Você está na página 1de 8

Antiguidade: democracia e direitos

AULA 4 Democracia designa o sistema político em que os cidadãos exercem a sobe-


rania. Cidadania refere-se à condição de cidadão; aquele que tem o direito de
participar da vida política e social. Democracia, cidadania e direitos são fenô-
menos históricos com raízes nas civilizações greco-romanas que coexistem
com diferentes formas de escravidão.

A democracia revela-se como um processo dinâmico de aprendizado

A democracia é um dos principais temas de nosso tempo. Certamente por isso, o filósofo e
historiador político italiano Norberto Bobbio (1909-2004) dedicou boa parte de sua obra às análises
sobre as possibilidades e os limites dessa prática política, que há mais de 2.000 anos vem se afir-
mando, de forma crescente, nas diversas sociedades.
Entre os muitos pontos para os quais Bobbio nos chama a atenção, talvez o aspecto central
seja o reconhecimento da democracia como algo dinâmico, como um processo em constante trans-
formação. É com base nessa constatação que podemos e devemos acreditar no potencial das socie-
dades democráticas, apesar de todas as dificuldades que o cotidiano revela.
O aprofundamento das democracias, na maior parte dos países, deve orientar-se pela supera-
ção dos descompassos entre os ideais e a realidade. Bobbio nos dá algumas pistas para essa tarefa
ao identificar certos propósitos que, na prática, as democracias não foram capazes de realizar.
Destacam-se, dentre elas, a importância de se estender a democracia política para a democra-
cia social e a necessidade de se promover a educação para a cidadania. Se a democracia é sempre
processo, é também um constante aprendizado para quem dela participa.
Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/cidadania-e-democracia-no-brasil/.
Acesso em: 20.08.2013. Texto adaptado.

História 1 - Aula 4 39 Instituto Universal Brasileiro


Origem e evolução de democracia, cidadania e direitos
Nesta aula, veremos a formação de duas são”. Eles foram os pioneiros nos Jogos Olím-
grandes civilizações do passado, centraliza- picos e a prática dos esportes difundiu-se com
das na Grécia e em Roma, destacando sua o ideal do guerreiro.
importância na origem dos conceitos de de- A palavra guerreiro era uma palavra “pú-
mocracia, cidadania e direitos fundamentais. blica” justamente porque era compartilhada
O esplendor da cultura greco-romana atingiu com os demais em posição de igualdade. O
seu apogeu até o século V quando se iniciou sistema educacional ateniense tinha caráter
a transição para a Idade Média. político, com uma formação baseada na re-
A partir do século XVIII, o mundo ociden- flexão e debate sobre a realidade, apesar de
tal começa a refletir sobre outros critérios de muitas vezes cidadania ser entendida como
cidadania que incluíam concepções como a condição restrita a um grupo seleto de indi-
igualdade jurídica entre os indivíduos. A partir víduos. Ser cidadão era privilégio de poucos.
de então, o conceito de cidadania ganha am- Entre os excluídos estavam os estrangeiros e
plitude entre vários povos, num processo que os escravos.
a partir do século XX se estende aos direitos
das mulheres e das minorias.

O que herdamos dos antigos gregos?


Um dos legados históricos mais impor- O vocábulo público vem do latim
tantes da Antiguidade clássica é a democra- publicus e, na Antiguidade, significava
cia de Atenas na Grécia Antiga. Mas os gre- concernente ao público, aquilo que é de
gos nos deixaram também uma importante interesse, utilidade de todos, em oposição
herança cultural, que até hoje nos influencia, àquilo que é privado, particular.
no mundo das artes, da política, da Filosofia O significado etimológico, isto é, a
e das ciências em geral. Em muitas línguas origem da palavra democracia também é
modernas verificamos palavras em que apa- grega: demos = povo e krasos = gover-
recem radicais gregos como: micro, macro, no, portanto, governo do povo = participa-
cosmo, biblio, grama etc. ção popular.

Atenas e a invenção da democracia


É muito comum entre as pessoas asso-
ciarem à democracia a ideia de participação
eleitoral, ou seja, se há eleições, há democra-
cia. No caso da Grécia Antiga, mais precisa-
mente em Atenas, existia uma participação
popular que não se limitava ao direito de votar.
Em Atenas, a democracia era dire-
ta. Significava que os cidadãos gregos que
Região da Antiga Grécia (em vermelho)
se reuniam nas assembleias se tornavam
Pela primeira vez, na história, a demo- responsáveis pelas decisões políticas da
cracia foi praticada e o conceito de cidadania cidade-estado ou pólis, como a criação de
e o ideal de cidadão ecoaram em praça públi- impostos, a aprovação de obras públicas e a
ca. Os gregos afirmavam: “Mente sã em corpo eleição de magistrados.
História 1 - Aula 4 40 Instituto Universal Brasileiro
Grécia: cidadania, um direito de poucos

Segundo o filósofo Aristóteles, “não é


cidadão quem quer”. Apenas os homens li-
vres, filhos de pai e mãe atenienses, tinham
direitos políticos, o gozo pleno da cidadania.
O critério, extremamente restritivo, excluía
da vida pública mulheres, escravos, libertos
e estrangeiros, ou seja, a maior parte da po-
pulação.
Para Platão, o cidadão não deve ser um
escravo, um artesão, um elemento oriundo
Acrópole. Designação de uma das co-
das camadas serviçais, pois esses não “do-
linas rochosas mais famosas do mundo que
minavam as técnicas da política, uma ciên-
tem o topo plano e se ergue a 150 metros
acima do nível do mar em Atenas, capital da cia que apenas uma minoria disponível e
Grécia; nela estão algumas das mais famo- educada poderia aprender e praticar”.
sas edificações do mundo antigo; e no topo,
o Partenon – símbolo do apogeu da Atenas Cidadania hoje
democrática.
Leia o conceito de cidadania, segundo o
Atenas se tornou a primeira cidade da his- jurista brasileiro Dalmo Dallari.
tória a ser governada pela maioria da população
com direitos políticos. O novo regime alarmou
muitos homens da época, em especial os filó-
sofos gregos Platão e Aristóteles que tinham
concepções políticas hierarquizadas. A demo-
cracia expandiu-se em Atenas e fez dela a mais
poderosa das cidades-estados gregas.
Isso só foi possível porque homens
como Sólon, Clístenes e Péricles ampliaram
o conceito de democracia. Mostraram ao mun-
do que as decisões coletivas sobre os rumos “A cidadania expressa um conjunto
de direitos que dá à pessoa a possibili-
de uma comunidade não devem ser monopoli-
dade de participar ativamente da vida e
zadas por um pequeno grupo de “iluminados”, do governo de seu povo. Quem não tem
mas sim, o resultado de um amplo debate en- cidadania está marginalizado ou excluído
tre todos os cidadãos, independente de classe da vida social e da tomada de decisões,
ou condição social ficando numa posição de inferioridade
dentro do grande grupo social.”
O conceito de cidadania
Cidadania (do latim, civitas, “cidade”) é
o conjunto de direitos e deveres ao qual um O que herdamos dos
indivíduo está sujeito em relação à sociedade antigos romanos?
em que vive.
Roma é o típico exemplo de cidade que
O conceito de cidadania sempre esteve
virou império. Após dominar toda a Península
fortemente “ligado” à noção de direitos, espe-
Itálica, os romanos passaram a realizar inú-
cialmente os direitos políticos, que permitem ao
indivíduo participar de modo direto ou indireto na meras guerras de conquistas e chegaram a
formação do governo e na sua administração. dominar as terras banhadas em torno do Mar
Mediterrâneo.
História 1 - Aula 4 41 Instituto Universal Brasileiro
Os princípios do direito romano

Para governar o extenso Império Ro-


mano surgiu a necessidade de estabelecer
leis que orientassem o povo. Neste contexto,
foram estabelecidos os princípios do direi-
to romano, aplicados desde a fundação de
Roma em 753 a.C. até 565 d.C. O sistema
jurídico romano já apresentava subdivisões
como o direito privado, o direito público e o
direito internacional. A ampla influência do
direito romano nas diversas culturas de to-
Traçado do Antigo Império Romano dos os tempos faz que seja considerado um
dos mais importantes legados da civilização
O latim era o idioma falado entre os an- romana.
tigos romanos. Duas importantes contribui- A partir dos princípios do direito romano
ções culturais se destacaram entre os roma- foi elaborado um importante documento: A Tá-
nos: a origem e a expansão do cristianismo bua das Doze Leis, considerada a legislação
e, no plano jurídico, o direito romano que para todo o Império. As doze leis teriam sido
norteou as bases das normas e regras da promulgadas, inscritas em tábuas e fixadas no
vida dos romanos e que se estende até Fórum Romano, para conhecimento público.
hoje, como legado para a nossa civilização
ocidental, apesar de a cidadania romana ser
também atributo de homens livres.

As influências do cristianismo
As raízes históricas
no mundo ocidental
da palavra fórum
O surgimento do cristianismo se deu
com Jesus Cristo, que pregava a virtude
e o bem, e o desligamento de todas as ri-
quezas materiais. A religião cristã funda-
menta-se na crença de um único Deus, ou
seja, o monoteísmo. A princípio, houve
a perseguição aos novos cristãos. Com a
conversão do imperador Constantino, em
313, a religião ganhou força com o apoio
do Estado e garantiu a ascensão da Igreja Fórum romano. Ruínas de um dos símbolos do
Império Romano, no centro de Roma, Itália.
Católica.
O cristianismo teve papel de desta- A palavra fórum em latim significa
que na formação da civilização ocidental. “praça pública”. Este é o sentido do Fórum
Nas sociedades ocidentais a doutrina cris- Romano que designava o espaço central
tã deixa marcas históricas na educação, na da cidade para as atividades comerciais,
cultura e na filosofia, além de influenciar a religiosas e políticas. A simbologia do lugar
política. Os ensinamentos cristãos são con- está intimamente ligada à ideia de espaço
siderados uma das fontes da concepção público. Atualmente, fórum pode designar
moderna de direitos humanos. As grandes o local onde são processados e debatidos
festas cristãs, como Páscoa e Natal, tor- assuntos relacionados à justiça e ao direi-
naram-se, praticamente, feriados comuns to. Mas a noção de fórum como espaço
para todo o mundo ocidental.
História 1 - Aula 4 42 Instituto Universal Brasileiro
aberto de intercâmbio ainda se man- Direitos e democracia
tém, mesmo se ligado a novos contextos. na atualidade
Usa-se a designação fórum para traduzir Atualmente, o conceito de democracia
a possibilidade de interação, discussão e tem uma ligação estreita com os direitos e de-
troca em reuniões ou na internet. veres dos cidadãos. A referência é a coletivida-
de, o âmbito social: os interesses comuns são
prioritários. De acordo com esta perspectiva,
Traços de escravidão sob os meios de comunicação desempenham um
diferentes formas papel importantíssimo na formação do pensa-
mento crítico e na tomada de consciência das
A passagem da sociedade comunitária questões sociais relevantes.
para uma sociedade dividida em classes desi-
guais é observada na Mesopotâmia. O modo
de produção no crescente fértil se expandiu e
apresenta os primeiros vestígios de relações
de exploração entre os homens.
A partir de então é possível constatar di- O papel da imprensa nas
versas ocorrências de escravidão sob diferen- sociedades democráticas
tes formas ao longo da história, praticada por
civilizações distintas. Em geral, a forma primá- Leia trechos selecionados do artigo
ria dessa prática acontece entre povos com científico publicado no portal Âmbito Jurí-
dico, escrito pela advogada brasileira Aline
interesses divergentes que fazem prisioneiros
Martins Rospa, sobre o papel fundamental
de guerra se tornar escravos. da liberdade de imprensa.
Mas os primeiros exemplos de socieda-
des escravistas surgem na Grécia Antiga e na A liberdade de expressão é direito de
Roma Imperial, em que a economia estabele- suprema importância para que a sociedade
ce relação de dependência com o escravismo. possa conhecer e se defender de possíveis
Na civilização grega e romana a escravidão arbitrariedades cometidas pelo poder público.
estava disseminada por toda a sociedade. Os É condição primordial para que o Estado seja
escravos atendiam a diferentes funções, al- caracterizado como sendo democrático.
gumas específicas, outras prestigiadas como Os direitos fundamentais possuem ínti-
ourives, dançarinos, músicos, artesãos. ma vinculação com as noções de Estado de
Direito e Constituição, uma vez que juntamen-
Um exemplo é a democracia ateniense,
te com a definição da forma de Estado, siste-
considerada escravista e excludente: o trabalho ma de governo e organização do poder, in-
escravo era a base da vida econômica da so- tegram a essência do Estado Constitucional.
ciedade, e os escravos, que constituíam grande Por esta razão, estes direitos exercem papel
parte da população, não tinham direitos políticos; mais amplo que a simples limitação do poder
os estrangeiros só tinham direitos civis, portanto, estatal, tornando-se critério de legitimação da
não tinham participação política; e as mulheres, ordem constitucional.
além de não possuírem direitos políticos, tinham A liberdade de imprensa é um eficaz
seus direitos limitados pelo pai ou marido. instrumento da democracia e estabelece um
Sociedades com relações de escravidão ambiente no qual, sem censura ou medo, vá-
acompanham a História desde a Antiguidade, rias opiniões e ideologias podem ser manifes-
tadas e contrapostas, exercendo seu papel de
passando pela Idade Média até a Idade Moder-
participar no processo de formação do pensa-
na. E ainda, atualmente, encontram-se elemen- mento.
tos residuais de escravidão em diferentes grupos
espalhados pelo mundo, sobretudo nas relações Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/
site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
de trabalho, mesmo a escravidão sendo hoje en- id=10287. Acesso em: 12.07.2013. Texto adaptado.
tendida como violação dos direitos humanos.
História 1 - Aula 4 43 Instituto Universal Brasileiro
Para entender melhor a relação entre direitos e democracia, leia este trecho da palestra da
filósofa e socióloga brasileira Marilena Chauí, no Fórum de Direitos e Cidadania da Presidência
da República em 05.10.2011.

O cerne da democracia é a criação de direitos


O que é um direito? Um direito difere de uma necessidade, uma carência ou um interesse que
são particulares e específicos. Um direito, ao contrário, não é particular e específico, mas geral e
universal, válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais.
Justamente porque opera com a criação de direitos, a democracia não se confina a um setor espe-
cífico da sociedade, mas determina a forma das relações sociais, ou seja, a democracia institui a socieda-
de democrática. Em traços gerais, a sociedade democrática possui as seguintes características:
1. Forma sociopolítica definida pelo princípio da isonomia (igualdade dos cidadãos perante a
lei) e da isegoria (direito de todos para expor em público suas opiniões, vê-las discutidas, aceitas ou
recusadas em público).
2. Forma sociopolítica na qual, ao contrário de todas as outras, o conflito é considerado legítimo
e necessário. A democracia não é o regime do consenso, mas do trabalho dos e sobre os conflitos.
3. Forma sociopolítica que busca enfrentar as dificuldades, conciliando o princípio da igualdade
e da liberdade, introduzindo a ideia dos direitos (econômicos, sociais, políticos e culturais).
4. Graças à ideia e à prática da criação de direitos, a democracia define a liberdade pela au-
tonomia, isto é, pela capacidade dos sujeitos sociais e políticos darem a si mesmos suas próprias
normas e regras de ação.
5. Pela criação dos direitos, a democracia surge como o único regime político realmente aberto
às mudanças.
6. Única forma sociopolítica na qual o caráter popular do poder e das lutas tende a evidenciar-
-se nas sociedades de classes.
7. Forma política na qual a distinção entre o poder e o governante é garantida não só pela pre-
sença de leis, mas também pela existência das eleições.
A dimensão criadora da democracia, ou seja, a ação cujos protagonistas são as classes so-
ciais, torna-se visível quando consideramos os três grandes direitos que definiram a democracia
desde sua origem, isto é, a igualdade, a liberdade e a participação nas decisões.
Disponível em: http://www.secretariageral.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/10/05-10-2011-palestra-de-
marilena-chaui-proferida-no-forum-direitos-e-cidadania-15-setembro. Acesso em: 22.06.2013. Texto adaptado.

Traços de escravidão sob


diferentes formas

Há diferentes vestígios de escravidão na


Origem e evolução das noções de Antiguidade, mas os primeiros exemplos de so-
democracia, cidadania e direitos ciedades escravistas surgem na Grécia Antiga e
na Roma Imperial, em que a economia estabe-
Grandes civilizações do passado, Grécia lece relação de dependência com o escravismo.
e Roma, estão na origem dos conceitos de de-
mocracia, cidadania e direitos fundamentais. Direitos e democracia na atualidade

O que herdamos dos antigos gregos? É importante destacar dois pontos fun-
damentais:
Entre os legados históricos mais importantes
estão a democracia e a concepção de cidadania. ►A democracia como fator essencial à
criação de direitos.
O que herdamos dos antigos romanos?
►O papel dos meios de comunicação
O cristianismo e o direito romano. nas sociedades democráticas.

História 1 - Aula 4 44 Instituto Universal Brasileiro


mundo moderno, pois o caráter étnico determinou
a diversidade de tratamento.
d) ( ) à absoluta desqualificação dos escra-
vos para trabalhos mais sofisticados e à violência
em seu tratamento, independentemente das ques-
1. (ENEM 2009. Adaptada.) Segundo Aristó- tões étnicas.
teles, “na cidade com o melhor conjunto de nor-
mas e naquela dotada de homens absolutamen- 3. Considerando as características gerais,
te justos, os cidadãos não devem viver uma vida é correto afirmar que, na atualidade, a sociedade
de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos democrática:
de vida são desprezíveis e incompatíveis com as
qualidades morais —, tampouco devem ser agri- a) ( ) busca enfrentar as dificuldades con-
cultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é ciliando o princípio da igualdade e da liberdade,
indispensável ao desenvolvimento das qualidades introduzindo a ideia dos direitos econômicos, so-
morais e à prática das atividades políticas”. ciais, políticos e culturais.
(VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na b) ( ) estabelece que a liberdade democrá-
cidade-estado. São Paulo: Atual, 1994.) tica deve estar sujeita às normas e regras ditadas
O trecho, retirado da obra Política, de Aris- por um governo centralizador.
tóteles, permite compreender que a cidadania: c) ( ) caracteriza-se como o único regime
político em que todas as mudanças estão condi-
a) ( ) possui uma dimensão histórica que cionadas ao aval de governos e de grupos sociais
deve ser criticada, pois é condenável que os políti- hierarquizados.
cos de qualquer época fiquem entregues à ociosida- d) ( ) trata-se de uma forma sociopolítica
de, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar. na qual o conflito é considerado ilegítimo e contrá-
b) ( ) era entendida como uma dignidade rio aos interesses da sociedade e dos governos.
própria dos grupos sociais superiores, fruto de
uma concepção política profundamente hierarqui- 4. (ENEM 2011. Adaptada.)
zada da sociedade.
c) ( ) estava vinculada, na Grécia Antiga, a TEXTO I
uma percepção política democrática, que levava todos A ação democrática consiste em todos toma-
os habitantes da pólis a participarem da vida cívica. rem parte do processo decisório sobre aquilo que
d) ( ) tinha profundas conexões com a justiça, terá consequência na vida de toda a coletividade.
razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria GALLO, S. et al. Ética e Cidadania.
ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais. Campinas: Papirus, 1997 (adaptado).
TEXTO II
2. (ENEM 2009. Adaptada.) O fenômeno da É necessário que haja liberdade de expres-
escravidão, ou seja, da imposição do trabalho com- são, fiscalização sobre órgãos governamentais e
pulsório a um indivíduo ou a uma coletividade, por acesso por parte da população às informações
parte de outro indivíduo ou coletividade, é algo mui- trazidas a público pela imprensa.
to antigo e, nesses termos, acompanhou a história Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.
da Antiguidade até o séc. XIX. Todavia, percebe-se com.br. Acesso em: 24 abr. 2010.
que tanto o status quanto o tratamento dos escra- Partindo da perspectiva de democracia
vos variou muito da Antiguidade greco-romana até apresentada no Texto I, os meios de comunica-
o século XIX em questões ligadas à divisão do tra- ção, de acordo com o Texto II, assumem um papel
balho. As variações mencionadas dizem respeito: relevante na sociedade por:

a) ( ) ao caráter étnico da escravidão anti- a) ( ) orientarem os cidadãos na compra dos


ga, pois certas etnias eram escravizadas em virtu- bens necessários à sua sobrevivência e bem-estar.
de de preconceitos sociais. b) ( ) fornecerem informações que fomen-
b) ( ) à especialização do trabalho escra- tam o debate político na esfera pública.
vo na Antiguidade, pois certos ofícios de prestígio c) ( ) apresentarem aos cidadãos a versão
eram frequentemente realizados por escravos. oficial dos fatos.
c) ( ) ao uso dos escravos para a atividade d) ( ) propiciarem o entretenimento, aspec-
agroexportadora, tanto na Antiguidade quanto no to relevante para conscientização política.

História 1 - Aula 4 45 Instituto Universal Brasileiro


3. a) ( x ) busca enfrentar as dificul-
dades conciliando o princípio da igualdade
e da liberdade, introduzindo a ideia dos di-
reitos econômicos, sociais, políticos e cul-
turais.
1. b) ( x ) era entendida como uma
dignidade própria dos grupos sociais su- Comentário. Em relação às caracte-
periores, fruto de uma concepção políti- rísticas gerais da sociedade democrática na
ca profundamente hierarquizada da so- atualidade, podemos dizer que somente a
ciedade. afirmativa a está correta. A afirmativa b está
incorreta, pois na sociedade democrática
Comentário. A resposta correta é a le- não há governo centralizador; a liberdade é
tra b, pois a opção interpreta acertadamen- definida pela autonomia, isto é, pela capaci-
te a sentença estabelecida por Aristóteles, dade de os sujeitos sociais e políticos darem
que vincula o direito à cidadania a um gru- a si mesmos suas próprias normas e regras
po seleto, mesmo entre os de nacionalidade de ação. A afirmativa c também está incorre-
grega. Deste modo, devemos perceber que ta, já que pela criação dos direitos a demo-
a política ateniense, símbolo maior da de- cracia surge como o único regime político
mocracia na Antiguidade, estabelecia uma realmente aberto às mudanças, sem que es-
série de critérios que limitavam o exercício tas estejam condicionadas ao aval do gover-
da cidadania a uma elite da cidade-estado. no ou de grupos sociais hierarquizados. E a
Para Aristóteles, o trabalho era visto como afirmativa d, incorreta também, pois, na so-
uma tarefa trivial e considerado um obstá- ciedade democrática, ao contrário de todas
culo para aqueles que deveriam se ocupar as outras, o conflito é considerado legítimo
com as questões políticas. O exercício ple- e necessário. A democracia não é o regime
no da cidadania era restrito a um grupo de do consenso, mas do trabalho dos e sobre
privilegiados, com condições especiais de os conflitos.
atuação.
4. b) ( x ) fornecerem informações que
2. b) ( x ) à especialização do traba- fomentam o debate político na esfera pública.
lho escravo na Antiguidade, pois certos
ofícios de prestígio eram frequentemente Comentário. Os dois textos destacam
realizados por escravos. a liberdade de expressão e de informação
como sustentáculo do Estado democrático.
Comentário. A alternativa b é con- Trata-se de um direito imprescindível para
siderada correta. Na Antiguidade, o traba- a relação da sociedade com o Estado. Os
lho escravo se aplicava aos mais diferen- meios de comunicação têm que ter liber-
tes campos. Na Grécia Antiga, os escravos dade para exercer seu papel de fomentar
podiam até ser artesãos ou ourives (que o debate democrático. É fundamental para
trabalha com ouro). As outras alternativas a sociedade democrática que haja a mani-
apresentam afirmações falsas. O caráter da festação de opiniões e ideologias para que
escravidão antiga não era propriamente étni- se estabeleça o processo de formação do
co ou ligado a preconceitos sociais. Na Anti- pensamento. Nesta perspectiva, somente
guidade, o escravo era visto como ferramen- a alternativa b pode ser considerada corre-
ta necessária à sobrevivência. E existiam ta. As demais alternativas abordam outros
algumas leis para sua utilização, por exem- aspectos veiculados pelos meios de comu-
plo, em Esparta não podiam ser comerciali- nicação: ou não estão diretamente ligados
zados, pois pertenciam ao Estado. O uso de aos conteúdos dos textos I e II, ou apre-
escravos em atividades agroexportadoras só sentam redação confusa e nem sempre
acontece na Idade Moderna. verdadeira.
História 1 - Aula 4 46 Instituto Universal Brasileiro

Você também pode gostar