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James Hillman.

Animais de Sonho 38pp

Orelha I

Autor aclamado de “O código da Alma” e um dos nossos mais provocantes autores junguianos,
James Hillman se une à artista Margot Mc ean nesta e!traordin"ria parceria, uma re#le!$o de
assom%rosa %ele&a so%re presen'a e aus(ncia dos animais em nossas vidas, em vig)lia, e,
conse*uentemente em nossos sonhos, imagina'$o, emo'+es e pensamentos.
Animais de sonho” entrela'a arte e psicologia, sonho e s)m%olo, junguianismo e conhecimento
unidos a pinturas evocativas *ue ressoam com os ensaios a%sorventes de Hillman.
ma medita'$o penetrante so%re as implica'+es da perda da nossa consci(ncia so%re o
imagin"rio animal.
“Animais de -onho”  a uni$o per#eita da palavra e do s)m%olo.

Orelha II

James Hillman tornou/se o primeiro diretor do Instituto Junguiano de 0urich em 1232. 4leito
pelo “tne 5eader6s” como “uma das 177 mais importantes pessoas *ue podem mudar sua vida”,
escreveu mais de 87 livros incluindo “O código da alma”, “O suic)dio e a alma” e “5evisando a
9sicologia”, este :ltimo citado como concorrente ao pr(mio 9ulit&er. ;ive em <onnecticut e editou
com 5o%ert =l> “A loja de trapos e ossos do cora'$o” ?espero *ue @r Hillman desculpe a
presun'$o de tradu&ir tam%m os t)tulos de suas o%ras.
Margot Mc ean  uma artista pl"stica *ue vive em Bova Cor*ue desde o #im da dcada de D7.
5ece%eu numerosas %olsas de estudo e o seu tra%alho est" representado n$o só nos 4stados
nidos mas tam%m no e!terior.
<omo artista e pro#essora tem dado sua contri%ui'$o ecológica #ocali&ada nos mundos animal
e %otEnico.

<ontracapa ?coment"rio da romancista sino/americana An> <anF

“4ste  um livro de ca%eceira sensual para a imagina'$o, um ant)doto contra a apatia. As


o%serva'+es de Hillman e as pinturas de Mc ean s$o uma cola%ora'$o grati#icante *ue mudar"
sua maneira de encarar os sonhos, as almas e os verdadeiros animais entre nós”.

9re#"cioF

Gs ve&es voc( os v(, às ve&es, n$o.  m %ate/papo entre o autor e a artista.


Hillman  4ste livro come'ou em Hart#ord *uando...
Margot / ... voc( veio à minha e!posi'$o
Hillman  “A #loresta meta#órica”. 4u vi a maneira como voc( pintava os animais. em%ro/me
especialmente, da cheetach.
Margot  4ra realmente uma pe*uena pintura no meio de um am%iente grandemente
competitivo. Interessante voc( se lem%rar justamente desta.
Hillman  oi a t(nue realidade do animal *ue, ao mesmo, estava e n$o estava l", parecendo/
se muito com os animais em nossos sonhos *ue podem ser t$o aterrori&antes, t$o espantosos e,
ainda assim, s$o apenas sonhos. ;oc( parecia ter captado numa pintura, algo em *ue tra%alho
ensinando por K7 anos, tentando colocar em palavras.
Margot  mas eu n$o pintava animais de sonho. 4stas pinturas *ue #a'o desde a metade da
dcada de L7 n$o s$o representa'+es do meus sonhos. em mais correla'$o com o mundo
animal real num mundo irreal. Os animais est$o em outro lugar. 4, sim, em n)vel mais pro#undo,
estas pinturas s$o uma espcie de reconhecimento, de aceita'$o.
Hillman / 4m %ene#)cio delesN
1
Margot  B$o somente. 4m nosso %ene#)cio tam%m. Bós somos animais e estes animais
est$o ligados aos nossos corpos. 9or esta ra&$o, dei a muitas destas pinturas, nomes
anatmicosF para en#ati&ar esta cone!$o, este parentesco.
Hillman  4 destino comum. O *ue acontece a eles, nos acontece. A sua e!tin'$o  tam%m a
nossa.
Margot  -im, a e!tin'$o deles est" no meu pensamento, naturalmente, como est", ou deveria,
no pensamento de todos, suponho. Mas estas pinturas nunca pretenderam ser, especi#icamente,
so%re e!tin'$o. P e!traordin"ria a rapide& com *ue as pessoas reagemF “Oh, espcies
amea'adas” 4sta, se se
“espcies em e!tin'$o” trans#ormou
trans#ormouultimamente, numa #rase
em outra categoria pertur%adora
de s)ndrome para
e perdeu seumim por*ue
#undamento
emocional. Alm do mais estas pinturas n$o s$o, somente, de espcies em e!tin'$o. 4las tratam
de espcies. B$o s$o mensagens para prevenir desastre ou perda mas s$o, antes, imagens do
esp)rito do animal com sua própria vida autnoma, sua presen'a e sua aus(ncia. 4les v$o e vem
e voc( tenta capt"/los com os olhos da mente e tenta *ue se materiali&em e parem sem perder
este sentido de rapide& e sutile&a de movimento *ue n$o se pode a#erir completamente. O *ue,
e!atamente, voc( v( cru&ando, rapidamente, seu caminho, ou, em #rente do seu carro ou, atravs
da sua janelaN H" criaturas incr)veis “l" #ora” vivendo conosco neste planeta e, somente, por*ue
n$o est$o sempre #rente a #rente conosco, n$o *uer di&er *ue n$o tenha m uma posi'$o
importante.
Hillman  ;eja, isto  onde seu tra%alho e!pressa o *ue venho tentando di&er por anos. A
imagina'$o , em si mesma, um grande animal ou uma arca de imagens vivas *ue se
movimentam independentemente. 4las v(m e v$o. odas as #ormas e tamanhos. Algumas
imagens nos acompanham como um c$o leal ou uma vaca. Outras s$o t$o som%rias e tr(mulas,
*ue  imposs)vel capt"/las.
Margot  4u perdi uma *uantidade de animais *ue n$o se #i!aram na pintura. entei e tentei e
tive *ue a%andon"/los.
Hillman  Animais acordam a imagina'$o. ;oc( v( um veado ao lado da estrada ou gansos
voando em #orma'$o e se torna hiper alerta. @esco%ri *ue sonhos com animais podem, tam%m,
#a&er a mesma coisa. 4les realmente sacodem as pessoas. -onhos animais provocam
sentimentos, dei!am/nos interessados e curiosos. 4n#im, p+em as pessoas para pensar. A medida
*ue mergulhamos mais na imagina'$o, nos tornamos mais parecidos com animais. B$o *uero
di&er %estiais, mas com os instintos mais avivados, com mais paladar, ol#ato mais apurado e
audi'$o mais alerta. <omo disse Junge, o velho homem s"%io , na realidade, um macaco. Assim,
talve& eu tenha uma inten'$o terap(utica com este livro. Quero #a&er algo pelos animais mas,
tam%m, *uero atingir pessoas ou melhor, eu as *uero mais pró!imas deste macaco, em%ora isto
possa
verdade,n$ocomo
ser muito terap(utico
uma %en'$o. para
B$o, o macaco
realmente, ;oc(
para sa%e,o as
reparar *uepessoas procurammas
est" *ue%rado, a terapia,
para na
a%en'o"/lo. 4m muitas culturas os animais praticam a %en'$o j" *ue s$o considerados
divindades. 9or esta ra&$o  *ue partes de animais s$o usadas em remdios e rituais de cura.
=(n'$os por animais ainda ocorrem, em nossas vidas civili&adas tam%m. @igamos *ue haja um
lado mais esperto e mais r"pido na sua personalidade. Algumas ve&es voc( mente, tem tend(ncia
a praticar rou%os, em lojas, o #ogo o e!cita, voc(  di#)cil de se desco%rir e di#)cil de ser apanhado,
voc( tem um ol#ato t$o apurado *ue as pessoas n$o *uerem #a&er negócios com voc( por medo
de serem ludi%riadas. 4nt$o, voc( sonha com uma raposa Agora, esta raposa n$o  meramente
uma miragem do seu “pro%lema de som%ra”, da sua propens$o ao rou%o. 4sta raposa #ornece
tam%m um em%asamento ar*utipico dos seus tra'os comportamentais, colocando/os, mais
pro#undamente, na nature&a das coisas. A raposa aparece no seu sonho como uma espcie de
pro#essora, um animal mdico *ue conhece suas caracter)sticas muito mais do *ue voc( próprio.
4, isso,  uma %(n'$o. 4m lugar de sintomas ou uma desordem de car"ter, voc( tem agora uma
raposa com *uem viver e,  preciso *ue voc(s se vigiem mutuamente.
Margot  mas eu n$o gostaria de es*uecer a raposa real. 4u gostaria de ver o mesmo respeito
o#erecido ao animal real, onde *uer *ue ele apare'a. Acho *ue  importante ver o animal como
voc( #a& em sonhos mas, mas os animais dos sonhos n$o devem ser segregados dos *ue vivem
no seu *uintal ou nos %os*ues. @evemos ser cuidadosos ao adotarmos um “animal interior” para
*ue a cone!$o com o mundo animal n$o seja redu&ida a um condi'$o de “se sentir %em consigo
mesmo”. H" mais *ue isto.
Hillman  <orreto As terapias *ue #alam so%re animais espirituais e guias, es*uecem esta
triste&a. ente olhar nos olhos de um c$o. H" um alma no animal, uma alma de triste&a antiga. H"
2
uma triste&a na alma do mundo natural. udo o *ue voc( tem *ue #a&er  #icar numa #loresta ou
num campo e voc( sente isto...
Margot / ... e v( isto
Hillman  ;oltemos aos animais. B$o s$o a*ueles *ue podemos ver nos document"rios
naturalistas da ;. A sensa'$o #ugidia na sua pintura com a *ualidade, indeterminadamente,
transitória dos animais, e os seus signi#icados am%)guos nos sonhos, nada t(m *ue se relacione
com o sentimentalismo nost"lgico so%re a e!tin'$o das espcies como tratada na ;.
Margot  m pouco de nostalgia n$o #a& mal. 4ntretanto  importante para mim *ue estas
pinturas n$o sejam redu&idas a uma nostalgia mono/dimensional.
Hillman  A nostalgia  ar*uet)pica. 4la toca o desejo do Pden, da arca, da terra da Arc"dia de
nature&a pastoril, onde o le$o e a ovelha repousam juntos. A nostalgia , tam%m, muito
americana. Assim, suponho *ue um pouco de nostalgia se relacione com os nossos sentimentos
em #ace dos animais. alve& eles sejam, tam%m, nost"lgicos e nos olhem desejando *ue
estiv(ssemos, todos, de volta ao para)so ou à Arc"dia, antes dos pesticidas e matadouros.
Margot  Os animais atuais n$o s$o nost"lgicos. 4les se sintoni&am com o nosso tempo.
;eados, *uatis, gam%"s, coiotes, porcos selvagens e ursos est$o chegando cada ve& mais perto
de nós. As cidades est$o cheias de vida selvagem.
Hillman  Mas os seus movimentos de necessidade e so%reviv(ncia n$o est$o restaurando a
Arc"dia. @e #ato, nós colocamos avisos alertadores so%re a raiva animal e a doen'a de >me...
Bós, verdadeiramente, n$o os *ueremos muito pró!imos. G despeito das #rias nos sa#aris, das
liga'+es e da nostalgia, e!iste, ainda, um pro#undo #osso entre nós e os animais. Bós ansiamos
pela
#ora”.presen'a deles de um modo su%liminar. O nosso comportamento, entretanto, os mantm “l"
Margot  <orreto. 4sta  a ra&$o pela *ual os animais nas minhas pinturas n$o est$o
completamente “l"”, completamente vis)veis.
Hillman  O invis)vel  t$o importante como o vis)vel. 4u tam%m vejo suas pinturas como
a*uilo *ue chamo de invis)veis. Os invis)veis *ue #oram es*uecidos e #icaram no passado. alve&
estejamos aprendendo o *ue ocorre no nosso meio/am%iente *uando passamos pelo invis)vel. -e
apenas pudermos olhar nossa situa'$o presente de um lugar completamente di#erente alve& os
invis)veis estejam #a&endo e!atamente o *ue  necess"rio ao a*ui e agora, neste ano de
“emerg(ncia animal”. alve& haja inten'$o no seu desaparecimento. alve& esteja ocorrendo, um
holocausto ou um sacri#)cio animal. Onde #oram parar as r$s e por *ueN 4 as %or%oletas reaisN
alve& elas estejam se retirando como os antigos deuses se retiravam de um mundo inóspito e
irreverente. -er" *ue as ra&+es s$o apenas cient)#icas, am%ientaisN 4star$o estes animais
partilhando
Margot a=em,
misria
as planet"ria carregando
circunstEncias mais *ue ocontra
est$o realmente seu *uinh$o deste*ue
eles. 9enso so#rimentoN
gostariam, acima de
tudo, *ue os compreendesse/mos o mais alm da nossa humanidade *uanto poss)vel. B$o
apenas apreci"/los na ; por divertimento, mas respeit"/los concedendo/lhes seu lugar de direito.
Hillman  4sta  a ra&$o pela *ual os nossos animais interiores n$o s$o como a*ueles da ;
onde s$o colocados em estórias humanas. ;oc( n$o v( um leopardo apenas como um leopardo.
4le  colocado numa estória de predadores, de e!tin'$o, ou “as maravilhas de um topete de
pele”? ou um animal em%alsamado. Ou ensinam uma li'$o so%re maternidades, so%re como a
vida animal  arriscada e como tudo tem *ue ser camu#lado ou grandes machos competindo por
#(meas. odas estórias humanas. 4, so%retudo, estes shoRs maravi lhosos  e a #otogra#ia 
realmente #ant"stica  mantm o animal na nature&a mais e mais vis)vel, mesmo à noite, *uando
nossas cEmeras invadem sua privacidade. icamos pasmos com os “closes” *ue mostram cenas
*ue nunca poder)amos ver na vida.

Margot
vivendo nomundo
4u *uestiono nossa ha%ilidade
e n$o apenas de recordar
na ;. P estranho *ue*ue estes
estes animais realmente
document"rios e!istem,
cujo o%jetivo seria
#a&er/nos mais pró!imos dos animais aumentando nossa consci(ncia so%re a sua e!tin'$o
estranhamente est$o trans#ormando estes animais em desnecess"rios. Ali est$o eles em nossas
salas de estar, )cones virtuais com real'ado %rilho magni#ica'$o e detalhe. 4n*uanto est$o super
e!postos e proli#erando na ;, est$o r"pida e silenciosamente desaparecendo do nosso planeta.
Hillman  B$o creio *ue sejamos capa&es de nos livrar do animal interior. O esp)rito do animal
n$o ser" eclipsado pela ; e ele poder" #re*Sentar os nossos sonhos de maneira imprevis)veis.
Margot  Imprevis)veis como invis)veisN

3
Hillman  Quero di&er imprevis)veis. Animais s$o imagens ar*uet)picas eternas. odo este
#asc)nio com dinossauros e legend"rias espcies e!tintas mostra como as imagens animais
continuam a desenvolver/se no imagin"rio. Assim, o *ue eles #a&em na  imprevis)vel.
Margot  ;oc( *uer di&er *ue mantendo/os parcialmente vis)veis estamos lhes dando a
li%erdade de se manterem #ora do controle humano, imprevis)veisN
Hillman  9enso *ue  mais #"cil pintar o animal evanescente do *ue escrever so%re esta
ilus$o. Bas suas imagens os animais emergem ou retrocedem. 4les parecem estar ou n$o estar
l". 9ertencem ao mesmo tempo à nature&a e à imagina'$o. 4u n$o consigo esta mesma
presen'a
Margot ou aus(ncia
 B$o estou*uando escrevo
t$o certa. so%re ao
;oc( alude um*ue
porco ou umsigni#ica
o animal urso polar.
mas n$o se permite di&(/
lo. ;oc( descreve a nature&a da gira#a ou de um camundongo mas, ao mesmo tempo, de algum
modo, voc( os mantm meio escondidos.
Hillman  Met"#oras como nos sonhos. P muito di#)cil evitar o desejo de interpretar, de capturar
o animal num signi#icado.
Margot  ale/me à respeito. <onto com isto o tempo todo. 5ecentemente a pintura de uma
co%ra #oi o%jeto de uma conversa. 4u disse *ue n$o estava interessada em pintar uma. em muita
coisa envolvendo as co%ras e n$o estou interessada nesse sim%olismo. 4nt$o aconteceram tr(s
encontros com co%ras reais. 9er#eitamente paradas para *ue eu pudesse v(/las %em. oi a) *ue
compreendi *ue ainda n$o havia, verdadeiramente, visto %em uma co%ra.
Hillman  Bós, “seres humanos civili&ados” n$o paramos a). B$o podemos resistir ao impulso
de colocar esta co%ra em alguma espcie de estória e lhe dar algum signi#icado. Quando vou a
um &oológico
eu possa, tenhover
apenas, *ue lutarest"
o *ue paral"n$o
semlercolocar
os mapas
esteeanimal
eti*uetas
numain#ormativas
estória ou nas
numjanelas para *ue
#ato cient)#ico.
Margot  mas &oológicos s$o uma coisa completamente diversa. A #inalidade do &o  o#erecer
esta espcie de in#orma'$o. Animais nos &oológicos t(m sido sacri#icados para o nosso acesso a
esta espcie de in#orma'$o. 9or mais *ue seja deprimente penso *ue temos *ue come'ar a
compreender *ue os &o s$o o ha%itat animal do #uturo. A &e%ra mascando %olotas nos &oológicos
do mundo, tra& consigo a perda das plan)cies e os seus re%anhos. 4la se trans#orma numa
espcie de representa'$o tr"gica das mudan'as nas liga'+es do animal com seu ha%itat.
Hillman  alve& tenhamos *ue repensar &oológicos. Olhe para eles como o #a&em as crian'as
pe*uenas  mais como um livro de estórias, um ha%itat da imagina'$o, em lugar de um rplica da
T#rica ou da Ant"rtida. <orreto e ainda assim uma #arsa, #also. -uponha *ue o &o  mais um
lugar para imaginar, para conectar e louvar mesmo do *ue para aprender.
Margot  Ou uma maneira di#erente de aprender, o *ue espero *ue este livro possa #a&er. A*ui
os animais
maneira est$o inseridos, tam%m, num ha%itat e isto pode mover as pessoas a v(/los de
diversa.
Hillman  4star" voc( di&endo *ue estudar animais, sa%er so%re eles, senti/los, n$o  o
%astanteN. Bós temos *ue imagin"/los. 4ntrar neles como seres imagin"rios, como imagens. Isto
 o *ue #e& Ad$oF olhou para estas imagens *ue passavam e tirou seus nomes das suas
nature&as. 4le estava dentro do animal. 4le conhecia os animais da sua imagina'$o. 4les e os
animais estavam todos no mesmo sonho.
Margot  O *ue estou di&endo  *ue antropormo#i&ar um pouco  necess"rio. 9ara mim estar
dentro signi#ica entrar no corpo do animal e de l" tentar ver o mundo. -implesmente n$o #a&
sentido separar/nos do mundo animal *uando h" demasiadas semelhan'as concretas.
Hillman  Ou as palavras surgiram primeiro, desde *ue algumas teorias di&em *ue criamos
nossas palavras dos sons dos animais. Assim, gosto de pensar *ue as palavras certas di&em
alguma coisa tam%m aos animais.
Margot  Que %onito ma mensagem para os animais. Hum...
Hillman  4m parte estou tentando di&er alguma coisa a elesF uma mensagem so%re como eles
se registram na imagina'$o humana, no nosso amor e #antasia, nos nossos sistemas sim%ólicos,
mesmo o *ue a nossa &oologia di& so%re eles. <omo uma reportagem so%re como s$o
perce%idos. 4sta  a ra&$o pela *ual eu uso tantas espcies de #ontes. A &oologia  secund"ria
por*ue só h" %asicamente uma #onte para todas as espcies de estórias  a própria imagem da
&e%ra. 9ovos tri%ais #alariam so%re uma &e%ra/esp)rito *ue d" em%asamento ao *ue *uer *ue
digamos so%re &e%ras. Onde *uer *ue encontremos esta imagem  num poema, no &oológico ou
no -eregenti. Bossa mente civili&ada comete um erro terr)vel em contrastar animais “reais” e

4
animais “imagens” como se o *ue voc( v( na janela do &o e o *ue voc( encontra nos sonhos
#ossem animais di#erentes.
Margot  oi o *ue eu *uis di&er *uando #alei *ue minhas pinturas s$o so%re animais reais num
mundo irreal. Mundo irreal signi#icando v"rios mundos. Mundos *ue n$o s$o literalmente
representados mas *ue apesar disso apresentam um “lugar”.
Hillman  Os limites das suas pinturas animais t(m *ue se des#a&er da mesma maneira *ue 
esmaecida e, algumas ve&es, at eliminada a linha entre o #ato e a saga da sua tradi'$o. -uas
pinturas e este livro s$o como os velhos %esti"rios medievais *ue eram, depois da =)%lia os livros
mais lidos, atais
distin'+es por mais
entreounature&a
menos mil anos. 4stes 4ram
e imagina'$o. livros pr/<artesianos,
so%re animais n$o levavam em conta
pr/cient)#icos. as
4, o nosso
livro tam%m o , regressando a uma mentalidade arcaica e tam%m avan'ando para uma
#enomenologia radicalF um leopardo  um leopardo onde *uer *ue apare'a, intensivamente
#enomenal ?no sentido de #enmeno.
Margot  9ensamento cient)#ico, n$o signi#ica, necessariamente, pensamento cartesiano. Isto
depende de como voc( usa a ci(ncia, “#a&” ci(ncia. O pro%lema  *ue nos tornamos o%cecados
pelos #atos literais *ue podem %lo*uear a imagina'$o.
Hillman  O mtodo cient)#ico #oi designado para este propósito  re#rear a #antasia e corrigir as
“#ic'+es” da imagina'$o com #atos o%servados. Mas creio *ue n$o h" #atos o%jetivos sem #ic'$o
su%jetiva. A o%serva'$o, por si só, atinge apenas uma metadeF a*uela do “agora voc( v(”. A
imagina'$o envolve a outra metadeF a do “agora voc( n$o v(”. Bo sculo UIU animais selvagens
eram estudados, ca'ados, colecionados como #enmeno natural, #atos.

Margot
muito  4les eram,
detalhado, na maioria, pintados
muito natural)stico. -a%e  tam%m
raro ver desta maneira
um animal numae esculpidos em %ron&e.
pintura durante udo
os grandes
cem anos da arte moderna de 1LV7 a 12V7, digamos de Monet e <e&anne at 5othWo. ;oc( só
v( c$e&inhos, cavalos de carruagem, cenas de ca'adas  e h" sempre maiores e!ce'+es como
9icasso e ran& Marc  mas  interessante o *uanto os animais #oram a%andonados, #icaram de
#ora desta arte.
Hillman  4 agora, à medida em *ue est$o desaparecendo, eles encontraram seu caminho de
volta à imagina'$o. O segredo da imagina'$o  o desaparecimento do real. Assim, o *ue estou
di&endo,  *ue sua morte real os est" tra&endo de volta à vida. 4, pintar esta “morte”, esta
aus(ncia talve& seja a melhor maneira de #a&er o “%astante” por eles. Juntando #atos, s)m%olos,
#"%ulas, #otogra#ias, #ósseis, %rin*uedos, slogans, esculturas, livros de arte so%re animais e
%esti"rios  tudo isto junto n$o pode #a&er o “%astante”, n$o pode preencher este curioso senso de
o%riga'$o *ue sentimos em rela'$o a eles. Ainda sentimos *ue alguma coisa #icou de #ora, #icou
#altando.
Margot  Alguma coisa est" #altandoF humildade humana.
Hillman  4u invejo voc( por pintar. B$o importa o *uanto seja duro. Ao menos voc( n$o
precisa carregar todo este material, todas estas re#er(ncias para tentar #a&er justi'a aos animais.
Margot  ento escapar de re#er(ncias. Quero, de alguma maneira, limpar todo este li!o, re#ugo
so%re o animal. Quero *ue minha mente esteja a%solutamente calma e n$o seja atingida por toda
esta in#orma'$o. ma ve& *ue o animal encontre o seu ligar na pintura ele parece tomar conte de
si mesmo e n$o precisamos de todas estas re#er(ncias.
Hillman  -eus cen"rios tam%m s$o muito importantes. Ao mesmo tempo permitem *ue o
animal se a#aste deles ou desapare'a neles. Bovamente  como um sonho campestre. -omente
#ragmentos de um sonho aparecem, contra uma tela evanescente. -eus cen"rios evanescentes.
Margot  4duvard -. <ase>, o #ilóso#o, escreveuF “a pintura de paisagens n$o coloca apenas as
coisas, tam%m as recoloca. 4sta arte d" as coisas concretas ou a%stratas, *uais*uer *ue sejam,

ealgum
algumoutro lugar
outro para
lugar *ueestar.
n$o oAlgum
mundooutro lugar
etreo ?se*ue n$oo%jetos
#orem o mundode natural ?se #orem
cere%ra'$o coisas #)sicas
ou contempla'$o 
a%stra'+es. Algum outro lugar, em outras m$os, alm da simples locali&a'$o na *ual #oram
srcinalmente ou apropriadamente, na maior parte, colocadas. Outro lugar signi#ica outra vida 
uma -egunda vida. Assim, os o%jetos, incluindo e!peri(ncia de o%jetos, n$o s$o meramente
representados ou recordados nas pinturasX eles so%revivem l", no sentido de continuar vivendo,
literalmente, alm da sua primeira, própria vida. 5im%eaud disse *ue a vida verdadeira  alm”.
Hillman  m outro lugar para *ue eles continuem vivendo e vivendo.
Margot  Mas ent$o me perguntoF isto  “%astante”N  “um outro lugar”N Que tal um %ene#)cio
ecológico realN 4nt$o eu respondoF o %ene#)cio ecológico só pode acontecer *uando as nossas
5
percep'+es ha%ituais s$o desa#iadas e come'amos a ver as coisas de maneira diversa, imagin"/
las de modo di#erente.
Hillman  est" certo. -e isto muda nossas percep'+es ha%ituais, elas tam%m s$o, de algum
modo, li%ertadas de nossas interpreta'+es, caso isto nos leve a sentir os animais com mais
parentesco. Quando voc( sa%e *ue os tigres est$o desaparecendo, dei!ando o planeta para
sempre, como tam%m os ele#antes e as r$s, voc( come'a a prante"/los e a olhar ao seu redor
com um olhar di#erente. ;ejo duas pinturas como o%jetos rituais como se voc( estivesse se
enlutando pelos animais em desaparecimento à medida *ue elimina a completa presen'a #)sica
dos mesmos.
Margot   mais ou menos assim. 9or outro lado, para apreciar completamente uma coisa, ser"
*ue ela tem *ue estar completamente e!postaN
Hillman  Os sonhos #a&em isso o tempo todo. 9or esta ra&$o  *ue #alo sempre de animais de
sonhos. B$o estou #a&endo um livro de sonhos de animais tanto *uanto voc( n$o est" #a&endo
pinturas naturalistas de animais. 4stamos am%os lutando com os #antasmas dos animais. Yaston
=achelard disse *ue a imagina'$o re*uer aus(ncia e de#orma'$o. Assim estou sempre
%atalhando o mais *ue posso em escrever so%re os sonhos e os animais entretanto, ao mesmo
tempo, mantendo tudo isto meio o%scuro, enigm"tico, misterioso. ento aprision"/los no papel e,
ent$o, os encorajo a #ugir.
Margot  Hah Hah Hah 4u os persuado a entrar na pintura e depois os encorajo a
permanecer nela

6
INTRODUÇÃO

ADÃO E OS ANIMAIS
I – pg. 13

Bo princ)pio, Ad$o e os animas estavam juntos no Pden. 4sta  uma das estórias mais antigas
e divulgadas na nossa cultura. A estória de *ue os animais passavam na #rente de Ad$o *ue dava
a cada um seus nomes. 4le olhava e via. 4le os reconhecia e di&ia seus nomes pela maneira das
suas #ormas à medida *ue rastejavam, passeavam e galopavam na sua #rente. 4le os reconhecia
e di&ia seus nomes à medida *ue peram%ulavam ou #ugiam, à medida *ue suas %ar%atanas ou
ra%os ?caudas estremeciam so% as "guas. 4le sa%ia *uem era cada um deles.
m dos o%jetivos deste livro  resgatar o “olhar” de Ad$o, restaurar esta pro#unda a#inidade *ue
permite *ue os olhos vejam, olhar novamente o animal e en!ergar suas #ormas vivas para *ue
possamos corresponder/lhe com o @om da nossa intelig(ncia.
4les ainda aparecem noite após noite em nossos sonhos. 4les ainda pedem para *ue lhes
demos nomes. Ainda solicitam de nós uma resposta *ue pede reconhecimento das suas
espec)#icas nature&as individuais.
9or *ue nos procuram ao animaisN O *ue desejam ha%itando nossos sonhosN
-$o eles os “animais guardi$es” como diriam as culturas tot(micasN Aparecem para nos
lem%rar nossa a#inidade com elesN 9ara manter sua presen'a nos con#rontandoN 9ara de#ender/
nos, a nós e a eles, da e!tin'$oN alve& nos apare'am para *ue a própria cria'$o seja
perpetuada. -e assim #or, clamam por grande aten'$o, tal *ual lhes deu Ad$o no in)cio da estória
do mundo e agora, aten'$o para o *ue possa ser o #im desta mesma estória. 4les nos conclamam
a encontrar novamente o “olho” ?olhar de Ad$o.
B$o podemos sa%er o por *ue de aparecerem e o *ue desejam, mas prestar/lhes aten'$o.
9odemos conjecturar so%re o por *ue de entrarem em nossos sonhos e interpret"/los de acordo
com nossas suposi'+es. Mas estas interpreta'+es podem distorcer nossa percep'$o em especial
esta degradante cren'a de *ue eles aparecem em nossos propósitos su%jetivos, para compensar
nossas omiss+es, como se o animal do sonho viesse sugerir nossas emo'+es de calor ou medo,
de terror noturno ou de ternas lem%ran'as in#antis de amor. Qual  a sua necessidadeN Qual a
ra&$o para virem ha%itar nossos sonhosN
alve& temam a perda do parentesco humano, de j" terem sido e!clu)dos da pró!ima arca ?de
Bo na *ual as realidade virtuais su%stituem o h"%ito da pantera ou o %rilho per#eito da arca de
um reprodutorN alve& temam *ue os deuses os tenham a%andonado e assim se trans#ormaram
numa tri%o sem lugar  meramente um “pro%lema” ecológico para solu'+es administrativas e
caridosa compai!$o. Imagine <ompai!$o por uma "guia B$o podemos sa%er a ra&$o da
presen'a deles at *ue comecemos a cogitar.
<onhecemos os registros do e!term)nio. O reino animal desde os ha%itantes das cavernas at
@arRin nas Yal"pagos e Melville nos %aleeiros n$o e!iste mais. Inseticidas repousam nas #olhas.
Bos verdes montes da T#rica os ele#antes s$o sacri#icados pelas suas presas.
Bo mundo %ranco do Trtico, os ursos polares crescem em meio ao li!o dos turistas. Ansiamos
por uma restaura'$o ecológica do reino, o *ue  imposs)vel. ;$os e sentimentais, estes anseios
contradi&em nossas religi+es *ue n$o colocam os animais com @eus, mas, sim, com @eus nos
coloca a nós. 4stes anseios contradi&em nossa #iloso#ia %iológica *ue a#irma *ue os humanos
est$o no topo da ordem hier"r*uica do desenvolvimento. <ontradi&em, tam%m, nossa economia
*ue re#or'a nossa preda'$o natural. Ainda assim, a restaura'$o  um no%re anseio por*ue
agasalha
sonho. um impulso
Beste utópico,deimpulso
mundo utópico *ue pode,suas
“lugar nenhum” ainda, ser esatis#eito
almas as nossas no se
enclave privado
encontram do
como
imagens. 4 nós n$o somos mais su%stanciais, n$o mais #isicamente colocados nem mais presos
no tempo, em sonhos, *ue suas apari'+es.
O sonho  uma arca na *ual todas as #ormas vivas de acordo com suas espcies podem
en#rentar o cataclisma  e o cataclisma  uma realidade m)tica *ue parece convincentemente real
na virada do sculo. <ataclismas e salva'$o, enchentes e arcas, caminham juntos. O *ue *uer
*ue a mente imagine, ru)na ou esperan'a de salva'$o, torna/se imagem. -empre *ue nos
voltamos para os animais, no interesse deles, os imaginamos v)timas de a%usos cruis,
%rutalmente massacrados ou à %eira da e!tin'$o.
7
Assim, este livro trata tam%m das #antasias do #im do mundo e da e!tin'$o das espcies vivas
por acidente nuclear e envenenamento planet"rio, na medida em *ue ele trata dos anseios da
salva'$o do mundo e da sua %ele&a.
=ele&a, realmente, pode ser a chave. -er" *ue os animais nos aparecem para *ue possamos,
ainda, perce%er a %ele&a de suas #ormas vivas, talve& mesmo para salvar a %ele&a *ue os olhos
deles en!ergam primeiroN <omo  *ue um animal reconhece outro se n$o pela sua apar(ncia
estticaN P um #enmeno esttico *ue um animal nos diga *uem , como #e& com Ad$o para *ue
ele pudesse conhecer seus nomes.

Os animais
#orma tam%m
viva. am%m devem uma
e!i%imos ter conhecido Ad$o. Bós
imagem ps)*uica. seres humanos,
9odemos ser “lidos”somos, cadacavalo
como um um, uma
l( o
seu cavalheiro *uando ele caminha em dire'$o à cavalari'aX como os le+es no picadeiro do circo
“l(em” o seu domador  seu humor, seu passo, seu cheiro. -omos, cada um de nós, um livro
a%erto para os animais, para os olhos animais. 4specialmente para nossos animai&inhos de
estima'$o *ue podem avaliar nossos estados de Enimo antes mesmo *ue deles tenhamos no'$o.
=ichinhos de estima'$o eram, no mundo romano, chamados de “#amiliares” ?parentes. Os
animais de estima'$o n$o s$o apenas pare da #am)lia maior mas s$o )ntimos o%servadores
#amiliares da nossa apresenta'$o inconsciente na vida domstica di"ria. 4les #oram os primeiros
psicanalistas. -er" *ue esta  a ra&$o psicológica para a domestica'$o de c$es e gatos, de
p"ssaros e porcos, vacas, ele#antes, ca%rasN Os animais poderiam #a&er/nos conscientes de nós
mesmos.
4les n$o necessitam de palavras para revelarem/se, mutuamente, suas nature&asX eles n$o
usam nomes. Quem s$o est" declarado na sua apar(ncia. -$o reconhec)veis por causa da sua
%ele&a  à despeito das "rduas e tolas tentativas em convert(/los com testes e adestramentos, às
nossas no'+es de reconhecimento como de#inidas por s)m%olos lingS)sticos. 9ara cada um deles
e para o “olhar” de Ad$o, s$o completamente reconhec)veis, simplesmente, pela %ele&a de suas
imagens. Quando est$o em nossos sonhos os animais comunicam imagem para imagem.
9ara ler um animal, para ouvi/lo, se re*uer uma percep'$o esttica para a *ual a psicologia
ainda precisa treinar seus sentidos. Ainda  preciso *ue se encontrem mtodos de o%serva'$o
alm da linguagem la%oratorial e dos paralelos humanoides nos relatos de tra%alhos de campo. A
9sicologia necessita de palavras *ue n$o sejam moralismos alegóricos ou met"#oras como
porcaria, maca*uices e a%ra'os de urso, cadelas e viadagem, pom%as e #alc+es, alm da
met"#ora simplista, alm de tentar alcan'ar o signi#icado do animal.
4m lugar disso , a psicologia precisa desco%rir o olho animal do homem da caverna encarando
seus muros, esta percep'$o esttica *ue responda ao signi#icado e ao poder da #orma e!i%ida.
4sta resposta come'a, primeiro, como propicia'$o, como aprecia'$o. Bos sentimos gratos *ue
o animal esteja l", *ue se dei!e admirar, *ue seja um poder contido dentro de um sonho e *ue
sua visita seja uma restaura'$o momentEnea do Pden.
<omo o canto de um p"ssaro *ue se ouve e *ue cessa, como o ra%o de um es*uilo contraindo/
se e se esticando at desaparecer, como um pei!e *ue%rando a super#)cie e repentinamente
sumindo  agora voc( os v( e agora voc( j" n$o os v(. 4ste  o modo do aparecimento deles,
presentes como imagens e dei!ando seus rastros como imagens. 4 esta  a maneira da história
deles  por*ue todos #oram vistos e todos est$o desaparecendo.
B$o desaparecendo dos nossos sonhos. Besse pe*ueno Z eterno momento do sonho e após,
na variedade de lem%ran'as, h", nas imagens, uma copresen'a srcinal de humano e animal.
Quando nos apresentamos ao animal, Ad$o est" l". 4 l" tam%m est" 4va, e estamos todos no
Jardim do Pden do *ual, ao contr"rio de nós, os animais nunca #oram e!pulsos.
O Jardim ?do Pden  uma nature&a m)tica. 4le n$o pode ser encontrado por devotos
dogm"ticos cavando na lama da erra -anta à procura de locais literais. ma nature&a m)tica 
onde todas as coisas naturais s$o tam%m m)ticas e onde o mito se apresenta como nature&a,
onde o natural e seu nome, porco natural e porco sim%ólico, n$o podem ser separados em
categorias. Isso  onde cada criatura  sustentada pelo mito do seu imagin"rio *ue  tam%m a
sua nature&a, cada uma, de acordo com sua espcie.
Assim, este livro recoloca uma espcie de pensamento arcaico chamado pela Antropologia
#rancesa de “a mentalidade primitiva”.
Yostar)amos de ver n$o só o animal restaurado à emin(ncia na mente humana, mas, tam%m,
a mente humana restaurada à sua alma animal, a este partilhado e indiviso n)vel de sermos
sim%oli&ados pelo Pden. Pden signi#ica mente primordial. Isto  anterior às #iloso#ias posteriores
8
divididas em e!)lio do jardim ?do Pden e a tentativa de justi#icar o a%andono do animal em #avor
da marcha humana para o progresso.
4ste livro #ala tam%m no g(nero de solu'+es empestiando nosso tempo e distraindo nossas
pai!+es com jogos com%ativos entre componentes contendores.
4le #ala de g(nero ?se!o n$o literal e diretamente, mas de maneira sutil e m)tica so%re
companheirismo e acasalamento. As guerras entre espcies servem apenas para continuar nosso
centramento humano, a#astando/nos de uma comunh$o mais ampla. <ulpam/se os #racassos
humanos pela perda do parentesco e se di& *ue o va&io *ue os humanos sentem deve ser
preenchido por outros
próprias espcies. humanos.
4n*uanto O padr$o do das
nos es*uecemos g(nero
maisnos mantm #echados
primordiais dentro
rupturas nas de nossas
rela'+es com os
animais, mais pro#unda  a culpa com a #antasia monoteista de um criador *ue n$o tinha e n$o
necessitava uma companheira e para *uem o se!o era apenas um pensamento secund"rio.
Quando Ad$o estava no Pden, algo surpreendente ocorreu após ter, ele nomeado os animais.
A pró!ima #rase da história %)%lica di& *ue Ad$o precisava de uma companheira. 9or *ue o
despertar desta insatis#eita solid$o aconteceu nesta #aseN 9or *ue Ad$o n$o necessitou de uma
companheira antes de nomear os animaisN
<ertamente os animais des#ilavam perante ele aos pares como se apresentavam a Bo por*ue
e!istem di#eren'as na apar(ncia de machos e #(meas tanto nas aves, nos aracn)deos, nos alces,
pei!es tropicais e mesmo em le+es e ele#antes  di#eren'as em tamanho, cor e atri%utos
decorativos.
9ara identi#icar cada espcie, Ad$o tinha *ue ver am%os os se!os.
Assim,
animal o *ue Ad$o
 composta viu nos di#eren'as
de v)vidas animais, n$o #oi os
entre apenas
pares*ue h" di#erentes espcies mas *ue a vida
?casais.
Ao nomear os animais Ad$o se distanciou de uma identidade com @eus para uma
apro!ima'$o, uma a#inidade com eles. Ad$o reconheceu sua )ntima su%jetividade nas imagens
dos animais *ue caminhavam perante ele e assim pode sa%er seus nomes. -e 4va era a
personi#ica'$o desta nature&a )ntima, tendo sido moldada da costela dele, ent$o ela talve& #osse a
vo& interior de Ad$o *ue conhecia os nomes dos animais. @e *ual*uer modo, 4va tinha uma
a#inidade muito mais pro#unda com a nature&a animal por*ue podia conversar com a serpente.
Assim, podemos compreender a ra&$o de @eus tra&er os animais para *ue Ad$o os nomeasse.
4ste @eus *ue era t$o poderoso e t$o s"%io n$o podia, 4le próprio, nome"/los. B$o podia por*ue
n$o era animal e n$o tinha companheira. @eus #e& isso com completa seguran'a de *ue sua
nature&a nunca deveria ser con#undida com a nature&a animal, inspirando Moiss a a%ater cerca
de tr(s mil adoradores do %e&erro dourado *ue haviam su%stitu)do uma imagem animal pela sua
invisi%ilidade.
suprema A ruptura entre
transcend(ncia n$o opartilhava
animal eum
o divino
reino #oi
com esta%elecida
os animais para a eternidade.
e deste 4ste @eus
modo n$o poderia de
sa%er
seus nomes. -omente Ad$o ?e a pr/#orma'$o de 4va *ue partilhavam a vis$o animal, poderiam
ler suas imagens como um entre eles. 4, para sempre, após a designa'$o os humanos se
reconhecem primariamente atravs do animais e n$o somente no espelho de um deus solit"rio e
invis)vel.
A idia de *ue nos reconhecemos atravs dos animais aparece repetidamente em teorias da
origem da consci(ncia. Alguns povos di&em *ue antigamente os animais detinham todo o
conhecimento e o transmitiram a nós. 4les nos ensinaram todas as coisasF como construir
a%rigos, escalar, nadar, pescar, ca'ar, o *ue comer. Bo princ)pio eles tinham a linguagem e o
conhecimento do #ogo, mas nos presentearam estes dons com sua caridade inata do mesmo
modo *ue d$o seus corpos para assegurar nosso alimento. Outros di&em *ue o auto/
conhecimento humano come'a nas cavernas *uando nossos antepassados pintaram as paredes
com imagens animais #a&endo o primeiro movimento do[apenas literal6 para o[tam%m imagina6.
H" tam%m teorias assegurando *ue o *ue os seres humanos de#inem como [consci(ncia6
come'a somente *uando nos separamos dos animais. 4sta  a ra&$o pela *ual #omos o%rigados
a nos retirar do Pden e dei!"/los para tra&.
Os mitos arianos e europeus eno%recem um herói/cultural como Hrcules *ue mata uma %esta
após outra, desta maneira separando a racionalidade humana da sua primordial a#inidade com os
animais. O imagin"rio crist$o re#or'a esta separa'$o. A pintura e a estatu"ria religiosas mostram
Maria, -$o Jorge e outras valentes #iguras de virtude esmagando um animal. Assim, eles s$o
colocados como “o outro” ou “o inimigo” e mostrados como %estiais, %rutas, pecadores,
materialistas e mecEnicos. 4stas descri'+es #ilosó#icas e teológicas nos d$o o direito de us"/los
9
segundo nossos propósitos  alter"/los geneticamente para nosso alimento, us"/los em nossas
e!peri(ncias de pes*uisa, adestr"\los para nosso divertimento e e!termin"/los para nosso lucro.
4 depois, h" a idia de *ue nunca podemos perder nossa heran'a animal mas *ue podemos
entrar e sair dela como #a&em os !am$s em estado de transe ou após longo treinamento ou
simplesmente pegando vara, molinete e ri#le, contemplando p"ssaros e seguindo trilhas. ma ve&
*ue nos movamos pró!ima e cuidadosamente em dire'$o a eles, tudo retorna. A consci(ncia
humana  despertada ao nos voltarmos para eles em %usca de aprendi&ado.
Algumas idias ainda mais misteriosas en#ati&am nosso parentesco inato. A #iloso#ia
homeop"tica
a%andonados peloconsidera os animais[&oologia
Ad$o primordialF como interiori&ada
caracter)sticas de tra'os em
se trans#orma humanos
#isiologia*ue #oram
 #isiologia
e!teriori&ada se trans#orma em &oologia6. Os animais s$o nossos órg$os humanos andandoX
nossos órg$os s$o espcies animais interiori&adas. Ad$o pde nomear os animais em ra&$o do
seu conhecimento )ntimo com sua própria #isiologia e psicologia. 5$s e sapos representam a pele,
eles suam e se ru%ori&amX crust"ceos, os mem%ros, at mesmo seus olhos s$o como caulesX
co%ras o aparelho digestivoX pei!es, a estrutura ósseaX insetos, o sistema nervoso vegetativo, da)
sua sim%ologia com a vida vegetal.
4spcies superiores como macacos, gatos e alces s$o representa'+es &oomór#icas da psi*u(
humanaX seus humores e h"%itos. Os macacos, por e!emplo, s$o todos como m$os, mesmos eus
ra%os. =alan'ando, arrumando, agarrando, descascando, co'ando, %rincando, / eles s$o nossas
ha%ilidades manipulativas e!teriori&adas. Yatos s$o vigias, ovelhas  seguidores, cavalos 
orgulho e no%re&a. O *ue est" nos animais e!i%e nosso próprio interior, assim, estud"/los, propicia
maior auto/conhecimento. "%ulas animais como as contadas por 4sopo s$o um g(nero universal
para instruir as crian'as à respeito de si próprias.
Baturalmente, como sempre, as vis+es propiciadas por estes contos s$o para o aprendi&ado
humano. ;oltamo/nos para os animais em nosso %ene#)cio próprio. 9essoas civili&adas, como eu,
parecem incapa&es de evitar nossa som%ra cultura *ue maltrata os animais e nos coloca,
arrogantemente, n$o apenas no cume da cadeia alimentar mas moral e psicologicamente
superiores e deste modo, cegos para a som%ra *ue de#orma nossa vis$o em rela'$o a eles.
B$o o%stante, estas idias provenientes de v"rias tradi'+es a#irmam a pro#unda a#inidade dos
humanos com os animais. O *ue #a&emos a eles, #a&emos a nós mesmos e vice/versa. odos
participamos, como os velhos padres da igreja #oram o%rigados a admitir, do *ue eles chamaram
“a maneira animal de gera'$o” ?concep'$o. Isto *uer di&er *ue os seres humanos, como os
animais, s$o tam%m celulares, se!uais, sensitivos com peles e!ternas e glEndulas internas,
cheios de l)*uidos, carregados com )ons. @o mesmo modo *ue partilhamos o planeta e seus
elementos, partilhamos tam%m estruturas genticas e um campo ps)*uico.
O terreno comum a todos nós, in#orma, su%liminarmente, a nossas almas o *ue se passa na
alma deles. alve&, esta compreens$o nos chegue pela o%serva'$o do seu comportamento, talve&
por meio de imagens, talve& atravs dos sonhos, por*ue nos sonhos os muros de separa'$o se
tornam transparentes. 4m%ora opacas para nossas mentes em estado de vig)lia, muitas espcies
de seres a%rem passagens em nossos sonhos e tocam nosso conhecimento. A compreens$o *ue
temos dos animais n$o  clara nem distinta e certamente n$o  completa, mas a in#orma'$o nos 
o#erecida por eles *uando nos antenarmos  sonhando.
A compreens$o *ue assimilamos e tradu&imos em nossa linguagem humana de acordo com
e!peri(ncias humanas an"logas  condenada pelos rigores da ci(ncia o%jetiva como
“antropomor#ismo”, termo cunhado durante o auge do materialismo racionalista e usado, para
negar a compreens$o das espcies entre si.
A ci(ncia estrita di&F j" *ue os animais n$o podem e!pressar sua personalidade atravs da
linguagem, mostrando o *ue se passa em suas mentes, n$o podemos assumir *ue eles tenham
personalidades, vida interior
conjecturas su%jetivas. B$o h"ouevid(ncia
mentes. O *ue *uer
o%jetiva *ue *ue
nos lhes atri%uamos
permita s$o animais
garantir aos nossas estados
próprias de
consci(ncia humana. O medo cient)#ico de *ue no antropomor#ismo separa o mundo humano do
reino animal. 4ste medo tam%m nos condu& a descon#iar de nossas vis+es e intui'+es,
colocando uma maldi'$o na empatia.
A menos *ue se antropomor#ise, estamos destinados a entender a ca%riola de um cavalo n$o
como sua alegria mas como nossa proje'$o, o uivo de um c$o n$o como seu desespero mas
como nossa identi#ica'$o sentimental com sua s:plica, a agita'$o de um racoon ?*uati numa
armadilha n$o como seu medo mas como nossa própria claustro#o%ia e vitimi&a'$o.

10
O antropomor#ismo pode li%erar os animais da condi'$o *ue h" muito chamamos “muda” ? por
causa da nossa própria surde& e nos livrar da pris$o da nossa su%jetividade. O antropomor#ismo
reconhece *ue humanos e animais participam de um mundo de signi#icados. Bós podemos e
compreendemos uns aos outros à despeito das #iloso#ias arrogantes *ue preservam a consci(ncia
como propriedade humana e!clusiva.
Assim, este livro, caminha destemido para o antropormo#ismo. alve& seja melhor pecar em
#avor de uma doutrina ancestral de uma participa'$o m)stica com todas as criaturas ?tam%m nós
como criaturas do *ue manter as ilus+es de o%jetividade. Alm do mais, em nossos sonhos, os
animais v(m e v$o, teorimor#i&ando nossas vidas humanas. 4les nos compreendem sem
palavras, sem ci(ncia, sem dados e!perimentais. 9rovavelmente tam%m aparecemos em alguns
sonhos deles como o #a&em t$o #re*Sentemente nos nossos. 9or *ue n$oN
A presen'a do animal num sonho, restaura a nude& de Ad$o, os desenhos cr>pticos das
paredes das cavernas, estes momentos da lem%ran'a a%or)gene *ue apresentam as variedades
da alma animal. Baturalmente os di#erentes animais apresentam estilos e #ormas de vitalidade, de
modo *ue alguns digamF “As imagens animais representam instintos. 4les representam nossa
%estialidade e primitivismo”. Mas isto n$o  verdade. 4m primeiro lugar n$o s$o nossos nem nós.
B$o inventamos estas imagens, n$o preparamos sua chegada ou gerenciamos sua autonomia
*uando apareceu. 4m segundo lugar por*ue n$o s$o meramente imagens de animais, pe*uenos
desenhos %i/dimensionais, #antasmas e som%ras, mas imagens como animais.
Bo sonho o animal nos mostra *ue a imagina'$o tem mand)%ulas e patas *ue pode nos
acordar à noite, aterrori&ados, em pEnico e nos levar às l"grimas. 4stes animais a%rem nossa
compreens$o para o #ato de *ue de *ue as imagens s$o #or'as demon)acas. O m)nimo *ue
podemos o#erecer/lhes  a*uele respeito primordial do homem das cavernas desenhando/os na
escurid$o, #aces voltadas para as paredes, o respeito de Ad$o considerando/os t$o intimamente
*ue viu a nature&a espec)#ica de cada um. Becessitamos cavernas maiores e aten'$o cuidadosa.
4nt$o, eles podem se apro!imar e nos contar tudo so%re si próprios.

11
UMA CORA NÃO ! UM S"MO#O
II – pg. $%

Muitas ve&es inicio um RorWshop so%re imagens animais com a co%ra. A co%ra #unciona como
um encantamento li%erando as pessoas de suas no'+es insidiosas do sim%olismo das co%ras e,
em conse*S(ncia, do sim%olismo dos animais em geral.
A pergunta *ue #a'o  mais ou menos estaF “<omo voc( entende a imagem de uma co%raN” 
“O *ue signi#ica uma co%raN”  “Qual  a sua interpreta'$oN” <ompilei e condensei as respostasF
1  A co%ra  renova'$o e renascimento por*ue ela muda a sua pele.
8  ma co%ra representa a m$e negativa por*ue ela se enrosca, se enrola e te engole inteiro.
K  P a corpori#ica'$o animal do mal. 4la  astuciosa, evasiva, sinistra, tem a l)ngua em #orma
de #or*uilha e  amaldi'oada por @eus, maldi'$o *ue a #a& se arrastar so%re sua %arriga por
causa do *ue #e& a Ad$o e 4va. O livro das 5evela'+es di& *ue a serpente  o próprio demnio.
]  P um s)m%olo #eminino tendo uma rela'$o de simpatia com 4va e  deusa em <reta, ^ndia,
T#rica e muitos outros lugares.
3  A co%ra  um #alo por*ue enrijece, levanta sua ca%e'a e ejeta #luidos da sua e!tremidade.
Alm disso penetra em cavidades.
V  ela representa o mundo material terreno e como tal  inimiga universal do esp)rito. Os
p"ssaros a guerream
D  A co%ra na nature&aum
 um curandeiro, e osremdio,
heróis na cultura.
e nós ainda a vemos nos logotipos das #arm"cias.
4ra guardada nos tempos de cura de AsWlepios na Yrcia e um sonho com co%ras representava a
própria vinda de um deus para curar.
L  P uma guardi$ de homens santos e s"%ios  mesmo o Bovo estamento di& *ue as
serpentes s$o s"%ias.
2  A co%ra tra& #ertilidade por*ue  encontrada em po'os e #ontes e representa o elemento
#resco e :mido.
17  ma co%ra  a morte por causa do seu veneno e pela ansiedade instantEnea *ue causa.
11  P a verdade mais interior do corpo como os sistemas nervosos simp"tico e parassimp"tico
e como o poder de serpente da Ioga _undalini. 4sta  a ra&$o pela *ual a so#isticada medicina
popular entre os nativos americanos, sul/asi"ticos, chineses e a#ricanos, por e!emplo, con#iam em
partes do corpo das serpentes como remdios.
18  A co%ra  o s)m%olo para a psi*u( inconsciente  particularmente a li%ido introvertida, a
energia interna *ue vai e vem. -ua sedu'$o nos condu& à treva e à pro#unde&a. P sempre
“am%as”F criativa e destrutiva, macho e #(mea, venenosa e curativa, seca e :mida, espiritual e
material e muitos outros irreconcili"veis como a #igura de merc:rio.
4sta 18` interpreta'$o da co%ra a%range todas as outras on&e e as trans#orma todas em
passos de um programa no *ual a co%ra est", #inalmente, e!plicada no passo #inalF a psi*u(
inconsciente.
O *ue #oi, realmente, dito por este :ltimo termo *ue n$o  melhor dito pela própria imagem, sua
#ascinante, l)ngua tr(mula, seu chocalho, seu silvo, seu %ote r"pido, sua escamada e %rilhante
pele, seu enroscar e mover/se de lado, o pVanico crescendo, su%itamente pela vis$o delaN
9or *ue dever)amos trocar uma imagem viva por um conceito interpretativoN -er" *ue as
interpreta'+es s$o uma de#esa psicológica contra a presen'a de um @eusN em%remo/nosF
muitos dos deuses, deusas e heróis gregos tinham a #orma de uma co%ra  0eus, @ion)sio,
@emtrio, Atena, Hrcules, Hermes, Hade, mesmo Apolo. -er" *ue se insere em nosso terror da
serpente a resposta “apropriada” de um mortal para um imortalN
9or e!emplo, uma co%ra negra aparece num sonho, uma enorme co%ra negra. ;oc( pode usar
um hora inteira de terapia com esta co%ra negra #alando so%re a m$e devoradora, #alando so%re
ansiedade, so%re se!ualidade reprimida e todas as outras propostas interpretativas *ue, nós,
terapeutas, #a&emos. Mas o *ue permanece após toda a compreens$o sim%ólica F “o *ue esta
co%ra est" #a&endo”, esta rastejante, enorme e negra co%ra escorregando para dentro de sua
vidaN Bo momento em *ue voc( captou a co%ra numa interpreta'$o, voc( perdeu a co%ra. ;oc(
interrompeu o seu movimento vivo. 4nt$o, a pessoa sai da consulta terap(utica com um conceito
12
so%re “minha se!ualidade reprimida” ou minhas #rias e negras pai!+es” ou “minha m$e”/ e n$o
est" mais com a co%ra. A interpreta'$o aplaca a palpita'$o emocional e a incerte&a mental *ue
surgiram com a co%ra. @e #ato, a co%ra j" n$o  mais necess"riaX ele #oi e!pulsa, com sucesso,
pela interpreta'$o. ;oc(, o sonhador, n$o necessita mais da co%ra e #orma o h"%ito de tam%m
n$o mais necessitar sonhar uma ve& *ue os sonhos j" #oram interpretados. O signi#icado toma o
lugar da imagemX o animal desaparece na mente humana.
H" v"rias maneiras de conservar a co%ra por perto. 4la pode ser imaginada como uma
presen'a sentida, com a *ual se conversa, ela pode necessitar ser alimentada e a%rigada, pintada
e modelada. 4la pode ser honrada com gentile&as como lem%r"/la v"rias ve&es durante o dia
“#a&endo alguma coisa por ela”  um gesto #)sico, acender uma vela, comprar um amuleto,
desco%rir o seu nome. 4la pode ser apro!imada de nós por visuali&a'$o, sentindo sua pele e sua
#or'a. Assim a imagina'$o toma o lugar do signi#icado e a mente humana se doa à presen'a do
animal.
4ste  o tra%alho psicológico e imaginativo de “anima'$o da imagem” devolvendo à co%ra uma
alma/viva *ue poderia ter sido dela removida pelo seu desejo de compreend(/la. A co%ra pode
n$o ter nenhuma o%je'$o em ser compreendida. 4la pode estar contente de *ue voc( consulte
livros so%re rpteis, por uma #uga& visita ao 0oológico para admirar co%rar *ue voc( leia antigos
mistrios so%re serpentes. Mas o *ue *uer *ue voc( #a'a, primeiro consulte a co%ra para *ue
voc( n$o a insulte seguindo seu próprio plano sem reconhecer a chegada dela à sua vida. 9or*ue
a sua chegada  uma convoca'$o para distrair suas inten'+es de voc( mesmo, ao menos,
parcialmente, em #avor dela.
Animar a imagem  esta  a tare#a hoje. A tare#a n$o  mais uma *uest$o de conte:dos
sim%ólicos dos sonhos. H" mais de cem anos atr"s reud nos levou de volta às tradi'+es antigas
do sim%olismo e às velhas tradi'+es do signi#icado dos sonhosX ent$o Junge e!plora estes
sim%olismos e signi#icados mais ampla e pro#undamente.
Mas ent$o, am%os, reud e Jung #i&eram um movimento *ue n$o *ueremos mais repetir.
Am%os tradu&iram as imagens dos animais em signi#icados sim%ólicos cristali&ados. 4les n$o
permitiram *ue o *ue aparecia se e!pressasse o %astante mas prosseguiram satis#a&endo a
racionali&a'$o  e muitas ve&es com medo  o pensamento di"rio da mente.
“Isto *uer di&er a*uilo”. Mesmo o mtodo junguiano de imagina'$o ativa *ue anima a imagem
n$o  para o %ene#)cio da aluna do animal, mas para a aluna do sonhador.
“9regando e se contorcendo na parede” disse <. -. 4liot so%re o mtodo moderno de
tratamento da mente. A imagem de 4liot sugere a %or%oleta da psi*ue incapa& de voar ao
encontro de rótulos diagnósticos e signi#icados interpretativos.
ma ve& *ue voc( tenha tradu&ido a grande co%ra na sua #antasia, ou inveja do p(nis, ou *ue
voc( a tenha tradu&ido num s)m%olo materno, a Yrande M$e, voc( n$o necessita mais da imagem
e voc( permite *ue a imagem diga apenas uma coisa, uma palavra, por e!emploF “Yrande M$e”.
4nt$o ela desaparece. ;oc(, realmente, n$o *uer mais a*uela co%ra negra voc( *uer tra%alhar
o seu comple!o materno, mudar sua personalidade, e assim por diante. Mas isto ainda dei!a a
alma inanimada, *uer di&er, sem vida. As imagens n$o est$o caminhando com suas próprias
pernas. oram trans#ormados em signi#icados. <omo disse algum so%re Junge, o seu principal
mito era o mito do signi#icado. 4nt$o vamos tenta r a%andonar o signi#icado e a %usca do
signi#icado e o signi#icado da vida, para assim nos atermos à imagem animal.
4m nossa ansiedade por signi#icados conceituais ignoramos a %esta ?animal atual. J" n$o
estamos pasmos pelos seus #eitos nem curiosos so%re sua presen'a  por e!emplo, *ue uma
co%ra desloca seu ma!ilar para engolir um animal maior *ue ela própria, *ue o seu aparelho
digestivo #unciona sem mastiga'$o, sem dentes, moela ou %olo alimentar, como um peristalsis
r)tmico *ue pressiona sua re#ei'$o contra sua espinha dorsal esmagando sua presa em uma
polpa digestiva. Ou, por e!emplo, o #ato de *ue a sua pele descart"vel depois de escamar parece
continuar escamando ?mudando.
;idas sem sentido anseiam por sentidos e os psicólogos alimentam a #ome de sentido com a
presen'a viva dos animais. <lientes como carn)voros devorando a carne dos seus animais de
sonho para satis#a&er sua gulodice por conhecimento. Ou ser" *ue nós, psicólogos, nos
trans#ormamos em ta!idermistas desentranhando a co%ra, recheando/a com conceitos, e
preservando/a com um cuidadoso signi#icado #i!oN

13
CONSIDERANDO O CAMUNDON&O DOM!STICO
III – pg. 31

@evemos com%ater a idia de *ue um animal representa uma #un'$o “:nica” e eu pedirei ao
camundongo para empreender esta luta. A idia da #un'$o :nica di& *ue os roedores roem,
ovelhas mastigam ervas, %urros %rincam lascivamente entre si e gol#inhos s$o ajudantes gentis.
4sta maneira de interpretar animais segue um velho mtodo alegórico. Yregório de M>sso, um
padre da Igreja do sculo I; e!plicou *ue um ser humano  como uma cole'$o de animaisF / Bos
trans#ormamos em sapos atravs da lu!:ria, a%utres atravs da crueldade e tigres atravs da ira.
<ada animal se torna um rótulo para uma emo'$o espec)#ica ou caracter)stica humana.
4sta  uma velha idia mas muito atual. Ainda hoje muitos escritos so%re sim%olismo animal
redu&em espcies animais em espcies de instintos humanos. -e estivermos demasiado a#astado
da <omunidade ou demasiado identi#icados com ela, teremos sonhos com ovelhas, revelando
nossa rela'$o com o “instinto do re%anho”. -e o pro%lema  “poder” ele se mostrar" em sonhos
como le+es ou "guias. -e o pro%lema  a “m$e”, ent$o sonhos com ursos e assim por diante.
<omo escreveu reudF
/ “Animais selvagens s$o, em regra, empregados pelo “tra%alho do sonho” para representar
impulsos apai!onados dos *uais o sonhador t(m medo... m pai detestado e temido 
representado por um animal predador ou um c$o ou cavalo selvagem,,,
Muitas das %estas *ue s$o usadas para representar s)m%olos genitais na Mitologia ou no
#olclore, assumem o mesmo papel nos sonhos como por e!emploF pei!es, caracóis, gatos,
camundongos ?devido ao p(lo p:%ico. “Macaco” e nomes de animais s$o usados, em geral, como
insultos”. 
O camundongo como p(lo p:%ico Ba verdade Muitos escritores ainda v$o alm em degradar
os animais com suas próprias #antasias se!uais. 9or e!emplo, ilhelm -teWel, um antigo e notório
psicanalista, interpretava o sapo como um :teroX animais :midos e escorregadios como caracóis e
r$s como e*uivalentes do p(nis. A pulga tam%m  um #alo por*ue  viva&, atrevida, agressiva.
4rnest Jones, %iógra#o e admirador #an"tico de reud, concluiu *ue “as crian'as muitas ve&es
devem sua primeira e!peri(ncia de atividade se!ual à vis$o de uma cópula animal... 4nt$o os
animais se prestam e emprestam para a representa'$o individual de desejos crus e sem rdeas
?incontrol"veis.”
odo este #riehantismo em cavar os signi#icados de presen'as animais nos sonhos humanos,
nunca permite *ue os animais se apresentem como s$o. 4les s$o re%ai!ados a uma simples
#un'$o, usualmente se!ual, enjaulada dentro das repress+es humanas e aparecem nos sonhos
para compensar nossa inade*ua'$o instintiva ?instintual. 4stas interpreta'+es os colocam dentro
de nós e nunca nos condu&em para dentro do animal. 4 a interpreta'$o sim%ólica negligencia o
humor de cada estilo animal. "%ulas, desenhos animados, %rin*uedos e contos in#antis, no
mundo inteiro, como tam%m ensinamentos dos m)sticos e antepassados, mostram *ue cada
animal  divertido, engra'ado de se olhar e instrutivo mesmo como %rincadeira.
<onsideremos o camundongo domsticoF ele n$o tem, meramente, uma #un'$o singular e a
sua imagem num sonho n$o , meramente, uma representa'$o sim%ólica desta #un'$o. Isto nivela
o camundongo #a&endo sua incurs$o no sonho demasiado compreens)vel. 4ntrar “dentro do
camundongo”, dentro da imagem de cada espcie de animal, tenta #a&er justi'a ao rico e completo
ser *ue cada animal  com suas intricadas e adaptadas maneiras de comer, desenvolver/se,
alimentar/se, mover/se, sua colora'$o e olhar, sua geogra#ia. <ada animal n$o apresenta apenas
um modo de so%reviv(ncia e auto/preserva'$oX ele tam%m mostra modelos de de#esa, estilos
repetitivos e o%sessivos de patologia e maneiras de o%servar o mundo atravs de sentidos
especiais e intelig(ncia. <amundongos n$o roem apenas, eles escutam. 4 eles s$o lindos.
-e voc( se coloca dentro do camundongo, voc( pode #icar l" sentado, *uieto como um
camundongo escutar o mundo, suas pe*uenas tonalidades, seus sussurros. 4, para #a&er isto,
voc( tem *ue #icar muito pró!imo e ainda assim escondido, cada m:sculo vivo e parado e
“muscle” e “mouse” s$o primos etimológicos. B..  ?B$o vale para o 9ortugu(s  muscle e mouse
n$o s$o, em nossa l)ngua, primos etimológicos. ;ivo e parado para n$o inter#erir com o *ue est"
acontecendo, os sons, os odores, n$o chamando aten'$o para voc( mesmo. Atenta,
intensamente, voc( segue regularmente por*ue voc( pode sucum%ir impedindo uma #uga
histrica ?do camundongo se con#rontado por um gato ou uma co%ra.

14
4m seu pe*ueno dorso cin&ento tendo em mente *ue carregam doen'as... 4les tra&em peste,
ti#o, enterite severa, leptospirose, tularemia. re*Sentemente tra&em “salmonelosis” e in#e'+es
viróticas, tam%m terr)veis doen'as propagadas atravs de #ungos... 4 a lista acima n$o est" , de
modo algum, completa”.
Assim, a esposa do #a&endeiro, corta duas caudas com #ac$o, en*uanto a senhora da cidade
pula so%re uma cadeira para *ue ele n$o invadam suas saias e o lautista de Hamelin livra toda a
aldeia de seus roedores e tam%m de sua juventude. At o ele#ante  conhecido pelo medo *ue
tem de um camundongo su%indo de sua trom%a. Medo de penetra'$o, invas$o, rou%o, doen'a.
B$o  de admirar *ue o camundongo caminhe t$o rapidamente, t$o pe*ueno, t)mido, aterrori&ado.
4le tra& a amea'a do desconhecido, do oculto su%mundo e do invis)vel outro mundo, para dentro
da co&inha dos lares onde reinam os deuses domsticos da co&inha, desde =astet do Antigo
4gito, nosso gato comum. 4ste peludo gato gordo e %igodudo, no seu con#orto egoc(ntrico,
necessita de voc( como presa, necessita de voc( para seu eterno jogo de pega e larga para
manter suas garras a#iadas e seus instintos acordados após a lEnguida sonol(ncia. 4 assim voc(s
-rta. Minnie e -r. MicWe> ?B..  camundongos de alt @isne> devem se manter vigilantes toda
noite e se satis#a&er com so%ras, restos e o *uer *ue se apresente para sua modesta co%i'a.
<uidado em n$o aprisionar o camundongo do sonho em teorias de repress$o se!ual  *ue ele
n$o se re#ira aos seus ocultos desejos noturnos. enha cuidado tam%m para n$o aprision"/lo em
teorias de compensa'$o #uncional, ou seja, de *ue ele apare'a em seus sonhos para lem%r"/lo do
*ue voc( n$o est" mas deveria estar #a&endo. 4stas teorias, am%as colocam o camundongo ao
seu servi'o. 4m lugar disso, preste aten'$o nele apenas como aparece. Olhe suas atitudes.
<ontemple/o . Ao se colocar na imagina'$o do animal, voc( pode salvar o #enmeno das teorias.
4sta #oi, a#inal,
ordenou a preocupa'$o
a constru'$o da arca. de @eus, salvando
O mundo o #enmenosuas
poderia su%mergir,  oucidades,
o nmenoN  pela
#lorestas *ual 4lee
plan)cies
todo o seu povo desaparecer, e!cetuando a #am)lia nuclear de Bo. Mas o *ue deve so%reviver de
tudo isto, s$o as sementes da <ria'$o, os animais.

15
URSOS 'O#ARES
I( – pg. 3)

@urante um de meus itinerantes semin"rios so%re sonhos animais, uma mulher me relatou este
sonhoF
/ “4u estava voando num avi$o pilotado por meu marido. G medida *ue ele pilotava eu
apreciava a paisagem l" em%ai!o. 4nt$o eu lhe disseF / vejo um urso polar so% um pouco de "gua
l" em%ai!o.
urso  meu
polar com algomarido continuouum
mais #ormando a pilotar. 4nt$omomento,
!is. Beste olhei na tela
meudo radar e/ l"
maridoF estava
9enso *ueregistrado
vou dar o
uma olhada.  4 retrocedeu com o avi$o at *ue vimos novamente o urso polar sentado so% a
"gua”/
Muitos sonhosZanimais me #oram passado por escrito em RorWshops e enviados pelo correio
por colegas, para serem adicionados à minha cole'$o. Isto n$o *uer di&er *ue estes sonhos
devam ser interpretados por mim. B$o podem ser. B$o conhe'o os sonhadores e suas situa'+es,
nem conhe'o as ocasi+es precisas em *ue estes animais os visitaram. B$o dou consultas
interur%anas esotricas ?B. . 7277 / N. 4u meramente coleciono os sonhos para estudar
comportamento animal. Meu tra%alho com estes sonhos  mais de ecologia ps)*uica *ue de
psicoterapia. Assim, minha preocupa'$o n$o  com o *ue%ra/ca%e'a apresentado pela sonhadora
e seu marido no avi$o, mas com o enigma do urso so% a "gua. -e tenho alguma inten'$o
terap(utica  a de ajudar o urso, compreend(/lo e tra&er suas inten'+es o%scuras, atravs do
mundo dos sonhos, para o mundo real *ue todos compartilhamos. 4ncaro todos os sonhos como
pertencentes, primeiramente, às #iguras neles contidas. Beste caso, principalmente, o urso.
4m%ora se diga *ue o sonho pertence ao sonhador, pois no caso ela teve este sonho e o
escreveu, devido *ue este urso seja “dela”. 4m lugar disso gosto de #ingir *ue o urso  a ocasi$o
para o sonho e mesmo para transmiti/lo dela para mim e de mim para voc(s. 4u me conce%o,
como um comunicador catalista, conectando o animal ao mundo humano, ou digamos, nestes
sonhos de ursos polares, sou o agente deles.
Admito ignorar completamente a mulher a mulher e o seu caso para poder desco%rir mais
so%re o *ue acontece no sonho e como o urso polar se en*uadra nele. B$o posso relacionar o
urso com nenhum dos pro%lemas da mulher. udo o *ue posso #a&er  colocar indaga'+es ao
sonho e l(/lo como uma imagem inteira. Quero di&er, olh"/lo escutar suas palavras e repetir suas
#rases para *ue talve& possa ouvir as implica'+es meta#óricas na imagem. 9or e!emploF *uando a
sonhadora est" voando e sendo pilotada pelo marido ?com *uem ela  associada e por *uem est"
sendo condu&ida ela olha para o mundo a%ai!o como um cen"rio. O cen"rio consiste na "gua
onde
radar se
doencontra o urso
avi$o. Bo avi$opolar.
eles O #atouma
t(m do urso evoca o a%strata,
consci(ncia comandoFmesmo
“olha”. O
seurso aparece
altamente na tela de
sensitiva,
capa& de en!ergar dentro d6"gua. @e #ato, a tela do radar mostra um urso duplicado, talve& um
re#le!o dele mesmo, *ue leva o marido a pensar, a mano%rar o avi$o e olhar. 4sta -egunda
inspen'$o  como “re/inspencionar” o urso. O movimento da m"*uina voadora  revertido. O #ato
do urso altera o rumo do casal.
O urso polar se registra como um U, sinal convencionado para uma *uantidade desconhecida
*ue deve ser deci#rada por dedu'+es do pensamento. Ba verdade o urso se registra como dois
Us, por*ue o sonho di&F o urso polar aparecia na tela do radar com algo mais como dois Us. P ele
um urso trai'oeiroN em um duplo signi#icadoN Ao menos podemos di&er *ue est" *uali#icado pelo
n:mero dois. 4!iste algo maisF / um segundo urso, um urso na som%ra, um urso #antasma. P o
segundo plano do urso, este segundo pensamento *ue #a& o marido atentar e retroceder com o
avi$o.

4nt$o,
"gua. 4st"o sentado,
*ue  *ue eles v(m
parado, *uando
como lan'am
tam%m aindao sentadoN
segundo olharN O urso ainda
4st" esperandoN sentado
9edindo so%ser
para a
testemunhadoN
ma lenda judaica di& *ue cada espcie animal tem uma correspondente na "gua. -er" *ue
este urso polar so% a "gua n$o  a*uele *ue n$o entrou na arca e est", ainda, aguardando
resgateN 9or *ue o urso se senta parado en*uanto o avi$o se moveN Qual a rela'$o entre uma
tela de radar na m"*uina, voando na altitude, e o animal, l" em%ai!o, de%ai!o d6"guaN Quem 
este urso e por *ue o casal o est" vendoN
Outro sonho com urso polar de uma mulher na casa dos K7 anos.

16
/ “m urso polar me persegue. 4stou aterrori&ada e tento #echar uma porta para mant(/lo do
lado de #ora. m homem vai atr"s do animal e ent$o eu vejo o urso voltar #erido. 4le #oi atropelado
por um carro e tem o om%ro #erido e sangrandoX torcido. <on#uso, ele #ica olhando para o
#erimento. -into pena e estou angustiada com este acontecimento. 4u n$o o *ueria machucado.
Apenas *ueria *ue ele n$o me #erisse.  “
O sonho e!i%e um tema #amiliar na imagina'$o humanaF persegui'$o por uma animal. Quando
a persegui'$o ocorre, devemos sempre perguntarF somos perseguidos por*ue corremos ou
corremos por*ue somos perseguidosN Benhuma se*S(ncia casual  necess"riaF  %astante sa%er
*ue #uga e persegui'$o caminham juntas.
Assim, no sonho, o urso polar persegue por*ue est" “atr"s dela” signi#icando *ue ela est" na
#rente, corre dele, #echando a porta contra o animal *ue vem em %usca dela.
Qual*uer coisa *ue venha a voc( num sonho, *uer ?deseja voc(, tem uma inten'$o *ue pode
n$o ser a*uela *ue voc( lhe atri%uiF sa%emos o *ue o urso *uerN
<omo o urso corre atr"s dela, um homem annimo corre atr"s do urso. Isto resulta no urso
sendo #erido, ensangSentado e con#uso ?por um carro  tal  a #or'a do homemanVonimo nesta
psi*u( e tal  a #or'a do ve)culo de sua dire'$o. Isto con#unde o animal. O urso polar #ocali&a seus
#erimentos. -ua capacidade para om%rear 2a%rir caminho #oi #erida  ?est" #erido no om%ro. O
*ue se inicia com persegui'$o e terror se trans#orma, após o #erimento, em reconcilia'$o.
5econcilia'$o atravs da dor. <omo o animal est" #erido, ela est" angustiada. alve& a dor tenha
a%erto a porta entre eles. O homem *ue vai atr"s do urso n$o est" mais no sonho e nenhum
#igurante est" indo mais atr"s de outro.

m terceiro
contraste entre sonho
o avi$ocom ursoepolar
voando vem
o urso de so%
polar umaamulher
"gua e mais velha. -e
no segundo umno primeiro
cho*ue sonhoentre
doloroso h" um
carro e animal, neste terceiro sonho o animal est" completamente só, nem m"*uinas, nem seres
humanos, um so#rimento solit"rio.
/ “;ejo um grande e #orte urso polar, %rilhando de %ranco e parado na mais long)n*ua #ronteira
de sua terra, um ponto de gelo e neve no cume do polo, de #rente para a "gua congelada e a&ul.
4le se e*uili%ra nas patas traseiras, ereto, ca%e'a erguida, o nari& apontado para o cu. -uas
patas dianteiras rasgam o ar com ang:stia. Olhando/o, reconhe'o *ue est" no #im da sua
esperan'a na %usca da companheira e da cria e chama em agonia terr)vel e poder in:til.”
=rilhando de %ranco, na mais long)n*ua #ronteira da terra, no #im da esperan'a, no topo do
pólo, ereto e apontando para o cu, este urso, com todo o seu poder neste lugar, est" em agonia.
B$o por*ue esteja sendo ca'ado ou #erido mas por*ue neste lugar mais e!tremo n$o pode
encontrar sua, companheira e sua cria, ele est" so&inho. Yrande, #orte, e ainda assim in:til. Que
terr)vel ang:stia est" rasgando o ar deste sonhoN O *ue deve ser ouvidoN O *ue a sonhadora e
tam%m nós estamos testemunhandoN
4stas tr(s sonhadoras s$o americanas. B$o creio *ue tenham rela'+es emp)ricas com ursos
polares. B$o s$o ca'adoras, e!ploradoras ou &oólogas. B$o s$o es*uimós nem turistas *ue j"
estiveram na %a)a de Hudson. 4stou %astante certo de *ue nunca leram as lendas de ursos ou
estudaram !amanismos. B$o creio *ue elas conhe'am a Bature&a -agrada do Animal %ranco no
#olclore de tantos povos em muitas partes do mundo.
@uvido, seriamente, de *ue a mulher em cujo sonho o urso %ranco uivava pela sua
companheira e cria, tenha lido a “História dos Quadr:pedes”, livro ilustrado de homas =envich do
sculo U;III onde se l( *ue entre os ursos polares o amor pelas crias  t$o grande *ue eles
a%ra'am seus #ilhos ao m"!imo e se os lamentam  com os mais #ungentes gritos.
Ainda assim, ursos polares apareceram nestes sonhos e com grande #or'a.
Quando, com um pe*ueno grupo iniciei o estudo de sonhos com animais, esperava #a&er

algumas
dos desco%ertas.
sonhadores, 9ensava
ao menos *ue poderia
dedu&ir alguns,sertentar
capa&conclus+es
de correlacionar
so%re certos pro%lemas
#re*uenciais, t)picos
sintomas,
g(nero ?se!o, idade e a) por diante. @igamos *ue eu esperava desco%rir atravs destas coletas
emp)ricas, juntamente com *uestion"rios respondidos por sonhadores, a espcie de dados *ue
poderiam levar a pronunciamentos como a*ueles *ue encontramos em antigos livros de sonhos.
4!emploF *uando voc( v(, no seu sonho um urso polar, voc( vai se res#riar, ou vai #icar so&inho ou
ter a sua vida amea'ada e da) por diante. 4u esperava #a&er da pes*uisa do sonho, uma arma :til
para diagnóstico e prognóstico e ajudar a interpreta'$o a se tornar mais cient)#ica. 4m lugar disso,
desco%ri uma estra nha lacuna entre a pes*uisa do sonho e a sua interpreta'$o, entre a
psicologia e!planatória cient)#ica e uma psicologia de compreens$o imaginativa. P como a lacuna
17
entre o mundo diurno e o mundo noturno. Bo mundo diurno tentamos indu&ir constEncias de
muitos casosX no mundo noturno, como di& Her"clito, cada um se volta para sua alma particular e,
ent$o, a imagem animal e a mente sonhadora se encontram.
B$o conseguimos preencher a lacuna entre a pes*uisa de dados e a interpreta'$o dos sonhos
e nossa pe*uena e*uipe #racassou, nos dois lados da lacuna, n$o somente em rela'$o à ci(ncia
mas em rela'$o às interpreta'+es por*ue, em%ora tivssemos sonhos de mont$o, n$o t)nhamos
sonhadores e a interpreta'$o  sempre, direcionada à pessoa. 4m lugar disso, tivemos animais.
@este modo nos encontramos num terceiro terreno. Bos trans#ormamos num %ando de
naturalistas rastreando pegadas em imagens, o%servando comportamentos e ha%itats animais,
nos tornamos atra)dos n$o somente para o sonhador, #echando portas contra o urso, mas tam%m
pelo marido *ue voa com a mulher so%re o urso e pelo homem *ue vai atr"s do urso.
4u #i*uei mais e mais preocupado com os animais do *ue com os sonhadores. 4u partira de
pes*uisa cient)#ica emp)rica e terapia pr"tica em #avor do conservacionismo  um cuidado
#enomenológico de imagens animais, resistindo, por um lado, o *ue #ossem tradu&idos em
signi#icados pessoais.
@este modo o resultado #inal desta pes*uisa veio da luta com o mtodoF com a supress$o do
sonhador, a terapia e as teorias so%re o *ue representam e sim%oli&am os animais, nós
poder)amos tentar olhar o sonho sem os preconceitos do mundo centrado dos humanos. <ada
animal apresentava a comple!idade de uma imagem. 4les se tornaram representa'+es orais de
uma “poiesis” imaginativa, do *ue Junge chama de psi*u( o%jetiva. -implesmente l", como uma
vaca no seu pasto, uma tra'a no seu arm"rio.
Mesmo alm da #enomenologia nós n$o sa%)amos ainda mas est"vamos no caminho para
outra espcie de “tra%alho com sonhos”, uma apro!ima'$o essencialista acontecendo numa
imagem. Os animais nos condu&iram para esta a%ordagem preenchendo sua antiga #un'$o de
pro#essores, como se #ossem eles os essenciais do sonho, cada um ess(ncia em si mesmo e
ess(ncia da sua espcie.
;amos conhecer outro sonho com urso polar, desta ve& o sonho de um homemF
/ “4stou ca'ando um %ranco urso polar num lugar muito deserto e #rio. a'o es#or'os para
mat"/lo. @epois de v"rias tentativas mal/sucedidas, o urso polar e eu nos tornamos amigos. @evo
#a&er notar *ue em%ora a atmos#era #osse de completo e puro #rio eu n$o estava usando
agasalhos. @e repente estou me a#ogando em meio de um lago e meu irm$o e o urso assistem a
tudo da margem. Bem sei como o urso %ranco come'a a nadar e salva a minha vida”/ .
Quando voc( ca'a para matar o urso %ranco voc( est" num lugar deserto e #rio e voc( ca'a
para matar o urso. -urpreendentemente n$o  o irm$o *ue nada para salvar sua vida mas o urso.
O urso e o irm$o est$o ligados, assistindo juntos. O urso, , talve&, mais *ue um irm$o, pelo
menos na capacidade de salvar a vida do sonhador. O urso polar *ue ele estava #a&endo tanto
es#or'o para matar ?por*ue  assim *ue ele tenta matar o urso, #a&endo es#or'os salva sua vida.
H" di#iculdades de matar o urso, mas, ainda assim, a tentativa leva/os a uma a#inidade amig"vel
de ca'ador e ca'a. 4 este sonhador #a& notar *ue n$o usa a prote'$o do agasalho. Agora *ue ele
e o urso est$o em termos amig"veis podemos assumir *ue o sonhador tem o seu próprio calor
internoN O urso polar com sua gordura e p(lo  como um !am$ dos climas #rios *ue gera “tapas”
?join, tumo ?i%etan ou calor de neve derretida e assim ele pode parir ?dar nascimento a jovens
em%ri+es, pe*uenos, nus, desco%ertos na poca mais #ria do ano *ue  janeiro. “A*ui
desmoronam e!plica'+es causais e teológicas... O car"ter essencial dos ursos est" e!presso pela
completa independ(ncia da sua #orte nature&a meta%ólica”. P o *ue di& o %iólogo ol#gang -chad.
4 -chad di& ainda *ue eles s$o capa&es de desaparecer do espa'o e suspender o tempo, as
atualidades ou realidades do espa'o circundante, so%revivendo somente da #or'a do seu
meta%olismo ? recursos internos e parindo suas invi"veis e n$o adaptadas crias *ue con#iam na
nature&a essencial
-e #ssemos com a *ualentre
antropólogos s$o os
dotadas.
povos do <)rculo 9olar Trtico  o ha%itat dos ursos polares
 sa%er)amos *uem s$o estes ursos de sonho. 5econhecer)amos neles esta #igura chamada de
animal guardi$o, o -enhor dos Animais *ue  ele ou ela próprios um animal e *ue mais *ue um
protetor da ca'a, mas *ue um ancestral tot(mico ?o grande urso %ranco como Av ou Avó  nada
menos *ue uma suprema #igura divina em #orma de animal e como di& Ivan 9aulsen “entre as
mais antigas teo#anias na vida religiosa da humanidade”.
;amos ent$o supor *ue estes grandes ursos %rancos sejam imagens sonhadas da divindade
e!pondo alguma coisa em algum lugar distante ?desrtico  na #ronteira da terra  so% a "gua e
apresentando aos sonhadores os dilemas, agonias, isolamento, tran*Sila paci(ncia e
18
potencialidades redentoras do *ue Jung chamou de “instinto religioso”. Yerardo von der eeR, o
grande #enomenologista da religi$o, di& *ue o princ)pio *ue @eus *uer signi#icar em primeiro lugar
no mundo todo  a e!peri(ncia de um 9oder. 5udol# Otto de#iniu o sagrado como o “Outro
-agrado” um tremendo e envolvente poder. Isto com%ina com o urso polar por*ue ele  o maior, o
mais perigoso, o mais #orte e inteligente de todos os carn)voros.
Baturalmente, um urso  mais *ue um instinto religioso. m ha%itante das regi+es "rticas *ue
compartilha com os ursos o mesmo vasto território, di#icilmente #alaria deles como “instintos”.
Mesmo assim, este ha%itante seria capa& de sentir a cone!$o interior e sangS)nea com o urso
polar *ue a palavra “instinto” implica para nós. Bós e estes povos, interiori&amos os deuses de
modo di#erente  nós, mais por conceitos psicológicos. 4les mais por uma participa'$o m)stica ou
parentesco sim%ólico.
Alm de toda interiori&a'$o do urso  tra&endo isso “dentro” e tomando sua imagem como uma
potencial representa'$o da nossa própria personalidade  est" o urso. Alm do instinto, alm da
teo#ania, est", #inalmente, o esp)rito li%erto do grande urso %ranco, em cada um destes sonhos,
clamando, mesmo suplicante, ser ouvido, ser visto. <omo =eemot ?B. .  o hipódromo do ivro
de Jó este tremendo animal *ue tra& toda a discuss$o para uma conclus$o no #inal do livro de Jó,
o grande urso %ranco #rustra a compreens$o humana. Ainda assim, como =eemot *ue a =)%lia di&
?Jó, ]7/13 *ue @eus criou no mesmo momento em *ue criou os homens, o animal “tremendum”
pode ser um irm$o co/igual e co/eterno.

CA(A#OS E *ER+IS
( – pg. ,)
A delicade&a, a gentile&a, isto  o *ue nós, #re*Sentemente, perdemos capturados como
#icamos com os cascos %arulhentos, os #lancos musculosos, de um "ra%e galopante, pesco'o
distendido, orelhas eri'adas ao vento.
Mas lem%rem/se da delicade&a dos l"%ios de um cavalo, suas pestanas, seu pesco'o, os
ossos de suas pernas, a do'ura do seu cheiro no est"%ulo, as #ocinhadas.
Bo seu poema “A =en'$o”, *ue trata destes animais, James right escreveuF “-ua longa
orelha  delicada como a pele *ue envolve o pulso de uma mulher”. 4 ha%ituados como estamos
com cavalos pu!ando arados, pu!ando carro'as como animais da carga, es*uecemo/nos do
*uanto, eles pertencem ao elemento etreo como se todos os cavalos tivessem asas, voando
atravs do vento, ra%os ondeados, largas narinas #rementes, o ar penetrando seu interior 
&unindo, relinchando, palpitando, estrondeando, res#olegando, se distanciando.
Os jovens heróis dos mitos gregos cavalgavam seus cavalos no ar. =ellerophon no 9gaso,
9hbethon condu&indo a carruagem de seu pai do -ol. Hipólito cavalgando para sua morte. B$o
podiam controlar seus cavalos e se destru)am.
O sim%olismo, usualmente, liga o cavalo à terra e ao mar. 9ara 9ossadon, o rei do marF as
ondas como a crina do cavaloX sua con#ian'a de garanh$o como seu poder sem #imX seu casaco
como a m"gica da #ertilidade. Quando esta #or'a selvagem  perce%ida numa mulher, o cavalo 
demoni&ado como a semente. ?B. . signi#icando s(men do %ru!o ?ou %ru!a, o pesadelo, o
pEnico louco de uma #uga.
4m%ora os cavalos possam ser de carga, de #a&enda, condu&indo seus #ardes de civili&a'$o,
os cavalos de sonho condu&em ainda heróis como cavaleiros nas imagens de sonho e nos mitos
invis)veis *ue acompanham estas imagens.
<ru&ados e con*uistadores, mongóis e humos, #iis maometanos cavalgando para converter as
vastid+es do mundo "ra%e. Apaches no Ari&ona, ganchos na patagnia, a cavalaria avan'ando
nas terras nativas seguida pelo <avalo de erro ?trem nas trilhas #errovi"rias toda a e!traordin"ria
con*uista da distEncia percorrida no lom%o de seu cavalo.
Heróis e salvadoresF 9aul 5evere, o e!presso 9one>, os 5ough 5iders ?B. . cavaleiros
dur+esN de edd> 5oosesevelt, as vigorosas #ugas de reis e rainhas. ashington, ee, -heridan
 est"tuas de homens de %ron&e, nos par*ues, montando cavalos de %ron&e. Os cavalos de
Bapole$o arrastando o material de um e!rcito atravs da 9olnia at Moscou, suas carca'as
r)gidas na neveX e os cavalos de Hitler, milhares, carregando a ermarcht no seu dorsoX John
a>ne, <lint 4astRood, eon Mi!, 5o> 5ogers, one 5anger...

19
4 ainda assim eles tam%m nos carregam como =roncos, 9intos, Mustangs, 9acers e <oets
?B. . personagens de #aroeste, o poder oculto so% a crina. Mesmo passeando nos gramados,
par*ues, campos de gol#e, continuamos “cavalgando cavalos”.
4ste poder do cavalo ainda tra& a morte inesperada nos caminhos e estradas da noite, para
tantos rapa&es como Hippol>to, 9hbeton e @iomedes, este #ilho de marte o m)tico rei da <racia
cujos cavalos lhe comeram a carne humana. 9or*ue a semente *ue pode t$o #ortemente carregar
a vida, condu& esta mesma vida ao seu #uneral na solene prociss$o do cavalo sem cavaleiro. ? B.
.  em%rei/me *ue esta sim%ologia #oi usada em 12VK no #uneral de John . _enned>.

MasMas
e oesta
seu mistrioN
a parte mais #"cil àdo
O mistrio respeito
cavalode cavalos.
*ue Isto ser
pede para  o dispensado
sim%olismo de
e acarregar
história do cavalo.
o herói na
sua garupaN 4 o *ue pensar do cavalo da alma em cujo pesco'o um garoto se pode reclinar e
chorar sua solid$o e #alar de seus desejos secretosN 4 o *ue di&er do cavalo escovado, penteado
e amado por uma mo'a, com pai!$o mais devotada *ue *ual*uer pessoa rece%e em *ual*uer
lugarN
;oc( j" se preocupou com um cavaloN J" sentiu a saliva dele em suas m$os, tratou da sua
cólica, sentiu sua paci(ncia ao ser #errado, levou/lhe "gua numa manh$ de inverno e ouviu sua
l)ngua sug"/laN ;oc( j" teve *ue a%ater algumN Ou sonhou com um cavalo #eridoN
@entro de sua e!trovers$o voluntariosa e coragem no%re este galope atravs dos continentes e
sculos, marcando a migra'$o de civili&a'+es, com suas con*uistas e retiradas, dentro deste
impulso heróico repousa a delicade&a, alguma coisa interna e t$o invis)vel *ue só os sonhos
parecem capa&es de recordar.

5ituais do
hero)smo conhecidos como “o sacri#)cio
cavalo, marcando do cavalo”
a separa'$o o%jetivam
entre cavalo li%erar
e herói. esta
4stes invisi%ilidade
rituais dentro
s$o a parte di#)cildoe
surpreendem com o seu “pathos”.
9or e!emploF *uando =uda tomou o caminho do ascetismo, dispensou o seu cocheiro e n$o
teve mais #un'$o para seu cavalo _anthaWa. 4sta separa'$o do seu amo, partiu o cora'$o do
cavalo e ele morreu de triste&a. Assim, tam%m, =uda se livrou do seu poder “cavalar” *ue n$o
era mais necess"rio. Ba estatu"ria %udista, _anthaWa  lem%rado como uma pe*uena #igura de
cavalo #iel, pró!imo ao grande =uda sentado, o cavalo redu&ido a uma pot(ncia menor, na
constela'$o de imagens do %udismo.
O grande sacri#)cio do cavalo hindu, remonta ao *uarto mil(nio A . <. m rei con*uistador,
permitia *ue um cavalo premiado cavalgasse livremente para postar acompanhado de um %ando
de jovens guerreiros. O território co%erto pelo cavalo, trans#ormava/se nas pastagens do rei. O
cavalo representando a energia li%idinal sem limites de e!pans$o. Quando este animal tivesse
vagado pela terra pelo ciclo completo de um ano  estendendo sua cavalgada de con*uista
aventurosa at onde desejasse e escolhesse, era, ent$o, novamente condu&ido à casa. 9ara ser
sacri#icado com os ritos mais ela%orados e solenes.
ma ve& *ue o rei estivesse esta%elecido, o e!pansionismo *ue o levara ao trono, j" n$o era
necess"rio. O caminho da con*uista n$o  o mesmo da governan'a ?governo. m @eus ou
ve)culo animal sustenta a am%i'$o, en*uanto outro deus ou ve)culo animal mantm o *ue #oi
con*uistado. Assim, reis tal como reis, s$o, muitas ve&es, apresentados como le+es, ele#antes,
touros e "guias, o *ue *uer di&er, como supremos senhores de consist(ncia mais do *ue heróis
con*uistadores. 9elas suas montarias, voc( pode lhes reconhecer o car"ter.
Isto nos leva a marte, o deus da guerra. ;oc( ter" notado *ue o cavalo na estória Hindu est"
acompanhado por uma guarda de honra de guerreiros. O sacri#)cio romano do <avalo de Outu%ro
torna esta rela'$o entre cavalo e con*uista ainda mais e!pl)cita.
A cada ano, no dia 13 de outu%ro, no <ampo de Marte, #ora dos muros da cidade, um cavalo
era sacri#icado por uma carga de dardos, para honrar Marte. Yeorges @um&il, estudioso da
religi$o it"lica primitiva, colecionou te!tos e e!plicou os ritos e suas ra&+es. ratava/se sempre de
um cavalo vencedor, por e!emplo, o cavalo principal de uma %riga vencedora. 9or *ue um cavalo
vencedorN 9or*ue Marte  o próprio deus da vitória e da #or'a. 4, segundo a e!plica'$o de
9entarco ?5omau Questions, 2D  “-acri#icamos aos deuses as coisas *ue apreciam e *ue
tenham cone!$o com eles”. Ou seja, marte gosta de cavalos por*ue tem a#inidade com eles.
Baturalmente =uda tinha *ue se separar de _anthaWa por*ue desistir do cavalo signi#icava,
tam%m, a%andonar o caminho material.
Bos sonhos, cavalos tam%m s$o cuidadosamente a%atidos, algumas ve&es es#olados, levados
à morte com um tiro, sangrados no pesco'o, enterrados numa cova.
20
O sonhador #ica chocado, temendo pela sua própria vida, como se a morte do cavalo acenasse
para a morte de sua própria vitalidade, para a morte da energia vital necess"ria ao despertar e
viver cada dia.
-er" *ue estas imagens de agonia *ue o cavalo suporta em sonhos pertencem
verdadeiramente ao cavalo ou est" ele sendo sacri#icado pelo seu heróico amo, o sonhador, *ue
n$o pode desistir de suas am%i'+es e!pansionistasN
A psicologia al*u)mica ensina o “sacri#)cio do cavalo” muito menos literalmente. 4la #a& uso do
ventre do cavalo “venter e*ui” como uma imagem de calor interior. A Al*uimia emprega met"#oras
de
eram#ogo para intensa
chamados concentra'$o
“tra%alhadores necess"ria
do #ogo”. à constru'$o
O valor dacavalo
da %arriga do alma. ?@e #ato, os al*uimistas
re#erindo/se à digest$o de
acontecimentos, gerando e incu%ando em lugar de e!plodir com t(mpera marcial. P um calor
interior, um #ogo contido.
Mais do *ue sacri#icar o cavalo ou dei!"/lo partir a #im de livrar/se da sua #or'a, a al*uimia
sugere entrar dentro do cavalo, como Jonas dentro da %aleia . Bós interiori&amos e contemplamos
a necessidade de avan'ar, de correr livremente, de temer, de vencer. 4m lugar de uma con*uista
livre e solta no pasto, voc( montado no cavalo com as rdeas nas m$os, voc( desmonta e se
coloca dentro do seu animal, guardado e agasalhado pelo seu calor.
A psicologia al*u)mica tam%m usa uma imagem de estrume de cavalo para este calor
introvertido. O tu%o de ensaio *ue contm esta matria psicológica sendo “processada” pode ser
mantido *uente, numa temperatura constante, ao ser enterrado no esterco animal. O calor est"vel
se re#ere a um lento e longo “#ocus” na vida da sua alma. ?B. . #ocus à propósito  atim para
lareira, #ogo, #am)lia . O recipiente, ?tu%o de ensaio convida a olhar e ver atravs de a'+es para
suas imagens. 4sconder o material da sua alma numa pilha de esterco signi#ica prestar aten'$o
aos res)duos das necessidades e a'+es da sua “montaria”. ;oc( se torna consciente da
componente do esterco do cavalo, da sua #alta de rumo, das conse*S(ncias da vida pela *ual
voc( se apressa e galopa. 4n*uanto voc( co&inha lentamente nesta #ermenta'$o uma outra
espcie de preocupa'$o come'a a se #ormar.
@esta perspectiva do sacri#)cio do cavalo e de entrar dentro do cavalo em lugar de cavalg"/lo,
heroicamente, podemos olhar a estória do “<avalo de róia” contada na “Odissia”. Os gregos,
tiveram, muitas ve&es, malogradas suas tentativas para tomar róia  at *ue constru)ram um
grande cavalo de madeira *ue os troianos, após muita discuss$o, levaram para dentro de suas
muralhas impenetr"veis como um presente para honrar os deuses. <omo todos sa%emos, o
cavalo de madeira era oco e dentro se colocaram os mais #ortes heróis gregos, *ue, uma ve&
dentro dos muros a%andonaram o interior do cavalo, sa*uearam a cidade, triun#aram.
-im, todos os sa%emos *ue o cavalo era oco. Mas por *ue os troianos n$o suspeitaram dissoN
-ua imagina'$o era limitada, eles ainda eram guerreiros, seu cavalo ainda n$o tinha sido
“sacri#icado”. Os gregos tinham levado a guerra para outro n)vel de %atalha, para a imagina'$o do
pico, de heróis para o regresso ao lar. @epois de de& anos de luta eles entraram “dentro” da sua
própria raiva marcial, sua própria necessidade de con*uistar. 4les tomaram róia de “dentro” e
n$o simplesmente de dentro dos muros, na verdade, mais meta#órica e imaginativamente. 4les
puderam imaginar um #im para a guerra  o cavalo oco como imagem engenhosa do ato pensado.
4les penetraram na sua %arriga como em al*uimia.
Assim, róia caiu mas caiu para Homero. 4le con*uistou róia com a linguagem grega,
trans#ormando a %atalha em estória, inventando em poesia o *ue aconteceu ou n$o na verdadeira
História.
Mas para *ue isso acontecesse e para *ue a cultura se erguesse das ru)nas da con*uista, o
cavalo teve *ue ser, primeiramente, esva&iado, sua energia marcial teve *ue se trans#ormar em
imagem pica.

O RATO
I( – pg. %3

“;oc(  um rato”. 4nganador, trai'oeiro, trapaceiro. @e #ato. “;oc(, rato sujo” “urtivo,
as*ueroso, mau e vil, ha%itante dos por+es, dos esgotos cheios de dejetos, das pilhas de li!o. O s
ratos #oram da Tsia para a 4uropa seguindo as tri%os invasoras e levando com eles a peste nas
pulgas e piolhos de seu p(lo. Onde *uer *ue a humanidade v", tam%m v$o os ratos. Bada
consegue a#ast"/los. -$o di#)ceis de capturar, di#)ceis de matar. ;ivem onde vivemos, em cidades
21
grandes, com #avelas populosas, como p"rias, vivendo do *ue jogamos #ora. G noite invadem as
ruas apressadas pelas sarjetas, comendo, reprodu&indo/se, escapando. Benhum pal"cio  imune,
nenhuma muralha est" à salvo da incurs$o dos ratos. 4ste conhecimento )ntimo dos su%terrEneos
da civili&a'$o , precisamente, o trun#o *ue o rato possui.
O rato  persistente e intenso. <omo o c$o terrier seu ca'ador, ele nunca desiste. Assim,
chamamos os a#iccionados o%sessivos de alguma coisacomo rato de "gua, rato de %allet, rato de
%i%lioteca. Benhuma no&  dura demais para *ue eles a rompam. Bunca para de roer assim como
seus dentes incisivos nunca param de crescer.

Assim,*ue
rata&ana Yanesha, o %em/humorado
a%re *ual*uer deus/ele#ante
caminho, penetra atravs da
de ^ndia, est"coisa.
*ual*uer colocado no dorso
A rata&ana de uma
conhece as
cidades, tem a dinEmica das ruas.
ma jovial e agrad"vel dona de casa sonhaF “4stou indo tomar o metr de ondres e sou
seguida por um homem com cara de rato. enho medo e tento encontrar a escada rolante para
retroceder”.
O *ue este homem cara de rato poderia mostrar a ela para *ue n$o se retirasse mas
permanecesse em sua companhia no su%terrEneo do metrN alve& alguma coisa dos caminhos
la%ir)nticos, dos n)veis mais pro#undos da civili&a'$o humana.
Outro sonho em *ue a tran*Silidade domstica  amea'ada por uma rata&ana vem de um
psicólogo de mais ou menos ]7 anos de idadeF “4stou voltando para casa. A lu& da #rente est"
apagada. 4ntro mesmo assim. -u%itamente apareceu rata&anas *ue saem de tr"s de alguma
coisa. B$o consigo ver de onde est$o vindo. ma pula no meu om%ro e acordo com um salto.
maA rea'$o violenta.
casa n$o 4stou
 mais um completamente
porto seguro. desperto
A lu&/guiae em
da pEnico”.
entrada est" apagada. Alguma coisa
?guardada, empilhada, sem uso, separada para ser jogada #ora solta seus #antasmas. 5ata&anas.
-eria ele mesmo um desses ratos guardando alguma coisa dentro e #oraN O sonho di& claramente
*ue os ratos est$o vindo de tr"s de alguma coisa. Mas ele di& claramente *ue n$o pode ver *ue
coisa .  A “lEmpada” dele tam%m deve estar apagada ou ele deseja negar o lugar de onde
procedeu os ratos.
O rato, no seu om%ro, *uer, realmente atingi/lo. 4le o acorda com um salto. -er" *ue isto nos
di& algo de :til so%re surtos de pEnicoN 9ode ser am%osF uma paralisia  um despertar radical.
O animal no om%ro. Gs ve&es um macaco, um papagaio, a*ui um rato, se coloca no n)vel da
ca%e'a da criatura, paralela, igual. Agora voc( pode ter duas opini+es so%re algo, ver coisas com
outra perspectiva, com uma dupla compreens$o meta#órica.. ser" *ue este psicólogo necessita
despertarN -er" por isto *ue as rata&anas vem a ele, para ele, por eleN Mesmo *ue n$o possa
ver,m
agora podede
homem ouvir por*ue
grande o animal
#or'a no seue om%ro
de vontade est" juntotentou
%oa educa'$o, ao seu#a&er
ouvido.
nova carreira no
mercado imo%ili"rio. <omo corretor, ele n$o conseguia argumentar e n$o lograva #echar negócios.
Bum sonho apareceu/lhe uma #igura a *uem ele chamou “5ata&ana”. A primeira coisa *ue
5ata&ana lhe disse em conversa imagin"ria #oiF “;oc( n$o tem nari&”. ?#aroN rata&ana come'ou a
acompanh"/lo em visitas de negócios. <onversavam, no carro, antes *ue ele visitasse um imóvel.
Bossos homem principiou a encontrar respostas r"pidas *ue %rotavam dos seus l"%ios, para sua
surpresa, em lugar da “vaga conversa de vendedor”, *ue ele aprendera.
<ome'ou ent$o a evitar armadilhas ?ratoeiras preparadas para ele e mostrava os dentes
*uando con#rontado.
-o% a tutela de 5ata&ana, passava as noites estudando so%re &oneamento, regras de
constru'$o, leis imo%ili"rias e emprstimos %anc"rios. ?em%remo/nos de *ue os ratos s$o
usados na ci(ncia de tecnologia de ponta pela sua capacidade de aprender.

4le tam%m
con#ian'a come'ou
e tornou/se a crescer,
menos paranóicoprocurando
em rela'$oser umsempre
a ser pro#issional de primeira,
apanhado ganhando
e derrotado por todos.
Antes de se relacionar com rata&ana, eles apenas conhecia e#eitos inconscientes do rato, as
suspeitas som%rias dos outros, as d:vidas *ue o ro)am à respeito de si mesmo.
O rato n$o pode, realmente, ser colocado entre os animais heróicos, nem aparece nas religi+es
como “animal sacri#icial”. Apesar de tudo, ele tem uma participa'$o importante na astrologia
oriental onde  o primeiro dos animais &odiacais e*uivalente ao nosso primeiro signo Tries, o
carneiro ?%ode. Que o ano ou *ual*uer ciclo comece com carneiro parece/nos evidente j" *ue
herdamos as tradi'+es ocidentais. O voluntarioso atrevimento do carneiro, seus grandes
test)culos, seu #ino e longo p(nis crescendo, seus olhos #endidos *uase enco%ertos, sua maneira
22
de aceitar um desa#io *uando investe contra o *ue *uer *ue encontre  tudo isto pertence à
in*uieta investida da primavera, o novo come'o.
Mas come'ar com um ratoN Os !am$s coreanos di&em *ue ele  “o totem da #or'a *ue coloca
o ano no seu curso, seu caminho”. 4videntemente se come'a com o rato, o “ano/novo” deve
apresentar/se e surgir astuciosamente dos su%te rrVaneos ou dos caminhos o%scuros,
inesperadamente. Bo princ)pio voc( n$o est" certo so%re o *ue realmente est" come'ando do
*ue  realmente decad(ncia ?o *ue est" aca%ando. O rato sugere decad(ncia e vida juntas,
e!atamente como os ratos/co%aias de la%oratório mantm em seus corpos in#ectados e
grotescamente distorcidos, uma esperan'a de sa:de melhor e vida mais longa
4, como di& o “ditado”, *uando os ratos a%andonam um navio *ue a#undaN Os ratos #ogem
en*uanto o capit$o %ravamente a#unda com o %arco. -er" *ue o rato  o traidor e o capit$o o
heróiN Ou ser" *ue o rato est" caminhando ao encontro de um novo come'o en*uanto o capit$o
vai ao #undo por*ue  incapa& de mudar de dire'$oN
A deser'$o do rato  tam%m o come'o de um novo ciclo. 4le se coloca ao lado da vida em
%usca de um recome'ar. 4m matria de so%reviv(ncia, o rato  o mais ade*uado.

#E-ES E TI&RES
OU 'OR /UE E0ISTEM DOIS &RANDES &ATOS
(II – pg. %2

Ba grande ordem das coisas parece *ue deveria haver am%osF le+es e tigres. ma só espcie
de grande gato n$o poderia co%rir todo o território. A di#eren'a entre eles  como passar do dia
para a noite. Ainda assim, automaticamente s$o muito parecidos. 4!ceto por uma pe*uena
varia'$o nos ossos #aciais e despojados de suas peles, suas carca'as pareceriam id(nticas ao
investigador comum. Mas n$o seriam id(nticos os casacos, os h"%itos e os ha%itats. Bem s$o
id(nticos na maneira como aparecem em nossos e no imagin"rio coletivo  t$o di#erentes como o
dia e a noite...
Os le+es pertencem às padarias, aos terrenos claros e desco%ertos, às plan)cies da T#rica. Os
tigres pertencem às encostas co%ertas de vegeta'$o, às #lorestas e às %acias #luviais da Tsia. Os
le+es vivem em grupos chamados acuradamente orgulhosos. 4les ca'am em grupos. Os tigres
s$o solit"rios. Os le+es gostam de se manter secos e distantes das "rvores. Os tigres nadam e
muitas ve&es encontram suas presas em "guas pro#undas. 4les tam%m usam as "rvores. e+es
s$o monocoloridos, um amarelo castanho *ue o sim%olismo associa ao sol, ao ouro, e, a todas as

virtudes
pretoX heróicas
%ranco de indestrut)vel
e preto. -$o di#erenteso%stina'$o.
como o diaOse tigres
a noites$o listrados com contr"riosF laranja e
igres vivem ?ou viviam nas terras dos !am$s  ^ndia, Indonsia, -i%ria, <oria  e assim o
p(lo do tigre n$o veste heróis solares como Hrcules ou -ans$o. A pele do tigre ?como a dos seus
parentes m)ticosF pantera, leopardo e jaguar aparece como o assento cl"ssico ?tapete para os
jegues e homens santos, assim como o tigre ou a pantera condu&em a carruagem de @ion)sio,
senhor dos mistrios, e da mesma maneira o tigre aparece em pinturas asi"ticas, espreitando,
atr"s de %am%u&ais iluminados pela lua.
O jovem guerreiro %)%lico @avi ou um massai no _enia, mata um le$o como teste ?prova. 9or
outro lado as estórias 0en #alam de outro tipo de teste. O mestre n$o luta com o tigre. 4m lugar da
luta, ele entra no covil do tigre e os dois descansam e dormem.
Am%os, guerreiro e s"%io, necessitam entrar em contato com a grande Ensia carn)vora de viver,
*ue tam%m signi#ica encontrar a morte no caminho. 4stes grandes #elinos t(m a intensidade da
pai!$o #)sica. 4les desejam a carne por*ue s$o o desejo da carne. 4 por isto, imaginamos le+es e
tigres como “devoradores de homens”. Yostamos de apresent"/los na .;. em%oscando e
matando e depois #ocinhando nos sangrentos interiores de suas presas. O guerreiro, eliminando o
le$o, domina a*uilo *ue poderia domin"/lo e, deste modo, incorpora, em outro n)vel a #erocidade
do le$o. O uso da pele como agasalho ou para sentar so%re ela em medita'$o ?como shiva na
pele do tigre ou como tapete na sala de jogos, #a& com *ue homens e animais encontrem uma
nova sim%iose. O s"%io encontra esta uni$o com o grande carn)voro dei!ando *ue o tigre o
convide para entrar no covil e os dois descansam e dormem lado a lado. am%m @aniel passou
ileso uma noite na cova dos le+es ?@aniel V, 1LZ8K e Jernimo escreveu a =)%lia atina ?B..
;ulgata na sua cela mon"stica tendo aos ps um le$o adormecido.
23
Bo “ivro da -elva” de _ipling, o pe*ueno BoRghi caminha lado a lado com sua pantera
protetora  uma heróica #antasia in#antil como conce%ida por _ipling. Mas em adi'$o às
mensagens coloniais do 5aj ?B..  dom)nio ingl(s na ^ndia de _ipling, o livro implica ainda uma
inicia'$o m)stica das linguagens secretas da nature&a. O estudo “Uamanismo” de Mircea 4liade,
di& *ue o tigre carrega em seu dorso o neo#ito e o condu& para o interior da selva, esta regi$o
meta#órica do desconhecido, a escurid$o, o outro lado. -egundo ele, o tigre era o mestre da
inicia'$o na Tsia <entral, da Indonsia e em outras regi+es.
ma jovem mulher sonha estar #ugindo, ladeira a%ai!o, tentando escapar de perseguidores
hostis. Outras pessoas, em sua companhia, mostram cavalos en*uanto ela monta um tigre. A
descida dela e dos outros di#ere. ?B$o somente ela escolhe o tigre em lugar do cavalo, mas
tam%m  #avorecida pelo animal *ue, de outra #orma, n$o permitira *ue ela o montasse. <om
esta escolha impulsiva do ve)culo animal, esta mulher anuncia algo do seu destino, algo so%re
*ue divindade animal vai carreg"/la para terrenos mais %ai!os e *ue ela usar" em suas #ugas. 4m
sua psi*u( ela tam%m est" se “distinguindo dos outros” *ue usam montaria convencional.
4n*uanto o le$o toma o lugar do rei de Jud", do rei crist$o nas <ru&adas, do disc)pulo Marcos e
outros santos e mesmo do próprio <risto, o tigre parece contr"rio a esta no%re tradi'$o.
illiam =laWe escreveu no seu poema “O igre”F
“4m *ue #ornalha ?ou prova'$o estava o teu cre%roN A*uele *ue criou a ovelha te criou
tam%m para as #lorestas da noite.”
4ste poema implica em *ue o tigre traga consigo a treva. Assim o tigre carrega nossa som%ra
cultural, sinistra, e sua %i/colora'$o talve& seja o duplo representativo do “outro lado”.

<uriosocoloca
Ocidental tam%m  *uemercurial
o signo a Astrologia <hinesa colo*ue
de Y(meos. o tigre como
-$o di#erentes no 0od)aco onde le$o
dia e noite, a Astrologia
e tigre,
como di& a iloso#ia <hinesa, t$o di#erentes e necess"rios como Cin e Cang.
9or*ue Cin acarreta “morte” de Cang, para a*ueles *ue seguem apenas o monocentrismo do
le$o, o tigre  imaginado como um assassino particularmente cruel e mau. 4, #eminino Assim, em
nossas l)nguas de srcem europia, temos, em rela'$o às mulheres, e!press+es como “tigresa”
de pai!$o, de ci:me, de vingan'a.
4stranhamente, as distin'+es de se!o se relacionam a estes dois grandes #elinos como se
le+es #ossem machos ?em%ora como se sa%e as #(meas do le$o  *ue cuidam da so%reviv(ncia
da #am)lia e tigres #ossem #(meas, Cin, noturnos, lunares e como o jaguar americano, inimigos do
poder/solar da "gua. O uso de g(nero ?se!o para dividir o mundo em opostos, o#usca o #ato de
*uem am%os #elinos le$o e tigre, s$o tam%m de am%os os se!os como insistiu Bo e estas
casuais eti*uetas psicológicas “masculino” e “#eminino” se trans#ormam em co%ertura para um
pensamento simpli#icado, #alsi#icando as implica'+es comple!as *ue os grandes #elinos tra&em
consigo.
odavia, a psi*u( separa os le+es dos tigres, como separa tam%m outros animais em rela'$o
ao se!o. ma ve&, vi uma crian'a desenhando seus pais como le$o e tigre. A m$e era o le$o.
4ste desenho era simular a dois outros tra&idos para discuss$o de casos, ao longo dos anos. 4m
um, o paciente se desenhou entre dois ele#antesF pai e m$e, mas a m$e tinha as presas. Bo outro
caso, uma menina pintou um sonho no *ual sua m$e era um lo%o e seu pai uma raposa. Bo
sonho de um homem, ele est" na sala de estar da #am)lia com seus pais. 4le perce%e, ent$o,
tam%m estarem l" um le$o e uma pantera, mas *uando isto ocorre, seus pais desapareceram.
-eriam o le$o e a pantera as almas animais de seus paisN -eria o altivo le$o o esp)rito de sua
m$e e a sorrateira pantera o esp)rito de seu paiN
A percep'$o in#antil como o sonho, muitas ve&es perce%e o *ue a mente consciente n$o v(. Os
sonhos e os desenhos mostram o *ue est" “por %ai!o”, e *ue a 9sican"lise chama de
“inconsciente”. ?A 9sicologia Junguiana diria *ue os sonhos e desenhos mostram a “anima” do pai
e o “animus” da m$e. Bestas circunstEncias a m$e  perce%ida como pertencente à tri%o do le$o,
do lo%o e do ele#ante, en*uanto o pai  visto como pertencente ao mundo mais tortuoso,
dissimulado e menos con#rontacional do tigre, da raposa, da pantera, da alia”.
-e a raposa  considerada dissimulada, se o seu h"%ito de pre#erir caminhos sinuosos, sua
agilidade em passar atravs de a%erturas estreitas e se esconder em %uracos e a sua ha%ilidade
em tapear c$es e ca'adores  ade*uadamente descrita pelos adjetivosF #urtiva, sa%ida, esperta,
astuciosaX isto  na verdade um julgamento moral. 9ara nós estes termos signi#icam engano e
#raude como se todas as criaturas devessem olhar/nos diretamente nos olhos e caminhar pela via
estreita do esperado. alve& os valores *ue a raposa colo*ue em “dissimulada” como o tigre em
“duplicidade” incluam virtudes como coragem, orgulho, prud(ncia e perspic"cia. 4m%ora nossas
24
palavras possam ser acuradas em perce%er uma nature&a animal, sua acuidade  corrompida por
nossas suposi'+es moralistas pro#undamente arraigadas.
Quando o personagem principal, @r. A%%e>, desmorona, na novela de Michael ;entura “O 0oo
onde voc( serve de alimento para @eus”  para a companhia do tigre *ue ele vai, do tigre *ue o
chama. P nos olhos do tigre *ue ele p+e seu olhar e  o tigre *ue contempla sua loucura e sua
sanidade e os estranhos mistrios de pai!$o e ternura. B$o poderia ter sido um le$o por*ue o @r.
A%%e> estava vivenciando uma inicia'$o da alma *ue na nossa cultura  chamada de “colapso ou
esgotamento” ?B..  emerg(ncia ps)*uicaN.

-e o @r. restaurando
sociedade, A%%e> tivesse procurado um
a consci(ncia do le$o,
%rilhoele
de estaria
seu diamais
a diapreocupado em reintegrar/se
e suas heróicas ha%ilidades na
de
cirurgi$o *ue resgata da morte, toma as rdeas da vida e ajuda seus semelhantes.
5epare *ue n$o  o tigre mas o le$o *ue monta guarda nos edi#)cios p:%licos. O le$o *ue
em%lematicamente representa reis e reinos, *ue e!ige as maiores #atias e *ue se coloca sempre à
#rente dos outros.
Mas n$o devemos redu&ir o le$o a uma representa'$o em pedra esculpida como se o rei #osse
sempre um tirano e um poder de#inido somente como insens)vel. A tradi'$o popular so%re o le$o
di& *ue o seu poder vem do cora'$o tal como a coragem, a generosidade, a #idelidade. -e ele
domina o 5eino Animal talve& tenha sido reconhecido pelos outros animais como o seu rei. m
reconhecimento con#erido ao le$o n$o meramente por causa do seu rugido ou #erocidade mas
por*ue ele pela justi'a hier"r*uica *ue deve prevalecer no reino e *ue nós denegrimos com o
termo “cadeia alimentar”.

<onsiderar
importEncia ouocomo
le$o, onomovimento
sonho, apenas como oaopoder
em dire'$o condutor
despertar da nossa
da nossa egoc(ntrica solar,
conscienti&a'$o auto/
negligencia a *ualidade “eros” do le$o j" *ue a sua lu& ?luminosidade tra& calor. 9or e!emplo, na
al*uimia, o elemento sul#ur muitas ve&es chamado de “o le$o” era considerado ao mesmo tempo
lu& e calor assim como ideal espiritual e intensidade #)sica. O le$o da tradi'$o popular, n$o apenas
come vora&mente, ele tam%m ama apai!onadamente. O seu “locus” na #isiologia astrológica  o
cora'$o e o seu lar  a casa do pra&er e do amor, do ensinamento e da procria'$o.
Os eg)pcios di#erenciavam o le$o. 9ara eles, este animal tinha di#erentes #ases e #aces. O le$o
jovem, do sol ao amanhecer, era a #or'a solar emergindo da noite desrtica. O le$o jovem, do sol
ao amanhecer, era a #or'a solar emergindo da noite desrtica. O le$o negro do meio/dia ?a deusa
-ephmet a%rasando tudo com o seu insuport"vel calor, tra&endo pragas mas tam%m a cura das
mesmas. 4 o le$o ao anoitecer, patas do%radas ao repouso.
B$o pode haver uma interpreta'$o :nica para o sonho do le$o. 4le deve ser o%servado e esta
o%serva'$o apro!ima voc( das *ualidades inerentes deste animalF coragem, aten'$o, devo'$o.
B$o importa se em #uga ou #erido ou aparecendo, inesperadamente, vadiando ou agachado em
posi'$o de ata*ue, ele est" sempre se e!i%indo num cen"rio e tra&endo um estado de esp)rito. P
um le$o “dentro de uma imagem” e  esta imagem num todo *ue transmite o animal para nossa
consci(ncia. A imagem ?do le$o  o seu mensageiro. Aceit"/lo apenas como um le$o, v(/lo
apenas como um signi#icado, retira/o do seu ha%itat no sonho no *ual os seus signi#icados est$o
envolvidos.

25
A &IRAA
(III – pg. 4%

Bem o velho livro da tradi'$o popular chamado “9h>siologus”, nem os contos de #adas
europeus t$o povoados de animais, nem os mitos tradicionais da cultura mediterrEnea, ela%oram
a gira#a. A gira#a n$o  um animal #amiliar nos templos do 4gito como s$o os crocodilos, os le+es,
o chacal e o hipopótamo. Algumas ve&es um animal de *uatro patas e pesco'o longo 
representado em v"rias culturas  como a 56i  lin da <hina e a &amar da =)%lia  em%ora estes, à
despeito das a#irma'+es de alguns comentaristas, tam%m n$o sejam gira#as. A gira#a permanece
#ora das nossas #ontes usuais de tradi'$o popular. B$o h" uma :nica representa'$o delas na arte
grega. Aparecem apenas sculos depois em escritos helen)sticos.
Mas as gira#as comparecem aos nossos sonhos. ma jovem senhora da elegante alta
sociedade com pro%lemas de anore!ia, teve dois sonhos com gira#as. Outra jovem senhora
sonhou *ue descendo uma ladeira )ngreme de 0Srich na pe*ueno %ondinho, tinha, a seu lado,
uma gira#a. Bo sonho h" perigoF o pesco'o do animal se coloca t$o alto *ue pode colidir com as
pontes e a #i!a'$o acima. 4la acordou ansiosa achando *ue a gira#a seria decapitada a menos
*ue o %onde interrompesse sua descida.
m terceiro “caso de gira#a” me #oi reportado indiretamente por uma m$e 2supostamente
#r)gida de acordo com o histórico do seu caso cuja principal preocupa'$o era a se!ualidade de
sua #ilha  de *ue sua #ilha poderia ser raptada e maculada.
9ara nos apro!imarmos da nature&a da gira#a e para apro!imar nossa imagina'$o à imagem
deste animal, temos *ue e!plorar dois caminhosF a História Batural ?0oologia e a História
<ultural.
As gira#as pertencem ao am%iente cultural de pal"cios e cortes. 4ram a alegria de pr)ncipes
*ue as apresentavam uns aos outros como no%res presentes de ostenta'$o na ur*uia, 4gito,
5:ssia e 5oma e na It"lia do 5enascimento, Anne de =eaujerr, #ilha de ui& UI desejava possuir
uma gira#a acima de *ual*uer outro animal e suplicou por uma a oren&o di Medici.
A palavra “geraph” do Tra%e “&iro#ah”, supostamente, signi#ica “a %ela” e a gira#a era ca'ada e
negociada n$o pela sua carne, domestica'$o ou esporte, mas pela sua %ele&a, seu p(lo, suas
longas pestanas, seu ra%o parecendo uma escova, sua l)ngua escura e #i%rosa, o peculiar passo
#luido, sua maneira silenciosa, dócil e elegante. 4la #oi cantada pelos poetas da 5enascen'a.
9oli&iano viu na gira#a a imagem do homem culto e inteligente. A primeira gira#a chegou ao norte
da 4uropa em 1L8D, tendo sido levada à p de Marselha para 9aris, causando e!traordin"ria
admira'$o por todo o caminho.
5epresenta'$o de gira#as em rochas a#ricanas, em manuscritos persas, em desenhos
europeus do sculo U;III mostram uma comum e incorreta percep'$o da anatomia do animal. O
dorso do animal  desenhado inclinando/se para cima, seu peito e costelas acima do estmago e
da %arriga. A gira#a atual como *ual*uer um pode ver, tem um dorso hori&ontal como um veado,
uma vaca ou um ant)lope. Ainda assim, a imagem representada, ascende. A imagem representa a
imagina'$o ascendente da gira#a, o animal cuja ca%e'a est" mais a#astada do corpo e o corpo
mais a#astado do ch$o. A%ai!ar sua ca%e'a  deselegante. -ua ca%e'a paira naturalmente, so%re
as "rvores, so%re todas as coisas, num porte ereto, chamado de “e!ageradamente vertical” pelo
naturalista ol#gang -chad.
P como se a inten'$o essencial da nature&a da gira#a estivesse concentrada no seu pesco'o,
criando como *ue uma cone!$o alongada entre a ca%e'a e o dorso. <omo  *ue seu cora'$o
%om%eia sangue t$o altoN 4studos di&em *ue  por sistema especial de v"lvulas. <omo  *ue ela
se arranja com todos ossos no pesco'oN B$o  assim. 4la tem o mesmo n:mero de vrte%ras
cervicais *ue outros
maiores. -eu mam)#eros
longo pesco'o e n$o
serve paras$o mais numerosas
procurar *ue ascom
%rigas e cortejar vrte%ras humanas,
eti*ueta. Bamorarapenas
 seu
passatempo erótico. 4 estas longas pestanas, os longos tu#os nas orelhas, os p(los do ra%o, os
chi#rinhos, a l)ngua *uase preensilN  na verdade ela  “e!ageradamente vertical”.
4sta (n#ase na verticalidade aparece ainda em outro sonho de gira#a apresentado por uma
jovem senhora reclusa e culta estudante de arte. 4la est" viajando e di& ao motorista *ue est"F
/ “#a&endo a viagem par ver as gira#as. -u%itamente vejo seus pesco'os graciosos e longos
como juncos, suas #aces delicadas. H" duas delas e hesitantemente elas ora se apro!imam, ora
se a#astam uma da outra. 4las parecem muito tesas e poderosamente vivas. Bós prosseguimos e
ao lado de algumas rochas na %eira da "gua est$o dois #lamingos cor/de/rosa. -ua maravilhosa
26
colora'$o atrai meu olhar como se #osse um a pintura oriental. <om toda a sua hesitante
elegEncia, sinto *ue h" neles uma vida intensa.”/
Am%os, gira#as e #lamingos t(m pernas longas *ue se a#astam do solo e pesco'os empinados
e ar*ueados. 4stes animais nos di&em algo maisF *ue a delicade&a pode, e#etivamente, com%inar/
se com intensa vitalidade e *ue a hesita'$o tam%m se pode com%inar com poder. H" liga'$o no
esp)rito vertical com a %ele&a, a elegEncia e a #or'a muscular.
As gira#as n$o s$o apenas verticais. 4las parecem estar sempre em guarda como vigias ou
#aróis so%re as plan)cies. 4las dormem em cochilos *ue totali&am menos de uma hora em cada
dia;erticais
de 8] horas.
e despertas, elas tam%m s$o delgadas como os #lamingos. Heini Hediger reporta *ue
o corpo da gira#a tem espantosamente poucas glEndulas se%"ceas”. -er" *ue isto revela alguma
coisa so%re a nossa sonhadora anor!icaN Alm disso, de acordo com o &oólogo Adol# 9ortmam a
gira#a tem o maior desenvolvimento do sistema nervoso ?cere%rum de todos os animais de patas
#endidas ?estaremos nós #alando de uma criatura altamente inteligente e altamente tensaN a
gira#a n$o tem dentes canino superiores e nenhum tra'o usual de agressividade *ue encontramos
em carn)voros tais como nossos c$e&inhos de estima'$o e em nós próprios. ma gira#a pode,
certamente, escoicear e esmagar a ca%e'a de um le$o com um golpe certeiro, mas n$o pode
mord(/lo como um predador.
ma di#eren'a ?oposi'$o, entre gira#a e le$o,  mostarda no sonho de um homem de meia
idade *ue se est" preparando para uma nova carreiraF “<ena de uma gira#a #ugindo de um le$o. A
gira#a sa%e *ue vai ser sacri#icada e est" tentando se a#astar do le$o. O le$o persegue a gira#a.
4u o vejo saltar so%re ela e penso em como deve ser a sensa'$o de ser devorado por um le$o.
O le$o, animal de inicia'$o heróica em contos %)%licos e gregos, como tam%m em rituais
a#ricanos, comer" viva a sensi%ilidade esttica, a superioridade distante e o alcance ascendente
da gira#a do sonho deste homem. A gira#a pode tentar movimentos evasivos, t)picos de uma anima
evasiva, para derrotar o %ote do le$o. 4stes movimentos para a#astar o le$o est$o sendo re#letidos
no #ato de *ue o sonhador j" est" pensando no sacri#)cio no *ual a %ele&a da gira#a  derrotada
pelo le$o. Qual  o sentimento de mudar o próprio tótem da gira#a para o le$o e ter um estilo
contemplativo, altivo e silencioso, devorado pelo reiN -er" *ue o pre'o da inicia'$o heróica  o
ingresso no orgulho do próprio reino de cada um  a perda da sensitividade esttica e um
sacri#)cio da anima N
Ao introdu&ir o termo “anima” para ou como um código, para *ualidades “#emininas” como
hesita'$o e delicade&a *ue encontramos at agora vamos precisar distinguir este aspecto de
“#eminino” de maneira especial a maternidade, de muitas outras *ualidades “#emininas”.
A psicologia popular muitas ve&es se volta para os mam)#eros como e!emplares ideali&ados de
instintos maternos. 4ntretanto, o protocolo de Hediger do primeiro parto de uma m$e gira#a no
0oo de =asila nos conta *ue a m$e temia o %e%(/gira#a, o ignorou e pisoteou de tal maneira *ue
a cria teve *ue ser assumida por pessoas. B$o estou destacando ou singulari&ando a gira#a como
e!emplo de maternidade desastrada por*ue mortalidade in#antil, in#antic)dio e alimenta'$o de
%e%(s em cativeiro ou na vida selvagem s$o comple!os assuntos de pes*uisa. odavia estou
apresentando o testemunho espec)#ico de Hediger de maternidade desastrosa da gira#a.
Assim, a gira#a, ao contr"rio da lo%a amamentando crian'as, da grande ursa, da protetora
ele#anta e da porca com suas ninhadas de leit+e&inhos cavadores n$o apresenta uma #igura
convencional de maternidade. Mas a maternidade n$o  o :nico padr$o da #or'a #eminina. m
livro "ra%e de sonhos escritos por @anisi coloca *ue a gira#a pode signi#icar uma valiosa ou %ela
mulher e pode algumas ve&es indicar uma esposa in#iel. Quando ela parece num sonho pode
tam%m augurar calamidade em rela'$o à prosperidade e #alta de garantia de prote'$o para
convidados rece%idos em seu lar.
4stes avisos como todos os *ue aparecem em livros de sonhos n$o devem ser entendidos t$o
literalmente como soam.
Ba verdade eles s$o revela'+es da ess(ncia imagin"ria do animal e de como a sua imagem
atinge a imagina'$o psicológica. Mas mesmo assim este aviso #a& sentido em vista da distEncia
entre a gira#a e o solo, inde#esa e vol:vel no seu sil(ncio e na sua %ele&a. A gira#a n$o  um
guardi$o, um #amiliar, um animal de estima'$o. 4la #oge rapidamente e galopa a distEncia 
distanciamento como #orma de prote'$o.
4m psicologia podemos ver a gira#a como uma imagem da alma altamente esttica com
*ualidades doces, no%res, gentis e virginais, com uma gra'a desajeitada e alta sensi%ilidade como
27
uma mocinha em crescimento um pouco descon#ort"vel em seu próprio corpo, pernas
desajeitadas, pesco'o comprido, magra e ainda assim muito atraente entre suas iguais e com
uma devastadora resposta *uando assediada de maneira incorreta ou tratada com intimidade
indevida.
alve& agora, após juntar as pe'as da história cultural e natural do #olclore da gira#a, o sonho
da m$e *ue  ela própria “#r)gida” e teme *ue sua #ilha seja maculada, se torne menos intrigante.
9oderiam esta m$e e #ilha estar partilhando um tótem comum de gira#aN 9oderia o temor da m$e
ser parte da sua maternidade hesitante, sua percep'$o da %ele&a e do apelo ao desejo de sua
#ilhaN “raptada e maculadaN” -er" *ue elas n$o partilhariam o esp)rito da gira#aN
O primeiro sonho da gira#a no pe*ueno %ondinho da montanha em 0urich #ala do predicado
%"sico da gira#a como descer sem precisar cortar #ora a ca%e'a. ma ca%e'a *ue n$o pode
negociar as linhas hori&ontais da comunica'+es e o tr"#ico di"rio de cru&amentos *ue correm em
propósitos cru&ados para a sua “e!agerada verticalidade”.

28
UM 'ORCO DOENTE ! CURADO 'OR UMA DIETA DE CARAN&UE5OS
I0 – pg. )1

A cura de um animal por outro  ursos por uma dieta de #ormigas, le+es por uma dieta de
macacos   uma das maneiras pelas *uais o #olclore dos animais nos ensina discernimentos
psicológicos.
m trecho do #olclore islEmico ?de “Mu&hatu/l/*ulu%” ou “@el)cias do cora'$o” uma enciclopdia
cient)#ica escrita mais ou menos em 1K77 di& *ue um porco doente  curado por uma dieta de
caranguejos.
9or *ue uma re#ei'$o de caranguejos curaria um porcoN
A cura, como muitos remdios na antiga medicina, deve ser homeop"ticaF os semelhantes
curam os semelhantes. <aranguejo e porco devem ter algo em comum. O caranguejo ,
sim%olicamente, lunar, :mido e anti/heróicoF “=aldur morre *uando o sol entra em <Encer
?caranguejo. Hrcules  estorvado em <erna por uma caranguejo agarrado no seu p,
compelindo assim o herói a redo%rar sua #or'a leonina”.
O caranguejo astrológico chega no -olst)cio de ver$o ?o caranguejo astrológico  o signo de
<EncerX *uando o sol est" parado após sua ascens$o, um momento de pro#undidade e re#le!$o
antes do *uente dom)nio de e$o. ?B. .F esta compara'$o só serve para o hemis#rio norte
por*ue a*ui cEncer  um signo do inverno.
<Encer, o lugar astro anatmico do caranguejo  o peito e o estmago à semelhan'a do porco.
Am%os s$o alimentos suculentos e delicados.
O mais longo e!emplo de interpreta'$o de sonho de Junge, no *ual ele demonstra seu mtodo,
se %aseia no caranguejo como #igura central. Junge toma o caranguejo como a li%ido regressiva,
empurrando o paciente para a inconsci(ncia de uma velha e arraigada liga'$o, o *ue no caso
e!posto  sinnimo de cEncer. “O caranguejo”, di& Jung, anda para tr"s.
Ainda assim, o caranguejo cura o porco doente. Alm da idia geral de renova'$o associada,
com o caranguejo, desde Aristóteles e Artemidorus ?137 d. c.  *ue escreveu o primeiro livro
conhecido so%re interpreta'$o de sonhosF “Oneirocr)tica” *ue colocava *ue criaturas
maravilhosas “*ue a%andonam seus velhos invólucros ?conchas s$o um %om sinal para os *ue
est$o doentes”/ isto  uma rela'$o mais sugestivamente particular entre porco e caranguejo. -e o
porco devora, o caranguejo digere. 4n*uanto o porco devora, o caranguejo con*uista peda'o a
peda'o com cuidado. O *ue  o%stina'$o no porco, no caranguejo  tenacidade. ?A pata do
caranguejo pode agarrar trinta ve&es o peso do seu corpo, en*uanto a m$o humana só pode
agarrar *ue
móveis doisse
ter'os
podedo seu peso.
estender at O caranguejo
de& ps. gigante do Jap$o, tem a envergadura de patas
O caranguejo, como um a%utre, consome carni'aF digest$o dos mortos, do passado, das
lem%ran'as.
O porco segue adiante, o insaci"vel apetite por mais e mais.
O porco ataca. O caranguejo se move para os lados, para tr"s, desaparece e parece sair #ora
do próprio es*ueleto ?carapa'a *ue ha%ita. “Andar para tr"s” tam%m e!pressa a su%miss$o à
re#le!$o do passado e à atividade ps)*uica por e!cel(ncia, de acordo com Junge. 9or esta ra&$o,
nos %ras+es da 5enascen'a, o caranguejo, muitas ve&es, aparecia #a&endo par com a %or%oleta,
o *ue justap+e e!tremas di#eren'as *ue ainda assim, t(m uma secreta similitude.
A li%ido regressiva *ue Junge v( no caranguejo, pode tam%m ser imaginada como a li%ido do
estmago *ue ultrapassa a gula, a glutoneria, a oralidade, at atingir a digest$o oculta.
Acima de tudo o caranguejo conhece a arte de se ocultar, en*uanto o porco est" sempre e
inevitavelmente à vista. ?A constela'$o de <Encer  *uase indiscernivelmente apagadas,
composta somente de estrelas da Quarta magnitude. Os caranguejos se escondem dentro de
suas próprias carapa'as, sem pesco'o para esticar, se enterrando na areia, se ocultando em
conchas emprestadas, no mar pro#undo, agarrados em esponjas, em #olhagens ou algas.
m caranguejo trans#erido de um a*u"rio para outro, de uma a*u"rio de algas verdes para
outro com algas vermelhas, gasta horas removendo a #olhagem verde de sua carapa'a e
su%stituindo/a pela vermelha, se trans#ormando, trocando de roupa para a sua nova moradia.
4stes comportamentos silenciosos, discretos introvertidos e, talve&, paranóides, podem curar o
porco en#ermo pelos e!cessos da sua própria nature&a gulosa. -emelhantes curam os
29
semelhantes e o *ue cura a doen'a da carne  esta criatura *ue partilha de uma nature&a
semelhante mas com uma nuance essencial de di#eren'a.
4stas passagens à respeito de gira#as, porcos e caranguejos nos condu&em a tr(s #ontes
interligadas de contos e casos so%re animaisF sim%olismo cl"ssico ?incluindo #olclore e #"%ulas,
etnologia ou antropologia e história cultural.
;oltemo/nos para o aparecimento do animal em conte!tos imaginativos. ;oc(s ter$o perce%ido,
entretanto, *ue enveredei por uma *uarta #onte  &oologia ou história natural. Juntas, estas #ontes,
nos ajudam a ler o animal da apresenta'$o da sua imagem.

ele<omo uma vive,


#a&, como #ormaonde
viva,vai.
cada animal estudamos
am%m se apresenta deapar(ncia
sua v"rias maneiras. 9odemos
e as maneiras estudar
v)vidas *ueoprodu&
*ue
nas #antasias humanas, por*ue estas #antasias da imagina'$o humana tam%m nos #alam so%re o
animal. <omo um animal se comporta na imagina'$o humana, pertence tanto ao animal como seu
comportamento em li%erdade.
A imagina'$o cultural humana, o #olclore das #a&endas e os contos de ca'ada, suas #"%ulas,
%esti"rio e discurso colo*uial tam%m s$o ha%itats do animal, uma regi$o do comportamento
deles onde podemos seguir suas trilhas.
9or*ue nosso conhecimento dos animais est" limitado às maneiras humanas de conhecimento,
n$o podemos a#irmar *ue descri'+es animais possam ser #eitas pela lógica humana. B$o
podemos sa%er se inventamos os contos ou signi#icados do porco, ou se #oram os próprios porcos
*ue inventaram estes contos como e!press+es da sua nature&a ar*uet)pica ?em nossa cultura e
nossa epistemologia, naturalmente, o *ue di&emos so%re porcos só pode vir de nós mesmos. Mas
emAlm
outras
doculturas,
mais, n$oo *ue *uer *ue
sa%emos sai%amos
o *ue de primeiro
se coloca porcos só pode vir real
o porco delesnopróprios.
chi*ueiro ou, a imagem
do porco no imagin"rio ar*uet)pico. Quando vemos um porco estamos vendo uma mani#esta'$o
da imagem do porco. Outros aparecem como no Batal modelados em mar&ipan cor/de/rosa,
esculpidos em pias %atismais de Igrejas, o%scenos em desenhos animados e caricaturas, como
co#rinhos cheios de moedas, voando com asas, tocando violino e cantados em poemas. m porco
#)sico, solicita diretamente, por aten'$oF “4is/me a*ui. ;ejam/me, sintam/me, to*uem/me,
escutem/me e me olhem”
<omo um porco #)sico, a imagem se apresenta como um #enmeno comportamental esttico.
Bós podemos l(/lo como lemos o #enmeno do porco em %rin*uedos e contos, em rituais de
sacri#)cio, em cria'$o e matan'a de porcos, em religi$o e em arte. odos estes s$o modos da
auto/apresenta'$o do porco. 4 nós n$o sa%emos se o porco pre#ere estar num sonho ou numa
#a&enda, num conto popular ou numa #loresta, no 0od)aco ou no 0oológico.

9elo menos
aparecer sa%emos
em toda parte.*ue todos
-$o, os animaismestres
so%retudo, #alam por
demet"#oras  por esta
multiplicidade ra&$o  *ue podem
de signi#icados. <omo
met"#oras, os animais se trans#erem em linguagem. -eu comportamento aca%a por se trans#ormar
em palavrasF por*uinho, porcalh$o, porcaria. -uas partes se digerem na linguagemF olho de
porco, tra&eiro de porco, m$o de vaca, etc.
Assim, *uando olhamos para a apresenta'$o do porco e do caranguejo e os comparamos, e
ainda, novamente, os comparamos com a gira#a,  como estudar di#erentes pintores ou l)nguas
di#erentes e, por meio dos contrastes, somos capa&es de discernir mas especi#icamente o *ue
cada espcie transmite.
9or e!emploF seus revestimentos como inicialmente se apresentam como completas #ormas
vivas. O p(lo da gira#a nos o#erece um %elo e alegre shoR de listras %rancas e alaranjadas. <omo
j" #oi o%servado pelos &oólogos, este revestimento n$o esconde ou camu#la, termos *ue s$o, de
alguma maneira, militar)sticos ou paranoides e *ue ingressaram na nossa linguagem durante a 1`
Yuerra Mundial e *ue desde ent$o s$ mal aplicados à con#ormidade ecológica. O p(lo da gira#a
propicia #"cil visi%ilidade para a comunica'$o em grandes distEncias. Yira#as devem ser vistas.
4las n$o chamam umas pelas outras.
O revestimento do corpo do porco  o seu próprio torso como se ele estivesse despido.
4stu#ado como lingSi'a, compacto como presunto, ele se auto/apresenta como carne. 5uidoso e
corpulento, vai atr"s de ra)&es, en*uanto a gira#a se volta para as e!tremidades das alturas como
as "rvores no ar. ?Ainda assim, a classi#ica'$o &oológica coloca a gira#a e o porco no mesmo
grande grupo de artiodact>la ou de patas ungulares.
@iversamente, o caranguejo esconde seus tenros tend+es inteiramente para dentro. Quem
adivinharia o delicado seccionamento da seu interior ao ver sua apar(ncia e!terna t$o "spera,
30
cascuda, amea'adoraN 9ara conhecer o caranguejo  preciso entrar nele atravs dos seus
esconderijos e dis#arces em duras carapa'as, uma verdadeira armadura *ue só se a%re em
momentos de #ecunda'$o.
<omparemos seus movimentosF o distanciamento da gira#a por meio de uma singular marcha
galopante, o posicionamento do porco com seu curto trotarX o arran*ue apressado do caranguejo
e!pressivo do seu andar de lado.
<omparemos seus pesco'osF o da gira#a, parece separar a ca%e'a do troncoX o do porco
parece manter ca%e'a e tronco con#luentesX o do caranguejo ine!iste por*ue sua ca%e'a est" no
corpo.
4stou sugerindo *ue em lugar de ler so%re o animal, devemos ser o animal. 4stou sugerindo
*ue o animal do sonho pode ser ampliado por uma visita ao 0oológico e por um dicion"rio de
s)m%olos. 4 sugiro ainda *ue nós, *ue interpretamos sonhos, n$o redu&amos os sonhos ao
s)m%olo, mas em lugar disso *ue nos redu&amos, isto , redu&amos nossa vis$o à*uela do
animal, uma redu'$o *ue pode ser e!tens$o, uma ampli#ica'$o da nossa vis$o, de maneira a ver
o animal com o “olho do animal”.
O *ue o animal v(, ouve e cheira *uando se encontra com outro animalN O *ue  *ue ele
reconheceN -em o %ene#)cio de um %esti"rio, o teste deste encontro  a #orma viva. A leitura da
#orma viva, as met"#oras auto/e!pressivas *ue os animais apresentam, est" no signi#icado das
lendas em *ue os santos e !am$s entendem a linguagem dos animais, n$o no discurso literal das
palavras, mas ouvindo/os como presen'as vivas, gr"vidas de met"#oras.

31
(IRANDO INSETOS
0 – p6g. ))

@e todas as criaturas de @eus, grandes e pe*uenas, nenhuma parece provocar tanta #:ria
como o inseto. u%ar+es e crocodilos, o#)deos, ratos de li!o, morcegos, vampiros e a%utres
carniceiros, s$o encarados com menor perversidade humana. Bada iguala nossa pai!$o
assassina para irradicar insetos irritantes. 9or *ue este ódioN O *ue signi#ica este medoN

9or “insetos”,
tra'as, #ormigas,*uero nomear cupins,
mari%ondos, toda espcie de criaturas
carrapatos, rastejantes
a%elhas, vespas, incluindoF %esouros,
moscas, %aratas, piolhos,e
aranhas
outras criaturas n$o classi#icadas como insetos. Bossa história  inteiramente o%scura e
inteiramente preconceituosa contra estes vermes.
m %om “locus classicus” da vis$o da nossa cultura, regredindo at a =)%lia  o cl"ssico de
Yoethe “austo”, onde um coro de insetos homenageia Me#isto#iles *ue di&F “/ 4sta jovem cria'$o,
de #ato, a*uece meu cora'$o.” O -enhor das moscas, =el&e%u, o @emnio, ama os insetos e os
insetos, como demnios do ar, da noite e de lugares ocultos da terra, s$o os seus #ilhos.
<onsiderar os insetos, captar, hospedar suas vo&es,  o mesmo *ue escutar o mal. 4sta
tradi'$o atormenta, em sonhos, nossa vis$o deles.
Artemidorus disseF “  -empre *ue as #ormigas andam em volta do corpo do sonhador, h" um
press"gio de morte por*ue elas s$o #rias, escuras e #ilhas da terra.”
“Insetos s$o s)m%olos de apreens+es e ansiedades... erroadas... signi#icam *ue o sonhador
entrar"
*ue uma emdoen'a
contato est"
com pessoas
rondando,malvadas...
ou pris$o,-eouh"grande
muitos po%re&a...
piolhos...  -e
pouco
umaprop)cio
pessoae signi#ica
acordar
en*uanto estiver sonhando *ue tem piolhos, isto signi#ica *ue nunca ser" salva...”
As próprias palavras carregam ansiedade. Insto signi#ica talhado, cortado, en#ati&ando o
odiado, pontiagudo, introdu&ido, tanto *uanto o aspecto autom"tico e mecEnico da criatura. “=ug”
?inseto pode signi#icar espectro, apari'$o, um o%jeto de terror. A rai& de “%ee” ?a%elha ,
provavelmente, derivada do Ariano “%hi” *ue signi#ica temer, no sentido de &um%ido, tremor,
palpita'$o.
“=eetle” ?%esouro vem do Ingl(s Arcaico “%itau” *ue signi#ica morder. “Moth” ?tra'a desde
13DD signi#ica alguma coisa *ue devora, mastiga, desperdi'a e  destrutivamente por uma chama,
atra)da ?B..  Antes de ser tra'a,  uma espcie de mariposa.
Ba linguagem popular da cultura ocidental, mos*uito, "caro, piolho, mosca, pulga, tra'a, grilo e
%esouro partilham um denominador comumF estes termos signi#icam pe*uene& e in#erioridade,
*ue podem signi#icar apre'o mas *ue em geral s$o insultuosos.
“=ug” se insinuou na linguagem do computador por*ue em 12]3 um “%ug” ?uma mariposa
entrou #urtivamente no MarW II, o primeiro computador digital de larga escala da Amrica,
causando pane. @esde ent$o os programadores vivem o%cecados em manter os %ugs #ora do
sistema ?des%ugados com in:meras tentativas para construir sistemas in#ormacionais à prova de
“%ugs”.
Insetos s$o desde h" muito, parte da 9si*uiatriaF nas alucina'+es como rastejadores #urtivos
na pele do paciente, viciados, preocupa'+es o%ssessivas com loucura ou com o lugar onde v$o
ser a%rigadas as pessoas *ue julgam estarem “#icando %irutas”. ?B..  4m Ingl(s, “to go %ugs” 
uma g)ria para “pirar” ou “em%irutar”.
H" outras tradi'+es onde o -enhor dos insetos n$o  o demnio mas um em%usteiro. 9or
e!emplo, o navajo =e6gotcidi ?o #ilho do sol *ue mantinha rela'+es se!uais com tudo no mundo.
=e6gotcidi *uer di&er “algo *ue agarra tetas” e detalhes so%re ele, no di&er dos antropólogos, s$o
demasiado
jovens para“sujos”. 4le tomou
tocar seus este
mamilos nome por*ue
en*uanto se am%m
gritava... #a&ia invis)vel e depois
pertur%ava saltavaJusto
homens. so%rena
mo'as
hora
em *ue um ca'ador estava pronto para atirar, =e6gotcidi saltava so%re ele, agarrava seus
test)culos e gritava. a&ia o mesmo en*uanto um homem e uma mulher estavam copulando. 4le
se ocupava dos insetos, comandava/os e, algumas ve&es, aparecia em #orma de mulher ou de
inseto. ma ve&, *uando #oi capturado, mari%ondos en!ameavam de dentro da sua %oca,
mariposas de dentro de seus ouvidos e %esouros de dentro do seu nari&. 4le engoliu de volta
todos os insetos, podendo, assim, trans#ormar/se em *ual*uer tipo de inseto.
Os contos à respeito deste senhor dos insetos, apresentam uma clara vis$o da impress$o de
espontaneidade dos insetos, sua irrever(ncia &om%eiteira em rela'$o às inten'+es humanas, seu
32
poder senhoril so%re nós. Acreditamos gritar em decorr(ncia do seu #err$o mas talve& sejam eles,
os causadores do grito, *ue gritem atravs de nós.
4m rela'$o ao poder de um inseto, pense apenas no estado de loucura em *ue voc( #icou
*uando tentava matar um pernilongo *ue atrapalhava sua noite de sono ou *uando
demoniacamente, perseguiu uma %arata ao redor da pia.
Ba lórida, um homem agarrou sua pistola e deu um tiro na própria perna para matar um inseto
n$o identi#icado.
emos ainda *ue compreender a ra&$o dos insetos causarem tanta ansiedade *ue a
erradica'$o deles se trans#orma
dire'$o à erradica'$o, na resposta
nos leva a um autom"tica.
passo mais avan'ado4ste passo pesticidas.
no mundoF autom"tico do medo em
-e pudssemos controlar melhor a rea'$o e!terminadora da psi*ue  e dei!e/nos lem%rar *ue
o sonho mostra as rea'+es da psi*ue revelada, posta à nu  e aliviar o medo da psi*ue de “going
%ugs” ?pirar, ent$o dever)amos tra%alhar mais sensatamente a representa'$o do pEnico no
e!cesso de #antasia dos inseticidas. 4ste e!cesso pode ter sua srcem em *uatro aterradoras
#antasias atri%u)das a insetosF
1  MultiplicidadeF ma colnia de pernilongos tem tr(s mil mem%ros, uma a%elha rainha pode
pr *uatro mil ovos por dia e uma colmia de a%elhas pode conter 37 mil a%elhas. Yrandes
colnias podem consistir de meio milh$o de #ormigas. Mariposas ?*ue se trans#ormam em tra'as,
podem ser t$o numerosas *ue conseguem enco%rir um #arol costeiro com sua compacta e escura
#orma'$o esvoa'ante. Bum :nico tomateiro j" #oram contados 8].VLL parasitas e um acre de solo,
dependendo de onde e *uando, pode conter V3 milh+es de insetos. @e todas as espcies do
5eino Animal
espcies. a mais
Bossa numerosa#ala
linguagem  a de
dosnuvens
insetos.de
-ó mos*uitos,
de %esourosen!ames
e!istem, mais ou menos,
de moscas, 837.777
pragas de
ga#anhoto, montes de #ormigas. O padr$o, a*ui, se re#ere mais a como encaramos a
multiplicidade e n$o a como encaramos os insetos.
9ara nós, os insetos se trans#ormam na ativa personi#ica'$o do “muitos contra um”, por*ue
imaginamos a multiplicidade atravs da lente singular de um ser humano :nico, e conce%emos o
todo como um.
@e *ual*uer modo, estes en!ames, nuvens, montes, mostram, ao mesmo tempo, unidade e
multiplicidade. O #ormigueiro  tam%m uma comunidade, a personi#ica'$o ativa do sentimento
social harmnico. A multid$o de insetos, demonstra o todo, n$o como um ideal a%strato mas como
um corpo ocupado e %arulhento de vida, indo para l" e para c", ao mesmo tempo. O en!ame
rede#ine o todo como uma comple!idade cooperativa.
8  MonstruosidadeF ;erme, carunchoso, piolhento, %arata tonta, %arata descascada, chupa/
sangue,n$o
tra'os m$o de aranha,
humanos. mosca mortanum
rans#ormar/se  termos
inseto*ue caracteri&am, numa
 trans#ormar/se supostamente, nas opessoas,
criatura sem sangue
*uente do sentimento, como pintamos na #ic'$o cient)#ica e nos #ilmes de terror. A nature&a
corresponde a estas #antasias tendo gerado aranhas, de sete polegadas *ue comem p"ssaros,
%esouros de oito polegadas, uma mariposa %rasileira de *uase um p, centopias enormes em
comprimento.
Insetos, em sonhos, sugerem a capacidade ps)*uica de gerar #ormas e!traordin"rias, *uase
alm da imagina'$o. 4 estas monstruosidades desumanas, mostram capacidades da psi*ue alm
das suas de#ini'+es human)sticas. O inseto nos retira da psicologia do ego, nos retira dos
humanismos. B$o  esse o tema horripilante do conto cl"ssico de _a#Wa entitulado
“Metamor#ose”N
O #ato de *ue o monstruoso apare'a nestas #ormas diminutas, / por*ue mesmo a vida de uma
centopia de do&e polegadas pode ser e!terminada por um p humano  e de *ue possamos ter
tanto medo delas, mostra em *ue e!tens$o o nosso mundo humano se separou dos cosmos n$o
humano.
O *ue  um homem ou uma mulherN  m pouco menos *ue um anjo, senhor do niverso,
coroa da cria'$o, *ue ainda assim, acorda aterrori&ada de um sonho com uma #ormiga.
K  AutonomiaF 4les devem ser esmagados, *ueimados e envenenados por*ue n$o se
su%metem. 4les t(m outras inten'+es e disputam conosco ma'$s, milho e rosas. -em convite,
invadem nossas co&inhas e #a&em ninhos so% nossos %eirais. 5epresentem os sintomas
persistentes do sistema nervoso autnomo. 4les nos “%ugam”, nos chateiam. 4les s$o
autnomos.

33
A autonomia destas criaturas nos #ere, nos “mata” de raiva, revela nossos “poderes”. 4las nos
dei!am loucos.
Ba Alemanha, “spinnen”, signi#ica #antasias desilusionais ?spinnam  atividade da aranha
como tam%m “girlleu ha%eu”.  ?B..  o mesmo *ue em 9ortugu(sF ter grilos, estar grilado.
O “eu”, acreditando/se de posse do autnomo livre ar%)trio  incansavelmente perseguido pela
imagina'$o na *ual descansa, na *ual se aninha , e assim “eu” sou levado a e!terminar o *ue
*uer *ue “me” desiluda em rela'$o [a “minha” autonomia. A li%erdade radical do controle humano,
#a& do inseto o “Yrande Inimigo”.

Os]insetos
 9arasitas
n$o só “A*uele
invadem*ue come
o seu na mesa
reino. do outro”.
4les tam%m ;emdo
vivem de*ue
“para” ?junto
 seu e “sitos”
e at ?alimento.
compartilham do
seu corpo, prosperam nas ra)&es das suas plantas, na carne do seu animal como se v( nos
sonhos com insetos, nas ra)&es de plantas decorativas ou na %arriga de animais domsticos.
O parasita  um assom%ro %iológico. Organismos microscópicos podem entrar num
hospedeiro, e, radicalmente, alterar seu comportamento. 9or e!emplo ra%ies ?micró%ios da raiva.
ma pessoa grande, so% a in#lu(ncia de um pe*ueno micró%io tem a sua personalidade
trans#ormada.
O medo da altera'$o da personalidade por um poder alien)gena, e!plica o pEnico muitas ve&es
associado com sonhos de vermes e  testemunhado pelas #ormas insetivoras estili&adas dadas
aos alien)genas na #ic'$o cient)#ica.
9odemos ler o medo dos parasitas de tr(s maneiras.
9rimeiro atravs das lentes da compensa'$o. O ego controlador est" sendo esgotado pela
inten'$o dos parasitas *ue tentam alterar a personalidade ha%itual de maneira a restaurar mais
e*uil)%rio entre este ego e o cosmos.
-egundo, atravs das lentes da auto/psicologiaF os parasitas representam nossa “#ome” da
vida n$o vivida e necessitam da comida da nossa mesa. P tra%alho do ego, no dia a dia, e!aminar
estas necessidades, decidindo *uaisvai alimentar e *uais vai erradicar.
4m terceiro lugar, do ponto de vista da psicologia homeop"tica, os insetos parasitas re#letem
uma personalidade parasita. 4les nos mostram nossa própria cara. <omo disse Jung, se o mundo
do sonho mostra a voc( a #ace *ue voc( mostra a ele, ent$o uma invas$o paras)tica ?do sonho e
do verme mostra ao hospedeiro ?do sonho e do verme como  dependente ?em pe*uenos e
escusos caminhos de outros organismos ps)*uicos, como somos in#luenciados por comple!os,
como usamos nosso sangue para sustentar nossas am%i'+es. Os comple!os dos *uais e!tra)mos
nossas compuls+es energticas podem se mostrar, no sonho, como parasitas, destacando/nos
como um entre eles, alimentando o %an*uete da vida, assumindo o primeiro lugar, *uer no
tra%alho,
como um naato#am)lia, nas rela'+es
de “sangue/suga”, de ami&ade,
tirando ounada
tudo sem alimentando
o#erecer os
empróprios
troca. sonhos, interpreta'$o
As *ualidades tais como multiplicidade e monstruosidade *ue nos instigam para a erradica'$o,
nos cegam para o propósito personi#icado nos insetos. Bos sonhos eles chegam com inten'+es.
9erseguem e verdadeiramente “%ug” ?chateiam o sonhador.
m m:sico *ue procurou um analista por*ue n$o conseguia “#a&er as coisas #uncionarem”,
sonhouF
“4stou repousando numa espregui'adeira na #loresta, *uando vejo, de repente, *ue estou %em
em cima de um #ormigueiro. 9ulo, rapidamente, da cadeira e acordo com o cora'$o disparado”.
A necessidade de #ugir dos insetos, ocorre com %astante #re*S(ncia. Mas ser" *ue os insetos
t(m necessidade de #ugirN -er" *ue  uma rea'$o meramente humana ao #ormigueiro a s:%ita e
urgente necessidade de a%andonar o repouso na espregui'adeiraN Ou ser" *ue  um re#le!o, no
homem, da compulsiva e autonmica atividade das #ormigasN alve& a urg(ncia “de #a&er as
coisas #uncionarem” comece ao #ormigueiro, e!press$o de instintiva vida primal, desde *ue o
inseto seja, como di&em os #ranceses, uma “matiere vivante”  a própria vitalidade da matria.
A sua incessante movimenta'$o para dentro e para #ora dos %uracos da madeira e nas telas
das janelas, esvoa'ando em dire'$o da lu& ou tomando sangue emprestado de nossas veias 
um estilo de “desejo” desejando viver.
Que pot(ncia cósmica estamos atri%uindo aos insetos *uando #antasiamos *ue apenas eles
so%reviver$o do #ogo nuclear e ao inverno *ue se seguir"N B$o  de admirar *ue temamos sua
#or'a diminuta, talve& a mais #orte “#or'a vital” do mundoN

34
4 esta #or'a  antiga. J" #oi *uestionado e talve& esta%elecido *ue a vida do inseto  mais
velha na cronologia do planeta do *ue a vida vegetal e de *ue h", insetos capa&es de viver em
solo #r)gido, "rido e pedregoso e em cavidades de "guas salinas sem penetra'$o da lu& do sol e
sem matria vegetal.
Insetos e plantas podem, às ve&es, parecer semelhantes. A isto a ci(ncia chama camu#lagem
ou mimetismo, construindo uma #antasia paranóide do comportamento do inseto. A teoria da
camu#lagem di& *ue mariposas, %esouros e similares, s$o t$o tena&mente amea'ados e t$o
perseverantes *ue se dis#ar'am como gravetos, #olhas, %ot+es de #lor, etc.

se alve& tenhoou
vestir assim aprendido, ou soletivamente,
talve& as plantas  *ue usamcriaram uma ra'a
os dis#arces para seou,
dos insetos adaptar.
talve&,alve&
inseto gostem
e plantade
partilhem um ha%itat e um clima em comum, e, assim, am%os se e!i%am de maneira a com%inar
com isto.
-uponhamos *ue o inseto n$o sai%a *ue n$o  uma planta, n$o siga nossa classi#ica'$o de
“animal” e “vegetal”, nunca leu ineu, nem estudou =iologia. -uponhamos *ue sua roupagem, sua
m"scara e seus h"%itos corporais, sejam t$o vegetativos *ue a imita'$o ou mimetismo n$o seja
apenas de um reino pelo outro, ou, de cada um, mas um terceiro #ator *ue re*uer *ue se
acomodem, mas com os outros, numa uni$o de todas as coisas, uma ecologia cósmica.
alve& seja o amor *ue atraia as di#erentes #ormas vivas, umas para as outras, e as #a& parecer
semelhantes.
Qual*uer *ue seja a especula'$o à respeito do mistrio da #or'a deles, da #or'a deles so%re o
nosso medo, um tema se repete, #re*Sentemente, em sonhosF o inseto e o solo. 4les aparecem
na sujeira, de%ai!o
escaravelho dan'a da
seuterra, no vaso
%ailado sanit"rio.
no esterco, A mosca voeja
caranguejos so%re
no p:%is, a pilhanadeca%e'a,
piolhos estrume. O
parasitas
nas entranhas, varejeiras na carne podre. 4specialmente o ca%elo e o %ai!o ventre s$o a#etados.
Os #reudianos cl"ssicos interpretam aranhas e centopias em sim%olismo anal, uma posi'$o
*ue repete a idia do inseto como o mal, o proscrito, #edorento, sul#:rico do demnio.
A %ai!a auto/estima corresponde em rela'$o aos insetos com o esconderijo su%/repticio no
su%/solo. 4scondidos, enterrados, interiores, aparecendo, " noite, atravs de pe*uenas a%erturas
nas estruturas do mundo cotidiano  estes atri%utos sugerem o su%/mundo. alve& n$o seja
demasiado di&er *ue insetos, nos sonhos, signi#i*uem o retorno das repress+es. alve& n$o se
re#iram somente às repress+es morais ?o mal, às repress+es estticas ?o #eio ou às repress+es
primordiais ?a morte, mas aos deuses catnicos, especialmente, Hades *ue emergem atravs
?dos sonhos e cujas inten'+es vivem nestes va&ios ?dos sonhos *ue sentimos e so#remos como
#erimentos.

-e a picada
teológico, do inseto
um <risto  uma
*u)mico. #erida
<risto do su%/mundo,
morti#ica ent$o
o in#erno nas o pesticida
aplavras  ume instrumento
de Osias 9auloF “Onde
est" ó morte, o teu aguilh$oN Onde est", ó morte, a tua vitóriaN”  4ste <risto *u)mico vem para
livrar o mundo de <hanatos e Hades ?morte. Yeralmente representados como negras #iguras
aladas.
“_entron” literalmente denota um #err$o como o das a%elhas, escorpi+es e #ormigas aladas,
en*uanto esta mesma palavra prov( a rai& da nossa palavra “centro”, srcinalmente signi#icando
espinho, #err$o ou aguilh$o. O aguilh$o no centro das pro#unde&as , ao mesmo tempo, a
presen'a da morte e o desejo cósmico de viver a vida. A revolu'$o crist$ *ue recentrali&ou o
mundo ?o cosmos em um mundo superior e um corpo superior de ressurrei'$o, transcende o
aguilh$o do desejo e da morte. Bós reencenamos a con*uista de <risto so%re Hades com nosso
aerossol de spra> anti/insetos, usando/o como um incenso em secular ritual, livrando nosso jardim
privado de demnios do mundo in#erior.
-e o mundo dos sonhos  o retorno das repress+es ?reud, voltando para nós a #ace *ue
inconscientemente voltamos para ele ?Jung, ent$o parecemos aguilhoados, #erroados,
perseguidos, *uando tratamos nossos sintomas como vermes e nossos comple!os como
parasitas. -im, desejamos livrar/nos do mundo in#erior, usando o %elo pó %ranco da a%stra'$o
destrutiva encontrado em *ual*uer #arm"cia ou numa sess$o de ego/psicologia.
A srcem da ind:stria da #armacologia da #antasia, reside no medo de “pirar”. Bossa
necessidade de um movimento ecológico, de advogar direitos dos animais e da capta'$o de
#undos para a preserva'$o da vida selvagem, come'a em nossos sonhos.
Os medos ocasionados pelos insetos atri%uem a eles os próprios atri%utos dos nossos mtodos
de erradica'$oF / autonomia, monstruosidade, to!idade, proli#era'$o. Bós espalhamos o veneno
35
nos rios e no solo, multiplicamos as to!inas, acres e acres de prodigiosa matan'a e uma
monstruosa in#esta'$o, oculta nas #ontes su%terrEneas, enterrada na cadeia alimentar.
O “pro%lema” se tornou t$o autnomo *ue a ci(ncia, os governos, a agricultura e a ind:stria
n$o conseguem control"/lo.
<omo pro#eti&ado, os insetos est$o vencendo, em%ora n$o tanto no mundo real como em
nossas mentes erradicadoras *ue imitam o inimigo. Ba luta contra a “pira'$o”, nos
trans#ormarmos em a%elhas assassinas, #ormigas de #ogo e vi:vas/negras.
<ontar como chegamos at a*ui  muito longo e triste. Mas resumindoF em 5oma, os animais
eram simplesmente
os cartesianos propriedades,
e Wantianos, sem alma
portadores para os
da carne, da escol"sticos,
%estialidade em"*uinas sem
do pecado intelig(ncia
para para
os crist$os e
n)veis in#eriores da cadeia evolutiva para @arRin.
4sta história est" %aseada em nossas rea'+es nos sonhos. O ego do sonho , tam%m, o ego
histórico, atravessando suas respostas condicionadas.
-e #ssemos amer)ndios, a #igura *ue chamamos de “ego” poderia ser chamada de “matador
de %aratas”, “*ueimador de vespas”, “esmagador de #ormigas”. O *ue chamamos de “progresso”
da civili&a'$o ocidental, do ponto de vista da #ormiga  o passo avan'ado do “Yrande
4!terminador”. Quem  o parasita *ue vive de carca'as mortasN Quem  a varejeira ocupada em
insaci"vel consumoN Quem est" mastigando as #olhas da planta por todo o niversoN Quem est"
sempre criando novas variedades h)%ridas *ue os insetos evitar$o e das *uais só os criadores
podem gostarN
A pro#ecia ou #antasia de *ue só os insetos so%reviver$o a um cataclisma nuclear, de *ue só os
insetos s$o indestrut)veis
isto, algumas e de *ue
ve&es, aparece em asonhos.
via do planeta recome'ar"
Bos sonhos eles da vitalidade ao
so%revivem dos#ogo,
insetos  tudo
produtos
*u)micos, esmagamento, a#ogamento e mesmo dissec'+es. Bos sonhos eles parecem portadores
de uma vida indestrut)vel, para o a%orrecimento dos erradicadores *ue #a&em, sempre, novas
tentativas de deles se livrar, inventando novas #órmulas de venenos, como vemos na ind:stria de
pesticidas. Mas os insetos seguem em #rente.
Os sonhos mostram almF *ue os insetos t(m algo a ensinar. Independentemente de
sentimentos pessoais e mesmo sem pensar, eles demonstram as inten'+es da mente da
nature&a. 4les ensinam a indivergente # do desejo e a necessidade implac"vel de so%reviver.
Alm do mais, demonstram consci(ncia comunit"ria de en!ame, de colmia, uma simpatia
cósmica mais pro#unda *ue um contrato social.
4les convivem e se harmoni&am com os elementos contr"rios do ar e da "gua. Mostram
espantosa capacidade de cola%ora'$o e s$o resolutos na sua persist(ncia em arrancar um
sonhador das conchas
inalmente sentimosda suaestas
*ue ha%ita'$o humana,
criaturas aladas,dos
coma%rigados limites
seus olhos dos h"%itos
espantosos, noshumanos.
*uerem, nos
desejam, nos aparecem em sonhos, *ue  o *ue os anjos deveriam #a&er.
Assustadores, apavorantes, s:%itosF :nica maneira *ue os anjos t(m agora, de entrar em
nosso mundo *ue j" n$o tem a%ertura para sauda'+es de %oas/vindasN
Ao menos podemos considerar esta interpreta'$o anglica, o inseto como um anjo estranho,
*uase t$o pe*ueno para ca%er na sua de#ini'$o de %ele&a, dan'ando na ca%e'a de um al#inete
?*ue  o instrumento usado para #i!ar insetos na classi#ica'$o mortu"ria.
9ara so%reviver como so%revivem, devemos, como eles, *ue arriscam tudo em suas
trans#orma'+es, trans#ormar tam%m as #ormas do nosso pensamento. Gs ve&es, n$o podemos
“en!ergar um palmo na #rente do nari&”. 4sta vis$o anglica nos chama a olh"/los, novamente,
respeitando *uem s$o e o *ue s$o eles, a causa de estarem em nosso sonho, como encontr"/los
e, mesmo, como nos preocuparmos com eles  estes #ormatos e comportamentos miraculosos,
cada apar(ncia
intensa, intrincada,
o%servando/nos uma so%er%a
en*uanto e arcaica ha%ilidade, sem #altas, piedosa, cmica, grave,
dormimos.
Bo mundo inteiro, em rela'$o à psicologia arcaica, o divino  parcialmente animal e o animal
parcialmente divino. A teologia di& *ue o divino  o “tremendum” mas o “tremendum” pode
aparecer de pe*uenas maneiras tr(mulas, um mero tremor, uma sacudidela, um susto  como a
rea'$o s:%ita a um inseto. 9or*ue somos uma das maiores espcies de animais, esperamos *ue,
apenas os maiores *ue nós, sejam “tremendos” e *ue @eus deva ser maior *ue =ehemoth ?B.. 
o hipopótamo do livro de Jó.  mais um antropomor#ismo %)%lico. 5ealmente, “%ehemoth”
signi#ica, meramente “animal”. Assim, o *ue Jó viu, pode ter sido, so% nova ótica, apenas seus
próprios animais.
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Apenas olhe, o%serve o animal, e, veja o divino em e!posi'$o. 4stude a capa %rilhante e as
asas rajadas, as patas sens)veis, a enorme determina'$o. 4stude a ca%e'a, o revestimento, os
movimentos. 4stude os olhos, cada um di#erente, como uma gota, uma conta , um ponto,
pregueados como os de uma mosca.
<ulturas arcaicas sacri#icam animais nos altares dos deuses, sempre. evando os animais ao
altar n$o nos estamos livrando deles nem trans#ormando/os em mais puros e sagrados. 4les v$o
para o altar com a #inalidade de alimentar o animal em @eus, o divino *ue , parcialmente, animal,
desta #orma mantendo vivo o @eus e vivo neste “tememos”  o altar. O altar  um mantenedor do
animal *ue evita *ue @eus e!er'a o seu terr)vel poder num lugar concentradoF / 5etorne #i*ue
*uieto, veja as velas *ueimando, olhe o altar, n$o atravesse su%itamente.
O altar  uma jaula. <ada <atedral um grande 0oológico. 4 @eus, como Jav, *ue desdenhou
o sacri#)cio de gr$os de <aim, deseja a carne animal de A%el, como #a&em as vespas, varejeiras e
moscas. Mantemos os deuses vivos com carne, nossa carne animal, o animal da nossa
imagina'$o carnal, in#estada e pululante com nossas “coisas”, com #err+es e voadoras. Assim,
naturalmente, os insetos, nos nossos sonhos, penetram/nos, mordem/nos, tirando nosso sangue,
lem%rando/nos *ue tam%m somos carne. 4les a%rem seu caminho para o nosso reconhecimento
relutante e nos #or'am a lem%rar/nos deles.
O *ue  a encarna'$o, sen$o o @eus penetrando na e so% a nossa peleN @eusF / um
percevejo, caranguejo, carrapato. A encarna'$oF / o mistrio de um piolho.
Os deuses se trans#ormam em doen'as, somos in#estados pelos deuses, #or'ados à religi$o
por sensa'+es corporais, instintos religiosos, insetos religiosos.

Bem recuperam
sonhos tido est" perdido.
o *ue oMuito
mundo recuper"vel
es*uece. Omesmo *uepolite)smo
es*uecido por momentos e #uga&mente.
pag$o se desenvolveBossos
em
#ormas animais. Bestes animais est$o os deuses antigosF cervos e salm+es dos celtasX ursos dos
viWingsX porcos, cavalos marinhos e crocodilos e gatos dos eg)pciosX corujas, touros e ca%ras dos
gregosX lo%os e "guias dos romanosX o =e6gotcidi dos navajos.
Mesmo os evangelhos escritos por Marcos, ucas e Jo$o, s$o, ainda, signi#icados por animais
 le$o, %oi, "guia. <risto, nos primórdios do <ristianismo, era signi#icado por pei!e e ovelha, o
pei!e a marca dos primeiros crist$os perseguidos.
Os deuses ainda est$o l" nos nossos sonhos  estas catedrais &oológicas onde h" um altar
para os insetos de =el&e%u e Me#isto#iles.
Os animais podem seguir como deuses vivos e ines*uec)veis nos )cones dos nossos sonhos e
nas o%ssess+es vitais dos nossos comple!os e sintomas, pe*uenos insetos indestrut)veis.
ouvemos “Yaudeamus”

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