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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN

IGREJA DA LUZ (1989) TADAO ANDO

HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DA ARTE IV


PROFESSOR LEANDRO MANENTI
THAISE SOUZA SOARES 2019/2
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o objetivo de analisar a obra Igreja da Luz do arquiteto ja-
ponês Tadao Ando. Finalizado em 1989, o projeto tornou-se representante da arquitetura
idealizada por Ando, que combina elementos modernistas ocidentais com princípios tradi-
cionais japoneses. Além disso, o edifício apresenta características presentes na maioria
de suas obras: uso do concreto aparente, ausência de ornamentação, valorização dos es-
paços vazios e percurso sinuoso para a entrada do edifício.
O ARQUITETO: TADAO ANDO (1941 -)

Tadao Ando nasceu em 1941 em Osaka, Japão. Foi boxeador quando jovem até
decidir estudar arquitetura. É autodidata e seu repertório é formado principalmente pelas
viagens que realizou. Nunca tinha trabalhado com outros arquitetos até abrir seu próprio
escritório, em 1969, na sua cidade natal. Em 1995, ganhou o Prêmio Pritzker. Suas obras
são conhecidas pelo rigor geométrico, materialidades aparentes - principalmente o concre-
to - e pela relação do edifício com a natureza do entorno. Ele reúne influências da Arquite-
tura Moderna com as tradições japonesas. As dualidades cheio/vazio e luz/sombra são
características importantes de seus projetos. Em suas palavras, “se buscamos a luz, é ne-
cessário primeiro olhar para a sombra”, enfatizando que um elemento não existe sem a
presença do outro. (ANDO, 2008) Suas obras são consideradas minimalistas por não
apresentarem ornamentação e darem ênfase ao vazio dos espaços e às texturas.

O PROJETO: IGREJA DA LUZ (1989)

Localizada na cidade de Ibaraki, distante 25km de Osaka (Japão), a Igreja da Luz


começou a ser construída em janeiro de 1987 por pedido do Reverendo Nobor Karukome.
O terreno de 160m² se localiza em uma esquina da área residencial da cidade e já havia,
como construção preexistente, uma casa de madeira pertencente ao ministro da antiga
igreja que ficava no mesmo terreno. Tadao Ando foi o arquiteto escolhido para o projeto
principalmente pelo seu trabalho anterior, a capela do Monte Rokko em Kobe (finalizada
em 1986). (ANDO, 2008)
A obra desde o início teve o orçamento limitado. Assim, o desafio do arquiteto era
criar um espaço sagrado e acolhedor mas que se enquadrasse nos recursos financeiros
disponibilizados para o projeto. A escolha foi construir um paralelepípedo simples de con-
creto com 6 metros de largura, 6 metros de altura e 18 metros de comprimento, totalizan-
do 113m³ de área construída. A ausência de ornamentação não ocorre pela limitação do
orçamento, mas para que os destaques sejam a iluminação natural e as texturas das ma-
terialidades aparentes, em especial o concreto e a madeira. Além disso, o arquiteto queria
demonstrar que é possível criar um espaço simbólico e expressivo com poucos elementos
arquitetônicos. Por causa da escassez de recursos e do aumento de desespesas não pre-
vistas, uma das propostas era não colocar a cobertura e deixar a igreja à céu aberto até
que se conseguisse dinheiro suficiente para construí-la. Para Ando, a ausência do teto
não seria um obstáculo para os fiéis frequentarem à igreja. Entretanto, sua equipe não
concordou com a ideia e a obra foi construída de acordo com o projeto original. (ANDO,
2008)
Uma das paredes é atravessada por outra em diagonal com formato de L, criando
um ângulo de 15º entre elas. Esse corte gerado pelas paredes rompe com a simetria rígi-
da estabelecida pelo prisma de concreto. Nessa intersecção ocorre a via principal de
acesso ao espaço interior. A posição das paredes é estratégica para limitar ao máximo a
entrada de luz natural para dentro do ambiente, mas também cria um passeio pelo edifí-
cio, já que obriga os visitantes a darem a volta pela construção para conseguir acesso ao
interior. Esse percurso de entrada seria o primeiro estágio para se desligar do mundo pro-
fano, criando um trajeto meditativo para adentrar o espaço sagrado da igreja. O caminho
estipulado gera uma espécie de passeio arquitetônico e força o visitante a perceber o edi-
fício como um todo ao dar a volta pelo volume. (PAIVA, 2015)

Planta baixa sem escala. Disponível em: moma.org/collection/works/341


O soalho do espaço interior é inclinado, no formato de escada, descendo da parte
posterior da igreja até a frente onde se localiza o altar. Não há equipamentos de aqueci-
mento ou refrigeração. Tanto o púlpito quanto os bancos foram feitos a partir do reaprovei-
tamento de tábuas de cedro provenientes de andaimes utilizados em obras, o que dimi-
nuiu custos e trouxe um aspecto severo para o mobiliário. A escolha por esse tipo de ma-
deira bruta não foi aleatória, pois as texturas cruas da natureza estiveram sempre presen-
tes nos projetos anteriores de Ando. A madeira do piso necessita de manutenções regula-
res e os próprios frequentadores da igreja realizam esse serviço anualmente até os dias
de hoje. Segundo o arquiteto, esse tipo de atividade aumenta o sentimento de pertenci-
mento das pessoas em relação ao projeto. (ANDO, 2008).

Corte sem escala. Disponível em: https://www.archute.com/church-of-the-light/

Na parede norte, atrás do altar, está a principal fonte de luz natural do ambiente:
uma janela embutida em formato de cruz. A ideia foi criar aberturas mínimas (apenas ou-
tra janela na fachada leste, na parede que corta o edifício) para que a luz que percorre o
recorte em forma de cruz fosse o ornamento principal do ambiente. Esse efeito gerado pe-
la luz só acontece por causa da escuridão que foi preservada pela parede em diagonal e
por isso se faz presente no restante do ambiente. As transformações da iluminação ao de-
correr do dia definem e alteram as percepções espaciais dos visitantes sobre o local. Atra-
vés da janela, é possível observar as árvores do lado externo, o que aumenta o contato
do visitante com a natureza e traz equilíbrio ao ser um contraponto com a materialidade
fria do concreto. A vegetação, neste caso, é um complemento do espaço interior. (SORTE
JUNIOR, 2018)

Vista do interior. Disponível em: https://flic.kr/p/21xfDxQ

AS INFLUÊNCIAS

Le Corbusier e Louis Kahn são assumidamente as principais influências do arquite-


to, tanto pela materialidade utilizada por ambos quanto pela maneira que a luz é maneja-
da nos projetos. A Capela de Ronchamp (1955) e o Convento de La Tourette (1960), de
Le Corbusier, foram essenciais para sua formação, principalmente pelo efeito que a ilumi-
nação natural gera nos espaços internos. (ENDO, 2017) Segundo Ando, sua escolha pelo
concreto acontece por ser um material plástico que permite construir qualquer formato,
além da alta resistência e durabilidade. Em suas palavras: “O concreto em geral pode se
exprimir de forma tosca e potente, como no Convento de La Tourette, ou no estilo elegan-
te e rijo do Museu de Arte Kimbell, de Kahn”, (ANDO, 2008) destacando também a apa-
rência versátil do matérial de acordo com o acabamento. Outra referência citada pelo
próprio arquiteto para o projeto da Igreja da Luz são os conventos românicos, com pare-
des espessas e aberturas pequenas, e que desta forma lembram o ambiente interno de
cavernas.
Quanto às influências orientais, o minimalismo é uma ideia presente na arquitetura
tradicional japonesa, que valoriza os espaços vazios e as texturas dos materiais (principal-
mente a madeira, estrutura principal das casas tradicionais, e o papel presente nos pai-
néis Shoji que compartimentam os ambientes). Sorte Junior (2018) recorre ao conceito ja-
ponês wabi-sabi, valor estético que expressa a apreciação pela simplicidade e pela ab-
stenção do luxo. De acordo com o autor, esse conceito estaria representado na obra de
Ando pela ausência de ornamentações e pela preferência por ambientações sóbrias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANDO, Tadao. Tadao Ando: arquiteto. São Paulo: Editora BEI, 2008.
ENDO, Vitor Massayuki. Tadao Ando: modernidade e tradição. 2017. 210 f. TCC (Gradu-
ação) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
PAIVA, Rita. Luz e sombra: A estética da luz nas Igrejas de Sta. Maria e da Luz, de Siza
e Ando. 2010. 106 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História da Arte Contemporânea,
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2010.
SORTE JUNIOR, W. (2018). A Influência da Estética Tradicional Japonesa na Arquite-
tura de Tadao Ando: Um exame da Igreja da Luz. Estudos Japoneses, (39), 39-60.

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