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C APÍTULO 1

Neurociência: Histórico e Evolução

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Historicizar os estudos da neurociência, a fim de que se possa reconstruir o


processo de descobertas e das aplicações dos estudos na área.

99 Estabelecer relações entre os estudos atuais e as descobertas realizadas


desde o surgimento dos estudos da neurociência.

99 Enumerar os principais avanços da neurociência e apontar suas contribuições


para os estudos atuais.
Neurociência: evolução e atualidade

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

Contextualização
Pare um instante e tente analisar seu jeito de andar. Você consegue
descrever seus movimentos de forma consciente?

Pois é, nós falamos, andamos, pensamos. Isso tudo acontece de forma


tão natural em nossa vida que não paramos para refletir sobre o que acontece
conosco. Apenas realizamos as ações.

Também raramente buscamos saber que estudos explicam nosso modo de


pensar, acumular conhecimentos, guardar histórias e rostos, por exemplo. Nossa
tarefa, neste momento, é compreender como chegamos a ser como somos sob a
ótica das neurociências.

Neste capítulo, que está organizado em três seções, temos como principal
objetivo compreender os estudos da grande área da Neurociência na linha da
história.

Por isso, ele foi organizado da seguinte maneira:

1) Origem e desenvolvimento histórico das Neurociências.

2) Os rumos dos estudos na área e as implicações para novas descobertas.

3) Os estudos atuais: avanços e contribuições para a área.

Considere que estas partes se articulam entre si, pois a construção de uma
casa começa com seu alicerce, muitas vezes escondido, mas que sustenta um
todo sólido, bonito e à mostra. Portanto, sua tarefa é a de um arquiteto que visa a
estudar uma edificação já pronta e buscar compreender e descrever o processo
de sua construção. Preparado(a)? Então, vamos lá.

Origem e Desenvolvimento Histórico


das Neurociências
Como você já sabe, temos intenções aqui e elas estão articuladas, mas
iremos deixar mais clara a maneira como organizamos o todo e as partes deste
capítulo. Na primeira seção, nosso objetivo é apresentar cronologicamente
os estudos da neurociência para que se possa reconstruir o processo das
descobertas e das aplicações dos estudos na área. Feito isso, iremos estabelecer

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Neurociência: evolução e atualidade

relações entre as descobertas realizadas ao longo dos séculos e os estudos mais


recentes, para, finalmente, enumerar os principais avanços da neurociência e
apontar suas contribuições para os estudos atuais.

Agora que você já sabe qual nosso propósito geral e de que maneira nos
organizamos, convidamos você a realizar sua primeira atividade.

Atividades de Estudos:

Observe com atenção e analise a foto que segue:

Figura 1 - Imagens que se encontram no museu Museu


Nacional de Praga (República Tcheca)

1) Observando as três cabeças, o que há de diferente entre elas?


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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

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2) Em que época viveu cada um desses seres representados nas


estátuas? Se tiver dúvidas quanto a isso, faça uma pesquisa em
materiais sobre a evolução das espécies.
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O que você fez até aqui foi olhar para o exterior do ser humano e, partindo
da aparência, fazer inferências sobre a organização cerebral, tendo como ponto
de referência a configuração da cabeça de cada um dos seres representados na
Figura 1. Entretanto, para que se possa saber mais acerca da organização cerebral
humana, as neurociências apresentaram contribuições muito importantes, as quais
foram construídas ao longo de milhares de anos. Para ajudar a fazer um passeio
pela história, consultamos, selecionamos e traduzimos a cronologia apresentada
em “Marcos das Pesquisas em Neurociências”, o qual foi disponibilizado pela
universidade de Washington.

Se você quiser saber mais sobre os marcos das pesquisas em


Neurociências, sugerimos que acesse o site:

http://faculty.washington.edu/chudler/hist.html

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Neurociência: evolução e atualidade

A cronologia está organizada em seis momentos históricos e, como salienta


o autor, nem todos foram incluídos e as pesquisas se deram em diferentes fontes.

Leia com atenção as descobertas e eventos de cada época


e já vá destacando (assinale, pinte, sublinhe) aquelas que julgar
importantes para a evolução dos estudos das neurociências I 4000
a.C. a 0 d.C.

ca. 4000 a.C. - Efeito euforizante da papoula é relatado em


registros sumérios.

ca. 4000 a.C. - Tabuletas de argila da Mesopotâmia discutem


como usar o álcool para diluir medicamentos.

ca. 2700 a.C. - Shen Nung dá origem à acupuntura.

ca. 1700 a.C. - Edwin Smith: primeiro registro escrito sobre o


sistema nervoso (em papiro).

ca. 1400-1200 a.C. – O sistema Ayuvedic de medicina hindu é


desenvolvido.

ca. 500 a.C. - Alcmaion de Crotona disseca nervos sensoriais e
descreve o nervo óptico.

460-379 a.C. - Hipócrates descreve a epilepsia como um distúrbio
do cérebro. Hipócrates afirma que o cérebro está envolvido com
a sensação e é a sede da inteligência.

Figura 2 - Hipócrates (?460 a.C. – ?377 a.C.),


conhecido como o pai da medicina moderna, foi a primeira
pessoa a separar medicina de superstição

Fonte: Disponível em: <http://www.filosofia.com.br/historia_


14 show.php?id=27>. Acesso em: 1º dez. 2012.
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

387 a.C. - Platão ensina em Atenas. Considera o cérebro como a


sede do processo mental.

335 a.C. - Aristóteles escreve sobre o sono; acredita que o


coração é a sede de processo mental.

335-280 a.C. - Herófilo (o “Pai da Anatomia”) acredita que os


ventrículos são sede da inteligência humana.

280 a.C. - Erasístrato de Chios regista as divisões do cérebro.

0 d.C. a 1500

177 - Galeno faz palestra sobre o cérebro.

ca. 100 - Marinus descreve o décimo nervo craniano .

ca. 100 - Rufus de Éfeso descreve e dá nome ao quiasma.

ca. 390 - Nemésio desenvolve a doutrina da localização


ventricular de todas as funções mentais.

ca. 900 - Rhazes descreve sete pares de nervos cranianos e 31


nervos espinhais em Kitab al-Hawi Fi Al Tibb.

ca. 1000 - Al-Zahrawi (também conhecido como Abulcasis ou


Albucasis) descreve vários tratamentos cirúrgicos para distúrbios
neurológicos.

1025 - Avicena escreve sobre a visão e o olho em The Canon of


Medicine.

1088 - Abu Ruh escreve The Light of the Eyes, descrevendo


várias operações de olho.

1260 - Luís IX funda a primeira instituição para cegos.

1316 - Mondino de’Luzzi escreve o primeiro livro europeu de


anatomia (Anothomia).

1402 – O Hospital Santa Maria de Belém é usado exclusivamente


para doentes mentais.

1410 – Uma instituição para doentes mentais é estabelecida em


Valência, Espanha.

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Neurociência: evolução e atualidade

1500 – 1600

1504 - Leonardo da Vinci produz em cera o elenco dos ventrículos


humanos.

Figura 3 – As contribuições em desenho para os estudos da Anatomia

Fonte: Disponível em: <http://www.leonardo-da-vinci-biography.com/


leonardo-da-vinci-anatomy.html>. Acesso em: 1º dez. 2012.

1536 - Nicolo Massa descreve o fluido cerebrospinal.

1538 - Andreas Vesalius publica a Tabulae Anatomicae.

1542 - Jean Fernel publica De naturali parte Medicinae, o qual


traz pela primeira vez o termo “fiosologia”.

1543 - Andreas Vesalius publica On the Workings of the Human


Body.

1543 - Andreas Vesalius discute a glândula pineal e desenha o


corpo estriado.

1549 - Jason Pratensis publica De Morbis Cerebri, um livro


inicialmente dedicado à doença neurológica.

1550 - Vesalius descreve a hidrocefalia.



1550 - Eustachio Bartolomeo descreve a origem cerebral dos
nervos ópticos.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1561 - Gabriele Falloppio publica Observationes Anatomicae e


descreve alguns dos nervos cranianos.

1562 - Eustachio Bartolomeo publica The Examination of the


Organ of Hearin.

1564 - Giulio Cesare Aranzi cunha o termo hipocampo.

1573 - Constanzo Varolio é o primeiro a cortar o cérebro a partir


de sua base.

1573 - Girolamo Mercuriali escreve De nervis opticis, a fim de


descrever a anatomia do nervo óptico.

1583 - Felix Platter afirma que a retina é onde as imagens são


formadas.

1583 - Georg Bartisch publica Ophthalmodouleia: das ist


Augendienst com desenhos de olhos.

1586 - A. Piccolomini distingue entre o córtex e a substância


branca.

1587 - Guilio Cesare Aranzi descreve os ventrículos e o


hipocampo. Ele também demonstra que a retina tem uma imagem
invertida.

1590 - Zacharias Janssen inventa o microscópio composto.

1600 – 1700

1601 - Hieronymus Fabricius ab Aquapendente publica Tractatus


de Oculo Visusque Organo, descrevendo o local correto da lente
em relação à íris.

1604 - Johannes Kepler descreve imagem invertida na retina.

1609 - J. Casserio publica a primeira descrição de corpos


mamilares.

1611 - Lázaro Riverius publica o livro-texto descrevendo


deficiências na consciência.

1621 - Robert Burton publica A anatomia da melancolia sobre a


depressão.

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Neurociência: evolução e atualidade

1623 - Benito de Daca Valdes publica o primeiro livro sobre o


teste de visão e adaptação de óculos.

1641 - Franciscus de la Boe Sylvius descreve a fissura na


superfície lateral do cérebro (fissura silviana).

1644 - Giovanni Battista Odierna descreve o aspecto microscópico


do olho da mosca em L’Occhio della Mosca.

1649 - René Descartes descreve o pineal como centro de controle
do corpo e da mente.

1650 - Franciscus de la Boe Sylvius descreve uma passagem


estreita entre os terceiro e quarto ventrículos (o aqueduto de
Sylvius).

1658 - Johann Jakof Wepfer teoriza que um vaso sanguíneo


quebrado no cérebro pode causar apoplexia (derrame).

1661 - Thomas Willis descreve um caso de meningite.



1662 - De homine de René Descartes é publicado (Ele morreu em
1650).

1664 - Thomas Willis publica Cerebri anatome (em latim).

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

Figura 4 – Cerebri Anatome

Fonte: Disponível em: <http://plato.stanford.edu/entries/


pineal-gland/>. Acesso em: 1º dez. 2012.

1664 - Thomas Willis descreve o décimo primeiro nervo craniano


(nervo acessório).

1664 - Gerardus Blasius descobre e nomeia o “aracnoide”.



1665 - Robert Hooke detalha o seu primeiro microscópio.

1667 - Robert Hooke publica Micrographia.

1668 - l’Abbe Edme Mariotte descobre o ponto cego.



1670 - William Molins nomeia o nervo troclear.

1673 - Joseph Duverney usa em pombos a técnica de ablação


experimental.
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Neurociência: evolução e atualidade

1681 – A edição em Inglês de Cerebri anatome de Thomas Willis


é publicada.

1681 - Thomas Willis cunha o termo Neurologia.



1684 - Raymond Vieussens publica Neurographia Universalis.

1695 - Humphrey Ridley publica A Anatomia do Cérebro.



1696 - John Locke escreve o Ensaio sobre o Entendimento
Humano.

1697 - Joseph G. Duverney introduz o termo “plexo braquial”.

1700 – 1800

1704 - Antonio Valsalva publica No ouvido humano.

1705 - Antonio Pacchioni descreve as granulações aracnoides.

1709 - George Berkeley publica a Nova teoria da visão.

1717 - Antony van Leeuwenhoek descreve as fibras nervosas na


seção transversal.

1721 - A palavra “anestesia” aparece pela primeira vez em Inglês.



1736 - Jean Astruc cunha o termo reflexo.

1749 - David Hartley publica Observações do Homem, o primeiro


trabalho Inglês usando a palavra “psicologia”.

1750 - Jacques Daviel realiza a primeira extração de catarata em
um olho humano vivo.

1752 - A Sociedade dos Amigos estabelece um ambiente
hospitalar para os doentes mentais na Filadélfia.

1760 - Arne-Charles Lorry demonstra que os danos ao cerebelo


afetam a coordenação motora.

1766 - Albrecht von Haller fornece descrição científica do líquido


cefalorraquidiano.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1773 - John Fothergill descreve a neuralgia do trigêmeo (tique


doloroso, síndrome do Fothergill).

1773 - Sir Joseph Priestley descobre o óxido nitroso.



1774 - Franz Anton Mesmer introduz o “magnetismo animal”
(mais tarde chamada de hipnose).

Figura 5 – Franz Anton Mesmer

Fonte: Disponível em: <hediedformygrins.blogspot.com>.


Acesso em: 1º dez. 2012.

1776 - M.V.G. Malacarne publica o primeiro livro dedicado


exclusivamente ao cerebelo.

1777 - Philip Meckel propõe que o ouvido interno é preenchido
com fluido, não ar.

1778 - Samuel Thomas von Soemmerring apresenta a


classificação moderna dos doze pares de nervos cranianos.

1779 - Antonius Scarpa descreve o gânglio de Scarpa do sistema
vestibular.

1782 - Francesco Gennari publica um trabalho sobre “lineola
albidior” (mais tarde conhecida como a faixa de Gennari).

1782 - Francesco Buzzi identifica a fóvea.

1784 - Benjamin Rush escreve que o álcool pode ser uma droga
que vicia.
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Neurociência: evolução e atualidade

1784 - Benjamin Franklin menciona óculos bifocais em uma carta


a George Whatley.

1786 - Felix Vicq d’Azyr descobre o locus coeruleus.

1786 - Samuel Thomas Sommering descreve o quiasma.

1786 - Georg Joseph Beer funda o primeiro hospital de olhos em


Viena.

1791 - Luigi Galvani publica um trabalho sobre estimulação


elétrica de nervos de rã.

1792 - Giovanni Valentino Mattia Fabbroni sugere que a ação do


nervo envolve tanto fatores químicos quanto físicos.

1796 - Johann Christian Reil descreve a insula (ilha de Reil).

1798 - John Dalton, que era daltônico vermelho-verde, fornece


uma descrição científica do daltonismo.

1800 – 1850

1800 - Alessandro Volta inventa a pilha molhada.

1800 - Humphrey Davy sintetiza o óxido nitroso.

1800 - Samuel von Sommering identifica o material preto no


mesencéfalo e o chama de “substantia nigra”.

1801 - Thomas Young descreve o astigmatismo.

1801 - Adam Friedrich Wilhelm Serturner cristaliza ópio e obtém


morfina.

1808 - Franz Joseph Gall publica um trabalho sobre frenologia.

1809 - Johann Christian Reil usa o álcool para endurecer o cérebro.

1809 - Luigi Rolando usa corrente galvânica para estimular o


córtex.
1811 - Jean Julien Legallois descobre o centro respiratório na
medula.

1811 - Charles Bell discute as diferenças funcionais entre raízes


dorsal e ventral da medula espinhal.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1820 – O galvanômetro é inventado.

1821 - Charles Bell descreve paralisia facial ipsilateral (paralisia


de Bell).

1821 - François Magendie discute as diferenças funcionais entre


raízes dorsal e ventral da medula espinhal.

1822 - Friedrich Burdach nomeia o giro cingulado e distingue


geniculado lateral e medial.

1823 - Marie-Jean-Pierre Flourens afirma que o cerebelo regula a


atividade motora.

1824 - John C. Caldwell publica Elementos de Frenologia.

1824 - Marie-Jean-Pierre Flourens faz ablação em detalhes para


estudar o comportamento.

1824 - F. Magendie fornece a primeira evidência do papel do


cerebelo no equilíbrio.

1825 - John P. Harrison apresenta o primeiro argumento contra a
frenologia.

1825 - Jean-Baptiste Bouillaud apresenta casos de perda da fala


após lesões frontais.

1825 - Luigi Rolando descreve o sulco que separa os giros pós-
central e pré-central.

1826 - Johannes Müller publica teoria de “energias nervosas


específicas”.

1832 - Justus von Liebig descobre o hidrato de cloral.



1832 - Jean-Pierre Robiquet isola a codeína.

1832 - Sir Charles Wheatstone inventa o estereoscópio.

1833 - Philipp L. Geiger isola a atropina.

1834 - Ernst Heinrich Weber publica a “Lei de Weber”.

1836 - Marc Dax lê jornal sobre os efeitos do hemisfério esquerdo


danos em discurso.

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Neurociência: evolução e atualidade

1836 - Gabriel Gustav Valentin identifica o neurônio núcleo e o


nucléolo.

1836 - Robert Remak descreve axônios mielinizados e não


mielinizados.

1836 - Charles Dickens (o romancista) descreve a apneia


obstrutiva do sono.

1837 - Janeiro Purkyně (Purkinje) descreve as células


cerebelares; identifica o neurônio núcleo e seus processos.

1837 - A American Physiological Society é fundada.

1838 - Robert Remak sugere que fibras nervosas e células


nervosas são unidas.

1838 - Theordor Schwann descreve a célula formadora de mielina


no sistema nervoso periférico (“célula de Schwann”).

1838 - Jean-Etienne Dominique Esquirol publica Mentales Des


Maladies, possivelmente a primeira obra moderna sobre os
transtornos mentais.

1838 – O Código Napoleônico leva à exigência de instalações


para os doentes mentais.

1838 - Eduard Zeis publica um estudo sobre os sonhos em


pessoas que são cegas.

1839 - Theordor Schwann propõe a teoria celular.

1839 - C. Chevalier cunha o termo micrótomo.



1840 - Moritz Heinrich Romberg descreve um teste para
propriocepção consciente (teste de Romberg).

1840 - Adolph Hannover utiliza ácido crômico para endurecer


tecido nervoso.

1840 - Jules Gabriel François Baillarger discute as conexões


entre a substância branca e cinzenta do córtex cerebral.

1840 - Adolphe Hannover descobre as células ganglionares da


retina.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1841 - Dorothea Lynde Dix investiga brutalidade dentro de


hospitais para doentes mentais nos Estados Unidos.

1842 - Benedikt Stilling é o primeiro a estudar a medula espinhal


em cortes seriados.

1842 - Crawford W. Long usa éter sobre o homem.



1842 - François Magendie descreve a abertura mediana no teto
do quarto ventrículo (forame de Magendie).

1843 - James Braid cunha o termo “hipnose”.

1844 - Robert Remak fornece a primeira ilustração de 6 camadas do


córtex.

1844 - Horace Wells utiliza óxido nitroso durante uma extração de


dente.

1845 - Ernst Heinrich Weber e Edward Weber descobrem que a


estimulação do nervo vago inibe o coração.

1846 - William Morton demonstra anestesia com éter no


Massachusetts General Hospital.

1847 - A anestesia de clorofórmio é usada por James Young


Simpson.

1847 - A Associação Americana para o Avanço da Ciência é


fundada.

1848 - Phineas Gage tem seu cérebro perfurado por uma barra
de ferro.

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Neurociência: evolução e atualidade

Figura 6 – Cérebro perfurado por uma barra de ferro

Fonte: Disponível em: <www.joeltalks.com>.


Acesso em: 1º dez. 2012.

1848 - Richard Owen cunha a palavra “notocorda”.



1849 - Hermann von Helmholtz mede a velocidade dos impulsos
nervosos em rã.

1850 – 1900

1850 - Augustus Waller descreve a aparência de fibras nervosas


em degeneração.

1851 - Jacob Augusto Lockhart Clarke descreve o núcleo dorsal,


uma área. na zona intermediária da matéria cinzenta da medula
espinhal.

1851 - Heinrich Muller é o primeiro a descrever os pigmentos


coloridos na retina.

1851 - Alfonso Corti Marchese descreve o órgão receptor coclear


no ouvido interno (órgão de Corti).

1851 - Hermann von Helmholtz inventa oftalmoscópio.

1851 - Andrea Verga descreve o vergae cavum.

1852 - George Meissner e Rudolf Wagner descrevem as


terminações nervosas encapsuladas, mais tarde conhecidas
como “corpúsculos de Meissner”.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1853 - William Benjamin Carpenter propõe “gânglio sensorial”


(tálamo) como sede da consciência.

1854 - Louis P. Gratiolet descreve circunvoluções do córtex


cerebral.

1855 - Bartolomeo Panizza demonstra que o lobo occipital é
essencial para a visão.

1855 - Richard Heschl descreve os giros transversos no lobo


temporal (giros Heschl).

1859 - Charles Darwin publica A Origem das Espécies.

1859 - Rudolph Virchow cunha o termo neuroglia.

1860 - Albert Niemann purifica cocaína.

1860 - Gustav Theodor Fechner desenvolve a “lei de Fechner”.

1860 - Karl L. Kahlbaum descreve e nomeia “catatonia”.

1861 - Paul Broca discute localização cortical.

Figura 7 – Anatomia cerebral por Paul Broca e Carl Wernicke

Fonte: Disponível em: <wwww.souagora.com.br>. Acesso em: 1º dez. 2012.

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Neurociência: evolução e atualidade

1861 - T.H. Moedas Huxley cunha o termo calcarine sulcus.

1862 - Hermann Snellen inventa cartelas com letras para testar a


visão.

1863 - Ivan Mikhalovich Sechenov publica Reflexos do Cérebro.

1863 - Nikolaus Friedreich descreve uma desordem hereditária e


progressiva degenerativa do SNC (ataxia de Friedreich).

1864 - John Hughlings Jackson escreve sobre a perda da fala


após lesão cerebral.

1865 - Otto Friedrich Karl Deiters diferencia dendritos e axônios e


descreve o núcleo vestibular lateral (núcleo de Deiter).

1866 - Julius Bernstein apresenta a hipótese de que um impulso


nervoso é uma “onda de negatividade”.

1866 - Leopold Agosto Besser cunha o termo “células de Purkinje”.

1867 - Theodore Meynert realiza a análise histológica do córtex


cerebral.

1868 - Julius Bernstein mede a evolução no tempo do potencial


de ação.

1869 - Francis Galton afirma que a inteligência é herdada


(publicação de Hereditary Genius).

1869 - Johann Friedrich Horner descreve doença ocular (pupila


pequena, pálpebra caída), mais tarde a ser chamada de
“síndrome de Horner”.

1870 - Eduard Hitzig e Gustav Fritsch descobrem a área motora


cortical do cão usando estímulo elétrico.

1870 - Ernst von Bergmann escreve o primeiro livro sobre cirurgia


do sistema nervoso.

1871 - Weir Mitchell oferece relato detalhado de síndrome do


membro fantasma.

1872 - Sir William Turner descreve o sulco interparietal.


1872 - Charles Darwin publica A Expressão das Emoções no
Homem e nos Animais.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1874 - Jean Martin Charcot descreve a esclerose lateral


amiotrófica.

1874 - Vladimir Alekseyevich Betz publica trabalho sobre células


gigantes piramidais.

1874 - Roberts Bartholow estimula eletricamente o tecido cortical


humano.

1875 - Sir David Ferrier descreve diferentes partes do córtex


motor do macaco.

1875 - Richard Caton é o primeiro a registrar a atividade elétrica


do cérebro.

1875 - Heinrich Wilhelm Erb e Carl Friedrich Otto Westphal


descrevem o reflexo patelar.

1876 ​​- David Ferrier publica As Funções do Cérebro.

1876 ​​- Francis Galton usa a “natureza e cultura” para explicar


termo “hereditariedade e ambiente”.

1877 - Jean-Martin Charcot publica Palestras sobre as Doenças


do Sistema Nervoso.

1878 - Paul Broca publica trabalho sobre o “grande lobo límbico”.

1878 - Louis-Antoine Ranvier descreve interrupções regulares na


bainha de mielina (nodos de Ranvier).

1879 - Camillo Golgi descreve o que mais tarde seria conhecido


como “órgãos tendinosos de Golgi”.

1879 - Hermann Munk apresenta a anatomia detalhada do


quiasma.

1879 - William Crookes inventa o tubo de raios catódicos.

1879 - Wilhelm Wundt cria laboratório dedicado a estudar o


comportamento humano.
1880 - Jean Baptiste Edouard Gelineau introduz a palavra
“narcolepsia”.

1880 - Friedrich Sigmund Merkel descreve terminações nervosas


livres as quais seriam mais tarde conhecidas como “corpúsculos
de Merkel”.
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Neurociência: evolução e atualidade

1881 - Hermann Munk apresenta relatórios sobre anormalidades


visuais após a ablação do lobo occipital em cães.

1883 - Sir Victor Horsley descreve os efeitos da anestesia com


óxido nitroso.

1883 - Emil Kraepelin cunha os termos neuroses e psicoses.

1883 - George John Romanes cunha o termo “psicologia


comparativa”.

1884 - Karl Koller descobre as propriedades anestésicas da


cocaína.

1884 - Georges Gilles de la Tourette descreve vários distúrbios do


movimento.

1885 - Paul Ehrlich observa que a tintura intravenosa não mancha


o tecido cerebral.

1885 - Carl Weigert introduz hematoxilina para corar a mielina.

1885 - Ludwig Edinger descreve o núcleo que será conhecido


como o núcleo Edinger-Westphal.

1886 - V. Marchi publica procedimentos para corar a degeneração


da mielina.

1887 - Sergei Korsakoff descreve os sintomas característicos em


alcoólatras.

1888 - William Gill descreve anorexia nervosa.

1888 - William W. Keen Jr. é o primeiro americano a remover


meningioma intracranial.

1888 - Giovanni Martinotti descreve células corticais mais tarde


conhecidas como “células Martinotti”.

1889 - Santiago Ramón y Cajal argumenta que as células
nervosas são elementos independentes.

1889 - William cunha o termo dendrite.

1889 - Carlo Martinotti descreve o neurônio cortical com axônio


ascendente (este neurônio hoje leva seu nome, célula Martinotti).

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1890 - Wilhelm Ostwald descobre a teoria de membrana de


condução nervosa.

1890 - William James publica Princípios de Psicologia.

1890 - O termo “testes mentais” foi inventado por James Cattell.

1891 - H. Quincke introduz a punção lombar.

1891 - Wilhelm von Waldeyer cunha o termo neurônio .

Figura 8 - Wilhelm von Waldeyer

Fonte: Disponível em: <http://serendip.brynmawr.edu/exchange/


brains/timeline>. Acesso em: 1º dez. 2012.

1891 - Luigi Luciani publica um manuscrito sobre o cerebelo.

1891 - Heinrich Quinke desenvolve a punção lombar (punção


espinhal).

1892 - Arnold Pick é o primeiro a descrever a “doença de Pick”.

1893 - Paul Emil Flechsig descreve a mielinização do cérebro.

1893 - Charles Scott Sherrington cunha o termo proprioceptivo.

1895 - William Seu primeiro usa o termo hipotálamo.

1895 - Wilhelm Konrad Roentgen inventa o Raio-X.

31
Neurociência: evolução e atualidade

1895 - Heinrick Quincke realiza punção lombar para estudar o


líquido cefalorraquidiano.

1896 - Rudolph Albert von Kolliker cunha o termo axônio.

1896 - Camillo Golgi descobre o aparelho de Golgi.

1896 - Emil Kraeplein descreve a demência precoce.

1897 - Ivan Petrovich Pavlov publica trabalho sobre a fisiologia da


digestão.

1897 - Karl Ferdinand Braun inventa o osciloscópio.

1897 - John Jacob Abel isola adrenalina.



1897 - Charles Scott Sherrington cunha o termo sinapse.

1897 - Ferdinand Blum usa formol como fixador do cérebro.

1898 - John Langley Newport cunha o termo sistema nervoso.

1898 - Angelo Ruffini descreve terminações nervosas


encapsuladas, mais tarde conhecidas como corpúsculos de
Ruffini.

1899 - Francis Gotch descreve uma “fase refratária” entre os


impulsos nervosos.

1900 - 1950

1900 - Sigmund Freud publica A Interpretação dos Sonhos.

1900 - Charles Scott Sherrington afirma que o cerebelo é o


gânglio principal do sistema proprioceptivo.

1900 - M. Lewandowsky cunha o termo “barreira cérebro-sangue”.

1902 - Oskar Vogt e Cecile Vogt cunham o termo “neurofisiologia”.

1903 - Ivan Pavlov cria o termo reflexo condicionado.

1905 - Alfred Binet e Theodore Simon apresentam seu primeiro


teste de inteligência.
32
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1905 - John Langley Newport cria a expressão “sistema nervoso


parassimpático”.

1906 - Alois Alzheimer descreve a degeneração pré-senil.

1906 - Sir Charles Scott Sherrington publica A ação integradora


do sistema nervoso, que descreve a sinapse e o córtex motor.

1907 - Ross Granville Harrison descrevem os métodos de cultura


de tecidos.

1907 - John Langley Newport introduz o conceito de moléculas


receptoras.

1908 - Vladimir Bekhterew descreve o núcleo superior do nervo


vestibular (núcleo do Bekhterew).

1908 - Oberga introduz a punção cisterna, um método para


acessar o líquido cefalorraquidiano através da cisterna magna.

1909 - Harvey Cushing é o primeiro a estimular eletricamente o


córtex sensorial humano.

1909 - Korbinian Brodmann 52 descreve as discretas áreas


corticais.

1909 - Karl Jaspers publica Doença Mental Geral.

1910 - Emil Kraepelin nomeia a doença de Alzheimer.

“O anseio de Kraepelin era o de demonstrar que as doenças


mentais tinham uma base anatômica, mas as alterações cerebrais
estruturais associadas às doenças mentais eram só accessíveis
através de investigação de achados pós-morte e, na época, Kraepelin
possuía colaboradores que se tornaram famosos nesta empreitada:
Alzheimer, Nissl e o casal Vogt (Tsuang et al., 1995).” (ELKIS, 1996).

1911 - Eugen Bleuler cunha o termo esquizofrenia.

1912 - Fórmula original para o quociente de inteligência (QI),


desenvolvida por William Stern.

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Neurociência: evolução e atualidade

1913 - Edwin Ellen Goldmann encontra a barreira hematoencefálica


impermeável a grandes moléculas.

1913 - Walter Samuel Hunter inventa o teste da resposta retardada.

1915 - J.G. Dusser De Barenne descreve a atividade do cérebro


após a aplicação de estricnina.

1916 - Shinobu Ishihara publica um conjunto de placas para testar


a visão de cores.

1918 - Walter E. Dandy introduz a ventriculografia.

1919 - Cecile Vogt descreve mais de 200 áreas corticais.

1919 - Walter E. Dandy introduz a encefalografia .

1919 - Pio del Rio Hortega divide neuroglia em microglia e


oligodendroglia.

1920 - Henry Head publica Estudos em Neurologia.

1920 - Stephen Walter Ranson demonstra as conexões entre o


hipotálamo e a hipófise.

1920 - John B. Watson e Rosalie Rayner publicam experimentos


sobre o condicionamento clássico de medo (experimentos
pequeno Albert).

1921 - Otto Loewi publica trabalho sobre Vagusstoff.

1924 - Charles Scott Sherrington descobre o reflexo de


estiramento.

1928 - Walter Rudolf Hess relata “respostas afetivas” à


estimulação hipotalâmica.

1928 - John Fulton publica suas observações (feitas em 1926


e 1928) dos sons do sangue que flui ao longo do córtex visual
humano.

1929 - Hans Berger publica suas conclusões sobre o


eletroencefalograma em ser humano.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

1932 - Max Knoll e Ernst Ruska inventou o microscópio eletrônico.

1932 - Edgar Douglas Adrian e Charles S. Sherrington: Prêmio


Nobel com o trabalho sobre a função dos neurônios.

1936 - Egas Moniz publica trabalhos sobre a lobotomia frontal


humana.

1936 - Walter Freeman executa lobotomia nos Estados Unidos.

1937 - James Papez publica trabalho sobre o circuito límbico.

1936 - Hospital Geral de Massachusetts tem seu primeiro


laboratório EEG.

1938 - Isador Rabi cunha o termo “ressonância magnética”.

1938 - Skinner publica O Comportamento dos Organismos que


descreve o condicionamento operante.

1938 - Ugo Cerletti e Lucino Bini: tratamento de pacientes


humanos com eletrochoque.

1938 - Franz Kallmann publica a genética da esquizofrenia.

1946 - Theodor Rasmussen descreve o feixe olivococlear (pacote


de Rasmussen).

1946 - Presidente Truman assina o Ato Nacional de Saúde Mental.


1948 - A Organização Mundial de Saúde é fundada.

1949 - Horace Winchell Magoun define o sistema ativador reticular.

Fonte: Disponível em: <http://faculty.washington.edu/


chudler/hist.html>. Acesso em: 1º dez. 2012.

Até você pode acompanhar, de forma didática, os acontecimentos marcantes


que irão, durante a leitura do caderno de estudos, auxiliá-lo a compreender de
que formas as descobertas se articulam. Vale esclarecer que cada pesquisador
atuou em momentos distintos e em lugares diferentes, cada um dentro de um

35
Neurociência: evolução e atualidade

contexto de descobertas e tecnologias possíveis para aquele momento. Portanto,


não podemos ler a cronologia de forma linear apenas, é preciso relacionar o
que ocorreu, onde e quando, a fim de perceber que as novas descobertas estão
relacionadas com outras e, assim, alimentam novas investigações e ampliação
dos recursos tecnológicos possíveis para um dos momentos históricos.

Atividade de Estudos:

1) Antes de seguirmos adiante e analisarmos as principais


contribuições na segunda metade do século XX:

a) Faça uma síntese do que você considerou importante durante sua


leitura da cronologia, retomando fatos e pesquisadores, justifique
suas escolhas.

b) A fim de ajudar você a refletir sobre a história das neurociências


quando toda a tecnologia atual ainda não estava disponível para
os estudos desse espaço tão misterioso que é o cérebro, discuta
acerca dessas questões: O que as descobertas significaram
ao longo do tempo? A que se pode atribui os avanços em cada
momento histórico? Quem são essas pessoas e como se deram
essas descobertas? Como seria o nosso século se não tivessem
ocorrido essas descobertas?
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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

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Os Principais Avanços da Neurociência


e suas Contribuições para os Estudos
Atuais
Um dos objetivos desse capítulo é historicizar os estudos da neurociência, a
fim de que se possa reconstruir o processo de descobertas e das aplicações dos
estudos na área. Esperamos que você tenha compreendido que as descobertas
se deram dentro de um momento histórico o qual tinha seus recursos de pesquisa.
Os limites de cada momento auxiliaram nos avanços sobre os quais iremos
estudar nesta seção.

Foram muitos estudos para que cada parte do todo fosse compreendida em
relação às funções de cada órgão e da relação entre eles. Entretanto, apenas
quando os aparelhos para os estudos mais detalhados do cérebro foram se
desenvolvendo é que as descobertas até então realizadas foram confirmadas,
revistas e ampliadas, pois, como você pode refletir em sua atividade anterior, a
ciência parte sempre de conhecimentos já elaborados, os quais são refutados,
reafirmados, alterados ou apenas complementados.

Vamos, então, rever alguns momentos já apresentados na cronologia e


outros novos, pois houve contribuições anteriores que foram fundamentais para
os avanços das neurociências. O que selecionamos para estudo possibilitou aos
cientistas conhecer um pouco mais o funcionamento interno do corpo humano.
Você já sabe que, em 1895, Wilhelm Konrad Roentgen inventou o Raio-X, o que
foi um marco no século XIX, fechando um ciclo e abrindo outro.

37
Neurociência: evolução e atualidade

Figura 9 – Equipamento móvel de radiografia em ambulância

Fonte: Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n20/


history/neuroimage2_p.htm>. Acesso em: 1º dez. 2012.

Em 1912, ocorreu, ainda que de forma incidental, a descoberta da


pneumoencefalografia (visualização radiográfica dos  ventrículos cerebrais  por
injeção de ar ou outro gás). Esta técnica, segundo Elkis (1996), foi usada até o
início dos anos 70, mas apresentava grandes problemas metodológicos para a
psiquiatria.

Na década seguinte (a de vinte), surgiu a angiografia cerebral, graças aos


trabalhos e investigações de Egas Morniz, o que possibilitou o início de estudos
acerca de algumas relações entre estados mórbidos neurológicos e determinadas
alterações do líquor. Essas técnicas foram auxiliando as pesquisas, investigações
in vivo das alterações de estruturas cerebrais.

Angiografia Cerebral: Uma angiografia cerebral é um raio X


que mostra os vasos sanguíneos na cabeça. É usado para verificar
se há a presença de aneurismas, má-formações, coágulos de
sangue, redução ou bloqueio deste ou mudanças devido a um tumor,
a um sangramento interno ou a um inchaço.

Líquor ou líquido cefalorraquidiano, é popularmente conhecido


como “líquido da espinha”. É produzido no cérebro, distribuindo-
se pelo espaço entre a superfície cerebral e o crânio e ao redor da
medula espinal. Seu volume total é renovado três vezes por dia e,
38
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

depois de circular pelo espaço subaracnóide (entre as meninges), é


absorvido pelo sistema venoso. Sua principal função é a de servir
como um amortecedor entre o cérebro e a caixa óssea craniana, mas
também exerce importante papel como interface entre o cérebro e o
sangue na troca de fluidos e eletrólitos, além de ser um dos fatores
de regulação da pressão intracraniana.

E, em 1940, foi introduzida a imagem por ultrassonografia. O que isso


significa? Que se começava a ter maiores possibilidades investigativas do ser
humano, mas somente com os avanços dos estudos nas áreas das neurociências,
e aqui se incluem emprego de técnicas avançadas de neuroimagem, é que se
começa a compreender mais e melhor muitos fenômenos que até então careciam
de aparatos ampliados para sua investigação. Isso inclui estudos sobre a
ampliação dos conhecimentos acerca dos circuitos cerebrais e das funções que
estão relacionadas à cognição humana, bem como às doenças mentais e outros
problemas que encontramos muitas vezes em nossas famílias, como o mal de
Alzheimer, cuja degeneração pré-senil foi descrita por Alois Alzheimer, com você
já leu anteriormente.

Pré-Senil: Relativo a um estado ou às perturbações que


precedem a velhice. Ex.: catarata pré-senil, psicose pré-senil.

Você poderá ver mais adiante que os avanços da neurociência, Com o uso de
especialmente pelo uso das neuroimagens, trouxeram detalhes sobre técnicas de
as áreas do cérebro que já vinham sendo estudadas no século XIX, neuroimagem
mas que não poderiam ser detalhadas com a especificidade que hoje funcional, ocorreu
ocorre. Uma dessas áreas, por exemplo, é a da leitura e a descoberta a possibilidade
de Dehaene (2012) dos neurônios da leitura. Com o uso de técnicas de comprovação
de neuroimagem funcional, ocorreu a possibilidade de comprovação de hipóteses
de hipóteses já aventadas, refutação de outras e revisão ou ampliação já aventadas,
de descobertas sobre como nosso cérebro funciona e quais as áreas refutação de
responsáveis por cada função (ainda que se deva pensar na intrincada outras e revisão
rede que ali ocorre), que faz de nosso cotidiano um viver simples como ou ampliação
andar, falar, ler. de descobertas
sobre como
nosso cérebro
funciona.

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Neurociência: evolução e atualidade

Atividade de Estudos:

1) Para saber um pouco mais sobre os usos e até mesmo a invenção


ou surgimento de toda essa tecnologia, sugerimos que pesquise
as seguintes técnicas:

a) Tomografia Computadorizada ou TC Axial (CAT, em inglês): 


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b) Ressonância Magnética  - RM - (MRI, em inglês)


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c) Ressonância Magnética Funcional – RMf (fMRI, em inglês)


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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

d) Tomografia  de Emissão de Pósitrons ou PET-scan  (PET,  em


inglês)
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e) Magnetoencefalografia (MEG)
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Para fechar este capítulo, apresentaremos alguns avanços na área das


neurociências que serão retomadas ao longo do fascículo. Para isso, realizou-
se uma síntese das discussões apresentadas por Dehaene (2012), bem como
trechos de sua obra no que tange aos recursos investigativos. Segundo ele, a
leitura do cérebro, com as técnicas da imagem cerebral funcional, ocorreu há
aproximadamente vinte anos. A observação dos processos, por exemplo, de
leitura, foram não apenas realizados em pessoas doentes como portadores de
alexia ou deslexia, por exemplo, mas também em sadias e pode-se observá-las
em experiência de leitura de palavra. O que isso significou? A visualização da
atividade cerebral no momento em que a pessoa realiza a operação mental, ou
seja, no caso da dislexia, realiza a leitura.

Para completar nossos estudos a respeito, trazemos as descobertas de 1988,


depois ampliadas pelo uso da IRM funcional, o que revela que os avanços são
sempre uma revisita às descobertas já ocorridas. Sobre isso, é importante saber:

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Neurociência: evolução e atualidade

“Em 1988 aparece o um artigo que inaugurou, de modo


espetacular, a era da imagem cerebral funcional. Steven Petersen e
seus colegas estabelecem um marco ao revelar, pela primeira vez,
a organização funcional das áreas cerebrais da linguagem, com a
ajuda de um novo método: a tomografia por emissão de pósitrons”.
(DEHAENE, 2012, p. 81).

No que tange às Como você já realizou sua pesquisa (na atividade complementar)
áreas destinadas a respeito desse método, já sabe que há uma injeção de uma dose de
à escuta de água radioativa, ainda que fraca, para mapear as regiões de atividade
palavras, leitura cerebral. No que tange às áreas destinadas à escuta de palavras,
de palavras, leitura de palavras, produção de palavras e associação de palavras,
produção de foi em 1988 que estas áreas foram evidenciadas. Você pode ver isso
palavras e melhor na figura que segue:
associação de
palavras, foi em Figura 10 - Áreas do cérebro reveladas pela primeira vez pelo
escaneamento PET (datada por Peterse et al., 1989)
1988 que estas
áreas foram
evidenciadas.

Fonte: Disponível em: <http://readinginthebrain.pagesperso-orange.


fr/img/small/Diapositive9.jpg>. Acesso em: 1º dez. 2012.

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Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução

Na Figura 10 você encontrou algumas expressões em inglês,


segue a tradução desses termos:

Listing to words = ouvir palavras; Reading words = ler palavras;


Producing = produzir palavras; Associating = associação de palavras.

Mas, como você já deve ter percebido, os avanços vão colocando


de lado algumas formas de investigação das atividades cerebrais
e incluindo outras. O que surge, então, para detalhar ainda mais a
atividade cerebral, levando, por exemplo, à compreensão de como
lemos palavras?

Foi com o advento da imagem funcional por ressonância magnética (IRM


funcional). Qual a vantagem desse uso? Não era mais preciso injetar no sujeito
produtos radioativos, como explica Dehaene (2012, p. 84), pois no IRM funcional
o próprio sangue serve de produto para contraste. Além disso, o acesso a essas
máquinas se encontra em muitos hospitais e apresenta uma grande vantagem
que é “[...] a de fornecer uma série de medidas da atividade cerebral com uma
grande rapidez. No curso de um só exame, podem-se facilmente obter algumas
centenas de imagens do cérebro inteiro, numa escala de alguns milímetros, na
razão de um a cada dois ou três segundos (contra uma imagem a cada 10 ou 15
minutos para a câmera de pósitrons).” (DEHAENE, 2012, p. 84).

Algumas Considerações
Pelo que você viu aqui, foi preciso muito investimento para tornar os métodos
invasivos em outros não agressivos e mais eficientes, avançando, assim, nos
estudos das neurociências. Guarde bem o que estudou até o momento, pois irá
precisar desses conhecimentos para os estudos que seguem. Afinal, descobrir
como lemos, como vemos imagens, como atribuímos significado ao que lemos
acontece em um lugar que só foi descoberto graças a tudo que estudamos até aqui.

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Neurociência: evolução e atualidade

Referências
D’AQUILI, Eugene G. The biopsychological determinants of culture. An Addison-
Wesley Module in Anthropology. Reading, Mass.: Addison-Wesley,1972.

DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa


capacidade de ler. Porto Alegre: Artes Médicas, 2012.
ELKIS, Hélio. Neuroimagem em psiquiatria: achados recentes de alterações
estruturais no alcoolismo, esquizofrenia e transtornos do humor. Revista
Psiquiatria clínica, v. 23/24, n. 4/1-3, p. 18-23, 1996.

Marcos das pesquisas em neurociências. Disponível em: <.http://faculty.


washington.edu/chudler/hist.html>. Acesso em: 1º dez. 2012.

SABBATINI, Renato M.E. A História da Neuroimagem. Mente e Cérebro.


Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n20/history/neuroimage2_p.
htm>. Acesso em: 1º dez. 2012.

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