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A construção do texto em prosa

AULA 2 A oposição prosa e verso refere-se à forma; quanto ao conteúdo, prosa se con-
trapõe à poesia. Realidade e ficção são temas da prosa escrita em linhas contínu-
as, estruturadas em parágrafos. Temas são tratados tanto nos gêneros textuais
do dia a dia como nos textos literários.

A linguagem em forma de prosa apresenta múltiplos aspectos

Afinal, o que caracteriza o texto em prosa?

Prosa é um termo que pode designar um discurso oral ou escrito. Na prosa, há que distinguir
a prosa literária da não literária. Para ser literário, um texto tem de revelar uma intenção estética e
não apenas comunicativa.
Para caracterizar a prosa, outros aspectos têm ainda de ser levados em conta. Primeiro, a
prosa é considerada a expressão do “não eu”, do objeto. Quem escreve pensa e sente dirigindo-se
para fora de si próprio, procurando seu núcleo de interesse na realidade exterior. Outro aspecto
é a linguagem predominantemente denotativa da prosa não literária, isto é, o discurso é analítico,
objetivo, real e pouco ambíguo. E ainda, a prosa desenvolve-se num processo de continuidade
coerente e coeso.
Ao contrário da poesia que tem predominantemente função poética, a prosa possui várias fun-
ções. Na prosa reconhecem-se diferentes formas: narrativa, oratória, poética, ensaística, científica,
dramática, informativa, epistolar entre outras. Vale ressaltar que alguns textos escritos em prosa lite-
rária são considerados prosa poética, dada a musicalidade, o ritmo e os processos imagéticos que
o autor imprimiu ao texto. A prosa poética apareceu no século 18, no Romantismo, encontrando um
grande desenvolvimento a partir do Simbolismo.

Disponível em: http://www.infopedia.pt/$prosa. Acesso em: 10.08.2013. Fragmento adaptado.

Língua Portuguesa 2 - Aula 2 17 Instituto Universal Brasileiro


A construção do texto em prosa
Prosa

Cada gênero tem uma função social que


se verifica na linguagem formal ou informal, na
apresentação visual, no suporte (livro, cartaz,
O texto em prosa é uma mensagem es- jornal, revista). Trata-se de um conjunto de
crita (ou falada) que forma um todo signifi- elementos que se articulam e ajudam a iden-
cativo independentemente da sua extensão. tificar rapidamente o gênero de determinado
Para definirmos o tipo e o gênero de um tex- texto. Por exemplo: leis, decretos e estatutos
to precisamos considerar muitos elementos. têm função social de estabelecer regras para
A distinção entre gêneros textuais e tipos de normatizar a convivência em sociedade, as-
texto tem fins didáticos. segurando direitos e deveres dos cidadãos. O
• Gêneros textuais. Referem-se aos gênero textual utiliza linguagem objetiva, com
textos de qualquer natureza, apresentando vocabulário preciso para evitar interpretações
inúmeras possibilidades de formato, corres- ambíguas.
pondentes às necessidades de comunicação,
sendo reconhecidos com facilidade: carta,
Tipos de texto
convite, anúncio, notícia, e-mail etc.
• Tipos de texto. Variam conforme a in- Em prosa, normalmente, há predomi-
tenção do autor e referem-se à estrutura inter- nância dos seguintes tipos de texto: narrati-
na do texto. Classificam-se como: narrativos, vo, descritivo ou dissertativo. Alguns gêne-
descritivos, dissertativos (argumentativos/opi- ros podem vir associados a certos tipos de
nativos), injuntivos (ou instrucionais) e infor- texto. Por exemplo: anúncios e campanhas
mativos (ou expositivos/explicativos). usam, predominantemente, texto informativo
(expositivo-explicativo); notícias, texto narrati-
vo; bulas e manuais, texto instrucional (injun-
Gêneros Textuais tivo); editoriais de um jornal, texto dissertativo
Gêneros textuais designam textos de de opinião.
qualquer natureza, literários ou não. São
considerados exemplos de gêneros textuais: Identifique as características do texto
anúncios, convites, atas, avisos, bulas, cartas, instrucional e do texto informativo
comédias, contos de fadas, convênios, crôni-
cas, editoriais, ementas, ensaios, entrevistas, Texto instrucional ou injuntivo. In-
circulares, contratos, discursos políticos, his- dica procedimento a ser realizado. Nesse
tórias, instruções de uso, letras de música, gênero de texto, as frases, geralmente, es-
leis, decretos, estatutos, mensagens, notícias tão no modo imperativo. Utilizam linguagem
de jornais e revistas, e-mails etc.
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ginários, situados no tempo e no espaço. Em
objetiva e simples que leva ao leitor a mais síntese, podemos apresentar a definição geral
que uma simples informação. Instrui o lei- do texto narrativo: relato de fatos ou aconteci-
tor! Ex.: receitas culinárias, manuais, bula mentos. Deve apresentar como elementos es-
de remédio, convenções, regras do jogo. senciais: ação, tempo, espaço, personagem
e foco narrativo.
Texto informativo. Sua principal fun-
ção é a de informar, ou seja, passar uma Os textos literários em prosa - ro-
informação. Como característica principal, mance, o conto, a crônica - apresentam
o texto informativo deve ter uma linguagem predominantemente estruturas de texto
culta, direta, objetiva. É o texto da impren- narrativo, mas com pequenas variáveis.
sa, do professor, dos relatórios técnicos ou Normalmente, os textos descritivos per-
científicos. meiam a narrativa, apresentando detalhes
do ambiente ou de personagens. O texto
dissertativo pode aparecer na narrativa
quando o narrador ou personagem ex-
pressa opiniões ou ideias sobre determi-
nado assunto. A sequência de ações das
personagens se desenrola num enredo ou
Os textos informativos também po- trama que é apresentada de acordo com
dem apresentar análises e sínteses através um foco narrativo.
de exposições ou explicações científicas
ou pedagógicas, abordando conhecimen-
Tempo, ação e espaço
to, problemas, propostas de resolução,
etc., para esclarecimento dos interlocuto-
Tempo é a indicação de dia, mês, hora,
res. O melhor exemplo de texto informativo
ano ou época em que os fatos acontecem.
é o jornal. Diferentemente do texto literário,
Trata-se de um texto dinâmico que apresenta
em que há espaço para ficção, emoções,
basicamente uma sucessão de ações. Além
no texto informativo há comprometimento
da ação e do tempo, o texto narrativo pode
com a realidade e fatos comprováveis. Isso
apresentar espaço, claramente expresso ou
significa que as informações devem ser
subentendido. Espaço é o local onde os fatos
sempre verdadeiras.
se desenrolam. Uma história pode ter vários
espaços ou vários locais onde as ações se
sucedem.
Texto Narrativo
Personagens

O texto narrativo deve apresentar,


ainda, personagens, que são figuras (en-
tidades) reais ou imaginárias que praticam
ações, que vivem os fatos. Personagens são
os seres envolvidos nos fatos e que formam
o enredo da história. Eles falam, pensam,
agem, sentem, têm emoções. Qualquer coi-
sa pode ser transformada em personagem
de uma narrativa. Os personagens podem
ser pessoas e animais; ou seres inanima-
dos, seres que só existem na crendice po-
O texto narrativo caracteriza-se pelo re- pular, seres abstratos ou ideias etc. que ga-
lato de fatos ou acontecimentos, reais ou ima- nham vida e são personificados.
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• Personagem principal. Aquela em
quem a narrativa está centralizada, também dos fatos, o narrador é mais objetivo, sua
chamada de protagonista. Aquele que se visão é mais ampla. Por isso, o narrador é
opõe à personagem principal é antagonista chamado de onisciente, pois conhece tudo
(ou vilão). a respeito das personagens e dos fatos. Nes-
• Personagens secundárias. Existem te foco narrativo, empregamos os verbos na
histórias com várias personagens, entre elas, terceira pessoa (ele/ela/eles/elas).
as chamadas personagens secundárias que “Ele foi cavando, cavando, ca-
participam dos acontecimentos, mas não são vando, pois sua profissão - coveiro - era
essenciais para a narrativa. cavar. Mas, de repente, na distração do
ofício que amava, percebeu que cava-
Foco narrativo ra demais. Tentou sair da cova e não
conseguiu. Levantou o olhar para cima
Um último item básico para a estrutura e viu que sozinho não conseguiria sair.
deste tipo de texto é o foco narrativo ou o Gritou. Ninguém atendeu.”
ponto de vista do narrador.
(O Coveiro. Millôr Fernandes.)

Narrador Você pode observar que o relato se


desenvolve na 3ª - pessoa (ele foi cavan-
Narrador é aquele que conta a história, do/ percebeu/ tentou/ gritou).
e pode ser:
• Narrador presente. Participa da his-
tória, também personagem (narração em pri- Quadro-síntese da narração
meira pessoa).
• Narrador ausente. Só conta a histó- • Quê? - o(s) fato(s) que compõe(m)
ria, não é personagem (narração em terceira a história;
pessoa).
Exemplos: • Quem? - a personagem ou perso-
nagens;
Narração em prmeira pessoa. O nar-
• Como? - o enredo, o modo como
rador participa dos fatos, é personagem. Por
se desenvolvem os acontecimentos;
isso, sua visão não é tão ampla quanto a do
narrador em terceira pessoa. Fazendo parte • Onde? - o lugar ou lugares da ocor-
da história, o narrador é mais pessoal, obser- rência;
vando os acontecimentos de modo subjetivo.
• Quando? - o momento ou momen-
Neste foco narrativo, empregamos os verbos
tos em que se passam as ações;
na primeira pessoa.
• Por quê? - a causa do aconteci-
Eu nasci no alto da montanha,
mento;
em uma casa amarela, rodeada de
pássaros, animais e árvores. Cresci • Para quê? - resultado ou conse-
assim, selvagem, livre; no meio da quência do acontecimento.
natureza.
Você pode observar que o relato se
desenvolve na 1ª – pessoa (eu nasci/cresci)

Narração em terceira pessoa. O


narrador não faz parte dos acontecimentos. Enredo ou trama. Determinado pe-
Podemos dizer então que, estando “fora” los fatos que se desenrolam durante a

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narrativa. Toda história tem uma intro- • Discurso indireto livre. A fala ou
dução, na qual o autor apresenta a ideia o pensamento e o mundo interior da
principal, os personagens e o cenário; personagem se misturam com o discurso
um desenvolvimento, no qual o autor do narrador. Observe o trecho abaixo:
detalha a ideia principal. Há dois momen-
tos distintos no desenvolvimento: a com- “Fabiano ouviu o falatório do bê-
plicação (iniciam-se os conflitos entre os bado, caiu numa indecisão dolorosa.
personagens) e o clímax (ponto culmi- Ele também dizia palavras sem senti-
nante), além de um desfecho, que é a do, conversava à toa. Mas irou-se com
conclusão da narração. a comparação, deu marradas na pa-
rede. Era bruto, sim senhor, nunca
havia aprendido, não sabia explicar-
se. Estava preso por isso?”
(Graciliano Ramos. Vidas Secas.)

Discurso das personagens. Em Você pode perceber que o trecho


alguns textos narrativos percebe-se que, destacado não é o pensamento do narra-
além do discurso do narrador, existe o dis- dor. Seu discurso foi interrompido por es-
curso das personagens, isto é, o diálogo. sas expressões que indicam o pensamen-
Esta é uma construção típica da narrativa to da personagem. Esse é um exemplo
e que, considerada como discurso, apre- de discurso indireto livre.
senta a seguinte divisão:

• Discurso direto. É a fala das per- Texto Descritivo


sonagens, suas palavras são reproduzi-
O texto descritivo retrata com palavras
das diretamente. É o que comumente cha-
uma cena, uma paisagem, uma pessoa, um
mamos de diálogo entre personagens. O
animal, um objeto, um ambiente.
discurso direto vem indicado por aspas
ou travessão, como neste trecho:
Você sabe o que é descrição?
- Ei, o que você vai fazer?
- Vou fazer uma longa viagem.
- Para onde você vai?
- Vou a Roma.
...

• Discurso indireto. O narrador trans-


mite a fala da personagem de maneira in-
direta. Neste tipo de discurso, os tempos
verbais são adaptados. E há sempre uma
referência ou citação de quem proferiu a
fala. Podemos, por exemplo, citar:
É a ação que você toma de descrever
sobre algo ou alguém, ou seja, é a reprodução
O jovem engenheiro disse que,
mental da impressão que se tem sobre algo.
desde estudante, dividira o tempo en-
Então, o que é descrever? Vejamos, de acor-
tre os livros e os exercícios atléticos,
do com o dicionário, é o ato de narrar, con-
do gênero força e saúde.
tar minuciosamente. Então, sempre que você
expõe com detalhes um objeto, uma pessoa
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ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso
da descrição. É como se fosse uma fotografia, Leia:
um retrato distinto e pessoal de algo que se
vê ou se viu! “Num largo, praça, terreno bal-
Portanto, a vivência de quem descreve dio, rua mais larga, armam-se bar-
também influencia na hora de transmitir a im- racas de lona, palha etc., onde fun-
pressão alcançada sobre determinado objeto, cionam bazares de prendas e sortes,
pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vi- jogos de destreza, bares, etc. Entre,
vida ou sentimento. Os pormenores, os deta- elas armam-se brinquedos mecâni-
lhes minuciosos, são essenciais para se dis- cos de parques de diversão: rodas
tinguir um determinado momento de qualquer gigantes, carrosséis, barcos, aviões,
outro, desse modo, a presença de adjetivos e bem como os palanques para os au-
locuções adjetivas é traço distinto de um texto tos: o guerreiro, as baianas, os pas-
descritivo. toris, os presépios e as barcas para
Exemplos: o fandango e a chegança. Bandeiro-
las, palmas de coqueiro e de outras
Descrição de ambiente palmeiras, ramos de bambus, antiga-
mente iluminação a óleos vegetais a
Em uma paisagem a descrição po- acetilene, petróleo, hoje a eletricida-
derá considerar: a posição geográfica de, tornam o local extremamente fre-
(norte, sul, leste, oeste); o clima (úmido, quentado durante as noites da época
seco); tipo (rural, urbano); a sensação tér- natalina.”
mica (calor, frio) e se existem casas, árvo-
(BRANDÃO, Teo. Mouros e Cristãos nas
res, rios etc.
Alagoas. Madri:. C Bermejo, 1960).
Leia:

Da janela de seu quarto podia


ver o mar. Estava calmo e, por isso, Tipos de descrição
parecia até mais azul. A maresia inun-
dava seu cantinho de descanso e ar- A descrição como uma sucessão de qua-
repiava seu corpo. Estava muito frio, dros ou de características pode ser:
ela sentia, mas não queria fechar a • Subjetiva. Quem descreve coloca
entrada daquela sensação boa. Ao sua impressão pessoal, indicada através dos
norte, a ilha que mais gostava de ir adjetivos que emprega, dos comentários que
era só um pedacinho de terra ilumina- faz, das palavras portadoras de intensidade
do pelos últimos raios solares do final emocional.
daquela tarde; estava longe... longe!
Não sabia como agradecer a Deus, A descrição subjetiva ocorre quando
morava em um paraíso! há emoção por parte de quem descreve.
Veja o trecho abaixo:
A sensação que o leitor ou ouvinte
tem que ter em uma descrição é de que Era doce, calma e respeitava
foi transportado para o local da narração muito aos pais. Porém, comigo, não
descritiva. tinha pudores: era arisca e maliciosa,
mas isso não me incomodava.
Descrição de cena
Portanto, na descrição subjetiva
O texto descritivo pode ter a inten- há interferência emocional por parte do
ção de representar com palavras uma interlocutor a respeito do que observa,
cena que está sendo observada. analisa.

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• Objetiva. Quando a representação se
limita a descrever o que é, sem a visão pes-
soal daquele que observa.

A descrição objetiva acontece quan-


do o que é descrito apresenta-se de for- Você pode notar que o texto apre-
ma direta, simples, concreta, como real- senta opiniões, juízos sobre uma determi-
mente é. Veja o trecho abaixo: nada questão, no caso, a influência dos
supermercados nos hábitos de venda.
Ana tem 1,80, pele morena, Podemos dizer que o texto apresenta ca-
olhos castanhos claros, cabelos cas- racterísticas dissertativas. A introdução é
tanhos escuros e lisos e pesa 65 kg. uma frase afirmativa: “Os supermercados
É modelo desde os 15 anos. transformaram os hábitos de venda” Par-
tindo dessa opinião, o texto deverá desen-
volver os tópicos que possam provar essa
avaliação colocada no início do texto. Uma
Texto Dissertativo argumentação direta: a justificativa para
O texto dissertativo é aquele que ex- a afirmação inicial é o fato de que o su-
põe opiniões, avaliando, interpretando ou permercado acabou com os vendedores,
debatendo. A modalidade dissertação é originando uma situação favorável, com
bastante solicitada quando se trata de tex- mais gente para comprar. Conclusão: sem
tos redigidos por alunos: a redação escolar, vendedores acabaram as conversas e as
usada como avaliação, sobretudo em ves- pechinchas, desta forma os supermerca-
tibulares. dos se tornam exclusivamente catedrais
Leia o trecho abaixo: de consumo.

O texto dissertativo é composto de três


partes:
• Introdução. Expressa a opinião
básica que será desenvolvida ao longo
do texto.
• Desenvolvimento. Faz o desdo-
bramento da opinião inicial, são os argu-
mentos ou justificativas que provam ou
negam a afirmação inicial.
• Conclusão. Confirma as hipóte-
“Os supermercados transformaram ses, justificativas ou argumentos apon-
os hábitos de venda. Terminaram com os tados por meio de uma síntese.
vendedores. O que foi melhor para eles.
Com menos gente vendendo, sobra mais Leia o texto dissertativo e observe que
gente para comprar. E como se compra! cada parágrafo corresponde a uma parte: intro-
Positivamente, isto aqui ainda não é uma dução, desenvolvimento e conclusão.
sociedade do lazer. Por enquanto é do
comer. Sem os vendedores, acabaram as O problema do lixo
conversas e as pechinchas.” O homem produz lixo desde sua ori-
(NOVAES, Carlos Eduardo. As catedrais do
gem na Terra. Este, portanto, não é um
consumo. O caos nosso de cada dia. Círculo problema atual. O que deve ser atual é
do Livro. Rio de janeiro: Nórdica, 1975.) a tomada de consciência a respeito das

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III - Conclusão
consequências do problema e a busca de São duas as considerações importantes
soluções alternativas. sobre o problema do lixo: não se trata de uma
A poluição do meio ambiente tem questão fácil de resolver, mas ao mesmo tem-
ocorrido por meio das ações do homem po, é necessária e urgente uma reflexão que
na exploração desordenada dos recur- leve a ações concretas no sentido de minimi-
sos naturais. A contaminação do solo, zar o problema.
da água, do ar está colocando em risco
a sobrevivência no planeta. A cada ano,
com o aumento da população, aumenta o
consumo e, consequentemente, a produ-
ção de resíduos. De acordo com pesqui-
sas, só no Brasil, cada indivíduo produz A redação dissertativa nos
em média 1 kg de lixo doméstico por dia. exames escolares
Considerando-se que a população do
país ultrapassa 200 milhões de habitan-
tes, onde vamos colocar tanto lixo?
No atual estágio de desenvolvimen-
to socioeconômico, não é fácil reverter o
processo. Essa é uma questão profunda,
que diz respeito ao modo como a socieda-
de se relaciona com a natureza. Mas nem
por isso, deixa de ser necessária e urgen-
te uma reflexão que leve a ações concre-
tas no sentido de diminuir o volume e os
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impactos do lixo no meio ambiente.
Fragmento de texto elaborado a partir de estudo É fundamental para qualquer pessoa
sobre resíduos sólidos. Disponível em: http://www. saber como fazer uma boa redação. A for-
fen.ufg.br/fen_revista/revista2_2/residuo.html.
Acesso em: 20.01.2014.
ma mais utilizada é a redação disserta-
tiva, empregada em provas de vestibula-
res, exames como o Enem e até mesmo
Análise das partes do texto em entrevistas de emprego. Por isso é im-
“O problema do lixo” portante saber como produzir um texto de
qualidade mesmo que você não goste de
I - Introdução escrever.
Apresentação da ideia central. No texto,
fica claro que o problema do lixo pode não ser
atual, mas sim a tomada de consciência de
suas consequências e a busca de soluções.
Observe que o título do texto já dá pistas so-
bre o tema e a ideia central.
Título. Parte importante da reda-
II - Desenvolvimento ção dissertativa, o título, muitas vezes
Os argumentos desdobram a afirmação esquecido, deve ser uma síntese do que
inicial, explicitando as causas e as conse- o texto representa, e a melhor manei-
quências do problema de geração de lixo. A ra de chegarmos a um título coerente é
contaminação está colocando em risco a pró- criando-o ao final do texto, pois a mente
pria vida do homem no planeta. E a pergunta está fresca e podemos chegar a ele mais
que fecha o parágrafo induz à reflexão: onde facilmente.
vamos colocar tanto lixo?
Língua Portuguesa 2 - Aula 2 24 Instituto Universal Brasileiro
Textos narrativos podem apresentar
traços descritivos e argumentativos Brasileiros leem pouco,
escrevem mal, entendem mal.
Leia fragmentos de um conto em que há O que está faltando?
presença de trechos descritos e argumenta-
tivos dentro do texto narrativo. Trata-se de A dificuldade de interpretação textual
um texto narrativo (relata um episódio), de ca- é um problema que acomete a maioria
ráter não puro, em que há marcas do descriti- dos alunos. O fato ocorre em decorrência
vo (detalha características do professor) e/ou de vários fatores. Um deles é a ausência
do argumentativo (a personagem reflete sobre do hábito pela leitura.
seus sentimentos), ainda que em menor den-
sidade ou diluídas no corpo do texto.

Os desastres de Sofia

Qualquer um que tivesse sido seu trabalho


anterior, ele o abandonara, mudara de profissão, e
passara pesadamente a ensinar no curso primário:
era tudo o que sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso,
de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta,
tinha ombros contraídos. Usava paletó curto de-
mais, óculos sem aro, um fio de ouro encimando
o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele,
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não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela
controlada impaciência que ele tinha em nos en-
Como não praticam, sentem-se des-
sinar e que eu, ofendida, adivinhara. Passei a me
comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia preparados para entender a mensagem
com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, que um texto oferece, fazendo com que
até que ele dizia, vermelho: “Cale-se ou expulso a a mensagem fique sem sentido. E a pro-
senhora da sala”. Ferida, triunfante, eu respondia blemática acaba atingindo todas as dis-
com desafio: “Pode me mandar!” Ele não manda-
ciplinas, pois os alunos que apresentam
va, senão estaria me obedecendo.
Mas eu o exasperava tanto que se tornara dificuldade em interpretar um texto cer-
doloroso para mim ser o objeto de ódio daquele tamente sentirão dificuldades em resol-
homem que de certo modo eu amava. Não amava ver um problema de matemática, física e
como a mulher que eu seria um dia, amava-o como outras áreas afins.
uma criança que tenta desastradamente proteger
Em virtude disso, torna-se de fun-
um adulto, com a cólera de quem ainda não foi co-
varde e vê um homem forte de ombros tão curvos. damental importância a convivência
Ele me irritava. De noite, antes de dormir, ele me com uma grande variedade de gêneros
irritava. Eu tinha nove anos e pouco, dura idade textuais, tais como, reportagens de jor-
como o talo não quebrado de uma begônia. Eu o nais, revistas, textos narrativos, anún-
espicaçava, e ao conseguir exacerbá-lo sentia na
cios publicitários, textos literários den-
boca, em glória de martírio, a acidez insuportável
da begônia quando é esmagada entre os dentes; tre outros.
e roía as unhas, exultante. Escrever e falar corretamente tam-
De manhã - como se eu não tivesse contado com bém são passos essenciais para en-
a existência real daquele que desencadeara meus riquecer nossa experiência de vida.
negros sonhos de amor - de manhã, diante do
Obter sucesso em oportunidades de
homem grande com seu paletó curto, em choque
eu era jogada na vergonha, na perplexidade e na emprego, nos relacionamentos pes-
assustadora esperança. A esperança era meu pe- soais e, nos estudos, está intimamen-
cado maior [...]. te ligado à capacidade de se expressar
LISPECTOR, Clarice. Os desastres de Sofia. A Legião devidamente por meio da língua falada
Estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. e escrita.

Língua Portuguesa 2 - Aula 2 25 Instituto Universal Brasileiro


a ideia principal; há dois momentos dis-
tintos no desenvolvimento: a complicação
(iniciam-se os conflitos entre os personagens)
e o clímax (ponto culminante), além de um
A construção do desfecho, que é a conclusão da narração.
texto em prosa
Discurso das personagens. Em al-
Prosa guns textos narrativos percebe-se que além
do discurso do narrador, existe o discurso das
O texto em prosa é uma mensagem personagens, isto é, o diálogo. Esta é uma
escrita (ou falada) que forma um todo construção típica da narrativa e que, consi-
significativo, independentemente da sua derada como discurso, apresenta a seguinte
extensão. divisão: discurso direto; discurso indireto;
• Gêneros textuais. Referem-se aos discurso indireto livre.
textos de qualquer natureza, apresentando
inúmeras possibilidades de formato, corres- Texto Descritivo
pondentes às necessidades de comunicação,
sendo reconhecidos com facilidade: carta, O texto descritivo retrata com pala-
convite, anúncio, notícia, e-mail etc. vras uma cena, uma paisagem, uma pessoa,
• Tipos de texto. Variam conforme a in- um animal, um objeto, um ambiente.
tenção do autor e referem-se à estrutura inter-
na do texto. Classificam-se como: narrativos, Tipos de descrição
descritivos, dissertativos (argumentativos/
opinativos), injuntivos (ou instrucionais) e in- A descrição, como uma sucessão de
formativos (ou expositivos/explicativos). quadros ou de características, pode ser:
• Subjetiva. Quem descreve coloca
Texto Narrativo sua impressão pessoal.
• Objetiva. Quando a representação
O texto narrativo caracteriza-se pelo se limita a descrever o que é, sem a visão
relato de fatos ou acontecimentos, reais ou pessoal.
imaginários, situados no tempo e no es-
paço. Em síntese, podemos apresentar a Texto Dissertativo
definição geral do texto narrativo: relato de
fatos ou acontecimentos. Deve apresentar O texto dissertativo é aquele que expõe
como elementos essenciais: opiniões, avaliando, interpretando ou deba-
tendo. A modalidade dissertação é bastante
• Tempo, ação e espaço; solicitada quando se trata de textos redigidos
• Personagens: principal e secun- por alunos: a redação escolar, usada como
dárias; avaliação, sobretudo em vestibulares.
• Foco narrativo: narrador em 1ª
pessoa ou 3ª pessoa. O texto dissertativo é composto de
três partes: introdução, que expressa a
Enredo ou trama. Determinado opinião básica que será desenvolvida ao
pelos fatos que se desenrolam durante longo do texto; desenvolvimento, que
a narrativa. Toda história tem uma intro- faz o desdobramento da opinião inicial;
dução, na qual o autor apresenta a ideia conclusão, confirma as hipóteses, jus-
principal, os personagens e o cenário; um tificativas ou argumentos apontados por
desenvolvimento, no qual o autor detalha meio de uma síntese.

Língua Portuguesa 2 - Aula 2 26 Instituto Universal Brasileiro


3. Numere os tipos de textos de acordo
com a indicação e assinale a alternativa que
traz a ordem correta dos números.
( 1 ) Texto predominantemente narrativo;
( 2 ) Texto predominantemente descritivo;
1. Leia as afirmativas e assinale a alter- ( 3 ) Texto dissertativo.
nativa correta.
( ) “O meio social não é campo próprio ao
I - Tanto no texto em verso quanto em prosa nivelamento por baixo. Nele, para virtude da própria
pode haver poesia. sociedade, deve prevalecer o princípio de promoção
II - Na prosa não literária o objetivo é a co- do indivíduo, através da sua inteligência e sensibili-
municação, já na prosa literária acrescenta-se a dade, com o que se assegura formação qualificada
intenção estética. em escala coletiva.” (Jornal do Brasil. 21.5.76)
III - Em prosa, normalmente, há predomi-
nância dos seguintes tipos de texto: narrativo, des- ( ) “Mas, afinal, as chuvas cessaram, e
critivo ou dissertativo. deu uma manhã em que Nhô Augusto saiu para o
terreiro e desconheceu o mundo: um sol, talqualzi-
a) ( ) I e II estão corretas. nho a bola de enxofre do fundo do pote, marinhava
b) ( ) II e III estão corretas. céu acima, num azul de água sem praias, com luz
c) ( ) I, II e III estão incorretas. jogada de um para o outro lado, e um desperdício
de verdes cá embaixo - a manhã mais bonita que
d) ( ) I, II e III estão corretas. ele já pudera ver.” (João Guimarães Rosa)

2. ENEM. Adaptada. Leia os trechos ( ) “Foi de incerta feita - o evento. Quem


pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu
abaixo:
estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo.
Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela. Um
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos
grupo de cavaleiros.” (João Guimarães Rosa)
desta lei, a pessoa até doze anos de idade incom-
pletos; e adolescente aquela entre doze e dezoito
anos de idade. [...] a) ( ) 2 – 1 – 3
Art 3º A criança e o adolescente gozam de b) ( ) 2 – 3 – 1
todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa c) ( ) 3 – 2 – 1
humana, sem prejuízo da proteção integral de que d) ( ) 3 – 1 – 2
trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilida-
des, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físi- 4. Assinale a alternativa que apresenta
co, mental, moral, espiritual e social, em condições narração em 3ª pessoa.
de liberdade e de dignidade. a) ( ) “O namoro foi pegando. Campos
Lara passou a frequentar a casa como pessoa
Estatuto da criança e do adolescente.
Disponível em: www.planalto.gov.br (fragmento). da família.”(Orígenes Lessa)
b) ( ) “Levanto cedo, faço minhas ablu-
Para cumprir sua função social, o Esta- ções, ponho a chaleira no fogo para fazer café
tuto da criança e do adolescente apresenta e abro a porta do apartamento, mas não en-
características próprias desse gênero quanto contro o pão costumeiro.” (Rubem Braga)
ao uso da língua e quanto à composição tex- c) ( ) “Eu corria desesperadamente,
tual. Entre essas características, destaca-se o olhava para trás a todo o momento para tentar
emprego de: ver se ele estava muito perto. Podia ouvir o ba-
a) ( ) repetição vocabular para facilitar rulho de seus passos rápidos logo atrás de mim
o entendimento. e o som de sua respiração afoita pela corrida,
b) ( ) palavras e construções que evi- mas o que prevalecia era o som das batidas do
tem ambiguidade. meu coração disparado.” (Rubem Braga)
c) ( ) expressões informais para apre- d) ( ) “Dobrei a esquina do hotel, can-
sentar os direitos. sado e com sono. Caminhara o dia inteiro,
d) ( ) exemplificações que auxiliem a tomando contato com a cidade, olhando vitri-
compreensão dos conceitos formulados. nas, examinando tipos.” (Orígenes Lessa)
Língua Portuguesa 2 - Aula 2 27 Instituto Universal Brasileiro
( 3 ) “O meio social não é campo
próprio ao nivelamento por baixo. Nele,
para virtude da própria sociedade, deve
prevalecer o princípio de promoção do
1. d) ( x ) I, II e III estão corretas. indivíduo, através da sua inteligência e
sensibilidade, com o que se assegura for-
Comentário. As três afirmativas estão mação qualificada em escala coletiva.”
corretas. I - Tanto na prosa como no verso pode (Jornal do Brasil, 21.5.76)
haver poesia, pois alguns textos em prosa, so- ( 2 ) “Mas, afinal, as chuvas cessa-
bretudo os literários, possuem características ram, e deu uma manhã em que Nhô Au-
poéticas como a rima e o ritmo. São conside- gusto saiu para o terreiro e desconheceu
rados prosa poética, dada a musicalidade e os o mundo: um sol, talqualzinho a bola de
processos imagéticos que o autor imprimiu ao enxofre do fundo do pote, marinhava céu
texto. Lembre-se de que a prosa poética apa- acima, num azul de água sem praias, com
receu no século 18, no Romantismo, encon- luz jogada de um para o outro lado, e um
trando um grande desenvolvimento a partir do desperdício de verdes cá embaixo - a ma-
Simbolismo. II - Na prosa, há que distinguir a nhã mais bonita que ele já pudera ver.”
prosa literária da não literária. Para ser literário, (João Guimarães Rosa)
um texto tem de revelar uma intenção estética, ( 1 ) “Foi de incerta feita - o even-
além da comunicativa. III - Predominantemen- to. Quem pode esperar coisa tão sem pés
te, os textos em prosa apresentam-se como nem cabeça? Eu estava em casa, o ar-
narrativos, descritivos ou dissertativos. raial sendo de todo tranquilo. Parou-me à
porta o tropel. Cheguei à janela. Um grupo
2. b) ( x ) palavras e construções que de cavaleiros.” (João Guimarães Rosa)
evitem ambiguidade.

Comentário. A alternativa correta é a b. 4. a) ( x ) “O namoro foi pegando.


O gênero que caracteriza o texto de leis, decre- Campos Lara passou a frequentar a casa
tos e estatutos utiliza linguagem objetiva, com como pessoa da família.”(Orígenes Lessa)
vocabulário preciso para que não haja interpre-
tações ambíguas. Evitar que possam ser feitas Comentário. A alternativa correta é a.
leituras com diferentes sentidos do texto é uma O narrador observador (narrador de terceira
das principais preocupações desse gênero tex- pessoa – o foco narrativo é de terceira pessoa)
tual uma vez que, para cumprir sua função so- relata os acontecimentos como observador.
cial de estabelecer leis, é preciso deixar os atos Alguém está observando o fato e conta o que
bem claros, sem nenhuma dúvida, assim como acontece ou aconteceu. Esse observador pode
deve ser todo texto legal. Devem-se evitar, por- participar da história ou estar fora dela. A nar-
tanto, construções que gerem ambiguidade. ração desenvolve-se em terceira pessoa, per-
ceptível pela pessoa verbal (Quem passou a
3. c) ( x ) 3 – 2 – 1 frequentar a casa? Ele (passou) - 3ª pessoa).
O nome próprio Campos Lara pode ser subs-
Comentário. A sequência correta da tituído pelo pronome ele. Observe que nas de-
numeração dos tipos de textos está na mais alternativas, o foco narrativo está em 1ª
alternativa b: 3 - texto dissertativo que pessoa (eu). Sempre é possível verificar o foco
apresenta opiniões; 2 - texto descritivo narrativo pela pessoa verbal, mesmo quando o
que apresenta os detalhes de uma manhã, sujeito está oculto, como é o caso das alterna-
segundo o olhar subjetivo do observador; tivas b: “(Eu) Levanto cedo, (eu) faço ....”; e d:
1 - texto narrativo que conta a sequência “(Eu) Dobrei a esquina...”; no caso da alternati-
de ações do evento. va c o sujeito está claro: “Eu corria...”
Língua Portuguesa 2 - Aula 2 28 Instituto Universal Brasileiro

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