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Marcio Baptista Marcia Lara Fundamentos de Engenharia Hidraulica 3? edicdo revista e ampliada 2? reimpresséo BELO HORIZONTE | EDITORA UFMG | 2014 B222t © 2002, Marcia Maria Lara Pinto Coelho; Marcio Benecito Baptista © 2002, Editora UFMG © 2003, 2. ed. revista © 2006, 2. ed. revista — © 2010, 3. ed, rev. e amp. © 2012, 3. ed, rev. e ampl. — 1" reimpr. reimpr. Este livro ou parte dele nao pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizacao escrita do Editor Baptista, Marcio Benedito Fundamentos de Engenharia Hidraulica / Marcio Benedito Baptista, Marcia Maria Lara Pinto Coelho. ~ 3. ed. rev. e ampl. ~ Belo Horizonte Editora UFMG, 2010, 473 p.— (Ingenium) Inclui bibliograt ISBN: 978-85-7041-828-9, 1. Engenharia hidraulica |. Coelho, Marcia Maria Lara Pinto I Titulo Mi, Série DD: 627, COU: 627.01 Flaborada pela CCQC — Central de Controle de Qualidade da Catalogacao Biblioteca Universitaria da UFMG COORDENACAO EDITORIAL: Danivia Wolt ASSISTENCIA EDITORIAL: Eliane Sousa e Eucicia Macedo COORDENACAO DE TEXTOS: Maria do Carmo Leite Ribeiro REVISAO E NORMALIZACAO: Isadora Rodrigues REVISAO DE PROVAS: Angel de Castro, Arquiolinda Machado, Claudia Campos Renata Passos COORDENACAO GRAFICA: Cassio Ribeiro PROJETO GRAFICO E CAPA: Paulo Schmict FORMATACAO: Thiago Campos FOTOGRAFIAS: dos autores, exceto quando indicado PRODUGAO GRAFICA: Diégo Diveira EDITORA UFMG ‘Ay, Antonio Carlos, 6.627 ~ CAD I 8loco Campus Pampulha 31270-901 ~ Belo Horizonte/MG Te: 455 31 2409-4650 Fax: +55 31 3409-4768 we.editra.ufing,br -editore@utmg be Escola de Engenharia da UFMG ‘Av. Ant6nio Carls, 6.627 Campus Pampulha - 31270-901 ~ Belo Hor Tel: #55 31 3403-1890 ~ Fax +55 31 ‘ween ufing br ~ dir@adm.eng.uimg.br (..) impelir mangas de chuva que inundavam tudo e desciam do Curral, do Cruzeiro, escachando Afonso Pena abaixo, improvisando araguaias, pratas, amazonas, inventando niégaras, iguacus, urubupungés @ os trombolhées, e baques das setequedas.(..) Quando 2 chuva parou e pararam as lufadas, as faiscas e os «estronds, continuou aquele gemido de dguas correndo dentro da noite e descendo para encher o Arrudas, ‘0110 das Velhas, 0 Sao Francisco eo Mar Oceana com cascalhos de diamante, ouro e ferro arrancado do flanco das Gerais.) Pedro Nava 7 23 25 a 30 a 35 35 35 37 38 43 47 | 47 48 49 54 56 61 64 SUMARIO Lista de simbolos Apresentagao Capitulo 1 A Engenharia Hidraulica 1.1 Evolucao histérica da Engenharia Hidraulica 1.2.0 panorama e escopo atual da Engenharia Hidréulica 1.3 Desafios e perspectives Capitulo 2 A mecAnica dos fluidos na Hidraulica 2.1 Introducao 2.1.1 Sistemas de unidades 2.1.2 Principio da homogeneidade dimensional 2.2 Propriedades fisicas dos fluidos 2.3 Classificagéo dos escoamentos 2.4 Equacées fundamentais do escoamento 2.4.1 Equacéo da continuidade 2.4.2 Equacdo da quantidade de movimento 2.4.3 Equacdo de energia - Bernoulli 2.5 Equacdo fundamental da Hidrostatica 2.5.1 Medidas de presséo 2.5.2 Forgas exercidas sobre superficies planas submersas Problemas 67 67 68 ae 78 85 85 87 | hh 94 96 99 99 99 101 104 104 106 112 a ee 122 Escoamento em condutos forcados simples 3.1 Perda de carga 3.1.1 Perda de carga continua 3.1.2 Perda de carga com distribuicao de gua ao longo do percurso 3.1.3 Perda de carga localizada 3.2 Velocidades recomendadas 3.3 Pré-dimensionamento de canalizagées 3.4 Tracado dos condutos 3.5 Separacao da coluna Ifquida e cavitacao 3.6 Introducao aos transientes hidrdulicos Problemas Capitulo 4 Escoamento em sistemas de condutos forcados 4.1 Condutos equivalentes | 4.1.1 Condutos em série 4.1.2 Condutos em paralelo | 4.2 Condutos interligando reservatérios 4.2.1 Problema dos trés reservatorios 4.2.2 Método do balanco das vazées 4.3 Rede de distribuicao de agua 4.3.1 Calculo das redes ramificadas 4.3.2 Calculo das redes malhadas Problemas 125 125 125 128 130 131 133 135 138 143 144 148 151 151 153 156 158 169 170 170 Capitulo 5 Maquinas hidraulicas 5.1 Introducao 5.2 Descricéo e condigoes gerais de instalacao das turbinas 5.2.1 Arranjo das instalagdes hidrelétricas 5.2.2 Potencial hidraulico 5.3 Descricéo e condicées gerais de instalacdo das bombas 5.3.1 Instalaco elevatoria tipica 5.3.2 Parametros hidraulicos de uma instalacao de recalque 5,3.3 Dimensionamento econdmico da tubulacao 5.4 Semelhanca mecanica 5.5 Velocidade especifica Problemas Capitulo 6 Andlise dos sistemas de recalque 6.1 Curvas caracteristicas das bombas 6.1.1 Influéncia da rotacéo na curva caracteristica da bomba 6.1.2 Influéncia do diémetro do rotor na curva caracteristica da bomba 6.2 Curva da bomba versus curva do sistema de tubulagao 6.3 Operacao de multiples bombas centrifugas 6.3.1 Bornbas em paralelo 6.3.2 Bombas em série 171 172 | 175, 176 | 182 187 187 189 193 198 202 205 205 208 211 213 216 216 218 222 222 | 6.4 Cavitacéo 6.4.1 Avaliacdo das condicées de cavitagao 6.4.2 Margem de seguranca 6.4.3 Inconvenientes da cavitacdo Problemas Capitulo 7 Caracteristicas basicas dos escoamentos livres 7.1 Escoamentos livres e forcados 7.2 Parametros geométricos e hidraulicos caracteristicos 7.3 Variacdo da pressdo 7.4 Variacao da velocidade Problemas. Capitulo 8 Energia e controle hidraulico 8.1 Regimes de escoamento 8.2 O ntimero de Froude 8.3 Caracterizacao do escoamento critico 8.4 Ocorréncia do regime critico — controle hidraulico 8.5 Transicdes 8.5.1 Transigées verticais 8.5.2 Transicées horizontais 8.5.3 Combinacdo de transicoes horizontais e verticais Problemas Capitulo 9 225 | Escoamento uniforme 225 9.1 Caracterizagao do escoamento uniforme 226 | 9.2 Resisténcia ao escoamento - formula de Manning 229 9.3 CAlculo do escoamento uniforme 230 9.3.1 Verificacao do funcionamento hidréulico 232 9.3.2 Dimensionamento hidraulico 236 9.3.3 Seces circulares 238 | 9.40 coeficiente de rugosidade de Manning 238 9.4.1 Determinacao direta do coeficiente de rugosidade 238 9.4.2 Estimativa do coeficiente de rugosidade 242 9.4.3 Coeficientes de rugosidade para secées simples com rugosidade variavel 244 9.4.4 Coeficiente de rugosidade para secdes compostas 246 Problemas Capitulo 10 249 | Escoamento gradualmente variado 249 10.1 Introdugao 250 10.2 Caracterizacéo do escoarnento | gradualmente variado Piers | 10.3 Andlise das linhas d’égua 255 10.3.1 Canais com declividade fraca 256 10.3.2 Canais com declividade forte 257 | 10.3.3 Canais com declividade critica 258 10.3.4 Canais com declividade nula 258 259 261 267 270 273 273 274 275 281 283 285 289 289 290 292 292 on 296 297 300 10.3.5 Canais em aclive 10.3.6 Conclusées 10.4 Célculo da linha d’égua no escoamento gradualmente vatiado 10.5 Calculo em condicées de vaz&o nao definida Problemas Capitulo 11 Escoamento bruscamente variado 11.1 Caracterizacao do escoamento bruscamente variado 11.2 O ressalto hidraulico 11.2.1 Ressalto em canais retangulares horizontals 11.2.2 Ressalto em canais com geometria nao retangular 11.2.3 Ressalto em canais inclinados 11.3 Forca especifica Problemas Capitulo 12 Principios de hidraulica fluvial 12.1 Introducdo 12.2 Escalas e dinamica da configuracaéo dos sistemas fluviais 12.3 Processos de formacao do canal fluvial 12.3.1 Transporte de sedimentos ~ Ciclo hidrosse- dimentolégico 12.3.2 Caracteristicas do leito fluvial 12.3.3 Resisténcia ao escoamento 12.3.4. Tensao de arraste 12.3.5 Principio do movimento ~ Abaco de Shields 303 304 306 309 309 310 310 311 314 318 318 319 323 326 327 327 328 329 332 ae 345 351 aan 353 12.4 Quantificacao do transporte de sedimentos 12.4.1 Transporte de sedimentos por arraste 12.4.2 Transporte de sedimentos em suspensdo 12.4.3 Carga total de sedimentos 12.4.4 Quantificacdo por meio de dados monitorados e regionalizados 12.5 Morfologia do leito e do canal fluvial em escala local 125.1 Secdo transversal 12.5.2 Leito fluvial 12.5.3 Conformagées topogréficas localizadas 12.6 Morfologia dos sistemas fluviais 12.6.1 Classificagéo dos canais 12.6.2 Rios com canais anicos 12.6.3 Rios com canais multiplos Problemas Capitulo 13 | Estruturas hidraulicas de conducao 13.1 Objetivos e tipos de estruturas hidrdulicas 13.2 Canais 13.2.1 Dimensionamento de canais revestidos — secdes de maxima eficiéncia hidraulica 13.2.2 Dimensionamento de canais em materiais erodiveis 13.2.3 Verificagdes hidraulicas e indicagdes para projeto de canais 13.2.4 Definicao das secées e revestimentos 13.3 Pontes 13.3.1 Estudos prévios 13.3.2 Determinacao da cota da cheia de projeto € concepcao geométrica da ponte 355 357 358 359 361 366 368 371 371 ae 373 374 375 377 381 384 385 386 387 391 395 396 400 402 13.3.3 Estudo do efeito de obstrucées devido aos pilares e aterros de encontro 13.3.4 Verificacoes complementares 13.4 Bueiros 13.4.1 Classificacao e notacado dos bueiros 13.4.2 Dimensionamento hidraulico 13.4.3 Consideracées relativas ao projeto de bueiros Problemas Capitulo 14 Estruturas hidraulicas de reservacao e controle 14.1 Introdugéo 14.2 Barragens 14.2.1 Concepcdo, tipos e drgaos integrates 14.2.2 Niveis e volumes operativos das barragens 14.2.3 Forcas atuantes nas barragens 14.2.4 Barragens de concreto 14.2.5 Barragens de terra e enrocarnento 14.2.6 Barragens mistas 14.2.7 Desvio dos rios para a construcao de barragens 14.3 Vertedores 14.3.1 Tipos de vertedores 14.3.2 Dimensionamento hidraulico de vertedores simples 14.4 Dissipadores de energia 14.4.1 Bacias de dissipagao 14.4.2 Dissipadores de jato 14.4.3 Dissipadores de impacto 403 406 407 409 409 410 411 415 4i7 418 419 424 424 | 425 426 431 432 440 441 444 446 447 449 449 14.4.4 Dissipadores continuos 14.4.5 Escoamento em degraus Problemas Capitulo 15 Instalagées hidraulicas prediais 15.1 Introducao 15,2 Instalages de égua fria 15.2.1 Critérios de dimensionamento 15,2.2 Dimensionamento das tubulacoes 15.2.3 Dimensionamento da capacidade dos reservatorios 15.2.4 Verificacao das condicdes de funcionamento 15.2.5 Retrossifonagem 15.3 InstalacOes de agua quente 15.3.1 Critérios de dimensionamento 15.3.2 Dimensionamento das tubulacoes 15.3.3 Dimensionamento dos aquecedores 15.4 Instalacées de esgoto sanitario 15.4.1 Critérios de dimensionamento das tubulacées, 15.5 Instalagées de éguas pluviais 15.5.1 Critérios de dimensionamento 15.5.2 Dimensionamento das calhas 5.5.3 Dimensionamento dos condutores verticais 15.5.4 Dimensionamento dos condutores horizontais 15.6 Instalacdes de combate a incéndios 15.6.1 Caracteristicas gerais 451 451 453 456 459 463 15.6.2 Critério de dimensionamento dos hidrantes 15.6.3 Critérios de dimensionamento das tubulacdes 15.6.4 Critério de dimensionamento dos reservatorios Problemas Bibliogratia Respostas dos problemas propostos o> > db & qaannaaan a mm Lista de simbolos rea; seco ou érea molhada (m?) rea de contribuicao (m?) amplitude meandrica aceleracao (m/s?) largura superficial (m) coeficiente de deflivio. coeficiente de perda de carga de Hazen-Williams coeficiente de perda de carga fator de resisténda coeficiente de descarga coeficiente de perda de carga na entrada coeficiente de velocidade centro de gravidade celeridade (rn/s) diametro (m ou mm) diametro médio das particulas do leito diametro de recalque (m ou mm) dimenséo geométrica caracteristica (m ou mm) nimero de queda diametro nominal (mm) diametro do sedimento (rm) para o qual 90 % da mistura (em peso) é mais fina energia espectfica (m) energia critica (rm) rugosidade (rm) eficiéncia do fluxo de sedirentos eficiéncia do transporte de sedimentos " Fundamentos de Engenharia dren Fr Set ee 7 x =x = = ae > RARARA forca ou empuxo (N ou kgf) forca de atrito numero de Froude coeficiente de perda de carga Gradiente hidraulico aceleracao da gravidade (m/s?) queda util (m) altura energia (m) queda bruta (m) altura geométrica (rm) energia aplicada ou retirada por alguma maquina (m) altura manométrica (m) altura manométrica de recalque (m) altura manométrica de succao (m) altura (m) profundidade (m) distancia vertical da superficie livre a0 C.G. da area A (m) altura geométrica de recalque (m) altura geométrica de succao (rm) intensidade pluviométrica (rnrr/h) declividade (rn/m ou %) declividade critica declividade limite (rm/m) momento de inércia de superficie plana em relacao ao eixo que passa pelo C.G indice de sinuosidade perda de carga unitaria, gradiente energético (rn/m) coeficiente de perda de carga localizada coeficiente de contracio fator da formula de Bresse fator de conducao médulo de elasticidade volunétrico (Pa ou kgf! m*) fator de correcdo para determinacdo da tensao permissivel nos taludes B Ar Oo . = m sta de Sinbotoe rugosidade equivalente coeficiente de perda de carga de Scobey comprimento (m) comprimento ao longo do talvegue (rm) comprimento ao longo do vale (m) comprimento da queda (rm) largura efetiva (m) comprimento do ressalto hidraulico (rm) linha de carga linha piezométrica forca especifica (N) expoente de D na expresséo geral de perda de carga massa (kg ou kgf. sm) nivel d’&gua (rm) carga de succao requerida pela bomba (m) carga de succo disponivel na instalagao de bombeamento (m) ndimero de pilares coeficiente de rugosidade de Manning rotacao (rpm) expoente de Q na expresso geral de perda de carga velocidade especifica (rpm) coeficiente de rugosidade de Manning devido aos sedimentos coeficiente de rugosidade de Manning devido as formas do leito fluvial perimetro molhado (mn) pressao (Pa ou kgf/m?) poténcia absorvida pelo conjunto motabomba (W ou cv) poténcia absorvida pela bomba (W ou cv) poténcia hidrdulica (W ou cv) plano de carga estatico poténcia hidréulica bruta (W) poténcia hidraulica disponivel (W) poténcia hidraulica efetiva (W) pressao de vapor absoluta (Pa ou kgf/ m:) presséo resultante, pressdo pseudo-hidrostatica (Pa ou kaf/m?) 19 Funduietos de Engents vazao (m/s ou /s) vazaio dominante (m*/s) vvaz8o ficticia (m*/s ou Vs) vazao de jusante (m°/s ou V5) vazao de montante (m/s ou Vs) vaz8o a seco plena (mils ou Vis) de tempo descarga do material s6lido, em volume por unidade vvazio especifica (m*/s.m) vazao de distribuicdo em marcha (m*/s.m ou s.r) descarga solida em suspensao por unidade de largura (em peso: kgfi/s.m; em massa: kg/s.m) forca resultante (N) raio de curvatura raio hidraulico (rm) ntimero de Reynolds numero de Reynolds de arraste raio de curvatura (m) secao de controle ‘temperatura (C) ‘tempo (5) velacidade média do escoamento (m/s) velocidade a seco plena (m/s ou Ws) velocidade de escoamento (rv/5) velocidade média da carga em suspensio (rn/s) velocidade de arraste (rr/s) peso (N ou kgf) largura da faixa de meandros profundidade (m) profundidade critica (rm) profundidade hidréulica (m) profundidade normal (m) profundidade inicial (rm) distancia do C.G. da superficie plana a superficie livre, 20 wock Una de simbolos segundo o plano da superficie (rm) profundidade na parte anterior da queda (rm) distancia da linha de aco da forca resultante & superficie livre, segundo o plano da superficie (m) profundidade conjugada montante (m) profundidade conjugada jusante (m) energia ou carga de posicao (rn) inclinacao do talude cota do fundo (m) perda de carga (m) perda de carga continua (m) perda de carga localizada (m) perda de carga em curva (rm) perda de carga na succao (rm) perda de carga no recalque, perda de carga no ressaito (rn) perda de carga na transi¢ao (m) distancia entre duas sec6es, passo de célculo (m) perda de carga (rm) coeficiente da energia cinética ou de Coriolis coeficiente da quantidade de movimento ou de Boussinesq Coeficiente da expressao geral de perda de carga densidade relativa relacdo entre velocidade maxima e média peso especttico da agua (kgf/m’) peso especitico dos sedimentos (kgf/m*) diametro do rotor Angulo de repouso do material peso espectfico (Nm? ou kgf/m*) comprimento do meandro rendimento da turbina rendimento do conjunto motobornba rendimento da boriba rendimento do motor viscosidade dindmica (kg/m.s ou kaf.s/m?) viscosidade cinemética (m/s) Angulo do talude com a horizontal massa espectfica (kg/m? ou kgf.s*/m*) nu Fundamantos do Engenharia Hiden massa especifica do solido (ka/m*) dispersao granulométrica tensdo de arraste (kgf/m?) tensdo de arraste critica (kgf/m*) tensao de arraste_no leito (kgf/m’) tensdo de arraste no talude (kgf/m?) tensdo de arraste no talude (kgf/m?) tensao de arraste adimensional velocidade média de queda do sedimento (m/s) volume do fluido (m?) a Apresentacgao livro Fundamentos de Engenharia Hidrdulica teve sua origem na constataco da auséncia de um texto abrangente e atual em Hidrdulica, que atendesse as necessidades do aluno de graduacao em Engenharia Civil da UFMG. Quando da sua primeira edico, em 2002, vislumbrou-se a possibilidade de atingir um objetivo mais ambicioso: um livro de Hidraulica, que possibilitasse ao estudante de graduaco em engenharia, aos estudantes de pés-graducao lato sensu e aos profissionais atuantes nas 4reas de recursos hidricos ¢ saneamento um texto basico de Engenharia Hidraulica, com uma abordagem simples, pratica e moderna. Na presente edicao procurou-se uma ampliacdo desse escopo, de forma a atender também os estudantes de Engenharia Ambiental. Assim, foi introduzido um novo capitulo com tépicos relativos a Hidraulica Fluvial e Transporte de Sedimentos. Na presente edicao, portanto, o livro esta estruturado em 15 capitulos, agrupados, informalmente, em trés partes. Os dois primeiros capitulos tém um carater introdutério, sendo apresentados, no Capitulo 1, de forma bastante sucinta, alguns aspectos historicos da evolucdo da Engenharia Hidraulica, buscando-se também situar 0 contexto atual, as perspectivas e as tendéncias de desenvolvimento. No Capitulo 2 sao revistos topicos gerais de Mecanica de Fluidos essenciais aos estudos que serao desenvolvidos ulteriormente. A segunda parte do livro, capitulos 3 a 6, corresponde ao estudo do escoamento perma- nente em condutos forcados, enfocando os sistemas de condutos, maquinas hidraulicas e instalac6es de recalque. Na terceira parte, capftulos 7 a 12, efetua-se o estudo dos escoamentos livres em regime permanente, contemplando-se aspectos de fundamentaco tedrica e conceitual, permitindo 0 tratamento de algumas aplicacées praticas, objeto da quarta parte do livro, capitulos 13 a 15. Em um contexto bastante pragmatico, nos capitulos 13 e 14 sdo estudadas algumas estruturas hidrdulicas de uso frequente em Engenharia e, no décimo quinto capitulo, sao tratadas as instalacdes hidraulicas prediais. Cabe ressaltar que parte do material aqui apresentado, com as alteracées pertinen- tes, integrou um livro editado pela Associacdo Brasileira de Recursos Hidricos, Hidréulica Aplicada, publicado em novembro de 2001. Da mesma forma, o Capitulo 12, introduzido na presente edicao, foi embasado em um capitulo, redigido pelos autores, integrante do livro Estudos e modelagem da qualidade da agua de rios (von Sperling, 2007). Na 1° reimpressao da 3* edic3o foram efetuadas algumas pequenas correcées e adequacées de forma ao longo do texto. Os capitulos sao estruturados de modo a ilustrar a apresentacéo de cada novo tépico ‘ou conceito introduzido com um exemplo de aplicacao, resolvido no texto. Procurou-se, sempre que possivel, colocar os problemas de forma encadeada, possibilitando uma viso construtivista, mais abrangente e realista da forma de abordagem dos problemas de Engenharia Hidraulica. Ao final de cada capitulo é proposta uma série de problemas, sendo suas respostas apresentadas ao final do livro. Fundements de Engenhois Hidrblicn Em funcao das diferentes ementas e programas de disciplina, bem como de disponibilidade de tempo alocada ao estudo da hidraulica, em diversos capitulos so apresentados alguns itens assinalados como “tépicos complementares”. Estes topicos, correspondentes a pontos consideradas ndo essenciais a uma primeira visao da hidraulica, podem ser estudados ou ndo, de acordo com as especificidades de cada programa de curso ou necessidade particular, Os problemas envolvendo esses tapicos séo também assinalados como “problemas complementares” Com vistas a garantir um carater dinamico a esse livro, encontra-se disponibilizado no site do Departamento de Engenharia Hidrdulica e Recursos Hidricos da UFMG (www. ehr.ufmg,br) um programa computacional destinado a calculos hidraulicos diversos. 0 programa é continuamente atualizado por meio do trabalho de estudantes em Iniciacéo Cientifica; sua Ultima versdo foi desenvolvida com 0 apoio da empresa Pimenta de Avila Consultoria Ltda. Dentro dessa mesma légica, esperamos que apreciac6es, abservacoes, @ sugestées dos leitores sejam encaminhadas aos autores, como jé vern sendo feito, possibilitando methorias no texto e correcdes em geral, justificadas, a priori, pelo ditado “errar é humano" Gostariamos aqui de agradecer as inumeras contribuigées a este livro pelos nossos colegas do Departamento de Engenharia Hidrdulica e Recursos Hidricos da UFMG, especificamente os professores Nilo Nascimento, Carlos Martinez, Luiz Palmier e Marcelo Libanio, sendo que a este Ultimo agradecemos também 0 incentivo cons- tante ao nosso trabalho. Agradecemos ainda o esmero e cuidado com que Cynthia Maciel Pinto preparou grande parte das ilustracdes do livro. Salientamos o intenso trabalho de diversos bolsistas e monitores, hoje ja engenheiros e, em sua maioria, mestres e doutores, que nos ajudaram, ao longo dos anos, no desenvolvimento dos diversos estagios do software disponibilizado, na preparacao de fotos, na elaboracdo e resolugao de problemas e em diversas outras atividades. Destacamos aqui os no- mes de Gladstone Rodrigues Alexandre, Marcelo Jorge Medeiros, Marcio de Oliveira Candido, Francisco Eustaquio de Oliveira, Marco Aurélio Rachid de Araujo, Alisson Pinto Chaves e Juliano Martins Ribeiro. Em termos institucionais, gostariamos de agra- decer 0 apoio logistico e material do Programa de Pés-Graduacao em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hidricos e do Departamento de Engenharia Hidraulica e Recursos Hidricos da UFMG, bem como a Copasa e & Cemig_, pela cessao de fotos. Finalmente, gostariamos de agradecer pelas diversas contribuigées, na forma de sugestdes e correcdes, recebidas de nossos alunos que, ao longo de anos, nos ensinaram a ajudar a aprender. Os autores ma Capitulo 1 A Engenharia Hidraulica O objetivo deste capitulo ¢ descrever, de forma sucinta, a evolucao historica da Engenharia Hidraulica, buscando situa-la no mundo atual, ressaltando seU eScopo e as suas perspectivas no contexto cada vez mais importante da Engenharia de Recursos Hidricos 1.1 Evolucao histérica da Engenharia Hidraulica O termo “Hidraulica”, originario das palavras gregas “hydros” e “aulos”, respec- tivamente “gua” e “conducéo”, € utilizado atualmente para designar 0 conjunto de técnicas ligadas ao transporte de liquidos, em geral, e da dgua, em particular. Constata- -se, portanto, que o sentido atual é bastante préximo do sentido original da palavra, evidenciando a continuidade do seu escopo basico ao longo do tempo ‘AHidrdulica esteve presente ao longo de praticamente toda a historia da humani- dade, em funcéo da necessidade essencial da agua para a vida humana. De fato, tendo em vista que a 4gua distribui-se de forma irregular, no tempo e no espaco, torna-se necessario © seu transporte dos locais onde est disponivel (ou superabundante, no caso de uma inundacdo, por exemplo) até os locals onde € necessaria (ou ndo mais nociva, prossequindo com o exemplo da inundaco). Assim, tendo em vista a necessidade absoluta da agua, a historia da Hidréulica remonta ao inicio das primeiras sociedades urbanas organizadas, quando tornou-se necessérro efetuar-se a compatibilizacao da sua oferta e demanda Com efeito, até 4,000 anos a.C., as atividades humanas produtivas estavam ligadas apenas 4 obtencSo de alimentos diretamente a partir da natureza, através da caca, pesca e extrativismo vegetal, Nao havia, portanto, atividades agricolas, plantacdes e pecuarias organizadas e a populacdo, extremamente esparsa, vivia de forma némade. Neste tipo de sociedade, a engenharia, em geral, e a Hidraulica, em particular, nao desempenhavam nenhum papel significativo (Kirby et al., 1990), sendo que os homens se deslocavam até pontos onde suas demandas em relacdo a dgua fossem atendidas Fundementos de Engenharia Hives Desde a formacao das primeiras aglomeracées humanas, procurou-se sempre efetuar sua implantagao em sitios préximos de cursos d’égua, que pudessem proporcionar 0 suprimento de Agua para o consumo e higiene humanos, bem como para as primitivas atividades agricolas e artesanais. Entretanto, nem sempre a agua estava disponivel em dado local, na quantidade demandada. Em um certo momento, portanto, tornou-se essencial a implantacdo dos primeiros artefatos e obras de conducao de agua, que esto na base do que conhecemos hoje como a “Engenharia Hidraulica”. Assim, encontram-se vestigios de obras hidrdulicas datados de 4.000 a 3.000 a.C. no Egito, lraque, india, Paquistao, Turquia e China (Roberson, Cassidy e Chaudhry, 1995). Um dos vestigios conhecidos mais antigos de obras hidrdulicas consiste de complexos sistemas de canais de irrigacao e de navegacdo, construidos pelos Sumérios, na Mesopotamia. Estes canais constituiram o marco fundamental da civilizagao Suméria e, pode-se dizer, também da Engenharia Hidrdulica uso das aguas subterréneas remonta também a antiguidade, encontrando-se mesmo referéncias no Antigo Testamento. Dever ser aqui citados os notaveis ghanats dos Persas, que eram extensos tUneis, quase horizontais, com comprimentos superiores a 40 km, que interligavam grandes pocos verticais, com profundidades eventualmente superiores a 100 m. A funcao essencial destas estruturas seria o transporte da agua, em condicées mais favoraveis, evitando a elevada evaporacao presente na area durante 0 verdo. Havia ainda uma funcdo complementar do sistema que seria 0 favorecimento da infiltracdo e da recarga dos aquiferos. No Egito antigo, no periodo de 2.950 a 2.750 a.C. presume-se que tenha sido construida a barragem de "Sadd El-Kafara”, no rio Nilo ao sul do Cairo. Os vestigios encontrados evidenciam que a barragem transbordou, tendo sido destruda poucos anos apés sua construco. Se a construcao de uma barragem é um ponto controvertido da Historia, existem indicios sequros de que os egipcios implementaram uma rede de medidas de nivel d’agua no rio Nilo, possibilitando a criagdo de um primeiro sistema de previsSo de cheias. O que se apresenta de forma bastante clara em todo este periodo da Historia é que néo havia uma grande preocupacao cognitiva relativa as obras executadas; conheciam- -se e desenvolveram-se algumas técnicas que permitiam apenas a execucdo das obras necessarias. Nao havia um processo institucionalizado de formalizaco, transmnissio € desenvolvimento técnico e cientifico. Em suma, havia “técnica” e nao “engenharia”, n sentido atual do termo. Os primeiros pensamentos efetivamente cientificos relativos & Hidrdulica so devidos 0s gregos. De fato, chegaram até a época atual escritos de Arquimedes, no século Ill a.C., referentes aos principios de hidrostatica e equilibrio de corpos imersos e flutuantes. Sao conhecidos também escritos de Hero da Alexandria, no século Il a.C., que expressou principios de medidas de vazio e do papel da velocidade no escoamento, entre outros. Hero foi ainda um precursor da engenharia de maquinas hidraulicas, descrevendo a construco de bombas e a utilizaco de forcas hidrostaticas para acionamento de mecanismos. Deve-se citar aqui ainda Ctesibius, a quem se atribui a criacdo da primeira bomba (Rouse; Ince, 1957). Assim, verifica-se que, de forma similar a tantos outros ramos do conhecimento, ‘também na Hidrdulica, os gregos foram grandes pensadores e inovadores. Entretanto, as realizac6es gregas ficaram, principalmente, no plano intelectual: as atividades manuais 26 ‘Angenhara Hera |Coptulo 1 eram, na Grécia Antiga, atribuigoes principalmente dos escravos e as obras de engenharia, excetuando-se as realizacées arquitetdnicas, ficaram relegadas, portanto, ao estritamente necessario, Uma acentuada diferenca de postura pode ser notada quanto aos romanos, que aproximaram-se mais do enfoque de construgso do que da criagdo intelectual. De fato, © papel representado pelos romanos foi mais ligado aos empreendimentos de enge- nharia, sendo que estas atividades eram consideradas importantes; seus profissionais eram respeitados e conceituados, destacando-se mesmo um “Imperador Engenheiro”, cognome dado a Adriano (Prashun, 1987). Além das obras militares e vidrias, bastante conhecidas, os romanos foram, também, grandes construtores de obras hidréulicas, desde complexos sistemas prediais de dguas, como as termas romanas, até grandes obras de abastecimento de agua e esgotamento sanitario e pluvial. Encontram-se, atualmente, vestigios de diversas destas obras, destacando-se cerca de 200 aquedutos, atendendo 40 cidades, sendo que apenas para abastecimento da cidade de Roma foram construidos 11 aquedutos, transportando uma vazo de cerca de 4.000 litros por segundo. Devem ser também aqui destacados o famoso aqueduto Pont du Gard (Figura 1.1), situado no sul da Franca, como grande obra de abastecimento de agua, e a "Cloaca Maxima”, em Roma, como obra de esgotamento sanitatio, sendo que esta ultima ainda permanece em operacao, integrada no sistema de esgotos atual Figura 1.1 ~ Aqueduto Pont du Gard — Vista e secoes Fonte - Adaptado de AIO, 1994. © conhecimento técnico e cientifico romano foi extensamente exposto por Marcus Vitruvius Pollio, em seu tratado De Architetura Libri Decem, e Sextus Julius Frontinus, em seu livro Aguis Urbis Romae, no qual descreve-se a técnica romana na construcao de aquedutos, sisternas de abastecimento de agua, sistemas de esgotos etc. Segundo Prashun (1987), a eitura dos documentos deixa perceber uma compreenséo relativamente pequena dos fendmenos hidraulicos envolvidos com as obras, permitindo efetuar-se a a Fandamentos de Engenharia Mdrulea constatagao de uma relativa contraposicéo e uma certa complementaridade, entre as contribuig6es gregas e romanas para a Hidraulica Vista da Pont du Gard (Franca) Na Idade Média nao foram constatadas contribuicées significativas para a Engenharia Hidraulica, sendo que até as realizacoes romanas cairam em desuso face a auséncia de manutencéo. Entretanto, alguns progressos discretos, porém continuos, foram obser vados, na medida em que diversas pontes foram construidas e o emprego dos moinhos teve seu uso bastante disseminado. No Renascimento, no inicio do século XVI, Leonardo da Vinci (Richter, 1970) inicia uma nova fase de desenvolvimento da Hidraulica, com a publicacao de suas observaces e despertando novas ideias sobre o principio de conservacéo da massa, efeito do atrito no escoamento e a velocidade de propagacao de ondas, lancando as bases da denominada “Escola Italiana” da Hidrdulica. Constatam-se, em seguida, importantes contribuicées, como Torriceli propondo a teoria dos orificios e Guglielmini, desenvolvendo estudos sobre 0 escoamento em rios. Os estudos efetuados pelos italianos eram essencialmente experimentais; a mate- mética nao desempenhava, até entao, um papel significativo (Chadwick; Morfett, 1993) Apenas no século XVI, com as contribuic6es de diversos matematicos e fisicos, tais como Newton, Descartes, Pascal, Boyle, e Leibnitz, ocorreu 0 surgimento da Hidrodinamica, que efetuava uma descricao matematica fina dos fenémenos fisicos envolvidos com o escoamento. Destacam-se também neste momento historico os grandes pioneiros Bernoulli, Euler, Clairaut_e D’Alembert. No século XVIll os progressos da Hidraulica foram baseados tanto na experimentacao como na andlise matemética, com diversas contribuicées na Italia e, principalmente, na 28 An Engenhati idle Caputo 1 Franca, configurando 0 advento do que se pode denominar “Hidraulica Moderna”, com a fundacao da primeira escola de Engenharia do mundo nos moldes atuais, a "Ecole Nationale des Ponts et Chaussées”, em 1744 (Linsley; Franzini, 1978). Destacam-se, nesse periodo, as contribuicées de Pitot, Chézy, Borda, Bossut, du Buat e Venturi, entre outros. ‘Avanos significativos foram alcangados no século XIX, de uma forma relativamente estanque entre os “Hidraulicos Praticos”, com uma abordagem experimental, e os "Hidro- dinamicos Clasicos”, com uma abordagem puramente matematica dos fendmenos. As discrepancias frequentemente observadas entre os resultados experimentals e aqueles Obtidos através do tratamento matematico explicam essa estanqueidade. Em termos experimentais destacam-se os estudos e a introducdo de conceitos sobre viscosidade e turbuléncia por Hagen e Poiseuille e Reynolds, em épocas distintas, bem como os tra- balhos de Weisbach, Bresse e Darcy relativos 8 resisténcia aos escoamentos e perda de carga, ainda hoje em uso. Do ponto de vista da Hidrodinémica devem ser destacados 05 trabalhos de Navier, Stokes, Saint Venant e outros, que contribuiram enormemente para uma descricdo dos escoamentos através do estabelecimento de equacées bastante gerais e abrangentes. Em funcao do intenso desenvolvimento industrial no final do século XIX e inicio do século XX, tornou-se essencial um estudo mais refinado do escoamento dos fluidos. ‘Assim, em 1904 Prandtl (Bastos, 1983) vem conciliar os dois ramos da Hidraulica, intro- duzindo a teoria da camada limite, explicando assim 0 comportamento distinto do fluxo de acordo com as condigées de contorno e as divergéncias entre a Hidraulica tedrica € experimental. Origina-se, deste modo, a Mecanica dos Fluidos”, que conhece avangos extraordinarios com os trabalhos de von Karman, Nikuradse, Moody, Colebrook e outros. O advento da informatica possibilitou uma verdadeira revolucéo na Hidraulica, permitindo a modelagem dos escoamentos permanentes e transitérios, j& conhecidos, do ponto de vista tedrico desde o século XIX, mas que necessitavam de ferramentas de célculo até entao nao disponiveis. A constante evolucao da informatica, com a introducso de métodos numéricos e computacionais cada vez mais potentes, permite descortinar uma perspectiva de intenso desenvolvimento na Engenharia Hidraulica. Assim, a Hidréulica recebeu contribuigdes de inimeros estudiosos a0 longo de sua historia, conforme pode ser visto no Quadro 1.1, no qual so relacionados alguns hidrdulicos notaveis e listadas algumas da suas contribuic6es mais importantes Quadro 1.1 - Alguns hidréulicos notaveis e suas contribuicdes Nome Origem e periodo __Contribuicées principais Arquimedes Siracusa primeiro texto conhecido sobre a Hidraulica; 287 aC. - 212 a. introduziu 0 conceito de empuxo Leonardo da Vinci italia elaborou estudos € projetos dentro dos 1452-1519 conceitos atuais de Engenharia Hidréulica Evangelista Torricelli tala pioneiro de estudos experimentais; estudos 1608 - 1647 de orificios e jatos Daniel Bernouli Holanda precursor de abordagem tedrica da 1700 - 1782 Hidraulica Leonhard Euler Sufga equacdes gerais do movimento dos fluidos 1707 - 1783 perfeitos 9 ne Fundamentos de Engenhari Mr | Antoine Chézy Franca estudos experimentais relativos & resistén- 1718-1798 cia ao escoamento: Jean Charles de Borda Franca estudo do escoamento junto a embarca- 1733 - 1799 gdes, bombas e orificios; express6es para cAlculo de perdas de carga locelizadas Louis Marie Henri Franca contribuicao teérica a Hidrodinamica Navier 1735 - 1836 Gaspard Gustave Franca aceleragao em sistemas em rotacao; introdu- de Coriolis 1792 - 1843 cdo de coeficientes para velocidade Jean-Claude Bamé de Franca escoamento nao permanente ‘Saint Venant 1797 - 1886 Henri-Philbert-Gaspard Franca escoamento em meios porosos e em Darcy 1803 - 1858 tubulagées | Ludwig-Julius Alemanha contribuicées experimentais concernen- | Weisbach 1806 - 1871 tes 4 resisténcia ao escoamento | William Froude Inglaterra modelagem fisica em Hidréulica 1810 - 1879 Robert Manning INanda proposicéo e divulgacao de expressées 1816 - 1897 de resisténcia ao escoamento em canais abertos George Gabriel Stokes _Irlanda equacoes gerais do escoamento 1819 - 1903 Orborne Reynolds Irlanda conciliacdo de resultados experimentais 1842 - 1912 e tedricos Joseph Boussinesq Franca contribuicgo te6rica ao estudo de coefi- 1842 - 1929 Gentes de velocidade e turbuléncia Boris Bakhmettef Russia ressalto hidrulico energia nos escoa- 1880 - 1951 mentos livres Ven Te Chow China consolidacéo e divulgacdo da Hidrdulica 1919 - 1981 ¢ Hidrologia 1.2 _O panorama e escopo atual da Engenharia Hidraulica No contexto atual, pode-se definir a Engenharia Hidraulica como sendo a érea da engenharia correspondent & aplicacdo dos conceitos da Mecénica dos Fluids na resolugso de problemas ligados & captacéo, atmazenamento, controle, transporte e uso da agua. Desta forma, percebe-se que a Engenharia Hidrdulica desempenha um papel significativo em diversas modalidades de engenharia, integrando-se também em diversos outros campos profissionais. No campo de trabalho especifico da Engenharia de Recursos Hidricos, a Engenharia Hidraulica encontra-se presente em praticamente todos os tipos de empreendimentos, 30 ‘Akngerhaa Heke | Capitulo 1 como sistemas hidrdulicos de geracao de energia, obras de infraestrutura, tais como canais, portos, hidrovias, eclusas etc., como pode ser visto na Figura 1.2. Figura 1.2 — Alguns usos atuais da agua Usina Hidrelétrica de Séo Simo (MG) - Foto: Cemig Fundomentos de Engenharia Mdrsulea Apenas para citar um exemplo brasileiro de grande empreendimento de geracao de energia elétrica, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no rio Parana, com vazdo média didria de cerca de 2.000 ms e altura maxima de queda de 128 m, € equipada com 18 turbinas com capacidade nominal de 12.870 MW, gerou 93.428 GWh no ano 2000. Aaanalise dos problemas ligados ao projeto e gestao de reservatorios, a propagacao de cheias e a delimitacao de areas inundaveis, entre outros, utilizam a Hidraulica como importante ferramenta de trabalho. Em Saneamento Basico, a Engenharia Hidrdulica desempenha também um papel importante em grande parte dos empreendimentos. Com efeito, a Hidrdulica encontra-se presente desde a captacao, aducao e distribuicao de aguas de abastecimento urbano e industrial, até os sistemas de coleta e esgotamento sanitério e de drenagem pluvial, passando pelas estacdes de tratamento de agua e esgoto, Diversas so também as inter-relac6es da Hidrdulica com a Engenharia Ambiental, cada vez mais importante no contexto atual, De fato, as questdes ligadas a preservacéo dos habitats em meios aquéticos, a dispersao e difusdo de poluentes, os problemas de erosdo e assoreamento, entre outros, fazem intervir a Hidraulica. Na Engenharia de Transportes a Hidrdulica também faz-se presente, sobretudo no tocante a obras de infraestrutura de transporte, tais como bueiros e pontes, além dos portos, hidrovias, eclusas, jé citados anteriormente. A Engenharia Hidraulica encontra ainda importantes aplicagdes em dominios tais como aiirigacdo e drenagem de dreas agricolas, processos industriais diversos, sistemas e maquinas hidrdulicas etc. Pode-se citar 0 exemplo do Projeto Jaiba, localizado as margens do rio So Francisco, no norte do Estado de Minas Gerais que, com vazo nominal de 80 mis, foi projetado para a irrigacao de cerca de 100.000 ha, através de uma rede de mais de 247 km de canais. 1.3 Desafios e perspectivas Conforme visto ao longo deste capitulo, a Engenharia Hidrdulica apresenta um am- plo espectro de atuacao na sociedade atual, experimentando hoje uma fase de intenso desenvolvimento cientifico e tecnolégico, em resposta ao uso cada vez mais intenso dos recursos naturais, com projetos cada vez mais complexos e de maior envergadura. crescimento da populacdo mundial e o desenvolvimento econémico, com as demandas correspondentes em agua, tanto para consumo direto, como também para insumo industrial e agricola, ensejam uma utlizaco e valorizacao crescente dos recursos hidricos. Por outro lado, as questoes ambientals concernentes a Agua implicam na neces- sidade de que a utlizacSo do recurso seja feita mais racionalmente, de forma compativel com os conceitos de desenvolvimento sustentavel. Pode-se discernir, portanto, uma ten- déncia de crescimento do papel da Engenharia Hidraulica, no contexto socioecondmico € ambiental em que se insere a Engenharia de Recursos Hidricos. 32 1 Engenharis Herts I Capo Modelo reduzido de vertedor Os aspectos de pressdo de demanda, em quantidade e qualidade, vérn certamente condicionar o desenvolvimento tecnoldgico da Engenharia Hidrdulica. Este desenvolvi- mento implica, necessariamente, continuos avangos cientificos, centrados no melhor conhecimento do comportamento dos sistemas e dos processos hidrdulicos envolvidos. Do ponto de vista experimental, importantes avancos em equipamentos de medicao em laboratorio e em escala real, com avancados sistemas de aquisicao e tratamento de dados, tornam possivel uma abordagem mais fina dos fendmenos hidraulicos, incremen- tando as possibilidades e reduzindo prazos e custos da modelagem fisica. Os recursos computacionais atuais, com a reducdo de tempos de processamento ¢ incremento das possibilidades de calculo, tornam possivel a simulacao matemética de sis- temas hidrdulicos complexos, fazendo intervir possantes e refinados modelos numéricos Por outro lado, tornou-se possivel a abordagem de alguns processos hidraulicos através de novos conceitos ¢ teorias. Como exemplo, pode-se citar a utilizaco dos conceitos de turbuléncia, anteriormente com 0 uso limitado ao campo de fenémenos de transporte mais refinado e que vém sendo adotados na area de Engenharia Hidraulica. Uma tendéncia que 6 possivel discernir corresponde ao incremento da comple- mentaridade entre a modelagem fisica e a modelagem matematica. Técnicas cada vez mais avancadas e sofisticadas para medicao e aquisic3o de dados suprem as necessidades crescentes de informagdes dos modelos de simulacéo matematica, capazes de representar 95 fendmenos fisicos envolvidos em complexidade crescente e com condicées de contorno mais diversificadas e realistas. Assim, face ao significativo papel da Hidraulica na sociedade atual e face & crescente complexidade no tratamento das questées envolvidas, visualizam-se importantes desafios cientificos e tecnologicos para Engenharia Hidraulica no futuro. B Capitulo 2 A mecanica dos fluidos na Hidraulica Neste capitulo séo apresentados, resumidamente, alguns tépicos basics da Mecanica dos Fluidos necessdrios ao estudo da Hidrdulica, tais corno sistemas de unidades, propriedades fisicas dos fluidos e conceitos de hidrodinamica e hidrostatica 2.1 Introducdo_ ‘A fundamentacao tedrica da Hidraulica esta contida na Mecdinica dos Fluidos e con- sequentemente na Fisica. Assim, enquanto esta estuda o comportamento da matéria nos irés estados (sélido, liquido e gasoso), a Mecénica dos Fluidos trata dos fluidos (liquidos € gases) e a Hidraulica apenas dos liquidos, mais especificamente da agua. Entretanto, os elementos tedricos originarios da Fisica nao sao suficientes per si para resolver todos os problemas praticos da Hidrdulica, requerendo esta, quase sempre, de dados experimentais. Desta maneira, os fundamentos dos itens apresentados neste livro esto alicercados na Fisica classica € no empirismo. Para anélise destas quest6es, principalmente as relacionadas com equas6es e proprie- dades fisicas dos fluidos, apresentam-se a seguir as unidades das grandezas normalmente utilizadas neste livro e o principio da homogeneidade dimensional. 2.1.1 Sistemas de unidades Para efetuar-se a medida de determinada grandeza, tal como comprimento, forca, ou mesmo, alguma propriedade do fluido, é necessario comparé-la com outra grandeza de mesma espécie. O padrao de medida que serve para comparagao é denominado de unidade. Conforme a natureza da grandeza considerada, as unidades podem ser fundamentals ou derivadas. © conjunto formado pelas unidades das grandezas fundamentais e pelas unidades das grandezas derivadas é denominado Sistema de Unidades. No Brasil, desde 1962, adota-se Fundamentos de ngenria Hirota oficialmente o Sistema Internacional (SI), baseado em 7 grandezas fundamentais, basicas. As abreviaturas das unidades sao escritas em letras minusculas, com excecao das unida- des derivadas de nomes proprios, que devem iniciar-se com letras mailisculas, conforme mostra 0 Quadro 2.1 Quadro 2.1 - Grandezas fundamentais ~ simbolos e unidades Grandezas fundamentais _Simbolo_Unidade Abreviatura da unidade Comprimento L Metro, m Massa M Quilograma kg Tempo: T Segundo s Intensidade corrente elétrica I Ampere A Temperatura 6 Kelvin K Quantidade de matéria q Mole mol I Intensidade luminosa Candeia cd. Na Fisica, em geral, e na Hidraulica, em particular, adotam-se como grandezas fun- damentais a Massa M, 0 Comprimento L e 0 Tempo T, dai a denominacao de Sistema MILT, em substituicdo ao nome de Sistema Internacional. As unidades correspondentes & massa, a0 comprimento € a0 tempo s4o 0 quilograma (kg), 0 metro (rm) e 0 segundo (8), respectivamente Outro sistema muito utilizado no Brasil ¢ o Técnico ST, também denominado FLT, bem semelhante ao SI, Contudo, utiliza-se a forca F como grandeza fundamental, cuja unidade é 0 kgf, no lugar da massa, além do comprimento e do tempo, Por outro lado, a massa passa a ser uma grandeza derivada, cuja unidade é denominada unidade técnica de massa (utm). A passagem de um sistema ao outro ¢ feita pela aplicacao da segunda lel de Newton (F = m.a), estabelecendo dessa maneira que’ tutm=tkgt.s?//m lutm = 9,8Ikg IN=1kg-m/s? Ikgf = 9,81N O Quadro 2.2 contém as unidades das grandezas normalmente utilizadas na Hidraulica, nos sistemas internacional € técnico. Quadro 2.2 - Unidades utilizadas nos sistemas usuais Grandezas Simbolo Abreviatura das unidades Sistema Internacional istema Técnico Massa M kg kgf.st/m (utm) Comprimento L m m Tempo T s s Forca F N kof 36 ‘A Mecinica dos Fides na Hila | Capt 2 2.1.2 Principio da homogeneidade dimensional O principio da hornogeneidade dimensional é utilizado para facilitar o desenvolvi- mento de equacées e a converséo de sistemas de unidades. Através deste, é possivel representar, por exemplo, as leis da Fisica pelas grandezas fundamentais dos sistemas internacional ou técnico. Este principio estabelece que uma equacao ¢ dita homogénea dimensionalmente, quando os seus diferentes termos apresentam o mesmo grau com relacao as grandezas fundamentais, E importante ressaltar, entretanto, que o principio da homogeneidade dimensional, embora seja uma condigao geral para a validade de uma equacéo, nao é suficiente. Por outro lado, & possivel terse equacdes ndo homogéneas, ou seja, equacdes cujos diferentes termos nao apresentam as mesmas dimensées, sendo validas em um determinado sistema de unidades, para uma determinada gama de valores das grande- zas intervenientes. Em geral, estas equagbes sao oriundas de experiéncias conduzidas empiricamente. Exemplo 2.1 Determinar a equacdo da distancia percorrida por um corpo em queda livre, considerando-se que a distancia percorrida d depende do peso do corpo P, da aceleracao da gravidade g e do tempo t, ou seja: d=kPgt (2.1) sendo k um coeficiente adimensional, geralmente determinado experimen- talmente efou por analise fisica. Solugéo Pelo principio da homogeneidade dimensional, para que esta equacdo seja homogénea os expoentes das grandezas fundamentais envolvidas devern ter 0 mesmo grau, em ambos os membros da equacao. Expressando, en- ‘tao, as grandezas envolvidas em termos das grandezas fundamentais MLT e substituindo-as em (2.1) tem-se: L MLT iP T MPLIT. = (MPL? T) (OT) (F) +e va ¥Uyy 37 eee nee en eee Fundementos de Engenharia Wdrulce Relacionando os expoentes de M, L, e T na equacao anterior, tem-se, respectivamente: O=a > Tsa+b > 0=-2a-2b+¢C > Substituindo-se os valores de a, be c na equacdo (2.1), obtém-se as dimensées da distancia em relacdo 8s grandezas fundamentais MLT, de onde pode-se concluir que a distancia independe de "P” d=kPgt =» d=kgt A aplicacao desse principio permite obter o mesmo resultado, utilizando-se tanto as grandezas fundamentais MLT quanto FLT. 2.2 Propriedades fisicas dos fluidos Fluidos so substancias no estado liquido ou gasoso que se deformam continua- mente sob a acdo de alguma forca cisalhante. Este texto trata especialmente dos liquidos newtonianos, isto 6, dos liquidos em que a taxa de deformacao varia linearmente com a forca de cisalhamento aplicada. Algumas propriedades fisicas dos iquidos e em especial da Agua sdo apresentadas a seguir. Massa especifica ou densidade absoluta Massa especifica ou densidade absoluta é a relagao entre a massa do fluido e o seu volume. p =v (2.2) sendo: p = Massa especifica ou densidade absoluta do fluido m = massa do fluido ‘v =volume do fluido ‘A massa especifica depende da presséo e da temperatura (ver Quadros 2.3 € 2.4). Entretanto, em condic6es normais, a variagéo dessa grandeza é pequena e, comumente, considerada constante, Na maioria dos problemas, adotam-se para a 4gua os valores da massa especfica a 4°C, ou seja, p =1000 ko/im? no sistema internacional ou p =102 kgts*/m* no 8 A Mecca dos Fidos na Hirauiea | Cape 2 sistema técnico. Excecéo se faz aos escoamentos transitérios, nos quais essa propriedade deve ser considerada como uma funcao da pressdo que é muito varidvel, ou em escoa- mentos com elevadas temperaturas. Para todas as aplicacOes praticas deste livro, salvo indicacao em contrario, sero adotados: p = 1000 kg/m? = 102kgf.s*/m*. Densidade relativa Densidade relativa (6) é a relacdo entre a massa especifica de uma substancia para ‘outra tomada como referéncia. Normalmente, para liquidos, a agua a 4°C é tomada como padrao, 0 que corresponde a p,=1000 kg/m? ou p,=102 kaf mrs®, Assim, a densidade relativa da Agua, independe do sistema de unidade, podendo ser considerada igual a unidade (8 =1) em grande parte dos problemas. Para todas as aplicaces praticas deste livro, salvo indicado em contrério, ser adotado 6 = 1. 5 =p/p, (2.3) Quadro 2.3 - Propriedades fisicas da 4gua - sistema internacional Temperatura Massa Peso Pressiode Médulode Viscosidade Viscosidade Especifica Especifico Vapor ——_Elasticidade Dindmica —_Cinematica Volumétrico T P 7 Bae K e Vv °C kg/m? __N/m? Pa 107Pa__107kg/ms__ 10% m/s 0 999.9 9805 611 204 1,79 179 5 1000,0 9806 873 206 1,52 1,52 10 99,7 9803 1266 21 1,31 131 15 999,1 9798 1707 214 114 114 20 998.2 9789 2335 220 1,01 4,01 25, 997.1 9779 3169 222 0,89 0,90 30 995,7 9767 4238 223 0,80 0,80 35 9941 9752 5621 224 0,72 0,73 40 992.2 9737 7377 227 0.66 0.66 45 990.2 9720 9584 229 0,60 0,61 50 988,1 9697 12331 230 0,55 0,56 55 985,7 9679 15745 231 051 0,51 60 983.2 9658 19924 228 0,47 0.48 65 980,6 9635 25015 226 0,44 0,44 70 977.8 9600 31166 225 041 0,42 5 9749 9589 38563 223 0,38 0,39 80 9718 9557 47372 221 036 037 85 968,6 9529 57820 217 034 035 90 9653 9499 70132 216 0,32 033 95 961,9 9469-84552 2u 0,30 031 100 9584 9438101357 207 _0,28 0,30 39 Fundamentos de Engenhri Herslca Quadro 2.4 ~ Propriedades fisicas da Agua - sistema técnico Temperatura Massa Peso Presséo de Médulo de Viscosidade Viscosidade Especifica Especifico Vapor —_Elasticidade pingmica _ Cinemética Volumétrico a ? ¥ a K it v °C ___Kgfis¥m* kgf/m? _Kgffm? 10°Kgf/m? 10° kg/ms 10° m/s 0 101,9 999.9 62 2,08 1,83 1,79 5 101,9 1000, 89 2,10 1,55 1,52 10 101,9 © 9997129 2,15 1,33 131 15 101,8 99,1 174 2,18 1,16 114 20 1018 98,2238 2,24 1,03 101 25, 101.6 © 997.1323 2,26 0.91 0.90 30 1015 995,7432 2.27 0,82 0,80 35, 101.3 9941573 2,28 0,74 073 40 101,192,272 231 0.67 0,66 45 100.9 990.297 2,33 0.61 0,61 50 100.7 98811257 2,34 0,56 0,56 55 1005 9857. 1605 2,35 0,52 051 60 1002 98322031 2,32 0,48 0,48 65 1000 9806 2550 2,30 0,44 0,44 70 99,7 977.8 3177 2.29 0,42 0,42 75 99,4 © 974,9 (3931 2.27 039 0,39 80 99,1 9718 4829 2,27 0,36 0,37 85, 987 9686 ©5894 221 034 0,35 90 984 965,37149 2,20 0,32 0,33 95 98,1 9619-8619 215 0,31 0,31 100 97,7___958,4__ 10332 211 0,29 0,30 Peso especifico Peso especifico é a relacdo entre 0 peso do fluido e o seu volume. yew (2.4) sendo ‘Y= peso especifico do fluido W = peso do fluido = volume do fluido Pela segunda lei de Newton W = m.g, sendo ma massa eg a aceleracao da gravi- dade, Substituindo este valor de W na equacdo (2.4), juntamente com a equacao (2.2), tem-se y = pg. Conclui-se, portanto, que o peso especifico depende da pressao e da ‘temperatura, j4 que p também depende destas caracteristicas. Para todas as aplicacées praticas deste livro, salvo indicacéo em contrario, serao adotados: y = 9810 N/m? = 1000 kgf/m? eg = 9,81 m/s, Os Quadros 2.3 e 2.4 relacionam os valores do peso especifico da agua em diferentes temperaturas, entretanto, como a variagao dos valores do peso especifico € pequena, 40 A Mecca des lids na Herauliea |Captul 2 em grande parte dos problemas utiiza-se 0 valor padréo: y =9,81x10* Nin? ou'y =1000katim?, nos sistemas de unidades internacional e técnico, respectivamente. Pressao A relacao entre a forca normal que age contra uma superficie plana e sua area é definida como presséo média (P = F/A). Quando esta area se aproxima de zero, em torno de urn ponto, tem-se, por definicao, a presséo no ponto, sendo a direcao da pressdo sempre normal a superficie. A medida dessa grandeza no sistema técnico ¢ denominada Pascal (Pa), sendo 1 Pa = 1 N/m? s_, F Ba time tina (2.5) em que: P : pressao num ponto F : esforco normal a superficie A: area da superficie Também leva 0 nome de Pascal a lei que estabelece que num fluido em equillbrio a presso num ponto é a mesma em todas as direcGes, independentemente da orientacdo da superficie em torno do ponto, ou seja: (2.6) Pressdo de vapor Pressdo de vapor corresponde ao valor da pressdo na qual o liquide passa da fase liquida para a gasosa. Na superficie de um liquido ha uma troca constante de moléculas que escapam para a atmosfera (evaporacao) e outras que penetram no liquido (con- densacao). Visto que este proceso depende da atividade molecular e que esta depende da temperatura e da pressao, a pressio de vapor do Iiquido também depende destes, crescendo 0 seu valor com 0 aumento da presséo e da temperatura. Quando a pressdo externa, na superficie do liquido, se iguala 8 pressdo de vapor, este se evapora. Se 0 proceso no qual isto ocorre é devido ao aumento da temperatura do liquido, permanecendo a pressao externa constante, 0 proceso ¢ denominado de evaporacao. Caso isto se dé pela mudanca da pressdo local enquanto a temperatura permanece constante, 0 fendmeno é conhecido.por cavitacso. Este fenémeno ocorre, normalmente, em escoamentos sujeitos as baixas press6es, proximos 8 mudanca de fase do estado liquido para 0 gasoso e constitui um grande problema em vertedores, valvulas e succéo de bombas. Valores da presséo de vapor, para a agua, séo mostrados nos Quadros 2.3 e 2.4. a" Fundomentos de Engenharia Wedrbulca Moédulo de elasticidade volumétrico O médulo de elasticidade volumétrico é a relagdo entre o incremento de pressao (AP) aplicado ao fluido e a variacao relativa de volume (AV/ v), dando, portanto, a medida da compressibilidade do fluido através da relacéo: = - ARV JAW (27) | em que: K = médulo de elasticidade volumétrico do liquide | AP = incremento de pressao | AW= variagdo do volume devido a AP Y= volume do liquido Em grande parte dos problemas que envolvem escoamento de liquidos, a compressi- | bilidade pode ser desprezada, uma vez que as mudancas de volume para as variacbes de t pressdes normalmente existentes sdo irrelevantes. Entretanto, no estudo de transientes >» } hidrdulicos © médulo de elasticidade volumétrico passa a ser importante, pois as oscilacoes, | das press6es s4o de maior monta, afetando a velocidade de propagacao das perturbacdes no meio liquido. Para a Agua, os valores do médulo de elasticidade sao mostrados nos Quadros 2.3 e 2.4. Viscosidade Viscosidade ¢ a resistencia do fluido 8 deformacéo, devida principalmente as forcas de coesdo intermolecular. Consequentemente, essa propriedade s6 é evidenciada com 0 escoamento do fluido, apresentando menor fluidez os fluidos de alta viscosidade e vice-versa, | Newton estabeleceu que num escoamento unidirecional, como o representado na | Figura 2.1, a tensdo tangencial t 6 proporcional ao gradiente de velocidade dv/dy, sendo | 0 Coeficiente de proporcionalidade a viscosidade dinamica do fluido 1. Os fluidos que t seguem esta lei so chamados de newtonianos. t=ydvidy (Lei da Viscosidade de Newton) (2.8) PLACA MOVEL PLACA FIXA Figura 2.1- Diagrama de velocidade de um fluido escoando entre duas placas planas a2 nn LL LED ETE ER RT RO Fo ETE OE A Mecinca dos Fides na Were Capo 2 A razao entre a viscosidade dinamica do fluido y e sua massa especifica p édenomi- nada viscosidade cinematica v e é frequentemente utilizada, pois 0s efeitos da viscosidade tornam-se mais evidentes com menor inércia do fluido. v=nhp (2.9) 0 Quadro 2.3 mostra no sistema internacional de unidades 0 valores da viscosidade dinamica e cinematica da agua, a diferentes temperaturas, o mesmo acontecendo no Quadro 2.4 para o sistema técnico. 2.3 Classificagéo dos escoamentos Uma classificacao geral basica, que norteia o estudo da Hidraulica, diz respeito a pressao reinante no conduto, podendo o escoamento ser forcado ou livre. No primeiro caso a presséo € sempre diferente da atmosférica e portanto 0 conduto tem que ser fechado, como nas tubulacées de recalque e succao das bombas ou nas redes de abas- tecimento de agua. No escoamento livre a presséo na superficie do liquido é igual 8 atmosférica, podendo o conduto ser aberto, como nos canais fluviais, ou fechado, como nas redes de coleta de esgoto sanitario Plezémetro — ee Tube bea Segdo AA Conduit foreado zs Sesto BB Condut livre Figura 2.2 - Escoamento forcada e live 4B Fandamenos de Engenharia Hiren ‘Adutora ~ conduto forgado — e canalizacéo do ribeirdo Arrudas — escoamento livre (Belo Horizonte, MG) Quanto a direcéio na trajetoria das particulas, 0 escoamento pode ser Jaminar ou turbulento. A experiéncia de Osborne Reynolds, que consiste na injecao continua de | um corante em um ponto do escoamento, permite visualizar estes dois tipos de fluxo | (ver Figura 2.3). No fluxo laminar 0 corante forma um filete bem definido, sem misturar 1 com 0 liquido, uma vez que as varias camadas do Iiquido se movern sem perturbacao. i | JA no escoamento turbulento, as particulas do liquido tém trajetérias irregulares, cau- sando uma transferéncia da quantidade de movimento de uma parte a outra do fluido. Neste caso, ocorre a mistura do corante na massa liquida. Na Engenharia Hidraulica, em i geral, os escoamentos se enquadram na categoria de turbulento. O escoamento laminar pode ocorrer quando 0 fluido é muito viscoso ou a velocidade do escoamento € muito pequena, como nos decantadores das estacdes de tratamento de agua Filamento de tnt ees | Sa Oe ° \ ube Fluxo laminar Fluxo turbutento Figura 2.3 - Escoamento laminar e turbulento Com efeito, considerando as indicacées de Reynolds, tem-se: Re=pUD/u ou Re = UDjv (2.10) em que Re : Numero de Reynolds; U_ : Velocidade média do escoamento; D, : Dimensao geometrica caracteristica; p_ : Massa especifica; pt: Viscosidade dinamica; v_ : Viscosidade cinematica | Mecca dos Fidos na Haut Capt 2 Para os escoamentos livres, adota-se o raio hidraulico R,, como dimensao geométrica caracteristica, e para os escoamentos em condutos forcados 0 diametro D, como sera visto oportunamente, © Quadro 2.5 apresenta os niimeros de Reynolds correspondentes 05 regimes de escoamento verificados na experiéncia citada, conforme os escoamentos se deem em escoamentos livres ou forcados Quadro 2.5 - Regime de escoamento e o ntimero de Reynolds Regime Condutos Livres ‘Condutos Forcados Re=UR/v Re=UD/v Laminar Re < 500 Re < 2000 Transigaio 500 < Re < 1000 2000 < Re < 4000 Turbulento Re > 1000 Re > 4000 Quanto a variacdo no tempo os escoamentos se classificam em permanentes ¢ tran- sit6rias. No regime permanente nao ha variacdo das caracteristicas de escoamento com © tempo; assim, a velocidade v e também outras propriedades como massa especifica P, pressao p etc. serdo expressas matematicamente como sendo avfat = 0, Ap/at = 0, ap/at = 0 De maneira similar, tem-se nos escoamentos transitorios: av/At # 0, Ap/at # 0, Ip/at + O Os escoamentos transit6rios podem ainda ser subdivididos de acordo com a taxa de variacao da velocidade e da pressao. Se estas variam lentamente, como no escoamento em uma tubulacéo abastecida por um reservatério de nivel variavel, a rudanca é lenta @ @ compressibilidade do liquido nao & importante. Entretanto, quando a mudanca é brusca, como nos casos de fechamento répido de valvulas em condutos forcados, on- das de pressdo s8o geradas € transmitidas com a velocidade de propagacao do som e causam uma variagao acentuada de presséo, sendo a compressibilidade, nestes casos, fator importante no fenémeno, chamado de transiente hidrdulico ou golpe de arlete Caracteristicas hidraulicas Caracteristicas hidraulicas constantes no tempo varidveis no tempo 5 4 Fluxo permanente Fiuxo transient Figura 2.4 - Escoamento p Com relacao a trajetéria os escoamentos podem também ser classificados em unifor- ‘mee variado. No escoamento uniforme o vetor velocidade € constante em médulo, direcao 45 Fundarentas de ngenhoa Hdratea e sentido, em todos os pontos, para qualquer instante, isto quer dizer, matematicamente, que av/as = 0, sendo vo vetor velocidade e s 0 deslocarnento. Exemplos de escoamento uniforme s4o encontrados nos condutos de secao constante de grande extensao, como adutoras e canais prismaticos em que a altura da lamina d’agua é invariavel. No escoamento variado év/as # 0. Condutos com varios didmetros ou canais com declividades variaveis, como o mostrado na figura a seguir, s80 exemplos de escoamento variado, = Bruscamente Variado Gradualmente Variado Uniforme. Fluxo permanente variado Figura 2.5 - Escoamento variado Tem-se ainda os escoamentos unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais, conforme o niimero de dimensoes envolvidas no fendmeno. No primeiro tipo sao des- preziveis as variacées das grandezas na direcéo transversal a0 escoamento, tendo em vista as variacdes dessas mesmas grandezas ao longo do escoamento. Os escoamentos em condutos forcados sao considerados unidimensionais, uma vez que as grandezas, do tipo velocidade, pressao e propriedades fisicas, sd0 expressas em termos de valores médios constantes para a seco transversal. No escoamento bidimensional admite-se que as variacdes das grandezas podem ser expressas em funcao de duas coordenadas, ou seja, as variacbes da velocidade, da presséo e demais grandezas podem ser descritas num plano paralelo a0 do escoamento. 0 tridimensional ¢ o mais geral, sendo que suas caracteristicas variam nas trés dimens6es € por isso mesmo sua andlise exige métodos matematicos mais complexos.

y,, Jp = Yor IVA (2.27) 6 fundaments de Engenharia Hiri yp, = distancia da linha de acéo da forca resultante & superficie livre, segundo o plano da superficie |, =momento de inércia da superficie plana em relagao ao eixo que passa pelo seu centro de gravidade (ver Quadro 2.6) y, =distancia do centro de gravidade da superficie plana a superficie | livre, segundo o plano da superficie. Quadro 2.6 - Momentos de inércia de algumas figuras importantes | Forma Figura Ip tang , x Retangular cede He i o Triangular ba 36 Circular not Comportas retangulares (Canal de la Durance, Franca) 62 |AWMectrica dos Fides na Hibs | Capo 2 Exemplo 2.5 Uma barragem de terra e enrocamento é projetada para uma lamina d’égua maxima de 9,0 m. Considerando a seco transversal mostrada na figura a seguir, pede-se determinar: a) O esforco exercido pela agua armazenada por unidade de largura da barragem, b) A localizacao do esforco calculado no item anterior. Solucao a) Utilizando a equacao (2.26) para se determinar o esforco em 1,0 m da barrage, tem-se: FE =yhA y =1000kgf/m? A=AB-1,0=14,0m? F =1000-4,5-14,0 = 63000kgf ou F =618030V b) Pela equacao (2.27) =7,0m 63 Fundemantos de Engentri Hdeulica O retangulo, de base igual a 1,0 me altura de 14,0 m, tem para o momento de inércia (/,) a expresso seguinte, mostrada no Quadro 2.6: 1 - ba _ 10-140" = = 228,7m* a2, 12 : __Problemas___ | 2.1 Estabelecer a expressdo matemidtica da relacdo entre o tempo percortido (t) em queda livre de um corpo no vacuo, sujeito a gravidade (9), a uma altura (h), utilizando o principio da homogeneidade dimensional. 2.2 Utilizando © principio da homogeneidade dimensional, estabelecer a relacéio matematica que existe entre a energia fornecida por uma bomba (P), 0 peso espe- Gifico do fluido (9), a vazio (Q) € a altura de carga fornecida pela bomba (Hm), 2.3Um bocal convergente de 100 mm x 50 mm é colocado num sistema para assegurar uma velocidade de 5,0 m/s na extremidade menor do bocal, Calcular a velocidade, a montante do bocal e a vazéo escoada 2.4 Calcular a forca requerida para segurar um esquicho de mangueira de incéndio que ten 63 mm de diametro na entrada e 19 mm na saida, quando este esta des- : pejando 4,0 Vs de égua para atmosfera. Considerar desprezivel a perda de carga no bocal a0 longo de 1 km de extensao. O canal tem inicio na cota 903,0 onde a famina : d’agua é de 1,0 m. Supondo que na seco final do canal a cota seja 890,0 mea velocidade média 3,0 m/s, pede-se calcular a perda de carga total entre o inicio e © término do canal | 2.5Um canal retangular com 5,0 m de largura transporta uma vazéo de 10 m*/s [A Mecirica dos Fidos na Hida | Cepto 2 2.6 Por um canal retangular de 2,0 m de largura, posicionado a 20 m do nivel de referéncia escoam 3,0 m/s de agua a uma profundidade de 1,8 m. Calcular a energia hidraulica total na superficie da agua em relacao ao nivel de referéncia 2.7 Uma tubulacao de 500 mm de diametro, assentada com uma inclinagao de 1%. ao longo de 1 km do seu comprimento, transporta 250 Us. Sabendo-se que a pressao a0 longo da tubulacao é constante, determinar a perda de carga neste trecho. 2.8Um tanque contém 0,50 m de agua e 1,20 m de éleo cua densidade relativa 6 0,80. Calcular a pressao no fundo do tanque e num ponto do liquido situado 1a interface entre os dois liquidos. Expressar os resultados nos sistemas técnico e internacional 2.9Uma vazao de 75 V/s esta escoando numa curva de 90°, diametro de 300 mm, posicionada num plano horizontal, onde a carga de pressdo 6 40 m. Determine o valor e a direcao da forca que atua neste ponto da instalacéo. 2.10. Uma reducdo com 1,5 m de diémetro a montante e 1,0 m a jusante, assen- tada no plano horizontal, apresentou 400 kPa de pressio na seco de montante quando transportava 1,8 m/s de agua. Desprezando-se a perda de carga, calcule a forca horizontal que esta peca deve provocar no bloco para a sua ancoragem 65 Capitulo 3 Escoamento em condutos forcados simples Este capitulo trata, essencialmente, de problemas relacionados aos condutos forcados simples em regime permanente. Para tanto, so apresentados os métodos usuais para o célculo da perda de carga e suas aplicacoes. Analisa- -se, também, a influéncia do perfil das tubulacdes em relacao as linhas de carga do escoamento, Finalmente, os problemas ligados a cavitacéo e aos escoamentos nao permanentes so discutidos. 3.1 Perda de carga liquido ao escoar transforma parte de sua energia em calor. Essa energia ndo é mais recuperada na forma de energia cinética e/ou potencial e, por isso, denomina-se perda de carga. Para efeito de estudo, a perda de carga, denotada por Ah, é classificada ern perda de carga continua Ah’ e perda de carga localizada 4h”, sendo a primeira conside- rada ao longo da tubulacdo e a outra, devido a presenca de conexdes, aparelhos etc., em pontos particulares do conduto, conforme pode ser visto na Figura 3.1 PCE. =Plano de Carga Estitco - LC.=Lithade Carga - LP. =Linha Piezomética Figura 3.1 - Representacdo da perda de carga num tubo de secao constante Fundamentos de Engen Haroun 3.1.1 Perda de carga continua A perda de carga continua se deve, principaimente, ao atrito interno entre particu- las gerando transversalmente ao escoamento diferentes velocidades. As causas dessas variacdes de velocidades so a viscosidade do liquido v e a rugosidade da tubulacao e. No escoamento uniforme, a razao entre a perda de carga continua Ah’ e o comprimento do conduto L representa o gradiente ou a inclinaco da linha de carga e € denominado por perda de carga unitaria J: @.1) Na Figura 3.1, entre os pontos 2 e 3 do conduto, onde nao hd nenhuma perda de carga localizada, a linha piezométrica é paralela a linha de carga, j4 que a secao do tubo 6 constante e consequentemente a carga de velocidade também 0 €. Assim, 0 abaixa- mento da linha piezomeétrica representa também a perda de carga continua, como pode ser demonstrado, aplicando a equacao de Bernoulli entre as secdes 2 e 3 consideradas: Zt Py + UZl2g = yt Pj ly + UzZl2g +Ah',, visto que UU, > Ah’, = Zr Psp- Zt PLD A andlise dimensional pode ser utilizada para se obter uma relacao entre a perda de carga continua, pardmetros geométricos do escoamento no conduto e propriedades relevantes do fluido, resultando na equacao Universal de perda de carga, que para con- dutos de seco circular apresenta-se como a (3.2) 2g 3 Considerando as equacées (3.1), (3.2) e a equacao da continuidade, obtém-se a seguinte equacdo para a perda de carga unitéria sendo: J= perda de carga unitaria em m/m; U = velocidade média do escoamento em m/s; D = diametro do conduto em m; Escoamanto em conduit faced simples | Capo 3 L = comprimento do conduto em m; Q = vazdo em m/s; celeracao da gravidade em m/s*; f = coeficiente de perda de carga. O coeficiente de perda de carga f é um adimensional que depende basicamente do regime de escoamento. No escoamento laminar (Re < 2000), este coeficiente pode ser obtido através da equacéo racional de Hagen-Poiseuille (mostrada a seguir), em comparacao com a formulago Universal para perda de carga (3.2). 0 resultado disso a expresso (3.4), onde pode-se notar que f depende do numero de Reynolds (Re = UD/v) € portanto da viscosidade cinematica do fluido v, da velocidade média U e do diametro da tubulacdo D. 32vU (Equacao de Hagen-Poiseuille) (3.4) No escoamento turbulento (Re > 4000) o coeficiente de perda de carga f, quando avaliado experimentalmente, tem demonstrado também depender da viscosidade cine- matica do fluido v, da velocidade média U, do diémetro da tubulacdo D e para a maioria das situac6es da rugosidade interna da parede do tubo e. Blasius, em 1913, propés a formula empirica (3.5) para avaliar este coeficiente em ‘tubos lisos: 0,316 (3.5) Nikuradse, em 1932, por meio de varias experiéncias realizadas em tubos, com rugosidade obtida artificialmente através de grdos de areia, obteve para tubos lisos: = 2Iog Rev v oy G6) € para tubos rugosos na zona de completa turbuléncia: 1 a (3.7) Mais tarde, em 1939, Colebrook e White, com base em consideraces tedricas e emplricas, desenvolveram uma expresséo para a faixa de transicao (tubos hidraulicamente lisos e rugosos) em tubos comerciais: e/D 2,51 57 Rel 88) A expressao anterior, combinada com a equacao (3.2) permite 0 calculo da veloci- dade no escoamento: ee, 251v U=-22gD-F. lo oe e 355 Dy SeDT (3.9) = 2log 3,72 e 69 aaa | : undumentos de Engenharia Médula Aexpressao de Colebrook-White, embora, inicialmente, estabelecida somente para a faixa de transicao, apresenta bons resultados nas outras faixas, pois a expressao (3.8) @ a composicao das equacées (3.6) e (3.7) para tubes lisos e rugosos, respectivamente, por isso é a expressdo mais recomendada para a determinacao de f em escoamentos turbulentos, Contudo, devido a dificuldade do calculo de f que se encontra na forma implicita na expressdo (3.8), 0 engenheiro americano Moody, em 1944, criou um diagrama fundamentado nas express6es (3.4) e (3.8), para os regimes laminar e turbulento, res pectivamente, que durante muitos anos fol de grande utilidade. Atualmente, entretanto, devido aos recursos disponiveis em termos de calculadora, ficou muito mais facil 0 uso das expresses matematicas em que o valor de f aparece explicito. As equacdes (3 10) @ (3.11), mostradas a seguir, s80 exemplos de expressoes desse tipo, sendo a primeira delas desenvolvida por Swamee e Jain e a outra por Barr. As equacées (3.10) e (3.11), quando resguardadas as limitacoes de validade, diferem em menos de 1% dos valores de f dados pela equacao (3.8) . 1,325 [in(el3,7D+ 5,74/ Re°? )]? (3.10) valida para 5x10° < Re < 108 e 10% < e/D < 10” 1 e/D 513 (3.1 F ~2boal 35+ Ree (3.11) valida para Re > 10° © Quadro 3.1 contém valores extremnos e usual para as alturas médias das asperezas ‘ou rugosidades internas de tubos comerciais. Quadro 3.1 - Valores das rugosidades internas de tubos (Continua) Caracteristicas da tubulagao Rugosidade e (mm) Minima _Usual TTubos de aco, juntas soldadas, interior continuo Grandes incrustagdes ou tuberculizagées 24 0 12,2 Tuberculizacdo geral de 1.23 mm 09 15 24 Pintura 4 brocha, com asfalto, esmalte ou betume 0,3 06 09 Leve enferrujamento O15 0,2 0,3 Revestimento obtido por imersdo em asfalto quente 0,06 01 0,15 Revestimento com argamassa de cimento obtida por centrifugacao 0,05 01 0,15 Tubo revestido de esmalte 0,01 0,06 0,3 2, Tubos de concreto Superficie obtida por centrifugacao 0,15 03 05 superficie interna bastante lisa, executada com for- mas metalicas 0,06 O41 018 3.Tubos de cimento amianto - 0,015 0,025, 10 Esccamento em condos forces simples | Captule 3 (Conelusao) Caracteristicas da tubulagao Rugosidade e (mm) Minima Usual Maxima 2. Ferro galvanizado, fundido revestido 0,06 0.15 03 Ferro fundido, nao revestido, novo 0,25 0s 1,0 Ferro fundido com corroséo 10 15 3,0 Ferro fundido com deposito 1,0 2.0 4,0 5.Latéo, cobre, chumbo 0,04 0,007 0,010 6.Tubos de plastico - PVC 0,0015 0,06 5 Fonte - Adaptado de Lencastre, 1996 Até aqui, a énfase foi dada ao método racional, utilizando a formula Universal, com coeficiente de perda de carga f obtido por meio da equacéo de Colebrook-White. Entre- tanto, para sistemas mais complexos, do tipo rede de condutos, torna-se praticamente invidvel 0 seu célculo através deste método, sem o uso de computador. Por essa razé0, as formulas praticas estabelecidas por pesquisadores em laborat6rios ainda séo muito utilizadas, embora sejam mais restritas do que o método anterior, pois s6 podem ser empregadas dentro das condigées limites estabelecidas nas suas experiéncias. Algumas destas formulas apresentam coeficientes de perda de carga empiricos que devem ser escolhidos com muito critério para nao gerar grandes erros. As formulas empiricas para a perda de carga continua unitéria mais utilizadas entre os projetistas de tubulacdo sao apresentadas a seguir. O significado dos termos e as unidades aqui empregados sao os mesmos jé apresentados para equacao (3.3). Férmula de Hazen-Williams 10,64 Q.* Ce DY 8.12) Essa formula tem sido largamente empregada, sendo aplicavel a condutos de secao circular com didmetro superior a 50 mm, conduzindo égua somente. C é um coeficiente de perda de carga que depende da natureza e das condicbes do material empregado nas paredes dos tubos, bem como da agua transportada, O Quadro 3.2 mostra os valores de C normalmente encontrados na pratica Quadro 3.2 - Coeficiente de perda de carga C da formula de Hazen-Williams (Continua) Material c ‘Aco corrugado (chapa ondulada) 60 ‘Aco galvanizado 125 Aco rebitado novo 110 Aco rebitado em uso 85 Aco soldado novo 130 ‘Ago soldado em uso 90 Aco soldado com revestimento especial 130 Chumbo 130 Cimento amianto 140 Cobre 130 n Fundamentos de Engenharia Hralca (Conclusao) Material c Concreto com acabamento comum 120 Ferro fundido novo 130 Ferro fundido de 15 a 20 anos de uso. 100 Ferro fundido usado 90 Ferro fundido revestido de cimento 130 Latao 130 Manilha ceramica vidrada 110 Plastico 140 Tijolos bern executados 100 Vidro 140 Fonte - Adaptado de Azevedo Netto; AWerez, 1988. Formula de Flamant A formula de Flamant foi originalmente testada para tubos de parede lisa de uma maneira geral; posteriormente mostrou ajustar-se bem aos tubos de plastico de pequenos diametros, como os empregados em instalacées hidraulicas prediais de agua fria. 78 J=0,0008245 7, one) Formula de Scobey 19 2 Kk 3.14) 2450" Essa formula é indicada para o calculo de perda de carga em redes de irrigacdo por aspersao e gotejamento que utilizam tubos leves. Os valores do coeficiente de perda de carga K, da formula de Scobey estao indicados no Quadro 3.3 Quadro 3.3 - Coeficiente de perda de carga K, da formula de Scobey Material K, Plastico e cimento amianto 0,32 Aluminio com engates rapidos a cada 6m 0,43 ‘Aco galvanizado com engates rapidos a cada 6m 0,45 Fonte - Adaptado de Gomes, 1994. n scoamento em condos faradcs simples |Captulo 3 Férmulas de Fair-Whipple-Hsiao As formulas apresentadas a seguir so recomendadas pela norma brasileira, para projetos de instalagoes hidraulicas prediais, nos seguintes casos: * tubos de aco galvanizado e ferro fundido, conduzindo agua fria: ge d= 9,00202 trae (3.15) ‘© tubos de cobre ou pléstico, conduzindo Agua fria: 7s J=0,000859 2 G16) D * tubos de cobre ou latéo, conduzindo agua quente: gus J = 0,000692 @.17) D Nao hé formula espectfica para tubos de aco galvanizado, conduzindo agua quente; entretanto, a formula (3.15) tem sido empregada nesses casos, pois apresenta resultados a favor da seguranca As equacées de perda de carga unitaria vistas anteriormente demonstram certa similaridade, diferindo, basicamente, no fator que multiplica a relaco entre a vazao 0 diametro e os expoentes destes. Desta maneira, para representar genericamente uma equacao de perda de carga unitaria, sera utilizada neste livro a expressdo pe (3.18) em que B, ne m sao parametros proprios da equacao utilizada, isto é, no caso da for mulaco Universal (equacao 3.3) estes pardmetros assumem os seguintes valores: para a equacao (3.12) de Hazen-Williams , B = 10,64C-'* por diante 1,85 e m = 4,87, assim B Fundamentos de Engen Helis Exemplo 3.1 Uma adutora fornece a vazao de 150 is, através de uma tubulacao de aco soldado, revestida com esmalte, diametro de 400 mm e 2 km de exten- so. Determinar a perda de carga na tubulacdo, por meio da equacéo de Hazen-Williams, e comparar com a formula universal de perda de carga Solugao Pela equacao de Hazen-Williams com C =130 (ver Quadro 3.2, para tubos de aco com revestimento especial), tem-se: 10,64 0,15". y 130" 0,407 Para a utilizagao da formula universal é necessério conhecer, inicialmente, 0 regime de escoamento, dado pelo numero de Reynolds (Re = UD), tendo sido adotada a temperatura de 20°C para a determinacao da viscosidade cinematica da agua ( v = 1,01x10* m?s) e 1.0034 mim => Ah’ =JL = 0,0034 x 2000 =6,8m v2 Rea tO - MOx0 _ Vv 101x10-® L7 x10 Como 0 nuimero de Reynolds é superior a 4000, 0 escoamento é turbu- lento. Neste caso, 0 coeficiente de perda de carga f depende também da rugosidade das paredes do tubo. Este valor pode ser obtido no Quadro 3.1, para tubos de aco revestido de esmalte, ou seja: pp, = 9,01 mm © pao = 0,06 mm poe = 0.3 mM ID yyy = 205X105 CD yygg = 1,5. X10 eID 4, = 7,5 X10% Utilizando as equacées (3.10) ou (3.11), com Re = 4,7x10* e os valores de e/D anteriormente mencionados, obtém-se f,,, = 0,074, fag. = 0,015 € fons, = 9,019. BexiaeOion 79,81 040 =018155¢ 4 scosmento em condutos forados simples Coto 3 = Inn, = 0,00254 Ippacto = 0,00272 Jax. = 0,003.45 Af'=JL= Abin, =5,08M — MPlnayy=5,44M — Abie = 6,90M Nota-se, neste caso, que a perda de carga calculada pela formula de Hazen- -Williams (Ah’ = 6,8 m) apresentou um resultado dentro da faixa verificada pela formula universal (5,08 m < Ah’ < 6,90 m). 3.1.2 Perda de carga com distribuigdo de 4gua ao longo do percurso As tubulacées destinadas a distribuicao de 4gua séo dotadas de varias derivacdes e, Por iss0, € possivel, na maioria dos casos, considerar a vazo distribufda uniformemente ao longo do conduto, também chamada vazao de distribuicao em marcha q. Para 0 calculo da perda de carga continua neste tipo de escoamento, considere a tubulacdo mostrada na figura a seguir, onde: Q, /azio de montante Q, — =vazao de jusante q = vazao de distribuicéio em marcha (q = (Q,-Q)/L) Linha Piezométrica Figura 3.2 - Perda de carga em conduto com distribuigao em marcha Assim, Q,= 2+ qb Num trecho elementar dx, distante x da extremidade, a vazdo pode ser considerada constante. Sendo Q essa vazo tem-se, consequentemente: Q=Q+qx (3.19) Levando (3.19) em (3.18) e (3.1), obtém-se a perda de carga no trecho dx e por integracdo, em todo o percurso L, como demostrado a seguir 5 Fundamentos de Engenharia Heraca t= Blow na Bf 2 Ah= Fe JQ, +) dx 1 op An=—BL_{ Qu’ = Qi" (3.20) ima B" | 0, -0,” Quando toda a vazéo & consumida no percurso, a vazio de jusante é nula (Q, y BLOF dk = d= —— 7 A= — (ne7)D” ai (3.21) Tendo em vista a equacao (3.21) e os valores usuais de n (n = 2) nas formulas de perda de carga para condutos forcados em regime turbulento, conclui-se que a perda de carga € 1/(n-+1) (aproximadamente 1/3) da perda de carga que se obtém com a vazao constante, sem distribuicéo. Nas tedes de distribuicao dos sistemas puiblicos de abastecimento de agua, entretanto, por uma questo de facilidade somente, calcula-se essa perda de carga de manera aproximada, utilizando-se as formulas de perda de carga vistas no subitem 3.1.1, com uma vazéo ficticia (Q,), dada pela expressao: 3 Q= Se58 (3.22) ‘ p& = Ah'= Bow L (3.23) Quando as derivacées s40 espacadas de maneira regular como nos sistemas de irrigacdo por asperséo, a perda de carga pode ser calculada, considerando a tubulacao formada por varios trechos interligados, onde as vaz6es sdo diferentes em cada trecho, porém constantes ao longo de um dado trecho Assim, supondo 0 sistema dotado de N derivacées, espacadas de uma distancia s, conforme mostrado na Figura 3.3, obtém-se para a perda de carga em cada trecho o seguinte: Figura 3.3 - Perda de carga em conduto com N derivacoes 6 {scoamento em condos forged smples Capila 3 Trecho 1: B (NQIN)" DF Trecho 2: Pentiltimo trecho: Ahiy.,= p2OLM” = BO Ultimo trecho pQinn D w : Ali= AR AAR t+ Ahly AAR > Begin’ sd ,.(BO)_s fn on (88 i > Utilizando a expresso (3.18) e substituindo s por L/N na expressao anterior, tem-se: Fl Tin Af'= JI wh") (3.24) Fazendo (ord => Aft= LR (3.25) quadro a seguir apresenta os valores do termo R na expressao anterior, em funcao do numero de derivacées Quadro 3.4 - Fator de reducao R da expressdo (3.25) (Continua) Numero de Hazen-Williams Scobey Universal derivacdes V n= 185 1 1,00 1,00 = 0,64 0,63 0,63 4 0,49 048 047 6 0,44 0,43 0,42 8 0,42 0,41 0,40 10 0,40 0,40 0,39 n ee rT rundementes de Engentars auc: (Conclusao) Numero de Hazen-Williams Scobey Universal derivagoes NV 85 9 n=2,0 20 0,38 0,37, 0,36 30 0,37 0,36 0,35 40 0,36 0,36 0,35 50-99 0,36 0,36 0,34 >100 0,35, 0,35 0,34 Fonte ~Adoptado de Gomes, 1994 3.1.3 Perda de carga localizada Adicionalmente as perdas de carga continuas que ocorrem ao longo das tubulagoes, tem-se perturbacées localizadas, denominadas perdas de carga localizadas, causadas por singularidades do tipo curva, jun¢éo, valvula, medidor etc. que também provocam dissipacio de energia. Algumas vezes, como acontece nas instalagdes hidraulicas pre- diais, a perda de carga localizada é mais importante do que a perda de carga continua, devido ao grande ntimero de conexdes e aparelhos, relativamente a0 comprimento de tubulado. Entretanto, no caso de tubulacdes muito longas, com varios qullémetros de extensdo, como nas adutoras, a perda de carga localizada pode ser desprezada Experigncias mostram que a perda de carga localizada Ah” para uma determinada peca pode ser calculada pela expresso geral Ah"= KU*/2g (3.26) Sendo Ua velocidace media de uma seco tomada como referéncia e K um coeficiente que depende da geometria da singularidade e do numero de Reynolds. Os valores de K normalmente sao obtidos experimentalmente, mostrando-se praticamente constantes (citado por Miller, 1984) para uma mesma peca e nimero de Reynolds acima de 500000. Borda (1733-1799) determinou teoricamente 0 coeficiente K para 0 caso de um alargamento brusco de tubulacdo, conforme mostrado na Figura 3.4. Figura 3.4 - Alargamento brusco de tubulacso Para tanto, Borda utilizou as equacdes de Bernoulli, quantidade de movimento e continuidade, aplicadas ao volume de controle compreendido ente as secdes 1 e 2, valendo-se também da observacdo experimental de que a pressdo imediatamente a montante e a jusante da secao 1 sdo iguais. Assim demonstra-se que: B Soames em condts forados simples | Capo 3 AU BU ay y 29 y 29 Equacao da quantidade de movimento: P,A,+ P,(A,- A, PA,=pQUU,-U,) Equacao de Bernoulli: Equacao da continuidade: Q=A,U,= A,U, cate By Ve ele ee ir (3.27) 29+ 29° «A, Fazendo Ay rege es a4 (3.28) Tem-se: 2 = ahaan Se oe A expressao (3.29) mostra que a perda de carga localizada no alargamento brusco de uma tubulacao é proporcional a U2/2g, tal como proposto na expressao geral (3.26), para perda de carga localizada. Vé-se ainda pela expressdo (3.27) que quando a drea da secao transversal Aé muito menor que a area A, (A,<} Corpo >| Flutuador | Figura 3.6 - Ventosa 7 Fundarentos de Engenharia Widen Cuidados especiais também devem ser dados nos pontos baixos das tubulag6es, onde devem ser instaladas descargas, com registtos para seu controle, destinadas ao esva- ziamento da tubulagéo na época de manutencéo. Os diémetros dessas descargas ficam condicionados ao tempo requerido para esvaziamento do trecho da linha. Entretanto, utiliza-se como regra pratica diémetro superior a 1/6 do diametro da tubulacao (d,> D/6). Por uma questao de seguranca, nos projetos de adutoras normalmente adota-se um tragado de tubulacao totalmente abaixo da linha piezométrica, ou coincidente com esta. Neste ultimo caso, 0 conduto tern escoamento livre e 6 denominado de conduto livre ou canal (tracado 2). © dimensionamento deste sera visto no Capitulo 7 deste livro. Quando 0 conduto corta a linha piezométrica (tracado 3), 0 trecho da tubulacso, situado acima da linha piezométrica, fica sujeito a press6es inferiores a atmosférica, 0 que pode ocasionar a contaminacéo da gua, caso haja um rompimento neste local Nesta situacdo, a melhor solucdo é a construcao de uma caixa de transicao no ponto mais alto da tubulacéo, de maneira a alterar a posicao da linha piezométrica, ficando a tubulacao totalmente abaixo desta e, portanto, sujeita a press6es positivas somente, como no tracado 1 No tracado 4, 0 conduto, além de cortar a linha piezométrica, corta também o plano de carga estatico. Neste caso, a 4gua nao atinge naturalmente o trecho situado acima do nivel de Agua no reservatério R1 e 0 escoamento s6 € posstvel apds 0 enchimento da tubulagdo. Este é 0 caso de funcionamento de siféo, estrutura hidrdulica a ser estudada em capitulo posterior. No tracado 5, 0 condluto corta a linha piezomnétrica absoluta, sendo, portanto, impossivel © escoamento por gravidade. Nesta situacdo, 0 fluxo s6 é possivel se no inicio da tubulagéo for instalada uma bomba para impulsionar o liquide até o ponto mais alto da tubulagao. Tubulacso com ventosa dupla 88 scoamento em conduts forgadce sits Capitulo 3 Exemplo 3.4 Dois reservat6rios deverao ser interligados por uma tubulacao de ferro fundido (C=130), com um ponto alto em C. Desprezando as perdas de carga localizadas, pede-se determinar: a) O menor diémetro comercial para a tubulagéo BD capaz de conduzir vazé0 de 70 l/s, sob a condicao de carga de pressao na tubulacao superior ‘ou igual a 2,0 m. b) A perda de carga adicional dada por uma valvula de controle de va- 240, a ser instalada préximo ao ponto D, para regular a vazdo em 70,0 V/s, exatamente. 80.0 Lt = 2500m Solugao A situago, que conduz 20 menor didmetro, é aquela em que toda a energia disponivel ¢ utilizada para vencer as resisténcias, ou seja, fazer o desnivel entre os reservatérios igual & perda de carga continua: Ah =20,0 m: J = AhiL = 20,0/4000 = 0,005 mim. Assim, a perda de carga no trecho BC é: Ah,= 1,005 x 2500 = 12,5m Aplicando a equacéo de Bernoulli entre A e C (desprezando o termo U_7/26), para verificar a menor pressdo, obtém-se: aie pat 2,22, +Py +ah, (3.30) 80,0=70,0+PH+125 > Phy=-2,5m Como 0 valor calculado para a carga de presséo em C ¢ inferior ao estabe- lecido no problema, a solucao para isso ¢ elevar a linha piezométrica, dando uma inclinacao menor nesta linha entre A e Ce a partir daf uma inclinagao a tundementos de Engenharia Hides maior, até chegar no ponto E. Este objetivo é alcancado, reduzindo a perda de carga, através da mudanca do diametro, como demonstrado a seguir: ‘Anova perda de carga Ah, entre A e C, calculada pela equacéo (3.30), deve proporcionar 0 valor P-/y = 2,0 m. 80,0 = 70,0 + 2,0 +Ah, = Ah=8,0m Utilizando a equacao (3.12), tem-se: 10,64 0,070'% = 730 par 700 = D,=0,303m D,(adotado) = 350 mm = Phy=6,0m A determinacao do diametro do trecho CD é realizado através da aplicagao ( da equacao de Bernoulli entre A e E. Portanto: 80,0 = 60,0 + Ah, ,Ah, A perda de carga Ah, deve ser recalculada, j4 que o diametro adotado (D, = 0,35m) é diferente do calculado {D, = 0,30 m). 2500 = 3,96m = Ah, = 16.04m 10,64 0,070 B00, 16,04 = 1500 > D,=0,24m 0 diametro comercial mais proximo do calculado é D, = 0,25 m. b) J& que o diametro indicado (D, = 0,25 m) é superior ao calculado (0,=0,24m), a perda de carga continua ¢ inferior a 16,04 m e portanto a capacidade da tubulacéo & superior a 70,0 Vs. Para controlar essa vazéo deve ser instalada no ponto D uma valvula parcialmente fechada para provocar uma perda de carga complementar, como apresentada na figura e calculada a seguir: 90 Escoamento em conduits foradce simples Capitulo 3 L1= 250m D1 350mm Ahy=Ahy +h" em que Ah, = perda de carga ao longo do trecho 2, AW’ = perda de carga locelizada na valvula parcialmente fechada 10,64 0,070'% . gh te = Ah =3; a0 9.3577 15004 Ah 3.80 3.5 Separacao da coluna liquida e cavitagao A separacao da coluna liquida € a obstrucéio do escoamento causado por bolhas. Essas bolhas séo formadas pelos gases dissolvidos na gua, que se desprendem do liquido quando a pressao é reduzida a pressao de vapor. As bolhas tendem a aumentar de tamanho com a liberacéo dos gases, tornando a vazo intermitente, podendo, até mesmo, interrompé-la, se a bolha ocupar toda a secao do tubo. A Figura 3.7 mostra um tubo ascendente de mesmo didmetro onde é possivel ocorrer a separacéo da coluna liquida. Com a ajuda da equacao de Bernoulli é possivel calcular a pressio na secdo 2 e comparé-la com a presséo de vapor e assim prever se havera ou n&o a separacdo da coluna. 1 i e. . Fursamantos de Engentats Hide RU Bu Zetec lt p47 tan Considerando que para uma dada vazdo a velocidade é a mesma (U,=U,) ao longo deste tubo, tem-se: | P= R-(Z,~Z))—Ah 631) YY Aequacao (3.31) permite concluir que a pressdo na secdo 2 é inferior a pressao em 1, 8 que (Z,>Z,) € (Ah>0). Se a pressao (P,) € igual ou inferior a pressao de vapor, deve haver separacao da coluna liquida. {A Figura 3.8 mostra um tubo Venturi com uma regido de baixa pressao (Seca0 2 onde as bolhas sao formadas como no mecanismo de separacao da coluna liquida e | carreadas pelo escoamento para uma regido de alta pressao (secéo 3). Neste local as | bolhas podem implodir pela acdo da pressao externa. O colapso das bolhas produz choque entre particulas fluidas que provoca flutuacao na pressao e danifica a parede do conduto, reduzindo, assim, a capacidade de escoamento. ar yah Regiao de ‘baixa pressio Regiso de alta presséo Figura 3.8 - Fenémeno da cavitacao num tubo Venturi Este fendmeno é conhecido por cavitacao, pois no processo ha formacao de cavas ou \ bolhas no liquido. A cavitagao pode também acorrer em regides sujeitas a redemoinhos € | ‘turbuléncias que geram alta velocidade de rotacio e, consequentemente, provocam a queda i de pressao, como nos vertedores de barragens. As valvulas estao tambérn muito sujertas : a este tipo de problema, pois normalmente sao usadas para provocar queda de presso | Outros exemplos de pecas e aparelhos sujeitos a cavitacBo sao 0s orificios, redugées bruscas, | ‘curvas e bombas. O Capitulo 6 tratard do problema especifico de cavitacao nas bombas i Os efeitos da cavitacéio podem ser percebidos através do barulho provocado pelas 1 implosées das bolhas. Dependendo do aparelho considerado e particularmente do seu tamanho, pode parecer desde um leve som estalado, ou um barulho superior a 100db, como acontece em vaivulas de pequeno e grande porte, respectivamente, Outro efeito perceptivel & a vibracio causada pelas implosoes das cavidades e pelo choque das ondas geradas, Ainda devido a este fendmeno, podem ocorrer problemas nos acoplamentos e nas ancoragens, além de fadiga e falha estrutural. 2 ‘scoamento em conduts erates snp Capitulo 3 Uma das maneiras de se combater a cavitacao consiste em dividir a queda de pressao em estgios. Nos casos das valvulas e placas de orificios estas podem ser colocadas em série. Quando a cavitagao ¢ inevitavel, deve-se especificar um material para o aparelho mais resistente a erosdo provocada pela cavitacdo. Outra maneira de se combater a cavitacéo ¢ injetando ar dentro da regiao das bolhas para reduzir 0 médulo de elastici- dade volumétrico do liquido e amortecer 0 colapso da cavidade Exemplo 3.5 Verificar na adutora que interliga o reservatério R, 20 R,, cujo perfil é mostrado na figura a seguir, se existe a possibilidade de separacdo da coluna Iiquida, quando esta transporte 280 V/s, conhecendo-se as seguintes caracteristicas da adutora: Comprimentos: L,- = 2000 m, Ley = 200 m, bye = 200 m, by, = 2500 m; diametro: 600 mm; coeficiente de perda de carga da formula Universal: 0,015. Solugéo A separacao da coluna liquida ocorre quando a presséo reinante no interior da tubulacao ¢ igual ou inferior & pressdo de vapor da Sgua. Por esta razao, sera verificada a pressdo em D, pois, neste ponto, a adutora esta sujeita 8 menor pressao. As equacées da continuidade e de Bernoulli permite calcular 0 valor da pressao em D, como demonstrado a seguir: y=Qn 40 4028 _ 4 09m) A nD? 7-06 Py U2 BU Zp th nz, +B Dean Oy ag Py Bg? 2 £y 02,40, , FU y 29 D2g B Nw] Fundomentos de Engenhatia Hides P, 0,99 0,015 0=3,0+2+— 1+———= 2200) oe og O60 580m 7 Nota-se que o valor da energia cinética é insignificante (U*/2g=0,05m) e poderia ter sido desprezada, sem afetar a anélise do problema. Considerando a temperatura da 4gua no interior do conduto em 20° C, pode-se obter, por meio dos Quadros 2.3 e 2.4, as seguintes caracteristicas da quai -y = 998kgt m? ats pet, = 2335Pa Considerando, ainda, as condicées do nivel do mar para a pressao atmosférica, tem-se: Pe =101000Pa Finalmente, a pressdo absoluta em D pode ser obtida: P, = -5,80- 998 = -5788kgf | m? Pet = P, + PR = -56784+101000= 44216Pa am 56784Pa Como a presséo em D (P3** = 44276Pa) 6 superior & presséo de vapor (P25, = 2335Pa), conclui-se que nao deve haver separacao da coluna liguida. 3.6 Introducao aos transientes hidraulicos O termo transiente refere-se a alguma situacao em que o escoamento varia com © tempo, devendo ser analisado segundo a taxa de mudanca de velocidade. Se esta mudanca é lenta, a compressibilidade nao afeta significativamente 0 escoamento e 0 movimento do fluido pode ser considerado como um corpo sdlido, neste caso seu estudo € conhecido como oscilacéo de massa. Um simples exemplo é 0 estabelecimento do escoamento apés a abertura de uma valvula em um tubo em “U". coamento wm condo forados simples | Capitulo 3 Entretanto, quando ocorre urna mudanga répida na velocidade de escoamento, uma onda de pressao € criada e percorre a tubulacéo a velocidade do som. O choque violento das ondas de presséo sobre as paredes do conduto com o som deste, semelhante ao vaivérn de um arlete, fez com que o transiente hidraulico em condutos forgados, con- duzindo agua, fosse também conhecido por golpe de arfete. A magnitude do golpe de ariete depende, principalmente, do tempo em que € realizada a alteracao da velocidade, da compressibilidade do Iiquido e da elasticidade do tubo. Para se ter uma ideia da escala do problema, suponha o caso do fechamento instan- taneo de uma valvula que controla 0 escoamento em um tubo de aco, cuja velocidade da onda de pressao é, aproximadamente, 1300 m/s; neste caso, uma variacdo na velocidade de 1 m/s causa uma sobrecarga de pressio da ordem de 130 m. Existe uma série de situacdes, em instalacoes hidraulicas, sujeitas a este fendmeno, como por exemplo: * fechamento ou abertura de valvulas; ° partida ou parada de bombas; * operacéo de valvulas (retencéo, redutoras de pressao e de alivio); * ruptura de tubulacéo; * admisséo ou expulsao de ar; * mudanca na demanda de poténcia de turbinas hidrdulicas ‘As solucées possiveis dentro da Engenharia para esse problema incluem o aumento do tempo de abertura e/ou fechamento das valvulas de controle, aumento da espessura da tubulacdo, reducao da velocidade de escoamento, maior controle na operacao das tubulacées, reducao da velocidade da onda pela mudanca do tipo de tubo ou pela in- jecao de ar, uso de dispositivos de protecdo contra o golpe de ariete (valvulas de alivio, ‘tanques de amortecimento, camaras de ar etc.). O estudo dos escoamentos transitorios é bem mais complexo que o do escoamento permanente, uma vez que 0 envolvimento da variével “tempo” requer a utilizacdo de equacées diferenciais, cuja solucdo s6 pode ser realizada através de métodos numéricos ‘ou graficos. E inten¢o, neste capitulo, apenas apresentar a problematica dos escoamen- tos transitérios, uma vez que a sua andlise completa é muito extensa, necessitando um estudo avancado, merecedor de alguns capitulos para traté-lo adequadamente. 5 Ie etn Fundements de Engenharia ren Problemas 3.1 Uma tubulacéo de 400 mm de diametro e 2000 m de comprimento parte de um reservatorio de agua cujoN.A. esté na cota 90. A velocidacle média no tubo € de 1,0 mis; a carga de pressao ¢ a cota no final da tubulacéo sao 30 m e 50 m, respectivamente a) Calcular a perda de carga provocada pelo escoamento nessa tubulacao; b). Determinar a altura da linha piezométrica a 800 m da extremidade da tubulacéo. 3.2 Uma tubulacao de PVC, de 1100 m de comprimento e 100 mm de diametro interliga os reservatorios R, € R,. Os niveis de agua dos reservatérios R, € R, est4o nas cotas 620,0 e 600,0, respectivamente. Considerando desprezivel as perdas de carga localizadas e a temperatura da agua 20° C, calcular a vaz8o escoada. Obs.: Resolver o problema através da férmula universal para perda de carga. 3.3 Uma tubulacéo horizontal com 200 mm de didmetro, 100 m de extensdo, est ligada de um lado ao reservatério R com 15,0 m de lamina d’agua, e do outro a | um bocal de 50 mm de diametro na extremidade, conforme mostrado na figura a seguir, Este bocal foi testado em laboratério e apresentou um coeficiente de perda de carga de 0,10, quando referenciado a se¢ao de maior velocidade. Calcular as velocidades na tubulacao e na saida do bocal. os fea * eo ise tom ‘ 002 ‘Bees | } oboe ! 3.4 Determinar a altura “h” no reservatério, para que este abasteca simultanea- mente aos trés chuveiros mostrados na figura a seguir utilizando tubos de PVC nas seguintes condicées: = vazao de cada chuveiro: 0,20 Vs | = dimetro dos trechos 6-5 ¢ 5-4: 21,6 mm = diametro dos trechos 5-3, 4-2 e 4-1: 17 mm = pressdo dinamica minima no chuveiro: 0,2 kgf/cn*; | = Registrodegaveta — | ® Registode globo LC Cotovelo de 90° 0 om 20 20m foo Eafe BO ee af 4 Obs. utilizar a equacao de Fair-Whipple-Hsiao para célculo de perda de carga; - considerar 0 coeficiente de perda de carga do registro de presséo igual ao do registro de globo. 96 scoamento am condos forgads spies | Castilo 3 3.5 Uma linha lateral de um sistema de irrigacéo possui 10 aspersores, separados de 121m um do outro, sendo o primeiro localizado a 12 m da linha principal. Os aspersores deverdo trabalhar, cada um, com uma vazao de 1,22 m’/h e press6es compreendidas entre os valores de 2,0 kgf/cm? e 2,4 kgf/cm?. Sabendo-se que a linha lateral é em PVC e tem declividade ascendente de 1%, determinar o didmetro desta tubulacao. 3.6 O reservatério R, alimenta dois pontos distintos B e C. Determinar a vazao do trecho AB, sendo o coeficiente de perda de carga da for- mula de Universal igual 2 0,016 e a vazéo na derivacao B igual a 50 is. Obs.: Desprezar as perdas de carga localizadas. 910,00 a 02 = 200 mm, Prossao q=50Us ‘Atmosférica 3.7 Para um conduto de ferro fundido novo (C=120) de comprimento igual a 1000 m, diametro de 250 mm, com distribuicao uniforme ao longo do percurso, pede-se calcular a perda de carga continua a) Caso a vazao afluente seja 50 V/s e a efluente nula; b) Caso a vazao afluente seja 50 V/s e a efluente 10 IVs. (C7 3.8 A tubulacdo AD, de 300 mm de diametro e coeficiente de perda de carga da formula de Hazen-Williams igual a 110, é destinada a conduzir 4gua do reservatério R, para o reservatorio R,, bem como atender aos moradores localizados ao longo do trecho BC que consomem 0,05 I/s.m. Sabendo-se que no ponto B a cota do terreno € 108,0 ea pressdo 1,3 kgf/cm’, pede-se calcular a vazdo nos trechos ABe CDe a cota piezométrica em D, considerando as perdas de carga localizadas despreziveis. 12-600 5 D L3=700m {EP 3.9 Uma linha de PVC, destinada a distribuicao em marcha de agua ao longo do percurso de 1500 m de extensao, possui 200 mm de diametro e esta ligada aos reser vatorios R, e R,, Cujos niveis de agua estao nas cotas 90,0 e 86,0, respectivamente ponto mais baixo dessa linha esta na cota 70,0. a) Determinar a vazao de distribuicéo em marcha quando o reservatorio R, nao recebe e nem cede agua. 7 er undementor de Engenharia Warsuics b) Quando © consumo no percurso é de 80 V/s, pede-se determinar o valor e a posicao da cota piezométrica minima. 3.10 Uma tubulacao de comprimento L e didmetro D é alimentada nas suas extre- midades por dois reservatérios R, e R, de N.A. situados nas cotas Z, @ Z,, respec tivamente. Ha uma derivacao no ponto C, distante L, de R, ¢ L, de R,. Calcular a vaz3o maxima que pode sair no ponto, de tal maneira que a presséo na tubulacao seja igual ou superior a zero. NAB aq Poe L.P.(q#0) 3.11 A tubulacéo ABC, em PVC, de 200 mm de didmetro e 1600 m de extensao, 6 alimentada por um reservatério que tem o nivel de égua na cota 80,0. No meio da tubulacdo esté localizado 0 ponto mais alto, ponto B, de cota 75,0 onde esta instalado um piezometro. A extremidade C descarrega livremente na atmosfera na cota 40, onde existe um controlador de vazo. Determinar a vazdo escoada, € a seco de abertura do controlador de vazo, quando a pressao em B é nula. 3.12 Uma tubulacéo, composta por dois trechos, interliga dois reservatérios, cuja diferenca de nivel & 2,8 m. O primeiro trecho, que liga 0 reservatério R, ao ponto “A tem 258 m de comprimento € 200 mm de diémetro. O outro trecho tem 150 m de extenséo e 150 mm de diametro e faz a ligacdo do ponto “A" ao reservatorio R, de cota mais baixa. Amos os trechos sao formados por tubos de ferro fundido usado (C=100). Uma derivagao devera ser instalada no ponto “A”, situado 2,0 m abaixo da cota do nivel de Agua do reservatorio R,, Determinar a vazao escoada nesta derivacao para que a pressdo no ponto A seja igual 8 pressao atmosférica 98 Capitulo 4 Escoamento em sistemas de condutos forcados Este capitulo trata de problemas hidraulicos em sistemas de condutos forcados, com escoamentos em regime permanente. S40 analisados, ini- cialmente, os casos em que a vazao é constante ao longo das tubulacdes, englobando os casos de condutos em série, em paralelo e dos condutos interligando varios reservat6rios. Finalmente, so estudados alguns casos de variaco continua de vazo ao longo dos condutos, enfatizando 0 caso das redes de distribuicao de agua 4.1 Condutos equivalentes _ Um conduto € equivalente a outro(s) quando transporta a mesma vazéo sob a mesma perda de carga. Este conceito € utilizado para simplificar os calculos hidrdulicos de tubulacées interligadas, cujas caracteristicas dos condutos sao diferentes, quer pelo coeficiente de perda de carga B, quer pelo seu didmetro D, tal como sao os condutos em série e em paralelo, que, devido a esse conceito, podem ser transformados, para efeito de calculo, em condutos simples, cuja maneira de calcular ja é conhecida: 4.1.1 Condutos em série Quando uma tubulacdo é formada por trechos de caracteristicas distintas, colocados na mesma linha ¢ ligados pelas extremidades, de tal maneira a conduzir a mesma vazao, 6 considerada constituida por condutos em série. A Figura 4.1 ilustra 0 caso de uma Fundementos de Engenharia Hroulca tubulacdo formada pelos trechos 1, 2 e 3 colocados em série e a substituigao destes, para efeito de calculo, por outro equivalente. pee Linha piezométrica a Ane Ane a Ds Paty eat “Trecho 3 Dole a f =a ‘Conduto equivalents Figure 4.1 - Condutos em série Sejam Ah, Ah, e Ah, as perdas de carga nos trechos 1, 2 ¢ 3, assim: oe ah = Boel @.) o Boor (4.2) | Ah, = Bore 43) Para a substituicdo desses trés condutos por outro equivalente, com diametro D,, coeficiente de perda de carga Be comprimento L, é necessdrio que a perda de carga no conduto equivalente Ah, seja Ah, = Ah, + Ah, + Ah, (4.4) | Sendo (4.5) (4.6) Como sao trés as variavels envolvidas (B, , D,eL,) em (4.6), normalmente, adotam- ) -se valores convenientes de B, e D, ¢ calcula-se L, de tal forma a atender a expressdo. 100 scoamento em sstemas de conduits frgads | Capt 4 4.1.2 Condutos em paralelo Os condutos em paralelo sao aqueles cujas extremidades de montante esto reunidas num mesmo ponto, © mesmo acontecendo com as extremidades de jusante em outro Ponto, conforme mostra a Figura 4.2. Assim, a vazo ¢ dividida entre as tubulacées em paralelo e depois reunida novamente a jusante. Condutos em: paralel Q Conduto equivalente Figura 4.2 - Condutos em paralelo Entretanto, nota-se na Figura 4.2 que os condutos em paralelo estao sujeitos 4 mesma perda de carga, uma vez que as diferencas entre as cotas piezométricas de montante (ponto A) e jusante (ponto B) dos trés condutos em paralelo sao as mesmas. Portanto, para substituir esses condutos por outro equivalente é necessario que: Ah, = Ah, = Ah, = Ah, (4.7) Q.=Q+0,+2 (4.8) Sendo Ah, € Q,a perda de carga e a vazdo no conduto equivalente e Ah, Ah, , Ah, e Q,, Q, ry as perdas de carga e as vazes nos condutos em paralelo 1, 2 e 3 respectivamente. As equacées de perda de carga (An = B xy obtidas em cada conduto, permitem explicitar 0s valores das vazoes o-( ny" que levados na equacao (4.8) resulta: sin (a) Bob. +( oy y (4) Bal Bry 101 IE Fundomentos de Engenhari dela Embora ndo tenhamos mencionado nas demonstragbes anteriores, as perdas de carga localizadas podem ser consideradas tanto nas tubulacbes em série quanto em paralelo, desde que os comprimentos apresentados (L,, LL.) representem a soma dos comprimentos dos tubos mais os comprimentos equivalentes das pecas, conexoes etc Exemplo 4.1 Uma adutora interliga dois reservatorios cuja diferenca de nivel é 15,0 m. Esta adutora é composta por dois trechos ligados em série, sendo o primeiro de 1000 m de extensao e diametro 400 mm eo outro 800 m de comprimento @ 300 mm de didmetro, ambos os trechos com o coeficiente de perda de carga da formula Universal igual a 0,020. Desconsiderando as perdas de carga localizadas, pede-se: a) determinar a vazéo escoada; b) calcular a nova vazao se for instalada, paralelamente ao trecho 2, uma tubulacdo com 900 m de comprimento, 250 mm de diametro e com 0 mesmo coeficiente de perda de carga (f = 0,020) PCE Solugdio a) A aplicacao da equacao de Bernoulli, entre as superficies dos reservato- fios, permite concluir que a perda de carga total corresponde ao desnivel de 15,0 m, que, por sua vez, é a soma das perdas de carga nos trechos 1 © 2, id que esses estdo em série Ah = Ah, + 4h, em que 102 Escoamento em stems de conde forador | Captlo 4 ( 1000 , 800 » 15,0 = 0,00165Q7(. eee 040° 0,30" © Q=0,146 mils b) Estando 0 novo trecho (trecho 3) paralelo ao trecho 2, pode-se aplicar a equacéo (4.9) para determinar um trecho equivalente a estes, assim: (ory (or "4 op Y” Bebe (Bale (Bob J (08)? (0306? (0.258)" (BL) ~(p.800) *(B.900 Adotando-se, por facilidade de calculo D,= 0,40 me B, = B, tem-se: o40?)"* _(0,30°)"? (0,257)? 1,=1321m BL, p.800) *\p.900 Este artificio de célculo conduz & simplificacao mostrada na figura a seguir: ae * Ie, 15,0m 2; 7 yn £132 2. © S00 Z,>Z,, assim pode-se concluir que os sentidos de escoamento nos irechos 1 e 3 so de B para E e de E para G, respectivamente. J4 no trecho 2, 0 sentido de escoamento tanto pode ser de E para D como de D para E, dependendo somente da cota piezométrica em E, como demonstrado a seguir: seZ,,PyZ, 0 reservatorio R, alimenta os outros dois reservatérios :0,=Q, +0, seZ,+PJy=Z, 0 reservatério R, nao recebe e nem cede agua Q, e Q=0 A forma mais simples de se determinar 0 sentido de fluxo no trecho DE é fazendo a hipotese de que Z, ,P/y ¢ igual a Z,, ou seja, Q,= 0 e calculando Q, e Q, através de uma equacéo de perda de carga: - tm ot Mo [F2-2)] a-[2v2,-2)] Q Se os valores encontrados para Q, e Q, forem iguais, a hipotese esta correta e 0 problema esta resolvido. Do contrario, se Q, > Q, & porque Q, = Q, + Q, € 0 sentido de fluxo € de E para D. A solugéo do problema esta condicionada a determinaco das variaveis Q,, Q,, Q,eP,/ do sistema de equacées a seguir: B,Qre Trecho BE: Z,-(Z, +P, /y)= Et (4.10) Trecho DE: (Z,+P-/y)~Z bee (4.11) Trecho EG: (Z, +P /y)-Z; (4.12) Q,= 0,40, (4.13) Se Q, Mige =10M 8-0,020 Q, 17.981 .0,50° COMO Quy < Qpc existe uma vazao adicional contribuindo para o trecho DC que é proveniente de BD, levando a concluir que neste trecho, o escoamento se faz de B para D. Conhecidos os sentidos de escoamento nas tubulacées, um sistema de equacées formado pelas equacdes de perda de carga em cada trecho, juntamente com a da continuidade no né D, permite encontrar a solucao do problema, como apresentado a seguir: 900 = 47,59Q5¢? = Qoe = 0,46m? /s 100,00 - Piez. D = 72,62 Quy? 90,00 - Pez. D = 72,62 Qu? Piez, D - 80,00 = 47,59 Qn2 Quo + Qos = oe A solucdo desse sistema de 4 equacées e 4 incdgnitas é a seguinte Piez. D = 89,63 m, Q,, = 0,38 m/s, Qyy= 0,07 mis € Qu. = 0,45 mis. A outra maneira de se resolver este problema é pelo método iterativo de Cornish, cuja piezométrica do entroncamento é estimada inicialmente e corrigida sucessivamente. Assim, partindo da piezométrica igual a 95,00 para 0 né D, tem-se: PiezD Ah, AR, AR, «= yy, Qe Qe az m m m m m/s m/s mis om 95,00 5,00 5,00 15,00 0,26 0,26 -0,56 7,92 87,08 12,92 2,92 -7,08 0,42 0,20 -0,39 2,95 90,03 9,97 0,03 10,03 0,37 0,02 0,46 ee 89,74 10,26 0,26 -9,74 0,38 0,06 -0,45 -0,06 89,68, 10,32 0,32 -9,68 0,38 0,07 0,45 0,00 109 Fandamantos de Engenhas Mra Calculo dos valores de AZ Pela equacao (4.26) tem-se: 0,42+0,20-0,39 1292 2,92” 7,08 0,38+0,06-0,45 002, 06-929 M42 G55 G06 G45 = 08 0,03 10,03 10,26 0,26 9,74 Pelo método de Cornish obtém-se resultado bem préximo ao anterior, ou seja Piez. D = 89,68 m, Q,,= 0,38 Ms, Qpg= 0,07 mis € Que = 0,45 mis Exemplo 4.3 ~ Determinar as vazbes do sisterna mostrado na figura, desprezando as perdas de carga localzadas Trecho Um) _Dimm) _< ©) 8 4000 500 12 ce 4000 300100 so 1000 a0 20 S © 000 200 100 DF 4000300100 3 Ti cecaere de per de age Se termols de acer Wione Soluggo Para a solucdo deste problema é necessario fazer uma estimativa para as piezométricas nos nds B e D e por aproximacées sucessivas corrigi-las pelo método de Cornish. As piezométricas estimadas, inicialmente, foram 85,00 ¢ 75,00, respectivamente para os nés B e D e em seguida so corrigidas alternadamente. Vale lembrar que a perda de carga e a vazdo tm o mesmo sinal, que por convencao é positive para as vazdes que entram no né e negativo para as vazes que saem. 110 scoamento en sistenas de condutns orcades | Capt & ‘Trecho AB Trecho BC Trecho BD PiexB 4h = QS Q/Ah th SQ Qh he QS QHZ m mms msm om ms msm om mls m/s om 85,00 5,00 0,146 0,03 5,00 0032 001 10,00 0249 002 414 80,86 9,14 0,202 0,02 0,86 0,012 0,01 0,57 0,053 0,09 1,95 82,81 7,19 0,177 0,02 -2,81 0,023 0,01 1,62 0,093 0,06 = 1,24 84,06 5,94 0,160 0,03 -4,06 0028 001 -1,73 -0,097 0,06 0,72 84,78 5,22 0,149 0,03 -4,78 0,031 0,01 -1,87 0,101 0,05 0,36 85,14 486 0,143 0,085.14 0,032 0,01 +193 0,102 0,05 0,18 85,33 467 0,140 0,03 5,33 0,033 0,01 -1,96 0.05 0,09 85,42 4,58 0,139 0,03 420,033 0,01 -1,97 -0,103 0,05 0,05 85,47 4,53 0,138 “5,47 0,033 0,01 -1,97 -0,104 0,05 0,03 85,50 4,50 0,138 “5,50 0,033 0,01 -1,98 0,104 0,05 0,01 8551 4,49 0,137 551-0033 0,01 -1,98_-0,104 0.05 0,01 ‘Trecho BD Trecho DE Trecho DF. PiezB h* = =Q Q/sh th QS Q/AH Ah Qs QHZ m mm/s m/s om miss om m/s_mi/ssm om 75,00 5,86 0,19 0,03 5,00 -0023 0,00 -10,00 -0046 000 529 80,29 252 0,12 0,05 10,29 -0,034 0,00 -15,29 -0,058 0,00 0,90 81,19 013° 0,04 11,19 -0,036 0,00 -16,19 -0,080 000 1,13 82,33 012 005 -12,33 000 -17,33. 0,062 000 0,58 82,91 0,11 0,05 -12,91 0,038 0,00 -17,91 -0,063 0,00 0,30 83.21 01 005-1321 0.00 -18,21 -0064 0,00 0,16 83,37 2,05 0,11 0,05 -13,37 -0,039 0,00 -18,37 -0,064 0,00 0,08 83,45 2,02 0,10 005-1345 -0,039 0,00 -1845 0,064 0,00 0,04 83,50 2,00 0,10 0,05 -13,50 0,00 -18,50 -0,064 0,00 0,02 83,52 1,99 0,10 0,05 -13,52 -0,039 0,00 -18,52 -0,064 0,00 0,01 8353 1,98 0,10 0,05 _—-13,53_-0,039 000-1853 -0,064 0,00 0,01 “O calcula da perda de carga neste trecho ¢ felto com base na diferenca de plezométicas dos nds @ e D, que no caso da primeira iteracBo ¢ igual a: 80,86 - 75,00 = 5,86 m. 1 andamantos do Enger Mra __4.3 Rede de distribuicao de agua ‘As redes de distribuicao de agua se caracterizam pela distribuicao da agua ao longo dos condutos, como nos sistemas de abastecimento de agua e de irrigagao. Para efeito de calculo, as redes de distribuicao sao classificadas, conforme a disposico dos condutos, em ramificadas e malhadas A rede ramificada mostrada na Figura 4.5 é tipica de sistemas de abastecimento de Agua pequenos e caracteriza-se pela ligaco de varios tubos com um principal. Um dos inconvenientes deste tracado é a dependéncia dos outros condutos em relacdo a0 principal, pois qualquer interrupcao acidental neste paralisa todo o abastecimento de gua a jusante do local onde ocorreu o acidente. Além disso, nas extremidades das redes, como nao ha escoamento, a tendéncia ao depésito de sedimentos é muito grande. Nas redes malhadas, do tipo apresentado no esquema da Figura 4.6, estes inconvenientes so reduzidos, pois um acidente na rede nao causa prejuizos relevantes na rea afetada, ja que a gua pode encontrar outros caminhos e a sua circulacao no sistema ocorre sempre que houver consumo de agua na rede. CONDUTO PRINCIPAL Figura 4.5 - Esquemia em planta de uma rede ramificada Figura 4.6 - Esquema em planta de uma rede malhada 112 scoamanto em sstemas de condos fords Coto 4 4,3.1 Calculo das redes ramificadas Para o calculo das redes ramificadas admite-se que as vazGes sejam uniformemente distribuidas ao longo das canalizag6es, também denominadas vazao de distribuicéo em marcha, assim tem-se: Gp = QML em que 4, = vaz80 de distribuicao em marcha L comprimento total da rede em metros Q =vazao total que abastece a rede A fim de organizar a sequéncia dos cdlculos das redes ramificadas € comum © emprego de planilhas do tipo apresentado a seguir. Trecho Vazaio Cota Cotado —Pressao Piezométrica_Terreno_Disponivel LA2OoeQqoUmwm 3 Mos M 3 M 10203 4 5 67 8 9 0 MN 2 13 +14 15 Onde as colunas numeradas de 1 a 15 correspondern: 1- Numeragao do trecho, que se faz de jusante para montante; 2- Comprimento do trecho L, medido na planta, em m; 3- Vazdo de jusante Q,, em Us; 4- Vazio distribuida no trecho: Q, = qm . Lem Vs; 5- Vazdo de montante Q,,, em Vs; 6- Vazdo ficticia: Q, = (Qy+Q,V/2, em Vs; 7- Diametro escolhido com base no critério de velocidacle maxima no trecho (ver Quadro 3.13), em mm; 8- Velocidade média de escoamento calculada pela equacao U = 4Q/nD* onde Q a vazao de montante em m’/s e D o diametro escolhido em m; 9- Perda de carga total Ah, em m, considerando os valores (de L em m, Q, em més e D em m) do trecho; 10- Cota piezométrica de jusante, em m; 11- Cota piezométrica de montante [11] = [10] + [ 9], em m; 12- Cota do terreno de jusante, obtida na planta topogratica, em m; 13+ Cota do terreno de montante, em m; 14- Pressao dispontvel de jusante [14] = [10}{12], em mea; 15. Pressao dispontvel de montante [15] = [11] - [13], em mca 113 Fundomentos de Engenharia Mrs Exemplo 4.4 Dimensionar a rede de distribuigéo cujo esquema € mostrado a seguir e calcular as press6es disponiveis nos nés, considerando: a vezao de distribuicéo em marcha igual a 0,025 Vs.m; © trecho R-5 virgem; um consume concentrado no né 1 de 4,0 V5; © diametro minimo para essa rede igual a 50 mi © Coeficiente de perda de carga da férmula de Hazen-Williams C=100; cota do nivel de agua do reservatorio igual a 500 m, 490 480 470 480 450 4 430 420 410 q=40Us 2 Solugdo Trecho L Vazio Us D u an m a Q Qa mm m/s om 13 200~«400~=«050 «45042501007? 1,28 23 100 0,000.25 0,25 0,13, 500,180,038 35-300 4,75 O75 550513 100,70 2,74 45 160 0,00 0,40 «0,400,200 020011 SR 300 5,90 0,00 5,90 5,90 100,753,585, Trecho Cota Piezométrica Cota do Terreno Presséo Disponivel J M J M 1 M 3 492,42 «493,71 ~—«410,00 «430,00 82,42 63,71 23 493,68 © 493,71 420,00 430,00 73,68 63,71 35 «493,71 496,45 «430,00 450,00 63,71 46,45 45 496,34 496,45 460,00 450,00 36,34 46,45 5-R 496,45 ——500,00_—450,00 500,00 46,45 0,00 14 Escoomento em stems de condo orcas | Caputo 4 4.3.2 Calculo das redes malhadas Nas redes malhadas admite-se que as vaz6es que saem da tubulacao estejam con- centradas nos nés, considerados centros de consumo das areas atendidas pela rede de distribuigéo de agua. Logo, a vazo entre dois nés consecutivos da rede é uniforme, 0 que faciita sua andlise. Antes de proceder a determinacao das press6es na rede malhada, € necessario determinar a vaz40 em cada trecho da rede, fase essa denominada de equi- \fbrio do anel, cujo célculo se fundamenta em dois principios: 1) No principio da continuidade, ou seja, a soma das vaz6es que afluem ao nd & igual a soma das vaz6es que dele saem. Para exemplificar, considere 0nd A, juncao dos trechos 1, 2 e 5, mostrado na Figura 4.7. Considere, também, as vaz6es que entram no 16 positivas e as que saem negativas; assim a aplicacao desse principio estabelece que: a ai -> Q2 EQ=0 (4.27) Orca ciaceme, 2) No principio da conservacao da energia, ou seja, a soma das perdas de carga nos condutos que formam o anel é zero. Para tanto, atribui-se a perda de carga o mesmo sentido da vazdo e convenciona-se 0 sentido horario como positivo e 0 outro sentido negativo, como exemplificado na rede malhada ABCD, mostrada a seguir, cujo anel é formado pelos trechos 2, 3, 4e 5. qb f a ae Qe A sam as] ahs ™N ‘ hg|Qo 0 —> ohy Cc e ad Q4 4 Figura 4.7 - Rede malhada EAh=0 (4.28) Ah, + h,- Sh, - Ah, = 0 5 Fundamentos de Engenharis Heelies A determinagao das vazoes em cada trecho do anel é obtida pelas equacoes (4.27) € (4.28) e mais as equacées de perda de carga, que formam um sistema de equacdes nao lineares, cuja solugéo s6 possivel através de processos iterativos. O método de célculo manual mais utilizado para resolver este problema denomina-se balanco de energia, também conhecido por método de Hardy-Cross. A metodologia utilizada no método de Hardy-Cross, apresentada no fluxograma da Figura 4.8, parte de uma estimativa para as vaz6es nos trechos do anel, de tal modo a atender a equacéo (4.27) e com base nesses valores é calculada a perda de carga corres- pondente para verificar a equacdo (4.28). Se esta é atendida, a estimativa esta correta @ as vaz6es nos trechos determinadas. Caso isso nao ocorra, a vazo estimada deve ser corrigida de AQ , cujo fundamento matematico € apresentado a seguir: aera ESTIMAM-SE FIXAM-SE_ ‘Compr. dos trechos-L_ |] Vazdes nos trechos | ——a} Didmetros nos trechos Coet. perda de Carga -B 30-0 > 4 caLcULanase Perdas de ara nos trechorh Yah #0 CALCULA-SE pean azah\@ ¥ CORRIGEM SE: | As vazdes nos trechos Figura 4.8 - Fluxograma pare equilbrio do anel Seja Ah a perda de carga num trecho genérico, representada pela expressao an=p Su 116 éscoamento em seas de condos lorados|Captulo & em que f, De L sao conhecidos. Assim, pode-se escrever: Ah=rQ sendo Seja Q, as vaz6es estimadas nos trechos, na iteracdo -o:, e que atenda ao primeiro principio: em cada n6, Se 0 anel estiver equilibrado, pelo segundo principio, tem-se Yh, = DQ =0 Caso isso nao se verifique, ao valor Q, deve-se adicionar um valor AQ, para a devida correcéo, assim: a= + AQ, Para que a nova vazao Q, atenda ao segundo principio ¢ necessario que: Yah=F1(Q, +AQ)” =0 Desenvolvendo o termo entre parénteses da equacao anterior, por meio do binémio de Newton ¢ desprezando os termos onde AQ, é elevado a expoentes superiores a unidade tem-se’ TH +nQF7AQ, +...)=0 YQ} = =n rQpAQ, s0,- Lar, (4.29) 0 TS" Ah, /Q, Exemplo 4.5 Na rede de distribuicéo, cujo esquema ¢ apresentado a seguir, equilibrar as vazbes nos trechos do anel e calcular as press6es disponiveis nos nés da rede, sabendo-se que o nivel de dgua no reservatorio esta na cota 100,00. As tubulac6es a serem utilizadas sao de ferro fundido, com coeficientes de perda de carga da formula de Hazen-Williams iguais a 100. 17 Fundamentos de engenaria Hii: Solugao A solucao deste problema compde-se de duas partes. A primeira, denomi nada equilibrio do anel, na qual sao determinadas as vaz6es nos trechos da malha pelo método de Hardy-Cross. Na outra parte, as pressdes sao calculadas seguindo a mesma metodologia utilizada para as redes ramifi- cadas, ja que 0s valores das vaz6es e os seus sentidos so conhecidos apés a primeira parte, como mostrado a seguir * Equilforio do anel O quadro a seguir apresenta os resultados do equilibrio do anel pelo método de Hardy-Cross. As vaz6es iniciais Q, atribuidas aos trechos das tubulages estao mostradas na figura seguinte e atendem ao principio da continuidade em cada né (equacao 4.27). Q=70us Q= 40 Us Trecho LD Q, dh, Ah/Q, Q, dh, Ah/Q, Q, Ah, Ah /Q, m_omm Vs om vs om Vs om 12 100 100 40 058 015 452 0,72 0,16 465 0,76 0,16 23° 70 50 -1,0 091 0,91 -048 -0,23 0,48 -0,35 0,13 0,37 m4 75 0,34 248-072 0,29 2,35 065 0,28 E435 140 0,23 0,93 002 0,81 AQ, = 0,52 AQ, = 0,01 118 count em sbiemas de condos fread | Capulo 4 Observacoes: 1- Quando os diémetros nao sao conhecidos, estes podem ser escolhidos com base nas capacidades maximas apresentadas nos Quadros 3.12 e 3.13 2- Anorma brasileira para redes de distribuicdo de agua (NBR 12218/94), no caso de equillbrio de anéis, tolera um residuo de vazdo e carga piezo- métrica de 0,11/s e 0,5kPa, respectivamente. * Determinacao das press6es disponiveis: Trecho =D Ah, _CotaPiezométrica Cota do Terreno _Pressdo Disponivel mm m M 4 M 4 M J RI 150 0,23 100,00 99,77 95,00 80,00 5,00 19,77 1-2 100 0,76 = 99,77. 99,01 80,00 65,00 19,77 34,01* 13 75 0,65 99,77 99,12 80,00 70,00 19,77 29,12 32 50 0,13 _-99,12_—-98,99 70,00 -65,00_—29,12_—_—33,99* “A aiferenca entre esses dois valores se deve ao residuo deixado no equilorio do anel (ZAh = 0,02 m) Exemplo 4.6 Determinar a vazéo que passa em cada trecho do anel da rede de distribui- ao esquematizada a seguir, considerando 0 coeficiente de perda de carga da formula universal f = 0,025. q=30us q= 1200s q=40ls 19 Fundamentor de Engenhori Widen Solucio ‘Anei Techo LDQ, ah, Ah/Q, @, ah, Ah/Q, Q, ah, AhJQ, momm Ws om ifeveteaim| Vs__m 72 100 100 40 033 008 404 034 008 407 0,34 0,08 23 90 50 10 060 0,60 1,04 064 0.62 1,07 0,68 0,64 3-1 130 75 3,00 -1,02 0,34 -3,03* 1,04 0,34 3,01 -1,03 0,34 Ee 009 1,02 0,06 1,04 001 1,06 AQ, = 0,04 4Q, = 0,03 4Q, = 0,00 31130 75 300 102 O34 303" 104 O34 301 1,03 034 W_ 34 100 50 -1,00 066 066 0,93 0.57 0,61 056 061 41 100 100 5,00 -052 0,10 -4,93 -0,50 0,10 0,50 0,10 B= -016 1.10 0,30 1,05 0,03 1,05 AQ, = 0,07 AQ, = 0.01 AQ, =0,01 *No trecho comum aos dois anéis, a correcao do valor da vazao fica afetada do valor de AQ dos dois anéis, assim: trecho 3-1: AQ = AQ p- AQuer trecho 1-3: AQ = AQnvai p - AQanerp Portanto, as vazbes que escoam no anel da rede de distribuicdo sao: Q, , 4,07 U5, Q,5 = 1,07 V5, Q,, = 3,01 U5, Q,5= O método de Cornish visto no item 4.2 também pode ser utilizado no caso de rede de condutos, onde as vaz6es podem ser consideradas concentradas nos nés, principalmente para andlise das condicées de escoamento em sistemas de tubulaces com algumas piezomeétricas fixas, tal como os nds que representam os reservatérios. O exemplo a seguir ilustra o emprego deste método. 192 U5 €Q,4 = 4,92 Vs. Exemplo 4.7 A rede de condutos mostrada no esquema e na tabela da figura a seguir esta ligada a trés reservat6rios localizados nos nés A, C e F, cujos niveis de gua esto nas cotas 70,00, 40,00 e 30,00, respectivamente. Analisar as condicées de escoamento dessa rede, tendo em vista as caracteristicas dos condutos apresentadas na figura 120 scoament em sstemas de condos frgados | Capitulo & eer Compas Diametro eric mel Trecho am mm A 8 c. 7B 200) 120 r—J Bc 200 120 AD 250 120 BE 150 120 OE 200 120 lb E EC 150 120 OF 150 120 FE 200 120 ——__—@ F Solucéo A solucdo deste problema pelo método de Comish requer uma estimativa preliminar das piezométricas nos nés B, D e E, jé que nos outros nés estas sao conhecidas (Piez.A=70,0m, Piez.C=40,0m, Piez.F=30,0m). Os valores assumidos neste caso (Piez. B=55,0m, Piez.0=50,0m, Piez.E=45,0m) sao escolhidos entre 05 valores maximos e minimos das piezométricas conhecidas. As vaz6es que escoam nos trechos sao calculadas a partir da equacéo de Hazen-Williams, sendo a perda de carga igual a diferenca entre as piezométricas de montante e jusante e as demais variaveis da equacao séo dadas no problema, Posterior- mente & determinacao das vaz6es, as piezométricas so corrigidas através da equacao (4.26). Piez. B ‘Trecho BA. ‘Trecho BC ‘Trecho BE mo ah QQ Ofth Ah QS ah QA mm/s mi/sm om mss om m/s m/s.m_ 55,00 15,00 0,050 0,003 15,00 -0,073 0,005 10,00 -0,027 0,003 -8,49 46,51 23,49 0,064 0,003 6,51 -0,046 0,007 3,69 -0,016 0,004 0,18 46,69 23,31 0,064 0,003 6,69 -0,047 0,007 40,3 -0,017 0,004 -0,05 46,64 Piez. D ‘Trecho DA ‘Trecho DE ‘Trecho DF m ~ oh Q@ Qh dh Q Qiah dh Q Qh az mm/s m/s.m om __om’s_m/sm om __m/s_m/s.m_m. 50,00 20,00 0,153 0,008 5,00 -0,028 0,006 20,00 -0,022 0,001 13,37 63,37 6,63 0,084 0,013 20,54 -0,059 0,003 33,37 -0,029 0,001 -0,47 62,90 7,10 0,087 0,012 20,24 -0,059 0,003 32,90 -0,029 0,001 -0,04 6287 Piez.E Trecho EB Trecho EC Trecho ED Trecho EF m 4 Q Q/ah Sh Q Qlah dh Q Qiah Ah Q Q/dn AZ m_m/s mi/sm_m_m’s m/sm_m__mi/s m/s.m_m_ m/s m/sm_m 45,00 1,51 0,010 0,007 5,00 -0,013 0,003 18,37 0,056 0,003 15,00 -0,073 0,005 -2,18 42,82 3,87 0,016 0,004 2,82 -0,010 0,003 20,08 0,059 0,003 12,82 -0,067 0,005 -0,16 42,66 3,98 0,017 0,004 2,66 -0,009 0,003 20,20 0,059 0,003 12,66 -0,066 0,005 -0,02 42,64 12 Fundamantos de Engetasia Hdrlice Problemas 4.1 Dois reservatorios R, e R, possuem seus niveis de 4gua constantes e nas cotas 75 © 60 respectivamente. Uma adutora, composta por dois trechos em série, interliga esses dois reservatérios. Tendo em vista as caracteristicas da adutora, apresentadas a seguir, pede-se determinar a vazao escoada. Trecho 1: D,= 400 mm, L,=1000 m, coeficiente de perda de carga C,=110 Trecho 2: D,= 300 mm, L, = 500 m, coeficiente de perda de carga C,= 90 4.2 0s condutos mostrados na figura seguinte so destinados a conduzir 4gua do reservatério R, para o R, que tem seus niveis de 4gua mantidos constantes nas cotas 82,0 e 70,0, respectivamente. Desprezando as perdas de carga localizadas, pede- -se calcular a vazdo nos condutos e a presséo no ponto C, que esté localizado na cota 68,00. Trecho Um) Dim) f AC 1500 200 0016 Bc 1000 100 0022, d_ 900 300 0,020 Coeficiente de perda de carga da ‘formula Universal 4.3 Uma tubulacao de 200 mm de diametro, 4000 m de comprimento e coeficiente de perda de carga da formula Universal (f) igual a 0,020 conduz gua entre dois reservatorios cuja diferenca de nivel é 40 m. a) Considerando somente a perda de carga continua e desprezando a parcela da energia cinética, determinar a vazao entre os dois reservatérios. b)_Desejando-se aumentar em 20 Us a vazo transportada, optou-se pela colocacso de um trecho de tubulacéo, com as mesmas caracteristicas da anterior, inclusive 0 comprimento, em paralelo com a existente. Determinar a extensao desse trecho. 4.4 Uma medigo de vazdo no trecho BC, na rede de condutos apresentada a se- Quir, mostrou que o sentido de fluxo neste trecho é de B para C e que vale 40 I. Determinar as vaz6es dos trechos AC, AB, CD e BE e os comprimentos dos trechos BE e CD, sabendo-se que a cota piezométrica medida em B vale 78,00. Trecho Lm) _Dimm)_¢ AB 1000 300130 AC 1200 300 100 co BC 200 250100 tx Be = 250130 © (CD arse 100] 100) (ei Coeficiente de perda de carga dda formula de Hazen-Wiliams 12 Escoamento em sistemas de conduit orgade|Captlo 4 4.5 A tubulacdo ABCD, mostrada na figura a seguir, é destinada a atender aos con- sumidores localizados entre BC, bem como a abastecer o reservatorio de jusante. Supondo que dois tercos da vazéo seja distribuda nas duas tubulacdes em paralelo de BC e 0 outro terco abasteca o reservatério de jusante, pede-se calcular as vazGes de distribuicao em marcha, supondo toda a tubulacao composta por tubos de 100 mm de diametro, com coeficiente de perda de carga “f"da formula de Universal igual a 0,02 100,09 a ey ls s = 129 “ay oo 59.00 ” 3 A @° c 13 = 1500 m a ae 4.6 Determinar as vaz6es nas tubulacées do sistema de distribuigao na figura a seguir. Trecho Um) _Dimm)__f_ ‘iB 5000300 0,020 Ave 5000 300 0,020 BC 3000 200 0,020 Bo __4000_300__0,020 Coeficiente de perda de carga da 40's formula Universal 4.7 Fazer o pré-dimensionamento da rede do trecho RABCD, com base em critérios econémicos, supondo a utilizacéo de tubos de PVC com diametros de 100, 150, 200 e 250 mm. Determinar o valor da pressao no ponto D. 420 40470480 ° 440 g=3ls NA=520 123 Fundmentos de Engenharia Hiren 4.84 rede de distribuicao, apresentada a seguir, deve abastecer um condominio, assentado num mesmo nivel, cujo consumo maximo ¢ de 8,33 M/s. a) Fazer 0 pré-dimensionamento da rede, supondo o aproveitamento dos tubos de PVC disponiveis (D = 50, 75, 100 e 150 mm). b) Calcular 0 nivel minimo de agua no reservatorio, para que a pressdo minima nesta rede seja de 15,0 mea, utilizando a formula de Hazen-Williams para perda de carga. L= 500m = 1000m TRECHO VIRGEM L= 520m L= 100m, L= 630m 4.9 Equilibrar as vaz6es do anel mostrado na figura a seguir e determinar as pressbes disponiveis nos nds, utilizando tubos de diametro de 50, 75, 100 e 150 mm, com coeficiente de perda de carga da formula Universal igual a 0,020 cT=4760 -- O=40Us > A L= 800m B L= 400m L= 400m o=30us T= 4700 T= 4660 CT : cota do terreno 4.10 Determinar as press6es na rede de distribuigéo de agua mostrada na figura a seguir, supondo-a formada por tubos de PVC. 40 490470 480450 440 480 Dados: L,,= 500m ly = 600m L,.= 300m Lb. = 600 m L,.=300 m L,,= 500m 4 Capitulo 5 Maquinas hidraulicas © objetivo deste capitulo ¢ dar uma visdo geral a respeito das maquinas hidrdulicas, principalmente das turbinas e das bombas, mostrando suas semelhancas e suas diferencas, visando proporcionar 0 entendimento do ‘emprego destas maquinas em hidrelétricas e estagdes de bombeamento, 5.1 Introdugao ae ‘As m&quinas hidraulicas promovem as trocas entre as energias mecanica e hidraulica e se dividem em duas grandes categorias, de acordo com 0 sentido da troca de energia, em turbinas e bombas. As turbinas recebem energia hidréulica, proveniente normalmente de quedas d’aqua, transformam-na em energia mecénica. Posteriormente, esta energia 6 transformada em energia elétrica pelos geradores nas centrais hidrelétricas. J4 as bombas transformam a energia mecanica que recebem dos motores em energia hidraulica, possibilitando transportar e elevar fluidos a grandes distancias e elevadas alturas, que atendem desde as pequenas instalacdes hidraulicas prediais aos grandes sistemas de irrigacdo, abastecimento de agua etc. 5.2 Descricgdo e condicées gerais de instalagao das tur AAs primeiras turbinas surgiram na forma de toscas rodas d’agua, utilizando somente a energia cinética dos cursos d’égua. Posteriormente, passou-se também a utilizar a energia do peso "Agua, dando inicio aos aproveitamentos das quedas d’agua em 1827. = - Fundamentoe de Engenbari Mes Melhoramentos substanciais foram realizados nas rodas d'agua, dando origem as turbinas atualmente empregadas nas centrais hidrelétricas As turbinas sao constituidas, basicamente, de um rotor e um distribuidor. O rotor & uma pea dotada de um eixo sobre a qual estdo dispostas pas. A agua proveniente do distribuidor atua sobre essas pas, originando uma rotacdo, que proporciona o movimento. do eixo e a poténcia do gerador. J4 0 distribuidor tem a funcao de orientar a agua até 0 rotor e regular a vazdo turbinada. Dependendo da forma que a dgua atua nas pas do rotor, as turbinas sao classifi- cadas em turbinas de agao e reacao. No primeiro tipo 0 jato incide livremente nas pas, através de um distribuidor em forma de bocal, sob a aco Unica da energia cinética, enquadrando-se neste tipo as turbinas Pelton. Nas turbinas de reacdo, 0 escoamento junto ao rotor € realizado sob pressdo, sendo parte da energia do liquide transformada em energia cinética ainda no distribuidor, como nas turbinas Francis e Kaplan. Na Figura 5.1 s80 mostrados os rotores das turbinas tipo Pelton, Francis e Kaplan, e as Figuras 5.2 € 5.3 ilustram as disposicées das turbinas de aco e de reacéo, respectivamente, nas instalacoes hidrelétricas. & (a) (b) © Figura 5.1 - Rotor das turbinas (a) Pelton, (b) Francis e (c) Kaplan ecervetsie CChaminé de moniarte : ‘Rg ah Conduite forgado i 5 canal ote Figura 5.2 - Esquema de instalagdo hidrelétrice com turbina de acao (Pelton) Os nomes Pelton, Francis e Kaplan sao origindrios dos nomes dos engenheiros que desenvolveram as primeiras turbinas desses tipos, tendo sido a primeira delas construida por Francis, em 1849; em 1880 Pelton desenvolveu a primeira turbina de aco e em 1912 Kaplan fez a primeira experiéncia na turbina que posteriormente levou o seu nome. 126 Maquina hile | Canto S Outra classificacao das turbinas diz respeito a trajetoria da agua no rotor, podendo ser: * radial, quando a 4gua entra no rotor segundo o raio e sai na direcdo do eixo, como nas turbinas tipo Francis; © tangencial, quando a incidéncia do jato no rotor € tangencial, como nas turbinas Pelton; © axial, quando a Agua que circula sobre o rotor tem, aproximadamente, a direc3o do eixo, como nas turbinas Kaplan. camara de carga Piezométioa?® Figura 5.3 - Esquema de instalacao hidrelétrica com turbina de reacdo Turbina Pelton (Laborat6rio de Hidraulica - UFMG) Fundamentos de Engenharia Wrulca 5.2.1 Arranjo das instalacdes hidrelétricas © arranjo das instalacoes hidrelétricas depende, basicamente, das caracteristicas, topogréficas e geolégicas locais, da vazao maxima turbinada e da queda d’agua dispo- nivel. Entre os principais componentes do circuito hidraulico, destacam-se: * a barragem que permite a regularizacio das vaz6es afluentes do curso d’agua, a formacéo do desnivel necesséirio ao funcionamento das turbinas € 0 desvio das aguas do rio; * a tomada d’agus destinada a captacao da vazao a ser turbinada, po- dendo estar integrada a uma barragem ou estar vinculada a um canal de derivacao, simplesmente; * conduto ou tunel forcado 6 uma tubulacao que funciona sob pressao, destinado a conducao da agua desde a tomada d'agua até as turbinas, no interior da casa de forca; * casa de forca destinada ao abrigo das turbinas, geradores e acess6rios hidraulicos e elétricos; © canal ou tanel de fuga que visa a restituicao da vaz40 que passa pela turbina ao leito natural do rio. A Figura 5.4 apresenta trés arranjos tipicos de hidreletricas, onde se destacam as estruturas de tomada d’dgua dotadas de barragem (a) e (b) e canal de derivacao (©), além dos condutos forcados (b) e (c) que alimentam as turbinas e das casas de forcas (a), (b) e (©) Conjunto de condutos forcados para alimentagéo de turbinas (UHE Gafanhoto, MG) 28 Méauinas iis Capo 5 cass de forge @ » condutoforgade Casa de ‘era He srt Canal do tug | \ “Turbine Francis © Figura 5.4 - Secoes lonaitudinais de instalacOes hidreétricas Fonte = Adaptado do Manual de ventaio da Eletrbrés 29 Fundaments d Engenharia Widrslice 5.2.2 Potencial hidraulico A avaliagio do potencial hidraulico bruto de um aproveitamento hidrelétrico é calcu- lada pela seguinte formula: P,=7-O-H, G.1a) em que’ ,: poténcia hidrdulica bruta, em W ‘ys peso especifico da égua (y ~9806 N/m? ) Q:: vaz8o que passa pela turbina, em m/s H,; queda bruta ou diferenca entre of niveis d’égua no reservatério de montante e imediatamente a jusante da turbina, em m Utilizando para 0 peso espectfico da agua o sistema técnico (y =1000kgf/m") € mantendo as outras unidades das variveis, a equacao (5.12) transforma-se na equacao (5.1b) mostrada a seguir: P,=9,81-7-Q-H, (5.1) As Figuras 5.2 e 5.3 mostram que a queda bruta H, nao é aproveitada integralmente devido as perdas de carga existentes na conducao da gua até a turbina Ah. Portanto, a queda efetivamente aproveitada, ou queda Util H é a diferenca entre a queda bruta ea perda de carga. oH Ah Consequentemente, a poténcia hidréulica disponivel P,, originada da equacao (5.1b), dada em Watt (W), é P,=981-y-Q-H (5.2) ‘Além das perdas de carga que ocorrem até a turbina, tem-se que se considerar também as perdas existentes dentro desta, nao s6 devido as perdas de carga ao longo da trajetoria percorrida pela Agua, mas também devido as perdas volumeétricas entre as vaz6es afluentes e efluentes na turbina, bem como as perdas por atrito. Essa perda é expressa em termos de rendimento da turbina n. Assim, a poténcia efetivamente transmitida ao gerador é dada por: P=981-y-Q-H (5.3) em que: poténcia efetiva, em W peso especifico da agua, em kgf/m? vazao turbinada, em m/s queda util sobre a turbina, em m rendimento da turbina Ss rozr 130 Maquina hides | Captlo S __5.3 Descrigao e condigées gerais de instalacao das bombas A classificagéo, segundo o processo de transformacao de energia no interior das bombas, engloba os tipos mais significativos dos sistemas de bombeamento, quais sejam: © Bombas volumétricas * Turbobombas ‘As bombas volumétricas so assim denominadas por utiizarem a variacao de volu- me do liquido no interior de uma camara fechada para provocar a variagao de pressao. ‘A variacao de volume € realizada pela acao de movimentos rotativos ou alternativos, e por causa disso recebem as denominacdes de bombas rotativas e bomba pistdo que so, mostradas na Figura 5.5 Bomba pistdo Bomba de engrenagens Bomba de palhetas Bombas rotatvas Figura 5.5 - Bombas volumétricas As bombas do tipo turbobombas sao as mais utilizadas atualmente. Dotadas de uma parte mével denominada rotor, que se movimenta dentro de uma carcaca, pela acao do motor, produzem o movimento do liquido. Essa energia cinética parcialmente conver- tida em pressao no interior da Bomba, permitindo que o liquido alcance posicbes mais elevadas, ou mais distantes, através da tubulacao de recalque. As bombas podem ter um Linico ou varios rotores dentro da carcaca, assentados sobre o mesmo eixo. No primeiro caso so denominadas de simples estagio, no outro de muitiplos estagios. As bombas de mtiltiplos estagios s4o proprias para sistemas que precisam recalcar grandes alturas manométricas, sendo 0 efeito da quantidade de rotores sernelhante ao da colocacéo de bombas em série, assunto a ser tratado no Capitulo 6. A Figura 5.6 mostra alguns dos tipos de bombas citados neste item. ‘As turbobombas, quando admitem o liquide por um lado do rotor somente, s80 denominadas de succéo simples e de succdo dupla quando admitem liquido dos dois lados, conseguindo, desta maneira, maior equillbrio do rotor. Por isso, as bombas de succao dupla sao mais indicadas para as grandes vaz6es, ja que esto sujeitas a esforcos mais elevados. Oeixo entre a bomba e o motor pode estar na posicao horizontal ou vertical. O tipo horizontal € mais utilizado por ter um custo, normalmente, mais baixo; entretanto, 0 eixo vertical permite reduzir a altura geométrica de sucao, reduzindo com isso os riscos de cavitacao, conforme relata 0 item 6.4 do capitulo seguinte Bt Fundomentos de Engenharia Mdrsulca Quanto a trajetéria da dgua no rotor, de maneira semelhante as turbinas, as turbo- bombas sao radiais, mistas e axiais. ‘As bombas radiais, mais conhecidas por centrifugas, tém essa denominacéo devido a trajetoria do fluxo, dentro do rotor, que se faz segundo um plano radial (normal a0 eixo) e, entdo, é impelida pela forca centrifuga do centro para fora ‘As bombas axiais tam trajet6ria do fluxo segundo a direcéo do eixo da bomba, sen do empregadas para grandes vaz6es e baixas alturas manométricas . As bombas axiais nao utilizam a forca centrifuga, mas a forca de sustentacao. Para aumentar esta forca, © rotor possui perfil aerodinamico, com aspecto de hélice As bombas mistas, também conhecidas por diagonais, possuem um tipo de rotor cujo flux0 é diagonal ao eixo, sendo, portanto, um tipo intermedidrio entre as centrifu- gas e as axiais on cenrig de ao veri e iris scsto ‘Seis iowan =p entangle sees onde etogoe Somos cera es hora com sa echo Sstoloptoana! mda ea Figura 5.6 — Turbobombas, 132 Maguinas haus | Capa S Bomba centrifuga (Laboratério de Hidréulica — UFMG) 5.3.1 Instalacao elevatéria As elevatorias, embora possam ter formas variadas, devido as exigéncias das insta- lacées, costumam apresentar-se, em varias situacdes, segundo o esquema da Figura 5.7. Na Figura 5.7 destacam-se alguns aparelhos, com as seguintes funcoes: * A.vélvula de pé com crivo & uma valvula de retengio que se instala na extremidade inferior da tubulacao de succéo, quando a bomba esté locali- zada acima do nivel de agua do paco de suc¢éo, com 0 objetivo de impedir © retorno do liquido quando a bomba para de funcionar. Desta maneira a bomba e a tubulacao de succéo poderdo estar sempre chelas de agua (escorvadas). Caso contrério, a depressao criada na entrada da bomba pode no ser suficiente para recalcar 0 liquide e a bomba trabalha vazia, sem fazer o recalque. O ctivo que vem acoplado a valvula tem a finalidade de impedir a entrada de particulas sélidas no interior da bomba * A reducao excéntrica & a peca que se adapta a tubulacao de succéo, geralmente de maior diametro, a entrada da bomba, de menor diametro. A excentricidade exigida nesta peca tem a finalidade de evitar 0 acémulo de bolhas de ar na secéo de entrada da bomba. Quando estas bolhas ocupam toda a seco, provocam a separacéo da coluna liquida. * O motor de acionamento tem a finalidade de fornecer energia mecani- ca as bombas. A fonte de energia dos motores, normalmente, é elétrica, podendo-se utilizar também motores de combustdo. A unido entre a bomba e 0 motor ¢ realizada por luva elastica, ou por meio de eixo rigido, 1no tipo monobloco 133 Fundamentor do Engenharia Hiden * A.bomba é 0 dispositivo utilizado para adicionar energia ao escoamento da agua, conforme jé visto nos itens anteriores. Uma andlise a respeito desse assunto ¢ realizada no Capitulo 6. © Avélvula de retencao destina-se a protec3o da bomba contra o retorno da Agua e a manutencéo da coluna liquida por ocasi8o da parada do motor. © Avélvula ou registro um aparelho que deve ser instalado logo a seguir a valvula de retenco, visando a manutenco desta, bem como 0 controle da vazéo. O tipo mais utilizado nas instalagdes elevatorias ¢ o de gaveta, ‘Tubo de recalque Registro de gaveta Valvula de retengao Redugao concénitica Redugao curade _, ®xc8ritica_“H Bomba Motor iolongo “Tubo de sucedo NA minima Valvula de pé crivo Figura 5.7 Esquema de uma instalagao elevatoria tipica ‘SuegHo positiva (hs > 0) ‘Sucgio negative (hs <0) Figura 5.8 - Posicgo da bomba em relacéo a0 poco de succ3o 134 Miguinas hidrducas | Capo S Quando 0 eixo da bomba esta acima do nivel de agua do poco de succao, a instala- <0 da bomba é dita de succo positiva. No caso contrarro, a sucgao € negativa e diz-se que a bomba esta afogada (ver Figura 5.8). Nas instalac6es elevatorias de succéo negativa, os aparelhos usados na succao di- ferem um pouco daqueles apresentados na Figura 5.7. Um desses aparelhos é a valvula de pé que se torna desnecesséria, uma vez que a tubulacao se mantém cheia, ja que ela se encontra abaixo do nivel de agua no poco de succéo. Estando esta tubulacao cheia, para se fazer a manutencSo da bomba, é necessario um registro na tubulacao de succéo, préxiro & bomba, que deve ser fechado somente para tal manutencao. 5.3.2 Parametros hidraulicos de uma instalag&o de recalque Altura manométrica A altura manométrica H,, representa a energia absorvida por unidade de peso de \iquido ao atravessar a bomba, ou seja, € a energia na saida da bomba menos a energia da entrada. A equacao de Bernoulli, quando aplicada entre dois pontos que contém uma bomba, deve levar em conta essa energia H,,, como mostrado a seguir, estando 0 ponto 1 localizado a montante da bomba e o ponto 2 a jusante da mesma. +H, =Z, +2422 4Ah,, Y 29 Se os pontos 1 € 2 estiverem sujeitos a pressdo atmosférica, tal como nas superficies de agua dos reservatorios, e se a diferenca de energia cinética for desprezivel, tem-se: e a 0 Ff u,z0 e U,z0 Portanto, H,, -Z, Ah, Onde Z, - Z, € 0 desnivel geométrico, ou a altura geométrica entre os dois pontos considerados, daqui para frente representado por H,. Portanto, neste caso, a altura manomeétrica H,, é a altura geométrica H, mais as perdas de carga Ah, , ocorridas na tubulacao que interliga os dois reservatorios, conforme mostrado na equacao (5.4): (5.4) 135 Fundoments de Engenharia dren Os termos da equaco anterior podem ser divididos em duas parcelas, sendo uma rela- tiva a succdo e a outra ao recalque, conforme mostra a Figura 5.9 e demonstra-se a seguir: 1, +H, hth, em que: H, — =altura manométrica de succdo h, — =altura geométrica de succéo Ah, = perda de carga na succdo H,— =altura manométrica de recalque fh, — =altura geométrica de recalque Ah, = perda de carga no recalque Linha Piezomélricanf “Ws. (2) hh inna Piezométrca Figura 5.9 - Parémetros hidréulicos de uma instalagio de recalque Poténcia e rendimento do conjunto elevatério A poténcia hidréulica, numa instalacéo de recalque, € o trabalho realizado sobre © liquido ao passar pela bomba em um segundo, podendo ser expressa pela equacao: Puy Q-H,, (5.5a) 136 Maguins idles Capitulo S poténcia hidrdulica em W peso especifico da agua em N/m? (y ~9806 N/m* ) vazao bombeada em m/s altura manométrica em m. TORS No caso de escolha de bomba, é mais frequente o uso de cavalo vapor (cv) para a unidade de poténcia. Neste caso, a expressao anterior, no sisterna tecnico, é a seguinte: = YA (6.5b) "75 poténcia hidraulica em cv peso especifico da agua em kgf/m? (y ~1000 kgf/m’) vazao bombeada em m/s altura manométrica em m. 2 ro Para que o liquido receba a poténcia requerida P,,, a bomba deve receber uma po- tencia superior & poténcia hidraulica, pois normalmente ha perdas no seu interior. Essas perdas se devern, geralmente, aos seguintes fatores: * aspereza da superficie interna das paredes da bomba ® recirculacéo do liquido no interior da bornba * vazamentos através das juncées * energia dissipada no atrito entre partes da bomba * energia dissipada no atrito entre 0 fluido e a bomba A razio entre a poténcia hidréulica P, e a poténcia absorvida pela bomba P, ¢ denominada rendimento ou eficiéncia da bomba n,. Os rendimentos das bombas variam bastante, conforme a vazao Q, a altura manométrica H,, € 0 tipo da bomba, estando, normalmente, entre 30% e 90%. Portanto, a poténcia da bomba, ou poténcia trans- mitida ao motor é dada por: QH, 75ng Para efeito de avaliacao da poténcia do conjunto elevatério (motor e bomba), ¢ ne- cessario conhecer, além do rendimento da bomba n,,, 0 rendimento do motor n,,, que & a relacdo entre a poténcia que o motor transmite e a que ele recebe da fonte de energia (n,, = P,/P). Desta maneira, a poténcia recebida pelo motor, também denominada de poténcia do conjunto motobomba, é dada por: af Nw 75neMy = 1QH, 5.7) Pe 75m oa Fundomentor de Engen Md sendo: 11: rendimento do conjunto motobomba (n = 1,.7,) P: poténcia absorvida pelo conjunto motobomba em cv 5.3.3 Dimensionamento econémico da tubulacao Normalmente, a determinacao da tubulacao de recalque ¢ realizada segundo um critério econdmico, considerando nao somente a tubulacao propriamente dita, mas todo © conjunto elevatério, devido as implicacbes explicadas a seguir: * um diametro pequeno para a tubulacdo ocasiona uma perda de carga maior e, portanto, uma altura manométrica e poténcias do conjunto motobomba mais elevadas (ver equacées 5.4 e 5.5); consequentemente, 0 conjunto elevatério tem custo maior, e as despesas com energia também 80 mais elevadas, embora o custo da tubulagdo seja menor; © um diametro maior para a tubulac3o implica despesa mais elevada para aimplantacao da tubulacao; entretanto, proporciona menor perda de carga e, consequentemente, a poténcia fica reduzida, resultando em custo menor pata a aquisicao e operacao dos conjuntos elevatorios. diémetro da tubulacao mais conveniente, economicamente, € aquele que resulta ‘em menor custo total das instalacées. Este didmetro é chamado de diametro econémico Estes aspectos podem ser ilustrados através do grafico da Figura 5.10, em que a curva “I" Tepresenta a variacdo dos custos de tubulacao (material mais assentamento) em relacao ao diametro da tubulagdo; a curva “II” representa a variacao dos custos de implantacdo dos conjuntos motobomba mais equipamentos e despesas com energia. A curva "Ill" corresponde a soma dos custos da curva "|" e “II” (AB + AC = AD), fornecendo, portanto, © custo total da instalacao elevatoria. O diametro econdmico é aquele correspondente a0 ponto de menor custo da curva “III” custo um °. 1 Minimo _ a | oe | sb u | Digfretvo Econdnico x Oman DIAMETRO Figura 5.10 - Despesa versus diametro numa instalacao elevatéria 138 Maguinasheraulcas | CapuloS Funcionamento continuo A instalagdo elevatoria ¢ considerada de funcionamento continuo quando trabalha 24 horas por dia (apenas com répidas interrup¢bes para a manutencao). A determinac3o analitica do didmetro econdmico neste caso, utiizando o método citado anteriormente, fornece a formula de Bresse para a determinacao do didmetro de recalque: D,=KJQ (5.8) em que: D,= diametro de recalque, em m Q = vazio recalcada, em mi/s K = fator da formula, de Bresse Ovalor do fator K depende de alguns fatores econdmicos envolvidos na implantagso @ na manutencao da elevatéria, tais como a tarifa da energia elétrica ou do combustivel e dos precos de tubulacao e equipamentos adotados. O valor de K oscila conforme a época € a regido, variando de 0,6 a 1,6, sendo o valor mais frequente em torno de 1,0; entretanto, por medida de seguranca, adota-se K=1,2 quando as informac6es econémicas so insuficientes para uma andlise mais detalhada: Como 0 valor do diametro calculado raramente coincide com o valor padronizado comercialmente, € comum adotar 0 didmetro comercial mais préximo ao calculado. Para o diémetro da tubulacao de succéo adota-se o diametro comercial imediatamente superior ao diarnetro adotado para o recalque. Funcionamento descontinuo Muitas vezes 0 funcionamento do conjunto motobomba nao é continuo. Tal situagao ocorre, por exemplo, no bombeamento de agua para os reservatérios de residéncias ou edificios. Para estes casos, a Associagio Brasileira de Normas Técnicas recomenda a seguinte expressao: D, =0,586X"* JQ (6.9) sendo D, 0 diémetro da tubulagao de recalque em m, X o ntimero de horas de funcionamento por dia e Q a vazéo em mis. Exemplo 5.1 Num prédio de 10 pavimentos, com 6 apartamentos por andar, seré mon- tada uma estacéo de bombeamento de agua que deverd funcionar 8 horas por dia. Admite-se uma quota de 200 litros por habitante por dia e uma média de 5 habitantes por apartamento. Supondo que as tubulacoes sejam de aco galvanizado, pede-se determinar os didmetros das tubulagbes de recalque e succao. 139 Fundamantor do Engonhatie Hdrduics Solugao Pelo enunciado tem-se: 10 x 6 = 60 apartamentos 60 x 5 = 300 habitantes ~.consumo = 300 hab. x 200 lab. dia = 60 000 V/dia Como 0 conjunto elevatério deve funcionar somente 8 horas/dia, a vazéo de bombeamento deve ser: = 00000 = 208s ou —Q=0,0021 mils 8x 3600s/d Em funcionamento intermitente, o diametro econdmico € dado por: D, = 0,586x8"* x 0,0021"? = 0,045 m Tratando-se de tubos de aco, o diametro comercial mais préximo corres- ponde a 2". Assim, adotam-se para as tubulacGes de recalque e succao os diametros de 2” e 2 1/2“, respectivamente. Adutora (Sistema Rio das Velhas, MG) Foto: Copasa 140 28,0 20 Msquines dss Capo S Exemplo 5.2 Determinar os diametros das tubulagées de recalque e succao da instalacao elevatéria, esquematizada a seguir, bem como a altura manométrica e a poténcia transmitida ao liquido pelo conjunto motobomba, para recalcar 45 l/s de agua, durante 24 horas por dia, sabendo-se que as tubulacdes de succéo e recalque devem ser de ferro fundido novo (C =120) e seus comprimentos de 15 m e 3000 m, respectivamente. B vR_ RG + @ i Solugao a) Determinacao dos didmetros de recalque D, e succao D, D, =K JQ =1,2¥45x10" =0,26m 50 mm (diametro comercial mais proximo) 300 mm (didmetro comercial imediatamente superior a D,) b) Calculo da altura manométrica H,, * Perda de carga continua na succéo Ah’, 10,64 Q'"" , _ 10,64 0,045'* aml = 79g 9.3g°7 = 0.03M Perda de carga localizada na succéo Ah": Valvula de pé com crivo K=1,75+0,75=2,5 Curva 90° 04 EK= 29 at prea a n gS Sae e as Fundamentes de Engentia Héiuies Q 0,045 = Q-__2.045___ 64 Us A Tex 0 30°74) mis a hi, = 2,9-254_ - 0,06m aoe Perda de carga total na succao Ah, Ah, = Ah, +h, | Ah, = 0,03 + 0,06 = 0,09m Perda de carga continua no recalque Ah’; _ 10,64 Q' , _ 10,64 0,045" Ah, = “Gras par = T3g5 ‘Giger 3000 12,53 Perda de carga localizada no recalque Ah”; Valvula de retengao K Registro de gaveta K Curva de 90° K Saida de canalizagao K x Q 0,045 u, = 2-2 __-0,92m!s A, (xx0,25°/4) a 2 ee 2x9,81 Perda de carga total no recalque Ah, Ah, = Ah, + Ah, Ah, =12,53+0,19=12,72m Perda de carga total Ahi Ah= Ah, + Ah, = 0,09+12,72=12,81m | Altura manométrica H,, H,, =H, + Ah = 30,0+12,81= 42,81m Poténcia hidraulica P,; P, =QH,, = 1000x 0,045x 42,81 =1926,5kgf.m/s PB, = 25,7cv =18899V ou =189 KW 102 Maquina ices Capitulo S 5.4 Semelhanca mecanica Asemelhanca mecdnica tem por objetivo prever, a partir de um modelo, o compor- ‘tamento hidrdulico de um prototipo, constituindo-se, dessa maneira, numa ferramenta importante para o desenvolvimento e andlise de vertedores, dissipadores de energia e maquinas hidraulicas de grande porte. Para tanto, utilizam-se os requisitos basicos da teoria dos modelos, quais sejam: * Semelhanga geométrica entre 0 protétipo e o modelo * Semelhanca cinematica entre o prototipo e o modelo © Semelhanga dinamica entre o prototipo e o modelo Atendidos esses requisitos, espera-se que 0 modelo e 0 protétipo, colocados nas mesmas situacGes, comportem-se de maneiras idénticas. As relagdes a seguir expressam_ essa identidade, para algumas grandezas de interesse no estudo das maquinas hidrau- licas, sendo 0 indice p indicative das grandezas do prototipo e m do modelo. Estas relacdes foram estabelecidas para o caso do protétipo e modelo estarem operando com ‘o mesmo fluido. (5.10) (5.11) (5.12) sendo: 1n: rotago em rpm. k: razao de semelhanca geométrica Q: vazéo em m?/s H: queda titil para as turbinas e altura manométrica da bomba, em m P: poténcia efetiva da turbina ou poténcia da bomba A razio de semelhanca geométrica k é a relacao entre as dimensées lineares do prototipo e do modelo (k = L/L,,, sendo L uma dimensao linear). Expressando as equa- G6es (5.10), (5.11) e (5.12) em funcéo somente da rotacdo n e da razao de semelhanca geométrica k, conforme apresentado nas equacdes (5.13), (5.14) e (5.15), pode-se concluir que qualquer variacdo nas dimens6es da maquina afeta muito a vazdo, a altura @ a poténcia, uma vez que a razao de semelhanca é elevada a expoentes superiores & 143 Fundmentos do Engenharia Medien unidade (k?, 2, KS, para a vazdo, a altura e a poténcia, respectivamente). Jé a rotacao da maquina n proporciona mais efeito na altura do que na vazao, conforme pode-se aferir pelas equacoes (5.16) e (5.17) (5.13) (5.14) (5.15) Para 0 caso particular de 0 protétipo e o modelo serem iguais geometricamente, a razo de semelhanca geométrica é igual & unidade (k=1) e as equag6es mostradas a seguir, decorrentes dessa simplificacao, denominam-se equacées de Rateaux. (5.16) (5.17) (5.18) 5.5 Velocidade especifica_ ‘A velocidade especifican, é uma grandeza importante na escolha do tipo da turbina eda bomba. Ela tem duas definicdes distintas, sendo uma propria para as turbinas & outra para as bombas; entretanto, ambas se fundamentam na teoria da semelhanga mecéinica, vista no item anterior, e so definidas para o ponto de rendimento maximo Para as turbinas, define-se velocidade especifica como sendo a rotagéo de uma tur- bina modelo trabalhando numa queda util de 1 m, produzindo 1 cv de poténcia. Assim, fazendo P, = 1c, H,, = 1 m,n, =n, e eliminando k nas equacées (5.10) ¢ (5.12), tem-se: Olea (5.19) 144 Maguins hides | Cato 5 1n, : velocidade especifica, em rpm; n. ; rotacao da turbina, em rpm; P_ : poténcia produzida pela turbina, em cv; H_ : queda util sobre a turbina, em m Para as bombas, a velocidade especifica representa a rotacao da bomba modelo, trabalhando com vazao e altura manométrica iguais 4 unidade. Nas equac6es (5.10) e (6.11), fazendo Q,,= 1, Hy,= 1, Ny, =, @ eliminando k, tem-se: nQ? (5.20) em que: velocidade especifica, em rpm; : rotacao da bomba, em rpm; vazéo bornbeada, em m?/s; altura manométrica da bomba, em m roles Uma primeira aproximacao, para a definicéo dos tipos dos rotores das turbinas e das bombas, pode ser obtida nas Figuras 5.11 e 5.12, sendo conhecidas as vazGes e as alturas uiteis para as turbinas, ou as velocidades espectficas para as bombas. Analisando essas figuras, juntamente com as equacées (5.19) (5.20), pode-se concluir que as maquinas hidréulicas que possuem elevada velocidade especifica (turbinas Kaplan e bombas axiais) se adaptam melhor &s pequenas alturas. De forma anéloga, pode-se concluir que as turbinas Pelton eas bombas centrifugas se adaptam melhor as grandes atturas, ou seja, velocidade especifica reduzida, a a a guuees wns ogee 8 " ‘3 Figura 5.11 - Faixa de aplicacéo das turbinas Fonte - Bureau of Redaration, citado por Quintela, 1985, 145 Fundumantos de Engen Hdricn Bomba centrifuga mista axial fg 10 20 40 60 400 200 rpm. Figura 5.12 - Faixa de aplicacéo das bombas Fonte - Bureau of Reclamation, Gtado por Quintela, 1985, Exemplo 5.3 Uma turbina Francis, quando sujeita a vazdo de 30 m/s e queda util de 90 m, produz uma poténcia efetiva de 22000 kW, a 360 rpm. Se esta mesma turbina fosse posta a funcionar em uma outra instalacao com 100 m de queda util, para que o rendimento fosse preservado, pede-se: a) em que rotacdo deveria funcionar; b) qual vazao deveria ser turbinada; ©) qual poténcia efetiva seria gerada Solugao Considerando como dados do modelo: Q, = 30 mis 90m P_= 22000 kW 360 rpm eas equacées (5.10), (5.11) € (5.12), com a razo de semelhanca geomé- trica igual 4 unidade (k=1), uma vez que a turbina é a mesma nas duas instalacoes, obtém-se a solucao do problema = 100 1¥'90 > => Q, = 316m? /s ee aquinas hires I Captule § => se(Z) => P,=25767kW 22000" ' \"s0 Exemplo 5.4 O ensaio de um modelo reduzido de uma bomba centrifuga com rotor de 100 mm, acionada por um motor de 1440 rpm de 5 cv de poténcia, apresentou os seguintes resultados: Q(mh) 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 70,0 75,0 80,0 H,, (m) 18,0 174 16,6 15,7 146 13,4 12,0 105 88 7,0 n(%) 72 77 82 88 84 8 7 70 60 50 a) Determiner a velocidade especifica desta bomba; b) Para uma bomba homéloga @ do modelo testado, prever a curva carac- teristica da altura manométrica versus vazdo, sabendo-se que o rotor do prototipo deve ter 200 mm de didmetro e sera acionado por um motor de 1800 rpm; ©) Determinar a poténcia do motor para acionar a bomba protdtipo ante- riormente mencionada. Solucao a) A velocidade especifica n, de uma bomba definida no ponto de efi- ciéncia maxima, neste caso para Q = 55 m'/h, H., = 14,6 men, = 84 %. Levando estes valores na equa¢ao (5.20) e mais o da rotagdo n =1440 rpm, tem-se: 55 ya ng 1440(-) = 23,81pm b) Aequacao (5.13) permite determinar a relacdo entre os dados de vazéo do protétipo e do modelo, quando se conhece a razéo de semelhanca geométrica e a relacdo entre as rotacdes. Neste caso, tem-se: 1800 TM, 1440 1,25 2125=100 + Q=100, “7 Fundementos de Engenbaris Hdrucs Da mesma maneira, através da equacdo (5.14) determina-se a relacdo entre 0s dados de altura manométrica do protétipo e do modelo pte 271,257 =6,25 2 4,=625H, Pontos da curva da bomba protetipo: Qimh) 35,0 400,0 450,0 500,0 550,0 600,0 650,0 700,0 750,0 800,0 H,(m) 1125. 108,8 103,8 98,1 91,3 83,8 75,0 65,6 55,0 43.8 n(%) 72 77 82 83 84 82 77 70 60 50 Py) 2038 -209«-211-«219-221-227-234 «243-255-260 ©) Apoténcia do motor para acionar a bomba protétipo deve cobrir toda a faixa de operacao da bomba, sendo a pior situacao 0 ponto correspondente a vazSo de 800 mh, onde a poténcia corresponde a 260 cv, conforme apresentado no quadro anterior. 0 célculo dessa poténcia pode ser realizado pela equacdo (5.6) ou pela equacao (5.15). Na pratica, adota-se um motor cuja poténcia nominal é a poténcia comercial imediatamente superior a0 valor calculado. Problemas 5.1 Tendo-se em vista a instalacao elevatéria esquematizada a seguir, dimensionar 0s didmetros de recalque e succéo, calcular a poténcia absorvida pelo conjunto moto- bomba e o custo mensal com a energia elétrica, sabendo-se o seguinte: ‘* material da tubulacdo: ferro fundido novo * vazao a bombear: 30 Us * comprimento da tubulacéo de recalque: 100 m comprimento da tubulacdo de succéo: 10 m rendimento da bomba: 80 % rendimento do motor: 90 % [| preco médio do kWh: RS 0,20 h270m * funcionamento continuo RGB OVR_ RG dQ Ht a 18 ETE ——————————————————————— Méauinas ides | Capt S 5,2 A instalacdo elevatoria, mostrada a seguir, deve recalcar agua do reservatério. R, para o R,, Para fins de escolha dos equipamentos, determinar. 08 didmetros de succdo e recalque a altura anométrica as poténcias da bomba e do motor, em cv Dados: © material da tubulacdo: PVC * volume de agua a ser bombeado diariamente: 150 m? jornada de trabalho da bomba: 8 horas * comprimento da tubulacao de recalque: 80,0 m * comprimento da tubulacao de succéo: 10,0 m * rendimento da bomba: 70 % * rendimento do motor: 90 % © pressdo no ponto A do reservatério R,: 1,0 kgf/cm? a) | eS 200m some) Bain ye 5,3 Um edificio tem 12 pavimentos e 3,15 m de pé direito (altura entre os pavimentos, incluindo a espessura da laje). A bomnba instalada no piso do 1° pavimento deste edificio esta a 3 m acima do nivel de agua do reservatorio inferior. O reservatério superior esta na laje de forro do ultimo pavimento e contém agua até a altura de 3 m. A vazao desejada é de 16200 V/h. O encanamento da succao é de aco galvanizado, com 75 mm de didmetro, 4 m de comprimento e contém 1 valvula de pé com crivo @ 1 curva de 90°. O encanamento do recaique é também de aco galvanizado, com 50 mm de diametro, 42 m de comprimento e contém 1 valvula de retengao do tipo leve, 1 registro de gaveta e 2 curvas de 90°. Calcular a poténcia solicitada ao motor, supondo o rendimento da bomba igual a 0,6 5.4. A bomba ‘A’ trabalha nas seguintes condicées: 7) * rotacao da bomba = 1800 rpm * vazdo = 100 m¥/h © altura manométrica (Om © poténcia da bomba = 20 cv © diametro do rotor = 200 mm 149 Fundameentos de Engenharia Hdrulica Determinar a rotacao, a altura manométrica € a poténcia da bomba ‘B’, hidraulica- mente semelhante a bomba ‘A’, sabendo-se que a bomba ‘B' deve trabalhar com uma vazo de 135 m¥/h e como rotor de 220 mm de diametro, 5.5 Conhecendo-se as caracteristicas da bomba descrita a seguir * rotagdo da bomba = 1800 rpm *® vazdo = 300 m/h * altura manométrica = 60 m * rendimento do conjunto motobomba = 70 % * diametro do rotor = 300 mm. pede-se determinar a vazao, o diémetro do rotor e a poténcia de outra bomba, hidrau- licamente semelhante a anteriormente citada, sabendo-se que ela deve trabalhar com um motor de 1450 rpm, sob uma altura manométrica de 180 m. 5.6 Qual a rotagdo que da o melhor rendimento de uma turbina Francis para gerar 100000 cv de poténcia efetiva, numa queda Util de 70 m, sabendo-se que a velo- | cidade especifica da turbina modelo ¢ de 234 rpm? wi 5.7 Especifique 0 tipo provavel de rotor a ser empregado nas bombas A, 8, C e D relacionadas a seguir, a partir das velocidades especificas. Bomba _Rotacdo Vazao0 Altura manométrica_ Numero de rotores A 3600 "pm 30me%h 100 m 1 B 1800 rpm 80Us 75m 1 c 1800 rpm = 4000 mh 50m 1 D 3600 rpm 2 mis 75m él 150 _ Capitulo 6 Anilise dos sistemas de recalque Este capitulo faz uma anélise dos sistemas de recalque, enfocando, princi- palmente, os casos das bombas centrifugas, inseridas em diferentes tipos de instalagbes de recalque. Além disso, 0 capitulo trata do fenémeno da cavitacdo, seus efeitos e as condigdes em que este pode ocorrer. 6.1 Curvas caracteristicas das bombas As bombas sao projetadas para trabalhar com vaz6es e alturas manomeétricas previamente estabelecidas. Através de ensaios verifica-se que as bombas so capazes de atender outros valores de vaz6es e alturas manométricas, além dos pontos para os quais elas foram projetadas. O conjunto dos pontos em que a bomba é capaz de operar constitui a faixa de operacdo da bomba. Além dos dados relacionados com altura ma- nométrica e vazo, busca-se obter nos ensaios das bombas as seguintes informacoes: © desenvolvimento da poténcia necessaria ao acionamento da bomba P, com a vazao recalcada Q; © variaggo do rendimento 7 com a vazao recalcada Q; = desenvolvimento do NPSH com a vazao recalcada Q, assunto tratado no item 6.4. ‘As curvas geradas com as informac6es citadas anteriormente constituem as curvas caracteristicas ou de performance da bomba. As Figuras 6.1 € 6.2 mostram o aspecto geral dessas curvas caracter’sticas, para as bombas centrifugas e axials, respectivamente. Fundementos de Engenharia Hires ‘As curvas caracteristicas H,,x Q das bombas centrifugas geralmente podem. ser expressas por uma equacao do 2° grau do tipo: H,, =aQ +bQ+c ‘onde 05 coeficientes a, b e c podem ser determinados apds a obtencdo experimental de trés pares H,, e Q e resolvendo o sistema gerado pela equacao anterior. Hm Figura 6.1 - Cunvas caracterstcas das bombas centrfugas Hm Figura 6.2 - Curvas caractersticas das bombas axiais, 152 Andie dos sistemas de recaque | Captdo 6 As informacées contidas nestas curvas séo essenciais para a escolha da bomba e para 0 modo de operacao da elevatoria. Os graficos de poténcia, por exemplo, mostram que a poténcia P, na bomba centrifuga cresce com 0 aumento da vazao Qe nas bom- bas axiais a poténcia diminui com o crescimento desta. Por esta raz8o, recomenda-se que a partida dos motores que acionam bombas centrifugas se faca com o registro de recalque fechado, quando a vazao é nula e a poténcia necessaria a0 acionamento & minima e, posteriormente, seja aberto, até atingir a vazdo de operacao do sistema. J4 nas bombas axiais acontece o inverso, ou seja, a partida deve dar-se com o registro de recalque totalmente aberto, pois, nessa situacao, a poténcia de acionamento € minima A Figura 6.2-a mostra um trecho da curva caracteristica da bomba tracejado, onde se destaca uma instabilidade, ou seja, para uma altura manometrica é possivel que a bomba esteja recalcando um dos valores compreendidos na faixa instavel. Embora essa caracteristica seja mais frequente nas bombas axiais, também é posstvel encontrar curvas de bombas centrifugas instaveis, Nestes casos, recornenda-se que a bomba trabalhe fora da faixa de instabilidade devido a incerteza gerada. 6.1.1 Influéncia da rotagao na curva caracteristica da bomba ‘As bombas sao acionadas por motores cujas rotaces podem variar em funcao do tipo de motor acoplado. Assim, um certo modelo de bomba tanto pode ser acionado por um motor cuja rotacao én, quanto por outro de rotaggo n,, Essa mudanca de rotacéo provoca variacées significativas nas curvas caracteristicas da bomba, modificando a sua faixa de aplicacdo, conforme mostrado na Figura 6.3. A teoria da semelhanca mecanica, vista no Capitulo 5, permite prever estas variacdes, desde que se conheca a curva caracteristica da bomba numa dada rotacdo e a nova rotagao. As equagoes (5.16), (5.17) e (5.18) dao a relacao entre a rotacao e as grandezas vazao, altura manométrica e poténcia, a partir da consideracao de aue as caracteristicas do fluido e as demais grandezas geométricas nao variam. Desta forma, é possivel obter, para cada ponto da curva a rotacao n,, outro ponto da curva caracteristica a rotacao n,, utilizando as equacdes (6.1), (6.2) e (6.3). (6.1) (6.2) 153 ‘undomentor ds Engenharia Midedaca sendo: ns rotacdo P, : poténcia da bomba Q : vazdo tn f Ay Hazy 2 He / Be _ 4, | a nat Ad ; © 8. Hy, (rgin FH, 2 Hm aI Hay m2 25, = 2 gy 4 Qn ae a Gn a Figura 6.3 - Influéncia da rotagio na curva caracteristica H, x Q Vale lembrar que os pontos A, e A, tém a mesma eficiéncia, assim como os pontos B, €B,, devido a manutencéo da semelhanca mecdnica havida na situacao. Os pontos A, @ A, so denominados homdlogos, bem como B, e B,, pois tém a mesma eficiéncia. No problema tratado anteriormente foi analisada a influéncia da alteracéo do valor da rotacao de n, para n, na curva caracteristica H,, x Q, sendo conhecida esta curva & rotacdo n, e o valor da rotaco n,. A seguir sera estudado 0 caso em que a curva H,, x Qé conhecida na rotacdo n,e se queira determinar o valor da rotacéo n, desta bomba para que a curva H,, x Q passe por um ponto P-(Q, H,). A soluco desse problema ¢ obtida com as equacées (6.1) e (6.2), fazendo Q, = Q, © Hyp = Hyg Adicionalmente, é necessério escolher um ponto P, (Q,, H,,,) na curva de rotacao conhecida n, que tenha a mesma eficiéncia do ponto especificado P,. Nor malmente o fabricante apresenta as curvas de rendimento obtidas, experimentalmente, junto com a curva caracteristica da bomba. Neste caso, conforme indicado na Figura 6.4, © ponto P, é a intersecéo da curva de rendimento que passa por P,, com a curva carac- tetistica a rotacdo n,. Os pontos P, e P, tém a mesmaeficiéncia e portanto séo pontos homélogos, para os quais as equacdes (6.1) e (6.2) podem ser aplicadas e portanto ser definida a rotacdo n, Quando nao se conhece a curva experimental de rendimento de uma dada bomba, esta pode ser obtida, utilizando-se as equacées (6.1) e (6.2), j4 que os pontos das curvas geradas por estas equacdes tém a mesma eficiéncia. Dessa maneira, eliminando n, en,, estas equacdes obtém-se a equacao (6.4), da familia das curvas de mesmo rendimento, Fry ou g H, = KQ? (6.4) 154 Anise dos sistemas de ecalque | Captlo 6 Sendo K uma constante de proporcionalidade de uma dada curva de isorrendimento. Vale lembrar que, embora seja possivel tracar a curva de isorrendimento, conhe- cendo-se a constante K, ndo & possivel determinar o valor do rendimento com este procedimento. A Figura 6.5 mostra as curvas de performance H,, x Qe uma curva de isorrendimento (H,= KQ2) de uma bomba, ressaltando os pontos homélogos P,, P,P, P, € P, para os quais as equacées (6.1) e (6.2) séo validas. BOMBAS CENTRIFUGAS: ‘CURUA DE PERFORAANCE Rotor A Figura 6.4 - Curvas caracteristicas da bomba: Hm x QenxQ BOMBAS CENTRIFUGAS Rotor A CCURWAD€ PERFORMANCE 155 | rundamentos de Engsnharia Hiden 6.1.2 Influéncia do diametro do rotor na curva caracteristica da bomba | Para ampliar a faixa de aplicacdo de determinado modelo de bormba, é comum o fabricante apresentar alguns tamanhos padronizados de rotor, para o mesmo tipo e ta~ manho de carcaca. A Figura 6.6 mostra as curvas de performance de uma bomba, para 0s possiveis rotores da mesma, cujos diémetros estao indicados pela letra “f". Algumas vezes, a mudanca de didmetro ¢ realizada através de raspagem do rotor. Entretanto, esse procedimento 6 € vidvel para bombas centrifugas, onde as faces do rotor so paralelas, mesmo assim, podendo acarretar sensivel reducao no rendimento. Por esse motivo, as raspagens sao limitadas em 20%, normalmente. BOMBAS CENTRIFUGAS CCURVA DE PERFORMANCE | ase OT Ig \VAZKO (13h) ‘Sucgio 6 12° 9048 Descarga 8" 208,2mm wes 2 2 4 | “La | _ o | 317 he | x { : Pt | | Saf a | 400 | om 40 0 om tao ~~ i | | 1 Figura 6.6 - Curvas caracteristicas H, x Q, NPSH x Qe P,x Q.a uma dada rotagéo 156 em Avalise dos sitemas de eaique | Caputo 6 No caso de mudanca do diametro do rotor e das demais dimens6es da bomba, na mesma razéo de semelhanca geométrica, as relacdes vistas no capitulo anterior, a res- peito da teoria da semelhanca mecAnica, também sao validas. A aplicacao das equacoes, (5.13), (6.14) ¢ (5.15), para 0 caso das rotacées do modelo e protétipo serem iguais, tem como consequéncia: eos 65) Hy ye nk = (6.6) > (6.7) Entretanto, 0 caso mais comum € a mudanca do didmetro do rotor com a perma- néncia das demais dimensdes, deformando a relacéo de semelhanca geométrica “k”, © que toma as equacées acima inadequadas. O diametro do rotor apés a raspagem, determinado pelas regras da semelhanca mec&nica, aplicada na secao de salda do rotor (regiao em que o didmetro é alterado), permite obter a equacao (6.8); entretanto, tal equacdo nao tem apresentado muita preciso, recomendando-se, portanto, consultar 0 fabricante da bomba para maiores detalhes. b= (6.8) em que’ $,: diémetro do rotor 2 (rotor apés a raspagern) 6,: diametro do rotor 1 (rotor original) Q,: vazao através do rotor 2 Q,: vazao através do rotor 1 J. Karassik (citado por Macintyre, 1987) recomenda a utilizago da equacao b> pata 0,89, <0, <9, 187 Fundomentos de Engenharia WdeSulen 6.2 Curva da bomba versus curva do sistema de tubulacgao Uma determinada bomba, embora possa trabalhar dentro de uma ampla faixa de valores determinados pela sua curva caracteristica, tem sua operacdo definida, num dado sistema, em funcao das condicées deste sistema em termos de altura geométrica e perda de carga total. Assim, o ponto de operacéo de uma bomba num dado sistema é a intersecao da curva caracteristica da bomba CB com a curva do sistema de tubulagao. CS, conforme apresentado na Figura 6.7 PONTO DE OPERAGAO’ Hg Figura 6.7 - Curva caracteristica da bomba versus curva do sistema de tubulado Curva do sistema de tubulagao A equacdo do sistema de tubulacao, para a situacao em que os pontos 1 € 2 esto sujeitos & mesma presséo atmosférica, é obtida pela equacao: Hy = Hy + Ah,» (6.9) sendo: H,, altura manométrica H, — =altura geométrica Ah, = perda de carga total na tubulacao (Ah, , = Ah’, Utilizando 0 método dos comprimentos equivalentes para o célculo da perda de carga localizada, a perda de carga total pode ser representada, genericamente por ah= p21, 158 ‘Andis dos stamas be recalque | Capulo 6 Portanto, numa instalacdo cuja altura geométrica, didmetro e comprimento virtual sejam conhecidos, a equaco caracteristica do sistema é dependente somente da vazao, conforme mostra a equacio (6.10) Hy, =H, +1Q” (6.10) BL, sendo 7 Dependendo da formula de perda de carga utilizada, 0s valores de re nna equacéo (6.10) correspondem a: 10,64 Para a equagéo de Hazen-Williams: 1 =1,85 aan L, Para a formula Universal: n=2 e Quando for utilizada a expresséo geral (equacao 3.26 ) para o calculo da perda de carga localizada (Ah = KU? / 2g), a equacao da curva do sistema é a seguinte: ow H, =H, +BGL+K n= Hy + Brett K oe (6.11) or, 8KQ Hy = Hy + Boeke ore H,, =H, +6Q +F,Q’ — sendo (% Portanto, a partir das equac6es (6.10) ou (6.11) e do conhecimento das caracteristicas fisicas do sistema (altura geométrica, coeficientes de perda de carga, diametros e compri- mentos da tubulacao), € possivel determinar a equacao da curva caracteristica do sistema de tubulacao e, consequentemente, tracar a curva correspondent, atribuindo-se valores a Q. 0 ponto de operacéo da bomba pode ento ser determinado pela leitura grafica das coordenadas do ponto de intersecao da curva da bomba com a curva do sistema ‘A Figura 6.8 ilustra alguns tipos de sistemas de tubulac6es e suas curvas caracteristi- cas correspondentes. Para facilidade de entendimento, foi desprezada a parcela de perda de carga da tubulac3o de succao; entretanto, para levar em conta essa tubulacao, basta considerar a tubulacdo de succao em série com a curva resultante do recalque, ou seja, somar as perdas de carga para uma dada vazo, conforme demonstrado no sistema 4 da Figura 6.8. 159 Fandamentos de Enger Mdrulics SISTEMAS CURVAS CARACTERISTICAS 1- SO PERDAS DE CARGA Him SISTEMA | u | 7 _zomea [ah ° @ 2-ALTURA GEOMETRICA * PERDAS DE CARGA| P_-“SIsTEMA = Ho " \ somsa ) . 3- SISTEMA POR GRAVIDADE 7 me BOMBA Hg Sy, TSisTEMA.» i 4- SISTEMA COM DUAS TUBULAGOES EM Hm SERIE BOMBA ‘SISTEMA |ah> hy+ah; Boast Figura 6.8 - Determinacao grafica do ponto de operacio da bomba P(Q, H.) para diversos tipos de sistemas 160 Andis dos Sswmas de ecalqu | Captulo & SISTEMAS. CURVAS CARACTERISTICAS 5- SISTEMA COM TUBULAGOES EM PARALELO | SISTEMA Hg aa, a) 204402 6-- SISTEMA DESCARREGANDO EM DOIS RE- SERVATORIOS DE NIVEIS DIFERENTES ne BOuBA! SISTEMA Ha 2} 7- SISTEMA COM ALTURA GEOMETRICA VARIAVEL ve SISTEMA = Ho, BoMeA He Figura 6.9 - Deterrinacdo grafica do ponto de operagao da bomba PQ, H.) pata diversos tipos de sistemas 161 Fundomentos de Engen Hrlca Exemplo 6.1 Certa bomba, empregada num processo industrial, possui a curva caracte- ristica H,, x Q representada na figura a seguir por “B”. Esta bomba aspira gua de um poco de succdo e alimenta um reservat6rio, no qual a press8o absoluta 6 2 atmosferas. Sabendo-se que o desnivel entre o reservatorio € 0 poco ¢ de 13,0 m e que um vacudmetro e um manémetro instalados na succdo e no recalque, bem préximos da bomba, com os centros dos mostradores nivelados, acusam as pressées de V = -0,5 kgf/cm? e M = 2,5 kgf/cm, respectivamente, pede-se a) a equacao e a curva caracteristica da tubulacao; b) onovo ponto de funcionamento da bomba, sea regulagem de um registro acarretasse um aumento de perda de carga dado por Ah“= 0,02Q? (sendo Qa vazéo em V/s e Ah” a perda de carga localizada em m) Hm (m) | | | ol wot | 0 Solucao a} Ainstalacao de um vacudémetro na succdo e do manémetro no recalque, préximos & bomba, é a maneira utilizada nas bancadas de ensaio de bombas para o célculo da altura manométrica. A aplicacéo da equacéo de Bernoulli entre os pontos (V-M) onde estao instalados estes aparelhos e as conside- rages de que a variacdo da energia cinética e a perda de carga entre esses pontos sao despreziveis permite deduzir que: Bomba Vacubmetro Manometro v w 162 Ante dos stemas da ete | Captulo § Para a altura manométrica H,,=30,0m, tem-se pela curva da bomba “B" a vaz80 Q=1015. Este ponto P, (Q=10,0 V/s; H,=30,0 m) € 0 ponto de trabalho da bomba no sistema “S,”. Assim P, é também um ponto da curva “S,” Para se obter a curva do sistema, aplica-se a seguir a equacao de Bernoulli entre os pontos (1) e (2), situados nas superficies do nivel d’agua do poco de succio (1) € do reservatério (2), assim: pas lg +~2—+ Ah, e (6.12) pos +Ah.s Na equacao anterior, fazendo H,=30m, H,=13,0m, P,%=2atm ou P,/y =20m, e P,**/y=10,0m => 30,0 =13+20-10+Ah,, oh, om Utilizando @ formula Universal para a perda de carga, tem-se Ah,» =" = 0,070 a 10,0? = Ah, = 0,070? Levando esse valor de Ah, = 0,070 @, H, = 13,0 m, P,#*hy= 20,0m, Phy = 10,0 m na equacio (6.12) obtém-se a curva do sistema de tubulago H, '3,0 + 0,070Q7 Arbitrando-se valores para Q nesta equacio, obtém-se os respectivos valores de H,,, mostrados no quadro a seguir, que permitem montar a curva do sisterna, apresentada no grafico, pela curva "S,” Qs) 00 20 40 60 80 10.0 12,0 14.0 H,(m) 23,0. 23,3 24,1 25,5 27,5 30,0 33,1 367 163 undamentos de Engenhtia Mra b) Para levar em conta o aumento de perda de carga devido @ regulagem do registro deve ser acrescida a parcela Ah”= 0,02 Q?, assim: H,, = 23+ 0,09Q° Arbitrando-se valores para Qe calculando-se 0 H,, correspondente, obtém- -se os pontos que constituem a curva "S," mostrados no quadro e grafico a seguir: QWs) 0,0 20 40 60 80 10,0 12,0 140 H.(m) 23,0 23,4 24,4 26,2 28,8 32,0 36,0 40,6 Hen (m) { 50 ~—7 1 ope 404 as) Observa-se no grafico que 0 novo ponto de funcionamento seria P(Q=9,451/5; H.,=31,1m) se a regulagern de um registro acarretasse um Exemplo 6.2 A partir das informacées contidas na figura e grafico mostrados a seguir, construir a curva da tubulacao resultante (CT112), definir 0 ponto de funcio- namento e os valores das vaz6es Q, e Q, transportadas para os reservatorios R,e R,. Considerar despreziveis as perdas de carga localizadas e continuas na succao e as localizadas do recalque aumento de perda de carga no registro dado por Ah”= 0,02Q? m. Caracteristicas Tubulacao | 1 2 : ‘Comprimento (m) 3000 2000 Diametro (mm) 250 200 Coeficiente de perda de carga da formula de Hazen-Wiliams-C__120 120 164 Anise ds temas de ecalque ICaptio 6 ta (09 sol ' ra Zom. Tuhegiot ag ae | a Tubulagho 2 oct me 7 ° 4 1, Sabo aba ho ae oo aso —ao0 Q (mem) Solucao Equacao da curva da tubulagaéo 1: 10,64 Qv® H,, =12,0+ — +”. 3000 = 12,0 + 3887Q'** ey 120” 0,25* 0257 a Equaco da curva da tubulacao 2: 10,64 _Q’ In, = 50+ ae 2000 = 5,0 + 76830" 120 02 a Pontos para 0 grafico: Q (mn) 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 Q (rm¥s) 0,0 0,0139 0,0278 0,0417 00,0556, 0,0694, 0,0833 ‘Hm, (m) 12,0 13,43 17,14 22,89 30,54 39,93 51,16, Hm,(m)} 5,0 7,82 15,16 26,52 41,64 60,21 82,40 Asoma das vazGes para uma mesma altura manométrica, obtidas nas curvas das tubulacées CT, e CT, mostradas no grafico, possibilita tracar a curva, resultante do sistema CS. A intersecdo desta curva com a curva da bomba CB € 0 ponto de funcionamento do sistema P (Q = 282 m*/h; Hm=22m). Nesta condicéo, as vaz6es que passam nas tubulacées obtidas nas curvas CT, e CT, para a altura manométrica de 22 m sao, respectivamente: Q, = 144 mh Q, = 138m*h 165 Fundentor de Engenharia Hrs Hm (mn) cra [crt ice 150 200 250 [300 350 400 450 138 144 282 Q (mh) Exemplo 6.3 ‘A especificacao de uma instalacéo elevatéria prevé a necessidade de uma bomba recalcando 35,0 m’/h de agua, numa altura manomeétrica de 17,5 m entre dois reservatérios cujo desnivel & de 12,0 m. Analisar a possibilidade de utilizago da bomba, cuja curva caracteristica H,, x Q € mostrada no grafico a seguir. Para tanto, pede-se: a) tracar a curva caracteristica H,, x Q da tubulacdo e determinar o ponto de trabalho da bomba escolhida neste sistema; b) para que a bomba em andlise atenda exatamente a especificaco, pede- -se determinar: .1) diametro do rotor da bomba, a ser obtido através de raspagem, supondo que a rotaco de acionamento da bomba seja mantida (1750 rpm); b.2)a rotacao do motor de acionamento da bomba, caso sejam mantidas todas as dimensdes da bomba; ©) tracar a curva da bomba, para a nova rotacéo do motor determinado no item b.2. Hm) 166 ‘Aras dos stmas be eae | Captulo 6 Soluco b) Para que a tubulacéo conduza o liquido nas condigées especificadas P(Q=35,0m¥h, H=17,5m)e Hy = 12,0 m, a equacao da curva caracteristica da tubulacdo deve ser H+ H, _17,5~120 35° o = 4,49 x10? => H,,= 12,0 + 4,49 x103 Q Pontos para a curva caracteristica da tubulacéo: Q (mh) 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 #H,, (rn) 12,0 12,45 1380 16,04 19,18 + -23,22,-—-28,16 Conforme mostra a figura anterior, o ponto de trabalho € a intersecao da curva da tubulacéo (CT) com a curva caracteristica da bomba (CB), ou seja, © ponto P, de coordenadas: Hem) (rm) Q= 36,5 mh e b.1) Sabendo-se que o diametro original 6 200 mm e que nestas condices ele produz 36,5 m’/h, para a producao da vazao especificada de 35,0 167 nice de Engenharia Hides m’sh, 0 novo diametro pode ser determinado, de modo aproximado, pela equacao (6.8) 2, 35, =, e- 200 )5e-5 196mm b.2) Para que a bomba trabalhe no ponto especificado P.(Q=35m*h, H,=17,5 m), a rotacdo do motor deve ser alterada. O cileulo da nova rotacéo é realizado aplicando a equacao (6.1). Entretanto, os pontos 1 e 2 para os quais essa equacao pode ser aplicada tem que ter a mesma eficigncia. Com 0 intuito de achar qual 0 ponto de mesma eficiéncia que © ponto P,, na curva da bomba a rotacao de 1750 rpm, é tragada a curva de isoeficiéncia, dada pela equacao (6.4), mostrada a seguir: 2H, =Q?/70 Arbitrando-se valores para Q, obtém-se os valores de H,, correspondentes, podendo-se tracar a curva da parabola de isoeficiéncia: Q(mh) 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 H,(m) 00 14 57 12,9 22,9 35,7 51,4 Hm (> Isoofcisneia aot ct ° CO 8 10 20 30 40 50 © Q (ith) 0 ponto P,(H,, =18,5; Q=36,0 m*/h) intersecdo da curva de isoeficiéncia com a curva CB, é 0 ponto homdlogo de P,(H,, = 17,5 m; Q= 35 m¥/h) para 0 qual se pode aplicar a equacao (6.1). a9 168 Anse dot sstemas de recslque Captlo 6 ©) Anova curva da bomba a rotacéo de 1701 rpm (CB, no grafico a seguir) & obtida através das equacées (6.1) e (6.2), ou seja: 701 afag - 12019 _ e 0, = T20,= F750) = 0.972 2 2 %) Hm, (2) Hm, = 0,945Hm, Hm, = 1750, 1 Q, (m*h) 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 H,,(m) 25,0 24,7 23,5 21,0 162 100 Q, (mh) 00 9,7 19,4 29,2 389 48,6 Ho (mn) 23,6 23,3 22,2 198 153 9,4 Hm (m) Y CBa(n = 1.701 cpm) (nim 6.3 Operacado de multiplas bombas centrifugas As exigéncias das instalagdes sao muito variadas em termos de vazdo e altura manométrica € nem sempre é possivel encontrar essas caracter’sticas em uma bomba somente. A associacéo das bombas em paralelo e em série mostradas na Figura 6.10 pode resolver este problema. O ponto de operacao do sistema é obtido pela intersecao da curva caracteristica do sistema de tubulagéo com a curva resultante da associag3o das bombas. I 169 Fundametos de Engenharia Hrs ‘Sucgio Recalque Recalque ‘Sucgao deBi deB! de B2 sucgao de Be Bombas em paralelo Bombas em série Figura 6.10 - Associag8o das bombas em paralelo e em série 6.3.1 Bombas em paralelo Aassociagao em paralelo é muito utilizada nos casos em que uma bomba somente no atende & elevatéria em termos de vazo ou quando se deseja aumentar a capacidade do sistema por partes. A curva caracteristica do sistema resultante da associacao em paralelo 6 obtida adicionando as abcissas (Q) das curvas caracteristicas de cada bomba, para uma mesma altura manomeétrica (AD = AB +AC), como mostrado na Figura 6.11. a Figura 6.11 - Cura caracterstica resultante da associacéo em paralelo das bombas B, @ 8, 6.3.2 Bombas em série ‘A associaco de bornbas em série 6 mais interessante para vencer uma altura mano- métrica muito elevada. A curva resultante deste tipo de associacao ¢ obtida somando as cordenadas (H,,) das curvas caracteristicas de cada bomba, para uma mesma vazao (AD = AB + AC), conforme mostrado na Figura 6.12. 170 ‘Ai do sitemas de ealque | Capa § Cenjunta de motobombas horizontals (Sistema Rio das Velhas, MG) - Foto: Copasa Hm Curva caracteristica resultante | {| . + | 2 | | i — jt 4 1 481. a Q Figura 6.12 - Curva caracteristica resultante da associacao em série das bombas 8, eB, 6.4 Cavitacao Cavitagdo é 0 fenémeno de formacao de cavas num liquido devido ao abaixamento da pressao, no nivel da presso de vapor. A cavitacao ¢ um processo semelhante ao da fervura, em que o liquido se vaporiza, diferindo, basicamente, pelo agente causador; enquanto na fervura o processo ocorre devido ao aumento de temperatura, com a pressao constante, na cavitacao se deve a diminuicao de pressao, com a temperatura constante m Fundementos de Engenharia Helis Assim, se a pressao absoluta do liquide em algum ponto da instalago atinge valor igual ou inferior a pressao de vapor do liquido, na temperatura do liquido em escoamento, parte deste se vaporiza, formando bolhas, com as seguintes consequéncias mais diretas: © se as bolhas formadas no processo de vaporizacao tém a pressao interna superior externa, estas se expandem até ocupar toda a secdo, interrom- pendo o fluxo do liquide; © se algumas bolhas sao levadas pelo fluxo para o interior da bomba, onde a pressSo reinante é superior & presséo interna da bolha, estas tendem a se implodir e a gua circundante é impelida para o centro da bolha, havendo um choque das particulas (golpe de ariete). Surge uma onda de sobrepress8o em direcdo contréria ao centro da bolha, podendo atingir a parede interna da bomba, danificando-a. 6.4.1 Avaliacao das condigées de cavitagéo Para nao haver cavitacéo & necessério que a pressao reinante no liquido seja superior a pressao de vapor P,, cujos valores estdo apresentados no Quadro 2.3, em funcao da temperatura, Para a analise da cavitacdo em bombas, serd aplicada a equaco de Bernoulli entre 0 pontos (0) e (1), conforme equacao (6.13). © ponto (0) esté localizado na superficie do nivel d’égua de um reservatério sujeito a pressao atmosférica e o ponto (1) corres- ponde ao local de menor pressao na instalacdo de recalque mostrada na Figura 6.13 No caso das bombas centrifugas, este ponto esta localizado na regiao de entrada do rotor, ou seja, antes de receber a energia cinética do movimento do rotor e logo apés © escoamento ter perdido carga na succao e na entrada da bomba, onde podem surgir bolhas microscépicas de gés. Estas bolhas, normalmente, sao levadas pelo escoamento para outras regides, onde a pressdo é superior a pressao de vapor, ocorrendo af o colapso das bolhas. Nas bombas centrifugas este colapso, normalmente, acontece nos canais do rotor ou logo apés o rotor, proximo a carcaca. (6.13) Considerando que: 0 Z,-Z,=h, * poco de succio esta sujeito a presséo atmosférica, ou seja, P,=P..,; * avelocidade na superficie de Agua do reservatério é desprezivel (U, =0); * aperda de carga entre 0 e 1 (Ah,,) € a soma das perdas de carga na tubulacéo de succdo (Ah, e no trecho compreendido entre o fim desta tubulacdo e a entrada do rotor (Ah*), ou seja, Ah,,,=Ah tah; m nal dos stemas de reaique | Caputo 6 * a cavitacdo inicia quando a presséo no ponto 1 é igual 4 pressio de vapor (P,=P,), a equacdo (6.13) transforma-se na equacio (6.14) que dé o valor da altura de succio, a partir da qual ha formacéo das bolhas de vapor. a pas yp? [Fey an ant (6.14) y 29 S Y Figura 6.13 - Succio de uma bomba Vale a pena ressaltar na equacdo (6.14) que somente a presséo atmosférica ter sinal positiv, mostrando que esta grandeza facilita a succSo, enquanto as demais gran- dezas, de sinal negativo, dificultam. Portanto, para que nao haja cavitacao € necessario posicionar 0 eixo da bomba numa altura inferior a altura h, dada pela expresso (6.14) Uma outra maneira de se verificarem as condic6es de cavitagdo € separando na equacao (6.14) os termos que dependem da instalacdo ou do liquide bombeado dos termos que dependem da bomba, constituindo, assim, os lados esquerdo e direito da equacao (6.15) apresentada a seguir: ss ws : Fan -(n+8 an) Sean (6.15) Y 29 O lado esquerdo da equacao (6.15), transcrito a seguir, énormalmente denominado de NPSH disponivel, ou simplesmente NPSH,¢ representa a carga existente na instalacao para permitir a succdo do fluido. 1B Ir cere eect ere cee Fandomentos de Engoneria Mla os i Pa (v2 an |= nr (6.16) v \ Y O termo NPSH, proveniente da nomenclatura inglesa, corresponde as iniciais de Net Positive Suction Head. O lado direito da equacao (6.15) recebe a denorninacdo de NPSH requerido, ou simplesmente NPSH,e & interpretado fisicarnente como sendo a carga | energética que a bomba necessita para succionar liquido sem cavitar, ou seja ve NPSH, =—-+ Ah* (6.17) 29 ‘A equacéo (6.17) mostra que 0 NPSH, depende da velocidade e, conse- quentemente, aumenta com a vazao. Os dados relativos ao NPSH, podem ser obtidos experimentalmente e sdo, normalmente, fornecidos pelo fabricante da bomba, por meio de um grafico em funcao da vazéo, cuja Ih curva tem a forma mostrada na Figura 6.14. Para utilizar as informacées de NPSH, fornecidas pelo fabricante da bomba, as equacées (6.14) € (6.15) so reescritas @ seguir, da seguinte forma: Figura 6.14 - Curva de PSH requerido versus vazao Fa (Aan nest (6.18) ¥ v ©. NPSH, = NPSH, (6.19) Em resumo, a avaliacdo das condigdes de cavitacao pode ser realizada calculando 0 NPSH disponivel para a vazdo de operacéo da bomba com a equacao (6.16), e compa- : rando com 0 valor do NPSH requerido obtido na curva fornecida pelo fabricante, para a mesma vazao de operacdo da bomba. Se o NPSHrequerido é igual ou superior a0 NPSH dispontvel na instalaco, conclui-se que deve haver cavitacao na bomba 4 Artis dos sistemas de ealqu | Capua § Quando o fabricante nao fornece a curva do NPSH versus azo, pode-se calcular um valor aproximado para o NPSH, no ponto de rendimento maximo, pela expressao: NPSH, = Ah* = 0,0012n*°Q?”? 6.20) sendo: n—_: rotagae nominal da bomba em rpm Q __: vaz8o em mis, no ponto de rendimento maximo NPSH, : carga de succo requerida pela bomba em m 6.4.2 Margem de seguranca Normalmente os liquidos bombeados nao se apresentam em uma forma pura, mas contaminados por impurezas que podem alterar a presséio na qual a cavitacdo se inicia. Um dos tipos de impureza que ocorre com frequéncia no meio liquido séo gases dissolvidos que podem provocar 0 surgimento de bolhas macroscépicas a press6es ainda superiores a pressao de vapor. Por este motivo, no caso de selecdo de bombas, & importante estabelecer uma margem de seguranca, para garantir a operacio da bomba, mesmo com liquidos impuros, sem o inconveniente da cavitacao. Na pratica, utiliza-se a margem de seguranga minima de 0,6 m do liquido bombeado, ou 20% do valor teérico. As equacées (6.21) a (6.24), mostradas a seguir, originadas das equacées (6.18) e (6.19), expressam a condicao de nao cavitar com uma margem de seguranca minima de 0,6 m do liquido bombeado, ou 20% do valor tedrico. ae ( pas h, <= -( “+ Ah, + NPSH, +0,6m 6.21) v (pa y G +Ah, +NPSH, | 622) } NPSH, —0,6m = NPSH, (6.23) NPSH, /1,2 = NPSH, (6.24) 175 I TE Fundementor de Engenharia Hides 6.4.3 Inconvenientes da cavitacao Os principais inconvenientes provenientes da cavitacao sao: * barulho e a vibracao provocados pelo colapso das bolhas; * alterago das curvas caracteristicas causada pelo surgimento de bolhas de ar no meio liquido e pela turbuléncia gerada no fendmeno; * danificacao do material na regio de colapso das bolhas. A Figura 6.15 mostra as curvas caracteristicas Hm x Qe 11x Q de uma determinada bomba centrifuga instalada em um sisterna no qual a bomba cavita para vaz6es superiores a Q,. Apartir desta vazdo, as curvas caracteristicas nao seguem mais 0 comportamento normal, apresentando uma queda substancial nos valores da altura manométrica e do rendimento. Assim, 0 ponto real de trabalho seré 0 ponto (2) e nao 0 (1) (Curva n x Q cavitando na vazdo @2 ‘Curva 1 x em condig6es normals Curva do Sistema Hmx@ Curva Hyy x Q em condigses normals ‘avitando na vazio Q, Figura 6,15 - Influéncia da cavitagao nas curvas caracteristicas de uma bomba centrifuga Exemplo 6.4 Determinar a vazao maxima permissivel de uma bomba para que néo haja cavitacéo, sabendo-se que esta opera em um sistema cujo nivel de agua no reservatorio de succao est 4,0 m abaixo do eixo da bomba. Os dados da instalagdo e a curva de variacéio do NPSH desta bomba em relacio 8 azo sao apresentados a seguir: © pressao atmosférica absoluta, no local da instalacao: 90450 Pa * temperatura da agua: 20°C © diametro da tubulagdo de succéo: 400 mm * coeficiente de perda de carga da formula Universal: 0,025 * comprimento da tubulacéo de succao: 100 m *@ pecas e acessbrios da succéo: valvula de pé com crivo curva 90° reducdo excéntrica 16 Arie ds sistemas de ecaiqu I Captlo T = 40 & % 30} 7 zg z 20 10 - oo 000 004-0082 ONG 02D HO. Q (nts) Solugio CO problema ¢ resolvido comparando 0 NPSH disponivel com 0 NPSH reque- rido, conforme indicado na expresso (6.19). 0 calculo do NPSH dispontvel 6 realizado através da equacio (6.16), cujos valores das parcelas poder ser obtidos no enunciado do problema e complementados com dados do Quadto 2.3 (y=9789 Nim e P=2335 Pa), com excecao da perda de carga na succéo que é calculada em funcéo da vazao, como demonstrado a seguir: Pas _ 90450! og ayn ” 9789N / mr h, = 40m Pp _ 2335N/m? ——_, = 0,24m y 9789N/m* A perda de carga Ah, 6 a soma das perdas de carga continua € localizada. O cdlculo da perda de carga continua serd realizado pela formula Universal (equacao 3.3) ea perda de carga localizada através da expressao geral (equa- G40 3.26), com os coeficientes obtidos no Quadro 3.9 reescritos a seguir: Fundamentos de Enger Hides valvula de pé * ctivo * curva 90° © reducao excéntrica Q Ah, = 75-987 040 013’ -2-9,81 0,40 +3,05) = 30,02Q? Levando os valores obtidos anteriormente na expressao do NPSH disponivel tem-se: -.NPSH, = 9,24-(4,0+ 0,24+ 30,020’) NPSH, = 5,00-30,02Q° Arbitrando valores para as vazées Q na equacao acima e calculando os valores correspondentes de NPSH disponivel, é possivel determinar-se a curva de variacao do NPSH, em funcao de Q e comparé-la com a curva do PSH requerido fornecida no problema, como ilustrado no grafico a seguir: Q(*4) 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,24 NPsHdim) 5,00 4,99 495 4,89 481 4,70 4,57 4,41 4,23 403 3,80 3,55 3,27 NPSH-0,6(m) 440 4,39 4,35 429 421 4.10 3,97 3,81 3,63 343 3,20 295 2.67 NPSH,/1,2(m) 4,17 4,16 413 4,08 4,01 3,92 3,81 3,68 3,53 3,36 3,17 2,96 2,73 0 grafico a seguir mostra, além da curva do NPSH, te6rica, as curvas do NPSH, com as margens de seguranca de 0,6m e 20%. A intersecéo da curva do NPSH, com a curva do NPSH,/1,2, correspondente ao ponto [1], dé a vazdo maxima permissivel desta bomba para que nao haja cavitacao nesta instalacdo, cujo valor é 0,18 mis. 178 Arie dos sistemas de ealqu | Cape NPSH (m) Exemplo 6.5 ‘A Figura 6.6 mostra as curvas (H,,, Q), (NPSH, Q) e (P, Q) de uma bomba que acionada por um motor de 1775 rpm devera operar dentro das seguintes condic6es: * Diametro do rotor @: 17 7/8” Vazao: 800 m?/h Altura geométrica: 80 m Temperatura da agua: 20°C Pressdo atmosférica local: 9,24 mca Perda de carga na succao: 10 % da perda de carga total. a) tracar a curva caracteristica do sistema; b) determinar qual € 0 novo panto de trabalho da bomba, associando outra bomba igual em paralelo; ©) tendo em vista o funcionamento de uma ou duas bombas em paralelo, determinar qual deve ser a poténcia do motor; d) calcular a altura de colocacao da bomba Solugio a) Curva caracteristica do sistema Para Q = 800 m?/h encontra-se na curva da referida bomba, com $: 17 7/8", H,, = 98m 179 undements d Engen Hires Na equacao (6.10) da curva do sistema (H,, = H, +2), com H,, = 98m, H, = 80 me Q = 800 mith, obtem-se r = 2,8 x 10%. Assim, a equacéo caracteristica do sistema é: H,, = 80 + 2,8 x 10° Q (Qem mh) Qimm) 0 200 400 600 800 100 H,(m) 80,0 81,1. 84,5 90,1 98,0 108.1 Os pontos da curva do sistema, representada por C,, estéo plotados no grafico da bomba mostrada neste exercicio b) Novo ponto de trabalho (com outra bomba igual em paralelo) Para se tracar a curva de duas bombas iguais em paralelo, basta duplicar a vazio, mantendo-se a altura manométrica, como apresentado por C,, no grafico a seguir. Na intersecao da curva C,, com a curva C, tem-se 0 novo ponto de trabalho: Q=977m%7h H,, = 106,7 m ©) Poténcia exigida pela bomba ao motor Pelo grafico tem-se: Para uma bomba (no ponto de trabalho) = Q=800 m/h =» P=320c™. ® Para duas bombas (no ponto de trabalho) =» Q=977 m*/h, sendo cada bomba responsdvel por Q = 488,5 m*/h, a poténcia exigida por cada bomba 6 P=280 cv. Nos sistemas que possuem mais de uma bomba, pode acontecer de estar somente uma bomba funcionando, como por exemplo na ocasiao da manutengéo de uma delas, assim a poténcia para especificacao deve levar ‘em conta a pior situaco, ou seja, P = 320 cxv., pois do contrario o motor poderia ser danificado. 180 ‘odie dos sstenas desig | Captlo 6 BOMBAS CENTRIFUGAS 4775 RPM CURVA DE PERFORMANCE | | | OT ye Curva do Sistema - C5 ‘Curva de 1 bomba { re zl * | ala : : | | | | 100 | | Dae ee YVAZAO (m3h) | | d) Altura de colocagao da bomba (h,) A altura de colocacao da bomba, para nao haver cavitacdo, ¢ dada pela equacéo (6.14), em que: Pp 24m Y y = 998kof /m? (ver Quadro 2.3 para T=20° C) 181 eo Fundomentos de Engenharia Wren Pes = 0,0238k9f /cm? (ver Quadro 2.3 para T=20° C) ats 238kg f/m? yy 998kgf fm PR = 238kgf/m? => 0,24m Como analisado para o caso da poténcia, a maior exigéncia por parte da bomba se dé quando a bomba esta funcionando sozinha. Essa observacdo é valida para todas as bombas centrifugas, porque a poténcia e o NPSH, so proporcionais 8 vazao. Assim, a determinacao da altura de colocagao da bomba deve ser realizada para a situacao de uma bomba funcionando, isto é: Q= 800 m'iheH, = 98m para HH, =80m = Ah=H,-H,=18 Pelo enunciado do problema a perda de carga na succéo é 10% da perda de carga total, portanto Ah,=0,10Ah = => Ah,=1,8m Levando os valores calculados na equacao (6.14) e 0 valor do NPSH, = 3,6 m, ! obtide no grafico da bomba para Q = 800 m*/h, obtém-se: h, < 9,24-(0,24+1,8 + 3,6) nee em Problemas 6.1 Uma bomba centrifuga, com as caracteristicas H,, x Q mostradas no quadro a seguit, produziu 50 V/s, quando foi instalada numa adutora que interliga dois reservatorios cuja diferenca entre os niveis de agua é 30,0 m, Apés 20 anos de funcionamento deste sistema, verificou-se que a azo havia sido reduzida para 40 /s devido ao aumento da perda de carga na tubulacao. Desprezando as perdas de carga localizadas, pede-se determinar, apds 20 anos de uso, a perda de carga continua na tubulacao ¢ 0 aumento percentual do coeficiente de perda de carga da formula Universal. 182 Anais dos sstomas de real |Coptulo 6 QWs} 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 H,,(m) 80,0 75,1 69,6 636 57,1 50,0 42,4 34,3 25,6 6.2 Uma bomba centrifuga foi testada em laboratorio numa instalacao cujo esque- ma de medigo de pressao ¢ mostrado na figura abaixo. As informacées obtidas nos testes estdo no quadro a seguir. Pede-se determinar a curva caracteristica H, x Qda bomba Manémetro metalico ° 400mm vs + 300mm = hy Teste Vazio (Us) — Mandmetro de mercirioh, (mm) Mandmetro metlico P, (KPa) 1 40,0 120 490 2 700 160 372 3 100,0 190 245 6.3 Uma bomba testada em laboratério apresentou as caracteristicas mostradas no quadro a seguir. Esta bomba deverd ser utilizada numa estacao elevatoria cuja altura geométrica € 25 m, ligada a uma adutora com coeficiente de perda de carga da formula Universal igual a 0,025 e extensdo de 3556 m. As pecas, conexdes € aparelhos provocam uma perda de carga localizada de 10 U/2g. Pede-se selecionar 0 didmetro da tubulagio para permitir 0 escoamento de 80 is e calcular a poténcia consumida. \Vazao (Vs) 0 20 40 60 80 100 120 Altura manomeétrica(m) 60 59 57 52 45 35 22 Eficiéncia (96) eat 2 eee ee 7 obeee 09) 154) 6.4 A adutora mostrada na figura a seguir conduz 200 m*/h do reservatério R, para © R,. Objetivando aumentar esta vazéo, serd introduzida uma bomba no ponto B, com as caracterlsticas apresentadas no quadro. 183 Q(m’mh) 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 350,0 400,0 450,0 500,0 H,(m) 80,0 79,0 77,0 73,8 70,0 65,0 59,0 52,0 43,0 35,0 25,0 a) determinar a vazao transportada entre os reservatorios apds a colocacao da bomba; b) fazer um esquema mostrando a linha piezométrica entre os dois reservatérios, apos a colocacao da bomba. 6.5 Duas bombas idénticas sdo instaladas nurna adutora de 250 mm de diametro, 5 km de extensao e coeficiente de perda de carga da formula Universal igual a 0,020. Esta adutora interliga dois reservat6rios cuja diferenca entre os niveis de agua 15,0 m. Conhecendo-se as caracteristicas da bomba, apresentada no quadro a seguir, e desprezando a perda de carga localizada na adutora, pede-se a) calcular a vazio total bombeada se as bombas forem associadas em paralelo € em série; ) considerando a possibilidade das bornbas estarem associadas em série e em pa- ralelo e também a possibilidade de trabalhar somente uma bomba, qual a poténcia e NPSH maximos requeridos por uma bomba? Qimym) 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 H,(m) 80,0 79,0 77,0 73,8 70,0 65,0 59,0 52,0 43,0 35,0 25,0 NPSHim) 0 04 09 15 24 38 52 7,1 8&8 11,0 14,0 Pl) - 41 43 50 58 73 89 103 122 140 160 6.6 A curva caracteristica de duas bombas iquais associadas em paralelo apresenta 08 seguintes dados: QWs) 0,0 2.0 40 60 80 10,0 12,0 140 H,(m) 15,5 15,2 146 134 12,0 100 7.6 44 Com um desnivel geométrico de 6,0 m, as duas bombas ligadas recalcam 10 Vs sob a altura manométrica de 10,0 m. Qual a altura manométrica e qual a vazao de apenas uma bomba ligada? 184 nie dos ssteras de rca Cape 6 6.7 Ainstalagao de recalque, mostrada na figura a seguir, possui duas bombas iquais associadas em paralelo, No grafico abaixo séo apresentadas as seguintes curvas caracteristicas, relacionadas a instalacao mostrada na figura anterior: C,_1 curva resultante de duas bombas iguais em paralelo; C, : curva caracteristica da tubulacdo 1; C, : curva caracteristica da tubulacao 2 Hm (m) Pede-se determinar: a) a vazéo em cada tubulagao com as duas bombas ligadas; b) a vazdo em cada tubulacéo com apenas uma bomba ligada; ©) © ponto de funcionamento estando as duas bombas ligadas; d) avazao na tubulacao 2, caso 0 registro da tubulacao 1 fosse totalmente fechado as duas bombas funcionando; e) o novo ponto de funcionamento, caso 0 desnivel fosse reduzido para 20,0 m. 185 Fandementoe de Engenhata dru 6.8 Certa instalacao elevatoria recalca 700 m’/h de agua, dentro das seguintes con- digdes. * Altura geométrica: 40,0 m * Presséo atmosférica: 9,0 mca Densidade da agua: 0,996 Pressao de vapor: 0,043 kgf/cm? Perda de carga na succao: 8 % da perda de carga total. a) determinar a altura maxima de succdo, para a bomba, cujas curvas caracteristicas, (H,, Q)e (NPSH, Q) esto mostradas na Figura 6.6, com rotor de diametro igual a 14”; ») calcular 0 novo ponto de operacéo dessa bomba, caso a perda de carga no sisterna de tubulacao aumentasse 20%. 6.9 Uma bomba movida por um motor de 3500 rpm deve trabalhar num sistema cuja altura maxima de succao é 2,0 m. Verificar se esta bomba cavita ao trabalhar com uma vazéo de 10 Us, sabendo-se que este ponto corresponde a sua melhor eficiéncia Considerar: pees Y 9,8mca Pv ¥ ,2mca * Diémetro da suc¢do: 100 mm * Comprimento da tubulacao de succao: 7,0 m * Coeficiente de perda de carga da formula de Hazen-Williams: 130 Desprezar as perdas de carga localizadas. 6.10 Uma elevatéria est sendo projetada para recalcar 500 m’/h, a uma altura geométrica de 30,0 m, através de uma adutora de 400 mm de dia- metro, 12 km de comprimento e coeficiente de perda de carga da formula Universal igual a 0,022. A perda de carga localizada prevista 6 de 10L7/2g. Visando aproveitar uma bornba existente, cujas caracteristicas, a rotacao de 1800 rpm, sao mostradas no quadro a seguir, pede-se’ a) 0 ponto de trabalho; {CF ) determinar a rotacéo para que a bomba trabalhe exatamente com a vazao de projeto. Qimyh) 0100 200 300 400 500 600 H,(m) 120-119 115 409 100 87 70 186 Capitulo 7 Caracteristicas basicas dos escoamentos livres No presente capitulo sdo estudadas as. caracteristicas fundamentais dos escoamentos livres, bern como dos condutos usualmente utilizados. Analisam-se também as distribuicées de velocidades e presses associadas a este tipo de escoamento. 7.1 Escoamentos livres e forcados © escoamento livre, ou escoamento em canais abertos, é caracterizado pela pre- senca de uma superficie em contato com a atmosfera, submetida, portanto, a pressdo atmosférica. Assim, a passo que nos escoamentos em condutos forcados as condicoes de contorno sao sempre bem definidas, nos escoamentos livres estas condicoes podem ser variévels, no tempo € no espaco. ‘Além disto, a extrema deformabilidade da superficie livre dé origem a uma série de fendmenos desconhecidos nos condutos forcados, tais como o ressalto hidréulico € 0 remanso, que sero estudados nos préximos capitulos, Um outro aspecto importante que deve aqui ser realcado é a maior variabilidade, tanto quanto a forma quanto & rugosidade das paredes dos condutos, em contraposicao & maior uniformidade observada nos condutos utilizados nos escoamentos em carga Este aspecto contribui, também, de forma significativa, a uma maior complexidade nas formulacdes mateméticas relativas aos escoamentos livres Apesar destas diferencas entre dois tipos de escoamento, os principios basicos que regem os escoamentos livres $40 essencialmente os mesmos daqueles referentes aos escoa- mentos forcados. Assim, as equacdes fundamentals s80 as seguintes, j4 vistas no Capitulo 2: Fundomantos do Engeahaci Hee | ® Equaco da continuidade, traduzindo a conservacao da massa: Q=4 =AU; 1) * Equacéo correspondente ao teorema de Euler, traduzindo a conservacao da quantidade de movimento: B= oo{9,0:-0,0) 7.2) * Equacdo de Bernoulli, traduzindo a conservacéo da energia 2 2 ay tase aby tas Seah (73) Nestas equacées, ter-se © Q: vazdo, em miss; * A: area, em m* U: velocidade média, em mis; R: forca resultante, em N; p: massa especifica, em kg/m? B: coeficiente de Boussinesq; Z: cota do fundo, em m; y: profundidade, em m; 0: Coeficiente de Coriolis; * g: aceleracao da gravidade, em m/s?; © Ah: perda de carga, em m. Curso d'agua natural: escoamento livre 188 Caractere bias dos exoamente ares |Capulo 7 “Exemplo 7.1 Um canal retangular com base de 5 m transporta uma vazao de 10 m?/s entre os pontos 1 e 2, em uma extenséo de 1 km e desnivel de 13 m Sabendo-se que a profundidade a montante é de 1 m e a velocidade a jusante é igual @ 3 m/s, pede-se calcular a perda de carga total entre o inicio e 0 término do canal. Solucdo Aplicando a equacéo de Bernoulli entre o inicio ¢ 0 final do canal, adotando 0 datum pasando pelo ponto 2 e supondo at, €«., = 1,00 pode-se escrever: (2, + y)+U? 12g) ~(2, + YoU; 12g) = Ah (13,00 +1,00+U? /2g)—(0,00+ y, + 3,00" / 2g) = Ah Para determinar U, ¢ y,, pode-se aplicar a equacao da continuidade: => U, = QUA, = (10,00 m/s) / (5,00 m . 1,00 m) = 2,00 mis = A,= QIU, = y, . 5,00 m = (10,00 m*/s) / 3,00 mis = y, = 0,67 m Portanto: Ah=(13,00+1,00+ (2,00) / 2g) (0,00 +0,67m + 3,00? / 2g) =13,07m 7.2 Parametros geométricos e hidraulicos caracteristicos Conforme dito anteriormente, as condicdes de contorno nos escoamentos livres podem apresentar-se de forma extremamente varidvel. Em funcao da geometria da secdo da profundidade de escoamento, pode-se definir um certo numero de parametros, que tém grande importancia e séo largamente utilizados nos célculos hidraulicos. 189 Fundomentos de Enger Meus Figura 7.1 - Pardmetros hidraulicos fundamentals das secoes transversais Estes parémetros hidrdulicos fundamentais relativos a uma secao transversal S80 essencialmente os seguintes: * Seco ou Area Molhada (A): parte da seco transversal que ¢ ocupada | pelo liquido; * Perimetro Molhado (P): comprimento relativo ao contato do liquido com 0 conduto; * Largura Superficial (B): largura da superficie em contato com a atmosfera; * Profundidade (y): altura do liquido acima do fundo do canal; 1 © Profundidade Hidrdulica (y,): razao entre a Area Molhada e Largura Superficial: Vp =AIB (7.4) * Raio Hidrdulico (R,): razao entre a Area Molhada e o Perimetro Molhado: R,= AIP (7.5) Este ultimo pardmetro constitui a dimensao hidréulica caracterfstica, utilizada para i 0 cdlculo do numero de Reynolds. A profundidade y muitas vezes é assimilada a uma altura de escoamento perpen- dicular a0 fundo do canal, designada por “h”. Nas condic6es usuais de declividades reduzidas, como seré visto ulteriormente, pode-se frequentemente tomar as duas gran- dezas como equivalentes. 190 onesie iii Caracas bisa ds escoamentas es | Captlo 7 Para algumas secoes, de forma geométrica definida, esses elementos podem ser analiticamente expressos em funcdo da profundidades da agua, conforme Quadro 7.1 onde so apresentadas as caracteristicas geométricas fundamentals das secbes mais comumente usadas na hidrdulica dos canais abertos. Quadro 7.1 — Parametros caracteristicos de algumas segdes usuais A Perimetro Ral Largura—Profundidade aa Molhado __Hidréulico Superficial Hidraulica by bea oly b y (b+2yyy (o+2y)y be beayyiee bray GtBy (wey y Te y ze ane aS ay sy 0,125(-sene)F 95eD 0,25 [> avy@-v ornsfsrts)o woe ge Ff bservacio: angulos em radianos 191 I undementos de Engenharia Mérulce Exemplo 7.2 Caleular 0 Raio Hidréulico e a Profundidade Hidréulica do canal trapezoidal da figura, sabendo-se que a profundidade do fluxo € de 2m. Solugao Sendo 0 parametro Z igual a 4,0, pela tabela 7.1, tem-se: A=(b+zy)y = (4,00 m +4 x 2,00 m) x 2,00 m = 24,00 m* +2y (1422)? =4,00m +2x2,00mx (1 + 4) = 20, 49m +2zy=4,00m+2x4x2,00 m= 20,00 m Em termos de utilizacdo pratica, as secées trapezoidais sdo bastante empregadas em canais de todos os portes, com ou sem revestimento, Da mesma forma, as secbes retangulares tém também emprego bastante amplo, sendo, no entanto, construdas em estruturas rigidas, de forma a garantir a estabilidade das secées. Para a conducéo de vaz6es mais reduzidas, empregam-se as sec6es circulares, de uso comum em redes de esgoto, redes de Aguas pluviais e em bueiros. Da mesma forma, as secbes triangulares 40 utilizadas em canais de pequenas dimensoes, tais como as sarjetas rodoviarias e urbanas. Maiores detalhes tecnolégicos relativos aos tipos de secées e revestimentos adotados na Engenharia Hidraulica serdo vistos no Capitulo 13. Para a caracterizacdo das sec6es triangulares e trapezoidais, pode-se introduzir um parametro geométrico "2", conforme pode ser visto no Quadro 7.1, referente a inclina- Gao do talude, correspondente a razao entre as dimensbes horizontal e vertical deste. Para secoes irregulares, como as dos canais naturais, estas relacdes analiticas nao podem usualmente ser estabelecidas. Eventualmente pode-se tentar ajustar curvas para representar estas relac6es, como parabolas, para cursos d’agua de pequenas dimensoes. Ainda no que diz respeito aos canais fluviais naturais, trabalha-se frequentemente com as chamadas Secdes Retangulares Largas, que sao utilizadas para cursos d’agua de grandes larguras e pequenas profundidades. Assim, supde-se que a profundidade 6 192 Caracerstcs biscas dos escoamantos aes | desprezivel em relacao & largura do curso d’dgua, ou seja, 0 perimetro molhado pode ser assimilado a largura, obtendo-se’ => Rh uy P (7.6) Quando a seco do conduto é constante ao longo de toda a sua extenséo, diz-se que © canal é prismatico. Os canais e condutos prismaticos so 0s Unicos que nos permitem obter um escoamento uniforme, ou seja, com profundidades constantes ao longo do escoamento, para uma dada vaza0, como serd visto posteriormente. Tendo em vista que 0 escoamento livre se processa exclusivamente em funcao da gravidade, os desniveis desempenham um papel primordial no seu estudo, sendo que a decli- vidade ()) corresponde ao parametro caracteristico. As declividades so, evidentemente, adimensionais, expressas em “metro por metro” [m/ml, correspondendo a razo entre o desnivel e a distancia horizontal. € bastante usual, também, a notagio das declividades em “porcentagem”. Assim, uma declividade de 4%, por exemplo, correspondente a uma declividade de 0,04 m/m, est associada a um desnivel de 4 cm para cada metro percorrido ‘no sentido horizontal. 7.3 Variagéo da pressao No que diz respeito a variacdo da press8o na secao transversal, pode-se dizer, ini- cialmente, que esta assume aqui uma maior importancia do que no caso dos condutos forcados. Com efeito, considera-se, em geral, a pressao reinante nos condutos forcados igual em todos os pontos da secéo, tendo em vista as dimens6es dos condutos, em geral reduzidas, comparadas com as cargas piezométricas reinantes. No caso dos condutos livres, esta consideracao nao pode ser efetuada, ‘Assim, nos escoamentos livres, a diferenca de presses entre a superficie livre eo fundo no pode ser desprezada, pois nao considerando interferéncias devides a turbulén- cia, constata-se que a presso em qualquer ponto da massa liquida é aproximadamente proporcional 8 profundidade, ou sea, a distribuicéo da pressao na secao obedece a Lel de Stevin, relativa a distribuicao hidrostatica de presses, como pode ser visto na Figura 7.2 Figura 7.2 - Distribuigto de presses no escoamento uniforme e gradualmente variado 193 Funéomentos de Engen dria Nestas condicoes, pode-se assumir que: P=yh an onde: ‘P: presséo; +f. peso especifico do liquide; h: profundidade do ponto considerado. Na realidade, a hipétese de distribuicéo hidrostatica de press6es ocorre apenas quando inexistem componentes de aceleracao no sentido longitudinal, ou seja, quando observam-se linhas de corrente retilineas, caracterizando o chamado Escoamento Paralelo. Esse tipo de fluxo, a rigor, ocorre apenas em situacées de escoamento uniforme. Toda- via, para objetivos praticos, pode-se considerar também os escoamentos gradualmente variados como sendo paralelos, ou seja, assume-se também para estes uma distribuicao hidrostatica das pressdes. Nos escoamentos bruscamente variados, quando a curvatura das linhas de corrente ] no sentido vertical € significativa, caracteriza-se o Escoamento Curvilineo, observando-se i uma alteracdo na distribuico hidrostatica das press6es. Com efeito, em escoamentos curvos, convergentes ou divergentes, observa-se a presenca de forcas inerciais, que co- respondem as aceleragbes tangenciais e normais, que alteram a distribuicso hidrostatica de pressoes, conforme pode ser visto na Figura 7.3. CO) Figura 7.3 - Distribuigdo de presses nos escoamentos curvilineos De fato, em perfis convexos constata-se uma redugdo da pressao hidrostatica. Por outro lado, no caso de perfis céncavos, observa-se uma sobrepressao adicional. Deve-se entao introduzir correc6es nos valores da presséo hidrostatica através da seguinte expres- so (Graf, 1993): P'=P+AP 78) onde; (7.8a) 194, coractertcasbscas ds excoaments Ives | Capito 7 sendo: : pressao resultante, devidamente corrigida; P: pressio hidrostatica; 7. peso especifico; +: profundidade; g: aceleracao da gravidade; U: velocidade média; r: raio de curvatura do fundo, considerado positivo para fundos concavos € negativo para fundos convexos. Um outro aspecto que deve ser considerado aqui diz respeito ao efeito da declividade na distribuigéo das press6es. Com efeito, para canals com declividades, a distribuigéo de press6es afasta-se da hidrostatica, como pode ser visto na Figura 7.4, relativa a um canal de largura unitéria e inclinacao @, em condicées de escoamento uniforme. t. Figura 7.4 - VariagSo da distrbuicdo das pressGes em canais com decividade Nestas condic6es, a pressdo no ponto B da Figura 7.4 é dada pela seguinte expres- séo, segundo Chow (1959): P, =yycos’ 79) Esta pressdo € denominada pseudo-hidrostatica, diferindo da hidrostatica apenas pelo fator cos’8. Com o aumento da declividade, o fator cos cresce, tornando a dife- renca mais significativa. Em canais com declividades inferiores a 0,1 m/m, a diferenga seria menor do que 1%, tornando, portanto, realista desprezar-se essa correcao no desenvolvimento de calculos praticos em Hidraulica. Pode-se introduzir um critério de declividade para distinguir dois tipos de canals e, consequentemente, as simplificacoes passiveis de serem consideradas: * canais com deciividade reduzida (1 < 10%), onde pode ser considerada a distribuicao hidrostatica de pressoes; * canais com grandes declividades (I > 10%), para os quais € necessério considerar-se a distribuigéio pseudo-hidrostitica de pressoes, 195 Fundamantos de Engentaia Mics A Figura 7.5, apresentada a seguir, ilustra a distribuicao de press6es no escoamento em um vertedor, evidenciando zonas de subpressao (crista), sobrepressao (pé), bem como a distribuicdo pseudo-hidrostatica ao longo da sua calha. E € importante salientar que a subpressao observada na crista pode levar, eventual- mente, a valores de pressdo efetiva inferiores & atmosférica, conduzindo a problemas de cavitacdo e consequente desgaste da estrutura. Da mesma forma, elevados valores de sobrepressao observados no pé do vertedor podem também conduzir a deterioracao estrutural. Figura 7.5 - Distribuicao de pressGes ao longo de um vertedor Fonte - Adaptado de Crausse, 1951. Exemplo 7.3 Durante uma cheia, um vertedor de altura igual a 8,00 m e largura 5,00 m descarrega uma vazo de 22,00 m?/s, Os raios de curvatura do vertedor nos pontos A e C (ver Figura 7.5) so, respectivamente, 1,20 m e 4,00 m. A calha (ponto 8) tem uma inclinacéo de 90%. Sabendo-se que no panto A a lamina d’4gua atinge 1,40 m de altura, e nos pontos B eC as velocidades de escoamento s80 9,00 rms e 13,00 ms, respectivamente, pede-se calcular a pressdo hidrostatica nestes trés pontos. 196 aracterbtcas bscas ds escoamentos Ives | Captulo 7 Solugdo © Secdo A: P’ + (yh/g)(e/1) P = yh = (9810 Nim’). (1,40 m) => P= 13734 Nin? U= QUA = (22,00 m’/s) / (1,40 m. 5,00 m) =» U=3,14 mis P’ = 13734 + (9810. 1,40 / 9,81).(3,14 | -1,20) P’ = 13734-11502 => P’=2232 Nim? «© P!= 2,23 KN/ m? © Sedo B: 1=90% = 0=42" Q=UA= A = QIU = (5,00 m) h = (22,00 mils) /(9,00 mis) =» h=0,49m P=yh. coke P 9810. 0,49. cos?(42°) => P’=2654 Nim? = 2,65 KN /m? * Seco C: Q=UA = (22,00 mls) = (13,00 mis). (5,00 m). h=> h=0,34m P=yh => P=9810.0,34 = P= 3335 Nim’ Pi =P+(yh/g)(U2/1) => P’ = 3335 + (9810. 0,34 /9,81).( 13,00? / 4,00) => P= 17700Nim? e& P’ =17,70KN/ m? Em sintese, pode-se dizer que usual mente trabalha-se com a hipstese de distribui- «Go hidrostética de presses nos escoamentos em canais com fundo plano e pequenas declividades. As consideracées desenvolvidas ao longo deste texto referem-se, sobretudo, a canais nestas condicdes, de uso bastante frequente na Engenharia Hidraulica 197 Fundsmentos de Engenharia Widen A Variacdo da velocidade Nos condutos livres, a presenca de superficies de atrito distintas, correspondentes as interfaces liquido-parede e liquido-ar, acarreta uma distribuicéo nao uniforme da velocidade nos diversos pontos da seco transversal. O esquema apresentado na Figura 7.6 ilustra a distribuicao das velocidades em uma seco de curso d'agua, podendo observar-se © aumento da velocidade das margens para 0 centro e do fundo para a superficie, em fungao do aumento da distancia do tubo de corrente em relacdo a superficie de attito Figura 7.6 - Esquema da dstribuicao das velocidades em um curso d'égua Na Figura 7.7, ilustra-se a distribuig&o de velocidades nas secdes transversais através das Isdtacas, ou seja, das curvas de igual velocidade, em algumas secdes usuais artificiais, Canal trapezoidal Canal triangular Canal circular Canal retangular Figura 7.7 - Distribuicéo da velocidade em diferentes secbes artifciais Fonte - Adeptato de Chow, 1959, 198 ‘Caracas Bascas os escoaments tes Captulo 7 Em canais naturais, a distribuicao das velocidades é mais complexa, como pode ser visto na figura apresentada a seguir, onde se pode visualizar a distribuicdo das velocidades em uma seco transversal do rio Amazonas, medida quando de uma vazao de 270.000 m*s. 242830 2828 2 Figura 7.8 - IsOtacas observadas no rio Amazonas, no estreito de Obidos Fonte - Cristofolett, 1988. Em canais curvos a distribuicéo das velocidades é ainda mais complexa, constatando-se a presenca de correntes secundarias, que originam velocidades de escoamiento no plano da seco De forma geral, no sentido horizontal as velocidades em uma seco vo de valores nulos, junto as margens, a valores maximos nas proximidades do centro do escoamento, conforme pode ser visto nas Figuras 7.6. 2 7.8. J4 em uma vertical, o perfil de distribui- 0 das velocidades ¢ aproximadamente logaritmico, conforme ilustrado na Figura 7.9, indo de um valor nulo, junto ao fundo, até um valor méximo logo abaixo da superficie, entre 5% e 25% da profundidade. O valor da velocidade média, designada por U, corres- ponde, aproximadamente, a média aritmética das velocidades medidas a 20% e 80% da profundidade, podendo também ser considerado aproximadamente igual a velocidade observada a 60% da profundidade. Figura 7.9 - Perfil das velocidades en uma vertical Tendo em vista o exposto pode-se afirmar que a distribuicao das velocidades em uma secdo é bastante complexa, implicando na necessidade de um tratamento matematico tridimensional para sua adequada descricéo. Estas condicdes acarretariam, evidentemente, dificuldades operacionais relativas aos cdlculos praticos em Engenharia Hidraulica. Fundamentos de engenala Hrs Assim, para levar em conta as irregularidades da distribuicdo das velocidades nas segdes sem, no entanto, adotar uma abordagem tridimensional complexa, pode-se trabalhar com as velocidades médias nas equacdes de Bernoulli e do Teorema de Euler, utilizando os coeficientes de Coriolis (a) e de Boussinesq (B), adimensionais ja vistos anteriormente. As express6es de cdlculo destes coeficientes sd0 as sequintes vdA (7.10) awk WA 2 6 Naa 7.11) WA Esses adimensionais sao, portanto, sempre superiores ou iguais a unidade, sendo que © valor unitario corresponde a situacao de velocidade constante em toda a seco, Para canais prismaticos, os valores de B obtidos experimental mente sao compreendidos entre 1,02 e 1,12 @ os valores de a. situam-se, frequentemente, entre 1,03 e 1,36, segundo Chow (1959), podendo eventualmente atingir valores superiores a 2 A determinacao das velocidades em uma secao s6 é possivel através de medig6es diretas, sendo efetuada usualmente com o uso de aparelhos denominados molinetes, que associam a velocidade de escoamento a rotacao de uma hélice. Atualmente estéo disponiveis equiparnentos mais modernos para medicao de velocidade, baseados na reflexdo de ultrassons e raios laser. Essencialmente determina-se a velocidade em diversos pontos em uma vertical, associando a cada ponto medido uma area de influéncia. A velocidade média e a vazio podem ser entéo calculadas de acordo com as seguintes expressoes: Molinete 200 cas bccas dos excosments ies | Capito 7 A=dA (7.12) e=dVA 7.13) u=ayY (7.14) Ainda, a partir de medigdes de velocidades nas sec6es pode-se também calcular ave B pelas seguintes expressbes, obtidas a partir da discretizacao das equac6es (7.10) e (7.11): mwa (7.15) o OFA 2 via (7.16) fo WA Supondo uma distribuicao logaritmica das velocidades em uma vertical, 0s coeficien- tes 0. e B podem ser expressos em funcao de uma relacao entre as velocidades rédias e maximas em uma secdo de acordo com as seguintes expressdes: a =1438?—267 7.17) Bolte? (7.18) Nestas expressbes e pode ser calculado pela seguinte expresso (7.19) onde V,,,, corresponde @ velocidade maxima e U a velocidade média na secéo Exemplo 7.4 Em um canal retangular, com lamina d’égua de 1,50 m de altura, foram efetuadas medicdes da velocidade de escoamento @ 0,30 e 1,20 m de profundidade, obtendo-se respectivamente 1,50 e 0,90 m/s. Sabe-se que a velocidade superficial & de 1,40 m/s e supondo-se que a velocidade maxima seja 15% superior a esta, pede-se calcular para esta secao os parametros ae B. 201 Fundaments de Engenhais Waren Solugéo As medic6es a 0,30 e 1,20 m, correspondem a 20 e 80% da profundidade do fluxo (1,50 m), logo a velocidade média na secéo sera a média das velocidades medidas: U=(Vyyy, + Vagy,)12 = (0,90 + 1,50)/2 = U=1,20 mis V, 60 mis 1,15. (1,40 mis) £=(V,,,/U)- 1 = (1,60 mis) /(1,20 mis)-1 => © = 0,333 Botte = 1+(0,333¥ > B=1,11 = 1+ 3e?-2e? = 1 +3 (0,333F - 2 (0,333) > a= 1,26 Tendo em vista a frequente dificuldade pratica de dispor de valores reais de ae B, adotam-se, usualmente, valores iguais 8 unidade para os dois parametros, o que implica a consideracao de uma velocidade média constante em toda a seco. Essa suposi¢ao, a rigor incorreta, pode ser considerada valida como uma aproximacdo, tendo em vista que as equacoes de conservacao da energia e da quantidade de movimento sao utilizadas, frequentemente, para efetuar balanco entre secdes nao muito diferentes geometricamente e, portanto, com valores de o: e B préximos. Cabe ressaltar, no entanto, a necessidade de ter sempre ern mente a possibilidade de tratar situacées com valores de parametros significativamente varidveis, o que forca a utilizagéo de valores diferentes da unidade. Problemas 7.1. A galeria da avenida Alvaro da Silveira, situada na regiéo da Pampulha, em Belo Horizonte, foi implantada em concreto moldado in loco, de forma retangular com largura de base de 4,50 m. Sabendo-se que ela deverd funcionar com uma profundidade de fluxo 1,60 m e que a velocidade mécia de escoamento prevista é de 3,20 m/s, pede-se calcular a vazao transportada. © 7.2 Caleular os parametros hidréulcos caracterstcos de um canal trapezoidal de largura de base de 3,00 m, taludes laterais com Z = 1,5 e profundidade 2,60 m. Calcular também a velocidade média de escoamento, supondo que ele transporta uma vazao de 60 m*/s nas condicdes de projeto. Ceracerstcas bises dos escoamentos les | Capo 7 7.3 A adutora do Sistema Rio das Velhas, implantada para abastecimento de agua da cidade de Belo Horizonte, possui um trecho em canal, com seco circular em concreto liso, com diémetro interno de 2,40 m, assentado com declividade de 1%. Determine a velocidade de escoamento para a condicao de funcionamento corres pondente a meia secao e vazio de 6 mvs. 7.4 Foram efetuadas medicbes de velocidades em um curso d’agua, como indicado na figura. Pede-se calcular os pardmetros hidrdulicos caracteristicos da seco, a vazéo, a velocidade média, os coeficientes ae B, bem como a soma das cargas piezométrica e-cinética na secéo. k fe ale tim, -afe- 3im. a 9m, 7.5. Refazer 05 calculos dos coeficientes a e do problema 7.4, adotando as express6es (7.17), (7.18) e (7.19) e assumindo V,,,, = 2,2 rv. 7.6 Foram medidas as velocidades de escoamento em diversas profundidades em um canal retangular largo, conforme tabela a seguir: y(m) oO 0,2 0,4 0,6 — 0,8 (superficie) U(ms) 0 0, 5 6 Adotando-se uma ponderacao pela area associada a cada velocidade, pede-se calcu- lar a vazao especifica (vazao por unidade de largura) e a velocidade média na secao. 7.7 Determinar os parémetros caracteristicos (A, P. B, y, Rh, yh) da travessia rio Jacaré, na rodovia Ferndo Dias a partir da seco esquematizada abaixo. Supondo que a velocidade média de escoamento é de 2,50 m/s, calcular a vazao maxima passivel de ser escoada sob a ponte. A viga (longarina) da ponte possui uma altura de 1,50 m. 7.8 Um canal de irrigacao, inicialmente com secéo retangular (secdo 1) ¢ posterior mente trapezoidal, com taludes inclinados de 45° (secao 2), conforme indicado nas figuras, é implantado com as cotas de fundo de 818,00 m e 812,50 m, respectiva- mente, Pede-se: 203 Fundamonict de Engenharia a) calcular a vazéo transportada, supondo escoamento permanente com a profun- didade de 3,00 m na segio 2; b) definir o Coeficiente de Coriolis para as secdes 1 e 2, conhecendo-se as velo- cidades médias nas subareas indicadas na secdo 2 e supondo-se que a velocidade média de 2,75 m/s € constante em toda a secao 1; total entre as secdes 1 € 2. 10m segho 1 sEgHO2 ©) determinar a pressao no fundo do canal na seco 1 e calcular a perda de carga 7.9 Deduzir a expressao (7.9). 204 Capitulo 8 Energia e controle hidraulico Neste capitulo séo analisados aspectos ligados a energia nos escoamentos livres, com a definigdo dos regimes de escoamento e a introducso da nocao de controle hidraulico. As transicées em canais retangulares s80 também aqui tratades 8.1 Regimes de escoamento Conforme visto anteriormente, a energia correspondente a uma secao transversal de um canal é dada pela soma de trés cargas: Cinética, Altimétrica e Piezométrica: wv H=zt+ytae 1) 29 Como efetuado por Bakhmeteff, em 1912 (Chow, 1959), pode-se considerar a quantidade de energia medida a partir do fundo do canal, obtendo-se a expressao da energia especifica, que corresponde apenas & soma das cargas cinética e piezométrica 2 UF E= aoe (8.2) Veg Adotando a. = 1, como visto no Capitulo 7, e substituindo a velocidade média pela vazao através da equacdo da continuidade, pode-se escrever: @ 2gA? E=y+ 63) Fundamentor de Engenharia Mids Considerando a rea como uma funcao da profundidade, pode-se entéo constatar que a energia especifica é uma funcao apenas de y, para uma dada vazéo: ays 8.4) PY To ‘ Assim, fixando-se uma vazdo, pode-se dizer que a energia especifica € a distancia vertical entre 0 fundo do canal ea linha de energia, correspondendo, portanto, & soma de duas parcelas, ambas func6es de y: E=E,+E, sendo EBay o Oat Pode-se representar graficamente a energia especifica em funcao de y: VPE, @ o © Figura 8.1 - Obtencéo de curva de energia especifica Apartir da Figura 8.1 pode-se constatar que a energia especifica nao é uma funcao monétona crescente com y; existe um valor minimo de energia, que corresponde a uma certa profundidade, denominada Profundidade Critica - y.. A energia correspondente a y, 6 chamada de energia critica -E. ‘Assim, para um dado valor de energia, superior aE, existem dois valores de pro- fundidade, y, e y, denominadas Profundidades Alternadas. Pode-se entéo dizer que existem dois regimes de escoamento, denominados Regimes Reciprocos. O escoamento que ocorre com y, denomina-se escoamento Superior, Tranquilo, Fluvial ou ainda Sub- critica. O escoamento correspondente a y, denominado Inferior, Rapido, Torrencial ou Supercritico. © escoamento que ocorre com yy, ¢ denominado Critico. ‘A expressao da energia especifica (8.4) conduz a uma equacdo de terceiro grau. Assim, para um dado valor de energia, duas das raizes que satisfazem a equacao cor- respondem as profundidades subcritica e supercritica jd vistas. A terceira raiz apresenta valor negativo, nao possuindo, portanto, significado fisico Da mesma forma pode-se também introduzir 0 conceito de Declividade Critica Com efeito, pode-se supor, inicialmente, uma vazo constante escoando em um canal prismético com uma profundidade superior a critica. Ao aumentar a declividade do 206 Energia controle hire Caprule 8 canal constata-se um aumento da velocidade de escoamento. De fato, pela equacso da continuidade, a esse aumento de velocidade corresponde uma reducao da secao molhada, ou seja, uma reducao da profundidade de escoamento, podendo-se chegar a um ponto em que a profundidade atinge o valor critico. Tem-se entao, nesta situacao, a Declividade Critica - Ic. A declividade critica, portanto, é aquela que conduz 4 pro- fundidade critica. Declividades superiores a essa serao declividades supercriticas, pois conduzem a profundidades de escoamento inferiores a critica, y Fr=1 Assim, o ntimero de Froude igual é unidade corresponde a energia especifica minima, dEidy igual a zero, ou seja a0 regime critico de escoamento. Energia econo idkdulco | Capo 8 Analisando-se a variagéo de dE/dy e as diferentes profundidades de escoamento possiveis (Figura 8.1), tem-se: V< Ye = dE/dy F,>1 Y> Yo = E/dy >0=1-F? >05F <1 Desta forma pode-se constatar que o numero de Froude caracteriza o regime de escoamento. Quando Fr < 1, tem-se o regime Subcritico; para Fr > 1, estarernos em regime supercritico e, finalmente, Fr'= 1 implica o regime critico de escoamento, Exemplo 8.1 Determinar o regime de escoamento quanto a energia especifica nas secoes, 1. 2do exemplo 7.1 Solugéo * Secao 1 - Montante 2,00 Fr = = 0,64 = Regime Fluvial V(9,81x1, 00) ° * Secao 2 - Jusante Fr 0,17 = Regime Torrencial V(981x0,67) © nimero de Froude é um adimensional extremamente importante na Hidraulica, representando a razo entre as forcas inerciais e gravitacionais que atuam no escoamento. Assim, se houver uma preponderancia das forcas gravitacionais, tem-se que o denomi- nador é maior do que 0 numerador na equacao (8.5). Neste caso, Fr< 1 € 0 regime 6 Fluvial. No caso de preponderancia das forcas inerciais, tem-se o numerador maior do que o denominador na equacao (8.5), ou seja, Fr > 1, sendo, entao, 0 regime Torrencial Pode também ser efetuada uma interpretacao energética para o numero de Froude. Assimilando-se o termo Ua energia cinética e o termo Jay, & energia potencial, quando ocorre uma preponderancia da energia cinética sobre a potencial, ou seja, quando hou- ver um escoamento rapido, tem-se Fr > 1. Se, por outro lado, a preponderancia for da energia potencial sobre a cinética, tem-se Fr < 1. O regime critico (Fr = 1) corresponde a uma condicao de equilfbrio entre essas duas formas de energia Finalmente, uma interpretacao "cinética” do ntimero de Froude pode ser efetuada através da comparacao da velocidade de escoamento com a velocidade de propagacéo 209 Fundamentos de Engenhari dries das ondas gravitacionais (perturbacoes superficiais). Com efeito, a velocidade de propa- gacao dessas ondas, denominada Celeridade, é dada pela seguinte expresso: c= Joy, (87) Assim, pode-se escrever: pra 8) c Esta relacdo permite identificar as seguintes situac6es: © Velocidade de escoamento superior a Celeridade: = U>c=F>1= Escoamento Supercritico * Velocidade de escoamento inferior a Celeridade: =>UU=C=>Fr=1= Escoamento Critico Estas diferentes situages podem ser visualizadas na Figura 8.4. OOD - Fret Regime suberico Figura 8.4 - Regimes de escoamento e celeridade Pode-se perceber, pela figura, que as perturbag6es do fluxo propagam-se de forma diferente conforme o regime de escoamento. De fato, no escoamento subcritico as perturbacées propagam-se para jusante e montante; j4 no escoamento supercritico as perturbacées propagam-se apenas para jusante. Pode-se ainda chegar a uma primeira nocao, intuitiva, do controle hidraulico. Assim, no escoamento subcritico uma perturbacao de jusante afeta o escoamento a montante; pode-se dizer, portanto, que 0 controle do escoamento seria entéo "de jusante". Ja no escoa- mento supercritico como o escoamento seria afetado apenas a jusante da perturbacao, 200 Energia. controle htc | Capitulo ® © controle seria, entéo, “de montante”. Uma discusséo mais detalhada sobre estas questées serd vista posteriormente. Finalmente, um ultimo aspecto a tratar diz respeito a classificacdo dos regimes de escoamento. Conforme pode ser visto na Figura 8.5, os escoamentos podem ocorrer se- gundo qualquer combinacao de regimes quanto a forcas viscosas (laminar e turbulento) ¢ Gravitacionais (fluvial e torrencial), segundo os nimeros de Reynolds e Froude associados. v Torrenclal turbulent Fluvial laminae Texrecial Taminar Figura 8.5 - Regimes de escoamento quanto as forcas gravitacionais e viscosas Fonte - Adaptado de Chow, 1958, 8.3 Caracterizagdo do escoamento critico Conforme visto anteriormente, o escoamento critico é caracterizado pelo numero de Froude igual 3 unidade: Fr = Ul VOY, Assim, pode-se escrever que no regime critico tem-se: U=Joy, Fazendo y, = A/B e substituindo também U por Q/A, tem-se: am PC Fandements de Engen rules eSegle Lal 1Q?B=gA?) b) te | Vegas £ (8.9) Sabendo que A = fy) e B = g(y), 0 valor de y que satisfaz a equacao corresponde 8 profundidade critica y_. Dessa forma, para sec6es de geometria conhecida analiticamente, pode-se obter uma expresso para y... Para seces no parametrizaveis, a determinacao da profundidade critica é mais trabalhosa, exigindo um célculo iterativo. Para segdes retangulares, por exemplo, com A = By, obtém-se, a partir da equacéo (8.9) (B9 (8.10) Frequentemente, por raz6es de ordem pratica, trabalha-se com a vazéo por unidade de largura. Nestas condic6es, com a vazo especitica q (q = Q/B), expressa em [m*/s.m] ! ou [m/s], a equacao (8.10) pode ser escrita da seguinte forma: = QB =9(By.)’ = y 8.11) Pode-se definir ainda a partir de (8.5): 2 Ve gy By gy to (8.12) | Aexpressao (8.12) é bastante utlizada para andlise e célculo das sec6es retangulares, indluindo as sec6es retangulares largas, definidas no capitulo anterior. Em condig6es de escoamiento critico pode-se definir ainda a partir da equacéo (8.3): @ EoaVet ay 8.13) | 2oy: ies A partir da equacdo (8.12) pode-se escrever: Bay +A Le Te HA Como no escoamento critico Fr é igual a unidade, vem: ce SVe ee 8.14) 212 Energise conte hidrauica | Capita & Exemplo 8.2 Determinar a profundidade critica em um canal triangular, com taludes 1:1, transportando uma vazio de 14,00 m/s, Solugdo Pode-se utilizar a sequinte expressao: 2 = A g) (pressac g =F A= (2).lyl2)=~ eB =2y Assim LF 3.0? = gy ly = y2 = 20719 = y,= (2x 14,00? / 9,81)" = 2,09m 8.4 Ocorréncia do regime critico - controle Conforme visto anteriormente, a condigao critica de escoarnento corresponde ao limite entre os regimes fluvial e torrencial. Assim, quando ocorre a mudanca do regime de escoamentto, a profundidade deve passar pelo valor critico. Entretanto, esta passagem pela condicao critica se da de forma distinta de acordo com o regime inicial observado ~ fluvial ou torrencial ~ como seré descrito a seguir. As situagées praticas em que sd observadas essas mudancas de regime so diversas, podendo-se citar as seguintes, correspondentes & passagem do escoamento subcritico a supercritico * passagem de uma decividade subcritica para uma declividade supercritica; * queda livre, a partir de uma declividade subcritica a montante; * escoamento junto a crista de vertedores. A Figura 8.6 ilustra algumas situa¢6es de ocorréncia do escoamento critico. 213 Fundamantos do Engen Hidden Segto de ‘controle Eseoaneno | Subcritcg : Ne, | ‘Suave Figura 8.6 - Ocorréncia do escoamento critico A passagem do regime supercritico a subcritico verificada em mudancas de declividades e em saidas de comportas, por exemplo. Em geral essa passagem nao é feita de modo gradual. Com efeito, observa-se uma situacao de ocorréncia de um fenémeno bastante importante em Engenharia Hidraulica, o Ressalto Hidrdulico, que corresponde a um escoamento bruscamente variado, caracterizado por uma grande turbuléncia e uma acentuada dissipacdo da energia, como serd visto posteriormente. ‘A condicéo de profundidade critica implica uma relacéo univoca entre os niveis ener- géticos, a profundidade, a velocidade e a vazao, criando assim uma Seco de Controle, na qual s40 validas as equacOes vistas no item anterior. Em termos gerais, 0 nome Sedo de Controle é aplicado a toda secao para a qual se conhece a profundidade de escoamento, condicionada pela ocorréncia do regime ; critico ou por uma estrutura hidraulica, ou uma determinada condicao natural ou artificial qualquer, que de alguma forma controla 0 escoamento. Assim, as secdes de controle i podem ser divididas em trés tipos distintos: “controle critico”, “controle artificial” e “controle de canal”. O controle critico € aquele associado a ocorréncia da profundidade critica, separando, b portanto, um trecho de escoamento supercritico de outro de escoamento subcritico. Em geral ocorre na passagem do escoamento subcritico a supercritico, como na crista de um vertedor de barragem, por exemplo. A passagem do escoamento supercritico para ‘co escoamento subcritico ocorre através do ressalto, néo sendo possivel definir-se a segao i de ocorréncia do regime critico, ou seja, a secao de controle. COcorréncia de escoamento subsritico,crtico e supercritico (Projeto Gorutuba, MIG) 24 Se ——————————————eaeEeEEeEE—E neti ¢ conosco Capo 8 controle artificial ocorre sempre associado a uma situagéo na qual a profundidade do fluxo condicionada por uma situacao distinta da ocorréncia do regime critico, seja através de um dispositivo artificial de controle de vazao ou através do nivel d’agua de um corpo de dgua. Assim, a ocorréncia de um controle artificial pode ser associada a0 nivel de um reservat6rio, um curso d’égua, ou uma estrutura hidrdulica, como uma comporta, por exemplo. O controle de canal ocorre quando a profundidade de escoamento é determinada pelas caracteristicas de atrito ao longo do canal, ou seja, quando houver a ocorréncia do escoamento uniforme, O estudo dessa condi¢ao, extremamente importante na Engenharia Hidrdulica, sera visto no préximo capitulo. A aplicacéo desta nocao de controle hidraulico conduz a identificacao de duas possibilidades distintas, associadas aos regimes de escoamento nos trechos em andlise. Com efeito, nos trechos de escoamento supercritico, quando a influéncia de obstécu- los a jusante nao pode afetar o escoamento a montante, pois apenas o nivel d'égua a montante controla o escoamento pode-se definir 0 controle como sendo de montante. Por outro lado, o controle é dito de jusante com referéncia ao escoamento subcritico, ‘ou seja, a profundidade jusante pode afetar, pode controlar o escoamento a montante. Pode-se assim perceber que as secdes de controle desempenham papel extrema- mente importante na andlise e nos calculos hidraulicos para determinacao do perfil do nivel d’agua. Esta importancia ¢ devida tanto ao fato de conhecermos a profundidade de escoamento na secéo como também pela sua implicacéo com o regime de escoamento, condicionando as caracteristicas do fluxo. De fato, as secdes de controle constituem-se nos pontos de inicio para o cAlculo e o tracado dos perfis de linha d’égua, como sera visto oportunamente. A Figura 8.7 ilustra os diferentes tipos de secdo de controle que ocorrem com um perfil hipotético de linha d'égua De um ponto de vista pratico pode ser citado que os conceitos relativos as secbes de controle permitem a adequada definicSo da relacdo “nivel d'agua/vazS0”. Assim, para efetuar medidas de vazGes em cursos d’agua, busca-se identificar segdes de controle e, a partir das equacdes do regime critico, pode-se avaliar a vazao diretamente a partir da geometria, prescindindo da determinacao da velocidade de escoamento. 2 3 a Ressala hidraiico ‘<— sc (Cries) whi Figura 8.7 - Secdes de controle em um perfil de linha d’agua 215 Fundementes de Engenbara Widéuien Transicées Uma importante aplicacao dos conceitos de energia em escoamentos livres diz res- peito as transicbes, conforme sera visto a seguir para canais retangulares largos, supondo auséncia de perda de carga. 8.5.1 Transigées verticais A partir da equacdo de Bernoulli, tem-se: @ ve Haz+y+2= =ZtE +455 = Derivando-se esta expressao, obtém-se: dH _dz dé _ dz, dE dy _ dx ck dx dx dyax mas, de acordo com a equacao (8.6): dE/dy =1- Fr? Supondo perda de carga nula oze yy 1-F (8.15) 2+ Ku-w)=0 ou ainda: 21) a2 (Fr OR x (8.15a) Assim pode-se definir duas situac6es distintas, correspondentes a elevacao e ao rebai- xamento do fundo do canal. No caso de elevacdo do fundo do canal, ou seja, para dz/dx > 0, vem: a-r)Xco (8.16) dx Assim, se Fr <1, vern que dy/dx < 0 para satisfazer a condicao de de/dx positivo, Logo, a profundidade de escoamento diminui. Por outro lado, se Fr>1, ver que dy/ox > 0, ou seja, a profundidade de escoamento aumenta. 216 Energia conta hide Captlo ® No caso de rebaixamento do fundo do canal, ou seja, para dz/dx < 0, ver: gy 1-F2)—>0 (8.17) -Fe ye 6.17) Assim, se Fr<1, vem que dy/d > 0, ou seja, a profundidade de escoamento aumenta Por outro lado, se Fr>1, tem-se que dy/dx < 0, ou seja, a profundidade de escoamento diminui O conjunto destas situacées pode ser visualizado através da Figura 8.8, observando- -se os deslocamentos sobre a curva de energia, referentes as alteracoes dos valores da energia especifica em fungao das variacdes da cota de fundo do canal. © b | o Figura 8.8 - Transicées verticals Fonte - Adaptado de Graf e Altinakar, 1993, Conforme pode ser visto através da Figura 8.8, a andlise das transic6es verticals & bastante facilitada pelas curvas de energia especifica. Com efeito, todas as alteracbes de cotas do fundo do canal refietem-se em mudancas nos valores da energia especfica Na hipotese de perda de carga nula, estas alteracoes ficam restritas a curva tracada, que cotresponde ao escoamento nas condicées estabelecidas. A Figura 8.9 ilustra a situago de implantacdo de uma soleira, de altura Az em um canal em condigbes subcriticas. Nestas condicbes, E, = E, - Az . A ptofundidade de escoamento reduz-se de y, para y, . Pela curva de energia espectfica percebe-se que a altura da soleira estaria limitada ao valor Az = E, ~ E para que o escoamento permaneca ocorrendo nas mesmas condicdes. Caso a altura da soleira supere este valor, as condicoes de escoamento alteram-se, tornando necessario um ganho de energia para a superacdo do obstaculo. isto € conseguido através da elevacao do NA a montante da soleira e a ocorréncia do regime critico sobre esta, que passa, entdo, a funcionar como uma secdo de controle. Diz-se, nesta situacao, que ocorreu 0 estrangulamento do fluxo. Figura 8.9 - Soleira em um canal subcritico a7 Fandamentos de Engenharia deulcs Voltando-se a expressao (8.15), para 0 caso em que dz/dx = 0, chega-se & seguinte equacao: ay Vip?) 20 (8.18) ox z) Pode-se identificar duas situacoes * dy/dx = 0, ou seja, 0 escoamento processa-se com profundidade cons- tante; © dy/dx # 0, implicando que Fr = 1, ou seja, ocorre o regime critico de escoamento, Este 60 caso, por exemplo, do escoamento sobre a crista de um vertedor, onde ocorre © regime critico em condigdes de escoamento variado, em uma regiao com declividade nula, 8.5.2 Transicdes horizontais No caso de transigées horizontais a cota de fundo do canal mantém-se constante sendo que sua largura é varidvel. Assim, como a vazdo Q é constante e B varidvel, a vazio por unidade de largura, q, 6 também variavel. Nestas condigées, derivando-se a equacao (8.1) pode-se escrever: dH _ az +t aq? /2gy?) dx a dx ck x ox gyi dk gy? x aH ay 2), 9 da 2 =0+ DL f?)4+ 24 Ge Ot gE ray Como a vazéo é constante, o produto q.B é constante. Assim: 2 _ 34 = 9-98 oOo +aR0 KBox gy, (-2, l- qab 7 a aB (1-F? 1-F?)-9_B _ gE )+ aa} 4) Om IA? wea at 2y OB 1-F2)~F Gel RE (8.19) 218 ———————— Energia e contr hieduico | Captul 8 ou seja: ‘Assim, para 0 caso de alargamento de seco, ou seja, dB/dx > 0, ver: Na-r2)>0 (€.20) ox Nos escoamentos subcriticos tem-se que Fr < 1, acarretando dy/dx > 0, ou seja, a profundidade de escoamento cresce. Para 0 caso de escoamentos supercritico, Fr > 1, e, consequentemente dy/dx < 0, ou seja, a profundidade de escoamento decresce. Estas situacdes podem ser visualizadas na Figura 8.10. @ © sytea 1, acarretando dy/dx > 0, ou seja, a profundidade de escoamento cresce Estas duas situagdes podem também ser visualizadas na Figura 8.10, anteriormente citada, De forma similar &s soleiras nas transig6es verticais, 0 estreitamento das secdes pode levar a uma situacdo em que a energia especifica a montante é menor do que a energia correspondente a energia critica na nova secao. Pode ocorrer, ento, 0 estrangulamento” ea eventual mudanca de regime de escoamento 219 Se ee Fundamntos de Engenharia Hdl ‘Transicao horizontal (Betim, MG) Exemplo 8.3 Dois canais de secdo retangular com 20 m de largura sao ligados por um trecho de transico de 25 m de extensao, vencendo um desnivel de 0,20 m, Sabendo-se que © canal transporta uma vazdo de 40 m/s com uma profundidade inicial de 1,20 m, determinar 0 perfil do NA ao longo da transi¢éo, supondo auséncia de perda de carga Perfil (sem escala) ego (sem escala) “38m eacomine Solugao * Energia montante: Q _ 40m? Is By, 20m.1,2m U, 1,34m =167m/5 =H, Como a perda de carga é nula, a energia H 6 a mesma ao longo de todo o-canal. 20 Energia e contol isco Caputo 8 Logo H = H, = 2+ E para todas as secoes * Curva de energia especifica y{m) E(m) 120 134 10 120 og 112 06 1,7 04 1.87 zi ve iE g 2 2 Fae <2 =0,74m+{ 2.) =1,11m 29y; ; 2x9,81x0,74 Como £ = H - z, sabendo que H € constante ao longo do canal, pode-se obter as profundidades ao longo da transicdo através do grafico da eneraia especifica. Abscissa z 3 y 0 000 «134 1,20 5 0,04 1,30 1,14 10 0,08 1,26 1,09 15 0,12 1,22 1,03 20 0,16 118 0,96 25 020 «114 (O87 2 Fundamentos de Engenharia Hdrlien 8.5.3 Combinacao de transicdes horizontais e verticais Evidentemente pode ocorrer a combinacao dos dois tipos de transic6es vistos ante- riormente. As Calhas Parshall, com grande utilizagéo em Engenharia Hidrdulica e Sanitaria para medigéo de vaz6es e para efetuar diluicbes de produtos nas aguas, podem ser citadas como exemplo. O tratamento matematico dessas situagdes pode ser efetuado a partir da combinacdo dos casos descritos e através do estudo mais geral, correspondente 20 escoamento gradualmente variado, que seré visto no Capitulo 10. Problemas 8.1 Um canal triangular com Z = 1,00 transporta 0,80 m?/s com uma profundidade de 1,20 m. Determinar 0 regime de escoamento. 8.2 Um canal retangular com largura de 8 m transporta uma vazéo de 40 mi. Determinar a profundidade e a velocidade critica 8.3 Calcular a vazao e velocidade criticas para um canal trapezoidal com largura da base de 4,00 m e taludes 4(H):1(V), sabendo que y, = 2 m. 8.4 Calcular a vazdo em um canal retangular largo, sabendo que a profundidade critica 6 de 2,20 m 85 Tracar a curva de eneraia espectfica para um canal, de seco retangular com 10 m de largura, transportando 25 m%s. 8.6 Em um rio com profundidade hidrdulica de 1,50 m e velocidade média de escoamento de 0,80 m/s, ocorre uma perturbacéo superficial. Qual a velocidade de propaga¢ao da onda formada, em direc&o montante e jusante? 8.7 Um canal retangular com largura de 50 m transporta uma vazdo de 200 m/s com uma profundidade de escoamento inicial de 2 m. Apos uma mudanca de declividade, a profundidade passa a ser de 0,60 m. Supondo auséncia de perda de carga, pede-se: a) construir a curva da energia especifica; b) determinar a energia critica; ©) determinar a energia especifica no segundo trecho. 8.8. Utilizando os dados relativos ao problema 8.7, pede-se: a) determinar a profundidade sobre uma soleira com altura de 0,30 m implantada no primeiro trecho do canal; ') determinar a profundidade sobre uma soleira com altura de 0,20 m implantada no segundo trecho do canal; 22 a eeec ccc cc ner e eee eer r crc c rere renee earns c cence nnn eS Energi conto idee Captlo 8 ©) determinar a altura maxima de uma soleira implantada no primeiro trecho do canal para que nao ocorra mudanga de regime de escoamento. (EF, 8.9 Em um canal retangular com 1,80 m de largura ocorre o escoamento com pro- fundidade de 0,80 m e velocidade de 1,00 m/s. Determinar qual a profundidade de escoamento em uma secao do canal onde se observa um estreitamento gradual para 1,50 m de largura, supondo auséncia de perda de carga (CB) 8.10 Uma ponte foi projetada em um canal retangular com 50 m de largura, que transporta uma vazéo de 200 m/s com profundidade de 4 m. Objetivando uma reducéo do comprimento desta ponte, definir qual a largura minima do canal sob a ponte de forma que nao haja influéncia no nivel de agua a montante. ) 8.11 Um canal retangular com 8 m de largura transporta uma vazio de 96 m/s com profundidade de 4 m. Por razées estruturais, este canal sofre uma redugao de largura para 6 m em uma extensdo de 5 m. Considerando uma transigao com auséncia de perda de carga, esbocar o perfil da linha d'agua. (CE 8.12 Uma galeria retangular de drenagem, com 5,00 m de largura, deve sofrer uma redugdo de largura de forma a operar em condicées criticas. Sabendo que a veloci- dade e a profundidade de escoamento na galeria a montante sao, respectivamente, 1,50 m/s e 4,00 m, definir a largura da galeria a jusante. (EF, 8.13 Em uma canaleta de drenagem, com 0,40 m de largura, foi implantada uma soleira forcando a ocorréncia do regime critico, com profundidade de 0,08 m. Sa- bendo-se que as profundidades a montante e a jusante da soleira s8o, respectivamente, 0,25 m, e 0,05 m, determinar os regimes de escoarnento nestes pontos e calcular a vazao em transito. (EF 8.14 Um canal retangular com 50 m de largura transporta uma vazdo de 250 m*/s com profundidade de 5 m. Com vistas a forcar a ocorréncia do regime critico no canal através da implantacao de uma singularidade, determinar: a) aaltura de uma soleira implantada no fundo do canal, sendo que a largura deve permanecer constante; b) um estreitamento de secao do canal, sendo que o nivel do fundo deve perma- necer inalterado; ©) uma combinacao de uma soleira e um estreitamento de secao. 223 Capitulo 9 Escoamento uniforme 0 objetivo do presente capitulo é estudar 0 escoamento uniforme, usu- almente considerado para 0 célculo e dimensionamento de estruturas hidraulicas de condugao. Apés a introducdo de alguns aspectos tedricos concernentes & perda de carga, serao discutidas algumas questoes relativas & sua aplicacao pratica em dimensionamento, bem como critérios para a fixagao da rugosidade. 9.1 Caracterizagéo do escoamento uniforme Para que acorra 0 escoamento uniforme nos condutos livres, a profundidade da gua, a rea molhada da seco transversal e a velocidade sao constantes ao longo do conduto. Nestas condig6es a linha energética total, a superficie do liquido e o fundo do canal possuem a mesma declividade, ou seja J = / Esta condigao de escoamento pressupde que o liquido nao sofra nenhuma aceleracéo ou desaceleracdo, ou seja, a velocidade é a mesma em todas as sec6es, correspondendo a uma situacao de equilibrio das forcas atuantes no volume de controle. A profundidade associada ao escoamento, constante em todas as secdes, ¢ denominada profundidade normal, sendo designada por y,. Pode-se visualizar a situacao através da Figura 9.1 Fundementot do Engenharia Hiren Canal com escoamento uniforme (Projeto Jaiba, MG) 9.2 Resist€ncia ao escoamento - formula de Manning Conforme pode ser visto na Figura 9.1, as forcas atuantes no volume de controle entre as segdes 1 € 2 so: * peso: W; * forcas devidas & pressao em 1 € 2: F, @ F,; * forca resistente ao escoamento, decorrente do atrito: F, 26 {scoomento uniflorme | Captulo $ Assim, pode-se escrever, projetando-se as forcas em um eixo horizontal correspon- dente ao escoamento: (9.1) FF, +W send — Ora, supondo a profundidade constante, dentro da hipdtese de escoamento uni- forme, ¢ considerando a validade da distribuigdo hidrostatica das press6es, conforme visto no Capitulo 7, pode-se escrever que F, Por outro lado, admitindo tratar-se de canais com declividades reduzidas, pode-se também escrever que sent 1. Assim: WI-F,=0 Substituindo 0 peso W por yAL, a equacao (9.1) torna-se: yYALI-F, =0 (9.2) Em 1769, Antoine Chézy demonstrou que a forca de resisténcia ao escoamento, F,, 6 proporcional ao quadrado da velocidade, sendo também proporcional a superficie de contato "Liquido - Parede do Conduto”, ou seja, a0 Perimetro Molhado. Desta forma, chega-se & seguinte expresso: F,=KU"PL (9.3) Levando & equacao de equillbrio (9.2), vem: yALI =KU? PL ou seja yA KP Pode-se introduzir um Fator de Resisténcia, C: Caly (KY? Como A/P = Rh, pade-se escrever: u=C JR! (9.4) a Fundomentos de Engen Mra Esta expressao constitui a Formula de Chézy, que efetua a descricéo matematica do escoamento uniforme em condutos livres. A grande dificuldade na utilizacao desta expresso reside na definicéo do fator de resistencia, C. Nos dois tltimos séculos foram pesquisadas diversas formulacées para este coeficiente, de carater fundamentalmente empirico, destacando-se as express6es de Ganguillet e Kutter e Bazin. A expresso mais difundida atualmente corresponde formulacao de Gauckler, datada de 1867, erroneamente atribu(da a Manning e Strickler (Chanson, 1999): (9.5) Nesta expresséi, 0 coeficiente de rugosidade de Manning, “n”, traduz a resistén- cia ao escoamento associada a parede do conduto. Este coeficiente & correspondente a0 inverso de um coeficiente "K", adotado na formulacao de Strickler, que ¢ bastante utilizada na Europa, No Brasil e nos paises de lingua inglesa, a expresso mais adotada no meio técnico ¢ a seguinte: 1 ul ual aye gue we ad gore ye 96) n n Esta expresséo define a velocidade de escoamento correspondente ao escoamento uniforme, ou seja, 8 condicao de equillbrio entre a forca motriz (gravidade) e a forca de resisténcia ao escoamento (atrito). Combinando esta expresso com a equacao da conti- nuidade, chega-se & Formula de Manning, de uso bastante difundido no meio técnico brasileiro: ARR? 2 (9.7) sendo: Q: vazdo, em m/s; A: area, em m?; Ry: raio hidraulico em m; 1: declividade, em mim; n: coeficiente de rugosidade de Manning. A chamada Formula de Manning & bastante utilizada para célculos hidraulicos relativos a canais naturais e artificiais. A grande dificuldade na sua utilizacio reside na determinagao ou fixagdo do coeficiente de rugosidade de Manning, De fato, a adocéo de um coeficiente adequado pode ser um tanto subjetiva, envolvendo vivencia pratica e traquejo do engenheiro hidraulico. Ainda neste capitulo serao descritos processos para a fixacéo deste coeficiente. 28 coamanto unorme | Captua 9 Cabe aqui ressaltar que a férmula de Chézy, obtida originalmente de forma empi- rica, pode ser deduzida também da equacéo universal da perda de carga, obtendo-se a seguinte expressao: Cc P% (9.8) sendo “f" 0 fator de atrito da equacéo universal, dependente da rugosidade relativa e do numero de Reynolds Da mesma forma, a formula de Manning corresponde também a uma aproximacéo da equacéo universal para o caso do Escoamento Turbulento, que é a situacao mais co- mum encontrada na pratica da hidraulica dos escoamentos livres. Assim, pode-se escrever: Kus 8g onde K é a Rugosidade Equivalente. n= (9.9) Quanto as unidades do coeficiente de rugosidade de Manning, alguns autores in- dicam uma unidade correspondente a um comprimento linear elevado a poténcia 1/6; outros indicam “n” como sendo um adimensional, outros ainda indicam unidades de fT] Esta tiltima indicacao parece ser a mais coerente, pois permite obter-se uma expresso dimensionalmente homogénea para a formula de Manning. 9.3 Calculo do escoamento uniforme 0 cdlculo do escoamento uniforme implica a aplicacdo da equaco (9.7), corres- pondente a formula de Manning de escoamento. Nesta expresso pode-se distinguir as diferentes varidveis, segundo sua natureza: * Varidvels geométricas: a area da seco transversal e 0 raio hidraulico, que so funcées da profundidade de escoamento. © Variaveis hidraulicas: a vazo, a rugosidade e a declividade. Nas aplicacoes de Engenharia Hidraulica, os problemas de célculo do escoamento uniforme se apresentam de forma distinta segundo o tipo da variével desconhecida. Pode-se distinguir, essencialmente, dois casos praticos, que correspondem a duas formas distintas de abordagetn, como sera visto a seguir. 229 9.3.1 Verificacao do funcionamento hidraulico problema de “verificacao” das condicées de funcionamento hidraulico corres- ponde & determinacéo da capacidade de vazd0 de um dado canal ou curso d'égua, sendo conhecidas as propriedades geométricas da segdo em estudo (A, R,, funcoes da profundidade normal, y,). Neste caso pode-se efetuar 0 calculo para qualquer uma das ‘outras variaveis envolvidas na equacdo (Q, n, /), de forma direta e imediata a partir da equacao (9.7). ‘As caracteristicas geométricas de algumas secdes, em funcao da profundidade, foram apresentadas no Quadro 7.1. Estas informacoes facilitam bastante 0 célculo do ‘escoamento uniforme com a formula de Manning, como pode ser constatado através do exemplo 9.1. Canal trapezoidal (Projeto Jafbe, MG) Exemplo 9.1 Um canal trapezoidal revestide com grama, com inclinagao dos taludes de 1(V):2(H), base de 7,00 m e declividade de 0,06%, apresenta um coeficiente de rugosidade de Manning de 0,025. Determinar a vazdo transportada, em regime uniforme, sabendo-se que nesta situagao a profundidade normal 65,00 m, {scoamentountorme | Capt 9 Solucao Para utilizar a formula de Manning, sdo conhecidos n = 0,025 e 1 = 0,0006 mim; Com y, = 5,00 mez = 2, pelo Quadro 7.1 podem ser determinadas as varidéveis geométricas: A=y(b+zy)=5,00x(7,00+2x5,00)= 85,00 m P=b+2y (1427)? =7 + 2y(5)!"? =7 44,47 = 29,35M 85m? 29,35m Assim, pode-se escrever: >R, 2,90m 1 = x 85 x(2,90)"" , yi? = ° Q 7025 * x, )?? x (0,0006)’ 170m?! Em muitas ocasides, entretanto, sobretudo no caso de secdes complexas ou irre- gulares, torna-se impraticavel a determinacéo analitica das relac6es entre as variéveis, geométricas. Neste caso, torna-se necessério determinar os valores dos parametros de forma direta, por composicao de areas, como no exemplo 9.2 ou através de integracao, seja numérica ou com uso de aparelhos (planimetros). Exemplo 9.2 Calcular a capacidade de vazdo e determinar o regime de escoamento do ribeiro Arrudas, em Belo Horizonte, sabendo-se que a declividade média neste trecho é de 0,0026 m/m, sendo seu coeficiente de rugosidade ava- liado em cerca de 0,022. od zion Canalizacéo do ribeirdo Arrudas - Sedo transversal 21 Solugao A= 21,00 mx 5,00 m + (21,00 mx 1,50 m)/2 = 120,75 m P=2x (5,00 m + 10,60 m) = 31,20m _ 12075 ~ 31,20 Rh =3,87m Levando estes valores 8 formula de Manning, obtém-se: Ui 213 12 a Q= 022 120,75 x 3,87°"° x 0,0026''* =690,17 m’ /s Para a determinacao do regime de escoamento, é necessario 0 calculo da velocidade média e da profundidade hidraulica: U=(690,17m? /s)/(120,75 m? )=5,72m/s Yn = AIB=120,75 m? 121m =5,75m Pode-se, entao, calcular o numero de Froude: Fr=UNgy,)"? =5,72/ (9,81x5,75)""? =0,76 Assim, a capacidade de vazéo maxima do canal é de cerca de 690m", sendo que 0 regime de escoamento € subcritico. 9.3.2 Dimensionamento hidraulico O segundo tipo de caso de calculo que se apresenta consiste em um problema de “dimensionamento", ou seja, deseja-se determinar as dimens6es de um canal, em funcao das varidveis hidraulicas. Neste caso a varidvel desconhecida é exatamente a profundidade normal e a resolucao do problema implica uma sistematica iterativa ou grafica, como sera visto a seguir. De fato, os exemplos 9.1 ¢ 9.2 correspondem, na realidade, a situacées simples, em que a profundidade normal ¢ fixada ou conhecida, bem como as relacoes desta com as outras variaveis, Em muitos casos, o problema pode apresentar-se de forma mais com- plexa, tornando necessario 0 uso de curvas auxiliares de cAlculo. 232 scoameno union | apt 9 Com efeito, pode-se escrever, a partir da formula de Manning Q0 ape (9.10) 7 0 lado esquerdo da expresso contém as variaveis hidraulicas, (n, Qe /), conhe- idas 2 priori. O lado direito depende apenas da geometria (Ae R,), sendo funcao da profundidade normal y,,. Desta forma, estabelecendo-se uma relacao entre as varidveis hidraulicas e geométricas, através de graficos auxiliares ou analiticamente, pode-se obter @ profundidade do fluxo através de AR,?8, em funcao de Qnil"? conhecidos. Para segdes com geometria regular, parametrizdvel, tais como as sec6es circulares, trapezoidais e retangulares etc., pode-se utilizar tabelas e graficos que permitem o calcul mais facilmente. No exemplo 9.3 so utilizados elementos da Figura 9.2, que possibilita 0 calculo de alguns tipos de secées frequentemente empregadas em Engenharia Hidréulica T a] TTT Valores de y/b ou y/D 002 ,- oot ‘0.0001 Valores de Figura 9.2 - Graficos auxiliares para célculo do escoarento uniforme em secoes circulares, trapezoidais & retangulares Exemplo 9.3 Um canal trapezoidal, com largura de base de 3 me taludes laterais 1:1, transporta 15 m?/s, Pede-se calcular a profundidade de escoamento, sabendo-se que a rugosidade é de 0,0135 e a declividade é de 0,005 m/m. 233 a Fundamentos de Engenharia Mdrues Solugéo Para utilizar 0 grafico anterior, calcula-se a seguinte expressao, que varidvel de entrada, em abscissa, no grafico auxiliar Qn 15x0,0135, Br =F x0,0057 Assim, pelo grafico, com z = 1,0 obtém-se: y/b=0,32> y = 0,32x3,00m = y = 0,96m = 0,153 Poderia ser adotada também uma sistemdtica analitica, utilizando as expressdes constantes do Quadro 7.1. Neste caso, pode-se escrever: Az=(b+zy)y=(3+y)y=3yty? P=b+2y(14+z?)"? =342y (141)? =342N2y 2 >R-2eY 342,83 Aplicando Manning 7 (0,005)? 34+2,83y 1 Ay pais juz 1 = AR? | 15 e=5 00135 ayer Esta expresso permite obter y = 0,95 m. Este valor, ligeiramente diferente do valor obtido no grafico, € presumivelmente mais preciso. Para secdes complexas, néo parametrizadas, diferentes das secdes tabeladas ou constantes dos graficos disponiveis, torna-se necessario construir graficos ou tabelas relacionando AR,2em funcao da profundidade y, de forma similar aos gréficos da Figura 9.2. Esta situacdo ¢ ilustrada através do exemplo a seguir. Exemplo 9.4 Determinar a curva auxiliar de calculo (y x AR?’?) para uma secao tipo Sudecap, com largura de 12 m, profundidade total de 5 m e taludes da base triangular de 1:3. Calcular a profundidade de escoamento para uma vazéo de 100 m*%psupondo uma declividade de 0,1%. 234 Escoamento uniform Capito 8 Solucéo Para y entre Oe 2m: Y= Im => A= 3m’ ;P =6,32m; ARH? = 1,82 Y= 2m=> A=12m?;P =12,65m; ARH? =11,59 Para y entre 2 € 5 m: y= 3M = A=12+12 = 24m? ;P =12,65 +2 = 14,65m; ARK? = 33,41 y=4m= A=12+ 24 = 36m? ;P =12,65 + 4=16,65m; ARH” = 60,35 y= 5m=> A=12+ 36= 48m? ;P =12,65+6 =18,65m; ARK? = 90,43 Com estes valores pode ser tracado o grafico auxiliar As variéveis hidraulicas permitem definir: ‘ Qall'”? =100x 0,015 / 0,001"? = 47,43 Levando este valor ao grafico auxiliar, obtém-se y = 3,50m 235 Fandomentos do Engenharia Mrs 9.3.3 Secdes circulares Para as sec6es circulares, bastante utilizadas em redes de esgoto e de drenagem pluvial, 0 calculo hidraulico 6 facilitado através do uso de tabelas auxiliares. O Quadro 9.1 € baseado na relacao da razao entre o tirante d’agua e 0 didmetro (y/D) e as raz6es entre as vaz6es e as velocidades correspondentes a seco plena e a condicao efetiva de trabalho A.utilizacdo do Quadro 9.1 permite o cdlculo das variaveis desejadas, calculando-se as vaz6es e as velocidades a secao plena através das expressdes (9.11) e (9.12): Q, = Gera @.1) * n y, 24 pespre (2) n Quadro 9.1 - Caracteristicas dos condutos circulares parcialmente cheios yD Qxi Ux) yiD Qx/ Ux/ = y/D Qx/ Ux) —y/D. Qs Ux! Qp Up Qp_ Up Qp_ Up Qp__ Up | 0,07 0,01 032 036 026 082 051 051 1,00 066 0,76 1,10 ) 0,10 0,02 0,41 0,37 0,27 083 0,51 052 1,01 0,6 0,77 1,10 | 0,12 0,03 0,46 0,38 0,28 085 0,52 0,53 1,01 0,67 0,78 1,11 0,14 0,04 0,47 0,39 0,29 087 052 0,54 1,02 0,68 0,79 1,11 | 0,15 0,05 0,49 0,39 0,30 087 0,54 0,55 1,02 068 0,80 1,12 0,16 0,06 0,51 0,39 031 0,88 0,55 0,56 1,02 0,69 081 1,12 0,18 0,07 0,53 0,40 032 0,89 0,55 0,57 1,03 0,69 0,82 1,13 0,19 0,08 0,54 0,41 033 090 056 058 1,03 0,70 083 1,13 0,20 0,09 0,59 0,41 034 090 056 059 1,04 0,70 0,84 1,13 0,22 0,10 0,62 0,42 0,35 091 0,57 0,60 1,04 0,71 0,85 1,13 0,22 0,11 0,63 0,42 0,36 092 0,58 0,61 1,05 0,72 0,86 1,13 0,25 0,12 065 0,43 0,37 0,93 0,58 0,62 1,06 0,73 087 1,13 0,26 0,13 067 0,44 0,38 0,93 0,58 0,63 1,06 0,74 0,88 1,13 0,27 0,14 0,68 0,45 0,39 0,93 0,58 0,64 1,06 0,74 0,89 1,13 0,28 0,15 069 0,46 040 0,94 0,59 0,65 1,07 0,75 0,90 1,14 0,28 0,16 0,71 0,47 041 0,95 060 066 1,08 0,75 091 1,14 0,28 0,17 0,71 0,47 0,42 096 0,60 067 1,08 0,76 0,92 1,14 0,29 0,18 0,72 0,48 0,43 097 0,61 068 1,08 0,77 0,93 1,14 0,30 0,19 0,73 048 0,44 097 062 0,69 1,08 0,78 0,94 1,14 0,31 0,20 0,77 0,48 0,45 098 0,62 0,70 1,08 0,78 0,95 1,15 | 0,32 0,21 0,78 0,49 0,46 099 062 0,71 1,09 0,78 0,96 1,15 0,33 0,22 0,79 0,49 0,47 099 0,63 0,72 1,09 0,79 0,97 1,15 0,34 0,23 080 0,50 0,48 099 0,63 0,73 1,09 0,80 0,98 1,15 0,35 0,24 081 0,50 049 0,99 0,64 0,74 1,09 081 0,99 1,15 0,36 0,25 0,82 0,50 0,50 1,00 065 0,75 1,10 0,82 1,00 1,15 236 Patan seoamento vere Capita 9 Assim, conhecendo-se y/D e as vaz6es e velocidades na condicao de seco plena, pode-se determinar a vazio e as velocidade nas condigées de trabalho. Da mesma forma, conhecendo-se Qx/Qp ou Ux/Up, pode-se obter y/D. O exemplo 9.5 a seguir ilustra uma aplicacao pratica desta sistematica de cdlculo. Exemplo 9.5 Dimensionar uma galeria circular em tubos pré-moldados de concreto para uma vazéo de 1200 is, implantada com declividade de 1,5%, sendo que 0 tirante de agua esta limitado a 80% do didmetro e a velocidade maxima de escoamento a 4,5 m/s. Solugao Fixando y/D = 0,80, pelo Quadro 9.1 vem que Qx/Qp = 0,98 Qp = Ox / 0,98 => Qp = 1,20 mls / 0,98 = 1,225 mils mas Q, = 2 gpe/3//2 = D= (0.4776 = 0,76 m Adotando o diametro comercial imediatamente superior, D = 0,80 m, vem: Qp = 1,4147 m/s => Qx/Qp = (1,2 mls) 1 (1,4147 mils) = 0,85 Pelo Quadro 9.1 => y/D = 0,71 < 0,80 => tirante satisfatério = UxiUp = 1,13 04 n Up 28Im/s = Ux = 1,13x2,81 mis = 3,18 mis < 4,50 mis = velocidade satisfatoria 27 es Fundentos de Engenharia dren 9.4 O coeficiente de rugosidade de Manning No célculo do escoamento uniforme uma grande dificuldade que se apresenta diz respeito avaliacdo dos fatores de atrito, que traduzem a perda de carga. Assim, na utilizacao da formula de Manning, 0 maior problema a resolver consiste na determinacao do coeficiente de rugosidade “n” Alguns procedimentos para a determinaco ou fixago do coeficiente de rugosidade sao descritos a seguir. 9.4.1 Determinacao direta do coeficiente de rugosidade A determinacao direta do coeficiente de rugosidade, baseada na medicao de vazoes e de caracteristicas das secées, quando exequivel, é raramente efetuada, pois envolve trabalhos de campo, implicando em prazos e recursos relativamente elevados. Um dos procedimentos que pode ser adotado, fundamentado nas hipoteses do escoamento gradualmente variado, é essencialmente o seguinte: * determinacéo das cotas de fundo e das caracteristicas hidraulicas em duas segdes (1 € 2) distintas, separadas pela distancia AX; * determinacéo das velocidades médias de escoamento nas duas secoes; * aplicacéo da equacao de Bernoulli entre as duas sec6es, permitindo a determinacdo da declividade da linha de energia: UF, BL J) ty + ‘g)-(2+n+%Zg) (0.13) * cdlculo den “medio” pela aplicagao da formula de Manning, utilizando as caracteristicas médias entre as duas secoes 213 12 (9.14) 9.4.2 Estimativa do coeficiente de rugosidade Na impossibilidade de determinar "n" diretamente, como frequentemente ocorre na Engenharia Hidraulica, torna-se necessario efetuar uma estimativa de seu valor, podendo esta ser efetuada através de diversos processos. As diversas metodologias que possibilitam auxilio nesta operacao de definicao do parametro sao, essencialmente, as seguintes 238 Escoamento nore * _calculo do coeficiente de rugosidade a partir da granulometria da super- ficie de contato; * utilizacdo de metodologia baseada na incrementacao de um valor basico de “n”, em funcao de diversos aspectos pertinentes, tais como alinhamento do canal (meandros), presenca de vegetacao, irregularidades etc.; * utilizagao de tabelas que fornecem o valor de “n” em funcao das carac- teristicas das superficies de contato com o liquido; © utilizacdo de fotos de canais e cursos d’agua naturais, que permitem, por analogia, a escolha de um valor adequado de “n Estas diferentes metodologias sao descritas a seguir, cabendo ressaltar, no entanto, que todos estes procedimentos revestem-se de uma certa dose de subjetividade, dependendo da experiéncia pratica do engenheiro e exigindo bastante critério para sua utilizacao. Estimativa do coeficiente de rugosidade a partir da granulometria Para a avaliacao do coeficiente de rugosidade a partir da granulometria da superficie de contato podem ser utilizadas diversas expressdes, de natureza empirica. Destaca-se a expressdo de Meyer-Peter e Muller (French, 1986), aplicavel em leitos com proporcao significativa de material gratido: n=0,0380;," (9.15) onde d,, € 0 didmetro da peneira, em metros, correspondente a passagem de 90% do material, em peso. Estimativa do coeficiente de rugosidade através de incrementagao — Método Cowan O segundo método, a incrementagao do coeficiente de rugosidade, é bastante interessante por permitir a andlise dos diversos fatores.intervenientes e uma melhor compreensao dos processos fisicos envolvidos com a resisténcia ao escoamento. Para a adogao do procedimento, Chow (1959) propée a seguinte expressao basica: n= (nen, ++ nym, (9.16) onde: * ng: valor basico do coeficiente de rugosidade para um canal retilineo, uniforme e com superficies planas, de acordo com o material associado & superficie de contato; © 1n,:,alor adicional correspondente &s itregularidades presentes no curso d’gua, tais como eros6es, assoreamentos, saliéncias e depressoes na superficie etc.; 239 Fundametor de Enger deuce * ng valor correspondente & frequéncia de ocorréncia de variacoes de forma no curso d’gua, analisada segundo as possibilidades de causar perturbagbes no fluxo; * ny: valor baseado nas presenca de obstrucdes no curso d’agua, tais como deposicao de matac6es, raizes, troncos etc, avaliados segundo sua extenso no sentido da reducio da seco e sua possibilidade de causar turbuléncia no escoamento; * ng valor baseado na influéncia da vegetacéo no escoamento, devendo ser avaliado segundo o tipo, densidade e altura da vegetacao nas margens, bem como a obstrugéo acarretada na secdo de vazdo; * mg. valor baseado no grau de meandrizagéo do curso d’agua, avaliado como sendo a razio entre o comprimento efetivo do trecho e a distancia retilinea percorrida. Os valores destes diversos fatores podem ser avaliados de acordo com 0 Quadro 9.2. Quadro 9.2 - Valores para calculo do coeficiente de rugosidade - método Cowan Condigées do canal Valores 7 Solo 0,020 Material envolvido Rocha 0,025 Pedregutho fino 0,024 Pedregulho gratido 0,028 n, liso 0,000) Grau de ireguiaridade Pequeno 0,005 Maderado 0,010 Severo 0,020 1, Gradual 0,000 Vatiagbes da secao transversal Alternancias ocasionais 0,005 Alternancias frequentes 0,010- 0,015 n Desprezivel 0,000 Efeito de obstrucbes Pequeno 0,010 - 0,015 Apreciivel 0,020 - 0,030 Severo 0,040 - 0,060 % Baixa 0,005 - 0,010 Vegetacéo Média 0,010 - 0,025 Alta 0,025 - 0,050 Muito alta 0,050 - 0,100 ™, Pequeno 1,000 Grau de meandrizacso Apreciavel 1.150 Severo 1,300 Fonte - Adaptado de Chow, 1959, 200 een acca ccc cc reer ere rer ccc csc ss creas sce cee SESE Escoamento rorme | Capulo 8 Estimativa do coeficiente de rugosidade através de tabelas Para efetuar-se a estimativa do coeficiente de rugosidade através deste processo, encontra-se na literatura um grande nimero de tabelas, obtidas @ partir de ensaios e medicées de campo. Dever ser destacados os elementos apresentados na obra Open- Channel Hydraulics, de Ven Te Chow (1959), onde consta uma extensa lista de coefi- cientes de rugosidade associados a diversos materiais e situacGes de utilizacao. Apresentam-se, nos quadros 9.3 e 9.4, alguns valores de coeficientes de rugosidade, compilados de diversas publicacoes sobre 0 assunto. Quadro 9.3 - Coeficientes de rugosidade para canais artificiais Revestimento Rugosidade minima usual Conecreto pré-moldado 0,011 0.013 0,015) Concreto com acabamento 0.013 0.015 0018 Concreto sem acabamento 01a 0.017 0,020 Concreto projetado 0.018 0,020 0,022 Gabioes 0,022 0,030 0,035 Espécies vegetais 0,025 0.035 0,070 Ago 0,010 0.012 0014 Ferro fundido 0011 0.014 0016 ‘Ago cortugado 0,019 0,022 0,028 Solo sem revestimento 0,016 0,023 0,028 Rocha sem revestimento 0,025 0,035 0,040 Quadro 9.4 - Coeficientes de rugosidade para canais naturais Tipe Caracteristicas Rugosidade minima ___normal maxima ‘Canais de pequeno porters moos 0.025 0,083 0,045 lancie (B < 30m) Trechos lentos 0,050 0.070 0,080 Canais de pequenoporteem _Leito desobstruldo 0,030, 0,040 0,080 montanhas (8 < 30 m) Leite commatacoes 0,040 0,050 0,070 Canais de grande porte Secbes regulares oos 0,060 (@>30m) Secbesirtegulares 0,035 0,100 Planicies de inundagso Pastagens 0,025 0,035 Cutturas 0,020 0,050 Vegetagao densa 0,045 0,160 2a Fundamenos do Engenharia Midrblca Estimativa do coeficiente de rugosidade através de analogia com canais existentes Esta metodologia esté centrada na associacéo do curso d’agua em estudo com um canal existente, para o qual 0 coeficiente de rugosidade foi determinado. Assim, para a aplicacéo da metodologia, recorre-se a publicacdes que apresentam coletneas de fotos de canais existentes e os correspondentes coeficientes de rugosidade medidos. A publicagao de Ven Te Chow, anteriormente citada, apresenta também uma ex- tensa coletanea de fotos, que permite subsidiar a adequada definicéo do coeficiente de rugosidade. 9.4.3 Coeficientes de rugosidade para secdes simples com rugosidade variavel Em canais cursos d’égua com secdes simples apresentam-se frequentemente situa- es em que a rugosidade varia ao longo do perimetro do canal e conforme o nivel d'agua atingido na secao. A velocidade média, entretanto, pode ainda ser calculada levando-se em conta a seco como um todo, sem a necessidade de efetuar-se uma subdiviséo desta. Nestes casos torna-se necessaria a utilizacao de uma sistematica de ponderacao da rugo- sidade, permitindo levar em conta as diferencas existentes e chegar-se a um coeficiente de rugosidade global. Figura 9.3 - Exempla de seco simples com rugosidade variével Segundo Chow (1959), pode-se adotar a sequinte ponderagao pelo perimetro molhado associado a cada superficie de atrito distinto, conforme recomendagdes de Horton e Einstein: . 23 Deen?) oP n (9.17) onde: n: coeficiente de rugosidade global; P: perimetro molhado total; P: perimetro molhado associado a superficie "i"; 1n; Coeficiente de rugosidade associado a superficie m2 Ecoamento uniform Capo 9 Com a aplicacao desta expressao obtém-se um coeficiente de rugosidade global, vélido para a secao como um todo. Canal com rugosidade variavel (Petr6polis, FU) Exemplo 9.6 Calcular 0 coeficiente de rugosidade global para o cérrego Ressaca, em Belo Horizonte (Figura 9.3), sendo que sua secdo transversal € constituida parcialmente com gabides (n = 0,030) e solo com revestimento vegetal (n = 0,040). Solugéo Associada & rugosidade 0,030, tern-se a area retangular central, com 11,00 m de largura e 2,00 m de altura. Assim, 0 perimetro molhado correspon- dente é: P,=2,00m + 11,00 m+ 2,00 m = 15,00 m. Associadas & rugosidade 0,040, tém-se as duas areas triangulares laterais, com 3,00 m de largura e 1,50 m de altura. Assim, 0 perimetro molhado correspondente é: P,=2x (3,00? + 1,502)" = 6,71 m. Resolvendo através da equagao (9.17), 0 coeficiente de rugosidade global 6: n= [(0,030*? x 15,00 + 0,040"? x 6,71) / (15,00 + 6,71)P° = 0,0332 203 Fandamentorde Engen Hiden 9.44 Coeficiente de rugosidade para sesées compostas Em diversos tipos de canais artificiais e, sobretudo, em cursos d'égua naturais, apre- sentam-se situacdes de secdes compostas, em que 2 ponderacao pelo perimetro molhado pode levar a resultados falaciosos. Para ilustrar esta situacdo, tome-se 0 exemplo de um curso d’agua natural em que ocorre o transbordamento do leito menor para a planicie de inundacio. A ocorréncia de materiais distintos ao longo do perimetro molhado, com uma variacao sensivel da rugosidade (valores elevados de ‘“n” na planicie de inundacao), e as pequenas laminas d’4gua, em uma grande largura (mas pequena area associada), levam ‘a uma superavaliacao de “n". O tratamento desta situagéo pode ser efetuado essencialmente de duas maneiras distintas, através do calculo de um coeficiente de rugosidade equivalente a seco como um todo ou através da decomposicao desta em diversas subsecées, com caracteristicas distintas, efetuando, em seguida, a composigéo do fluxo Para o primeiro caso torna-se necessaria, também, a utilizacdo de uma sistematica de ponderacio da rugosidade, permitindo levar em conta as diferencas existentes e chegar-se a uma rugosidade equivalente, valida para toda a seco. No Brasil a metodo- logia mais utilizada, que sera aqui exposta, foi proposta pelo U.S. Corps of Engineers (French, 1986). Ela consiste no célculo de uma Rugosidade Equivalente, proporcional as reas de escoamento associadas a cada valor de n 20a 18) onde: n: coeficiente de rugosidade equivalente; A; area total; A; area associada a superficie “i”; n; Coeficiente de rugosidade associado a superficie “i”. A delimitacdo das areas associadas aos diferentes coeficientes de rugosidade é efetuada de forma arbitréria, através de verticais, conforme Figura 9.4. et 84 20 le Bale.10. ale 5 < ale Sale ole ae Ss) Figura 9.4 - Exemplo de delimitacdo de areas em uma seco composta Escoamento wiorme | Ceptulo 9 seco composta e rugosidade varidvel (Rio Verde, MG) Curso d’agua natural Exemplo 9.7 Calcular 0 coeficiente de rugosidade equivalente para 0 cOrrego Ressaca, em Belo Horizonte (Figura 9.3 e exemplo 9.6), utilizando a equacio (9.18). Solugdo (0,030x1 1,0x3,5) + 2x(0,040x3,0x1,5)/ 2 11x3,5 + 2xX3,0x1,5/2 n= 0,031 A segunda abordagem que pode ser adotada para tratar a questao consiste na divis8o da seco composta nas diversas subsecées com caracteristicas distintas. Para cada subsecdo pode ser calculado um parémetro denominado Fator de Conducao, que pode ser definido como a vazao que potencialmente pode ser transportada por ela 205 IT Fundementor de Engenhatia Heriulis we Pe Assim, a vazdo efetivamente associada a cada subsecdo ¢ obtida simplesmente pela multiplicacao do fator de condugao pela raiz quadrada da declividade: K (9.19) Q=KIe (9.20) ‘A vazio total é obtida pela soma das vaz6es de cada subsecSo. A velocidade média pode ser calculada por simples aplicagéo da equacdo da continuidade. ‘A adocao deste procedimento permite também calcular os coeficientes de Coriolis ¢ Boussinesg, que podem desempenhar um papel importante em situacbes de ocorrén- cia de secées compostas. Com efeito, conforme Chadwick e Morfett (1993), pode ser demonstrado que: (9.21) (9.22) Estas expresses sao bastante Uteis para célculo do escoamento gradualmente variado em secdes compostas, conforme sera visto no Capitulo 10. | Problemas 9.1 Calcular a capacidade de vazao do canal do exemplo 7.2, supondo uma declividade longitudinal de 0,1% e revestimento de gabides. 246 scoamento ufone lCaptlo 9.2 Um canal retangular, com largura da base de 6 m, declividade de 0,02 m/m, revestido em concreto liso, transporta 30 m*/S. Qual a profundidade normal do fluxo? Qual o regime de escoamento? 9.3 Caleule a declividade de um canal trapezoidal gramado, com base de 10 me taludes 3(H):1(V), transportando 10 m?/s com uma profundidade. de 0,75 m. 9.4 Calcular a capacidade de vazao para o canal natural do problema 7.4, Capitulo 7, supondo uma declividade longitudinal de 0,0003 m/m e um coeficiente de rugosidade de Manning de 0,040. 9.5 Dado 0 canal de drenagem da figura, com seco composta em con- creto e revestimento vegetal, implantado com deciividade longitudinal de 0,08%, pede-se Sai! Bm a) calcular sua capacidade maxima de vazdo em escoamento uniforme; ) definir quais seriam as alternativas possiveis para aumentar-se a capa- cidade de vazdo do canal, mantendo-se a mesma largura superficial e a mesma profundidade de escavacao. 9.6 Qual o revestimento que poderia ser adotado em uma canaleta rodoviaria triangular, com taludes 1(V):2(H) e altura maxima de 20 cm, implantada com uma declividade longitudinal de 3% para transportar uma vazao de 90 l/s? 9.7 Dimensionar uma galeria circular, em concreto, para uma vazdo de 0,7 m/s, sendo a declividade longitudinal de 0,02 m/m. A galeria deve funcionar com um tirante maximo de 80% do diametro e velocidade maxima de 4,5 mis, 9.8 Sabendo-se que o canal fluvial descrito esquematicamente na figura, onde as cotas esto expressas em metros, apresenta uma declividade de 0,002 m/m, pede-se 287 dts J IP a IB af BaP ae ae A ade a) calcular a maxima vazdo transportada, estimando-se 0 valor da rugosi- dade equivalente pelo processo do U. S. Corps of Engineers; b) calcular os coeficientes de Coriolis e Boussinesq adotando-se processo de subdivisao da secéo. 9.9 Demonstre que o raio hidraulico ,, de um canal circular de diémetro D vale R, = 0/4, Demonstre, em seguida, que a equacao de Darcy-Weisbach para escoamento em condutos forcados pode ser vista como um caso especial da equacdo de Chézy. Exprima, entdo, o fator de resistencia C de Chézy em funcdo do coeficiente de perda de carga f da equacao de Darcy-Weisbach. 248 Capitulo 10 Escoamento gradualmente variado No presente capitulo so estudados os escoamentos permanentes em regime gradualmente variado, ou seja, com as caracteristicas de fluxo variando, de forma gradual, de uma secao a outra, Serao vistas, de forma qualitativa, as curvas de remanso e, em seguida, serdo introduzidas metodologias de célculo da linha d’agua 10.1 Introdugao Conforme jé visto anteriormente, um escoamento permanente, ou seja, com vazdo constante no tempo, é chamado de variado quando as caracteristicas do fluxo variam a0 longo do espaco. Quando estas caracteristicas variam de forma lenta, gradual, diz-se que 0 escoamento é gradualmente variado; quando as caracteristicas variam de forma brusca, repentina, diz-se que.o.escoamento.¢ bruscamente variado. Em funcao desta variabilidade espacial, a andlise dos escoamentos variados é mais, complexa do que 2 andlise dos escoamentos uniformes. Ainda, no caso espectfico dos escoamentos bruscamente variados, os condicionantes fisicos apresentam-se de forma distinta, fazendo intervir uma influéncia mais significativa das condices de contarno, em detrimento do atrito, fator determinante nos escoamentos uniformes e gradualmente varados SSS ~~ Ns préximos itens, serdo apresentados alguns aspectos teéricos dos escoamentos gradualmente variados, possibilitando, em seguida, a introducao a algumas metodologias para célculo das linhas d’agua. Finalmente, busca-se também tratar algumas aplicacoes praticas deste tipo de escoamento no contexto da Engenharia Hidraulica. Fundements de Engenharia Wren Escoamento gradualmente variado (Laboratorio de Hidréulica - UFMG) 10.2 Caracterizacéo do escoamento gradualmente variado As situac6es em que as caracteristicas do escoamento variam de forma gradual de seco para secéo correspondem ao Escoamento Gradualmente Variado. Nestas condicées, a declividade do fundo do canal ()e da superficie livre (GH) nao so mais, portanto, as. mesmas ao longo do conduto. Da mesma forma, o gradiente energético (/) também nao & mais paralelo ao gradiente do canal, como pode ser visto na Figura 10.1 Figura 10.1 - scoamento gradualmente variado Assim, a8 trajetorias das particulas de liquido em movimento no so paralelas. Entretanto, como as variagdes das caracteristicas do escoamento séo graduais, pode-se considerar que as trajetdrias 40 sensivelmente paralelas ao fundo do canal, admitindo- -se que a distribuicao das press6es seja hidrostatica, conforme foi visto no Capitulo 7. A ocorréncia do escoamento gradualmente variado est associada aos trechos iniciais e finais de canais prismaticos, as transic6es verticais e horizontais graduais e aos 250 scoamento graduaimente variado | Capitulo 10 canais com declividade variavel. Uma situaco pratica notavel refere-se a ocorréncia do escoamento gradualmente variado em regime subcritico nos trechos @ montante de um controle hidraulico artificial. Este caso corresponde ao remanso, bastante presente nas situac6es praticas da Engenharia Hidraulica. A definicao da linha d’4gua nos escoamentos gradualmentte variaveis pode ser feita @ partir de consideracées sobre a energia. Com efeito, a partir da equacao de Bernoulli, pode-se escrever a seguinte expresso relativa a variacéo da energia ao longo do canal: 2 H Stree (10.1) Aplicando a equacao da continuidade, ver: a Sm Ae (10.2) 2ga® *Y Explicitando | e J como os gradientes do fundo e da energia total (dH/dx =- J e dz/ dx =~), vem: gd 2 dA yo (10.3) (10.4) (10.5) Qu ainda, de acordo com a equacao (8.5): ~ ded (10.6) ox Podem-se distinguir aqui duas situac6es particulares notaveis: «|= J) dyldx = 0[= ocorréncia do escoamento uniforme; * Fr= 1 = ocorréncia do escoamento uniforme sendo que a profundidade normal é igual & critica, com dy/dx=0, ou ainda a ocorréncia de uma secao contraida, com dy/dx # 0. 251 No préximo item desenvolve-se a expressdo (10.5) de forma a efetuar-se uma analise qualitative das linhas d’égua 10.3 Analise das linhas d’agua Em sua esséncia, 0 escoamento gradualmente variado aproxima-se significativamente do escoamento uniforme, fazendo intervir basicamente os mesmos fenémenas. Com efeito, a forca motriz do escoamento corresponde a gravidade e a forca resistente est associada ao atrito ao longo do conduto. Pode-se afirmar, portanto, que a natureza do escoamento gradualmente variado é a mesma do escoamento uniforme A avaliacdo da perda de carga no escoamento uniforme pode ser efetuada pelas expresses de Chezy e de Manning, conforme visto no Capitulo 9. No caso do escoamento gradualmente variado, assumindo-se a hipotese de que as linhas de corrente também possam ser consideradas aproximadamente paralelas, admite-se que a perda de carga unitaria possa ser avaliada também pela formula de Manning, Assim, pode-se assimilar a declividade ao gradiente energético, substituindo / por J na expresso de Manning, admitindo-se que a perda unitdria em uma dada seco seja equivalente aquela de um escoamento uniforme com a mesma profundidade e velocidade: 20? J as (10.7) i Torna-se importante salientar, entretanto, que, nestas condigdes de escoamento gradualmente variado, J varia de secdo para seco, sendo sempre correspondente ao gradiente energético total e, portanto, geralmente diferente da declividade do fundo do canal. Assim, a partir da equacao (10.5), pode-se escrever: ' "Opa gy_ REOA (10.8) ax 708 oA" (10.9) 252 {sceamento radualmerte varia i Captuo 10 Esta expresso é bastante util para 0 estudo qualitativo das curvas de remanso, como ser visto a seguir, pois, através do estudo da combinacao dos sinais-do seu numerador e denominador, pode-se fazer uma andlise qualitativa das formas que a linha d'agua pode assumir. Com 0 objetivo de simplificar as notagdes na andlise a ser efetuada, pode-se intro- duzir duas fungées fr e fz f, (10.10) oe fe gA? (10.11) Assim: (10.12) Os diferentes termos da equacao (10. 12) serao analisados a seguir, identificando-se a expresso de f; as condicdes de escoamento uniforme e f2s condicées criticas. Analise do numerador Supondo constante a rugosidade, a vazao e a declividade, f; é funcao exclusiva da profundidade de escoamento, de acordo com a equagao (10.10). Assim, pode-se definir qualitativamente uma variacdo inversa de f) com y, conforme ilustrado no grafico da Figura 10.2(a). \p if @ (oy Figura 10.2 -VariagSo de fi e fecom a profundidade 253 Fundamentos de Engenharia Hérules Conforme pode ser visto no grafico, ao valor de f; igual @ unidade corresponde a profundidade normal yn, associada a0 escoamento uniforme decorrente da declividade J. Para esta condicdo de ye de f:, 0 numerador da equacdo (10.12) se anula, indicando que dy/dx nao varia. Quando a profundidade for maior do que a normal, 0 valor de f; é inferior 8 unidade 2, consequentemente, 0 numerador ¢ positivo. Finalmente, quando a profundidade for menor do que a normal, o valor de f; superior & unidade e, consequentemente, 0 numerador é negativo. Anélise do denominador © mesmo tipo de andlise pode ser efetuada para o denominador. Com efeito, supondo constante a vazdo, fz é fungao exclusivamente da profundidade, de acordo com a equaco (10.11), admitindo-se que A e B variam com y. Assim, pode-se definir, qualitativamente, uma variacao inversa de fz com y, conforme ilustrado no grafico da Figura 10.2(b). Assim, conforme pode ser visto no gréfico, ao valor de fz igual a unidade cor responde a profundidade critica ye. Para esta condicdo, o denominador da equacéo (10.12) se anula. Quando a profundidade for maior do que a critica, o valor de fy € inferior & unidade e, consequentemente, o denominador é positivo. Finalmente, quando a profundidade for menor do que a critica, o valor de f € superior & unidade e, consequentemente, 0 denominador é negativo Analise da declividade Na anélise efetuada para fi fixou-se uma determinada declividade. Na realidade, a cada valor de declividade corresponde uma profundidade normal, yn, de acordo com a equacdo (10.10), O valor de declividade critica acarreta uma profundidade normal correspondente a profundidade critica. Pode-se entdo obter a Figura 10.3, relacionando qualitativamente a variacdo de yn com a declividade Te T Figura 10.3 - Variacto da profundidade normal com a declividade 254 Te {scoamento gradualmente variads I Captuo 10 De acordo com 0 gréfico da Figura 10.3, 0s canais podem ser classificados em trés categorias, quanto a declividade: © canais com declividades fracas: aqueles cujas declividadles sao inferiores a critica, conduzindo a profundidades normais de escoamento subcriticas; ® canais com dedividades criticas: aqueles cujas declividades so coinciden- tes coma critica, levando a profundidades normais de escoamento criticas; ® canais com declividades fortes: aqueles cujas declividades s0 superiores critica, conduzindo a profundidades de escoamento normais supercriticas. Cumpre aqui relembrar que a declividade critica no é uma caracteristica apenas do canal, tendo em vista que ela também depende da vazao. Desta forma pode-se ter, em um mesmo curso d’gua e na mesma seco, 0 funcionamento ora em regime torrencial, ora em regime fluvial, conforme a vazdo em transito. Esta situacao foi apresentada e discutida no Capitulo 8, sendo ilustrada através da Figura 8.2 ‘Apés estas consideracdes, podem-se agora estudar, qualitativamente, as diferentes formas que as linhas d’4gua podem assumir, para cada tipo de canal, segundo sua decli- vidade. Esta andlise qualitativa permitir, posteriormente, o desenvolvimento dos calculos relativos a determinaco das linhas d’4gua nos escoamentos gradualmente variados. 10.3.1 Canais com declividade fraca Este caso corresponde a situagbes em que a declividade ¢ inferior a critica. Assim, a profundidade normal (yr) € maior do que a profundidade critica (yo). Conforme a Figura 10.4, podem ser definidas trés possibilidades de posicao para 0 NA em uma dada seco, em relacao as profundidades criticas e normais. Cada posicéo do NA conduz a uma linha d’égua distinta, que, para o caso especifico dos canats com declividade fraca, receber o nome de curvas M (do Inglés Mild, suave), como seré visto a seguir. Figura 10.4 - Linhas d'agua em canais com declividade fraca @ Posigao 1 - Profundidade maior que yn @ que Yc: Neste caso fi < 1 e f2< 1, levando a sinais positivos tanto para o numerador como para o denominador na expressao (10.12). Assim, tem-se dy/Ox > 0, indicando 0 crescimento da profundidade com a abscissa, definindo-se a curva "M1", assintota 4 profundidade normal e 8 horizontal 255 Fundamentas de Engenhoria Mdetice * Posicéo 2 - Profundidade menor que yn e maior que yc Se a profundidade na seco estiver entre yce yn , vern que y < yn, levando a fi> 1, ou seja 0 numerador da equacdo (10.12) € negativo. Como y > ye, vern que f2< 1, tornando 0 denominador desta positivo. Isto implica que dyldx na equacao (10.12) é negativo, ou seja a profundidade diminui com a abscissa, definindo a curva “M2”, que tende assintoticamente para yn € perpendicularmente para yc © Posicao 3 - Profundidade menor que yn e que Yc Finalmente, se a profundidade na seco for inferior a yn e ye, define-se que tanto fi como fz sao maiores do que a unidade, implicando que tanto 0 denominador como o numerador da equacao (10.12) sdo negativos. Assim, dyldx > 0, ou seja, a profundidade cresce com a abscissa. Define-se a curva “M3”, compreendida entre ye € o fundo do canal, tendendo perpendicu- larmente para ambos. 10.3.2 Canais com declividade forte | Esta condicao de canal corresponde a uma declividade superior a critica, condu- | zindo, assim, a profundidade normal menor do que a profundidade critica. Ocorrerao \ entdo, neste caso, as curvas "S” (do Inglés Steep, ingreme), conforme pode ser visto na { Figura 10.5. Figura 10.5 - Linhas d'agua em canais com declvidade forte Da mesma forma que para os canais com declividades fracas, so também trés as situag6es possiveis, conforme descrito a seguir: ® Posicao 1 - Profundidade maior que yc € que yn: | Neste caso f; < 1 e f2< 1, levando a sinais positives, tanto para o nume- | rador como para o denominador na expresséo (10.12). Assim, tem- se dy/dx > 0, indicando o crescimento da profundidade com a abscissa, definindo-se a curva “S1”. * Posicao 2 - Profundidade menor que ye € maior que Yr! Se a profundidade na seco estiver entre yce Yo , vern que y > Yn , condu- zindo a fy < 1, ou seja, a um numerador da equacao (10.12) positivo. Como y < ye, vem que fz> 1, ou seja, 0 denominador da expresso é 256 NS Escoamnto gradualment voriad | Canitso 10 negativo. Isto implica que dy/dx é negativo, ou seja y diminui com a abscissa, definindo a curva “52”, compreendida entre yn € Yc © Posicdo 3 - Profundidade menor que yn e que yc: Finalmente, se a profundidade na seco for inferior a yn e yc, define-se que tanto fr como f2 80 maiores do que a unidade, implicando que tanto 0 denominador como o numerador da equacao (10.12) sao negativos. Assim, diyldx > 0, ou seja, a profundidade cresce com a abscissa. Define-se a curva "53", compreendida entre yn ¢ o fundo do canal 10.3.3 Canais com declividade c Se a declividade for igual a critica, ocorre a coincidéncia das profundidades yn € ye Desta forma, existem apenas duas possibilidades para o NA, acima e abaixo da profun- didade yn = yc, conforme pode ser visto na Figura 10.6. Figura 10.6 - Linhas d'gua em canais com declividade critica Efetuando-se uma andlise similar a vista anteriormente, podem ser definidas duas posicées relativas para o NA: * Posigdo 1 - Profundidade maior que yee que yr Neste caso f; < 1 e f2< 1, levando a sinais positivos, tanto para o numera- dor como para o denominador na expresséo (10.12). Assim, tem-se dy/dx > 0, indicando 0 crescimento da profundidade com a abscissa, definindo-se acurva "C1", * Posicdo 3 - Profundidade menor que yn € que Yc Com a profundidade na secao inferior a yn @ ye, define-se que tanto f; como fy s80 maiores do que a unidade, implicando que tanto o denominador como 0 numerador da equacao (10.12) sdo negatives. Assim, dy/dx > 0, ou seja, a profundidade cresce com a abscissa. Define-se a curva “C3", compreendida entre yn = yc e 0 fundo do canal Acurva “C2” deveria estar compreendida entre yn € yc. Como estas curvas so aqui coincidentes, constata-se que C2 corresponde a linha d’gua em escoamento uniforme, no regime critico. 257 Ee Fundamentos de Engenhria Hues 10.3.4 Canais com declividade nula Quando © canal é horizontal, a profundidade normal nao pode ser definida, visto que 0 canal no pode funcionar em escoamento uniforme, pois a profundidade tende para infinito. Sao definidas as duas posicbes relativas do NA, conforme pode ser visto na Figura 10.7, Figura 10.7 - Linhas d'agua em canais com declividade nula A partir das equagées (10.5) e (10.11), sabendo-se que ! = 0, define-se: ed ox 1-f Pode-se definir que o sinal de dy/dx é contrério ao do denominador, pois sendo a declividade nula, o numerador sempre sera negativo. Assim, configuram-se duas situa- es, correspondentes as posicées do NA na Figura 10.7. (10.13) : * Posicdo 2 - Profundidade maior que ye © denominador serd positivo pois fo < 1. Neste caso dy/dx < 0, com a profundidade decrescendo segundo a curva “H2" *# Posicdo 3 - Profundidade menor que ye: Como fy >1, 0 denominador sera negativo, acarretando dy/ax positive, ou seja, profundidade crescente com a abscissa, segundo a curva “H3”. 10.3.5 Canais em aclive Nos canais em aclive também nao existe a profundidade normal. Assim, de forma I similar aos canais com deciividade nula, definem-se apenas duas posicées relativas do i NA, conforme pode ser visto na Figura 10.8. ee Figura 10.8 - Linhas d'aqua em canais com decividade adversa 258 sre m—————————————_—_———_ scoamento gtadualmente varias | Capo 10 Com a declividade sempre negativa, pode-se escrever a partir das expres- s6es (10.5) e (10.11): (10.14) Define-se, entdo, que o sinal de dy/dx é também contrario ao do seu denominador, pois sendo a declividade negativa, o numerador sempre sera negativo. Assim, para as posic6es indicadas na Figura 10.8, vem: * Posicéo 2 - Profundidade maior que ye © denominador sera positivo pois fz < 1. Neste caso dy/dx < 0, com a profundidade decrescendo, segundo a curva “A2”. * Posigao 3 - Profundidade menor que yc: Como f2> 1, 0 denominador sera negativo, acarretando dy/dx positivo, ou seja, a profundidade ¢ crescente com a abscissa segundo a curva “A3 As curvas "A2” e “A3” dos canais com declividade adversa sao, portanto, similares as curvas “H2” e “H3” dos canais horizontais. 10.3.6 Conclus6es A andlise qualitativa efetuada permite definir 12 tipos basicos de perfis de linha d’agua em regime gradualmente variado. incluindo-se as linhas d’agua em escoamento uniforme para os canais com dedlividades fraca, forte e critica, obtém-se o quadro resumio geral apresentado, compreendendo os 15 tipos de curvas possiveis: Quadro 10.1 - Ocorréncia de linhas d’agua Declividade do canal Regime Fluy Gritico Torrencial Fracal M1, M2, Uniforme M3 Critica ca Uniforme C3 Forte st - $2, $3, Uniforme Nula H2 - H3 Adversa A2 : a3 Na Figura 10.9 sao apresentados exemplos de perfis de linha d'agua frequentemente abservados em configuragées hidraulicas usuais. Estes perfis, como pode ser verificado na figura, s80 associados, sobretudo, a alteracées de declividades de fundo de canais Deve ser salientado, entretanto, que a sua ocorréncia é também observada em situacées distintas, tais como as transicbes horizontais e singularidades, em degraus, soleiras etc 259 - undomentos de Engenhaia Midrbulca b) = Prof. normal — Prof. critica ~~ Figura 10.9 - Situacbes de ocorréncia de algumas linhas d'équa Fonte -Adaptado de Chow, 1958, Nivel e'agua Na figura pode ser observado ainda que os perfis de linha d’égua no escoamento gradualmente variado frequentemente correspondem & combinacdo de duas ou mais das linhas d’agua precedentemente estudadas. Exemplo 10.1 Determinar qualitativamente o perfil da linha d’agua para a situacao da figura, identificando os tipos de curvas observados e as secbes de controle hidrdulico. Tee I>le Solugéo scl sc2 sca sca ‘SC1 - Controle de canal SC2 - Controle critico SC3 — Controle critico SC4 - Controle de canal 260 Escoamento radualmante vtiado | Captuo 10 10.4 Calculo da linha d’agua no escoamento gradualmente variado O conjunto das express6es estabelecidas e das consideragbes qualitativas efetuadas anteriormente permite passar a determinacao quantitativa da lamina d’agua nos escoamentos gradualmente variados. Para a utilizacéo de qualquer técnica de calculo, 0 procedimento basico repousa na anélise hidraulica do sistema, através da identificaco das segdes de controle e da determinacdo das profundidades normals e criticas associadas a cada trecho. A partir da definicao dos tipos de linhas d’agua pertinentes, e portanto da evolucéo qualitativa do NA, podem ser identificados os regimes de escoamento em cada trecho, permitindo estabelecer o sentido da marcha dos cAlculos a seguir, ou seja, de jusante para montante em regime fluvial e de montante para jusante em regime torrencial Exemplo 10.2 Indique qual a marcha dos calculos que deve ser adotada na determinagéio do perfil do NA do exemplo 10.1 Solugéo Trecho | Regime fluvial, controle jusante -» cdlculo de jusante para montante L< + Trecho tt a) Queda: escoamento bruscamente variado b) Regime tortencial, controle montante ~> calculo de montante para jusante ©) Ressalto: escoamento bruscamente variado d) Regime fluvial, controle jusante -> calculo de jusante para montante Trecho Ill Regime torrencial, controle montante — calculo de montante para jusante © calculo dos escoarnentos gradualmente variados pode ser efetuado de diversas formas distintas, indo desde procedimentos graficos até processos analiticos de integracao direta, passando por métodos de integragéo numérica. Com a disponibilidade atual de meios computacionais possantes, adotam-se principalmente estes tiltimos, sendo que o processo mais utilizado atualmente consiste no que pode ser denominado como Método de Integracao por Passos, cortespondente ao Direct Step Method e ao Standard Step Method. 261 ee Fandamentos de Engenharia Hdratca (0 metodo baseia-se na discretizacao do canal em segmentos e em consideracées relativas a0 balanco energético entre duas sec6es vizinhas. A hipétese basica é que estas duas secées devem ser suficientemente proximas para que o perfil da superficie lquida entre as sec6es passa ser admitido como uma linha reta, conforme Figura 10.10. Aplicando-se Bernoulli entre as secGes 1 e 2, pode-se definir: uz UE | ZW ag teat gE tan como Az = 1Ax Ah = JAX } Pode-se escrever: E,-E, (10.15) l aoa ied Considerando que as perdas de carga nos escoamentos gradualmente variados po- dem ser consideradas como equivalentes as perdas no escoamento uniforme, J pode ser calculado a partir da equacao (10.7), utilizando as caracteristicas médias das secdes 1 e 2: 262 coamento racuamentevaiado | Capo 10 (10.16) (10.17) A partir da avaliacao qualitativa da forma de evolugdo da linha d’égua no canal € conhecendo-se as caracteristicas hidréulicas de uma seco 1 (uma seco de controle), pode-se arbitrar a profundidade em uma secao vizinha 2. A partir desta profundidade pode-se calcular as diversas varidveis hidraulicas para a seco 2 e, em seguida, 0 valor de J, de acordo com a equacéo (10.16) ou (10.17). Finalmente, voltando equacdo (10.15), pode-se calcular Ax, a distancia que separa as sec6es 1 © 2 A repeticao do procedimento anteriormente descrito entre os pontos 2 (agora conhecido) e 3 e, sucessivamnente, em todo 0 canal permite a definicéo quantitativa da linha d’agua ao longo deste. Traca-se entao o perfil da linha d’égua no canal, a partir das cotas do NA nos pontos discretizados Exemplo 10.3 Um canal retangular de conereto (n = 0,015), com declividade de 0,0005 mim e largura de 2 m, funciona em regime uniforme com a profundidade de 1,43 m. Determinar 0 remanso causado por uma pequena barragem de 1m de altura, Solugao Calculo da vazao: A=2mx 1,43 m=2,86 1? P=2m+2x1,43m=4,86m Rn= 2,86 m?/ 4,86 m = 0,59 263 rundamentos de Enger Hela 1 0,015 3mi/s x 2,86 x (0,59) x (0,0005) Secao da barragem: Sobre a barragem, observa-se a profundidade critica: =(Q?/B?g)"? =(3? /2?x9,81)"? =0,61m imediatamente a montante desta, a profundidade 6: 1,00 m +0,61 m=1,61m Us = QUA: = 3 ms / [2 mx (1 m + 0,61 m)] = 0,93 mis Ey = (1. m+ 0,61 m) + (0,93 misP/ (2x 9,81 mis? = 1,65 m Rhy = 0,62m Na secao onde ocorre a profundidade normal Up = Q/ Az = 3 mils I (2 m x 1,43 m) = 1,05 mis £2 = 1,43 m + (1,05 mis? /2g = 1,49m Calculo de J entre as secées 1 e 2: T = (0.93 mis + 1,05 mis) 12 = 0,99 mis R, = (0,59m +062 m)/2=0,61m 0,01570,99° oer? = 0,00043m/m Calculo de Ax: 1,49-1,65 0,0005-0,00043" Assim, 0 remanso atingiré uma distancia de 2286 m acima da barragem O sinal negativo indica que o valor calculado corresponde ao sentido con- trario ao escoamento. - 2286 m E importante salientar que 0 calculo efetuado no exemplo 10.3 corresponde a uma determinacao aproximada tendo em vista que seria necessario adotar-se uma discretizacdo | 4 264 {scoamento radualmente vaiodoICostuo 10 adequada, mais fina, para a obtencao de uma linha d'agua precisa. Considerando-se que no exemplo tratou-se de uma curva do tipo M1, que tende assintoticamente da pro- fundidade normal para uma profundidade maior a jusante, pode-se supor, a priori, que © calculo efetuado no acarretou erros significativos. Exemplo 10.4 Um canal trapezoidal, com base de 20 m, taludes 1,5 (H): 1 (V), declividade de 0,001 mm e rugosidade de 0,025, transporta uma vazéo de 550 m/s. Calcule o perfil da linha d'gua do ponto final do canal, em queda livre, até um ponto em que y = 0,85 yn. Solusdo Na seco de jusante ocorre a profundidade critica, Assim, pode-se determinar a profundidade critica através de uma das equacdes do regime critico: Q°B = 9A? Como A e B sao fungées da profundidade critica, pode-se determinar, iterativamente, que para a vazéo de 550 m%s, ye= 3,85 m. Em uma dada secao de montante ocorre a profundidade normal. Assim, pode-se determinar a profundidade normal através da equacéo de Manning: ont aneiaq2 *aRi Como A e Rh sdo func6es da profundidade normal, pode-se determinar, iterativamente, que para a vazéo de 550 m/s, rugosidade de 0,025 declividade de 0,001 m/m, ynassume o valor de 5,88 m. A profundidade correspondent a 85% de yn 6, portanto, 5,00 m perfil da linha d’agua entre os pontos acima definidos corresponde a uma curva tipo M2, em regime subcritico. O célculo deve ser efetuado, portanto, do ponto de ocorréncia da profundidade critica até 85% de yn, de jusante para montante. Arbitrando-se valores de profundidades entre 3,85 me 5,00 m, determinam- -se.os valores de drea e raio hidraulico correspondentes (colunas 1, 2 ¢ 3 da planilha de célculo). Em seguida calculam-se os valores das velocidades e energias especificas (colunas 4, 5 e 6). 265 Fundementon de Engenbada Hiren Os valores de J (coluna 9) séo obtidos aplicando-se a formula de Manning, adotando-se os valores médios de velocidade e raio hidraulico entre duas secdes adjacentes (colunas 7 e 8), passo a passo. Obtém-se, em seguida, os valores de Ax que separam as segdes de calculo e a distancia acumulada a partir da primeira seco de calculo (colunas 10 e 11). a) Q) @) @ © (6) @). (9) (0) 41) y A Rho UU Vg E a ee! Ax YAx (mn), (mm) (mn) (rvs) (m) (m) (rvs) (mori) tm). 385 99,23 2,93 5,54 1,56 5,41 5,33 3,00 0,0041 6,45 6,45 410 107,22 3,08 5,12 1,33 5,43 491 3,17 0,0032 45,45 51,90 440 117,04 3,26 4,70 1,13 5,53 452 3,35 0,025 86,67 138,57 470 127,14 3,44 433 0,96 5,66 4,17 3,53 0,020 160,00 298,57 5,00 137,50 361 400 082 5,82 Assim, a profundidade correspondente a 85% da profundidade normal ocorre acerca de 300 m (298,57 m) da extremidade jusante do canal. Este cdlculo usualmente é efetuado com a utilizacéo de computadores, tendo em vista o grande numero de operacdes envolvidas. Nestas condicdes adotam-se, em geral, intervalos de célculo pré-fixados, denominados passo padrdo. Assim, em uma rotina computacional arbitra-se um valor de y2 que permite o calculo de E2 e, em seguida de A x. O valor de A x calculado deverd ser igual ao valor pré-fixado; caso contratio, recomeca-se a operacéo, com um novo valor de y2 até que se consiga obter um valor de Ax “calculado” igual ao Ax “arbitrado”, dentro de um nivel de precisdo aceitavel, previamente definido. Cuidados especiais devem ser tomados nos trechos em que se observa uma curvatura acentuada do fluxo (segmentos tracejados nas Figuras 10.4 a 10.8). Nestas regides deverd ser adotada uma discretizacao mais fina, com valores mais reduzidos entre o espaca- mento das secdes de calculo ou entre as diferencas de alturas arbitradas. Com efeito, a adocao de uma discretizacéo inadequada pode conduzir a resultados significativamente diferentes daqueles que seriam obtidos com uma discretizacao mais acurada, mais fina Para o caso de secées compostas e com rugosidade variével, conforme visto no Capitulo 9, ocalculo torna-se mais complexo, implicando a necessidade de se computarem as variagoes do coeficiente de rugosidade com o nivel d'agua e as variacoes de forma Para 0 caso de secbes apenas com rugosidade varlavel, 0 célculo pode ser efetuado por tentativas, introduzindo a variacdo do coeficiente de rugosidade de forma implicita na variagao do nivel d'agua, verificando-se, em seguida, se 0 coeficiente arbitrado esté compativel com o nivel atingido. 266 Fscoamento gradualment variadoICeptuo 10 Para o caso de secdes compostas, torna-se necessario efetuar o calculo também de forma iterativa, através dos fatores de conducéo (K) associados a cada subsecdo & da variacdo dos coeficientes de Coriolis da secao para cada nivel. Conforme visto no Capitulo 9 para 0 escoamento uniforme, pode-se escrever: Ae TP Para 0 caso do escoamento gradualmente variado, vem: Q=Ksre (10.18) Supondo J constante para todas as subsecées, vem 2 e (10.19) TRF Pode-se entdo efetuar 0 calcul de forma iterativa, variando J e Uma descricdo detalhada dos processos de célculo para secoes compostas encontra- -se apresentada em Henderson (1966). 10.5 Calculo em condigdes de vazao nao definida As situac6es colocadas no item precedente pressupdem conhecida a vazao em transito. Entretanto, podem ocorrer situagdes em que as vaz6es € as profundidades nao 40 conhecidas, como no caso das saidas de reservatorios, que seré discutido a seguir. Supondo um reservatorio com um dado nivel d'agua constante, com velocidade de aproximacao nula, alimentando um canal, com rugosidade n, implantado com uma declividade /, podem ocorrer duas situacées distintas: * se a declividade do canal for igual ou superior a critica, ocorrerd a pro- fundidade critica na saida do reservatorio e a vazao critica seré transportada pelo canal, 267 Ro rundarpentos de Engi Hiden © se a declividade for inferior a critica, ocorrera a profundidade normal logo a saida do reservatério. A solucao do problema passa, portanto, pela determinacao da declividade critica. Assim, supondo que a profundidade critica ocorra a saida do reservatério, podem ser aplicadas a equacao (8.3) e a equacao (8.9), adaptadas para as condicées de saida do reservatério (Chaudry, 1993): (10.20) Q H, =y.+(1+ — = Vo ( Ce saat Q’B=9A" (10.21) onde H, é a profundidade do reservatério em relagio ao nivel de entrada do canal e Ce 6 um coeficiente de perda de carga na entrada (ver Capitulo 13). Sabendo que A e B sao funcdes de yc, este sistema de equagées pode ser resolvido para Qe ye. Partindo do pressuposto de que & declividade critica corresponde um escoamento | normal com profundidade critica, pode-se determinar a declividade critica pela formula \ de Manning: | 2 I (Se) (10.22) Pela comparacao da declividade critica com a declividade real do canal (/), pode-se, em seguida, identificar a situacao: * se a declividade do canal for igual a critica, a vazéo e a profundidade calculadas esto corretas; i * sea declividade do canal for superior & critica, apenas a vazao esta correta ea linha d’dgua pode ser definida sabendo-se que ocorre a profundidade na saida do reservatério, ¢ esta tende, em seguida, para a profundidade normal. | Finalmente, para 0 caso em que a declividade do canal for inferior a critica, a vazdo I € a profundidade calculadas esta incorretas e € necessério adotar um procedimento complementar de cdlculo, através da utilizacdo da equacdo (10.23), resultante da com- | binacao da equacao (10.20) com a formula de Manning (i+) BY + San! RAL (10.23) 268 dee eee ee ee eoamento graduament aria I Captio 10 A vazo correspondente a profundidade y, calculada através da expressao (10.23), pode entdo ser obtida através da aplicacao direta da formula de Manning, com a declividade real do canal Exemplo 10.5 Calcule a vazao em um canal de concreto, com rugosidade 0,015, largura de 5,00 me declividade de 0,3%, abastecido por um reservatorio com nivel d'agua situado a 1,50 m acima da entrada do canal, admitindo-se que Ce seja sensivelmente igual a zero. Solucéo 00m como G=0, Ye 2h,= 1,00m q=19.81-(yc)* = 19,81x(1,0)? = 313m? sm Q=q8 = 313.5 =15,66m? /s mPQ@ _0,0157x15,66" RRIF? O74 k= 0,0035m/m Como i; > I, a vazao calculada nao corresponde as condicdes reais, ou seja, © canal funciona em regime fluvial. Torna-se necessario recalcular a vazdo para esta condicao de funcionamento. 43 ne yA 1 to 1,50= x0,003 Y*Fx9,81x(0,015)_ sees, uy y =1,05m 7 (1,05x5)°? x 7 x0,003"? =15,61m" /s 0,015 (5+2x1,05) q-— A vazio em transito no canal é 15,61 ms, 269 Fundmentos do Engenharia Hdrsuten | Escoamento de saida de reservatorio (UHE Antas, MG) | Problemas 10.1 Esbocar o perfil qualitativo da linha d’aqua da situacéo esquematizada na figura, identificados os tipos de curvas presentes e as secdes de controle. I10 Grande turbuléncia (forte) Figura 11.3 - Tipos de ressalto hidraulico Forte Adaptado de Siveste, 1979. A definigao da localizacao do ressalto hidraulico também € muito importante, tendo em vista a eventual necessidade de protecéo na regiéo de ocorréncia, em funcdo da forte dissipacao de energia e da consequente possibilidade de erosao. Para efetuar sua determinacao € necessdrio que sejam determinadas duas linhas d’agua, a montante e a jusante, a partir das profundidades conhecidas. Calculando-se a linha d’agua conjugada a partir de montante, o ressalto fica definido pela intersecao desta curva com a de jusante, ‘em primeira aproximaco. Deve-se, em seguida, satistazer, simultaneamente, a equacéo do comprimento do ressalto e a relacdo entre as profundidades conjugadas. A localizacao do ressalto pode também ser definida a partir do conceito de forca especifica, como sera visto ulteriormente. ‘Ainda quanto a localizacao do ressalto, pode-se distinguir, essencialmente, trés situacoes basicas, correspondentes a relacao entre a profundidade conjugada jusante, y,, a profundidade final do escoamento a jusante, y,’, conforme ilustrado na Figura 11.4. ‘A profundidade final do fluxo, a jusante do ressalto, condiciona a posicdo relativa deste. O Caso 1 corresponde a um ressalto estabilizado; no Caso 2, com a profundidade do escoamento a jusante menor do que a profundidade conjugada jusante, o ressalto desloca-se para jusante. Enfim, 0 Caso 3 corresponde a situagao contraria, ocorrendo (© deslocamento do ressalto para montante, podendo mesmo ocorrer 0 “afogamento” deste, scoamento buscarente variado | Capit 11 Figura 11.4 - Localizagao do ressalto hidraulico Fonte - Adaptado de Chow, 1959. 11.2.2 Ressalto em canais com geometria nao retangular ‘Aanélise do ressalto hidraulico em canais prismaticos nao retangulares nao permite a obtencao de express6es gerais, operacionalmente diretas como as obtidas para canais retangulares. Com efeito, para canais com geometria qualquer, pode-se voltar a equac3o da conservacao da quantidade de movimento (11.1) e escrever: 1Q0U, Uy) =7Ahy ADP, (18) g onde h, € a distancia da superficie até o centro de gravidade da secao. Aplicando a equacéo da continuidade, ver: a & 41.9) So hy = Fo Ah Esta expressdo geral apresenta uma relativa dificuldade para sua utilizacao, devendo ser resolvida iterativamente. Entretanto, algumas express6es e graficos semiempiricos encontram-se disponiveis na literatura, facilitando 0 calculo do ressalto em secoes genéricas. Um caso particular diz respeito ao ressalto em condutos circulares, de amplo em- prego em Engenharia Hidraulica, Conforme French (1986), dispde-se de um conjunto de expressGes semiempiricas que permitem o tratamento da questao, destacando-se os trabalhos de Straub, que propés, em 1978, a equacdo (11.10) (11.10) 281 Fundementos de Engenharia Hedrlicn | Para numeros de Froude a montante inferiores a 1,7, pode ser utilizada a expresso (11.11), caso contrario adota-se a equagao (11.12): 2 = (ia) 1 18 | = (11.12) i ‘Ainda conforme descrito por French (1986), a profundidade critica nos condutos circu- lares pode ser estimada pela seguinte expressao, valida para a faixa de y/D entre 0,02 e 0,85: | eed (ey (11.13) | v9 ‘ou, adotando-se a= 1) wr(ay™ Ye a2) (11.13a) Estas equacdes permitem, portanto, uma base pratica para estimativa das profun- didades conjugadas dos ressaltos hidraulicos em condutos circulares. Entretanto, os tra~ balhos experimentais j4 desenvolvidos nao permitiram a obtencao de dados conclusives sobre seu comprimento. Exemplo 1 Um ressalto hidraulico ocorre em um canal circular com diametro de 1,50 m, transportando uma vazao de 2,10 m/s com uma profundidade de escoa- mento de 0,60 m. Pede-se determinar a profundidade conjugada jusante Solugao ® y/D = 0,40 = pode-se adotar a expressao (11.13a): 9,506 101 (210 al =07413 150° (; i) 282 Escoumento bruscamentevarado Capt 11 1.93 . ra (22) =1,50 741F 0,60 =0,9159 © Como Fr,< 1,7 = Yo= A profundidade jusante é, portanto, cerca de 0,92 m. 11.2.3 Ressalto em canais inclinados o No que diz respeito aos canais inclinados, © peso do volume de controle corres- pondente ao ressalto hidraulico apresenta um componente no sentido do escoamento, levando a uma maior complexidade no seu tratamento matematico. Estudos tedricos e experimentais descritos por Chow (1959) permitem a obtencdo de graficos que possibilitam o tratamento pratico da questao. As Figuras 11.5 € 11.6 apresentam graficos que permitem o cdlculo das profundidades conjugadas e do com- primento do ressalto em canais retangulares inclinados. eee errr L om oT Pe A OT HOH TS 4 8 16 17 18 19 20 Figura 11.5 - Profundidades conjugadas em ressaltos er canais inclinados Fonte - Adeptado de Chow, 1959. 283 Fandameatos de Engenharia Wide de 0,1 m/m, com uma profundidade montante de 0,25 m. Sabendo-se que a vazo transportada é de 3 m?/s.m, pede-se definir a profundidade conjugada jusante e o comprimento do ressalto. fr 1 i Figura 11.6 - Comprimento dos ressaltos em canais inclinados Fonte» Adaptado de Chow, 1959, Resta dizer que o ressalto em canais inclinados pode assumir diferentes configu- racbes e posicionamentos. Uma discusséio mais aprofundada sobre 0 assunto pode ser vista em Chow (1959). Exemplo 11.4 Um ressatto hidréulico ocorre em um canal retangular largo com declividade Solucdo | * Parag =3 m'sme y= 0,25 m, vem: 3,75m arene aencmeerereesrrceeccccrccccccmmmmmammmmmcaamammamal scoamento brscarantevariado I Captulo11 * De acordo com a Figura 11.6: + 11.3 Forga especifica Um importante conceito que pode ser adequadamente introduzido através do ressalto hidraulico diz respeito a Forca Espectfica, que sera visto a seguir. Conforme ja mostrado, a forca devida a pressdo hidrostatica em canais retangulares pode ser expressa a partir da equacao (11.2), substituindo-se y por pg: Trabalhando-se com vazio por unidade de largura, a partir da equacao (11.1), pode-se escrever para o ressalto hidréulico PQU; - pqU, = vif Vf, com q = U,, vern (ee -mt) (2+) -0 ny 2 Assim: (11.14) Pode-se entéo introduzir o conceito de Forca Especifica (M), definida como sendo correspondente & soma do fluxo da quantidade de movimento na segao (q#/ay) com a forca resultante da pressao hidrostatica (7/2). A forca especifica assume a seguinte forma, para segoes retangulares: ~ (91.15) 285 -Fundaments de Engen Widrslca Para secdes de geometria nao retangular, pode-se escrever, a partir da equacao (11.9): = g (11.16) M= Aly O ressalto hidréulico corresponde, portanto, @ igualdade das forcas especificas nas secées imediatamente a montante e a jusante deste: M,= Plotando-se em um grafico a variagdo da Forca Especifica em funco da profundi- dade, obtém-se uma curva da forca especifica, conforme pode ser visto na Figura 11.7: Figura 11.7 - Curva da forca especifica Constata-se, a partir do grafico, que para a profundidade tendendo a zero, a curva € assintotica ao eixo das abscissas. Quando esta tende para infinito, a fora especifica € também crescente. Finalmente, constata-se que a funcao passa por um minimo quan- do a profundidade ¢ critica, ou seja, a forca especifica € minima no regime critico de escoamento. Outro aspecto importante da curva das forcas especificas consiste na sua relacéo com a curva das energias especificas, conforme pode ser visto na Figura 11.8, relativa a.um ressalto hidraulico: Biacle © Me Figura 11.8 - Curva da Forca e Energia especiticas junto a um ressalto hidraulico Escoamentobrucomente vriado {Capito 11 Assim, para a posicao a montante do ressalto hidrdulico, com profundidade y,, corresponde a energia espectfica E, e a forca especifica M,. Na seco de jusante, com profundidade y,, constata-se a energia especifica E, , menor que E,, tendo em vista que ocorre a dissipacdo de energia no ressalto. Por outro lado, verifica-se a igualdade das forcas especificas, M,, a montante e M,, a jusante. A profundidade critica correspondem a minima energia especifica e a minima forca espectfica O conceito de forca especifica consiste, portanto, em interessante ferramenta para a definigéo do posicionamento do ressalto hidrdulico, como citado anteriormente Problemas 11.1 Um ressalto hidrdulico ocorre em um canal retangular largo com profundidades conjugadas montante e jusante de 0,45 m e 1,90 m, respectivamente. Determine a vazéo unitaria em transito, a profundidade critica e a energia dissipada no ressalto. 11.2. Em uma dada seco de um canal retangular largo observa-se 0 escoamento com profundidade de 0,50 m e velocidade de 12,00 mvs. Pede-se determinar: a) a profundidade alternada (ver Capitulo 8); ) a profundidade conjugada; 0)a perda de carga para a hipotese de que o ressalto ocorra nesta secao. 11.3 Supondo a ocorréncia de um ressalto hidrdulico a jusante do trecho de escoamento gradualmente variado junto & comporta na situa¢ao do Problema 11.1, com profundidades conjugadas de 0,50 e 2,00 m, determine os seguintes dados: a) a vazao em transito, sabendo que a largura do canal ¢ de 5,00 m; b) 0 tipo de ressalto; 0 comprimento do ressalto; d) a energia dissipada (Ef 11.4 Um ressalto hidrdulico ocorre em um canal retangular largo com declvidade de 0,05 m/m. Sabendo-se que a profundidade de escoamento para uma vazéo de 2 m2s.m é de 0,40 m, pede-se definir a profundidade conjugada e o comprimento do ressalto iwi) 11.5 Em um canal trapezoidal com largura de base de 5,00 m, taludes com z= 1,5 e declividade nula, uma vazao de 30 mi/s acarreta um ressalto hidraulico com profundidade conjugada montante de 0,50 m. Determine a profundidade conjugada jusante e a energia dissipada no ressalto. 11.6 Um canal circular com diametro de 1,20 m transporta uma vazdo de 1,70 m*/s com uma profundidade de escoamento de 0,50 m. Sabendo-se que em determi- nada secao ocorre um ressalto hidraulico, determine a profundidade conjugada de escoamento. 287 Fundamantos de Engenharia Hirai 11.7 Um vertedor de 12 m de altura descarrega 250 m/s em uma plataforma horizontal com 50 m de largura, revestida em concreto com rugosidade de 0,015. As condic6es locais dao origem a um ressalto, com altura jusante de 2,00 m, que deve ser inteiramente contido na plataforma, de modo a evitar problemas de erosao. Pede-se determinar o comprimento total da plataforma (trecho anterior ao ressalto + ressalto) e a energia dissipada (total e apenas no ressalto). 11.8 Um reservatorio com NA na cota 200,00 possui um vertedor com 30 m de largura descarregando uma vazdo de 800 r?/s em uma plataforma horizontal, onde ‘ocorre um ressalto hidrdulico junto ao inicio da plataforma. Considerando nulas as perdas de carga no vertedor e sabendo-se que 0 nivel do NA a jusante do ressalto esta na cota 100,00, determine a cota de fundo da plataforma. 288 Capitulo 12 cipios de hidraulica fluvial O presente capitulo objetiva apresentar algumas informacées relativas 05 processos de conformacao dos sistemas fluviais, de forma a subsidiar uma melhor compreensao do comportamento dos rios. Em um primeiro momento, so apresentados alguns principios relativos ao transporte de sedimentos; em um segundo momento, séo apresentados aspectos de morfologia fluvial, tanto em escala local, abrangendo 0 leito e 0 fundo do canal, como em escala espacial mais ampla, com a apresentagdo de configuragoes topogréfcas caracteristicas e o desenvolvimento fluvial em planta e perfil 12.1 Introdugao Os cursos d’gua apresentam, naturalmente, variacées sazonais de vaz6es, estando também, frequentemente, sujeitos a interferéncias antrépicas em suas bacias hidrogré- ficas, com reflexos hidrol6gicos e climaticos. As alteracoes de regime fluvial, naturais ou nao, fazem com que as caracteristicas hidraulicas também sejam modificadas, com respostas correspondentes em termos de velocidades de escoamento, de taxas de transporte de sedimentos e de conformagao do leito fluvial. Constata-se, portanto, um carter extremamente dinamico da configuracéo do canal fluvial, tanto no espaco como a0 longo do tempo, sendo que a compreenstio dos mecanismos de interagao entre as interferéncias nos cursos d’4gua e suas consequéncias s40 de extrema importancia nos estudos relativos a protecao contra erosdo das margens dos rios, dos pilares e encontros de pontes, assoreamento de barragens, tomadas de agua etc. Oestudo da dinamica das formas dos cursos de agua e das zonas de inundacSo, decor rente da ago da 4gua e dos processos de transporte sdlido, € denominado morfologia fluvial. © presente capitulo objetiva apresentar algumas informac6es basicas relativas a Fundamentos de Engenharia Mdrules esse tema complexo, de forma a subsidiar uma melhor compreensao do comportamento dos rios, complementando assim os principios da hidrdulica dos escoamentos a superficie livre, apresentados nos capitulos 7 a 11 12.2 Escalas e dindamica da configuracao dos sistemas fluviais Ao se analisar um rio por meio de uma visao de cima (vista em planta), sua forma depende da escala de andlise, indo desde uma visao local, do trecho fluvial, até a escala da bacia hidrografica, conforme pode ser visto na Figura 12.1 escala de trecho/ scala de bacia escala local | subtrecho: hidrografica Figura 12.1 - Formas fluviais e escalas Fonte - Adaptado de Taylor, 2002 A conformacao dos sistemas fluviais, em termos de seco transversal e perfil longi- tudinal e da ocorréncia de formas topograficas especificas, esta profundamente ligada aos processos de degradacao e agradago, concernentes, portanto, ao transporte e deposicao de sedimentos, como serd visto no préximo item. Por sua vez, 0 conjunto dos processos relativos ao transporte e deposicdo de sedimentos esté ligado a distribuicao das velocidades no canal fluvial, conforme visto no Capitulo 7, onde se constata o aumento da velocidade das margens para 0 centro e do fundo para a superficie. Entretanto, as condicGes de escoamento em curvas e nas planicies de inundacao apresentam particularidades importantes. No escoamento em curvas observa-se a ocorréncia de correntes secundarias decor- rentes de um fluxo em espiral, como pode ser observado na Figura 12.2, acarretando maiores velocidades na borda externa e menores velocidades na borda interna das curvas. Ocorrem, portanto, zonas de erosao e de deposicao de sedimentos, que desempenham importante papel na conformacao dos rios, como sera visto nos préximos itens 290 Princpios de hire vil Captle 12 Figura 12.2 - Escoamento em curvas, Fonte - Adaptado de Leopold, 1997. No caso de transbordamento do curso d’égua para a planicie de inundacao, a ocorréncia de materiais distintos ao longo do perimetro molhado, com uma variacao sensivel da rugosidade (valores elevados do coeficiente de rugosidade “n” na planicie de inundacao), e a alteracdo abrupta dos parametros geométricos da secdo, notadamente o perimetro molhado, conduz a velocidades significativamente diferentes nos dois corpos de Agua ~ canal fluvial e planicie de inundacéo. Ocorrem, entao, processos de transfe- réncia de energia e massa entre eles, como ilustrado na Figura 12.3, que se refletem em alteracdes na forma dos rios, com componentes distintos conforme o estagio de extravasao ou de retorno das Aguas ao leito principal. interagao Igito-planicie we a Figura 12.3 - Escoamento na interface canal fluvial e planicie de inundacdo O conjunto dos aspectos topograficos, geolégicos, pedolégicos, climéticos e hidro- légicos inerentes a bacia hidrogréfica, em combinacdo com os processos modeladores da calha fluvial, associados as caracteristicas do escoamento, atribuem, portanto, um carater extremamente dinamico & configuracao do canal fluvial, tanto no espaco como a0 longo do tempo. Assim, no presente capitulo serdo tratados alguns aspectos da morfologia fluvial em escala local — leitos e secdes ~ e em escala de trecho, de forma a permitir a compre- ensdo, ainda que de forma superficial, dos processos de mudanca e de seus impactos Nos estudos e projetos envolvendo a engenharia fluvial. 291 Fundomentos de Engenharia Hrs 12.3 Processos de formacao do canal fluvial Os processos de formacao do canal fluvial estao ligados as caracteristicas hidréulicas e as caracteristicas geotécnicas locais, influenciando os mecanismos de transporte de sedimentos modeladores da calha fluvial, como seré visto a seguir. 12.3.1 Transporte de sedimentos — Ciclo hidrossedimentolégico O desprendimento de particulas sélidas de um meio do qual fazem parte, seja 0 leito fluvial ou a superficie da bacia, sob efeito de uma gama de fatores naturais ou antropicos, é denominado de desagregacao. Quando as forcas hidrodinamicas exercidas pelo escoamento sobre as particulas desagregadas ultrapassam a resistencia por elas oferecida, ocorre o seu deslocamento, denominando-se erosao. O processo de movimentacao do material erodido no canal fluvial, denominado genericamente de transporte sélido, pode se dar, essencialmente, de trés formas distintas. As particulas mais pesadas deslocam-se junto ao fundo, por rolamento, deslizamento ou saltagao, constituindo a descarga de fundo ou descarga de arraste. As particulas mais leves sao transportadas ao longo de todo 0 fluido em escoamento, constituindo a descarga em suspenséo. De forma menos importante, em termos de morfologia fluvial, a terceira modalidade de transporte de material corresponde ao transporte em solucao, com 0 material sélido dissolvido no meio liquido. ‘A ptoporcao entre as duas formas de transporte de sedimentos importantes em morfologia fluvial é bastante varidvel, de acordo com as caracteristicas do curso d’égua, dos sedimentos e do regime hidrolégico. De forma bastante grosseira, constata-se que a descarga em suspensao € predominantemente maior do que a de fundo, chegando a transportar de 90% a 95% da carga solida nos rios (Christofoletti, 1981). Apesar de representar um menor volume transportado, a descarga de fundo apresenta maior repercussao na morfologia fluvial A forma de transporte de sedimentos depende das caracteristicas do fluxo, ou seja, das forcas hidrodinamicas presentes, e das caracteristicas fisicas das particulas, notadamente das velocidades de queda. Em funcao destas condicées, pode ocorrer a sedimentacao, que corresponde ao processo de deposicao das particulas no fundo pela acao da gravidade. A deposicao e a consolidagao sd0 0s processos que se seguem e correspondem a acumulacao do material sobre o fundo e sua compactagao devido ao peso proprio. A variacao das caracter(sticas do fluxo, segundo as diferentes condicdes hidrolé- gicas e morfoldgicas inerentes ao canal natural, implica o cardter bastante dindmico destes processos, tanto em termos espaciais como temporais. Assim, a quantidade de sedimentos que é transportada no curso d’agua forma uma onda que acompanha, de forma geral, a onda de cheia. Da mesma forma, locais de deposicao podem suceder locais de desagregacio, e vice-versa, podendo ocorrer inverses do proceso conforme as vaz6es em transito. 292 pet de dria Sal Caputo 12 Da mesma forma, ocorre a tendéncia para uma condicéo de equilibrio proprio, de estabilidade, conforme a carga solida transportada. Assim, se a carga sélida é grande, haverd uma tendéncia de deposicéo, ocorrendo a agradacao do leito fluvial. Ao contrario, se a carga sdlida € pequena, o rio responde com a degradaco do leito. Uma anelogia desses diferentes processos pode ser feita por meio da “Balanca de Lane" (Figura 12.4), na qual se representa a relacao entre os fatores que contribuem para estabelecer um equillorio estével em um canal fluvial. Agralagto ou, deuradeco Figura - 12.4 Balanca de Lane Fonte - Adaptado de Yang, 1996. © equillbrio morfolégico pode ser estabelecido qualitativamente por meio da se- guinte expressdo: Q.D« Ql (12.1) onde: Q, = descarga do material s6lido, em volume por unidade de tempo; D = didmetro médio das particulas do leito; Q = vazo do rio, em volume por unidade de tempo; 1 = declividade do leito. Abusca da condicao de equilibrio morfol6gico pode ser ilustrada por meio de uma andlise das alteracoes de um curso d'4gua natural devido a retificacéo, sendo esta solucéo normalmente empregada para a eliminac3o de meandros. Conforme se pode constatar na Figura 12.5, trecho retificado reduz 0 comprimento, implicando num aumento da declividade do leito do rio, Por conseguinte, a velocidade de escoamento se eleva, podendo levar a eroséio nas margens e no fundo do curso d’égua 293, Fandamentos de Engenharia Mdruce N Figura 12.5 - Resposta do leito fluvial 3 retficacao Considerando inalterada a vaz4o do rio e o diametro médio do material do leito, a luz da equaco (12.1), com o aumento da declividade pode-se concluir que havera um acréscimo da vazao sélida neste trecho. Como a jusante do trecho retificado perma- nece com a declividade original, ele nao tem capacidade suficiente para transportar a totalidade da nova vazao sélida, ficando parte deste sedimento ai depositado. Ocorre, portanto, um processo de degradacao do leito no trecho retificado e um processo de agradacao a jusante. Exemplo 12.1 Analisar as consequéncias da construcao de uma barragem, ap6s a formacao do reservatério num curso d’agua natural, Solugao ‘A consequéncia mais imediata diz respeito @ reducao da velocidade flu- Vial e a0 inicio da formacao de depésitos de sedimento no reservatorio, correspondendo a uma agradacao do leito. Em razdo disso, a jusante da barragem, em funcao dos sedimentos retidos no reservatério, ocorrerd uma reduco da descarga sdlida Q, Considerando que se mantém constantes a vazao do rio Qe 0 diémetro meédio das particulas do leito D a jusante da barragem, em conformidade com a expresso (12.1), um novo equilibrio s6 sera alcancado com a redu- a0 da declividade |, obtido pela erosdo neste trecho, conforme pode ser visto na Figura 12.6. Pircpios de Ndrhuca Raa | Cape 12 Erosdo, Figura 12.6 - Consequéncia da construgéo de uma barragem no leito fluvial 0 racioctnio apresentado anteriormente nao contempla a mudanca do regime fluvial que pode afetar a vazdo Q afluente da barragem, além da vazao sdlida Q; Neste caso, a resposta do leito do rio a jusante da barragem dependera da relacao entre estes parametros. Outro aspecto a considerar seria a alteracao dos diametros médios dos sedimentos a jusante da barragem, pois 0 sedimento fino seria escavado preferencialmente, restando, pois, os sedimentos gratidos, neutralizando assim a reducéo da descarga do material s6lido Q, na equagdo (12.1), A avaliacao quantitativa desses diferentes processos ¢ bastante complexa, constituindo campo de pesquisas tedricas e experimentais. Sua descricdo é efetuada, de forma bastante sucinta, nos proximos itens. 12.3.2 Caracteristicas do leito fluvial © transporte de sedimentos depende das relacdes entre a gua em escoamento e as particulas constituintes do leito fluvial. Tendo em vista a grande variabilidade das caracteristicas destes Ultimos, torna-se importante a descricéo de alguns de seus pard- metros fisicos. Os leitos fluviais podem ser classificados, de forma suméria, em granulares ou coesivos. Os leitos granulares sao constituidos de particulas soltas de diversos tamanhos e formas, sao transportados pelos préprios rios e, no caso de leitos aluviais, apresentam um carater dinamico. Os /eitos coesivos séo constituidos de materiais mais resistentes & erosao, apresentando, portanto, modificacées de forma em longos intervalos de tempo. No caso dos leitos granulares, a propriedade individual das particulas de maior im- ortancia seria seu peso. Como 0 peso especifico dos materiais granulares (y) decorrentes da desagregacao apresenta pequena variacao em torno de um valor médio de 2650 kgf/m’, seu tamanho passa a ser 0 condicionante principal. Usualmente o tamanho das particulas 6 determinado por meio de ensaios granu- lométricos e ¢ caracterizado por D,, sendo D 0 diametro da peneira correspondente a Passagem de n% do material, em peso. Frequentemente adota-se o valor de Dsp como 295 Fundamentos de Engen Hedrticn sendo 0 Diametro Médio - D — do material. No Quadro 12.1 sao apresentados alguns valores caracteristicos para os materiais usualmente encontrados. Quadro 12.1 - Diametros médios de alguns tipos de materiais dos leitos fluviais Material Didmetro Mé Argila D< 0,002 mm Sikte 0,002 < D < 0,060 mm Areia 0,060 200mm Como medida de dispersdo granulométrica, pode ser utilizada a expressao a seguir, sendo que valores superiores a 3 indicam que o leito fluvial € constituido de material bem graduado = VD. /De (12.2) 12.3.3 Resisténcia ao escoamento Devido a diversidade das caracteristicas do leito fluvial e do escoamento, a determi- nagao da resistencia global ao escoamento é um problema de dificil solucéo, conforme discutido no Capitulo 9. Uma das abordagens adotadas ¢ a composicdo de dois tipos de resisténcia: a superficial e a de forma. A primeira ¢ relacionada a superficie do canal plano, coberto pelos graos dos sedimentos. A segunda é provocada pelas formas do leito fluvial, conforme descritas no item 12.5.2 ‘A equacio de Manning (ver equacao 9.7) é uma das equacdes mais empregadas para avaliagéo do escoamento em canais com superficie livre em regime uniforme. Essa equacdo ¢ também muito utilizada para canais em fundo mdvel, ou seja, aqueles onde ocorre a modificacdo do leito em decorréncia do transporte sOlido. Nesses casos, 0 coe- ficiente n corresponde a soma de n, (coeficiente de rugosidade devido aos sedimentos) € 7, (coeficiente de rugosidade devido as formas do leito fluvial), Segundo Meyer, Peter e Milller, para a resisténcia do tipo superficial, em canal de fundo plano, 0 coeficiente da equacao de Manning n, pode ser calculado em funcao do diametro do sedimento conforme a equacao: De mn = (12.3) 296 Prins dhru taval Cope 12 onde: D: dimetro do sedimento (em m) para qual 90% da mistura (em peso) é mais fina. 1, : Coeficiente de rugosidade de Manning, devido aos sedimentos. © coeficiente de Manning para escoamentos em leitos com rugas ou dunas pode assumir valores bastante superiores aos obtidos para fundo plano. Como ainda nao 6 possivel avaliar a resistencia decorrente da forma com seguranca, por meio das leis existentes, usualmente adota-se um coeficiente global, assimilando todos os efeitos de resisténcia envolvidos, como descrito no Capitulo 9 12.3.4 Tensao de arraste A tensdo de arraste corresponde a tenséo de cisalhamento exercida pela dagua em escoamento junto ao leito as margens do curso d’agua. Na hipdtese de escoamento uniforme, em que J =, ela pode ser obtida pela seguinte expresso T=YR,f (12.4) onde: 7: tensdo de arraste, em kgf/m’; 7: peso especifico da Agua, em ktm’, R, : aio hidraulico, em m; / " 1: declividade, em mim. : A tensao de arraste, entretanto, nao se distribui igualmente em todo o perimetro molhado. 0 padrio de distribuigéo varia com a forma da secdo (Vide, 1997), mas é pouco afetado pelo tamanho desta. Um esquema da distribuicao da tensao de arraste numa seco trapezoidal com base igual a quatro vezes a profundidade e taludes de 1:1,5 é mostrado na Figura 12.7. 0,97 yi Figura 12.7 - Distribuigdo da tensao de arraste numa secdo trapezoidal 297 Fundamentes de Enganara Wiraus Em sec6es de forma trapezoidal, que podem ser assimiladas usualmente para cursos d’agua naturais, podem ser definidas as seguintes expressoes: Leite: % = ry! (12.5) Taludes: % =0.76(vy) (12.6) Assim, se estas duas tenses de arraste efetivas forem inferiores a uma tensdo de arraste critica (t,), 0 canal sera estavel. A tensao de arraste critica € fungao do material constituinte do canal e das carac- teristicas do sedimento eventualmente transportado pela agua. No Quadro 12.2 s4o apresentados alguns valores de tens6es criticas de arraste para diversos materiais cons- tituintes dos canais e para duas condicées de transporte de sedimentos. Quadro 12.2 - Tensées de arraste criticas Material do Canal Tensées de arraste criticas (kgf/m’) ‘Agua sem sedimentos Agua com sedimentos col ‘Areia fina 0,13 0,37 Argilo-arenoso 0,18 0,37 Argilo-siltoso 0,23 0,53 Silte aluvionar 0,23 0,73 Solos Argiloso 0,37 0,73 nao coloidais Argila estabilizada 1,85 3,22 Cascalho fino 0,37 1,56 Cascalho grosso 1,46 3,27 Seixos e pedregulhos 4,44 5,37 Argila densa 1,27 2,24 oe silte al 1,27 ite aluvionar ; Coloidais aoe Silte estabilizado 2,10 3,90 Fonte - Adaptado de Santos, 1984. Segundo French (1986), Lane identificou que canais sinuosos apresentam menor resisténcia ao arraste. Assim, ele propés, em 1955, fatores de correcao de «,, que variam de 1,00 para canais retilineos a 0,60 para canais extremamente sinuosos. 298 Pincpos de irae fi! | Capitulo 12 Em funco da inclinacao dos taludes, e consequentemente da agao da forca gra- vitacional a que todas as particulas destes estdo sujeitas, a tenséo de arraste critica nos taludes ¢ apenas uma fracdo da tensdo critica para o leito. Assim, deve ser introduzido um fator de correcdo dado pela sequinte expressao: (12.7) onde: K : fator de correcdo para determinacao da tensao permissivel nos taludes; @ : angulo do talude com a horizontal; 4: Angulo de repouso do material Para 0 caso de solos finos, as forcas de coesio assumem valores tais que permitem desprezar-se esta correcao. Para os solos granulares, o Angulo de repouso do material varia com o diametro e com 0 grau de “angulosidade”. Alguns valores médios deste Angulo podem ser obtidos no Quadro 12.3. Quadro 12.3 - Angulo de repouso conforme o diametro médio Angulosidade __Diametro correspondente a 25% passando (cm) 05 1 25 10,0 Elevada 32 35 39 4 Média 25 29 35 38 39 Pequena 19 24 31 36 Fonte - Yang, 1996. Segundo Chanson (1999), 0 valor do &ngulo de repouso para sedimentos em geral varia usualmente entre 26° e 42°; ja para material predominantemente arenoso, os valores véo de 26° a 34” Desta forma, a tensao de arraste critica nos taludes é¢ dada por: aKa, (128) Assim, a sistematica para avaliacao da estabilidade de um trecho fluvial em material erodivel pelo Método das Tenses de Arraste é sintetizada a seguir: * de acordo como material do leito e margens, definir 0 valor da tenséo critica de arraste, o valor do angulo de repouso e a declividade maxima do talude; * aplicar reducao da tensao critica de arraste em funcaio da sinuosidade; * determinar K para a declividade do talude; 299

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