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A implementação de uma parceria público-privada através de uma sociedade


de fim específico (Angola, 2012)

Research · June 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.4083.7285

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1 author:

Sofia Vale
Faculty of Law of Agostinho Neto University, Luanda, Angola
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A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA ATRAVÉS
DE UMA SOCIEDADE DE FIM ESPECÍFICO

Sofia Vale

Outubro de 2012

Em Janeiro de 2011, a Assembleia Nacional aprovou a Lei das Parcerias Público-Privadas


(Lei n.º 2/11, de 14 de Janeiro). O objectivo desta lei consiste em definir os termos gerais
do envolvimento do Estado nos vários estádios de uma parceria público-privada,
permitindo ao Estado beneficiar das vantagens das capacidades de gestão do sector
privado, melhorando assim a qualidade dos serviços prestados pelo Estado e contribuir
para a obtenção de poupanças na prestação desses serviços, bem como na utilização dos
recursos públicos.

As parcerias público-privadas são instituídas por contrato ou união de contratos, nos


termos dos quais uma entidade privada (designada por parceiro privado), estabelece uma
vinculação duradoura perante o parceiro público, através da qual assegura o
desenvolvimento de uma actividade destinada à satisfação de uma necessidade colectiva,
ficando a responsabilidade pelo financiamento e pelo investimento e exploração, no todo
ou em parte, a cargo do parceiro privado. Os contratos de parceria público-privadas
incluem, designadamente, os contratos de concessão relativos a obras ou serviços
públicos, contratos de fornecimento contínuo, contratos de prestação de serviços,
contratos de gestão e contratos de colaboração relativos à utilização de estabelecimentos
ou infra-estruturas já existentes. As parcerias público-privadas deverão ser
implementadas através de uma sociedade comercial constituída para o efeito (i.e., uma
sociedade de fim específico ou sociedade veículo).

Nos termos do artigo 2.º, n.º 2, da Lei das Parcerias Público-Privadas, consideram-se
parceiros públicos o Estado e as autarquias locais (que, apesar de constitucionalmente
previstas estão ainda em processo de criação), os fundos e serviços autónomos e as
entidades públicas empresariais. A Lei das Parcerias Público-Privadas também se aplica
aos casos em que o parceiro privado é uma cooperativa ou uma entidade de fim não

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lucrativo (artigo 2.º, n.º 3, da Lei das Parcerias Público-Privadas). Note-se, contudo, que
ficam excluídos do âmbito de aplicação da Lei das Parcerias Público-Privadas (i) as
empreitadas de obras públicas, (ii) os contratos públicos de aprovisionamento, (iii) as
parcerias público-privadas cujo valor seja inferior a 500,000,000 kwanzas e (iv) todos os
demais contratos de fornecimento (de bens e serviços) cujo prazo seja igual ou inferior a
três anos (artigo 2.º, n.º 6, da Lei das Parcerias Público-Privadas).

A criação de uma parceria público-privada encontra-se sujeita ao preenchimento de vários


pressupostos descritos no artigo 6.º da Lei das Parcerias Público-Privadas, a saber:

 A parceria público-privada deve estar em consonância com o Plano Geral das


Parcerias Público-Privadas, que é um plano plurianual e multi-sectorial
preparado em colaboração por todos os departamentos ministeriais, que deve ser
aprovado pelo Executivo; admitem-se, contudo, excepções em casos devidamente
fundamentados;

 A parceria público-privada deve cumprir as normas relativas à programação


financeira do Estado, tal como prevista na Lei do Orçamento Geral do Estado;

 Deve existir uma indicação clara dos objectivos da parceria público-privada;

 Deve configurar-se um modelo de parceria que apresente vantagens para o


parceiro público em comparação com outros modelos que visem o mesmo fim, e
que, ao mesmo tempo, apresente ao parceiro privado perspectivas de remuneração
adequada, tendo em conta o montante investido, o grau de risco envolvido e o
tempo estimado de execução do projecto;

 Tem de existir compatibilidade com as leis e demais instrumentos normativos (por


exemplo, de carácter ambiental) e demais requisitos de autorização.

 Deve ser apresentado um modelo de parceria que evite ou reduza, na medida do


possível e salvo se houver fundamentação para tal, a possibilidade de alterações
unilaterais ao contrato pelo parceiro público ou quaisquer outros factos ou
circunstâncias que possam conduzir à reposição do equilíbrio financeiro;

 A parceria público-privada tem de resultar de uma negociação conducente a um


resultado competitivo (do ponto de vista económico e social);

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 A identificação da entidade pública responsável pela realização dos pagamentos
que devam ser feitos no âmbito da parceria público-privada e a identificação da
origem dos recursos financeiros necessários à realização desses pagamentos;

 A partilha dos riscos de um projecto deve estar claramente definida no contrato,


devendo ter por base o princípio de que o risco deve ser suportado pela parte que
está em melhores condições para gerir esse mesmo risco ao mais baixo custo.

Resulta do artigo 9.º da Lei das Parcerias Público-Privadas que, antes de ser submetida à
apreciação do Executivo, uma parceria público-privada deve ser avaliada, em primeiro
lugar, pela Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas (CMAPP).
A Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas é composta pelo
Ministro da Economia, Ministro das Finanças e Ministro do Planeamento. Para projectos
relativos a um sector específico, admite-se a participação do Ministro da tutela
responsável.

A Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas é responsável, entre


outras coisas, pela preparação de um manual de procedimentos para os projectos a
desenvolver através de parcerias público-privadas, pela aprovação dos projectos, por
propor ao Executivo as soluções e medidas que entenda mais convenientes relativamente
ao processo de contratação (que deverá ser aprovado pelo Executivo) e aprovar os
relatórios relacionados com a execução dos projectos, preparados pelos órgãos
ministeriais competentes (artigos 9.º e 10.º da Lei das Parcerias Público-Privadas).

A Lei das Parcerias Público-Privadas estabelece o processo destinado à preparação do


projecto, indicando os estudos e demais documentação que o deverão instruir. Todo o
pacote deverá ser preparado pelo Ministro responsável pelo projecto (artigos 10.º e 11.º
da Lei das Parcerias Público-Privadas). Seguidamente, a Comissão Ministerial de
Avaliação das Parcerias Público-Privadas avaliará o projecto tendo em conta a
informação e documentação recebida.

A Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas determinará quando


é que um projecto poderá ser enviado para concurso, podendo, então, o Ministro
responsável dar início ao processo de selecção do parceiro privado e à negociação dos

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termos da parceria (artigo 12.º, n.º 1, da Lei das Parcerias Público-Privadas). A Comissão
Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas pode, após proposta do Ministro
responsável, decidir suspender ou cancelar o processo se os resultados das negociações
não observarem os fins de interesse público que a referida parceria visa promover, não
tendo as partes envolvidas direito a qualquer indemnização (artigo 12.º, n.º 3, da Lei das
Parcerias Público-Privadas). O processo também terminará se apenas um candidato
estiver disponível, salvo de a Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-
Privadas decidir expressamente o contrário (artigo 12.º, n.º 4, da Lei das Parcerias
Público-Privadas).

Antes do contrato de parceria ser celebrado, é necessário, nos termos do artigo 13.º da Lei
das Parcerias Público-Privadas, constituir uma sociedade de fim específico. O objectivo
dessa entidade, que poderá assumir qualquer dos tipos legais previstos para as sociedades
comerciais, será responsável pela implementação e pela gestão do projecto. Caso a receita
anual da sociedade de fim específico exceda o montante que venha ser determinado pela
Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas, essa sociedade deve
adoptar a forma de sociedade anónima – que poderá, inclusivamente, emitir valores
mobiliários admitidos à negociação em mercado nacional ou internacional. Se a receita
anual desta sociedade de fim específico ultrapassar um outro montante definido pela
Comissão Ministerial de Avaliação das Parcerias Público-Privadas, ela será obrigada a
adoptar normas de contabilidade constantes do padrão IFRS (International Finance
Report Standard).

Importa notar que a transmissão do controlo da sociedade de fim específico requer a


aprovação da Administração Pública, nos termos que forem definidos no contrato de
parceria (artigo 13.º, n. 2, da Lei das Parcerias Público-Privadas). Caso esta autorização
não seja concedida, o contrato de parceria terminará. Acresce ainda que não é permitido
à Administração Pública deter a maioria do capital da sociedade de fim específico, salvo
quando as participações sociais tenham sido adquiridas por uma instituição financeira
controlada pelo poder público na sequência do incumprimento dos contratos de
financiamento relacionados com a parceria público-privada (artigo 13.º, n.os 5 e 6, da Lei
das Parcerias Público-Privadas).

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