Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CARATINGA - MG.

Autos nº 0086828-55.2017.8.13.0134

PATRICIA MARTINS ALVES, já qualificada nos autos em epígrafe, através


de seu bastante procurador subscrito, vem, mui respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, no prazo legal, articular as presentes ALEGAÇÕES
FINAIS, aduzindo, o quanto segue:

1. DOS FATOS

Consta da peça acusatória que a Ré, no dia 24/05/2017, por volta das
02h35min, na Rua Vital Martins Bueno, nº 293, Centro, Bom Jesus do Galho
- MG, ofendeu a interidade física da vitima Neide Martins de Melo, tendo
supostamente desferido uma mordida no nariz da vítima, causando-lhe lesão
corporal.

Assim, pugna o Ilustríssimo parquet pela condenação da Ré nos termos do


artigo 129, § 9º, do Código Penal, c/c Lei nº 11.340/06.

A tal peça acusatória não assiste razão conforme abaixo será demonstrado.

2. MÉRITO – DA LEGÍTIMA DEFESA

Compulsando-se os autos, verifica-se que as lesões corporais causadas pela


Ré contra a suposta vítima se deram em legítima defesa sua e de terceiro, o
que afasta a ilicitude do ato imputado.

A dinâmica dos fatos, conforme expostas pela Ré e pela pretensa vítima


coincide em alguns pontos e diferem-se em outros.

Estão acordes os envolvidos no que tange aos fatos anteriores à agressão


da Ré contra a vítima. Tudo se originou do fato de a vítima impedir,
injustamente, o acesso da Ré a sua filha, negando-se a entregá-la.

Em seu depoimento em juízo, a vítima fornece detalhes da briga, deixando


claro que IMPEDIU O ACESSO DA RÉ À SUA FILHA, QUE ESTAVA EM SEU
PODER, OBSTRUINDO, FISICAMENTE, SUA PASSAGEM.

Ou seja, A RÉ FOI IMPEDIDA E AGREDIDA PELA SUPOSTA VÍTIMA, que a


impediu de ter acesso à sua filha, "segurando-a nos braços" e impedindo que
a mãe, ora Ré, devidamente dotada da guarda de sua filha, exercesse seu
real direito de genitora.

Ora, conforme consta dos autos, a Ré se encontrava ante a injusta agressão


sua e de terceiro, vez que ao ser violentamente agredida e impedida de
reaver sua filha, se viu em situação que colocava em risco a integridade
física de sua prole, agindo assim, com o zelo e senso de proteção que toda
mãe é dotada e partindo em defesa do terceiro incapaz.

De acordo com o Código Penal, entende-se por Legítima Defesa:

Art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando


moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

A legítima defesa deve ser feita com moderação. O ato de defesa deve ser
proporcional à gravidade da ameaça ou agressão, o que no caso presente
torna-se patente. Senão, vejamos:

A Ré, em ato desesperado, vendo sua filha em meio a acalourada discussão,


em vias de agressão física, desferiu mordida no nariz da vítima, NÃO MAIS
USANDO DE QUALQUER OUTRO MEIO DE AGRESSÃO, ou seja, usando
da forma que provinha no momento, de forma moderada e consciente,
visando claramente a defesa de terceiro que se encontrava em evidente
perigo, conforme melhor aduzido abaixo.

2.1 DA REPULSA A AGRESSÃO À PESSOA DO RÉU E TERCEIRO


Não há dúvidas, diante da prova dos autos, de que a Ré agiu repelindo
agressão a si mesmo e à terceiro, no caso, sua filha. Em seu interrogatório, a
acusada narra com detalhes como a suposta vítima lhe impediu o acesso à
criança, segurando-a nos braços em meio a conturbada confusão, sendo
impossível a falta de contato físico entre as mesmas, tendo em vista os fatos
já narrados.

Assim Excelência, encontrando-se em situação de extrema delicadeza,


vendo sua prole em meio à tão conturbada situação, e, além disso, vendo
sua própria integridade física ameaçada, agiu a Ré em proteção a si mesma
e de sua filha, não podendo ser imputada a ela qualquer tipo de conduta
ilícita.

Sem dúvida, a versão da Ré é mais verossímil do que a da suposta vítima,


pois aquela trouxe aos autos confuso depoimento em que admite que
impediu, usando de meios físicos, o acesso da Ré a sua filha.

Assim, resta demonstrada a presença do primeiro requisito da legítima


defesa, qual seja, o fato de o Réu ter agido repelindo agressão à sua pessoa
ou a terceiro, neste caso, os dois.

2.2 DA INJUSTA AGRESSÃO

Destarte, forçoso reconhecer que, quando da discussão entre a Ré e a


suposta vítima, ocorreu entre as mesmas injusta agressão por parte da
vítima, vez que a mesma impedia fisicamente o acesso da Ré, tendo sua
filha nos braços durante exaltada discussão, denotando total
irresponsabilidade e trazendo significativo risco à integridade física da
criança.

Logo, a ação da suposta vítima configurou injusta agressão a Ré e mais


ainda a terceiro.

Ao ter nos braços sua filha, a suposta vítima levou sério risco a mesma, que
encontrava-se em meio a agressões que a vítima fazia à Ré, caracterizando
assim a injusta agressão destinada à Ré e sua filha.
2.3 DA ATUAL AGRESSÃO

Quanto a este requisito da legítima defesa, pouco há que se dizer, vez que a
atualidade da agressão injusta repelida pelo Réu é incontestável.

Ao agredir a Ré e levar risco à sua filha, a agressão era atual e evidente.

Assim, agiu a Ré, para repelir a injusta agressão, enquanto esta ocorria.
Configurada a agressão atual, não há que se falar sobre agressão iminente.

2.4 DA NECESSIDADE DO MEIO UTILIZADO E DE SEU USO


MODERADO

Estando a Ré sendo agredida e impedida de ter acesso à sua filha e vendo a


mesma, nos braços da suposta vítima, em meio a tão conturbada situação,
agiu da forma que lhe era possível, usando do unico meio que dispunha para
repelir tamanha agressão.

Assim, mediante o uso exclusivo de força corporal, usando-a de forma


moderada e com o exclusivo intuito de resguardar sua filha´e a si mesma, a
Ré usou do meio que dispunha no momento, cessando a agressão que sofria
e partindo em defesa de terceiro injustiçado.

Sendo, pois, esse o único meio que a Acusada tinha à mão para repelir a
agressão injusta que presentemente sofria, está claro que empregou o único
meio capaz de repelir o mal que lhe era aflingido.

3. DA LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA

Na improvável hipótese de não ser este o entendimento de Vossa


Excelência, o que se admite apenas em observância ao princípio da
eventualidade, insta demonstrar que, ainda que seja tida por ilícita a ação da
Ré, encontra-se a mesma sob o amparo da causa de diminuição de pena
prevista no § 4º, do artigo 129, do Código Penal.
Os autos dão notícia clara e incontestável de que, desde o momento em que
a Ré foi agredida pela vítima, encontrava-se sob domínio de violenta
emoção, vez que encontra-se impedida de ter acesso à sua filha. Assim, ao
agredir a vítima, a Ré se encontrava em estado de extrema conturbação.

Outrossim, não há dúvidas de que agiu logo após injusta provocação da


vítima. Uma vez que, conforme já demonstrado acima e admitido em
depoimento pela própria vítima, a mesma, de forma violenta, impediu a Ré
de exercer direito seu, ou seja, ter para si sua prole.

Reunidos, pois, todos os requisitos do privilégio previsto no § 4º, do artigo


129, impõe-se a diminuição de pena eventualmente imposta a Ré.

4. DO QUANTUM DA PENA – DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA


PENA

Por fim, não sendo o caso de absolvição, o que – repita-se – é admitido


apenas ad argumentandum, requer-se seja a pena aplicada em seu mínimo
legal, face à primariedade da Acusada, bem como ao fato de serem-lhe
favoráveis as circunstâncias do artigo 59 do Código Penal.

Outrossim, requer-se a suspensão condicional da pena, nos termos do artigo


77, do Código Penal, vez que presentes todos os requisitos do benefício.

5. DOS PEDIDOS

Diante de tudo quanto foi exposto, requer-se:

1. No mérito, seja a Ré absolvida, por ter agido em legítima defesa sua e de


terceiro;

2. Não sendo este o entendimento de Vossa Excelência, seja aplicado o


privilégio do § 4º, do artigo 129, do Código Penal;

3. Caso haja condenação, requer-se seja a pena aplicada em seu mínimo


legal, concedendo-se a Acusada o benefício do sursis.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Caratinga, 05 de novembro de 2019.

Wesley Vieira Campos

OAB/MG 177.920

Você também pode gostar