<0,05). A taxa de prenhez no primeiro serviço (57,1%) e após o término do
experimento (66,7%) foram idênticas para os grupos Ovsynch e controle. As vacas não lactantes tiveram maiores
taxas de prenhez, mas as diferenças foram significativas somente no grupo Ovsynch, o que sugere que a lactação
influenciou a atividade reprodutiva. No entanto, a razão deste efeito significativo no grupo Ovsynch não pôde ser
esclarecida. O intervalo parto/concepção foi semelhante para os dois grupos. No entanto, o tratamento hormonal
(Ovsynch) é uma opção para o manejo de vacas no anestro pós-parto, desde que seja realizado mais precocemente em
relação aos animais deste experimento, visando a redução do intervalo parto/concepção.
Termos para indexação: Estro, fertilidade, Ovsynch, semi-árido.

ABSTRACT
An experiment was carried out to evaluate, in the semi-arid region of the Brazilian Northeast, the conception and
pregnancy rates of crossbred cows treated with GnRH and PGF2α (Ovsynch). Forty two cows (171.5 ± 63.7 days
in milk; 34 primiparous; and eight of 2nd lactation) with an average body condition score of 3.3 ± 0.3 were allocated
in two treatments. In the control group, the animals did not receive hormonal treatment and were inseminated at
observed estrous. In the Ovsynch group, cows were inseminated 15 hours afterwards, without detection of estrus. In
both groups, cows were serviced up to three times. Before the experiment, 19% of the cows had a corpus luteum and
the others, showed follicles with a diameter of 7.5 ± 1.9 mm. Cows that had reproductive disorders were not
included in the treatments. Gestation was detected through ultra-som 45 to 50 days after inseminations and the
results, evaluated by analysis of variance (P<0.05). Overall pregnancy rate (66.7%) and at first service (57.1%) was
identical for both control and Ovsynch groups. Moreover, pregnancy rates were higher for dry cows, although only
significant within the Ovsynch group, suggesting that lactation influenced the reproductive performance of the cows.
However, the reason for a significant effect only in the Ovsynch group was not clear. Despite there were no difference
in the calving –conception interval between the groups, Ovsynch treatment can be an optional tool in the reproductive
management of anestrous cows in the postpartum. However, this treatment should be started earlier in the postpartum
compared to our study, with the objective of reducing the calving-conception interval.
Intex Terms: Estrous, fertility, Ovsynch, semiarid.
1 Recebido para publicação em: 01/12/2003. Aprovado em: 06/07/2004.
Parte da tese de mestrado do primeiro autor, submetida ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
2 Departamento de Zootecnia - UFC, Av. Mister Hull, s/n Campus do Pici, CEP: 60.021-970, Fortaleza/CE. E-mail: amoura@ufc.br
3 Departamento de Zootecnia - UFC, Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade Estadual do Ceará. E-mail: aaaraujo@zipmail.com.br

Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, NO.2, jul.-dez., 2004: 399 - 405 399
P. A. Montezuma Júnior et al.

Introdução das em rebanhos puros Bos taurus, com níveis de


produção e sistemas de manejo, na maioria das ve-
O Brasil possui um dos maiores rebanhos bo- zes, diferentes dos empregados no Brasil e especial-
vino do mundo e produz mais de 20 bilhões de litros mente na região Nordeste. Em pesquisas conduzidas
de leite por ano (IBGE, 2001; Vilela, 1999). Embora no Sudeste do Brasil com a raça holandesa (Alvarez
estes valores sejam significativos, os índices et al., 1999); a Pitangueira e a Santa Gertrudes (Ri-
reprodutivos do rebanho brasileiro ainda são discre- beiro et al., 2001) e a raça Gir em anestro (Alvarez et
tos na maioria das propriedades, com idade à pri- al., 2003), os resultados alcançados com o protocolo
meira cobrição tardia e intervalo de partos longos. Ovsynch, foram associados a reduzidas taxas de
As razões para este desempenho são várias, mas prenhez. Por outro lado, o tratamento hormonal re-
certamente a nutrição, o estado sanitário e o manejo sultou em similares porcentagens de prenhez seme-
reprodutivo são os fatores que exercem maior influ- lhantes ou superiores àquelas obtidas com
ência sobre as fêmeas. O estado do Ceará alcança a observação das fêmeas para a ocorrência de estro
produção anual de 350 milhões de litros de leite e é o nas raças Mantiqueira e Caracu (Alvarez et al., 2003)
segundo maior produtor do Nordeste (IBGE, 2001). e Nelore (Fernandes et al., 2001). Independente dos
Mas os indicadores de produtividade precisam ser possíveis efeitos da raça e do manejo imposto aos
melhorados em função da crescente competitividade animais; a grande variação nos resultados certamente
dos mercados e custos de produção. Face a estes indica que a eficácia do protocolo Ovsynch precisa
desafios, os produtores têm investido na exploração ainda ser avaliada em rebanhos explorados em re-
de animais com maior capacidade produtiva mas giões tropicais.
isto pressupõe a melhoria nas práticas de manejo, Deve-se considerar que os processos
na ambiência, na adequação e geração de reprodutivos podem variar de acordo com o
tecnologias diante da realidade da zona Semi-árida grupamento racial. Vacas Brahman (Bos indicus)
da Região Nordeste, do nível de produção e do tipo apresentam estro mais curto e menor resposta à apli-
de animais explorados. cação de estradiol, quando comparadas a vacas
Dentre os processos reprodutivos da fêmea Hereford (Bos taurus) ou mestiças Hereford x
bovina, o retorno ao estro após o parto constitui-se Brahman. Da mesma forma, as vacas Brahman as-
num evento importante e repercute diretamente na sumem a atividade do eixo hipotálamo mais lenta-
duração do intervalo entre partos, entre outras vari- mente na fase de pós-parto e, quando submetidas a
áveis, e influencia a porcentagem de vacas em tratamento com GnRH exógeno, apresentam meno-
lactação (Hamudikuwanda et al., 1987). A nutrição res concentrações de LH do que fêmeas Hereford
afeta várias funções reprodutivas em vacas leiteiras (Randel, 1994). Em vacas Nelore, a duração do estro
e um manejo nutricional deficiente antes e após o é menor do que em vacas Bos taurus (Pinheiro et al.,
parto influencia o crescimento folicular no pós-parto 1998).
devido à liberação insuficiente de GnRH e A zona Semi-árida do Nordeste, com predo-
gonadotrofinas (Pettit et al., 1993; Costumier, 1996; minância de rebanhos Holandês x Zebu, possui ca-
Reist et al., 2003). Segundo Tainturier (1999), 27,0% racterísticas climáticas peculiares, com uma época
das vacas leiteiras apresentam ovários em repouso seca longa e intensa radiação solar, o que geralmente
ou bloqueados em um estádio qualquer do ciclo influencia a disponibilidade e a qualidade dos ali-
estral. No entanto, há casos em que a terapia mentos ao longo de todo o ano. Apesar de estudos
hormonal pode ser utilizada quando a produção indicarem que as condições de temperatura elevada
endógena de hormônios é deficiente, sem identifica- e de baixa a média umidade relativa do ar do Semi-
ção dos fatores etiológicos (Grunert, 1979). Proce- árido estão associadas ao estresse ameno ou mode-
dimentos à base de GnRH e prostaglandina F2α têm rado e a poucas variações na temperatura retal e
sido desenvolvidos com o objetivo de estimular e sin- nas freqüências cardíaca e respiratória (Oliveira Neto
cronizar a ovulação e quando associados à et al., 2001; Pimentel et al., Lima e Moura, 2002a,b;
inseminação com hora marcada (protocolo 2002, 2003), a possibilidade desses fatores influen-
“Ovsynch”; Pursley et al., 1997a), dispensa a obser- ciarem as respostas das fêmeas a tratamentos
vação das vacas para a ocorrência do estro. No en- hormonais não pode ser descartada. É comprovado
tanto, embora estas estratégias de tratamento que o estresse térmico causa inibição do comporta-
hormonal possam ser úteis para os produtores de mento de estro, bem como, a ocorrência deste não
leite, elas foram inicialmente desenvolvidas e valida- acompanhado de ovulação, além de alterações na

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Taxas de concepção e prenhez de vacas mestiças submetidas a um tratamento hormonal à base de GnRH e prostaglandina ...

concentração de estradiol 17-b e na luteólise (Wil- GnRH, os animais foram inseminados sem obser-
son et al., 1998; Younas et al., 1993). Estudos tam- vação das fêmeas para a ocorrência de estro. As
bém mostram que temperaturas elevadas afetam a vacas tratadas que retornaram ao estro foram
qualidade de oócitos e a viabilidade de embriões em inseminadas novamente até, no máximo, mais duas
vacas Bos taurus, mas que estes efeitos são menores vezes. As vacas não tratadas ou controle (n = 21)
em animais Bos indicus (Rocha et al., 1998). Por- não sofreram aplicação hormonal e, a partir do iní-
tanto, este trabalho teve como principal objetivo ava- cio do tratamento hormonal do grupo 1 (DIA zero),
liar a taxa de concepção e prenhez de vacas mestiças, foram observadas duas vezes por dia para identifi-
3/8 Holandês x 5/8 Gir, submetidas a tratamento cação de sinais visuais de estro e, em caso positivo,
hormonal com análogos sintéticos do GnRH e foram inseminadas 12 horas após seu início. As va-
PGF2α (protocolo “Ovsynch”) e inseminação artifi- cas de ambos os grupos foram passíveis de
cial com hora marcada em um sistema de produção inseminação durante um período de 84 dias, a par-
de leite no semi-árido do Ceará. tir do DIA zero.
Em ambos os grupos, as inseminações foram
realizadas pelo mesmo técnico, utilizando-se sêmen
Material e Métodos do mesmo touro e a gestação, confirmada através de
ultra-sonografia entre 45 e 50 dias após as
Localização do experimento inseminações. Os animais utilizados no estudo apre-
O experimento foi conduzido na Fazenda Re- sentavam, em média, 171,5 ± 63,7 dias pós-parto,
cife da Companhia de Alimentos do Nordeste Ltda com 34 vacas de primeira lactação e oito, de segunda
(CIALNE), localizada no Município de Umirim-CE, lactação, sendo 11 vacas não lactantes e 23 lactantes.
com 3,67° de latitude sul e 39,35° de longitude oeste Estas com produção média de 9,4 kg de leite/
(IBGE, 2001). A região é classificada, segundo dia. Nenhum dos animais apresentava histórico de
Koppen, como tropical semi-árida, com precipitação parto distócico ou de retenção placentária, tampouco
média histórica de 1.074,5 mm, concentrada nos infecção uterina severa ou moderada, de acordo com
meses de janeiro a maio, temperatura máxima e mí- exame feito através de palpação retal realizada dois
nima de 34,8 °C e 22,3°C, respectivamente, e umida- dias antes do início do experimento. Nesta fase, os
de relativa do ar média de 44,3% durante o dia e de animais também foram avaliados quanto ao escore
78,8 % à noite (FUNCEME, 2001). A fazenda Recife corporal, numa escala de um a cinco (Wildman et
possuía, no período do experimento, entre outubro - al.,1982) e submetidos a exame dos ovários através
meados da época seca e dezembro - fim do período de ultra-som. Em média, as vacas apresentaram es-
seco de 2000, uma produção de 3.300 litros de leite core de 3,3 ± 0,3, destas a maioria (38) com escore
por dia, com média de 12,4 litros/vaca/dia. 3,0 ou 3,5 e apenas duas com escore de 2,5 e duas
com escore 4,0. De todos os animais avaliados, 19,0%
apresentaram corpo lúteo e o restante (81,0%), ape-
Manejo dos animais e delineamento experi- nas estruturas foliculares com diâmetro de 7,5 ± 1,9 mm.
mental Em função das características dos animais antes do
Quarenta e duas vacas mestiças, 3/8 Holan- experimento, isto é, ordem de parto; vacas não
dês x 5/8 Gir foram distribuídas em dois grupos lactantes e lactantes; fase lútea e fase folicular, pro-
(tratados e controle). No grupo de animais tra- curou-se distribuí-los de forma equilibrada entre os
tados (n = 21), os animais foram submetidos a um dois tratamentos.
protocolo hormonal (Ovsynch) à base de PGF2α e A taxa de prenhez foi obtida pela relação
GnRH: “DIA zero” - aplicação de 2,5 mL de GnRH entre o número de vacas diagnosticadas prenhes
(D - Ser [Bu] - Pro - LHRH [1-9] nonapeptide e o número de vacas utilizadas em cada tratamento;
ethylamide - acetato de buserilina 0,0042 mg/mL; a taxa de concepção pela relação entre o número
Akzo Nobel, Intervet, Brasil), por via intramuscular; de vacas diagnosticadas prenhes e o número de
“DIA sete” - 2,0 mL de prostaglandina F2α (D- vacas inseminadas (Pursley et al., 1997b;
cloprostenol sódico 7,5 mg/100 mL; Akzo Nobel, Stevenson et al., 1999). Estas taxas foram calcu-
Intervet); “DIA nove” - segunda dose de GnRH. A ladas considerando o numero de vacas gestantes
administração dos hormônios foi feita sempre às 17 no primeiro serviço (IA) ou após 3 serviços (taxas
horas. Após 14 a 15 horas da última aplicação de de prenhez e concepção totais).

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P. A. Montezuma Júnior et al.

Análise estatística As vacas não lactantes tiveram maiores taxas


Os efeitos dos tratamentos foram avaliados de prenhez e concepção no presente estudo, mas as
através de análise de variância (SAS, 2000), de acor- diferenças foram significativas somente no grupo
do com o seguinte modelo estatístico: “Ovsynch” (Tabela 1). De início, estes resultados su-
gerem que a produção de leite, mesmo no fim da lactação
Yijk = µ + Ti + Gj + Eijk e em níveis reduzidos (média de 9,4 kg/vaca/dia), pode
Yijk = intervalo parto/primeiro estro; período de ter influenciado a atividade ovariana dos animais. No
serviço; taxa de concepção; µ = média geral; Ti= efeito entanto, a razão pela qual este efeito foi significativo
do tratamento; Gj= efeito da lactação (vaca não lactante somente nos animais tratados não pode ser
ou em lactação); Eijk = erro associado a cada observa- esclarecida e o pequeno número de vacas não lactantes
ção, assumindo uma distribuição normal . e lactantes dentro dos tratamentos limita o processo
de inferência com relação a este tema. Neste caso,
avaliações mais detalhadas sobre o desenvolvimento
folicular, concentrações hormonais, nutrição e re-
Resultados e Discussão servas corporais das vacas precisariam ser
conduzidas.
Os animais tratados com GnRH e PGF2α e os
do grupo controle apresentaram desempenho idêntico Não houve diferença significativa entre os tra-
com relação à taxa de prenhez após a primeira tamentos de dias do intervalo parto/concepção (no
inseminação (57,1%) e ao término do experimento primeiro serviço) entre as vacas tratadas (182,5 dias)
(66,7%; Tabela 1). Duas vacas do grupo controle não ou não (182 dias) com hormônios. No entanto, quando
apresentaram estro e portanto não foram inseminadas, a avaliação foi realizada entre os grupos das vacas
o que resultou em uma maior taxa de concepção para não lactantes e lactantes, houve obviamente uma van-
as vacas do grupo controle, embora sem diferença sig- tagem para as últimas pois as fêmeas não lactantes
nificativa (P > 0,05). Resultados semelhantes aos aqui saíram da lactação com um maior período acumula-
apresentados foram descritos por Peters e Pursley do de dias pós-parto. Estes trabalhos foram conduzi-
(2002), em trabalho com vacas holandesas pré-sin- dos com animais antes dos 100 dias de lactação (ao
cronizadas submetidas ao protocolo Ovsynch. Outros contrário do presente estudo onde se utilizou vacas
estudos relatam taxas de concepção um pouco me- com média de 172 dias pós-parto) e, nesta fase, a
nores mas, conforme observado neste estudo, sem di- elevada produção de leite exerce efeito mais signifi-
ferenças entre animais tratados ou não (38,9% vs cativo sobre a partição de nutrientes e reservas cor-
37,8%, Pursley et al., 1997b; 49,0 vs 55,0%, Klindworth porais e, portanto, a capacidade dos animais
et al. 2001). Em experimentos com vacas Holande- apresentarem crescimento folicular depende de for-
sas, Pitangueira ou Caracu, Alvarez et al. (2003) tam- ma mais pronunciada de estímulos hormonais
bém não relataram diferenças significativas entre exógenos. Em trabalhos publicados sobre a análise
animais tratados (41,4%) ou não (53,1%) com GnRH, de dados de fazendas, onde se avaliou um grande
PGF2α e GnRH. No entanto, Momcilovic et al. (1998) número de informações durante vários anos, o em-
obtiveram taxas de prenhez significativamente maio- prego de GnRH ou PGF2α para estímulo à atividade
res (33,0 vs 6,0%) e menor intervalo entre parto e con- reprodutiva em vacas sadias, não causou incremen-
cepção devido ao uso do protocolo Ovsynch em vacas tos nas taxas de prenhez mas apenas manteve as va-
Bos taurus e Klindworth et al. (2001) mostraram dife- cas tratadas no mesmo nível daquelas que não
renças (P < 0,05) entre as vacas tratadas ou não com precisam de tratamento hormonal (Kinsel e
o mesmo protocolo (54,0 vs 40,0%). No Brasil, Alvarez Etherington, 1998). Embora não se tenha avaliado o
et al. (2003) encontraram, para animais submetidos método Ovsynch propriamente dito, estes resultados
ao protocolo Ovsynch, taxas de prenhez (76,7%) um sugerem que a opção pelo uso de hormônios exógenos
pouco mais elevadas do que as descritas no presente pode auxiliar a reprodução daquelas vacas que de
estudo, mas com diferença significativa do grupo outra forma não teriam desempenho reprodutivo
controle inseminado após a observação de estro (64,5%). satisfatório em rebanhos comerciais. No entanto, no
Possivelmente, o programa nutricional, sanidade, es- caso de animais com problemas reprodutivos mais
tágio de lactação, nível de produção e condições ge- graves, como anestro prolongado e patologias ovari-
rais do manejo dos animais devem estar relacionados anas, a utilização do tratamento Ovsynch não esteve
a estas diferenças entre os resultados obtidos com o associado a melhorias na fertilidade (Lopez-Gatius
método Ovsynch. et al., 2001; Alvarez et al., 2003).

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Taxas de concepção e prenhez de vacas mestiças submetidas a um tratamento hormonal à base de GnRH e prostaglandina ...

Neste experimento, existiu uma vantagem nu- ção em vacas de leite inseminadas artificialmente
mérica muito grande das fêmeas de primeiro parto (Momcilovic et al., 1998). No presente experimento,
(n = 34) e portanto, não foram comparados os índices todas as vacas foram submetidas ao tratamento
reprodutivos entre esta categoria e o grupo de vacas de hormonal quando estavam não lactantes ou no fim da
2o parto. Porém, esperou-se que, para ambos os grupos lactação, estas últimas já com uma produção de leite
Ovsynch e controle, as taxas de concepção fossem reduzida, o que provavelmente contribuiu para que a
menores do que as encontradas devido ao grande nú- lactação exercesse um menor estresse sobre a atividade
mero de fêmeas primíparas. Neste sentido, Pursley et reprodutiva no pós-parto. O fato de se utilizar animais
al. (1998) observaram melhores taxas de prenhez em com escore corporal médio de 3,3, sem histórico de
vacas de segunda (43,0%) do que de primeira lactação retenção placentária, partos distócicos ou com infec-
(36,0%) tratadas com o protocolo Ovsynch. Klindworth ções uterinas pode também ter contribuído para as ta-
et al. (2001) também observaram que vacas Bos taurus xas de concepção obtidas neste estudo, mesmo com
taurus de primeira lactação apresentaram menor taxa um grupo predominante de fêmeas primíparas. Vacas
de concepção quando tratadas com Ovsynch (38,0% com condição corporal ruim precisam de um período
vs 71,0%; P<0,01), mas esta diferença não foi obser- mais longo para apresentar atividade ovariana cíclica
vada nas demais ordens de lactação. No entanto, um do que aquelas com escore melhor. Outros estudos
estudo sobre diferentes tratamentos hormonais, inclu- mostraram que a condição corporal inferior a 2,75 in-
sive o Ovsynch, para sincronização de estro não foi fluencia negativamente os resultados do protocolo
observado efeito da ordem de parto na taxa de concep- Ovsynch em vacas leiteiras (Klindworth et al., 2001).

Tabela 1 - Índices de prenhez e concepção em vacas mestiças (3/8 Holandês x 5/8 Gir) inseminadas com observação de estro (controle)
ou submetidas ao tratamento hormonal “Ovsynch”, no semi-árido do Ceará.
Tratamentos
Controle Ovsynch
Não Lactante Lactante Total Lactante Lactante Total
n % n % N % n % n % n %

Prenhez: 1o serviço 6/10 60a 6/11 54,5a 12/21 57,1A 6/9 66,7a 6/12 50b 12/21 57,1A
Prenhez total1 7/10 70a 7/11 63,6a 14/21 66,7A 7/9 77,8a 7/12 58,3b 14/21 66,7A
Concepção: 1o serviço 6/9 66,7a 6/10 63,6a 12/19 63,1A 6/9 66,7a 6/12 50b 12/21 57,1A
Concepção: total1 7/9 77,8a 7/10 70a 14/19 73,7A 7/9 77,8a 7/12 58,3b 14/21 66,7A
1
Taxas de concepção e prenhez determinadas após três inseminações.
Letras maiúsculas referem-se aos resultados dos testes estatísticos entre os tratamentos “controle” e “Ovsynch” e as letras minúsculas, entre os grupos de
vacas não lactantes e lactantes dentro de cada tratamento (P < 0,05).

Conclusão e PGF2α; CAPES e FUNCAP , pelo financiamento de


Nas condições deste estudo, o uso de GnRH e bolsas de mestrado para os Méd. Veterinários Péricles
PGF pode ser uma estratégia eficiente para o mane- Afonso Montezuma Júnior, Alethéia Carízia Baracho
jo reprodutivo de vacas mestiças, uma vez que dis- Lima e Carlos Eduardo Azevedo Souza.
pensa a observação de cio e está associado a índices
de prenhez semelhantes ao de vacas não tratadas.
No entanto, este tratamento hormonal não deve ser
indicado com o objetivo único de melhorar as taxas Referências Bibliográficas
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Inseminação artificial em tempo pré-fixado em reba-
Agradecimentos nho holandês, ineficiência do tratamento Ovsynch ?
Revista Brasileira de Reprodução Animal,
Os autores gostariam de tornar público os se- Belo Horizonte, v.23, n.3, p.326-328, 1999.
guintes agradecimentos: Empresa CIALNE; por ter ce-
dido as instalações e animais para realização da ALVAREZ, R. H.; MARTINEZ, A. C.; CARVALHO, J.
pesquisa, INTERVET - Brasil, pelo suprimento de GnRH B. P.; ARCARO, J. R. P.; PIRES, R. M. L.; OLIVEIRA,

Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, NO.2, jul.-dez., 2004: 399 - 405 403
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