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Pedro Vicente
pedro.v@aluno.ufop.edu.br
RESUMO
Este artigo aborda e discute o filme As sufragistas, lançado em 2015 e dirigido por
Sarah Gavron, que retrata o movimento sufragista ocorrido no início do século XX que
buscava aprovar voto das mulheres nas eleições no Reino Unido, paralelamente aos
conceitos de “libertação pelo direito” e “libertação do direito” propostos por Martin
Kriele, afim de relacionar um destes paradigmas ao filme e ao movimento sufragista
inglês. O filme aborda a realidade das mulheres na Inglaterra do século XX,
apresentando fatos reais mas também fantasiosos, que lutavam pelo debate sobre a
igualdade de direitos entre homens e mulheres naquela sociedade afim de garantir o
direito ao voto feminino nas eleições, mostrando também a mudança pela qual as
mulheres passam ao integrar o movimento sufragista.
Palavras-chave
O movimento sufragista inglês surgiu entre meados do final do século XIX e início do
século XX com o objetivo de aprovar o direito ao sufrágio1 feminino nas eleições
britânicas. Em 1897 foi criada a National Union of Women’s Suffrage Societies –
NUWSS (União Nacional das Sociedades de Mulheres Sufragistas), o movimento era
1
“Sufrágio” do latim “suffragium” que significa “voto”.
composto majoritariamente por mulheres, mas contava também com alguns homens,
seus integrantes eram denominados sufragistas. As integrantes deste movimento
buscavam a aprovação do voto feminino por meio de movimentos e manifestações
principalmente na cidade de Londres, movimentos estes que a princípio eram pacíficos
e com intuito de atrair apoiadoras e alcançar o objetivo no parlamento mas que
acabaram se tornando violentos tanto por parte das manifestantes como por parte do
estado inglês, diante disso as sufragistas buscavam ganhar ampla visibilidade na mídia
com o intuito de divulgar o movimento sufragista, em contrapartida houve um interesse
da polícia britânica em frear o movimento por meio de prisões e punições às
manifestantes, visto que a sociedade dava pouca visibilidade à figura feminina no
contexto da época já que o mundo passava por um momento de pós revolução
industrial e proliferação das fábricas, ambiente onde se passa boa parte do filme As
sufragistas dirigido por Sarah Gavron e lançado em 2015, e com isso a inserção das
mulheres nesta realidade era unicamente de forma submissa e inferior aos homens, o
que fomentou a criação do Women’s Social and Political Union – WSPU (União Social
e Política das Mulheres), uma vertente radical do NUWSS, então o movimento
sufragista ganhou uma política ainda mais revolucionária.
Para ter o direito ao voto as mulheres recorriam ao parlamento britânico por meio de
depoimentos aos parlamentares, todos homens, além também de gerar debates acerca do
direito das mulheres afim de estimular uma votação para institucionalizar e permitir o
voto das mulheres.
“Imaginar que seria possível existir uma outra forma de viver essa vida” 2. Essa é a
eloquência dita por Maud Watts (Carey Mulligan), protagonista do filme As
Sufragistas3, ao responder por qual motivo estava dando seu depoimento, ao juiz Lloyd
George (Adrian Schiller), sobre a garantia do voto feminino.
2
GAVRON, Sarah. As Sufragistas. Reino Unido: Universal Pictures, 2015, 22:33. (106 min). Colorido. Título
original: Suffragette.
3
Idem
propriedades e posses de bens, divórcio etc.), tendo como auge a luta
sufragista pelo direito ao voto feminino, que aconteceu em diversos
países no mundo” 4.
Durante a longa batalha das mulheres por seus direitos, surgiram representantes
emblemáticas do movimento como Emmeline Pankhurst, foi líder da vertente radical do
movimento, uma mulher de classe média que se casou com Richard Marsden Pankhurst,
um advogado apoiante do movimento sufragista e autor da legislação Married Women's
Property Acts ( O Ato de Propriedade das Mulheres Casadas) que alterou
significantemente a lei do parlamento inglês sobre os direitos de propriedade das
mulheres casadas. Após a morte de seu marido, Emmeline fundou a Women's Social
and Political Union (União Social e Política das Mulheres), um movimento militante no
qual Sra. Penkhurts contou com apoio da também sufragista Annie Kenney, conhecida
como a "mártir" do sufragismo, de Emily Davison e Dame Ethel Smyth, e
posteriormente de suas filhas Christabel e Sylvia.
”We are here, not because we are law-breakers; we are here in our efforts to become
law-makers.( Estamos aqui, não porque somos infratores da lei; Estamos aqui em nossos
esforços para nos tornarmos legisladores)” 5.
4
MARCELINO, Giovanna. As sufragistas e a primeira onda do feminismo. Revista Movimento. 2018.
Disponível em: https://movimentorevista.com.br/2018/02/3801/
5
PUNKHURST, Emmeline. My Own Story. Virago Press Ltd. 1983, p. 129.
do filme é Maud Watts ( interpretada por Carey Mulligan), uma mulher jovem mas sem
formação acadêmica que trabalha como lavadeira e está acostumada à a ser subissa aos
homens a sua volta e à sofrer opressão masculina sem questionar o sistema, até que
conhece Violet Miller(Anne-Marie Duff) uma sufragista que apresenta à Maud o
movimento e desperta nela o senso político para lutar no movimento e ela se torna cada
vez mais ativista nas manifestações e seu primeiro ato como militante, mesmo
involuntariamente, é dar seu depoimento ao parlamento britânico sobre sua condição de
trabalho na lavanderia e na sociedade da época como mulher dando a seguinte
afirmação: “ Numa lavanderia não se trabalha por muito tempo, se você é mulher” 6.
8
KRIELE, Martin. Libertação e iluminismo político: uma defesa da dignidade do homem. Tradução S.A. São Paulo:
Edições Loyola, 1983, p. 41.
em três elementos primordiais do iluminismo político, que são: os direitos humanos, a
divisão de poderes e a democracia.
De acordo com a teoria de Kriele, para a instauração dos direitos do homem, é mais
importante a divisão de poderes do que os princípios dos direitos dos homens, tendo
como exemplo a Constituição Soviética de 1936, na qual estava presente uma cartilha
com o direito as liberdades individuais, porém esse direito não se aplicava na realidade
do regime já que não havia a divisão de poderes, tendo em vista que as autoridades não
estão sujeitas a este direito já que consideram-se acima dele e, portanto, tem o poder de
executa-lo da forma que julgar melhor.
Já a democracia é o meio pelo qual se infere os direitos jurídicos dos direitos humanos,
tendo como resultado a divisão de poderes, segundo o autor.
Já a “Libertação do direito” consiste na introdução de um mundo com valores
diferentes, rompendo com os dogmas já existentes e inaugurando um novo modo de
atingir a “libertação”, porém baseado apenas no conceito de justiça mediado não mais
pelo estado ou por instituições mas sim de forma ideológica, em que cada indivíduo é
responsável pelo seu dever de justiça da mesma forma pela qual Kriele apresenta a
segunda Revoluçao Francesa na qual os revolucionários buscavam transpor o direito
publico sobre os homens e a justiça, porém Kriele aborda essa interpretação de modo
contrariador já que segundo ele:
“A emancipação do direito público do iluminismo político devia
conduzir à plenitude da democracia e da liberdade, mas de fato
conduziu ao terror, no qual a nova noção de ‘libertação’ se
manifestou pela primeira vez na história do mundo”9
9
KRIELE, Martin. Libertação e iluminismo político: uma defesa da dignidade do homem. Tradução S.A. São Paulo:
Edições Loyola, 1983, p. 17.
No livro, “Libertação e iluminismo político: uma defesa da dignidade do homem”, o
autor Martin Kriele expõe dois princípios de libertação: Libertação pelo direito e
libertação do direito, os quais podem ser empregados na análise de alguns
acontecimentos libertários históricos, como o movimento sufragista inglês apresentado
no filme “As Sufragistas”10, a partir do qual iremos analisar e identificar qual modelo de
libertação foi empregado pelas sufragistas neste episódio histórico da liberdade de
direitos.
O movimento foi marcado por dois estágios distintos, os quais se diferenciavam apenas
pelo modo de agir das militantes, gerando assim diferenças até no modo pelo qual eram
elas eram identificadas. Mulheres que lutavam pela causa de modo pacífico e
constitucional eram conhecidas como “sufragista”, e as que adotavam um modo de agir
mais revolucionário e violento eram conhecidas como “sufragetes”.
Portanto, constata-se que a luta das integrantes do movimento retratada no filme, não se
tratava mais de um exemplo de libertação pelo direito, mas sim de libertação do direito.
10
GAVRON, Sarah. As Sufragistas. Reino Unido: Universal Pictures, 2015, (106 min). Colorido. Título original:
Suffragette.
método revolucionário aos recursos existentes para chamar a atenção do parlamento e
da mídia, e com isso alcançar o direito ao voto.
Referências Bibliográficas
ABREU, Zina. Luta das mulheres pelo direito de voto. Portugal: Revista Arquipélago –
História, 2002. 2ª série. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/61433997.pdf
Atkinson, Diane. Votes for Women. Reino Unido: Cambridge University Press,1988.
11
KRIELE, Martin. Libertação e iluminismo político: uma defesa da dignidade do homem. Tradução S.A. São Paulo:
Edições Loyola, 1983, p. 29.
12
Atkinson, Diane, Votes for Women, Op. Cit., p. 19.
GAVRON, Sarah. As Sufragistas. Reino Unido: Universal Pictures, 2015.DVD (106 min).
Colorido. Título original: Suffragette
KRIELE, Martin. Libertação e iluminismo político: uma defesa da dignidade do homem. Título
do original em alemão: Befreiung und politische aufklãrung. Tradução S.A. São Paulo: Edições
Loyola, 1983.