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EDITOR CHEFE
Arno Alcântara

REDAÇÃO E CONCEPÇÃO
Marcela Saint Martin

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO
Matheus Bazzo

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO
Jonatas Olimpio

Material exclusivo para assinantes


do Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no


Instagram do Dr. Italo Marsili dos dias
13/05/2019 a 17/05/2019

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COMO É A SEMANA GW
1. Assista, de preferência ao vivo, às lives
diárias pelo YT ou Instagram, às 21h30.
Canal do YT: Italo Marsili.
Instagram: italomarsili

2. Na segunda-feira, você recebe no portal GW o


material referente às lives da semana anterior.

3. Leia o seu Caderno de Ativação. A leitura do


CA não leva mais do que 15 minutos.

6. Confira no LIVES a visão geral da semana e os


resumos. Separe uns 20 minutos para isso. As
transcrições na íntegra também estarão lá.

ENTENDA O SEU MATERIAL


1. O Caderno de Ativação o ajudará a incorporar
conteúdos importantes. É um material para FAZER.

2. No LIVES estão as transcrições, os resumos e a


visão geral das lives da semana. É um material para
se TER.

3. Se quiser imprimir, utilize a


versão PB, mais econômica.

4. Imprima e pendure o seu


PENDURE ISTO.

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ÍNDICE

5 A SEMANA NUMA TACADA SÓ

6 O PONTO CENTRAL

10 JULGAMENTOS SUPERFICIAIS

33 A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE QUE


NASCE DO AMOR

46 O MOVIMENTO GENUÍNO DO AMOR

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A SEMANA
NUMA
TACADA SÓ
Live #57 | 08/05/2019 - Instagram
JULGAMENTOS SUPERFICIAIS
Você vence o mau hábito de julgar todo
mundo quando toma a decisão resoluta de
amar o outro.

Live #200 MFM | 01/10/2018 - Youtube


A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE
QUE NASCE DO AMOR
A paciência nasce de um movimento do cora-
ção, quando este se dilata para abarcar aqui-
lo que antes nos incomodava.

Live #225 MFM | 17/12/2018 - Youtube


O MOVIMENTO GENUÍNO DO AMOR
O verdadeiro movimento do amor é sempre
pessoal, e só pode irradiar-se desde o centro
da nossa personalidade.

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RESUMOS DA SEMANA

Live #57 | 08/05/2019 - Instagram


JULGAMENTOS SUPERFICIAIS

Que a voz da multidão é um fator de dispersão e en-


fraquecimento da personalidade, ninguém duvida.
Qualquer pessoa que já tenha tentado “agradar a todo
mundo” o sabe. Mas a voz da multidão só entra em
nossa vida quando encontra uma porta aberta — e
essa porta somos nós que a abrimos, quando adota-
mos uma postura de julgar os outros.

O fortalecimento da personalidade depende de que


fechemos essa porta. Para isso, é preciso livrar-se do
mau hábito de julgar as pessoas. Mas como fazê-lo?
“Fingindo não ver” o que nos cerca? Afetando indife-
rença?

Nada disso; é pela virtude da paciência que elimina-


mos o hábito de julgar os outros. A verdadeira paci-
ência não é a capacidade de resistir a um incômodo;
ela é antes um olhar humano, uma capacidade de co-
locar-se no lugar da outra pessoa. A paciência nasce
do amor, e amar é desejar o bem do outro enquanto
outro. Esse é o verdadeiro caminho para adquirirmos
paciência.

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Live #200 MFM | 01/10/2018 - Youtube
A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE QUE NASCE DO
AMOR

Virtude é uma disposição habitual do espírito para


praticar o bem. Não é fazer o bem por acaso, ou só
de vez em quando, ou só quando calha de ser o mais
cômodo a se fazer. A virtude aparece como uma re-
sistência efetiva à tentação, ao mal. É fácil ser pacien-
te quando tudo o favorece; é fácil ser honesto quan-
do não há ocasião de corrupção. Virtude só é virtude
quando testada.

A paciência é uma virtude essencial à nossa instala-


ção na vida. Ela não vem da fortaleza — paciência não
é capacidade de suportar um incômodo. Quem enten-
de a paciência como um movimento do braço, como
uma resistência a algo que nos aflige, em algum mo-
mento perderá a paciência, porque a força do braço
tem sempre um limite.

Se não nasce da força do braço, de onde provém a


paciência? Ela provém do amor. Para ter verdadeira
paciência com algo que o aflija, você terá de sair de si
e colocar-se no lugar do outro. Terá de entrar em uma
relação humana com aquela pessoa difícil, aquele fi-
lho desobediente, aquele atendente lento do banco.

Essa mudança de perspectiva, que nos faz compre-


ender a paciência não como um poder de resistir, de
tolerar, mas como uma capacidade de amar, é o ver-
dadeiro caminho para a aquisição dessa virtude tão
necessária em nossos dias.

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Live #225 MFM | 17/12/2018 - Youtube
O MOVIMENTO GENUÍNO DO AMOR

O amor é um movimento de querer o bem do outro


enquanto outro — trata-se de um movimento de bene-
volência. Seja em uma relação entre homem e mulher,
entre pai e filho, entre amigos, o que tem de prevale-
cer é a benevolência.

Quando você aparece na vida de uma pessoa com


essa disposição de querer-lhe apenas o bem — que
ela cresça, amadureça, melhore —, e ela, por sua vez,
o rejeita, qual deve ser a atitude de uma pessoa madu-
ra? Não é sentir-se deprimido, frustrado, desprezado.
Diante de um bem que temos a oferecer e da recusa
daquele a quem queremos ajudar, o movimento corre-
to é sentir pena da pessoa.

“Sentir pena” é um dos tabus do nosso tempo. A pena,


entretanto, é um sentimento legítimo, e em algumas
situações é a única forma de nos relacionarmos com
uma pessoa que se tenha fechado resolutamente ao
influxo do bem.

A tal “dificuldade de amar”, se bem compreendida,


existe porque temos dificuldade de construir a nossa
personalidade. O verdadeiro movimento do amor pro-
vém do centro da nossa personalidade, e não da nossa
periferia. Sem esse centro bem formado, não podemos
dizer que amamos de fato alguém, quando dizemos
“eu te amo”. Quanto mais bem formada a personalida-
de, maior a capacidade de amar.

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LIVES
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Live #57 | 08/05/2019 - Instagram

JULGAMENTOS
SUPERFICIAIS
Mais tarde, conforme prometido, vou responder a
algumas perguntas que me mandaram, mas come-
çarei falando sobre julgamentos. Não sobre aque-
les grandes julgamentos dos juízes que têm todo o
contexto, mas sim sobre um tipo de movimento que
ferra a vida de todos nós.

O que falarei agora é muito importante e está no fun-


damento da ação humana. É questão de mudança de
vida, mudança de perspectiva diante da realidade.

Aconteceu: fiquei famoso. Eu estava em São Paulo,


fui ao shopping Vila Olímpica, e umas sete pessoas
param para bater fotos. Noutro dia eu estava num
encontro dos empresários e não deu outra: o pesso-
al pede para bater uma foto e gravar um vídeo. En-
contro gente na rua, pedem para bater fotos e gra-
var vídeos.

Eu sei que as pessoas ficam felizes quando me vêem,


não sou bobo. Isso não é arrogância nem falsa hu-
mildade, eu sei o que acontece. A pessoa chega até
mim com boa vontade, feliz por me ver, e muitas ve-
zes fala, com toda a boa intenção do mundo: “Italo,
você pode gravar um vídeo para o meu irmão fa-

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lando: ‘Fulano, saia da quarta camada, seu lerdo!’?”,
ou então “Italo, grave um vídeo falando para o meu
amigo: ‘Ninguém te deve nada, seu babaca filho da
mãe!’”

Quem já me pediu isso sabe que eu sempre dou um


sorriso, um abraço e um beijo na pessoa, e gravo um
vídeo que, em geral, não tem o conteúdo solicitado.
Muitos acham que eu faço isso para contrariar, para
ser “o diferente”, mas não é por isso.

Ocorre que na maior parte das vezes em que você


fala “Italo, grave um vídeo para o meu irmão falando
que ele é quarta camada, falando que ninguém deve
nada para ele!”, eu sinto em meu coração, eu per-
cebo, eu intuo, que há um julgamento da sua parte.
Então eu não gravarei o vídeo, porque eu não quero
ninguém julgando esse cara. Eu não quero que esse
sujeito se sinta julgado, eu não quero que ele sequer
admita esse tipo de julgamento na vida dele, eu não
quero que ele caminhe com esse julgamento na ca-
beça, ouvindo a minha voz pessoalmente para ele.
Uma coisa é eu falar aqui para você que ninguém te
deve nada, outra coisa é eu olhar para aquela cria-
tura e dar um comando para ela.

Se você for esperto e estiver aqui comigo há um cer-


to tempo, você saberá que uma coisa que eu faço re-
correntemente é matar esses fetiches que ficam na

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nossa cabeça. É matar, no final das contas, as vozes
da sua família que dizem que você não consegui-
rá, que você não pode fazer tal coisa, que você não
passará naquele concurso, que você não deve ser
médico ou contador, aquelas vozes que estão sem-
pre te jogando para baixo, te julgando sem ter todo
o contexto.

Não podemos admitir isso em nossa vida, e esse tipo


de coisa entra nela quando temos a mentalidade, o
costume, a mania, de ficar julgando todo mundo o
tempo todo. Essa porcaria entra pela fresta que dei-
xamos aberta quando, em uma festinha de família,
ou no trabalho, ou na nossa casa, dizemos “Aque-
le sujeito está com uma blusa estranha hoje”, “Não
deveria falar assim”, “Não deveria fumar”, “Deveria
usar cinto”, “Deveria estar mais magro”, “Deveria es-
tar mais forte”.

São esses microjulgamentos que ferram a sua cabe-


ça. Eles são a porta que abre a infelicidade no seu
peito, porque quando você julga todo mundo nessa
base, você passa a dar voz para a multidão. A multi-
dão pode falar o que for, mas ela não deve ter auto-
ridade sobre você.

Vou perguntar algo: quem gosta das coisas que eu


falo? Vocês acham que sou bom, que mudo a vida
de vocês?. Escrevam aí para mim.

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Já vieram algumas respostas: “Ah, você é um mito, um
gênio, é muito bom”. Eu sei que vocês escrevem esse
tipo de coisa todo os dias. Sabem o que acontece
comigo? Nada. Eu nem vejo. Eu sou cego. Você pode
escrever à vontade que eu não verei, simplesmente
não sei o que vocês estão me escrevendo, porque eu
não dou autoridade para vocês me julgarem -- nem
para o mais, e nem para o menos.

Logo, quando vocês me escrevem “Ah, o Italo é ma-


ravilhoso, é lindo, é isso e aquilo”, sabe o que acon-
tece comigo? Nada.

A multidão não pode ter autoridade sobre você, meu


filho. Aquela pessoa que afunda quando é julgada
negativamente -- tenha certeza -- está levando a sé-
rio demais os elogios que fazem para ela. Você está
autorizando a multidão a te julgar, a ser o leme, a ser
o norte da sua conduta, da sua vida. Isso é absurdo,
jamais o permita.

Estou falando para quase 10 mil pessoas aqui agora.


Você acha que eu darei a elas autoridade para jul-
gar os meus atos?! Eu ficaria maluco se fizesse isso.
A maior parte das pessoas aqui não têm uma gran-
de audiência, a “multidão” delas é papai e mamãe,
primo e prima, filhinho, esposinha, porteiro, vizinho,
amiguinho do trabalho… Essas pessoas ficam mendi-
gando atos bons, naquele moralismo asfixiante, para

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que todo mundo bata palminhas para elas, para que
elas sejam vistas como boas, lindas e maravilhosas.

Quando você faz isso, meu amigo, você abre no seu


peito um buraco que autoriza o outro a te julgar, e
aí você está ferrado. Você ficará maluco, virará uma
pessoa de papel, perderá aquele princípio básico do
ser ou não ser -- que é tudo o que importa na vida.

Vocês sabiam que existe uma comunidade com 19


mil pessoas falando mal do Italo? Pois existe. Sabe o
que acontece? Nada. E do mesmo jeito, nada acon-
tece com as 650 mil pessoas falando bem de mim.
Eu pouco me lixei para você, e isso não é ingratidão.
Quando você se posiciona assim, você passa a ouvir
o que eu falo, porque não falo para te agradar, para
parecer bonitinho, para que você goste de mim. Eu
falo para tocar uma porcaria no seu peito.

Não podemos dar autoridade a esses filhos da mãe


para que eles sejam os nossos juízes, mas quando
ficamos microjulgando todo mundo, nós abrimos a
porta do nosso peito para essa desgraça. Quando
faz um microjuízo, você perde força imediatamente,
porque começa a viver de pôse, a jogar para a pla-
téia, a perder a referência de onde tem de se posi-
cionar de verdade. Seu juiz verdadeiro não é o seu
vizinho, seu primo, seu parente, nem para o mais e
nem para o menos. Seu juiz verdadeiro tem de ser

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um conjunto de códigos que estão fora da sua cabe-
ça, fora de você. Seu juiz tem de ser o que é certo e o
que é errado.

Pode ter certeza que eu não vou diminuir o tom, dei-


xar de falar o que tem de ser dito, não vou deixar
de matar os fetiches. “Ah, Italo, você só fala para me
agradar”. Meu filho, eu me lixei para te agradar. Sabe
quem já existe para te agradar? O garçom do restau-
rante no qual você pede o prato, o namoradinho que
quer te conquistar. Você acha que eu vou me prestar
a esse papelão, caramba? Você acha que eu vou me
preocupar com isso?

Sabe o que acontecerá se eu começar a te dar auto-


ridade para me julgar, para me elogiar e me deixar
empavonado? Eu perderei força na sua vida imedia-
tamente, e isso é tudo o que eu não quero, porque
sei o que uma personalidade madura pode fazer na
vida do outro. Eu conheci gente assim que me trans-
formou também, e esses sujeitos que me transforma-
ram não davam a mínima para a opinião dos outros
e para a minha opinião, porque eles sabiam o que é
o certo.

É isso o que eu desejo para vocês. Desejo que você


consiga se livrar desse maldito fetiche de dar aten-
ção para as vozes do papai e da mamãe, de ter que
comprar uma porcaria de uma BMW porque o vi-

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zinho tem uma BMW, de ter que mudar a sandália
porque a sua amiga do trabalho tem uma sandália
nova. Isso é loucura.

Você está dando autoridade para uns coitados que


não têm autoridade. Não é que eles sejam filhos da
mãe -- eles são também, mas o problema não é esse.
O problema é que essa não é a função deles no mun-
do, os relacionamentos humanos não se estabele-
cem assim.Eu não estou nem aí para saber se você
me elogiou ou se falou mal de mim, porque eu sei
quais são os meus referenciais, e o pior é que você
também sabe quais são os seus.

Quando, lá atrás, eu gravei “As 7 bostas interiores -


Live #53”, eu expliquei quais são os nossos referen-
ciais negativos. Você tem de ter aquilo em mente
como referência. Aquilo, e não o seu vizinho te di-
famando, porque o seu vizinho pode muito bem es-
tar falando maravilhas de você, ainda que você seja
um grandessíssimo filho da mãe. De que adianta ele
falar bem? Só você sabe a verdade, portanto, você
deve prestar contas à sua consciência e tão somen-
te à sua consciência, à noite, diante de uma referên-
cia externa.

As referências externas negativas são as 7 bostas


interiores. Ou você é um soberbo, ou é um nervosi-
nho diante dos outros que precisam de amor e aco-

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lhimento, ou você é um avarento que tem medo de
perder as coisas… Essas são as negativas, você já as
conhece.

A referência positiva é ser, sempre ser. A coisa é pre-


to no branco, pão e pão e queijo e queijo, é binária,
não há dificuldade. Você se posicionará diante da
vida e da realidade sendo, sempre. Quando faz isso,
meu amigo, você ganha uma força inimaginável,
porque a legião é cega, e se você dá voz a ela, você
é sacrificado no altar dos escarnecedores. Quando
você dá autoridade para um filho da mãe te julgar,
ele crucifica a Verdade que há dentro de você.

Essa porcaria já aconteceu na história uma e outra


e outra e outra vez. Foi assim com Sócrates, com o
Cristo, com todos os heróis, com todo mundo que
se levantou para falar a Verdade. E foi assim porque
isso é simbólico, é para nos mostrar que, na nossa
vida vida pessoal, os escarnecedores não têm au-
toridade em nosso juízo. Quem nos julga são os re-
ferenciais externos. Quando você vira um filho da
mãe que acorda e passa o dia microjulgando todo
mundo, você fica fraco, pessimista, triste, um inútil
que não serve para porcaria nenhuma.

O mesmo povo que louvou Sócrates, crucificou-o, o


mesmo povo que louvou o Cristo, crucificou-o. Você
dará atenção a esses filhos da mãe?! Você quer que

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o seu destino seja uma cruz? Você não é Deus, você
não ressuscita no terceiro dia, você não inaugurou
a Verdade, como Sócrates inaugurou. Você é vaga-
bundo, fraco e miserável como eu, então não dê au-
toridade para a legião.

Se um círculo de pessoas se levantar exigindo, jul-


gando, não lhe dê atenção. E isso não é ser autossu-
ficiente, pedante, petulante, arrogante, é o inverso.
É ser humilde, baixar a cabeça, curvar-se diante da
Verdade, diante do referencial que é ser: “Ser ou não
ser? Eis a questão.” Essa pergunta inaugura para nós
uma divisão na vida humana, que é ser ou não ser.
Não temos dúvida: a resposta é ser, sempre seja. E
você é quando deixar de ser um microjulgador.

Quando você começa a julgar todo mundo na sua


vida, abre-se um buraco de tristeza, de incerteza, de
fraqueza dentro de você. Sempre é assim. Se você
ouve os louvores e se comove com eles, saiba que
você deu autoridade para a multidão e, na primeira
alfinetada ou espetada, você cairá.

Há uma frase que eu sempre falo: o primeiro hater a


gente sempre esquece. Isso aqui é postura de vida.
O cara que fala mal de você não tem todo o contex-
to; ele não pode te julgar, não sabe o que você está
fazendo, ele não tem a mínima idéia de quem você
é, não faz idéia da sua jornada, da sua trajetória, ele

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jamais prestou atenção na sua vida. Ele é só um filho
da mãe desorientado, coitado, e só isso. Você tem
que cuidar dele, ser carinhoso, ter pena do sujeito.

Você deve dar a sua vida para que esse sujeito saia
dessa situação infeliz, sub-humana, desse círculo de
escarnecedores. Esses sujeitos que ficam julgando
todo mundo o tempo todo sem ter autoridade para
isso, sem ter idéia de todo o contexto, são uns po-
brezinhos que merecem toda a nossa pena. Nós re-
solvemos a vida desses filhos da mãe sendo, não nos
curvando ao juízo, à alabança e aos louvores deles.
É assim que se faz, e é muito simples.

Sei que parece teórico, parece um discurso bonito,


um elemento histórico ou poético, mas não, é ab-
solutamente prático. Nós somos quando não julga-
mos, meu amigo. Não julgue a pessoa que está ao
seu lado, no seu trabalho. Você conseguirá fazer isso
cultivando a paciência, que é uma virtude que não
vem da força, mas do amor.

Quando passa pela sua cabeça a idéia de julgar al-


guém, lembre-se de que é só uma idéia. Você precisa
ter paciência, se acalmar, e não dar uma sentença.
Um juízo é uma sentença final, é o fim do processo
dialético. Jamais faça isso. Você não tem todo o con-
texto,você não tem os dois lados, caramba.

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Se aparece um sujeito com um cabelo escroto no
seu trabalho, é óbvio que a idéia de julgar vai pas-
sar pela sua cabeça. Você faz uma análise rápida
da circunstância e pode vir uma idéia, mas você
não tem que tocá-la dando a sentença. Essa idéia
não é a sentença, é um movimento que aparece na
sua cabeça porque você e eu somos filhos da mãe e
abraçamos essa idéia de um protojuízo, de um juízo
fraco. É preciso agir com amor, com carinho, com
paciência, tentando entender o sujeito e, mais do
que isso, entendendo que você não está no lugar de
julgá-lo, mas de servi-lo, de ajudar aquele filho da
mãe a ser melhor, a ser uma pessoa que ama. Este é
o seu lugar.

O pessoal fala: “Italo, você fala muito palavrão.”


Não ouço.

“Italo, você é lindo e maravilhoso”. Igualmente


não ouço.

Eu estou aqui para uma função específica. Eu sei o


que sou na vida dos senhores, não tenho falsa hu-
mildade de nada, foi para isto que me preparei. Você
acha que falarei que vim aqui para aprender e ensi-
nar? Coisa nenhuma, é óbvio que não.

Quando você para de julgar os outros, você ganha


força na vida desses outros, porque o juízo deles não

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te afeta. Não que você se transforme num sem no-
ção que não está aí para ninguém; é que você está
aí para a Verdade, para ser, para combater aquelas
inclinações negativas do seu espírito. Esses são os
seus juízes, e eles não são humanos. Essas mesmas
referências externas que te julgam, também te ali-
mentam, te dão força, e essa é a maravilha da vida. A
multidão, quando te julga, não te ajuda, mas te cru-
cifica. Isso é assim há mais de 3000 anos, desde que
o mundo é mundo.

Sempre seja. Esteja na vida sendo. Não é difícil. Você


é quando mata os microjulgamentos no seu peito.
Quando você tiver uma inclinação de julgar uma
pessoa, pense o seguinte: “Eu me tornei um sujeito
desprezível e absolutamente vulnerável ao juízo do
mundo. É evidente que ficarei louco e infeliz. É evi-
dente que minha vida será uma droga. Eu sou um
sujeito que se presta a falar mal de todo mundo, e
basta observar um pouquinho ao meu redor para
ver como a minha vida não está boa.”

Eu lembro que, no início da internet, estávamos ven-


do o Jornal Nacional em casa e abriram para co-
mentários sobre a repórter. Minha tia falou assim:
“Vamos na internet falar mal dessa piranha”. Basta
ver como está a vida dessa tia: um caos, uma triste-
za, uma zona, uma bagunça. Ela nunca se ajeitou na
vida, porque está olhando com olhos de juízo para

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todo mundo.

É óbvio que uma pessoa dessas está sempre assus-


tadiça, se comportando com pôse, querendo saber o
que os outros acham dela. E aí ela vai aderir a grupos
que vão sugar a alma dela. Ela ficará de quatro, de
joelhos, dando tudo o que tem e o que não tem para
ser validada por esse grupo maligno. Isso é loucura.

Mate os microjulgamentos no seu coração e você


ganhará um força, uma felicidade, um ar. Você res-
pira, caramba. todo mundo sabe disso, não há difi-
culdade.

Eu falei que ia responder a algumas perguntas. Va-


mos lá. Perguntaram aqui: “Julgar sem condenar está
correto?” Não está, minha filha. Julgar já é condenar
no seu coração. O ser humano, quando julga, já está
condenando. Não é para “julgar sem condenar”, é
para não julgar, não fazer nada. Não te cabe julgar.

Quando você abre no seu coração esse movimen-


to do juízo, você já deu, dentro da sua personalida-
de, poder para que todo mundo te julgue, e é diante
desse tribunal que você se move. Como somos fi-
lhos da mãe, você acabará desorientado. Como você
espera ter senso de orientação ouvindo cinco, seis,
sete, oito, nove, vinte, dez mil vozes?

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Imagine se eu, de fato, estivesse me importando com
os louvores dos senhores. Imediatamente eu estaria
me preocupando com o juízo negativo de 11 mil pes-
soas. Você acha que vou me colocar nessa circuns-
tância, caramba?

O sofrimento de um monte de influenciadores digi-


tais é este; a pessoa de fato acredita que o jogo da
influência digital é ganhar curtidas e elogios. Essa
pessoa vai se ferrar, ficará mal, porque obviamen-
te falarão mal dela em algum momento, e não uma
nem duas pessoas, mas milhares delas. Essa pessoa
evidentemente irá se deprimir, porque caiu no círcu-
lo de prestar contas para o tribunal do escarnecedo-
res. Não há como ser diferente.

“E quanto à opinião de pai e mãe?” Preste atenção:


você tem que honrar seus pais, amá-los, assisti-los
na velhice e quando estiverem falidos, rezar por eles,
mas se você pedisse para eu gravar um vídeo para
os seus pais, eu direi “Danem-se vocês, seus velhos
que só afundam os filhos.”

Em regra, no Brasil, pais são bichos medrosos e ego-


ístas para caramba. Eles querem que o filhinho de
30, 40 anos, viva como um bebezinho, na esteira dos
atos e recomendações do papai e da mamãe. É ób-
vio que, assim, você virará um bicho. Não é porque
eles são seu pai e sua mãe que eles têm esse tipo de

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autoridade sobre você.

Pais são pessoas que não mais te conhecem. Você


acha que seu pai e sua mãe te conhecem, caram-
ba? Eles te conheciam quando você tinha 3, 4 anos,
porque é fácil de se conhecer uma criança: se ela
está com vontade de comer, você dá comida; se ela
quer fazer cocô, você limpa o bumbum; e isso sem-
pre dando abraços e beijos.

Já o sujeito com 15, 16 anos, é complexo. É claro que


esse adolescente não narra a vida toda para os pais,
então, como eles conseguiriam dar um conselho ob-
jetivo, certo e seguro, se não conhecem a vida da-
quele sujeito? Só porque são pais? Você acha que é
passe de mágica? Que pais têm a varinha mágica do
Harry Potter e que é só fazer um passe de varinha e
pronto, eles já sabem tudo o que está dentro do co-
ração do filho? Não. Isso se chama chantagem psi-
cológica. Como eles são pai e mãe, eles acham que
têm uma autoridade psicológica que não têm.

Você, que é pai e mãe, saiba desta porcaria: esse tipo


de autoridade você não tem. Ou você está realmente
atento ao seu filho, dando suporte a ele, apoiando-o
nas decisões dele, ou você está criando um maricas,
um fraquinho, uma pessoa que vive sempre na sua
asa. É isso o que você quer?

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E você, que é filho, entende isso? Não é porque são
seus pais que você ouvirá todas as opiniões deles.
“Ah, mas eles são sábios.” Sábios o caramba! Velho
lá é sábio hoje em dia? Velho é um bicho bitolado,
cheio de medo, só tem os sonhos da casa própria
e de ter cartão de crédito, só tem fetiche de classe
média que aprisiona no mundo da insegurança, do
medo, do pavor.

Você presta contas diante da Verdade, diante do


“ser”, e não do “não ser”. É duro demais isso que eu
estou falando, porque o resto é um senhor fetiche. Se
cair nele, sua vida ficará paralisada.

Outra pergunta: “O que seria a miséria constitucio-


nal?” São sete, estão na gravação “As 7 bostas in-
teriores | Live #53”. Não seja preguiçosa. Se você é
Guerrilha Way, procure o caderno de ativação que
está fantástico, maravilhoso, um dos mais perfeitos
que já foram feitos. O Caderno é sobre a live das
sete bostas interiores, e deixou os catoliquinhos e
protestantinhos bem nervosinhos, falando “Ai, Italo,
como você é um blasfemo, falando de coisas sagra-
das com essa linguagem chula! Você está falando
afinal das contas dos sete pecados capitais, e você
fala de sete bostas interiores? Que tipo de pessoa
você é, que profana o linguajar daquelas excelsas
realidades religiosas?”

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Vá se lascar, seu moralista maldito, é por isso que
você continua um pervertido preguiçoso avarento.
Você santifica essa porcaria e dá autoridade para
lixo. Pecados, “bostas interiores”, nós tratamos as-
sim: com crueza. A Santíssima Trindade, a religião, a
oração, aí, sim, tratamos com toda a reverência e o
amor do mundo, com todo o linguajar excelso que
houver. Quando for para falar de pecados, de más
inclinações, vou falar deste jeito, porque é o único
jeito que você entende, seu imbecil.

É por isto que você continua esse velho pervertido


ferrado e falido, porque trata com dignidade algo
que é indigno. Você não tem idéia de o que é reli-
gião e está me julgando e abrindo um buraco de
tristeza no seu coração. Você está triste, cara, eu co-
nheço a sua vida. Você conversou comigo, inclusi-
ve pessoalmente. Você está triste, há um monte de
lixo aí dentro. Eu sei. Então, meu caro, não seja um
babaca. Quando você abre a boca para julgar todo
mundo, você abre a tristeza no seu coração. Quando
você me julga, você dá autoridade para a legião te
julgar, meu caro. Você não encontrará felicidade. É
triste. Eu gosto de você, você sabe que gosto, e sabe
que eu te abracei e olhei no seu olho. Não sei por
que você fica julgando. Você está querendo o quê?
Ficar bem com o grupinho social que acabou de fa-
zer? Você sabe que é isso. Você está olhando o julga-
mento desse grupinho social sobre mim sem jamais

26
ter me perguntado, sem jamais ter tentado entender
todo o contexto. Você sabe que esse é o movimento.
Você se entristecerá, só encontrará buraco, olhará
para um poço tapado e cairá dentro desse poço e
ficará de pernas para o ar, de cabeça para baixo,
com o sangue pesando na sua cabeça, vendo tudo
ao contrário. Não é isso o que eu quero para você,
porque você sabe que te amo, então pare de julgar.
É só pedir desculpas -- não para mim, mas no seu
coração. Pare de julgar e passe a defender aquelas
pessoas que te ajudaram na vida. Você sabe que o
círculo mais profundo do sofrimento está reservado
para aqueles que traíram os seus “mestres”, ou seja,
aqueles que traíram os que os ajudaram, não sabe?
Cuidado, você vai se ferrar.

Mais uma pergunta: “O referencial tem que ser Deus?”


E você lá sabe o que é Deus? Pare com isso! Você
fica com essa masturbação mental de seguir man-
damentos. O problema dos mandamentos é que eles
são gerais e abstratos, e a vida é concreta e individu-
al. Aí é que você se enrola. Isso que estou dizendo é
para os religiosos e para os não religiosos, não tem
nada a ver com Deus, tem a ver com vida humana.

Se você coloca seu referencial em Deus, daqui a pou-


co você coloca em algo que não consegue tocar. No
limite, é isso. Você lá conhece Deus? Você é um ig-
norante que não tem religião, não pratica porcaria

27
nenhuma. O referencial é ser, é parar de julgar os
outros. É mais simples. Você encontrará felicidade
no seu coração, vá por mim. Vocês enrolam tudo!
Brasileiro enrola tudo, não teve educação domici-
liar, nem na igreja, no colégio, não teve nada.

Mais uma pergunta, vejam a fofoqueira: “Julgar é a


mesma coisa que comentar?” Santa Mãe de Deus!
“Nãaao, comentar é super inócuo! Eu só comento,
sou apenas a fofoqueira da vila que fica fazendo tri-
cô na janela falando ‘Você viu como a Ruth está fi-
cando mais amiga do padeiro? A Ruth não sai da
padaria.’ Eu estou só comentando, não estou julgan-
do a Ruth, não estou dizendo que ela é uma rameira
velha, estou apenas comentando que ela não sai da
padaria e só quer comer o pão do padeiro Antônio,
mas que coisa.” Fala sério!

Comentar é o quê, minha filha? Você é o Casagran-


de, que está lá ao lado Galvão Bueno? Não. Você é
comentarista contratada da Rede Globo? Também
não. Então você é uma fofoqueira invejosa que fica
julgando todo mundo, que não tem mais o que fa-
zer na vida, que não tem um tanque de roupa para
lavar, não tem filho para criar, empresa para tocar,
curso para gravar.

“Ah, mas eu tenho tudo isso, Italo”. Então faça essas


coisas! Por isso a sua vida não anda, porque você

28
perde tempo comentando a vida dos outros!

“Não, Italo, nada a ver, eu tenho um monte de coisas


para fazer e roupas para lavar, inclusive minha pia
de louça suja está cheia”. Pronto, e em vez de resol-
ver tudo isso, você está comentando a vida da Ruth
que está realmente se engraçando com o padeiro.
Deixe a Ruth, caramba, cada um dá o que é seu, dei-
xe a Ruth dar o que é dela, não encha o saco da
velha Ruth. Deixe a mulher ser feliz com o padeiro
Antônio, sua mulher chata! Pare com isso!

Olha aqui outra pergunta cretina: “Sarcasmos vs.


julgamentos: como diferenciar?” Meu filho, você lá
sabe o que é figura de linguagem? Você faltou a essa
aula no colégio. Na sexta ou sétima série, você esta-
va querendo é comer doce Skittles sabor arco-íris de
frutas. Enquanto a professora explicava figuras de
linguagem, você comia batata Ruffles, a batata da
onda. Você não estava prestando atenção em por-
caria nenhuma, você mal sabe de figuras de lingua-
gem.

Se no Whatsapp você escreve “daqui há pouco” com


“h”, ou “porque” tudo junto ao fazer uma pergunta,
você não domina a linguagem básica, você não sabe
escrever. Não sabe gramática, quanto mais figura
de linguagem! Você não domina ironia, não domi-
na sarcasmo, não domina droga nenhuma! Fale nor-

29
malmente! Você acha que é sarcástico ou irônico,
mas você é um filho da mãe, é isso o que você é!

“Ninguém me compreende, Italo. Eu não sou compre-


endida, minha vida é triste.” Óbvio, caramba, você
não se faz compreender! Você quer que a pessoa
saiba que porcaria está acontecendo? Você é uma
ignorante que mal sabe escrever e quer usar ironia?
Isso é coisa para gente alta. A ironia, o sarcasmo, a
figura de linguagem, são para gente que sabe tra-
balhar com isso. Para gente que não sabe trabalhar,
não funciona. Então é claro que ninguém te compre-
ende; você não sabe se fazer compreendida.

Outra pergunta, esta é ótima: “Quando alguém co-


meça a falar mal de quem amamos, devo mandar
para aquele lugar?” Hoje um amigaço meu mandou
um áudio preocupado, porque estavam falando mal
de uma pessoa que ele ama. Ele disse: “Não posso
chegar com patada no peito, tenho que argumentar
logicamente”. Meu filho, a gente só argumenta com
quem quer descobrir a verdade. Com quem é tre-
teiro e só quer falar mal porque é invejoso, egoísta
ou safado, a gente não argumenta, a gente manda
para aquele lugar mesmo. É claro que às vezes não
dá, é falta de educação, mas você vai e corta, sim, a
pessoa. Não precisa querer argumentar, não entre
na dela.

30
Se o sujeito está falando mal de um outro, apenas
diga “Olha, ninguém fala mal de amigo meu na mi-
nha frente, porque eu amo aquele cara”. O que você
fez com isso? Mais que o seu argumento, você mos-
trou seu amor, sua dignidade, sua valentia, sua hon-
radez. Isso é o que importa. Quando você tenta ar-
gumentar com filho da mãe, você sempre se ferra,
porque ele é um filho da mãe. Imagine que há um de-
mônio na frente de um pastor ou de um padre. Você
por acaso já viu padre ou pastor conversando com
demônio? Demônio a gente exorcisa, caramba.

Você já viu alguém argumentar com baratas? “Olha,


senhora barata, é que insetos não são bem-vindos
aqui neste perímetro familiar no qual meus filhos
super limpos rastejam e engatinham por este mes-
mo chão que a senhora que veio do esgoto acabou
de passar. Veja, não é conveniente, senhora barata,
sair do esgoto e trazer esses coliformes fecais, bac-
térias e toda sorte de doenças para o meu lar. Por
gentileza, retire isso da minha casa”. Alguém argu-
menta com barata, caramba?! Barata gente enxota,
falamos “Sai fora, na minha casa, não”.

Então, quando algum filho da mãe se levanta contra


alguém que você ama, você tem todo o direito de usar
um certo tipo de virulência. Isso é o que demonstra
honradez e amor verdadeiro. Não há ninguém com
culhões neste país. Culhões são o elemento da viri-

31
lidade, mas não só homens devem tê-los. Aliás, as
mulheres estão muito mais viris que os homens, eles
estão todos sem bolas, sem substância e sem sus-
tância. É a psicologia da senhora barata.

No meio de toda essa conversa, um desesperado


sem grana perguntou: “Italo, dane-se esse negócio
de microjulgamento. Recolocação no mercado de
trabalho: por onde começar?” A coisa está feia (ri-
sos). Eu não sei qual é o seu negócio. Depois eu falo
sobre isso.

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Live #200 MFM | 01/10/2018 - Youtube

A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE


QUE NASCE DO AMOR
Hoje vou falar sobre um assunto de importância ca-
pital para todos aqueles que têm um coração huma-
no dentro do peito: a paciência. Algumas pessoas
já sabem, outras não, mas há um negócio chamado
virtude humana, que nada mais é do que uma dispo-
sição habitual do seu espírito.

As pessoas podem fazer atos bons sem querer, por


equívoco; de vez em quando a pessoa vai lá e faz
um ato bom, há um monte de gente por aí assim. O
cara não tem nada na cabeça mas faz coisas boas.
É aquela pessoa meio boazinha que, se mudar de
posição, se for tentada ou se estiver em um cargo no
qual possa ser corrompida, de repente até se cor-
rompe, se for uma pessoa que não tem a tal da vir-
tude.

A virtude humana é uma disposição habitual do es-


pírito para praticar atos bons. Algumas pessoas já
sabem disso, outras não. Vemos pessoas que fazem
coisinhas muito boas, que estão sempre ajudando
os outros, porém só agem assim porque estão em
um ponto da vida em que não há tentação. Ninguém
enche o saco delas, elas estão ali para fazer aquilo
mesmo, ou seja: a pessoa faz uma coisa boa porque,

33
bem, nem tem como fazer uma coisa ruim. Essas
pessoas não estão em uma posição na qual possam
roubar, ser um filho da mãe, matar... O que sobra
para elas é fazer a coisa boa. Isso já está bom, é me-
lhor ser assim do que ser um grandessíssimo filho
da mãe.

O que eu quero deixar claro é que esse tipo de pes-


soa não necessariamente tem a tal da “virtude”. Meu
amigo, que está aí em casa e não rouba ninguém, eu
quero ver você ir para Brasília e ser tentado a todo
momento a passar um projeto de lei com um cara
balançando 100 mil, 200 mil, 300 mil reais na sua
cara. Eu quero ver você resistir a essa tentação.

Podemos dizer, das pessoas que resistem a esse tipo


de mal mesmo que ele traga muitos benefícios, que
elas têm a tal da virtude humana. Essas pessoas são
virtuosas. São aquelas que têm, dentro do peito, cer-
tos hábitos consolidados de fazer o bem, de não se
corromper.

Por exemplo: alguém que tenha um filho que não dê


problemas para ninguém, um ótimo filho, que não
vá mal na escola. O moleque é atento, prestativo; a
garotinha é boazinha, ajuda os velhinhos, escuta o
que você fala. Ora, se você tiver um filho assim, é fá-
cil ter paciência, afinal, essa virtude não é recrutada:
a garota e o menino não o tiram do sério. Você não

34
é tentado, motivado, não é confrontado com o outro
lado do seu espírito, que é o lado da ira, da agressi-
vidade, já que aquela pessoazinha boazinha ali não
o tenta, não o tira do juízo, não o tira do sério.

A primeira coisa em que temos de pensar sobre nós


é: “Será que eu sou essa pessoa boazinha porque mi-
nha posição na vida não traz tentações e confron-
tos em momento algum?”. É um ponto a se pensar.
É fácil ficar colocando o dedo na cara dos outros,
falando que são uns filhos da mãe, que são pessoas
invejosas, mentirosas e preguiçosas. Pode ser que
isso apareça na vida dos outros porque eles são ten-
tados, eles não têm a virtude ali com eles. E a gente
também não tem a maldita virtude — pode ser que
simplesmente não estejamos em posição de fazer o
mal.

Entender esta questão é um movimento importan-


tíssimo para a empatia: “Pode ser que aquela pessoa
seja uma grande filha da mãe porque está em uma
posição na qual é tentada a fazer o mal; e se eu es-
tivesse lá, pode ser que eu agisse da mesmíssima
maneira”. É importante pensarmos nisso. Não é jus-
tificar o mal do outro, não estou falando em justifi-
car. Estou dizendo o seguinte: você poderia estar na
mesma posição e cometendo a mesma burrada, por-
que nem eu nem você temos ainda a tal da virtude, a
disposição habitual do espírito de fazer coisas boas.

35
Em geral colocamos as virtudes humanas como qua-
tro grandes pilares que uma pessoa tem de (ou de-
veria) desenvolver de forma consolidada para que
possamos olhá-la e dizer: trata-se de uma pessoa
confiável, boa, valente, por quem eu posso de fato
botar a minha mão no fogo. As virtudes, os pilares
são: justiça, prudência, fortaleza e temperança. Fa-
laremos melhor sobre cada uma delas algum dia; é
importante para podermos nos examinar.

Muitas vezes falhamos miseravelmente, por exem-


plo, na vida de estudos, ou no relacionamento com
as pessoas, ou ainda no combate à fofoca e à recla-
mação, justamente porque não temos uma dessas
quatro virtudes.

A pessoa que não tenha Fortaleza, por exemplo, é


fraquinha, vai fraquejar. No primeiro momento em
que ela precise se posicionar, expor suas idéias, de-
fender um amigo, um parente que esteja sendo ata-
cado, ela não conseguirá, terá medo, porque não
possui a virtude da Fortaleza. Ela não consegue re-
sistir.

Uma pessoa que não tenha fortaleza é fraca. É al-


guém que, caso precise se posicionar para defender
a mãe, o pai, o irmão, o parente ou um amigo que
esteja sendo atacado (ou mesmo sua fé e suas cren-
ças), simplesmente vai recuar, não conseguirá estar

36
ali e se manter de pé, firme. Isso acontece porque
faltou nela o cultivo dessa virtude.

Dito de outro modo, a pessoa não tem uma dispo-


sição habitual do seu espírito para a fortaleza, ou
seja, ela manifesta suas idéias somente quando o
ambiente é propício. Só assim ela defende a sua fé,
as suas idéias, até fala bem de um ou outro sujeito.
Já quando o ambiente é árido, inóspito, ela recua;
ou seja, trata-se de uma covarde. É alguém em quem
você não pode confiar.

Você confiaria em um amigo que, estando em um


ambiente no qual você está sendo atacado, não o
defende? Em alguém que poderia até dar um sorri-
sinho? “Ah, vou até dar um sorrisinho aqui para con-
cordar com o grupo e não ficar mal com o pessoal.”
Essa pessoa não é confiável.

Nós temos de garantir as virtudes da justiça, da pru-


dência, da fortaleza e da temperança pouco a pouco
em nossa vida, mas hoje eu não falarei de nenhuma
delas.

Eu queria falar sobre um tema muito mais interior,


sobre algo que, de fato, precisamos cultivar em nos-
so peito: a virtude da paciência. Ser paciente é algo
necessário para que possamos estar bem instalados
na condição humana. Muitas vezes entendemos a

37
paciência pelo avesso, nós a entendemos como uma
virtude próxima à fortaleza, e até faria sentido que
fosse assim.

Imagine, por exemplo, que você tem um filho que


está enchendo o seu saco, não consegue estudar, só
dá problema, não rende nos estudos, e você olha
para aquela situação miserável e pensa “Eu preci-
so ter paciência, preciso suportar esse mau jeito do
meu filho”.

Ou, então, você está olhando para a sua noiva, para


o seu marido, para a pessoa que convive com você,
e, embora essa pessoa possua um mau hábito que
não chega a ser um problema moral (ela não chega
a ser uma filha da mãe), ainda assim é um hábito
ruim. Você pensa: “Eu preciso ser paciente. Vou su-
portar e resistir aqui dentro do meu peito, vou olhar
para aquilo e vou resistir àquele mau hábito daque-
la pessoa”.

Ocorre que a paciência não é isso. Ao menos, não


deveria ser, não deveria ser um movimento da for-
taleza, um movimento de resistência, mas sim outra
coisa.

Por exemplo: um emprego nosso que esteja ruim, no


qual não estamos ganhando dinheiro e sendo re-
conhecidos, não temos benefícios, mas precisamos

38
continuar ali por um tempo — ou porque demos a
nossa palavra ou porque precisamos do dinheiro
(ainda que pouco), ou ainda porque as pessoas pre-
cisam de nós e temos de entregar o produto ou o ser-
viço, precisamos estar ali até o fim. Você vai precisar
de quê? De paciência. Vai precisar resistir. Mas não
apenas resistir. Se você entende a paciência como
uma resistência, como uma necessidade de ser forte
para estar ali, você em algum momento vai quebrar
e se sentir absolutamente defraudado, injustiçado,
em algum momento vai explodir. Isso serve para to-
dos nós. Todos precisamos ter paciência em nossa
vida, seja para continuar em uma situação na qual
estamos ou para conviver com outras pessoas... A
paciência deve ser um movimento do amor, do seu
coração, muito mais que um movimento do seu bra-
ço.

Comecem a mapear: com o que você precisa ter pa-


ciência? O que te custa? É paciência com seu filho,
com seu noivo, no seu trabalho? Paciência para você
ter frutos espirituais na sua religião?

“Estou entendendo, Italo. Se eu olhar para o meu tra-


balho, ou para a minha religião, ou para o meu re-
lacionamento, ou para o meu corpo e entender que
eu preciso esperar para ter o resultado desejado, eu
posso fazer isso de dois modos: resistindo/agüen-
tando ou amando.” É isso o que você precisa pen-

39
sar. A gente sempre deve apostar que o coração é
o movimento correto da paciência, que o amor é o
movimento correto para você poder adquirir a pro-
funda paciência. A paciência é uma virtude tributá-
ria ao amor, que dele deriva, é uma irmã mais nova
do amor, e não uma irmã mais nova da Fortaleza. Se
acharmos que a paciência é uma virtude que tem
de vir do braço e da capacidade de resistir, vamos
nos frustrar. É justamente o contrário, é amar aquela
situação.

“Italo, como fazer isso?” Vou explicar. Você olha, por


exemplo, para um filho seu que é um asno, um bur-
rico, não consegue aprender, não lê, não consegue
se alfabetizar, dá problemas, está tirando nota bai-
xa... Há dois jeitos de proceder aí: pensar “tenho de
resistir”, ou amá-lo. Olhar para ele e entender a difi-
culdade dele com amor, olhar no olhinho dele, olhar
para o mundo com o olhinho dele, prestar atenção
do mesmo jeito que ele está prestando atenção no
mundo. Isso é o amor possível.

Quando você começa a amar a pessoa com quem


você tem de ter paciência, quando você começa a
amar o processo de adquirir paciência, ou seja, o
processo que envolve essa atitude do espírito, você
adquire a paciência plena. Você começa a ter, de
fato, paciência; começa a “suportar” as coisas — não
suportar com o braço, e sim com o coração.

40
O braço não agüenta todo o peso do mundo, nunca.
Aí está o problema. O coração, ao contrário, é um
órgão complacente. Nosso coração agüenta tudo,
tudo cabe nele; todas as dores do mundo, todos os
entusiasmos, todos os sofrimentos, todas as pessoas
do mundo cabem no coração de um ser humano.

O coração do ser humano é o órgão mais compla-


cente que há. Ali tudo cabe, nós conseguimos dila-
tar nosso coração de modo que todo o mundo caiba
ali dentro. Com o braço não acontece assim. Nosso
músculo não sustenta todo o peso do mundo, nunca
conseguirá isso.

Se você tem uma situação na sua vida que o desa-


fia a ter paciência, mude a perspectiva. Você estava
olhando para a situação até então como algo a que
você precisava resistir. Você pensava: “Vou agüen-
tar isso aqui em segredo, dentro de mim, não vou
reclamar, vou ficar quieto, não vou me queixar da si-
tuação”. Tal movimento não vai durar muito tempo,
porque quem sustenta esse tipo de movimento é o
seu braço, e o braço não agüenta o peso do mundo.
Seu braço é só seu e você é fraco; eu também sou
fraco.

O nosso coração, não. Ele participa de um amor mais


perfeito, que é o amor de Deus mesmo. No nosso co-
ração cabe tudo. A gente pode amar e expandir o

41
nosso amor quase infinitamente, porque ele partici-
pa do amor de Deus. No limite, é isso.

“Ah, Italo, eu sou ateu, não acredito em Deus.” Bele-


za, meu amigo, mas, cada vez que você ama, você
ama junto com o coração de Deus, quer você acre-
dite Nele ou não. Acreditar em Deus não é proble-
ma seu, a existência de Deus não é um problema
da sua cabeça, é uma questão da estrutura do mun-
do. Deus continua existindo independentemente de
você acreditar Nele ou não.

Cada vez que você pratica um ato de amor, cada vez


que ama com seu coração, sendo ateu ou sendo reli-
gioso, pouco importa, você está amando sustentado
em um amor maior. É assim que funciona. Porém,
cada vez que você sustenta o mundo com o braço,
está apostando na sua força – e, claro, às vezes deve
ser assim mesmo, precisamos sustentar as coisas
com o nosso braço. Já a paciência, meu amigo... Se
você tenta ter paciência com o seu braço, vai se frus-
trar sempre, por um motivo: a ignorância do outro é
infinita também. A burrice do outro é infinita tam-
bém. A dificuldade do outro é infinita. Você não dá
conta.

É o amor que vai lhe dar a paciência, é só o amor.


Não é difícil. É só uma mudança de perspectiva. Ten-
te fazer isso. Quando você estiver diante de uma si-

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tuação na vida, com seu filho, no seu trabalho, com
seu corpo mesmo, pare de querer fazer a coisa no
muque. Mude de perspectiva, faça com o coração.

Por exemplo: “Tenho de ter paciência para me man-


ter na dieta, porque o médico falou que eu vou mor-
rer se não mudar meus hábitos alimentares”, ou en-
tão: “Quero ficar mais bonito(a), vou entrar em uma
dieta”. Se você fizer a dieta no muque, não vai durar
muito tempo. Precisa mudar a perspectiva, começar
a amar o processo de mudança, tem de visualizar
aquilo no que você vai se transformar e tem de amar
o processo, amar o resultado.

É o amor que vai sustentá-lo nesses atos que serão


vistos, depois, como atos de paciência. Exercite-se
nessa mudança de perspectiva. Isso não é nada prá-
tico, não tenho uma dica. “Italo, me dê cinco dicas
para ser mais paciente.” Não dá, não existe, isso só
serve para vender livros e bombar post no Facebook.
Não é assim que funciona.

Como você adquire paciência? Exercitando seu


amor, mudando a perspectiva, fazendo as coisas ca-
berem dentro do seu coração, e não sustentando-as
com seu braço. Do contrário, você estará frito.

Na próxima situação da sua vida em que você pre-


cisar ser paciente, experimente enfrentá-la com o

43
átrio e o ventrículo do seu coração. Experimente es-
tar ali naquela situação com a amplitude do amor, e
não com a força do músculo. Aí você começa a con-
seguir.

Alguém fez uma ótima pergunta aqui: “E os sujeitos


que têm coração duro, de pedra, aqueles que, na
linguagem técnica, tem esclerocardia, como eles fa-
zem?”. Ora, isso aqui é o remédio para o seu coração
ficar mole, meu filho, é o remédio para você amole-
cer seu coração e parar de ter um coração duro, mes-
quinho! É mudar a perspectiva, esse é o exercício!

Tudo na vida é exercício, poucas coisas caem pron-


tas no seu colo para você degustar. A maior parte
delas você precisa exercitar. A virtude é um exer-
cício diário, você precisa exercitar-se na virtude to-
dos os dias para deixar de ser um tosco. Precisamos
fazer isso todos os dias, para irmos circulando nas
virtudes.

“Ah, Italo, eu sou um cara muito paciente.” É, mas você


pode se tornar um cara fraquinho, porque faltou for-
taleza. Precisamos sempre ir compondo o grande
painel das virtudes: justiça, fortaleza, prudência e
temperança.

Vamos exercitar o amor do coração, e não a força


do braço apenas. É importante termos um coração

44
que saiba amar, um coração complacente, em que
caibam as dores do mundo e os entusiasmos e as
expectativas, um coração amplo, para que consiga-
mos olhar para o outro e colocá-lo dentro do nosso
coração, e não só da nossa cabeça.

Que consigamos olhar para nossos próprios proje-


tos com o coração, e não só com a cabeça ou com
o braço. O coração é um órgão fundamental para
que sejamos humanos. Sem amor, é difícil viver nes-
te mundo, é difícil ser feliz, ter paciência e estar pró-
ximo a outra pessoa entregando valor para ela de
verdade, sendo relevante na vida dela de verdade. É
rigorosamente impossível fazermos isso sem amor.
Então, precisamos exercitar o amor em nossa vida.

45
Live #225 MFM | 17/12/2018 - Youtube

O MOVIMENTO GENUÍNO
DO AMOR
Hoje abordaremos a questão do amor e dos térmi-
nos de relacionamento por um ângulo específico,
desdobrado a partir da seguinte pergunta: um amor
cura o outro?

Quando alguém leva um pé na bunda, sempre ha-


verá um lugar de dor. Esse lugar de dor, em geral (é
justamente aqui que cada um precisa se examinar)
surge porque a pessoa está mortalmente compro-
metida com seu amor próprio. Eu sei, é duro falar,
todos nós que já levamos um pé na bunda ou que
já terminamos um relacionamento sabemos como é
que a coisa funciona, mas se formos parar para ana-
lisar bem, mas bem mesmo, o fenômeno que está
por trás dessa dor do amor vem daí.

Você tem um amor próprio, você está implicado ali


naquele relacionamento (ou ao menos acha que está),
e quando a pessoa rompe contigo, você não con-
segue imaginar como ela foi capaz de fazer aquilo.
No fim das contas, você está olhando pra si mesmo.
Esse é sempre o movimento que vem, a dor que vem.
“Italo, mas não é assim mesmo que funciona?”, “Não,
Italo, vai vir dor de vários outros lugares também, eu
tinha um monte de planos com aquela pessoa, eu ti-

46
nha o costume de conviver com aquela pessoa...” Eu
sei que tem tudo isso aí, mas tem uma dor profunda,
veja bem, que vem desse lugar aí onde você está se
olhando demais.

Você está absolutamente comprometido com a sua


autoimagem, com a sua figura, você está mortalmen-
te apaixonado por si mesmo, e aí, quando a pessoa
rompe contigo, o que acaba acontecendo? Você não
entende que isso é possível e começa a doer pra ca-
ramba, você se sente traído, porque “Como assim ele
não vai continuar me amando para sempre?”, “Como
assim eu não sou tão bom assim?”, etc. Esse é o mo-
vimento que vem.

“Um amor cura o outro” é uma figura de linguagem,


não é que um amor esteja de fato curando o outro.
Na verdade, você terminou um relacionamento e há
uma dor de amor, e a pergunta é: essa dor de amor
só vai passar quando você se relacionar com outra
pessoa, quando você encontrar outro chinelo velho
aí para o teu pé descalço?

Não é assim que funciona. Isso aqui é o nosso cami-


nho para o amadurecimento — nem sempre é fácil,
mas em geral a coisa funciona assim: quando você
ama ou está amando alguém, mas amando de ver-
dade, o que tem de prevalecer na relação é a bene-
volência. Você tem de querer o bem da pessoa, o

47
bem do outro enquanto outro, você tem de querer
o bem do outro porque você ama o outro. É sempre
um movimento de benevolência, esse é o movimen-
to do amor.

Você, meu jovem universitário que me assiste, você,


que está com medo de falar com uma menina de
quem você está gostando, está com medo de falar
com alguém por quem está apaixonado, está que-
rendo se entregar num relacionamento e tem medo,
preste atenção. O amor é o seguinte: você vai dar
tudo o que tem para a outra pessoa querendo o bem
dela enquanto outro, você quer o bem do outro, você
quer que o outro melhore, você quer que o outro
progrida, e isto é que é o movimento verdadeiro do
amor, isto é o movimento de amadurecimento. É di-
fícil, precisa ser construído aos poucos, não aparece
da noite para o dia.

É claro, porém, que algumas pessoas despertam isso


na gente. A aparição de certas pessoas na nossa vida
faz com que a gente queira simplesmente se entre-
gar, se dar, a gente quer o bem daquela pessoa in-
dependentemente de qualquer coisa, é só isso o que
a gente quer. É raro, mas acontece também, e isto é
o que muita gente chama de amor à primeira vista.
Não é um movimento próprio da paixão.

Esse movimento de você querer o bem do outro en-

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quanto outro pode aparecer em outros relaciona-
mentos — com seu filho, seu irmão, seu amigo, às
vezes é assim que funciona, existe essa natureza de
relacionamento. Mas, quando a esse movimento se
mistura uma certa atração erótica, bem, aí você tem
um relacionamento amoroso de fato.

Quando você é maduro e é assim que você se apre-


senta em um relacionamento, o que acontece quan-
do a outra pessoa nega? Se você só quer entregar o
bem, só quer o bem da pessoa, só quer dar e entre-
gar, só quer que a pessoa melhore, mas a outra pes-
soa não quer receber, você vai se sentir deprimido,
diminuído, você vai sofrer? Não. Esse é o ponto cen-
tral da live: você vai ter pena do outro.

A pena é um dos sentimentos mais ostracizados do


Ocidente do nosso tempo, ninguém gosta de sentir
pena. “Ai, nossa, que coisa horrível sentir pena.” Fi-
lho, pena é um dos sentimentos que aparecem no
seu peito, você não precisa rejeitar, não. Meu jovem
universitário que quer se entregar para uma dama,
ou, minha donzela que quer se entregar para um
jovem universitário, se tem uma pessoa que apare-
ce na sua frente e você quer lhe entregar seu amor
verdadeiro, mas o sujeito o rejeita, eu vou te dizer
qual é o movimento que vai aparecer no teu peito:
o movimento que vai aparecer no teu peito, se você
for uma pessoa madura, é de pena do outro, e não

49
de você.

O movimento de pena de si é coisa de gente imatu-


ra, e a gente em geral é imaturo. Eu quero que vo-
cês reflitam nisto aqui, não tem nenhuma instrução
prática, é só pra você se enxergar e falar “Cara, é
isso mesmo, né? Eu reparei e é verdade, aquele rela-
cionamento que eu terminei lá atrás, eu era egoísta
mesmo. Apesar de ter me entregado, eu só queria re-
ceber e eu estava prestando atenção em outras coi-
sas.”

Quando o amor é maduro, é genuíno, é verdadei-


ro, você não vai sentir uma dor em você, você sente
uma dor pelo outro. Falando assim, até dá para se
dizer “Putz, que coisa arrogante”, mas é quase isso
mesmo. Olha, eu tenho para entregar, eu sei que eu
sou a melhor pessoa para aquela uma lá, eu sei que
eu posso dar tudo, eu sei que eu quero me entregar
mesmo, e a pessoa não recebe? Você fala “Pô, coita-
do, coitadinho, não vai achar ninguém”. Parece ego-
ísmo, mas é o inverso do egoísmo, é contrário, é um
movimento extrínseco, você está querendo entregar,
você sabe que você pode entregar, sabe que a pes-
soa pode receber, e a pessoa está negando, qual é o
movimento que vem? O movimento que vem será a
pena do outro.

Só que ninguém mais está autorizado a sentir pena

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de ninguém! Se você falar que tem pena ali daque-
le mendigo, daquela criança, daquela senhora, vão
dizer: “Nossa, que coisa absurda, por que você sente
pena, você por acaso acha que ela é menor do que
você?”. Não é isso, é que às vezes tem de sentir pena
mesmo.

A pena é um movimento que existe. O que você vai


fazer com a pena é outra coisa, mas ela existe, não
precisa negar, muito pelo contrário, às vezes a única
forma de você se relacionar com algumas pessoas
é sentindo pena. Quando você tem uma pessoa que
tinha que ter te dado tudo e não te deu nada, que é
um criminoso, um bandido, um canalha, e você não
tem o que fazer, não tem como processar, enfim, às
vezes um pai que não cuidou de você, não é para
ficar com raiva dele, é para sentir pena e rezar, pron-
to, é o que você vai poder fazer. Mais que isso você
não pode fazer e pronto, acabou, vida que segue.
Agora, se você quer achar um outro sentimento ali,
não vai encontrar, você vai se confundir e se alienar.
Não tire a pena do rol de sentimentos possíveis do
teu coração. Não tire.

Se você olha para uma pessoa que você quer e pode


amar, e ela não recebe, de nada adianta: você pode
entregar tudo; se ela não receber, resta a pena.

Outros sentimentos virão também, é claro que virão,

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mesmo em uma pessoa madura. Aquele convívio
que foi construído, os projetos, é claro que virá um
sentimento ruim, mas não é o que deve prevalecer.
Eu conheço muita gente madura que terminou, gen-
te que amava profundamente o outro (eu encontrei
muita gente boa e madura na minha vida). São tér-
minos doloridos, há uma dor profunda, mas não é
aquele remordimento, aquele remorso, aquela coisa
que o coração vai se remoendo e a pessoa vai fican-
do com pena de si e aquela coisa se amplifica e vira
uma histeria, não é assim que funciona, não é.

Esse é um bom termômetro pra ver, no final das con-


tas, se você de fato está sabendo amar. Há um pa-
radoxo aparente aqui. Parece que é o contrário. Um
sujeito que tem essa postura parece que é mais so-
berbo, mais narcisista, mas na verdade é o contrário.
É esse o movimento que vai aparecer no peito de
quem deseja entregar, um movimento de compai-
xão pelo outro, uma certa pena do outro. Eu sabia
que era eu a melhor pessoa para entregar aquilo a
ela, e ela não pôde receber. Você sente um pouco de
pena e pronto, vida que segue.

O nosso povo é muito imaturo nos relacionamen-


tos amorosos. Muito, muito, muito imaturo. O pesso-
al endeusa o namoro, e quando você dá muito valor
para um namoro, o que vem na sequência dele não
pode ser parametrizado. Naturalmente, uma socie-

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dade que valoriza muito o namoro é uma socieda-
de que desvaloriza o casamento e os comprometi-
mentos verdadeiros de vida, isso é evidente. Há uma
confusão grande nos relacionamentos amorosos, o
coração fica uma zona nebulosa e as pessoas es-
quecem essas coisas que são simples.

O amor é esse ato de benevolência gratuita, você vai


dar o negócio. Esse é que é o amor verdadeiro. Mui-
ta gente me escreve dizendo que tem “dificuldade
de amar”. Dificuldade de amar, no final das contas, é
um movimento do egoísmo, você está se procuran-
do, é sempre assim. Quando você está com “dificul-
dade de amar”, você está querendo dizer que não
consegue sentir em você certas coisas. É isso. Você
quer dizer “Eu não consigo sentir no meu peito al-
gumas coisas”. Mas o movimento genuíno do amor
não é um movimento de sentir coisas no teu peito. É
um movimento de olhar para outra pessoa e querer
o bem dela.

O movimento genuíno do amor é um movimento ex-


trínseco; você tem de sair de si, do seu umbigo, sair
do seu peito e olhar para o que está para fora de
você. Quando você olha para uma pessoa e reco-
nhece que há uma humanidade ali, que há algo de
profundo naquela pessoa, você reconhece que tem
algo ali fora, e você quer melhorar aquele algo —
este é o movimento do amor. Este. Não procure nada

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diferente disso, pois será difícil de achar. Às vezes
vem, às vezes não. É claro que tem mais um monte
de outras coisas, tem tesão, tem paixão, mas a gente
não está falando disso. Estamos falando do amor, do
núcleo do amor, e o núcleo do amor é esse.

A dificuldade de amar aparece, em geral, porque nós


temos uma dificuldade de personalizar, de ser pes-
soa, de ter nossa personalidade bem formada. “Italo,
o que você quer dizer com isso?” Quando falamos de
amor, falamos de algo que é pessoal. O amor é sem-
pre pessoal, por definição. É uma coisa que vem de
você; se vem de outro lugar, você não percebe esse
movimento, ou seja: ou ele vem do centro do teu co-
ração, ou ele não está vindo de lugar nenhum.

O problema é esse, a gente tem uma dificuldade de


personalizar, de se tornar uma coisa só, de ter a nos-
sa personalidade, porque em geral na gente apa-
recem elementos estranhos, estrangeiros a nós. A
língua que a gente fala é estrangeira à gente, o ele-
mento cultural é estrangeiro à gente, uma imagem
que você viu lá na novela Malhação, na década de
90, que formou a tua cabeça, é estrangeira a você,
aquilo não é você ainda. A gente convive com uma
série de pulsões interiores do subconsciente, da ge-
nética, do cosmos, enfim, da cultura, que não são a
gente ainda. O esforço de formar a nossa personali-
dade é integrar todos esses elementos estranhos no

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centro do nosso coração. É só esse centro que pode
de fato entregar esse amor verdadeiro.

Então, quando alguém fala que tem dificuldade de


amar, o que você tem de ler? O que você tem, no fi-
nal das contas? Uma dificuldade de construir a tua
personalidade, de integrar esses elementos no cen-
tro do teu coração. E quem faz esse trabalho? A tua
psique atenta. Quando a tua psique, quando você
está atento e quer integrar essas coisas no centro
da tua personalidade, você consegue aumentar tua
capacidade de amar.

Vou dar um exemplo simples aqui. A nossa geração,


a nossa cultura, têm um monte de talismãs, de vacas
sagradas, de máscaras que a gente pode vestir para
perder a nossa pessoalidade. Uma delas é a religião
mal-entendida, a “religião” entre aspas. A profissão
é outra delas. Vê-se um monte de gente falando de
um certo modo “profissional” — advogados, médi-
cos, esse pessoal do mundo acadêmico, mestrando,
doutorando —, e é difícil ouvir essas pessoas falando
e reconhecer uma pessoa ali. Quando você vai a um
médico, parece que ele faz questão de enrolar tudo,
de falar desde a sua profissão, ele fala como se fosse
um corpo, como se fosse a Assembléia dos Médicos,
falando de átrios, ventrículos, hipertensões e hipo-
glicemias, e não consegue falar com a pessoalidade
do coração dele.

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Quando um sujeito assume esse papel profissional,
ou esse papel religioso, ou esse papel acadêmico,
ele perde imediatamente a personalidade dele. Ime-
diatamente. Ele vai ficando não só prolixo, mas falso.
Uma das queixas que alguns colegas meus fazem
das lives é: “Oh, nossa, ele fala gíria, ele fala pala-
vrão”. É isso mesmo, porque esse é o Italo falando,
aqui não é a Associação Brasileira ou Internacional
de Psiquiatria que está falando, não; é o Italo falan-
do desde o coração dele, é um esforço de personali-
zação. É o contrário do que esse pessoal faz.

Cada vez que as pessoas escapam desse esforço de


personalização, cada vez que perdem esse esforço
de autenticidade, elas vão perdendo a capacidade de
formar sua personalidade. Imediatamente, perdem
a capacidade de amar, e imediatamente tornam-se
pessoas que não são amáveis. Você não consegue
amar algo que não é pessoal. É muito difícil. Qual-
quer um que já tenha amado uma pessoa sabe que o
amor a um ser humano é sempre maior que o amor
a um objeto, por mais caro que ele seja. O amor a
uma pessoa ou a um animal de estimação é sempre
superior ao amor a um objeto. Por quê? Porque nesta
pessoa ou animal de estimação há algo de pessoal,
há uma personalidade ali. A personalidade dos ani-
mais de estimação é mais imperfeita que a das pes-
soas, é óbvio, mas ainda assim é mais perfeita que
a dos objetos, então é claro que se ama mais a um

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animal do que se ama a um objeto, e ama-se mais a
uma pessoa do que se ama a maior parte dos ani-
mais.

Quando a pessoa não faz esse esforço de persona-


lidade, ela não se torna amável, vira uma coisa. A
gente vive em um mundo que é uma encruzilhada
muito saudável: esse mundo de internet, Instagram,
Facebook, em que todos vivem, não passa de uma
encruzilhada, na qual você pode ir para um cami-
nho de total aparência, de uma vida fake – que todo
mundo reconhece, porque, bem, a coisa está total-
mente atualizada, está absolutamente online, você
vê quando a coisa é fake; ou você pode ir para um
caminho de autenticidade, mostrando aquilo que
você de fato é, aquilo que você quer ser, mas com
autenticidade, tentando articular os elementos do
financeiro, os elementos sentimentais, os elementos
estrangeiros a você, para o teu coração encontrar a
própria voz.

Eu sei que parece poesia, e é um pouco poesia isso


aqui. Mas essa é a poesia da vida, sem a qual a vida
só é uma prosa absolutamente chata, uma narrativa
que não é tua, no final das contas. É sempre essa di-
ficuldade de personalização que está presente nas
pessoas que falam que não conseguem amar ou que
não são amadas; é sempre um medo de ser quem
você é ou quem você precisa ser. É o movimento do

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egoísmo, é um medo egoísta, de olhar só para si, não
para o mundo e como ele te impacta.

Para amar alguém, você tem de olhar para a outra


pessoa. Essas dores de término em geral vêm de uma
imaturidade muito grande, porque nenhum dos dois
está fazendo um esforço de personalização, nenhum
dos dois está construindo sua personalidade e difi-
cilmente os dois estão olhando de fato um para o
outro. Está cada um olhando para si. E esse é o ponto
central da nossa live de hoje.

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@italomarsili
italomarsili.com.br

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