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Orelha I
Autor aclamado de “O código da Alma” e um dos nossos mais provocantes autores junguianos,
James Hillman se une à artista Margot Mc ean nesta e!traordin"ria parceria, uma re#le!$o de
assom%rosa %ele&a so%re presen'a e aus(ncia dos animais em nossas vidas, em vig)lia, e,
conse*uentemente em nossos sonhos, imagina'$o, emo'+es e pensamentos.
Animais de sonho” entrela'a arte e psicologia, sonho e s)m%olo, junguianismo e conhecimento
unidos a pinturas evocativas *ue ressoam com os ensaios a%sorventes de Hillman.
ma medita'$o penetrante so%re as implica'+es da perda da nossa consci(ncia so%re o
imagin"rio animal.
“Animais de -onho” a uni$o per#eita da palavra e do s)m%olo.
Orelha II
James Hillman tornou/se o primeiro diretor do Instituto Junguiano de 0urich em 1232. 4leito
pelo “tne 5eader6s” como “uma das 177 mais importantes pessoas *ue podem mudar sua vida”,
escreveu mais de 87 livros incluindo “O código da alma”, “O suic)dio e a alma” e “5evisando a
9sicologia”, este :ltimo citado como concorrente ao pr(mio 9ulit&er. ;ive em <onnecticut e editou
com 5o%ert =l> “A loja de trapos e ossos do cora'$o” ?espero *ue @r Hillman desculpe a
presun'$o de tradu&ir tam%m os t)tulos de suas o%ras.
Margot Mc ean uma artista pl"stica *ue vive em Bova Cor*ue desde o #im da dcada de D7.
5ece%eu numerosas %olsas de estudo e o seu tra%alho est" representado n$o só nos 4stados
nidos mas tam%m no e!terior.
<omo artista e pro#essora tem dado sua contri%ui'$o ecológica #ocali&ada nos mundos animal
e %otEnico.
9re#"cioF
Margot
vivendo nomundo
4u *uestiono nossa ha%ilidade
e n$o apenas de recordar
na ;. P estranho *ue*ue estes
estes animais realmente
document"rios e!istem,
cujo o%jetivo seria
#a&er/nos mais pró!imos dos animais aumentando nossa consci(ncia so%re a sua e!tin'$o
estranhamente est$o trans#ormando estes animais em desnecess"rios. Ali est$o eles em nossas
salas de estar, )cones virtuais com real'ado %rilho magni#ica'$o e detalhe. 4n*uanto est$o super
e!postos e proli#erando na ;, est$o r"pida e silenciosamente desaparecendo do nosso planeta.
Hillman B$o creio *ue sejamos capa&es de nos livrar do animal interior. O esp)rito do animal
n$o ser" eclipsado pela ; e ele poder" #re*Sentar os nossos sonhos de maneira imprevis)veis.
Margot Imprevis)veis como invis)veisN
3
Hillman Quero di&er imprevis)veis. Animais s$o imagens ar*uet)picas eternas. odo este
#asc)nio com dinossauros e legend"rias espcies e!tintas mostra como as imagens animais
continuam a desenvolver/se no imagin"rio. Assim, o *ue eles #a&em na imprevis)vel.
Margot ;oc( *uer di&er *ue mantendo/os parcialmente vis)veis estamos lhes dando a
li%erdade de se manterem #ora do controle humano, imprevis)veisN
Hillman 9enso *ue mais #"cil pintar o animal evanescente do *ue escrever so%re esta
ilus$o. Bas suas imagens os animais emergem ou retrocedem. 4les parecem estar ou n$o estar
l". 9ertencem ao mesmo tempo à nature&a e à imagina'$o. 4u n$o consigo esta mesma
presen'a
Margot ou aus(ncia
B$o estou*uando escrevo
t$o certa. so%re ao
;oc( alude um*ue
porco ou umsigni#ica
o animal urso polar.
mas n$o se permite di&(/
lo. ;oc( descreve a nature&a da gira#a ou de um camundongo mas, ao mesmo tempo, de algum
modo, voc( os mantm meio escondidos.
Hillman Met"#oras como nos sonhos. P muito di#)cil evitar o desejo de interpretar, de capturar
o animal num signi#icado.
Margot ale/me à respeito. <onto com isto o tempo todo. 5ecentemente a pintura de uma
co%ra #oi o%jeto de uma conversa. 4u disse *ue n$o estava interessada em pintar uma. em muita
coisa envolvendo as co%ras e n$o estou interessada nesse sim%olismo. 4nt$o aconteceram tr(s
encontros com co%ras reais. 9er#eitamente paradas para *ue eu pudesse v(/las %em. oi a) *ue
compreendi *ue ainda n$o havia, verdadeiramente, visto %em uma co%ra.
Hillman Bós, “seres humanos civili&ados” n$o paramos a). B$o podemos resistir ao impulso
de colocar esta co%ra em alguma espcie de estória e lhe dar algum signi#icado. Quando vou a
um &oológico
eu possa, tenhover
apenas, *ue lutarest"
o *ue paral"n$o
semlercolocar
os mapas
esteeanimal
eti*uetas
numain#ormativas
estória ou nas
numjanelas para *ue
#ato cient)#ico.
Margot mas &oológicos s$o uma coisa completamente diversa. A #inalidade do &o o#erecer
esta espcie de in#orma'$o. Animais nos &oológicos t(m sido sacri#icados para o nosso acesso a
esta espcie de in#orma'$o. 9or mais *ue seja deprimente penso *ue temos *ue come'ar a
compreender *ue os &o s$o o ha%itat animal do #uturo. A &e%ra mascando %olotas nos &oológicos
do mundo, tra& consigo a perda das plan)cies e os seus re%anhos. 4la se trans#orma numa
espcie de representa'$o tr"gica das mudan'as nas liga'+es do animal com seu ha%itat.
Hillman alve& tenhamos *ue repensar &oológicos. Olhe para eles como o #a&em as crian'as
pe*uenas mais como um livro de estórias, um ha%itat da imagina'$o, em lugar de um rplica da
T#rica ou da Ant"rtida. <orreto e ainda assim uma #arsa, #also. -uponha *ue o &o mais um
lugar para imaginar, para conectar e louvar mesmo do *ue para aprender.
Margot Ou uma maneira di#erente de aprender, o *ue espero *ue este livro possa #a&er. A*ui
os animais
maneira est$o inseridos, tam%m, num ha%itat e isto pode mover as pessoas a v(/los de
diversa.
Hillman 4star" voc( di&endo *ue estudar animais, sa%er so%re eles, senti/los, n$o o
%astanteN. Bós temos *ue imagin"/los. 4ntrar neles como seres imagin"rios, como imagens. Isto
o *ue #e& Ad$oF olhou para estas imagens *ue passavam e tirou seus nomes das suas
nature&as. 4le estava dentro do animal. 4le conhecia os animais da sua imagina'$o. 4les e os
animais estavam todos no mesmo sonho.
Margot O *ue estou di&endo *ue antropormo#i&ar um pouco necess"rio. 9ara mim estar
dentro signi#ica entrar no corpo do animal e de l" tentar ver o mundo. -implesmente n$o #a&
sentido separar/nos do mundo animal *uando h" demasiadas semelhan'as concretas.
Hillman Ou as palavras surgiram primeiro, desde *ue algumas teorias di&em *ue criamos
nossas palavras dos sons dos animais. Assim, gosto de pensar *ue as palavras certas di&em
alguma coisa tam%m aos animais.
Margot Que %onito ma mensagem para os animais. Hum...
Hillman 4m parte estou tentando di&er alguma coisa a elesF uma mensagem so%re como eles
se registram na imagina'$o humana, no nosso amor e #antasia, nos nossos sistemas sim%ólicos,
mesmo o *ue a nossa &oologia di& so%re eles. <omo uma reportagem so%re como s$o
perce%idos. 4sta a ra&$o pela *ual eu uso tantas espcies de #ontes. A &oologia secund"ria
por*ue só h" %asicamente uma #onte para todas as espcies de estórias a própria imagem da
&e%ra. 9ovos tri%ais #alariam so%re uma &e%ra/esp)rito *ue d" em%asamento ao *ue *uer *ue
digamos so%re &e%ras. Onde *uer *ue encontremos esta imagem num poema, no &oológico ou
no -eregenti. Bossa mente civili&ada comete um erro terr)vel em contrastar animais “reais” e
4
animais “imagens” como se o *ue voc( v( na janela do &o e o *ue voc( encontra nos sonhos
#ossem animais di#erentes.
Margot oi o *ue eu *uis di&er *uando #alei *ue minhas pinturas s$o so%re animais reais num
mundo irreal. Mundo irreal signi#icando v"rios mundos. Mundos *ue n$o s$o literalmente
representados mas *ue apesar disso apresentam um “lugar”.
Hillman Os limites das suas pinturas animais t(m *ue se des#a&er da mesma maneira *ue
esmaecida e, algumas ve&es, at eliminada a linha entre o #ato e a saga da sua tradi'$o. -uas
pinturas e este livro s$o como os velhos %esti"rios medievais *ue eram, depois da =)%lia os livros
mais lidos, atais
distin'+es por mais
entreounature&a
menos mil anos. 4stes 4ram
e imagina'$o. livros pr/<artesianos,
so%re animais n$o levavam em conta
pr/cient)#icos. as
4, o nosso
livro tam%m o , regressando a uma mentalidade arcaica e tam%m avan'ando para uma
#enomenologia radicalF um leopardo um leopardo onde *uer *ue apare'a, intensivamente
#enomenal ?no sentido de #enmeno.
Margot 9ensamento cient)#ico, n$o signi#ica, necessariamente, pensamento cartesiano. Isto
depende de como voc( usa a ci(ncia, “#a&” ci(ncia. O pro%lema *ue nos tornamos o%cecados
pelos #atos literais *ue podem %lo*uear a imagina'$o.
Hillman O mtodo cient)#ico #oi designado para este propósito re#rear a #antasia e corrigir as
“#ic'+es” da imagina'$o com #atos o%servados. Mas creio *ue n$o h" #atos o%jetivos sem #ic'$o
su%jetiva. A o%serva'$o, por si só, atinge apenas uma metadeF a*uela do “agora voc( v(”. A
imagina'$o envolve a outra metadeF a do “agora voc( n$o v(”. Bo sculo UIU animais selvagens
eram estudados, ca'ados, colecionados como #enmeno natural, #atos.
Margot
muito 4les eram,
detalhado, na maioria, pintados
muito natural)stico. -a%e tam%m
raro ver desta maneira
um animal numae esculpidos em %ron&e.
pintura durante udo
os grandes
cem anos da arte moderna de 1LV7 a 12V7, digamos de Monet e <e&anne at 5othWo. ;oc( só
v( c$e&inhos, cavalos de carruagem, cenas de ca'adas e h" sempre maiores e!ce'+es como
9icasso e ran& Marc mas interessante o *uanto os animais #oram a%andonados, #icaram de
#ora desta arte.
Hillman 4 agora, à medida em *ue est$o desaparecendo, eles encontraram seu caminho de
volta à imagina'$o. O segredo da imagina'$o o desaparecimento do real. Assim, o *ue estou
di&endo, *ue sua morte real os est" tra&endo de volta à vida. 4, pintar esta “morte”, esta
aus(ncia talve& seja a melhor maneira de #a&er o “%astante” por eles. Juntando #atos, s)m%olos,
#"%ulas, #otogra#ias, #ósseis, %rin*uedos, slogans, esculturas, livros de arte so%re animais e
%esti"rios tudo isto junto n$o pode #a&er o “%astante”, n$o pode preencher este curioso senso de
o%riga'$o *ue sentimos em rela'$o a eles. Ainda sentimos *ue alguma coisa #icou de #ora, #icou
#altando.
Margot Alguma coisa est" #altandoF humildade humana.
Hillman 4u invejo voc( por pintar. B$o importa o *uanto seja duro. Ao menos voc( n$o
precisa carregar todo este material, todas estas re#er(ncias para tentar #a&er justi'a aos animais.
Margot ento escapar de re#er(ncias. Quero, de alguma maneira, limpar todo este li!o, re#ugo
so%re o animal. Quero *ue minha mente esteja a%solutamente calma e n$o seja atingida por toda
esta in#orma'$o. ma ve& *ue o animal encontre o seu ligar na pintura ele parece tomar conte de
si mesmo e n$o precisamos de todas estas re#er(ncias.
Hillman -eus cen"rios tam%m s$o muito importantes. Ao mesmo tempo permitem *ue o
animal se a#aste deles ou desapare'a neles. Bovamente como um sonho campestre. -omente
#ragmentos de um sonho aparecem, contra uma tela evanescente. -eus cen"rios evanescentes.
Margot 4duvard -. <ase>, o #ilóso#o, escreveuF “a pintura de paisagens n$o coloca apenas as
coisas, tam%m as recoloca. 4sta arte d" as coisas concretas ou a%stratas, *uais*uer *ue sejam,
ealgum
algumoutro lugar
outro para
lugar *ueestar.
n$o oAlgum
mundooutro lugar
etreo ?se*ue n$oo%jetos
#orem o mundode natural ?se #orem
cere%ra'$o coisas #)sicas
ou contempla'$o
a%stra'+es. Algum outro lugar, em outras m$os, alm da simples locali&a'$o na *ual #oram
srcinalmente ou apropriadamente, na maior parte, colocadas. Outro lugar signi#ica outra vida
uma -egunda vida. Assim, os o%jetos, incluindo e!peri(ncia de o%jetos, n$o s$o meramente
representados ou recordados nas pinturasX eles so%revivem l", no sentido de continuar vivendo,
literalmente, alm da sua primeira, própria vida. 5im%eaud disse *ue a vida verdadeira alm”.
Hillman m outro lugar para *ue eles continuem vivendo e vivendo.
Margot Mas ent$o me perguntoF isto “%astante”N “um outro lugar”N Que tal um %ene#)cio
ecológico realN 4nt$o eu respondoF o %ene#)cio ecológico só pode acontecer *uando as nossas
5
percep'+es ha%ituais s$o desa#iadas e come'amos a ver as coisas de maneira diversa, imagin"/
las de modo di#erente.
Hillman est" certo. -e isto muda nossas percep'+es ha%ituais, elas tam%m s$o, de algum
modo, li%ertadas de nossas interpreta'+es, caso isto nos leve a sentir os animais com mais
parentesco. Quando voc( sa%e *ue os tigres est$o desaparecendo, dei!ando o planeta para
sempre, como tam%m os ele#antes e as r$s, voc( come'a a prante"/los e a olhar ao seu redor
com um olhar di#erente. ;ejo duas pinturas como o%jetos rituais como se voc( estivesse se
enlutando pelos animais em desaparecimento à medida *ue elimina a completa presen'a #)sica
dos mesmos.
Margot mais ou menos assim. 9or outro lado, para apreciar completamente uma coisa, ser"
*ue ela tem *ue estar completamente e!postaN
Hillman Os sonhos #a&em isso o tempo todo. 9or esta ra&$o *ue #alo sempre de animais de
sonhos. B$o estou #a&endo um livro de sonhos de animais tanto *uanto voc( n$o est" #a&endo
pinturas naturalistas de animais. 4stamos am%os lutando com os #antasmas dos animais. Yaston
=achelard disse *ue a imagina'$o re*uer aus(ncia e de#orma'$o. Assim estou sempre
%atalhando o mais *ue posso em escrever so%re os sonhos e os animais entretanto, ao mesmo
tempo, mantendo tudo isto meio o%scuro, enigm"tico, misterioso. ento aprision"/los no papel e,
ent$o, os encorajo a #ugir.
Margot Hah Hah Hah 4u os persuado a entrar na pintura e depois os encorajo a
permanecer nela
6
INTRODUÇÃO
ADÃO E OS ANIMAIS
I – pg. 13
Bo princ)pio, Ad$o e os animas estavam juntos no Pden. 4sta uma das estórias mais antigas
e divulgadas na nossa cultura. A estória de *ue os animais passavam na #rente de Ad$o *ue dava
a cada um seus nomes. 4le olhava e via. 4le os reconhecia e di&ia seus nomes pela maneira das
suas #ormas à medida *ue rastejavam, passeavam e galopavam na sua #rente. 4le os reconhecia
e di&ia seus nomes à medida *ue peram%ulavam ou #ugiam, à medida *ue suas %ar%atanas ou
ra%os ?caudas estremeciam so% as "guas. 4le sa%ia *uem era cada um deles.
m dos o%jetivos deste livro resgatar o “olhar” de Ad$o, restaurar esta pro#unda a#inidade *ue
permite *ue os olhos vejam, olhar novamente o animal e en!ergar suas #ormas vivas para *ue
possamos corresponder/lhe com o @om da nossa intelig(ncia.
4les ainda aparecem noite após noite em nossos sonhos. 4les ainda pedem para *ue lhes
demos nomes. Ainda solicitam de nós uma resposta *ue pede reconhecimento das suas
espec)#icas nature&as individuais.
9or *ue nos procuram ao animaisN O *ue desejam ha%itando nossos sonhosN
-$o eles os “animais guardi$es” como diriam as culturas tot(micasN Aparecem para nos
lem%rar nossa a#inidade com elesN 9ara manter sua presen'a nos con#rontandoN 9ara de#ender/
nos, a nós e a eles, da e!tin'$oN alve& nos apare'am para *ue a própria cria'$o seja
perpetuada. -e assim #or, clamam por grande aten'$o, tal *ual lhes deu Ad$o no in)cio da estória
do mundo e agora, aten'$o para o *ue possa ser o #im desta mesma estória. 4les nos conclamam
a encontrar novamente o “olho” ?olhar de Ad$o.
B$o podemos sa%er o por *ue de aparecerem e o *ue desejam, mas prestar/lhes aten'$o.
9odemos conjecturar so%re o por *ue de entrarem em nossos sonhos e interpret"/los de acordo
com nossas suposi'+es. Mas estas interpreta'+es podem distorcer nossa percep'$o em especial
esta degradante cren'a de *ue eles aparecem em nossos propósitos su%jetivos, para compensar
nossas omiss+es, como se o animal do sonho viesse sugerir nossas emo'+es de calor ou medo,
de terror noturno ou de ternas lem%ran'as in#antis de amor. Qual a sua necessidadeN Qual a
ra&$o para virem ha%itar nossos sonhosN
alve& temam a perda do parentesco humano, de j" terem sido e!clu)dos da pró!ima arca ?de
Bo na *ual as realidade virtuais su%stituem o h"%ito da pantera ou o %rilho per#eito da arca de
um reprodutorN alve& temam *ue os deuses os tenham a%andonado e assim se trans#ormaram
numa tri%o sem lugar meramente um “pro%lema” ecológico para solu'+es administrativas e
caridosa compai!$o. Imagine <ompai!$o por uma "guia B$o podemos sa%er a ra&$o da
presen'a deles at *ue comecemos a cogitar.
<onhecemos os registros do e!term)nio. O reino animal desde os ha%itantes das cavernas at
@arRin nas Yal"pagos e Melville nos %aleeiros n$o e!iste mais. Inseticidas repousam nas #olhas.
Bos verdes montes da T#rica os ele#antes s$o sacri#icados pelas suas presas.
Bo mundo %ranco do Trtico, os ursos polares crescem em meio ao li!o dos turistas. Ansiamos
por uma restaura'$o ecológica do reino, o *ue imposs)vel. ;$os e sentimentais, estes anseios
contradi&em nossas religi+es *ue n$o colocam os animais com @eus, mas, sim, com @eus nos
coloca a nós. 4stes anseios contradi&em nossa #iloso#ia %iológica *ue a#irma *ue os humanos
est$o no topo da ordem hier"r*uica do desenvolvimento. <ontradi&em, tam%m, nossa economia
*ue re#or'a nossa preda'$o natural. Ainda assim, a restaura'$o um no%re anseio por*ue
agasalha
sonho. um impulso
Beste utópico,deimpulso
mundo utópico *ue pode,suas
“lugar nenhum” ainda, ser esatis#eito
almas as nossas no se
enclave privado
encontram do
como
imagens. 4 nós n$o somos mais su%stanciais, n$o mais #isicamente colocados nem mais presos
no tempo, em sonhos, *ue suas apari'+es.
O sonho uma arca na *ual todas as #ormas vivas de acordo com suas espcies podem
en#rentar o cataclisma e o cataclisma uma realidade m)tica *ue parece convincentemente real
na virada do sculo. <ataclismas e salva'$o, enchentes e arcas, caminham juntos. O *ue *uer
*ue a mente imagine, ru)na ou esperan'a de salva'$o, torna/se imagem. -empre *ue nos
voltamos para os animais, no interesse deles, os imaginamos v)timas de a%usos cruis,
%rutalmente massacrados ou à %eira da e!tin'$o.
7
Assim, este livro trata tam%m das #antasias do #im do mundo e da e!tin'$o das espcies vivas
por acidente nuclear e envenenamento planet"rio, na medida em *ue ele trata dos anseios da
salva'$o do mundo e da sua %ele&a.
=ele&a, realmente, pode ser a chave. -er" *ue os animais nos aparecem para *ue possamos,
ainda, perce%er a %ele&a de suas #ormas vivas, talve& mesmo para salvar a %ele&a *ue os olhos
deles en!ergam primeiroN <omo *ue um animal reconhece outro se n$o pela sua apar(ncia
estticaN P um #enmeno esttico *ue um animal nos diga *uem , como #e& com Ad$o para *ue
ele pudesse conhecer seus nomes.
Os animais
#orma tam%m
viva. am%m devem uma
e!i%imos ter conhecido Ad$o. Bós
imagem ps)*uica. seres humanos,
9odemos ser “lidos”somos, cadacavalo
como um um, uma
l( o
seu cavalheiro *uando ele caminha em dire'$o à cavalari'aX como os le+es no picadeiro do circo
“l(em” o seu domador seu humor, seu passo, seu cheiro. -omos, cada um de nós, um livro
a%erto para os animais, para os olhos animais. 4specialmente para nossos animai&inhos de
estima'$o *ue podem avaliar nossos estados de Enimo antes mesmo *ue deles tenhamos no'$o.
=ichinhos de estima'$o eram, no mundo romano, chamados de “#amiliares” ?parentes. Os
animais de estima'$o n$o s$o apenas pare da #am)lia maior mas s$o )ntimos o%servadores
#amiliares da nossa apresenta'$o inconsciente na vida domstica di"ria. 4les #oram os primeiros
psicanalistas. -er" *ue esta a ra&$o psicológica para a domestica'$o de c$es e gatos, de
p"ssaros e porcos, vacas, ele#antes, ca%rasN Os animais poderiam #a&er/nos conscientes de nós
mesmos.
4les n$o necessitam de palavras para revelarem/se, mutuamente, suas nature&asX eles n$o
usam nomes. Quem s$o est" declarado na sua apar(ncia. -$o reconhec)veis por causa da sua
%ele&a à despeito das "rduas e tolas tentativas em convert(/los com testes e adestramentos, às
nossas no'+es de reconhecimento como de#inidas por s)m%olos lingS)sticos. 9ara cada um deles
e para o “olhar” de Ad$o, s$o completamente reconhec)veis, simplesmente, pela %ele&a de suas
imagens. Quando est$o em nossos sonhos os animais comunicam imagem para imagem.
9ara ler um animal, para ouvi/lo, se re*uer uma percep'$o esttica para a *ual a psicologia
ainda precisa treinar seus sentidos. Ainda preciso *ue se encontrem mtodos de o%serva'$o
alm da linguagem la%oratorial e dos paralelos humanoides nos relatos de tra%alhos de campo. A
9sicologia necessita de palavras *ue n$o sejam moralismos alegóricos ou met"#oras como
porcaria, maca*uices e a%ra'os de urso, cadelas e viadagem, pom%as e #alc+es, alm da
met"#ora simplista, alm de tentar alcan'ar o signi#icado do animal.
4m lugar disso , a psicologia precisa desco%rir o olho animal do homem da caverna encarando
seus muros, esta percep'$o esttica *ue responda ao signi#icado e ao poder da #orma e!i%ida.
4sta resposta come'a, primeiro, como propicia'$o, como aprecia'$o. Bos sentimos gratos *ue
o animal esteja l", *ue se dei!e admirar, *ue seja um poder contido dentro de um sonho e *ue
sua visita seja uma restaura'$o momentEnea do Pden.
<omo o canto de um p"ssaro *ue se ouve e *ue cessa, como o ra%o de um es*uilo contraindo/
se e se esticando at desaparecer, como um pei!e *ue%rando a super#)cie e repentinamente
sumindo agora voc( os v( e agora voc( j" n$o os v(. 4ste o modo do aparecimento deles,
presentes como imagens e dei!ando seus rastros como imagens. 4 esta a maneira da história
deles por*ue todos #oram vistos e todos est$o desaparecendo.
B$o desaparecendo dos nossos sonhos. Besse pe*ueno Z eterno momento do sonho e após,
na variedade de lem%ran'as, h", nas imagens, uma copresen'a srcinal de humano e animal.
Quando nos apresentamos ao animal, Ad$o est" l". 4 l" tam%m est" 4va, e estamos todos no
Jardim do Pden do *ual, ao contr"rio de nós, os animais nunca #oram e!pulsos.
O Jardim ?do Pden uma nature&a m)tica. 4le n$o pode ser encontrado por devotos
dogm"ticos cavando na lama da erra -anta à procura de locais literais. ma nature&a m)tica
onde todas as coisas naturais s$o tam%m m)ticas e onde o mito se apresenta como nature&a,
onde o natural e seu nome, porco natural e porco sim%ólico, n$o podem ser separados em
categorias. Isso onde cada criatura sustentada pelo mito do seu imagin"rio *ue tam%m a
sua nature&a, cada uma, de acordo com sua espcie.
Assim, este livro recoloca uma espcie de pensamento arcaico chamado pela Antropologia
#rancesa de “a mentalidade primitiva”.
Yostar)amos de ver n$o só o animal restaurado à emin(ncia na mente humana, mas, tam%m,
a mente humana restaurada à sua alma animal, a este partilhado e indiviso n)vel de sermos
sim%oli&ados pelo Pden. Pden signi#ica mente primordial. Isto anterior às #iloso#ias posteriores
8
divididas em e!)lio do jardim ?do Pden e a tentativa de justi#icar o a%andono do animal em #avor
da marcha humana para o progresso.
4ste livro #ala tam%m no g(nero de solu'+es empestiando nosso tempo e distraindo nossas
pai!+es com jogos com%ativos entre componentes contendores.
4le #ala de g(nero ?se!o n$o literal e diretamente, mas de maneira sutil e m)tica so%re
companheirismo e acasalamento. As guerras entre espcies servem apenas para continuar nosso
centramento humano, a#astando/nos de uma comunh$o mais ampla. <ulpam/se os #racassos
humanos pela perda do parentesco e se di& *ue o va&io *ue os humanos sentem deve ser
preenchido por outros
próprias espcies. humanos.
4n*uanto O padr$o do das
nos es*uecemos g(nero
maisnos mantm #echados
primordiais dentro
rupturas nas de nossas
rela'+es com os
animais, mais pro#unda a culpa com a #antasia monoteista de um criador *ue n$o tinha e n$o
necessitava uma companheira e para *uem o se!o era apenas um pensamento secund"rio.
Quando Ad$o estava no Pden, algo surpreendente ocorreu após ter, ele nomeado os animais.
A pró!ima #rase da história %)%lica di& *ue Ad$o precisava de uma companheira. 9or *ue o
despertar desta insatis#eita solid$o aconteceu nesta #aseN 9or *ue Ad$o n$o necessitou de uma
companheira antes de nomear os animaisN
<ertamente os animais des#ilavam perante ele aos pares como se apresentavam a Bo por*ue
e!istem di#eren'as na apar(ncia de machos e #(meas tanto nas aves, nos aracn)deos, nos alces,
pei!es tropicais e mesmo em le+es e ele#antes di#eren'as em tamanho, cor e atri%utos
decorativos.
9ara identi#icar cada espcie, Ad$o tinha *ue ver am%os os se!os.
Assim,
animal o *ue Ad$o
composta viu nos di#eren'as
de v)vidas animais, n$o #oi os
entre apenas
pares*ue h" di#erentes espcies mas *ue a vida
?casais.
Ao nomear os animais Ad$o se distanciou de uma identidade com @eus para uma
apro!ima'$o, uma a#inidade com eles. Ad$o reconheceu sua )ntima su%jetividade nas imagens
dos animais *ue caminhavam perante ele e assim pode sa%er seus nomes. -e 4va era a
personi#ica'$o desta nature&a )ntima, tendo sido moldada da costela dele, ent$o ela talve& #osse a
vo& interior de Ad$o *ue conhecia os nomes dos animais. @e *ual*uer modo, 4va tinha uma
a#inidade muito mais pro#unda com a nature&a animal por*ue podia conversar com a serpente.
Assim, podemos compreender a ra&$o de @eus tra&er os animais para *ue Ad$o os nomeasse.
4ste @eus *ue era t$o poderoso e t$o s"%io n$o podia, 4le próprio, nome"/los. B$o podia por*ue
n$o era animal e n$o tinha companheira. @eus #e& isso com completa seguran'a de *ue sua
nature&a nunca deveria ser con#undida com a nature&a animal, inspirando Moiss a a%ater cerca
de tr(s mil adoradores do %e&erro dourado *ue haviam su%stitu)do uma imagem animal pela sua
invisi%ilidade.
suprema A ruptura entre
transcend(ncia n$o opartilhava
animal eum
o divino
reino #oi
com esta%elecida
os animais para a eternidade.
e deste 4ste @eus
modo n$o poderia de
sa%er
seus nomes. -omente Ad$o ?e a pr/#orma'$o de 4va *ue partilhavam a vis$o animal, poderiam
ler suas imagens como um entre eles. 4, para sempre, após a designa'$o os humanos se
reconhecem primariamente atravs do animais e n$o somente no espelho de um deus solit"rio e
invis)vel.
A idia de *ue nos reconhecemos atravs dos animais aparece repetidamente em teorias da
origem da consci(ncia. Alguns povos di&em *ue antigamente os animais detinham todo o
conhecimento e o transmitiram a nós. 4les nos ensinaram todas as coisasF como construir
a%rigos, escalar, nadar, pescar, ca'ar, o *ue comer. Bo princ)pio eles tinham a linguagem e o
conhecimento do #ogo, mas nos presentearam estes dons com sua caridade inata do mesmo
modo *ue d$o seus corpos para assegurar nosso alimento. Outros di&em *ue o auto/
conhecimento humano come'a nas cavernas *uando nossos antepassados pintaram as paredes
com imagens animais #a&endo o primeiro movimento do[apenas literal6 para o[tam%m imagina6.
H" tam%m teorias assegurando *ue o *ue os seres humanos de#inem como [consci(ncia6
come'a somente *uando nos separamos dos animais. 4sta a ra&$o pela *ual #omos o%rigados
a nos retirar do Pden e dei!"/los para tra&.
Os mitos arianos e europeus eno%recem um herói/cultural como Hrcules *ue mata uma %esta
após outra, desta maneira separando a racionalidade humana da sua primordial a#inidade com os
animais. O imagin"rio crist$o re#or'a esta separa'$o. A pintura e a estatu"ria religiosas mostram
Maria, -$o Jorge e outras valentes #iguras de virtude esmagando um animal. Assim, eles s$o
colocados como “o outro” ou “o inimigo” e mostrados como %estiais, %rutas, pecadores,
materialistas e mecEnicos. 4stas descri'+es #ilosó#icas e teológicas nos d$o o direito de us"/los
9
segundo nossos propósitos alter"/los geneticamente para nosso alimento, us"/los em nossas
e!peri(ncias de pes*uisa, adestr"\los para nosso divertimento e e!termin"/los para nosso lucro.
4 depois, h" a idia de *ue nunca podemos perder nossa heran'a animal mas *ue podemos
entrar e sair dela como #a&em os !am$s em estado de transe ou após longo treinamento ou
simplesmente pegando vara, molinete e ri#le, contemplando p"ssaros e seguindo trilhas. ma ve&
*ue nos movamos pró!ima e cuidadosamente em dire'$o a eles, tudo retorna. A consci(ncia
humana despertada ao nos voltarmos para eles em %usca de aprendi&ado.
Algumas idias ainda mais misteriosas en#ati&am nosso parentesco inato. A #iloso#ia
homeop"tica
a%andonados peloconsidera os animais[&oologia
Ad$o primordialF como interiori&ada
caracter)sticas de tra'os em
se trans#orma humanos
#isiologia*ue #oram
#isiologia
e!teriori&ada se trans#orma em &oologia6. Os animais s$o nossos órg$os humanos andandoX
nossos órg$os s$o espcies animais interiori&adas. Ad$o pde nomear os animais em ra&$o do
seu conhecimento )ntimo com sua própria #isiologia e psicologia. 5$s e sapos representam a pele,
eles suam e se ru%ori&amX crust"ceos, os mem%ros, at mesmo seus olhos s$o como caulesX
co%ras o aparelho digestivoX pei!es, a estrutura ósseaX insetos, o sistema nervoso vegetativo, da)
sua sim%ologia com a vida vegetal.
4spcies superiores como macacos, gatos e alces s$o representa'+es &oomór#icas da psi*u(
humanaX seus humores e h"%itos. Os macacos, por e!emplo, s$o todos como m$os, mesmos eus
ra%os. =alan'ando, arrumando, agarrando, descascando, co'ando, %rincando, / eles s$o nossas
ha%ilidades manipulativas e!teriori&adas. Yatos s$o vigias, ovelhas seguidores, cavalos
orgulho e no%re&a. O *ue est" nos animais e!i%e nosso próprio interior, assim, estud"/los, propicia
maior auto/conhecimento. "%ulas animais como as contadas por 4sopo s$o um g(nero universal
para instruir as crian'as à respeito de si próprias.
Baturalmente, como sempre, as vis+es propiciadas por estes contos s$o para o aprendi&ado
humano. ;oltamo/nos para os animais em nosso %ene#)cio próprio. 9essoas civili&adas, como eu,
parecem incapa&es de evitar nossa som%ra cultura *ue maltrata os animais e nos coloca,
arrogantemente, n$o apenas no cume da cadeia alimentar mas moral e psicologicamente
superiores e deste modo, cegos para a som%ra *ue de#orma nossa vis$o em rela'$o a eles.
B$o o%stante, estas idias provenientes de v"rias tradi'+es a#irmam a pro#unda a#inidade dos
humanos com os animais. O *ue #a&emos a eles, #a&emos a nós mesmos e vice/versa. odos
participamos, como os velhos padres da igreja #oram o%rigados a admitir, do *ue eles chamaram
“a maneira animal de gera'$o” ?concep'$o. Isto *uer di&er *ue os seres humanos, como os
animais, s$o tam%m celulares, se!uais, sensitivos com peles e!ternas e glEndulas internas,
cheios de l)*uidos, carregados com )ons. @o mesmo modo *ue partilhamos o planeta e seus
elementos, partilhamos tam%m estruturas genticas e um campo ps)*uico.
O terreno comum a todos nós, in#orma, su%liminarmente, a nossas almas o *ue se passa na
alma deles. alve&, esta compreens$o nos chegue pela o%serva'$o do seu comportamento, talve&
por meio de imagens, talve& atravs dos sonhos, por*ue nos sonhos os muros de separa'$o se
tornam transparentes. 4m%ora opacas para nossas mentes em estado de vig)lia, muitas espcies
de seres a%rem passagens em nossos sonhos e tocam nosso conhecimento. A compreens$o *ue
temos dos animais n$o clara nem distinta e certamente n$o completa, mas a in#orma'$o nos
o#erecida por eles *uando nos antenarmos sonhando.
A compreens$o *ue assimilamos e tradu&imos em nossa linguagem humana de acordo com
e!peri(ncias humanas an"logas condenada pelos rigores da ci(ncia o%jetiva como
“antropomor#ismo”, termo cunhado durante o auge do materialismo racionalista e usado, para
negar a compreens$o das espcies entre si.
A ci(ncia estrita di&F j" *ue os animais n$o podem e!pressar sua personalidade atravs da
linguagem, mostrando o *ue se passa em suas mentes, n$o podemos assumir *ue eles tenham
personalidades, vida interior
conjecturas su%jetivas. B$o h"ouevid(ncia
mentes. O *ue *uer
o%jetiva *ue *ue
nos lhes atri%uamos
permita s$o animais
garantir aos nossas estados
próprias de
consci(ncia humana. O medo cient)#ico de *ue no antropomor#ismo separa o mundo humano do
reino animal. 4ste medo tam%m nos condu& a descon#iar de nossas vis+es e intui'+es,
colocando uma maldi'$o na empatia.
A menos *ue se antropomor#ise, estamos destinados a entender a ca%riola de um cavalo n$o
como sua alegria mas como nossa proje'$o, o uivo de um c$o n$o como seu desespero mas
como nossa identi#ica'$o sentimental com sua s:plica, a agita'$o de um racoon ?*uati numa
armadilha n$o como seu medo mas como nossa própria claustro#o%ia e vitimi&a'$o.
10
O antropomor#ismo pode li%erar os animais da condi'$o *ue h" muito chamamos “muda” ? por
causa da nossa própria surde& e nos livrar da pris$o da nossa su%jetividade. O antropomor#ismo
reconhece *ue humanos e animais participam de um mundo de signi#icados. Bós podemos e
compreendemos uns aos outros à despeito das #iloso#ias arrogantes *ue preservam a consci(ncia
como propriedade humana e!clusiva.
Assim, este livro, caminha destemido para o antropormo#ismo. alve& seja melhor pecar em
#avor de uma doutrina ancestral de uma participa'$o m)stica com todas as criaturas ?tam%m nós
como criaturas do *ue manter as ilus+es de o%jetividade. Alm do mais, em nossos sonhos, os
animais v(m e v$o, teorimor#i&ando nossas vidas humanas. 4les nos compreendem sem
palavras, sem ci(ncia, sem dados e!perimentais. 9rovavelmente tam%m aparecemos em alguns
sonhos deles como o #a&em t$o #re*Sentemente nos nossos. 9or *ue n$oN
A presen'a do animal num sonho, restaura a nude& de Ad$o, os desenhos cr>pticos das
paredes das cavernas, estes momentos da lem%ran'a a%or)gene *ue apresentam as variedades
da alma animal. Baturalmente os di#erentes animais apresentam estilos e #ormas de vitalidade, de
modo *ue alguns digamF “As imagens animais representam instintos. 4les representam nossa
%estialidade e primitivismo”. Mas isto n$o verdade. 4m primeiro lugar n$o s$o nossos nem nós.
B$o inventamos estas imagens, n$o preparamos sua chegada ou gerenciamos sua autonomia
*uando apareceu. 4m segundo lugar por*ue n$o s$o meramente imagens de animais, pe*uenos
desenhos %i/dimensionais, #antasmas e som%ras, mas imagens como animais.
Bo sonho o animal nos mostra *ue a imagina'$o tem mand)%ulas e patas *ue pode nos
acordar à noite, aterrori&ados, em pEnico e nos levar às l"grimas. 4stes animais a%rem nossa
compreens$o para o #ato de *ue de *ue as imagens s$o #or'as demon)acas. O m)nimo *ue
podemos o#erecer/lhes a*uele respeito primordial do homem das cavernas desenhando/os na
escurid$o, #aces voltadas para as paredes, o respeito de Ad$o considerando/os t$o intimamente
*ue viu a nature&a espec)#ica de cada um. Becessitamos cavernas maiores e aten'$o cuidadosa.
4nt$o, eles podem se apro!imar e nos contar tudo so%re si próprios.
11
UMA CORA NÃO ! UM S"MO#O
II – pg. $%
Muitas ve&es inicio um RorWshop so%re imagens animais com a co%ra. A co%ra #unciona como
um encantamento li%erando as pessoas de suas no'+es insidiosas do sim%olismo das co%ras e,
em conse*S(ncia, do sim%olismo dos animais em geral.
A pergunta *ue #a'o mais ou menos estaF “<omo voc( entende a imagem de uma co%raN”
“O *ue signi#ica uma co%raN” “Qual a sua interpreta'$oN” <ompilei e condensei as respostasF
1 A co%ra renova'$o e renascimento por*ue ela muda a sua pele.
8 ma co%ra representa a m$e negativa por*ue ela se enrosca, se enrola e te engole inteiro.
K P a corpori#ica'$o animal do mal. 4la astuciosa, evasiva, sinistra, tem a l)ngua em #orma
de #or*uilha e amaldi'oada por @eus, maldi'$o *ue a #a& se arrastar so%re sua %arriga por
causa do *ue #e& a Ad$o e 4va. O livro das 5evela'+es di& *ue a serpente o próprio demnio.
] P um s)m%olo #eminino tendo uma rela'$o de simpatia com 4va e deusa em <reta, ^ndia,
T#rica e muitos outros lugares.
3 A co%ra um #alo por*ue enrijece, levanta sua ca%e'a e ejeta #luidos da sua e!tremidade.
Alm disso penetra em cavidades.
V ela representa o mundo material terreno e como tal inimiga universal do esp)rito. Os
p"ssaros a guerream
D A co%ra na nature&aum
um curandeiro, e osremdio,
heróis na cultura.
e nós ainda a vemos nos logotipos das #arm"cias.
4ra guardada nos tempos de cura de AsWlepios na Yrcia e um sonho com co%ras representava a
própria vinda de um deus para curar.
L P uma guardi$ de homens santos e s"%ios mesmo o Bovo estamento di& *ue as
serpentes s$o s"%ias.
2 A co%ra tra& #ertilidade por*ue encontrada em po'os e #ontes e representa o elemento
#resco e :mido.
17 ma co%ra a morte por causa do seu veneno e pela ansiedade instantEnea *ue causa.
11 P a verdade mais interior do corpo como os sistemas nervosos simp"tico e parassimp"tico
e como o poder de serpente da Ioga _undalini. 4sta a ra&$o pela *ual a so#isticada medicina
popular entre os nativos americanos, sul/asi"ticos, chineses e a#ricanos, por e!emplo, con#iam em
partes do corpo das serpentes como remdios.
18 A co%ra o s)m%olo para a psi*u( inconsciente particularmente a li%ido introvertida, a
energia interna *ue vai e vem. -ua sedu'$o nos condu& à treva e à pro#unde&a. P sempre
“am%as”F criativa e destrutiva, macho e #(mea, venenosa e curativa, seca e :mida, espiritual e
material e muitos outros irreconcili"veis como a #igura de merc:rio.
4sta 18` interpreta'$o da co%ra a%range todas as outras on&e e as trans#orma todas em
passos de um programa no *ual a co%ra est", #inalmente, e!plicada no passo #inalF a psi*u(
inconsciente.
O *ue #oi, realmente, dito por este :ltimo termo *ue n$o melhor dito pela própria imagem, sua
#ascinante, l)ngua tr(mula, seu chocalho, seu silvo, seu %ote r"pido, sua escamada e %rilhante
pele, seu enroscar e mover/se de lado, o pVanico crescendo, su%itamente pela vis$o delaN
9or *ue dever)amos trocar uma imagem viva por um conceito interpretativoN -er" *ue as
interpreta'+es s$o uma de#esa psicológica contra a presen'a de um @eusN em%remo/nosF
muitos dos deuses, deusas e heróis gregos tinham a #orma de uma co%ra 0eus, @ion)sio,
@emtrio, Atena, Hrcules, Hermes, Hade, mesmo Apolo. -er" *ue se insere em nosso terror da
serpente a resposta “apropriada” de um mortal para um imortalN
9or e!emplo, uma co%ra negra aparece num sonho, uma enorme co%ra negra. ;oc( pode usar
um hora inteira de terapia com esta co%ra negra #alando so%re a m$e devoradora, #alando so%re
ansiedade, so%re se!ualidade reprimida e todas as outras propostas interpretativas *ue, nós,
terapeutas, #a&emos. Mas o *ue permanece após toda a compreens$o sim%ólica F “o *ue esta
co%ra est" #a&endo”, esta rastejante, enorme e negra co%ra escorregando para dentro de sua
vidaN Bo momento em *ue voc( captou a co%ra numa interpreta'$o, voc( perdeu a co%ra. ;oc(
interrompeu o seu movimento vivo. 4nt$o, a pessoa sai da consulta terap(utica com um conceito
12
so%re “minha se!ualidade reprimida” ou minhas #rias e negras pai!+es” ou “minha m$e”/ e n$o
est" mais com a co%ra. A interpreta'$o aplaca a palpita'$o emocional e a incerte&a mental *ue
surgiram com a co%ra. @e #ato, a co%ra j" n$o mais necess"riaX ele #oi e!pulsa, com sucesso,
pela interpreta'$o. ;oc(, o sonhador, n$o necessita mais da co%ra e #orma o h"%ito de tam%m
n$o mais necessitar sonhar uma ve& *ue os sonhos j" #oram interpretados. O signi#icado toma o
lugar da imagemX o animal desaparece na mente humana.
H" v"rias maneiras de conservar a co%ra por perto. 4la pode ser imaginada como uma
presen'a sentida, com a *ual se conversa, ela pode necessitar ser alimentada e a%rigada, pintada
e modelada. 4la pode ser honrada com gentile&as como lem%r"/la v"rias ve&es durante o dia
“#a&endo alguma coisa por ela” um gesto #)sico, acender uma vela, comprar um amuleto,
desco%rir o seu nome. 4la pode ser apro!imada de nós por visuali&a'$o, sentindo sua pele e sua
#or'a. Assim a imagina'$o toma o lugar do signi#icado e a mente humana se doa à presen'a do
animal.
4ste o tra%alho psicológico e imaginativo de “anima'$o da imagem” devolvendo à co%ra uma
alma/viva *ue poderia ter sido dela removida pelo seu desejo de compreend(/la. A co%ra pode
n$o ter nenhuma o%je'$o em ser compreendida. 4la pode estar contente de *ue voc( consulte
livros so%re rpteis, por uma #uga& visita ao 0oológico para admirar co%rar *ue voc( leia antigos
mistrios so%re serpentes. Mas o *ue *uer *ue voc( #a'a, primeiro consulte a co%ra para *ue
voc( n$o a insulte seguindo seu próprio plano sem reconhecer a chegada dela à sua vida. 9or*ue
a sua chegada uma convoca'$o para distrair suas inten'+es de voc( mesmo, ao menos,
parcialmente, em #avor dela.
Animar a imagem esta a tare#a hoje. A tare#a n$o mais uma *uest$o de conte:dos
sim%ólicos dos sonhos. H" mais de cem anos atr"s reud nos levou de volta às tradi'+es antigas
do sim%olismo e às velhas tradi'+es do signi#icado dos sonhosX ent$o Junge e!plora estes
sim%olismos e signi#icados mais ampla e pro#undamente.
Mas ent$o, am%os, reud e Jung #i&eram um movimento *ue n$o *ueremos mais repetir.
Am%os tradu&iram as imagens dos animais em signi#icados sim%ólicos cristali&ados. 4les n$o
permitiram *ue o *ue aparecia se e!pressasse o %astante mas prosseguiram satis#a&endo a
racionali&a'$o e muitas ve&es com medo o pensamento di"rio da mente.
“Isto *uer di&er a*uilo”. Mesmo o mtodo junguiano de imagina'$o ativa *ue anima a imagem
n$o para o %ene#)cio da aluna do animal, mas para a aluna do sonhador.
“9regando e se contorcendo na parede” disse <. -. 4liot so%re o mtodo moderno de
tratamento da mente. A imagem de 4liot sugere a %or%oleta da psi*ue incapa& de voar ao
encontro de rótulos diagnósticos e signi#icados interpretativos.
ma ve& *ue voc( tenha tradu&ido a grande co%ra na sua #antasia, ou inveja do p(nis, ou *ue
voc( a tenha tradu&ido num s)m%olo materno, a Yrande M$e, voc( n$o necessita mais da imagem
e voc( permite *ue a imagem diga apenas uma coisa, uma palavra, por e!emploF “Yrande M$e”.
4nt$o ela desaparece. ;oc(, realmente, n$o *uer mais a*uela co%ra negra voc( *uer tra%alhar
o seu comple!o materno, mudar sua personalidade, e assim por diante. Mas isto ainda dei!a a
alma inanimada, *uer di&er, sem vida. As imagens n$o est$o caminhando com suas próprias
pernas. oram trans#ormados em signi#icados. <omo disse algum so%re Junge, o seu principal
mito era o mito do signi#icado. 4nt$o vamos tenta r a%andonar o signi#icado e a %usca do
signi#icado e o signi#icado da vida, para assim nos atermos à imagem animal.
4m nossa ansiedade por signi#icados conceituais ignoramos a %esta ?animal atual. J" n$o
estamos pasmos pelos seus #eitos nem curiosos so%re sua presen'a por e!emplo, *ue uma
co%ra desloca seu ma!ilar para engolir um animal maior *ue ela própria, *ue o seu aparelho
digestivo #unciona sem mastiga'$o, sem dentes, moela ou %olo alimentar, como um peristalsis
r)tmico *ue pressiona sua re#ei'$o contra sua espinha dorsal esmagando sua presa em uma
polpa digestiva. Ou, por e!emplo, o #ato de *ue a sua pele descart"vel depois de escamar parece
continuar escamando ?mudando.
;idas sem sentido anseiam por sentidos e os psicólogos alimentam a #ome de sentido com a
presen'a viva dos animais. <lientes como carn)voros devorando a carne dos seus animais de
sonho para satis#a&er sua gulodice por conhecimento. Ou ser" *ue nós, psicólogos, nos
trans#ormamos em ta!idermistas desentranhando a co%ra, recheando/a com conceitos, e
preservando/a com um cuidadoso signi#icado #i!oN
13
CONSIDERANDO O CAMUNDON&O DOM!STICO
III – pg. 31
@evemos com%ater a idia de *ue um animal representa uma #un'$o “:nica” e eu pedirei ao
camundongo para empreender esta luta. A idia da #un'$o :nica di& *ue os roedores roem,
ovelhas mastigam ervas, %urros %rincam lascivamente entre si e gol#inhos s$o ajudantes gentis.
4sta maneira de interpretar animais segue um velho mtodo alegórico. Yregório de M>sso, um
padre da Igreja do sculo I; e!plicou *ue um ser humano como uma cole'$o de animaisF / Bos
trans#ormamos em sapos atravs da lu!:ria, a%utres atravs da crueldade e tigres atravs da ira.
<ada animal se torna um rótulo para uma emo'$o espec)#ica ou caracter)stica humana.
4sta uma velha idia mas muito atual. Ainda hoje muitos escritos so%re sim%olismo animal
redu&em espcies animais em espcies de instintos humanos. -e estivermos demasiado a#astado
da <omunidade ou demasiado identi#icados com ela, teremos sonhos com ovelhas, revelando
nossa rela'$o com o “instinto do re%anho”. -e o pro%lema “poder” ele se mostrar" em sonhos
como le+es ou "guias. -e o pro%lema a “m$e”, ent$o sonhos com ursos e assim por diante.
<omo escreveu reudF
/ “Animais selvagens s$o, em regra, empregados pelo “tra%alho do sonho” para representar
impulsos apai!onados dos *uais o sonhador t(m medo... m pai detestado e temido
representado por um animal predador ou um c$o ou cavalo selvagem,,,
Muitas das %estas *ue s$o usadas para representar s)m%olos genitais na Mitologia ou no
#olclore, assumem o mesmo papel nos sonhos como por e!emploF pei!es, caracóis, gatos,
camundongos ?devido ao p(lo p:%ico. “Macaco” e nomes de animais s$o usados, em geral, como
insultos”.
O camundongo como p(lo p:%ico Ba verdade Muitos escritores ainda v$o alm em degradar
os animais com suas próprias #antasias se!uais. 9or e!emplo, ilhelm -teWel, um antigo e notório
psicanalista, interpretava o sapo como um :teroX animais :midos e escorregadios como caracóis e
r$s como e*uivalentes do p(nis. A pulga tam%m um #alo por*ue viva&, atrevida, agressiva.
4rnest Jones, %iógra#o e admirador #an"tico de reud, concluiu *ue “as crian'as muitas ve&es
devem sua primeira e!peri(ncia de atividade se!ual à vis$o de uma cópula animal... 4nt$o os
animais se prestam e emprestam para a representa'$o individual de desejos crus e sem rdeas
?incontrol"veis.”
odo este #riehantismo em cavar os signi#icados de presen'as animais nos sonhos humanos,
nunca permite *ue os animais se apresentem como s$o. 4les s$o re%ai!ados a uma simples
#un'$o, usualmente se!ual, enjaulada dentro das repress+es humanas e aparecem nos sonhos
para compensar nossa inade*ua'$o instintiva ?instintual. 4stas interpreta'+es os colocam dentro
de nós e nunca nos condu&em para dentro do animal. 4 a interpreta'$o sim%ólica negligencia o
humor de cada estilo animal. "%ulas, desenhos animados, %rin*uedos e contos in#antis, no
mundo inteiro, como tam%m ensinamentos dos m)sticos e antepassados, mostram *ue cada
animal divertido, engra'ado de se olhar e instrutivo mesmo como %rincadeira.
<onsideremos o camundongo domsticoF ele n$o tem, meramente, uma #un'$o singular e a
sua imagem num sonho n$o , meramente, uma representa'$o sim%ólica desta #un'$o. Isto nivela
o camundongo #a&endo sua incurs$o no sonho demasiado compreens)vel. 4ntrar “dentro do
camundongo”, dentro da imagem de cada espcie de animal, tenta #a&er justi'a ao rico e completo
ser *ue cada animal com suas intricadas e adaptadas maneiras de comer, desenvolver/se,
alimentar/se, mover/se, sua colora'$o e olhar, sua geogra#ia. <ada animal n$o apresenta apenas
um modo de so%reviv(ncia e auto/preserva'$oX ele tam%m mostra modelos de de#esa, estilos
repetitivos e o%sessivos de patologia e maneiras de o%servar o mundo atravs de sentidos
especiais e intelig(ncia. <amundongos n$o roem apenas, eles escutam. 4 eles s$o lindos.
-e voc( se coloca dentro do camundongo, voc( pode #icar l" sentado, *uieto como um
camundongo escutar o mundo, suas pe*uenas tonalidades, seus sussurros. 4, para #a&er isto,
voc( tem *ue #icar muito pró!imo e ainda assim escondido, cada m:sculo vivo e parado e
“muscle” e “mouse” s$o primos etimológicos. B.. ?B$o vale para o 9ortugu(s muscle e mouse
n$o s$o, em nossa l)ngua, primos etimológicos. ;ivo e parado para n$o inter#erir com o *ue est"
acontecendo, os sons, os odores, n$o chamando aten'$o para voc( mesmo. Atenta,
intensamente, voc( segue regularmente por*ue voc( pode sucum%ir impedindo uma #uga
histrica ?do camundongo se con#rontado por um gato ou uma co%ra.
14
4m seu pe*ueno dorso cin&ento tendo em mente *ue carregam doen'as... 4les tra&em peste,
ti#o, enterite severa, leptospirose, tularemia. re*Sentemente tra&em “salmonelosis” e in#e'+es
viróticas, tam%m terr)veis doen'as propagadas atravs de #ungos... 4 a lista acima n$o est" , de
modo algum, completa”.
Assim, a esposa do #a&endeiro, corta duas caudas com #ac$o, en*uanto a senhora da cidade
pula so%re uma cadeira para *ue ele n$o invadam suas saias e o lautista de Hamelin livra toda a
aldeia de seus roedores e tam%m de sua juventude. At o ele#ante conhecido pelo medo *ue
tem de um camundongo su%indo de sua trom%a. Medo de penetra'$o, invas$o, rou%o, doen'a.
B$o de admirar *ue o camundongo caminhe t$o rapidamente, t$o pe*ueno, t)mido, aterrori&ado.
4le tra& a amea'a do desconhecido, do oculto su%mundo e do invis)vel outro mundo, para dentro
da co&inha dos lares onde reinam os deuses domsticos da co&inha, desde =astet do Antigo
4gito, nosso gato comum. 4ste peludo gato gordo e %igodudo, no seu con#orto egoc(ntrico,
necessita de voc( como presa, necessita de voc( para seu eterno jogo de pega e larga para
manter suas garras a#iadas e seus instintos acordados após a lEnguida sonol(ncia. 4 assim voc(s
-rta. Minnie e -r. MicWe> ?B.. camundongos de alt @isne> devem se manter vigilantes toda
noite e se satis#a&er com so%ras, restos e o *uer *ue se apresente para sua modesta co%i'a.
<uidado em n$o aprisionar o camundongo do sonho em teorias de repress$o se!ual *ue ele
n$o se re#ira aos seus ocultos desejos noturnos. enha cuidado tam%m para n$o aprision"/lo em
teorias de compensa'$o #uncional, ou seja, de *ue ele apare'a em seus sonhos para lem%r"/lo do
*ue voc( n$o est" mas deveria estar #a&endo. 4stas teorias, am%as colocam o camundongo ao
seu servi'o. 4m lugar disso, preste aten'$o nele apenas como aparece. Olhe suas atitudes.
<ontemple/o . Ao se colocar na imagina'$o do animal, voc( pode salvar o #enmeno das teorias.
4sta #oi, a#inal,
ordenou a preocupa'$o
a constru'$o da arca. de @eus, salvando
O mundo o #enmenosuas
poderia su%mergir, oucidades,
o nmenoN pela
#lorestas *ual 4lee
plan)cies
todo o seu povo desaparecer, e!cetuando a #am)lia nuclear de Bo. Mas o *ue deve so%reviver de
tudo isto, s$o as sementes da <ria'$o, os animais.
15
URSOS 'O#ARES
I( – pg. 3)
@urante um de meus itinerantes semin"rios so%re sonhos animais, uma mulher me relatou este
sonhoF
/ “4u estava voando num avi$o pilotado por meu marido. G medida *ue ele pilotava eu
apreciava a paisagem l" em%ai!o. 4nt$o eu lhe disseF / vejo um urso polar so% um pouco de "gua
l" em%ai!o.
urso meu
polar com algomarido continuouum
mais #ormando a pilotar. 4nt$omomento,
!is. Beste olhei na tela
meudo radar e/ l"
maridoF estava
9enso *ueregistrado
vou dar o
uma olhada. 4 retrocedeu com o avi$o at *ue vimos novamente o urso polar sentado so% a
"gua”/
Muitos sonhosZanimais me #oram passado por escrito em RorWshops e enviados pelo correio
por colegas, para serem adicionados à minha cole'$o. Isto n$o *uer di&er *ue estes sonhos
devam ser interpretados por mim. B$o podem ser. B$o conhe'o os sonhadores e suas situa'+es,
nem conhe'o as ocasi+es precisas em *ue estes animais os visitaram. B$o dou consultas
interur%anas esotricas ?B. . 7277 / N. 4u meramente coleciono os sonhos para estudar
comportamento animal. Meu tra%alho com estes sonhos mais de ecologia ps)*uica *ue de
psicoterapia. Assim, minha preocupa'$o n$o com o *ue%ra/ca%e'a apresentado pela sonhadora
e seu marido no avi$o, mas com o enigma do urso so% a "gua. -e tenho alguma inten'$o
terap(utica a de ajudar o urso, compreend(/lo e tra&er suas inten'+es o%scuras, atravs do
mundo dos sonhos, para o mundo real *ue todos compartilhamos. 4ncaro todos os sonhos como
pertencentes, primeiramente, às #iguras neles contidas. Beste caso, principalmente, o urso.
4m%ora se diga *ue o sonho pertence ao sonhador, pois no caso ela teve este sonho e o
escreveu, devido *ue este urso seja “dela”. 4m lugar disso gosto de #ingir *ue o urso a ocasi$o
para o sonho e mesmo para transmiti/lo dela para mim e de mim para voc(s. 4u me conce%o,
como um comunicador catalista, conectando o animal ao mundo humano, ou digamos, nestes
sonhos de ursos polares, sou o agente deles.
Admito ignorar completamente a mulher a mulher e o seu caso para poder desco%rir mais
so%re o *ue acontece no sonho e como o urso polar se en*uadra nele. B$o posso relacionar o
urso com nenhum dos pro%lemas da mulher. udo o *ue posso #a&er colocar indaga'+es ao
sonho e l(/lo como uma imagem inteira. Quero di&er, olh"/lo escutar suas palavras e repetir suas
#rases para *ue talve& possa ouvir as implica'+es meta#óricas na imagem. 9or e!emploF *uando a
sonhadora est" voando e sendo pilotada pelo marido ?com *uem ela associada e por *uem est"
sendo condu&ida ela olha para o mundo a%ai!o como um cen"rio. O cen"rio consiste na "gua
onde
radar se
doencontra o urso
avi$o. Bo avi$opolar.
eles O #atouma
t(m do urso evoca o a%strata,
consci(ncia comandoFmesmo
“olha”. O
seurso aparece
altamente na tela de
sensitiva,
capa& de en!ergar dentro d6"gua. @e #ato, a tela do radar mostra um urso duplicado, talve& um
re#le!o dele mesmo, *ue leva o marido a pensar, a mano%rar o avi$o e olhar. 4sta -egunda
inspen'$o como “re/inspencionar” o urso. O movimento da m"*uina voadora revertido. O #ato
do urso altera o rumo do casal.
O urso polar se registra como um U, sinal convencionado para uma *uantidade desconhecida
*ue deve ser deci#rada por dedu'+es do pensamento. Ba verdade o urso se registra como dois
Us, por*ue o sonho di&F o urso polar aparecia na tela do radar com algo mais como dois Us. P ele
um urso trai'oeiroN em um duplo signi#icadoN Ao menos podemos di&er *ue est" *uali#icado pelo
n:mero dois. 4!iste algo maisF / um segundo urso, um urso na som%ra, um urso #antasma. P o
segundo plano do urso, este segundo pensamento *ue #a& o marido atentar e retroceder com o
avi$o.
4nt$o,
"gua. 4st"o sentado,
*ue *ue eles v(m
parado, *uando
como lan'am
tam%m aindao sentadoN
segundo olharN O urso ainda
4st" esperandoN sentado
9edindo so%ser
para a
testemunhadoN
ma lenda judaica di& *ue cada espcie animal tem uma correspondente na "gua. -er" *ue
este urso polar so% a "gua n$o a*uele *ue n$o entrou na arca e est", ainda, aguardando
resgateN 9or *ue o urso se senta parado en*uanto o avi$o se moveN Qual a rela'$o entre uma
tela de radar na m"*uina, voando na altitude, e o animal, l" em%ai!o, de%ai!o d6"guaN Quem
este urso e por *ue o casal o est" vendoN
Outro sonho com urso polar de uma mulher na casa dos K7 anos.
16
/ “m urso polar me persegue. 4stou aterrori&ada e tento #echar uma porta para mant(/lo do
lado de #ora. m homem vai atr"s do animal e ent$o eu vejo o urso voltar #erido. 4le #oi atropelado
por um carro e tem o om%ro #erido e sangrandoX torcido. <on#uso, ele #ica olhando para o
#erimento. -into pena e estou angustiada com este acontecimento. 4u n$o o *ueria machucado.
Apenas *ueria *ue ele n$o me #erisse. “
O sonho e!i%e um tema #amiliar na imagina'$o humanaF persegui'$o por uma animal. Quando
a persegui'$o ocorre, devemos sempre perguntarF somos perseguidos por*ue corremos ou
corremos por*ue somos perseguidosN Benhuma se*S(ncia casual necess"riaF %astante sa%er
*ue #uga e persegui'$o caminham juntas.
Assim, no sonho, o urso polar persegue por*ue est" “atr"s dela” signi#icando *ue ela est" na
#rente, corre dele, #echando a porta contra o animal *ue vem em %usca dela.
Qual*uer coisa *ue venha a voc( num sonho, *uer ?deseja voc(, tem uma inten'$o *ue pode
n$o ser a*uela *ue voc( lhe atri%uiF sa%emos o *ue o urso *uerN
<omo o urso corre atr"s dela, um homem annimo corre atr"s do urso. Isto resulta no urso
sendo #erido, ensangSentado e con#uso ?por um carro tal a #or'a do homemanVonimo nesta
psi*u( e tal a #or'a do ve)culo de sua dire'$o. Isto con#unde o animal. O urso polar #ocali&a seus
#erimentos. -ua capacidade para om%rear 2a%rir caminho #oi #erida ?est" #erido no om%ro. O
*ue se inicia com persegui'$o e terror se trans#orma, após o #erimento, em reconcilia'$o.
5econcilia'$o atravs da dor. <omo o animal est" #erido, ela est" angustiada. alve& a dor tenha
a%erto a porta entre eles. O homem *ue vai atr"s do urso n$o est" mais no sonho e nenhum
#igurante est" indo mais atr"s de outro.
m terceiro
contraste entre sonho
o avi$ocom ursoepolar
voando vem
o urso de so%
polar umaamulher
"gua e mais velha. -e
no segundo umno primeiro
cho*ue sonhoentre
doloroso h" um
carro e animal, neste terceiro sonho o animal est" completamente só, nem m"*uinas, nem seres
humanos, um so#rimento solit"rio.
/ “;ejo um grande e #orte urso polar, %rilhando de %ranco e parado na mais long)n*ua #ronteira
de sua terra, um ponto de gelo e neve no cume do polo, de #rente para a "gua congelada e a&ul.
4le se e*uili%ra nas patas traseiras, ereto, ca%e'a erguida, o nari& apontado para o cu. -uas
patas dianteiras rasgam o ar com ang:stia. Olhando/o, reconhe'o *ue est" no #im da sua
esperan'a na %usca da companheira e da cria e chama em agonia terr)vel e poder in:til.”
=rilhando de %ranco, na mais long)n*ua #ronteira da terra, no #im da esperan'a, no topo do
pólo, ereto e apontando para o cu, este urso, com todo o seu poder neste lugar, est" em agonia.
B$o por*ue esteja sendo ca'ado ou #erido mas por*ue neste lugar mais e!tremo n$o pode
encontrar sua, companheira e sua cria, ele est" so&inho. Yrande, #orte, e ainda assim in:til. Que
terr)vel ang:stia est" rasgando o ar deste sonhoN O *ue deve ser ouvidoN O *ue a sonhadora e
tam%m nós estamos testemunhandoN
4stas tr(s sonhadoras s$o americanas. B$o creio *ue tenham rela'+es emp)ricas com ursos
polares. B$o s$o ca'adoras, e!ploradoras ou &oólogas. B$o s$o es*uimós nem turistas *ue j"
estiveram na %a)a de Hudson. 4stou %astante certo de *ue nunca leram as lendas de ursos ou
estudaram !amanismos. B$o creio *ue elas conhe'am a Bature&a -agrada do Animal %ranco no
#olclore de tantos povos em muitas partes do mundo.
@uvido, seriamente, de *ue a mulher em cujo sonho o urso %ranco uivava pela sua
companheira e cria, tenha lido a “História dos Quadr:pedes”, livro ilustrado de homas =envich do
sculo U;III onde se l( *ue entre os ursos polares o amor pelas crias t$o grande *ue eles
a%ra'am seus #ilhos ao m"!imo e se os lamentam com os mais #ungentes gritos.
Ainda assim, ursos polares apareceram nestes sonhos e com grande #or'a.
Quando, com um pe*ueno grupo iniciei o estudo de sonhos com animais, esperava #a&er
algumas
dos desco%ertas.
sonhadores, 9ensava
ao menos *ue poderia
dedu&ir alguns,sertentar
capa&conclus+es
de correlacionar
so%re certos pro%lemas
#re*uenciais, t)picos
sintomas,
g(nero ?se!o, idade e a) por diante. @igamos *ue eu esperava desco%rir atravs destas coletas
emp)ricas, juntamente com *uestion"rios respondidos por sonhadores, a espcie de dados *ue
poderiam levar a pronunciamentos como a*ueles *ue encontramos em antigos livros de sonhos.
4!emploF *uando voc( v(, no seu sonho um urso polar, voc( vai se res#riar, ou vai #icar so&inho ou
ter a sua vida amea'ada e da) por diante. 4u esperava #a&er da pes*uisa do sonho, uma arma :til
para diagnóstico e prognóstico e ajudar a interpreta'$o a se tornar mais cient)#ica. 4m lugar disso,
desco%ri uma estra nha lacuna entre a pes*uisa do sonho e a sua interpreta'$o, entre a
psicologia e!planatória cient)#ica e uma psicologia de compreens$o imaginativa. P como a lacuna
17
entre o mundo diurno e o mundo noturno. Bo mundo diurno tentamos indu&ir constEncias de
muitos casosX no mundo noturno, como di& Her"clito, cada um se volta para sua alma particular e,
ent$o, a imagem animal e a mente sonhadora se encontram.
B$o conseguimos preencher a lacuna entre a pes*uisa de dados e a interpreta'$o dos sonhos
e nossa pe*uena e*uipe #racassou, nos dois lados da lacuna, n$o somente em rela'$o à ci(ncia
mas em rela'$o às interpreta'+es por*ue, em%ora tivssemos sonhos de mont$o, n$o t)nhamos
sonhadores e a interpreta'$o sempre, direcionada à pessoa. 4m lugar disso, tivemos animais.
@este modo nos encontramos num terceiro terreno. Bos trans#ormamos num %ando de
naturalistas rastreando pegadas em imagens, o%servando comportamentos e ha%itats animais,
nos tornamos atra)dos n$o somente para o sonhador, #echando portas contra o urso, mas tam%m
pelo marido *ue voa com a mulher so%re o urso e pelo homem *ue vai atr"s do urso.
4u #i*uei mais e mais preocupado com os animais do *ue com os sonhadores. 4u partira de
pes*uisa cient)#ica emp)rica e terapia pr"tica em #avor do conservacionismo um cuidado
#enomenológico de imagens animais, resistindo, por um lado, o *ue #ossem tradu&idos em
signi#icados pessoais.
@este modo o resultado #inal desta pes*uisa veio da luta com o mtodoF com a supress$o do
sonhador, a terapia e as teorias so%re o *ue representam e sim%oli&am os animais, nós
poder)amos tentar olhar o sonho sem os preconceitos do mundo centrado dos humanos. <ada
animal apresentava a comple!idade de uma imagem. 4les se tornaram representa'+es orais de
uma “poiesis” imaginativa, do *ue Junge chama de psi*u( o%jetiva. -implesmente l", como uma
vaca no seu pasto, uma tra'a no seu arm"rio.
Mesmo alm da #enomenologia nós n$o sa%)amos ainda mas est"vamos no caminho para
outra espcie de “tra%alho com sonhos”, uma apro!ima'$o essencialista acontecendo numa
imagem. Os animais nos condu&iram para esta a%ordagem preenchendo sua antiga #un'$o de
pro#essores, como se #ossem eles os essenciais do sonho, cada um ess(ncia em si mesmo e
ess(ncia da sua espcie.
;amos conhecer outro sonho com urso polar, desta ve& o sonho de um homemF
/ “4stou ca'ando um %ranco urso polar num lugar muito deserto e #rio. a'o es#or'os para
mat"/lo. @epois de v"rias tentativas mal/sucedidas, o urso polar e eu nos tornamos amigos. @evo
#a&er notar *ue em%ora a atmos#era #osse de completo e puro #rio eu n$o estava usando
agasalhos. @e repente estou me a#ogando em meio de um lago e meu irm$o e o urso assistem a
tudo da margem. Bem sei como o urso %ranco come'a a nadar e salva a minha vida”/ .
Quando voc( ca'a para matar o urso %ranco voc( est" num lugar deserto e #rio e voc( ca'a
para matar o urso. -urpreendentemente n$o o irm$o *ue nada para salvar sua vida mas o urso.
O urso e o irm$o est$o ligados, assistindo juntos. O urso, , talve&, mais *ue um irm$o, pelo
menos na capacidade de salvar a vida do sonhador. O urso polar *ue ele estava #a&endo tanto
es#or'o para matar ?por*ue assim *ue ele tenta matar o urso, #a&endo es#or'os salva sua vida.
H" di#iculdades de matar o urso, mas, ainda assim, a tentativa leva/os a uma a#inidade amig"vel
de ca'ador e ca'a. 4 este sonhador #a& notar *ue n$o usa a prote'$o do agasalho. Agora *ue ele
e o urso est$o em termos amig"veis podemos assumir *ue o sonhador tem o seu próprio calor
internoN O urso polar com sua gordura e p(lo como um !am$ dos climas #rios *ue gera “tapas”
?join, tumo ?i%etan ou calor de neve derretida e assim ele pode parir ?dar nascimento a jovens
em%ri+es, pe*uenos, nus, desco%ertos na poca mais #ria do ano *ue janeiro. “A*ui
desmoronam e!plica'+es causais e teológicas... O car"ter essencial dos ursos est" e!presso pela
completa independ(ncia da sua #orte nature&a meta%ólica”. P o *ue di& o %iólogo ol#gang -chad.
4 -chad di& ainda *ue eles s$o capa&es de desaparecer do espa'o e suspender o tempo, as
atualidades ou realidades do espa'o circundante, so%revivendo somente da #or'a do seu
meta%olismo ? recursos internos e parindo suas invi"veis e n$o adaptadas crias *ue con#iam na
nature&a essencial
-e #ssemos com a *ualentre
antropólogos s$o os
dotadas.
povos do <)rculo 9olar Trtico o ha%itat dos ursos polares
sa%er)amos *uem s$o estes ursos de sonho. 5econhecer)amos neles esta #igura chamada de
animal guardi$o, o -enhor dos Animais *ue ele ou ela próprios um animal e *ue mais *ue um
protetor da ca'a, mas *ue um ancestral tot(mico ?o grande urso %ranco como Av ou Avó nada
menos *ue uma suprema #igura divina em #orma de animal e como di& Ivan 9aulsen “entre as
mais antigas teo#anias na vida religiosa da humanidade”.
;amos ent$o supor *ue estes grandes ursos %rancos sejam imagens sonhadas da divindade
e!pondo alguma coisa em algum lugar distante ?desrtico na #ronteira da terra so% a "gua e
apresentando aos sonhadores os dilemas, agonias, isolamento, tran*Sila paci(ncia e
18
potencialidades redentoras do *ue Jung chamou de “instinto religioso”. Yerardo von der eeR, o
grande #enomenologista da religi$o, di& *ue o princ)pio *ue @eus *uer signi#icar em primeiro lugar
no mundo todo a e!peri(ncia de um 9oder. 5udol# Otto de#iniu o sagrado como o “Outro
-agrado” um tremendo e envolvente poder. Isto com%ina com o urso polar por*ue ele o maior, o
mais perigoso, o mais #orte e inteligente de todos os carn)voros.
Baturalmente, um urso mais *ue um instinto religioso. m ha%itante das regi+es "rticas *ue
compartilha com os ursos o mesmo vasto território, di#icilmente #alaria deles como “instintos”.
Mesmo assim, este ha%itante seria capa& de sentir a cone!$o interior e sangS)nea com o urso
polar *ue a palavra “instinto” implica para nós. Bós e estes povos, interiori&amos os deuses de
modo di#erente nós, mais por conceitos psicológicos. 4les mais por uma participa'$o m)stica ou
parentesco sim%ólico.
Alm de toda interiori&a'$o do urso tra&endo isso “dentro” e tomando sua imagem como uma
potencial representa'$o da nossa própria personalidade est" o urso. Alm do instinto, alm da
teo#ania, est", #inalmente, o esp)rito li%erto do grande urso %ranco, em cada um destes sonhos,
clamando, mesmo suplicante, ser ouvido, ser visto. <omo =eemot ?B. . o hipódromo do ivro
de Jó este tremendo animal *ue tra& toda a discuss$o para uma conclus$o no #inal do livro de Jó,
o grande urso %ranco #rustra a compreens$o humana. Ainda assim, como =eemot *ue a =)%lia di&
?Jó, ]7/13 *ue @eus criou no mesmo momento em *ue criou os homens, o animal “tremendum”
pode ser um irm$o co/igual e co/eterno.
CA(A#OS E *ER+IS
( – pg. ,)
A delicade&a, a gentile&a, isto o *ue nós, #re*Sentemente, perdemos capturados como
#icamos com os cascos %arulhentos, os #lancos musculosos, de um "ra%e galopante, pesco'o
distendido, orelhas eri'adas ao vento.
Mas lem%rem/se da delicade&a dos l"%ios de um cavalo, suas pestanas, seu pesco'o, os
ossos de suas pernas, a do'ura do seu cheiro no est"%ulo, as #ocinhadas.
Bo seu poema “A =en'$o”, *ue trata destes animais, James right escreveuF “-ua longa
orelha delicada como a pele *ue envolve o pulso de uma mulher”. 4 ha%ituados como estamos
com cavalos pu!ando arados, pu!ando carro'as como animais da carga, es*uecemo/nos do
*uanto, eles pertencem ao elemento etreo como se todos os cavalos tivessem asas, voando
atravs do vento, ra%os ondeados, largas narinas #rementes, o ar penetrando seu interior
&unindo, relinchando, palpitando, estrondeando, res#olegando, se distanciando.
Os jovens heróis dos mitos gregos cavalgavam seus cavalos no ar. =ellerophon no 9gaso,
9hbethon condu&indo a carruagem de seu pai do -ol. Hipólito cavalgando para sua morte. B$o
podiam controlar seus cavalos e se destru)am.
O sim%olismo, usualmente, liga o cavalo à terra e ao mar. 9ara 9ossadon, o rei do marF as
ondas como a crina do cavaloX sua con#ian'a de garanh$o como seu poder sem #imX seu casaco
como a m"gica da #ertilidade. Quando esta #or'a selvagem perce%ida numa mulher, o cavalo
demoni&ado como a semente. ?B. . signi#icando s(men do %ru!o ?ou %ru!a, o pesadelo, o
pEnico louco de uma #uga.
4m%ora os cavalos possam ser de carga, de #a&enda, condu&indo seus #ardes de civili&a'$o,
os cavalos de sonho condu&em ainda heróis como cavaleiros nas imagens de sonho e nos mitos
invis)veis *ue acompanham estas imagens.
<ru&ados e con*uistadores, mongóis e humos, #iis maometanos cavalgando para converter as
vastid+es do mundo "ra%e. Apaches no Ari&ona, ganchos na patagnia, a cavalaria avan'ando
nas terras nativas seguida pelo <avalo de erro ?trem nas trilhas #errovi"rias toda a e!traordin"ria
con*uista da distEncia percorrida no lom%o de seu cavalo.
Heróis e salvadoresF 9aul 5evere, o e!presso 9one>, os 5ough 5iders ?B. . cavaleiros
dur+esN de edd> 5oosesevelt, as vigorosas #ugas de reis e rainhas. ashington, ee, -heridan
est"tuas de homens de %ron&e, nos par*ues, montando cavalos de %ron&e. Os cavalos de
Bapole$o arrastando o material de um e!rcito atravs da 9olnia at Moscou, suas carca'as
r)gidas na neveX e os cavalos de Hitler, milhares, carregando a ermarcht no seu dorsoX John
a>ne, <lint 4astRood, eon Mi!, 5o> 5ogers, one 5anger...
19
4 ainda assim eles tam%m nos carregam como =roncos, 9intos, Mustangs, 9acers e <oets
?B. . personagens de #aroeste, o poder oculto so% a crina. Mesmo passeando nos gramados,
par*ues, campos de gol#e, continuamos “cavalgando cavalos”.
4ste poder do cavalo ainda tra& a morte inesperada nos caminhos e estradas da noite, para
tantos rapa&es como Hippol>to, 9hbeton e @iomedes, este #ilho de marte o m)tico rei da <racia
cujos cavalos lhe comeram a carne humana. 9or*ue a semente *ue pode t$o #ortemente carregar
a vida, condu& esta mesma vida ao seu #uneral na solene prociss$o do cavalo sem cavaleiro. ? B.
. em%rei/me *ue esta sim%ologia #oi usada em 12VK no #uneral de John . _enned>.
MasMas
e oesta
seu mistrioN
a parte mais #"cil àdo
O mistrio respeito
cavalode cavalos.
*ue Isto ser
pede para o dispensado
sim%olismo de
e acarregar
história do cavalo.
o herói na
sua garupaN 4 o *ue pensar do cavalo da alma em cujo pesco'o um garoto se pode reclinar e
chorar sua solid$o e #alar de seus desejos secretosN 4 o *ue di&er do cavalo escovado, penteado
e amado por uma mo'a, com pai!$o mais devotada *ue *ual*uer pessoa rece%e em *ual*uer
lugarN
;oc( j" se preocupou com um cavaloN J" sentiu a saliva dele em suas m$os, tratou da sua
cólica, sentiu sua paci(ncia ao ser #errado, levou/lhe "gua numa manh$ de inverno e ouviu sua
l)ngua sug"/laN ;oc( j" teve *ue a%ater algumN Ou sonhou com um cavalo #eridoN
@entro de sua e!trovers$o voluntariosa e coragem no%re este galope atravs dos continentes e
sculos, marcando a migra'$o de civili&a'+es, com suas con*uistas e retiradas, dentro deste
impulso heróico repousa a delicade&a, alguma coisa interna e t$o invis)vel *ue só os sonhos
parecem capa&es de recordar.
5ituais do
hero)smo conhecidos como “o sacri#)cio
cavalo, marcando do cavalo”
a separa'$o o%jetivam
entre cavalo li%erar
e herói. esta
4stes invisi%ilidade
rituais dentro
s$o a parte di#)cildoe
surpreendem com o seu “pathos”.
9or e!emploF *uando =uda tomou o caminho do ascetismo, dispensou o seu cocheiro e n$o
teve mais #un'$o para seu cavalo _anthaWa. 4sta separa'$o do seu amo, partiu o cora'$o do
cavalo e ele morreu de triste&a. Assim, tam%m, =uda se livrou do seu poder “cavalar” *ue n$o
era mais necess"rio. Ba estatu"ria %udista, _anthaWa lem%rado como uma pe*uena #igura de
cavalo #iel, pró!imo ao grande =uda sentado, o cavalo redu&ido a uma pot(ncia menor, na
constela'$o de imagens do %udismo.
O grande sacri#)cio do cavalo hindu, remonta ao *uarto mil(nio A . <. m rei con*uistador,
permitia *ue um cavalo premiado cavalgasse livremente para postar acompanhado de um %ando
de jovens guerreiros. O território co%erto pelo cavalo, trans#ormava/se nas pastagens do rei. O
cavalo representando a energia li%idinal sem limites de e!pans$o. Quando este animal tivesse
vagado pela terra pelo ciclo completo de um ano estendendo sua cavalgada de con*uista
aventurosa at onde desejasse e escolhesse, era, ent$o, novamente condu&ido à casa. 9ara ser
sacri#icado com os ritos mais ela%orados e solenes.
ma ve& *ue o rei estivesse esta%elecido, o e!pansionismo *ue o levara ao trono, j" n$o era
necess"rio. O caminho da con*uista n$o o mesmo da governan'a ?governo. m @eus ou
ve)culo animal sustenta a am%i'$o, en*uanto outro deus ou ve)culo animal mantm o *ue #oi
con*uistado. Assim, reis tal como reis, s$o, muitas ve&es, apresentados como le+es, ele#antes,
touros e "guias, o *ue *uer di&er, como supremos senhores de consist(ncia mais do *ue heróis
con*uistadores. 9elas suas montarias, voc( pode lhes reconhecer o car"ter.
Isto nos leva a marte, o deus da guerra. ;oc( ter" notado *ue o cavalo na estória Hindu est"
acompanhado por uma guarda de honra de guerreiros. O sacri#)cio romano do <avalo de Outu%ro
torna esta rela'$o entre cavalo e con*uista ainda mais e!pl)cita.
A cada ano, no dia 13 de outu%ro, no <ampo de Marte, #ora dos muros da cidade, um cavalo
era sacri#icado por uma carga de dardos, para honrar Marte. Yeorges @um&il, estudioso da
religi$o it"lica primitiva, colecionou te!tos e e!plicou os ritos e suas ra&+es. ratava/se sempre de
um cavalo vencedor, por e!emplo, o cavalo principal de uma %riga vencedora. 9or *ue um cavalo
vencedorN 9or*ue Marte o próprio deus da vitória e da #or'a. 4, segundo a e!plica'$o de
9entarco ?5omau Questions, 2D “-acri#icamos aos deuses as coisas *ue apreciam e *ue
tenham cone!$o com eles”. Ou seja, marte gosta de cavalos por*ue tem a#inidade com eles.
Baturalmente =uda tinha *ue se separar de _anthaWa por*ue desistir do cavalo signi#icava,
tam%m, a%andonar o caminho material.
Bos sonhos, cavalos tam%m s$o cuidadosamente a%atidos, algumas ve&es es#olados, levados
à morte com um tiro, sangrados no pesco'o, enterrados numa cova.
20
O sonhador #ica chocado, temendo pela sua própria vida, como se a morte do cavalo acenasse
para a morte de sua própria vitalidade, para a morte da energia vital necess"ria ao despertar e
viver cada dia.
-er" *ue estas imagens de agonia *ue o cavalo suporta em sonhos pertencem
verdadeiramente ao cavalo ou est" ele sendo sacri#icado pelo seu heróico amo, o sonhador, *ue
n$o pode desistir de suas am%i'+es e!pansionistasN
A psicologia al*u)mica ensina o “sacri#)cio do cavalo” muito menos literalmente. 4la #a& uso do
ventre do cavalo “venter e*ui” como uma imagem de calor interior. A Al*uimia emprega met"#oras
de
eram#ogo para intensa
chamados concentra'$o
“tra%alhadores necess"ria
do #ogo”. à constru'$o
O valor dacavalo
da %arriga do alma. ?@e #ato, os al*uimistas
re#erindo/se à digest$o de
acontecimentos, gerando e incu%ando em lugar de e!plodir com t(mpera marcial. P um calor
interior, um #ogo contido.
Mais do *ue sacri#icar o cavalo ou dei!"/lo partir a #im de livrar/se da sua #or'a, a al*uimia
sugere entrar dentro do cavalo, como Jonas dentro da %aleia . Bós interiori&amos e contemplamos
a necessidade de avan'ar, de correr livremente, de temer, de vencer. 4m lugar de uma con*uista
livre e solta no pasto, voc( montado no cavalo com as rdeas nas m$os, voc( desmonta e se
coloca dentro do seu animal, guardado e agasalhado pelo seu calor.
A psicologia al*u)mica tam%m usa uma imagem de estrume de cavalo para este calor
introvertido. O tu%o de ensaio *ue contm esta matria psicológica sendo “processada” pode ser
mantido *uente, numa temperatura constante, ao ser enterrado no esterco animal. O calor est"vel
se re#ere a um lento e longo “#ocus” na vida da sua alma. ?B. . #ocus à propósito atim para
lareira, #ogo, #am)lia . O recipiente, ?tu%o de ensaio convida a olhar e ver atravs de a'+es para
suas imagens. 4sconder o material da sua alma numa pilha de esterco signi#ica prestar aten'$o
aos res)duos das necessidades e a'+es da sua “montaria”. ;oc( se torna consciente da
componente do esterco do cavalo, da sua #alta de rumo, das conse*S(ncias da vida pela *ual
voc( se apressa e galopa. 4n*uanto voc( co&inha lentamente nesta #ermenta'$o uma outra
espcie de preocupa'$o come'a a se #ormar.
@esta perspectiva do sacri#)cio do cavalo e de entrar dentro do cavalo em lugar de cavalg"/lo,
heroicamente, podemos olhar a estória do “<avalo de róia” contada na “Odissia”. Os gregos,
tiveram, muitas ve&es, malogradas suas tentativas para tomar róia at *ue constru)ram um
grande cavalo de madeira *ue os troianos, após muita discuss$o, levaram para dentro de suas
muralhas impenetr"veis como um presente para honrar os deuses. <omo todos sa%emos, o
cavalo de madeira era oco e dentro se colocaram os mais #ortes heróis gregos, *ue, uma ve&
dentro dos muros a%andonaram o interior do cavalo, sa*uearam a cidade, triun#aram.
-im, todos os sa%emos *ue o cavalo era oco. Mas por *ue os troianos n$o suspeitaram dissoN
-ua imagina'$o era limitada, eles ainda eram guerreiros, seu cavalo ainda n$o tinha sido
“sacri#icado”. Os gregos tinham levado a guerra para outro n)vel de %atalha, para a imagina'$o do
pico, de heróis para o regresso ao lar. @epois de de& anos de luta eles entraram “dentro” da sua
própria raiva marcial, sua própria necessidade de con*uistar. 4les tomaram róia de “dentro” e
n$o simplesmente de dentro dos muros, na verdade, mais meta#órica e imaginativamente. 4les
puderam imaginar um #im para a guerra o cavalo oco como imagem engenhosa do ato pensado.
4les penetraram na sua %arriga como em al*uimia.
Assim, róia caiu mas caiu para Homero. 4le con*uistou róia com a linguagem grega,
trans#ormando a %atalha em estória, inventando em poesia o *ue aconteceu ou n$o na verdadeira
História.
Mas para *ue isso acontecesse e para *ue a cultura se erguesse das ru)nas da con*uista, o
cavalo teve *ue ser, primeiramente, esva&iado, sua energia marcial teve *ue se trans#ormar em
imagem pica.
O RATO
I( – pg. %3
“;oc( um rato”. 4nganador, trai'oeiro, trapaceiro. @e #ato. “;oc(, rato sujo” “urtivo,
as*ueroso, mau e vil, ha%itante dos por+es, dos esgotos cheios de dejetos, das pilhas de li!o. O s
ratos #oram da Tsia para a 4uropa seguindo as tri%os invasoras e levando com eles a peste nas
pulgas e piolhos de seu p(lo. Onde *uer *ue a humanidade v", tam%m v$o os ratos. Bada
consegue a#ast"/los. -$o di#)ceis de capturar, di#)ceis de matar. ;ivem onde vivemos, em cidades
21
grandes, com #avelas populosas, como p"rias, vivendo do *ue jogamos #ora. G noite invadem as
ruas apressadas pelas sarjetas, comendo, reprodu&indo/se, escapando. Benhum pal"cio imune,
nenhuma muralha est" à salvo da incurs$o dos ratos. 4ste conhecimento )ntimo dos su%terrEneos
da civili&a'$o , precisamente, o trun#o *ue o rato possui.
O rato persistente e intenso. <omo o c$o terrier seu ca'ador, ele nunca desiste. Assim,
chamamos os a#iccionados o%sessivos de alguma coisacomo rato de "gua, rato de %allet, rato de
%i%lioteca. Benhuma no& dura demais para *ue eles a rompam. Bunca para de roer assim como
seus dentes incisivos nunca param de crescer.
Assim,*ue
rata&ana Yanesha, o %em/humorado
a%re *ual*uer deus/ele#ante
caminho, penetra atravs da
de ^ndia, est"coisa.
*ual*uer colocado no dorso
A rata&ana de uma
conhece as
cidades, tem a dinEmica das ruas.
ma jovial e agrad"vel dona de casa sonhaF “4stou indo tomar o metr de ondres e sou
seguida por um homem com cara de rato. enho medo e tento encontrar a escada rolante para
retroceder”.
O *ue este homem cara de rato poderia mostrar a ela para *ue n$o se retirasse mas
permanecesse em sua companhia no su%terrEneo do metrN alve& alguma coisa dos caminhos
la%ir)nticos, dos n)veis mais pro#undos da civili&a'$o humana.
Outro sonho em *ue a tran*Silidade domstica amea'ada por uma rata&ana vem de um
psicólogo de mais ou menos ]7 anos de idadeF “4stou voltando para casa. A lu& da #rente est"
apagada. 4ntro mesmo assim. -u%itamente apareceu rata&anas *ue saem de tr"s de alguma
coisa. B$o consigo ver de onde est$o vindo. ma pula no meu om%ro e acordo com um salto.
maA rea'$o violenta.
casa n$o 4stou
mais um completamente
porto seguro. desperto
A lu&/guiae em
da pEnico”.
entrada est" apagada. Alguma coisa
?guardada, empilhada, sem uso, separada para ser jogada #ora solta seus #antasmas. 5ata&anas.
-eria ele mesmo um desses ratos guardando alguma coisa dentro e #oraN O sonho di& claramente
*ue os ratos est$o vindo de tr"s de alguma coisa. Mas ele di& claramente *ue n$o pode ver *ue
coisa . A “lEmpada” dele tam%m deve estar apagada ou ele deseja negar o lugar de onde
procedeu os ratos.
O rato, no seu om%ro, *uer, realmente atingi/lo. 4le o acorda com um salto. -er" *ue isto nos
di& algo de :til so%re surtos de pEnicoN 9ode ser am%osF uma paralisia um despertar radical.
O animal no om%ro. Gs ve&es um macaco, um papagaio, a*ui um rato, se coloca no n)vel da
ca%e'a da criatura, paralela, igual. Agora voc( pode ter duas opini+es so%re algo, ver coisas com
outra perspectiva, com uma dupla compreens$o meta#órica.. ser" *ue este psicólogo necessita
despertarN -er" por isto *ue as rata&anas vem a ele, para ele, por eleN Mesmo *ue n$o possa
ver,m
agora podede
homem ouvir por*ue
grande o animal
#or'a no seue om%ro
de vontade est" juntotentou
%oa educa'$o, ao seu#a&er
ouvido.
nova carreira no
mercado imo%ili"rio. <omo corretor, ele n$o conseguia argumentar e n$o lograva #echar negócios.
Bum sonho apareceu/lhe uma #igura a *uem ele chamou “5ata&ana”. A primeira coisa *ue
5ata&ana lhe disse em conversa imagin"ria #oiF “;oc( n$o tem nari&”. ?#aroN rata&ana come'ou a
acompanh"/lo em visitas de negócios. <onversavam, no carro, antes *ue ele visitasse um imóvel.
Bossos homem principiou a encontrar respostas r"pidas *ue %rotavam dos seus l"%ios, para sua
surpresa, em lugar da “vaga conversa de vendedor”, *ue ele aprendera.
<ome'ou ent$o a evitar armadilhas ?ratoeiras preparadas para ele e mostrava os dentes
*uando con#rontado.
-o% a tutela de 5ata&ana, passava as noites estudando so%re &oneamento, regras de
constru'$o, leis imo%ili"rias e emprstimos %anc"rios. ?em%remo/nos de *ue os ratos s$o
usados na ci(ncia de tecnologia de ponta pela sua capacidade de aprender.
4le tam%m
con#ian'a come'ou
e tornou/se a crescer,
menos paranóicoprocurando
em rela'$oser umsempre
a ser pro#issional de primeira,
apanhado ganhando
e derrotado por todos.
Antes de se relacionar com rata&ana, eles apenas conhecia e#eitos inconscientes do rato, as
suspeitas som%rias dos outros, as d:vidas *ue o ro)am à respeito de si mesmo.
O rato n$o pode, realmente, ser colocado entre os animais heróicos, nem aparece nas religi+es
como “animal sacri#icial”. Apesar de tudo, ele tem uma participa'$o importante na astrologia
oriental onde o primeiro dos animais &odiacais e*uivalente ao nosso primeiro signo Tries, o
carneiro ?%ode. Que o ano ou *ual*uer ciclo comece com carneiro parece/nos evidente j" *ue
herdamos as tradi'+es ocidentais. O voluntarioso atrevimento do carneiro, seus grandes
test)culos, seu #ino e longo p(nis crescendo, seus olhos #endidos *uase enco%ertos, sua maneira
22
de aceitar um desa#io *uando investe contra o *ue *uer *ue encontre tudo isto pertence à
in*uieta investida da primavera, o novo come'o.
Mas come'ar com um ratoN Os !am$s coreanos di&em *ue ele “o totem da #or'a *ue coloca
o ano no seu curso, seu caminho”. 4videntemente se come'a com o rato, o “ano/novo” deve
apresentar/se e surgir astuciosamente dos su%te rrVaneos ou dos caminhos o%scuros,
inesperadamente. Bo princ)pio voc( n$o est" certo so%re o *ue realmente est" come'ando do
*ue realmente decad(ncia ?o *ue est" aca%ando. O rato sugere decad(ncia e vida juntas,
e!atamente como os ratos/co%aias de la%oratório mantm em seus corpos in#ectados e
grotescamente distorcidos, uma esperan'a de sa:de melhor e vida mais longa
4, como di& o “ditado”, *uando os ratos a%andonam um navio *ue a#undaN Os ratos #ogem
en*uanto o capit$o %ravamente a#unda com o %arco. -er" *ue o rato o traidor e o capit$o o
heróiN Ou ser" *ue o rato est" caminhando ao encontro de um novo come'o en*uanto o capit$o
vai ao #undo por*ue incapa& de mudar de dire'$oN
A deser'$o do rato tam%m o come'o de um novo ciclo. 4le se coloca ao lado da vida em
%usca de um recome'ar. 4m matria de so%reviv(ncia, o rato o mais ade*uado.
#E-ES E TI&RES
OU 'OR /UE E0ISTEM DOIS &RANDES &ATOS
(II – pg. %2
Ba grande ordem das coisas parece *ue deveria haver am%osF le+es e tigres. ma só espcie
de grande gato n$o poderia co%rir todo o território. A di#eren'a entre eles como passar do dia
para a noite. Ainda assim, automaticamente s$o muito parecidos. 4!ceto por uma pe*uena
varia'$o nos ossos #aciais e despojados de suas peles, suas carca'as pareceriam id(nticas ao
investigador comum. Mas n$o seriam id(nticos os casacos, os h"%itos e os ha%itats. Bem s$o
id(nticos na maneira como aparecem em nossos e no imagin"rio coletivo t$o di#erentes como o
dia e a noite...
Os le+es pertencem às padarias, aos terrenos claros e desco%ertos, às plan)cies da T#rica. Os
tigres pertencem às encostas co%ertas de vegeta'$o, às #lorestas e às %acias #luviais da Tsia. Os
le+es vivem em grupos chamados acuradamente orgulhosos. 4les ca'am em grupos. Os tigres
s$o solit"rios. Os le+es gostam de se manter secos e distantes das "rvores. Os tigres nadam e
muitas ve&es encontram suas presas em "guas pro#undas. 4les tam%m usam as "rvores. e+es
s$o monocoloridos, um amarelo castanho *ue o sim%olismo associa ao sol, ao ouro, e, a todas as
virtudes
pretoX heróicas
%ranco de indestrut)vel
e preto. -$o di#erenteso%stina'$o.
como o diaOse tigres
a noites$o listrados com contr"riosF laranja e
igres vivem ?ou viviam nas terras dos !am$s ^ndia, Indonsia, -i%ria, <oria e assim o
p(lo do tigre n$o veste heróis solares como Hrcules ou -ans$o. A pele do tigre ?como a dos seus
parentes m)ticosF pantera, leopardo e jaguar aparece como o assento cl"ssico ?tapete para os
jegues e homens santos, assim como o tigre ou a pantera condu&em a carruagem de @ion)sio,
senhor dos mistrios, e da mesma maneira o tigre aparece em pinturas asi"ticas, espreitando,
atr"s de %am%u&ais iluminados pela lua.
O jovem guerreiro %)%lico @avi ou um massai no _enia, mata um le$o como teste ?prova. 9or
outro lado as estórias 0en #alam de outro tipo de teste. O mestre n$o luta com o tigre. 4m lugar da
luta, ele entra no covil do tigre e os dois descansam e dormem.
Am%os, guerreiro e s"%io, necessitam entrar em contato com a grande Ensia carn)vora de viver,
*ue tam%m signi#ica encontrar a morte no caminho. 4stes grandes #elinos t(m a intensidade da
pai!$o #)sica. 4les desejam a carne por*ue s$o o desejo da carne. 4 por isto, imaginamos le+es e
tigres como “devoradores de homens”. Yostamos de apresent"/los na .;. em%oscando e
matando e depois #ocinhando nos sangrentos interiores de suas presas. O guerreiro, eliminando o
le$o, domina a*uilo *ue poderia domin"/lo e, deste modo, incorpora, em outro n)vel a #erocidade
do le$o. O uso da pele como agasalho ou para sentar so%re ela em medita'$o ?como shiva na
pele do tigre ou como tapete na sala de jogos, #a& com *ue homens e animais encontrem uma
nova sim%iose. O s"%io encontra esta uni$o com o grande carn)voro dei!ando *ue o tigre o
convide para entrar no covil e os dois descansam e dormem lado a lado. am%m @aniel passou
ileso uma noite na cova dos le+es ?@aniel V, 1LZ8K e Jernimo escreveu a =)%lia atina ?B..
;ulgata na sua cela mon"stica tendo aos ps um le$o adormecido.
23
Bo “ivro da -elva” de _ipling, o pe*ueno BoRghi caminha lado a lado com sua pantera
protetora uma heróica #antasia in#antil como conce%ida por _ipling. Mas em adi'$o às
mensagens coloniais do 5aj ?B.. dom)nio ingl(s na ^ndia de _ipling, o livro implica ainda uma
inicia'$o m)stica das linguagens secretas da nature&a. O estudo “Uamanismo” de Mircea 4liade,
di& *ue o tigre carrega em seu dorso o neo#ito e o condu& para o interior da selva, esta regi$o
meta#órica do desconhecido, a escurid$o, o outro lado. -egundo ele, o tigre era o mestre da
inicia'$o na Tsia <entral, da Indonsia e em outras regi+es.
ma jovem mulher sonha estar #ugindo, ladeira a%ai!o, tentando escapar de perseguidores
hostis. Outras pessoas, em sua companhia, mostram cavalos en*uanto ela monta um tigre. A
descida dela e dos outros di#ere. ?B$o somente ela escolhe o tigre em lugar do cavalo, mas
tam%m #avorecida pelo animal *ue, de outra #orma, n$o permitira *ue ela o montasse. <om
esta escolha impulsiva do ve)culo animal, esta mulher anuncia algo do seu destino, algo so%re
*ue divindade animal vai carreg"/la para terrenos mais %ai!os e *ue ela usar" em suas #ugas. 4m
sua psi*u( ela tam%m est" se “distinguindo dos outros” *ue usam montaria convencional.
4n*uanto o le$o toma o lugar do rei de Jud", do rei crist$o nas <ru&adas, do disc)pulo Marcos e
outros santos e mesmo do próprio <risto, o tigre parece contr"rio a esta no%re tradi'$o.
illiam =laWe escreveu no seu poema “O igre”F
“4m *ue #ornalha ?ou prova'$o estava o teu cre%roN A*uele *ue criou a ovelha te criou
tam%m para as #lorestas da noite.”
4ste poema implica em *ue o tigre traga consigo a treva. Assim o tigre carrega nossa som%ra
cultural, sinistra, e sua %i/colora'$o talve& seja o duplo representativo do “outro lado”.
<uriosocoloca
Ocidental tam%m *uemercurial
o signo a Astrologia <hinesa colo*ue
de Y(meos. o tigre como
-$o di#erentes no 0od)aco onde le$o
dia e noite, a Astrologia
e tigre,
como di& a iloso#ia <hinesa, t$o di#erentes e necess"rios como Cin e Cang.
9or*ue Cin acarreta “morte” de Cang, para a*ueles *ue seguem apenas o monocentrismo do
le$o, o tigre imaginado como um assassino particularmente cruel e mau. 4, #eminino Assim, em
nossas l)nguas de srcem europia, temos, em rela'$o às mulheres, e!press+es como “tigresa”
de pai!$o, de ci:me, de vingan'a.
4stranhamente, as distin'+es de se!o se relacionam a estes dois grandes #elinos como se
le+es #ossem machos ?em%ora como se sa%e as #(meas do le$o *ue cuidam da so%reviv(ncia
da #am)lia e tigres #ossem #(meas, Cin, noturnos, lunares e como o jaguar americano, inimigos do
poder/solar da "gua. O uso de g(nero ?se!o para dividir o mundo em opostos, o#usca o #ato de
*uem am%os #elinos le$o e tigre, s$o tam%m de am%os os se!os como insistiu Bo e estas
casuais eti*uetas psicológicas “masculino” e “#eminino” se trans#ormam em co%ertura para um
pensamento simpli#icado, #alsi#icando as implica'+es comple!as *ue os grandes #elinos tra&em
consigo.
odavia, a psi*u( separa os le+es dos tigres, como separa tam%m outros animais em rela'$o
ao se!o. ma ve&, vi uma crian'a desenhando seus pais como le$o e tigre. A m$e era o le$o.
4ste desenho era simular a dois outros tra&idos para discuss$o de casos, ao longo dos anos. 4m
um, o paciente se desenhou entre dois ele#antesF pai e m$e, mas a m$e tinha as presas. Bo outro
caso, uma menina pintou um sonho no *ual sua m$e era um lo%o e seu pai uma raposa. Bo
sonho de um homem, ele est" na sala de estar da #am)lia com seus pais. 4le perce%e, ent$o,
tam%m estarem l" um le$o e uma pantera, mas *uando isto ocorre, seus pais desapareceram.
-eriam o le$o e a pantera as almas animais de seus paisN -eria o altivo le$o o esp)rito de sua
m$e e a sorrateira pantera o esp)rito de seu paiN
A percep'$o in#antil como o sonho, muitas ve&es perce%e o *ue a mente consciente n$o v(. Os
sonhos e os desenhos mostram o *ue est" “por %ai!o”, e *ue a 9sican"lise chama de
“inconsciente”. ?A 9sicologia Junguiana diria *ue os sonhos e desenhos mostram a “anima” do pai
e o “animus” da m$e. Bestas circunstEncias a m$e perce%ida como pertencente à tri%o do le$o,
do lo%o e do ele#ante, en*uanto o pai visto como pertencente ao mundo mais tortuoso,
dissimulado e menos con#rontacional do tigre, da raposa, da pantera, da alia”.
-e a raposa considerada dissimulada, se o seu h"%ito de pre#erir caminhos sinuosos, sua
agilidade em passar atravs de a%erturas estreitas e se esconder em %uracos e a sua ha%ilidade
em tapear c$es e ca'adores ade*uadamente descrita pelos adjetivosF #urtiva, sa%ida, esperta,
astuciosaX isto na verdade um julgamento moral. 9ara nós estes termos signi#icam engano e
#raude como se todas as criaturas devessem olhar/nos diretamente nos olhos e caminhar pela via
estreita do esperado. alve& os valores *ue a raposa colo*ue em “dissimulada” como o tigre em
“duplicidade” incluam virtudes como coragem, orgulho, prud(ncia e perspic"cia. 4m%ora nossas
24
palavras possam ser acuradas em perce%er uma nature&a animal, sua acuidade corrompida por
nossas suposi'+es moralistas pro#undamente arraigadas.
Quando o personagem principal, @r. A%%e>, desmorona, na novela de Michael ;entura “O 0oo
onde voc( serve de alimento para @eus” para a companhia do tigre *ue ele vai, do tigre *ue o
chama. P nos olhos do tigre *ue ele p+e seu olhar e o tigre *ue contempla sua loucura e sua
sanidade e os estranhos mistrios de pai!$o e ternura. B$o poderia ter sido um le$o por*ue o @r.
A%%e> estava vivenciando uma inicia'$o da alma *ue na nossa cultura chamada de “colapso ou
esgotamento” ?B.. emerg(ncia ps)*uicaN.
-e o @r. restaurando
sociedade, A%%e> tivesse procurado um
a consci(ncia do le$o,
%rilhoele
de estaria
seu diamais
a diapreocupado em reintegrar/se
e suas heróicas ha%ilidades na
de
cirurgi$o *ue resgata da morte, toma as rdeas da vida e ajuda seus semelhantes.
5epare *ue n$o o tigre mas o le$o *ue monta guarda nos edi#)cios p:%licos. O le$o *ue
em%lematicamente representa reis e reinos, *ue e!ige as maiores #atias e *ue se coloca sempre à
#rente dos outros.
Mas n$o devemos redu&ir o le$o a uma representa'$o em pedra esculpida como se o rei #osse
sempre um tirano e um poder de#inido somente como insens)vel. A tradi'$o popular so%re o le$o
di& *ue o seu poder vem do cora'$o tal como a coragem, a generosidade, a #idelidade. -e ele
domina o 5eino Animal talve& tenha sido reconhecido pelos outros animais como o seu rei. m
reconhecimento con#erido ao le$o n$o meramente por causa do seu rugido ou #erocidade mas
por*ue ele pela justi'a hier"r*uica *ue deve prevalecer no reino e *ue nós denegrimos com o
termo “cadeia alimentar”.
<onsiderar
importEncia ouocomo
le$o, onomovimento
sonho, apenas como oaopoder
em dire'$o condutor
despertar da nossa
da nossa egoc(ntrica solar,
conscienti&a'$o auto/
negligencia a *ualidade “eros” do le$o j" *ue a sua lu& ?luminosidade tra& calor. 9or e!emplo, na
al*uimia, o elemento sul#ur muitas ve&es chamado de “o le$o” era considerado ao mesmo tempo
lu& e calor assim como ideal espiritual e intensidade #)sica. O le$o da tradi'$o popular, n$o apenas
come vora&mente, ele tam%m ama apai!onadamente. O seu “locus” na #isiologia astrológica o
cora'$o e o seu lar a casa do pra&er e do amor, do ensinamento e da procria'$o.
Os eg)pcios di#erenciavam o le$o. 9ara eles, este animal tinha di#erentes #ases e #aces. O le$o
jovem, do sol ao amanhecer, era a #or'a solar emergindo da noite desrtica. O le$o jovem, do sol
ao amanhecer, era a #or'a solar emergindo da noite desrtica. O le$o negro do meio/dia ?a deusa
-ephmet a%rasando tudo com o seu insuport"vel calor, tra&endo pragas mas tam%m a cura das
mesmas. 4 o le$o ao anoitecer, patas do%radas ao repouso.
B$o pode haver uma interpreta'$o :nica para o sonho do le$o. 4le deve ser o%servado e esta
o%serva'$o apro!ima voc( das *ualidades inerentes deste animalF coragem, aten'$o, devo'$o.
B$o importa se em #uga ou #erido ou aparecendo, inesperadamente, vadiando ou agachado em
posi'$o de ata*ue, ele est" sempre se e!i%indo num cen"rio e tra&endo um estado de esp)rito. P
um le$o “dentro de uma imagem” e esta imagem num todo *ue transmite o animal para nossa
consci(ncia. A imagem ?do le$o o seu mensageiro. Aceit"/lo apenas como um le$o, v(/lo
apenas como um signi#icado, retira/o do seu ha%itat no sonho no *ual os seus signi#icados est$o
envolvidos.
25
A &IRAA
(III – pg. 4%
Bem o velho livro da tradi'$o popular chamado “9h>siologus”, nem os contos de #adas
europeus t$o povoados de animais, nem os mitos tradicionais da cultura mediterrEnea, ela%oram
a gira#a. A gira#a n$o um animal #amiliar nos templos do 4gito como s$o os crocodilos, os le+es,
o chacal e o hipopótamo. Algumas ve&es um animal de *uatro patas e pesco'o longo
representado em v"rias culturas como a 56i lin da <hina e a &amar da =)%lia em%ora estes, à
despeito das a#irma'+es de alguns comentaristas, tam%m n$o sejam gira#as. A gira#a permanece
#ora das nossas #ontes usuais de tradi'$o popular. B$o h" uma :nica representa'$o delas na arte
grega. Aparecem apenas sculos depois em escritos helen)sticos.
Mas as gira#as comparecem aos nossos sonhos. ma jovem senhora da elegante alta
sociedade com pro%lemas de anore!ia, teve dois sonhos com gira#as. Outra jovem senhora
sonhou *ue descendo uma ladeira )ngreme de 0Srich na pe*ueno %ondinho, tinha, a seu lado,
uma gira#a. Bo sonho h" perigoF o pesco'o do animal se coloca t$o alto *ue pode colidir com as
pontes e a #i!a'$o acima. 4la acordou ansiosa achando *ue a gira#a seria decapitada a menos
*ue o %onde interrompesse sua descida.
m terceiro “caso de gira#a” me #oi reportado indiretamente por uma m$e 2supostamente
#r)gida de acordo com o histórico do seu caso cuja principal preocupa'$o era a se!ualidade de
sua #ilha de *ue sua #ilha poderia ser raptada e maculada.
9ara nos apro!imarmos da nature&a da gira#a e para apro!imar nossa imagina'$o à imagem
deste animal, temos *ue e!plorar dois caminhosF a História Batural ?0oologia e a História
<ultural.
As gira#as pertencem ao am%iente cultural de pal"cios e cortes. 4ram a alegria de pr)ncipes
*ue as apresentavam uns aos outros como no%res presentes de ostenta'$o na ur*uia, 4gito,
5:ssia e 5oma e na It"lia do 5enascimento, Anne de =eaujerr, #ilha de ui& UI desejava possuir
uma gira#a acima de *ual*uer outro animal e suplicou por uma a oren&o di Medici.
A palavra “geraph” do Tra%e “&iro#ah”, supostamente, signi#ica “a %ela” e a gira#a era ca'ada e
negociada n$o pela sua carne, domestica'$o ou esporte, mas pela sua %ele&a, seu p(lo, suas
longas pestanas, seu ra%o parecendo uma escova, sua l)ngua escura e #i%rosa, o peculiar passo
#luido, sua maneira silenciosa, dócil e elegante. 4la #oi cantada pelos poetas da 5enascen'a.
9oli&iano viu na gira#a a imagem do homem culto e inteligente. A primeira gira#a chegou ao norte
da 4uropa em 1L8D, tendo sido levada à p de Marselha para 9aris, causando e!traordin"ria
admira'$o por todo o caminho.
5epresenta'$o de gira#as em rochas a#ricanas, em manuscritos persas, em desenhos
europeus do sculo U;III mostram uma comum e incorreta percep'$o da anatomia do animal. O
dorso do animal desenhado inclinando/se para cima, seu peito e costelas acima do estmago e
da %arriga. A gira#a atual como *ual*uer um pode ver, tem um dorso hori&ontal como um veado,
uma vaca ou um ant)lope. Ainda assim, a imagem representada, ascende. A imagem representa a
imagina'$o ascendente da gira#a, o animal cuja ca%e'a est" mais a#astada do corpo e o corpo
mais a#astado do ch$o. A%ai!ar sua ca%e'a deselegante. -ua ca%e'a paira naturalmente, so%re
as "rvores, so%re todas as coisas, num porte ereto, chamado de “e!ageradamente vertical” pelo
naturalista ol#gang -chad.
P como se a inten'$o essencial da nature&a da gira#a estivesse concentrada no seu pesco'o,
criando como *ue uma cone!$o alongada entre a ca%e'a e o dorso. <omo *ue seu cora'$o
%om%eia sangue t$o altoN 4studos di&em *ue por sistema especial de v"lvulas. <omo *ue ela
se arranja com todos ossos no pesco'oN B$o assim. 4la tem o mesmo n:mero de vrte%ras
cervicais *ue outros
maiores. -eu mam)#eros
longo pesco'o e n$o
serve paras$o mais numerosas
procurar *ue ascom
%rigas e cortejar vrte%ras humanas,
eti*ueta. Bamorarapenas
seu
passatempo erótico. 4 estas longas pestanas, os longos tu#os nas orelhas, os p(los do ra%o, os
chi#rinhos, a l)ngua *uase preensilN na verdade ela “e!ageradamente vertical”.
4sta (n#ase na verticalidade aparece ainda em outro sonho de gira#a apresentado por uma
jovem senhora reclusa e culta estudante de arte. 4la est" viajando e di& ao motorista *ue est"F
/ “#a&endo a viagem par ver as gira#as. -u%itamente vejo seus pesco'os graciosos e longos
como juncos, suas #aces delicadas. H" duas delas e hesitantemente elas ora se apro!imam, ora
se a#astam uma da outra. 4las parecem muito tesas e poderosamente vivas. Bós prosseguimos e
ao lado de algumas rochas na %eira da "gua est$o dois #lamingos cor/de/rosa. -ua maravilhosa
26
colora'$o atrai meu olhar como se #osse um a pintura oriental. <om toda a sua hesitante
elegEncia, sinto *ue h" neles uma vida intensa.”/
Am%os, gira#as e #lamingos t(m pernas longas *ue se a#astam do solo e pesco'os empinados
e ar*ueados. 4stes animais nos di&em algo maisF *ue a delicade&a pode, e#etivamente, com%inar/
se com intensa vitalidade e *ue a hesita'$o tam%m se pode com%inar com poder. H" liga'$o no
esp)rito vertical com a %ele&a, a elegEncia e a #or'a muscular.
As gira#as n$o s$o apenas verticais. 4las parecem estar sempre em guarda como vigias ou
#aróis so%re as plan)cies. 4las dormem em cochilos *ue totali&am menos de uma hora em cada
dia;erticais
de 8] horas.
e despertas, elas tam%m s$o delgadas como os #lamingos. Heini Hediger reporta *ue
o corpo da gira#a tem espantosamente poucas glEndulas se%"ceas”. -er" *ue isto revela alguma
coisa so%re a nossa sonhadora anor!icaN Alm disso, de acordo com o &oólogo Adol# 9ortmam a
gira#a tem o maior desenvolvimento do sistema nervoso ?cere%rum de todos os animais de patas
#endidas ?estaremos nós #alando de uma criatura altamente inteligente e altamente tensaN a
gira#a n$o tem dentes canino superiores e nenhum tra'o usual de agressividade *ue encontramos
em carn)voros tais como nossos c$e&inhos de estima'$o e em nós próprios. ma gira#a pode,
certamente, escoicear e esmagar a ca%e'a de um le$o com um golpe certeiro, mas n$o pode
mord(/lo como um predador.
ma di#eren'a ?oposi'$o, entre gira#a e le$o, mostarda no sonho de um homem de meia
idade *ue se est" preparando para uma nova carreiraF “<ena de uma gira#a #ugindo de um le$o. A
gira#a sa%e *ue vai ser sacri#icada e est" tentando se a#astar do le$o. O le$o persegue a gira#a.
4u o vejo saltar so%re ela e penso em como deve ser a sensa'$o de ser devorado por um le$o.
O le$o, animal de inicia'$o heróica em contos %)%licos e gregos, como tam%m em rituais
a#ricanos, comer" viva a sensi%ilidade esttica, a superioridade distante e o alcance ascendente
da gira#a do sonho deste homem. A gira#a pode tentar movimentos evasivos, t)picos de uma anima
evasiva, para derrotar o %ote do le$o. 4stes movimentos para a#astar o le$o est$o sendo re#letidos
no #ato de *ue o sonhador j" est" pensando no sacri#)cio no *ual a %ele&a da gira#a derrotada
pelo le$o. Qual o sentimento de mudar o próprio tótem da gira#a para o le$o e ter um estilo
contemplativo, altivo e silencioso, devorado pelo reiN -er" *ue o pre'o da inicia'$o heróica o
ingresso no orgulho do próprio reino de cada um a perda da sensitividade esttica e um
sacri#)cio da anima N
Ao introdu&ir o termo “anima” para ou como um código, para *ualidades “#emininas” como
hesita'$o e delicade&a *ue encontramos at agora vamos precisar distinguir este aspecto de
“#eminino” de maneira especial a maternidade, de muitas outras *ualidades “#emininas”.
A psicologia popular muitas ve&es se volta para os mam)#eros como e!emplares ideali&ados de
instintos maternos. 4ntretanto, o protocolo de Hediger do primeiro parto de uma m$e gira#a no
0oo de =asila nos conta *ue a m$e temia o %e%(/gira#a, o ignorou e pisoteou de tal maneira *ue
a cria teve *ue ser assumida por pessoas. B$o estou destacando ou singulari&ando a gira#a como
e!emplo de maternidade desastrada por*ue mortalidade in#antil, in#antic)dio e alimenta'$o de
%e%(s em cativeiro ou na vida selvagem s$o comple!os assuntos de pes*uisa. odavia estou
apresentando o testemunho espec)#ico de Hediger de maternidade desastrosa da gira#a.
Assim, a gira#a, ao contr"rio da lo%a amamentando crian'as, da grande ursa, da protetora
ele#anta e da porca com suas ninhadas de leit+e&inhos cavadores n$o apresenta uma #igura
convencional de maternidade. Mas a maternidade n$o o :nico padr$o da #or'a #eminina. m
livro "ra%e de sonhos escritos por @anisi coloca *ue a gira#a pode signi#icar uma valiosa ou %ela
mulher e pode algumas ve&es indicar uma esposa in#iel. Quando ela parece num sonho pode
tam%m augurar calamidade em rela'$o à prosperidade e #alta de garantia de prote'$o para
convidados rece%idos em seu lar.
4stes avisos como todos os *ue aparecem em livros de sonhos n$o devem ser entendidos t$o
literalmente como soam.
Ba verdade eles s$o revela'+es da ess(ncia imagin"ria do animal e de como a sua imagem
atinge a imagina'$o psicológica. Mas mesmo assim este aviso #a& sentido em vista da distEncia
entre a gira#a e o solo, inde#esa e vol:vel no seu sil(ncio e na sua %ele&a. A gira#a n$o um
guardi$o, um #amiliar, um animal de estima'$o. 4la #oge rapidamente e galopa a distEncia
distanciamento como #orma de prote'$o.
4m psicologia podemos ver a gira#a como uma imagem da alma altamente esttica com
*ualidades doces, no%res, gentis e virginais, com uma gra'a desajeitada e alta sensi%ilidade como
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uma mocinha em crescimento um pouco descon#ort"vel em seu próprio corpo, pernas
desajeitadas, pesco'o comprido, magra e ainda assim muito atraente entre suas iguais e com
uma devastadora resposta *uando assediada de maneira incorreta ou tratada com intimidade
indevida.
alve& agora, após juntar as pe'as da história cultural e natural do #olclore da gira#a, o sonho
da m$e *ue ela própria “#r)gida” e teme *ue sua #ilha seja maculada, se torne menos intrigante.
9oderiam esta m$e e #ilha estar partilhando um tótem comum de gira#aN 9oderia o temor da m$e
ser parte da sua maternidade hesitante, sua percep'$o da %ele&a e do apelo ao desejo de sua
#ilhaN “raptada e maculadaN” -er" *ue elas n$o partilhariam o esp)rito da gira#aN
O primeiro sonho da gira#a no pe*ueno %ondinho da montanha em 0urich #ala do predicado
%"sico da gira#a como descer sem precisar cortar #ora a ca%e'a. ma ca%e'a *ue n$o pode
negociar as linhas hori&ontais da comunica'+es e o tr"#ico di"rio de cru&amentos *ue correm em
propósitos cru&ados para a sua “e!agerada verticalidade”.
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UM 'ORCO DOENTE ! CURADO 'OR UMA DIETA DE CARAN&UE5OS
I0 – pg. )1
A cura de um animal por outro ursos por uma dieta de #ormigas, le+es por uma dieta de
macacos uma das maneiras pelas *uais o #olclore dos animais nos ensina discernimentos
psicológicos.
m trecho do #olclore islEmico ?de “Mu&hatu/l/*ulu%” ou “@el)cias do cora'$o” uma enciclopdia
cient)#ica escrita mais ou menos em 1K77 di& *ue um porco doente curado por uma dieta de
caranguejos.
9or *ue uma re#ei'$o de caranguejos curaria um porcoN
A cura, como muitos remdios na antiga medicina, deve ser homeop"ticaF os semelhantes
curam os semelhantes. <aranguejo e porco devem ter algo em comum. O caranguejo ,
sim%olicamente, lunar, :mido e anti/heróicoF “=aldur morre *uando o sol entra em <Encer
?caranguejo. Hrcules estorvado em <erna por uma caranguejo agarrado no seu p,
compelindo assim o herói a redo%rar sua #or'a leonina”.
O caranguejo astrológico chega no -olst)cio de ver$o ?o caranguejo astrológico o signo de
<EncerX *uando o sol est" parado após sua ascens$o, um momento de pro#undidade e re#le!$o
antes do *uente dom)nio de e$o. ?B. .F esta compara'$o só serve para o hemis#rio norte
por*ue a*ui cEncer um signo do inverno.
<Encer, o lugar astro anatmico do caranguejo o peito e o estmago à semelhan'a do porco.
Am%os s$o alimentos suculentos e delicados.
O mais longo e!emplo de interpreta'$o de sonho de Junge, no *ual ele demonstra seu mtodo,
se %aseia no caranguejo como #igura central. Junge toma o caranguejo como a li%ido regressiva,
empurrando o paciente para a inconsci(ncia de uma velha e arraigada liga'$o, o *ue no caso
e!posto sinnimo de cEncer. “O caranguejo”, di& Jung, anda para tr"s.
Ainda assim, o caranguejo cura o porco doente. Alm da idia geral de renova'$o associada,
com o caranguejo, desde Aristóteles e Artemidorus ?137 d. c. *ue escreveu o primeiro livro
conhecido so%re interpreta'$o de sonhosF “Oneirocr)tica” *ue colocava *ue criaturas
maravilhosas “*ue a%andonam seus velhos invólucros ?conchas s$o um %om sinal para os *ue
est$o doentes”/ isto uma rela'$o mais sugestivamente particular entre porco e caranguejo. -e o
porco devora, o caranguejo digere. 4n*uanto o porco devora, o caranguejo con*uista peda'o a
peda'o com cuidado. O *ue o%stina'$o no porco, no caranguejo tenacidade. ?A pata do
caranguejo pode agarrar trinta ve&es o peso do seu corpo, en*uanto a m$o humana só pode
agarrar *ue
móveis doisse
ter'os
podedo seu peso.
estender at O caranguejo
de& ps. gigante do Jap$o, tem a envergadura de patas
O caranguejo, como um a%utre, consome carni'aF digest$o dos mortos, do passado, das
lem%ran'as.
O porco segue adiante, o insaci"vel apetite por mais e mais.
O porco ataca. O caranguejo se move para os lados, para tr"s, desaparece e parece sair #ora
do próprio es*ueleto ?carapa'a *ue ha%ita. “Andar para tr"s” tam%m e!pressa a su%miss$o à
re#le!$o do passado e à atividade ps)*uica por e!cel(ncia, de acordo com Junge. 9or esta ra&$o,
nos %ras+es da 5enascen'a, o caranguejo, muitas ve&es, aparecia #a&endo par com a %or%oleta,
o *ue justap+e e!tremas di#eren'as *ue ainda assim, t(m uma secreta similitude.
A li%ido regressiva *ue Junge v( no caranguejo, pode tam%m ser imaginada como a li%ido do
estmago *ue ultrapassa a gula, a glutoneria, a oralidade, at atingir a digest$o oculta.
Acima de tudo o caranguejo conhece a arte de se ocultar, en*uanto o porco est" sempre e
inevitavelmente à vista. ?A constela'$o de <Encer *uase indiscernivelmente apagadas,
composta somente de estrelas da Quarta magnitude. Os caranguejos se escondem dentro de
suas próprias carapa'as, sem pesco'o para esticar, se enterrando na areia, se ocultando em
conchas emprestadas, no mar pro#undo, agarrados em esponjas, em #olhagens ou algas.
m caranguejo trans#erido de um a*u"rio para outro, de uma a*u"rio de algas verdes para
outro com algas vermelhas, gasta horas removendo a #olhagem verde de sua carapa'a e
su%stituindo/a pela vermelha, se trans#ormando, trocando de roupa para a sua nova moradia.
4stes comportamentos silenciosos, discretos introvertidos e, talve&, paranóides, podem curar o
porco en#ermo pelos e!cessos da sua própria nature&a gulosa. -emelhantes curam os
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semelhantes e o *ue cura a doen'a da carne esta criatura *ue partilha de uma nature&a
semelhante mas com uma nuance essencial de di#eren'a.
4stas passagens à respeito de gira#as, porcos e caranguejos nos condu&em a tr(s #ontes
interligadas de contos e casos so%re animaisF sim%olismo cl"ssico ?incluindo #olclore e #"%ulas,
etnologia ou antropologia e história cultural.
;oltemo/nos para o aparecimento do animal em conte!tos imaginativos. ;oc(s ter$o perce%ido,
entretanto, *ue enveredei por uma *uarta #onte &oologia ou história natural. Juntas, estas #ontes,
nos ajudam a ler o animal da apresenta'$o da sua imagem.
9elo menos
aparecer sa%emos
em toda parte.*ue todos
-$o, os animaismestres
so%retudo, #alam por
demet"#oras por esta
multiplicidade ra&$o *ue podem
de signi#icados. <omo
met"#oras, os animais se trans#erem em linguagem. -eu comportamento aca%a por se trans#ormar
em palavrasF por*uinho, porcalh$o, porcaria. -uas partes se digerem na linguagemF olho de
porco, tra&eiro de porco, m$o de vaca, etc.
Assim, *uando olhamos para a apresenta'$o do porco e do caranguejo e os comparamos, e
ainda, novamente, os comparamos com a gira#a, como estudar di#erentes pintores ou l)nguas
di#erentes e, por meio dos contrastes, somos capa&es de discernir mas especi#icamente o *ue
cada espcie transmite.
9or e!emploF seus revestimentos como inicialmente se apresentam como completas #ormas
vivas. O p(lo da gira#a nos o#erece um %elo e alegre shoR de listras %rancas e alaranjadas. <omo
j" #oi o%servado pelos &oólogos, este revestimento n$o esconde ou camu#la, termos *ue s$o, de
alguma maneira, militar)sticos ou paranoides e *ue ingressaram na nossa linguagem durante a 1`
Yuerra Mundial e *ue desde ent$o s$ mal aplicados à con#ormidade ecológica. O p(lo da gira#a
propicia #"cil visi%ilidade para a comunica'$o em grandes distEncias. Yira#as devem ser vistas.
4las n$o chamam umas pelas outras.
O revestimento do corpo do porco o seu próprio torso como se ele estivesse despido.
4stu#ado como lingSi'a, compacto como presunto, ele se auto/apresenta como carne. 5uidoso e
corpulento, vai atr"s de ra)&es, en*uanto a gira#a se volta para as e!tremidades das alturas como
as "rvores no ar. ?Ainda assim, a classi#ica'$o &oológica coloca a gira#a e o porco no mesmo
grande grupo de artiodact>la ou de patas ungulares.
@iversamente, o caranguejo esconde seus tenros tend+es inteiramente para dentro. Quem
adivinharia o delicado seccionamento da seu interior ao ver sua apar(ncia e!terna t$o "spera,
30
cascuda, amea'adoraN 9ara conhecer o caranguejo preciso entrar nele atravs dos seus
esconderijos e dis#arces em duras carapa'as, uma verdadeira armadura *ue só se a%re em
momentos de #ecunda'$o.
<omparemos seus movimentosF o distanciamento da gira#a por meio de uma singular marcha
galopante, o posicionamento do porco com seu curto trotarX o arran*ue apressado do caranguejo
e!pressivo do seu andar de lado.
<omparemos seus pesco'osF o da gira#a, parece separar a ca%e'a do troncoX o do porco
parece manter ca%e'a e tronco con#luentesX o do caranguejo ine!iste por*ue sua ca%e'a est" no
corpo.
4stou sugerindo *ue em lugar de ler so%re o animal, devemos ser o animal. 4stou sugerindo
*ue o animal do sonho pode ser ampliado por uma visita ao 0oológico e por um dicion"rio de
s)m%olos. 4 sugiro ainda *ue nós, *ue interpretamos sonhos, n$o redu&amos os sonhos ao
s)m%olo, mas em lugar disso *ue nos redu&amos, isto , redu&amos nossa vis$o à*uela do
animal, uma redu'$o *ue pode ser e!tens$o, uma ampli#ica'$o da nossa vis$o, de maneira a ver
o animal com o “olho do animal”.
O *ue o animal v(, ouve e cheira *uando se encontra com outro animalN O *ue *ue ele
reconheceN -em o %ene#)cio de um %esti"rio, o teste deste encontro a #orma viva. A leitura da
#orma viva, as met"#oras auto/e!pressivas *ue os animais apresentam, est" no signi#icado das
lendas em *ue os santos e !am$s entendem a linguagem dos animais, n$o no discurso literal das
palavras, mas ouvindo/os como presen'as vivas, gr"vidas de met"#oras.
31
(IRANDO INSETOS
0 – p6g. ))
@e todas as criaturas de @eus, grandes e pe*uenas, nenhuma parece provocar tanta #:ria
como o inseto. u%ar+es e crocodilos, o#)deos, ratos de li!o, morcegos, vampiros e a%utres
carniceiros, s$o encarados com menor perversidade humana. Bada iguala nossa pai!$o
assassina para irradicar insetos irritantes. 9or *ue este ódioN O *ue signi#ica este medoN
9or “insetos”,
tra'as, #ormigas,*uero nomear cupins,
mari%ondos, toda espcie de criaturas
carrapatos, rastejantes
a%elhas, vespas, incluindoF %esouros,
moscas, %aratas, piolhos,e
aranhas
outras criaturas n$o classi#icadas como insetos. Bossa história inteiramente o%scura e
inteiramente preconceituosa contra estes vermes.
m %om “locus classicus” da vis$o da nossa cultura, regredindo at a =)%lia o cl"ssico de
Yoethe “austo”, onde um coro de insetos homenageia Me#isto#iles *ue di&F “/ 4sta jovem cria'$o,
de #ato, a*uece meu cora'$o.” O -enhor das moscas, =el&e%u, o @emnio, ama os insetos e os
insetos, como demnios do ar, da noite e de lugares ocultos da terra, s$o os seus #ilhos.
<onsiderar os insetos, captar, hospedar suas vo&es, o mesmo *ue escutar o mal. 4sta
tradi'$o atormenta, em sonhos, nossa vis$o deles.
Artemidorus disseF “ -empre *ue as #ormigas andam em volta do corpo do sonhador, h" um
press"gio de morte por*ue elas s$o #rias, escuras e #ilhas da terra.”
“Insetos s$o s)m%olos de apreens+es e ansiedades... erroadas... signi#icam *ue o sonhador
entrar"
*ue uma emdoen'a
contato est"
com pessoas
rondando,malvadas...
ou pris$o,-eouh"grande
muitos po%re&a...
piolhos... -e
pouco
umaprop)cio
pessoae signi#ica
acordar
en*uanto estiver sonhando *ue tem piolhos, isto signi#ica *ue nunca ser" salva...”
As próprias palavras carregam ansiedade. Insto signi#ica talhado, cortado, en#ati&ando o
odiado, pontiagudo, introdu&ido, tanto *uanto o aspecto autom"tico e mecEnico da criatura. “=ug”
?inseto pode signi#icar espectro, apari'$o, um o%jeto de terror. A rai& de “%ee” ?a%elha ,
provavelmente, derivada do Ariano “%hi” *ue signi#ica temer, no sentido de &um%ido, tremor,
palpita'$o.
“=eetle” ?%esouro vem do Ingl(s Arcaico “%itau” *ue signi#ica morder. “Moth” ?tra'a desde
13DD signi#ica alguma coisa *ue devora, mastiga, desperdi'a e destrutivamente por uma chama,
atra)da ?B.. Antes de ser tra'a, uma espcie de mariposa.
Ba linguagem popular da cultura ocidental, mos*uito, "caro, piolho, mosca, pulga, tra'a, grilo e
%esouro partilham um denominador comumF estes termos signi#icam pe*uene& e in#erioridade,
*ue podem signi#icar apre'o mas *ue em geral s$o insultuosos.
“=ug” se insinuou na linguagem do computador por*ue em 12]3 um “%ug” ?uma mariposa
entrou #urtivamente no MarW II, o primeiro computador digital de larga escala da Amrica,
causando pane. @esde ent$o os programadores vivem o%cecados em manter os %ugs #ora do
sistema ?des%ugados com in:meras tentativas para construir sistemas in#ormacionais à prova de
“%ugs”.
Insetos s$o desde h" muito, parte da 9si*uiatriaF nas alucina'+es como rastejadores #urtivos
na pele do paciente, viciados, preocupa'+es o%ssessivas com loucura ou com o lugar onde v$o
ser a%rigadas as pessoas *ue julgam estarem “#icando %irutas”. ?B.. 4m Ingl(s, “to go %ugs”
uma g)ria para “pirar” ou “em%irutar”.
H" outras tradi'+es onde o -enhor dos insetos n$o o demnio mas um em%usteiro. 9or
e!emplo, o navajo =e6gotcidi ?o #ilho do sol *ue mantinha rela'+es se!uais com tudo no mundo.
=e6gotcidi *uer di&er “algo *ue agarra tetas” e detalhes so%re ele, no di&er dos antropólogos, s$o
demasiado
jovens para“sujos”. 4le tomou
tocar seus este
mamilos nome por*ue
en*uanto se am%m
gritava... #a&ia invis)vel e depois
pertur%ava saltavaJusto
homens. so%rena
mo'as
hora
em *ue um ca'ador estava pronto para atirar, =e6gotcidi saltava so%re ele, agarrava seus
test)culos e gritava. a&ia o mesmo en*uanto um homem e uma mulher estavam copulando. 4le
se ocupava dos insetos, comandava/os e, algumas ve&es, aparecia em #orma de mulher ou de
inseto. ma ve&, *uando #oi capturado, mari%ondos en!ameavam de dentro da sua %oca,
mariposas de dentro de seus ouvidos e %esouros de dentro do seu nari&. 4le engoliu de volta
todos os insetos, podendo, assim, trans#ormar/se em *ual*uer tipo de inseto.
Os contos à respeito deste senhor dos insetos, apresentam uma clara vis$o da impress$o de
espontaneidade dos insetos, sua irrever(ncia &om%eiteira em rela'$o às inten'+es humanas, seu
32
poder senhoril so%re nós. Acreditamos gritar em decorr(ncia do seu #err$o mas talve& sejam eles,
os causadores do grito, *ue gritem atravs de nós.
4m rela'$o ao poder de um inseto, pense apenas no estado de loucura em *ue voc( #icou
*uando tentava matar um pernilongo *ue atrapalhava sua noite de sono ou *uando
demoniacamente, perseguiu uma %arata ao redor da pia.
Ba lórida, um homem agarrou sua pistola e deu um tiro na própria perna para matar um inseto
n$o identi#icado.
emos ainda *ue compreender a ra&$o dos insetos causarem tanta ansiedade *ue a
erradica'$o deles se trans#orma
dire'$o à erradica'$o, na resposta
nos leva a um autom"tica.
passo mais avan'ado4ste passo pesticidas.
no mundoF autom"tico do medo em
-e pudssemos controlar melhor a rea'$o e!terminadora da psi*ue e dei!e/nos lem%rar *ue
o sonho mostra as rea'+es da psi*ue revelada, posta à nu e aliviar o medo da psi*ue de “going
%ugs” ?pirar, ent$o dever)amos tra%alhar mais sensatamente a representa'$o do pEnico no
e!cesso de #antasia dos inseticidas. 4ste e!cesso pode ter sua srcem em *uatro aterradoras
#antasias atri%u)das a insetosF
1 MultiplicidadeF ma colnia de pernilongos tem tr(s mil mem%ros, uma a%elha rainha pode
pr *uatro mil ovos por dia e uma colmia de a%elhas pode conter 37 mil a%elhas. Yrandes
colnias podem consistir de meio milh$o de #ormigas. Mariposas ?*ue se trans#ormam em tra'as,
podem ser t$o numerosas *ue conseguem enco%rir um #arol costeiro com sua compacta e escura
#orma'$o esvoa'ante. Bum :nico tomateiro j" #oram contados 8].VLL parasitas e um acre de solo,
dependendo de onde e *uando, pode conter V3 milh+es de insetos. @e todas as espcies do
5eino Animal
espcies. a mais
Bossa numerosa#ala
linguagem a de
dosnuvens
insetos.de
-ó mos*uitos,
de %esourosen!ames
e!istem, mais ou menos,
de moscas, 837.777
pragas de
ga#anhoto, montes de #ormigas. O padr$o, a*ui, se re#ere mais a como encaramos a
multiplicidade e n$o a como encaramos os insetos.
9ara nós, os insetos se trans#ormam na ativa personi#ica'$o do “muitos contra um”, por*ue
imaginamos a multiplicidade atravs da lente singular de um ser humano :nico, e conce%emos o
todo como um.
@e *ual*uer modo, estes en!ames, nuvens, montes, mostram, ao mesmo tempo, unidade e
multiplicidade. O #ormigueiro tam%m uma comunidade, a personi#ica'$o ativa do sentimento
social harmnico. A multid$o de insetos, demonstra o todo, n$o como um ideal a%strato mas como
um corpo ocupado e %arulhento de vida, indo para l" e para c", ao mesmo tempo. O en!ame
rede#ine o todo como uma comple!idade cooperativa.
8 MonstruosidadeF ;erme, carunchoso, piolhento, %arata tonta, %arata descascada, chupa/
sangue,n$o
tra'os m$o de aranha,
humanos. mosca mortanum
rans#ormar/se termos
inseto*ue caracteri&am, numa
trans#ormar/se supostamente, nas opessoas,
criatura sem sangue
*uente do sentimento, como pintamos na #ic'$o cient)#ica e nos #ilmes de terror. A nature&a
corresponde a estas #antasias tendo gerado aranhas, de sete polegadas *ue comem p"ssaros,
%esouros de oito polegadas, uma mariposa %rasileira de *uase um p, centopias enormes em
comprimento.
Insetos, em sonhos, sugerem a capacidade ps)*uica de gerar #ormas e!traordin"rias, *uase
alm da imagina'$o. 4 estas monstruosidades desumanas, mostram capacidades da psi*ue alm
das suas de#ini'+es human)sticas. O inseto nos retira da psicologia do ego, nos retira dos
humanismos. B$o esse o tema horripilante do conto cl"ssico de _a#Wa entitulado
“Metamor#ose”N
O #ato de *ue o monstruoso apare'a nestas #ormas diminutas, / por*ue mesmo a vida de uma
centopia de do&e polegadas pode ser e!terminada por um p humano e de *ue possamos ter
tanto medo delas, mostra em *ue e!tens$o o nosso mundo humano se separou dos cosmos n$o
humano.
O *ue um homem ou uma mulherN m pouco menos *ue um anjo, senhor do niverso,
coroa da cria'$o, *ue ainda assim, acorda aterrori&ada de um sonho com uma #ormiga.
K AutonomiaF 4les devem ser esmagados, *ueimados e envenenados por*ue n$o se
su%metem. 4les t(m outras inten'+es e disputam conosco ma'$s, milho e rosas. -em convite,
invadem nossas co&inhas e #a&em ninhos so% nossos %eirais. 5epresentem os sintomas
persistentes do sistema nervoso autnomo. 4les nos “%ugam”, nos chateiam. 4les s$o
autnomos.
33
A autonomia destas criaturas nos #ere, nos “mata” de raiva, revela nossos “poderes”. 4las nos
dei!am loucos.
Ba Alemanha, “spinnen”, signi#ica #antasias desilusionais ?spinnam atividade da aranha
como tam%m “girlleu ha%eu”. ?B.. o mesmo *ue em 9ortugu(sF ter grilos, estar grilado.
O “eu”, acreditando/se de posse do autnomo livre ar%)trio incansavelmente perseguido pela
imagina'$o na *ual descansa, na *ual se aninha , e assim “eu” sou levado a e!terminar o *ue
*uer *ue “me” desiluda em rela'$o [a “minha” autonomia. A li%erdade radical do controle humano,
#a& do inseto o “Yrande Inimigo”.
Os]insetos
9arasitas
n$o só “A*uele
invadem*ue come
o seu na mesa
reino. do outro”.
4les tam%m ;emdo
vivem de*ue
“para” ?junto
seu e “sitos”
e at ?alimento.
compartilham do
seu corpo, prosperam nas ra)&es das suas plantas, na carne do seu animal como se v( nos
sonhos com insetos, nas ra)&es de plantas decorativas ou na %arriga de animais domsticos.
O parasita um assom%ro %iológico. Organismos microscópicos podem entrar num
hospedeiro, e, radicalmente, alterar seu comportamento. 9or e!emplo ra%ies ?micró%ios da raiva.
ma pessoa grande, so% a in#lu(ncia de um pe*ueno micró%io tem a sua personalidade
trans#ormada.
O medo da altera'$o da personalidade por um poder alien)gena, e!plica o pEnico muitas ve&es
associado com sonhos de vermes e testemunhado pelas #ormas insetivoras estili&adas dadas
aos alien)genas na #ic'$o cient)#ica.
9odemos ler o medo dos parasitas de tr(s maneiras.
9rimeiro atravs das lentes da compensa'$o. O ego controlador est" sendo esgotado pela
inten'$o dos parasitas *ue tentam alterar a personalidade ha%itual de maneira a restaurar mais
e*uil)%rio entre este ego e o cosmos.
-egundo, atravs das lentes da auto/psicologiaF os parasitas representam nossa “#ome” da
vida n$o vivida e necessitam da comida da nossa mesa. P tra%alho do ego, no dia a dia, e!aminar
estas necessidades, decidindo *uaisvai alimentar e *uais vai erradicar.
4m terceiro lugar, do ponto de vista da psicologia homeop"tica, os insetos parasitas re#letem
uma personalidade parasita. 4les nos mostram nossa própria cara. <omo disse Jung, se o mundo
do sonho mostra a voc( a #ace *ue voc( mostra a ele, ent$o uma invas$o paras)tica ?do sonho e
do verme mostra ao hospedeiro ?do sonho e do verme como dependente ?em pe*uenos e
escusos caminhos de outros organismos ps)*uicos, como somos in#luenciados por comple!os,
como usamos nosso sangue para sustentar nossas am%i'+es. Os comple!os dos *uais e!tra)mos
nossas compuls+es energticas podem se mostrar, no sonho, como parasitas, destacando/nos
como um entre eles, alimentando o %an*uete da vida, assumindo o primeiro lugar, *uer no
tra%alho,
como um naato#am)lia, nas rela'+es
de “sangue/suga”, de ami&ade,
tirando ounada
tudo sem alimentando
o#erecer os
empróprios
troca. sonhos, interpreta'$o
As *ualidades tais como multiplicidade e monstruosidade *ue nos instigam para a erradica'$o,
nos cegam para o propósito personi#icado nos insetos. Bos sonhos eles chegam com inten'+es.
9erseguem e verdadeiramente “%ug” ?chateiam o sonhador.
m m:sico *ue procurou um analista por*ue n$o conseguia “#a&er as coisas #uncionarem”,
sonhouF
“4stou repousando numa espregui'adeira na #loresta, *uando vejo, de repente, *ue estou %em
em cima de um #ormigueiro. 9ulo, rapidamente, da cadeira e acordo com o cora'$o disparado”.
A necessidade de #ugir dos insetos, ocorre com %astante #re*S(ncia. Mas ser" *ue os insetos
t(m necessidade de #ugirN -er" *ue uma rea'$o meramente humana ao #ormigueiro a s:%ita e
urgente necessidade de a%andonar o repouso na espregui'adeiraN Ou ser" *ue um re#le!o, no
homem, da compulsiva e autonmica atividade das #ormigasN alve& a urg(ncia “de #a&er as
coisas #uncionarem” comece ao #ormigueiro, e!press$o de instintiva vida primal, desde *ue o
inseto seja, como di&em os #ranceses, uma “matiere vivante” a própria vitalidade da matria.
A sua incessante movimenta'$o para dentro e para #ora dos %uracos da madeira e nas telas
das janelas, esvoa'ando em dire'$o da lu& ou tomando sangue emprestado de nossas veias
um estilo de “desejo” desejando viver.
Que pot(ncia cósmica estamos atri%uindo aos insetos *uando #antasiamos *ue apenas eles
so%reviver$o do #ogo nuclear e ao inverno *ue se seguir"N B$o de admirar *ue temamos sua
#or'a diminuta, talve& a mais #orte “#or'a vital” do mundoN
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4 esta #or'a antiga. J" #oi *uestionado e talve& esta%elecido *ue a vida do inseto mais
velha na cronologia do planeta do *ue a vida vegetal e de *ue h", insetos capa&es de viver em
solo #r)gido, "rido e pedregoso e em cavidades de "guas salinas sem penetra'$o da lu& do sol e
sem matria vegetal.
Insetos e plantas podem, às ve&es, parecer semelhantes. A isto a ci(ncia chama camu#lagem
ou mimetismo, construindo uma #antasia paranóide do comportamento do inseto. A teoria da
camu#lagem di& *ue mariposas, %esouros e similares, s$o t$o tena&mente amea'ados e t$o
perseverantes *ue se dis#ar'am como gravetos, #olhas, %ot+es de #lor, etc.
se alve& tenhoou
vestir assim aprendido, ou soletivamente,
talve& as plantas *ue usamcriaram uma ra'a
os dis#arces para seou,
dos insetos adaptar.
talve&,alve&
inseto gostem
e plantade
partilhem um ha%itat e um clima em comum, e, assim, am%os se e!i%am de maneira a com%inar
com isto.
-uponhamos *ue o inseto n$o sai%a *ue n$o uma planta, n$o siga nossa classi#ica'$o de
“animal” e “vegetal”, nunca leu ineu, nem estudou =iologia. -uponhamos *ue sua roupagem, sua
m"scara e seus h"%itos corporais, sejam t$o vegetativos *ue a imita'$o ou mimetismo n$o seja
apenas de um reino pelo outro, ou, de cada um, mas um terceiro #ator *ue re*uer *ue se
acomodem, mas com os outros, numa uni$o de todas as coisas, uma ecologia cósmica.
alve& seja o amor *ue atraia as di#erentes #ormas vivas, umas para as outras, e as #a& parecer
semelhantes.
Qual*uer *ue seja a especula'$o à respeito do mistrio da #or'a deles, da #or'a deles so%re o
nosso medo, um tema se repete, #re*Sentemente, em sonhosF o inseto e o solo. 4les aparecem
na sujeira, de%ai!o
escaravelho dan'a da
seuterra, no vaso
%ailado sanit"rio.
no esterco, A mosca voeja
caranguejos so%re
no p:%is, a pilhanadeca%e'a,
piolhos estrume. O
parasitas
nas entranhas, varejeiras na carne podre. 4specialmente o ca%elo e o %ai!o ventre s$o a#etados.
Os #reudianos cl"ssicos interpretam aranhas e centopias em sim%olismo anal, uma posi'$o
*ue repete a idia do inseto como o mal, o proscrito, #edorento, sul#:rico do demnio.
A %ai!a auto/estima corresponde em rela'$o aos insetos com o esconderijo su%/repticio no
su%/solo. 4scondidos, enterrados, interiores, aparecendo, " noite, atravs de pe*uenas a%erturas
nas estruturas do mundo cotidiano estes atri%utos sugerem o su%/mundo. alve& n$o seja
demasiado di&er *ue insetos, nos sonhos, signi#i*uem o retorno das repress+es. alve& n$o se
re#iram somente às repress+es morais ?o mal, às repress+es estticas ?o #eio ou às repress+es
primordiais ?a morte, mas aos deuses catnicos, especialmente, Hades *ue emergem atravs
?dos sonhos e cujas inten'+es vivem nestes va&ios ?dos sonhos *ue sentimos e so#remos como
#erimentos.
-e a picada
teológico, do inseto
um <risto uma
*u)mico. #erida
<risto do su%/mundo,
morti#ica ent$o
o in#erno nas o pesticida
aplavras ume instrumento
de Osias 9auloF “Onde
est" ó morte, o teu aguilh$oN Onde est", ó morte, a tua vitóriaN” 4ste <risto *u)mico vem para
livrar o mundo de <hanatos e Hades ?morte. Yeralmente representados como negras #iguras
aladas.
“_entron” literalmente denota um #err$o como o das a%elhas, escorpi+es e #ormigas aladas,
en*uanto esta mesma palavra prov( a rai& da nossa palavra “centro”, srcinalmente signi#icando
espinho, #err$o ou aguilh$o. O aguilh$o no centro das pro#unde&as , ao mesmo tempo, a
presen'a da morte e o desejo cósmico de viver a vida. A revolu'$o crist$ *ue recentrali&ou o
mundo ?o cosmos em um mundo superior e um corpo superior de ressurrei'$o, transcende o
aguilh$o do desejo e da morte. Bós reencenamos a con*uista de <risto so%re Hades com nosso
aerossol de spra> anti/insetos, usando/o como um incenso em secular ritual, livrando nosso jardim
privado de demnios do mundo in#erior.
-e o mundo dos sonhos o retorno das repress+es ?reud, voltando para nós a #ace *ue
inconscientemente voltamos para ele ?Jung, ent$o parecemos aguilhoados, #erroados,
perseguidos, *uando tratamos nossos sintomas como vermes e nossos comple!os como
parasitas. -im, desejamos livrar/nos do mundo in#erior, usando o %elo pó %ranco da a%stra'$o
destrutiva encontrado em *ual*uer #arm"cia ou numa sess$o de ego/psicologia.
A srcem da ind:stria da #armacologia da #antasia, reside no medo de “pirar”. Bossa
necessidade de um movimento ecológico, de advogar direitos dos animais e da capta'$o de
#undos para a preserva'$o da vida selvagem, come'a em nossos sonhos.
Os medos ocasionados pelos insetos atri%uem a eles os próprios atri%utos dos nossos mtodos
de erradica'$oF / autonomia, monstruosidade, to!idade, proli#era'$o. Bós espalhamos o veneno
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nos rios e no solo, multiplicamos as to!inas, acres e acres de prodigiosa matan'a e uma
monstruosa in#esta'$o, oculta nas #ontes su%terrEneas, enterrada na cadeia alimentar.
O “pro%lema” se tornou t$o autnomo *ue a ci(ncia, os governos, a agricultura e a ind:stria
n$o conseguem control"/lo.
<omo pro#eti&ado, os insetos est$o vencendo, em%ora n$o tanto no mundo real como em
nossas mentes erradicadoras *ue imitam o inimigo. Ba luta contra a “pira'$o”, nos
trans#ormarmos em a%elhas assassinas, #ormigas de #ogo e vi:vas/negras.
<ontar como chegamos at a*ui muito longo e triste. Mas resumindoF em 5oma, os animais
eram simplesmente
os cartesianos propriedades,
e Wantianos, sem alma
portadores para os
da carne, da escol"sticos,
%estialidade em"*uinas sem
do pecado intelig(ncia
para para
os crist$os e
n)veis in#eriores da cadeia evolutiva para @arRin.
4sta história est" %aseada em nossas rea'+es nos sonhos. O ego do sonho , tam%m, o ego
histórico, atravessando suas respostas condicionadas.
-e #ssemos amer)ndios, a #igura *ue chamamos de “ego” poderia ser chamada de “matador
de %aratas”, “*ueimador de vespas”, “esmagador de #ormigas”. O *ue chamamos de “progresso”
da civili&a'$o ocidental, do ponto de vista da #ormiga o passo avan'ado do “Yrande
4!terminador”. Quem o parasita *ue vive de carca'as mortasN Quem a varejeira ocupada em
insaci"vel consumoN Quem est" mastigando as #olhas da planta por todo o niversoN Quem est"
sempre criando novas variedades h)%ridas *ue os insetos evitar$o e das *uais só os criadores
podem gostarN
A pro#ecia ou #antasia de *ue só os insetos so%reviver$o a um cataclisma nuclear, de *ue só os
insetos s$o indestrut)veis
isto, algumas e de *ue
ve&es, aparece em asonhos.
via do planeta recome'ar"
Bos sonhos eles da vitalidade ao
so%revivem dos#ogo,
insetos tudo
produtos
*u)micos, esmagamento, a#ogamento e mesmo dissec'+es. Bos sonhos eles parecem portadores
de uma vida indestrut)vel, para o a%orrecimento dos erradicadores *ue #a&em, sempre, novas
tentativas de deles se livrar, inventando novas #órmulas de venenos, como vemos na ind:stria de
pesticidas. Mas os insetos seguem em #rente.
Os sonhos mostram almF *ue os insetos t(m algo a ensinar. Independentemente de
sentimentos pessoais e mesmo sem pensar, eles demonstram as inten'+es da mente da
nature&a. 4les ensinam a indivergente # do desejo e a necessidade implac"vel de so%reviver.
Alm do mais, demonstram consci(ncia comunit"ria de en!ame, de colmia, uma simpatia
cósmica mais pro#unda *ue um contrato social.
4les convivem e se harmoni&am com os elementos contr"rios do ar e da "gua. Mostram
espantosa capacidade de cola%ora'$o e s$o resolutos na sua persist(ncia em arrancar um
sonhador das conchas
inalmente sentimosda suaestas
*ue ha%ita'$o humana,
criaturas aladas,dos
coma%rigados limites
seus olhos dos h"%itos
espantosos, noshumanos.
*uerem, nos
desejam, nos aparecem em sonhos, *ue o *ue os anjos deveriam #a&er.
Assustadores, apavorantes, s:%itosF :nica maneira *ue os anjos t(m agora, de entrar em
nosso mundo *ue j" n$o tem a%ertura para sauda'+es de %oas/vindasN
Ao menos podemos considerar esta interpreta'$o anglica, o inseto como um anjo estranho,
*uase t$o pe*ueno para ca%er na sua de#ini'$o de %ele&a, dan'ando na ca%e'a de um al#inete
?*ue o instrumento usado para #i!ar insetos na classi#ica'$o mortu"ria.
9ara so%reviver como so%revivem, devemos, como eles, *ue arriscam tudo em suas
trans#orma'+es, trans#ormar tam%m as #ormas do nosso pensamento. Gs ve&es, n$o podemos
“en!ergar um palmo na #rente do nari&”. 4sta vis$o anglica nos chama a olh"/los, novamente,
respeitando *uem s$o e o *ue s$o eles, a causa de estarem em nosso sonho, como encontr"/los
e, mesmo, como nos preocuparmos com eles estes #ormatos e comportamentos miraculosos,
cada apar(ncia
intensa, intrincada,
o%servando/nos uma so%er%a
en*uanto e arcaica ha%ilidade, sem #altas, piedosa, cmica, grave,
dormimos.
Bo mundo inteiro, em rela'$o à psicologia arcaica, o divino parcialmente animal e o animal
parcialmente divino. A teologia di& *ue o divino o “tremendum” mas o “tremendum” pode
aparecer de pe*uenas maneiras tr(mulas, um mero tremor, uma sacudidela, um susto como a
rea'$o s:%ita a um inseto. 9or*ue somos uma das maiores espcies de animais, esperamos *ue,
apenas os maiores *ue nós, sejam “tremendos” e *ue @eus deva ser maior *ue =ehemoth ?B..
o hipopótamo do livro de Jó. mais um antropomor#ismo %)%lico. 5ealmente, “%ehemoth”
signi#ica, meramente “animal”. Assim, o *ue Jó viu, pode ter sido, so% nova ótica, apenas seus
próprios animais.
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Apenas olhe, o%serve o animal, e, veja o divino em e!posi'$o. 4stude a capa %rilhante e as
asas rajadas, as patas sens)veis, a enorme determina'$o. 4stude a ca%e'a, o revestimento, os
movimentos. 4stude os olhos, cada um di#erente, como uma gota, uma conta , um ponto,
pregueados como os de uma mosca.
<ulturas arcaicas sacri#icam animais nos altares dos deuses, sempre. evando os animais ao
altar n$o nos estamos livrando deles nem trans#ormando/os em mais puros e sagrados. 4les v$o
para o altar com a #inalidade de alimentar o animal em @eus, o divino *ue , parcialmente, animal,
desta #orma mantendo vivo o @eus e vivo neste “tememos” o altar. O altar um mantenedor do
animal *ue evita *ue @eus e!er'a o seu terr)vel poder num lugar concentradoF / 5etorne #i*ue
*uieto, veja as velas *ueimando, olhe o altar, n$o atravesse su%itamente.
O altar uma jaula. <ada <atedral um grande 0oológico. 4 @eus, como Jav, *ue desdenhou
o sacri#)cio de gr$os de <aim, deseja a carne animal de A%el, como #a&em as vespas, varejeiras e
moscas. Mantemos os deuses vivos com carne, nossa carne animal, o animal da nossa
imagina'$o carnal, in#estada e pululante com nossas “coisas”, com #err+es e voadoras. Assim,
naturalmente, os insetos, nos nossos sonhos, penetram/nos, mordem/nos, tirando nosso sangue,
lem%rando/nos *ue tam%m somos carne. 4les a%rem seu caminho para o nosso reconhecimento
relutante e nos #or'am a lem%rar/nos deles.
O *ue a encarna'$o, sen$o o @eus penetrando na e so% a nossa peleN @eusF / um
percevejo, caranguejo, carrapato. A encarna'$oF / o mistrio de um piolho.
Os deuses se trans#ormam em doen'as, somos in#estados pelos deuses, #or'ados à religi$o
por sensa'+es corporais, instintos religiosos, insetos religiosos.
Bem recuperam
sonhos tido est" perdido.
o *ue oMuito
mundo recuper"vel
es*uece. Omesmo *uepolite)smo
es*uecido por momentos e #uga&mente.
pag$o se desenvolveBossos
em
#ormas animais. Bestes animais est$o os deuses antigosF cervos e salm+es dos celtasX ursos dos
viWingsX porcos, cavalos marinhos e crocodilos e gatos dos eg)pciosX corujas, touros e ca%ras dos
gregosX lo%os e "guias dos romanosX o =e6gotcidi dos navajos.
Mesmo os evangelhos escritos por Marcos, ucas e Jo$o, s$o, ainda, signi#icados por animais
le$o, %oi, "guia. <risto, nos primórdios do <ristianismo, era signi#icado por pei!e e ovelha, o
pei!e a marca dos primeiros crist$os perseguidos.
Os deuses ainda est$o l" nos nossos sonhos estas catedrais &oológicas onde h" um altar
para os insetos de =el&e%u e Me#isto#iles.
Os animais podem seguir como deuses vivos e ines*uec)veis nos )cones dos nossos sonhos e
nas o%ssess+es vitais dos nossos comple!os e sintomas, pe*uenos insetos indestrut)veis.
ouvemos “Yaudeamus”
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