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08/01/2019 Como a desigualdade no pagamento entre homens e mulheres prejudica a economia brasileira - BBC News Brasil

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Como a desigualdade no pagamento entre homens e mulheres


prejudica a economia brasileira
Luiza Franco e Paula Adamo Idoeta
Da BBC News Brasil em São Paulo

6 janeiro 2019

ROOSEWELT PINHEIRO ABR

O mundo avançou pouco na igualdade de gêneros no último ano: menos mulheres do


que homens têm entrado no mercado de trabalho; sua participação na política e em
cargos privados sêniores ainda é inferior à masculina, e sua presença em setores
emergentes de tecnologia, como o de Inteligência Artificial, ainda é irrisória.

As conclusões são de um relatório recente do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em


inglês), que traçou um panorama pouco animador da igualdade de gêneros em 149 países
sob os aspectos político, econômico, educacional e de saúde.

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O Brasil não está bem posicionado no ranking do relatório: caiu cinco posições, para a 95ª,
porque "o abismo entre gêneros está em seu maior nível desde 2011", diz o WEF. Os motivos
disso são, sobretudo, as persistentes disparidades em participação e oportunidade
econômicas.

Aqui, segundo o Estudo de Estatísticas de Gênero, do IBGE, as mulheres trabalham em


média três horas por semana a mais do que os homens (somando-se trabalho remunerado,
atividades domésticas e cuidados com outras pessoas), mas ganham apenas dois terços
(76%) do rendimento deles.

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líderes da ONU

A igualdade de gênero na Suécia é um mito?

Nas ocupações que exigem nível superior completo ou mais, a diferença salarial é ainda
maior: as mulheres recebiam 63,4% do rendimento dos homens em 2016, dado mais recente
disponível.

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Alguns estudos recentes analisaram o tamanho dessa disparidade, suas causas e o impacto
que ela tem na economia inteira. A BBC News Brasil levantou os principais e mais recentes.

Quanto mais filhos, menor o salário delas


O salário das mulheres brasileiras com filhos é, em média, 35% menor que o das que não
têm filhos, evidenciando o impacto da maternidade na renda feminina. O levantamento foi
feito pelo pesquisador Bruno Ottoni, da empresa de análise IDados e do Instituto Brasileiro
de Economia da FGV Rio.

Ottoni comparou os rendimentos de mulheres casadas, empregadas e com idades de 25 a


35 anos levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do
IBGE, no terceiro trimestre de 2018.

As mulheres desse grupo que não tinham filhos recebiam, em média, R$ 2.182,06 por mês,
contra R$ 1.618,47 das mulheres com filhos.

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E quanto mais filhos, menor era o rendimento médio delas. Uma mãe de três ou mais
crianças ganhava R$ 1.426,53 em média.

Para Anderson de Souza Sant'Anna, professor da Fundação Dom Cabral e coautor de um


outro estudo sobre disparidade salarial de gênero, as carreiras das mulheres fazem "uma
curva em U".

"Elas são mais escolarizadas, então são promovidas mais rápido, mas a partir de um certo
momento, por volta dos 35, 38 anos, isso se inverte, e os homens as ultrapassam. Como as
empresas não têm políticas para maternidade, as mulheres, ao voltarem ao trabalho, não

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conseguem se reinserir e recuperar a posição. Esse conjunto de fatores, somados, vão


causando essas diferenças (salariais)", disse à BBC News Brasil em outubro.

Elas gastam bem mais tempo com os afazeres domésticos


Em 2016, as mulheres dedicavam, em média, 18 horas semanais a trabalhos domésticos ou
a cuidados com pessoas (filhos ou parentes idosos, por exemplo), contra 10,5 horas dos
homens, de acordo com o IBGE. Esse é um dos fatores que levam mais mulheres do que
homens a buscar empregos de jornada parcial, com remuneração inferior.

"Em função da carga de afazeres domésticos e cuidados, muitas mulheres se sentem


compelidas a buscar ocupações que precisam de uma jornada de trabalho mais flexível",
disse em comunicado Barbara Cobo, coordenadora de População e Indicadores Sociais do
IBGE.

No entanto, "mesmo com o trabalho em tempo parcial, a mulher ainda trabalha mais", agrega
Cobo. "Combinando-se as horas de trabalhos remunerados com as de cuidados e afazeres,
a mulher trabalha, em média, 54,4 horas semanais, contra 51,4 dos homens."

GETTY IMAGES

Elas são prejudicadas logo na entrevista de emprego


Para Souza Sant'Anna, é possível que as entrevistas de emprego ajudem a perpetuar as
diferenças salariais.

"Quando uma mulher é contratada, o RH pergunta quanto ela ganhava. Como elas
historicamente ganham menos, uma hipótese é que já entram no novo emprego com um
salário mais baixo do que um homem. Têm salários de entrada mais baixos. E isso ainda é
intensificado por participação maior dos homens nos bônus. No caso de promoção, há uma
tendência maior a favor dos homens."

Quanto maior o cargo, maior a diferença salarial

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As mulheres não apenas ocupam menos posições sêniores (nem 40% dos cargos gerenciais
são das mulheres, segundo o IBGE) como também ganham menos em relação aos homens
à medida que ascendem profissionalmente.

A pesquisa de Souza Sant'Anna, da Fundação Dom Cabral, analisou os salários de homens


e mulheres em 12 grandes empresas dos setores de indústria e serviços, abrangendo 50 mil
trabalhadores. Identificou uma diferença salarial média de 16% entre homens e mulheres que
exercem o mesmo cargo.

Em cargos de chefia, a discrepância chega a 27%. A distância entre os maiores salários de


homens e de mulheres do topo é de 38%.

Há discrepâncias também por setores.

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"Áreas como PDI (pesquisa, desenvolvimento e inovação) e engenharia de produção, são


muito masculinas. Elas ainda estão menos representadas nessas profissões que são mais
valorizadas", afirmou Sant'Anna.

"Existe o que chamamos de polarização das profissões - mulheres em posições de cuidado,


como Recursos Humanos, que estão muito mais sujeitas à automação. Em todas as
posições funcionais, os homens ganham mais que as mulheres, à exceção de posições
administrativas e financeiras - supervisora de call center, por exemplo. Nossa hipótese é que
os homens saíram delas e foram para áreas mais nobres."

Os benefícios da igualdade de gêneros: até US$ 28 tri a mais no PIB


global
Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, o mundo levará mais de
200 anos para alcançar a igualdade salarial entre homens e mulheres, cenário que provoca
perdas econômicas para toda a sociedade.

Um levantamento de 2015 do Instituto McKinsey Global calculou que a igualdade de gêneros


poderia acrescentar, em um cenário mediano - no qual os países alcancem o ritmo dos
países mais igualitários de suas regiões -, até US$ 12 trilhões ao PIB mundial em 2025.

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Em um cenário ideal de igualdade plena, no qual "mulheres participam na economia de modo


idêntico aos homens", os ganhos poderiam chegar a US$ 28 trilhões no PIB anual global - o
equivalente, à época, à soma das duas maiores economias do mundo, a dos EUA e da
China. Esse cenário permitiria que a metade feminina da população mundial alcançasse seu
potencial mais plenamente, aumentando por exemplo suas horas de trabalho remunerado e
seus rendimentos.

"Igualdade de gêneros não é apenas uma questão urgente do ponto de vista social e moral,
mas também um desafio econômico", apontou o relatório.

Mais poder financeiro feminino melhora as famílias


Em 2018, o Fundo Monetário Internacional (FMI) analisou pesquisas e dados de mais de
uma centena de nações em questões como acesso ao sistema financeiro (como crédito e
contas bancárias) e ascensão profissional feminina no setor bancário.

A conclusão foi de que mulheres mais fortes financeiramente demonstraram maior


probabilidade de investir no bem-estar familiar e a tomar mais decisões financeiras mais
inteligentes, que repercutem na educação e na saúde de sua família.

"Isso se traduz em menos pobreza, mais crescimento econômico e redução da


desigualdade", disse à BBC News Brasil Ratna Sahay, coautora do estudo e vice-diretora do
Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI.

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"Há diferentes exemplos: nas Filipinas, há evidências de que o empoderamento das


mulheres aumentava seu controle sobre decisões do orçamento e seu gasto com itens
simples, mas que melhoram a qualidade de vida de toda a família, como máquina de lavar
roupa e utensílios culinários; no Nepal, descobrimos que lares liderados por mulheres
gastavam 20% mais em educação do que os liderados por homens, algo muito importante
para as crianças", explicou Sahay, agregando que, embora seu estudo não mencione
nominalmente o Brasil, as conclusões possivelmente se aplicam por aqui.

Mais participação feminina leva a mais eficiência e estabilidade


financeira
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O levantamento do FMI analisou também um outro ângulo: qual o impacto de se, além de
usuárias de serviços financeiros, tivermos mais mulheres provendo esses serviços - ou seja,
ocupando posições de liderança em bancos centrais e comerciais e em agências regulatórias
financeiras?

E, novamente, a conclusão foi de que "a maior representatividade das mulheres (em
instituições financeiras) leva a mais estabilidade financeira" - na prática, menor
endividamento, decisões corporativas mais cautelosas, mais eficiência e menos chance de
crises financeiras.

"E isso tem grandes implicações, porque muitos países se preocupam com risco sistêmico e
estabilidade. Em todos esses aspectos, reduzir a desigualdade de gênero pode ter efeitos
macroeconômicos muito positivos", afirmou Sahay.

GETTY IMAGES

Segundo o FMI, menos de 2% das CEOs de instituições financeiras globais são mulheres;
elas também são menos de 20% dos membros dos conselhos dessas instituições.

"E isso é um contraste grande com a oferta de mulheres com formação relevante (nessa
área)", diz o texto do Fundo. "As mulheres representam 30% dos formandos em economia e
cerca de 50% dos formandos em administração e ciências sociais."

Segundo o estudo do Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gêneros "é boa para os
negócios".

"Pesquisas feitas ao longo de três décadas mostram que (...) empresas com mais mulheres
líderes e nos conselhos têm maiores lucros e performance financeira. Também têm menos
relatos de fraude, corrupção e erros financeiros. Na Noruega, onde é exigido que as
empresas reservem ao menos 40% de seus assentos de conselho a mulheres, as pesquisas
mostram que elas têm mais probabilidade de pensar em longo prazo, e incluir cidadãos, em
vez de apenas acionistas, em suas deliberações. As mulheres estimulam os conselhos a
focar mais na comunidade, no ambiente e nos empregados."

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