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Preâ mbulo
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povos indígenas que se encontram fora da regiã o do Alto Rio Negro. Este museu
virtual tem o objetivo de repatriar para essa regiã o tais objetos e colocar as
disposiçã o da populaçã o indígena para que todas as pessoas das etnias dessa
regiã o possam ver e poder contar a histó rias desses objetos que foram levados
forçadamente para diversos lugares do Brasil da Europa e dos EUA. Esse
processo de restituiçã o virtual deverá ser coordenado pela comissã o indígena
designado pela FOIRN e que manterá relaçã o com as escolas indígenas para que
entrem nos processos da educaçã o escolar indígenas. Basicamente os recursos
serã o para despesas para três pessoas da comissã o indígena de gerenciamento,
recurso par compra de equipamentos de informá tica para armazenar,
pagamento para as despesas de digitalizaçã o e recursos para implantaçã o de
uma rede vinculada a internet via satélite para as diversas á reas administrativa
da FOIRN. Este projeto representa colocar em prá tica uma das mais sonhadas
ideias que é ver todo o patrimô nio cultural que foi levado dessa regiã o de volta,
restituído para os povos indígenas, mesmo que de uma forma virtual.
Esta projeto de Museu Virtual surge da pesquisa sobre objetos etnográ ficos fora
da regiã o do alto Rio Negro (ATHIAS, 2016) que trá s elementos histó ricos e
teó ricos para debater acerca dos artefatos e objetos dos povos indígenas da desta
regiã o, que sã o de enorme interesse, nã o somente os pesquisadores no â mbito da
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antropologia, mas também para os da museologia ou de estudos sobre cultura
material e imaterial dos povos indígenas. Em geral, todos esses objetos e,
especialmente aqueles de natureza ritualística, fazem parte de uma compreensã o
bem maior, onde as diversas dimensõ es de um objeto xamâ nico pode ser
percebido dentro de modelos pró prios que estã o relacionados principalmente à
organizaçã o social e a um entendimento cosmoló gico comum a cada povo dessa
imensa regiã o. Esses objetos vã o além, nã o sã o coisas, mas em muitos dos casos
sã o personagens de um compreensã o mitoló gica a cerca do universo. No
contexto indígena, esses objetos estã o localizados e nomeados e se manifestam
nas prá ticas xamâ nicas específicas de cada grupo das famílias linguística Tukano,
Arawak e Nadahup (Maku).
Evidentemente, trata-se de uma narrativa oral como muitas que se contam sobre
pessoas nã o-indígenas que passaram pela regiã o e que levaram objetos e coisas
de pertencimento dos índios para fora da regiã o. Os mais antigos, detentores de
saberes, afirmam que esses objetos estã o fora e, muitas vezes, nã o sabem
exatamente sua localizaçã o. O trocano da histó ria relatada anteriormente se
encontra, realmente, em Manaus, no Museu do Índio, organizado pelas irmã s
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salesianas, juntamente com uma quantidade significativa de objetos que foram
retirados no início do século passado pelos missioná rios do interior das malocas
indígenas, por se tratarem do “culto ao diabo” e que agora estã o exibidos nesse
museu. Outros, trocano existem em museus da Europa e dos Estados Unidos que
foram também levados dessa regiã o.
Imagem de um trocano em frente de uma Maloca fotografado por Koch-Grü nberg em 1902
Os objetos indígenas têm uma vida pró pria. ‘Vivem’ para sempre porque foram
construídos para uma finalidade específica no campo simbó lico dos rituais e
cerimô nias. Nessas cerimô nias, os ancestrais estã o presentes, intermediados por
esses objetos que têm poderes pró prios entre os índios dessas famílias
linguísticas, e que fazem parte deste contexto cultural homogêneo que
caracteriza toda essa regiã o. Portanto, esses objetos sã o nomeados (têm um
nome pró prio) e, sobretudo, a partir das narrativas mitoló gicas sã o
territorializados, ou seja, esses objetos pertencem a um lugar e foram
construídos para ‘viverem’ naquele lugar específico e no meio das pessoas de um
determinado clã . Pois, cada clã possui um conjunto de saberes, de conhecimentos
pró prios que os caracteriza e que define a identidade do clã e, sobretudo, as
relaçõ es com os ancestrais, determinando sua interaçã o com os demais clã s de
seu grupo linguístico. Esses saberes do patrimô nio imaterial específicos
encontram-se num toante, uma mú sica, como dizem os índios. Ou seja: uma
harmonia que é de conhecimento exclusivo de cada clã e que sã o manifestadas
nas festas de Jurupari (miniã ) com os toantes. Os índios dessa regiã o, nesse
processo de revitalizaçã o cultural, procuram organizar seus conjuntos de
toantes, que eles chamam de Kahpivaiá , e seus adornos corporais para compor o
conjunto de irmã os ancestrais que se manifestam nessas festas. Muitos estã o à
procura nã o apenas da sua mú sica específica (de seu Karpivaiá ) por meio da qual
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seus ancestrais se manifestavam, mas também dos enfeites e adornos corporais.
É por essa razã o que cada maloca (casa comunal) de um determinado clã , que
também é nomeada e disposta num espaço geográ fico específico, em toda essa
regiã o, está presente nas narrativas e histó rias orais, e por geraçõ es sã o narradas
nos mitos e nas histó rias de cada clã que forma um grupo linguístico nessa vasta
regiã o. O conhecimento imaterial e os objetos ritualísticos estã o intimamente
relacionados. A caixa de enfeites de cada maloca representava o cerne da
identidade cultural de um clã determinado. Esse conhecimento específico é
narrado através de uma descriçã o dos especialistas que operacionalizam esses
saberes para curas.
A circulaçã o dos objetos indígenas do Alto Rio Negro para fora de sua á rea, pelo
que se tem notícia, vem sendo realizada com muita frequência desde o século
XVIII. No caso do Rio Negro, tem-se conhecimento da visita de seis dos mais
importantes viajantes: o português Alexandre Rodrigues Ferreira (1776), o
austríaco Johann Natterer (1835), o britâ nico Alfred Wallace (1853), os italianos
franciscano Illuminato Coppi (1880) e Ermanno Estradelli (1890) e o alemã o
Theodor Koch- Grü nberg (1906). Todos eles visitaram as malocas daquela regiã o
e escreveram em seus textos a respeito de suas viagens, informando sobre os
usos e sobre como conseguiram esses objetos que levariam de volta a seus países
de origem. Alexandre Rodrigues Ferreira, em Viagem filosó fica ao Rio Negro,
menciona os objetos de pesca e de caça. Alfred Wallace, em sua Viagem ao
Amazonas, descreve os objetos que recolheu de uso nas malocas e disse ter
ficado impressionado com a arquitetura dessas construçõ es, as grandes casas
comunais, e dos objetos que ali se encontravam e faziam parte da preparaçã o de
alimentos. Johann Natterer, por exemplo, busca todos os tipos de objetos para
sua coleçã o e percebe o interesse bem específico do “colecionismo” presente, e o
Frei Illuminato Coppi descreve em seu “Diá rio” objetos de rituais e diz como ele
se apropriou indevidamente de um objeto e cometeu “sacrilégio” com esse
objeto, levando-o, depois, para a Itá lia onde hoje se encontra como peça
importante no Museu Pigorini. Ele registra em seu diá rio a Festa das má scaras,
que ele associa a um ritual demoníaco e que chama a presença do diabo entre os
Tariana de Iauareté. Talvez um relato etnográ fico importante sobre a Festa das
má scaras hoje, nã o mais realizada nessa regiã o. É possível encontrar, em vá rios
museus da Europa e dos Estados Unidos, esses objetos indígenas em exposiçõ es
permanentes ou fazendo parte de acervos em suas reservas técnicas.
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para diversos outros países europeus de onde esses missioná rios vieram. Além
de museus nacionais, esses objetos fazem parte de coleçõ es privadas em colégios
salesianos na Europa. Recentemente, pesquisando no Museu Nacional de
Etnografia de Madrid, que possui um nú mero significativo de objetos indígenas
do Rio Negro em uma coleçã o etnográ fica organizada por Iglesias, com cerca de
588 objetos. Também em Madrid existe um museu privado na casa provincial
dos salesianos. Pude realizar um inventá rio desses objetos que tem relaçã o com
as prá ticas tradicionais dos povos do Rio Negro.
Objetivos:
Justificativa:
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Ainda esse projeto se justifica para trabalhar na educaçã o escolar indígena a
memó ria desses objetos repatriados que estã o repletos de informaçõ es
etnográ ficos sobre os povos dessa regiã o que foram destituídos dessa memó ria
por açõ es de missioná rios cató licos e evangélicos que associaram esses objetos
ao culto ao diabo.
Essa restituiçã o virtual dos objetos e d arte desses povos poderá fortalecer a
manutençã o de suas identidades e fazer com o jovens possam ter conhecimentos
mais específicos sobre suas culturas, tanto através da educaçã o escolar indígena
quanto por açõ es concretas que esse Museu Virtual poderá prover.
Contrapartidas:
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Plano de Açã o e Detalhamento:
A equipe técnica está formada por três pessoas selecionadas pela FOIRN, a saber:
a) Coordenador do Projeto: Domingos Barreto
b) Dois técnicos a serem devidamente selecionado logo apó s a aprovaçã o do
Projeto.
Local de realizaçã o:
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Orçamento Geral
Equipamentos:
Computadores R$ 14.000,00 x 3 R$ 42.000,00
HD (hard disc) R$ 2.000,00 x 3 R$ 6.000,00
Software R$ 3.000,00 x 1 R$ 3.000,00
Manutençã o
Contrato de manutençã o R$ 1.000,0 x12 R$ 12.000,00
Aluguel de Esp.Virtual R$ 500,00 x 12 R$ 6.000,00