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Capítulo 3 COMPONENTES ELÉTRICOS PASSIVOS

Dentre os componentes passivos básicos de um circuito elétrico


tem-se o resistor, o capacitor e o indutor. Neste capítulo ênfase
será dada aos componentes passivos, capacitor e indutor, os quais
formam a base para o estudo de circuitos reativos.

Quando um circuito elétrico é excitado por uma fonte de natureza


forçada ou permanente, a fonte causa no circuito elétrico uma
resposta forçada. A resposta natural é causada pela dinâmica
interna do circuito. A resposta natural normalmente decai após
algum período de tempo, mas a resposta forçada mantém-se
indefinidamente. Quando uma função forçada senoidal é aplicada a
qualquer tipo de circuito passivo, a resposta de tensão e corrente
em cada componente do circuito é também senoidal e tem a
mesma freqüência da tensão aplicada.

3.1. Resistores

Quando por um material condutor circula corrente, os elétrons livres


que circulam no material colidem com os átomos, perdendo energia
liberada na forma de calor. A propriedade de um material de limitar
o fluxo de elétrons é denominada de resistência. A resistência R é
expressa em ohms (Ω).

O símbolo de uma resistência é:


R

Figura 3.1 Símbolo do resistor/resistência.

Os componentes que apresentam resistências são denominados


de resistores. A principal aplicação dos resistores é para limitar
corrente (p.ex. reostato), dividir tensão (potenciômetro), e em
certos casos, gerar calor.

3.1.1 Conexão Série e Paralelo de Resistores

Quando resistores são conectados em série, a resistência total, RT,


é a soma das resistências individuais.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


3-2

R1 R2 Rn

Figura 3.2: Resistores conectados em série.

RT=R1+R2+R3+…+Rn (3.1)

Quando resistores são conectados em paralelo, a resistência total é


menor que a menor resistência individual.

R1 R2 Rn

Figura 3.3: Resistores conectados em paralelo.

O inverso da resistência total é igual à soma do inverso de cada


resistência.

1
RT = (3.2)
⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ + " + ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ R1 ⎠ ⎝ R 2 ⎠ ⎝ Rn ⎠

Considere a função forçada v(t) que alimenta um circuito resistivo


como o mostrado na Figura 3.4.

v = VP.sen(ωt + ϕ) (3.3)

A amplitude da senóide é Vp, e a freqüência angular é ω (rad/s). A


equação que rege o comportamento do circuito é dada por:

VP.sen(ωt + ϕ)=Ri(t) (3.4)

A resposta forçada para a corrente em regime permanente é da


forma:
1 1
i= .v = Vp.sen(ωt + ϕ) = Ip. sen(ωt + ϕ) (3.5)
R R
onde
1
Ip = ⋅ Vp (3.6)
R
ou

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3-3

1
I EF = ⋅ VEF (3.7)
R

Im

Re

Figura 3.4: Ondas e diagrama fasorial de tensão e corrente em circuito resistivo.

Os fasores que representam as ondas senoidais v e i são,


respectivamente, |V|∠0o e |I|∠0o. Aplicando a Lei de Ohm ao
circuito resistivo tem-se:

V ∠0 D
= R∠0 D [Ω]
VEF
= (3.8)
I EF I ∠0 D

Corrente e tensão são linearmente proporcionais, ou seja, se um


cresce ou diminui de um certo percentual, o outro também cresce
ou diminui na mesma proporção, denotando que resistência é
constante.

Figura 3.5: Gráfico de tensão versus corrente em circuito resistivo.

Observa-se que a corrente através do resistor:


◊ Varia no tempo;
◊ Permanece em fase com a tensão;
◊ Mantém a mesma freqüência da tensão.

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3-4

Na Equação 3.7 o inverso da resistência é denominada de


condutância cujo símbolo é o G e a unidade o siemens (S). A
condutância é a medida de facilidade com que flui uma corrente.

1
G= (3.9)
R

3.1.1 Potência em um Resistor

A dissipação instantânea de potência no resistor:

p (t ) = = v(t ) ⋅ i(t )
dW dW dq
= ⋅ (3.10)
dt dq dt
em que
v (t ) =
dW
(3.11)
dq
i (t ) =
dq
e (3.12)
dt
Assim:
p(t) = Vp.sen(ωt + ϕ). Ip.sen(ωt + ϕ) = Vp. Ip.sen2(ωt + ϕ)

p(t ) = Vp . Ip (1 − cos[2(ωt + ϕ )])


1
(3.13)
2

A potência média fornecida ao resistor é expressa como:

1 t +T
p(t ) ⋅ dt
T ∫t
P=

Vp ⋅ I p (3.14)
V2
= = VEF ⋅ I EF = EF = R ⋅ I 2EF
2 R

A unidade da potência média é watt (W).

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3-5

Figura 3.6: Potência instantânea e média em circuito puramente resistivo.

Observa-se que a potência dissipada pelo resistor:


− É unidirecional;
− Apresenta o dobro da freqüência da tensão;
− O valor médio é o produto do valor eficaz da tensão e corrente.

3.2. Capacitores

Um capacitor é um dispositivo elétrico formado por placas


condutoras separadas por material dielétrico, que armazena carga
elétrica, portanto criando um campo elétrico que por sua vez
armazena energia.

Figura 3.7: Partes do capacitor e o símbolo.

Em um capacitor descarregado, suas placas ou eletrodos


apresentam o mesmo número de elétrons livres. Quando o
capacitor é conectado a uma fonte de tensão, elétrons são
removidos de uma placa A e depositados em uma placa B. À
medida que a placa A perde elétrons, e a placa B ganha elétrons, a
placa A torna-se positiva em relação à placa B. Durante o processo
de carga do capacitor, os elétrons não fluem através do material
dielétrico porque se trata de um material isolante. O movimento de
elétrons cessa quando a tensão através do capacitor se iguala à

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tensão da fonte. Se o capacitor é desconectado da fonte, ele retém


a carga armazenada por certo período de tempo – a duração
depende do capacitor – mantendo ainda tensão em seus terminais.
Um capacitor carregado opera como uma bateria temporária.

3.2.1 Capacitância

A capacitância é a medida da capacidade de um capacitor de


armazenar carga. Quanto mais carga por unidade de tensão o
capacitor poder armazenar, maior sua capacitância, expressa pela
Equação 3.15.

Q
C= (3.15)
V

C é a capacitância, Q a carga, e V a tensão.

A unidade da capacitância é farad (F), e a da carga coulomb (C).


Por definição, 1 farad é a quantidade de capacitância quando 1
coulomb de carga é armazenada com 1 volt aplicado aos terminais
do capacitor.

3.2.2 Energia Armazenada

Um capacitor armazena energia na forma de um campo elétrico


que é estabelecido pelas cargas, de polaridade oposta, em suas
placas. O campo elétrico é representado por linhas de força entre
as cargas, positiva e negativa, e concentradas dentro do dielétrico.

A força entre duas cargas é diretamente proporcional ao produto


das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre as cargas – Lei de Coulomb.

Linhas
de força
Q1 Q2
+ -
+ - Q1 ⋅ Q 2
+ - F=k (3.16)
d2
+ -
+ -

Figura 3.8: Linhas de força


criadas por cargas opostas.

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A força F é expressa em newtons, Q1 e Q2 são as cargas, em


coulombs, d é a distância em metros, e k é a constante de
proporcionalidade igual a 9x109 N.m2/C2.

Quanto maior o número de cargas elétricas nas placas do


capacitor, maior o número de linhas de força, que formam um
campo elétrico que por sua vez armazenam energia no dielétrico.

Quanto maior a força entre as cargas nas placas de um capacitor,


mais energia é armazenada. Portanto, a energia armazenada é
diretamente proporcional à capacitância, porque, segundo a lei de
Coulomb, quanto mais carga é armazenada maior é a força.

Da Equação 3.15, a quantidade de carga armazenada é


diretamente relacionada à tensão bem como à capacitância.
Portanto, a energia armazenada também depende do quadrado da
tensão nos terminais do capacitor.

1
W= CV 2 (3.17)
2

Quando a capacitância C é expressa em farads (F) e a tensão V


em volts (V), a energia W é dada em joules (J).

3.2.3 Tensão de Nominal

Cada capacitor tem um limite no nível de tensão que é capaz de


suportar em seus terminais. A tensão nominal especifica a máxima
tensão que pode ser aplicada sem risco de danificar o dispositivo.
Se a tensão máxima denominada de tensão de ruptura é excedida,
o capacitor pode sofrer avaria permanente.

Tanto a capacitância como a tensão de ruptura deve ser levada em


consideração antes da aplicação do capacitor. A escolha da
capacitância é baseada nas necessidades do circuito. A tensão de
ruptura deve sempre ser superior à máxima tensão esperada em
uma determinada aplicação.

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3.2.3.1. Rigidez Dielétrica

A tensão de ruptura de um capacitor é determinada pela rigidez


dielétrica do material dielétrico usado. A rigidez dielétrica é
expressa em V/cm.

3.2.4 Coeficiente de Temperatura

O coeficiente de temperatura indica a quantidade e direção de


mudança na capacitância com a temperatura. Um coeficiente de
temperatura positivo significa que a capacitância aumenta com o
aumento de temperatura ou diminui com a diminuição de
temperatura. Um coeficiente de temperatura negativo significa que
a capacitância diminui com o aumento de temperatura ou aumenta
com a diminuição de temperatura.

Os coeficientes de temperatura são em geral especificados em


partes por milhão por graus Celsius (ppm/oC).

3.2.5 Fuga

Nenhum material isolante é perfeito. O dielétrico de qualquer


capacitor conduz uma pequena quantidade de corrente. Assim, a
carga do capacitor eventualmente será drenada. Um circuito
equivalente para um capacitor não ideal é mostrado na Figura 3.9.
O resistor paralelo Rf representa a alta resistência (várias centenas
de kΩ ou mais) do material dielétrico através da qual flui a corrente
de fuga.

C Rf

Figura 3.9: Circuito equivalente de um capacitor não ideal.

Em situações reais, não há capacitância pura sem alguma


resistência. A resistência existente em um capacitor introduz certo
tempo para carregar e descarregar um capacitor. A tensão nos
terminais de um capacitor não pode variar instantaneamente, pois é
necessário certo tempo para deslocar carga de um ponto a outro. A

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taxa com que um capacitor carrega ou descarrega é determinada


pela constante de tempo do circuito.

Figura 3.10: Curvas de carga e descarga do capacitor.

O capacitor carrega e descarrega seguindo uma curva não linear


de formato exponencial, como mostra a Figura 3.10. O percentual
de plena carga é mostrado para cada intervalo de constante de
tempo (τ=RC). São necessários 5τ para variar de 99% a tensão.
Este intervalo de 5 vezes a constante de tempo é aceito como o
tempo para plena carga ou descarga de um capacitor e é chamado
de tempo transitório.

As equações gerais para as curvas exponenciais de carga e


descarga são:

v=VF + (Vi – VF).e-t/τ (3.18)

i=IF + (Ii – IF).e-t/τ (3.19)

VF e IF são os valores finais de tensão e de corrente, e Vi e Ii são os


valores iniciais de tensão e de corrente.

No carregamento de um capacitor descarregado tem-se que Vi é


nulo, e a tensão normalizada, bem como a corrente, é expressa
como:

v=(1 – e-t/RC) (3.20)

Semelhantemente, tem-se que v durante a descarga em que VF=0


obedece à expressão:

v=e-t/RC (3.21)

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3-10

Figura 3.11: Curvas de carga e descarga do capacitor

3.2.6 Características Físicas de um Capacitor

Parâmetros como área da placa, distância entre placas e constante


dielétrica são importantes para a definição da capacitância e tensão
de ruptura de um capacitor.

A capacitância é diretamente proporcional à área das placas. A


área da placa de um capacitor com placas paralelas é a área física
de uma das placas. Se as placas são deslocadas uma em relação
à outra, a área comum às placas determina a área efetiva. Esta
variação na área efetiva é a base para certo tipo de capacitor
variável.

Figura 3.12: Capacitor com área completa – maior capacitância e capacitor


com área reduzida – menor capacitância.

A capacitância é inversamente proporcional à distância entre as


placas.

A tensão de ruptura é diretamente proporcional à separação das


placas – quanto mais separadas as placas, maior a tensão de
ruptura.

A medida da capacidade de um material dielétrico de estabelecer


um campo elétrico é denominado de constante dielétrica, ou
permissividade relativa, εr. A capacitância é diretamente
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3-11

proporcional à constante dielétrica. A constante dielétrica do vácuo


é 1 e a do ar é muito próxima de 1. Esses valores são usados como
referência, e os demais materiais têm valores de εr especificado em
relação ao vácuo ou ar. Um material com permissividade relativa
εr=8 apresenta uma capacitância oito vezes maior do que a do ar,
com os demais fatores mantidos constantes.

A constante dielétrica é adimensional, expressa como:

ε
εr = (3.22)
ε0

A permissividade do vácuo ε0 é igual a 8,85x10-12 F/m.

A capacitância expressa em termos das características físicas do


capacitor é dada por:

Aε r (8,85 × 10 −12 )
C= (3.23)
d

3.2.7 Capacitores em Série

Quando capacitores são conectados em série, a capacitância total


é menor do que o menor valor de capacitância das unidades em
série porque a separação efetiva das placas aumenta. O cálculo da
capacitância série total é análoga ao cálculo da resistência total de
resistores em paralelo.

C1 C2 C3 Cn

V1 V2 V3 Vn
Figura 3.13: Circuito série de capacitores.

A corrente em um circuito série é a mesma em todos os pontos.


Como a corrente é a taxa de fluxo de carga (i=q/t), a carga
armazenada por cada capacitor é a mesma, isto é:

QT=Q1=Q2=…=Qn (3.24)

De acordo com a lei de Kirchhoff para as tensões, a soma das


tensões aplicadas aos terminais dos capacitores série carregados é
igual à tensão total.

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3-12

VT=V1+V2+…+Vn (3.25)

Com base na Equação 3.15, V=Q/C, tem-se que:

Q T Q1 Q 2 Q
= + +"+ n (3.26)
C T C1 C 2 Cn

Resulta para a capacitância total:

1 1 1 1
= + +"+ (3.27)
C T C1 C 2 Cn

1
CT = (3.28)
1 1 1
+ +"+
C1 C 2 Cn

Pela Equação 3.28, verifica-se que se adicionando capacitores de


mesma capacitância, a capacitância resultante é simplesmente:

C
CT = (3.29)
n

Capacitores conectados em série atuam como divisores de tensão.


A tensão nos terminais de cada capacitor em série é inversamente
proporcional à sua capacitância como mostrada pela expressão
V=Q/C.

A tensão nos terminais de uma unidade qualquer de capacitor em


série é dada por:

⎛C ⎞
Vx = ⎜⎜ T ⎟⎟ ⋅ VT (3.30)
⎝ Cx ⎠

3.2.8 Capacitores em Paralelo

Quando capacitores são ligados em paralelo, a capacitância total é


a soma das capacitâncias individuais porque a área efetiva das
placas aumenta. O cálculo da capacitância paralela total é análogo
ao cálculo da resistência série total.

I1 I2 I3 In
C1 C2 C3 Cn

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3-13

Figura 3.14: Capacitores em paralelo.

Quando capacitores em paralelo são energizados, a corrente total


de carga é dividida entre os ramos em paralelo de modo que
cargas diferentes são armazenadas por cada capacitor. Pela lei de
Kirchhoff, a soma da corrente de carregamento em cada capacitor
é igual à corrente total. Portanto, a soma das cargas nos
capacitores é igual à carga total.

QT=Q1+Q2+…+Qn (3.31)

Quando a relação Q=CV é substituída em cada termo da Equação


3.31, obtém-se o seguinte resultado:

CTVT = C1V1+ C2V2+…+ CnVn (3.32)

Como
VT=V1=V2=…=Vn (3.33)

A capacitância total é dada por:

CT = C1+ C2+… +Cn (3.34)

Para o caso particular em que as capacitâncias são iguais:

CT = nC (3.35)

3.2.9 Capacitores em Circuitos CA

A corrente instantânea, i(t), é dada pela taxa de variação


instantânea da carga em relação ao tempo.

dq
i= (3.36)
dt

A carga instantânea q é igual a: q=Cv.

A partir da derivada de q tem-se a relação para a corrente


instantânea:

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3-14

dv
i=C (3.37)
dt

A Equação 3.37 demonstra que quanto mais rápido muda a tensão


nos terminais de um capacitor, maior é a corrente.

Se a um capacitor de C farads [F] é aplicada uma tensão constante


em seus terminais, após o carregamento do capacitor a carga na
placa de polaridade positiva q+ = C.V e a carga q- = - C.V na outra
placa permanecerá inalterada, e não haverá fluxo de corrente
através do capacitor (i = dq/dt = 0). É importante notar que não há
corrente através do dielétrico do capacitor durante a carga e
descarga porque o dielétrico é um material isolante.

Quando ao mesmo capacitor é aplicada uma tensão senoidal


v(t)=VM.sen(ωt+ϕ) em seus terminais, a carga q do capacitor variará
no tempo de forma senoidal

q = C.v = C.Vp.sen(ωt + ϕ) [C] (3.38)

e o capacitor carregará e descarregará periodicamente, fazendo


surgir uma corrente de carga

dq
i= = ωC.Vp.cos(ωt + ϕ) (3.39)
dt
dq
i= = ωC.Vp.sen(ωt + ϕ + 900) [A] (3.40)
dt

A relação de fase entre a corrente e a tensão em um capacitor é


mostrada na Figura 3.15.

Ic

Vc

Figura 3.15: Relação de fase entre a tensão e corrente em um capacitor.

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3-15

Note que a corrente está adiantada de 90º da tensão em um


capacitor, o que fasorialmente significa que VC=|V|∠0o e IC=|I|∠90o.

Pela Equação 3.40 nota-se que a corrente máxima do capacitor é:

Ip = ω.C.Vp (3.41)
ou
IEF=ω.C.VEF (3.42)

A relação entre a tensão e a corrente é denominada reatância


capacitiva, XC [Ω].

A reatância capacitiva é função da capacitância e da freqüência da


tensão aplicada
1
XC = [Ω] (3.43)
ωC
A variação da reatância capacitiva com a freqüência implica em
que:

f → 0 ⇒ XC → ∞ I→0 (circuito aberto)


f→∞ ⇒ XC → 0 I→∞ (curto-circuito)

A Lei de Ohm pode também ser aplicada ao circuito capacitivo.

VC V ∠0 D
= = X C ∠ − 90 D = − jX C (3.44)
IC I ∠90 D

Portanto, a reatância capacitiva é uma componente imaginária


associada a um ângulo de -90º.

3.2.10 Potência Reativa de um Capacitor

Quando uma tensão CA é aplicada em um capacitor, energia é


armazenada pelo capacitor durante uma porção do ciclo da tensão;
então a energia armazenada é devolvida à fonte durante outra
parte do ciclo da tensão. Em um capacitor ideal não há dissipação
de energia.

A potência instantânea entregue ao capacitor C em um instante t é


resultado do produto de v(t) e i(t).

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p = Vp.sen(ωt).Ipsen(ωt + 900)

p = Vp.Ip.sen(ωt).cos(ωt)

V p.I p
p= sen(2ωt) (3.45)
2

Figura 3.16: Tensão, corrente e potência em circuito puramente capacitivo.

Quando tensão ou corrente é zero, a potência instantânea p


também é nula. Quando v e i são positivos, p é também positiva.
Quando os sinais de v e i são opostos, p é negativa. Quando
ambos, v e i são negativos, a potência p é positiva. A potência flui
na forma senoidal. Valores positivos de potência indicam que a
energia é armazenada pelo capacitor. Valores negativos de
potência indicam que a energia retorna do capacitor para a fonte. A
potência flutua a uma freqüência duas vezes a freqüência da
tensão ou corrente.

A potência média consumida durante um ciclo completo é zero.


Assim, toda energia armazenada pelo capacitor durante o semi-
ciclo positivo da potência é devolvida à fonte durante o semi-ciclo
negativo da potência, e a energia líquida é nula, assim a potência
média ou real. Em um capacitor real, um pequeno percentual da
potência total é dissipado na forma de potência real.

O capacitor é um dispositivo armazenador de energia. A energia é


armazenada em seu campo elétrico estabelecido pela carga
acumulada no material dielétrico.

A potência que o capacitor armazena ou devolve a fonte é


denominada de potência reativa. A potência reativa de um
capacitor não é nula, porque a qualquer instante o capacitor está

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3-17

absorvendo energia da fonte ou devolvendo energia à fonte. A


potência reativa é definida como:

Vp ⋅ I p
Q= = VEF ⋅ I EF (3.46)
2

2
VEF
Q= (3.47)
XC

Q = I 2EF ⋅ X C (3.48)

A unidade da potência reativa é volt-ampère reativo (var).

A energia armazenada em um quarto de ciclo qualquer da tensão


ou corrente:

Vp I p
⋅ sen ( 2ωt ) dt
T 4
WC = ∫
0 2

V pI p
WC =

Como Ip = ω.C.Vp
1
WC = C.V 2p [J] (3.49)
2

Assim em circuitos capacitivos:

◊ A corrente que flui através do capacitor está em avanço de 900


em relação à tensão aplicada.
◊ A potência média consumida é nula.
◊ A potência oscila entre o capacitor e o circuito, e recebe o nome
de potência reativa.
◊ A potência em um capacitor age em contraposição aos volt-
ampère reativos indutivos.
◊ Os capacitores atuam como fontes de reativo e a potência
associada a eles é negativa.

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3-18

3.3. Indutor

Um indutor é basicamente uma bobina com certo número de


espiras ou voltas. Quando por um indutor circula uma corrente, é
estabelecido um campo magnético.

Figura 3.17: Indutor percorrido por uma corrente e o campo magnético.

A todo indutor está associada uma indutância, simbolizada por L,


cuja unidade é o henry (H).

L L
L

(a) (b) (c)


Figura 3.18: Símbolo do indutor (a) núcleo de ar; (b) núcleo de ferro;
(c) núcleo de ferrite.

Quando a corrente no indutor varia, o campo magnético também


varia. A variação do campo magnético causa uma tensão induzida
nos terminais do indutor de direção oposta à variação na corrente –
Lei de Lenz. Assim, a tensão induzida nos terminais de um indutor
pode ser expressa como:

di
v ind = L (3.50)
dt
ou

vind = N (3.51)
dt

A Equação 3.50 indica que quanto maior a indutância (L), e quanto


mais rápido variar a corrente na bobina, maior a tensão induzida.
Se a taxa de variação é zero, isto é, a corrente é CC, a tensão
induzida é zero.

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3-19

Na Equação 3.51, a tensão induzida é diretamente proporcional ao


número de espiras (N) da bobina e à taxa de variação do campo
magnético.

3.1.2 Características Físicas de um Indutor

Os seguintes parâmetros estabelecem a indutância de uma bobina:


permeabilidade do material do núcleo, número de espiras,
comprimento do núcleo, seção transversal da área do núcleo.

O material sobre o qual a bobina é enrolada é chamado de núcleo.


Bobinas são enroladas sobre material magnético ou não
magnético. Exemplos de materiais não magnéticos são: ar,
madeira, cobre, plástico, e vidro. A permeabilidade desses
materiais é próxima à do vácuo. Exemplos de materiais magnéticos
são: ferro, níquel, aço, cobalto, ou ligas. A permeabilidade dos
materiais magnéticos é centenas ou milhares de vezes maior do
que a do vácuo e são classificados como ferromagnéticos. Um
material ferromagnético oferece um melhor caminho para as linhas
de força do campo magnético e assim permite um campo
magnético mais forte.

A permeabilidade (μ) do material do núcleo determina o grau de


facilidade para se estabelecer um campo magnético. A indutância é
diretamente proporcional à permeabilidade do material do núcleo.

O número de espiras, o comprimento, e a área transversal do


núcleo são fatores que determinam a indutância. Assim, tem-se
que:

N 2 μA
L= (3.52)
l

Figura 3.19: Parâmetros físicos de um indutor.

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3-20

3.1.3 Resistência da Bobina

Uma bobina normalmente apresenta uma certa resistência por


unidade de comprimento. Em uma bobina com muitas espiras, a
resistência total pode ser significante. Esta resistência inerente à
bobina é denominada de resistência do enrolamento (RB). Embora
a resistência seja distribuída ao longo da bobina, sua
representação é concentrada e em série com a indutância, como
mostra a Figura 3.20. Em muitas aplicações, a resistência pode ser
bastante pequena e, portanto, ignorada, e o indutor considerado
ideal.
RB L

Figura 3.20: Resistência de enrolamento de uma bobina.

3.1.3.1. Fator de Qualidade de uma Bobina

O fator de qualidade (Q) é a relação da potência reativa no indutor


pela potência útil na resistência do enrolamento de uma bobina ou
a resistência em série com a bobina. É a razão entre a potência em
L e a potência em Rw. O fator de qualidade é muito importante em
circuitos ressonantes.

QL I 2 X L
Q= = 2 (3.53)
P I Rw

Em um circuito série, I é o mesmo em L e Rw, portanto:

XL
Q= (3.54)
Rw

Quando a resistência é apenas do enrolamento da bobina, o fator


de qualidade do circuito Q e o fator de qualidade da bobina Q são
iguais. Note que Q é adimensional.

3.1.4 Capacitância da Bobina

Quando dois condutores são colocados lado a lado, existirá sempre


certa capacitância entre eles. Assim, em uma bobina existe certa
capacitância parasita, denominada de capacitância do enrolamento
(CB). Em muitas aplicações, a capacitância parasita é muito
pequena, sem nenhum efeito adverso. Em outras aplicações,

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3-21

particularmente em altas freqüências, esta capacitância pode


tornar-se muito importante.

O circuito equivalente de um indutor é mostrado na Figura 3.21.

CB

RB L

Figura 3.21: Circuito equivalente de uma bobina.

3.1.5 Conexão Série e Paralelo de Indutores

Quando indutores são conectados em série, a indutância total, LT, é


a soma das indutâncias individuais.

L1 L2 Ln

Figura 3.22: Indutores conectados em série.

LT=L1+L2+L3+…+Ln (3.55)

Quando indutores são conectados em paralelo, a indutância total é


menor que a menor indutância individual.

L1 L2 Ln

Figura 3.23: Indutores conectados em paralelo.

O inverso da indutância total é igual à soma do inverso de cada


indutância.

1
LT = (3.56)
⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ + " + ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ L1 ⎠ ⎝ L 2 ⎠ ⎝ Ln ⎠

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3-22

3.1.6 Chaveamento de um Indutor

Como a ação básica de um indutor é opor-se à variação de sua


corrente, segue-se que a corrente não pode variar
instantaneamente em um indutor. Um certo tempo faz-se
necessário para a corrente variar de um valor a outro. A taxa de
variação da corrente é determinada pela constante de tempo. Em
um circuito RL série, a constante de tempo é:

L
τ= (3.57)
R

em que τ é medido em segundos quando a indutância (L) é dada


em henries e a resistência (R) em ohms.

Em um circuito RL série, a corrente cresce para 63% de seu valor


final em um intervalo de tempo equivalente a uma constante de
tempo após a energização do circuito.

(a) (b)
Figura 3.24: Corrente durante a energização e desenergização de um indutor.

A corrente em um indutor decresce exponencialmente de acordo


com a Figura 3.24 (b).

A equação para a corrente e tensão em um circuito RL série é


similar àquela de um circuito RC.

v = VF + (Vi − VF )e − Rt L (3.58)

i = I F + (I i − I F )e − Rt L (3.59)

em que VF e IF são os valores finais de tensão e corrente, Vi e Ii são


os valores iniciais de tensão e corrente, e v e i são os valores
instantâneos de tensão induzida ou corrente no tempo t.

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3-23

Para a condição em que Ii=0, o crescimento da corrente no indutor


é dado por:

i = I F (1 − e − Rt L ) (3.60)

Para IF=0, o decaimento exponencial da corrente obedece à curva:

i = I i e − Rt L (3.61)

3.1.7 Circuito CA com Indutor

Uma corrente senoidal induz uma tensão senoidal. Para


i=Ip.sen(ωt+ϕ) tem-se que:

v = L⋅
d
(I p ⋅ sen(ωt + ϕ))
dt
= ωLI p ⋅ cos(ωt + ϕ) (3.62)
(
= ωLI p ⋅ sen ωt + ϕ + 90 D
)
Note que a tensão está adiantada da corrente de 90º ou que a
corrente está atrasada da tensão de 90º. Esta condição pode ser
expressa na forma polar como VF∠0o e I∠-90o ou na forma
retangular –jI.

+j

VF

I
-j
Figura 3.25: Diagrama fasorial da corrente atrasada da tensão em um indutor.

A tensão máxima no indutor é igual a:

Vp = ωLIp (3.63)
ou
VEF=ωL IEF (3.64)

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3-24

O coeficiente ωL, denominado de reatância indutiva, cuja unidade é


ohms [Ω], oferece oposição à corrente i(t). A reatância indutiva é,
pois definida como:

XL = ωL [Ω] (3.65)

A Lei de Ohm aplica-se a um circuito com reatância indutiva em


que R é substituído por XL. Assim

VF ∠0 D ⎛V ⎞
XL = = ⎜ F ⎟∠90 D (3.66)
I∠ − 90 D
⎝ I ⎠

Isto mostra que XL tem sempre um ângulo de +90º relacionado à


sua magnitude e é escrita como XL∠90º ou jXL.

A reatância indutiva depende da freqüência:

f→ 0 ⇒ XL → 0 I→∞ (curto-circuito)
f→∞ ⇒ XL → ∞ I→0 (circuito aberto)

A relação de fase entre corrente e tensão em um circuito com


indutor ideal é mostrada na Figura 3.26.

Figura 3.26: Forma de Onda de Tensão e Corrente em Circuito Puramente Indutivo.

Note que:
◊ As ondas v e i apresentam a mesma freqüência.
◊ A onda de corrente está atrasada da onda de tensão de 90º.

A potência instantânea armazenada por um indutor é:

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3-25

p (t ) = v (t ) ⋅ i (t )
= V p I p cos (ωt ) sen (ωt )
1
= V p I p sen ( 2ωt ) (3.67)
2
= VEF I EF sen ( 2ωt )

A potência instantânea é senoidal, com freqüência o dobro da


corrente e tensão. Quando a potência armazenada no indutor é
positiva indica que o indutor armazena energia do circuito. Valores
negativos de potência indicam que a energia do indutor retorna à
fonte. Conseqüentemente, a potência média em um circuito
puramente indutivo é nula como pode ser visto na Figura 3.25.

Em um indutor ideal, toda energia armazenada pelo indutor no


semi-ciclo positivo da potência retorna ao circuito durante o semi-
ciclo negativo. Nenhuma energia líquida é consumida pelo indutor,
portanto, a potência média é nula. Na prática, devido a resistência
do enrolamento, alguma potência é dissipada, e há uma pequena
potência efetiva, a qual pode ser normalmente desprezada.

A capacidade máxima de um indutor armazenar potência é medida


pelo pico da senóide em (3.67) que é denominada de potência
reativa Q com unidade volt-ampère reativo (var). Assim,
2
VEF
Q = VEF ⋅ I EF = = I 2EF ⋅ X L (3.68)
XL

A energia armazenada pelo indutor durante um quarto de ciclo da


corrente ou tensão:

Vp I p
sen ( 2ωt ) dt
T/4
WL = ∫ (3.69)
0 2

V pIp
WL =

Como Vp = ωLIp
1
WL = L ⋅ I p2 [J] (3.70)
2

Assim, em um circuito puramente indutivo:

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3-26

◊ A corrente em um indutor está atrasada de 900 em relação à


tensão aplicada em seus terminais;
◊ A potência média consumida em um indutor ao longo de um
ciclo é zero;
◊ A potência oscila entre o indutor e o circuito, e recebe o nome de
potência reativa;
◊ A potência em um indutor age em contraposição aos volt-
ampère reativos capacitivos.
◊ Por convenção o indutor é considerado um absorvedor de
energia e a potência a ele associada é positiva.

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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