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RESENHA DO ARTIGO: ENVELHECENDO PASSO A PASSO

Teixeira, P. (2006). Envelhecendo passo a


passo. O Portal dos Psicólogos.

Resenhista: Alberto Abad1

Considerando a crescente velocidade de interconexão e integração de atividades


transculturais, cientificas e tecnológicas e a transição da sociedade da informação à sociedade
do conhecimento, ressaltasse o stress existente na população, o pouco tempo para o cuidado
pessoal e as cada vez menos oportunidades de interação cara a cara com os outros. A cada vez
mais velha população global exige um estudo aprofundado da velhice. Nesse sentido, o objetivo
deste texto é apresentar a resenha do artigo “Envelhecendo passo a passo” publicado no Portal
dos Psicólogos. O autor, Paulo Teixeira (Licenciado em Psicologia pela Universidade Lusíada
do Porto) considera o envelhecimento como um fenómeno biológico, psicológico e social, com
influencias sobre o ser humano ao modificar sua relação com o tempo, sua relação com o mundo
(p. ex., dificuldades adaptativas emocionais e fisiológicas, trabalho, performance social,
alterações em valores) e sua história (p. ex., novos significados a fatos antigos, afetividade mais
madura).

Na primeira parte do texto, a maneira de introdução, o autor cita vários autores e a suas
percepções sobre o processo de envelhecimento: inicialmente, considera o ponto de vista de
Ballone (2000) que observa a dinâmica psíquica do idoso é exuberante, rica e complicada. No
que tange ao processo de envelhecimento, o ser humano pode rejeitá-lo, assim com muitas vezes
rejeita a morte (Morin, 2000) na forma de inventar mitos para aceita-lo. Morin chama a atenção
para a perda de autoridade que os idosos enfrenta à medida que o desenvolvimento das
civilizações acontece, ao serem os impulsos juvenis aceleradores da história: o que torna a
experiência dos idosos obsoleta.

1
Doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em Estudos de Fronteira PPGEF-
UNIFAP, formado em Psicologia e Administração, com pós-graduação em Hipnoterapia Ericksoniana e
Programação Neolinguística. Professor de Psicologia na Universidade CUT (México), e UNIDEP (México). Projetos
de pesquisa em andamento: “A formação de professores na perspectiva da educação inclusiva” e “O perfil
socioeconômico e as dinâmicas da vida social dos migrantes e refugiados residentes na região fronteiriça franco-
brasileira (Guiana Francesa e Amapá). alpabad@hotmail.com
Freud também é citado pelo autor, contribuindo no texto com a ideia que os
determinantes patogénicos envolvidos nos transtornos mentais poderiam ser divididos em duas
partes: aqueles que a pessoa traz consigo para a vida e; aqueles que a vida lhe traz. Nesse
sentido, o autor afirma que o equilíbrio psíquico do idoso depende da sua capacidade de
adaptação à sua existência presente e passada e das condições da realidade que o cercam,
considerando o equilíbrio psíquico do idoso como dependente tanto da sua capacidade de
adaptação, quanto das condições da realidade em que vive (porém, infelizmente não coloca a
referência para validar esse comentário).

No seu turno, utiliza o conceito de representação social de Moscovici: “por


representação social nós queremos dizer um conjunto de conceitos, afirmações e explicações
originadas no decurso do quotidiano, no decurso das comunicações interindividuais. Elas são
equivalentes na nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais;
elas podem até mesmo ser vistas como uma versão contemporânea de senso comum.” (a citação
não apresenta o número de página). Teixeira (2006) explica que Moscovici faz uma distinção
entre os universos de conhecimentos consensuais (constituído a partir das experiências e
informações das tradições, da educação e da comunicação social entre os grupos) e os universos
de conhecimentos reificados (a sociedade vista como um sistema de diferentes papéis e classes,
cujos membros são desiguais, e que atingirão o lugar desejado em correspondência com a sua
competência profissional).

Teixeira (2006) ressalta que o interesse da psicologia sobre a velhice é recente, e


principalmente influída pelo rápido crescimento do número de pessoas idosas apesar das
primeiras pesquisas experimentais dobre esse tema começaram em 1928. O autor, citando a
Baltes (1995) explica que a emergência dada Psicologia do envelhecimento foi uma
consequência de duas correntes de interesses: das consequências que teriam, para a velhice, as
experiências de desenvolvimento ocorridas na infância e na adolescência; e dos estudos dos
psicólogos que trabalhavam com a vida adulta e velhice que passaram a estender o âmbito dos
seus conhecimentos e estudos para a direção oposta do curso de vida (Baltes, 1995).

Também foi considerada pelo autor a Teoria do Desenvolvimento durante toda a vida
de Erick Erickson, e seus estágios psicossociais. Ressalta o período da vida adulta (integridade
versus desespero) que é caracterizada por fatores intrínsecos à velhice (dignidade, prudência,
sabedoria prática e aceitação do modo de viver e desespero seriam possivelmente medo da
morte). Assim sendo, Erickson, através destes estudos contribuiu significativamente para a
compreensão das transformações ocorridas na velhice e ofereceu sínteses sobre o
desenvolvimento cognitivo e da personalidade, sobretudo na vida adulta (Bee & Mitchell,
1984). Na mesma linha Ericksoniana, Teixeira (2006) assinala a teoria de Gould (1978) que
enfatiza os processos do desenvolvimento da velhice, propondo também estágios de
desenvolvimento.

Na segunda parte do texto, Teixeira (2006) aborda os aspectos gerais do


envelhecimento e inicia com o conceito de senescência que é o processo natural do
envelhecimento, o qual compromete progressivamente aspectos físicos e cognitivos. Com
alicerces na Organização Mundial da Saúde (OMS) terceira idade, para efeitos de pesquisa, tem
início entre os 60 e os 65 anos (ou seja, no meu caso estou bem pertinho). Porém, os fatores
biológicos, psíquicos e sociais determinam o processo de envelhecimento.

De tal modo, o envelhecimento fisiológico abrange uma série de mudanças nas funções
orgânicas e mentais com efeitos no declive gradual das funções fisiológicas e na capacidade de
manter o equilíbrio homeostático, esta última, significa que um organismo envelhecido, quando
submetido a situações de stress (físico, emocional, etc.) pode manifestar sobrecarga funcional
que culmine em processos patológicos (comprometimento dos sistemas endócrino, nervoso e
imunológico). Contudo, o envelhecimento fisiológico depende do estilo de vida que a pessoa
assume desde a infância ou adolescência (p. ex., fumar cigarros, praticar exercício físico, ingerir
alimentos saudáveis).

Outros processos fisiológicos também são modificados durante o envelhecimento


(perda de neurónios, desmielinização das fibras nervosas, deficiências nas sinapses,
disponibilidade de determinados neurotransmissores, diminuição da eficácia da oxigenação e
nutrição celular etc.). Além do anterior, as funções intelectuais também se alteram (dificuldade
nos processos de aprendizagem e memorização).

Na terceira parte, o autor alude às teorias do envelhecimento: Teoria do


Envelhecimento Celular; Teoria dos Telómeros; Teoria Neuro-endócrina; e as Teorias
Estocásticas. A Teoria do Envelhecimento Celular tem seu início nos esforços para
compreender o papel da célula no fenómeno de envelhecimento quando Weismann especulou
sobre a existência de um potencial limitado da capacidade de duplicação das células somáticas
nos animais superiores e posteriormente, Hayflick e Morhead (1961) confirmaram
experimentalmente esta suposição. Estudos que contribuíram para a evolução das teorias
gerontológicas com base no fenómeno do envelhecimento celular. Após estudos realizados
(Carrel, 1921; Hayflick & Morhead, 1961) demonstraram que a morte da cultura de células
humanas é uma consequência das características genéticas das próprias células.

Posteriormente, Hayflick (1980) identificou dois tipos de células in vivo com


comportamentos diferentes in vitro: células normais, diploides e mortais; e células cancerosas
anormais, heteroploides e imortais. Como consequência, em um estudo posterior, Hayflick
descreveu as propriedades das células diploides que explica a existência de um potencial de
duplicação celular inferior nas células adultas, comparativamente às células embrionárias.

No que tange a estudos em gémeos relacionados com a longevidade Teixeira (2006)


considera A existência de um único gene responsável pelo fenómeno de envelhecimento em
humanos parece pouco provável, apesar de terem já sido identificados alguns genes
relacionados com doenças específicas de idades avançadas (alelos específicos do gene da
apoplopoproteina E associados a um aumento do risco de desenvolvimento tardio da doença de
Alzheimer, variações nos alelos dos receptores da vitamina D associados a uma maior
susceptibilidade para a osteoporose, polimorfismos genéticos do gene HLA (Human Leucocyte
Antigen) associados a muitas doenças hereditárias, gene WRN localizado no cromossoma 8
responsável pelo envelhecimento acelerado dos indivíduos com Sindroma de Werner etc.).

A Teoria dos Telómeros explica a capacidade das células cancerosas em superar o


tempo de vida das células eucariotas normais. Os telômeros, protegem as extremidades dos
cromossomas da sua degeneração e da fusão com outros cromossomas, prevenindo a
instabilidade genômica. Desempenham também um papel importante indireto no controle da
proliferação das células normais e no crescimento anormal do cancro. Portanto, na ausência da
enzima telomerase em cada duplicação celular a célula perde entre 50 e 201 pares de bases,
nesse sentido, o encurtamento dos telómeros ocorre porque a maioria das células somáticas
normais não sintetiza telomerase. No entanto, nas células cancerosas, a síntese de telomerase é
activada, o que poderá contribuir para a capacidade destas células se dividirem
continuadamente.

Por outro lado, Teixeira (2006) aponta que independentemente da função dos
telômeros, à medida que as células se aproximam da fase da senescência começam a expressar
a proteína p53 que é particularmente importante no controlo do ciclo celular, estando a sua
inativação ou mutação associada a um aumento da proliferação celular. Assim sendo, o papel
dos telómeros no fenómeno de envelhecimento celular pode não ser tão decisivo como tem sido
descrito considerando que nos tecidos compostos por células pósmitóticas (neurónios e
cardiomiócitos) sua função é mais restrita. O fenómeno de envelhecimento nestes tecidos deve-
se à acumulação de lesões celulares sucessivas induzidas por fatores de natureza química ou
mecânica (aumento do stress oxidativo nas células nervosas). O autor conclui que o processo
de envelhecimento destes órgãos parece depender muito mais da ação de fatores estocásticos,
do que dos mecanismos de regulação genética.

Na sua vez, a Teoria Neuroendócrina aponta que o nível de envelhecimento é o


resultado do declínio de diversas hormonas do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal que
controlam o sistema reprodutor, o metabolismo e outros aspectos do funcionamento normal de
um organismo. Como Johnson e Finch (1996) ressaltam, a teoria defende que a atividade do
hipotálamo depende da expressão de genes específicos que alteram a sua expressão com a idade.

As Teorias Estocásticas citadas por Teixeira (2006) são: a Teoria das Mutações
Somáticas; a Teoria do Erro-catástrofe; a Teoria da Reparação do DNA; a Teoria da
Glicosilação; e a Teoria do Stress Oxidativo. De maneira geral, estas teorias sugerem que a
perda de funcionalidade que acompanha o fenómeno de envelhecimento é causada pela
acumulação aleatória de lesões, associadas à ação ambiental, em moléculas vitais, que
provocam um declínio fisiológico progressivo A primeira – Teoria das Mutações Somáticas
– surgiu da constatação que doses de radiações sub-letais são frequentemente acompanhadas
por uma diminuição do tempo de vida (determinadas indiretamente pela substituição de
aminoácidos, erros na síntese de DNA e resistência às purinas citotóxicas).

A segunda teoria, dentro do “epígrafe” de Teorias Estocásticas refere-se à Teoria do


Erro-catástrofe, proposta por Orgel (1963), em forma suscinta postula que os erros na síntese
de uma proteína podem ser utilizados na síntese de outras proteínas, levando a uma diminuição
progressiva da fidelidade e à eventual acumulação de proporções de proteínas aberrantes,
potencialmente letais, originando, eventualmente, patologias e disfunção celular. Para testar
esta teoria, Harley et al. (1980) determinaram a frequência dos erros na síntese proteica em
várias culturas de fibroblastos de dadores humanos, jovens e idosos, contudo, os resultados
destes estudos apontam para uma baixa influência da ocorrência de erros na tradução das
proteínas no fenómeno de envelhecimento.
A Teoria da Reparação do DNA desenvolvida por Hart e Setlow (1974), considera
que é a velocidade de reparação do DNA que determina o tempo de vida de indivíduos de
espécies diferentes e entre indivíduos da mesma espécie. No entanto, estes resultados não foram
confirmados em estudos posteriores realizados com outras espécies de mamíferos.

A Teoria da Glicosilação sugere que a modificação de proteínas pela glicose e a


associação de reações de Maillard (velocidade de reação que depende do tipo de açúcar dos
monossacárdios em circulação, a D-glicose é a que menos reage espontaneamente, enquanto
que a D-galactose, comparativamente, reage cinco vezes mais rápido) levam à formação de
ligações cruzadas graduais no colagéneo que são características nos indivíduos idosos. Assim,
um elevado nível de glicemia e de glicose tecidular conduzem à deterioração estrutural e
funcional dos tecidos.

Teixeira (2006) comenta que com o aumento da idade, é comum surgirem perturbações
na regulação da homeostasia da glicose em humanos. Enquanto que em jejum a glicose
sanguínea aumenta ligeiramente com a idade, após uma refeição, ou após a ingestão de glicose,
o aumento é mais acentuado. Os produtos finais da glicosilação são designados por AGE
(advanced glycation endproducts), e as disfunções causadas pelos AGE incluem: aumento da
pressão arterial devido à aterogenese, hipoteticamente por glicosilação das lipoproteinas de
baixa densidade (LDL); perda da acomodação ocular; incapacidade funcional das “células T de
memória”; inativação da Cu,Zn-SOD, nos erotrócitos, diminuindo a capacidade antioxidante
do sangue.

Finalmente a Teoria do Stress Oxidativo, proposto pela primeira vez por Harman
sopesa o envolvimento dos radicais livres (RL) no fenómeno do envelhecimento e na doença.
Destarte, o envelhecimento é o resultado da acumulação de lesões moleculares provocadas
pelas reações dos RL nos componentes celulares ao longo da vida, que conduzem à perda de
funcionalidade e à doença com o aumento da idade, conduzindo à morte. De uma maneira
simplificada, o termo RL refere-se a um átomo ou molécula altamente reativo, que contém
número ímpar de electrões na sua última camada que lhe confere alta reatividade a esses átomos
ou moléculas.

Por definição, stress oxidativo consiste num desequilíbrio entre oxidantes e


antioxidantes a favor do primeiro. A reação de um RL com outra molécula produz um RL
diferente, que pode ser mais ou menos reativa do que a espécie original. Existem assim, diversas
doenças associadas a esta teoria e o seu papel no envelhecimento (enfisema, displasia
broncopulmonar, pneumoconiose, fumo, doença de Parkinson, Alzheimer, Esclerose Múltipla
e Catarata). Portanto, o autor ressalta o porquê de antioxidantes naturais e sintéticos terem sido
recomendados. No entanto, muito deve ser investigado acerca do benefício dos antioxidantes
exógenos. É imperativo determinar o momento exato, a dose, a via de administração e qual o
antioxidante ideal para cada doença. Até ao momento não existem estudos que respondam com
segurança a estas indagações.

Numa quarta parte (o autor não especifica esta divisão), Teixeira (2006) realça o papel
da Psicologia no envelhecimento. Nesse intuito, discorre que segundo a OMS (2002) o
envelhecimento constitui um fenómeno tanto de uma população (expressa o êxito da
humanidade ao representar o resultado dos descobrimentos humanos e dos avanços de higiene,
nutrição, tecnologia médica e conquistas sociais), quanto de uma pessoa (o envelhecimento
constitui uma matéria de estudo bio-psico-social).

Contudo, segundo o autor, as condições psicológicas não seguem o mesmo padrão de


deterioração ao longo da vida que as condições biológicas. Nesse sentido, diferentes ramas da
psicologia compartilhado o envelhecimento como objeto de estudo. Como exemplo, a
plasticidade cognitiva é um programa de investigação básica e que constitui uma das diretivas
do Plano de Ação Internacional. A plasticidade, neste sentido, poderia definir-se como a
capacidade de aprendizagem, informação, estratégias ou habilidades que compensem deterioro
cognitivo, sendo a aprendizagem ao longo da vida, a educação contínua e a atividade cognitiva,
são objetivos prioritários, não só para o desenvolvimento e a participação dos adultos, mas
também porque afetam a saúde (tanto física como mental).

Teixeira (2006) ressalta que a Psicologia e o psicólogo, têm como objetivo geral
otimizar o processo adaptativo, tanto com intervenções sobre as necessidades do próprio
sujeito, bem como do seu ambiente familiar e social e elenca as áreas de intervenção prioritárias:
Necessidade de promover a Psicologia da saúde e o bem-estar no decurso da vida; Necessidade
de avaliação/intervenção psicológica na saúde mental das pessoas idosas; Necessidade de
avaliação/intervenção psicológica em pessoas idosas com deficiência; Necessidade de apoio
psicológico ás famílias; Necessidade de integração social e comunitária das pessoas idosas;
Necessidades de formação a outros profissionais sobre aspectos psicológicos implicados na
atenção de pessoas idosas.
No artigo Psychological Aspects of Aging (Gall & Szwabo, 2002), definem o
envelhecimento em forma abrangente, considerando três componentes: baixo risco de doença
e o conhecimento acerca da doença, alto nível de funcionamento mental e físico e um
envolvimento ativo no ciclo vital. Nesse sentido, o sucesso no envelhecimento se afasta da
definição em termos de doença e saúde para uma definição que ressalta a preservação das
habilidades ou adaptabilidade pode ser crítica. Portanto, a importância de ampliar Programas
onde regularmente ocorra atividade física, por parte de profissionais especializados, devem de
fazer parte do quotidiano das pessoas idosas. O relacionamento interpessoal e o envolvimento
em atividades são importantíssimos para dar um significado e um propósito pessoal à vida dos
idosos. O autor considera que a principal questão para um envelhecimento saudável é descobrir
ou redescobrir os relacionamentos próximos e o seu significado nas suas atividades.

Teixeira (2006) explica que a pessoa idosa deve confrontar e aceitar a sua vida
conforme ela é, assumindo a responsabilidade em todos os seus aspectos, incluindo as falhas.
Assim, cita um modelo alternativo ao de Erickson (dos papéis sociais), que indica que a pessoa
idosa é submetida a muitas mudanças de papéis em função da velhice. Essa alteração é
acompanhada por mudanças associadas ao conceito de si próprio. Infelizmente, à medida que a
idade vai avançando, a sociedade impõe um número crescente de restrições nos papéis que estão
disponíveis (afetando o autoconceito e como consequência a possibilidade de isolamento e até
depressão). Portanto, é essencial mudar o estereótipo negativo acerca do envelhecimento
(crenças acerca do inevitável declínio de funções), fator que leva outros adultos a sentir que
nada mais podem fazer para evitar tais declínios na sua saúde e funcionamento à medida que
envelhecem, e como resultado, a percepção do idoso do presente pode ser deprimente, se sentir
à parte da sociedade e inclusive sofrer maus tratos e negligência. Fatores que podem aumentar
o risco de suicídio.

Uma fonte significativa de stress para a pessoa idosa é a confrontação de perdas


sucessivas (morte esposa/o, filhos, netos, perda de controlo de tomada de decisão relacionados
com assuntos como saúde, mobilidade, situação de vida, finanças etc.) que tem efeito no sistema
de suporte social do indivíduo.

Finalmente a ultima parte do artigo refere-se à reabilitação neuropsicológica (RN).


Nesse intuito, Teixeira (2006) inicia com a definição de plasticidade neuronal segundo a qual
os neurónios adjacentes a uma lesão, podem progressivamente “aprender” a função da parte
danificada. A seguir, expõe os objetivos da RN: favorecer a recuperação de funções, isto é, a
recuperação da função em si mesma, dos meios, capacidades ou habilidades necessárias para
alcançar determinados objetivos; e favorecer a recuperação de objetivos, trabalhar com o doente
para que possa desenvolver e alcançar determinados objetivos usando meios diferentes ao usado
antes da lesão. Outra forma de explicar o anterior é a afirmação que o objetivo principal da
reabilitação é a optimização no funcionamento físico, vocacional e social depois de uma doença
ou dano neurológico (Rusk, H.A., Block, J.M., Lowman, E.W., 1969). O autor propõe como
objetivos básicos da RN: proporcionar um modelo que ajude o paciente e a sua família que
ajude a entender o que ocorreu; proporcionar estratégias de treino de habilidades para recuperar
e compensar os déficits cognitivos, melhorar a atuação do paciente em diferentes situações
sociais e ajudar o paciente a estabelecer compromissos realistas de trabalho e de relações
interpessoais; e promover um ambiente realístico de esperança.

Os programas de reabilitação, segundo Teixeira (2006) devem caracterizar-se por ser


programas holísticos, desenvolvidos por profissionais, interdisciplinares, com validade
ecológica considerando os seguintes aspectos: reabilitação das funções cognitivas; reabilitação
das funções executivas; e treino de habilidades sociais (treino de soluções de problemas sociais,
treino de habilidades pragmáticas da comunicação e treino de autocontrole) (Ojeda del pozo et
al., 2000); modificação das condutas desadaptativas e intervenção nas alterações de conduta e
emocionais provocadas pelo dano cerebral mediante a utilização de técnicas de modificação de
conduta; reabilitação laboral. Outro aspecto relevante considerado por Teixeira (2006) refere-
se à orientação e terapia familiar como requisito para facilitar o processo reabilitador da pessoa
afetada como para o bem-estar e a adaptação à nova situação familiar sendo que o apoio
psicossocial tem efeitos decisivos sobre a saúde mental.

Considerações finais do resenhista:

Desde um ponto de vista de conteúdo, o texto representa uma ampla fonte de


informação, de pesquisas e temas importantes tanto para investigadores experientes quanto para
aqueles que iniciam suas pesquisas no campo do desenvolvimento humano em geral e um
estudo mais aprofundado da velhice em particular. Neste sentido, o autor oferece uma
importante contribuição para a academia.

Credenciais do autor:

Paulo Teixeira – Licenciado em Psicologia pela Universidade Lusíada do Porto,


Portugal.
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