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BOA VISTA, RR
2018
HELENA MARTINS DOS SANTOS
BOA VISTA, RR
2018
HELENA MARTINS DOS SANTOS
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Professora Dr.ª Gardênia Holanda
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Professora Dr.ª Nívia Pires Lopes
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Professor Ms. Rodrigo de Barros Feltran
AGRADECIMENTOS
Sou grata a Vida pelas oportunidades e pela evolução que tive nessa caminhada. Grata
aos meus pais, pelo amor, apoio, dedicação, por transmitirem o gosto à leitura e pelos elogios
e repreensões que tanto me ensinaram. As minhas irmãs por serem amigas sinceras e pelo
companheirismo ao longo dos anos.
À professora Gardênia por ter me acolhido como orientanda, pela paciência e por
transmitir tranquilidade à minha pessoa nesse processo.
Aos amigos que fiz no curso: Augusto Cesar, Esther Brasil, Gabriel Carlon, Luzia
Rafaela e Susany Rego pela parceria, trabalho em equipe e carinho. Aos meus amigos Raphael
Perini, Nathielle Wajima, Sandra Galvez e Fabrizio Gentilcore que mesmos distantes sempre
me incentivaram a pensar positivo.
Expresso gratidão ao departamento e professores do curso de zootecnia e agronomia que
de alguma maneira contribuíram para minha formação, em especial às professoras Denise de
Melo, Raimifranca Veras e Regina Umigi pelo apoio, conversas, conselhos e abraços no
corredor.
Não se pode banhar duas vezes nas águas do
mesmo rio.
Heráclito (535-475 a.C.)
RESUMO
A água é um recurso natural essencial para o planeta. O ser humano utiliza-se desse bem nas
atividades agropastoris, nas industrias, no fornecimento de energia, no saneamento básico, nos
transportes (navegação), na preservação de fauna e flora e na recreação. Por meio de uma
revisão de literatura foi possível refletir e discorrer sobre: a importância da água como recurso
natural; a legislação da água e o uso desse recurso na produção animal, bem como os possíveis
impactos gerados por esse setor na qualidade da água. As ações antrópicas cada vez mais geram
pressões no meio em que estamos inseridos, e dessa forma, a água utilizada nas atividades
socioeconômicas retornam ao ambiente com sua qualidade alterada. A diminuição da qualidade
da água associada com o aumento da demanda por esse elemento e mudanças climáticas,
levaram muitos países a discutirem e reverem a gestão dos seus recursos hídricos. Neste sentido
a legislação brasileira reúne diversos instrumentos e disposições sobre o domínio e
aproveitamento das águas, bem como as competências legislativas e administrativas da União,
Estados e Municípios, com normas e dispositivos que garantem o acesso a água potável assim
como sua proteção e preservação. Na produção animal, além de ser usada na dessedentação dos
animais a água é empregada na irrigação de pastagem, limpeza de instalações bem como na
ambiência dos animais. Os casos problemáticos relacionados à qualidade de água no Brasil
estão associados aos resíduos gerados pelos esgotos de origem urbana e aos efluentes
industriais, de atividades intensivas de criação animal e de atividades extensivas da agricultura.
No Estado de Roraima, observa-se escassez de estudos e levantamentos técnicos que
quantificam o volume de água direcionado para as cadeias de produção animal e ainda, de
análises químicas e microbiológicas que avaliem a qualidade da água utilizada por estes setores.
Assim como qualquer outra atividade antrópica, as atividades agropecuárias, podem afetar a
qualidade da água ao gerar modificações nas características físico químicas e microbiológicas
desse elemento. Temos que nos conscientizar que vivemos numa relação de interpendência com
nosso planeta e, dessa forma, buscar desenvolver atividades de forma sustentável.
Water is an essential natural resource for the planet. The human being uses this property in
agropastoral activities, in industries, in the supply of energy, in basic sanitation, in transport
(navigation), in the preservation of fauna and flora and in recreation. Through a literature review
it was possible to reflect and discuss: the importance of water as a natural resource; water
legislation and the use of this resource in animal production, as well as the possible impacts
generated by this sector on water quality. The anthropic actions increasingly generate pressures
in the environment in which we are inserted, and in this way, the water used in the
socioeconomic activities return to the environment with its altered quality. Declining water
quality associated with increased demand for water and climate change has led many countries
to discuss and review the management of their water resources. In this sense, the Brazilian
legislation brings together various instruments and provisions on the domain and use of water,
as well as the legislative and administrative competencies of the Union, States and
Municipalities, with norms and devices that guarantee access to drinking water as well as its
protection and preservation. In animal production, besides being used in the watering of
animals, water is used for irrigation of grazing, cleaning of plants as well as in the environment
of animals. The problematic cases related to water quality in Brazil are associated to waste
generated by urban sewage and industrial effluents, intensive animal husbandry activities and
extensive agriculture activities. In the State of Roraima, there is a shortage of studies and
technical surveys that quantify the volume of water directed to animal production chains and
also of chemical and microbiological analyzes that evaluate the water quality used by these
sectors. Like any other anthropic activity, agricultural activities can affect water quality by
generating changes in the physical and chemical characteristics of this element. We have to
realize that we live in a relationship of interplay with our planet and, in this way, seek to develop
activities in a sustainable way.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 9
REFERENCIAS ....................................................................................................................... 34
8
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Por meio de uma revisão de literatura refletir e discorrer sobre o uso da água na
produção animal e os possíveis impactos gerados por esse setor na qualidade da água.
3 MATERIAL E METÓDOS
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A água é um recurso natural essencial para a preservação da vida no planeta, uma vez
que corresponde ao componente principal e mais abundante na matéria viva. Além de ser
fundamental em reações metabólicas, é importante para manutenção da temperatura corporal,
devido seu alto calor específico. A porcentagem deste elemento no organismo irá depender da
espécie e idade do animal. No homem representa cerca de 60% do seu peso, nos vegetais até
90% e em alguns animais aquáticos esse percentual alcança 98% (BASSOI; GUAZELLI,
2004). Além disso, o ser humano utiliza-se desse bem nas atividades agropastoris (irrigação e
dessedentação de animais), nas industrias, no fornecimento de energia, no saneamento básico,
nos transportes (navegação), na preservação de fauna e flora e na recreação.
De acordo com o levantamento realizado nesta revisão, parte da superfície do planeta
terra é recoberta por água que está distribuída de maneira heterogênea pelos oceanos, rios,
lagos, geleiras, calotas polares, no ar e no subsolo. Há disparidades quanto a quantidade exata
de água no mundo, no entanto pode-se afirmar que sua maior parte é representada pela água
dos oceanos e uma pequena parcela por água doce. Para Bassoi e Guazelli (2004) do total de
água disponível no planeta, 97% equivale a água dos oceanos e 3% a água doce, deste, 2,4%
está em forma de gelo e na atmosfera e 0,6% equivale a água na superfície e subtérrea. Como
o processo de dessalinização ainda é muito custoso (BRAGA et al., 2005), do total de água
disponível no mundo temos acesso a uma restrita parte que podemos consumir.
A água é um elemento que circula constantemente na Terra nos seus três estados –
sólido, liquido e gasoso e esse movimento é conhecido como Ciclo Hidrológico sendo
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sustentado pela energia solar e força da gravidade. Os fenômenos básicos do ciclo são a
evaporação e precipitação (BRAGA et al., 2005). Em resumo, as águas dos oceanos, lagos e
rios quando aquecidas evaporam para a atmosfera, o que forma as nuvens e dependendo das
condições atmosféricas, essas irão se condensar e precipitar em forma de chuva, granizo ou
neve (Figura 1). A precipitação e o derretimento de geleiras abastecem córregos, rios e lagos e
essa água seguirá três rotas: uma porção se retém na cobertura vegetal, outra escoa pela
superfície e uma parte se infiltra nas camadas mais profundas dos solos, o que os torna um
reservatório importante de água.
seu território. Esses são alimentados principalmente pelas chuvas, o rio Amazonas, além disso
tem suas nascentes reabastecidas pelo derretimento de neve das geleiras andinas (GEO
BRASIL, 2007; HIRSCH, 2013).
LEGISLAÇÃO DA ÁGUA
Vale ressaltar que em 1934 foi criado o Código de Águas, através do Decreto n º
24.643, que possibilitou ao Poder Público regular e gerenciar o aproveitamento das águas pelas
indústrias, principalmente as de exploração de energia hidráulica. O código garantia o uso
comum e gratuito das águas e previa o pagamento pelo uso desta, entretanto não possuía normas
diretas quanto a conservação e preservação desse recurso (MILARÉ, 2011; ARMANDO e
VALADÃO, 2015). Em 1981 foi decretada, através da Lei 6.938, a Política Nacional do Meio
Ambiente que determina padrões de qualidade ambiental como instrumento para a gestão de
recursos naturais, que estão estabelecidos por Resoluções do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), a lei também possibilita a cobrança e recuperação por danos realizados
nos recursos naturais (MILARÉ, 2011).
O CONAMA classifica as águas de acordo com o teor de salinidade em: doce, salobra
e salina. A doce possui salinidade igual ou inferior a 0,5%, enquanto a salobra entre 0,5% e
30%, já a água salina possui salinidade igual ou superior a 30 % (BRASIL, 2005). A Resolução
do CONAMA nº 357/2005 estabelece as classes de qualidade para essas águas (Figura 3),
enquanto a Resolução nº 396/2008, dispõe sobre a classificação e as diretrizes ambientais para
o enquadramento das águas subterrâneas.
1
Ou competência administrativa, corresponde ao dever/direito de colocar em ação os comandos ou prerrogativas
previstos nas normas constitucionais e infraconstitucionais (Jusbrasil).
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encontram em áreas protegidas por lei e os que constituem fronteiras entre estados e o país, já
os corpos hídricos superficiais presentes completamente em uma Unidade Federal e as águas
subterrâneas são de domínio estadual (ANA, 2017). Fiorillo atenta que ‘domínio público’ não
faz do entes federados proprietários do bem
2
De acordo com artigo 225 da Constituição de 1988 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Segundo Fiorillo o termo
bem de uso comum era utilizado no art. 66, I, do Código do Consumidor de 1916 que foi revogado pelo Código
do Consumidor (art. 81, parágrafo único, I) dando origem aos bens de uso difusos.
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outorga dos recursos hídricos de domínio da União (nas águas de domínio estadual tal atribuição
compete aos órgãos indicados em suas respectivas leis), além de fiscalizar o cumprimento das
normas, observar as condições dos recursos hídricos do Brasil e em parceria com demais
entidades públicas, produzir estudos estratégicos (ANA, s.d.).
Pode-se afirmar que a Lei das Águas é um dos principais instrumentos legislativo
nacional de políticas hídricas, pois trouxe mudanças ao incluir princípios inovadores. Vale
ressaltar que a Política Nacional de Recursos Hídricos serve como um documento-guia com
macro diretrizes que orientaram a implementação da política e das ações do SINGREH, a nível
estadual e distrital. As políticas de recursos hídricos são construídas de maneira participativa,
envolve órgãos governamentais, sociedade civil, usuários e distintas instituições (ANA, 2017).
Em Roraima, a lei nº 547, de 23 de junho de 2006 estabelece a Política Estadual de
Recursos Hídricos, bem como a instituição do Sistema Estadual de Gerenciamento dos
Recursos Hídricos, sendo o órgão gestor a Fundação do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
de Roraima – FEMARH (GOVERNO DE RORAIMA, 2006).
Pretende-se com a PNRH garantir para a atual e futura gerações água que atende os
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, bem como promover o uso racional e
integrado dos recursos hídricos, além de promover a captação, preservação e reaproveitamento
das águas pluviais3 (BRASIL, 1997). Em relação aos fundamentos da PNRH, a lei reconhece
que a água é um recurso natural finito e provido de valor econômico e que em casos de escassez
deve se dar prioridades ao consumo humano e dessedentação dos animais; estabelece que a
gestão dos recursos hídricos deve ser de forma descentralizada e participativa com o
envolvimentos do Poder Público, dos usuários e da comunidade de modo a proporcionar usos
múltiplos as águas. Além disso, delimita a bacia hidrográfica como unidade territorial para
atuação e implementação da PNRH (BRASIL, 1997), o que para Milaré (2011) ‘é a grande e
radical inovação, e maior desafio’, Machado (2010) acredita que tal forma de administração
possui limitações e levanta os questionamentos: Quem administrará a bacia quando o curso de
água principal for federal e os cursos de água tributários for estadual, e nesse caso, quem será
o responsável por efetuar a outorga dos recursos hídricos?
3
Esse inciso foi incluído recentemente no artigo 2 º da Lei das águas pela Lei nº 13.501 de 2017.
19
Destaco aqui três diretrizes inseridas na lei: a gestão sistemática dos recursos hídricos
sem dissociação de quantidade e qualidade; integração da gestão de recursos hídricos com a
gestão ambiental e a articulação da gestão dos recursos hídricos com a do uso do solo.
Bittencourt e Pereira (2014) ao analisarem a legislação brasileira quanto a temática
concluem que a legislação brasileira garante o acesso à água potável e por meio de normas aduz
orientações, obrigações e penalidades que envolvem o uso, a proteção e a preservação da água.
Como exposto, a Política Nacional de Recursos Hídricos institui fundamentos e instrumentos
de gestão a fim de regular o uso do recurso água, Armando e Valadão (2015) afirmam que o
país ainda está se adaptando à PNRH e se espera alcançar um sistema de gestão efetivo e capaz
de promover a sustentabilidade hídrica com apoio e participação da sociedade civil.
A Embrapa territorial esclarece que esses dados não representam valores absolutos
devido as mudanças que podem ocorrer no território, isso é observado no último censo
21
4
A irrigação de pastagens está inclusa neste montante, vide http://atlasirrigacao.ana.gov.br/
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ingestão e o consumo de água por animais de produção, onde o consumo de água varia em
função da dieta, da região, do clima do local, da idade e da condição fisiológica dos animais
(BERTECHINI, 2006; GÓMEZ, 2015; GONSALVEZ NETO, 2012; TAKAHASHI,
TAKAHASHI e BILLER, 2009; NÚÑEZ e RUEDA, 2013; TEIXEIRA, 1997;).
A pecuária se relaciona com a agricultura, pois se beneficia do fornecimento de
insumos, como soja e milho, para a produção de ração e, por vezes, a agricultura utiliza as fezes
dos animais como adubo natural. Em escala global, a produção agropecuária é responsável pelo
maior consumo de água, todavia os setores industrial e doméstico também utilizam
consideráveis volumes desse recurso (ANA, 2017; HOEKSTRA et al., 2011; SILVA et al.,
2013). Abaixo, na figura 6, pode-se observar a média do total de água consumida no Brasil e a
porcentagem de consumo por cada setor; onde a pecuária absorve 123 m3/s, sendo a maior parte
referente aos bovinos (ANA, 2017).
Qualquer país que almeja a preservação e conservação dos seus recursos naturais deve
ter estudos que avaliem as demandas hídricas das suas commodities agro-pecuárias,
caso contrário, o país tem alto risco de apresentar escassez hídrica, poluição e
contaminação das suas águas, bem como sempre será refém de estudos internacionais
(PALHARES, 2012; p. 20).
A Pegada Hídrica é um método que indica o volume total de água doce usada ao longo
de toda produção e consumo de bens e serviços, seja de uso direto ou indireto5 (HOEKSTRA
et al., 2011; SILVA et al., 2013). De acordo com Hoekstra et al.(2011) por meio da avaliação
de pegadas hídricas é possível “analisar como as atividades humanas ou produtos específicos
se relacionam com questões de escassez de água e poluição”. Esse indicador de uso da água
introduziu os conceitos de água azul, verde e cinza, a saber:
Água azul: águas superficiais ou subterrâneas, ou seja, água de rios, represas e
lagos ou poços.
Água verde: água precipitada presente temporariamente na superfície do solo ou
na vegetação; que não é armazenada nos mananciais.
Água cinza: água necessária para diluir efluentes, respeitando-se os padrões de
qualidade de água.
Conforme Palhares (2012) este método provocou uma nova forma de entender a cadeia
de produção no setor pecuário, sendo aceito pela comunidade cientifica e governos. O autor
ainda ressalva a importância de se explicar o método a sociedade e ao setor produtivo, pois a
mera divulgação dos dados pode levar a compreensões errôneas e gerar conflitos. Um exemplo
dado, ainda por este autor, foi o da divulgação que para se produzir um quilograma de carne
bovina consome-se 15.500 L/kg/carne, entretanto não foi divulgado para a sociedade como se
chegou a esse número: que se levou em consideração o sistema produtivo industrial, onde em
média leva cerca de três anos para o animal ser abatido e produzir 200 kg de carne. Para este
autor este sistema não pode ser visto como padrão, uma vez que, o sistema predominante de
criação de bovinos no mundo é a pasto. Além disso, é aconselhado não comparar os resultados
5
O uso direto refere-se ao consumo propriamente dito da água enquanto o uso indireto diz respeito a água embutida
em produtos que consumimos, como por exemplo os produtos alimentícios.
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dos cálculos de pegada hídrica, pois a água tem alta relação com a região local, e a pegada
hídrica irá variar entre países e sistemas de produção (HOEKSTRA et al., 2011; PALHARES,
2012).
A depender do foco de interesse, pode-se avaliar a pegada hídrica de pessoas, cidades,
países, indústrias, sistemas agropecuários ou de um determinado produto. É possível ter acesso
aos cálculos de pegada hídrica acessando o ‘Manual de avaliação da pegada hídrica’, elaborado
por Hoekstra et al.(2011). Para Silva et al. (2013) esse assunto ainda é incipiente no Brasil,
Palhares (2016) declara que, em nosso país a temática relação da água com a produção animal,
ainda é pouco explorada pelas produções técnicas, para o autor essa realidade deverá mudar
devido as alterações climáticas, escassez hídrica e aos conflitos do uso da água.
A relação da produção animal e qualidade da água também tem despertado a
preocupação da sociedade (PALHARES, 2016), que cada vez mais questiona os impactos
ambientais que os sistemas de produção animal podem gerar. Temos que nos conscientizar que
ao utilizar os recursos naturais geramos impacto. As atividades humanas geram resíduos que,
dependendo da concentração no meio levam a poluição (BRAGA et al. 2005). Esses mesmos
autores consideram que o mundo passa por um desequilíbrio, visto que, os resíduos são gerados
em ritmos maiores que a capacidade de reciclagem do meio. Os casos problemáticos
relacionados à qualidade de água no país estão associados aos resíduos gerados pelos esgotos
de origem urbana e aos efluentes industriais, de atividades intensivas de criação animal e de
atividades extensivas da agricultura (GEO BRASIL, 2007).
Foi possível investigar algumas publicações que, de forma geral, abordam a influência
da produção animal na qualidade da água. Esses trabalhos consideraram os critérios para avaliar
a qualidade da água já citados anteriormente nesta revisão, como os parâmetros físico-químicos
e biológicos: temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de
oxigênio (DBO), coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total, sólidos totais e
turbidez.
mortos, sobras de ração, efluentes de limpeza de galpões, restos de cama, pena no caso de aves
e cascas de ovos rompidos.
Freitas (2015) ao avaliar dados, referentes aos anos 2009 e 2013, de 104 poços
tubulares em operação no município de Bastos (São Paulo), constatou a contaminação do
aquífero Bauru por de nitrato. O autor, em uma análise complementar, também selecionou
informações de 50 poços que abastecem unicamente granjas de postura, principal atividade
econômica do local. Nos dois anos, 26 poços apresentaram valores do íon nitrato abaixo do
valor máximo permitido pela legislação, 14 variaram entre abaixo e acima e 10 poços
apresentaram quantidades de nitrato acima do valor máximo permitido por lei. O referido autor
observou que, vários desses poços estavam localizados próximos a fontes de contaminação e
que os resíduos gerados pela atividade eram acomodados de forma incorreta, diretamente no
solo desprotegido. O mesmo concluiu que a alta concentração de produção de aves em toda
área rural próxima ao município é a causa provável para o aumento nas concentrações de nitrato
no aquífero Bauru.
Rocha (2016) afirma que a formação de resíduos orgânicos, fármacos e patógenos na
cadeia de produção animal é inevitável, e quando não tratados e dispostos adequadamente,
podem se tornar causas de contaminação não somente de fontes de águas, mais também dos
solos e do ar. O autor verificou os efeitos da atividade suinícola sob a qualidade das águas
superficiais da bacia do rio Piranga em Minas Gerais. Averiguou que os resíduos da atividade
em questão contribuíram para a alteração da qualidade das águas superficiais por meio de cargas
de sólidos em suspensão, fósforo total e nitrato. A sub bacia com maior densidade suinícola e
menor adensamento populacional foi a que apresentou máxima carga orgânica. Conforme o
autor diversos estudos apontam que resíduos orgânicos podem conter altas concentrações de
metais pesados, e que o uso constante destes resíduos pode contribuir com o aumento das
quantidades totais de cobre, zinco, chumbo, cádmio, ferro e manganês. Ainda de acordo com
este autor, pesquisas comprovam a alta incidência de zinco e cobre, nos resíduos de suínos e
aves, sendo a ração a fonte principal destes metais.
Lucas (2011) contextualiza o reuso de águas residuais da suinocultura, que foi
apregoado como uma técnica de fertilização, substituindo em parte os fertilizantes, pois tem
potencial para aumentar a produtividade e fertilidade dos solos, devido a disponibilidade de
matéria orgânica e nutrientes que compõem esses resíduos como nitrogênio, fósforo, potássio,
cálcio, sódio, magnésio, manganês, ferro, zinco, cobre entre outros; além de aumentar a
capacidade de troca catiônica do solo. A autora demonstra que, até então, as pesquisas
conduzidas no Brasil acerca do uso de água residual de suínos como fertilizantes não
26
consideraram o efeito do tempo nas áreas irrigadas. E atenta que o uso contínuo desses resíduos
podem ocasionar alterações nas características químicas dos solos e na capacidade de suporte
dos mesmos, o que pode afetar as plantas e os recursos hídricos por processos de erosão,
lixiviação e escoamento superficial. Como resultado de suas pesquisas observou que, a longo
prazo, a aplicação sucessiva dessa técnica promove acúmulo de cobre e zinco no solo e nas
plantas. Devido ao potencial impacto dessa prática, Kessler (2017) afirma que, é indispensável
realizar um tratamento prévio dos dejetos dos animais, o que ainda não é realizado por alguns
produtores em razão na necessidade de investimentos financeiros para tal e por pequenos
produtores que acreditam não ser necessário.
Hoje se observa uma preocupação do setor suinícola com as questões ambientais,
conforme Nicoloso e Oliveira (2016) foram desenvolvidas tecnologias para reduzir o consumo
de água e a produção de dejetos nas granjas, como o uso de biodigestores, lagoas ou esterqueiras
para armazenar os dejetos ou compostagem. Melhorias na conversão alimentar permitiram uma
redução de nutrientes nos dejetos. Ainda de acordo com estes autores as recomendações de
adubação com fertilizantes orgânicos foram atualizadas, assim como novas tecnologias foram
desenvolvidas para o manejo e tratamento dos efluentes. De acordo com as características e
necessidades de cada propriedade, existirá uma tecnologia mais adequada. A Embrapa Suínos
e Aves desenvolveu um modelo que auxilia na tomada de decisões dos profissionais e
produtores. Trata-se de modelos matemáticos que permite determinar a capacidade de
alojamento de suínos a partir do consumo de água, produção de dejetos e de excreção de
nutrientes pelos animais, demanda de nutrientes nas áreas agrícolas e eficiência de remoção
e/ou segregação de nutrientes nos sistemas de armazenamento e/ou tratamento de efluentes
(NICOLOSO e OLIVEIRA, 2016).
4.3.3 Ruminantes
nitrato estavam correlacionadas com as de cloreto, o que para os mesmos, revela que a principal
fonte de contaminação das águas subterrâneas estava associada ao saneamento in situ e/ou de
adubo orgânico. Para os pesquisadores este fato deveria servir como alerta aos gestores para
que medidas de prevenção sejam tomadas.
Rangel (2015) evidenciou que a qualidade de águas de poços que abastecem
propriedades leiteiras, tem impacto na produção, por afetar a qualidade do leite. As águas dos
poços avaliadas por estes autores, apresentaram valores elevados para coliformes, estando fora
dos padrões de potabilidade decretado pela legislação brasileira. Associado a esse fato foi
observado um aumento na contagem bacteriana total do leite. Os autores afirmam que ao se
tratar de produção de leite, a qualidade da água utilizada durante a ordenha do animal até a
limpeza e sanitização dos utensílios e equipamentos será fundamental no resultado final da
qualidade dos produtos lácteos.
Decezaro (2013) afirma que a bovinocultura de leite gera águas residuárias com altas
concentrações de contaminantes quando comparadas com esgoto doméstico, a vazão destes
resíduos é em função dos animais confinados. Diante disso, a autora avaliou o desempenho de
wetlands, como alternativa para tratamento de efluentes de bovinocultura de leite. Esse sistema
de tratamento de águas residuárias consistem em lagoas ou canais rasos que abrigam plantas
aquáticas, que reproduzem o papel de depuração que ocorre naturalmente em ambientes
alagados (DECEZARO, 2013). Como resultado a referida autora observou-se diminuição nas
concentrações de matéria orgânica e de nutrientes nos efluentes.
Pedroso (2016) cita a nutrição de precisão como um mecanismo, não somente de
lucratividade, mas também como um fator para reduzir os possíveis impactos ambientais
acarretados pelos dejetos de bovinos, em virtude dos animais apresentar melhor eficiência
alimentar e uso dos nutrientes. O mesmo autor cita diversos trabalhos que adotaram o conceito
de nutrição de precisão e obtiveram resultados satisfatórios, como o de uma propriedade leiteira
nos EUA, que com a nutrição de precisão conseguiu diminuir excreção do nitrogênio de 137
para 72, 8 g/vaca/ dia e de nitrogênio 16 g para 7,9 g, representando menos 2.810 kg de N e 328
kg de P ao ano lançados no ambiente. Pedroso (2016) afirma que para trabalhar com o conceito
de nutrição de precisão é necessário conhecer melhor as necessidades de cada categoria animal,
fazer mais uso de análises bromatológicas dos alimentos e melhorar o manejo da alimentação
nas fazendas.
28
4.3.4 Piscicultura
Por se tratar de uma atividade que ocorre em meio aquático, para sua implantação é
fundamental que o terreno tenha água em quantidade e qualidade suficientes, pois os peixes
necessitam desses fatores para se desenvolverem. A intensidade do uso da água irá variar com
o modelo de criação adotado. A água é requerida para abastecer as unidades de cultivo (viveiros,
tanques, etc.) no início do processo de produção, e para repor as perdas por evaporação e
infiltração que ocorrem no decorrer do ciclo e para renovação das águas, visando diluir e/ou
eliminar resíduos gerados pelo cultivo e, por conseguinte, manter a qualidade da água
(OLIVEIRA e SANTOS, 2011; KUBITZA, 2008).
A água necessária para encher um viveiro dependerá da capacidade de acumulação
deste, já a renovação de água terá relação com a densidade de estocagem, o sistema de produção
elegido, o tipo de instalação e com a espécie cultivada. As perdas de água pelos sistemas
ocorrem por distintos fatores. Quando por evaporação são influenciadas pelas condições
climáticas como, temperatura, insolação, umidade do ar e incidência de ventos; enquanto que
as perdas de água por infiltração estão sujeitas ao tipo de solo, aproximação do piso das
instalações com o lençol freático, além do tipo e tempo de construção das instalações
(OLIVEIRA e SANTOS, 2011). Os mesmos autores afirmam que, tomando como base a taxa
de evaporação e infiltração do solo, pode-se estimar o volume de água necessário para reposição
das perdas na aquicultura.
Assim como nas demais atividades pecuárias, na literatura é indicado que o maior
desafio ambiental ao cultivar organismos aquáticos está associado com o potencial de poluição
dos efluentes gerados. Pois muitos sistemas de piscicultura não possuem unidades para
tratamento dos seus efluentes, que podem prejudicar a qualidade da água a jusante dos cultivos.
As principais influências desses efluentes sob o meio consistem no aumento das concentrações
de nitrogênio e fósforo na coluna d’água e o acúmulo de matéria orgânica nos sedimentos
provenientes de resíduos de ração, fezes, antibióticos e metabólitos dos peixes.
Silver (1992) apud Américo et al. (2013) classifica os impactos da aquicultura de
acordo com a extensão destes em interno, local e regional. Quando afetam o próprio sistema de
criação, como por exemplo, a redução de oxigênio dissolvido em um viveiro de piscicultura,
trata-se de um impacto interno; quando este dano se estende a um quilômetro à jusante da
descarga de efluentes é considerado como local e o impacto regional, aquele que alcança
quilômetros.
29
esgoto doméstico tratado como fonte de água para abastecimento dos viveiros e alimento
natural para a piscicultura. Embora os autores alertem que outros estudos sejam realizados.
Podemos visualizar os resultados destas pesquisas como uma oportunidade de criar
ações preventivas quanto ao uso da água e os possíveis impactos em sua qualidade com intuito
de produzir alimento de forma mais sustentável. Para Rodrigues e Rippel (2013) sem água é
impossível haver produção agropecuária que garanta a dinâmica do setor, pois esse recurso
complementa a eficiência dos fatores de produção – capital, trabalho e demais; revelando-se
fundamental para o crescimento socioeconômico.
Segundo a Unesco (2018) devido a degradação dos ecossistemas enfrentamos desafios
de gestão da água, pois no mundo, 40 % da precipitação terrestre é gerada pela transpiração
vegetal e pela evaporação do solo. Além disso os recursos do solo encontram-se em condições
razoáveis, precárias ou muito precárias, principalmente os solos voltados para produção
agrícola. Braga et al. (2005) apontam que, o uso do solo é um fator imprescindível para a
ocorrência natural de água, e que alterações nos ecossistemas, como desmatamento e
urbanização afetam o ciclo hidrológico. Como consequências pode haver um aumento das taxas
de evaporação, redução da capacidade de armazenamento de águas subterrâneas e aumento do
escoamento superficial, seguido pelo aumento da erosão (UNESCO, 2018; BRAGA et al.,
2005).
Assim como as florestas, zonas úmidas e campos, as áreas de plantio e pastagens,
quando bem manejadas, podem regular a qualidade da água por meio da redução da carga de
sedimentos, da captura e retenção de poluentes, e da reciclagem de nutrientes evitando a
contaminação dos lençóis freáticos (UNESCO, 2018). É essencial a manutenção de
ecossistemas nativos, como matas ciliares, em propriedades rurais. Estes proporcionam um
aumento da produção de água, em razão dos diferentes perfis de raízes que sustentam o solo e
facilitam a infiltração de água, que abastece o lençol freático.
Há, ainda, boas práticas e técnicas que auxiliam no aproveitamento e reutilização de
água dentro dos sistema de produção, como: a construção de cisternas e calhas para captação
da água da chuva (PALHARES, 2016), além da implementação de sistemas de cultivos
rotacionais e otimizados em aproveitamento de água e área (ILPF – Integração Lavoura,
Pecuária e Floresta e SPD – Sistema de Plantio Direto).
Macedo (2012) demonstra como o aproveitamento da água da chuva vem sendo
realizado por alguns países, como o Japão que conseguiu reduzir o consumo de 30 % de água
potável ao utilizar água da chuva para fins não potáveis. A ILPF incorpora atividades agrícolas,
pecuárias e florestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado e ou na forma de
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O Estado de Roraima, cuja área territorial abrange 224.300 km2, faz fronteiras ao Norte
e Noroeste com a Venezuela, a Leste com Guiana, ao Sudeste com Pará e ao Sul e Oeste com
o Amazonas (MELO et al., 2004; IBGE, 2017). Segundo a classificação climática de KÖPPEN,
possui Clima Tropical monçônico do tipo Aw (tropical úmido sem estação fria), quente e úmido
com período seco (dezembro a março) e chuvoso (maio a agosto) bem definidos.
De acordo com Barbosa (1997), a temperatura média anual é da ordem de 25 °C e a
precipitação pluvial varia de 1100 mm na fronteira com a Venezuela, 1600 mm na região central
do estado até 2900 mm na região sul. Conforme Vale Júnior e Schaefer (2010), são encontrados
três biomas: Florestas, Campinaranas e Savanas (conhecidas como lavrado), com a última
ocupando a região central do estado.
Sua população está estimada em 576.568 habitantes (IBGE, 2018). Dentre as unidades
federativas é a que possui o menor PIB com uma economia dependente de empregos do setor
público (CASTRO et al., 2016). Roraima é um dos setes estados que compõem a Região
Hidrográfica Amazônica, que é caracterizada por sua extensão e por possuir cerca de 81% da
disponibilidade hídrica superficial do país. Essa região apresenta potencial hidrelétrico, bem
como de navegação, como alternativa para escoamento de comoddities (ANA, 2015).
Para Castro et al. (2016) o estado apresenta complexo quadro agrário relacionados a
conflitos quanto a titularidade de terras, aspecto comum da região norte. Da área total do estado,
73% estão legalmente distribuídas em unidades de conservação, terras indígenas demarcadas e
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desta revisão de literatura foi possível abordar sobre a água como recurso
natural; identificar as legislações vigentes sobre água e observar seu uso nos distintos setores
de criação animal, bem como sua descarga no meio ambiente.
A água é um fator limitante a vida e a produção de alimentos. Diante das mudanças
climáticas e da demanda constante de água, surge questionamentos de como gerenciar este
elemento, tanto do ponto de vista de sua quantidade como qualidade.
Por estarmos localizados em uma região com abundância de água temos a falsa
sensação de que este recurso é infinito, e não damos a devida atenção quanto aos impactos de
nossas atividades sobre tal recurso.
As atividades agropecuárias, assim como qualquer outra atividade antrópica, podem
afetar a qualidade da água ao gerar modificações nas características físico químicas e
microbiológicas desse elemento. Temos que nos conscientizar que vivemos numa relação de
interpendência com nosso planeta e, dessa forma, buscar desenvolver atividades de forma
sustentável. Visto que a agropecuária é importante para produção de alimentos, é necessário
que ambientalistas e produtores construam um diálogo, para desenvolver alternativas para o
melhor gerenciamento da água.
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