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SAÚDE
QUÍMICA FARMACÊUTICA
Copyright © Portal Educação
138p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-947-2
CDD 615.19
SUMÁRIO
3 MODELO CHAVE-FECHADURA..............................................................................................14
6 INTERAÇÕES HIDROFÓBICAS...............................................................................................28
13 ATROPOISOMERISMO ............................................................................................................58
Durante muitos anos a descoberta de fármacos foi baseada em grande parte por sorte,
porém isso vem mudando. Antes o desenvolvimento de novos fármacos se devia a pesquisa de
poucos indivíduos, mas hoje essa tarefa requer o trabalho de uma grande equipe composta de
especialistas de diversas áreas de conhecimento como medicina, farmácia, farmacologia,
microbiologia, fisiologia, patologia, toxicologia, química orgânica e química farmacêutica.
Nos dias atuais, diversas estratégias modernas estão disponíveis para o desenho
molecular de novos fármacos. Entre essas técnicas podemos ressaltar a abordagem fisiológica,
que se baseia no mecanismo de ação farmacológico pretendido, o que depende da eleição de
um alvo terapêutico. Essa abordagem de desenho ou planejamento molecular de novas
moléculas candidatas a novos fármacos, baseada no mecanismo de ação, fundamenta-se no
prévio conhecimento do processo fisiopatológico envolvido e na escolha correta do melhor alvo
terapêutico (p. ex., receptor), que pode ter a estrutura conhecida ou não.
1.2 NOÇÕES BÁSICAS
Para iniciarmos nosso estudo sobre a química farmacêutica vamos conceituar alguns
7
termos necessários para o melhor entendimento dessa ciência:
droga – qualquer substância que interaja com o organismo produzindo algum
efeito;
fármaco – uma substância definida, com propriedades ativas, produzindo efeito
terapêutico;
medicamento – é uma droga utilizada com fins terapêuticos ou de diagnóstico.
Muitas substâncias podem ser consideradas medicamentos ou não, depende da
finalidade com que foram usadas;
remédio (re = novamente; medior = curar) – substância animal, vegetal, mineral
ou sintética; procedimento (ginástica, massagem, acupuntura, banhos); fé ou crença;
influência: usados com intenção benéfica;
protótipo – composto farmacologicamente ativo original, a partir do qual análogos
são desenvolvidos;
screening farmacológico – seleção de fármacos mais ativos e seguros;
biofase ou biomacromolécula – alvo molecular das micromoléculas (p. ex.,
fármacos);
modelagem molecular – todo tipo de estudo que envolve a aplicação de modelos
teóricos utilizando os conceitos de átomo e molécula na descrição de estrutura e
propriedades de interesse em química.
1.3 CLASSIFICAÇÃO DOS FÁRMACOS
São compostos farmacologicamente inertes, mas que são convertidos na forma ativa no
10
organismo, por ação enzimática ou química. Exemplo: a levodopa, utilizada para o tratamento da
síndrome de Parkinson, é um pró-fármaco do neurotransmissor dopamina. Como a dopamina é
muito polar (hidrofílica) para atravessar a barreira hematoencefálica (BHE), mas como nessa
barreira existe um sistema transportador de aminoácidos, esse transporta a levodopa. Quando a
levodopa consegue entrar no cérebro, ele é descarboxilado, formando a dopamina, fármacos ativo
(figura a seguir).
Outra forma de classificação dos fármacos utilizada por químicos farmacêuticos, para
11
melhor compreensão dos modos de interação entre o fármaco e a biofase necessários para
gerar uma resposta biológica, é relacionada ao seu tipo de ação – que pode ser estruturalmente
inespecífica ou estruturalmente específica.
O halotano (a) é mais potente que o isoflurano (b) por apresentar um coeficiente de partição maior.
FONTE: Fraga, 2001.
As principais propriedades físico-químicas de uma micromolécula capazes de alterar
seu perfil farmacoterapêutico são o coeficiente de partição, que expressa a lipofilicidade relativa
da molécula (Log P), e o coeficiente de ionização (pKa), que expressa o grau de contribuição
relativa das espécies neutras e ionizadas.
A interação entre uma micromolécula com seu sítio de ação no sistema biológico
13
(receptor) ocorre durante a fase farmacodinâmica e é determinada por forças intermoleculares,
como interações hidrofóbicas, eletrostáticas, covalentes e estéricas.
A partir dessas interações intermoleculares entre fármaco e receptor pode ocorrer tanto
uma resposta biológica positiva como negativa. Por exemplo, respostas positivas podem produzir
uma resposta fisiológica imediata, como a abertura de um canal iônico, ou levar a uma série de
eventos bioquímicos que podem resultar na liberação dos chamados segundos mensageiros,
tais como o monofosfato cíclico de adenosina (cAMP). Esses segundos mensageiros promovem
uma sequência de eventos bioquímicos que resultam em uma determinada resposta fisiológica.
Alternativamente, a ligação de uma micromolécula ao receptor pode impedir uma resposta
fisiológica ao dar início à inibição de uma série de eventos biológicos associados, ou
simplesmente impedir que o ligante endógeno normal ligue-se ao receptor. Por exemplo, os β-
bloqueadores (como o propranolol) agem bloqueando os β-receptores, impedindo a ação da
adrenalina (ligante endógeno). Em todos os casos, o mecanismo pelo qual qualquer mensagem
conduzida pela micromolécula é traduzida pelo sistema do receptor em uma resposta tecidual é
conhecido como transdução do sinal.
1 Xenobióticos (do grego xenos = estranho): compostos químicos estranhos ao organismo (p. ex., fármacos).
3 MODELO CHAVE-FECHADURA
15
A partir dos três casos (chave original, chave modificada e chave falsa) podemos
distinguir duas etapas relevantes na interação da micromolécula com a biomacromolécula que
contém a subunidade receptora:
interação micromolécula-receptor – expressa pelo termo afinidade, que é a
capacidade da micromolécula de se ligar ao sítio complementar de interação;
geração da resposta biológica – expressa pelo termo atividade intrínseca, que é
a capacidade do sistema ligante-receptor, uma vez ligado, desencadear uma
determinada resposta biológica.
A Tabela 1 apresenta um exemplo para que possamos entender melhor esses dois
termos (afinidade e atividade intrínseca). Temos três substâncias hipotéticas A, B e C,
análogas do agonista AGO que atuam como ligantes de receptores X, em que o fármaco A
atua com propriedades agonistas. Vale destacar que as substâncias A, B e C são ligantes com
afinidades distintas, uma vez que são reconhecidas diferenciadamente pelos sítios localizados
no receptor – o que podemos observar pelos resultados do ensaio de binding (Tabela 1).
Nesse caso, o composto C é aquele que apresenta maior afinidade pelo receptor X, seguido
do derivado B e, por fim, o derivado A. O que é de extrema importância observar é que uma
maior afinidade não traduz a capacidade de o ligante produzir uma determinada resposta
biológica – como podemos evidenciar pela análise comparativa dos derivados B e A, em que B
apesar de apresentar uma afinidade dez vezes maior que o análogo A, apresenta atividade
intrínseca nula, isto é, não gerando resposta biológica (antagonista), diferentemente da
substância A, que é agonista. Podemos concluir que o derivado A é, apesar de apresentar 16
uma menor afinidade por esse receptor, um melhor candidato a fármaco que o derivado B.
Porém, analisando os três análogos testados, o melhor candidato a fármaco é o derivado C,
que além de apresentar maior afinidade (0,05 nM), apresenta atividade intrínseca igual a 1,0,
isto é, age como agonista total do receptor X.
B 8,7 Antagonista (α = 0)
IC50 = concentração de substância necessária para produzir interação com 50% dos receptores.
Atividade intrínseca (α) – α=1,0 (agonista total = produz efeito máximo), α <1,0 e >zero (agonista parcial = não
produz efeito máximo), α=zero (antagonista= não produz efeito).
18
a) Estrutura dos compostos 1, 2 e 3; b) visão frontal dos compostos 1 (amarelo), 2 (vermelho) e 3 (rosa) orientados
no sítio ativo da AchE (omitida para fins de clareza).
FONTE: Verli e Barreiro, 2005.
FIGURA 6
Esquema do processo de indução e seleção de conformações por ligante e receptor, modificando-se mutuamente
no processo de interação do qual poderá resultar uma resposta de interesse terapêutico.
FONTE: Adaptado de Verli e Barreiro, 2005.
As proteínas podem assumir um grande número de conformações praticamente
isoenergéticas e são capazes de sofrer mudanças conformacionais induzidas pela ligação a
substratos ou inibidores. As biomacromoléculas apresentam um número diversificado de
conformações ativas, algumas mais estáveis que outras, de modo que agonistas diferentes
estabilizam populações diferentes de receptores. Desse modo, um agonista pode produzir um
espectro de conformações ativas, enquanto que outro agonista pode estabilizar outro conjunto 20
de conformações do biorreceptor; esse processo é conhecido como seleção conformacional.
Adicionalmente, existe também o conceito de indução conformacional: quando um agonista
induz uma conformação de seu receptor nunca apresentada na sua ausência.
Para exemplificar essa ideia, podemos observar a Figura 7, que mostra a antitrombina
(AT) – uma proteína plasmática relacionada com a inibição da cascata de coagulação, que
quando encontrada livremente (Figura 7b) é inativa como inibidora, mas, ao se ligar à heparina
ou a um pentassacarídeo sintético (Figura 7a) apresenta mudanças conformacionais bastante
expressivas que a tornam uma inibidora do fator Xa da coagulação, 300 vezes mais eficiente
(Figura 7c). Dentre as mudanças existentes nessa complexação, podemos observar:
1) movimentos de cadeias por até 17 Å (formação de α-hélice, marcada por um
círculo verde na Figura 6);
2) movimentos de 30 Å do sítio de ligação (mudanças conformacionais de folhas-β e
alças, marcadas por um círculo vermelho na Figura 6), sugerindo a existência de uma
alteração alostérica.
21
aa aa
aa
aa aa aa
aa
As forças eletrostáticas são resultantes da interação entre dipolos e/ou íons de cargas
23
opostas, cuja magnitude é diretamente dependente da constante dielétrica do meio e da
distância entre as cargas. A molécula de água apresenta elevada constante dielétrica, pois
apresenta momento de dipolo permanente; e esse fato pode reduzir as forças de atração e
repulsão entre dois grupos carregados e solvatados.
Para exemplificar como pode ocorrer uma ligação iônica na interação fármaco-
receptor, temos o flurbiprofeno, anti-inflamatório não esteroidal que atua inibindo a enzima
prostaglandina endoperóxido sintase (PGHS)3, que provoca sua ação por ligações com resíduos
24
de aminoácidos da enzima, como interação do grupamento carboxilato da forma ionizada com o
resíduo de arginina na posição 120 da sequência primária dessa proteína (Figura 10).
26
27
Vários fármacos são reconhecidos por ligações de hidrogênio, dos quais podemos
destacar o antiviral Saquinavir. O Saquinavir se complexa ao sítio ativo da protease do vírus
HIV-1 (Figura 17). O reconhecimento do inibidor enzimático envolve fundamentalmente
ligações de hidrogênio com resíduos de aminoácidos do sítio ativo, diretamente ou por
intermédio de moléculas de água (Figura 17).
FIGURA 15 - LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO E A MANUTENÇÃO
DA ESTRUTURA DUPLA FITA DO DNA
30
31
Essa interação, que envolve a formação de uma ligação sigma entre dois átomos que
contribuem cada qual com um elétron, ocorre com fármacos que apresentam grupamentos com
acentuado caráter eletrofílico e bionucleófilos orgânicos.
34
Essa abordagem de extração e purificação dos receptores foi utilizada pela primeira
vez com êxito no receptor nicotínico de acetilcolina. Tratando tecidos musculares com
detergentes iônicos foi possível tornar solúvel a proteína receptora ligada à membrana.
Posteriormente, essa proteína pôde ser purificada pela técnica de cromatografia por afinidade,
em que um ligante do receptor, ligado de forma covalente à matriz de uma coluna de
cromatografia, foi utilizado para adsorver o receptor e separá-lo de outras substâncias no extrato
de tecido muscular. Em seguida, o receptor pôde ser eluído da coluna por lavagem com uma
solução contendo um antagonista (p. ex., galamina). Atualmente, abordagens semelhantes vêm
sendo utilizadas para purificar diferentes tipos de receptores.
Assim, muitas informações foram adquiridas ao introduzir o DNA clonado que codifica
receptores individuais em linhagens celulares por transfecção, produzindo células capazes de
expressar os receptores estranhos a elas, numa forma funcional. Desenvolvidas por engenharia
genética, essas células permitem um controle mais rigoroso dos receptores expressos do que o
possível com células naturais ou tecidos intactos, auxiliando nos estudos referentes a esses
receptores.
37
A ligação simultânea de duas moléculas de Ach às duas subunidades α resulta na abertura do canal iônico com
entrada de Na+ e saída de K+, despolarização da membrana e disparo do potencial de ação.
FONTE: Lüllmann e colaboradores, 2008.
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Exemplo: receptores de insulina (Figura 22), de várias citocinas e fatores de
crescimento (associado à quinase), receptor do fator natriurético atrial (associado à guanilato
ciclase).
FIGURA 22
Receptor de insulina, ativado pela ligação do agonista (insulina), levando a ativação da tirosina quinase, que por sua
vez fosforila resíduos de tirosina em proteínas, resultando em uma cascata de sinalização que culminará em
alteração da função celular.
FONTE: Lüllmann e colaboradores, 2008.
Tipo 4 – Receptores nucleares
Regulam a transcrição de genes. O termo usado, receptores nucleares, é um tanto
incorreto, visto que alguns se localizam, na verdade, no citoplasma e migram para o
compartimento nuclear na presença do ligante.
FIGURA 23
Receptor dos hormônios esteroides (nucleares): o hormônio se liga ao receptor no citosol; esse complexo, por sua
vez, atravessa a membrana nuclear e interage de forma pareada com o DNA regulando a sua transcrição.
FONTE: Lüllmann e colaboradores, 2008.
40
FIGURA 25
Representação tridimensional do complexo da acetilcolinesterase com o inibidor tacrina (roxo), com destaque para
os resíduos de aminoácidos que compõem o sítio receptor (vermelho).
FONTE: Fraga, 2001.
Dessa forma, podemos considerar que a interação entre o fármaco e uma proteína
deve ser imaginada como uma colisão entre dois componentes flexíveis. Nesse processo, o
choque inicial do ligante com a superfície da proteína deve provocar o deslocamento de
moléculas de água superficiais em garantir o acesso imediato ao sítio ativo, uma vez que o
transporte do ligante sítio de reconhecimento molecular deve envolver múltiplas etapas de
acomodamento conformacional que produzam um modo de interação mais favorável 42
entalpicamente e entropicamente.
43
44
Quando duas moléculas não podem ser sobrepostas (quirais), elas são tipos de
estereoisômeros, também conhecidos como enantiômeros (do grego enantio = opostos). A única
diferença existente entre esses enantiômeros é a propriedade de desviar o plano da luz
polarizada quando uma solução de cada um deles é submetida a um equipamento chamado
polarímetro.
Sabe-se que uma onda de luz viaja no espaço vibrando em vários planos; mas quando
um feixe de luz é submetido a um cristal, contido no polarímetro, essa luz passa a vibrar em um
único plano. Portanto, quando uma solução contendo um enantiômero é submetida a um
polarímetro, ela pode desviar o plano para a direita ou para a esquerda (Figura 29). Se o plano
for desviado para a direita, a substância é conhecida como dextrorrotatória (do latim dextro =
direita). Se o plano é desviado para a esquerda, a substância é conhecida como levorrotatória 45
(do latim laevu = esquerda). Essa propriedade é conhecida como rotação óptica. Como
convencionado, coloca-se um sinal de menos entre parênteses (-) para nomear uma substância
levorrotatória e um sinal de mais (+) para designar uma substância dextrorrotatória.
Podemos observar a aplicação dessa regra na Figura 30, que exemplifica utilizando a
molécula do aminoácido fenilglicina.
FIGURA 29
46
a) polarização da onda de luz em um polarímetro. b) desvio do plano de luz ocasionado por um polarímetro.
FONTE: Coelho, 2001.
FIGURA 30 - APLICAÇÃO DA REGRA R E S
47
48
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Isômeros espaciais são os que só podem ser diferenciados por sua fórmula espacial.
52
Esse tipo de isomeria pode ser dividido em isomeria óptica (que destacamos anteriormente) e
isomeria geométrica. A isomeria geométrica só ocorre em moléculas que apresentam ligação
dupla ou um ciclo.
Átomos de carbono unidos por ligação simples têm possibilidade de rotação livre, por
isso uma das estruturas pode ser convertida na outra pela rotação de um dos carbonos ao
redor do eixo que une os carbonos 2 e 3 da estrutura (Figura 35). Já se os carbonos 2 e 3
estivessem unidos por uma ligação dupla, a situação seria diferente. A dupla ligação impede a
rotação dos carbonos dela participantes. Os carbonos 2 e 3 são trigonais e se dividirmos o
plano a que pertencem todos os carbonos através do eixo da dupla ligação, observaríamos,
claramente, a existência de dois compostos diferentes. Em um exemplo, os grupos metil (CH 3)
se encontram de um mesmo lado (cis-2-buteno) e no outro, estarão de lados diferentes (trans-
2 buteno) (Figura 36).
FIGURA 35
53
54
A “Food and Drug Administration” (FDA), dos Estrados Unidos, e outros órgãos
semelhantes existentes em países desenvolvidos estabeleceram protocolos que devem ser
seguidos para a liberação de um novo medicamento, especialmente se a estrutura do princípio
56
ativo for quiral. Para a liberação comercial de uma mistura racêmica é necessária a execução
de todos os ensaios clínicos e toxicológicos com cada enantiômero isoladamente e
comparados com aqueles envolvendo a mistura racêmica. Esses protocolos tiveram um efeito
imediato sobre o tempo e o custo para a liberação de uma nova substância, que totalizava no
passado US$ 20 milhões, atingindo hoje a faixa dos US$ 150 milhões a US$ 250 milhões.
(b) (a)
61
FIGURA 46
Octan
ol
65
x = Log (Px/PH)
E, portanto, o coeficiente de partição (Log P x) de um derivado funcionalizado com um
substituinte X, pode ser calculado empregando-se a equação a seguir, acrescentando o valor de
contribuição da constante hidrofóbica do substituinte X tabelada ao logaritmo do coeficiente de
partição do derivado não substituído (Log PH).
66
Log Px = Log PH + x
OH = -1,67
NHCOCH3 = -0,97
Benzeno
Log PH = 2,13
Paracetamol
Log Px = 0,49 (calculado)
Log Px = 0,46 (experimental)
FONTE: Adaptado de Barreiro e Fraga, 2008.
Na Índia da Antiguidade, pode-se encontrar escritos de 3000 anos a.C. que indicavam
a utilização de óleos viscosos para o tratamento de diversas doenças. A maior utilização desses
óleos foi observada principalmente no século V a.C.
Claudius Galeno, médico e filósofo grego (129‐216 d.C.), conhecido como o Pai da
Farmácia, foi um importante observador científico dos fenômenos biológicos. Dos mais de 300
tratados escritos por Galeno, cerca de 150 são aceitos atualmente, inclusive suas famosas
prescrições, conhecidas como preparações galênicas, que foram reestudadas em 1963 e tiveram
a composição dos seus inúmeros óleos determinados.
69
Estrutura química da morfina e da heroína, com destaque para os grupos hidroxílicos encontrados na morfina se
apresentarem acetilados na heroína, tornando-a assim mais lipofílica.
FONTE: (NOGUEIRA, 2009).
17 COEFICIENTE DE IONIZAÇÃO E CÁLCULO DO COEFICIENTE DE IONIZAÇÃO (PKA)
A maioria dos fármacos é de ácido ou de base fraca (Figura 51). Fármacos de natureza
70
básica (BH+) podem ser protonados, levando à formação de espécies catiônicas; enquanto
fármacos de natureza ácida (HA) podem ser desprotonados, levando à formação de espécies
aniônicas (A-), como pode ser observado na Figura 52.
MEIO
+ + EXTRACELULAR + -
BH H + HA H +A
B
71
+ + -
H +B H +A
+
HA
MEIO INTRACELULAR
FONTE: Adaptado de Goodmann e Gilman, 2011.
Essas equações podem ser utilizadas para dar uma previsão de como será o
comportamento farmacocinético (absorção, distribuição e excreção) de fármacos, conhecendo-se
previamente o pH dos principais compartimentos biológicos (mucosa gástrica, pH = 1,0, mucosa
intestinal, pH = 5,0 e plasma, pH = 7,4), permitindo em alguns casos auxiliar na otimização de
propriedades físico-químicas de alguns análogos.
É mostrado a seguir um exemplo (Figura 53), para melhor compreensão dos cálculos
para determinação da porcentagem de ionização dos fármacos. Nesse exemplo ilustramos o
comportamento do ácido acetilsalicílico, fármaco de natureza ácida que apresenta pKa = 3,5,
nas mucosas gástrica (pH = 1,0) e intestinal (pH = 5,0).
FIGURA 53 - GRAU DE IONIZAÇÃO DO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS)
NA MUCOSA GÁSTRICA E NA MUCOSA INTESTINAL
73
Portanto, podemos concluir que o AAS por se tratar de um fármaco ácido apresenta
maior absorção na mucosa gástrica (pH = 1,0).
18 COEFICIENTE DE PARTIÇÃO VS COEFICIENTE DE IONIZAÇÃO
75
EFEITO ADVERSO
77
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Essa reação converte uma molécula muito hidrofóbica em um derivado hidrofílico maior, que é eliminado na bile.
FONTE: Goodmam e Gilman, 2010.
19.1 REAÇÕES MEDIADAS PELA FAMÍLIA P-450
81
As CYPs são responsáveis por diversas reações enzimáticas, entre elas estão a O-
desalquilação, a N-desalquilação, a hidroxilação aromática, a N-oxidação, a S-oxidação, a
desalogenação e a desaminação. As CYPs são algumas das enzimas mais estudadas, sendo
responsáveis pela metabolização de 70% dos xenobióticos (Figura 60). Há mais de 50 enzimas
CYP identificadas nos seres humanos. Essas enzimas são complexas e variáveis em sua
regulação e em sua atividade catalítica. Existem 102 genes potencialmente funcionais e 58
pseudogenes nos seres humanos. Com base na semelhança das sequências dos aminoácidos,
esses genes são agrupados em famílias e subfamílias. São denominadas CYP seguidas de um
número que designa a família, uma letra que designa a subfamília e outro número para assinalar
o gene (p. ex., CYP3A4: família 3, subfamília A e gene número 4).
FIGURA 60 - PERCENTUAL DE FÁRMACOS METABOLIZADOS
PELAS PRINCIPAIS ENZIMAS DA FASE I
82
Na maioria das vezes, essa etapa envolve a família do citocromo P-450 hepático,
responsável por levar a inserção de um átomo de oxigênio, originário de uma molécula de
oxigênio na estrutura do fármaco, como já pudemos observar na Figura 59.
O principal sistema enzimático envolvido no metabolismo de fármacos é sistema das
enzimas microssomais hepáticas, que compreende o citocromo P-450 e uma flavoproteína,
NADPH-citocromo-C redutase, que associada a lipídeos, formam o sistema de oxidades de
função mista, conhecido como MFO.
Β-oxidase
Redutase
86
88
89
90
Grupo auxofórico
Segundo a União internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), grupos
auxofóricos são grupamentos funcionais capazes de apresentar sítios de interação que
promovem o reconhecimento molecular do fármaco pelo biorreceptor. Esse grupo auxilia o
reconhecimento do fármaco pelo receptor somando-se ao reconhecimento primário que é
responsabilidade do grupo farmacofórico.
Grupo toxicofórico
Também segundo a IUPAC, grupo toxicofórico é(são) subunidade(s) estrutural(is) ou
fragmento(s) molecular(es) responsável(is) por uma resposta tóxica dos fármacos direta ou
indiretamente. E são formados por grupamentos toxicofóricos ou toxicóforos.
92
93
Podemos observar:
carcinógenos genotóxicos – causadores de mutação no gene. Podem ser
classificados em:
o primários – causam mutações por ação direta;
o secundários – causam mutações após serem convertidos em metabólitos
reativos.
carcinógenos epigenéticos – são substâncias que, por si só, não causam
lesão genética, no entanto, aumentam a probabilidade de causar câncer, por diversos
mecanismos, como:
o aumento de concentrações efetoras do genotóxico;
o potencialização da biotransformação do genotóxico;
o diminuição da desintoxicação de um genotóxico;
o inibição do processo de reparo de DNA;
o aumento da proliferação de células que tiveram seu DNA danificado.
95
96
a) b)
99
A adição de insaturações aumenta a rigidez estrutural; além de gerar esteroisômeros
com atividades, muitas vezes, distintas. Análogos produzidos pela introdução de insaturações
podem exibir diferentes potências (Figura 75) ou tipos diferentes de atividade farmacológica
(Figura 76).
100
O aumento de tamanho pode ser útil para o preenchimento de uma fenda hidrofóbica,
que exista em um sítio receptor, o que pode fortalecer a interação fármaco-receptor (Figura 77).
101
b) Grupamento hidroxi
Com a adição de grupamentos hidroxi a molécula produz um análogo com maior
hidrossolubilidade, reduzindo sua capacidade de atravessar as membranas biológicas, porém
essa adição pode gerar um novo centro de interação com o receptor para a formação de pontes
de hidrogênio.
104
d) Metila
Como já discutido anteriormente, a introdução de metilas aumenta a lipossolubilidade
do composto e aumenta sua hidrossolubilidade (Figura 82).
A introdução de metila a uma substância pode impor restrições estéricas a este novo
análogo, como podemos observar no exemplo da Figura 83, em que o análogo o-metil da
difenidramina não exibe atividade anti-histamínica. Sugere-se que esse fato se deve a restrições
de rotação em torno da valência C-O da cadeia lateral, imposta pelo grupamento o-metil,
impedindo que a molécula adote a conformação necessária à atividade anti-histamínica. Já no
análogo que recebeu o grupamento metila na posição para sua atividade é 3,7 vezes maior que
a difenidramina.
105
106
FONTE: Thomas, 2003.
f) Grupamentos de enxofre
Geralmente, os grupamentos tiol e sulfeto não são introduzidos nos protótipos nos
estudos de SAR, são metabolizados via oxidação, formando muitas vezes metabólitos
eletrofílicos. Entretanto, grupamentos tióis algumas vezes são introduzidos com o intuito de
melhorar a quelação de metais.
No que diz respeito ao mecanismo de ação dos fármacos, esses podem ser
107
classificados em estruturalmente inespecíficos e estruturalmente específicos (como já discutido
em tópicos anteriores neste curso). Com relação aos fármacos estruturalmente específicos, cuja
interação com o sítio-receptor se faz essencial para a geração de resposta biológica, podemos
destacar os itens apresentados a seguir.
108
21.2 FÁRMACOS QUE INTERAGEM COM PROTEÍNAS CARREGADORAS
109
A maioria dos fármacos existentes e de uso recorrente na clínica atua sobre receptores
metabotrópicos ou ionotrópicos, por esse motivo são os mais estudados e relevantes.
22 MODIFICAÇÃO MOLECULAR
5Hit – molécula que apresente características promissoras no aspecto de desenho de drogas e que se ligue a uma
proteína alvo.
Para aplicação do bioisosterismo de forma segura, de maneira a não prejudicar os
efeitos farmacológicos de uma determinada substância, é necessário um conhecimento
minucioso de suas propriedades estruturais (incluindo suas contribuições farmacofóricas).
Também é necessário conhecimento das vias de inativação metabólica e dos principais fatores
estruturais determinantes das propriedades físico-químicas que regulam sua biodisponibilidade e
seus efeitos adversos, que irão permitir uma previsão abrangente da definição da relação 111
bioisostérica a ser empregada na modificação molecular pretendida.
113
115
118
120
23.1 CLÁSSICOS
23.3 MISTOS
Exemplo dessa classe (Figura 93) é a utilização dos ésteres da trigonelina como
transportadores (assim como os clássicos) de fármacos de ação central, que atravessam a
barreira hematoencefálica (BHE). Em seguida sofrem ação do sistema redox celular (assim
como os bioprecurssores), tornam-se então carregados, ficando retidos no SNC, que após
sofrerem hidrólise, liberam a porção farmacologicamente ativa. Esse sistema é chamado de
sistema de liberação química ou chemical delivery system (CDS).
FIGURA 93 - EXEMPLO DE PRÓ-FÁRMACO MISTO
123
124
126
128
Novos fármacos podem ser desenvolvidos pela análise de dados teóricos de estrutura-
atividade de forma tridimensional, obtidos por técnicas de modelagem molecular, recentemente
utilizada.
131
132
Átomos não ligados interagem em uma mesma região do espaço e provocam repulsão
estérica e eletrostática. Para corrigir essas distorções as moléculas podem ser otimizadas por
meio do processo de minimização de energia. Esse processo se dá a partir de dois modelos
matemáticos existentes:
mecânica molecular;
mecânica quântica.
Podem ocorrer interações que não sejam previsíveis, que estão relacionadas a:
sobreposição de orbital molecular, distribuição de densidade eletrônica ou interferências
estéricas. Esses problemas podem ser solucionados com a utilização de métodos
computacionais, e devem ser solucionados para que haja uma seleção racional de novos
fármacos. A minimização de energia e a análise conformacional são usadas interativamente para
otimizar a geometria de uma molécula.
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Por conta das circunstâncias expostas, e que são um histórico pesado do país, não se
criaram as condições capazes de favorecer as atividades de pesquisa científica em fármacos e
medicamentos nas instituições de ensino farmacêutico e também dentro das indústrias
instaladas no Brasil.
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