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1.

UMA ABORDAGEM INFORMAL SOBRE A EVOLUÇÃO DA


TEORIA DE GRUPOS

Nesta seção, a partir de pesquisas bibliográficas, se apresentará um


resumo das leituras feitas sobre a evolução no decorrer do tempo a respeito
das equações algébricas, pois a Teoria dos Grupos é uma evolução da
matemática a partir dos esforços para se resolver equações polinomiais
completas de grau 5. Nessa apresentação veremos também, de modo informal
o desenvolvimento ao longo dos séculos da Teoria dos Grupos, e
destacaremos alguns matemáticos que foram cruciais para o desenvolvimento
dessa teoria. Sendo assim, este capítulo está dividido em três seções.
2.1 UM PERCUSO PELO DESENVOLVIMENTOS DAS
EQUAÇÕES ALGÉBRICAS
Nesta subseção, se falará sobre a evolução e o desenvolvimento ao
longo do tempo das equações algébricas de 1º ao 4º graus. Se fará
comentários sobre as descoberta das soluções dessas equações, pois como
veremos no (????) foi a partir da impossibilidade de se conseguir uma fórmula
geral usando raízes para se obter todas as raízes de uma equação completa
do quinto grau que os matemáticos foram levados a criação da Teoria dos
Grupos.
2.1.1 EQUAÇÃO DO PRIMEIRO GRAU
Segundo Garbi (2009), um dos primeiros indícios na utilização das
equações está por volta de 1650 a.C. em um dos documentos mais famosos
que chegaram até os dias de hoje, chamados de Papiro de Ahmes e Papiro de
Moscou. Cada Papiro continha 85 e 25, respectivamente, soluções de
problemas aritméticos e geométricos. Em especial o papiro de moscou sendo
de 1850 a.C., por desconhecimento do conceito de “fórmulas” gerais, se
descrevia de forma verbal o cálculo correto do volume de um tronco de
pirâmide o que pra época é um conhecimento notório. Ao analisar estes
papiros percebem-se de uma forma sucinta, as equações do primeiro grau.
Mas até então como eram resolvidos às equações do primeiro grau? Em
um exemplo contido nos problemas de Ahmes dizia: “Uma quantidade,
somada a seus 2/3, mais sua metade e mais sua sétima parte perfaz 33. Qual
é a quantidade?” (GARBI, 2009, p.12) como mencionado acima os problemas
se davam em sua forma verbal, mas podemos escrever de uma forma
simbólica para facilitar a visualização: isto é, usando os métodos hoje dispostos
seria de fácil resolução, contudo tais métodos e simbologias eram
desconhecidos e em contra posta, segundo Garbi (2009), os egípcios
utilizavam um recurso interessante onde encontravam a resposta certa a partir
de hipóteses a respeito do número a ser conhecido e verificava-se o que
ocorria, tal método veio a ser chamado de “Regra da Falsa Posição”. Utilizando
do exemplo anterior e aplicando a regra da falsa posição a resolução seria
assim: de forma hipotética dá-se um valor ao desconhecido “7” e assim 7
somado as suas partes da aproximadamente 16, logo o valor mais perto é o
dobro de 7. E assim, por hipóteses, se chegava no resultado 16.
Foi só por volta de 300 a.C. com Euclides que a equação do primeiro
grau passou a ter um método geral, que segundo Garbi (2009), este método
teve como aporte as 5 noções comuns e postulados de natureza geométrica de
Euclides. Saindo de vez do método sofrido que era a regra da falsa posição. As
contribuições de Euclides sobre as cinco noções comuns foram:
a) Coisas iguais a uma terceira são iguais entre si.
b) Se iguais forem somados a iguais, os resultados serão iguais.
c) Se iguais forem subtraídos a iguais, os resultados serão iguais.
d) Coisas coincidentes são iguais entre si.
e) O todo é maior do que a parte.
Além dessas cinco noções, existe uma da qual não foi mencionada
diretamente por Euclides, mas é uma verdade que segue o mesmo raciocínio
que é
f) Iguais multiplicados ou divididos por iguais continuam iguais.
Apesar de essa ferramenta facilitar a resolução das equações, a
verbalização ainda era muito forte na esquematização de um problema. A
descrição na esquematização dos problemas matemáticos de grau um só
tomou a forma, hoje conhecida por todos, em torno do final do século XVI com
o francês François Viéte, que segundo Afonso (2010), passou a escrever as
equações por meio de símbolos matemáticos e letras, traduzindo a equação do
primeiro grau a seguinte forma:
ax +b=0
utilizando das ferramentas de Euclides podemos chegar à seguinte conclusão
em (c)
ax +b−b=0−b
ax=−b
Usando (f)
ax −b
=
a a
Chegando à conclusão de que o resultado obtido de qualquer equação
do primeiro grau tem forma
−b
x=
a
2.1.2 EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU
Assim como as equações do primeiro grau, as equações de segundo
grau apareceram no segundo milênio a.C. sendo resolvidas pelos matemáticos
e astrônomos babilônicos e transmitidos por meio de seus papiros, o
interessante é que segundo Garbi (2009), a resolução das equações do
segundo grau dos babilônicos seguiam o mesmo raciocínio dos hindus que
usavam o método chamado “completamento do quadrado” quase três milênios
depois.
Embora as equações do segundo grau ainda não tivessem sua forma
algébrica definida como hoje é conhecida, seus resquícios já eram identificados
por Pitágoras através da demonstração da relação no triangulo retângulo
a ²=b ²+ c ², mas só foi mais a frente na tentativa de reduzir as equações do
segundo grau a do primeiro, através da extração de raízes quadradas, que foi
conhecida a formula geral da solução das equações do segundo grau. Garbi
(2009) afirma que o hindu Sridhara foi quem relatou pela primeira vez a fórmula
geral, mas foi ao indiano Bhaskara, um século depois, que teve o
reconhecimento por tal descoberta.
Para que chegasse a fórmula de Bhaskara, os hindus utilizaram as
noções comuns de Euclides e retomando-as é possível concluir que: seja dada
a equação do segundo grau
ax ²+bx +c=0 coma ≠ 0
Utilizando (f) e dividindo tudo por “a” temos
b c
x ²+ x + =0
a a
Em (c)
b c c c
x ²+ x + − =0−
a a a a
b −c
x ²+ x=
a a
Entretanto somente isto não foi necessário para a continuação da
resolução, de modo que para extrair a raiz quadrada de x ²+¿ ¿ este precisaria
ser um quadrado perfeito. Primeiro precisaria achar qual o complemento do
binômio para que prosseguisse com a dedução. Para isso é necessário usar o
completamento do quadrado, ora, a quantidade do complemento é b ² /4 a ²
tornando assim x ²+¿ um quadrado perfeito. Retomando a demonstração e
utilizando (b) temos
b b ² −c b ²
x ²+ x + = +
a 4a² a 4 a²
E como x ²+¿ é o quadrado perfeito (x ²+b /2 a ¿ ² ¿ podemos manipular a
equação da seguinte forma
b 2 −c b ²
( x+
2a) = +
a 4 a²
Até mesmo
b 2 b ²−4 ac
( x+
2a) =
4a²
Com tudo preparado para a extração das raízes quadradas, vale
ressaltar que, segundo Garbi (2009), na extração de raízes quadráticas sempre
é gerado dois valores cujo sinal, ora é +¿(mais), ora é – (menos) e foi nessa
propriedade que os babilônios, que seguiam do mesmo raciocínio para a
extração das raízes, erraram.
Continuando, logo

b 2 b ²−4 ac
√( x+
2a )


4 a²
Ou
b b ²−4 ac
x+
2a

4a² √
Até mesmo
b b ²−4 ac
x+ =± √
2a 2a
Obtendo assim a fórmula de Bhaskara
−b ± √ b2−4 ac
x=
2a
É de suma importância ressaltar que toda dedução feita aqui não existia
na época de Bhaskara e que, segundo Garbi (2009), sua dedução na integra
não seria compreendida por um leitor moderno. Toda simbologia e letras
utilizadas na dedução foram inseridas pelo francês Viéte (visto anteriormente) e
que segundo Silva (XXXX) foi desenvolvida por outro francês chamado René
Descartes.
2.1.3 EQUAÇÃO DO TERCEIRO GRAU
Assim como a equação do segundo grau, as equações do terceiro grau
tiveram um acontecimento semelhante. Garbi (2009) em seu livro relata que um
professor de matemática da universidade de Bolonha chamado Scipione del
Ferro foi quem encontrou a forma geral de resolver as equações do tipo
x ³+ px+ q=0, contudo acabou falecendo sem mesmo publicar sua obra, outrora
o mesmo revelou ao seu aluno Antonio Maria Fior tal descoberta.
Querendo ganhar fama pelo conhecimento de seu mestre entrou em
uma certa disputa entre sábios, disputa essa bem recorrente na época, e
escolheu Nicolò Fontana (Mais conhecido como Tartaglia) por seu notório
conhecimento e talento. Com o desafio sendo a resolução de diversos
problemas, Fior planejava propor os problemas cujo somente ele sabia a
resolução que eram as equações do tipo x ³+ px+ q=0. Posteriormente ao
aceitar o desafio de Fior, Tartaglia acaba descobrindo tal ferramenta que seu
adversário tinha adquirido de seu mestre, e debruçado na ameaça acabou
encontrando não só as equações do tipo que Fior tinha em mãos como foi além
e encontrou a fórmula geral do tipo x ³+ px ²+ q=0.
Este acontecimento foi muito importante e ficou conhecido por muitos,
um deles foi Girolamo Cardano que no mesmo momento estava escrevendo a
obra que englobava Álgebra, Aritmética e Geometria: prática arithmeticae
generalis. Garbi (2009) afirma que Cardano pediu a Tartaglia para que
publicasse a sua descoberta, pedido esse que foi negado inicialmente,
entretanto foi aceito após certos apelos de Cardano. Apesar de a descoberta
ser de Tartaglia, foi Cardano quem levou seu nome na equação o que gerou
conflitos entre os dois.
As contribuições deixadas por Tartaglia foram cruciais para o
desenvolvimento da matemática, entretanto após sua conclusão sobre as
resoluções foi gerada uma série de questionamentos que serão vistos no final.
Vale ressaltar que as resoluções foram somente os tipos especiais x ³+ px+ q=0
e x ³+ px ²+ q=0 não a equação geral ax ³+ bx ²+ cx+ d=0, contudo a partir da
equação geral Garbi (2009) admite que possam chegar a qualquer um dos
tipos especiais. Em suposição tem-se x ³+ px+ q=0, tornando x= y +m e
calculando m de modo a anular o termo de segundo grau tem a equação:
a x 3 +b x 2+ cx+ d=0
Se x= y +m, então:
3 2
a ( y +m ) +b ( y +m ) + c ( y +m ) +d =0
Desenvolvendo, temos
ay ³+ y 2 ( b+3 am ) + y ( 3 a m 2+ 2bm+c ) + ( m3 a+b m2 +cm+d ) =0
−b
Fazendo b+ 3 am=0, tem-se m=
3a
E com isso temos uma nova equação do terceiro grau em y que será do
tipo y ³+ py +q=0, e Garbi (2009) confirma que sabendo resolve-la, pode ser
achado o x que é y + m. com isso Tartaglia deu não só a resposta para as
equações do tipo x ³+ px+ q=0 como também chegou a uma resposta geral do
problema. Para achar a solução, Tartaglia supôs que ela era composta por
duas parcelas. De maneira análoga escreveu que x= A+ B e elevando tudo ao
cubo, temos:
x 3=( A+ B )3
Desenvolvendo chegamos a
x 3= A3 + B3 +3 AB ( A+ B )
Como A + B = x, então
x 3= A3 + B3 +3 ABx
Ou
x 3−3 ABx−( A 3+ B3 ) =0
Por semelhança tem-se que x ³+ px+ q=0, logo
p=−3 AB e q=−( A 3+ B3 )
Traduzindo de forma a que seja conhecida sua soma e produto, temos
− p3 3 3
A ³ B ³= e A + B =−q
27
Dessa feita este problema pode ser resolvido por um método já
conhecido que é a resolução das equações do segundo grau. Isto é

q 2 p 3 3 −q q 2 p 3
A ³=
−q
2
±
√( ) ( )
2
+
3
eB =
2

√( ) ( )
2
+
3
Como x= A+ B, então

√ √( ) ( ) √ √( ) ( )
q 2 p 3 3 −q q 2 p 3
3 −q
x= + + + − +
2 2 3 2 2 3
Esta, enfim, é a chamada fórmula de Cardano. Porventura é de fácil
entendimento que ao olhar esta resolução do método é encontrada somente
uma raiz para a equação. Ora, todas as equações do terceiro grau há somente
uma raiz? Ou este método está incompleto? Segundo Garbi (2009) Tais
questionamentos foram surgindo na época e perpetuou por duzentos anos para
que fosse devidamente esclarecido. O fato é que os problemas apresentados
pelas resoluções das equações do terceiro grau feitas pela fórmula de Cardano
os levou encontrarem números de natureza desconhecida.
Garbi (2009) destaca uma equação x ³−15 x−4=0 que poderia ser
achada suas raízes por dedução (ao olhar pode-se dizer que x = 4 é uma raiz),
mas se aplicada a Formula de Cardano são obtidos números de naturezas
desconhecidas ( x=√3 2+ √−121+ √3 2−√ −121) e foi então que Bombelli percebeu
que os números reais encontravam-se insuficientes que por consequência fez
surgir os números complexos.
Segundo Schuvaab (2013) foi só com François Viète que por meio da
trigonometria desenvolveu um método capaz de encontrar não somente uma,
mas as três raízes da equação do tipo x ³+ px+ q=0 no caso em que na fórmula
de Cardano são encontradas as raízes quadradas de números negativos.
Mediante a equação mencionada acima com os coeficientes p e q pertencentes
aos reais não nulos, Viète faz a substituiçãox=kcosθ, com k > 0 por meio do
método trigonométrico. Transformando em
( kcosθ )3 + p ( kcosθ ) + q=0( I )
Nota-se que se k =0 ocorre quando x=0, então é uma solução cúbica.
Schuvaab afirma que nesse caso q = 0 e as outras duas raízes são as
soluções complexas da equação x ²=− p .
Usando a relação trigonométrica
cos 3 θ=4 co s 3 θ−3 cosθ
Ou
4 co s3 θ−3 cosθ−cos 3θ=0 (II )
Manipulando ( I ) temos
k 3 co s3 θ+ pkcosθ+ q=0
4
Multiplicando tudo por

4p 4q
4 co s3 θ+ 2
cosθ+ 3 =0
k k
Comparando as equações ( I ) e ( II ) é possível identificar
4p 4q
2
=−3 3 =−cos 3θ
k k
Estas últimas equações só terão solução se
4q
p<0 e
| |
k3
≤ 1.

Ou
16 q ²
p<0 e ≤ 1.
k6
−4 p q 2 p 3
Como k ²=
3
temos que o discriminante D=
2
+ ()()
3
≤ 0 (D é

encontrado na fórmula de Cardano mencionada anteriormente)


Sendo q ≠ 0, então D ≤ 0 → p < 0.
Por consequência de D ≤ 0, pelo método de Viète temos três soluções
reais da equação do 3° grau.
Inicialmente é necessário calcular
−4 p
k=
√ 3
Para então calcular os três valores de θ, onde 0 ° ≤θ ≤ 360° cumprindo

−4 q
cos 3 θ= . Ira ser usado θ1, θ2 e θ3 com seus correspondentes x 1, x 2 e x 3

respectivamente na forma de x=kcosθ
1
θ1= arc cos ( 3 θ )
3
θ2=θ 1+ 120°
θ3 =θ1+ 240° .
Segundo Schuvaab (2013) esta foi a contribuição que François Viete
proporcionou ao mundo sobre a resolução das equações do tipo x ³+ px+ q=0.

2.1.4 EQUAÇÃO DO QUARTO GRAU


A resolução das equações do quarto grau também tem raízes advindas
dos desafios entre os sábios, disputas de conhecimento comuns na época,
Garbi (2009) menciona que certo Zuanne de Tonini da Coi sujeitou Cardano a
resolução da seguinte equação:
x 4 +6 x ²−60 x +36
Posteriormente, em suscetíveis tentativas sem êxito, Cardano passou a
equação para um de seus mais famosos alunos, Ludovico Ferrari. Este que ao
analisar a questão, conseguiu perceber um método geral que solucionaria as
equações do quarto grau. Mas como ele chegou a uma conclusão de um
método geral se a equação dada não era completa? Assim como a equação
geral do terceiro grau mostrada anteriormente, x 4 +6 x ²−60 x +36 é um caso
especial da fórmula geral das equações quárticas. Garbi (2009) afirma isso
quando menciona que toda equação geral do quarto grau dada
a x 4 +bx ³+ cx ² +dx +e=0
Sempre pode ser transformada em outra do tipo
y 4 + p y 2 +qy +r
E colocando x= y +m calculando m de tal forma que anule o termo de
terceiro grau. Método visto nas equações do terceiro grau, se o indivíduo
conseguisse resolver a equação incompleta
x 4 + p x 2+ qx+r =0(I )
Por consequência saberia qualquer tipo de equação do quarto grau.
Dessa feita, ao resolver a equação que lhe foi desafiada, desvendou também a
sua resolução geral que consistia na tentativa de reagrupar ( I ) de maneira que
se houvesse polinômios quadrados perfeitos nos dois lados da igualdade
poderia ser feita a extração das raízes quadradas. Ferrari então reescreveu a
equação ( I ) em
x 4 + ( p+α ) x ²+ ( r + β ) =αx ²−qx+ β
Pela condição necessária e suficiente os dois trinômios, ao mesmo
tempo, tem que ser igualado à zero, desse modo obtemos:
( p+α )2−4 ( r + β )=0
E
q ²−4 αβ =0
Para um melhor entendimento do leitor, é valido lembrar da fórmula do
segundo grau para achar o discriminante Δ, onde o “b” é o segundo termo e o
“a” e “c” são o primeiro e terceiro termo respectivamente.

Isolando o β do segundo trinômio, temos β= e fazendo a substituição

no primeiro tem-se
2
( p+α )2−4 r + q =0
( )

2
( p+α )2−4 r− q =0
α
Manipulando chegamos em
α ³+2 pα ²+ ( p2−4 r ) α −q 2=0
Tornando-se uma equação do terceiro grau em α. Desse modo é
possível, pelo método de Tartaglia encontrar α e consequentemente β pela
relação estabelecida entre eles.
Feito isso é possível extrair as raízes quadradas

√ x 4 +( p+α ) x ²+(r + β)=± √ αx ²−qx + β

2.1.5 EQUAÇÃO DO QUINTO GRAU

2.2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA TEORIA DOS


GRUPOS
Nesta subseção, se falará sobre o processo de como começou a criação
da Teoria dos Grupos, dando ênfase nos trabalhos que sobre a solução da
equação de quinto grau, que nos levará ao trabalho desenvolvido por Galois no
século XIX.
Livio (2008, p. 65) destaca que ao contrário da maioria das descobertas
matemáticas, contudo, ninguém estava procurando uma teoria de grupos ou
mesmo uma teoria de simetrias quando o conceito foi descoberto. Podemos
dizer que a teoria de grupos surgiu inesperadamente, já que surgiu através de
uma busca milenar por uma solução para a equação algébrica de quinto grau.
Em determinado momento durante a busca pela solução da equação
completa de quinto grau, Lagrange começou a cogitar a impossibilidade da
resolução dessas equações completas por meio de radicais. Desse modo, de
acordo com Kleiner (2007), Lagrange analisou primeiro os vários métodos
conhecidos, criados por Viète, Descartes, Euler e Bezout, para resolver
equações cúbicas e quárticas. Ele mostrou que a característica comum desses
métodos é a redução de tais equações para auxiliares equações - as
chamadas equações resolvidas. Estes últimos são um grau mais baixos que as
equações originais. Lagrange, em seguida, tentou uma análise semelhante de
equações polinomiais de grau n. Com cada uma dessas equações, ele
associou uma equação resolvida, como segue:
Seja f (x) a equação original, com raízes x 1 , x 2 , x 3 ,… , x n. Escolha uma
função racional R( x 1 , x 2 , x 3 , … , x n ) das raízes e coeficientes de f (x). Considere
os diferentes valores que R( x 1 , x 2 , x 3 , … , x n ) assume sob todos os n !
permutações das raízes x 1 , x 2 , x 3 ,… , x n de f ( x) . E se estes são indicados por
y 1 , y 2 , y 3 , … , y k , a equação resolvida é dada por g( x )=(x − y 1)(x− y 2 )· · ·¿).
Lagrange em seu tratado Reflexões sobre a resolução das equações
algébricas, mostrou que as equações de 2º,3º e 4º grau, tinham sido resolvidas
através da redução da equação para uma de menor grau, como descrito acima.
Para Brown (n.d), o raciocínio foi o seguinte. Para um cúbico com raízes
∝1 , ∝2 , ∝3, Lagrange considerou o
R=¿
com ξ 3 uma raiz da equação x 3−1=0. Sua nova ideia era considerar que
efeito uma permutação das raízes (∝1 , ∝2 , ∝3) teria sobre o resolvido. Para o
cúbico existem 3 !=6 possibilidades diferentes para a permutação das raízes.
No entanto, Lagrange calculou que essas permutações apenas levam a 2
valores possíveis diferentes para o resultante. Por exemplo,
¿
Da mesma forma, quando ele considerou o resolvente de um quártico,
descobriu que existem apenas 3 valores possíveis para R, embora existam
4 !=24 possíveis permutações das raízes. O fato principal aqui é que o número
de valores possíveis para o resolvente é menor que o grau da equação que um
está tentando resolver. Isto é o que permite simplificar a equação, como foi
feito para o quadrático, cúbico e quártico. Quando Lagrange considerou o
resolvente da quíntica, ele descobriu que havia 6 possíveis valores! Lagrange
concluiu que os métodos usados anteriormente não se generalizariam para
resolver a quíntica. E conforme Livio (2008, p. 102), quando Lagrange utilizou o
mesmo processo na equação quíntica, aconteceu algo inesperado. A equação
resultante que deveria ser uma quártica, acabou sendo uma de grau 6 !.
Kleiner (2007), embora Lagrange não tenha conseguido resolver o
problema da solvabilidade algébrica da quíntica, seu trabalho foi um marco. Foi
a primeira vez que uma associação foi feita entre as soluções de uma equação
polinomial e as permutações de suas raízes. De fato, o estudo das
permutações das raízes de uma equação foi uma pedra angular da teoria geral
de Lagrange das equações algébricas. Isso, ele especulou, formou “Os
verdadeiros princípios da solução de equações.” Ele foi, é claro, justificado
neste por Galois. Embora Lagrange tenha falado em permutações sem
considerar um “cálculo” de permutações (por exemplo, não há consideração de
sua composição ou fechamento), pode-se dizer que o germe do conceito de
grupo - como um grupo de permutações – é presente em seu trabalho.
Acreditamos que Lagrange foi o primeiro a pensar de forma implícita
sobre a teoria de grupos na matemática. Lagrange introduziu de maneira mais
geral discussões sobre permutações. De acordo com Kleiner (2007) o trabalho
de Lagrange de 1770 iniciou o estudo de permutações em conexão com o
estudo da solução de equações.
Isso levou diretamente as obras de Ruffini, Abel e Galois durante o
primeiro do século XIX, e ao conceito de um grupo de permutação.
Usando as ideias apresentadas por Lagrange, Ruffini em 1799
demonstrou pela primeira vez que uma equação algébrica de quinto grau não
possui solução por meio de radicais, no entanto, sua demonstração não foi
considerada matematicamente satisfatória. Segundo Livio (2008, p. 105) Ruffini
declarou ter demonstrado que a equação quíntica geral não pode ser resolvida
por uma fórmula que envolva apenas as operações simples de adição,
subtração, multiplicação, divisão e extração de raízes. Ruffini publicou sua
demonstração no tratado Teoria generale dele equazioni que possuí dois
volumes.
Ruffini enviou sua demonstração para Lagrange, porém não recebeu
resposta, na verdade poucos matemáticos se incitaram com a longa
demonstração de Ruffini e de acordo com Stewart (2012, p.101) a
demonstração ocupava mais de quinhentas páginas de uma matemática quase
desconhecida. Alguns matemáticos consideraram-na um tanto intimidadora.
Admitindo que sua demonstração era complicada demais, e partindo para
descobrir algo mais simples, em 1803 conseguiu, mas conforme Stewart (2012,
p. 102) a nova demonstração não se saiu melhor que a primeira. O mundo não
estava preparado para o raciocínio de Ruffini, nem para as outras provas que
publicou em 1808 e em 1813.
Dentre os poucos matemáticos que se entusiasmaram com a
demonstração de Ruffini, estava Cauchy que acreditava que a demonstração
de Ruffini provava completamente a impossibilidade de resolver equações
algébricas de quinto grau. Porém, mesmo com esse reconhecido de Cauchy
como afirma Livio (2008), a demonstração não se tornou amplamente aceita e
os matemáticos que vieram depois dele tiveram que redescobrir as ideias de
Ruffini.
De acordo com Brown (n.d), havia uma lacuna na prova de Ruffini.
Ruffini assumiu sem prova que todas as funções algébricas podem ser
expressas em termos de funções racionais das raízes da equação. Na
linguagem moderna, Ruffini falhou em mostrar que, se L é um campo que está
contido em uma torre radical sobre um campo K, então L em si deve
necessariamente ser uma extensão radical.
Ainda usando as ideias de Lagrange sobre permutações, Abel buscou
resolver a equação de quinto grau e acreditava ter conseguido. Abel publicou
uma prova muito mais curta e simples do que Ruffini. Conforme Livio (2008)
Abel enviou sua demonstração para o matemático Ferdinand Degen de
Conpenhague que não encontrou nenhum erro, mas solicitou a Abel uma
dedução mais detalhada e com ilustrações numéricas e enquanto tentava
produzir exemplos, Abel descobriu que sua solução estava incorreta.
Mais tarde em sua vida, Abel leu o trabalho de Ruffini, chegando às
conclusões, pois a maioria tinha que o trabalho era difícil de ler e não
demonstrava completamente a insolvabilidade do quíntica.
Abel não desistiu de encontrar a resolubilidade da equação de quinto
grau, porém buscou uma maneira diferente de raciocinar, buscou por uma
forma de redução ao absurdo, tendo sucesso nessa abordagem. (Domingues e
Iezzi, 2018). Na busca pela solução da equação Abel concluiu que: Não pode
haver uma fórmula geral, expressa em operações algébricas sobre os
coeficiente de uma equação polinomial para as raízes de uma equação, se o
grau dessa equação é maior que quatro. Não ficou definido, porém, quando
uma equação quíntica tem ou tem solução por radicais.
Em 1846 se descobriu que o matemático Galois, respondeu quando uma
equação do quinto grau ou de maior grau é ou não solucionável por radicais.
Galois trabalhou também com as permutações, conforme afirma Stewart
(2012), Galois trabalhou com grupos de permutações e uma forma de
rearranjar uma lista de objetos, e esses objetos eram raízes de uma equação
algébrica. Para Galois uma equação só possui solução por radicais se, e
somente se, no seu grupo tiver uma série de subgrupos especiais, conhecido
como subgrupos normais. Esses subgrupos recebem o nome de subgrupos
normais, pois são parte de um outro grupo.
Conforme Kleiner (2007), Galois observou, que a existência de um
resolvente foi equivalente à existência de um subgrupo normal de índice primo
no grupo da equação. Essa observação mudou a consideração da equação
resolvente para o grupo da equação e seus subgrupos. Galois definiu o grupo
de uma equação da seguinte maneira:
Seja dada uma equação, cujas raízes são a, b , c , … , sempre haverá um
grupo de permutações das letras a , b , c ,. . . que tem a seguinte propriedade: (1)
que todas as funções das raízes, invariantes sob as substituições desse grupo,
é conhecido racionalmente [ou seja, é uma função racional dos coeficientes e
quaisquer quantidades anexas]; (2) inversamente, que todas as funções das
raízes, que pode ser expresso racionalmente, é invariável sob essas
substituições.
De acordo com Stewart (2019, p. 143)
[..] a grande contribuição de Galois foi desenvolver uma teoria geral,
baseada em permutações e que se aplica a todas as equações
polinomiais. Ele não provou apenas que equações específicas são
insolúveis por meio de radicais; Galois indagou exatamente quais
são solúveis. Sua resposta foi que o conjunto de permutações e que
preserva todas as relações algébricas entre as raízes- ele o chamou
de grupo de equação- deve ter uma estrutura particular, bastante
técnica, mas precisamente definida. [...]

Através do conceito de grupo, foi possível perceber que a simetria é um


importante conceito matemático e, por meio da mesma, era possível fazer
cálculos, conforme Stewart (2012),

A simetria não era mais uma vaga impressão de regularidade ou uma


sensação artística de elegância e beleza. Era um nítido conceito
matemático com uma rigorosa definição lógica. Era possível fazer
cálculos com simetrias e demonstrar teoremas sobre ela. Nascia uma
nova área: a teoria dos grupos [...]. (STEWART, 2012, p.151).

Galois procurou descrever as simetrias das equações satisfeitas pelas


soluções de uma equação polinomial. De acordo com Vieira (2015), Galois
associou um grupo a cada polinômio e usou propriedades desse grupo para
dar condições para que a equação algébrica associada ao polinômio seja
solúvel por radicais. A teoria de Galois é um exemplo central do conceito mais
abstrato e conceitual abordagem da matemática que às vezes é conhecida
como moderna matemática. Assim, ilustra uma mudança mais geral no
personagem da matemática nos séculos XIX e XX.
Galois procurou descrever as simetrias das equações satisfeitas pelas
soluções de uma equação polinomial. De acordo com Vieira (2015), Galois
associou um grupo a cada polinômio e usou propriedades desse grupo para
dar condições para que a equação algébrica associada ao polinômio seja
solúvel por radicais. A teoria de Galois é um exemplo central do conceito mais
abstrato e conceitual abordagem da matemática que às vezes é conhecida
como moderna matemática. Assim, ilustra uma mudança mais geral no
personagem da matemática nos séculos XIX e XX.
Referencias
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Disponível em: http://www.matematiques.com.br/conteudo.php?id=582 .
Acessado em: 28/01/2020.

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http://www.math.caltech.edu/~jimlb/abel.pdf. Acessado em: 25/01/2020.

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and Statistics. Birkhaeuser Boston, 2007.

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https://www.academia.edu/34352135/Teorema_de_Abel-Ruffini_A_demonsta
%C3%A7%C3%A3o_pela_Teoria_de_Galois. Acessado em 28/01/2020.

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Disponível em: http://www.professores.uff.br/nmedeiros/wp-
content/uploads/sites/88/2017/08/Algebra-III-2016_2-galois.pdf

VIEIRA, Vandenberg Lopes. Álgebra Abstrata para Licenciatura. 2. ed.


Campina Grande: EDUEPB, 2015.

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Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/matematica/o-
surgimento-equacao-2-o-grau.htm. Acesso em 29 de janeiro de 2020.

STEWART, Ian. Desbravadores da matemática: da alavanca de Arquimedes


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Zahar, 2019.
STEWART, Ian. Uma história da simetria na matemática. Tradução Claudio
Carina. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

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uma abordagem histórica, Maringá. 2013. 39 f. Dissertação- Universidade
Estadual de Maringá, 2013.

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