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Como ler Ellen White no século XXI

Autor: Pr. George R. Knight, historiador Adventista, ex-professor na


Universidade de Andrews. Atualmente, 
jubilado, mora em Rogue River,
Oregon, EUA
O que devemos fazer com uma escritora que aconselha as mulheres a encurtar os vestidos
em vinte centímetros, num mundo em que muitas já os usam curtos demais, ou que
recomenda que as escolas adventistas ensinem as meninas a arrear e montar cavalos, quando
a maioria delas nunca precisará desse conhecimento?

Parte do problema é que o mundo mudou radicalmente desde o tempo em que Ellen
White viveu. Esse, porém, não é o único aspecto que os leitores do século XXI precisam levar
em consideração quando leem e procuram aplicar os conselhos de um profeta que viveu em
tempo e lugar diferentes. Abaixo estão dez orientações que ajudarão nossa leitura dos escritos
de Ellen White a se tornar mais proveitosa e equilibrada. (1)

1. Concentre-se no assunto principal.


Uma pessoa pode ler os escritos de Ellen White de duas maneiras, pelo menos. Uma é
buscando o tema central; a outra é procurando coisas que são novas e diferentes. O primeiro
modo nos leva a uma compreensão mais acurada, enquanto o segundo leva a distorções no
sentido proposto pelo autor e geralmente leva a extremos, o que Ellen White detestava. Ela
mesma defendia o estudo da Bíblia mediante o qual os leitores procuram “ganhar
conhecimento do tema central ‘da Bíblia’”. Para ela, esse tema era o plano da redenção e o
grande conflito entre o bem e o mal. “Encarado à luz deste conceito”, o grande tema central
da Bíblia, “cada tópico tem nova significação” (Educação, p. 190, 125).

Em resumo, seu conselho era ler para compreender o todo. O quadro geral mostra o
contexto para interpretar outros assuntos, tanto em termos de significado como de
importância. Esse princípio, além dos escritos de Ellen White, aplica-se igualmente à Bíblia.

2. Enfatize o que é importante.


No início do século XX, quando alguns líderes da igreja usavam os escritos de Ellen G.
White para provar certos pontos proféticos que ela cria serem de menor importância, ela
escreveu que “o inimigo de nossa obra se agrada quando um assunto de menor importância
pode ser usado para desviar a mente de nossos irmãos das grandes questões que devem
constituir a preocupação de nossa mensagem” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 164, 165).

3. Estude todas as informações disponíveis sobre o assunto.


O neto e biógrafo de Ellen White, Arthur White, destacou esse assunto quando escreveu
que “muitos têm errado ao interpretar o significado dos testemunhos tomando declarações
isoladas ou fora do contexto como base para crença.
Alguns fazem isso, mesmo que existam outras citações que, se consideradas com cuidado,
mostram que tomar posições baseadas em declarações isoladas, é insustentável”. (2)

4. Evite interpretações extremistas.


Por não seguir as orientações que Ellen White deu, alguns indivíduos recriam essas
orientações de uma forma extremista, como eles próprios. Durante toda a sua vida, a
tendência dela foi pela moderação que, infelizmente, falta em alguns que alegam ser seus fiéis
seguidores. Por exemplo: alguns utilizam uma declaração em que Ellen White mostra
desagrado com o jogo de bola para condenar todos os tipos de jogos, ao passo que ela mesma
escreveu: “Não condeno o simples exercício de brincar com uma bola; mas isto, mesmo em
sua simplicidade, pode ser levado ao excesso” (O Lar Adventista, p. 499). Como em muitas
situações, Ellen White foi moderada, em vez de extremista.

5. Tome em consideração tempo e lugar.


Por causa das mudanças no tempo e no espaço, é importante compreender o contexto
histórico de muitos dos conselhos de Ellen White. Só podemos considerar seu conselho de
encurtar o vestido em vinte centímetros como algo apropriado para as mulheres do século XIX.
Nunca poderíamos usar essa citação como se ela tivesse escrito para o tempo da minissaia.
“Quanto aos testemunhos”, Ellen White escreveu, “coisa alguma é ignorada; coisa alguma é
rejeitada; o tempo e o lugar, porém, têm que ser considerados” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p.
57). Repetidamente, ela deu esse conselho ao longo de seu ministério.

6. Estude cada afirmação em seu 
contexto literal.


Com muita frequência, as pessoas baseiam sua compreensão dos ensinos de Ellen White
no fragmento de um parágrafo ou numa afirmação isolada, totalmente fora do contexto.
Falando sobre o mau uso que alguns fazem dos seus escritos, ela escreveu que: “Citam metade
de uma frase, e omitem a outra metade, a qual, se fosse citada, mostraria que o raciocínio de
quem assim procede, é falso” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 82).

7. Reconheça a compreensão de Ellen White sobre o ideal e o real.


Frequentemente, Ellen White dava conselhos sobre o mesmo assunto, sob dois aspectos.
O primeiro pode ser considerado como o ideal. Nesse aspecto, as declarações não permitem
exceções. Um exemplo é o conselho em relação ao ideal de que os pais deveriam ser os
“únicos professores de seus filhos até alcançarem a idade de oito a dez anos” (Testemunhos
Para a Igreja, v. 3, p. 137). Por outro lado, quando ela trata com situações do cotidiano do
mundo, frequentemente seu conselho é ajustar as necessidades reais do povo com suas reais
limitações. Embora tenha moderado seu conselho para que os pais sejam os “únicos”
professores ao acrescentar que esse ideal deveria ser mantido, “se” tanto o pai como a mãe
desejassem fazer o trabalho. Se não, as crianças deveriam ser enviadas à escola (Mensagens
Escolhidas, v. 3, p. 215-217).
Ellen White nunca perdeu seu senso de ideal, mas estava pronta a acomodar seus conselhos
para se adequar à realidade do mundo. Um dos aborrecimentos de sua vida foi com aqueles
que coletavam suas afirmações do ideal procurando apenas “impô-las a todos, e, em vez de
ganhar almas, repelem-nas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 284-288).

8. Use o bom-senso.
As citações de Ellen White não resolvem todos os problemas. Às vezes, simplesmente não
encaixam. Quando surgiram alguns problemas porque estavam mencionando suas declarações
de que os pais deveriam ser os únicos professores de seus filhos até os 8 ou 10 anos de idade,
ela respondeu dizendo que “Deus deseja que lidemos sensatamente com esses problemas”.
Ela estava sendo provocada pelos que tomaram uma atitude dizendo: ‘Ora, a irmã White disse
assim e assim, e a irmã White falou isto ou aquilo; e, portanto, procederemos exatamente de
acordo com isso.’” Sua resposta para tais pessoas foi: “Deus quer que todos nós tenhamos
bom-senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As circunstâncias alteram
as condições. As circunstâncias modificam a relação das coisas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p.
215, 217). Seu conselho foi que os leitores precisavam usar bom-senso, mesmo quando tinham
uma citação sua sobre o assunto.

9. Descobrir os princípios implícitos.


Na virada do século XIX para o XX, Ellen White escreveu que seria bom que “as moças
pudessem aprender a arrear e cavalgar” (Educação, p. 216, 217). Aquela era uma prática em
seus dias, mas não mais hoje. Os princípios implícitos nesse conselho, entretanto, ainda são
muito importantes. Ou seja, as mulheres devem ser auto-suficientes ao locomover-se.
Portanto, em nossos dias, devem ser capazes de dirigir um carro e trocar um pneu. A
especificação exata do conselho pode mudar, mas o princípio implícito tem valor permanente.

10. Tenha certeza de que isso foi dito por Ellen White.
Muitas declarações atribuídas a Ellen White nunca foram feitas por ela. O único método
seguro é usar declarações que podem ser encontradas em seus trabalhos publicados ou não
publicados, mas validados pelo Departamento de Pesquisas Ellen White. Muitos têm sido
desviados por declarações que ela nunca fez, mas que são atribuídas a ela.

Os escritos de Ellen White têm sido uma bênção a leitores em todo o mundo. E serão
muito mais eficazes se forem lidos tendo em conta as orientações acima.

(1) Discussão mais detalhada sobre esse assunto pode ser encontrada em George R. Knight,
Reading Ellen White: How to Understand and Apply Her Writings (Hagerstown, Md.: Review
and Herald Publishing Assn., 1997).

(2) Arthur L. White, Ellen G. White: Messenger to the Remnant (Washington, D.C.: Review and
Herald Publishing Assn., 1969), p. 88.
Fonte: O tempo Final

(Eventos Finais)

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