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Base científica das

mudanças climáticas
Vo l u m e 1 - P r i m e i r o r e l at ó r i o d e ava l i a ç ã o n a c i o n a l

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 1


2 VOLUME 1
Base científica das mudanças climáticas

Volume 1 - Primeiro relatório de avaliação nacional


Carlos Afonso Nobre
Presidente do Conselho Diretor

Suzana Kahn Ribeiro


Presidente do Comitê Científico

Andrea Souza Santos


Secretária-Executiva

Bruno Allevato Martins da Silva


Giovana Maria Tadaieski Arruda
Assessoria Técnica do Grupo de Trabalho 1

Erico Leiva
Fabiana Soares
Unidade de Apoio Técnico do Grupo de Trabalho 1

Papier Brasil
Revisão ortográfica

Duoeme Brasil
Projeto gráfico

Ficha Técnica

PBMC, 2014: Base científica das mudanças climáticas. Contribuição do Grupo de Trabalho 1 do
Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas ao Primeiro Relatório da Avaliação Nacional sobre Mu-
danças Climáticas [Ambrizzi, T., Araujo, M. (eds.)]. COPPE. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 464 pp.

ISBN: 978-85-285-0207-7

4 VOLUME 1
ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO E PRINCIPAIS QUESTÕES DISCUTIDAS 07

CAPÍTULO 2: OBSERVAÇÕES AMBIENTAIS ATMOSFÉRICAS E DE PROPRIEDADES DA SUPERFÍCIE 25

CAPÍTULO 3: OBSERVAÇÕES COSTEIRAS E OCEÂNICAS 64



CAPÍTULO 4: INFORMAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS BRASILEIRAS 126

CAPÍTULO 5: CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS 181

CAPÍTULO 6: AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS E NUVENS 209

CAPÍTULO 7: FORÇANTE RADIATIVA NATURAL E ANTRÓPICA 237

CAPÍTULO 8: AVALIAÇÃO DE MODELOS GLOBAIS E REGIONAIS CLIMÁTICOS 278

CAPÍTULO 9: MUDANÇAS AMBIENTAIS DE CURTO E LONGO PRAZO: PROJEÇÕES


E ATRIBUIÇÃO 320

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 5


6 VOLUME 1
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO E PRINCIPAIS QUESTÕES DISCUTIDAS

Autores principais: Tércio Ambrizzi – USP e Moacyr Araújo - UFPE


Autores revisores: Pedro Leite da Silva Dias - LNCC e Ilana Wainer - USP

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 7


ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 9

1.1 ESTRUTURA DO CAPÍTULO 9

1.2 PRINCIPAIS QUESTÕES DISCUTIDAS 10

1.2.1 CAPÍTULO 2: OBSERVAÇÕES AMBIENTAIS ATMOSFÉRICAS E DE PROPRIEDADES DA SUPERFÍCIE 10

1.2.2 CAPÍTULO 3: OBSERVAÇÕES COSTEIRAS E OCEÂNICAS 11

1.2.3 CAPÍTULO 4: INFORMAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS BRASILEIRAS 13

1.2.4 CAPÍTULO 5: CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS 14

1.2.5 CAPÍTULO 6: AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS E NUVENS 15

1.2.6 CAPÍTULO 7: FORÇANTE RADIATIVA NATURAL E ANTRÓPICA 17

1.2.7 CAPÍTULO 8: AVALIAÇÃO DE MODELOS GLOBAIS E REGIONAIS CLIMÁTICOS 19

1.2.8 CAPÍTULO 9: MUDANÇAS AMBIENTAIS DE CURTO E LONGO PRAZO:


PROJEÇÕES E ATRIBUIÇÃO 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 23

8 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
Os Relatórios de Avaliação elaborados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) têm destacado, progressivamente, o papel das forçantes antrópicas sobre o processo de aquecimento
global. Estas avaliações baseiam-se na análise acumulada de grandes quantidades de dados observacionais,
sobre os quais são utilizadas técnicas mais ou menos sofisticadas visando à compreensão dos mecanismos
atuantes e das margens de incerteza em suas determinações.

Diante da complexidade do clima planetário e da importância dos mecanismos remotos e de suas


teleconexões, é de se esperar que a qualidade das análises realizadas e a redução de incertezas nas proje-
ções das mudanças climáticas globais e regionais sejam diretamente relacionadas à quantidade de estudos
científicos e de levantamentos existentes nas diferentes regiões do planeta. Nesse sentido, uma análise simples
da literatura referenciada pelo Grupo de Trabalho 1 – Bases das Ciências Físicas do Quarto Relatório de
Avaliação (AR4) do IPCC evidencia o desequilíbrio interhemisférico e regional nos quantitativos de produção
científica e de levantamentos observacionais utilizados na avaliação, traduzindo a necessidade de esforços
adicionais para minimizar estas diferenças.

Ciente do potencial de contribuição do Brasil para a compreensão das mudanças climáticas globais,
e da necessidade de uma abordagem nacionalizada sobre o tema, foi instituído em Setembro de 2009 o
Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O PBMC é um organismo científico nacional criado pelos
Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Meio Ambiente (MMA). Com estrutura espelha-
da no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o PBMC objetiva fornecer avaliações científicas
sobre as mudanças climáticas de relevância para o Brasil, incluindo os impactos, vulnerabilidades e ações
de adaptação e mitigação. As informações científicas levantadas pelo PBMC são sistematizadas por meio de
um processo objetivo, aberto e transparente de organização dos levantamentos produzidos pela comunidade
científica sobre as vertentes ambientais, sociais e econômicas das mudanças climáticas. Desta forma, o Painel
poderá subsidiar o processo de formulação de políticas públicas e tomada de decisão para o enfrentamento
dos desafios representados por estas mudanças.

O Primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do PBMC publicado em 2014 é composto de


três volumes, correspondentes às atividades de cada Grupo de Trabalho (www.pbmc.coppe.ufrj.br). O pre-
sente documento traz uma síntese das principais contribuições para o RAN1 do Grupo de Trabalho 1 (GT1)
– Base Científica das Mudanças Climáticas, cujo objetivo é avaliar os aspectos científicos do sistema climático
e de suas mudanças.

1.1 ESTRUTURA DO CAPÍTULO


O documento está estruturado de acordo com o escopo do GT1, que foi previamente definido, co-
letivamente, com os Autores Principais dos Capítulos. Os levantamentos aqui apresentados resultam de uma
extensa pesquisa bibliográfica, quando se procurou, de um lado, evidenciar as implicações para o Brasil dos
principais pontos do IPCC-AR4, e de outro, registrar e discutir os principais trabalhos científicos publicados
após 2007, com destaque para aqueles relacionados mais diretamente às mudanças climáticas na América
do Sul e no Brasil.

As sínteses de cada Capítulo são apresentadas a seguir, e foram organizadas de modo a responder a
questões-chaves específicas de cada domínio da pesquisa. O conjunto das respostas a estas questões forma
a primeira contribuição do Grupo de Trabalho 1 (GT1) – Base Científica das Mudanças Climáticas para o
Primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 9


1.2 PRINCIPAIS QUESTÕES DISCUTIDAS
1.2.1 CAPÍTULO 2: OBSERVAÇÕES AMBIENTAIS ATMOSFÉRICAS E DE PROPRIEDADES DA SU-
PERFÍCIE

Questão 1: Quais são os resultados observacionais relacionados às variações de parâmetros ambientais


que podem representar efeitos da variabilidade climática natural de longo período e, em alguns casos,
indicações de efeitos da ação humana ?

Esta questão é abordada no Capítulo 2 do GT1. Conforme apresentado a seguir, os resultados des-
critos revelam o grande impacto da variabilidade interanual, que pode produzir alterações por um fator maior
que quatro nas chuvas sazonais em certas regiões, como a Amazônia.

A maior fonte de variabilidade interanual de precipitação são os eventos El Niño e La Ninã. As


variações decadais/interdecenais apresentam menor diferença entre fases opostas (alterações por até fa-
tor de dois), mas são relevantes em termos de adaptação porque são persistentes, podendo causar secas
prolongadas ou décadas com mais eventos extremos de chuva. Os modos de variabilidade interdecenal
produziram forte variação climática na década de 1970, devido à superposição de efeitos da mudança de
fase de diferentes modos nesta década. Portanto, análises de tendências em séries relativamente curtas de
parâmetros climáticos, que compreendem períodos antes e depois desta década, são mais sugestivas do que
conclusivas. Parte das tendências detectadas na precipitação do Brasil pode ser explicada por mudanças de
fase em oscilações interdecadais, no entanto, é possível que outra porcentagem já seja uma consequência do
atual aquecimento global observado. Por exemplo, algumas das tendências detectadas são consistentes com
a variação produzida na segunda metade do século passado pelo primeiro modo interdecenal de chuvas
anuais, que é significativamente correlacionado com um modo de tendência de temperatura da superfície do
mar (TSM), mas também com a Oscilação Multidecadal do Atlântico (OMA) e com a Oscilação Interdecadal
do Pacífico. Estes resultados mostram tendências negativas no norte e oeste da Amazônia, positivas no sul da
Amazônia, positivas no Centro-Oeste e Sul do Brasil, e ausência de tendência no Nordeste. A tendência de
aumento da precipitação entre 1950-2000 no Sul do Brasil e outras partes da baixa Bacia do Paraná/Prata,
principalmente entre o período anterior e posterior à década de 1970, aparece em outros modos interde-
cadais, principalmente no quarto modo, sendo que esta tendência é suportada por séries um pouco mais
longas.

Para verificar se as tendências associadas com o 1º modo interdecadal de precipitação se devem


apenas a mudança de fase da OMA ou se são parte de comportamento consistente de mais longo período,
seriam necessárias: (i) séries mais longas de precipitação e (ii) consistência entre estas tendências e as mudan-
ças de precipitação apontadas nessas regiões pelas projeções de mudanças climáticas feitas por numerosos
modelos. Portanto, é necessário esperar algum tempo para ter certeza sobre tendências na precipitação do
Brasil e também verificar sua consistência com projeções climáticas. Da mesma forma, ainda é difícil de ana-
lisar o quanto as mudanças antrópicas tem influenciado os eventos extremos de precipitação, cujas variações
também podem estar mais relacionadas a oscilações climáticas naturais.

Estudos de tendência da temperatura utilizando dados de estação sobre a América do Sul limitam-
-se, na sua maioria, ao período entre 1960-2000. Os resultados mais significativos referem-se às variações
de índices baseados na temperatura mínima diária, que indicam aumento de noites quentes e diminuição
de noites frias na maior parte da América do Sul, com consequente diminuição da amplitude diurna da
temperatura, especialmente na primavera e no outono. Estes resultados são mais robustos para as estações
localizadas nas costas leste e oeste dos continentes e são confirmados para séries em períodos mais longos.

Embora a influência da variabilidade dos oceanos Atlântico e Pacífico no comportamento de longo


prazo das temperaturas sobre a América do Sul também precise ser levada em conta, a influência antrópi-
ca sobre os extremos de temperatura parece ser mais provável do que aquela verificada sobre os extremos
de precipitação. A enorme escassez de dados de estação sobre vastas áreas tropicais como a Amazônia

10 VOLUME 1
e o centro-oeste e leste do Brasil limitam o estabelecimento de conclusões acuradas para estas regiões usan-
do dados de estação. Estudos recentes mostraram que fatores como mudança de uso da terra e queima de
biomassa podem influenciar a temperatura nestas regiões, sobretudo na Amazônia e no Cerrado; porém a
magnitude e extensão espacial do sinal de longo prazo dessas influências sobre a temperatura em superfície
ainda precisam ser investigados. Conforme será discutido nas próximas seções, o efeito da mudança de uso
da terra e da liberação de calor antrópico nos grandes centros urbanos, conhecido como ilha de calor urba-
na, podem ser importantes agentes contribuindo para o aumento da temperatura média global.

Dados de reanálises, desde 1948, fornecem evidência de aumento de temperatura em baixos níveis
na atmosfera de forma mais acentuada em direção aos trópicos do que nos subtrópicos da América do Sul
durante o verão austral. Neste caso, a temperatura média anual de superfície nos trópicos tem apresentado
tendência positiva desde então, enquanto nos subtrópicos há tendência negativa desde meados da década
de 1990. O aumento da temperatura também foi verificado sobre o Atlântico Tropical, sugerindo que pos-
sam ter ocorrido mudanças no contraste oceano-atmosfera e, portanto, no desenvolvimento do sistema de
monções. Estas mudanças podem causar alterações no regime de precipitação e nebulosidade e criar efeitos
de retroalimentação ainda desconhecidos na temperatura e no clima local. Mudanças nos campos médios
globais e na TSM, antes e após o período conhecido como “climate shift”, no final dos anos 70, podem ter
exercido importante papel no regime de temperaturas e respectivas tendências e precisam ser considerados
para se avaliar corretamente o efeito do aquecimento global sobre a América do Sul. Neste contexto, tam-
bém é importante avaliar o impacto de oscilações climáticas naturais interdecenais sobre a temperatura na
América do Sul.

1.2.2 CAPÍTULO 3: OBSERVAÇÕES COSTEIRAS E OCEÂNICAS

Questão 2: Qual o papel dos oceanos, e em particular do Atlântico tropical e subtropical sul, como indutor
e como indicador das variabilidades climáticas de origem natural e antrópica observadas no Brasil e na
América do Sul ?

O Capítulo 3 trata do sistema oceânico, que participa de forma decisiva no equilíbrio climático.
Devido à sua grande extensão espacial, e à alta capacidade térmica da água, é indiscutível que o aumento
do conteúdo de calor dos oceanos e o aumento do nível do mar são indicadores robustos de aquecimento
do planeta. Apesar da grande dificuldade de se observar o oceano, com a cobertura espacial e temporal
necessária para melhor monitorar e entender mudanças nos oceanos e as respostas dessas mudanças no
clima, há de se reconhecer que grandes progressos têm sido obtidos nos últimos anos. Observações remotas
por satélite tem sido realidade já há algumas décadas e programas observacionais in situ, como o sistema
de bóias perfiladoras Argo, tem permitido a obtenção de conjuntos de dados valiosos desde a superfície até
profundidades intermediárias do oceano. Recentemente vários esforços têm sido despendidos na reavaliação
de dados históricos, possibilitando interpretações mais confiáveis por mais longos períodos de tempo.

Com base em um número considerável de trabalhos publicados nas últimas décadas, o Quarto Re-
latório de Avaliação do Clima do IPCC (IPCC-AR4, 2007) concluiu, de forma inequívoca, que a temperatura
do oceano global aumentou entre 1960 e 2006. Apesar das controvérsias decorrentes de alguns pequenos
enganos no IPCC-AR4, a grande maioria dos estudos científicos realizados nos últimos 5 anos têm confirma-
do, de forma indiscutível, o aquecimento das águas oceânicas. Em particular, a TSM do Atlântico tem au-
mentado nas últimas décadas. No Atlântico sul, esse aumento é intensificado a partir da segunda metade do
Século XX, possivelmente devido a mudanças na camada de ozônio sobre o Polo Sul e também ao aumento
dos gases de efeito estufa. De forma consistente com um clima mais quente, o ciclo hidrológico tem também
se alterado, refletindo em mudanças na salinidade da superfície do mar. Esses estudos mostram que a região
subtropical do Atlântico Sul está se tornando mais quente e mais salina.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 11


Abaixo da superfície, também há evidências claras do aumento da temperatura nas camadas supe-
riores do oceano. Reanálise de dados históricos, obtidos por batitermógrafos descartáveis (XBTs), mostram
uma clara tendência de aquecimento nos primeiros 700 m da coluna de água. Estudos independentes com
dados obtidos até 2000 m de profundidade com perfiladores Argo sugerem um aquecimento significativo
também abaixo de 700 m.

Os estudos analisados pelo IPCC-AR4 e outros mais recentes também apontam para variações no
conteúdo de calor e na elevação do nível do mar, em escala global. Variações nessas propriedades promo-
vem alterações nas características das diferentes massas de água, o que fatalmente leva a alterações nos
padrões de circulação do oceano. Por sua vez, mudanças na circulação oceânica resultam em alterações na
forma como o calor e outras propriedades biológicas, físicas e químicas são redistribuídas na superfície da
Terra.

O nível do mar está aumentando. Grande parte das projeções de aumento do nível do mar para
todo o Século XXI deve ser alcançada ao longo das primeiras décadas, o que faz com que se configurem
perspectivas mais preocupantes do que aquelas divulgadas no início dos anos 2000. Variações de 20 a 30
cm, inicialmente esperadas para o fim do Século XXI, já devem ser atingidas, em algumas localidades, até
meados do século ou até antes disso. Deverá haver também maior variabilidade espacial da mudança no
nível do mar entre os distintos locais do globo. Na costa do Brasil são poucos os estudos realizados com base
em observações in situ. Mesmo assim, taxas de aumento do nível do mar na costa sul-sudeste já vêm sendo
reportadas pela comunidade científica brasileira desde o final dos anos 80 e início dos anos 90.

O aumento do nível do mar assim como o aumento de temperatura atmosférica, mudanças no volu-
me e distribuição das precipitações e concentrações de CO2 afetarão de modo variável o equilíbrio ecológico
de manguezais, dependendo da amplitude destas alterações e das características locais de sedimentação e
espaço de acomodação.

Ao longo da extensão da linha de costa brasileira são vários os trechos em erosão, distribuídos irre-
gularmente e muitas vezes associados aos ambientes dinâmicos de desembocaduras de rios. Diversas são as
áreas costeiras densamente povoadas que se situam em regiões planas e baixas, nas quais os já existentes
problemas de erosão, drenagem e inundações serão amplificados em cenários de mudanças climáticas.
Importantes massas de água estão se alterando. As “águas modo” (águas de 18oC) do Oceano Sul e as
Águas Profundas Circumpolares se aqueceram no período de 1960 a 2000. Essa tendência continua du-
rante a presente década. Aquecimento similar ocorreu também nas águas modo da Corrente do Golfo e da
Kuroshio. Os giros subtropicais do Atlântico Norte e Sul têm se tornado mais quentes e mais salinos. Como
consequência, segundo conclusão do IPCC-AR4 e de estudos mais recentes, é bastante provável que pelo
menos até o final do último século a Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (CRMA) venha se alte-
rando significativamente em escalas de interanuais a decenais.

No Atlântico Sul, vários estudos nos últimos anos sugerem variações importantes nas propriedades
físicas e químicas das camadas superiores do oceano, associadas com alterações nos padrões da circulação
atmosférica. Esses estudos mostram que, em consequência ao deslocamento do rotacional do vento em
direção ao pólo, o transporte de águas do Oceano Índico para Atlântico sul, fenômeno conhecido como
o “vazamento das Agulhas”, vem aumentando nos últimos anos. Análises de dados obtidos remotamente
por satélite e in situ mostram mudanças no giro subtropical do Atlântico Sul associados a mudanças na sa-
linidade das camadas superiores. Resultados de observações e modelos sugerem que o giro subtropical do
Atlântico Sul vem se expandindo, com um deslocamento para sul da região da Confluência Brasil-Malvinas.

Há também fortes indícios que as características dos eventos de El Niño no Pacífico estão mudando
nas últimas décadas. Como consequência, tem havido uma mudança nos modos de variabilidade da TSM no
Atlântico Sul. Essas alterações nos padrões de TSM favorecem precipitações acima da média, ou na média
sobre o norte e nordeste brasileiro, e mais chuvas no sul e sudeste do Brasil.

12 VOLUME 1
1.2.3 CAPÍTULO 4: INFORMAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS BRASILEIRAS

Questão 3: Quais as evidências observacionais do clima do passado que contribuem para o entendimento
das variabilidades climáticas observadas no presente, e para a inferência de cenários prognósticos de
mudanças no clima do Brasil e do continente sul americano ?

Esta questão é abordada no Capítulo 4, que traz o conjunto de estudos paleoclimáticos desenvol-
vidos com registros continentais e marinhos brasileiros e, subordinadamente, de outros países da América
do Sul e dos oceanos adjacentes. As análises realizadas permitem afirmar que as mudanças na insolação
recebida pela Terra em escala temporal orbital foram a principal causa de modificações na precipitação e
nos ecossistemas das regiões tropical e subtropical do Brasil, principalmente aquelas regiões sob influência
do Sistema de Monção da América do Sul. Valores altos de insolação de verão para o hemisfério sul foram
associados a períodos de fortalecimento do Sistema de Monção da América do Sul e vice-versa.

Na escala temporal milenar foram observadas fortes e abruptas oscilações no gradiente de tempera-
tura do Oceano Atlântico, bem como, na pluviosidade associada ao Sistema de Monções da América do Sul
e à Zona de Convergência Intertropical. A causa destas mudanças climáticas abruptas reside aparentemente
em marcantes mudanças na intensidade da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico. Períodos de
enfraquecimento desta célula foram associados a um aumento na precipitação das regiões tropicais e sub-
tropicais do Brasil.

Marcantes alterações na circulação da porção oeste do Atlântico Sul foram reconstituídas para o
Último Máximo Glacial (de 23 a 19 cal ka AP), a última deglaciação (de 19 a 11,7 cal ka AP) e o Holoceno
(de 11,7 a 0 cal ka AP). Dentre elas pode-se citar: (i) uma diminuição na profundidade dos contatos entre as
massas de água intermediária e profunda durante o Último Máximo Glacial que foi caracterizado por uma
célula de revolvimento de intensidade similar à sua intensidade atual; (ii) um aquecimento das temperaturas
de superfície do Atlântico Sul durante eventos de diminuição na intensidade da Célula de Revolvimento Me-
ridional do Atlântico em períodos específicos da última deglaciação (e.g., Heinrich Stadial 1 (entre ca. 18,1
e 14,7 cal ka AP) e Younger Dryas (entre ca. 12,8 e 11,7 cal ka AP)); e (iii) o estabelecimento de um padrão
similar ao atual de circulação superficial na margem continental sul do Brasil entre 5 e 4 cal ka AP.

O nível relativo do mar na costa do Brasil atingiu até 5 m acima do nível atual entre ca. 6 e 5 cal ka
AP e diminuiu gradativamente até o início do período industrial.

Análises paleoantracológicas indicam que por um longo período do Quaternário tardio o fogo tem
sido um fator de grande perturbação em ecossistemas tropicais e subtropicais e, juntamente com o clima, de
suma importância na determinação da dinâmica da vegetação no passado geológico.

Apesar de ainda existirem marcantes controvérsias a respeito de pontos importantes relacionados à


ocupação humana das Américas (e.g. idade das primeiras migrações, quantas levas de migrações ocorre-
ram, por que caminhos se processaram as migrações), pode-se afirmar que toda a América do Sul já estava
ocupada pelo Homo sapiens ao redor de 12 cal ka AP e tais ocupações já mostravam padrões adaptativos e
econômicos distintos entre si. A aparente estabilidade na ocupação humana do Brasil foi interrompida entre
ca. 8 e 2 cal ka AP, com significativo abandono de sítios e de população em escala regional, que devem estar
associados a marcantes mudanças climáticas.

A Pequena Idade do Gelo (de ca. 1500 a 1850 AD) foi caracterizada na porção Subtropical da Amé-
rica do Sul ao sul da linha do Equador por um aumento na precipitação que provavelmente está associado
a um fortalecimento do Sistema de Monção da América do Sul e a uma desintensificação da Célula de Re-
volvimento Meridional do Atlântico. Entretanto, os mecanismos climáticos associados não estão consolidados
e o número de registros paleoclimáticos e paleoceanográficos disponíveis em ambientes subtropicais deste
evento é particularmente reduzido.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 13


Genericamente, se observa um número ainda bastante restrito de registros paleoclimáticos e paleo-
ceanográficos provenientes do Brasil e da porção oeste do Atlântico Sul. De fato, apenas nos últimos anos fo-
ram publicados os primeiros estudos para algumas regiões (e.g., região Centro-Oeste, Zona de Confluência
Brasil-Malvinas) e temas (e.g., temperatura da superfície do mar para o Holoceno, variabilidade multidecenal
e secular na precipitação). Neste sentido, é de suma importância que lacunas nesta área do conhecimento
sejam preenchidas nos próximos 10 anos.

1.2.4 CAPÍTULO 5: CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Questão 4: Como os principais processos biogeoquímicos seriam afetados pelas mudanças climáticas nos
biomas e sistemas hídricos brasileiros ?

No Brasil são esperadas mudanças profundas e variáveis no clima conforme a região do país. É
esperado que essas mudanças afetem os ecossistemas aquáticos e terrestres do Brasil. Neste quesito, o país
é um dos mais ricos do mundo, tendo seis biomas terrestres (Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa,
Cerrado e Caatinga), que englobam alguns dos maiores rios do mundo, como o Amazonas, Paraná e São
Francisco; e uma costa com cerca de 8.000 km, contendo pelo menos sete grandes zonas estuarinas e toda
a plataforma continental. O foco principal deste capítulo será investigar como os principais processos bio-
geoquímicos seriam afetados pelas mudanças climáticas nos principais biomas e bacias brasileiras.

Devido à falta de informações espaciais compatíveis com as escalas dos biomas brasileiros, as aná-
lises feitas neste capítulo serão concentradas em regiões de cada bioma onde informações encontram-se
disponíveis. Ao mesmo tempo em que esse tipo de limitação nos impede de fazer uma generalização para
um determinado bioma, serve como um alerta sobre a limitação destas informações em escalas compatíveis
com as grandes áreas de nossos biomas. Há uma carência de informações crítica para determinados biomas
como o Pampa, o Pantanal e a Caatinga. Um volume maior de informações se encontra na Amazônia e, se-
cundariamente, no Cerrado. Somente recentemente estudos têm sido desenvolvidos na Mata Atlântica, mas
ainda concentrados em algumas poucas áreas.

A Mata Atlântica estoca quantidades apreciáveis de carbono e nitrogênio em seus solos, principal-
mente em maiores altitudes. Os aumentos previstos para a temperatura do ar na região Sudeste do Brasil
levaria a um aumento nos processos de respiração e decomposição, gerando um aumento nas perdas de
carbono e nitrogênio para a atmosfera. A pergunta que permanece por falta de informações é se essas per-
das seriam compensadas por um aumento na produtividade primária líquida do sistema. Nos campos sulinos
do Pampa, similarmente à Mata Atlântica, os solos detêm um apreciável estoque de carbono. Portanto, au-
mentos na temperatura previstos para o futuro aumentariam as emissões de CO2 para a atmosfera.

O balanço entre a vegetação lenhosa e a vegetação herbácea é um importante aspecto da fisio-


nomia do Cerrado. A vegetação lenhosa tem estoques de nutrientes mais recalcitrantes na forma de raízes
profundas e caules, enquanto a vegetação herbácea é mais prontamente decomposta pelo fogo. Em áreas
onde a duração da seca fosse maior, seria favorecido, em tese, um aumento na incidência de fogo, que por
sua vez, favoreceria o aparecimento de uma vegetação herbácea, implicando em mudanças importantes no
funcionamento do Cerrado. A produtividade primária do Cerrado pode potencialmente ser reduzida frente
às mudanças climáticas projetadas para este bioma. O aumento da temperatura provavelmente resultará em
uma redução do processo fotossintético nas plantas do Cerrado, implicando em um possível decréscimo de
sua biomassa. Adicionalmente, na estação seca o Cerrado passa a ser uma fonte de carbono para a atmos-
fera. Portanto, um aumento na duração deste período implicaria também em uma redução na produtividade
primária do Cerrado. O mesmo aumento na duração do período seco pode potencialmente resultar em um
aumento na vulnerabilidade ao fogo do Cerrado. O aumento da ocorrência de eventos de fogo resultaria em
uma diminuição nos estoques de biomassa e nutrientes através de escoamento profundo, erosão, transporte
de partículas e volatilização.

14 VOLUME 1
De forma geral há uma grande incerteza em relação aos efeitos de alterações climáticas nos recursos hí-
dricos do Brasil. As bacias hidrográficas mais importantes do país, segundo seus atributos hidrológicos e ecológicos
são a do Amazonas, Tocantins-Araguaia, Paraná, Paraguai e São Francisco. Essas bacias cortam regiões que devem
sofrer diferentes impactos relacionados à alterações de temperatura e precipitação (volume e frequência de chuvas),
com efeitos distintos na disponibilidade de água ao uso humano assim como na manutenção de processos ecoló-
gicos. Regionalmente, o aumento de eventos extremos associados à frequência e volume de precipitação também
é previsto. Os cenários apontam para diminuição na pluviosidade nos meses de inverno em todo país, assim como
no verão no leste da Amazônia e Nordeste. Da mesma forma, a frequência de chuvas na região Nordeste e no
Leste da Amazônia (Pará, parte do Amazonas, Tocantins, Maranhão) deve diminuir, com aumento na frequência de
dias secos consecutivos. ste cenário deverá impor um maior comprometimento dos já escassos recursos hídricos da
região Nordeste. Em contraste, o país deve observar o aumento da frequência e da intensidade das chuvas intensas
na região subtropical (região Sul e parte do Sudeste) e no extremo oeste de Amazônia.

1.2.5 CAPÍTULO 6: AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS E NUVENS

Questão 5: Como as mudanças antrópicas sobre o campo de aerossóis podem interferir sobre a precipitação
e a circulação atmosférica ? Quais as incertezas na representação dos processos envolvendo a modelagem
de aerossóis e nuvens?

Neste capítulo é apresentada uma revisão de algumas das principais contribuições científicas para a
caracterização dos aerossóis atmosféricos sobre o Brasil, incluindo o papel exercido por suas fontes naturais
e antrópicas, como queima de biomassa, poluição urbana, dentre outras, e para o entendimento dos proces-
sos de microfísica de nuvens.

Ainda que em anos recentes tenha sido observada uma redução nas taxas de desmatamento é certo
que as queimadas na Amazônia são ainda a principal fonte antrópica de partículas de aerossol em escala
continental na América do Sul e no Brasil. Em menor escala, mas com importante impacto no clima regional,
também ocorrem queimadas nas culturas de cana de açúcar. Por outro lado, há uma importante contribui-
ção de emissões antrópicas situadas em regiões urbanas, fruto principalmente de emissões veiculares. Ainda
que não sejam majoritárias no conteúdo total de emissões, as partículas de aerossol das emissões urbanas
exercem papel importante no clima urbano e na saúde pública das metrópoles brasileiras.

Diversos experimentos realizados na região amazônica, quase todos dentro do contexto do experi-
mento LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera Atmosfera da Amazônia), foram capazes de qualificar e
quantificar a composição do aerossol presente na atmosfera amazônica. A composição do aerossol natural
na região amazônica pode ser observada durante a estação chuvosa, quando atividades relacionadas às
queimadas são desprezíveis. A conclusão geral dos trabalhos focados na região é de que o aerossol natural
amazônico é uma soma das contribuições do transporte de aerossol marinho para dentro do continente, de
episódios de transporte de poeira do Saara, e de emissões biogênicas da vegetação. Em termos de contribui-
ção absoluta à massa do material particulado, as emissões biogênicas primárias são dominantes.

O papel dos aerossóis no balanço de energia do sistema Terra-atmosfera é normalmente classifica-


do como efeito direto e indireto, sendo o primeiro dado pela interação direta com a radiação (absorção e
espalhamento) e o segundo através da modificação das propriedades microfísicas e, por consequência, na
dimensão e no ciclo de vida das nuvens. Neste último caso, um parâmetro chave é o número de partículas
de aerossol com capacidade de atuar como núcleos de condensação (CCN - Cloud Condensation Nuclei) e
pelos Núcleos de Gelo (IN - Ice Nuclei).

A maioria dos estudos das propriedades dos CCN e das nuvens na América do Sul se concen-
tra na Região Amazônica (e, em menor extensão, sobre o Nordeste). Esse número limitado de expe-
rimentos de campo, e a inexistência de medidas em grande parte do Brasil, impõem óbvias limita-
ções à representação dos processos microfísicos em modelos aplicados sobre o território nacional.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 15


Os trabalhos existentes baseiam-se na análise de dados de satélite e, em menor número, em campanhas
intensivas de medidas de campo. Por exemplo, medidas in situ realizadas na bacia amazônica durante o ex-
perimento LBA/SMOCC 2002 em região de pastagem em Rondônia, que cobriram um período com intensa
atividade de queimadas (setembro), transição (outubro) e o início da estação chuvosa (novembro), indicam
um grande aumento no número de partículas no período seco em função das queimadas. Medições realiza-
das com aeronave estudaram as propriedades dos CCN na Região Amazônica, comparando regiões limpas
e regiões sob intensa atividade de queima de biomassa. Observou-se um decréscimo generalizado na con-
centração de CCN desde o final da estação seca até o início da estação chuvosa. A comparação entre dias
poluídos por queimas e dias limpos mostra uma concentração pelo menos cinco vezes maior para os dias
poluídos. Diferenças ainda maiores são verificadas quando áreas limpas e poluídas foram comparadas para
uma mesma data, indicando que a atividade de queima de biomassa é mais eficiente em produzir, principal-
mente, partículas pequenas e com pequena fração solúvel. Outros estudos mostraram que partículas finas,
faixa em que predominam os CCN, são preponderantemente compostas de material orgânico secundário
formado pela oxidação de precursores biogênicos, enquanto que partículas grossas, importantes nucleadores
de gelo, consistem de material biológico emitido diretamente pela floresta.

Os chamados efeitos indiretos dos aerossóis constituem os mecanismos através dos quais estes modi-
ficam a microestrutura das nuvens, com consequências para suas propriedades radiativas e seu ciclo de vida.
Jones e Christopher (2010) estudaram as propriedades estatísticas da interação aerossóis-nuvens-precipita-
ção sobre a América do Sul em busca de indicativos do efeito indireto dos aerossóis sobre os processos as-
sociados a nuvens quentes. Os autores trabalharam com a hipótese de que se os efeitos indiretos (e também
o semidireto) se manifestarem, em condições poluídas, como consequência da redução nos processos de
colisão e coalescência ou aumento na estabilidade, deveria haver uma diminuição na precipitação estrati-
forme em comparação com condições mais limpas no mesmo ambiente. Comparando amostras sem chuva,
com chuva e chuva intensa, concluíram, porém, que as condições atmosféricas de grande escala são mais
importantes para o desenvolvimento da precipitação do que a concentração de aerossóis.

A fumaça produzida a partir das queimadas na Amazônia produz efeitos significativos sobre a micro-
estrutura das nuvens, com uma redução no diâmetro médio das gotículas, inibindo a colisão-coalescência.
Esta noção é corroborada por Freud et al. (2008) que discutem que há um aumento consistente em cerca
de 350 m na altitude sobre a base da nuvem na qual a colisão-coalescência dispara a formação de chuva
quente para cada 100 núcleos de condensação (a uma supersaturação de 0,5%) adicionados por cm3. Indí-
cios no mesmo sentido são também apresentados por Costa e Pauliquevis (2009), cujos resultados apontam
para altitudes de chuva quente (isto é, a altitude em que o processo de formação de chuva quente se inicia)
indo de 1200-2300 m, em ambientes marítimos e costeiros, a 5400-7100 m em ambientes influenciados
por queimadas.

Como apontam Wang e Penner (2010), o fato de nuvens cirrus cobrirem tipicamente mais de 20% do
planeta faz com que as mesmas sejam importantes para o balanço radiativo planetário. Nuvens convectivas
profundas, particularmente nos trópicos, são responsáveis por mecanismos de transporte vertical cruciais
para a circulação geral atmosférica. Nesse sentido, os aerossóis cumprem um papel significativo na micro-
estrutura de nuvens cumulonimbus, sendo que suas estimativas apontam para valores de diâmetro efetivo de
10 a 20% menores sobre o continente do que sobre o oceano e com uma marcada variabilidade sazonal
nessa variável em regiões com queima de biomassa como a Amazônia. Medidas in situ das propriedades
microfísicas de nuvens frias e de fase mista sobre o Brasil, no entanto, são extremamente limitadas, havendo
indicações de dados coletados apenas durante um experimento de campo, o TRMM-LBA (Tropical Rainfall
Measuring Mission - Large-Scale Biosphere–Atmosphere Experiment in Amazonia).

A modelagem dos processos envolvendo nuvens na maior parte dos modelos globais e regionais
utilizados para previsão de tempo e clima e para as simulações de mudanças climáticas no Brasil e no mun-
do ainda se caracteriza pela utilização de um grande número de simplificações nos processos envolvendo
nuvens. É particularmente significativo que as escalas dos movimentos convectivos não sejam explicitamente
resolvidas na maioria desses modelos. Isto se dá em função da limitação de recursos computacionais e pelo
fato dos modelos atualmente disponíveis dependerem significativamente de parametrizações de convecção.

16 VOLUME 1
Outro aspecto importante a ser considerado é a variabilidade na forma da distribuição de tamanho das
gotículas, que é ao mesmo tempo um fator fisicamente relevante no desenvolvimento da precipitação, assim
como a fase gelo, que se constituem em fontes de incerteza importantes na modelagem dos processos de
nuvens.

1.2.6 CAPÍTULO 7: FORÇANTE RADIATIVA NATURAL E ANTRÓPICA

Questão 6: Quais são as estimativas da forçante radiativa e dos efeitos radiativos, sobre a atmosfera e a
superfície, causados por agentes naturais e antrópicos, sobre o Brasil e a América do Sul ?

O clima é controlado por diversos fatores, chamados agentes climáticos, que podem ser naturais
ou originados de atividades humanas (antrópicos). Um certo agente climático pode contribuir para aquecer
o planeta, como por exemplo, os gases de efeito estufa antrópicos, enquanto outro agente pode tender a
resfriá-lo, como as nuvens. Ao tomador de decisões seria conveniente conhecer qual a influência quantitati-
va de cada agente climático. Por exemplo, conhecer qual a contribuição de cada agente para as variações
de temperatura na superfície do planeta, ou mesmo no Brasil. No entanto, como qualquer ferramenta de
modelagem do clima, os modelos climáticos atuais mais avançados, que vêm progressivamente fornecendo
resultados cada vez mais confiáveis e consistentes para previsões de mudanças climáticas, devem ser alimen-
tados com estimativas seguras das forçantes radiativas. No Capítulo 7 discutem-se estimativas da forçante
radiativa e efeitos radiativos, sobre a atmosfera e a superfície, causadas por agentes naturais e antrópicos
sobre o Brasil.

O conceito de forçante radiativa, tal como definido no relatório IPCC-AR4, é um passo intermediário
que não necessita, em princípio, de modelos climáticos para seu cálculo, por isso, os valores de forçante ra-
diativa podem ser mais objetivamente interpretáveis. Uma forçante radiativa positiva significa que um agente
tende a aquecer o planeta, ao passo que valores negativos indicam uma tendência de resfriamento. Uma
inconveniência do conceito de forçante radiativa é que em geral ela é expressa em termos de potencia (Wm -2,
ou Watt por metro quadrado), que é uma unidade menos familiar que a temperatura (em graus Celsius). Uma
vez determinado o valor da forçante radiativa de um agente, pode-se usar esse valor em modelos climáticos
que procurarão traduzi-lo, por exemplo, em termos de mudanças de temperatura na superfície, ou mudanças
no volume de chuvas. Dependendo do modelo climático escolhido e das condições em que ele é utilizado,
um mesmo valor de forçante pode dar origem a diferentes respostas. É nesse contexto que o conceito de
forçante radiativa oferece um meio de comparação entre diferentes agentes climáticos, independentemente
da precisão dos modelos climáticos atuais. A quantificação numérica da intensidade da forçante radiativa
permite ao tomador de decisão visualizar quais os agentes mais significativos, classificando-os por ordem de
magnitude relativa. Calcular a forçante radiativa de um agente climático é como definir uma escala padrão,
que permite a possibilidade de se estimar a intensidade de sua perturbação sobre o clima, para algum local
ou região do globo.

Além de agentes climáticos independentes, ocorrem também situações de interdependência entre


agentes, chamados processos de retroalimentação, que tornam ainda mais complexa a compreensão de
qual o efeito climático final de um certo agente. Alguns agentes climáticos podem influenciar o ciclo hi-
drológico. Por exemplo, alguns pesquisadores afirmam que a fumaça emitida em queimadas na Amazônia
pode alterar o funcionamento natural das nuvens, diminuindo o volume de chuvas que essas nuvens podem
produzir (conforme o capítulo 6). Se isso acontece, então a menor ocorrência de chuvas pode favorecer a
ocorrência de um número ainda maior de queimadas, e assim se estabelece um ciclo de retroalimentação.
Em tais ciclos de retroalimentação, as relações de causa e efeito são complexas, e por esse motivo a avalia-
ção do impacto sobre o clima é denominada efeito radiativo, e não uma forçante radiativa. Essa distinção é
utilizada de forma rigorosa neste capítulo.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 17


É importante levar em consideração escalas de tempo e espaço. Mudanças climáticas que ocorrem
em longo prazo, em escalas de milhares a milhões de anos, são controladas por variações orbitais do plane-
ta. No entanto, numa escala de centenas de anos as mudanças orbitais são virtualmente irrelevantes, e outros
fatores predominam. Um exemplo é a influência antrópica sobre o clima devido à emissão de gases de efeito
estufa, que vem causando um aumento anômalo da temperatura média na superfície do planeta.

Este capítulo apresenta a definição formal de forçante radiativa, do potencial de aquecimento global
e do potencial de temperatura global, que são variáveis utilizadas para padronizar uma metodologia de com-
paração, e que permitem estimar quantitativamente os efeitos de diferentes agentes climáticos. O capítulo
apresenta uma revisão bibliográfica de estudos recentes, efetuados sobre o Brasil ou sobre a América do Sul,
que identificaram alguns dos principais agentes climáticos naturais e antrópicos atuantes no país. Embora
a intenção fosse apresentar, em números, a contribuição para a forçante radiativa atribuída aos diferentes
agentes, a inexistência de trabalhos científicos no país para vários deles trouxe outra dimensão ao capítulo.
Os efeitos climáticos mais significativos em escalas de dezenas a centenas de anos, no Brasil, são os efeitos
radiativos de nuvens, a forçante radiativa dos gases de efeito estufa, a forçante de mudança de uso do solo,
e a dos aerossóis (fumaça) emitidos em queimadas por fontes antrópicas.

Nuvens exercem um efeito radiativo natural, mas suas propriedades podem ser alteradas pela ação
humana (e.g. efeitos indiretos de aerossóis, mudança de propriedades da superfície, entre outros). Essas al-
terações podem envolver processos de retroalimentação, com possíveis impactos sobre o ciclo hidrológico,
causando alterações na disponibilidade de água doce, ou na frequência de ocorrência de eventos extremos
de precipitação, como secas ou tempestades severas. Os resultados compilados neste capítulo mostram que
no clima presente as nuvens constituem o agente climático mais importante do ponto de vista de balanço de
radiação sobre a Amazônia, reduzindo em até 110 Wm-2 a radiação à superfície, e contribuindo com cerca
de +26 Wm-2 no topo da atmosfera. Isso significa que as nuvens na Amazônia atuam causando em média
um resfriamento da superfície, mas um aquecimento do planeta. Cabe ressaltar que o modo como os estudos
consideram a distribuição vertical das nuvens desempenha um papel fundamental nos resultados obtidos:
nuvens altas tendem a contribuir com um efeito de aquecimento do planeta, enquanto nuvens baixas tendem
a resfriá-lo. Desse modo, é importante destacar que esse resultado não pode ser automaticamente estendido
para outras regiões, com padrões de nuvens e características de superfícies diferentes da região amazônica.

No Brasil, a principal fonte de gases de efeito estufa e aerossóis antrópicos é a queima de biomassa,
utilizada como prática agrícola ou na mudança da cobertura do solo. Como técnica agrícola, as queimadas
são empregadas no combate de pragas e na limpeza de lavouras com objetivo de facilitar a colheita, como
no caso do cultivo da cana de açúcar. O uso de queimadas para alteração do uso do solo é observado es-
pecialmente na região amazônica. No caso dos gases de efeito estufa, grande parte do esforço das pesquisas
no Brasil atualmente se concentra na elaboração de inventários de emissão. Não se encontram na literatura
científica estimativas de cálculos da forçante radiativa desses gases considerando as condições das emissões
brasileiras.

Aerossóis antrópicos, emitidos principalmente em queimadas, podem absorver e refletir a luz do


Sol. Essa interação direta entre aerossóis e a luz (radiação) solar define a forçante radiativa direta de ae-
rossóis. Vários estudos quantificaram essa forçante de aerossóis antrópicos, sobretudo na Amazônia. Uma
média ponderada de alguns dos resultados compilados neste capítulo resultou em uma forçante radiativa de
-8,0±0,5 Wm -2, indicando que, em média, a fumaça emitida em queimadas contribui para resfriar o pla-
neta, contrapondo-se parcialmente ao aquecimento causado por gases de efeito estufa antrópicos. É muito
importante, no entanto, ressaltar que aerossóis e gases de efeito estufa antrópicos têm escalas de tempo e
espaço muito diferentes: enquanto gases de efeito estufa tendem a se espalhar aproximadamente de modo
uniforme sobre o planeta, e têm tipicamente vida média de centenas de anos, aerossóis emitidos em quei-
madas na Amazônia espalham-se sobre grande parte do continente da América do Sul, e têm vida média de
dias (são removidos da atmosfera e depositam-se sobre a superfície). Assim, a comparação das forçantes de
aerossóis e gases de efeito estufa não pode ser feita diretamente.

18 VOLUME 1
As mudanças antrópicas no uso do solo, como por exemplo, o processo de longo prazo de urbani-
zação das cidades brasileiras, ou a conversão de florestas para a agropecuária na região amazônica desde
1970, resultaram em modificações de propriedades da superfície vegetada como, por exemplo, o albedo
(refletividade da superfície). No caso da Amazônia em geral, substitui-se uma superfície mais escura (floresta),
por superfícies mais brilhantes (e.g. plantações, estradas, construções, etc.), o que implica em uma maior
fração da luz solar sendo refletida de volta ao espaço. Encontrou-se um trabalho sobre a mudança de albedo
em regiões desmatadas desde 1970 na Amazônia, que estimou em 7,3±0,9 Wm -2 como o a magnitude
dessa forçante antrópica. Note-se que esse valor é semelhante à forçante de aerossóis antrópicos, porém, é
importante salientar que o desmatamento na Amazônia tem caráter virtualmente “permanente” (i.e. a maioria
das áreas degradadas em geral não volta a ser recomposta como floresta primária), enquanto aerossóis de
queimada têm vida média da ordem de dias. Essas observações indicam a necessidade de se realizar estu-
dos mais aprofundados sobre a forçante originada nos processos de mudança de uso do solo, em especial
incluindo-se o efeito da urbanização histórica e da expansão agropecuária em nível nacional e em várias
escalas temporais.

Aerossóis também interagem com nuvens, modificando suas propriedades. As nuvens modificadas,
por sua vez, interagem com a radiação solar. Dessa forma, define-se a forçante indireta (i.e. mediada pela
interação com nuvens) de aerossóis. As estimativas de forçante radiativa para os efeitos indiretos de aerossóis
encontradas na literatura apresentaram uma ampla gama de valores. A maioria dos resultados tem sinal ne-
gativo, variando entre cerca de -9,5 a -0,02 Wm -2 para diferentes tipos de superfície, indicando condições de
resfriamento climático. Este é um tópico que ainda necessita de mais estudos de caracterização e verificações
independentes, para que esse componente da forçante antrópica sobre o Brasil possa ser adequadamente
representado em modelos climáticos.

Não foram encontrados trabalhos avaliando a forçante radiativa no Brasil devido ao aerossol de
origem urbana, ao aerossol natural de poeira oriunda da África, ou de erupções vulcânicas, nem à formação
de trilhas de condensação pelas atividades da aviação comercial. Essas forçantes radiativas, por hora desco-
nhecidas podem, ou não, ser comparáveis àquelas devidas a gases de efeito estufa e aerossóis antrópicos.
Os trabalhos analisados na elaboração deste capítulo evidenciam a existência de lacunas significativas em
estudos de forçantes radiativas no Brasil. Conhecer com precisão a magnitude dessas forçantes, e aprimorar
a compreensão de seus impactos, resultará em melhorias nos modelos de previsão de tempo e clima. Tais
modelos são ferramentas importantes para instrumentalizar a tomada de decisões políticas e econômicas
diante das mudanças climáticas que vêm atuando no país.

1.2.7 CAPÍTULO 8: AVALIAÇÃO DE MODELOS GLOBAIS E REGIONAIS CLIMÁTICOS

Questão 7: Qual a capacidade dos modelos numéricos em reproduzir o clima presente e futuro sobre
o Brasil e a América do Sul ?

Este tema é abordado no Capítulo 8 do GT1. Nele são descritas as características e desenvolvimen-
tos do modelo global atmosférico do CPTEC e modelos regionais climáticos. O Modelo de Circulação Glo-
bal Atmosférico do CPTEC/INPE, base do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG) tem sido
desenvolvido desde a sua versão inicial CPTEC/COLA de 1994. A variação sazonal da precipitação, pressão
ao nível do mar, ventos em altos e baixos níveis, bem como a estrutura vertical dos ventos e temperatura têm
sido bem representados pelo MCGA CPTEC/COLA. Os principais centros associados a ondas estacionárias
nos dois hemisférios são razoavelmente bem reproduzidos. Entretanto, a precipitação é subestimada princi-
palmente na região da Amazônia e centro-sul da America do Sul, e superestimada no Nordeste do Brasil e
nas regiões de convergência intertropical (ZCIT) e do Atlantico Sul (ZCAS). Embora erros sistemáticos sejam
mais destacados nas regiões tropicais, as melhores correlações entre anomalias de precipitação do modelo
observadas ocorrem nessa região, que inclui o extremo norte do Nordeste do Brasil e leste da Amazônia.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 19


Tendo em vista que os modelos regionais climáticos possibilitam um maior detalhamento dos cená-
rios climáticos fornecidos pelos modelos globais, que geralmente apresentam baixa resolução espacial e o
menor custo computacional, vários estudos com diferentes modelos têm sido realizados ao longo dos últimos
anos.

Por exemplo, Marengo et al. (2009) utilizando três modelos regionais (HadRM3P, Eta-CCS e Re-
gCM3) cujas simulações foram realizadas com as mesmas condições de contorno do modelo global Ha-
dAM3P, obtiveram simulações do clima atual e projeções de clima futuro para o final deste século sobre a
América do Sul (AS). Em relação ao clima atual, os autores mostraram que os modelos têm um viés negativo
de precipitação na parte mais norte da AS e também um viés negativo que domina quase todo o continente
com exceção da parte mais central, que se mostrou mais dependente da sazonalidade. Os resultados in-
dicaram que o Eta-CCS apresenta um maior aquecimento no oeste da Amazônia quando comparado aos
modelos RegCM3 e HadRM3P, enquanto que estes últimos apresentam maior aquecimento na região leste
da Amazônia. Os autores destacam ainda que as projeções destes modelos diferem em relação às regiões
onde são verificados os maiores aquecimentos (acima de 8ºC), por exemplo, na Amazônia oriental ou na
Amazônia ocidental, dependendo do modelo regional utilizado. Conforme mencionado em Marengo et al.
(2010, 2011) estas incertezas só podem ser reduzidas com avanços no conhecimento do sistema climático.

Vários estudos utilizando modelos globais/regionais e atmosféricos/acoplados abordaram fenôme-


nos meteorológicos que atuam na AS, em particular no Brasil. Por exemplo, com relação à ZCAS, Pesquero
et al. (2009) utilizaram o modelo Eta aninhado às condições do HadAM3P e verificaram a capacidade do
modelo em reproduzir a circulação de monção da América do Sul e a frequência de eventos de ZCAS,
tanto no clima presente (1961-1990), quanto no clima futuro (2070-2099), utilizando-se o cenário A1B do
IPCC-SRES. Os resultados indicaram não haver diferenças importantes entre os fluxos de umidade em toda
a estação chuvosa, quando comparado aos períodos de ZCAS sobre a Região SE. No entanto, em relação
a precipitações intensas, constatou-se a ocorrência de valores de precipitação entre 90 e 140 mm/dia em
diversas situações do clima futuro.

Outro fenômeno de importância para o clima da AS é o Jato de Baixo Nível (JBN). Os resultados
de Soares e Marengo (2009), com a utilização do modelo HadRM3P, indicaram um total de 169 casos de
JBNs detectados no período 1980-1989, enquanto que as ocorrências entre 2080 e 2089 totalizaram 224,
evidenciando assim o impacto do SRES A2 na frequência de ocorrência de JBNs da AS.

Apesar dos acelerados avanços teóricos e computacionais verificados nos últimos anos, as projeções
climáticas são cercadas de imperfeições e incertezas, oriundas da própria dinâmica do sistema climático.
Existem pelo menos duas principais fontes de incerteza inerentes às projeções do clima: aquelas relacionadas
aos cenários de emissões, e aquelas relacionadas à modelagem do clima e suas parametrizações. Embora
os cenários de emissões sejam baseados em um conjunto de suposições coerentes e fisicamente consistentes
sobre suas forçantes, tais como demografia, desenvolvimento sócio-econômico e mudanças tecnológicas,
não se pode afirmar exatamente como estes vão evoluir ao longo das próximas décadas. Em relação às in-
certezas na modelagem do clima, técnicas diferentes de regionalização e/ou parametrização podem produzir
diferentes respostas locais, ainda que todas as simulações sejam forçadas pelo mesmo modelo global, além
da possibilidade de erros advindos dos próprios Modelos Climáticos Globais (MCGs).

1.2.8 CAPÍTULO 9: MUDANÇAS AMBIENTAIS DE CURTO E LONGO PRAZO: PROJEÇÕES E


ATRIBUIÇÃO

Questão 8: Quais as mudanças climáticas projetadas para curto e longo prazo que irão afetar os principais
biomas brasileiros ?

20 VOLUME 1
Cenários futuros do clima são projeções ou simulações geradas por modelos que levam em con-
sideração os diferentes cenários de emissões globais de gases do efeito estufa (GEE) propostos pelo IPCC.
Atualmente, a melhor ferramenta científica disponível para a geração das projeções de mudanças ambien-
tais é o downscaling (regionalização) dinâmico, cuja técnica consiste em usar um modelo climático regional
“aninhado” a um modelo climático global (maiores detalhes sobre modelagem encontram-se no Capítulo 9).
Os resultados científicos consensuais das projeções regionalizadas de clima nos diferentes biomas do Brasil,
considerando os períodos de início (2011-2040), meados (2041-2070) e final (2071-2100) do século XXI,
são sumariados neste capítulo.

Em geral, as projeções climáticas possuem desempenho (skill) relativamente melhor nos setores nor-
te/nordeste (Amazônia e Caatinga) e sul (Pampa) do Brasil, e desempenho pior no centro-oeste e sudeste
(Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica). As projeções consensuais para os biomas brasileiros, baseadas nos
resultados científicos de modelagem climática global e regional, são as seguintes:

AMAZÔNIA: Reduções percentuais de -10% na distribuição de chuva e aumento de temperatura de 1º a


1,5ºC até 2040, mantendo a tendência de diminuição de 25% a 30% nas chuvas e aumento de tempe-
ratura entre 3º e 3,5ºC no período 2041-2070, sendo que no final do século (2071-2100) as mudanças
são mais críticas com clima significativamente menos chuvoso (redução de 40% a 45% nas chuvas) e muito
mais quente (aumento de 5º a 6ºC de temperatura). Enquanto tais modificações de clima associados às
mudanças globais podem comprometer o bioma em longo prazo (final do século), a questão atual do des-
matamento decorrente das intensas atividades de uso da Terra, representa uma ameaça mais imediata para
a Amazônia. Estudos observacionais e de modelagem numérica sugerem que caso o desmatamento alcance
40% na região, esperam-se mudanças drásticas no ciclo hidrológico com redução de 40% na pluviometria
durante os meses de Julho a Novembro, prolongando a duração da estação seca, bem como provocando
aquecimento superficial em até 4ºC. Assim, as mudanças regionais pelo efeito do desmatamento somam-se
àquelas provenientes das mudanças globais, constituindo, portanto, condições propícias à prevalência de
vegetação do tipo cerrado, sendo que esse problema de savanização da Amazônia tende a ser mais crítico
na porção oriental.

CAATINGA: Aumento de 0,5º a 1ºC na temperatura do ar e decréscimo entre 10% e 20% na chuva durante
as próximas três décadas (até 2040), com aumento gradual de temperatura para 1,5º a 2,5ºC e diminuição
entre 25% e 35% nos padrões de chuva no período de 2041-2070. No final do século (2071-2100) as
projeções indicam condições significativamente mais quentes (aumento de temperatura entre 3,5º e 4,5ºC) e
agravamento do déficit hídrico regional com diminuição de praticamente metade (40 a 50%) da distribuição
de chuva.

CERRADO: Aumento de 1ºC na temperatura superficial com diminuição percentual entre 10% a 20% na
precipitação durante as próximas três décadas (até 2040). Em meados do século (2041-2070) espera-se
aumento entre 3º e 3,5ºC da temperatura do ar e redução entre 20% e 35% da pluviometria. No final do
século (2071-2100) o aumento de temperatura atinge valores entre 5º e 5,5ºC e a retração na distribuição
de chuva é mais crítica, com diminuição entre 35% e 45%.

PANTANAL: Aumento de 1ºC na temperatura e diminuição entre 5% e 15% nos padrões de chuva até 2040,
mantendo a tendência de redução nas chuvas para valores entre 10% e 25% e aumento de 2,5º a 3ºC de
temperatura em meados do século (2041-2070). No final do século (2071-2100) predominam condições de
aquecimento intenso (aumento de temperatura entre 3,5º e 4,5ºC) com diminuição acentuada nos padrões
de chuva de 35% a 45%.

MATA ATLÂNTICA: Como este bioma abrange áreas desde o sul, sudeste até o nordeste brasileiro, as proje-
ções apontam dois regimes distintos. Porção Nordeste (NE): Aumento relativamente baixo nas temperaturas
de 0,5º a 1ºC e decréscimo nas chuvas em torno de 10% até 2040, mantendo a tendência de aquecimento
entre 2º e 3ºC e diminuição pluviométrica entre 20% e 25% em meados do século (2041-2070). Para o
final do século (2071-2100) esperam-se condições de aquecimento intenso (aumento de 3º a 4ºC) e dimi-
nuição entre 30% e 35% nos padrões de chuva regional. Porção Sul/Sudeste (S/SE): Até 2040 as projeções

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 21


indicam aumento relativamente baixo de temperatura entre 0,5º e 1ºC com intensificação nos padrões de
chuva em torno de 5% a 10%. Em medos do século (2041-2070) continuam as tendências de aumento gra-
dual de 1,5º a 2ºC na temperatura e de 15% a 20% nas chuvas, sendo que essas tendências acentuam-se
no final do século (2071-2100) com padrões de clima entre 2,5º e 3ºC mais quente e entre 25% a 30%
mais chuvoso.

PAMPA: No período até 2040 prevalecem condições de clima regional de 5% a 10% mais chuvoso e até
1ºC mais quente, mantendo a tendência de aquecimento entre 1º e 1,5ºC e intensificação das chuvas
entre 15% e 20% até meados do século (2041-2070). No final do século (2071-2100) as projeções são
mais agravantes com aumento de temperatura de 2,5º a 3ºC e chuvas de 35% a 40% acima do normal.

Em virtude do alto grau de vulnerabilidade das regiões norte e nordeste do Brasil, ressalta-se que
as projeções mais preocupantes para o final do século são para os biomas Amazônia e Caatinga, cujas
tendências de aquecimento na temperatura do ar e de diminuição nos padrões regionais de chuva são
maiores do que a variação média global. Em termos de atribuição de causa física, sugere-se que essa
mudança climática de redução na pluviometria associa-se aos padrões oceânicos tropicais anomalamen-
te mais aquecidos sobre o Pacífico e Atlântico (esperados num clima futuro de aquecimento global), os
quais modificam o regime de vento de forma a induzir diminuição no transporte de umidade e prevalência
de circulação atmosférica descendente (células de Hadley e Walker) sobre o Brasil tropical, inibindo a
formação de nuvens convectivas e explicando assim as condições de chuva abaixo do normal.

22 VOLUME 1
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24 VOLUME 1
CAPÍTULO 2

OBSERVAÇÕES AMBIENTAIS ATMOSFÉRICAS E


DE PROPRIEDADES DA SUPERFÍCIE

Autores principais: Alice M. Grimm – UFPR e Gilvan Sampaio – INPE.


Autores colaboradores: Celso von Randow – INPE; Expedito Ronald Gomes Rebello – INMET; Francinete Francis
Lacerda – ITEP/PE; Francisco de Assis Diniz – INMET; Gabriel Blain – IAC/SP; Guillermo Obregón – INPE; Iracema F.A.
Cavalcanti – INPE; José Fernando Pesquero – INPE; Leila Maria Vespoli Carvalho – UCSB; Lincoln Muniz Alves – INPE;
Manoel Ferreira Cardoso – INPE; Orivaldo Brunini – IAC/SP e Osmar Pinto Júnior – INPE.
Revisores: Gilberto Fisch – IEA/CTA e Maria Cristina Forti – INPE.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 25


ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 27

2.1 INTRODUÇÃO 28

2.2. PADRÕES DE VARIABILIDADE NATURAL DO CLIMA 29

2.2.1 REGIMES DE PRECIPITAÇÃO 29

2.2.2 VARIABILIDADE INTERANUAL 30

2.2.3 VARIABILIDADE INTERDECENAL E NO LONGO PRAZO 34

2.2.4 MODO DE MUDANÇA CLIMÁTICA? 35

2.3. OBSERVAÇÕES SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AMÉRICA DO SUL 39

2.3.1. HIDROLOGIA: PRECIPITAÇÃO E VAZÕES 39

2.3.2 TEMPERATURA 43

2.3.3. EVENTOS EXTREMOS 49

2.3.3.1 EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO 49

2.3.3.2 EVENTOS EXTREMOS DE TEMPERATURA DO AR 52

2.3.4 COMPONENTES DE RADIAÇÃO E BALANÇO DE ENERGIA 53

2.3.5 PROBLEMAS DAS OBSERVAÇÕES 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 55

26 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
Tendo em vista as dimensões continentais do Brasil assim como a diversidade de seus regimes cli-
máticos e das influências sobre seu clima, é necessário ressaltar a necessidade de estudos observacionais
para bem conhecê-lo, em termos de características, mecanismos e variabilidade. O conhecimento do clima
presente é o primeiro passo para se conhecer o clima futuro. Este se aproxima gradualmente a cada ano, de
tal forma que a adaptação ao futuro próximo deve ser parte da solução do problema geral de adequação
ao futuro distante.

Assim, a adaptação ao clima do próximo ano ou da próxima década, haja ou não aquecimento
global e outras mudanças antrópicas, deve ser uma das prioridades nacionais, principalmente em países em
desenvolvimento.

Vários estudos aqui descritos revelam o grande impacto da variabilidade interanual, que pode pro-
duzir alterações por um fator maior que 4 nas chuvas sazonais em certas regiões, como a Amazônia, aqui
entendida como a bacia hidrográfica do Rio Amazonas e seus tributários. A maior fonte de variabilidade in-
teranual são os eventos El Niño e La Niña. As variações decenais/interdecenais apresentam menor diferença
entre fases opostas – alterações por até o fator 2 –, mas são relevantes em termos de adaptação, já que, por
serem persistentes, podem causar tanto secas prolongadas, como décadas com mais eventos extremos de
chuva.

Os modos de variabilidade interdecenal produziram forte variação climática na década de 1970,


devido à superposição de efeitos da mudança de fase de diferentes modos climáticos. Portanto, análises de
tendências em séries relativamente curtas de parâmetros de clima, que compreendem períodos anteriores e
posteriores à década mencionada, não são conclusivas.

Mesmo análises de séries relativamente longas devem ser encaradas com cautela, tendo em vista
que os resultados são extremamente dependentes do período analisado. A grande maioria das tendências
detectadas na precipitação do Brasil pode ser explicada por alterações de fase em oscilações interdecenais e
são, portanto, impróprias para serem consideradas provas de mudanças climáticas.

Por exemplo, as principais tendências detectadas são consistentes com a variação produzida na se-
gunda metade do século XX pelo primeiro modo interdecenal de chuvas anuais. Este, por sua vez, está signifi-
cativamente correlacionado ao modo de tendência de temperatura da superfície do mar, mas também com a
oscilação multidecenal do Oceano Atlântico (OMA) e com a oscilação interdecenal do Oceano Pacífico (OIP
ou IPO. em inglês). Estes resultados apontam tendências negativas no norte e oeste da Amazônia e positivas
no sul da mesma, positivas no Centro-Oeste e Sul do Brasil, mas ausentes no Nordeste. A tendência de au-
mento da precipitação entre 1950 e 2000 no Sul do Brasil e em outras partes da baixa Bacia Hidrográfica
dos rios Paraná e da Prata, principalmente entre os períodos anterior e posterior à década de 1970, aparece
em outros modos interdecenais. Principalmente, está presente no quarto modo de chuvas anuais. Séries um
pouco mais longas respaldam tal propensão, mas, na última década, ela registra inversão.

Para verificar se as tendências associadas com o primeiro modo interdecenal de precipitação são
devidas apenas à mudança de fase da OMA ou se seriam parte de comportamento consistente de mais longo
período, precisariam ser obtidas:

i) séries mais longas de precipitação e

ii) consistência entre estas tendências e as mudanças de precipitação apontadas nessas regiões pelas proje-
ções climáticas feitas por numerosos modelos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 27


Portanto, é necessário esperar algum tempo para se ter certeza sobre tendências na precipitação do
Brasil e, também, verificar sua consistência com projeções climáticas – o que, no momento, não ocorre, talvez
por ter-se ainda falhas nos modelos. Da mesma forma, continua difícil se detectar mudanças antrópicas nos
eventos extremos de precipitação, cujas variações também parecem estar mais relacionadas com oscilações
climáticas naturais. Contudo, parece haver indicações de que tais mudanças, em grandes centros urbanos
como São Paulo, seriam devidas aos efeitos da ilha de calor urbana, da ocupação vertical – que afeta a
rugosidade da superfície terrestre – e a dinâmica da camada-limite, bem como à contribuição da poluição
para modificações na microfísica de nuvens.

Estudos de tendência da temperatura do ar utilizando dados de estação sobre a América do Sul


limitam-se, na sua maioria, ao período entre 1960 e 2000. Os resultados mais significativos se referem às
variações de índices baseados na mínima diária. Eles indicam aumento de noites quentes e diminuição de
noites frias na maior parte da América do Sul, com conseqüente diminuição da amplitude diurna da tempe-
ratura, especialmente na primavera e no outono.

Tais resultados são mais robustos para as estações localizadas nas costas leste e oeste dos continentes
e são confirmados para as séries em períodos mais longos. Embora a influência da variabilidade dos ocea-
nos Atlântico e Pacífico no comportamento das temperaturas do ar sobre a América do Sul no longo prazo
precise ser levada em conta, a influência antrópica sobre seus valores extremos parece ser mais provável do
que sobre os extremos de precipitação.

A enorme escassez de dados de estação sobre vastas áreas tropicais, como a Amazônia, o Centro-
-Oeste e o leste do Brasil, limitam o estabelecimento de conclusões acuradas para estas regiões. Estudos
recentes mostraram que fatores como a mudança de uso da terra e a queima de biomassa podem influen-
ciar a temperatura do ar nestas regiões, especialmente na Amazônia e Cerrado. Porém, não se conhece a
magnitude e a extensão espacial do sinal dessas influências no longo prazo sobre a temperatura do ar em
superfície. Já o efeito da mudança de uso da terra e da liberação de calor antrópico nos grandes centros
urbanos sobre o fenômeno de ilha de calor urbana tem sido bem estudado e documentado.

Dados de análises reelaboradas desde 1948 fornecem evidência de que, durante o verão austral,
a temperatura nos baixos níveis da atmosfera tem aumentado de forma mais acentuada em direção aos
trópicos do que nos subtrópicos da América do Sul. A temperatura média anual junto à superfície tropical
apresentou, desde então, tendência positiva, enquanto que, nos subtrópicos, há tendência negativa desde
meados da década de 1990.

O aumento de temperatura do ar também foi verificado sobre o Atlântico Tropical, sugerindo que
possam ter ocorrido mudanças no contraste Oceano-Atmosfera e, portanto, no desenvolvimento do sistema
de monções. Tais alterações podem causar modificações no regime de precipitação e nebulosidade e criar
feedbacks – ou retroalimantações – ainda desconhecidos da temperatura e do clima locais. Variações nos
campos médios globais e na TSM entre antes e após o período conhecido como climate shift, no final dos
anos 1970, podem ter exercido importante papel no regime de temperaturas atmosféricas e suas respectivas
tendências. Elas precisam ser consideradas para que se possa avaliar corretamente o efeito do aquecimento
global sobre a América do Sul.

Neste contexto, também é importante avaliar o impacto de oscilações climáticas naturais interdece-
nais sobre a temperatura do ar em território sul-americano.

2.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo do volume elaborado pelo GT1 para o Relatório de Avaliação Nacional 1, são
apresentados resultados observacionais relativos a variações de parâmetros ambientais que podem repre-
sentar efeitos da variabilidade climática natural de longo período e, em alguns casos, da ação humana.

28 VOLUME 1
As séries temporais são produto de interações complexas do sistema climático terrestre, represen-
tando um efeito combinado de oscilações intra e interanuais, decenais e interdecenais, e até de escalas de
tempo maiores, tais como milhares a milhões de anos. Separar essas variações naturais das antrópicas não
é uma tarefa fácil. Talvez nem seja possível, na maioria dos casos, tendo em vista que tais resultados são,
geralmente, baseados em observações feitas durante períodos relativamente curtos, bem inferiores às escalas
de tempo paleoclimatológicas tratadas no capítulo 4 deste volume.

Portanto, é necessário cautela na atribuição das causas das variações observadas. De qualquer
maneira, quer sejam variações naturais que venham a ser revertidas após uma ou mais décadas, quer sejam
tendências causadas por ação humana, tais variações necessitam ser conhecidas para que seja possível
planejamento de adaptação de modo a enfrentá-las em seus aspectos negativos ou delas tirar o máximo
proveito.

A magnitude, tanto das variações naturais como das mudanças climáticas antrópicas, tem repercus-
sões para a sociedade, já que diversas atividades econômicas, particularmente a hidroeletricidade e a agri-
cultura, são afetadas pelas variações de longo prazo – a do elemento climático precipitação, em particular.

2.2. PADRÕES DE VARIABILIDADE NATURAL DO CLIMA

É interessante caracterizar, no contexto deste capítulo, a variabilidade natural do clima na América


do Sul, já que esta é bastante significativa e pode, muitas vezes, ser confundida com tendências climá-
ticas associadas a alterações antrópicas. Essa variabilidade climática natural é um modulador de baixa
freqüência da variabilidade sinótica diretamente ligada aos sistemas de tempo e influencia também a
freqüência de eventos extremos. A caracterização desta variabilidade será feita exclusivamente quanto à
precipitação, pois este é o elemento climático mais documentado.

Antes de apresentar as variações climáticas, este capítulo revisa, a seguir, os aspectos básicos dos
regimes de precipitação na América do Sul, com foco no Brasil, para que a variabilidade climática possa
ser enfatizada nas estações do ano em que apresenta maior impacto.

2.2.1 REGIMES DE PRECIPITAÇÃO

Na Figura 2.1 deste capítulo, um painel abrangente exibe os regimes sazonais de precipitação da
América do Sul (Grimm, 2011). A maior parte do Brasil está sob o efeito do regime de monção, coerente
com volumes totais elevados de chuva no período de primavera e verão e valores baixos nos meses de
outono e inverno.

A precipitação mais intensa começa na primavera no centro do Brasil (em torno de 10°S, onde
a estação chuvosa é dezembro-janeiro-fevereiro, DJF) e avança para sul e para norte, de modo que em
parte do Brasil a estação mais úmida é janeiro-fevereiro-março (JFM) e nas proximidades do equador é
março-abril-maio (MAM), ou mesmo mais tarde. A rigor, a precipitação já é intensa no noroeste do Brasil
antes do que em sua área central, não por ser parte da estação chuvosa do primeiro, mas sim porque,
naquela região, a precipitação é intensa durante o ano inteiro. No Brasil central, a variação de precipita-
ção entre as estações é influenciada pela migração sazonal do sistema de alta pressão do Atlântico Sul.

A monção começa a enfraquecer em março, à medida que a área de convecção profunda se


desloca para noroeste. Sobre as regiões próximas à costa do Norte do Brasil, ela só perde força após
abril, com o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para o Hemisfério Norte. No
Nordeste do Brasil, em sua porção norte, a estação chuvosa ocorre de março a maio, quando a Zona de
Convergência Intertropical está em sua posição mais a sul.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 29


No Norte do Brasil, ao norte do equador, o outono e inverno austrais constituem a estação chuvosa,
enquanto o verão austral é relativamente seco. Nas partes leste e oeste desta região prevalece o outono
austral como estação chuvosa, enquanto no centro prevalece o inverno austral.

Ao sul do equador, o inverno é a estação seca na faixa tropical (0-25°S), com exceção de regiões
costeiras junto ao Atlântico. Na maior parte do Sul do Brasil, onde há disponibilidade de vapor de água
durante todo o ano, condições dinâmicas na atmosfera favorecem máximos relativos de precipitação no ou-
tono, inverno e primavera em diferentes regiões, embora ocorra precipitação durante o ano inteiro. O Sul do
Brasil é uma região de transição entre os regimes de monção de verão e de regime de inverno em latitudes
médias, tendo sua precipitação bem distribuída ao longo do ano (Grimm, 2009a). Existem vários trabalhos
atuais que descrevem a variabilidade do período chuvoso sobre a região monçônica, assim como os regimes
de precipitação (e.g., Marengo et al., 2001; Raia e Cavalcanti, 2008; Krishnamurthy e Misra, 2010; Nieto-
-Ferreira e Rickenbach, 2010; Reboita et al., 2010; Carvalho et al., 2011; Grimm, 2011). Neles, em geral,
podemos verificar que as monções sul-americanas têm passado por várias transições nos últimos anos.

Figura 2.1 Ciclos anuais de precipitação


em regiões de 2.5°×2.5° latitude-
longitude, calculados com pelo menos
25 anos de dados no período de
1950 a 2005.
Fonte: Grimm (2011).

2.2.2 VARIABILIDADE INTERANUAL

A variabilidade interanual de precipitação analisada neste capítulo se baseia em dados obser-


vados coletados no período de 1961 a 2000, dos quais não foram filtradas as oscilações interdecenais
(Grimm, 2011). Portanto, elas estão presentes nos dados, embora sejam mais especificamente analisadas
na próxima seção.

Os padrões de variabilidade interanual de precipitação na América do Sul no verão já foram


também estudados em Zhou e Lau (2001), Paegle e Mo (2002) e Grimm e Zilli (2009). Além destes, há
estudos regionais, como o de Matsuyama et al. (2002) para a região tropical do continente, e Grimm
(2009b) para o Brasil.

Os principais padrões de variabilidade da precipitação podem mudar, de estação para estação,


ao longo do ano. São mostrados aqui, apenas os primeiros modos de variabilidade total anual e das
estações de primavera e verão, que fazem parte da estação chuvosa na maior parte do Brasil.

30 VOLUME 1
A variabilidade dos totais anuais de precipitação e sua associação com a temperatura da super-
fície do mar (TSM) enfatizam a grande influência de eventos El Niño-Oscilação Sul (ENOS) na América
do Sul. O primeiro modo dos totais anuais, representado na Figura 2.2, explica 23,55% da variância e
tem um padrão de correlação com TSM que reproduz as principais características do padrão ENOSnas
anomalias de TSM global, especialmente no Oceano Pacífico. Também mostra anomalias de precipitação
negativas (ou positivas) ao Sul de 23°S, sobre o sudeste da América do Sul, principalmente na região meri-
dional do Brasil, durante episódios La Niña (ou El Niño). Exibe ainda, anomalias positivas (ou negativas) no
nordeste da América do Sul, especialmente no leste da Amazônia e na área setentrional do Nordeste do Brasil.

Para que se tenha ideia do impacto desse modo sobre a precipitação numa área de 2°×2º na parte
setentrional do Nordeste, localizada em torno de 43ºW e 3ºS e cuja chuva média mensal é de 168,7 mm,
vale notar que a precipitação média mensal caiu para 54,2 mm em 1983, ano de registro de um fenômeno
El Niño, enquanto que em 1985, quando ocorreu um episódio La Niña, esse valor subiu para 243,4 mm. Por
outro lado, em uma área de 2°×2º no Sul do Brasil – situada em torno de 53ºW e 27ºS e cuja chuva média
mensal é de 122,2 mm –, tal indicador atingiu 176,4 mm em 1983, caindo para 92,8 mm em 1985.

Tais contrastes entre fases opostas de ENOS podem ser ainda mais fortes em estações específicas,
como será mostrado adiante.

Figura 2.2 Distribuição espacial (painel


esquerdo) e evolução temporal (painel
inferior direito) do primeiro modo de
variabilidade da precipitação total
anual, com variância explicada e
mapa de coeficientes de correlação
com a TSM (painel direito). Neste
último, as cores indicam os níveis de
confiança maiores que 0,90 para
coeficientes de correlação positivos e
negativos.
Fonte: Grimm (2011).

O segundo modo de variabilidade da precipitação anual exibe anomalias de precipitação asso-


ciadas mais fortes nas proximidades da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), com variações de
sinal oposto no noroeste e sudeste da América do Sul. Ele se assemelha e é devido ao primeiro modo de
verão, a ser apresentado a seguir. A ZCAS é uma banda de nebulosidade na direção noroeste-sudeste,
muito presente durante a monção de verão (entre outros, Grimm et al., 2005; Vera et al., 2006; Marengo
et al., 2010b).O primeiro modo de variabilidade da precipitação anual acima descrito tem maior con-
tribuição do outono, sendo semelhante ao primeiro modo de variabilidade para esta estação (Grimm,
2011). Ele também mostra conexão com ENOS, embora os padrões de correlação no Oceano Atlântico
sejam igualmente fortes, especialmente no Atlântico tropical.

As anomalias de TSM associadas com ENOS são as maiores responsáveis pelas anomalias de
precipitação no sudeste da América do Sul no outono. Já as anomalias no Atlântico tropical, mais espe-
cificamente a diferença entre as anomalias de TSM ao sul e ao norte do equador, são mais conectadas
com variações de chuva no nordeste e noroeste da América do Sul.

A conexão da chuva no Nordeste do Brasil com ENOS não é tão forte quanto aquela mantida
com o gradiente latitudinal de TSM, descrita em Moura e Shukla (1981) e, posteriormente, por outros.
Contudo, a influência do El Niño Oscilação Sul pode ser considerada forte, sendo intensificada caso esse
gradiente de temperatura sobre o mar for positivo (ou negativo) durante os eventos El Niño (ou La Niña).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 31


Além disso, tanto a intensidade de ENOS quanto a do sinal deste tipo de gradiente podem ser
alterados por oscilações interdecenais, abordadas neste capítulo na seção que segue (Kayano e Andreoli,
2007).

Durante o inverno, o primeiro modo de variabilidade também tem conexão com ENOS, causando
impacto maior na variabilidade da precipitação incidente sobre o Sul e o Norte do Brasil, mas com sinais
opostos (Grimm, 2011).

O primeiro modo de precipitação da primavera, representado na Figura 2.3 deste capítulo, ex-
plica 30,16% da variância. Exibe um padrão dipolo, com regiões de variações inversas no centro-leste e
sudeste do continente (Grimm e Zilli, 2009; Grimm, 2011). Pode, portanto, produzir oscilações na inten-
sidade e localização da ZCAS. Apresenta forte correlação com anomalias de TSM associadas com ENOS,
especialmente as subtropicais no Pacífico Central Sul. Estas anomalias parecem ser importantes para
causar variações de chuva no sudeste e centro-leste da América do Sul através de teleconexões que são
mais fortes na primavera (Barros e Silvestri, 2002; Cazes-Boezio et al., 2003; Grimm e Ambrizzi, 2009).

Há na primavera um forte impacto de ENOS. Por exemplo, em uma área de 2°×2º no Sudeste,
em torno de 42ºW e 17ºS, cuja precipitação média mensal na primavera é de 78,8 mm, a chuva média
mensal de primavera no ano de 1982, marcado pela ocorrência de El Niño, foi de 22,1 mm, enquanto
que em 1971, ano de ocorrência de La Niña, ficou em 116,7 mm. Já em uma área de 2°×2º no Sul do
Brasil – ao redor de 53ºW e 28ºS –, cuja precipitação média mensal na primavera é de 170,8 mm, esse
mesmo indicador de chuva média mensal durante a primavera de 1982 acusou 295,3 mm e 104,1 mm
em 1971.
Em ambas estas regiões, a primavera é parte da estação chuvosa e nelas há bacias contribuintes
a reservatórios de importantes usinas hidroelétricas.

Figura 2.3 Distribuição espacial (painel


esquerdo) e evolução temporal (painel
inferior direito) do primeiro modo
de variabilidade da precipitação de
primavera – meses de setembro,
outubro e novembro (SON) –, com
a variância explicada e o mapa de
coeficientes de correlação com a
TSM (painel direito). Neste último, as
cores indicam os niveis de confiança
maiores que 0,90 para coeficientes de
correlação positivos e negativos
Fonte: Grimm (2011).

No verão, o primeiro modo, exibido na Figura 2.4, explica 26,52% da variância e se assemelha
ao primeiro de primavera. Mostra o bem conhecido dipolo de variações entre as anomalias no centro-
-leste e no sudeste da América do Sul. Contudo, as anomalias no centro-leste são mais fortes e extensas
que na primavera, enquanto no sudeste da América do Sul são mais fracas.

Embora este modo pareça uma continuação das anomalias registradas durante a primavera, não
é este o caso, pois, como demonstrado em Grimm et al. (2007) e Grimm e Zilli (2009), há tendência
de inversão dessas anomalias de precipitação da primavera para o verão, devido a interações superfí-
cie-atmosfera causadas na primavera por anomalias de umidade do solo no centro-leste do Brasil e por
anomalias de TSM junto à costa do Sudeste do Brasil.

32 VOLUME 1
A correlação entre este primeiro modo de verão com a TSM denota a existência de mais fracas
forçantes remotas do que na primavera, já que há menos anomalias de TSM remotas a ele associadas.
As maiores ocorrem no sudoeste do Atlântico e são, na realidade, causadas pela influência das variações
de nebulosidade sobre o centro-leste do Brasil e o oceano próximo a esta região.

Na região da ZCAS, é particularmente grande a variação produzida por este modo. Tanto é assim
que, em uma área de 2°×2º no Sudeste – em torno de 45ºW e 17ºS –, na qual a precipitação média
mensal no verão é de 176,3 mm, o mesmo índice no verão de 1970 foi 65,1 mm e, em 1979, de 259,5
mm.

A variabilidade associada ao ENOS durante o verão está representada no segundo modo, que
pode ser visualizado na Figura 2.5 e explica 12,04% da variância. Ao contrário do que se passa na pri-
mavera, ele apresenta o mesmo sinal de variações no centro-leste e no Sul do Brasil. Para o mesmo sinal
de anomalias de TSM durante a primavera e o verão – cuja comparação pode ser observada nos mapas
de correlação nas figuras 2.3 e 2.5 –, o comportamento anômalo da chuva registrado no centro-leste é
oposto, coerentemente com os mecanismos explicados em Grimm et al. (2007) e Grimm e Zilli (2009).

Figura 2.4 Distribuição espacial (painel


esquerdo) e evolução temporal (painel
inferior direito) do primeiro modo
de variabilidade da precipitação de
verão (DJF), com variância explicada
e mapa dos coeficientes de correlação
com a TSM (painel direito). Neste
último, as cores indicam os níveis de
confiança maiores que 0,90 para
coeficientes de correlação positivos e
negativos.
Fonte: Grimm (2011).

Figura 2.5 Distribuição espacial (painel


esquerdo) e evolução temporal (painel
inferior direito) do segundo modo
de variabilidade da precipitação de
verão (DJF), com variância explicada
e mapa de coeficientes de correlação
com a TSM (painel direito). Neste
último, as cores indicam os níveis de
confiança maiores que 0,90 para
coeficientes de correlação positivos e
negativos.
Fonte: Grimm (2011).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 33


2.2.3 VARIABILIDADE INTERDECENAL E NO LONGO PRAZO

A variabilidade interdecenal é aqui considerada como aquela com escala de tempo acima de oito
anos (Grimm e Saboia, 2015). Seus efeitos são, por vezes, confundidos com os de mudanças climáticas
antrópicas devido ao relativamente curto período das séries de dados disponíveis.

O primeiro modo de variações interdecenais de precipitação total anual, conforme representado


na Figura 2.6, (Grimm e Saboia, 2015) indica que, no período 1950 a 2000, houve oscilação da chuva
sobre o nordeste da Argentina e a Região Centro-Oeste do Brasil, enquanto ocorria uma variação mais
fraca de sinal contrário na Região Norte brasileira.

Ao se analisar a evolução temporal, poder-se-ia dizer que houve nela uma tendência decrescente,
principalmente entre 1970 e 2000. Contudo, isso simplesmente indicaria a mudança de uma fase posi-
tiva, predominante desde a década de 1960 até meados dos anos 1970, para uma fase predominante-
mente negativa, vigente de meados da década de 1970 até meados da década de 1990. Trata-se de uma
possibilidade concreta, pois este modo está significativamente associado ao de variabilidade interdecenal
de TSM conhecido como OMA, cujas escalas de tempo de variação são longas.

Tal modo de TSM mostra variações semelhantes aos de precipitação no período em que ambos
se sobrepõem, ou seja, de 1950 a 2000, apresentando, predominantemente, uma fase positiva anterior
a meados da década de 1970 e outra, negativa, que se estende até meados da década de 1990 – ver
Parker et al., 2007. Essa associação é verificada ao se correlacionar o modo de precipitação, seja com
um índice OMA, baseado na TSM do Atlântico Norte, ou com a série temporal do modo de TSM OMA.
Em ambos os casos, a correlação é altamente significativa.

Figura 2.6 Primeiro modo de


variabilidade interdecenal da
precipitação anual, que explica
18,4% da variância: (painel esquerdo)
distribuição espacial das anomalias;
(painel direito) evolução temporal.
Fonte: Grimm e Saboia (2015).

34 VOLUME 1
Também seria possível ajustar tendências a alguns dos outros modos de variabilidade interdecenal
da precipitação anual durante o período que se estende de 1950 a 2000, mas não é possível afirmar tra-
tar-se, de fato, de tendências consistentes ou do produto de mudança de fase de oscilação natural entre
décadas durante esse período.

A próxima seção deste capítulo analisa as tendências possivelmente associadas à mudança climá-
tica antrópica.

Ao se levar em conta que a primavera e o verão austrais fazem parte da estação chuvosa na maior
parte do Brasil, é interessante conhecer as oscilações climáticas de longa duração em tais períodos e as
relações entre as mesmas.

O primeiro modo interdecenal de primavera, que explica 18,4% da variabilidade (Grimm e Sa-
boia, 2015), é semelhante ao primeiro interanual de primavera, representado na Figura 2.3 deste capítu-
lo. Isso deixa bem clara a modulação entre décadas à qual está submetido o impacto de ENOS (Kayano
e Andreoli, 2007). Este modo é mais fortemente conectado ao modo de TSM denominado Oscilação
Interdecenal do Pacífico (OIP, IPO em inglês, Parker et al., 2007). A OIP é associada à Oscilação Dece-
nal do Pacífico (ODP, PDO em inglês) apenas no Pacífico norte, possuindo outras características em nível
global.

Quando a OIP está em sua fase positiva, reforça (ou enfraquece) episódios El Niño (ou La Niña),
enquanto em sua fase negativa ocorre o oposto. Assim, nas últimas duas décadas anteriores a 2000,
quando a fase do modo OIP era positiva, houve aumento de precipitação da primavera no sudeste da
América do Sul – incluindo o Sul do Brasil. Ao mesmo tempo, no centro-leste do continente sul-america-
no, ocorreu redução de chuva.

O primeiro modo interdecenal de verão, que explica 17,9% da variabilidade (Grimm e Saboia,
2015), exibe igualmente um dipolo de oscilação entre o centro-leste e o sudeste da América do Sul. Sua
evolução temporal é muito similar àquela do primeiro modo da primavera. Contudo, o sinal das anoma-
lias é oposto, mostrando que a tendência à reversão entre essa estação do ano e o verão, demonstrada
em Grimm et al. (2007) e Grimm e Zilli (2009), ocorre também em escalas de tempo interdecenais e não
apenas interanuais.

O segundo modo de variabilidade interdecenal de verão, que explica 15,7% da variabilidade


(Grimm e Saboia, 2015), apresenta padrão semelhante ao primeiro modo de variabilidade da chuva total
anual, representado neste capítulo na Figura 2.6, acusando maior contribuição da variação das chuvas
de verão à variabilidade da chuva total anual.

Os principais modos de variabilidade interdecenal produziram forte variação climática na década


de 1970 devido à superposição de seus efeitos de mudança de fase. Portanto, análises de tendências em
séries relativamente curtas de parâmetros climáticos, que compreendem períodos posteriores ou anterio-
res, não podem ser consideradas provas de mudanças do clima. Mesmo nas séries de longa extensão
temporal, os resultados são extremamente dependentes do período analisado.

Assim, a grande maioria das tendências detectadas na precipitação do Brasil pode ser explicada
por mudanças de fase em oscilações interdecenais.

2.2.4 MODO DE MUDANÇA CLIMÁTICA?

É impossível afirmar que existe uma tendência consistente nos modos interdecenais de preci-
pitação para o período de 1950 a 2000, por ser este relativamente curto e, portanto, tal tendência
poder apenas ser efeito de mudança de fase em oscilação interdecenal. Contudo, quando se estuda a
variabilidade global da TSM, em um período de 100 anos ou mais, o primeiro modo de variabilidade

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 35


descreve tendência consistente de elevação quase global da TSM, acrescida de algumas oscilações
(Parker et al., 2007).

Cabe ressaltar, contudo, que as séries de TSM não são muito confiáveis nas primeiras décadas do
século XX, por se basearem em poucas observações (Rayner et al., 2003).

Quando a série temporal de variação do modo de tendência da TSM é correlacionada com séries
médias de precipitação de 1950 a 2000 em áreas de 2,5° × 2,5° na América do Sul, aparecem correla-
ções significativas em várias regiões do Brasil, como se indicassem também tendências de longo período
na precipitação, conforme retratado na Figura 2.7. Entretanto, como as séries de precipitação são mais
curtas do que as de TSM, só é possível correlacioná-las no período em que os dois tipos de dados se
sobrepõem, ou seja, ao longo da segunda metade do século XX.

Como nessas cinco décadas houve mudança de fase para uma importante oscilação interdecenal
de longo período, a OMA (ou terceiro modo de Parker et al., 2007), esta troca pode ter influenciado a
correlação mencionada. Na realidade, foi isto o que se deu, em boa parte pelo menos, pois as regiões
e o sinal de correlação significativa de precipitação sobre a América do Sul de 1950 a 2000 são muito
semelhantes, tanto com o modo de TSM de tendência (o primeiro modo de Parker et al., 2007) como com
o OMA (o terceiro modo de Parker et al., 2007). Embora a correlação com este último não seja mostrada
neste capítulo, ela é similar ao primeiro modo interdecenal de precipitação, representado na Figura 2.6.
As regiões em que estas correlações indicam aumento de precipitação são partes do Centro-Oeste, sul da
Amazônia e Sul do Brasil, além de outras áreas da baixa Bacia Hidrográfica dos rios Paraná e da Prata,
como o Nordeste da Argentina e Uruguai, conforme se observa na Figura 2.7.

Os padrões de correlação da Figura 2.7 são muito semelhantes aos padrões espaciais do pri-
meiro modo interdecenal de precipitação anual, representado na Figura 2.6. Este modo, por sua vez,
tem maior correlação justamente com o primeiro modo de TSM, indicador de tendência, mas também é
significativamente correlacionado com o terceiro – OMA –, cuja tendência é similar ao longo do período
de 1950 a 2000. Há também correlação com o modo ODP de TSM – não mostrada, mas revelada pela
correlação forte com a TSM no Pacífico Norte extratropical. Todos esses modos tiveram variações seme-
lhantes no período de 1950 a 2000, que explicam tais correlações. A mais forte, no entanto, é com o
primeiro modo.

Estes resultados concordam com estudos anteriores feitos sobre tendências e variações interdece-
nais na Amazônia. Por exemplo, Marengo (2004) apontou que em meados da década de 1970, o norte
dessa região passou a receber menos precipitação, enquanto sobre a sua porção sul a incidência de
chuvas aumentava, em consonância com a Figura 2.6. O autor atribuiu tais fatos a variações de TSM no
Oceano Pacífico, o que, por sua vez, concorda com o fato de que este modo esteja muito associado a
um modo de TSM com padrão igual ao do ODP. Também, o fato de Zeng et al. (2008) terem associado
a seca de 2005 no sul da Amazônia à TSM mais quente no Atlântico Tropical Norte corrobora a ideia de
que o modo exibido à Figura 2.6 deste capítulo esteja muito associado com o modo de TSM OMA.

36 VOLUME 1
Color sig.: cp1 Rot. and rainfall: Annual 1950 – 2000 - color

Figura 2.7 Coeficientes de correlação


, (isolinhas) entre o primeiro modo
, de variabilidade de TSM (modo de
, tendência) e a precipitação média
,
anual em áreas 2,5° × 2,5°, no
período de 1950 a 2000. Coeficientes
negativos indicam aumento de
,
precipitação e os positivos significam
, diminuição. As cores representam
, os níveis de significância tanto
para correlações positivas quanto
negativas.

Para verificar se as tendências associadas com o primeiro modo interdecenal de precipitação,


representado na Figura 2.6 deste capítulo (Grimm e Saboia, 2014), são devidas apenas à mudança de
fase da OMA ou se elas fazem parte de um comportamento consistente por período mais longo, seriam
necessárias:
i) séries mais longas de precipitação e
ii) consistência entre estas tendências e as mudanças de precipitação apontadas nessas regiões pelas
projeções de mudanças climáticas feitas por numerosos modelos – embora este último método seja alta-
mente incerto já que essas ferramentas não representam bem a variabilidade interdecenal e seus impactos
e não se sabe se refletem com precisão a mudança antrópica.

A recuperação de dados paleoclimáticos com alta resolução, como apontado no capítulo 5,


também pode ajudar a mostrar variações naturais do clima que poderiam ser erroneamente consideradas
antrópicas, tendo em vista que em eras passadas não havia influência humana sobre o clima.

O relatório IPCC-AR4 (2007) aponta que na parte baixa da Bacia Hidrográfica dos rios Paraná e
da Prata, a maioria dos modelos indica aumento de precipitação de verão (DJF) em um cenário de mu-
dança antrópicas, o que é coerente com os resultados acima.

Por outro lado, os modelos não apontam significativas mudanças na precipitação do Centro-
-Oeste do Brasil, conforme se observa na Figura 2.8 deste capítulo. Ao contrário, indicam até mesmo
diminuição. Esse comportamento distinto pode sugerir que as variações exibidas para esta região pelo
primeiro modo de precipitação, aqui visualizado na Figura 2.6, e as fortes correlações identificadas entre
precipitação nesta região e o modo de tendência de TSM, mostradas na Figura 2.7, não acusam efeito
de mudança do clima. Infelizmente, as séries de precipitação nesta região são muito curtas.

No Norte do Brasil, as anomalias de precipitação exibidas na Figura 2.6, assim como as correla-
ções positivas mostradas na Figura 2.7, ambas indicando tendência de diminuição de chuva entre 1950
e 2000, mostram coerência apenas parcial com a projeção de redução de precipitação feita para parte
dessa região durante os meses de verão, DJF, em um cenário de mudança climática. Contudo, também
nesta região, as séries são, de modo geral, curtas.

Estes aspectos são mais facilmente visíveis na Figura 2.8 deste capítulo, que mostra as mudanças
projetadas para a precipitação a partir de uma média ponderada dos resultados de 19 modelos usados
na elaboração do IPCC-AR4 (Nohara et al., 2006).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 37


Ao se comparar as figuras 2.6 e 2.7 com a 2.8, nota-se que algumas tendências observadas no
período de 1950 a 2000 são coerentes com as mudanças projetadas. Tal é o caso para o extremo su-
doeste da América do Sul, o norte do Nordeste e parte da Amazônia, áreas sobre as quais se prevê que
haverá redução de precipitação; assim como para o Norte da Argentina e o Uruguai, onde a projeção é
de aumento.

Porém, a tendência de maior incidência de chuvas indicada para o Centro-Oeste do Brasil, como
representado nas figuras 2.6 e 2.7, não é coerente com as mudanças projetadas para esta região na
Figura 2.8. Tampouco a diminuição de chuva projetada para o extremo norte da América do Sul encontra
correspondência nas figuras 2.6 e 2.7.

Uma indicação de que pelo menos na baixa Bacia Hidrográfica do Rio da Prata e pelo menos no
século XX há tendência crescente de precipitação é mostrada pela série de precipitação de verão numa
estação nesta região, conforme representado na Figura 2.9a deste capítulo. O padrão de correlação
desta série com TSM, exibido à Figura 2.9b, reproduz bem o primeiro modo de tendência de TSM (Parker
et al., 2007). Contudo, há tendência decrescente na precipitação desta estação nas últimas décadas do
século passado. Portanto, é necessária cautela na suposição de que a tendência crescente se manterá.

Figura 2.8 Mudança na


precipitação média anual
(mm dia-1) a partir de
uma média ponderada das
projeções de 19 modelos
usados no IPCC-AR4, para o
cenário A1B. A mudança foi
calculada entre os períodos
2081-2100 e 1981-2000.
Fonte: Adaptada de Nohara et
al. (2006)

Figura 2.9 (a) Série de


precipitação de verão
no século XX em estação
localizada na baixa Bacia
Hidrográfica dos rios
Paraná e da Prata (33,01S;
58,30W); (b) correlação
desta série com TSM.

38 VOLUME 1
2.3. OBSERVAÇÕES SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AMÉRICA DO SUL

As análises de variabilidade interdecenal e/ou mudanças climáticas no Brasil tem usado, em geral,
séries curtas de observações e com descontinuidades provocadas por vários motivos (vide seção 2.3.5). O
problema principal destas análises reside no fato de que as tendências, qualquer que seja a metodologia
utilizada, são muito sensíveis ao período utilizado, dando lugar a resultados geralmente não conclusivos
e com pouca confiabilidade de representar mudanças climáticas. Não é possível separar com confiança
as variações naturais das antrópicas na maioria dos resultados apresentados. Apesar das limitações, os
estudos apresentados nas próximas seções são úteis no sentido de apresentar variações observadas em
padrões de precipitação, temperatura e outras variáveis.

2.3.1. HIDROLOGIA: PRECIPITAÇÃO E VAZÕES

Nesta seção serão revistos vários estudos de mudanças climáticas realizados para o Brasil. Como
a variabilidade climática natural de chuvas e vazões associada à variabilidade climática natural em esca-
la global ou em certos oceanos é muito forte na América do Sul (e.g., Grimm, 2011; Grimm e Saboia,
2015), tais estudos podem revelar tendências que são devidas a fatias temporais desta variabilidade na-
tural, pois estes estudos são geralmente baseados em séries relativamente curtas.

Há alguns estudos identificando tendências climáticas na chuva e vazões da Amazônia (e.g., Chu
et al., 1994; Dias de Paiva e Clarke,1995; Marengo, 2004; Chen et al., 2003). Chu et al. (1994) mos-
traram um aumento sistemático da convecção sobre o norte da Amazônia desde 1975 até o início dos
anos 1990, que poderia indicar um aumento de chuva na região. Por outro lado, Dias de Paiva e Clarke
(1995), usando dados de 48 estações, das quais aproximadamente 1/3 começa no início da década de
1960 (e bem poucas antes disto) e 2/3 no início da década de 1970 (ou final da de 1960), mostram
tendência de aumento na parte central/leste da Amazônia e de diminuição na parte oeste/noroeste.
Marengo (2004), usando dados que têm mais confiabilidade no período 1950-1999, aponta tendências
negativas em toda a bacia e, a nível regional, tendência negativa no norte da Amazônia e positiva no
sul. O trabalho de Obregón e Nobre (2003) mostra que entre as décadas de 1950 a 1990 houve uma
diminuição significativa de precipitação no extremo noroeste da Amazônia, com a presença de variabili-
dade interdecenal muito conspícua. Análises de tendências climáticas para o período de 1965 a 2006,
efetuadas pelo Servicio Nacional de Meteorologia e Hidrologia del Perú (SENAMHI, 2010), mostram que
as precipitações anuais na região da selva (Amazônia) apresentam diminuição estatisticamente significa-
tiva, coerente com o mostrado no oeste da Amazônia. Já na região montanhosa, há predomínio de ten-
dência positiva, mas são escassos os valores estatisticamente significativos e as regiões sul, centro e norte
apresentam características regionais próprias. Com base em 18 longas séries de estações situadas ao
longo do Amazonas (1925–2007, com falhas), Satyamurty et al. (2009) concluíram que, na média destas
estações, não há tendência significativa e que, portanto, não se pode afirmar que a chuva na Amazônia
esteja sofrendo mudança significativa. Algumas estações mostram tendência positiva, outras mostram ten-
dência negativa, sendo a tendência na maioria delas não significativa e de forma alternada no espaço. É
interessante notar que a maioria destas estações está ao sul do Rio Amazonas e próxima do rio, portanto,
numa região de fracos componentes do primeiro modo interdecenal de chuva anual (Figura 2.6, Grimm
e Saboia, 2015). Contudo, entre as estações no oeste da bacia, a maioria apresenta tendência negativa,
e uma das séries mostradas como exemplo de tendência negativa (Benjamin Constant) mostra variação
interdecenal muito semelhante à deste primeiro modo (Figura 2.6), indicando que a tendência revelada
na realidade se deve à mudança de fase deste modo.

Embora haja algumas discrepâncias no conjunto de resultados acima descritos, devido a di-
ferentes períodos e diferentes conjuntos de dados analisados, a maioria deles concorda com as va-
riações do primeiro modo de variabilidade interdecenal apresentado na Figura 2.6. Este modo mos-
tra que há variações opostas de precipitação em regiões diferentes da Bacia Amazônica. Este modo,
como já citado anteriormente, é muito ligado com os modos AMO e PDO que, entre 1950 e 1990
apresentaram mudanças de fase que produziram a maioria das tendências acima detectadas:

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 39


positiva no sul da Amazônia e negativa no norte/noroeste e oeste da bacia. Contudo, é necessário res-
saltar que em épocas recentes, principalmente na última década, estes modos assumiram variação em
sentido oposto àquele da década de 1970 (não mostrada após 2000) e, portanto, a precipitação nestas
regiões pode sofrer tendências em sentido contrário na década mais recente. Isto já é visível, por exem-
plo, nas estações Benjamin Constant e Iauretê, no oeste do Amazonas (Satyamurty et al., 2009). As fortes
recentes secas em 2005 (e.g., Marengo et al., 2008) e 2010 (Marengo et al., 2011) no sul da Amazônia
podem ser indicações desta nova fase.

Algumas aparentes discrepâncias nas tendências são também visíveis no estudo de outros pa-
râmetros relacionados, como o transporte de umidade na Bacia Amazônica. Por exemplo, para Costa
e Foley (1999) houve redução no transporte de umidade no período 1979-96, enquanto para Curtis e
Hastenrath (1999) houve tendência positiva no período 1950-99.

O aumento de chuva no sul da Amazônia, concentrado principalmente entre 1970 e 1990,


estende-se ao Centro-Oeste, Sudeste e Norte da Argentina, conforme apresentado na Figura 2.6 e do-
cumentado em alguns outros estudos de tendências, citados a seguir. Contudo, estas tendências podem
ser muito diferentes, dependendo dos períodos estudados, das épocas do ano em que são analisadas e
dos dados utilizados. Por exemplo, enquanto a Figura 2.6 mostra que nesse período a chuva total anual
aumenta no sul da Amazônia, Brasil Central e Norte da Argentina, sem grande componente no Sul do
Brasil, Liebmann et al. (2004) encontraram uma grande tendência positiva no Sul do Brasil entre 1976
e 1999 para a precipitação de verão, com sinal contrário no sul da Amazônia e Centro-Leste do Brasil,
coerente com o 3º modo interdecenal de verão (não mostrado aqui). Neste período, encontraram tam-
bém tendência negativa no Norte da Argentina para o verão quando na realidade em período maior e
para totais anuais tal tendência é reconhecidamente positiva (e.g., Piovano et al., 2002). A tendência de
aumento da precipitação entre 1950-2000 no Sul do Brasil e outras partes da baixa Bacia do Paraná/
Prata, também notada por Haylock et al. (2006), principalmente entre os períodos anterior e posterior à
década de 1970, aparece em alguns outros modos interdecenais, especialmente no modo 4 da chuva
total anual (não mostrado). Nas estações meteorológicas do Rio Grande do Sul foi registrado aumento
na precipitação no período de 1913 a 2006. A década mais seca foi a de 1940 e a mais chuvosa nos
anos 1980 (Sansigolo e Kayano, 2010). Na Bacia do Rio Paraná-Prata foi observada tendência positiva
de precipitação desde os anos 1960, com um aumento maior nos meses de novembro a maio (Boulanger
et al., 2005).

Em outros países da América do Sul, há tendência positiva na precipitação do período 1960-


2000 no Equador e Noroeste do Peru, Paraguai, Uruguai e Nordeste da Argentina, e negativa no Sul do
Peru, Chile e Sudoeste da Argentina, de acordo com Haylock et al. (2006).

Na Região Sul do Brasil, o aumento das chuvas no período 1950-2000 pode também ser obser-
vado nos registros hidrológicos, como a vazão do Rio Iguaçu e do alto Paraná (Liebmann et al., 2004).
Tendências positivas neste período também foram observadas nas vazões dos Rios Paraguai, Uruguai
e Paraná, no seu trecho inferior, e no Rio Paraná, em Corrientes (Robertson e Mechoso, 1998). Foram
observados incrementos da chuva em partes da bacia do Paraná/Prata, de cerca de 6% para o período
de 1971 a 1990 em relação a 1930-1970 (Obregon e Nobre, 2003; Tucci e Braga, 2003). Milly et al.
(2005) também observaram aumento de vazão na Bacia do Paraná/Prata entre os períodos 1900-1970
e 1971-1998 (Figura 2.10). Essas variações de vazão são consistentes com o modo 1 de variabilidade
interdecenal de totais anuais (Figura 2.6) e com o modo 4 (não mostrado). É interessante notar que os
aumentos nas vazões geralmente são maiores que os aumentos na precipitação das bacias, o que tem
sido explicado pela mudança no uso do solo (Tucci e Clarke, 1998; Collischonn, 2001; Liebmann et al.,
2004). No Norte da Argentina, o aumento das chuvas produziu o aumento do nível da Laguna Mar Chi-
quita (Piovano et al., 2002) e a extensão da fronteira agrícola.

Em algumas bacias do Sudeste e Nordeste do Brasil, os registros do Rio Paraíba do Sul em Resen-
de, Guaratinguetá e Campos, e do Rio Parnaíba em Boa Esperança (Região Sudeste); e do São Francisco
em Juazeiro (Região Nordeste), apresentam tendências hidrológicas nas vazões e cotas que não são

40 VOLUME 1
consistentes com redução ou aumento na chuva nas bacias, indicando que é pouco provável que o clima
esteja mudando significativamente nestas regiões (Marengo et al., 1998; Marengo e Alves, 2005). Isto é
coerente com o modo 1 da Figura 2.6, no qual não há fortes componentes nesta região, e com o cam-
po de correlações na Figura 2.7. No caso do Rio Paraíba do Sul (Marengo e Alves, 2005), as vazões e
cotas apresentam uma tendência negativa sistemática desde 1920 e a chuva durante a estação chuvosa
(DJF) no vale do Paraíba do Sul, não apresenta tendência negativa que poderia explicar as reduções nas
vazões. Assim, é possível que as variações observadas sejam provocadas pelo gerenciamento regional da
água e causas relacionadas à atividade humana.

Figura 2.10 Variação percentual de


vazões entre os períodos de 1900 a
1970 e de 1971 a 1998.
Fonte: Milly et al. (2005).

O primeiro modo interdecenal de totais anuais de precipitação (Figura 2.6) não mostra fortes
componentes no Nordeste do Brasil. Contudo, o segundo modo (não mostrado) revela que naquela
região há forte variabilidade decenal, com períodos em torno de 12 anos e maiores, associada principal-
mente com a variabilidade do Atlântico (Grimm e Saboia, 2015), mas sem clara tendência no período
1950-2000, podendo esta assumir diferentes sinais de acordo com o período analisado. Um exemplo
desta dependência das tendências em relação ao período analisado pode ser achado na comparação de
diferentes estudos: enquanto Santos e Brito (2007) detectaram tendência positiva no Rio Grande do Norte
e Paraíba no período 1935-2000, Lacerda et al. (2009) identificaram tendência negativa em Pernambuco
no período 1965-2004. A inspeção do modo de variabilidade interdecenal com mais fortes componentes
no Nordeste do Brasil no período 1900-1993 (figura não mostrada, ver Grimm e Saboia, 2013) revela
que realmente as tendências da chuva no Nordeste nestes dois períodos são opostas e que no longo pra-
zo pode não haver tendência.

Os principais aspectos descritos acima estão consistentes com as tendências calculadas para o
período 1951-2000 por Obregon e Marengo (2007) e apresentadas na Figura 2.11: tendências negati-
vas no norte e oeste da Amazônia, positivas no sul da Amazônia, positivas no Centro-Oeste e Sul do Bra-
sil, ausência de tendência no Nordeste. Contudo, conforme já alertado, tais tendências podem dever-se à
mudança de fase de modo de variabilidade interdecenal no período analisado. As Figuras 2.12a-d mos-
tram as tendências da precipitação total sazonal. As estações de verão (DJF) e outono (MAM) apresentam
padrões similares ao da tendência anual, com valores que variam de acordo com a estação chuvosa de
cada região. Nas outras estações, a distribuição é relativamente diferente e a intensidade das tendências é
menor. Ressalta-se que no extremo noroeste da Amazônia e na Região Sul as tendências seguem padrões
similares que ao do total anual. Já no Centro-Leste do Brasil (MG, BA, ES) as tendências na primavera e
verão são opostas na maioria das estações, o que é consistente com a relação entre os primeiros modos
interdecenais de primavera e verão, descrita na Seção 2.2.3 e mostrada em Grimm e Saboia (2015).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 41


Figura 2.11 Tendência da precipitação
total anual no período1951-2000
(mm/ década). Círculos com
contornos grossos indicam
significância estatística do Teste
Mann-Kendal ao nível de significância
de 0.05.
Fonte: Obregón e Marengo, 2007.

Figura 2.12 Tendência da precipitação


total sazonal (de 1951 a 2000) em
mm década-1.
Fonte: Obregón e Marengo (2007).

42 VOLUME 1
2.3.2 TEMPERATURA

A América do Sul possui a maior parte do seu território localizado em áreas tropicais e subtropi-
cais. Mudanças sazonais em padrões de temperatura em regiões tropicais são primariamente controladas
por alterações da massa de ar dominante que induz variações em nebulosidade e consequentes mu-
danças nos balanços de energia (e.g., McGregor e Nieuwolt, 1998), enquanto nas regiões subtropicais
estas mudanças são devidas principalmente à passagem de ciclones extratropicais (frentes frias), que não
apenas provocam mudança de nebulosidade, mas também a alteração da massa de ar dominante (de
tropical para polar). Mudanças na cobertura do solo também contribuem para variações regionais de
temperatura. Por exemplo, alterações das vegetações nativas por agricultura ou pastagem alteram a eva-
potranspiração e o albedo, influenciando diretamente o clima (Sampaio et al., 2007). Mudanças no uso
da terra frequentemente alteram a emissão de gases de efeito estufa que levam a mudanças climáticas
e indiretamente influenciam a temperatura local (Bonan, 2008; Macedo et al., 2008; Searchinger et al.,
2008; Giorgescu et al., 2009, 2011; Loarie et al., 2011). A queima de biomassa vegetal e consequente
emissão de aerossóis podem ter um efeito significativo na temperatura da superfície devido à absorção
e reflexão da radiação solar pelos aerossóis e pela aumentada cobertura de nuvens induzida por eles,
conforme foi demonstrado por Davidi et al. (2009) para a estação seca na Amazônia.

A avaliação acurada de tendências de temperatura na América do Sul em escala decenal a mul-


ti-decenal está bastante limitada pela disponibilidade de dados e sua distribuição espacial não homogê-
nea. Além disso, o controle de qualidade de dados e os métodos de medidas aumentam as incertezas nas
avaliações de tendências. Estas limitações são ainda mais críticas em regiões tropicais como a Amazônia
e o Pantanal Matogrossense, onde a escassez de dados é um problema que persiste até hoje (e.g., Vincent
et al., 2005). Devido a estas limitações, existem relativamente poucas publicações com dados históricos
sobre mudanças de temperatura, incluindo extremos, na América do Sul.

Tendências nas temperaturas médias, desvios-padrão, e extremos foram avaliadas para o verão
(dezembro-fevereiro) e inverno (junho-agosto) entre 1959-98 sobre a Argentina (Rusticucci e Barrucand,
2004). Os autores mostraram uma tendência negativa no número de noites frias e dias quentes, enquanto
que o número de noites quentes e dias frios aumentou em várias localidades, sobretudo durante o verão.
Quintana-Gomez (1999) analisou tendências de temperatura na Venezuela e na Colômbia entre 1918-
1990 e mostrou evidência de que houve um aumento sistemático das temperaturas mínimas e decréscimo
na amplitude do ciclo diurno com uma taxa acelerada, particularmente nos últimos 25 anos da análise.

Sobre o Brasil, vários estudos foram feitos para diferentes regiões. Para a Amazônia, Marengo
(2003) encontrou uma tendência de aquecimento de 0,85 ºC (em 100 anos) estimada até 2002. Maren-
go e Camargo (2008) investigaram tendências na temperatura mínima e máxima e na amplitude térmica
diurna e derivaram índices para temperaturas extremas entre 1960-2000 nos estados do Sul do Brasil
(Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Verificaram que a maior parte das estações meteorológicas
mostra um acentuado aumento nas temperaturas noturnas (inferidas pelas temperaturas mínimas) compa-
rativamente a um ligeiro aumento das temperaturas diurnas (inferidas pelas temperaturas máximas) duran-
te todo o ano. Como consequência, tem havido um decréscimo na amplitude térmica diurna no período
analisado. As tendências de aquecimento foram mais fortes no inverno comparativamente com o verão.
Marengo e Camargo (2008) também chamam atenção ao fato de que a frequência maior de eventos
El Niño durante os últimos 20 anos da análise (i.e., 1982-2002) comparativamente ao período anterior
(1960-1980) poderia ter exercido um papel não desprezível na ocorrência de temperaturas mais altas e
na tendência de extremos no Sul do Brasil. Foram usados índices de temperaturas extremas usando limites
pré-determinados de temperaturas máximas e mínimas, com a finalidade de detectar dias frios e quen-
tes. O estudo mostrou que a frequência de dias considerados quentes, segundo estes índices, aumentou
durante o verão e inverno, especialmente durante as duas últimas décadas da análise. As tendências po-
sitivas observadas nas temperaturas mínimas e nos dias mais quentes durante o inverno ocorreram mes-
mo durante anos em que se observaram eventos extremos frios (ou friagens), como 1975, 1994, 2000.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 43


Em um estudo mais abrangente, Vincent et al. (2005) examinaram tendências em diversos índices
de temperatura entre 1960-2000. Nesse estudo, foram utilizados dados disponíveis de temperatura obti-
dos de estações sobre a América do Sul, após serem submetidos a um forte controle de qualidade, tendo
sido utilizados dados de temperatura diária de 68 estações. Esses resultados indicaram que não existem
mudanças consistentes nos índices que estão baseados em temperaturas máximas diárias, enquanto ten-
dências significativas foram encontradas nos índices baseados em temperaturas mínimas diárias. Con-
cluíram ainda que há tendência significativa de aumento na porcentagem das noites quentes e tendência
de diminuição na porcentagem das noites frias em grande parte das estações, sobretudo no verão (DJF)
e outono (MAM). O aumento de temperatura noturna resulta em uma diminuição da amplitude diurna
da temperatura. Uma observação relevante é que as estações com tendências significativas estão locali-
zadas, na sua maioria, próximas às costas oeste e leste da América do Sul, o que sugere a importância
de compreender relações entre esses aumentos e mudanças na temperatura da superfície do mar (TSM).
Fenômenos como El Niño/Oscilação Sul (ENOS) têm um papel crítico para o controle de nebulosidade
e temperatura, com sinal significativo no Sul do Brasil e Argentina (Barros et al., 2002; Rusticucci et al.,
2003). Estudos numéricos têm mostrado a importância do Atlântico no controle da precipitação e cir-
culação da América do Sul (e.g, Robertson et al., 2003). Porém, estudos observacionais necessitam ser
ampliados para compreender as implicações das anomalias globais de TSM na temperatura da superfície
sobre o continente. É importante destacar que Vincent et al. (2005) não analisaram estações sobre os
países do norte da América do Sul (Venezuela, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana e Suriname). Além
disso, há uma grande escassez de estações em uma grande extensão da área tropical brasileira, a qual
inclui a Amazônia, o Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.

Mais recentemente, Obregon e Marengo (2007) apresentaram uma análise observacional das
tendências da temperatura em 25 localidades Brasileiras durante o período 1961-2000 (Figura 2.13),
apontando para uma predominância de aumento das temperaturas médias, máximas e mínimas, tanto
para valores anuais como sazonais, com alguns casos de tendências negativas. A máxima tendência ob-
servada das temperaturas médias anuais foi de 0,6 ºC/década, numa localidade do Nordeste. Para as
temperaturas máximas anuais, a máxima tendência observada foi de 0,6 ºC/década, enquanto para as
temperaturas mínimas anuais foi de 1,4 ºC/década. Por outro lado, Salati et al. (2007) fizeram uma aná-
lise de diferenças de temperaturas médias, máximas e mínimas anuais, entre 1991-2004 e 1961-1990
para diferentes regiões do Brasil. As diferenças foram positivas, variando de 1,5°C, para a temperatura
mínima na Região Norte, a 0,3°C, para a temperatura máxima da Região Sul.

44 VOLUME 1
Figura 2.13 Tendência para o período de 1961 a 2000
da temperatura do ar média anual (painel superior),
máxima média anual (painel central) e mínima
média anual (painel inferior), em ° C por década.
Círculos com contornos grossos indicam significância
estatística na análise não paramétrica do Teste Mann-
Kendal no nível de significância de 0,05.
Fonte: Obregón e Marengo (2007).

De acordo com o estudo de Obregon e Marengo (2007), a distribuição das tendências da tem-
peratura média anual mostra valores negativos em duas estações sobre a parte norte da Amazônia e
em uma no extremo leste de Minas Gerais, com valores significativos de até -0,4 ºC/década. Em outras
estações (oeste da Amazônia, Nordeste e Centro do Brasil), os valores são positivos e significativos, entre
+0,3 ºC/década e +0,4 ºC/década (~1,2 a 1,6 ºC em 40 anos), na maioria dos casos. O valor extremo
positivo é observado em Pesqueira (Nordeste) com valor aproximado de +0,6 ºC/década (Figura 2.13,
painel superior). Sobre a maior parte das estações observa-se um incremento da temperatura máxima
média anual (Figura 2.13, centro), com valores até de 0,6 ºC/década (~2,5 ºC/40 anos), que são sig-
nificativos estatisticamente, com exceção da Região Sul. Também se observam pontos isolados sobre a
Amazônia e sobre o Sudeste com valores negativos significativos em torno de -0,2 ºC/década a -0,3 ºC/
década (entre -0,8 a -1,2 ºC/40 anos). Valores positivos de tendências da temperatura mínima média
anual (Figura 2.13, painel inferior) são observados sobre todas as estações analisadas. Os valores máxi-
mos são observados sobre o estado de Tocantins com valor de +1,4 ºC/década. Valores não significati-
vos são observados somente sobre parte do extremo noroeste da Amazônia, Rio de Janeiro e leste do Rio
Grande do Sul.

A Amazônia, o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil estão sob influência do sistema de monções da


América do Sul (SMAS) (e.g, Marengo et al., 2010b). Variações na nebulosidade e precipitação associa-
das com variações e mudanças no SMAS podem ter um papel na temperatura que é desconhecido. Além
disso, durante a estação seca, o aumento de aerossóis de queimadas pode resultar em um resfriamento
próximo à superfície (1000 hPa) devido a efeitos radiativos mas um aquecimento em 850 hPa (no topo
da camada limite) devido ao efeito de absorção (Davidi et al., 2009). Mudanças de uso da terra podem
resultar em alterações importantes na temperatura. Por exemplo, Loarie et al. (2011) desenvolveram um
estudo observacional para diagnosticar o efeito da plantação de cana-de-açúcar no clima regional. Nes-
se estudo, foi mostrado que em condições de céu claro e durante o dia, a conversão de vegetação natural
de cerrado para uma mistura de agricultura e pasto aquece o cerrado em média 1,55 ºC (variação entre
1,45-1,65 ºC). Uma subsequente conversão para cana-de-açúcar esfria a região em uma média de 0,93
ºC (variação entre 0,78-1,07 ºC), resultando em um aumento líquido de aproximadamente 0,6 ºC. Es-
tes efeitos combinados de modificação do uso da terra e queima de biomassa podem contribuir para a
existência de padrões espaço-temporais complexos nas tendências das temperaturas e seus extremos em
regiões tropicais.

Os efeitos da mudança de uso da terra sobre a temperatura são especialmente fortes em centros
urbanos, que são as paisagens mais alteradas em relação aos ecossistemas e processos naturais. A ele-
vação das temperaturas em grandes cidades é geralmente explicada em termos dos processos básicos
de balanço de energia na superfície, como trocas de radiação de onda curta e de onda longa e fluxos
de calor sensível e calor latente (Blake et al., 2011). Em relação à radiação de onda curta (ou radiação
solar), o albedo (ou refletividade) das cidades é muito menor que as superfícies naturais, devido às dife-
rentes coberturas (por ex., asfalto escuro, coberturas de edifícios, etc.) e aprisionamento de radiação nos
“canyons” urbanos. Isto produz eficiente absorção de radiação de onda curta. Os profundos “canyons”

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 45


urbanos resultam em reduzida visão do céu ao nível das ruas, dificultando processos radiativos de res-
friamento por radiação de onda longa. Além disso, a geometria urbana vertical impacta os ventos, geral-
mente reduzindo ventilação e resfriamento por calor sensível. A substituição de solo e vegetação natural
por superfícies impermeáveis leva à redução da evapotranspiração e do resfriamento por calor latente. As
densas superfícies impermeáveis com alta capacidade calorífica criam significativas mudanças no tempo
de armazenamento e liberação de calor, se comparado às superfícies de solo e vegetação naturais. A alta
densidade populacional e atividade econômica em áreas urbanas produzem intensa liberação de calor
antrópico em pequenas escalas espaciais (sistemas de aquecimento e refrigeração, meios de transporte,
uso de energia residencial e comercial). A emissão de calor antrópico tem sido bem documentada e
pesquisada em países desenvolvidos como um fator importante causando o fenômeno de ilha de calor
urbana (Ohashi et al., 2007). Blake et al. (2011) analisaram dados climáticos de longo período para 12
grandes cidades sobre o globo. Destas, 10 apresentaram tendências de aquecimento, sendo que em 7
delas esta tendência é significativa. No século passado, entre todas elas, a maior tendência de aqueci-
mento ocorreu em São Paulo (+0,27 ºC/década). O aquecimento de São Paulo foi maior no inverno do
que no verão. Além da tendência positiva de temperatura devida à “ilha de calor urbana”, a temperatura
de São Paulo também mostra os efeitos da variabilidade climática natural interanual e interdecadal (Pe-
reira Filho et al., 2007).

Apesar de alguns estudos indicarem que há discrepâncias entre dados observados e dados de
reanálises do National Centers for Environmental Predictions/National Center for Atmospheric Research
NCEP/NCAR (Kalnay et al., 1996), devido a diversas razões, como mudanças nos sistemas de observa-
ções, problemas do modelo em representar bem a topografia real, processos de convecção e precipita-
ção, processos de superfície, etc. (Rusticucci e Kousky, 2002; Kalnay e Cai, 2003; Cai e Kalnay, 2005;
Nuñez et al., 2008), o uso de dados de reanálise permite estudos espacialmente mais abrangentes, com
dados homogeneamente distribuídos. Por exemplo, Collins et al. (2009) investigaram a variação da tem-
peratura do ar a 2 m da superfície na América do Sul, usando dados dessa reanálise, entre 1948 e 2007.
No verão austral (DJF), a maior parte do continente tem temperatura entre 21 ºC e 24 ºC durante 1948-
1975, mas para 1976-2007 a temperatura média está acima de 24 ºC. No inverno (JJA), a temperatura
cresceu na região tropical (20°S-10°N, 80°-35°W) no período mais recente, indicando que o Nordeste
e o Centro do Brasil estão mais quentes. Nos últimos 7 anos (2001-2007) houve maior aquecimento na
região tropical do continente, especialmente no Nordeste e sobre o Atlântico Norte, em comparação a
períodos anteriores, e resfriamento é observado em parte da região subtropical (60°-20°S, 75°-50°W)
(Figura 2.14). Os resultados indicam que as variações de temperatura não são predominantemente pro-
duzidas por ENOS, mas por outra variabilidade natural (como a oscilação interdecenal PDO/IPO) e/ou
pode ser antrópica.

Figura 2.14 Evolução da temperatura


média anual dois metros acima da
superfície no período de 1948 a
2007, em todo o globo terrestre e
no continente sul-americano (painéis
superiores) e nas partes tropical (TSA:
20°S-10°N; 80°-35°W) e subtropical
(SSA: 60°-20°S; 75°-50°W) da
América do Sul (painéis inferiores).
Fonte: Collins et al. (2009).

46 VOLUME 1
Em estudo recente, Carvalho et al. (2012) também utilizaram dados da reanálise NCEP/NCAR
para investigar mudanças no sistema de monções da América do Sul e examinaram o aquecimento de
baixos níveis (850 hPa). Foram utilizados dados médios em 5 dias no período que se estende entre 1948-
2009 e com resolução espacial de 2,5º latitude por 2,5º longitude. O nível de 850 hPa foi escolhido por
se tratar de um nível próximo à superfície (em torno de 1460 m de altitude), mas que se encontra acima
da topografia média sobre áreas tropicais da América do Sul (com exceção dos Andes). Esse estudo exa-
minou a variação interanual das áreas com T≥ 18 ºC e T≤ 15 ºC. Temperaturas maiores ou iguais a 18
ºC em 850 hPa são observadas sobre áreas continentais durante todo o ano. Portanto, o monitoramento
de áreas com T≥ 18 ºC pode ser utilizado como uma aproximação para inferir o aquecimento em baixos
níveis sobre áreas de terra, em contraste com áreas oceânicas. Por outro lado, temperaturas inferiores a
15 ºC em 850 hPa são observadas em latitudes subtropicais e sobre os oceanos. Portanto, o monitora-
mento da evolução de áreas com este limiar representa o efeito de aquecimento ou resfriamento sobre os
oceanos. A Figura 2.15 mostra a evolução dos limiares T=18 ºC e T=15 ºC a cada 5 anos, iniciando em
1948 para os meses de outubro (Figura 2.15a,b), novembro (Figura 2.15c,d), dezembro (Figura 2.15e,f)
e janeiro (Figura 2.15g,h). Em meses de inverno (maio-julho) áreas com T≥18 ºC migram para a América
do Norte acompanhando o ciclo sazonal solar, retornando para a América do Sul em agosto. Os resul-
tados destes estudos evidenciam que o aquecimento em baixos níveis da atmosfera durante o verão tem
se expandido muito mais em direção ao equador e Leste do Brasil nos últimos 60 anos do queem direção
aos subtrópicos e extratrópicos. Esta expansão está, em grande parte, relacionada com a maior extensão
geográfica da América do Sul em latitudes tropicais. A diminuição das áreas com T=18 ºC sobre o con-
tinente em DJF comparativamente a outubro e novembro (Figura 2.16) deve-se ao papel do aumento de
nebulosidade e diminuição da radiação solar direta no pico da monção de verão sobre a temperatura em
baixos níveis. Carvalho et al. (2012) mostraram que o aumento de temperatura não é uniforme sobre as
áreas tropicais. Existem evidências que o aquecimento está sendo mais pronunciado sobre Goiás e To-
cantins na última década (i.e, entre 2000-2009), comparativamente com períodos anteriores. A migração
da isoterma T=15 ºC em direção às mais altas latitudes sobre o Atlântico Tropical (Figura 2.15b,d,f) está
provavelmente associada com a tendência de aumento de TSM nesta região do Atlântico em décadas re-
centes (e.g, Seager et al., 2010). Estas mudanças na temperatura dos baixos níveis têm papel importante
para os contrastes-oceano atmosfera e para o desenvolvimento e manutenção do sistema de monções.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 47


Figura 2.15 Evolução média da isoterma
T=18oC (coluna da esquerda) e
T=15oC (coluna da direita) em
850hPa para outubro (a,b), novembro
(c,d), dezembro (e,f), janeiro (g,h). As
cores representam períodos distintos.
Os intervalos a cada 5 anos estão
indicados na própria figura.
Fonte: Adaptada de Carvalho et al.
(2012).

48 VOLUME 1
A Figura 2.16 mostra a evolução temporal das áreas com temperaturas maiores que 18 ºC que
interceptam a América do Sul em setembro, outubro e novembro (adaptado de Carvalho et al., 2012)
com respectivas tendências lineares (todas significativas ao nível de 5%). Mudanças de regime da média
(shifts) foram testadas para as séries temporais mostradas na Figura 2.16, de acordo com o método des-
crito em Rodionov (2004). Este método está baseado em um processamento sequencial de dados pelo
qual são testadas diferenças na média entre dois segmentos de dados de comprimento L. Diferentes va-
lores de L foram utilizados. Mostra-se que para 8≤ L ≤10 existe uma mudança de regime para as áreas
com T≥18 ºC em novembro entre 1976 e 1977. Para o mês de setembro, a mudança de regime ocorre
em 1997 e em outubro existe uma mudança de regime em 2001. Um grande número de estudos tem
discutido a ocorrência de mudança rápida (shift) no clima global em meados e fim dos anos 70 (Zhang
et al., 1998; Deser et al., 2004; Deser e Phillips, 2006; Kayano et al., 2009). Existem fortes evidências
de que a transição do clima nos anos 70 esteve associada com mudanças na TSM dos oceanos Pacífico
e Indico, e existe evidência substancial de que estes oceanos têm sofrido aquecimento desde 1977 com
impactos globais. Mais estudos precisam ser feitos para compreender as mudanças de regime observadas
nas áreas com T≥ 18 ºC no final dos anos 90 e início dos anos 2000, assim como a influência da varia-
bilidade climática interdecenal sobre a temperatura na América do Sul.

Septiembre
Área 18 C 850hPa (km2)
Octubre

Noviembre

Área Septiembre = 12273x - 2E+08


R2 = 0,302

Área Octubre= 14475T - 3E + 08


R2 = 0,458
Figura 2.16. Evolução temporal da área
com temperaturas ≥ 18 oC em 850
hPa na América do Sul de1948 a
2009. Tendências lineares estão
Área Noviembre = 12251T – 12251T-2E+08 indicadas na figura.
R2 = 0,498
Fonte: Adaptada de Carvalho et al.,
(2012).

2.3.3. EVENTOS EXTREMOS

Eventos extremos de precipitação são relacionados com inundações, enchentes, deslizamento de


morros, que causam destruição em cidades e lavouras, perdas de vidas, afetando vários setores da socie-
dade. Em uma escala de tempo maior (mensal ou sazonal), as secas ou excesso de precipitação também
afetam a sociedade e a economia do país, pelas perdas agrícolas ou pela redução de recursos hídricos
que influi na geração de energia. Casos de intensas incursões de ar frio, que causam geadas e afetam a
agricultura, assim como ondas de calor que são prejudiciais à saúde, são eventos extremos relacionados
com temperatura. Casos de enchentes, deslizamentos e secas tem ocorrido com maior frequência em
várias regiões do Brasil (Marengo et al., 2010a). A frequência e a intensidade de eventos extremos são
afetadas pela variabilidade natural climática (e.g., Grimm e Tedeschi, 2009; Tedeschi et al., 2014), mas
poderia também ser afetada por mudanças climáticas em um sistema terrestre global modificado pela
ação de gases antrópicos (Trenberth et al., 2003).

2.3.3.1 EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO

As Regiões Sul e Sudeste do Brasil são altamente vulneráveis com relação a eventos extremos de
precipitação, devido à alta concentração demográfica e por estarem sujeitas à ação de sistemas meteoro-
lógicos que podem causar intensa precipitação. A ocorrência de secas nessas regiões também é um fator

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 49


importante, considerando que a maior usina hidrelétrica do país, Itaipu, se encontra na Região Sul. Secas
recorrentes no Nordeste do Brasil afetam constantemente a subsistência nessa região; por outro lado,
casos de precipitações excessivas em alguns anos provocam alagamentos e destruição. A Região Ama-
zônica tem experimentado situações de secas prolongadas na primeira década do século XXI (Marengo
et al., 2008), as quais têm um impacto grande na vazão dos rios, prejudicando o sistema de transporte
fluvial, altamente necessário na região.

Os casos de precipitação intensa no Sudeste do Brasil tem sido relacionados com a ação de siste-
mas sinóticos, como sistemas frontais (Lima et al., 2009; Vasconcellos e Cavalcanti, 2010a) e a Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (Carvalho et al., 2002; Lima et al., 2009). No Estado de São Paulo,
onde tem ocorrido muitos casos de enchentes, alagamentos e deslizamentos de encostas, a maioria dos
casos extremos de precipitação é registrada de outubro a março (Liebmann et al., 2001). É nessa época
que há ocorrência da ZCAS, a qual pode permanecer por vários dias sobre o Sudeste do Brasil. A maioria
dos eventos extremos diários nesse estado foi associada com intensa ZCAS em Carvalho et al. (2002).
Na Região Sudeste do Brasil, 53% dos eventos extremos no período de novembro a março ocorreu na
presença de frentes frias e 47% foi associado à ZCAS (Lima et al., 2009).

A influência do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) na precipitação do Brasil é bem conhecida, com


excesso de precipitação na Região Sul e secas na Região Nordeste em El Niño e oposto em anos La Niña
(Kousky et al., 1984; Grimm, 2003, 2004). A influência do ENOS também é notada com relação aos
eventos extremos de precipitação, como mostrado em Grimm e Tedeschi (2009) para cada mês dentro
do ciclo ENOS. Em novembro do ano em que o El Niño se inicia, há registro de mais casos extremos de
precipitação no Sul do Brasil e menos casos na Região Centro-Leste (que inclui a maior parte do Sudeste).
Em janeiro esse padrão se inverte, propiciando mais casos na Região Centro-Leste. O mesmo ocorre nos
casos de La Niña, mas com sinais opostos. Alta correlação de casos extremos de precipitação no estado
de São Paulo com a TSM do Oceano Pacífico Central e Leste foi encontrada também por Liebmann et al.
(2001) durante o período de outubro a março.

Outros casos de precipitação extrema ocorrem em anos neutros com relação ao ENOS, e podem
ser associados a outras forçantes, como variabilidade intrasazonal, teleconexões, intensificação de siste-
mas sinóticos, situações de bloqueio, ou sistemas de mesoescala. Alguns exemplos: a seca nas regiões
Central e Sudeste do Brasil, em 2000/2001 (Cavalcanti e Kousky, 2004), a qual provocou uma crise ener-
gética no Brasil; a intensa precipitação na Bacia do Prata em 2001/2002 e 2002/2003 (Silva e Berbery,
2006), e a seca prolongada na Amazônia em 2005 (Marengo et al., 2008). Outro caso recente de seca
na Amazônia foi registrado em 2010 (Marengo et al., 2011). O evento Catarina, considerado um sistema
híbrido tropical-extratropical, estudado por Pezza e Simmonds (2005), embora não tenha causado intensa
precipitação, foi acompanhado por ventos intensos que causaram sérios prejuízos na região afetada.

Fatores locais, como a topografia e a proximidade da costa, intensificam a precipitação nas áreas
costeiras, o que influi nos extremos dessas regiões, principalmente sob a ação de sistemas sinóticos. Ca-
sos extremos na Serra do Mar no verão de 1983 e no outono de 2005, associados a sistemas convectivos
embebidos em sistemas frontais, tiveram contribuição da topografia e da brisa marítima (Vasconcellos e
Cavalcanti, 2010a). Teleconexões e modos de variabilidade no Hemisfério Sul têm influência na precipi-
tação sobre o Brasil. O modo anular do Hemisfério Sul ou Oscilação Antártica e o padrão Pacific-South
America (PSA) foram identificados como padrões dominantes em casos extremos de verões chuvosos e
secos no sudeste do Brasil, quando também ocorreu o dipolo de precipitação entre o Sudeste do Brasil
e Argentina (Vasconcellos e Cavalcanti, 2010b). Alterações produzidas na superfície em grandes centros
urbanos podem também alterar padrões de precipitação, embora o impacto de centros urbanos sobre a
precipitação não seja tão bem estabelecido como o impacto sobre a temperatura (Blake et al., 2011). Em
São Paulo, a ocorrência de eventos extremos de precipitação mostra tendência positiva entre 1933-2010
(Silva Dias et al., 2012). Durante a estação seca, índices climáticos de grande escala e as anomalias de
TSM regionais explicam grande parte da tendência e variabilidade observadas, mas, na estação chuvosa,
tal percentual cai. Os autores sugerem que outro possível mecanismo influindo na ocorrência crescente
de eventos extremos de precipitação na estação chuvosa é a presença da área urbana com seus efeitos

50 VOLUME 1
de “ilha de calor” e de poluição. Pereira Filho et al. (2007) concluem que de 1936 a 2005 a precipitação
média diária mensal aumentou significativamente em São Paulo, principalmente no período chuvoso.

Alguns índices têm sido usados para análises de extremos de precipitação (Haylock et al., 2006),
como R95t (fração da precipitação total anual devida a dias com precipitação que excedem o percentil
95), R10 (número de dias com precipitação ≥ 10 mm), CDD (número de dias consecutivos sem chuva),
SPI (anomalias de precipitação normalizadas pelo desvio padrão). Observações em estações de superfície
de 1960 a 2000 mostram que houve tendência positiva em casos extremos de precipitação no Sul e Su-
deste do Brasil, enquanto no Nordeste do Brasil, a tendência foi negativa (Haylock et al., 2006). Tendên-
cias positivas no número de casos no Sul e Sudeste do Brasil também foram registradas por Marengo et
al. (2010a), Penalba e Robledo (2010), Rusticucci et al. (2010). Contudo, Lacerda et al. (2010) mostram
que na década de 2000 ocorreram recordes históricos de totais diários de chuva no estado de Pernam-
buco, especificamente nas bacias hidrográficas do Una e do Mundaú. Estudos realizados para o período
1965-2005 por Lacerda et al. (2009) na microrregião do Pajeú no Sertão de Pernambuco mostraram
que há aumento dos dias secos, da duração média dos veranicos e dos máximos veranicos. Os veranicos
são definidos como um número de dias consecutivos sem chuva, considerando todos os valores da série
menores ou iguais a 5 mm. Santos e Brito (2007) usaram índices de extremos climáticos propostos pelo
IPCC-AR4 para diagnosticar o aumento do número de dias com chuva e número de dias muito úmidos
e aumento das chuvas superiores a 50 mm nos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, utilizando
série histórica com 65 anos de dados observacionais. Essas tendências devem ser alvo de investigação
mais profunda e detalhada, pois podem estar associadas a variações das anomalias de TSM nos oceanos
Atlântico e Pacífico tropical, que podem explicar grande parte da variabilidade climática observada na Re-
gião Nordeste. Santos e Brito (2007) demonstraram que há forte correlação dos dias consecutivos secos
com a dinâmica da vegetação do bioma Caatinga, que é mais influenciada pela ocorrência de extremos
de precipitação e de veranicos do que a dinâmica da vegetação típica do setor leste do Nordeste, que é
composto, predominantemente, pela Mata Atlântica. Silva e Azevedo (2008) mostraram para o município
de Irecê, na Bahia, que houve diminuição no total anual de precipitação e aumento na intensidade das
chuvas maiores que 20 mm, no período 1970-2006. Ressalta-se que os estudos citados acima, utiliza-
ram o método proposto por Frich et al. (2002), para obtenção dos índices climáticos extremos, e que
esta mesma metodologia foi utilizada para elaboração dos índices citados no relatório do IPCC-AR4. O
aumento de casos extremos no Sul e Sudeste e diminuição no Nordeste em cada década no período de
1951 a 2003 foi mostrado em Alexander et al. (2006). Contudo, Blain e Kayano (2011) não acharam
significativas tendências climáticas nas séries mensais do Índice Padronizado de Precipitação de Campinas
(SP) no longo período 1890-2007. Períodos de seca, indicados pelo índice CDD (dias consecutivos sem
chuva) apresentaram tendência negativa na Região Centro-Oeste e Sul do Brasil (Rusticucci et al., 2010).

Tal como no caso das precipitações totais mensais, sazonais ou anuais, também as tendências de
eventos extremos dependem dos períodos analisados.

Eventos extremos de precipitação estão geralmente associados a descargas elétricas atmosféricas.


Embora a atividade de descargas atmosféricas seja resultado de processos micro-físicos e termodinâmi-
cos essencialmente não lineares e dependentes de inúmeros parâmetros meteorológicos e ocorram em
toda a troposfera, está bem estabelecido pela literatura científica que os raios são sensíveis às variações
de temperatura em diversas escalas (Williams, 1992, 1994, 1999, 2005; Price, 1993; Markson e Price,
1999; Reeve e Toumi, 1999; Price e Asfur, 2006b; Sekiguchi et al., 2006; Markson, 2007; Pinto Jr. e
Pinto, 2008).

Entretanto, atualmente não existem evidências de aumento na atividade global de raios em res-
posta ao aquecimento global (Pinto Jr., 2009), embora existam evidências locais em centros urbanos
(Pinto Jr. e Pinto, 2008; Pinto Jr. et al., 2013) como indicando altas correlações entre a temperatura su-
perficial do ar e a atividade de raios em intervalos curtos de tempo (Williams, 2005; Price e Asfur, 2006a;
Sekiguchi et al., 2006).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 51


2.3.3.2 EVENTOS EXTREMOS DE TEMPERATURA DO AR

Mudanças nos extremos de temperaturas têm uma influência maior no Sul e Sudeste do Brasil,
regiões que são frequentemente afetadas por incursões de massas de ar frio. No inverno, muitas vezes
há ocorrência de geadas e perdas agrícolas nessas regiões, porém algumas incursões atingem o sul da
Amazônia em casos conhecidos como friagens. Ondas de calor também têm um impacto maior nas Re-
giões Sul e Sudeste do Brasil, onde as temperaturas são mais amenas do que nas Regiões Centro-Oeste
e Norte do país.

Extremos de temperatura na América do Sul têm sido estudados através de índices, os quais
podem ser encontrados em Rusticucci e Barrucand (2004), Vincent et al. (2005), Marengo e Camargo
(2008), Rusticucci et al. (2010), Marengo et al. (2010a). Tendências positivas na temperatura mínima e
número de noites quentes foram observadas em várias áreas do sudeste da América do Sul (Marengo e
Camargo, 2008; Rusticucci e Barrucand, 2004; Rusticucci e Renom, 2008). Em particular, para o Sul do
Brasil, foi observada uma diminuição no número de noites frias no Paraná e Santa Catarina, enquanto
um pequeno aumento ocorreu no Rio Grande do Sul (Marengo e Camargo, 2008). Menor frequência
de noites frias no Sul do Brasil ocorreu em invernos de anos El Niño, comportamento também observado
no Norte da Argentina por Rusticucci e Vargas (2005). O aumento de temperatura em inverno de anos
El Niño no sudeste da América do Sul também foi reportado por Barros et al. (2002), que verificaram
também o comportamento oposto durante inverno de anos La Niña. Análises com dados de estações no
Rio Grande do Sul, para o período de 1913 a 2006, indicaram tendência de aumento das temperaturas
mínimas e diminuição das temperaturas máximas (Sansigolo e Kayano, 2010). Em uma escala decenal, as
temperaturas mínimas mais baixas no Rio Grande do Sul ocorreram nos anos 1920, e as mais altas nos
anos 1990. As temperaturas máximas mais baixas no verão foram registradas nos anos 1970 e as mais
altas, na década de 1940 (Sansigolo e Kayano, 2010). A temperatura mínima em Campinas (Figura 2.17)
também exibe tendência positiva no período 1890-2010 (Blain e Lulu, 2011). Nesta localidade, o perí-
odo compreendido entre 2001 e 2010 é o primeiro intervalo de 10 anos (desde 1890) em que nenhum
valor de temperatura inferior a 3 ºC foi observado. Antes desse período decenal, os maiores intervalos de
tempo (anos consecutivos) sem o registro de valores inferior a 3 ºC ocorreram entre 1934-1941 e entre
1944-1950 (ambos com oito anos).

Figura 2.17 Dados anuais de


temperatura mínima do
ar em Campinas, SP, no
período de 1890 a 2010.
Fontes: Instituto
Agronômico de
Campinas, Agência
Paulista de Tecnologia
de Agronegócios,
Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado
de São Paulo.

O impacto sobre extremos de temperatura parece ser maior do que sobre valores médios, pois a
análise de Vincent et al. (2005) para várias localidades da América do Sul indicou tendências maiores para
o número de noites frias (negativa), noites quentes (positiva) e amplitude diurna (negativa), enquanto dias
frios e dias quentes não apresentaram tendências (Vincent et al., 2005). Na média das estações, para o pe-
ríodo de 1960 a 2000, houve uma tendência negativa no número de noites frias e tendências positivas no
número de noites quentes. O mesmo comportamento foi observado nas análises realizadas por Alexander
et al. (2006) para o sudeste da América do Sul, no período de 1951 a 2003. Renom et al. (2010) encon-
traram associação significativa entre o número de noites frias no Uruguai e a fase negativa do modo anu-
lar do Hemisfério Sul no período de verão de 1949-1975, que não continuou no período de 1976-2005.

52 VOLUME 1
No inverno, a correlação entre o número de noites quentes e a TSM no Pacífico Tropical foi alta durante
o primeiro período e enfraqueceu no segundo. Ondas de calor na região da Bacia do Rio da Prata foram
relacionadas com forte subsidência na região, associadas com a ZCAS intensificada ao norte (Cerne e
Vera, 2010).

2.3.4 COMPONENTES DE RADIAÇÃO E BALANÇO DE ENERGIA

Nas últimas décadas houve um enorme avanço no entendimento de como a superfície terrestre
interage com a atmosfera através de trocas de energia na forma de radiação e de calor sensível e latente.
Estes avanços relacionam-se a desenvolvimentos tanto nas técnicas de modelagem como na crescente
disponibilidade de equipamentos sofisticados para estudar in situ os processos radiativos e a partição da
energia disponível em fluxos de calor sensível e calor latente (evapotranspiração) da superfície terrestre.
Atualmente, os modelos computacionais de interação superfície-atmosfera incluem não apenas processos
biofísicos, mas também processos de realimentação (”feedbacks”) com processos de assimilação e libe-
ração de carbono da biosfera.

Na América do Sul, somente a partir do início da década de 80, experimentos observacionais


detalhados das características dos componentes do balanço de radiação e balanço de energia à superfí-
cie começaram a ser realizados. Estes projetos focalizaram principalmente a Amazônia. Destacam-se os
projetos Amazon Region Micrometeorological Experiment (ARME) realizado em Manaus (AM), entre 1983
e 1985 (Shuttleworth, 1988), que realizou o primeiro conjunto de medições micrometeorológicas na
Amazônia, o Anglo-Brazilian Amazonian Climate Observation Study (ABRACOS), realizado entre 1990 e
1994 (Shuttleworth et al., 1991; Gash et al., 1996), em que os balanços de radiação e aspectos da parti-
ção de energia foram avaliados tanto em áreas de floresta, quanto em áreas desmatadas adjacentes, e o
Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que compreende atualmente o
maior programa científico de estudos de uma região específica da superfície terrestre (Keller et al., 2009).
Ressalta-se que nas últimas décadas tais experimentos observacionais foram principalmente para estudar
a Amazônia.

No projeto ARME, que envolveu uma colaboração entre cientistas brasileiros e britânicos, foram
realizadas as pioneiras medições das condições microclimáticas próximas à superfície na floresta Amazô-
nica, durante um período de 25 meses, na Reserva Ducke, próximo a Manaus, AM. Medições adicionais
do balanço de energia, incluindo componentes de radiação, calor sensível e calor latente (Shuttleworth
et al., 1984a, b; Moore e Fisch, 1986; Shuttleworth, 1988), foram realizadas durante quatro campanhas
intensivas (Fisch et al., 2000).

No início dos anos 1990, com o crescimento do interesse científico internacional sobre possíveis
efeitos do desmatamento na Amazônia no clima, o projeto ABRACOS foi elaborado, concentrando me-
dições em 3 localidades: Manaus (AM), Ji-Paraná (RO) e próximo a Marabá (PA) (Gash et al., 1996). Em
cada localidade, pares de sítios experimentais foram instalados e as condições climáticas e de umidade
do solo foram monitoradas por até 4 anos. O valor do albedo da floresta tropical, determinado pioneira-
mente pelas medições do ARME, foi confirmado pelos dados observados durante o ABRACOS, com uma
faixa de 0,11 a 0,13. Porém, as séries de dados mais longas disponíveis mostravam que em todos os sítios
de floresta havia variações sazonais no albedo, correlacionadas à umidade do solo (Culf et al., 1995).
O albedo nos dois outros sítios de floresta foi ligeiramente maior do que no sítio de Manaus, com uma
média para os três sítios de 0,13. Na média, o albedo das áreas de pastagem foi aproximadamente 0,18
(Culf et al., 1995), variando de 0,16 com índices de área foliar baixos, a 0,2 com índices de área foliar
altos (Wright et al., 1996). O balanço de radiação também é afetado pela temperatura da superfície,
que é bem maior em vegetação de pastagem do que em áreas de floresta, causando maiores valores de
emissão de radiação de onda longa. No final dos anos 1990, o estabelecimento do projeto LBA con-
solidou a tendência de realização de grandes projetos interdisciplinares, coletando dados em períodos
de um ano ou prazos mais longos. Von Randow et al. (2004) analisaram uma longa série de dados de
fluxos coletados em dois sítios de pastagem e floresta em Rondônia, mostrando diferenças marcantes

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 53


entre os dois tipos de cobertura vegetal. Os autores destacaram diferenças na radiação de onda curta
(radiação solar) refletida, que aumentam aproximadamente 55% com a conversão de floresta para pasta-
gem. O efeito combinado de maior albedo com um aumento de 4,7 % na emissão de radiação de onda
longa resulta em uma redução do saldo de radiação na pastagem de até 13%, comparado à floresta
primária.

Desmatamento de florestas ou possíveis mudanças da vegetação de floresta densa para vegeta-


ção com características de savana causadas por mudanças climáticas podem também causar importantes
impactos no clima regional e global (Salazar et al., 2007; Sampaio et al., 2007). Impactos na partição de
energia entre os fluxos de calor sensível e calor latente, resultantes de mudanças no uso ou cobertura da
terra, podem ser esperados especialmente nas épocas de estação seca. Análises recentes dos resultados
da rede de torres do LBA (da Rocha et al., 2009) mostram que as regiões de floresta tropical com altas
taxas de precipitação e estação seca curta tem taxas de evaporação tipicamente de 3 a 3,5 mm dia-1
e que a evaporação da estação seca pode ser até 10% maior do que na estação chuvosa. Já em áreas
de cerrado, o padrão é inverso e a evapotranspiração na estação seca tende a diminuir em resposta à
redução na umidade do solo (da Rocha et al., 2009).

2.3.5 PROBLEMAS DAS OBSERVAÇÕES

Os dados observados são a matéria prima essencial para a análise de variabilidade climática,
detecção de tendências, ou qualquer outro estudo relacionado com mudanças climáticas. Na maioria
dos estudos de variabilidade climática de longo prazo e de mudanças climáticas existem três problemas
concomitantes. O primeiro é a escassez de séries longas e contínuas de variáveis climáticas, o que limita
a detecção de mudanças de valores médios mensais, sazonais, anuais e, principalmente, de frequência
e intensidade de eventos extremos, ocorridos ao longo de um período razoavelmente longo (um século
ou mais), independentemente das oscilações climáticas naturais. O segundo, associado intrinsecamente
ao primeiro, é a heterogênea densidade espacial de postos de observação, que são muito dispersos em
certas regiões, distribuídos de acordo com algumas características geográficas regionais (por exemplo,
na Amazônia os postos localizam-se ao longo dos grandes rios), o que limita a caracterização climática
regional e/ou local apropriada (Molion e Dallarosa, 1990; Stott e Thorne, 2010).

O terceiro problema é a presença de dados errados ou espúrios (Grimm e Saboia, 2015). Neste
aspecto, um dos maiores problemas nos dados de precipitação do Brasil é a existência de zeros espúrios
que, em algum momento, foram inseridos no lugar de dados faltantes. Outros problemas comuns: exis-
tência de dados duvidosos, decorrentes de falhas na anotação ou digitação (por exemplo, 2476,7 mm
mês-1), duplicação de dados em estações muito distantes entre si (mais de 1000 km), alteração irreal de
regime climático em uma estação, por mudança de local ou outro motivo, como cópia de dados de outra
estação. É, portanto, essencial uma verificação cuidadosa dos dados, para detecção e correção destes
problemas, antes da realização de estudos climáticos.

Adicionalmente, os instrumentos estão sendo modernizados (de mecânicos para eletrônicos), com
uma maior taxa de aquisição de dados. Os convencionais mediam, em geral, três vezes ao dia (tempera-
tura) e agora podem coletar observações a cada hora, ou mesmo a cada minuto.

Num continente vasto como a América do Sul e num país grande como o Brasil, afetado
por diferentes tipos de clima, é importante o estudo da variabilidade e da mudança climática atra-
vés de observações meteorológicas confiáveis e bem distribuídas. Em uma publicação de 90 anos
atrás (Henry, 1922) foram apresentadas normais climatológicas de 94 estações do Serviço Meteoro-
lógico Brasileiro, calculadas para o período 1909-1919 (11 anos). Chamava-se a atenção para a fal-
ta de observações em vastas áreas do Brasil, como as regiões Norte e Centro-Oeste, que na épo-
ca possuíam apenas 11 estações para cobrir aproximadamente 4 milhões de km². Embora tenha
havido expansão da rede de estações pluviométricas desde o trabalho de Henry (1922), ainda há
áreas com insuficiente cobertura no Norte e Centro-Oeste do Brasil, como mostrado na Figura 2.18.

54 VOLUME 1
Além disto, grande parte das estações coleta apenas dados pluviométricos, sem informações de tempe-
ratura, vento, umidade, evaporação, etc. Há necessidade de mais investimento na rede de observações
para que se possa descrever mais precisamente o clima e suas variações.

Figura 2.18 Distribuição


espacial das estações
pluviométricas disponíveis
atualmente no Brasil.

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 63


CAPÍTULO 3

OBSERVAÇÕES COSTEIRAS E OCEÂNICAS

Autores Principais: Edmo Campos – USP e Dieter Muehe – UFRJ


Autores Colaboradores: Abdelfettah Sifeddine – UFF; Ana Luiza Albuquerque – UFF; Moacyr Araújo – UFPE; Ricardo
Camargo – USP; Silvia Garzoli – NOAA; Sonia M. F. Gianesella - USP; Gustavo Goni – NOAA; Reindert Haarsma
– KMNI; Eloi Melo – FURG; Yara Schaeffer-Novelli – USP; Alberto Piola – Univerisdade de Buenos Aires; Paulo Polito –
USP; Regina Rodrigues – UFSC; Olga Sato – USP; Eduardo Siegle – USP; Janice Romaguera Trotte-Duhá - Programa
GOOS/Brasil da CIRM
Revisores: Carlos Garcia – FURG; Jose Maria Landim Dominguez – UFBA; Clemente Augusto Souza Tanajura - UFBA;
Michel Mahiques – USP; João Antônio Lorenzetti – INPE; Luiz B. de Miranda

64 VOLUME 1
ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 67

3.1 INTRODUÇÃO 68

3.2 MUDANÇAS DE PROCESSOS NA SUPERFÍCIE DO OCEANO E INTERAÇÃO OCEANO-ATMOSFERA 69



3.2.1 TROCAS AR-MAR DE CALOR E FLUXOS DE ÁGUA DOCE 69

3.2.2 TENSÃO DE CISALHAMENTO DO VENTO E FLUXOS DE MOMENTUM 71

3.2.3 TEMPERATURA E SALINIDADE DA SUPERFÍCIE DO MAR 71

3.2.4 SÍNTESE 72

3.3 MUDANÇAS NA TEMPERATURA E CONTEÚDO DE CALOR NO ATLÂNTICO SUL 72



3.3.1 CAMADA SUPERIOR 72

3.3.2 OCEANO PROFUNDO 73



3.3.3 TRANSPORTE MERIDIONAL DE CALOR 73

3.3.4 SÍNTESE 73

3.4 MUDANÇA DE SALINIDADE E CONTEÚDO DE ÁGUA DOCE 74



3.4.1 MUDANÇAS NAS CAMADAS SUPERIORES 74

3.4.2 MUDANÇAS NAS REGIÕES PROFUNDAS 75

3.4.3 CONTRIBUIÇÃO DE DESCARGAS FLUVIAIS NO ATLÂNTICO SUL 75



3.4.4 SÍNTESE 76

3.5 ALTERAÇÕES NA CIRCULAÇÃO E MASSAS DE ÁGUA 76

3.5.1 CIRCULAÇÃO GERAL E VARIABILIDADE CLIMÁTICA DO OCEANO ATLÂNTICO SUL 76

3.5.2 VENTILAÇÃO E FORMAÇÃO DE MASSAS DE ÁGUA 77



3.5.3 ALTERAÇÕES NO “VAZAMENTO DAS AGULHAS”, GIRO SUBTROPICAL E NA CÉLULA
MERIDIONAL DO ATLÂNTICO 77

3.6. ALTERAÇÕES NOS PADRÕES DE VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DO OCEANO 78



3.6.1 PRINCIPAIS MODOS DE VARIABILIDADE DOS OCEANOS RELEVANTES PARA O BRASIL 78

3.6.2 ALTERAÇÕES DOS MODOS DE VARIABILIDADE DAS PORÇÕES TROPICAL E SUL DO
OCEANO ATLÂNTICO DEVIDAS A MUDANÇAS NO ENSO 78

3.6.3 ALTERAÇÕES DOS MODOS DE VARIABILIDADE DAS PORÇÕES TROPICAL E SUL DO
OCEANO ATLÂNTICO DEVIDAS A MUDANÇAS EM SUA CIRCULAÇÃO TERMOALINA 80

3.6.4 SÍNTESE 81

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 65


3.7 ALTERAÇÕES NO NÍVEL DO MAR E NA FREQUÊNCIA DE EXTREMOS NA MARÉ METEOROLÓGICA 82

3.7.1 ALTERAÇÕES DEVIDO AO AUMENTO DE TEMPERATURA 83

3.7.2 AUMENTO DE MASSA DEVIDO A DEGELOS DE GELEIRAS CONTINENTAIS 85

3.7.3 ALTERAÇÕES NA FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE EXTREMOS DE MARÉ METEOROLÓGICA 86

3.7.4 SÍNTESE 87

3.8 MUDANÇAS NA BIOGEOQUÍMICA OCEÂNICA, INCLUINDO ACIDIFICAÇÃO DO OCEANO 88

3.8.1 O CICLO DE CARBONO NO ATLÂNTICO TROPICAL 88

3.8.2 SÍNTESE 93

3.9 MUDANÇA NA ESTRUTURA DE MANGUEZAIS 93

3.9.1 EQUILÍBRIO ECOLÓGICO E ESTRUTURA DO ECOSSISTEMA 93

3.9.2 POTENCIAIS RESPOSTAS ESTRUTURAIS DOS MANGUEZAIS AOS IMPACTOS


DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 95

3.9.3 SÍNTESE 97

3.10. OCORRÊNCIA DE EROSÃO EM PRAIAS E ZONAS COSTEIRAS 97

3.10.1. A COSTA BRASILEIRA 97

3.10.2 EROSÃO OBSERVADA NA COSTA DO BRASIL 97

3.10.3. SÍNTESE 101

3.11. RELAÇÕES ENTRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS PRIMEIROS NÍVEIS DA REDE TRÓFICA MARINHA 102

3.11.1 INTRODUÇÃO 102

3.11.2 O PAPEL DO FITOPLÂNCTON NA REDE TRÓFICA MARINHA E NA BOMBA BIOLÓGICA 102

3.11.3 PAPEL DOS MICRO-ORGANISMOS MARINHOS NA REGULAÇÃO CLIMÁTICA 104

3.11.4 SÍNTESE 105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 106

66 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
O oceano participa de forma decisiva no equilíbrio climático. Devido à sua grande extensão
espacial e à alta capacidade térmica da água, é indiscutível que o aumento do conteúdo de calor dos
oceanos e o aumento do nível do mar são indicadores robustos de aquecimento do planeta. Apesar da
grande dificuldade de se observar o oceano com a cobertura espacial e temporal necessária para melhor
monitorar e entender suas mudanças e as respostas destas no clima, há de se reconhecer que grandes
progressos têm sido obtidos nos últimos anos. Observações remotas por satélite tëm sido realidade já há
algumas décadas e programas observacionais in situ, como o Argo, têm permitido a obtenção de con-
juntos de dados valiosos desde a superfície até profundidades intermediárias do oceano. Recentemente,
vários esforços têm sido despendidos na reavaliação de dados históricos, permitindo interpretações mais
confiáveis por mais longos períodos de tempo (e.g., Stott et al., 2008; Hosoda et al., 2009; Roemmich e
Gilson, 2009; Durack e Wijffels, 2010; Helm et al., 2010).

Com base em um número considerável de trabalhos publicados nas últimas décadas, o Quarto
Relatório de Avaliação do Clima do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (em inglês, Intergover-
nmental Panel on Climate Change - Assessment Report 4; IPCC-AR4, 2007) concluiu de forma inequívoca
que a temperatura do oceano global aumentou entre 1960 e 2006. Apesar das controvérsias decorrentes
de alguns enganos no IPCC-AR4, como por exemplo, o debate sobre o derretimento das geleiras do Hi-
malaia, a grande maioria dos estudos científicos realizados nos últimos anos tem confirmado, de forma
indiscutível, o aquecimento das águas oceânicas. A temperatura da superfície do mar (TSM) no Atlântico
tem aumentado nas últimas décadas. No Atlântico Sul, esse aumento é intensificado a partir da segunda
metade do século XX, possivelmente devido a mudanças na camada de ozônio sobre o polo Sul e também
ao aumento dos gases de efeito estufa (Arblaster e Meehl, 2006; Rayner et al., 2006). De forma consis-
tente com um clima mais quente, o ciclo hidrológico tem também se alterado, refletindo em mudanças
na salinidade da superfície do mar. Estudos mostram que a região subtropical do Atlântico Sul está se
tornando mais quente e mais salina.

Abaixo da superfície, há evidências claras do aumento da temperatura nas camadas superiores


do oceano. Reanálise de dados históricos obtidos por batitermógrafos descartáveis (XBTs) mostram uma
clara tendência de aquecimento nos primeiros 700 m da coluna de água. Estudos independentes com
dados obtidos até 2000 m de profundidade com flutuadores Argo sugerem um aquecimento significativo
também abaixo de 700 m.

Os estudos analisados pelo IPCC-AR4 (2007) e outros mais recentes (Leuliette e Miller, 2009;
Letetrel et al., 2010; Leuliette e Scharroo, 2010) também apontam para variações no conteúdo de calor e
na elevação do nível do mar, em escala global. Variações nessas propriedades promovem alterações nas
características das diferentes massas de água, o que fatalmente leva a alterações nos padrões de circu-
lação do oceano. Por sua vez, mudanças na circulação resultam em alterações na forma como o calor e
outras propriedades biológicas, físicas e químicas são redistribuídas na superfície da Terra.

O nível do mar está aumentando. Grande parte das projeções de aumento do nível do mar para
todo o século XXI deve ser alcançada ao longo das primeiras décadas, o que faz com que se configurem
perspectivas mais preocupantes do que aquelas divulgadas no início do ano 2000. Variações de 20 a
30 cm esperadas para o final do século XXI já devem ser atingidas, em algumas localidades, até meados
do século ou até antes disso.Deverá haver também maior variabilidade espacial da resposta do nível do
mar entre os distintos locais do globo. Na costa do Brasil são poucos os estudos realizados com base em
observações in situ. Mesmo assim, taxas de aumento do nível do mar na costa sul-sudeste já vêm sendo
reportadas pela comunidade científica brasileira desde o final dos anos 80 e início dos anos 90 (Mesquita
et al., 1986, 1995, 1996; Silva e Neves, 1991; Harari e Camargo, 1994; Muehe e Neves, 1995; Neves
e Muehe, 1995).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 67


O aumento do nível do mar assim como aumento de temperatura, mudanças no volume e distri-
buição das precipitações e concentrações de CO2 afetarão de modo variável o equilíbrio ecológico de
manguezais, dependendo da amplitude destas alterações e das características locais de sedimentação e
espaço de acomodação.

Ao longo da extensão da linha de costa brasileira são vários os trechos em erosão, distribuídos
irregularmente e muitas vezes associados aos dinâmicos ambientes de desembocaduras. Diversas são as
áreas costeiras densamente povoadas que se situam em regiões planas e baixas, nas quais os já existentes
problemas de erosão, drenagem e inundações serão amplificados em cenários de mudanças climáticas.

Importantes massas de água estão se alterando, de acordo com o IPCC-AR4 (2007). As “águas
modo” (águas de 18oC) do Oceano Sul e as Águas Profundas Circumpolares se aqueceram no período
de 1960 a 2000. Essa tendência continua durante a presente década. Aquecimento similar ocorreu tam-
bém nas “águas modo” da Corrente do Golfo e da Kuroshio. Os giros subtropicais do Atlântico Norte e
Sul têm se tornado mais quentes e mais salinos. Como consequência, segundo conclusão do IPCC-AR4
e de estudos mais recentes, é bastante provável que pelo menos até o final do último século a Célula de
Revolvimento Meridional do Atlântico (CRMA) vinha se alterando significativamente em escalas de intera-
nuais a decenais.

No Atlântico Sul, vários estudos nos últimos anos sugerem variações importantes nas proprieda-
des físicas e químicas das camadas superiores do oceano, associadas com alterações nos padrões da
circulação atmosférica. Esses estudos mostram que, em consequência ao deslocamento do rotacional do
vento em direção ao polo, o transporte de águas do Oceano Índico para o Atlântico Sul, fenômeno co-
nhecido como o “vazamento das Agulhas”, vem aumentando nos últimos anos. Análises de dados obtidos
remotamente por satélite e in situ mostram mudanças no giro subtropical do Atlântico Sul associadas a
mudanças na salinidade das camadas superiores. Resultados de observações e modelos sugerem que o
giro subtropical do Atlântico Sul vem se expandindo, com um deslocamento para sul da região da Con-
fluência Brasil-Malvinas.

Há fortes indícios que as características dos eventos de El Niño no Pacífico estão mudando nas
últimas décadas. Como consequência, tem havido uma mudança nos modos de variabilidade da TSM no
Atlântico Sul. Essas alterações nos padrões de TSM favorecem precipitações acima da média ou na média
sobre o Norte e Nordeste brasileiro e mais chuvas no Sul e Sudeste do Brasil.

Este capítulo apresenta uma síntese das mudanças observadas em processos oceânicos e costei-
ros no Atlântico Sul e no Brasil.

3.1 INTRODUÇÃO
É indiscutível a importância do oceano nas variabilidades e possíveis mudanças no equilíbrio
climático. Devido à grande extensão dos oceanos e à alta capacidade térmica da água, o aumento do
conteúdo de calor dos oceanos e o aumento do nível do mar são indicadores robustos de aquecimen-
to do planeta. Com base em um número considerável de trabalhos publicados nas últimas décadas, o
IPCC-AR4 (2007) concluiu que a temperatura global do oceano aumentou cerca de 0,10 ºC no período
de 1961 a 2003. Estudos recentes confirmam que a temperatura global do oceano tem aumentado (e g.:
Domingues et al., 2008; Lyman e Johnson, 2008; Ishii e Kimoto, 2009; Levitus et al., 2009; Gourestki e
Reseghetti, 2010; Lyman et al., 2010). Há evidências claras do aumento do conteúdo de calor nas cama-
das superiores do oceano (e.g., Roemmich e Gilson, 2009; Carson e Harrison, 2010). Análises de dados
de batitermógrafos descartáveis (XBTs) mostram uma tendência de aquecimento global dos oceanos de
0,64 W m-2 nos primeiros 700 m da coluna de água. Adicionalmente, os dados obtidos até 2000 m de
profundidade com os perfiladores Argo (uma rede global de 3000 flutuadores derivantes que medem a
temperatura e a salinidade dos primeiros 2000 metros da coluna de água no oceano) sugerem um aque-
cimento significativo abaixo de 700 m, desde 2003.

68 VOLUME 1
Os estudos analisados pelo IPCC-AR4 e outros mais recentes (Leuliette e Miller, 2009; Letetrel et
al., 2010; Leuliette e Scharroo, 2010) também apontam para variações no conteúdo de calor e na eleva-
ção do nível do mar, em escalas regional e global. Variações nessas propriedades promovem alterações
nas características das diferentes massas de água, o que leva a alterações nos padrões de circulação do
oceano. Por sua vez, mudanças na circulação oceânica resultam em alterações na forma como o calor e
outras propriedades biológicas, físicas e químicas são redistribuídas bem como alterações na circulação
atmosférica e padrões de precipitação.

Segundo o IPCC-AR4, importantes massas de água estão se alterando. As “águas modo” (águas
de 18 ºC referidas como “mode waters” no idioma inglês e traduzidas como “águas modais” por alguns
autores brasileiros) do Oceano Sul e as Águas Profundas Circumpolares se aqueceram no período de
1960 a 2000. Essa tendência continua durante a presente década (e.g., Sarmiento et al., 2004; Dou-
glass et al., 2012). Aquecimento similar ocorreu também nas “águas modo” da Corrente do Golfo e da
Kuroshio (Kwon et al., 2010; Joyce, 2012). Os giros subtropicais do Atlântico Norte e Sul têm se tornado
mais quentes e mais salinos (Durack e Wijffels, 2010; Lumpkin e Garzoli, 2011). Como consequência,
é bastante provável que, pelo menos até o final do último século, a Célula de Revolvimento Meridional
do Atlântico (CRMA) vinha se alterando significativamente em escalas de tempo interanuais a decenais
(IPCC-AR4, 2007).

No Atlântico Sul, vários estudos nos últimos anos sugerem variações importantes nas proprieda-
des físicas e químicas das camadas superiores do oceano, associadas com alterações nos padrões da
circulação atmosférica (Biastoch et al., 2008, 2009; Lumpkin e Garzoli, 2011; Sato e Polito, 2008). Esses
estudos mostram que, como resultado do deslocamento do rotacional do vento em direção ao polo, o
transporte de águas do Oceano Índico para o Atlântico Sul, fenômeno conhecido como o “vazamento
das Agulhas” vem aumentando nos últimos anos. Análises de dados obtidos remotamente por satélite e
in situ mostram mudanças no giro subtropical do Atlântico Sul associadas a mudanças na salinidade das
camadas superiores (Sato e Polito, 2008; Goni et al., 2011). Resultados de observações e modelos suge-
rem que o giro subtropical do Atlântico Sul vem se expandindo, com um deslocamento para sul da região
da Confluência Brasil-Malvinas (Goni et al., 2011; Lumpkin e Garzoli, 2011).

Apesar da grande dificuldade de se observar o oceano com a cobertura espacial e temporal


necessárias para melhor monitorar e entender suas mudanças e as respostas destas no clima, há de se
reconhecer que grande progresso tem sido obtido nos últimos anos. Observações remotas por satélite têm
sido realidade já há algumas décadas e programas observacionais in situ, como o Argo, têm permitido a
obtenção de conjuntos de dados valiosos desde a superfície até profundidades intermediárias do ocea-
no. Recentemente, vários esforços têm sido despendidos na reavaliação de dados históricos, permitindo
interpretações mais confiáveis por mais longos períodos de tempo (e.g., Stott et al., 2008; Hosoda et al.,
2009; Roemmich e Gilson, 2009; Durack e Wijffels, 2010; Helm et al., 2010).

No presente capítulo são apresentados estudos focando diferentes aspectos de mudanças no


oceano, com ênfase na região do Atlântico Sul, dos trópicos até latitudes austrais. Especial atenção é
dedicada à região oeste do Atlântico Sul e à zona costeira ao longo do continente sul-americano, pro-
curando identificar possíveis mudanças nessas regiões e suas correlações com alterações do clima em
grande escala.

3.2 MUDANÇAS DE PROCESSOS NA SUPERFÍCIE DO OCEANO E INTERAÇÃO


OCEANO-ATMOSFERA
3.2.1 TROCAS AR-MAR DE CALOR E FLUXOS DE ÁGUA DOCE

O movimento das águas oceânicas resulta predominantemente das trocas de momentum, água e
calor na interface ar-mar. O fluxo de momentum (quantidade de movimento), por meio do cisalhamento do
vento, é o principal motor da circulação nas camadas superiores do oceano. O aquecimento ou resfriamento

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 69


e a maior ou menor salinidade, decorrentes das trocas de calor e água com a atmosfera, fornecem a
energia responsável pela circulação termohalina, um importante mecanismo no controle do clima do
planeta. Mudanças nesses fluxos ar-mar podem resultar em alterações significativas no sistema de circu-
lação em toda a coluna de água. Em contrapartida, alterações na circulação e nos fluxos ar-mar podem
também alterar a temperatura e umidade do ar, com consequências na circulação atmosférica e no ciclo
hidrológico. Apesar de sua importância, estimativas dos valores desses fluxos estão sujeitas a uma grande
quantidade de erros de difícil correção. De acordo com o AR4 do IPCC (2007) ou mesmo estudos mais
recentes (e.g., Gulev et al., 2007; Shaman et al., 2010), não é ainda possível fazer uma avaliação confi-
ável de mudanças antrópicas nos fluxos ar-mar.

Os oceanos cobrem 71% da superfície do planeta, suportam quase a totalidade do ciclo hidroló-
gico do globo (97%) e, sobre sua superfície, ocorrem mais que 80% dos fluxos associados com suas varia-
ções (Schmitt, 1995). Esses fluxos fazem parte dos processos de interação entre o oceano e a atmosfera e
influenciam diretamente a salinidade na superfície. Desta forma, a distribuição da salinidade nos oceanos
reflete o balanço de larga escala do fluxo de água doce que entra e sai do sistema que compõe o ramo
marinho do ciclo hidrológico global (Figura 3.1). Na determinação do sinal da salinidade nos oceanos
devem ser contabilizados diferentes fatores, tais como: a evaporação (E), a precipitação (P), a descarga de
rios e o fluxo total de água doce pela superfície dos continentes, bem como derretimento de gelo marinho
e de geleiras continentais. Uma vez introduzidos no oceano, a influência desses fatores pode ser modifi-
cada localmente por processos advectivos e de mistura causados pelas correntes oceânicas. Portanto, é
de se esperar que mudanças no ciclo hidrológico sejam acompanhadas por flutuações na salinidade em
diferentes locais e profundidades.

A salinidade da superfície do mar (SSM) é, em grande parte, regulada pela troca de água entre o
oceano e a atmosfera através da evaporação e precipitação. Regiões de alta salinidade são, por via de
regra, regiões onde a evaporação supera a precipitação e vice-versa. Outros fatores que contribuem para
os padrões de SSM são os efeitos advectivos da circulação oceânica e o derretimento de gelo em altas
latitudes. Segundo a relação de Clausius – Clapeyron, a pressão de vapor da água aumenta em cerca de
7% por grau Celsius, a uma temperatura média de cerca de 14 ºC. Dessa forma, apesar das incertezas
das observações hidrológicas, espera-se que com o aumento da TSM ocorra também uma aceleração do
ciclo hidrológico, com modificações e efeitos de retro-alimentação associados com a dinâmica atmosféri-
ca (Held e Soden, 2006; Wentz et al., 2007). Estudos baseados em dados globais de salinidade mostram
mudanças de salinidade da superfície do mar de forma consistente com o aumento da temperatura do
planeta (Boyer et al., 2005a, 2007; Roemmich e Gilson, 2009; Durack e Wijfels, 2010). No Atlântico Sul
há também indicações de aumento da salinidade no giro subtropical (Sato e Polito, 2008).

Nas proximidades de 24ºS no Atlântico Sul, a termoclina tem se tornado menos salina, com o
decréscimo de aproximadamente 0,05 de salinidade, entre 1983 e 2009 (McCarthy et al., 2011). No
período anterior (1958 – 1983), foi observado um leve acréscimo de salinidade. Esse decréscimo da
salinidade é atribuído a uma intensificação do ciclo hidrológico, em concordância com a observação de
um regime de precipitação aumentado na região (Piola, 2010). As observações de salinidade aumenta-
da em regiões com excesso de evaporação e de decréscimo de salinidade em regiões com excesso de
precipitação sugerem que essas mudanças constadas por McCarthy et al. (2011) foram causadas por
uma amplificação do ciclo hidrológico (Durack e Wijffels, 2010). Entretanto, dados de oxigênio dissolvido
sugerem que o aumento de salinidade observado entre 1958 e 1983 no sudeste do Atlântico Sul está
associado ao aumento de influência do Oceano Índico através do “vazamento das Agulhas” (McCarthy
et al., 2011).

Análises de dados de satélite, observações in situ e dados do projeto PIRATA (Prediction e Rese-
arch Moored Array in the Tropical Atlantic - programa de monitoramento do Atlântico Tropical por meio
de bóias ancoradas) mostram mudanças no giro subtropical do Atlântico Sul associadas às alterações na
salinidade da camada superior (Sato e Polito, 2008). Próximo à 38ºS esses autores encontraram tendên-
cias opostas nas séries de tempo do armazenamento de calor, devido aos efeitos halinos, em cada lado
da Zona de Convergência do Atlântico Sul.

70 VOLUME 1
3.2.2 TENSÃO DE CISALHAMENTO DO VENTO E FLUXOS DE MOMENTUM

Importantes alterações no padrão de circulação na camada superior do oceano, em resposta a
mudanças nos fluxos de momentum associados com a tensão de cisalhamento do vento, têm sido repor-
tadas no Atlântico Sul nos últimos anos (Hurrell e van Loon, 1994; Meehl et al., 1998; Thompson e Walla-
ce, 2000; Sato e Polito, 2008; Lumpkin e Garzoli, 2011; Goni et al., 2011). O modo de variabilidade
atmosférica mais conhecido pelo acrônimo SAM (Southern Annular Mode, Carvalho et al., 2005) o qual
descreve o movimento norte-sul dos ventos de oeste ao redor da Antártica, é um dos padrões dominantes
de variabilidade no Hemisfério Sul (e.g., Marshall, 2002). Estudos recentes reportam que esse modo de
variabilidade vem sofrendo uma alteração desde a década de 1960, possivelmente devido a um deslo-
camento para sul e intensificação dos ventos de oeste no Hemisfério Sul (Limpasuvan e Hartmann, 1999;
Gille, 2002; Thompson e Solomon, 2002; Marshall, 2003; Cai et al., 2003; Lumpkin e Garzoli, 2011).
Essa mudança afeta o transporte meridional de calor, através da modificação do transporte de Ekman
e da ressurgência de águas profundas, resultando em um resfriamento e diminuição da salinidade das
águas intermediárias (Oke e England, 2004).

Por ser o vento um dos principais forçantes da circulação oceânica, as alterações nos ventos no
hemisfério estão afetando a circulação no Atlântico Sul. Por exemplo, o deslocamento para sul do rota-
cional zero dos ventos de oeste, latitude que define o limite sul do giro subtropical, está causando uma
expansão desse giro no Atlântico Sul, com uma migração para sul da confluência Brazil-Malvinas (e.g.,
Biastoch et al., 2009; Lumpkin e Garzoli, 2011; Goni et al., 2011), que termina por modular a CRMA,
mais conhecida como Meridional Overturning Cell, ou MOC (Biastoch et al., 2008, 2009; Beal et al.,
2011) e a Corrente Circumpolar Antártica (Toggweiler e Samuels, 1995; Gnanadesikan, 1999). Experi-
mentos numéricos com modelos de alta resolução (eddy-permitting models) sugerem ainda que o aumen-
to no transporte de Ekman para norte, associado com ventos de oeste intensificados no Hemisfério Sul, é
largamente compensado por fluxos turbulentos em direção ao polo, os quais tendem a reduzir anomalias
na ressurgência de águas profundas (Farneti e Delworth, 2010).

3.2.3 TEMPERATURA E SALINIDADE DA SUPERFÍCIE DO MAR

O quarto relatório de avaliação do clima do IPCC (IPCC-AR4, 2007) discute mudanças da tem-
peratura da superfície do mar. No Atlântico, conforme mostra a Figura 3.1 (Rayner et al., 2006), é obser-
vado um aumento da ordem de 0,5 ºC desde a década de 1930. O Atlântico Sul, entretanto, apresenta
uma tendência negativa até o final dos anos 60. A partir da década de 1970, também o Atlântico Sul
apresenta uma tendência de aumento. É interessante notar que nessa mesma década ocorreu um resfria-
mento em latitudes médias do Atlântico Norte, com o sinal propagando para sul e norte até meados da
década de 1980 (Rayner et al., 2006).

Figura 3.1. Variação temporal entre 1900 e 2005 da média zonal das anomalias de temperatura da superfície do mar entre
as latitudes 30˚S e 60˚N no Atlântico, com relação à media do período de 1961 (Rayner et al., 2006). O Atlântico Sul, que
apresentava uma anomalia negativa até o final da década de 1960, passa ter uma anomalia positiva a partir dos anos 70.
Por sua vez, o Atlântico Norte apresenta uma anomalia positiva consistente desde os anos 30, exceto por uma anomalia
negativa em latitudes médias, a qual se propagou para sul e norte, chegando a atingir o Atlântico Sul por volta de 1980.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 71


A tendência positiva observada a partir da metade do século XX é atribuída primariamente às mu-
danças na camada de ozônio sobre o polo Sul, as quais provocaram uma intensificação do vórtice polar
sul (Rayner et al., 2006). Análise de resultados de estudos numéricos mostra que o aumento de gases de
efeito-estufa também contribuiu positivamente para o aumento de TSM observado no Atlântico Sul. Esses
resultados também mostram que o crescente efeito estufa continuará a intensificar o vórtice polar e um
aumento generalizado da TSM no Hemisfério Sul (Arblaster e Meehl, 2006).

3.2.4 SÍNTESE

Os estudos mais recentes discutidos nesta Seção são consistentes com a indicação de que a tem-
peratura da superfície do mar no Atlântico tem aumentado nas últimas décadas. No Atlântico Sul, esse
aumento é intensificado a partir da segunda metade do século XX, possivelmente associado às mudanças
na camada de ozônio sobre o polo Sul e também ao aumento dos gases de efeito estufa. De forma con-
sistente com um clima mais quente, o ciclo hidrológico tem também se alterado, refletindo em mudanças
na salinidade da superfície do mar. Estudos mostram que a região subtropical do Atlântico Sul está se
tornando mais quente e mais salina.

3.3 MUDANÇAS NA TEMPERATURA E CONTEÚDO DE CALOR NO ATLÂNTICO


SUL

3.3.1 CAMADA SUPERIOR

A Figura 3.2, que sumariza resultados de recentes estudos baseados em um amplo conjunto da-
dos incluindo XBT, Argo e outros, no período 1993 – 2008, mostra que o conteúdo de calor na camada
de 0 a 700 m do oceano global está aumentando a uma taxa média, para todo o planeta, de 0,64±
0,29 W m-2 (Lyman et al., 2010; Trenberth, 2010). Esses estudos reforçam a percepção geral de que o
oceano vem aquecendo de forma consistente com o desequilíbrio radiativo de origem antrópica. Entre-
tanto, Trenberth (2010) chama a atenção para discrepâncias com medidas de radiação no topo da at-
mosfera, o que sugere algum problema com os dados oceânicos ou com o seu processamento. Pesquisa
independente (von Schuckmann et al., 2009), baseada em dados Argo para toda a camada de 0 a 2000
m aponta um aumento do conteúdo de calor da ordem de 0,77±0,11 W m-2 no oceano global e 0,54
W m-2 para toda a Terra (linha azul na Figura 3.2). Esse aumento no armazenamento de calor em toda a
profundidade coberta pelos flutuadores Argo é um indicativo de que o oceano está se aquecendo abaixo
dos 700 m.

Figura 3.2. Variação do conteúdo de calor na camada de 0 a 700 m do oceano global (linha preta). A tendência positiva da
ordem de 0,64 W m-2 indica o aquecimento da camada superior do oceano. A linha azul representa a variação do conteúdo
de calor para 0-2000 m, baseada em 6 anos de dados Argo. A taxa de aumento de 0,5 m-2 sugere que uma parte do
aquecimento está acontecendo em profundidades superiores a 700 m (Trenberth, 2010).

72 VOLUME 1
No Atlântico Sul pouco se sabe a respeito da variação do conteúdo de calor nas camadas supe-
riores do oceano. Análise de dados Argo (não publicadas) parece indicar que o Atlântico Sul e o Índico
apresentam uma tendência positiva nos últimos seis anos. Estudos baseados em dados de anomalias da
elevação da superfície do mar obtidos por satélite e dados das bóias PIRATA (Arruda et al., 2005) mostram
uma tendência positiva na região da retroflexão da Corrente das Agulhas no período de 1993 a 2002.

3.3.2 OCEANO PROFUNDO

Como o oceano recebe calor em sua superfície, o aquecimento das camadas profundas nas regi-
ões de formação das massas de água ocorre nas camadas inferiores do oceano. São duas as regiões mais
importantes: o Atlântico Norte, onde é formada a Água Profunda do Atlântico Norte (APAN) e a região ao
redor da Antártica, onde é formada a Água de Fundo Antártica (AFA).

A pouca disponibilidade de dados observacionais nas regiões profundas, em escalas de tempo


mais longas e espacialmente coerentes, e a predominância de modos de variabilidade naturais no Atlân-
tico Norte dificultam a determinação de tendências de longo termo na quantidade de calor nas camadas
inferiores do oceano. No Oceano Sul, entretanto, há indicações de que grande parte da coluna de água
se aqueceu entre 1992 e 2005 (Johnson, 2008; Purkey e Johnson, 2010). O aquecimento da AFA é mais
acentuado abaixo dos 3000 m (Johnson, 2008). Medidas no Canal de Vema mostram uma tendência de
aquecimento da AFA no período entre 1990 e 2006 (Zenk e Morozov, 2007).

3.3.3 TRANSPORTE MERIDIONAL DE CALOR

A circulação termohalina global é um dos mecanismos responsáveis pela manutenção do clima,


através da redistribuição de calor entre as diferentes bacias e latitudes do planeta. No Atlântico, a cir-
culação termohalina tem a característica de uma correia transportadora, conduzindo calor de sul para
norte, nas camadas superiores. O comportamento temporal do transporte de calor na direção norte-sul
(meridional) é, portanto, um importante indicador de variabilidade e/ou mudança do clima.

No Atlântico Norte, desde 2004, tem havido um esforço multinacional para monitorar o trans-
porte meridional de calor, através da manutenção de uma rede observacional em uma seção transversal
ao longo de 26,5ºN (Rapid/MOCHA Array) (Cunningham et al., 2007; Kanzow et al., 2007; Kanzow et
al., 2010). Dados coletados nessa seção mostram intensas variabilidades em escala sazonal, mas dado
o curto comprimento dessa série de dados, a determinação de uma tendência de longo período é prati-
camente impossível.

No Atlântico Sul a situação é ainda mais precária. Somente nos últimos dois anos deu-se início à
implementação de uma rede transoceânica para o monitoramento da célula meridional do Atlântico ao
longo de 34,5ºS (Rede SAMOC, http://www.aoml.noaa.gov/phod/samoc).

3.3.4 SÍNTESE

Há um aumento da quantidade de calor armazenado nas camadas superiores do oceano (de 0 a


2000 m) (e.g., Trenberth, 2010). Nas camadas inferiores não há resultados mais conclusivos, a não ser
a indicação de um possível aumento da temperatura (e conteúdo de calor) na Água de Fundo Antártica.
Estudos sobre tendências de longo período no transporte meridional de calor são também bastante inci-
pientes e inconclusivos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 73


3.4 MUDANÇA DE SALINIDADE E CONTEÚDO DE ÁGUA DOCE
O conhecimento dos padrões de variabilidade da salinidade é essencial para se obter uma descri-
ção detalhada da circulação oceânica em todas as escalas. Isto porque a salinidade é uma variável que,
juntamente com a temperatura, afeta a densidade da água do mar e os padrões de circulação oceânica
associados a ela. Seu papel tem sido reavaliado nos últimos anos e foi amplamente constatado como
sendo um elemento fundamental para uma completa descrição, entendimento e previsibilidade das mu-
danças da circulação oceânica em escalas interanuais e decenais (Schmitt, 1995; Schimitt, 2008).

O painel esquerdo da Figura 3.3 mostra a distribuição média da salinidade na superfície do


oceano Atlântico obtida através do processamento de 50 anos de dados, entre 1950 e 2000 (Durack e
Wijffels, 2010). Em termos de trocas de massa na superfície, observa-se que a região próxima ao equador
apresenta valores menores de salinidade (< 36), pois corresponde à região onde ocorre dominância da
precipitação sobre evaporação. Por outro lado, as regiões tropicais que são caracterizadas por alto índice
de evaporação coincidem com máximos de salinidade na superfície (> 37).

Figura 3.3. Média climatológica


da salinidade de superfície
entre 1950 a 2000 (esquerda).
Tendência de 50 anos da
salinidade de superfície para
o período todo [50 anos-1]
(direita). Adaptado de Durack
e Wijffels (2010).

3.4.1 MUDANÇAS NAS CAMADAS SUPERIORES

Alterações no ciclo hidrológico global são previstas como consequência das alterações climáticas
de origem antrópica (Held e Soden, 2006; Solomon et al., 2007). Dentro de um cenário de aquecimento
global, o aumento da temperatura na troposfera poderá acarretar um aumento da capacidade de arma-
zenar e transportar vapor d’água (Emori e Brown, 2005; Bindoff et al., 2007; Meehl et al., 2007; Trenber-
th et al., 2007), fazendo com que haja um aumento da amplitude do ciclo hidrológico, i.e., aumento de
evaporação em regiões dominadas por processos de evaporação e mais chuvas em regiões dominadas
pela precipitação (Durack e Wijffels, 2010). Consequentemente, essa amplificação dos processos de
superfície irá afetar o sinal da salinidade nos oceanos. Portanto, a detecção de mudanças na salinidade
nos oceanos é um indicador das tendências no sinal da precipitação e evaporação instrumental para
inferências sobre mudanças no ciclo hidrológico.

Os estudos de Antonov et al. (2002) e Boyer et al. (2005a) constataram que as águas de super-
fície dos trópicos e subtrópicos se tornaram mais salgadas enquanto que as águas de altas latitudes se
tornaram mais doces durante a segunda metade do século XX. A análise de dados globais de salinidade
realizada por Boyer et al. (2005a) mostra evidências de mudanças de longo termo da salinidade e do
fluxo de água doce na região dos giros oceânicos e em escalas de bacia nos 50 anos.

74 VOLUME 1
Tendências da salinidade das camadas próximas à superfície mostram que regiões geralmente do-
minadas por evaporação apresentam aumento de salinidade em todas as bacias oceânicas. Em regiões de
alta latitude, em ambos os hemisférios, as águas superficiais que são normalmente associadas com maior
precipitação mostram tendências de diminuição da salinidade (Antonov et al., 2002; Boyer et al., 2005b).
Apesar de não ser um fator determinante, o derretimento do gelo, a advecção e as mudanças na célula de
revolvimento meridional também podem contribuir para as anomalias na salinidade (Häkkinen, 2002).

Análise de dados obtidos no período de 1950 a 1990, entre 50ºS e 60ºN, evidencia uma dimi-
nuição da salinidade próxima às regiões polares e um grande aumento de salinidade nas camadas supe-
riores das regiões tropicais (Curry et al., 2003). Nas camadas superiores (acima de 500 m), verificou-se
uma tendência de aumento de 0,1 a 0,4 entre as latitudes de 25ºS a 35ºN. Ao sul de 25ºS registrou-se
uma tendência de diminuição da salinidade, com um decréscimo de 0,2 psu (Practical Salinity Units, em
Inglês). Análise de arquivos históricos e dados do programa Argo mostram aumento da salinidade em
regiões dominadas pela evaporação e diminuição naquelas onde a precipitação predomina (Durack e
Wijffels, 2010). Isto indica que as tendências da salinidade ocorrem em resposta à amplificação do ciclo
hidrológico.

Essas alterações da salinidade podem também indicar mudanças da dinâmica da circulação dos
oceanos. Cálculos da anomalia do calor armazenado no Atlântico Sul, separando-se as contribuições ter-
mostéricas e halostéricas, sugerem tendências opostas devido a efeitos halinos, em cada lado da Corrente
do Atlântico Sul (Sato e Polito, 2008). Do lado norte há uma tendência de decréscimo na contribuição
halostérica, o que implica em uma tendência de diminuição da altura da superfície em escalas interanu-
ais, possivelmente devido ao aumento da salinidade da Corrente do Brasil. Ao sul, os cálculos apontam
para uma tendência de elevação, em decorrência de diminuição da salinidade da Corrente das Malvinas.
Essas tendências opostas de variação da altura contra o gradiente médio de pressão em cada lado da
corrente implicam em uma diminuição das velocidades geostróficas (Goni e Wainer, 2001).

3.4.2 MUDANÇAS NAS REGIÕES PROFUNDAS

Curry et al. (2003) observaram uma tendência média de diminuição de salinidade ao norte de
40ºN de 0,03 psu em águas profundas associadas às massas d’água do Mar do Labrador (AML) e uma
diminuição da salinidade de 0,02 psu, na Água Intermediária da Antártica (AIA), no Atlântico Sul. Esse
estudo mostra ainda que para uma faixa entre 30ºN e 40ºN, há um aumento na salinidade de 0,05 psu
na massa água do Mar do Mediterrâneo. Durack e Wijffels (2010) também apresentam uma análise da
variação da salinidade desde a superfície até 2000 m de profundidade no Atlântico.

Dados obtidos em seções transatlânticas cobrindo toda a profundidade do oceano indicam que a
região da termoclina tem se tornado menos salina a 24ºS, com diminuição de 0,05 psu de salinidade en-
tre 1983 e 2009 (McCarthy et al., 2011). Em período anterior, entre 1958 e 1983, esses mesmos dados
indicam um aumento na salinidade de 0,03 psu. A tendência de diminuição de salinidade no segundo
período, que ocorreu consistentemente ao longo de toda a seção, reverteu a tendência de aumento do
primeiro período. Os resultados da análise indicam que a diminuição da salinidade está relacionada
com a intensificação do ciclo hidrológico. O aumento na salinidade pode ser também explicado com o
aumento do vazamento da Corrente das Agulhas na forma de anéis que trazem águas mais salinas do
Oceano Índico para o Atlântico (Biastoch et al., 2009).

3.4.3 CONTRIBUIÇÃO DE DESCARGAS FLUVIAIS NO ATLÂNTICO SUL

O ciclo hidrológico sobre os continentes conta com um excesso de precipitação sobre a evapo-
ração. Esse excedente de volume de água doce chega aos oceanos via descarga fluvial e é transportado
para fora de sua região de origem pelas correntes oceânicas. A descarga fluvial total no Atlântico é
de 0,608 Sv (1 Sv = 1x106 m3 s-1) (Dai e Trenberth, 2002). A amplitude do ciclo sazonal é de 0,27 Sv,

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 75


ou seja, 44% da média, com máximo em maio e mínimo em dezembro, aproximadamente em fase com
a variação na descarga do Rio Amazonas (Dai e Trenberth, 2002).

Estudos baseados em dados do GRDC (Global Runoff Data Center) e outros mostram uma ten-
dência linear negativa na descarga global de água doce nos oceanos (Dai et al., 2009). Embora não seja
uma tendência significativa, o coeficiente de correlação entre a série analisada e o índice El Niño 3,4 é
de 0,50 (Referencia). Essa correlação se deve à mudança na taxa de precipitação induzida pelo El Niño,
sendo que a correlação entre a descarga total no Atlântico e a precipitação nas bacias a ele associadas
é de 0,58.

3.4.4 SÍNTESE

Há indicações que a salinidade do Oceano Atlântico Tropical e Equatorial está aumentando nas
últimas décadas (Curry et al., 2003; Donners e Drijfhout, 2004; Boyer et al., 2005a; Durack e Wijffels,
2010). Este aumento é mais pronunciado nas camadas acima da termoclina, porém também se manifesta
de forma relativamente clara no oceano profundo (Donners e Drijfhout, 2004).

Em altas latitudes, onde se formam as massas d’água que ocupam o fundo dos oceanos globais,
nota-se uma diminuição de 0,1 a 0,5 psu de salinidade ao norte de 45oN, da superfície até o fundo
(Curry et al., 2003). Já no Hemisfério Sul, também há evidências de redução da salinidade, porém esta
restringe-se aproximadamente aos primeiros 500 m do oceano (Curry et al., 2003).

Em médias latitudes no Hemisfério Sul, múltiplos estudos (e.g., Sato e Polito, 2008; Durack e
Wijffels, 2010; McCarthy et al., 2011) apontam para um aumento da salinidade associada do lado norte
da Corrente do Atlântico Sul, dentro do giro subtropical, e diminuição da salinidade ao sul da mesma. A
consequência da variação halostérica é uma redução do fluxo para leste, desacelerando o giro.

Não é observada tendência significativa na descarga fluvial no Atlântico. Portanto, as mudanças


descritas acima aparentemente se devem às (i) mudanças na componente E - P sobre os oceanos e (ii)
alterações no processo de formação de águas de fundo em altas latitudes.

A falta de dados e baixa significância estatística de alguns dos resultados obtidos por esses estu-
dos, especialmente no Atlântico Sul, demonstram que, para a determinação das mudanças da salinidade,
é fundamental estabelecer programas observacionais de longa duração no oceano profundo.

3.5 ALTERAÇÕES NA CIRCULAÇÃO E MASSAS DE ÁGUA


3.5.1 CIRCULAÇÃO GERAL E VARIABILIDADE CLIMÁTICA DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

O Oceano Atlântico Sul é marcado pela sua circulação média caracterizada pelo giro anticiclôni-
co fechado, chamado Giro Anticiclônico do Atlântico Sul (Peterson e Stramma, 1991). Esse giro é mantido
pela circulação geostrófica forçada pela ação dos ventos na superfície do mar, sendo muito semelhante
em forma e extensão ao giro atmosférico subtropical que domina o Oceano Atlântico Sul.

Na sua borda ocidental, paralelo ao continente sul-americano, o Giro Anticiclônico é delimitado


pela Corrente do Brasil (CB). Como limite sul, o giro tem a região conhecida como Frente Subtropical
(FST), na qual a circulação oceânica é dominada por um sistema de correntes chamado de Corrente do
Atlântico Sul, ou Corrente Sul-Atlântica (CSA). Quando se aproxima do continente africano, a CSA se
divide e a maior parte do seu transporte é dirigida para norte através da Corrente de Benguela que, por
sua vez, alimenta a Corrente Sul Equatorial (CSE). A CSE segue em direção ao Nordeste do Brasil, onde
também se bifurca gerando um ramo para sul que é a CB e outro para norte que é a Corrente Norte do
Brasil (CNB).

76 VOLUME 1
A Corrente Sul Equatorial transporta uma mistura de águas formadas ao sul da região de conflu-
ência das Correntes do Brasil e das Malvinas com águas transportadas do Índico para o Atlântico, através
dos anéis e filamentos na região de retroflexão da Corrente das Agulhas, ao Sul da África. Essa mistura
de águas contribui para o ramo superior da Célula Meridional do Atlântico - CMA (Peterson e Stramma,
1991).

A circulação oceânica é um dos mecanismos principais na redistribuição de calor no planeta.


Isso, associado com a alta capacidade térmica da água, faz com que o oceano desempenhe um papel
de importância crucial para o sistema climático.

3.5.2 VENTILAÇÃO E FORMAÇÃO DE MASSAS DE ÁGUA

Mudanças nas características de massas de água na região subtropical do Atlântico Sul podem
ter impactos substanciais na temperatura de superfície do Atlântico Norte, sobre a atmosfera e na célula
meridional de circulação do Atlântico Sul (Weijer et al., 1999, 2002; Graham et al., 2011). Análises de
dados hidrográficos históricos têm revelado que de 1955-1969 para 1985-1999 as camadas superiores
do Oceano Atlântico entre 25ºS e o equador se tornaram mais salgadas em cerca de 0,05 psu a 0,5
psu (Curry et al., 2003). Em contraste, águas sub-termoclínicas e sub-polares entre 45ºS e 10ºS têm se
tornado menos salinas, em cerca de 0,05 psu a 0,1 psu. Tendências similares na temperatura e salinidade
do oceano são observadas quando dados recentes dos flutuadores Argo (2004-2008) são comparados
com dados hidrográficos históricos (Roemmich e Gilson, 2009). As mudanças observadas são consis-
tentes com a evidência de aquecimento recente de águas mais densas ao sul de 50ºS (Y > 27,5 kg m-3,
onde Y representa a “anomalia de volume específico”, ou seja, a diferença entre o volume de água do
mar em qualquer ponto do oceano e o volume específico da água do mar com salinidade 35 partes por
mil e temperatura 0 oC, sob a mesma pressão) e resfriamento de águas mais leves (27,0 > Y > 27,2
kg m-3) mais ao norte (Gille, 2002; Böning et al., 2008). Similarmente, redução de salinidade de forma
coerente em toda a bacia tem sido observada ao longo de 24ºS em toda a termoclina no período 1983-
2009 (McCarthy et al., 2011). O afloramento de inverno dessas águas reflete uma região de precipitação
aumentada (Piola, 2010). A observação de salinidade aumentada sobre regiões com excesso de evapo-
ração e salinidade diminuída sobre regiões com excesso de precipitação sugere que essas mudanças são
causadas por uma amplificação do ciclo hidrológico (Durack e Wijffels, 2010). Entretanto, dados de oxi-
gênio dissolvido sugerem que o aumento de salinidade observado de 1958 a 1983 no leste do Atlântico
Sul está associado ao aumento de influência do Oceano Índico através do aumento do “vazamento das
Agulhas” (McCarthy et al., 2011).

3.5.3 ALTERAÇÕES NO “VAZAMENTO DAS AGULHAS”, GIRO SUBTROPICAL E NA CÉLULA


MERIDIONAL DO ATLÂNTICO

Conforme discutido na Seção 3.2.2, existem evidências observacionais e de modelagem indi-


cando que o Módulo Anular do Sul, o padrão de variabilidade interanual predominante dos ventos no
Hemisfério Sul, está mudando em direção a uma fase mais positiva, associado com o aumento e deslo-
camento para sul dos ventos de oeste neste hemisfério (Gille, 2002; Thompson e Solomon, 2002; Cai
et al., 2003). Mudanças nos ventos de oeste no Hemisfério Sul podem modular a amplitude da célula
meridional (Toggweiler e Samuels, 1995; Gnanadesikan, 1999) e o transporte da Corrente Circumpolar
Antártica (CCA). Testes recentes desse efeito usando modelos com resolução de vórtices oceânicos suge-
rem que o aumento para norte do transporte de Ekman associado com o aumento dos ventos de oeste
no Hemisfério Sul é largamente compensado com fluxos turbulentos de meso-escala em direção ao polo,
os quais também tendem a reduzir anomalias na ressurgência de águas profundas (Farneti e Delworth,
2010).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 77


Muito embora mudanças nos ventos de oeste pareçam ter impacto reduzido no transporte da
CCA e na Corrente das Malvinas (eg.: Fetter e Matano, 2008), as variabilidades na intensidade e no ro-
tacional do vento sobre o Atlântico Sul podem ter impactos sobre a penetração para sul da Corrente do
Brasil, o transporte do Giro Subtropical do Atlântico Sul e o aporte de águas do Oceano Índico através
da Corrente das Agulhas. Simulações numéricas de alta resolução sugerem que o último, o “vazamento
das Agulhas”, pode estar aumentando em resposta ao deslocamento para sul do forçante do vento, con-
tribuindo para a salinização do Atlântico Subtropical Sul, com impactos na célula meridional do Atlântico
(Biastoch et al., 2009).

3.6. ALTERAÇÕES NOS PADRÕES DE VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DO


OCEANO
Modos de variabilidade climática são padrões espaciais e temporais dominantes de variabilidade
climática, causados por processos físicos naturais decorrentes das interações entre a atmosfera e a Terra,
oceanos e a criosfera – as partes geladas do globo terrestre. Um melhor entendimento desses modos
é essencial para distinguir seus efeitos nas variações globais e regionais de temperatura e precipitação
daqueles associados com mudanças climáticas antrópicas – ver também capítulo 2. Além disso, é funda-
mental entender como as mudanças climáticas antrópicas podem alterar esses modos de variabilidade
climática e, consequentemente, as anomalias de temperatura atmosférica e precipitação.

3.6.1 PRINCIPAIS MODOS DE VARIABILIDADE DOS OCEANOS RELEVANTES PARA O BRASIL

Os modos de variabilidade climática relacionados com variações dos oceanos mais relevantes
para o clima do Brasil são: El Niño-Oscilação Sul (ENSO, sigla em inglês para El Niño–Southern Os-
cillation), modo zonal do Atlântico, modo meridional do Atlântico Tropical e modo dipolo subtropical do
Atlântico Sul.

O ENSO é caracterizado por um aquecimento ou resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico
Equatorial Leste. No primeiro caso, é denominado El Niño e no segundo, recebe o nome de La Niña.
Essas alterações da TSM deflagram uma série de mudanças na circulação atmosférica, que afetam o cli-
ma de várias regiões do mundo. Modo dominante de variabilidade global em escala interanual, o ENSO
responde por boa parte dela no que diz respeito à cobertura de nuvens, às temperaturas globais extre-
mas, às alterações nos padrões de precipitação e à taxa de retirada de calor e CO2 da atmosfera pelos
oceanos (Bousquet et al., 2000; Jones et al., 2001; Trenberth et al., 2002; Curtis e Adler, 2003; England
et al., 2014). No Brasil, eventos de El Niño causam secas no Norte e no Nordeste, e chuvas intensas ou
até mesmo enchentes, no Sudeste e Sul. Em contrapartida, os eventos La Niña ocorrem, quase sempre,
associados a episódios de seca, no Sudeste e no Sul, e de precipitação acima da média, no Norte e no
Nordeste (Grimm, 2003).

O modo zonal do Atlântico é considerado o principal modo de variabilidade do Atlântico Tropical


análogo ao Pacifico Niño e, por esta razão, chamado de Atlântico Niño (Figura 3.4a). É caracterizado por
anomalias quentes ou frias de TSM na região da língua fria do Atlântico Equatorial Leste e controlado por
processos oceânicos (Zebiak, 1993; Keenlyside e Latif, 2007).

Já o modo meridional do Atlântico Tropical é caracterizado por gradiente de anomalias de TSM


meridional: em sua fase positiva apresenta águas mais quentes do que o normal no Atlântico Norte Tro-
pical, e águas mais frias no Atlântico Sul Tropical, e vice-versa na fase negativa (Figura 3.4b). Acredita-se
que esse modo seja controlado pela atmosfera (Chang et al., 1997) e, também, a fonte principal de
variabilidade em escalas interanual e decenal. Geralmente, a ocorrência de uma fase positiva do modo
meridional impede o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para Sul, inibindo chu-
vas sobre o Norte e o Nordeste brasileiros. A ocorrência de anomalias frias no Atlântico Equatorial – o
Atlântico Niño – exacerba esta situação de seca.

78 VOLUME 1
Já o modo dipolo subtropical do Atlântico Sul é o principal modo de variabilidade desse oceano
em escalas de tempo interanual e decenal (Figura 3.4c). Caracteriza-se por anomalia de TSM com sinais
opostos entre polos equatorial e outro, subtropical, ambos separados por uma linha fictícia ao longo de
30° S (Venegas et al., 1997; Wainer e Venegas, 2002; Sterl e Hazeleger, 2003). Uma fase positiva deste
modo, com anomalias positivas de TSM no polo equatorial acompanhadas por anomalias negativas no
polo subtropical, provoca o deslocamento da ZCIT para Sul e acarreta chuvas no Norte e no Nordeste do
Brasil (Haarsma et al., 2003).

3.6.2 ALTERAÇÕES DOS MODOS DE VARIABILIDADE DAS PORÇÕES TROPICAL E SUL DO OCE-
ANO ATLÂNTICO DEVIDAS A MUDANÇAS NO ENSO

Evidências observacionais recentes sugerem que eventos canônicos de El Niño, com aquecimento
no Leste do Pacífico Equatorial, estão ficando menos frequentes e que, outro tipo de El Niño, com aqueci-
mento no centro do Pacífico Equatorial, chamado Modoki, está ficando mais comum nas últimas décadas
(Ashok et al., 2007; Ashok e Yamagata, 2009). A ocorrência de El Niño canônico diminuiu de 0,21 ao
ano no período de 1870 a 1990 para 0,11 ao ano no período de 1990 a 2007. Já os eventos El Niño
Modoki aumentaram de 0,05 ao ano para 0,41 ao ano nos mesmos períodos (Yeh et al., 2009).

Comparações entre as simulações feitas para os séculos XX e XXI, nas quais a concentração de
CO2 é mantida constante e igual a 700 ppm – partes por milhão –, conforme projeção de mudanças
climáticas A1B – um dos possíveis cenários construidos pelo IPCC acerca da evolução das emissões de
gases do efeito estufa –, sugerem maior frequência da ocorrência de El Niño Modoki (Yeh et al., 2009).
Acreditava-se que esta alteração estivesse ligada à mudanças ocorridas no estado básico dos oceanos,
causadas pelo aquecimento global, em particular, na estrutura da termoclina do Pacífico Equatorial. A
profundidade média desta última diminuiria no Pacífico Oeste, e aumentaria no Pacífico Leste, devido à
redução dos ventos alísios e ao enfraquecimento da circulação de Walker, provocados pelo aquecimento
global. Tal circunstância propiciaria maior variabilidade de TSM no Pacífico Equatorial Central; mas não
na sua porção leste. Porém, isto não foi o observado, houve uma intensificação dos alísios no Pacífico
na última década que levou a maior ocorrência de eventos de La Niña e El Niño Modoki (England et al.,
2014).

Resultados otidos por Rodrigues et al. (2011) sugerem que, eventos de El Niño são os respon-
sáveis pelo desenvolvimento das anomalias de TSM no Atlântico. Estas, por sua vez, junto com as mu-
danças na circulação atmosférica causadas pelo próprio El Niño, determinam o padrão de precipitação
sobre o Brasil. Assim, El Niño Modoki causam anomalias de TSM positivas no Atlântico Sul Tropical e,
negativas no Atlântico Sul Subtropical, como se pode observar à Figura 3.5. Tal padrão configura a fase
negativa do dipolo do Atlântico Sul. Observou-se que, das onze fases negativas do dipolo do Atlântico
Sul estabelecidas no período de 1950 a 2005, nove ocorreram em anos de El Niño Modoki. Verificou-se
também que, durante estes eventos, a língua de água fria do Atlântico não se desenvolveu – fase positiva
do Atlântico Niño – ao mesmo tempo em que as anomalias de TSM no Atlântico Norte Tropical foram
negativas, estabelecendo, assim, uma fase igualmente negativa do modo meridional. Foltz e McPhaden
(2010) confirmaram a existência da interação entre os modos zonal – Atlântico Niño – e meridional no
Atlântico Tropical. Consequentemente essas anomalias de TSM no Atlântico tropical permitem que a ZCIT
mova-se para Sul, e traga chuvas ao Norte e Nordeste do Brasil.

Já os eventos El Niño canônico causam anomalias de TSM negativas no Atlântico Sul Tropical e,
positivas, no Atlântico Norte Tropical, impedindo que a ZCIT se movimente para Sul e cause chuvas no
Nordeste. Nota-se que os padrões de precipitação sobre o Brasil, em anos nos quais se registrou esse
tipo de fenômeno, são opostos aos verificados naqueles em que ocorreram eventos de El Niño Modoki,
o que se pode observar nos painéis à direita, na Figura 3.5. Isto também se aplica, a eventos La Niña
(Rodrigues e McPhaden, 2014). No passado, as secas ocorridas no Sul e/ou no Sudeste em anos de even-
tos La Niña, eram acompanhadas por chuvas intensas no Norte e/ou no Nordeste. Porém, nos eventos
La Niña, registrados em 2007/08 e 2010/11, se observou uma inversão destes padrões sobre o Brasil.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 79


Considerando que a maioria dos eventos extremos no Brasil está relacionada ao El Niño e ao La Niña,
essas mudanças de comportamento do ENSO são extremamente importantes. Se o aumento da frequên-
cia de El Niño Modoki devido ao aquecimento global prosseguir, de acordo com Rodrigues et al. (2011),
haverá o desenvolvimento mais frequente de:

1) fases negativas do modo dipolo do Atlântico Sul – ou seja, polo equatorial quente e polo subtropical
frio;

2) anomalias quentes de TSM no Atlântico Equatorial, caracterizando uma fase positiva do Atlântico Niño;

3) anomalias menos quentes ou neutras de TSM no Atlântico Norte Tropical, caracterizando uma fase
negativa do modo meridional, em que o gradiente de TSM é negativo.

Esses padrões de TSM favorecem precipitações acima ou na média sobre o Nordeste brasileiro
e menos chuvas sobre o Sudeste e o Sul do Brasil, como exibido à Figura 3.5. Porém, ainda não se tem
uma previsão do que acontecerá com os eventos de La Niña que, potencialmente terão o efeito oposto e
já foram mais frequentes na última década (England et al., 2014). Os eventos de La Niña, ocorridos em
2005/06 e 2010/11, já acarretaram secas extremas na Amazônia (Lewis et al., 2011), tendo a primeira
delas sido considerada evento que se repete a cada 100 anos (Marengo et al., 2008). Duas estiagens de
comparáveis magnitudes porém, já ocorreram em um intervalo de três anos (Lewis et al., 2011; Marengo
et al., 2011). E a La Niña de 2011/12 causou a pior seca no Nordeste brasileiro dos últimos 30 anos.

O estudo observacional recente de Tokinaga e Xie (2011) já confirmou o enfraquecimento da


língua de água fria do Atlântico – o Niño do Atlântico. Em outras palavras, os autores descobriram que
a TSM tem aumentado no Atlântico equatorial leste nas últimas 6 décadas. Esse aumento teve uma taxa
de 1,5°C em 60 anos no núcleo da referida língua, analisando apenas os dados de inverno austral, a
estação em que este modo atinge seu pico. Esse aquecimento do Atlântico Equatorial Leste levou a uma
maior convecção atmosférica nesta região e à redução dos ventos alísios sobre o oceano, principalmente
no inverno austral, quando eles normalmente se intensificariam. Como os autores não acharam relação
entre essas mudanças e variações da circulação termoalina, acredita-se que o fenômeno possa estar re-
lacionado a alterações em eventos de ENSO.

Morioka et al. (2011) também mostraram que, depois do El Niño canônico de 1997/98, fases
negativas do dipolo subtropical do Atlântico Sul foram mais frequentes, mas como o número total desses
eventos é pequeno não se pode estabelecer tendência estatisticamente significativa.

3.6.3 ALTERAÇÕES DOS MODOS DE VARIABILIDADE DAS PORÇÕES TROPICAL E SUL DO OCE-
ANO ATLÂNTICO DEVIDAS A MUDANÇAS EM SUA CIRCULAÇÃO TERMOALINA

Embora partes da circulação termoalina no Oceano Atlântico exibam considerável variabilidade


decenal, dados observacionais não sustentam a existência de tendência estatística coerente a esse respei-
to (Carton e Hakkinen, 2011). Há, porém, indícios de que as mudanças climáticas possam gerar a sua
desaceleração (Gregory et al., 2005).

Alguns trabalhos com modelos numéricos já mostraram que a diminuição – ou até a interrupção
– da circulação termoalina pode ocasionar alterações nos modos de variabilidade do Atlântico. Haarsma
et al. (2008) mostraram que, com o colapso da circulação referida, a resposta de TSM seria caracterizada
por uma fase negativa do modo meridional, isto é, anomalias de TSM frias no Atlântico Norte Tropical
acompanhadas por TSM quentes no Atlântico Sul Tropical.

80 VOLUME 1
Além disso, as características do modo zonal – o Niño do Atlântico – seriam alteradas, a língua
de água fria se enfraqueceria e sua variabilidade interanual ficaria reduzida. Por outro lado, a variabili-
dade na região de ressurgência de Benguela aumentaria. Em consequência de tais alterações de TSM, a
precipitação aumentaria sobre o Norte e o Nordeste, com a migração para Sul da ZCIT, principalmente
no inverno austral.

Por outro lado, de acordo com Haarsma et al. (2011), apenas a interrupção da entrada de águas
do Oceano Índico no Atlântico – a rota quente do braço superior da circulação termoalina no Atlântico
– geraria um resfriamento do Atlântico Sul. Isto se deve ao fato de que, a entrada de águas do Índico
acontece através da retroflexão da Corrente das Agulhas, no sul da África, que acaba soltando anéis ou
vórtices que se propagam para o Atlântico (Beal et al., 2011). Como as águas provenientes do Oceano
Índico aprisionadas nesses anéis são mais quentes e salinas, interrompida sua entrada, o Atlântico se res-
friaria. O impacto disso resultaria em gradiente meridional positivo de TSM no Atlântico Tropical, o que
empurraria a ZCIT para Norte, causando secas, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Porém, estudos recentes baseados em observações e modelos diversos, mostraram que houve
uma migração para Sul do sistema de ventos sobre o Atlântico Sul, principalmente dos cinturões de
ventos de Oeste, ocasionando um aumento da entrada de águas do Oceano Índico no Atlântico e não,
uma diminuição (Biastoch et al., 2008, 2009). Tais efeitos provocaram o aquecimento e a salinização
do Atlântico Sul. Curry e Mauritzen (2005), assim como Sato e Polito (2008), já constataram elevação
da temperatura e intensificação da salinidade nas camadas superiores, situadas a profundidade de até
1.000 metros do citado oceano, nas últimas décadas. Ambas as mudanças nos ventos e nas característi-
cas termoalinas do Atlântico, por sua vez, podem ter modificado os modos de variabilidade do Atlântico
Sul – mas, estudos observacionais ainda não foram conduzidos e conclusões a esse respeito não podem
ser tiradas.

3.6.4 SÍNTESE

Há fortes indícios de mudança nas características dos eventos de El Niño no Oceano Pacífico du-
rante as últimas décadas. Desde o forte evento canônico de 1997/98, todas as demais ocorrências do El
Niño foram do tipo Modoki (Yeh et al., 2009). Como consequência, houve um enfraquecimento da alta
pressão do Atlântico Sul que acarretou:

1) fases negativas do modo dipolo subtropical do Atlântico Sul – ou seja, polo equatorial quente e,
subtropical, frio;

2) anomalias quentes de TSM no Atlântico Equatorial, caracterizando uma fase positiva do modo
zonal, isto é , Atlântico Niño; e

3) anomalias menos quentes ou até neutras no Atlântico Norte Tropical, caracterizando fase negativa
do modo meridional – com gradiente meridional de TSM negativo, portanto.

Tais padrões de TSM relacionadas ao El Niño Modoki favoreceram precipitações acima ou na


média sobre o Norte e o Nordeste brasileiros e menos chuvas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Eventos
La Niña também apresentaram alterações gerando respostas na precipitação sobre o Norte e Nordeste
contrárias àquelas para os eventos de El Niño Modoki (Rodrigues e McPhaden, 2014).

Em termos dos efeitos das mudanças climáticas na circulação termoalina do Atlântico, observa-
ções e modelos apontam para um enfraquecimento da sua célula meridional, mas um fortalecimento no
vazamento das Agulhas. O impacto de ambos seria o mesmo no Atlântico Sul em termos de aumento de
temperatura e da salinidade. No entanto, inexistem estudos observacionais que possam definir o efeito de
tal processo sobre os modos de variabilidade e as consequentes alterações nos padrões de precipitação
sobre o Brasil.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 81


Figura 3.4. Anomalias de TSM (em °C) para o
período de 1950 a 2010: (a) Modo zonal do
Atlântico Tropical, obtido a partir da primeira
função empírica ortogonal ou 1o EOF de TSM;
(b) Modo meridional do Atlântico Tropical,
obtido a partir da 1o EOF combinada de TSM
e cisalhamento do vento; (c) Modo dipolo
subtropical do Atlântico Sul, obtido a partir
da 1o EOF combinada de TSM e pressão ao
nível médio do mar. Os dados de TSM foram
extraídos do produto Extended Reconstructed
Sea Surface Temperature – ERSST (Smith et al.,
2008). Os dados de cisalhamento do vento e
pressão ao nível médio do mar foram obtidos
do produto de reanálise do National Center
for Environment Prediction-National Center for
Atmospheric Research NCEP-NCAR (Kalnay et
al., 1996).

Figura 3.5. Anomalias de TSM (°C) em


dezembro-janeiro-fevereiro (DJF) e de
precipitação (em milímetros por dia) em
março-abril-maio (MAM) para eventos
de El Niño canônico – representados nos
painéis superiores – e para eventos de El
Niño Modoki – como vistos nos painéis de
baixo. DJF é a estação do ano em que os
eventos de El Niño atingem seu pico – a
fase matura. MAM é o periodo chuvoso do
ano sobre o Norte e o Nordeste quando
o El Niño exerce grande influência sobre
precipitação no Brasil. Adaptado de
Rodrigues et al. (2011).

3.7 ALTERAÇÕES NO NÍVEL DO MAR E NA FREQUÊNCIA DE EXTREMOS NA MARÉ METEO-


ROLÓGICA

Há muita expectativa acerca da possibilidade de inúmeras cidades próximas ao mar ao longo


do globo sofrerem consequências diretas com as alterações no nível médio do mar associadas às mu-
danças climáticas. Ao considerar a variabilidade do nível do mar em escala de tempo geológica com a
configuração atual das cidades ao longo do globo, um aumento hipotético de 25 metros no nível médio
dos oceanos globais poderia afetar hoje em dia pelo menos 1 bilhão de pessoas (e.g., http://colli239.fts.
educ.msu.edu/2007/10/15/sea-level-rise-of-25-meters-would-displace-about-1-billion-people-2007/).
Mesmo não atingindo aumentos tão elevados, um aumento de apenas 1 metro no nível médio do mar
em escala global afetaria inúmeras localidades como áreas situadas abaixo do atual nível do mar,

82 VOLUME 1
como é o caso dos Países Baixos no norte da Europa, assim como ilhas tropicais que podem ser per-
manentemente inundadas. No Brasil, muitas cidades da orla marítima são totalmente vulneráveis a este
tipo de influência, inclusive capitais de vários Estados da Federação (Neves e Muehe, 2008). Estimativas
encontradas na literatura são: Recife (1946-1987) – 5,43 cm/déc (cm por década); Belém (1948-1987) -
3,50 cm/déc; Cananéia-SP (1954-1990) – 4,05 cm/déc; Santos-SP (1944-1989) – 1,13 cm/déc. (Harari
e Camargo, 1994; Harari et al., 1994; Mesquita et al. 1995, 1996).

Com o aumento do nível médio do mar, é possível associar ocorrências de eventos extremos de
inundações nas regiões costeiras mais frequentes. Não obstante, a ocorrência desses eventos possui de-
pendência direta com o comportamento dos sistemas atmosféricos transientes, cujas projeções também
envolvem considerações acerca de alterações do comportamento atmosférico sobre águas superficiais
mais aquecidas em boa parte do globo.

Trabalhos envolvendo modelagem climática acoplada em que diferentes cenários são simulados
em função da concentração dos gases do efeito estufa, como Meehl et al. (2005), indicam que mesmo
com uma estabilização das concentrações de CO2 aquelas do final do século XX e uma estabilização do
aumento de temperatura por volta de 2020-2030, o nível do mar continuará a apresentar taxas crescen-
tes de aumento, podendo alcançar valores até 3 vezes superiores aos aumentos experimentados neste
mesmo período.

3.7.1 ALTERAÇÕES DEVIDO AO AUMENTO DE TEMPERATURA

Padrões espaciais do aumento do nível do mar no período 1950-2000 a partir de dados de alti-
metria e reconstruções históricas baseadas em dados de marégrafos foram identificados por Church et al.
(2004), os quais identificaram uma diminuição do nível do mar na porção oeste do Atlântico Sul (Figura
3.6).

Figura 3.6. Distribuição regional do aumento


do nível do mar entre janeiro de 1950 e
dezembro de 2000, a partir de reconstrução
dos campos de nível do mar usando dados
de marégrafos. A linha sólida representa
2,0 mm ano-1 e os intervalos de contorno
são de 0,5 mm ano-1 (Fonte: Church et al.,
2004).

Levitus et al. (2005) apresentam uma compilação da variação do calor armazenado nos oceanos
no período 1955-2003, com base em séries históricas retrabalhadas e inúmeros dados atualizados, de-
tectando um aumento de 14,5x1022 J nos primeiros 3000 metros, o que correspondente a um aumento
médio de temperatura de 0,037 oC. Mais de 50% deste aumento ocorreu na Bacia do Atlântico. Poste-
riormente, Lombard et al. (2005a) analisando o efeito estérico no período 1950-1999 com base em duas
diferentes bases de dados oceânicos (Levitus et al., 2005; Ishii et al., 2003), esbarraram nas limitações
inerentes aos conjuntos de dados e mesmo complementando a análise com 10 anos de dados altimé-
tricos (1993-2003), não puderam fazer estimativas de prazo mais longo. Em seguida, Lombard et al.
(2005b) contestaram Cabanes et al. (2001), pois, ao isolar e re-estimar separadamente os efeitos combi-
nados, encontraram taxas de 1,4+/-0,5 mm ano-1 devido unicamente ao efeito eustático (acréscimo de
volume), o qual tem sido identificado como dominante nas últimas décadas e será melhor detalhado na
seção seguinte.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 83


Church et al. (2008) apresentam uma abordagem bastante completa, destacando a correspon-
dência das medidas altimétricas com o cálculo da expansão térmica da camada 0-700 m. Estes mesmos
autores analisam as projeções dos modelos climáticos capazes de representar este acúmulo de calor
pelos oceanos, fazendo menção explícita à componente devido ao potencial degelo não incluído nestas
simulações (Figura 3.7).

Figura 3.7. Projeções do aumento do nível do mar para o século XXI. A projeção de amplitude do aumento médio do nível do mar
em escala global obtida pelo IPCC-AR (2001) é mostrada pelas linhas e sombreado (o sombreado escuro representa o envelope
médio de todos os cenários SRES, o sombreado claro é o envelope para todos os cenários, e as linhas nas extremidades incluem
incertezas adicionais relativas ao gelo continental). A atualização do IPCC-AR4 feita em 2007 está mostrada pelas barras plotadas
em 2095, a barra magenta é o range projetado pelos modelos e a barra vermelha é o range extendido, porém pobremente
quantificado, que permite incluir a potencial contribuição de uma resposta dinâmica do gelo sobre a Groelândia e Antártica
ao aquecimento global. Observe que o IPCC-AR4 afirma que “valores maiores não podem ser excluídos, mas o entendimento
destes efeitos é muito limitado para avaliar sua probabilidade ou fornecer uma melhor estimativa ou um limite superior para o
aumento do nível do mar”. A inserção mostra a projeção de 2001 em comparação com a taxa observada estimada a partir de
marégrafos (azul) e satélite altimétricos (laranja) (baseado em Church et al., 2001; Meehl et al., 2007; Rahmstorf et al., 2007).

Woodworth et al. (2009) enfatizam a complexa quantificação das mudanças nas taxas de au-
mento do nível do mar ao redor do globo (Figura 3.8), fazendo as devidas associações com mudanças
de longo prazo na pressão atmosférica, no vento e no conteúdo de calor. Estes autores também fazem
menção a séries temporais locais dos índices climáticos ao longo do século XX e suas correspondências
com a variabilidade das taxas de aumento do nível do mar nas distintas partes do globo terrestre.

Figura 3.8. Distribuição espacial


do coeficiente quadrático de
aceleração (metade da aceleração
propriamente dita) a partir da
análise de Church e White (2006).
A linha preta indica o contorno de
aceleração zero.

Projeções ainda mais alarmantes foram recentemente apresentadas por Grinsted e Moore (2010),
cujos resultados com base em reconstruções paleo-geológicas apontam para um aumento de 1 metro
do nível do mar até 2100, ao invés dos valores entre 0,3 e 0,4 m inicialmente determinados pelo IPCC
(Figura 3.9).

84 VOLUME 1
Figura 3.9. Nível do mar projetado com base no cenário A1B do IPCC usando reconstruções de temperatura (Moberg et al.,
2005). Distribuição empírica de probabilidade do nível de mar obtida a partir de conjunto inverso de Monte Carlo com 2
milhões de realizações. A linha preta fina representa a média, a faixa cinza escuro representa um desvio-padrão, a faixa
cinza claro representa os percentis de 5 e 95%. A linha preta grossa representa o nível médio global reconstruído (Jevrejeva
et al., 2006) estendido para 1700 usando o nível do mar de Amsterdam (van Veen, 1945). Caixa mostra a estimativa do
cenário A1B do IPCC. Inserções mostram as projeções e ajustes aos dados GSL em maior detalhe.

Resultados de recentes compilações de dados para Port Saint Louis nas Ilhas Falklands foram
apresentados por Woodworth et al. (2010). Ao confrontar os dados da década de 1980 com as medições
realizadas por James Clark Ross em 1842, e também com as recentes medições maregráficas de 2009
em conjunto com dados altimétricos, fica evidente um aumento da taxa de aumento do nível do mar das
décadas recentes em relação ao século passado (0,75mm ano-1 de 1842 a 1980 versus 2,5 mm ano-1 de
1992 em diante – que inclui dados de satélite e marégrafos). De certa forma, estes aspectos refletem a
complexidade de fatores que estão regendo o comportamento do nível do mar nas décadas recentes, e o
degelo dos glaciares continentais é o ponto a ser destacado a seguir.

3.7.2 AUMENTO DE MASSA DEVIDO A DEGELOS DE GELEIRAS CONTINENTAIS

Determinações pioneiras do aumento do nível do mar devido ao degelo dos glaciares foram
apresentadas por Meier (1984), que já naquela época afirmava que a contribuição dos glaciares poderia
representar de 1/3 a 1/2 do aumento do nível do mar. De acordo com este autor, as estimativas de au-
mento de temperatura de 1,5 a 4,5 ºC até o final do século XXI estariam associadas a variações positivas
de 8 a 25 cm no nível médio do mar, e isso sem considerar o efeito das grandes porções de gelo presentes
na Groenlândia e em outras partes do globo. Mais de uma década depois, Gregory (1998) apresentou
estimativas de degelo em escala regional com base em campos de temperatura oriundos de modelagem
acoplada climática pioneira com o HADCM3 (Hadley Centre Coupled Model, version 3) associada ao
efeito do aumento dos gases do efeito estufa e também com a inclusão de aerossóis. Foram encontradas
variações alarmantes de 5 metros no nível médio do mar, sendo quase a metade deste aumento devido
unicamente ao degelo (132 mm de contribuição dos glaciares de modo geral, sendo 76 mm apenas do
degelo da Groenlândia). Nesta mesma linha, Rignot et al. (2003) apresentaram estimativas da contri-
buição do degelo na Patagônia para o aumento do nível médio do mar, comparando dados da missão
SRTM2000 (NASA Shuttle Radar Topographic Mission, Edition 2000) com material cartográfico histórico
referente aos 63 maiores glaciares da região. Este estudo revelou que a perda de massa apenas nestes
glaciares no período 1968/1975 a 2000 foi equivalente a um aumento de 0,04± 0,002 mm ano-1 no
nível médio do mar. Mais recentemente entre 1995 e 2000, a diminuição da espessura destes glaciares
devido ao aumento na temperatura e à diminuição da precipitação equivale a uma taxa de aumento de
nível do mar de 0,105±0,011 mm ano-1, a qual supera a contribuição dos glaciares do Alasca no au-
mento do nível do mar.


PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 85
Alley et al. (2005) afirmam que o comportamento dos glaciares da Antártica e da Groenlândia
é crucial e dominante para a taxa de aumento do nível do mar ao longo do século XXI, e que se forem
completamente derretidos, podem gerar um aumento de até 70 metros no nível do mar. As taxas de au-
mento do nível do mar têm suas maiores incertezas em função deste comportamento. Além disso, Alley et
al. (2005) levantam a questão da influência do aporte de água doce em regiões específicas do globo na
circulação oceânica de larga escala, que por sua vez pode afetar o transporte meridional de calor. Um
dado interessante em escala de tempo geológica é a variação do nível do mar e da existência de glaciares
ao longo da história do planeta em função da concentração de CO2: durante a última época em que não
havia gelo permanente no planeta, cerca de 35 milhões de anos atrás, a concentração de CO2 atingia
1250±250 ppmv e o nível do mar era 73 metros acima do nível atual; por outro lado, no último máximo
glacial, cerca de 21000 anos atrás, as concentrações de CO2 eram as menores registradas (185 ppmv),
e o nível do mar encontrava-se 120 metros abaixo do nível atual.

No trabalho de Sheperd e Wingham (2007), o volume estimado do degelo considerando Antárti-


ca e Groenlândia é aproximadamente 125 Gt ano-1, o que equivale a uma taxa de aumento médio do
nível equivalente do mar de 0,35 mm ano-1. Estes autores afirmam que este valor é muito inferior aos 3
mm ano-1 recentemente detectados de aumento de nível do mar em algumas localidades, mas enfatizam
que os processos de degelo vem apresentando nítida aceleração ao longo da última década, fato que
pode aumentar ainda mais estes valores.

Recentemente, Mitrovica et al. (2009) discutem a questão de um aumento não homogêneo do ní-
vel do mar em função da atração gravitacional que a massa congelada exerce no oceano adjacente. Em
suas considerações, estes autores analisaram o impacto do colapso da WAIS (West Antarctic Ice Shelf), o
qual mudaria a posição do polo Sul em cerca de 200 metros na direção oeste. Este pequeno deslocamen-
to no eixo de rotação aliado ao efeito gravitacional seria determinante sobre o nível do mar sendo que
o sul da América do Sul iria experimentar menores aumentos do que o aumento eustático homogêneo,
enquanto maiores aumentos seriam observados no Pacífico Norte, no Atlântico Norte e no Índico.

3.7.3 ALTERAÇÕES NA FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE EXTREMOS DE MARÉ METEORO-


LÓGICA

D’Onofrio et al. (2009) analisaram séries de nível do mar no período 1956-2005 referentes a Mar
Del Plata, Argentina, e puderam indicar tendências relevantes que também podem ser de grande valia
para a costa brasileira. Estes autores fizeram uma caracterização da Maré Meteorológica (diferença entre
a maré observada e a maré astronômica) Positiva (MMP) baseada na sua intensidade, duração e freqüên-
cia, e seus resultados mostraram um aumento no número médio de MMPs por década. Considerando to-
dos os eventos, a última década (1996-2005) exibiu um aumento médio de 7% quando comparada com
as décadas anteriores. Um resultado similar foi encontrado para a média decenal das alturas máximas
de MMPs. Nesse caso, a média de altura das últimas duas décadas excedeu a das prévias décadas em
cerca de 8 cm. A média decenal da duração máxima anual desses eventos meteorológicos mostrou um
aumento de 2 horas nas últimas três décadas. Os autores atribuem uma possível explicação para essas
alterações em frequência, altura e duração de MMPs em Mar Del Plata a um aumento do nível relativo do
mar.

Especificamente para a costa brasileira, Campos et al. (2010) utilizaram dados de elevação do
nível do mar do Porto de Santos-SP e campos de vento e pressão em superfície das reanálises do modelo
do NCEP (Kalnay et al., 1996) (base de dados continuamente atualizada representando o estado da at-
mosfera, com a incorporação de observações e de previsão numérica de tempo, elaborada pelo National
Centers for Environmental Prediction, USA), abrangendo o Atlântico Sul para o período de 1951 a 1990,
com o intuito de identificar a influência atmosférica em escala sinótica sobre o oceano, para eventos ex-
tremos de maré meteorológica na costa sudeste brasileira. Os autores identificaram a variabilidade sazo-
nal e concluíram que o outono e o inverno apresentaram a maior ocorrência de extremos positivos (40,2%
e 30,8%, respectivamente), enquanto que a primavera e o inverno ficaram com maior número de extre-
mos negativos (47,2% e 32,3%, respectivamente). Os resultados mostram que os casos mais importantes

86 VOLUME 1
de elevações positivas do nível do mar ocorrem com a evolução e persistência de sistemas de baixa pres-
são sobre o oceano, com ventos de sudoeste acima de 8 m s-1, juntamente com o anticiclone da retaguar-
da posicionado sobre o continente. Estes autores apresentam ainda uma estatística sobre a ocorrência de
eventos extremos positivos e negativos para o período 1951-1990 (Tabela 3.1).

Tabela 3.1a. Quantificação dos eventos superiores a +2 desvios–padrão (d.p.), considerando a série
filtrada de valores diários de elevação do nível do mar. Fonte: Campos et al. (2010).

Acima de +2 Primavera Verão Outono Inverno Total


d.p.
1951 - 1960 16 12 48 28 104
1961 - 1970 13 16 49 41 119
1971 - 1980 19 26 53 36 134
1981 - 1990 21 10 47 42 120

Tabela 3.1b. Quantificação dos eventos inferiores a -2 desvios-padrão (d.p.), considerando a série
filtrada de valores diários de elevação do nível do mar. Fonte: Campos et al. (2010).

Abaixo de -2 Primavera Verão Outono Inverno Total


d.p.
1951 - 1960 30 6 10 26 72
1961 - 1970 17 6 2 27 52
1971 - 1980 45 9 7 14 75
1981 - 1990 35 7 8 20 70

Dessa forma, os autores indicam que as flutuações de escala sinótica associadas a condições
específicas possuem um comportamento típico, as quais apresentam pouca variação ao longo dos anos,
conforme evidenciado nas tabelas de quantificação de ocorrências (Tabela 3.1a,b). Há pequenas varia-
ções também no total de casos ao comparar as décadas consideradas, com tendência ao aumento do
número de extremos positivos de 1951 a 1980. No caso de extremos negativos, os totais são em torno
de 70 casos, com exceção da década 1961-1970, com apenas 52. Em termos percentuais, as variações
interdecenais do total de eventos positivos estão em 13%, enquanto as variações negativas em 23%. Con-
siderando todo o período analisado, Campos et al. (2010) encontraram uma média anual de 12 eventos
de maré meteorológica acima de +0,38 metros e 7 eventos de maré meteorológica abaixo de -0,38
metros. É importante destacar que o período analisado por estes autores não inclui as décadas mais re-
centes, de modo a não permitir maior correspondência com os trabalhos referentes à costa da Argentina.

3.7.4 SÍNTESE

O comportamento do nível relativo do mar deve ser analisado e projetado considerando a con-
tribuição do aumento da temperatura das águas, o chamado efeito estérico, assim como o acréscimo
em função do degelo dos glaciares continentais, o efeito eustático, além da parcela devida ao efeito
isostático, que é referente à movimentação vertical do continente. O monitoramento destes parâmetros,
também em parte realizado nas duas últimas décadas por satélites, evidencia que o problema é bastan-
te complexo e que diferentes comportamentos são constatados ao redor do globo. De acordo com as
determinações recentes, grande parte das projeções de aumento do nível do mar para todo o século XXI

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 87


deve ser alcançada ao longo das primeiras décadas, o que faz com que se configurem perspectivas mais
preocupantes do que aquelas divulgadas no início dos anos 2000. Variações de 20 a 30 cm esperadas
para ocorrer ao longo do todo o século XXI já devem ser atingidas, em algumas localidades, até a metade
do século ou até antes disso, e deverá haver maior variabilidade espacial da resposta do nível do mar
entre os distintos locais do globo.

Neste subcapítulo foram apresentadas considerações acerca do conhecimento atual das tendên-
cias do nível relativo do mar em escala global, tentando enfatizar quando possível os diversos tipos de
determinações sobre o Atlântico Sul e, em especial, na costa do Brasil. Estudos realizados com base em
observações in situ são pouco numerosos, basicamente em função da baixa disponibilidade de séries
longas de nível do mar. Mesmo assim, taxas de aumento do nível do mar na costa sul-sudeste já vêm
sendo reportadas pela comunidade científica brasileira desde o final dos anos 80 e início dos anos 90,
com base nas séries maregráficas de Cananéia, Santos, Ilha Fiscal e Recife (Mesquita et al., 1986, 1995,
1996; Silva e Neves, 1991; Harari e Camargo, 1994; Neves e Muehe, 1995; Muehe e Neves, 1995).

Por outro lado, são relativamente numerosos os estudos em escala global, sejam de cunho obser-
vacional ou numérico, que consideram a complexa combinação de fenômenos que resultam nas varia-
ções de escala global do nível do mar, cujos resultados ainda mantém razoáveis discordâncias acerca do
seu comportamento em longas escalas de tempo.

3.8 MUDANÇAS NA BIOGEOQUÍMICA OCEÂNICA, INCLUINDO ACIDIFICAÇÃO


DO OCEANO
3.8.1 O CICLO DE CARBONO NO ATLÂNTICO TROPICAL

Os oceanos representam o compartimento mais importante do ciclo biogeoquímico global de di-


versos elementos essenciais, dentre eles o carbono. O estoque de carbono nos oceanos supera em cerca
de 50 vezes o estoque atmosférico (SCOR, 1988) e a dinâmica das trocas gasosas entre a atmosfera e o
oceano exerce um papel fundamental nos ciclos biogeoquímicos, como também nas mudanças climáti-
cas. Estas trocas são moduladas pelo desequilíbrio entre as pressões parciais do CO2 na atmosfera e na
superfície dos oceanos, sendo uma consequência de complexas interações físicas, químicas e biológicas,
incluindo as alterações provocadas por atividades humanas.

Ao longo das últimas décadas, a comunidade científica tem utilizado diferentes abordagens na
tentativa de quantificar a contribuição das trocas de carbono inorgânico entre a atmosfera e os oceanos
(Gruber et al., 1996; Sabine et al., 2004). A despeito destas tentativas, uma abordagem metodológica
conclusiva ainda não foi atingida (Vázquez-Rodríguez et al., 2009). Apesar disto, Sabine e Feely (2007)
estimaram que cerca de 1/3 do CO2 de origem antrópica que chega à atmosfera é absorvido pelos ocea-
nos, se concentrando nas camadas superficiais, acima da termoclina (Sabine et al., 2004). A capacidade
de absorção do CO2 atmosférico depende da integração de processos físicos, ligados à circulação, como
também da ação da bomba biológica, os quais exportam o carbono das camadas superficiais dos ocea-
nos para o oceano profundo e finalmente para os sedimentos (Cardinal et al., 2005).

Simulações de variações de estados de equilíbrio das trocas entre a atmosfera e o oceano são
constantemente verificadas através da aplicação de modelos numéricos, os quais necessitam ser valida-
dos por dados em larga escala temporal, ou seja, por monitoramentos e por estudos paleoceanográficos.
Para tal, programas internacionais que visam o estudo da variabilidade de parâmetros oceanográficos
e seus efeitos sobre diversos ciclos biogeoquímicos, tais como GEOSECS (Geochemical Ocean Sections
Program); WOCE (World Ocean Circulation Experiment); JGOFS (Joint Global Ocean Flux Study); OACES
(Ocean Atmospehere Carbon Exchange); BOFS (Biogeochemical Ocean Flux Study); SOLAS (Surface Oce-
an Lower Atmosphere Study); CARBOCEAN (Marine Carbon Sources and Sinks Assessment), dentre outros,
têm contribuído com dados desde a década de 1970. A despeito destes programas internacionais, o

88 VOLUME 1
Oceano Atlântico Tropical, em especial a margem oeste do Atlântico Sul, ainda representa uma das regi-
ões menos estudadas do planeta. Neste sentido, um importante esforço observacional foi decorrente do
Programa REVIZEE (Programa Nacional de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos da Zona
Econômica Exclusiva), realizado no período 1995-2001.

O Programa REVIZEE, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos
e da Amazônia Legal, destinou-se a proceder um levantamento dos potenciais sustentáveis de captura
dos recursos vivos na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira. Para tal, foram realizados cruzeiros
oceanográficos em distintos períodos do ano, com a obtenção de dados físicos, químicos, biológicos e
geológicos. Estas campanhas permitiram registrar a variabilidade sazonal da estrutura termohalina, da
composição química da água do mar, da biota e das características geológicas do assoalho oceânico
(Hazin, 2009). A partir destes levantamentos foi possível construir cartas de distribuição espacial média
de Temperatura (°C), Salinidade, Alcalinidade total (TA, do inglês Total Alkalinity; μmol kg-1), Carbono
Inorgânico Dissolvido (DIC, do inglês Dissolved Inorganic Carbon; μmol kg-1), e Fluxo de CO2 na interface
oceano-atmosfera (FCO2, mmol CO2 m-2 d-1), na borda oeste do Atlântico Tropical Sul, adjacente às Regi-
ões Norte e Nordeste do Brasil (Figura 3.10). Valores positivos de FCO2 na Figura 3.10 indicam liberação
de CO2 do oceano para a atmosfera, enquanto que valores negativos de FCO2 representam a captura de
dióxido de carbono atmosférico. Os resultados obtidos a partir dos cruzeiros oceanográficos do Programa
REVIZEE indicam valores de Alcalinidade total na fronteira oeste do Atlântico Tropical Sul oscilando em
torno de 2310±200 μmol kg-1. Para a região marinha localizada entre 5oS e 15oS, obtém-se um valor
médio ligeiramente superior (2380±22 μmol kg-1) à média calculada para a área setentrional (5oS-5oN)
(2245±250 μmol kg-1), refletindo claramente a influência do aporte continental das águas amazônicas
na Região Norte. Estes valores estão de acordo com as estimativas de Millero et al. (1998) para a região
compreendida entre 30ºN e 20ºS (2180-2450 μmol kg-1), de Key et al. (2004) e Lee et al. (2006), estes
utilizando bancos de dados globais. A distribuição espacial de concentração de DIC, obtida a partir dos
dados do Programa REVIZEE, fornece um valor médio de 1940±170 μmol kg-1 para toda a região, repe-
tindo-se, entretanto, o padrão verificado para a TA, ou seja, com uma média espacial superior nas águas
da borda leste (2003±60 μmol kg-1) quando comparado à região oceânica setentrional (1880±200
μmol kg-1). Estes valores de DIC estão igualmente próximos das estimativas de Goyet et al. (1998) para
a região compreendida entre 5ºN e 15ºS (1920-2075 μmol kg-1), situando-se ainda levemente acima
dos valores indicados nas cartas globais de distribuição de DIC elaboradas por Key et al. (2004) para a
mesma região de estudo.

A distribuição espacial dos fluxos médios oceano-atmosfera de CO2 na borda oeste do Atlântico
Tropical, obtida a partir das observações do Programa REVIZEE, também é apresentada na Figura 3.10.
Os cálculos indicam que a região se comporta, globalmente, como um sumidouro de dióxido de carbono
atmosférico (-0,74 ±3 mmol CO2 m-2 d-1), apesar das estimativas de fluxo por sub-regiões se mostrarem
com sinais opostos. Enquanto que as águas da borda leste (5oS-15oS) apresentaram um valor médio de
fluxo de CO2 positivo (+0,47±3 mmol CO2 m-2 d-1), ou seja, funcionam como uma fonte de dióxido de
carbono para a atmosfera, a porção norte da área de estudo (5ºN-5ºS) se caracteriza como sumidouro
de CO2 (-1,8±3 mmol CO2 m-2 d-1). As razões desta situação, aparentemente controversa, ainda são
pouco discutidas na literatura. As cartas globais de Takahashi et al. (2002) indicam fluxos médios de CO2
variando de -1,5 a +2 mmol CO2 m-2 d-1 para a região localizada entre 14ºN e 14ºS, com uma tendên-
cia à ocorrência de valores negativos (sumidouro) na área marinha sob influência da pluma do Rio Ama-
zonas. Esta característica de sumidouro associada à porção norte da área de estudo é também verificada
a partir dos trabalhos de Ternon et al. (2000), Körtzinger (2003), Lefèvre et al. (2010) e Subramaniam et
al. (2008). Estes últimos autores sugerem o incremento da produção primária nas águas sob influência da
pluma do Amazonas como mecanismo indutor da maior intensidade de captura de CO2 atmosférico nesta
região. Para a borda leste, Oudot et al. (1995) confirmam que a região funciona basicamente como fonte
de CO2 para a atmosfera. Em ambos os casos, entretanto, maiores estudos devem ser realizados visando
a identificação e, sobretudo, a quantificação dos mecanismos envolvidos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 89


Figura 3.10. Distribuição espacial média de a) Alcalinidade
total (TA, μmol kg-1), b) Carbono Inorgânico Dissolvido
(DIC, μmol kg-1), e c) Fluxo de CO2 na interface oceano-
atmosfera (FCO2, mmol CO2 m-2 d-1), na borda oeste
do Atlântico Tropical Sul, adjacente às Regiões Norte e
Nordeste do Brasil (1995-2001). Os pontos negros na
figura indicam a localização das estações de amostragem
do Programa REVIZEE. Adaptado de: Silva et al. (2005a,
b), Santos et al. (2008), Medeiros et al. (2009) e Macedo
et al. (2009).

Os níveis de CO2 atmosférico têm aumentado em aproximadamente 40% desde o período Pré-in-
dustrial até hoje, passando dos 280 ppmv (partes por milhão volume) para 390 ppmv em 2011 (Mauna
Loa – NOAA/ESRL), sendo 50% deste acréscimo ocorrido nas últimas três décadas (Feely et al., 2009). A
concentração de CO2 atmosférico é atualmente a maior dos últimos 800.000 anos (Luthi et al., 2008),
o que aumenta a necessidade de melhorar o entendimento do equilíbrio entre a atmosfera e a superfície
dos oceanos.

A absorção do CO2 atmosférico pelos oceanos provoca alterações no balanço químico dos oce-
anos, em especial alterando o pH e o equilíbrio dos íons carbonatos e do estado de saturação de calcita
(Ωca) e aragonita (Ωar). Com o aumento na concentração do CO2 das águas superficiais, devido ao
equilíbrio com a atmosfera, há a formação de mais H2CO3 (ácido carbônico). A maior parte deste H2CO3
se dissocia formando HCO3- (íon bicarbonato) e H+ (íon hidrogênio), o qual reage com o CO3-2 (íon
carbonato) produzindo mais íons HCO3-. O resultado destas reações no sistema carbonato dos oceanos
é o aumento dos íons H+ (decréscimo do pH) e decréscimo na concentração do íon CO3-2. Estas modifi-
cações são conhecidas como a “acidificação dos oceanos” (Caldeira e Wickett, 2003, 2005; Orr et al.,
2005; Doney et al., 2009; Feely et al., 2009; González-Dávila et al., 2010).

Medidas realizadas desde a década de 1980 pelos Estudos de Séries-Temporais do Atlântico


(ESTA), nas Bermudas, demonstrou um decréscimo de pH no leste do Atlântico da ordem de 0,02 unida-
des por década (Solomon et al., 2009). Considerando as alterações ocorridas desde o período Pré-indus-
trial, Raven et al. (2005) estimam que o pH das águas superficiais dos oceanos mudou de 8,21 a 8,10,
com expectativa de atingir um decréscimo de 0,3 a 0,4 unidades de pH (Orr et al., 2005), caso a pressão
parcial do CO2 na atmosfera atinja 800 ppmv (Friedlingstein et al., 2006), que é uma das projeções do
IPCC para o final deste século. Neste sentido, simulações a partir do Modelo Climático Global (NCAR –
Model 3.1) considerando as alterações no pH e na concentração de íons carbonatos no Oceano Atlântico
Tropical, em condições de 2 ou 3 vezes a concentração Pré-industrial de CO2 mostram uma diminuição de
0,13 e 0,28 no pH, e diminuição de 21% e 40,8% na concentração dos íons carbonatos, respectivamente

90 VOLUME 1
(Feely et al., 2009). Estes resultados sugerem possíveis efeitos drásticos do aumento das concentrações de
CO2 na atmosfera no tocante aos equilíbrios químicos e das trocas gasosas com os oceanos.

Dentre os diversos efeitos da acidificação dos oceanos, a alteração no equilíbrio do sistema


carbonato dos oceanos é aquele que apresenta a maior repercussão sobre os organismos marinhos, em
especial nas taxas de calcificação e na saturação da CaCO3 (carbonato de cálcio). Os ecossistemas co-
ralinos têm sido frequentemente afetados em diversas regiões costeiras do Brasil e do mundo (Leão, 1996;
Leão et al., 1997; Baker et al., 2008; Albright e Langdon, 2011).

A transferência do carbono entre os compartimentos atmosfera e oceano pode ser avaliada atra-
vés de medidas da distribuição de pigmentos fotossintetizantes no Atlântico Sul, as quais estimam uma
produtividade primária oceânica média de 4,6 GtC ano-1 (Antoine et al., 1996). O balanço entre a
produção primária e a acumulação de carbono nos sedimentos marinhos determina a extensão na qual
os oceanos sequestram o CO2 atmosférico. A produção primária global dos oceanos foi estimada por
Antoine et al. (1996) e Longhurst et al. (1995) como entre 36,5 e 50,2 GtC ano-1, sendo a acumulação
de carbono nos sedimentos estimada entre 126 e 160 MtC ano-1 (megatoneladas de carbono por ano;
Berner, 1982; Hedges e Keil, 1995). De acordo com estes estudos, apenas 2,5% a 4% do carbono biolo-
gicamente fixado nos oceanos é acumulado nos sedimentos, sendo a grande parte remineralizado na pró-
pria coluna d’água. Segundo Berner (1982), a acumulação de carbono orgânico para a região pelágica
do Oceano Atlântico é da ordem de 3,6 x 1012 gC ano-1, com uma média de 0,05 gC m-2 ano-1 para a
bacia Atlântica. Contudo, é importante ressaltar que, em áreas de ressurgências, estes valores podem ser
bastante diferentes das médias globais. Neste sentido, a produção primária na ressurgência de Benguela
foi estimada em 323 gC m-2 ano-1, sendo a acumulação de carbono da ordem de 1-2 gC m-2 ano-1 (Mol-
lenhauer et al., 2004), enquanto que estimativas recentes do acúmulo de carbono na plataforma conti-
nental na região da ressurgência de Cabo Frio, litoral do Estado do Rio de Janeiro, mostraram valores que
atingem até 1 mgCOT m-2 ano-1 (COT - carbono orgânico total) durante o último século (Albuquerque,
2011), a despeito das diferenças na magnitude dos sistemas de ressurgência (Figura 3.11). Estudos com
armadilhas de sedimentação na ressurgência na Namíbia revelaram que 0,8-1,1% da produção primária
atinge profundidade de 1000 m (Fischer et al., 2000), sendo que deste percentual apenas uma pequena
parcela deste carbono fica acumulado nos sedimentos. François et al. (2002) concluíram que as regiões
tropicais produtivas, tais como as regiões de ressurgência, representam as áreas de maior eficiência de
transferência de carbono orgânico para o ambiente pelágico. Baseado em estudos de fluxo bêntico,
Jahnke (1996) estimou que a maior parte da transferência de carbono para o ambiente pelágico ocorre
entre 30° de latitude norte e sul.

Em grande parte do Oceano Atlântico Sul Tropical e Subtropical, a acumulação de carbono or-
gânico nos sedimentos é basicamente controlada pela produtividade primária nas águas superficiais, des-
contados os processos de reciclagem na própria coluna d’água. A despeito da alta produtividade primária
registrada em diversas áreas costeiras, algumas destas regiões apresentam baixos valores de fluxos de
carbono orgânico para os sedimentos, e isto se deve às altas taxas de reciclagem nas águas superficiais,
causando uma baixa eficiência no transporte de carbono para o fundo. Isto tem sido documentado por
Hensen et al. (1998) na porção equatorial leste do Atlântico Sul. Neste sentido, Mollenhauer et al. (2004)
apontam que pouco é ainda conhecido sobre a porção da produção primária que efetivamente atinge os
sedimentos marinhos, em especial para os oceanos em baixa e média latitudes. O aumento de estudos
que abordem este tema nos oceanos tropicais aportaria importante contribuição para o entendimento
para o papel do soterramento de carbono no ciclo global.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 91


Figura 3.11. Acumulação de
carbono orgânico no Oceano
Atlântico Sul (adaptado de
Mollenhauer et al., 2004).

De acordo com Wollast (1998), de 0,5% a 3% da produção primária das plataformas continentais
e do talude e cerca de 0,014% dos oceanos profundos fica acumulada nos sedimentos. Assim, grande
quantidade da produção primária produzida nas zonas costeiras, aproximadamente 2,2 GtC ano-1 é
exportada para o oceano profundo através de transportes transversais (cross-shelf exchanges; Wollast,
1998). Uma fonte adicional de carbono é fornecida pelas descargas fluviais e input eólico. As estimativas
apontam que 0,4 GtC ano-1 chegam nas margens continentais (Schlesinger e Melack, 1981; Ittekkot,
1988; Hedges, 1992; Meybeck, 1993; Ludwig et al., 1996). O destino deste material terrestre mais re-
fratário é ainda pouco conhecido. Neste contexto, a importância dos aportes fluviais, representados pelo
Rio Amazonas, Rio São Francisco, Rio Doce, Rio da Prata, Rio Congo, dentre outros, é fundamental para
a produção de carbono no Oceano Atlântico Tropical e Subtropical e significativo para o balanço global
do carbono. Assim, o acúmulo de carbono nos sedimentos na costa do Brasil é essencialmente controlado
pela descarga de diversos rios, os quais transportam grande quantidade de sedimentos, como também de
matéria orgânica (Tintelnot, 1995).

Apesar da margem oeste do Atlântico Sul ser pouco influenciada por processos de ressurgência,
em especial quando comparada com a margem leste, a produtividade costeira é mantida, além dos
aportes fluviais, pela confluência de águas frias e ricas em nutrientes da Corrente das Malvinas e as águas
quentes e pobres em nutrientes da Corrente do Brasil. A região da confluência está localizada na região
do Rio da Prata (39°S). Nesta região, movimentos frontais complexos e padrões de mistura destas mas-
sas d’água são formados. A interação entre a Corrente do Brasil e a Corrente das Malvinas produz uma
forte dinâmica sedimentar e gravidade controlada pelos fluxos de massas (Garzoli, 1993; Peterson et al.,
1996; Hensen et al., 2000, 2003). A força das correntes de fundo nesta região dificulta acumulação de
material fino, ocorrendo a predominância de deposição de material terrígeno na plataforma e no talude.
A maior parte da descarga do Rio da Prata e de seus tributários não é depositada no delta, mas trans-
portada para regiões mais distantes da bacia. Abaixo de 4000 metros, a Água de Fundo Antártica (AFA)
forma uma potente corrente de contorno ao longo da margem continental Argentina, a qual transporta os
sedimentos finos para a parte central da bacia (Ewing et al., 1964; Garzoli, 1993; Peterson et al., 1996;
Hensen et al., 2000).

É importante ressaltar que Mollenhauer et al. (2004), estudando 77 amostras de sedimento ma-
rinho distribuídas ao longo de toda bacia do Oceano Atlântico Sul, mostraram que a acumulação de
carbono orgânico durante o Último Máximo Glacial foi cerca de 2 a 3 vezes maior do que durante o
Holoceno. Isto ocorre em resposta às mudanças na química da água do mar, na circulação e nos padrões
de estratificação e formação de camadas de mistura. Além disto, a exposição da plataforma continental

92 VOLUME 1
devido à regressão marinha glacioeustática também colaborou para a oxidação de parte do carbono
acumulado. Desta forma, Anderson et al. (2009) aponta o papel vital do Atlântico Sul como regulador da
variabilidade das concentrações do CO2 atmosférico entre os períodos glacial-interglacial.

3.8.2 SÍNTESE

Os oceanos representam o compartimento mais importante do ciclo biogeoquímico global de


diversos elementos essenciais, dentre eles o carbono. A dinâmica das trocas gasosas entre a atmosfera
e o oceano exerce um papel fundamental nos ciclos biogeoquímicos, como também nas mudanças cli-
máticas. Ao longo das últimas décadas a comunidade científica tem utilizado diferentes abordagens na
tentativa de quantificar a contribuição das trocas de carbono inorgânico entre a atmosfera e os oceanos.
No entanto, nenhuma abordagem metodológica foi até agora conclusiva, a despeito dos esforços rea-
lizados por diversos programas de pesquisa nacionais e internacionais. O programa REVIZEE contribuiu
significativamente através do registro da variabilidade sazonal da estrutura termohalina, da composição
química da água do mar, da biota e das características geológicas do assoalho oceânico no Oceano
Atlântico Oeste.

Desde o período Pré-industrial, os níveis de CO2 atmosférico têm aumentado em aproximada-


mente 40%, sendo atualmente o maior dos últimos 800.000 anos. A absorção do CO2 atmosférico pelos
oceanos provoca alterações no balanço químico dos oceanos, em especial alterando o pH e o equilíbrio
dos íons carbonatos e do estado de saturação de calcita e aragonita, causando grande repercussão sobre
organismos marinhos. Medidas realizadas desde a década de 80 mostram um decréscimo de pH no leste
do Atlântico da ordem de 0,02 unidades por década.

Outra importante forma de avaliar as transferências do carbono entre os compartimentos at-


mosfera e oceano pode ser avaliado através de medidas da acumulação de carbono nos sedimentos
marinhos. Neste sentido, alguns autores apontam que a acumulação de carbono orgânico para a região
pelágica do Oceano Atlântico é da ordem de 3,6 x 1012 gC ano-1, com uma média de 0,05 gC m-2 ano-1
para a bacia Atlântica, apresentando valores ainda maiores em áreas de ressurgências. Em grande parte
do Oceano Atlântico Sul Tropical e Subtropical a acumulação de carbono orgânico nos sedimentos é
basicamente controlada pela produtividade primária nas águas superficiais. Estudos demonstram também
que de 0,5% a 3% da produção primária das plataformas continentais e do talude e cerca de 0,014% dos
oceanos profundos fica acumulada nos sedimentos. Assim sendo, as altas taxas de reciclagem nas águas
superficiais acabam por causar uma baixa eficiência no transporte de carbono para os sedimentos. Por
fim, estudos paleoceanográficos demonstram que, durante o Último Máximo Glacial, a acumulação de
carbono nos sedimentos foi cerca de 2 a 3 vezes maior do que durante o Holoceno. Isto ocorre em res-
posta a mudanças na química da água do mar, na circulação e nos padrões de estratificação e formação
de camadas de mistura.

3.9 MUDANÇA NA ESTRUTURA DE MANGUEZAIS


3.9.1 EQUILÍBRIO ECOLÓGICO E ESTRUTURA DO ECOSSISTEMA

A fisiografia das linhas de costa tropicais associadas a manguezais, criadas ou modificadas por
forças geomórficas (Thom, 1984), provê condições físicas nas quais as diferentes espécies vegetais de
mangue se desenvolvem. Esse desenvolvimento ocorre de acordo com suas adaptações individuais, to-
lerâncias e necessidades por fatores diversos, tais como níveis de maré ou de submersão, salinidade
ou preferências edáficas. Cada espécie possui tolerância específica em termos de período, frequência
e profundidade de inundação (Semeniuk, 1994). Em seguida, são as condições climáticas locais que
modificam as características dos bosques, impondo limites à colonização, crescimento e desenvolvimen-
to (Thom, 1984; Woodroffe, 1987; Schaeffer-Novelli et al., 1990; Cintrón-Molero e Schaeffer-Novelli,
1992).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 93


Alguns efeitos locais mudam continuamente, tais como os induzidos por mudanças no tamanho
e na configuração de um estuário considerando orientação das correntes e áreas de geração (fetch), ge-
ologia das bacias hidrográficas associadas e o uso das terras à montante sobre os efeitos na altura das
marés (Kennish, 2002; Berger et al., 2008); enquanto o nível médio relativo do mar - NMRM se eleva
(transgressão marinha) ou se reduz (regressão marinha). O manguezal também pode migrar, acompa-
nhando as variações do NMRM (Pereira, 1998; Soares, s/d; Behling et al., 2004; Cohen et al., 2005;
Vedel et al., 2006; Hadlich e Ucha, 2009). Testemunhos feitos na feição “apicum” (fácies hipersalino do
ecossistema manguezal) revelam presença de troncos de mangue fósseis, indicando que o mar atingiu
níveis superiores aos atuais na Baía de Sepetiba (Pereira, 1998; Portugal, 2002) e na Baía de Todos os
Santos (Hadlich e Ucha, 2009).

Manguezais são sensíveis a mudanças no ambiente externo e rapidamente se adaptam a altera-


ções das condições ambientais, ou prontamente sucumbem (Jimenez et al., 1985; Blasco et al., 1996). A
rápida acomodação às novas condições é resultado do conjunto de espécies vegetais típicas de mangue
que permitem a colonização de habitats que são dinâmicos, intermitentemente favoráveis e desfavoráveis
(Fromard et al., 2004; Cunha-Lignon et al., 2009). Essas características podem ser: (a) ampla tolerância
a fatores ambientais; (b) rápido crescimento; (c) rápida maturação; (d) contínua produção de flores e de
propágulos; (e) elevada liberação de propágulos (diásporos); e (f) possibilidades de dispersão de propá-
gulos por via aquática a curtas e longas distâncias por agentes abióticos (correntes e marés). Espécies
diferentes podem ser capazes de colonizar novas áreas a diferentes taxas, tornando algumas espécies
mais capazes de se acomodarem aos vários níveis do mar (Semeniuk, 1994).

Todos esses atributos fizeram com que muitos considerassem manguezais como sistemas sucessio-
nais quando, de fato, se tratam de ecossistemas auto-sustentáveis em ambientes onde essas características
se tornam requisito para sucesso na sobrevivência (Lugo, 1980). Levando em consideração a dinâmica
dos tipos de costa (Thom, 1984) e as respostas do ecossistema às variações da hidrologia ou dos níveis
de maré (Jimenez et al., 1985; Blasco et al., 1996), manguezais ocupam áreas costeiras tropicais extre-
mamente dinâmicas (Thom, 1967; Kjerfve et al., 2002; Schaeffer-Novelli et al., 2002; Cunha-Lignon et
al., 2009). Assim, as coberturas vegetais dos manguezais mais bem desenvolvidos estruturalmente podem
ser encontradas em áreas geomorficamente ativas, sujeitas a fortes aportes deposicionais e a processos
erosivos (Kjerfve et al., 2002). Estes tipos de paisagem apresentam mosaicos de habitats, incluindo centros
de ativo estabelecimento de novas plantas e áreas de crescimento estável, da mesma forma que áreas
com perda de bosques e com substratos sendo erodidos ou rebaixados (Schaeffer-Novelli et al., 2002;
Cunha-Lignon et al., 2009).

O sistema radicial constitui um dos componentes estruturais mais importantes dos bosques de
mangue dando origem a lodos espessos e fibrosos, como aqueles associados a parcelas cobertas por
árvores do gênero Rhizophora (Hesse, 1961). A construção das costas lodosas tropicais, onde se desen-
volvem os manguezais, é basicamente uma função de quão rapidamente os sedimentos são carreados e a
razão na qual a matéria orgânica (raízes e detritos orgânicos), produzida in situ se incorpora ao substrato.
A biomassa radicial subterrânea agrega partículas de sedimento, construindo o substrato que contribui
para elevação da cota do terreno (Wells e Coleman, 1981; Huxman et al., 2010). Esse processo de ele-
vação do substrato devido à sedimentação e ao aumento da biomassa das raízes, leva à formação de
terraços deposicionais que podem expandir em direção ao mar por progradação, ou migrar em direção a
terra, com o aumento do nível do mar. A morte da cobertura vegetal do manguezal e a perda de biomas-
sa radicial determinam a desintegração do substrato, aumentando a profundidade de inundação e, por
conseguinte, a suscetibilidade à erosão. Os sedimentos que eram mantidos aderidos pela massa radicial
são liberados, sendo mais suscetíveis à erosão.

Considerando cenários de aumento do NMRM, Soares et al. (2000) e Schaeffer-Novelli et


al. (2002) propõem modelo conceitual para prever, em nível local, o comportamento de manguezais
diante das elevações projetadas para o NMRM, considerando os seguintes fatores: topografia; fon-
tes de sedimentos; taxa de aporte de sedimentos; área da bacia de drenagem; amplitude das ma-
rés; dinâmica costeira; e taxa de elevação do NMRM. Diante dos cenários construídos pelo retração

94 VOLUME 1
(erosão na porção de contato com a linha d’água, sem oportunidade de migração); e (iii) resistência às
alterações do NMRM (equilíbrio entre as taxas de transgressão marinha e as taxas de aporte de novos
sedimentos). Cada uma dessas respostas pode ocorrer com: a) manutenção; b) exclusão; e c) formação
de refúgios. O modelo conceitual permite, ainda, categorizar as áreas de manguezal quanto aos seus
graus de vulnerabilidade, em baixa, média e alta (Soares, s/d).

3.9.2 POTENCIAIS RESPOSTAS ESTRUTURAIS DOS MANGUEZAIS AOS IMPACTOS DAS MU-
DANÇAS CLIMÁTICAS

3.9.2.1 AUMENTO DO NÍVEL MÉDIO RELATIVO DO MAR-NMRM

Manguezais possuem características biológicas que os tornam potencialmente sensíveis a altera-


ções no nível do mar, sendo considerados bons indicadores dessas mudanças (Deness, 1987; Woodroffe,
1990; Ellison, 1993; Blasco et al., 1996; Ellison e Farnsworth, 1997; Soares et al., 2000; Schaeffer-No-
velli et al., 2002). Predições de respostas e interpretação de diagnósticos atuais de um manguezal não
podem ser analisadas independentemente dos fatores que as afetam, podendo variar muito sob uma
perspectiva local, uma vez que as estruturas do ecossistema e a zonação da cobertura vegetal não são
uniformes (Bacon, 1994). A capacidade de manguezais se adaptarem, e até de sobreviverem a despeito
de alterações do nível do mar, não depende somente das propriedades individuais das espécies vegetais
ou do bosque de mangue, mas dos processos que operam ao nível da paisagem e a escalas regionais,
no espaço e no tempo.

Field (1995) sugere que o aumento no NMRM deve ser o fator mais importante a influenciar a
futura distribuição dos manguezais, e que seu efeito pode ter grande variação, dependendo da taxa local
do aumento e da disponibilidade de sedimento para dar suporte ao restabelecimento do manguezal.
Ellison (1996) acrescenta que, possivelmente, a amplitude de distribuição dos manguezais pode ser mais
plástica do que o esperado, caso haja disponibilidade de novos espaços.

Devido às diferenças locais e regionais, as paisagens do Holoceno médio e superior incluem am-
bientes de manguezais tanto transgressivos como regressivos. A importância da história do nível do mar
para estudo dos manguezais é a de que os settings, “séries de manguezais”, correspondem a escalas de
tempo geológico (Thom, 1984). Essas séries, criadas ou modificadas por forças geomórficas correspon-
dem, no caso dos manguezais, a diversos tipos de formas de relevo que provêm substrato adequado e
abrigo contra forças erosivas (Thom, 1984; Vale, 2004). Núcleos de bosques de mangue desenvolvidos
sobre arenitos praiais (beach rocks) serão eliminados por níveis do mar mais elevados, uma vez que terão
seus sistemas radiciais permanentemente inundados.

Para a costa amazônica, Cohen et al. (2005) sugerem que o aumento do NMRM em áreas de
manguezal na Península de Bragança, litoral do Pará, seja devido às maiores temperaturas globais e
consequentes degelos nos últimos 150 anos. Aumentos eustáticos no NMRM são reportados em áreas de
manguezal no Rio de Janeiro (Soares, s/d), Papua Nova Guiné (Pernetta e Osborne, 1988), Taperebal,
Pará (Vedel et al., 2006) e Ilha de Marajó, Pará (Behling et al., 2004). Nicholls et al. (1999) indicam que
até o ano de 2080, haverá perda global de, aproximadamente, 22% das zonas úmidas costeiras. A res-
posta exata de um manguezal a um cenário de elevação do NMRM depende do balanço local entre as
taxas de sedimentação e as taxas de elevação do NMRM (Woodroffe, 1995; Blasco et al., 1996). Soares
(s/d) e Pereira (1998) fazem referência a regressões de manguezais na Baía de Sepetiba, RJ, com avanços
progressivos sobre a feição apicum, que passa a ser uma alternativa para a migração do manguezal para
áreas mais interiores na Baía de Todos os Santos, Bahia (Hadlich e Ucha, 2009).

Estudos de Ellison e Stoddart (1991), feitos a partir de registros estratigráficos do Holoceno e cur-
vas de nível do mar, revelam que aumentos do NMRM global entre 8 e 9 cm/100 anos são compensados
pelos manguezais; enquanto que aumentos de 9 a 12 cm/100 anos provocam estresse no ecossistema,
e aumentos a partir de 12 cm/100 anos causam perda ecossistêmica.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 95


3.9.2.2 AUMENTO DAS TEMPERATURAS MÉDIAS

O aumento previsto para as temperaturas médias deverá exercer pouca influência sobre o desen-
volvimento dos manguezais em geral. Impactos indiretos do aumento térmico também devem ser consi-
derados, como a possível perda de manguezais protegidos por recifes de corais (conectividade), devido à
morte destes, devido ao branqueamento (McLeod e Salm, 2006). Com o aumento térmico o ecossistema
poderá, eventualmente, ocupar latitudes mais altas para o norte e para o sul, porém sempre na depen-
dência de vários outros fatores (Field, 1995). Contrariamente a esta ideia, Woodroffe e Grindrod (1991)
e Snedaker (1995), citados por McLeod e Salm (2006), argumentam que eventos climáticos extremos de
baixas temperaturas limitariam o deslocamento dos manguezais em direção aos polos.

3.9.2.3 ALTERAÇÕES NAS TAXAS DE CO2

O aumento na concentração de CO2 atmosférico aumenta as taxas fotossintéticas em condições


de baixa salinidade (Ball et al., 1997). Para o Caribe, estudos de Ellison e Farnsworth (1996, 1997) rela-
tam que o aumento da fotossíntese devido ao aumento das taxas de CO2 atmosférico não compensará
os efeitos dos aumentos do NMRM. Aparentemente, existem diferenças interespecíficas no metabolismo
de CO2, que podem modificar a dinâmica competitiva entre as espécies de mangue (Farnsworth e Elli-
son, 1996; Snedaker e Araújo, 1998). Aumento de CO2 também provoca branqueamento nos recifes de
corais, reduzindo a proteção aos manguezais (conectividade) contra a ação das ondas (McLeod e Salm,
2006).

Fato importante nos manguezais é a grande capacidade de fixar carbono, principalmente ao nível
das raízes, no substrato (Nellemann et al., 2009; Huxman et al., 2010; Donato et al., 2011). Esse proces-
so de acumulação no sedimento ocorre ao longo do tempo, enquanto que erosão ou desmatamento da
cobertura vegetal, como nos empreendimentos de carcinocultura, facilita a liberação quase que imediata
do CO2 para a atmosfera. Experimentos feitos em florestas de mangue na Malásia (Jin-Eong, 1993) reve-
lam que os sedimentos do manguezal liberam 50 vezes mais de carbono que a quantidade sequestrada.

3.9.2.4 ALTERAÇÕES NA PLUVIOSIDADE

Ellison (2000; 2004) aponta que mudanças na precipitação deverão ter efeitos sobre o cresci-
mento e extensão das áreas de manguezal. É apresentado um cenário de aumentos de 25% de precipita-
ção pluvial até 2050, com padrões de distribuição irregulares. Em áreas com decréscimo de pluviosidade,
deverá haver redução no crescimento, sobrevivência de propágulos e na produtividade dos manguezais.
Este fato favorecerá a sua substituição por plantas halófitas mais tolerantes. Sendo assim, podem ocorrer
perdas em extensão e diversidade dos manguezais. Em contrapartida, nas áreas com maiores precipita-
ções, poderá haver aumento de diversidade em zonação dos bosques e de taxas de crescimento de al-
gumas espécies de mangue, podendo aumentar sua área de ocupação. Harty (2004) sugere que, nesses
casos, deve aumentar a capacidade dos mangues de competir com a vegetação de zonas mais internas.

3.9.2.5 MUDANÇAS EM FREQUÊNCIA E INTENSIDADE DE TEMPESTADES TROPICAIS

Alterações na salinidade, nas taxas de inundação e no aporte de sedimentos estão entre as con-
dições verificadas em decorrência das tempestades tropicais (Ellison e Stoddart, 1991). Essas condições
podem comprometer a estabilidade e a composição das espécies na cobertura vegetal dos manguezais
(Gilman et al., 2006). Alterações na linha de costa poderão desencadear processos de erosão e de depo-
sição em taxas que excedam a resiliência das espécies vegetais típicas de mangue, passando a compro-
meter o equilíbrio ecológico do ecossistema (Hopkinson et al., 2008).

96 VOLUME 1
3.9.3 SÍNTESE

Mudanças climáticas globais, mais especificamente em temperatura, concentração de CO2, preci-


pitação, tormentas tropicais (furacões e tempestades) e nível do mar, em conjunto com impactos induzidos
pelo homem, afetarão o equilíbrio ecológico dos manguezais. O nível do mar (NMRM), em muitos casos,
é mais evidenciado, uma vez que é tido como o maior tensor dentre as mudanças climáticas (McLeod e
Salm, 2006).

Os trabalhos consultados, referentes às alterações estruturais do ecossistema manguezal, não


fazem referências explícitas a que estas sejam especificamente devido às mudanças climáticas. Entretanto,
deixam entrever que, com o aumento das taxas e da frequência de recorrência de variáveis ambientais,
há cenários de que certas respostas possam vir a ser associadas às mudanças climáticas.

A amplitude latitudinal tropical e subtropical da linha de costa do Brasil traz, em seu bojo, uma
miríade de feições fisiográficas onde se abrigam os manguezais, com diversidade de estruturas pouco
monitoradas em escalas temporais adequadas ao escopo do presente levantamento. Essa diversidade
de características, sob as quais se desenvolvem os manguezais, exige monitoramentos de médio e longo
prazos, em pontos representativos ao longo da costa. O fato de o manguezal ser um ecossistema extre-
mamente adaptável às variações das condições do ambiente onde se insere exige muito mais tempo (dé-
cadas) de observações para identificar respostas consideradas normais em relação àquelas que estariam
sendo manifestadas diante de novas condições ambientais

3.10. OCORRÊNCIA DE EROSÃO EM PRAIAS E ZONAS COSTEIRAS


3.10.1. A COSTA BRASILEIRA

A costa brasileira, com aproximadamente 9.000 quilômetros de extensão, apresenta uma gran-
de diversidade de ambientes desenvolvidos ao longo do período Quaternário (Dominguez, 2009) que
compreende os últimos dois milhões de anos e é caracterizado por uma sucessão de períodos glaciais e
interglaciais.

Quanto a processos morfossedimentares, há uma variedade de forçantes que condicionam a


zona costeira, acompanhadas por relativa interação entre ondas e marés e um aporte sedimentar que
varia de Norte para Sul.

Geradas pela ação do vento, as ondas apresentam um claro padrão ao longo da costa, decaindo
de Sul para Norte (Pianca et al., 2010). Os níveis relativos do mar na costa brasileira há 120.000 e 5.600
anos anteriores ao tempo presente (AP), estiveram oito e cinco metros acima do atual, respectivamente.
Concomitantemente a tais níveis transgressivos, sedimentos marinhos foram depositados na forma de
planícies de cristas de praia, pontais e barreiras arenosas.

3.10.2 EROSÃO OBSERVADA NA COSTA DO BRASIL

A erosão observada ao longo da costa brasileira é apresentada em forma de síntese, de acordo


com a classificação de compartimentos costeiros proposta por Villwock (1994), Muehe (1998, 2005,
2006), Muehe e Neves (1995) e Dominguez (2004, 2009) (Figura 3.12).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 97


Figura 3.12. Macrocompartimentação
da costa brasileira

3.10.2.1 COSTA DE MANGUEZAIS DOMINADA PELA MARÉ DA REGIÃO NORTE

Com uma extensa plataforma continental, altamente influenciada pela descarga fluvial e pela de-
posição de sedimentos de lama do Rio Amazonas, essa região é submetida a um regime de macromarés,
com alturas de até dez metros. Manguezais na Região Norte são abundantes e correspondem a 76% do
total desse tipo de ecossistema encontrado na costa brasileira (Muehe, 1998).

Por sua vez, na praia estuarina de Mosqueiro, ao norte de Belém, e ao longo da costa atlântica,
na região de Salinópolis e Ajuruteua, conforme El-Robrini et al. (2006), detectou-se a presença de erosão
costeira. Souza-Filho e Paradella (2003) observaram variações da linha de costa na região de Bragança,
também no Pará, através de imagens de radar.

No conjunto de mudanças ocorridas na costa, observadas entre 1972 e 1998, 60,6% repre-
sentam áreas erosivas e 39,4%, acrescidas. Os autores observaram, ainda, que, entre estas, as maiores
estão relacionadas a manguezais, sendo ocupadas por baixios arenosos, o que as torna mais suscetíveis
à erosão.

Baseados em levantamentos da morfologia praiana, Krause e Soares (2004) destacaram as varia-


ções em menor escala espacial da Península de Bragança, incluindo as praias de Boíçucanga, Ajuruteua
e Vila dos Pescadores. Os autores relacionam a erosão na área com intervenções antrópicas, ocupação,
desmatamento de manguezais e estreitamento de canais de maré.

3.10.2.2 COSTA DO NORDESTE COM ESCASSEZ DE SEDIMENTOS

A costa do Nordeste é caracterizada pelo domínio de falésias sedimentares da Formação Barrei-


ras – que se estende desde a região amazônica até a costa do Rio de Janeiro e consiste em uma cobertura
sedimentar terrígena continental e marinha. Elas são encontradas em dois compartimentos – na área do
semiárido no Norte do País – incluindo aí os estados do Piauí, Ceará e a costa oeste do Rio Grande do
Norte – e numa porção mais úmida, no Sul da região – desde a costa sul do Rio Grande do Norte até
Salvador, na Bahia.

98 VOLUME 1
No setor semiárido, os segmentos mais impactados pela erosão costeira estão no Ceará, na
região ao Norte do porto de Pecém e em Fortaleza. No primeiro, o impacto resultou da deposição sedi-
mentar em torno da estrutura portuária e, em Fortaleza, na retenção e do desvio do fluxo de sedimentos
em algumas praias da região metropolitana, após a construção de um quebra-mar para a proteção do
porto de Mucuripe (Morais et al., 2006).

Baseados em geoindicadores ambientais, Zuquette et al. (2004) classificaram a erosão costeira


na região metropolitana de Fortaleza como severa, sendo a sua aceleração relacionada a atividades
antrópicas. Em Macau e Guamaré, no estado do Rio Grande do Norte, a recessão da linha de costa está
colocando em risco estações de bombeamento de petróleo (Vital et al., 2006). Sustentaram também estes
autores, que o processo tem sido acelerado pela construção de estruturas perpendiculares nas praias
potiguares de Macau, Caiçara do Norte e Touros.

Na costa de falésias sedimentares, a erosão é ampla e ocorre em quase toda a linha de costa,
desde o Sul do Rio Grande do Norte, prosseguindo pela Paraíba e por Pernambuco, e estendendo-se até
Alagoas. O contrário ocorre na costa de Sergipe, onde a abundante quantidade de sedimentos trazida
pelos rios mantém aproximadamente 57% da costa em equilíbrio, enquanto 21% estão em erosão (Bitten-
court et al., 2006).

Na Paraíba, segmentos da costa em erosão representam em torno de 42% dos 140 quilômetros
de linha de costa (Neves et al., 2006). Em Pernambuco, aproximadamente 30% das praias apresentam
processos erosivos, devidos, para a maioria destas últimas, a fatores naturais, como os de circulação
costeira e déficit sedimentar, enquanto intervenções antrópicas muitas vezes intensificam esse processo
(Neves e Muehe, 1995; Manso et al., 2006).

Em Alagoas, a vulnerabilidade costeira é causada pelo reduzido aporte fluvial de sedimentos.


O fenômeno erosivo se concentra principalmente na porção Norte desse estado, onde o turismo é mais
intenso (Araújo et al., 2006). De acordo com Dominguez (1995), a suscetibilidade da costa à erosão é
demonstrada pelas falésias ativas da Formação Barreiras, pela ausência de planícies costeiras e terraços
pleistocênicos, assim como pela presença de arenitos de praia – as beach rocks, em inglês – sinalizando
a retração da linha de costa.

Em Sergipe, de acordo com Bittencourt et al. (2006), os segmentos em erosão estão localizados
em Atalaia Nova, ao Norte de Aracaju, e ao Sul da desembocadura do Rio São Francisco, onde a Vila do
Cabeço foi completamente erodida. Áreas com grande variabilidade da linha de costa se localizam nas
adjacências da desembocadura dos rios Real, Vaza-Barris e Sergipe, onde episódios erosivos causaram
danos materiais significativos.

De forma geral, a costa do Estado da Bahia, entre Mangue Seco, na desembocadura do Rio São
Francisco, e sua capital, Salvador, está em equilíbrio (Dominguez et al., 2006). No entanto, uma aborda-
gem mais detalhada para a costa norte baiana, realizada por Bittencourt et al. (2010), mostrou algumas
regiões com evidências de erosão contínua entre Barra do Itariri e Sabaúma. Os autores relacionam tais
eventos erosivos à passagem de frentes frias.

3.10.2.3 COSTA DELTAICA DOMINADA PELA AÇÃO DE ONDAS

A presença de falésias sedimentares da Formação Barreiras ainda é dominante, porém menos


contínua na direção Sul. Planícies de cristas de praia se desenvolveram em frente aos Rios Jequitinhonha
e Caravelas, na Bahia; Rio Doce, no Espírito Santo, e Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro. As mudanças
no alinhamento dessas feições, associadas a modificações na deriva litorânea de sedimentos, indicam
a alternância dos domínios de ondas geradas pelos ventos alísios e pelas frentes frias do Sul. Isso indica
que essa região é altamente suscetível a modificações no domínio entre processos meteo-oceanográficos
tropicais e subtropicais (Muehe, 2010).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 99


Nessa região da Bahia, aproximadamente 60% da costa estão em equilíbrio e, 26%, em erosão,
com intensos processos erosivos ocorrendo nas adjacências de desembocaduras fluviais. A retenção de
sedimentos ocorre em Ilhéus e em cabos não consolidados, como a planície costeira de Caravelas. Gran-
des extensões de falésias no Sul do estado, de Cumuruxatiba à divisa com o Espírito Santo, estão sofrendo
um balanço sedimentar negativo de longo prazo (Dominguez et al., 2006).

No Espírito Santo, a linha de costa se alterna entre grandes extensões em erosão ou em equilíbrio,
e alguns segmentos em acresção. Acresção é observada nas planícies costeiras do Rio Doce, ao Norte, e
na região do Rio Itabapoana, no limite sul do estado (Albino et al., 2006). Estudando processos sedimen-
tares na região do Rio Doce, Dominguez et al., (1983) e Albino e Suguio (2010) mostram a importância
dos padrões de direção da deriva litorânea de sedimentos. Em função de sua configuração, o delta do Rio
Doce causa modificações na direção do transporte litorâneo na região, provocando a alternância entre
eventos construtivos e destrutivos.

No Norte do Rio de Janeiro, no trecho costeiro que vai desde perto da divisa com o Espírito Santo
e até Cabo Frio, erosão acentuada ocorre ao Sul do Rio Paraíba do Sul, em Atafona. Ali, a areia está
sendo retida na plataforma continental interna por conta da cobertura de lama escoada pelo rio e pela
deriva litorânea dominante em direção ao Sul, para fora da área afetada (Muehe et al., 2006).

Outras áreas em erosão incluem as costas altamente urbanizadas de Macaé e de Rio das Ostras
(Muehe et al., 2006). Ao sul de Cabo Frio, a costa com alinhamento leste-oeste está exposta diretamente
às ondas de tempestade do Sul. O transporte de sedimentos litorâneos tende a estar em equilíbrio ao
longo do ano, com as ondas de alta energia menos frequentes do Sul e Sudoeste sendo compensadas
pelas de Sudeste, mais frequentes.

Entre Cabo Frio e a Ilha da Marambaia, a linha de costa mostra sinais de instabilidade, com a
transposição de ondas e a retração da escarpa imediatamente vizinha à praia (Muehe et al., 2006). Da
ordem de dez a quinze metros, este último processo foi observado em diversos lugares, em decorrência,
principalmente, de um grande evento de tempestade em maio de 2001.

Não obstante, a linha de costa, considerando como tal a interseção da face praia com o nível
médio do mar, entre Niterói e Arraial do Cabo, se tem mantido estável (Muehe, 2011).

Na longa e estreita barreira arenosa que separa a Baía de Sepetiba do Oceano Atlântico, na
porção Oeste desse segmento, eventos de transposição e erosão da margem lagunar da mesma podem
resultar em rompimentos temporários (Muehe, 2010). Por sua vez, na região metropolitana do Rio de
Janeiro, que inclui o litoral de Niterói, a grande densidade populacional torna as costas, oceânica e
estuarina, mais vulneráveis a erosão, alagamentos e deslizamentos. A expansão de áreas urbanizadas
sobre regiões baixas de antigas lagunas – como, por exemplo, é a Barra da Tijuca –, com capacidade
de drenagem limitada, representa riscos que crescerão em cenários de aumento do nível do mar e de
intensidade das tempestades (Muehe e Neves, 2008).

3.10.2.4 COSTA ROCHOSA DO SUDESTE

Esse compartimento, que se estende da Ilha Grande, no estado do Rio de Janeiro, ao Cabo de
Santa Marta, em Santa Catarina, é caracterizado pela proximidade da cadeia montanhosa da Serra do
Mar. Modificações na linha de costa em função de erosão, no estado de São Paulo, geralmente ocorrem
isoladamente e associadas a obstáculos naturais ou artificiais que interrompem o fluxo de sedimentos ao
longo da costa (Tessler et al., 2006).

No Paraná, as modificações mais significativas da linha de costa ocorrem nas adjacências de de-
sembocaduras estuarinas – e.g., o canal do Superagui, Ilha das Peças, Ilha do Mel, Pontal do Sul, Ponta
de Caiobá e Guaratuba.

100 VOLUME 1
Essas alterações incluem erosão e acresção em diferentes trechos e ocorreram em níveis de até 100 me-
tros ao longo de períodos inferiores a uma década.

Já a linha de costa oceânica é mais estável. Nela, as áreas mais impactadas pela erosão são as
praias de Flamengo e Riviera e a porção central da praia de Matinhos, restaurada com realimentação
praial (Angulo et al., 2006).

Em Santa Catarina, os estudos se concentraram na porção centro-norte (Klein et al., 2006) e na


Ilha de Santa Catarina (Horn, 2006). Na área continental, os riscos associados à erosão costeira resultam
tanto da ocupação desordenada como de tempestades. Os pontos mais críticos, de média intensidade,
se localizam em Barra Velha, Piçarras e Penha. Bombinhas está sofrendo erosão, porém com menor in-
tensidade.

Na Ilha de Santa Catarina, esses processos erosivos ocorrem ao longo da costa oceânica, so-
bretudo nas áreas urbanas do Norte da ilha, onde se situam as praias de Canavieiras, Cachoeira e dos
Ingleses, e no Noroeste da Barra da Lagoa. Áreas urbanizadas ao Leste e ao Sul, com risco erosivo de
médio a alto, incluem o Campeche, a Armação e o Pântano do Sul (Horn, 2006).

3.10.2.5 A COSTA ARENOSA DO SUL

Do Cabo de Santa Marta, em Santa Catarina, ao Chuí, no Rio Grande do Sul, a linha de costa é
formada por uma extensa e larga faixa de praia, com sedimentos predominantemente finos, em frente a
um múltiplo sistema de ilhas-barreiras.

A deriva litorânea dominante na região é para Norte, com algumas inversões relacionadas à sazona-
lidade do clima de ondas e à orientação da linha de costa (Siegle e Asp, 2007). As praias mostram grande
variabilidade morfodinâmica com alternância entre longos trechos de avanço e retração da linha de costa
(Toldo Jr. et al., 2006) e reversões nesses padrões ao longo do tempo (Esteves, 2006; Esteves et al., 2006).

Os segmentos localizados de erosão costeira foram descritos por Calliari et al. (1998) e Speranski
e Calliari (2006) e estão relacionados à convergência de ondas na região de Mostardas, entre Bojuru e
Estreito, e em pequenos segmentos próximos à praia do Cassino e no extremo Sul, próximo ao Chuí. Uma
revisão crítica do fenômeno erosivo na costa do estado do Rio Grande do Sul foi feita por Dillenburg et
al. (2004), sugerindo que o balanço negativo de sedimentos em curto e longo termo é a maior causa da
erosão nesse segmento da costa.

3.10.3. SÍNTESE

Ao longo da extensão da linha de costa brasileira são vários os trechos em erosão, distribuídos
irregularmente e, muitas vezes, associados aos ambientes dinâmicos de desembocaduras. A ocupação
desordenada é outra grande causa apontada para a ocorrência de tal fenômeno em praias brasileiras. A
construção civil, em áreas próximas à linha costeira, por vezes, não só compromete o balanço sedimentar
local, como pode iniciar ou acelerar o processo erosivo. A elevação do nível do mar e as maiores frequ-
ência e intensidade das tempestades, associadas ao aumento de temperatura do oceano, reforçam-no
ainda mais.

Diversas são as áreas costeiras densamente povoadas que se situam em regiões planas e baixas,
nas quais os problemas já existentes de erosão, drenagem e inundações serão amplificados em cenários
de mudanças climáticas.

A vulnerabilidade dos diversos macrocompartimentos analisados em conjunto representa a situação


atual que, quando considerada sob os aspectos das mudanças climáticas potenciais, como principalmente

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 101


a elevação do nível do mar, tende a se tornar mais crítica.

Em especial, o agravamento decorrente da erosão e inundação costeiras, tem reflexos sobre as


áreas urbanas de baixa altitude, como também sobre as áreas de manguezais, cuja capacidade de adap-
tação à elevação do nível relativo do mar poderá ficar comprometida, a depender não somente das suas
taxas de aumento e de aporte sedimentar, como também da disponibilidade de espaço para acomoda-
ção.

Uma evaporação maior decorrente de uma temperatura mais elevada deverá provocar, igual-
mente, um maior transporte eólico no litoral do Nordeste semiárido, com aumento da transferência de
sedimentos da praia para o campo de dunas e a consequente expansão do déficit de sedimentos. Ao
mesmo tempo, ciclones extratropicais mais frequentes e intensos tenderão a aumentar a recorrência de
eventos extremos, com ondas altas, ventos fortes e precipitações intensas afetando partes do litoral Sul e
Sudeste do País.

Reajustamentos morfossedimentares de praias por transposição de ondas sobre arenitos submer-


sos defronte a largos trechos do litoral do Nordeste, assim como mudanças na intensidade do transporte
litorâneo – e mesmo, a sua reversão –, provocadas pela alteração do ângulo de incidência das ondas,
devem implicar erosão e acumulação localizada de sedimentos.

Por fim, o número maior de eventos extremos poderá resultar em aumento do aporte de sedimen-
tos da plataforma continental interna para a zona costeira, de modo a compensar parcialmente o déficit
no balanço sedimentar decorrente da modificação no equilíbrio morfossedimentar provocado pelas mu-
danças do clima.

3.11. RELAÇÕES ENTRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS PRIMEIROS NÍVEIS DA


REDE TRÓFICA MARINHA
3.11.1 INTRODUÇÃO

A Convenção da Diversidade Biológica realizada em outubro de 2010, em Nagoya, Japão, con-


cluiu que, em 40 anos, 30% da biodiversidade global foram perdidos, o que implica em perdas anuais
entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões por ano que deixaram de ser computados nos cálculos do Produto
Interno Bruto (PIB) de cada país (PNUMA, 2010).

Os ecossistemas marinhos representam um dos setores em que perdas como essas são cada vez
mais evidentes. O Primeiro Censo Marinho Global acusou um grande desconhecimento acerca das espé-
cies marinhas (Ausubel et al., 2010). Até essa data, cerca de 250 mil espécies haviam sido identificadas
enquanto outras cerca de 750 mil aguardavam identificação. Este cálculo ainda assim desconsidera
milhões de espécies de microrganismos, equivalentes a 90% da biodiversidade oceânica. A falta de prote-
ção das zonas costeiras e marinhas torna a situação ainda mais grave, uma vez que milhares de espécies
podem vir a desaparecer sem mesmo terem sido conhecidas. No Brasil, apenas 1,5% da área costeira é
protegida, menos do que 10% das espécies marinhas são conhecidas e os microrganismos sequer entram
nesse cômputo.

3.11.2 O PAPEL DO FITOPLÂNCTON NA REDE TRÓFICA MARINHA E NA BOMBA BIOLÓGICA

Estima-se que 48% da absorção biológica global de carbono sejam de responsabilidade do fi-
toplâncton marinho (Field et al., 1998) – microrganismos que realizam essa atividade através da fixação
fotossintética diária de CO2. Parte do carbono fixado nas regiões iluminadas do oceano eventualmente
afunda para as regiões mais profundas, onde é reconvertida em CO2 via remineralização, ou permanece

102 VOLUME 1
sequestrado no sedimento. Esse processo de remoção contínua de CO2 das regiões superficiais do
oceano produz o que se denomina de bomba biológica, responsável por remover continuamente o CO2
da atmosfera. O balanço entre a fixação de CO2 e o acúmulo de carbono no sedimento estabelece a
extensão do sequestro efetivo de CO2 atmosférico.

Riebesell et al. (2007) descrevem evidências de que essa bomba biológica pode se tornar mais
forte sob concentrações elevadas de CO2 na atmosfera e, assim, prover uma retroalimentação negativa
em relação à elevação das concentrações atmosféricas desse gás de efeito estufa. De acordo com os
cálculos desses autores, a retroalimentação representa 10% do CO2 extra que foi emitido para a atmos-
fera desde o início da Revolução Industrial, há quase 300 anos. De 25% a 30% do CO2 antropogênico
atravessam a superfície do oceano, aumentando a concentração de carbono inorgânico dissolvido (DIC)
e a acidez das águas, com um prejuízo potencial para o próprio fitoplâncton, principalmente aqueles que
apresentam elementos calcários em suas estruturas celulares, bem como para outros organismos mari-
nhos.

Apesar de os oceanos representarem os maiores reservatórios de DIC, algo como somente 1% se


encontra em forma de CO2, a molécula requerida pela enzima fotossintética Rubisco, a qual opera com
pouca eficiência nas concentrações de dióxido de carbono típicas da água do mar. Dessa forma, Riebesell
et al.( 2007) argumentam que o aumento das concentrações de CO2 no ambiente pode favorecer a efici-
ência fotossintética, aumentando a absorção do gás carbônico antropogênico. Em trabalho mais recente
Krug et al. (2011), mostram que, para os Coccolithus (importante grupo de organismos fitoplanctônicos
responsável por fixação de carbonatos e aumento do albedo terrestre) de modo geral, o aumento da
fotossíntese é acompanhado por redução nas taxas de calcificação do organismos. Gereth et al (2014)
mostram que o aumento da temperatura reduz a razão CIP /COP (Carbono inorgânico particulado/ Car-
bono orgânico particulado) e aumenta os requisitos de fósforo para Coccolithus pelagicus para manter o
crescimento e a taxa de produção de POC para a espécie em alta temperatura, possivelmente reduzindo
sua abundância em oceanos quentes. Isso resultaria numa CIP/COP <1, favorecendo o sequestro de
CO2 em relação à liberação.

Entretanto, Muller et al (2010) demonstram a redução das taxas de crescimento a longo prazo
sob concentrações elevadas de CO2 para Emiliania huxleyi e Coccolithus braarudii o que também pode
reduzir o efeito da bomba biológica nessas condições. O trabalho de Lassen et al. (2010) foca outro
aspecto não considerado nos estudos anteriores: o efeito do aumento da temperatura sobre a estrutura
da comunidade de fitoplâncton. Seus resultados mostram que, para acréscimos de temperatura de cerca
de 3oC, os dinoflagelados e a diatomácea Thalassionema nitzchioides aumentaram em abundância em
mesocosmos experimentais submetidos a aquecimento. Já a diatomácea Skeletonema marinoi, usual
formadora de florações de primavera na região do estudo, foi pouco encontrada nos mesocosmos mais
aquecidos. Esses resultados indicam que elevações na temperatura podem promover resultados não
previstos ao longo da rede trófica.

Esses resultados experimentais confirmaram alterações in situ observadas na comunidade fi-


toplanctônica da Península Ocidental Antártica por Montes-Hugo et al. (2009), que as atribuíram ao
aquecimento que a região tem sofrido. O clima desse local atravessa transformação, do tipo climático
frio-seco para tipo climático quente-úmido sub-Antártico.Com base em dados de campo e colhidos
por satélites ao longo de três décadas, os autores comprovaram que a produtividade biológica, esti-
mada a partir das concentrações de clorofila de superfície, tem mudado significativamente ao longo
da plataforma da península. No verão, a produtividade nas águas de superfície declinou por volta de
12% nos últimos 30 anos sobretudo na direção do Norte da península. As tendências de variação la-
titudinal da clorofila refletiram os padrões de desvios na cobertura de gelo, da formação de nuvens
e de ventos afetando a coluna de água. Por sua vez, as mudanças regionais no fitoplâncton coinci-
dem com as observadas no crustáceo krill (Euphausia superba), que está sendo substituído por salpas
(gelatinosos), e com mudanças nas populações de pinguins Adélia que estão sendo substituídos por
pinguins Chinstrap. Estes resultados indicam claramente que mudanças na temperatura promovem al-
terações na base da rede trófica que acabam tendo um reflexo expressivo nos níveis tróficos superiores.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 103


Também demonstram o grau de complexidade a ser observado pelos estudos experimentais acerca dos
efeitos das mudanças climáticas e dos efeitos de retroalimentação sobre o clima, uma vez que elevações
nas concentrações de CO2 atmosférico certamente serão acompanhadas de aumentos na temperatura
das águas superficiais.

Outro importante trabalho recente (Boyce et al., 2010) mostra alguns resultados aparentemente contra-
ditórios em relação às extrapolações decorrentes dos estudos de Riebesell et al. (2007). Ao analisarem
os dados de concentração de fitoplâncton coletados por imagens de satélite disponíveis desde 1979,
esses autores verificaram possíveis flutuações em escala decadal ligadas à forçante climática. Porém, a
extensão temporal desses registros é insuficiente para identificar tendências de longo prazo. Por sua vez,
ao combinarem valores de medidas de transparência do oceano com observações in situ de clorofila, a
fim de estimar a dependência temporal da biomassa do fitoplâncton em escalas locais, regionais e global
desde 1899, Boyce et al. verificaram, na obra citada, um declínio médio de 1% ao ano na biomassa fito-
planctônica. A análise revelou ainda, flutuações interanuais a decadais sobrepostas a tendências de longo
prazo e fortemente correlacionadas a índices climáticos em escala de bacia oceânica. As tendências de
declínio apresentaram-se correlacionadas a aumentos da temperatura de superfície do oceano. Os resul-
tados obtidos apontam para uma necessidade de que este declínio passe a ser considerado em estudos
do ecossistema marinho, de ciclagem de nutrientes, circulação oceânica, pesca e modelos climáticos.

3.11.3 PAPEL DOS MICRO-ORGANISMOS MARINHOS NA REGULAÇÃO CLIMÁTICA

As preocupações em relação às mudanças climáticas contemporâneas e futuras têm se voltado


principalmente para o aumento exponencial das concentrações atmosféricas de CO2 a partir do século
passado em função da queima de combustíveis fósseis e florestas. Entretanto, fica cada vez mais claro
para os cientistas que outros gases de efeito estufa, além do CO2, são motores extremamente potentes do
sistema climático global (IPCC, 2007).

O papel do fitoplâncton na regulação climática não se traduz somente na absorção e sequestro


diários de gás carbônico e na liberação de oxigênio. Conforme estudos recentes, a comunidade planctô-
nica pode contribuir para reduzir o fluxo de radiação para a superfície e para ampliar o albedo terrestre
– a capacidade reflexiva de luz da superfície – através da produção de compostos que se transformam
em aerossóis, os quais geram núcleos de condensação de nuvens na atmosfera (Charlson, 1987; Vallina
e Simó, 2007; Liss, 2007). Isto sugere que a produtividade primária pode exercer importante papel no
controle da cobertura de nuvens sobre os oceanos, como efetivamente demonstraram Meskhidze e Nenes
(2006). Estes autores combinaram observações de satélite das concentrações de clorofila no oceano e da
cobertura de nuvens sobre uma floração no Oceano Antártico. Verificaram que a produtividade biológica
tem um efeito significativo sobre determinados tipos de nuvens que se formam sobre o oceano, o que
levou a uma grande modificação no fluxo radioativo de ondas curtas no topo da atmosfera.

Estudos feitos com simulações de perturbações em modelos climáticos Oceano-Atmosfera – os


quais incluem os ecossistemas oceânicos e o ciclo global do enxofre – têm demonstrado a conexão entre
sulfeto de dimetila (DMS) e o clima. Isto porque tanto o aumento como a redução das emissões desse
gás-traço exercem forte efeito de retroalimentação negativa sobre o clima, aumentando ou reduzindo o
albedo pelas mudanças na formação de nuvens (Gunson et al., 2006).

Efeitos de retroalimentação negativa de DMS sobre o clima foram verificados através da forte cor-
relação entre a dose de radiação solar e a concentração de DMS sobre a superfície global dos oceanos
(Vallina e Simó, 2007). Entretanto, os fatores que controlam sua emissão pelo fitoplâncton são pouco
compreendidos (Liss, 2007), o que limita a confiabilidade das previsões futuras dos fluxos de DMS para a
atmosfera.

Outros orgânicos voláteis, como os organohaletos – por exemplo, o metilbrometo –, produzidos


pela biota planctônica marinha, também são importantes no contexto da retroalimentação do clima.

104 VOLUME 1
Esse composto se decompõe liberando o brometo inorgânico que atua sobre o balanço atual do O3 (Yang
et al., 2005). Tanto as emissões naturais de brometo nos oceanos como o isopreno da biota terrestre são
sensíveis ao clima e importantes de serem quantificados. Mudanças futuras na circulação atmosférica
podem promover o aumento de compostos reativos de brometo inorgânico na baixa estratosfera, com o
potencial de destruição do O3 (Yang et al., 2005; Pyle et al., 2007).

As microalgas marinhas também são responsáveis por emissões contendo iodeto, as quais podem
ser convertidas em partículas de aerossol e passar a ter, nessa forma, importante significado climático, em
função da cor mais clara desses últimos quando comparada à dos oceanos (O’Dowd e de Leeuw, 2007).
Os fatores que controlam a produção primária – e, portanto, do aerossol marinho – e secundária – res-
ponsável pela química oxidativa dos aerossóis marinhos, - ainda estão por ser elucidados. Outras amea-
ças dizem respeito ao efeito do aumento da radiação ultravioleta sobre o fitoplâncton em decorrência da
redução da camada de ozônio (Mohovic et al, 2006; Roy et al, 2006), apesar de que trabalhos recentes
têm apontado para uma recuperação da camada de ozônio em função de maior controle de emissão
de gases compostos por CFC (Gianesella e Saldanha-Corrêa, 2010). Com base em constatações dessa
natureza, Beerling et al. (2007) enfatizaram que é uma prioridade a incorporação de resultados expe-
rimentais e observacionais recentes, especialmente acerca da influência do CO2 sobre as emissões de
gases-traço pelas microalgas marinhas, aos modelos do sistema global. Os resultados desses modelos
poderão ser confrontados com dados históricos das concentrações, obtidos de cores de gelo polar es-
tendendo-se até 650.000 anos, que poderão fornecer referências para sua avaliação. Tais observações
através de ampla faixa de escalas de tempo permitiriam estabelecer a sensibilidade do clima da Terra,
uma métrica que influirá sobre nossa capacidade de decidir o que constitui uma “mudança climática
perigosa” (Andreae et al., 2005; Andreae, 2007).

Estudos de modelagem (Bopp et al., 2003; Gabric et al., 2004) sugerem que um pequeno au-
mento na produção de DMS oceânico, em resposta a um aquecimento climático referente à duplicação
das concentrações de CO2, depende fortemente de uma base limitada de dados de fluxos de DMS ob-
servados no oceano atual, como aqueles obtidos por Kettle et al. (1999).

Efetivamente, esta classe de modelos deve considerar as observações experimentais, ainda limita-
das, as quais demonstram que concentrações elevadas de CO2 surpreendentemente suprimem as emis-
sões de DMS (Sunda et al., 2002). Caso esta resposta seja verificada para o fitoplâncton de modo geral,
num mundo futuro com alto CO2 poderá ser reduzida a eficiência de um mecanismo de retroalimentação
negativo que auxiliaria a baixar as temperaturas planetárias. Por outro lado, tais microrganismos são ex-
tremamente sensíveis a alterações ambientais e as implicações dos efeitos das mudanças climáticas sobre
eles ainda são pouco claras, em decorrência da falta de informações básicas sobre a composição e o
funcionamento dessa comunidade.

3.11.4 SÍNTESE

Conforme a Terra entra num período de mudanças climáticas antropogênicas rápidas, com possi-
bilidades concretas de mudanças climáticas drásticas nas próximas poucas décadas, o conhecimento da
biologia e da geoquímica envolvidas nesses processos e seus respectivos papéis no clima da Terra ainda
são pouco conhecidos e exigem uma prioridade crítica de pesquisas.

O Brasil, hoje, se encontra apto a participar de estudos mais minuciosos de modelagem climática
(Tollefsson, 2010), tanto em termos de recursos humanos como tecnológicos que incluam os aspectos
necessários apontados nesta revisão.

Não se pode, entretanto, deixar também de considerar os diagnósticos sobre a biodiversidade


no oceano, bem como de estabelecer políticas de conservação, que devem, entretanto, estar interligadas
às políticas acerca do uso de combustíveis fósseis, do uso do solo, da qualidade das águas dos rios,
do controle da poluição atmosférica, etc, uma vez que, no caso do plâncton, estes organismos, ape-
sar de microscópicos, ao mesmo tempo em que exercem tremendo controle sobre o balanço de gases

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 105


e temperatura terrestres, são extremamente frágeis e dependentes das condições físicas e químicas dos
oceanos, cujas modificações em função do excesso de CO2 atmosférico, provocarão alterações ainda
difíceis de serem previstas sobre o seu metabolismo e biodiversidade.

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 125


CAPÍTULO 4

INFORMAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS BRASILEIRAS

Autores principais: Abdelfettah Sifeddine – UFF, Cristiano M. Chiessi – USP e Francisco W. da Cruz Júnior – USP.
Autores colaboradores: Astolfo G.M. Araujo – USP, Eduardo G. Neves – USP; Flávio B. Justino – UFV, Ilana E.K.C.
Wainer – USP, Luiz Carlos R. Pessenda – USP, Michel M. de Mahiques – USP, Renato C. Cordeiro – UFF e Ruy K.P. de
Kikuchi – UFBA.
Autores revisores: Ana Luiza S. Albuquerque – UFF, Heitor Evangelista da Silva – UERJ e Pedro L.S. Dias – LNCC

126 VOLUME 1
ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 129

4.1 INTRODUÇÃO 130

4.2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM ESCALA TEMPORAL ORBITAL 131

4.2.1 INTRODUÇÃO 131

4.2.2 EVIDÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS A PARTIR DE REGISTROS LACUSTRES 131

4.2.3 EVIDÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS A PARTIR DE ESPELEOTEMAS 133

4.2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 135

4.3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS 135

4.3.1 INTRODUÇÃO 135

4.3.2 OS REGISTROS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS DO ÚLTIMO PERÍODO GLACIAL


E INTER GLACIAL 136

4.3.3 OS MECANISMOS RESPONSÁVEIS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS 138

4.3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 139

4.4. MUDANÇAS NA PALEOCIRCULAÇÃO DA PORÇÃO OESTE DO ATLÂNTICO SUL 141

4.4.1 INTRODUÇÃO 141

4.4.2 O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL 141

4.4.3 A ÚLTIMA DEGLACIAÇÃO 143

4.4.4 O HOLOCENO 144

4.4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 145

4.5. VARIAÇÕES NO NÍVEL RELATIVO DO MAR DURANTE O HOLOCENO 145

4.5.1 INTRODUÇÃO 145

4.5.2 O PERÍODO DE SUBMERSÃO DA PLATAFORMA E DA ZONA COSTEIRA ATUAL 146

4.5.3 O PERÍODO DE EMERSÃO DA ZONA COSTEIRA ATUAL 146

4.5.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 149

4.6. AS QUEIMADAS NO REGISTRO PALEOCLIMÁTICO 149

4.6.1 INTRODUÇÃO 149

4.6.2 AS QUEIMADAS NO REGISTRO PALEOCLIMÁTICO 150

4.6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 152

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 127


4.7. A OCUPAÇÃO HUMANA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 152

4.7.1 INTRODUÇÃO 152

4.7.2 A TRANSIÇÃO DO PLEISTOCENO PARA O HOLOCENO 153

4.7.3 A OCUPAÇÃO PALEOÍNDIA NO HOLOCENO INICIAL 154

4.7.4 O HIATO DO ARCAICO NO HOLOCENO MÉDIO 155

4.7.5 A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA, SOCIAL E CULTURAL POSTERIOR AO HIATO 156

4.8. MUDANÇAS CLIMÁTICAS DURANTE O ÚLTIMO MILÊNIO 156

4.8.1 INTRODUÇÃO 157

4.8.2 DISCUSSÃO 157

4.8.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 159

4.9. COMPARAÇÕES ENTRE RECONSTITUIÇÕES PALEOCLIMÁTICAS E DADOS DE MODELOS CLIMÁTICOS 159

4.9.1 INTRODUÇÃO 159



4.9.2 METODOLOGIA 161

4.9.3 RESULTADOS 161

4.9.4 CONCLUSÕES 163

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 164

128 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
Os estudos paleoclimáticos – relativos ao clima que precede o período instrumental – desenvolvi-
dos com registros continentais e marinhos brasileiros, de outros países da América do Sul e dos oceanos
adjacentes, permitem elaborar as afirmações abaixo listadas:

• As mudanças na insolação recebida pela Terra em escala temporal orbital – i.e., dezenas de mi-
lhares de anos – foram a principal causa de modificações na precipitação e nos ecossistemas das regiões
tropical e subtropical do Brasil, principalmente aquelas sob a influência do Sistema de Monções da Amé-
rica do Sul (SMAS). Valores altos de insolação de verão para o hemisfério sul foram associados a períodos
de fortalecimento do SMAS e vice-versa.

• Na escala temporal milenar foram observadas fortes e abruptas oscilações no gradiente meridio-
nal de temperatura do Oceano Atlântico, bem como na pluviosidade associada ao SMAS e à Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT). A causa destas mudanças climáticas abruptas reside, aparentemente,
em marcantes mudanças na intensidade da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (CRMA).
Períodos de enfraquecimento desta célula foram associados a um aumento na precipitação das regiões
tropicais e subtropicais do Brasil.

• Marcantes alterações na circulação da porção oeste do Atlântico Sul foram reconstituídas para o
Último Máximo Glacial – de 23 a 19 mil anos calibrados antes do presente (cal. ka AP) –, a última degla-
ciação – de 19 a onze mil e setecentos cal. AP – e o Holoceno – desde onze mil e setecentos anos atrás.
Dentre as quais, pode-se citar:

(i) uma diminuição na profundidade do contato entre as massas de água intermediária e profunda durante
o Último Máximo Glacial, que foi caracterizado por uma CRMA com intensidade similar à atual;

(ii) um aquecimento das temperaturas de superfície do Atlântico Sul durante eventos de diminuição na
intensidade da CRMA em períodos específicos da última deglaciação – e.g., eventos Heinrich Stadial 1
(HS1) – entre aproximadamente 18,0 e 15,6 cal. ka AP – e Younger Dryas (YD) – entre aproximadamente
doze mil e oitocentos e onze mil e setecentos anos calibrados AP – e, ainda,

(iii) o estabelecimento de um um padrão de circulação superficial na margem continental sul do Brasil


similar ao atual entre cinco e quatro mil anos calibrados antes do presente.

• O nível relativo do mar na costa do Brasil atingiu até cinco metros acima do nível atual entre apro-
ximadamente seis e cinco mil anos calibrados antes do presente e diminuiu gradativamente até o início do
período industrial.

• Análises paleoantracológicas – i.e., análises de restos de carvões pretéritos – indicam que por um
longo período do Quaternário tardio – isto é, ao longo das últimas dezenas de milhares de anos –, o fogo
tem sido um fator de grande perturbação em ecossistemas tropicais e subtropicais e, juntamente com o
clima, de suma importância na determinação da dinâmica da vegetação no passado geológico.

• Apesar de ainda existirem marcantes controvérsias a respeito de pontos importantes relaciona-


dos à ocupação humana das Américas – e.g., a idade e número das migrações bem como os caminhos
utilizados –, pode-se afirmar que toda a América do Sul já estava ocupada pelo Homo sapiens ao redor
de doze mil anos calibrados antes do presente e que, tais ocupações, já mostravam padrões adaptativos
e econômicos distintos entre si. A aparente estabilidade na ocupação humana do Brasil foi interrompida
entre aproximadamente oito e dois mil anos calibrados antes do presente, com significativo abandono de
sítios e depopulação em escala regional, provavelmente associados a marcantes mudanças climáticas.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 129


• A Pequena Idade do Gelo – ao redor de 1500 a 1850 – foi caracterizada, na porção subtropical
da América do Sul, por um aumento na precipitação que, provavelmente, está associado a um fortale-
cimento do SMAS e a uma redução da CRMA. Entretanto, os mecanismos climáticos ainda não estão
consolidados e o número de registros paleoclimáticos e paleoceanográficos disponíveis em ambientes
subtropicais deste evento é particularmente reduzido.

Em geral, se observa um número ainda bastante restrito de registros paleoclimáticos e paleoce-


anográficos a respeito do Brasil e da porção oeste do Atlântico Sul. De fato, apenas nos últimos anos,
foram publicados os primeiros estudos – e.g., Cheng et al., 2009; Chiessi et al., 2009; Souto et al., 2011;
Laprida et al., 2011; Stríkis et al., 2011; para algumas regiões – e.g., Região Centro-Oeste, Zona de
Confluência Brasil–Malvinas; e temas – e.g., a temperatura da superfície do mar (TSM) para o Holoceno
ou variabilidade multidecenal e secular na precipitação.

Assim, é de suma importância, que lacunas nesta área do conhecimento sejam preenchidas nos
próximos dez anos.

4.1 INTRODUÇÃO
Reconstituições paleoclimáticas assumem marcante relevância atualmente, em face à necessidade
de se atribuir causas às alterações ocorridas no clima da Terra durante as últimas décadas e, também, a
fim de auxiliar o estabelecimento de cenários climáticos futuros.

São três, os principais motivos que dão suporte a esta afirmação:


(i) a necessidade de um profundo conhecimento sobre a variabilidade climática da Terra para que se
possa separar os processos climáticos naturais dos antrópicos;

(ii) a necessidade de se validar os resultados de modelos numéricos utilizados em projeções climáticas


futuras com eventos climáticos de natureza extrema, registrados no passado geológico, e

(iii) a necessidade de se conhecer as possíveis respostas do sistema climático e dos ecossistemas frente
a modificações significativas em parâmetros climáticos específicos – e.g., concentração atmosférica dos
gases de efeito estufa (GEEs) e aerossóis, atividade solar, temperatura média da atmosfera, além do nível
e da temperatura da superfície do mar.

A América do Sul e os oceanos adjacentes apresentam condições climáticas extremamente diver-


sas, envolvendo desde aquelas típicas de ambientes equatoriais até as das altas latitudes. Este continente
oferece uma oportunidade única de se explorar a variabilidade pretérita do clima ao longo de perfis lati-
tudinais e altitudinais representativos, além de permitir o estudo de alguns dos mais relevantes fenômenos
de teleconexões climáticas.

O registro instrumental do clima no Brasil e na América do Sul é relativamente curto, raramente


ultrapassando 100 anos de duração. Para capturar todas as escalas temporais e mecanismos de varia-
bilidade do sistema climático deve-se, obrigatoriamente, recorrer a registros sedimentares, biológicos e
químicos – e.g., sedimentos marinhos e lacustres, espeleotemas – depósitos carbonáticos em cavernas –,
corais, testemunhos de gelo e anéis de crescimento de árvores –, bem como a registros históricos.

Os principais indicadores utilizados no estudo das condições paleoclimáticas incluem:


(i) propriedades físicas dos registros – e.g., tamanho das partículas, espessura das camadas ou pro-
priedades magnéticas;
(ii) propriedades biológicas dos registros – e.g., assembleias microfossilíferas ou biomarcadores – e
(iii) propriedades geoquímicas e isotópicas dos registros – e.g., razões elementares e isotópicas ou
componentes atmosféricos.

130 VOLUME 1
Alguns destes indicadores são utilizados no estabelecimento de modelos de idades dos registros
paleoclimáticos; outros, na determinação dos processos associados à formação dos registros e a suas
alterações diagenéticas – mudanças químicas e físicas resultantes da interação e compactação de sedi-
mentos sob temperatura e pressão baixas –, e outros, ainda, na reconstituição das propriedades físicas,
biológicas e químicas dos paleoambientes.

A paleoclimatologia é uma disciplina multidisciplinar por excelência, que depende do trabalho


conjunto de especialistas em arqueologia, climatologia, ecologia, geologia, geomorfologia, geoquímica,
glaciologia, limnologia – o estudo das águas interiores –, modelagem numérica, oceanografia, paleonto-
logia, palinologia – estudo de pólens e esporos, fósseis e atuais – pedologia, sedimentologia e vulcano-
logia entre outros profissionais.

Uma porção substancial destas especialidades já foi aplicada em estudos paleoclimáticos dos
registros geológicos provenientes do Brasil e de outros países sul-americanos, conforme sintetizado neste
capítulo.

No entanto, as respostas regionais do clima do Brasil e da América do Sul perante mudanças


climáticas ocorridas no Quaternário tardio aparentam maior diversidade do que o inicialmente sugerido.
Dessa forma, é necessário se obter, com certa urgência, conhecimento mais aprofundado da amplitude,
extensão geográfica e velocidade de ocorrência das mudanças paleoclimáticas, principalmente quando
se considera:
(i) a marcante dependência de importantes setores econômicos do País e do continente sul-america-
no ao atual padrão climático;

(ii) a alta probabilidade da alteração destes padrões no futuro próximo, de acordo com os modelos
atuais, e

(iii) a vulnerabilidade da sociedade civil frente aos desastres naturais de origem climática.

4.2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM ESCALA TEMPORAL ORBITAL


4.2.1 INTRODUÇÃO

Por muito tempo, as discussões sobre mudanças climáticas, em escala temporal de dezenas de
milhares de anos devido às variações na insolação segundo o ciclo de precessão, ficaram restritas aos
registros geológicos do hemisfério norte. Somente nas últimas duas décadas começaram a ser discutidas
modificações de pluviosidade nos trópicos da América do Sul em escala temporal orbital, as quais são
consistentes com os ciclos de precessão (Seltzer et al., 2000; Haug et al., 2001; Peterson e Haug, 2006).
No Brasil, os primeiros estudos foram baseados em registros de mudanças na vegetação e no nível de
lagos em diversas regiões (Absy et al.,1991; Sifeddine et al., 1994; Ledru et al., 2005).

Um grande avanço nesse tema ocorreu mais recentemente, com os estudos de registros em de-
pósitos carbonáticos de cavernas, mais conhecidos como espeleotemas (Cruz et al., 2005; Cruz et al.,
2009). Tais registros demonstraram como variações de insolação de verão produziram mudanças no
regime de chuvas tropicais e extratropicais durante o Quaternário tardio.

4.2.2 EVIDÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS A PARTIR DE REGISTROS LACUSTRES

As primeiras evidências do impacto dos parâmetros orbitais em mudanças climáticas no Brasil fo-
ram obtidas em registros lacustres, localizados na parte oriental da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas,
através de estudos multidisciplinares que associaram dados de paleovegetação, sedimentologia e geoquí-
mica, obtidos a partir de um testemunho de seis metros coletado em um dos lagos da Serra dos Carajás, no

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 131


Pará (Absy et al., 1991; Sifeddine et al., 1994). Em uma sequência sedimentar de mais de 60 mil anos
(ka), foi observada uma alternação entre períodos de floresta úmida e de vegetação típica de clima mais
seco.

De fato, tanto o registro de pólen quanto os estudos sedimentológicos desenvolvidos com teste-
munhos da Serra dos Carajás não deixam dúvidas sobre a existência de períodos de maior aridez e de
abertura da floresta, com vegetação característica de savana em torno de 60, 40 e, entre 23.000 e cator-
ze mil anos antes do presente (AP). Em comparação com a atual distribuição da densa floresta úmida do
bioma amazônico, pode-se admitir que a precipitação, que varia hoje de 1.500 a 2.000 milímetros por
ano em sua parte oriental, foi reduzida para 1.000 a 1.500 milímetros por ano durante tais fases (Absy et
al., 1991; Sifeddine et al., 1994).

Outras provas da ocorrência de fortes mudanças climáticas foram obtidas através de estudos pa-
linológicos – i.e., do estudo de pólens e esporos, fósseis e atuais – de um testemunho coletado na cratera
de Colônia, atualmente no domínio de mata atlântica no Estado de São Paulo – 23°52’S/46°42’20’’W.
Este testemunho forneceu resultados de mudanças na composição desse bioma brasileiro últimos ciclos
glacial-interglacial (Ledru et al., 20014, 2009). Nestes estudos, foram analisados, aproximadamente, os
últimos 120 mil anos.

Essas mudanças têm sido discutidas principalmente com base nas frequências de pólen de ele-
mentos arbóreos – representada à Figura 4.1a deste capítulo – e refletem as alterações na cobertura
florestal, associando os períodos de maior expansão e retração desta às modificações relacionadas com
umidade e temperatura. Comparados a outros registros paleoclimáticos – como, por exemplo, os que
são mostrados à Figura 4.1b –, estes resultados exibem maior consistência com o ciclo orbital de preces-
são – ao redor de 23 ka –, o que pode ser visualizado à Figura 4.1c. Eles fornecem evidências de que as
alterações na insolação foram responsáveis por modificações na precipitação que, por sua vez, causaram
expansão ou redução da mata atlântica, durante os últimos 120 ka.

Figura 4.1. Variações para


os últimos 120 ka nos
parâmetros (a) porcentagem
de pólen de elementos
arbóreos em testemunho
sedimentar coletado na
Cratera de Colônia no
Estado de São Paulo (Ledru
et al., 2009); (b) valores de
δ18O do espeleotema BT2
da Caverna de Botuverá, no
Estado de Santa Catarina
(Cruz et al., 2005) – notar
que o eixo das ordenadas
está invertido –; e (c)
insolação para 30°S para o
mês de fevereiro (Laskar et
al., 2004).

132 VOLUME 1
4.2.3 EVIDÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS A PARTIR DE ESPELEOTEMAS

Registros das razões isotópicas de oxigênio em espeleotemas precisamente datados pelo método
Urânio/Tório, ou U/Th – i.e., datação baseada no decaimento radioativo dos isótopos da série desses
dois elementos químicos– consolidaram-se nos últimos anos como um dos melhores indicadores paleocli-
máticos de regiões (sub)tropicais (Wang et al., 2001; Cruz et al., 2005). O registro de isótopo de oxigênio
(δ18O) de alta resolução de uma estalagmite coletada na caverna de Botuverá, em Santa Catarina, entre
27°13’24”S e 49°09’20”W (Cruz et al., 2005), abrangendo os últimos 116 ka, variou de acordo com
mudanças na origem da umidade e da quantidade de chuva na área da caverna.

A comparação entre as variações dos valores de δ18O, representada à Figura 4.1b neste capítulo,
com os dados de insolação, mostrados à Figura 4.1c para o mês de fevereiro, a 30°S, sugere uma relação
controlada pelos últimos cinco ciclos de precessão.

Essa relação está bem marcada pela correspondência dos valores máximos e mínimos das razões
isotópicas do oxigênio dos espeleotemas com as fases de insolação mínima e máxima – notar o eixo –,
respectivamente. Através desses estudos, foi possível se observar aumento ou diminuição relativa das
chuvas associada ao regime do SMAS, durante as fases de insolação máxima ou mínima de verão.

Nesse caso, variações dos valores de δ18O de espeleotemas, estiveram associados às mudanças
na intensidade do sistema das monções no Sul do Brasil, que é altamente dependente das alterações na
circulação atmosférica em escala global (Cruz et al., 2005, 2006; Wang et al., 2006), representada à
figura 4.2b neste capítulo.

Nessa mesma linha de pesquisa, foram discutidas oscilações em escala temporal orbital da pre-
cipitação e da circulação atmosférica no Norte do Nordeste brasileiro. Análises de registros isotópicos de
δ18O em espeleotemas do Rio Grande do Norte (Cruz et al., 2009) permitiram sugerir que as variações
da paleoprecipitação foram inversamente proporcionais às fases de máxima e mínima da insolação de
verão de fevereiro para 10ºS.

Essas reconstituições, obtidas com alta resolução temporal dos valores de δ18O em estalagmites
potiguares, permitiram indicar que a insolação foi também a principal forçante das variações de paleo-
precipitação no Nordeste brasileiro, assim como observado nas regiões Sul e Sudeste, em registros tem-
poralmente mais longos (Cruz et al., 2005, 2009).

No entanto, notou-se que as variações da precipitação em escala de tempo orbital são caracte-
rizadas pela presença de um dipolo de precipitação entre as regiões Sul/Sudeste e Nordeste do Brasil,
mostrados à figura 4.2.

Do mesmo modo, correlações positivas foram observadas entre registros geoquímicos de titânio
(Ti) envolvendo os últimos catorze mil anos dos testemunhos marinhos da Bacía de Cariaco (Haug et al.,
2001), na Venezuela, a aproximadamente 10ºN. No caso, a diminuição das concentrações desse ele-
mento químico nos sedimentos marinhos encontrados próximo à costa venezuelana durante os últimos
quatro mil anos, foi associada à menor descarga fluvial na referida bacia, devido ao aumento de aridez
na porção norte da América do Sul.

O contrário ocorreu durante o Holoceno inferior e médio – período que vai desde ao redor de
onze mil anos calibrados antes do presente até quatro cal. ka AP –, quando se registrou maiores concen-
trações de Ti nos sedimentos marinhos da região, o que se atribui à expansão do aporte de terrígenos de
origem continental devido a condições mais úmidas no continente.

Essa mudança de condições mais úmidas para mais secas, por volta de quatro mil anos calibra-
dos antes do presente, ocorreu, simultaneamente, na China, como exibido à Figura 4.2 (Wang et al.,
2001, 2008), na Bacia de Cariaco (Peterson et al., 2000; Haug et al., 2001), no Oeste da África (Gasse,
2000) e na América Central (Lachniet et al., 2004). Possivelmente, ela se deu associada a um desloca-
mento para o Sul da ZCIT, com consequente aumento de precipitação sobre o Brasil tropical.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 133


Um mecanismo semelhante vem sendo largamente utilizado para explicar condições mais úmidas
durante fases de insolação mais alta nos subtrópicos brasileiros (Cruz et al., 2005, 2006) e nos Andes
(Baker et al., 2001a, 2001b; Seltzer et al., 2002), que ocorrem em oposição ao clima dos trópicos do
hemisfério norte.

Ponto fundamental a respeito da discussão sobre o padrão de variação paleoclimática da preci-


pitação em escala de tempo orbital é o de que, tal fenômeno, não pode ser simplesmente explicado pelo
deslocamento meridional da ZCIT.

As oscilações das chuvas sobre o Nordeste do Brasil (Cruz et al., 2009) que seguem o ciclo de
precessão, ocorrem em fase coordenada com os registros paleoclimáticos do hemisfério norte e são, as-
sim, antifásicas com os registros de espeleotemas do Sul e do Sudeste do Brasil (Cruz et al., 2005, 2006)
e com lagos ou espeleotemas dos Andes (Baker et al., 2001a, 2001b; Seltzer et al., 2002; Breukelen et
al., 2008).

Tal padrão antifásico de paleoprecipitação entre o Nordeste e o Sul e Sudeste brasileiros, propos-
to por Cruz et al. (2009), foi também observado na região da Chapada Diamantina (BA), sugerindo ser
dominante na maior parte dessa região do Brasil, do Rio Grande do Norte até a Bahia, como mostrado
na Figura 4.2 neste capítulo.

Figura 4.2. Comparação entre os


registros de δ180 de espeleotemas
das cavernas de (a) Hulu e Sanbao,
na China (Wang et al., 2001,
2008), (b) Botuverá, no Estado de
Santa Catarina, Brasil (Cruz et al.,
2005) e (c) Rainha, Furna Nova e
Abissal, no Estado do Rio Grande
do Norte, Brasil (Cruz et al., 2009).
Valores de insolação calculados
para distintas latitudes e meses do
ano podem também ser observados
(Laskar et al., 2004).

O padrão antifásico das chuvas do hemisfério sul durante o Holoceno, assim como o descrito
para alguns trechos da última glaciação, pode ser explicado a partir da influência do SMAS sobre a
circulação zonal dentro do continente, intensificada durante os períodos de insolação austral mais alta.
Sugere-se que o aumento da radiação solar no topo da atmosfera teria aquecido o continente sul-ameri-
cano em relação à superfície marinha, o que resultou numa maior convergência de umidade do Oceano
Atlântico tropical para a Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas. Esse processo intensificou o sistema mon-
çônico e aprofundou o cavado do Nordeste, responsável pelas condições de baixa pressão em altos níveis
da região – e vice-versa – durante o verão, que gerou condições mais secas no Nordeste e, mais úmidas,
no restante do País (Cruz et al., 2009; Ferreira e Chao, 2012).

134 VOLUME 1
4.2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta síntese teve como objetivo estabelecer o estado da arte em relação às evidências da exis-
tência de registros das mudanças orbitais e seus impactos sobre os ciclos hidrológicos, como também
sobre os ecossistemas continentais em regiões tropicais e subtropicais do Brasil. O padrão de variação de
precipitação em escala orbital ainda deve ser melhor estabelecido para o continente sul-americano com
dados de outras regiões brasileiras.

Torna-se extremamente importante, neste estágio, um esforço conjunto da comunidade científica


dedicada à paleoclimatologia no sentido de se obter e analisar testemunhos lacustres e marinhos longos
em regiões-chave para um melhor conhecimento dos impactos dos parâmetros orbitais sobre os ciclos
hidrológicos e, também, sobre a vegetação –, por meio do International Continental Scientific Drilling
Program (em itálico) – http://www.icdp-online.org – e do International Ocean Discovery Program (em
itálico)– http://www. iodp.org.

4.3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS


4.3.1 INTRODUÇÃO

Durante a última glaciação, a Groenlândia apresentou marcantes e abruptas mudanças climáticas


em escala temporal milenar (Dansgaard et al., 1993; North Greenland Ice Core Project members, 2004).
Os testemunhos de gelo dessa ilha registraram elevações de 7 a 12 ºC em poucas décadas, acompa-
nhadas de flutuações dramáticas nas concentrações de metano e de poeira atmosférica (Mayewski et
al., 1997; Blunier e Brook, 2001). Como consequência, alterações climáticas abruptas, que são aquelas
que se processam em grande escala geográfica no intervalo de tempo de algumas décadas ou menos e
perduram tipicamente por várias centenas a alguns milhares de anos, causando rupturas substanciais nas
sociedades humanas e nos sistemas naturais (Clark et al., 2008), foram registradas.

Ao menos quatro tipos de mudanças abruptas, identificadas nos registros paleoclimáticos, são
dignos de nota. Isto porque a sua recorrência apresentaria altos riscos à sociedade no que se refere à sua
capacidade adaptativa, a saber:
(i) rápidas alterações no nível do mar devido ao aumento nas taxas de degelo;

(ii) mudanças no ciclo hidrológico que afetam vastas áreas por um longo período de tempo;

(iii) eventos breves de liberação de metano aprisionado em um tipo de solo encontrado na região do
Ártico, constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congeladas e denominado permafrost, e nas
margens continentais, e

(iv) alterações na CRMA – a Atlantic Meridional Overtuning Circulation ou AMOC, em inglês – advin-
das de mudanças no ciclo hidrológico.

Desde as primeiras descobertas, eventos caracterizados como mudanças climáticas abruptas fo-
ram identificados em diversas localidades ao redor do planeta (Voelker et al., 2002). No entanto, os
mecanismos responsáveis pela formação e propagação destes eventos não se encontram perfeitamente
esclarecidos (Broecker, 2003; Barker et al., 2009; Stager et al., 2011).

O conhecimento apropriado destes relevantes eventos depende da existência de uma densa co-
bertura espacial de registros paleoclimáticos com resolução temporal e modelos de idade compatíveis
com a duração dos eventos. Alguns dos principais registros de mudanças climáticas abruptas, localizados
no território brasileiro e na porção sul do Oceano Atlântico, ocorridos durante a última glaciação e seus
prováveis mecanismos causadores são abordados neste capítulo.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 135


4.3.2 OS REGISTROS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS DO ÚLTIMO PERÍODO GLA-
CIAL E INTERGLACIAL

No Brasil e na porção oeste do Atlântico Sul, as mudanças climáticas abruptas milenares da úl-
tima glaciação foram registradas em espeleotemas (Wang et al., 2004; Cruz et al., 2005), sedimentos
continentais (Ledru et al., 2001, 2006) e sedimentos marinhos (Arz et al., 1998; Behling et al., 2000),
representados na Figura 4.3.

Observa-se uma marcante concentração dos registros das mudanças climáticas abruptas na Re-
gião Nordeste do Brasil e no oceano adjacente. Os seguintes fatores contribuem para tal concentração:
(i) a alta amplitude do sinal das mudanças climáticas abruptas nesta região do continente e oceano,
em função do impacto da ZCIT no clima regional e de sua relação com processos de degelo em latitudes
elevadas do hemisfério norte associados a tais alterações;

(ii) a alta resolução temporal de alguns registros paleoclimáticos provenientes destas regiões e,

(iii) a maior quantidade de registros paleoclimáticos disponíveis nessas regiões.

Com base em 39 datações U/Th de espeleotemas provenientes da região norte semiárida da


Bahia, Wang et al. (2004) definiram dez fases de crescimento de espeleotemas que indicam aumento
considerável da precipitação na região, em períodos com duração entre 500 e 2.000 anos, durante os
últimos 90.000 anos, conforme representado neste capítulo nas figuras 4.3 e 4.4h, classificadas como
eventos de mudanças climáticas abruptas.

Dados de δ18O de espeleotemas do Rio Grande do Norte (Cruz et al., 2009) corroboraram os
resultados apresentados por Wang et al. (2004) para o período do HS1 – entre aproximadamente 18.000
e 15.600 anos cal. AP, segundo Goñi e Harrison (2010) – , além de permitir um detalhamento de parte
da estrutura interna deste evento em função da alta resolução temporal do registro isotópico.

Ainda no continente, o registro polínico da Lagoa do Caçó, no Estado do Maranhão, também


registrou com certo detalhamento as mudanças de vegetação ocorridas durante a última deglaciação, na
qual o HS1 se sobressai de forma marcante (Ledru et al., 2001, 2006).

Durante a última deglaciação, os autores detectaram o predomínio genérico de uma assembleia


vegetacional típica de climas secos, que é suplantada por uma significativa expansão daquelas de climas
com maior umidade, cujo pico se situou entre aproximadamente 17.000 e 15.000 anos cal. AP simultâ-
nea ao HS1.

No entanto, os eventos quentes abruptos no hemisfério norte, a exemplo do evento Bølling-Al-


lerød, ocorrido entre aproximadamente 14.600 e 12.800 anos cal. AP, segundo Rasmussen et al. (2006),
podem também impactar o clima do Nordeste do Brasil e criar um grande déficit na precipitação de-
corrente do deslocamento da ZCIT para Norte, assim como observado no Oeste da Bahia (Wang et al.,
2007b) e no Rio Grande do Norte (Cruz et al., 2009).

136 VOLUME 1
Figura 4.3. Salinidade da superfície marinha,
medida em unidades práticas de salinidade
(psu, na sigla em inglês) (Antonov et al.,
2010) para os oceanos Atlântico e Pacífico,
e precipitação acumulada – mm verão
para a América do Sul durante o verão
do hemisfério sul (Xie e Arkin, 1997). A
localização dos registros paleoambientais
presentes na Figura 4.4 estão representados
por círculos amarelos, enquanto outros,
também discutidos no texto, são mostrados
pelos círculos brancos – ODP999A: Schmidt
et al. (2006); Bacia de Cariaco: Peterson et
al. (2000), Gonzalez et al. (2008); MD02-
2529: Leduc et al. (2007); Lagoa do Caçó:
Ledru et al. 2001, 2006); GeoB3104-
1/3912-1: Arz et al. (1998), Behling et al.
(2000), Jennerjahn et al. (2004); GeoB3910-
2: Jaeschke et al. (2007); cavernas Toca da
Boa Vista (TBV) e Lapa dos Brejões (LBR):
Wang et al. (2004); Caverna Santana: Cruz
et al. (2006); Caverna de Botuverá: Cruz
et al. (2005), Wang et al. (2006; 2007a),
36GGC:Carlson et al. (2008) e GeoB6211-
2: Chiessi et al. (2008).

Na porção equatorial oeste do Oceano Atlântico, Arz et al. (1998) caracterizaram nove períodos
de mudanças climáticas abruptas com duração milenar de maior acúmulo de sedimentos terrígenos, exi-
bidos nas figuras 4.3 e 4.4d, durante os últimos aproximadamente 80.000 anos. Tais incrementos estão
registrados no aumento das razões entre os elementos químicos Titânio e Cálcio (Ti/Ca) e entre Ferro (Fe)
e o segundo, analisados em sedimento total. Estas razões entre elementos químicos refletem períodos de
maior descarga sedimentar fluvial associados a expansão considerável dos índices de precipitação sobre
o continente.

Arz et al. (1998) observaram, ainda, uma marcante sincronia entre os períodos de maior acúmulo
de sedimentos terrígenos e os eventos Heinrich Stadial 6 (HS6) – entre 63.200 e 60.100 cal. AP, aproxima-
damente –, e HS1 – ao redor de 18.000 a 15.600 cal. AP – (Goñi e Harrison, 2010), que se encontram
muito bem documentados para a porção norte do Oceano Atlântico.

Em um dos testemunhos sedimentares marinhos estudados por Arz et al. (1998), os autores Behling
et al. (2000) inferiram a presença predominante de pólens de plantas do bioma Caatinga no continente
adjacente, o que indica que as condições climáticas semiáridas persistiram na Região Nordeste do Brasil
durante os últimos, aproximadamente, 50 mil anos. Entretanto, as composições de florestas mais úmidas
se tornaram mais abundantes na mesma região durante os eventos HS4 a HS1. É que o fluxo de pólens
e esporos para o sítio de deposição durante estes eventos aumentou de modo significativo, muito prova-
velmente devido à precipitação e à descarga fluvial incrementadas, como exibido na Figura 4.4f.

Com base em indicadores de geoquímica orgânica, Jennerjahn et al. (2004) descreveram perí-
odos milenares coincidentes temporalmente com os eventos HS8-HS1, além do Younger Dryas (YD), de
menor degradação e predomínio de matéria orgânica continental depositada no sítio marinho estudado,
o que segue mostrado pelas figuras 4.3 e 4.4e. Tais mudanças foram atribuídas a um menor tempo de
residência da matéria orgânica e a um aporte fluvial mais intenso, por sua vez, relacionado a uma maior
precipitação sobre o Nordeste do Brasil.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 137


O estudo detalhado das modificações na vegetação da área de captação do testemunho marinho
GeoB3910-2 – i.e., bacias de drenagem dos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará –, representa-
do na Figura 4.3, permitiu identificar algumas características da estrutura interna do HS1 (Dupont et al.,
2009). Durante o seu início – aproximadamente entre 18.000 e 16.600 anis cal. AP –, o aumento no
fluxo de pólens acusou elevação na precipitação sobre a área de captação. No entanto, nesta primeira
fase, os autores não identificaram marcantes modificações na assembleia polínica, que apresenta uma
mistura de gramíneas e elementos típicos de savana, indicando que a erosão é o principal responsável
pelo aumento no fluxo de pólens.

Durante uma segunda fase – aproximadamente de 16.600 a 14.900 anos cal. AP –, os autores
descreveram ter havido crescimento marcante na porcentagem e diversidade de elementos florestais.
Após esse período, as assembleias polínicas voltaram a apresentar a predominância de típicos registros
de gramíneas e de savana.

Quatro estudos apresentaram reconstituições das variações das temperaturas oceânicas para pe-
ríodos distintos, tando da última glaciação, como da derradeira deglaciação da porção oeste do Atlântico
Sul, com resolução temporal adequada para capturar mudanças abruptas na escala milenar. A saber: os
realizados por Weldeab et al. (2006), Jaeschke et al. (2007), Carlson et al. (2008) e Chiessi et al. (2008)
e mostrados à Figura 4.3. Mas, neste rol, apenas o estudo de Jaeschke et al. (2007) apresentou um re-
gistro que ultrapassa o Último Máximo Glacial e será tratado nesta seção, enquanto que os demais serão
apresentados na seção 4.4. deste capítulo. Utilizando o índice de insaturação de alquenonas – grupos de
compostos orgânicos muito resistentes à decomposição e capazes de registrar a temperatura da água na
qual se formaram–, Jaeschke et al. (2007) reportaram diminuições abruptas nas temperaturas da superfí-
cie marinha, com amplitude entre 0,5 e 2° C ao largo do Estado do Ceará. Tais reduções são simultâneas
aos eventos HS6-HS2, bem como aos picos de aporte de sedimentos terrígenos (Arz et al., 1998), matéria
orgânica continental (Jennerjahn et al., 2004), e fluxo de pólens (Behling et al., 2000) para o Oceano
Atlântico.

Nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, registros de δ18O das cavernas de Botuverá (Cruz et al., 2005;
Wang et al., 2007a) e de Santana (Cruz et al., 2006) – encontraram marcantes excursões abruptas ne-
gativas milenares de até 2‰ durante os eventos Heinrich Stadial 10 (HS10) a HS1 e YD, como se pode
notar nas figuras 4.3 e 4.4i. Tais autores associaram essas anomalias a períodos nos quais a principal
fonte de umidade para as cavernas teria sido proveniente da região amazônica, supostamente relaciona-
da ao SMAS.

4.3.3 OS MECANISMOS RESPONSÁVEIS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ABRUPTAS

Os padrões de distribuição das anomalias de TSM durante os eventos HS no Oceano Atlântico


apontam para uma marcante diminuição nas TSM das altas e médias latitudes do Atlântico Norte (Bard
et al., 2000; North Greenland Ice Core Project members, 2004) e do Atlântico equatorial (Jaeschke et al.,
2007), enquanto que o Atlântico Sul (Carlson et al., 2008; Barker et al., 2009) e a Antártida (e.g., Blunier
e Brook, 2001; EPICA, 2006) sofreram aquecimento. Reconstituições de salinidade da superfície do mar
(SSM) indicaram significativa diminuição para as altas latitudes do Atlântico Norte (Bard et al., 2000), en-
quanto que o Oeste e o Sul desse mesmo oceano (Schmidt et al., 2006; Carlson et al., 2008), bem como
o Índico (Levi et al., 2007), apresentaram elevação. Modelos conceituais e numéricos indicaram que tais
padrões de distribuição estão associados a mudanças na CRMA em resposta a pequenas modificações
no ciclo hidrológico (Manabe e Stouffer, 1988; Crowley, 1992; Vellinga e Wood, 2002). A formação de
Água Profunda do Atlântico Norte seria perturbada por essas modificações no ciclo hidrológico e, por sua
vez, fenômenos oceânicos e atmosféricos seriam responsáveis pela transmissão global do sinal climático
por meio de uma série de mecanismos de retroalimentação (Broecker, 1997; Clark et al., 2002).

Fundamentalmente, o enfraquecimento da CRMA durante os eventos HS estaria associado ao


aquecimento da superfície e de profundidades intermediárias das águas do Oceano Atlântico Sul e

138 VOLUME 1
ao resfriamento das mesmas, em sua porção norte. Um grande número de reconstituições paleoambien-
tais baseadas em múltiplos indicadores corroborou o envolvimento da CRMA nas mudanças climáticas
abruptas (Bond et al., 1993; Rühlemann et al., 1999; McManus et al., 2004; Gherardi et al., 2005; Leduc
et al., 2007; Chiessi et al., 2008).

As modificações de TSM e SSM observadas no Atlântico equatorial e Sul durante as mudanças


climáticas abruptas são explicadas de maneira satisfatória pela diminuição na intensidade da CRMA. No
entanto, as alterações no padrão de precipitação sobre o Brasil, bem como em sua distribuição sobre os
principais biomas, requer uma avaliação mais detalhada dos mecanismos potencialmente responsáveis.
Durante o último período glacial, a marcante desintensificação da CRMA teria causado a expansão da
cobertura de gelo do mar no Atlântico Norte e o subsequente deslocamento da ZCIT para Sul (Chiang et
al., 2003; Chiang e Bitz, 2005).

Este fenômeno foi muito provavelmente responsável por uma mudança abrupta no ciclo hidroló-
gico tropical como reconstituído através de registros do Norte da América do Sul e na Região Nordeste
do Brasil, reproduzidos aqui, nas figuras 4.4c, d, e, f, e h (Arz et al., 1998; Peterson et al., 2000; Wang
et al., 2004). Conforme observado em dados instrumentais (Robertson e Mechoso 2000; Doyle e Barros
2002; Liebmann et al., 2004), uma anomalia positiva de TSM na porção oeste do Atlântico Sul subtropi-
cal pode intensificar o SMAS e o jato em baixos níveis. Tal combinação terminaria por fornecer umidade
empobrecida isotopicamente – i.e., com valores muito negativos de δ18O – para as regiões Sul e Sudeste
brasileiras (Vuille e Werner, 2005), conforme registrado na Figura 4.4i (Cruz et al., 2005; Wang et al.,
2007a). Adicionalmente, de forma análoga à situação observada durante o inverno boreal (Lindzen e
Hou, 1988), a migração para o Sul da ZCIT durante os eventos HS pode ter causado uma assimetria
meridional na circulação de Hadley (Wang et al., 2004; Wang et al., 2006; Wang et al., 2007a; Cruz et
al., 2009). O deslocamento para o Sul da célula de Hadley alteraria o transporte meridional de umidade,
intensificando a movimentação ascendente de massas de ar nas baixas latitudes austrais, enquanto que
os trópicos e subtrópicos do hemisfério norte seriam caracterizados por movimentação em direção oposta
mais intensa. Genericamente, as baixas latitudes do hemisfério sul sofreriam elevação na precipitação,
que diminuiria nas coordenadas similares do hemisfério norte (Clement et al., 2004; Chiang e Bitz, 2005).
Esta assimetria inter-hemisférica na circulação de Hadley estaria particularmente bem documentada nas
tendências opostas observadas em registros de δ18O, baseados em espeleotemas da China e do Brasil
(Wang et al., 2006; Wang et al., 2007a).

Períodos de enfraquecimento do Sistema de Monção de Verão do Leste da Ásia (SMLA) estariam


associados à intensificação do SMAS – maiores detalhes podem ser lidos em Wang et al. (2006, 2007a e
2007b). Durante os eventos HS, as florestas de baixas altitudes no extremo norte da América do Sul torna-
ram-se menos densas, enquanto que a tendência oposta foi registrada no Nordeste do Brasil (Ledru et al.,
2001; Gonzalez et al., 2008; Dupont et al., 2009; Hessler et al., 2010). A resposta oposta, encontrada
em ambos os limites de migração sazonal da ZCIT, corroborou a hipótese de uma migração para o Sul
da ZCIT durante os eventos HS (Peterson et al., 2000).

4.3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os registros paleoclimáticos e paleoceanográficos disponíveis na literatura evidenciam fortes e


abruptas oscilações no gradiente de temperatura entre as altas e médias latitudes do Atlântico Norte e a
porção equatorial do mesmo oceano, que causaram variações abruptas de pluviosidade, tanto no regime
de chuva associado às monções sul-americanas, quanto na área diretamente afetada pela ZCIT. Essas
mudanças são sentidas principalmente nos eventos frios do hemisfério norte, do tipo HS, mas em alguns
casos também são coincidentes com ocorrências quentes no mesmo hemisfério do tipo Daansgard-Oes-
chger. Abruptas, as causas de ambas residem, aparentemente, em marcantes modificações de intensida-
de da CRMA.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 139


Figura 4.4. Registros paleoclimáticos da
porção leste da América do Sul e do oeste
do Oceano Atlântico para o intervalo
entre dez e 10.000 e 90.000 anos cal.
AP, além de indicadores de temperatura
das altas latitudes do hemisfério norte
(a) e da intensidade do Sistema de
Monção de Verão do Leste da Ásia
(SMLA) (b). A latitude de cada registro
pode ser encontrada nesta figura. Todos
os registros estão com seus modelos
de idade originais. As siglas HS1, HS2,
HS3, HS4, HS5 e HS6 se referem aos
eventos do tipo Heinrich Stadial cujas
idades foram baseadas em EPICA (2006).
Outras abreviações usadas na figura:
LBR – Caverna Lapa dos Brejões, T –
temperatura, TBV – Caverna Toca da Boa
Vista, TSM – temperatura da superfície do
mar, VPDB – Vienna Pee Dee Belemnite.
Para a localização dos registros sul-
americanos, ver a Figura 4.3.

Apesar dos avanços no conhecimento dos eventos abruptos milenares que ocorreram no último período
glacial e deglacial, é necessária ampla expansão desses estudos para novas áreas, tendo em vista deter-
minar:
(i) a distribuição espacial no continente sul-americano das anomalias positivas de precipitação du-
rante os HS;

(ii) a distribuição espacial no Atlântico Sul das anomalias de TSM e SSM durante os HS;

(iii) a distribuição vertical no Atlântico Sul das mesmas anomalias durante os HS;

(iv) a velocidade da resposta dos diversos biomas às modificações na precipitação associadas aos
eventos HS e;

(v) os mecanismos pelos quais os eventos milenares abruptos modulam ciclos em escala secular a
decenal de variação de pluviosidade nos trópicos da América do Sul.

Como é provável que a CRMA apresente diminuição na sua intensidade – aproximadamente 25%
– em futuro próximo – ou seja, até o final do século XXI – (Meehl et al., 2007), estudos mais aprofundados
dos impactos das mudanças pretéritas na intensidade dessa Célula sobre o clima da América do Sul e
dos oceanos adjacentes se fazem altamente necessários, principalmente quanto à ocorrência de extremos
hidrológicos.

140 VOLUME 1
4.4. MUDANÇAS NA PALEOCIRCULAÇÃO DA PORÇÃO OESTE DO ATLÂNTICO SUL

4.4.1 INTRODUÇÃO

Três serão os períodos tratados a seguir: o Último Máximo Glacial (UMG) – entre 23 e 19 mil
anos calibrados antes do presente –, a última deglaciação – entre aproximadamente 19 mil e 11.700
anos calibrados antes do presente – e o Holoceno – desde 11.700 anos calibrados antes do presente.
Sua escolha se deveu ao fato de apresentarem, pelo menos, duas das seguintes características:
(i) estar representados por quantidade mínima de dados de reconstituição na porção oeste do Atlân-
tico Sul;

(ii) representar condições de contorno – e.g., extensão das geleiras no hemisfério norte, nível relativo
do mar, concentração dos GEEs na atmosfera – significativamente distintas daquelas observadas desde o
início do Holoceno até o período pré-industrial;

(iii) conter eventos abruptos de mudanças na paleocirculação da porção oeste do Atlântico Sul e

(iv) permitir explorar a variabilidade de alta frequência – i.e., decenal, multidecenal, secular – na
circulação da porção oeste do Atlântico Sul sob condições de contorno similares àquelas do período
pré-industrial – tais como, extensão das geleiras no hemisfério norte, nível relativo do mar e concentração
dos GEEs na atmosfera.

Adicionalmente, são períodos de marcante interesse para a validação de modelos numéricos de


circulação oceânica e atmosférica (Knorr e Lohmann, 2003; Otto-Bliesner et al., 2007; Dias et al., 2009).

4.4.2 O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL

Apesar da relativa pequena quantidade de dados provenientes da porção oeste do Atlântico Sul,
o que está mostrado à Figura 4.5 deste capítulo, a compilação mais recente de TSM indica que durante o
UMG houve uma diminuição entre um e dois graus Celsius – média anual – na porção oeste do Atlântico
Sul, conforme reproduzido à Figura 4.6c (MARGO Project Members, 2009.)

Os mesmos autores indicam um resfriamento entre quatro e oito graus Celsius – verão do he-
misfério sul – para a região da atual Zona Subantártica do setor do Atlântico no Oceano Austral. Uma
vez que esse resfriamento teria sido significativamente superior ao observado em latitudes mais baixas,
acredita-se que o gradiente térmico na porção norte do referido setor durante o UMG tenha sido marcan-
temente maior do que o atual (Gersonde et al., 2005; Groeneveld e Chiessi, 2011).

A grande maioria dos dados de TSM disponíveis para o UMG se refere à utilização de assembleias
de microorganismos – foraminíferos, diatomáceas e radiolários – sendo que a aplicação de outros indi-
cadores ainda é extremamente restrita (MARGO Project Members, 2009).

A distribuição vertical das massas de água na porção oeste do Atlântico Sul durante o UMG foi
relativamente distinta da sua distribuição moderna (Stramma e England, 1999; Came et al., 2003; Vol-
bers e Henrich, 2004; Curry e Oppo, 2005; Makou et al., 2010). Como diferenças principais, se pode
mencionar:
(i) a diminuição na profundidade da lisóclina da calcita – profundidade em que intensifica-se a dis-
solução da calcita dos sedimentos oceânicos – de, aproximadamente, 4.000 metros para cerca de 3.200
metros (Volbers e Henrich, 2004);

(ii) a diminuição na profundidade da porção central da Água Intermediária Antártica (AAIW, do in-
glês Antarctic Intermediate Water) de aproximadamente 1.500 metros para aproximadamente 1.000 me-
tros, conforme reproduzido à Figura 4.6i (Came et al., 2003; Curry e Oppo, 2005; Makou et al., 2010);

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 141


(iii) a presença de massa de água proveniente do Norte, a equivalente do UMG da Água Profunda do
Atlântico Norte – em inglês, North Atlantic Deep Water (NADW) –, centrada em aproximadamente 1.500
metros e, atualmente, com sua porção central rondando 2.500 metros de profundidade, como mostrado
à Figura 4.6i (Stramma e England, 1999; Came et al., 2003; Curry e Oppo, 2005), e

(iv) a presença de uma massa de água proveniente do Sul, a Água Antártica de Fundo (AABW, do
inglês Antarctic Bottom Water), abaixo de aproximadamente 2.000 metros, atualmentepresente a uma
profundidade abaixo de 3.800 metros (Stramma e England, 1999; Curry e Oppo, 2005).

Esta distribuição apresenta marcantes consequências para:


(i) a operação da CRMA (e.g., Lynch-Stieglitzet al., 2007);

(ii) a capacidade do Oceano Atlântico em aprisionar CO2 atmosférico (Skinner et al., 2010) e

(iii) a redistribuição de calor e nutrientes no referido oceano (Ganachaud e Wunsch, 2000; Sarmiento
et al., 2004).

Apesar da sua intrínseca relevância, ainda não está claro se a operação da CRMA durante o
UMG foi significativamente distinta da atual (Lynch-Stieglitz et al., 2007).

Indicadores cinemáticos – e.g., a razão entre um isótopo do protactínio (Pa e outro do tório (Th)
– da intensidade da CRMA ainda não estão disponíveis para a porção oeste do Atlântico Sul, porém os
analisados em testemunhos sedimentares de outras regiões do Atlântico forneceram importantes informa-
ções a respeito da operação dessa Célula durante o UMG.

Aparentemente, o Oceano Atlântico, durante tal fase glacial, foi marcado por uma célula de
revolvimento similar à atual (Lynch-Stieglitz et al., 2007). A CRMA, nesse mesmo período, foi provavelmente
mais rasa do que a moderna e o tempo de residência das águas profundas foi ligeiramente superior aos
valores atualmente exibidos pelas mesmas massas de água (McManus et al., 2004; Gherardi et al., 2009).

Vale notar que o valor do gradiente zonal de δ18O, analisado em foraminíferos bentônicos – classe
de microrganismos que habitam o substrato oceânico e indicadores de densidade das massas de água de
fundo –, aproximou-se de zero durante o UMG. Isso sugeriu uma diminuição marcante na intensidade da
porção superior da célula de revolvimento (Lynch-Stieglitz et al., 2006).

Figura 4.5. Média anual da temperatura da superfície


marinha (o C) para a porção oeste do Atlântico
Sul (Locarnini et al., 2010) e localização dos
testemunhos sedimentares marinhos discutidos no
texto. Testemunhos com dados disponíveis apenas
para o Último Máximo Glacial estão representados
por círculo brancos (MARGO Project Members,
2009); testemunhos com dados disponíveis para
outros períodos estão representados pelos círculos
amarelos – GeoB3910-2: Arz et al. (2001), Jaeschke
et al. (2007); GeoB3129/3911-3: Weldeab et al.
(2006);GeoB3202-1: Arz et al.(1999); SAN76:
Toledo et al. (2007a, b); 7606: Gyllencreutz et al.
(2010); 36GGC: Came et al. (2003); Carlson et al.
(2008); Pahnke et al. (2008); GeoB6211-2: Chiessi
et al. (2008) e SP1251: Laprida et al. (2011).

142 VOLUME 1
4.4.3 A ÚLTIMA DEGLACIAÇÃO

Os eventos climáticos abruptos característicos da última deglaciação – e.g., HS1, YD – causaram


marcantes modificações na paleocirculação da porção oeste do Atlântico Sul, representadas aqui às
figuras 4.6c, d, e, h, i e j (Arz et al., 1999; Chiessi et al., 2008; Pahnke et al., 2008). Apesar de ainda
restrita, a quantidade de dados que registra tal época nessa região marinha já permite a elaboração de
um cenário evolutivo para o período.

As latitudes subtropicais dessa região sofreram aparente elevação nas TSM (Carlson et al., 2008)
durante os eventos de diminuição na intensidade da CRMA enquanto que nas altas latitudes do hemisfério
norte observou-se diminuição na TSM – i.e., durante o HS1 e o YD –, o que está representado à Figura
4.6a (Bard et al., 2000; McManus et al., 2004; North Greenland Ice Core Project members, 2004). Esta
situação seria compatível com a intensificação da Corrente do Brasil em detrimento da Corrente Norte do
Brasil, mostrada à Figura 4.6e (Arz et al., 1999), mas ainda carece de evidências conclusivas. Também
está de acordo com o aprisionamento de calor nas camadas superficiais do Atlântico Sul (Carlson et al.,
2008; Barker et al., 2009), e a operação de um dipolo meridional na TSM do Oceano Atlântico, confor-
me proposto em modelos conceituais e numéricos (Broecker, 1998; Vellinga e Wood, 2002).

A diminuição da CRMA e seus efeitos colaterais provavelmente causaram uma elevação na SSM
encontrada na porção oeste do Atlântico, que também foi registrada no talude continental brasileiro,
conforme se observa à Figura 4.6d, (Weldeab et al., 2006; Carlson et al., 2008). Uma situação similar
foi encontrada por Toledo et al. (2007a) no testemunho SAN76, apesar da resolução temporal mais baixa
dos dados isotópicos – exibido à Figura 4.5.

Dois testemunhos sedimentares coletados no talude continental do Nordeste do Brasil aponta-


ram tendências de variações de TSM aparentemente distintas durante os eventos climáticos abruptos da
última deglaciação – i.e., HS1, YD –, representado à Figura 4.6c (Weldeab et al., 2006; Jaeschke et al.,
2007). Reconstituições de TSM, com base na razão Mg/Ca – entre magnésio e cálcio – e analisada em
foraminíferos planctônicos, indicaram uma elevação para períodos de diminuição da CRMA (Weldeab et
al., 2006) enquanto que outras, baseadas no índice de insaturação de alquenonas, não apontaram para
qualquer alteração durante os mesmos períodos (Jaeschke et al., 2007). Acredita-se que tal divergência
esteja relacionada às diferentes estações do ano, registradas em cada um dos indicadores utilizados, a
saber, verão para os foraminíferos e, inverno, para as alquenonas (Leduc et al., 2010).

Figura 4.6. Registros paleoceanográficos da porção


oeste do Atlântico Sul desde o Último Máximo
Glacial e indicadores de temperatura provenientes
das altas latitudes dos hemisférios norte e sul. A
latitude de cada registro pode ser encontrada nesta
figura. Todos os registros exibem seus modelos de
idade originais. As três barras de cor cinza verticais
marcam o Último Máximo Glacial (Mix et al., 2001),
HS1 (McManus et al., 2004) e YD (Rasmussen et al.,
2006). Outras abreviações usadas na figura: CB –
Corrente do Brasil, ivc – ice volume corrected, SSM
– salinidade da superfície do mar, sw – seawater,
T – temperatura, TSM – temperatura da superfície do
mar, VPDB – Vienna Pee Dee Belemnite, e VSMOW
– Vienna Standard Mean Ocean Water. Para a
localização dos testemunhos marinhos, ver a Figura
4.5.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 143


Na termoclina – camada dos oceanos em que a água muda bruscamente de temperatura – per-
manente das latitudes subtropicais da porção oeste do Atlântico Sul, temperatura e salinidade apresen-
taram evolução oposta àquela observada na superfície do mar durante a última deglaciação, conforme
mostrado à Figura 4.6j (Chiessi et al., 2008). Este comportamento foi associado, em parte, às mudanças
no gradiente zonal de temperatura, principalmente na profundidade da termoclina permanente, em res-
posta às alterações na intensidade da CRMA e, em parte, às mudanças ocorridas no fluxo da massa de
água central com alta salinidade, que é transportada desde o Oceano Índico até o Atlântico Sul, através
do vazamento das Agulhas, em resposta à migração para o Sul das frentes circum-antárticas. Em resumo,
durante HS1 e YD, foram registrados menores valores do gradiente zonal em comparação com o Bølling-
-Allerød além de uma marcante intensificação do vazamento das Agulhas ao final do HS1.

Em profundidades intermediárias das latitudes subtropicais da porção oeste do Atlântico Sul,


Pahnke et al. (2008) registraram aumento da participação de AAIW durante períodos de diminuição da
CRMA ao longo da última deglaciação, registrado à Figura 4.6g. Este incremento estaria aparentemente
associado à diminuição da competição entre a própria AAIW e a Água Glacial Intermediária do Atlântico
Norte.

Ainda em profundidades intermediárias, Hendry et al. (2012) sugeriram que, marcantes elevações
no conteúdo de nutrientes durante o HS1 e o YD estariam associadas a uma ressurgência mais intensa
ao redor da Antártida, em função de um alinhamento entre a porção central dos ventos de Oeste e da
Corrente Circumpolar Antártica.

4.4.4 O HOLOCENO

Existe marcante carência de estudos paleoceanográficos, com resolução temporal adequada,


que tratem da porção oeste do Atlântico Sul durante o Holoceno (Leduc et al., 2010). Dois registros de
TSM provenientes de baixas latitudes não indicaram marcantes variações durante os últimos dez mil anos,
conforme representado à Figura 4.6c (Weldeab et al., 2006; Jaeschke et al., 2007).

Utilizando registros de dissolução de carbonatos marinhos em um testemunho coletado a 2.362


metros de profundidade na porção oeste do Atlântico equatorial, Arz et al. (2001) sugeriram que, durante
os eventos Bond – ocorrências de diminuição na intensidade da CRMA característicos do Holoceno (Bond
et al., 1997), a dissolução tenha aumentado. Isso refletiria o acréscimo da proporção de massas de água
mais corrosivas, vindas muito provavelmente do Sul, na localidade e profundidade estudadas.

Para latitudes subtropicais, Came et al. (2003) sugeriram que a atual configuração de massas de água
em profundidades intermediárias só foi atingida ao redor de nove mil anos calibrados antes do presente,
concomitantemente ao aquecimento do Atlântico Norte.

Na plataforma continental sul do Brasil, Gyllencreutz et al. (2010) indicaram ter havido uma mar-
cante alteração na circulação superficial entre cinco e quatro mil anos calibrados antes do presente. Os
dados apresentados pelos autores sugeriram que as condições hidrográficas atuais teriam se estabelecido
neste período, com o avanço em direção ao Norte da Água da Pluma do Rio da Prata – ou seja, da des-
carga d’água continental de salinidade inferior a do oceano. Isso ocorreria em decorrência do aumento
da precipitação no continente e da alteração no regime de ventos, o que está representado à Figura 4.6f
deste capítulo.

Tais indicações foram corroboradas e expandidas por Razik et al. (2013), que puderam determinar
a penetração marcante de águas da margem continental argentina sobre a margem continental do Sul do
Brasil, entre oito e quatro mil anos calibrados antes do presente. Voigt et al. (2013) descreveram que, longos
períodos – i.e., dezenas de anos – de intensificação do fenômeno El Niño, durante as fases do Holoceno médio
e tardio, causaram elevação na precipitação sobre a bacia de drenagem do Rio da Prata e maior intensidade

144 VOLUME 1
de ventos de Nordeste da porção subtropical oeste do Atlântico Sul. Finalmente, na região da ressurgência
de Cabo Frio, Souto et al. (2011) indicaram terem existido dois períodos deaparente intensificação do fenô-
meno de ressurgência ao longo dos últimos 1.200 anos, a saber, entre 850 e 1070 e entre 1550 e 1850.

4.4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento a respeito das mudanças na paleocirculação da porção oeste do Atlântico Sul é


ainda bastante restrito e fragmentado. Extensas regiões da margem continental leste da América do Sul apre-
sentam praticamente nenhum estudo com resolução temporal mínima e modelo de idades confiáveis, como é
o caso das áreas localizadas entre aproximadamente 10 e 20ºS e ao Sul de 33ºS – com exceção dos testemu-
nhos CMU14 e ESP08, de Toledo et al. (2007b) e o testemunho SP1251, de Laprida et al. (2011).

Adicionalmente, a ausência praticamente completa de estudos que abordem as mudanças abrup-


tas da última glaciação e tratem do último interglacial ergueu importante barreira para se utilizar cenários
pretéritos de circulação da porção oeste do Atlântico Sul como análogos futuros.

Não obstante, estudos de calibração executados com amostras de superfície de fundo da porção
oeste do Atlântico Sul estão disponíveis para uma quantidade razoavelmente grande de indicadores pale-
oceanográficos, apesar da densidade amostral ser, na maior parte dos casos, baixa (Harloff e Mackensen,
1997; Mulitza et al., 2003; Frenz et al., 2004; Baumann et al., 2004; Mahiques et al., 2004; Vink et al.,
2004; Sousa et al., 2006; Chiessi et al., 2007; Regenberg et al., 2009; Mahiques et al., 2008; Groeneveld
e Chiessi, 2011; Govin et al., 2012). A aplicação criteriosa destes indicadores em testemunhos sedimentares
com alta taxa de deposição e com modelos de idades robustos trará marcante avanço no conhecimento
paleoceanográfico da porção oeste do Atlântico Sul, como se pôde observar nos últimos anos.

4.5. VARIAÇÕES NO NÍVEL RELATIVO DO MAR DURANTE O HOLOCENO


4.5.1 INTRODUÇÃO

Apesar das primeiras referências a paleoníveis do mar do Holoceno no Brasil terem completado
um século (Branner, 1902; Hartt, 1975), estudos sistemáticos começaram apenas em meados da década
de 1960 – e.g., Andel e Laborel, (1964); Delibrias e Laborel, (1969). Desde então, mais de uma centena
de publicações que abordam a história do nível do Oceano Atlântico no Brasil foram publicadas.

De 1970 e 1990, curvas de variação do nível relativo do mar foram elaboradas para a região
compreendida entre as latitudes 5 e 34°S, apoiadas em centenas de dados de radiocarbono – e.g., Bitten-
court et al. (1979) e Suguio et al. (1985). Na costa brasileira, após o UMG, o máximo registrado se refere
ao Holoceno médio, com valores por volta de cinco metros acima do atual – isto é, a elevação máxima do
Holoceno (EMH). Seguiu-se um descenso, até atingir a situação imediatamente antes do início do período
industrial. Trata-se de padrão geral descrito por diversos autores – e.g., Bittencourt et al., (1979); Martin et
al., (1985); Suguio et al., (1985); Dominguez et al., (1990); Martin et al., (2003); Angulo et al., (2006).

Contudo, existem controvérsias a respeito de


(i) quando o nível do mar ultrapassou pela última vez o atual,
(ii) qual o período e o valor dessa posição mais elevada e, principalmente,
(iii) qual a maneira como ocorreu o descenso, subsequente ao máximo transgressivo.

Assim, o objetivo deste texto é o de apresentar as principais características das variações relativas
do nível do mar e as principais controvérsias que envolvem esta questão fundamental na apreciação das
mudanças climáticas globais.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 145


4.5.2 O PERÍODO DE SUBMERSÃO DA PLATAFORMA E DA ZONA COSTEIRA ATUAL

Os dados radiométricos utilizados como indicadores do nível relativo do mar são geralmente es-
cassos e pouco confiáveis para o período compreendido entre o UMG e aproximadamente sete mil anos
calibrados antes do presente, sendo as curvas resultantes geralmente baseadas em feições morfossedi-
mentares – i.e., sedimentos em forma de terraços submersos que indicam estabilização do nível relativo
do mar.

A exceção é a paleocurva do nível relativo do mar, produzida por Correa (1996) e baseada em
indicadores mais precisos. Segundo o autor, houve estabilizações do nível relativo do mar entre nove e
oito mil anos calibrados antes do presente, situadas nos patamares de -32 e -45 metros e de -20 e -25
metros, respectivamente.

Dados mais recentes, obtidos por Mahiques e Souza (1999) e outros e apresentados por Mahi-
ques et al. (2010), constituem no momento, o conjunto mais acurado, indicando períodos de estabiliza-
ção no nível relativo do mar antes da elevação máxima de 5.600 anos calibrados antes do presente.

Na costa do Estado de São Paulo – a 23°30’S –, conchas de moluscos, coletadas em sedimento


de paleopraias e situadas seis metros abaixo do nível atual do mar, apresentaram idade de 7.900 anos
calibrados antes do presente (Mahiques e Souza, 1999). Adicionalmente, quatro amostras de arenitos de
praia, localizados a 13 ± 1 metro abaixo do nível atual do mar, acusaram idade de oito mil anos cali-
brados antes do presente. Esses dados corroboraram a mesma idade para um nível de 1,4 ± 0,5 metro
abaixo do nível atual do mar, apresentado por Martin et al. (2003). Assim, tanto a plataforma brasileira
continental leste como a nordeste deve ter sido inundada no início do Holoceno.

Miranda et al. (2009) coletaram um testemunho de 124 metros de comprimento na planície ho-
locênica da Ilha de Marajó, no Estado do Pará, e mostraram que as fácies sedimentares presentes – con-
junto das características de uma rocha sedimentar – retratavam as oscilações positivas e negativas desde
cerca de 50 mil anos AP. Nesse estudo, foi apontada a última posição mais elevada do nível relativo do
mar há cerca de 10.500 AP, seguida pelo seu descenso, um processo que é acompanhado por sedimen-
tação lagunar regressiva.

4.5.3 O PERÍODO DE EMERSÃO DA ZONA COSTEIRA ATUAL

O primeiro modelo (Bittencourt et al., 1979; Martin et al., 1980; Suguio et al., 1985; Angulo e
Suguio, 1995) admitiu que o nível atual do mar foi ultrapassado pela primeira vez há cerca de 7.500 anos
calibrados antes do presente. Após a elevação máxima no Holoceno, que deve ter ocorrido há cerca de
5.600 e 5.100 anos calibrados antes do presente, este modelo defende a presença de duas oscilações
de alta frequência temporal e de menor magnitude, ambas negativas e seguidas por elevações que acon-
teceram entre 4.300 e 3.500 anos calibrados AP e, entre 2.700 e 2.100 anos calibrados AP.

Essas curvas foram originalmente definidas com base em mais de 700 datações radiométricas
de diversos tipos de indicadores, como sambaquis, cordões litorâneos em planícies costeiras, arenitos de
praia, moluscos da família dos vermetídeos, turfas e corais – e.g., Bittencourt et al., (1979); Martin et al.,
(1980); Suguio et al., (1985); Angulo e Suguio, (1995). Tais dados permitiram que se elaborassem curvas
distintas para oito setores da costa brasileira – i.e., Salvador, Ilhéus, Caravelas, Angra dos Reis, Santos,
Cananéia–Iguape, Paranaguá e Laguna–Itajaí –, dentre as quais, a da capital baiana, mais setentrional
em todo o conjunto, constituiu-se também, na mais completa já obtida.

Nos anos subsequentes, datações foram adicionadas às curvas da Região Sul do País, com base
principalmente em vermetídeos – e.g. Angulo e Suguio, (1995). Por outro lado, as curvas das porções
leste e nordeste da costa brasileira tenderam a apresentar elevação máxima no Holoceno cerca de dois
metros acima daquela existente nas áreas sudeste e sul. Martin et al. (1985) e Suguio et al. (1985), com
base no trabalho de Morner (1982) atribuíram as oscilações de alta frequência a alterações no geóide

146 VOLUME 1
da Terra – a superfície ininterrupta do globo terrestre sobre a qual a gravidade incide sempre na mesma
intensidade –, ou, então, a possíveis variações climáticas.

Bezerra et al. (2003) elaboraram uma curva de variação do nível relativo do mar para a costa
oriental e, outra, para a setentrional do Rio Grande do Norte, comparando-as com a de Salvador (Bit-
tencourt et al., 1979; Suguio et al., 1985) e com o modelo glacio-isostático de Peltier (1998). Os autores
obtiveram uma curva resultante para ambas as regiões potiguares. Mas, esta não coincidiu plenamente
com o padrão das oscilações de alta frequência proposto para a região soteropolitana e guardou, tam-
bém, diferenças de comportamento em relação ao modelo preditivo glacio-isostático.

Bezerra et al. (2003) apontaram ser fundamental identificar adequadamente o ambiente deposi-
cional. Segundo eles, a elevação dos ambientes deve ser mais precisamente situada em relação ao da-
tum de referência. Além disso, sustentaram ser necessárias precauções sobre as incertezas existentes em
relação ao binômio Altura–Idade. Afirmaram ainda, ser importante levar em consideração as respostas
glacio-isostáticas regionais e os fatores locais, tais como os regimes tectônicos e o clima, de modo que se
possa determinar uma curva precisa de variação do nível relativo do mar.

O segundo modelo, representado à Figura 4.7. – e.g., Angulo e Lessa, (1997); Angulo et al.,
(1999); Angulo et al., (2006) –, foi elaborado apenas com datações de carapaças de gastrópodes – i.e.,
vermetídeos – e sustentou que não ocorreram as duas oscilações de alta frequência temporal apuradas
pelo modelo anterior.

Angulo e Lessa (1997) revisaram as curvas da região de Paranaguá, no Estado do Paraná, e de


Cananéia–Iguape, no Estado de São Paulo – e.g., Suguio et al., 1985 –, e reavaliaram, tanto os am-
bientes deposicionais, quanto a confiabilidade dos sambaquis como indicadores de paleoníveis do mar.
Estes autores concluíram que os indicadores disponíveis não lhes permitiam interpretar a existência das
oscilações de alta frequência temporal.

Consequentemente, as taxas de variações do nível relativo do mar não seriam tão acentuadas
como proposto no primeiro modelo. Ybert et al. (2003), que estudaram turfas da região de Cananéia–
Iguape, no Estado de São Paulo, endossaram os resultados do segundo modelo.

Por fim, uma re-análise proposta por Angulo et al. (2006) sugere que, cerca de 70% das datações
previamente publicadas e utilizadas no primeiro modelo contêm erros. Utilizando apenas as datações de
vermetídeos, que consideraram indicadores confiáveis, eles elaboraram duas curvas para a costa oriental
do Brasil, exibidas à Figura 4.7. deste capítulo.

Tomando a latitude de 28°S como um divisor, a curva para a porção norte teve sua elevação má-
xima no Holoceno estimada para cerca de 5.500 anos calibrados antes do presente, podendo ter atingido
entre dois a 4,5 metros acima do nível atual. Já para aquela voltada em direção à porção sul, verificou-se
ter atingido entre um e três metros de elevação acima do patamar exibido atualmente, ao redor de 5.800
a quatro mil anos calibrados antes do presente.

Após a elevação máxima, o nível relativo das curvas declina irregularmente até a posição atual
sem oscilações de alta frequencia, como descrito no primeiro modelo. Elas foram comparadas com um
modelo glacio-eustático produzido por Milne et al. (2005), com dados relativos ao Caribe e à América do
Sul. O ajuste entre os resultados do modelo geofísico e os dados de indicadores de paleoníveis do mar
resultou muito bom.

Segundo Milne et al. (2005), o nível atual do mar foi ultrapassado pela primeira vez no Holoceno,
durante a transgressão que se seguiu ao UMG, por volta de oito mil anos calibrados antes do presente. A
sua elevação máxima teria alcançado aproximadamente 4,5 metros por volta de 7.200 anos calibrados
antes do presente, em Pernambuco e no Rio de Janeiro.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 147


Por sua vez, na região de Santa Catarina, tal ultrapassagem teria se dado há mais de 7.500 anos
calibrados AP e a elevação máxima, ocorrido em cerca de três metros, por volta de sete mil anos calibra-
dos antes do presente.

Figura 4.7. (a). Envelopes – faixas – de variação do nível


relativo do mar para aproximadamente os últimos sete
mil anos cal. AP para a região costeira do Brasil. A linha
contínua e os círculos pretos representam a região ao
Norte de 28°S; a linha tracejada e os círculos brancos
representam a região ao Sul de 28°S –, segundo Angulo
et al. (2006). (b) Comparação entre o envelope de
variação do nível relativo do mar para aproximadamente
os últimos seis cal. ka AP de Angulo et al. (2006), onde
a linha contínua representa a região compreendida
entre Pernambuco e Paraná, e resultados do modelo
geofísico de Milne et al. (2005) representados pela linha
pontilhada referente à região de Pernambuco, enquanto
que a tracejada equivale à região do Rio de Janeiro. (c)
Comparação entre o envelope de variação no nível relativo
do mar para os últimos aproximadamente seis mil anos
de Angulo et al. (2006), para o qual a linha contínua
demarca a região de Santa Catarina, e o resultado do
modelos geofísico de Milne et al. (2005), para o qual a
linha tracejada mostra a porção sul de Santa Catarina.

Dois estudos no Atol das Rocas (Kikuchi e Leão, 1997; Gherardi e Bosence, 2005), feitos em arenito
de praia e no próprio recife, também mostraram a existência naquele monte submarino de um nível relativo
do mar mais elevado no Holoceno tardio. Kikuchi e Leão (1997) dataram moluscos gastrópodes e corais
no anel de recifes e no arenito de praia existente em uma das ilhas, obtendo idades convencionais de cerca
de 2.500 anos calibrados antes do presente a dois metros acima do nível do platô recifal. Já Gherardi e
Bosence (2005), com amostras de algas coralináceas, conseguiram um conjunto de dados que lhes permitiu
traçar o comportamento do nível relativo do mar nos últimos 3.500 anos antes do presente.

Segundo esses últimos autores, o nível relativo do mar no atol teria ultrapassado o atual pela pri-
meira vez no Holoceno, há cerca de três mil anos calibrados antes do presente, ao passo que a elevação
máxima durante esse período teria atingido um metro há cerca de 1.500 anos calibrados antes do pre-
sente. Resultou daí, que não foi possível encontrar indícios que permitam explorar o comportamento do
nível relativo do mar, tanto no Holoceno médio quanto no inferior, devido à relativa recente idade dessas
ilhas.

As investigações na plataforma amazônica (Cohen et al., 2005, 2008, 2009) mostraram con-
cordância com o comportamento geral da curva do nível relativo do mar holocênica, apesar de não
apresentarem indicadores precisos sobre a posição desse patamar relativo. Estes estudos se concentra-
ram principalmente em áreas de manguezais com base em datações de amostra total de sedimento de
testemunhos rasos – cerca de 150 centímetros de comprimento – que representam os últimos 1.500 anos
calibrados antes do presente.

Estudos do nível relativo do mar na Argentina – e.g., Isla, (1989); Cavallotto et al., (2004) – mos-
traram um comportamento do nível relativo do mar com semelhanças ao padrão proposto por Angulo
et al. (2006) – ou seja, com elevação máxima no Holoceno situada ao redor de seis mil anos calibrados
antes do presente e altitude entre dois e quatro metros acima do nível atual, irregularmente declinante
mas contínua, sem que se tenha registrado oscilações de alta frequência temporal. É relevante notar que a
tendência de rebaixamento do nível relativo do mar reconstituída para os últimos aproximadamente cinco
mil anos calibrados antes do presente para a maior parte da região costeira do Brasil tenha sido revertida
nas últimas décadas – e.g., Mesquita et al., (2003) –, conforme descrito no capítulo 3 deste Relatório.

148 VOLUME 1
4.5.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo das variações do nível relativo do mar durante o Holoceno avançou consideravelmente
nos últimos 35 anos. Uma quantidade significativa de indicadores foi datada e o padrão geral transgres-
sivo e regressivo do nível relativo do mar é hoje aceito por toda a comunidade científica.

No entanto, são ainda escassos os estudos de indicadores do nível relativo do mar na plataforma
continental. Isto deixa uma lacuna que precisa ser preenchida para que se possa entender quando e como
o nível relativo do mar inundou a plataforma e se encaminhou para a EMH, bem como os períodos de
sua rápida elevação, típicos da última deglaciação.

Assim, como já foram estudados arenitos de praia submersos na plataforma continental sudeste,
formações similares são abundantes tanto na costa leste quanto na nordeste do Brasil. Ressalta-se que
existem também ocorrências de recifes que podem fornecer informações adicionais sobre o comporta-
mento do nível relativo do mar. Estudos que tenham produzido curvas detalhadas de seu comportamento
na plataforma continental setentrional são inexistentes e precisam ser realizados.

A resolução da controvérsia existente entre o primeiro e segundo modelos que abordam o período
de emersão da zona costeira atual no que se refere às oscilações de alta frequência temporal pode ser en-
caminhada através da identificação de outros indicadores aptos a aumentar o detalhamento e a correção
do comportamento dos paleoníveis do mar. Atualmente, o segundo modelo apresenta uma quantidade
mais robusta de evidências conclusivas. Além disso, existem aspectos locais como o dos registros tectôni-
cos, de clima e suprimento de sedimento, ou mesmo, regionais, como o comportamento da crosta ou do
manto, que podem contribuir para diferenças importantes no comportamento do nível relativo do mar.

Somam-se a isso, os necessários cuidados para a adequada localização das amostras datadas. A
utilização de modelos teóricos juntamente com os dados de campo representa um avanço na abordagem
das variações do nível relativo do mar, o que permitirá identificar e quantificar os fatores locais e regionais
com maior eficácia.

4.6. AS QUEIMADAS NO REGISTRO PALEOCLIMÁTICO


4.6.1 INTRODUÇÃO

O fogo é um fator de perturbação dominante na história das florestas naturais em várias partes do
mundo (Attiwill, 1994). Ele afeta o ciclo biogeoquímico e global do carbono (Andreae, 1991). Recentes
experimentos de modelagem climática preveem os efeitos de uma substituição em larga escala da floresta
amazônica por vegetação de cerrado, até o final do século XXI. Expansão das pressões econômicas,
feedbacks positivos nos regimes de fogo na floresta amazônica e seca prolongada são fatores que
poderiam levar a uma degradação mais rápida das florestas, associados a altas taxas de desmatamento,
em futuro próximo (Nepstad et al., 2008).

Por exemplo, as condições de seca ao longo de grandes extensões da floresta amazônica que sur-
gem devido ao fenômeno El Niño criam um potencial para incêndios florestais em grande escala, como
foi observado durante a severa estiagem de 1997 e 1998 (Nepstad et al.,1999).

Nas últimas décadas, diferentes setores da sociedade têm expressado sua preocupação sobre o
uso indiscriminado do fogo para fins agropecuários e das mudanças de uso da terra em geral. Os impac-
tos que os incêndios provocam na vegetação nativa, seja nos fragmentos de vegetação de mata atlântica
do Sul e Sudeste do País ou na floresta amazônica, na Região Norte do Brasil, envolvem questões que
dizem respeito às trocas climáticas passadas e futuras (Page et al., 2002; Harrison et al., 2007; Lynch et
al., 2007).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 149


No momento, notórias são as questões e debates referentes à importância da ação do homem e
da natureza – do clima, mais especificamente – no estabelecimento dos incêndios e, por consequência,
na dinâmica da vegetação e na manutenção da fisionomia florestal.

4.6.2 AS QUEIMADAS NO REGISTRO PALEOCLIMÁTICO

Estudos paleoambientais indicaram que os incêndios em florestas podem ser atribuídos, inicial-
mente, às condições climáticas (Whitlock et al., 2006; Marlon et al., 2008), embora ações humanas
também tenham tido importância como fonte de ignição (Huber et al., 2004), a exemplo do que foi con-
siderado por Bar-Yosef (2002) durante a evolução humana nas mais remotas regiões. Associados com a
vegetação de fisionomia florestal, fragmentos de carvão foram encontrados nos solos de diferentes locais
no bioma amazônico – no alto Rio Negro, por exemplo – com idades Carbono14 (14C) calibradas desde
aproximadamente 6,9 cal. ka AP (Saldarriaga e West, 1986). A ocorrência de incêndios associados a
alterações climáticas durante o Holoceno médio foi demonstrada por Sanford et al. (1985) em vários tipos
de floresta no alto Rio Negro. Fragmentos de carvão de um solo do Leste da Bacia Hidrográfica do Rio
Amazonas foram datados entre aproximadamente 6.900 e 3.200 anos calibrados AP (Soubiès, 1980).

Sifeddine et al. (1994) observaram abundantes concentrações de fragmentos de carvão com


idades entre 7.800 e 4.500 anos calibrados antes do presente na Serra Sul de Carajás, no Pará. Um re-
gistro contínuo dos incêndios florestais durante os últimos 8.300 anos calibrados AP foi determinado pela
quantificação de microfragmentos de carvão depositados em um sistema lacustre na vizinha Serra Norte
de Carajás (Cordeiro, 1995; Cordeiro et al., 1997, 2008).

Fases de intensa atividade de fogo foram observadas, tanto entre 7.500 e 4.800 anos calibrados
antes do presente, como entre 1.300 e setecentos anos calibrados AP, conforme indicado pela elevada
concentração de micropartículas de carvão. Piperno e Becker (1996) encontraram fragmentos carbonífe-
ros no solo que foram datados entre 1.700 a seiscentos anos calibrados antes do presente.

Já Pessenda et al. (1998a e b, 2001) encontraram significativas concentrações de fragmentos de


carvão naturalmente soterrados nos solos (Boulet et al., 1995), além de alterações na composição iso-
tópica – δ13C – da matéria orgânica do solo em transecções de floresta para cerrado e de floresta para
campo no Estado de Rondônia e na região de Humaitá, no Sul do Estado do Amazonas, respectivamente,
num total de aproximadamente 750 quilômetros.

Essas variações na concentração de carvão foram relacionadas com trocas de vegetação de flo-
resta – plantas C3, associadas às árvores – para cerrado e campo – plantas C4, associadas às gramíneas
–, durante o Holoceno inferior e médio – de aproximados dez a quatro mil anos calibrados AP. Tais trocas
de vegetação associadas à presença de fragmentos de carvão – os paleoincêndios – permitiram inferência
em relação à presença de um clima mais seco – ou menos úmido – nas regiões de estudo.

Na Região Nordeste do Brasil, estudos palinológicos em sedimentos lacustres na Lagoa do Caçó,
no município maranhense de Primeira Cruz (Ledru et al., 2001, 2006), e isotópicos (δ13C), em solos do
Maranhão (Pessenda et al., 2004a, 2005), Piauí, Ceará e Paraíba (Pessenda et al., 2010) indicaram
significativa presença de fragmentos de carvão durante o período aproximado de dez mil e 3.600 anos
calibrados antes do presente. Os dados polínicos e isotópicos de tais registros também acusaram a aber-
tura da vegetação florestal e a expansão do cerrado em direção ao campo nas áreas de estudo. Tais
aspectos também permitiram inferir a presença de um provável clima mais seco do que o atual e, similar
aos registros obtidos no bioma Amazônico, em período semelhante.

A comparação entre esses estudos sugere que, por um longo tempo, o fogo tem sido um fator
de grande perturbação em ecossistemas tropicais e, juntamente com o clima, de suma importância para
a determinação da dinâmica da vegetação, tanto no passado, quanto no presente e, provavelmente, no
futuro.

150 VOLUME 1
Registros similares de fragmentos de carvão foram observados em sedimentos lacustres e solos
nas regiões Sudeste e central do Brasil durante o Holoceno (Pessenda et al., 1996; Gouveia et al., 2002;
Scheel-Ybert et al., 2003; Pessenda et al., 2004b; Saia et al., 2008), reforçando o significativo papel dos
paleoincêndios, em conjunto com fatores climáticos para a dinâmica e a distribuição das formações ve-
getais no Brasil.

Um registro de alta resolução dos níveis de CO2 atmosférico durante os últimos onze mil anos ca-
librados AP foi obtido com o uso de bolhas de gás em um testemunho de gelo coletado no Taylor Dome,
na Antártida. Este registro acusou um aumento do gás carbônico atmosférico iniciado cerca de sete mil
anos calibrados antes do presente (Indermühle et al., 1999). Seus valores de δ13C indicaram aproximação
com os de fontes terrestres entre -17 e -30‰ em detrimento de valores mais enriquecidos, das fontes
marinhas.

No entanto, dados publicados por Carcaillet et al. (2002), provenientes da América do Sul e Cen-
tral, argumentaram contra a crescente queima de biomassa relacionada com a liberação de carbono no
Holoceno médio, um aspecto distinto de publicações recentes (Bush et al., 2007; Cordeiro et al. 2008;
Mayle e Power, 2008). Carcaillet et al. (2002) usou idades 14C de fragmentos de carvão do solo coletados
em áreas entre 5°N e 5°S no Norte da bacia amazônica, representando os últimos dois mil anos como
evidência de altas concentrações de incêndios florestais. Porém, estas amostras de solo foram coletadas
principalmente em seu primeiro metro de profundidade, onde as datações da matéria orgânica corres-
pondentes eram mais recentes do que as realizadas em porções mais profundas, nas quais normalmente,
os fragmentos de carvão se encontram mais agrupados.

Desde o início da Revolução Industrial, o impacto humano modificou cerca de 40% da superfície
da Terra, aumentando o nível de CO2 atmosférico em cerca de 30% (Vitousek et al., 1997), com taxas
anuais de desmatamento de florestas tropicais ao redor de 0,8%. Houghton et al. (1991) calcularam que,
entre os anos 1850 a 1980, cerca de 90 a 120 gigatoneladas (Gt) de CO2, provenientes de incêndios flo-
restais, foram liberadas para a atmosfera. Em comparação, durante o mesmo período, aproximadamente
165 Gt desse poluente foram emitidas adicionalmente por nações industrializadas através das queimas
de carvão, petróleo e gás (Houghton et al., 1991).

Atualmente, a queima de florestas tropicais contribui com cerca de dois a quatro gigatoneladas de
carbono a cada ano, ou cerca de 30% do total das emissões antrópicas. Fearnside (1996) calculou que
o fluxo resultante de CO2 para a atmosfera devido à soma das alterações de uso da terra na Amazônia
Legal foi de aproximadamente 1,3 Gt de carbono.

Na região Sul do território sul-americano, os impactos da população nativa e a influência do


clima na ocorrência de incêndios durante o Holoceno não puderam ser caracterizados em separado (Hu-
ber et al., 2004). Entretanto, Whitlock et al. (2006) atribuíram a troca de regime de incêndio superficial,
durante o Holoceno médio nos Andes argentinos, ao aumento da variabilidade climática interanual e
ao início, ou reforço, de ENSO. Na América do Sul tropical, foram evidenciados eventos periódicos com
efeitos similares ao fenômeno El Niño e com duração de dezenas a centenas de anos, que guardam certa
similaridade com a Oscilação Decenal do Pacífico (Martin et al., 1993).

Desde aproximadamente os últimos 7.900 anos calibrados antes do presente até os dias atuais,
ocorreram manifestações climáticas identificadas através das mudanças da dinâmica litorânea na parte
central da costa brasileira, sincrônicas com alterações climáticas em outras áreas da América do Sul e
sintetizadas, como se segue (Martin et al., 1993).

1. Entre 7.800 anos calibrados antes do presente e de 4,3 a 4,0 cal. ka AP, numerosos períodos de
condições do tipo El Niño provocaram uma série de períodos secos na região da Bacia Hidrográfica do
Rio Amazonas e na porção boliviana do Altiplano Andino, como eventos úmidos no deserto de Sechura,
no Chile.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 151


2. Entre 4,3 e 4,0 cal. ka AP e entre 2,9 e 2,6 cal. ka AP, não se registrou nenhuma ocorrência de
eventos de tipo El Niño associada a clima úmido, tanto na região amazônica como na parte boliviana
do Altiplano Andino, nem a clima seco, no deserto de Sechura. Entre 2,9 e 2,6 cal. ka AP e atualmente,
condições de tipo El Niño ocorreram com menor frequência. Porém, pelo menos três eventos podem estar
relacionados a incêndios durante o Holoceno superior em Manaus, no Estado do Amazonas (Santos et
al., 2000) e Carajás (Cordeiro et al., 2008).

A relação entre os paleoincêndios e as condições climáticas foram apresentadas por Pierce et al.
(2004) e Whitlock (2004), com argumentos de que, modificações nos regimes de fogo durante a ano-
malia climática da Idade Média, entre os anos de aproximadamente 950 e 1250, e a Pequena Idade do
Gelo, por volta do período entre 1400 e 1700, segundo Mann et al. (2009), se basearam nas alterações
do clima e sua influência sobre a mistura de combustíveis, nas condições de ignição e no comportamento
do fogo.

Foi também verificado que o declínio da combustão da biomassa antes do ano de 1750 ocorreu
em fase com o resfriamento global, a despeito do aumento da população humana (Marlon et al., 2008).
O fogo teve, ainda, importante papel no desenvolvimento dos ecossistemas da Terra e na dominância
das comunidades de plantas (Meyn et al., 2007). Nos últimos 20 anos, incêndios florestais no Brasil e
Indonésia podem ter reduzido substancialmente a biodiversidade e levado à ocorrência de distinta seleção
biológica (Gisberg, 1998).

4.6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante enfatizar que a combustão da biomassa é a segunda maior fonte de emissão de gás
carbônico – o principal entre todos os GEEs – para a atmosfera. Note-se também que, sob determinadas
condições climáticas, registradas em épocas anteriores como o UMG, ela pode ter representado um pa-
pel importante para a evolução do ciclo do carbono na Terra. Este período é caracterizado por um clima
frio, quando comparado ao atual (Peltier e Solheim, 2004; Justino e Peltier, 2008).

Essas trocas, em associação com reduzidas concentrações de CO2, induziram modificações no


comportamento da vegetação global, como a redução da floresta boreal na Sibéria, o aumento na cober-
tura da vegetação arbustiva na Europa e de áreas de deserto subtropical (Adam e Faure, 1997). Tem sido
também aventado, que as florestas tropicais têm tido suas extensões diminuídas de modo significativo,
especialmente no Oeste da África e na América do Sul (Adam e Faure, 1997: Ray e Adams, 2001).

Pode-se também assumir, que a substituição de floresta por biomas com vegetação mais aberta,
tais como cerrado, campos e savanas, se dará através da ocorrência de incêndios provocados pela quan-
tidade de combustível disponível, principalmente durante as estações secas. Isto evidencia a necessidade
de uma compreensão mais completa da interação entre incêndios, clima e superfície terrestre, na medida
em que tal análise pode auxiliar a separar, um a um, os fatores críticos para a dinâmica de ecossistemas
modernos.

4.7. A OCUPAÇÃO HUMANA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


4.7.1 INTRODUÇÃO

A América do Sul foi o último continente do planeta a ser ocupado pelo Homo sapiens. O debate
sobre a antiguidade da ocupação humana do continente é certamente intenso e está longe de ser resol-
vido. Há, no entanto, um consenso de que toda a América do Sul já era ocupada há cerca de doze mil
anos e que – o que é particularmente importante –, tais ocupações já mostravam padrões adaptativos e
econômicos distintos entre si (Roosevelt, 2002).

152 VOLUME 1
Após a ocupação inicial e o consequente processo, aparentemente rápido, de diferenciação e
especialização que se seguiu, o continente sul-americano permaneceu, até certo ponto, isolado durante
a maior parte de sua história. Mais exatamente, até o início da colonização europeia, no início do século
XVI. Isso significa que, todos os processos de mudança ou de estabilidade ocorridos em diferentes partes
do continente resultaram da ação de fatores puramente locais, definidos a partir de uma escala continen-
tal.

Trata-se de um quadro essencialmente diferente daquele vivenciado, por exemplo, nos continentes
europeu e asiático, sobre os quais há evidências abundantes de que processos de expansão demográfica
transcontinentais teriam sido os responsáveis pela introdução de inovações, tais como a agricultura, ou
mesmo, o surgimento do Estado. O isolamento geográfico da América do Sul é ainda mais interessante
quando se considera seu panorama de diversidade social, cultural, econômica e política na época do
início da colonização europeia, quando seus fundadores consistiram em populações que descendiam de
poucos grupos humanos.

É por isso que, para a arqueologia, é possível tratar a América do Sul como uma espécie de labo-
ratório: o último continente a ser ocupado no planeta, por uma população fundadora pequena, mas que,
ao cabo de alguns milênios, já exibia toda a diversidade social e política características da humanidade.
Há ainda fortes controvérsias a respeito de pontos importantes relacionados à ocupação humana das
Américas, tais como a idade e o total das primeiras migrações e os caminhos que elas trilharam (Dillehay,
2000; Dixon, 1999, 2001; Waguespack, 2007). Seja como for, há evidências incontestáveis da presença
de seres humanos em território brasileiro a partir de doze mil anos calibrados antes da atualidade (Araujo
e Neves, 2010; Kipnis, 1998; Prous e Fogaça, 1999; Roosevelt et al., 1996).

Tal fato pode se relacionar a uma combinação de vieses de preservação e de baixa densidade
populacional. A conservação de eventuais sítios arqueológicos anteriores ao UMG pode ser extrema-
mente rara, tendo em vista os vários eventos de mudança climática abrupta que ocorreram desde então
(Mayewski et al., 2004), propiciando, no continente, ciclos de erosão e sedimentação extremamente for-
tes (Thomas, 1994, 2008) e, no litoral, variações muito grandes do nível relativo do mar (Angulo et al.,
2002; Suguio et al., 1985).

Por outro lado, mesmo que existente, a presença humana na porção interiorana da América do
Sul durante o Pleistoceno final, teria sido, provavelmente, pouco expressiva e composta por grupos hu-
manos de baixa densidade populacional que não necessariamente foram portadores de tecnologias de
confecção de pontas de projétil tornando sua detecção extremamente difícil.

Por conta desses fatores, é que a discussão a respeito das relações entre ocupações humanas e
mudanças climáticas ocorre somente a partir da transição entre o Pleistoceno e o Holoceno.

4.7.2 A TRANSIÇÃO DO PLEISTOCENO PARA O HOLOCENO

Uma das feições mais impressionantes do registro arqueológico do leste da América do Sul é a
variabilidade cultural existente já no início do Holoceno. A partir de doze mil anos calibrados antes do
presente, ao menos três grandes tradições culturais já se tornaram perceptíveis em uma vasta área que
se estende, desde o Nordeste brasileiro até o Rio Grande do Sul, formando um polígono de, no mínimo,
800 quilômetros no sentido Leste-Oeste e 2.300 quilômetros no sentido Norte-Sul. Elas são conhecidas
como Tradição Umbu, Tradição Itaparica e, por falta de melhor definição, Indústria lítica lagoassantense,
representadas à Figura 4.8 neste capítulo.

Na região da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas, também se verificou um quadro de diversi-


dade cultural, atestado pela presença de diferentes tipos de tecnologias na produção de artefatos líticos,
incluindo indústrias de pontas bifaciais, em alguns casos, e de artefatos de face única sem pontas de
projétil, em outros.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 153


Cada uma dessas tradições encerra em si, modos distintos e peculiares de manufaturar utensílios.
Sua continuidade geográfica e relativa homogeneidade interna sugerem que grupos culturalmente dife-
renciados produziram seus artefatos.

Ao mesmo tempo, as idades contemporâneas constituem um paradoxo, uma vez que não se es-
peraria uma variabilidade cultural tão grande se a ocupação da América do Sul tivesse se dado pouco
tempo antes da existência destas tradições culturais.

Sabe-se que a deriva cultural – entendida como a diferenciação de aspectos que decorrem de
uma cultura ancestral, se relaciona ao tempo decorrido desde o evento de separação (Neiman, 1995). O
registro arqueológico aponta, portanto, para uma cronologia longa para o povoamento da América do
Sul. Já mesmo no início do Holoceno, seus grupos humanos exibiam grande diversidade em termos de
produção de cultura.

Por outro lado, as taxas de inovação cultural são também fortemente correlacionadas ao tama-
nho da população envolvida nos mecanismos de transmissão de informação (Neiman, 1995; Shennan,
2001). Nesse aspecto, o registro arqueológico sugere, também, uma população numerosa.

Mas quais seriam as possíveis relações entre as observações empíricas de cunho arqueológico e
as mudanças climáticas para esta faixa cronológica? O modelo mais plausível aponta para uma situação
inicial de maior densidade populacional na zona costeira, onde a estabilidade em termos de clima e re-
cursos alimentares é sempre maior do que nas continentais em igual latitude (Dixon, 1999).

Assim, a interiorização dessas populações se daria por um mecanismo duplo de pressão popula-
cional e maior estabilidade climática. Sobre este último aspecto, os dados paleoambientais referentes ao
início do Holoceno apontam para climas mais quentes e úmidos em amplas porções da América do Sul
(Cruz et al., 2009), de modo a propiciar condições de assentamento em áreas que, apesar de conhecidas
por essas populações antigas, não eram intensivamente ocupadas.

Por sua vez, a pressão populacional se daria tanto pelo crescimento vegetativo – i.e., a diferença
entre as taxas de natalidade e de mortalidade – (Scheinsohn, 2003), acompanhando assim, o aumento
da capacidade de carga do ambiente, como também, através da elevação rápida e constante do nível do
mar desde o UMG (Souza et al., 2005).

Tais fatores explicariam a abrupta e contemporânea aparição das diferentes tradições arqueoló-
gicas no interior do Brasil.

4.7.3 A OCUPAÇÃO PALEOÍNDIA NO HOLOCENO INICIAL

Os grupos humanos que ocuparam esses ambientes continentais desde doze mil anos calibrados
antes do presente são denominados, genericamente, de paleoindios. Estudos de antropologia biológica
mostram que os crânios associados a essas populações antigas – donas de morfologias australo-mela-
nésicas – são bastante diferentes dos crânios dos indígenas atuais, cuja morfologia é mongoloide. Isso
sugere tratar-se de populações distintas e, portanto, de uma provável substituição populacional (Neves
e Hubbe, 2005; Neves et al., 1998; Neves e Pucciarelli, 1990; Powell e Neves, 1999). Em que pese a
falta de dados para a maior parte do Brasil, ao menos na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, os
últimos remanescentes dessa população paleoíndia ocorreram por volta de oito mil anos calibrados antes
do presente.

Dados a respeito desses grupos sugeriram estratégias de subsistência generalistas, de amplo es-
pectro, com forte utilização de plantas e animais de pequeno porte (Jacobus, 2004; Kipnis, 2002; Rosa,
2004; Schmitz et al., 2004). Não parece haver qualquer correlação entre as diferentes tradições de las-
camento e a obtenção de recursos alimentares (Araujo e Pugliese, 2009), uma vez que, em termos gerais,

154 VOLUME 1
os animais caçados são os mesmos. Apesar da coexistência entre humanos e megafauna, não se encon-
traram evidências de que esta tenha sido consumida. Em linhas gerais, as estratégias de subsistência e as
tradições culturais paleoíndias se mantiveram estáveis no período entre doze e oito mil anos calibrados
antes do presente.

Figura 4.8. Localização geográfica das três


principais tradições de pedra lascada
do início do Holoceno: em amarelo,
Tradição Itaparica; em azul, Indústria
lagoassantense e, em cinza, Tradição
Umbu

4.7.4 O HIATO DO ARCAICO NO HOLOCENO MÉDIO

O quadro de estabilidade dos paleoíndios parece chegar ao fim, a partir de oito mil anos calibra-
dos antes do presente. Amplas áreas na porção centro-leste do Brasil foram aparentemente depopuladas,
isto é, perderam população por conta de óbitos. Há aí, poucos sítios datando do período entre oito e dois
mil anos calibrados antes do presente e um mínimo de ocupação humana ocorrendo por volta de cinco
mil anos calibrados antes do atual. Tal evento, denominado de Hiato do Arcaico (Araujo et al., 2005), se
repete em outras áreas, tanto do Brasil, como também no resto da América do Sul (Araujo et al., 2006;
Gil et al., 2005; Neves, 2007, Nuñez et al., 2001; Nuñez et al., 2002).

A explicação mais parcimoniosa para este fenômeno de abandono regional é o impacto que o
mínimo de insolação de verão austral teve sobre as massas de ar e os regimes de precipitação. Isso teria
feito com que amplas áreas do Brasil passassem a apresentar tendência a clima mais seco, enquanto que
a Região Nordeste do Brasil teria se tornado mais chuvosa (Cruz et al., 2009; Razik et al., 2013; Servant
e Servant-Vildary, 2003).

O deslocamento de populações humanas interioranas, de regiões climaticamente instáveis para


outras mais estáveis, é uma forte possibilidade, ainda que requeira dados adicionais para ser possível
corroborá-la.

É importante notar que, por volta de cinco mil anos calibrados antes do presente, o litoral brasi-
leiro já estava densamente povoado por grupos humanos sambaquieiros (Ybert et al., 2003), com feições
cranianas mongolóides e, portanto, distintos dos paleoíndios. Assim, podemos propor o Holoceno médio
como um cenário no qual, a convergência de fatores climáticos, as densidades demográficas nunca antes
alcançadas e o advento de uma nova onda migratória, propiciariam a reorganização de grupos humanos
pré-históricos em territórios cada vez mais circunscritos – o que levaria, em muitos casos, a uma maior
complexidade social (Iriarte, 2006).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 155


4.7.5 A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA, SOCIAL E CULTURAL POSTERIOR AO HIATO

A partir do início do primeiro milênio, é notável um quadro de mudanças sociais e políticas, ma-
nifestadas em padrões claramente visíveis no registro arqueológico. Dentre eles, cabe destacar o estabe-
lecimento de:
• sinais de modificações da natureza – ou seja, de criação de paisagens ou de alterações do meio
ambiente causadas pela ação humana (Neves e Petersen, 2006);
• tradições cerâmicas distintas e localização geográfica relativamente bem definidas, passíveis,
eventualmente, de estarem associadas a grupos linguísticos conhecidos etnográfica e historicamente e,
ainda,
• de vida sedentária nas terras baixas ao longo da região da Bacia Hidrográfia do Rio Amazonas.
Embora existam sinais anteriores de vida sedentária, estes se tornam muito mais claros, visíveis e ubíquos
a partir dessa época. Esse padrão pode ser verificado nos lugares descritos abaixo.
• No Brasil Central, onde, após onze milênios de ocupação se verificou, a partir do século VIII,
uma mudança brusca nas formas de vida. Elas se tornaram muito mais sedentárias, iniciando inclusive a
produção local de cerâmica e a ocupação de aldeias de formato circular (Wüst e Barreto, 1999).
• No litoral sul do Oceano Atlântico, grupos falantes de línguas da família tupi-guarani vindos do
bioma Amazônia, ocuparam áreas anteriormente habitadas durante sete mil anos por grupos construtores
de sambaquis – ou seja, de depósitos de conchas feitos pelo Homem (Scheel-Ybert et al., 2008).
• Na ilha de Marajó, no litoral paraense, onde houve uma longa sequência de ocupações iniciadas
há pelo menos cinco mil e quinhentos anos calibrados antes do presente, mas com sinais de crescimento
demográfico e monumentalidade expandida de sítios a partir do início do primeiro milênio da era cristã
(Schaan, 2007).
• Na região de Santarém, no Sul do Pará, onde a ocupação humana iniciada há onze mil anos
calibrados antes do presente (Roosevelt et al., 1996) e a produção de cerâmicas, de oito a sete mil anos
atrás (Roosevelt et al., 1991, 1996), foi sucedida por um hiato que, com algumas interrupções, se rompeu
apenas no primeiro milênio a.C., através de ocupações associadas à Pocó, ocorrida às margens do Rio
Trombetas, em Oriximiná, próximo à divisa do Estado do Pará com o do Amazonas (Guapindaia, 2008).
• Na área de confluência do Rio Negro com o Rio Solimões, próxima a Manaus, capital do Estado
do Amazonas, os sítios mais antigos datam de oito mil e seiscentos anos calibrados antes do presente.
Mas, foi apenas a partir do final do primeiro milênio a.C. que os sinais de ocupação humana ficaram
mais claros e visíveis (Neves, 2008). Tal processo culminou, já no milênio seguinte, com a formação de
solos férteis e antrópicos, conhecidos como terras pretas, associados a sítios arqueológicos de grandes
dimensões (Neves et al., 2003). Essas datas são compatíveis com outras, obtidas em locais distintos e
espalhadas pela calha do Rio Amazonas e de seus afluentes – como foi o caso em Araracuara, no Rio
Caquetá, na própria região de Santarém e no baixo Rio Amazonas. A hipótese favorecida por arqueólo-
gos propõe que tais sítios se formaram como resultado do estabelecimento de ocupações sedentárias e
de longa duração (Arroyo-Kalin, 2008; Neves et al., 2003).
• No alto da Sub-bacia Hidrográfica do Rio Purus, estruturas de terra artificiais, com formato geo-
métrico circular, quadrangular ou composto, conhecidas como geoglifos, têm sido identificadas. As datas
obtidas até o momento para a construção dos geoglifos mostraram que essas estruturas artificiais come-
çaram a ser construídas no início do primeiro milênio.
• No alto da Sub-bacia Hidrográfica do alto Rio Madeira há um registro que cobre praticamente
todo o Holoceno. Mesmo ali, malgrado as evidências relativamente antigas de estabelecimento de vida
sedentária, os sítios se tornaram maiores e mais densos a partir de 1000 a.C., e, novamente, nos primei-
ros séculos da era cristã.

A relativa rapidez, a aparente sincronia e a amplitude da escala geográfica dessas transformações


podem ter resultado dos eventos de mudança climática, com a estabilização de condições semelhantes às
atuais, ocorridas a partir do ano 1000 a.C..

4.8. MUDANÇAS CLIMÁTICAS DURANTE O ÚLTIMO MILÊNIO

156 VOLUME 1
4.8.1 INTRODUÇÃO

Quando comparado com outros períodos da história geológica da Terra, o último milênio – mais
exatamente, entre o ano 1000 e o início do período industrial, no século XVIII – foi marcado por uma
variabilidade relativamente baixa das principais forçantes climáticas, tais como os GEEs, a radiação solar
no topo da atmosfera ou as erupções vulcânicas, e também por variações climáticas de relativa baixa
amplitude.

O estudo detalhado desse aspecto ambiental durante o referido período permite, não só compre-
ender a sensibilidade de seu sistema às alterações relativamente pequenas nas forçantes externas, como
também, identificar a existência de seus ciclos naturais, de multidecenais a seculares, inadequadamente
representados nos registros instrumentais. No entanto, o hemisfério sul apresenta uma quantidade extre-
mamente reduzida de registros paleoclimáticos suportados por modelos de idades confiáveis e resolução
temporal apropriada para o último milênio, como representado à Figura 4.9 deste capítulo.

Figura 4.9. Localização dos registros paleoclimáticos utilizados por Jansen et al. (2007) para reconstituir as temperaturas do
planeta durante o último milênio (modificado de Jansen et al., 2007). (a) Registros de valores disponíveis desde o ano 1000;
(b) registros com valores disponíveis desde 1750. Termômetros vermelhos: registros instrumentais; triângulos marrons: anéis
de crescimento de árvores; círculos pretos: poços profundos em rochas e sedimentos; estrelas azuis: testemunhos de gelo
ou poços profundos em geleiras; quadrados roxos: outros, incluindo registros com baixa resolução temporal. Vale notar a
pequena quantidade de registros sobre o hemisfério sul.

4.8.2 DISCUSSÃO

Apesar do número ainda bastante reduzido, os estudos paleo-hidrológicos realizados nos trópicos
e subtrópicos da América do Sul (Haug et al., 2001; Baker et al., 2005; Reuter et al., 2009; Pessenda
et al., 2010; Bird et al., 2011), abordando o último milênio, mostraram certa coerência nas alterações
de precipitação durante a Pequena Idade do Gelo – aproximadamente entre os anos de 1400 e 1700
(Mann, 2009).

Para o extremo Norte da América do Sul, uma diminuição nas concentrações de titânio em se-
dimentos marinhos coletados na Bacía de Cariaco – a aproximadamente 10°N –, na Venezuela, sugeriu
aumento na aridez neste setor do Atlântico tropical (Haug et al., 2001; Peterson e Haug, 2006). Já os
arquivos paleo-hidrológicos, coletados na porção continental ao Sul da linha do equador, indicaram ce-
nário oposto.

Assim, para o andino Lago Titicaca – ao redor de 15°S –, no Peru/Bolívia, os registros disponíveis
indicaram aumento de precipitação (Baker et al., 2005). Na vertente atlântica dos Andes, ao redor de 6°S,
Reuter et al. (2009) demonstraram que, durante o período referido, a precipitação teria crescido aproxi-
madamente 30% acima dos valores recentes.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 157


Também foi descrito um incremento na precipitação durante o mesmo período por Bird et al.
(2011), ao estudarem os sedimentos depositados em um lago localizado na porção oriental dos Andes do
Peru – ao redor de 10°S. A hipótese aventada foi a de que tais alterações, observadas durante a Pequena
Idade do Gelo, estariam associadas a uma intensidade maior do SMAS, possivelmente controlada pela
diminuição da TSM do Atlântico Norte (Mann et al., 2009; Reuter et al., 2009; Bird et al., 2011).

Neste cenário, menores TSMs, registradas no Atlântico Norte, poderiam estar associadas a uma
diminuição da CRMA. Esta relação entre a intensidade da Célula e a do sistema monçônico da América
do Sul já foi descrita em outras escalas temporais (Wang et al., 2007; Chiessi et al., 2009; Stríkis et al.,
2011). Aparentou tratar-se de mecanismo capaz de atuar em escalas temporais distintas e em condições
de contorno múltiplas.

Na costa leste do Oceano Pacífico, os estudos de registros sedimentares coletados na Zona de


Mínimo Oxigênio (ZMO) da plataforma continental central do Peru e na costa norte do Chile revelaram
mudanças consideráveis em termos de paleoceanografia regional durante o último milênio (Sifeddine et
al., 2008; Valdés et al., 2008; Gutierrez et al., 2009). Durante a Pequena Idade do Gelo, a produtividade
primária foi relativamente baixa nesta região e a abundância de pequenos peixes pelágicos foi marcan-
temente reduzida.

A partir de 1820, já no século XIX, houve revivificação da ZMO e aumento dos teores de maté-
ria orgânica e dos cardumes de pequenos peixes pelágicos (Sifeddine et al., 2008; Valdés et al., 2008;
Gutierrez et al., 2009). Segundo os mesmos autores, uma elevação das TSMs, descrita para o Leste do
Pacífico Tropical durante a Pequena Idade do Gelo (D’Arrigo et al., 2005), poderia ter reduzido as condi-
ções de ressurgência nesta região e deslocado a ZCIT para o Sul, conforme simulado por Timmermann
et al. (2007).

Dentre os raros estudos que utilizaram arquivos paleoambientais provenientes do Brasil ou do


Oceano Atlântico adjacente, Souto et al. (2011) se basearam nas variações das associações de foraminí-
feros em um testemunho coletado na zona de ressurgência do Cabo Frio – ao redor de 23°S –, no Estado
do Rio de Janeiro, para inferirem maior intensidade desse fenômeno durante a Pequena Idade do Gelo,
associada, muito provavelmente, ao fortalecimento dos ventos de NE. Por outro lado, Pessenda et al.
(2008) demonstraram que, no arquipélago de Fernando de Noronha – 3°S –, em Pernambuco, a Pequena
Idade do Gelo apresentou diminuição na precipitação, em consonância com os resultados obtidos na
Bacia de Cariaco (Haug et al., 2001).

Outro intervalo temporal do último milênio que apresentou alterações climáticas com duração de
centenas de anos foi a Anomalia Climática Medieval (ACM), ocorrida aproximadamente entre os anos de
950 e 1250 (Mann et al., 2009). Entretanto, no Brasil, ela se encontra representada até agora, de forma
ainda mais fragmentada e esparsa em relação à Pequena Idade do Gelo e, por este motivo, não será
tratada neste subcapítulo.

Séries temporais, provenientes da análise de anéis de crescimento de árvores da Região Sul do


Brasil, apresentaram variações cíclicas com períodos de aproximadamente dois, sete, onze, 22 e 80 anos,
entre outros (Rigozo et al., 2002, 2004; Prestes et al., 2011). São escalas de tempo associadas ao modo
de variabilidade climática El Niño-Oscilação Sul para dois a sete anos (os anéis mais espessos estariam
associados ao fenômeno El Niño com incidência maior de chuvas na Região Sul do País); aos ciclos de
atividade solar Schwabe para onze anos; enquanto que para 22 anos, se relacionariam a uma atividade
solar mais intensa – denominada Hale – e para 80 anos, á Gleissberg (Rigozo et al., 2008; Prestes et al.,
2011). Os registros mais longos atingiram, aproximadamente, 350 anos e foram elaborados com amos-
tras da espécie Araucaria angustifolia (Prestes et al., 2011).

Apesar de virtualmente ausentes para o Brasil, reconstituições climáticas baseadas em registros


históricos já foram desenvolvidas com marcante êxito em outros países da América do Sul (Ortlieb e
Macharé, 1993; Ortlieb, 2000; Neukom et al., 2009, 2010). Estes estudos, que na América do Sul

158 VOLUME 1
usualmente abordaram os últimos cinco séculos, costumaram apresentar alta resolução temporal e têm
grande potencial de desenvolvimento no Brasil.

4.8.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As informações paleoclimáticas a respeito do último milênio no Brasil são extremamente frag-


mentadas e esparsas. Apesar disto, pode-se inferir que a Pequena Idade do Gelo foi caracterizada por
diminuição da precipitação sobre o extremo Norte da América do Sul e elevação da precipitação inci-
dente sobre o restante das porções tropicais e subtropicais de baixa altitude do continente sul-americano,
incluindo a vertente Atlântica dos Andes. A associação destas anomalias de precipitação com as de TSM
na porção norte do Oceano Atlântico e com a intensidade da CRMA foi sugerida.

Para preencher as lacunas existentes e melhorar nosso entendimento a respeito das variações
climáticas naturais multidecenais e seculares, se faz urgente buscar, coletar, analisar e interpretar novos
arquivos paleoambientais, que tenham registrado as condições climáticas do último milênio em alta reso-
lução temporal.

4.9. COMPARAÇÕES ENTRE RECONSTITUIÇÕES PALEOCLIMÁTICAS E DADOS DE


MODELOS CLIMÁTICOS
4.9.1 INTRODUÇÃO

Um dos objetivos que motivou a investigação paleoclimatológica foi a necessidade de se deter-


minar a variação do sistema climático através de uma longa escala contínua de tempo. O clima varia em
virtualmente todas as escalas – desde as mais curtas, de poucos dias, até as mais longas, de centenas de
milhões de anos. Compreender tal variabilidade através de diversas bandas de frequência é preciso para
que se possa antecipar a dinâmica do sistema climático no futuro.

O objetivo principal em se modelar o paleoclima é o de se investigar os padrões, processos e


causas das mudanças climáticas e ambientais ocorridas no passado. A validação de modelos climáticos
com base em sua capacidade de reproduzir coerentemente situações do paleoclimáticas é fundamental
para se demonstrar sua competência de simular, de forma robusta, mudanças climáticas futuras.

A modelagem paleoclimática se baseia no estudo de modelos climáticos numéricos com forçantes
ajustadas para períodos pretéritos da história geológica da Terra. Os valores das mesmas são calculados
ou reconstituídos por meio de indicadores das propriedades físicas, biológicas e geoquímicas dos regis-
tros relativos ao paleoclima.

O estudo de feições do sistema climático do passado, através de modelos numéricos, em con-


junto com reconstituições do paleoclima baseadas em indicadores físicos, biológicos e geoquímicos é
importante para demonstrar a capacidade de representação de tais ferramentas computacionais. A curta
duração dos registros dos dados oceanográficos e climáticos instrumentais – da ordem de aproximada-
mente 100 anos para a América do Sul – é insuficiente para se observar e estudar variações do clima
em mais do que algumas décadas. Resulta daí que, a obtenção de longas séries temporais, através da
modelagem numérica, possibilita compreender a variabilidade climática. Elas são fundamentais, também,
para o entendimento e a avaliação do comportamento do Sistema Terra diante de mudanças naturais e/
ou forçadas.

Outra motivação importante para se simular condições climáticas passadas é que estes experi-
mentos oferecem a rara oportunidade de se estudar a relevância das retroalimentações entre os diversos
componentes do sistema climático.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 159


A quantidade relativamente pequena de registros paleoclimáticos da América do Sul dificulta a
avaliação precisa de climas passados (COHMAP Members, 1988; Kohfeld e Harrison, 2000). Identificam-
-se adicionalmente na literatura, interpretações climáticas relativamente distintas para um mesmo período
e região. O UMG é um bom exemplo. Registros lacustres entre o equador e 25ºS mostram uma lacuna na
sedimentação – inclusive com ausência de deposição de matéria orgânica –, sugerindo assim, condições
secas ao longo dessa fase do Holoceno (Ledru et al., 1998; Mourguiart e Ledru, 2003). Por outro lado,
um aumento da precipitação de inverno foi reconstituído para o Sul da Bolívia (Sylvestre et al., 1998).
Além disso, dados isotópicos de espeleotemas do Sul do Brasil (Cruz et al., 2005) também apontaram
para climas relativamente úmidos nessa mesma época e banda latitudinal. Entre 25 e 40ºS a Leste dos
Andes, os níveis dos lagos já foram mais elevados do que são hoje (Bradbury et al., 2001), enquanto que
em 50°S, as condições climáticas já se apresentaram mais secas (Clapperton, 1993; Markgraf, 1993).

Comparações entre reconstituições paleoclimáticas e saídas de modelos numéricos em certos


casos podem ser problemáticas. Clauzet et al. (2008) demonstraram que a TSM simulada para o último
máximo glacial, com base no modelo Community Climate System Model (CCSM), não é coerente com os
dados de reconstituição paleoclimática obtidos para as porções leste, equatorial e de altas latitudes do
Atlântico Sul.

Também com base em modelos numéricos, Lee et al. (2009) atribuíram maiores índices de preci-
pitação no Nordeste do Brasil durante o UMG, quando comparado às condições atuais.

A influência da TSM tropical durante o Holoceno médio é explorada por Jorgetti et al. (2006),
com base no modelo do Institut Pierre Simon Laplace des Sciences de L’Environnement (IPSL). Os autores
sugeriram que o controle exercido pelo ENOS na precipitação na América do Sul, era menos frequente
nesse período em comparação com o clima atual e que, a distribuição espacial da sua influência é con-
sideravelmente diferente em ambas essas épocas.

Utilizando o modelo atmosférico global do CPTEC, Melo e Marengo (2008) apontaram para con-
dições mais úmidas na porção nordeste da América do Sul e, mais secas, tanto na zona central quanto na
sudeste, ao longo do Holoceno médio, quando comparado com o tardio. Dias et al. (2009) apresentaram
situação similar na mesma comparação temporal, demonstrando que a migração, na posição média de
feições, como é o caso da ZCIT e da ZCAS, é influenciada pelo tipo de feedback da vegetação.

Figura 4.10. Distribuição de


reconstituições paleoclimáticas
(círculo laranja: seco; círculo
azul: úmido) e histogramas
simulados de precipitação
normalizados pelo desvio
padrão, mostrando as
anomalias entre o Último
Máximo Glacial e o período
atual. As barras em azul e
em laranja dos histogramas
denotam o verão e o inverno
austral, respectivamente.
Extraído de Wainer et al.
(2005).

160 VOLUME 1
4.9.2 METODOLOGIA

Embora modelos numéricos climáticos com as mais complexas e distintas hierarquias tenham sido
utilizados para simular e buscar entender o clima do UMG e do Holoceno médio, as comparações sinte-
tizadas neste trabalho tiveram como base resultados do modelo National Center for Atmospheric Research
(NCAR-CCSM).

Na simulação do UMG, definimos as quatro principais condições de contorno da seguinte forma:


(i) parâmetros orbitais fixados para os correspondentes vigentes em 21 cal. ka AP;

(ii) albedo e topografia terrestres fixados conforme o modelo de Peltier (1994) para processos globais
de ajuste isostático glacial, denominado ICE-4G;

(iii) nivel do mar corrigido de acordo com o modelo ICE-4G (Peltier, 1994); e

(iv) concentrações dos GEEs ajustadas com base em estimativas do testemunho de gelo de Vostok
(e.g., Petit et al., 1999). Especificamente, estas concentrações foram levadas para 200 partes por milhão
por volume (ppmv) de CO2, 400 partes por bilhão por volume (ppbv) para CH4 e 275 ppbv de N2O.

A simulação do Holocêno médio é configurada de acordo com os requisitos do Paleoclimate


Modelling Intercomparison Project 2 (PMIP2). Decorrem da configuração orbital a maior diferença entre
os exercícios feitos para tal período e aqueles realizados para o período atual.

O ajuste nos parâmetros das orbitais leva a um ciclo sazonal de radiação solar mais intenso na
parte superior da atmosfera no hemisfério norte e, a sua diminuição, no hemisfério sul (Braconnot et al.,
2007). Isto pode indicar que o clima durante o Holoceno médio nesse hemisfério pode ter sido ligeira-
mente mais quente do que é hoje na estação do verão e, mais frio, durante o inverno (Otto-Bliesner et al.,
2006).

Figura 4.11. Anomalia do


campo de umidade
relativa entre o Último
Máximo Glacial e
o período atual de
dezembro a fevereiro
(esquerda) e de junho a
agosto (direita). Siglas
utilizadas na figura:
CTR – saída de controle
do modelo para o
Holoceno tardio; LGM:
saída do modelo para o
Último Máximo Glacial.
Modificado de Justino et
al. (2010).

4.9.3 RESULTADOS

A seguir, são apresentadas algumas comparações entre os resultados propostos por Wainer et
al. (2005) e Justino et al. (2008) para o clima do UMG e do Holoceno médio para a América do Sul,
brevemente confrontadas com reconstituições climáticas baseadas em indicadores físicos, biológicos e
geoquímicos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 161


A Figura 4.10 mostra uma seleção de reconstituições de precipitação para o UMG e diferenças
de precipitação entre as simulações correspondentes ao mesmo período e aos dias atuais (Wainer et al.,
2005). A maior parte dos registros paleoclimáticos selecionados mostram condições mais áridas – círcu-
los laranja – no período. Algumas regiões, todavia, apresentam condições mais úmidas – círculos azuis.
Os círculos com ambas as cores indicam diferenças nas interpretações dos dados de reconstituições pa-
leoclimáticas.

Para cada registro, há também um histograma, o ciclo sazonal da precipitação simulada. Os va-
lores foram normalizados por seu desvio-padrão. As melhores correspondências entre os dois conjuntos
de dados foram notadas nos pontos de números 11, 13, 14 e 15, indicando condições mais secas para
o UMG em relação ao presente, e nos sítios três, quatro, sete e doze, exibindo situações mais úmidas
durante esse mesmo período.

A Figura 4.11. representa o campo das anomalias de umidade relativa entre o UMG e o período
atual, a partir das simulações avaliadas por Justino et al. (2010). Com base neste estudo, tornou-se claro
que existem substanciais variações sazonalmente dependentes. Por exemplo, durante o verão no hemisfé-
rio sul, o continente sul-americano apresenta condições mais secas, à exceção do Sul da Argentina e do
Chile. Isto está de acordo com o proposto em algumas reconstituições paleoclimáticas, conforme a Figura
4.10., publicada neste capítulo.

Estas anomalias de umidade relativa concordaram também, com a intensidade de paleoincên-


dios, detectada a partir de estudos paleoantracológicos (Power et al., 2008). Para a porção sul da Améri-
ca do Sul, algumas reconstituições indicaram que os paleoincêncios foram, aí, menos intensos – ou seja,
um clima mais úmido – durante o período glacial e a última deglaciação. Em contraste, as latitudes tro-
picais da América do Sul exibiram paleoincêndios mais severos – um clima mais seco, portanto – quando
comparados com aqueles registrados no presente, isto é, durante a era pré-industrial.

Deve-se notar que, embora os resultados do modelo tenham mostrado anomalias positivas de
umidade relativa durante o inverno no hemisfério sul – conforme representado à Figura 4.11, neste capí-
tulo –, estes valores são, de modo geral, extremamente baixos, pois este é o período de estiagem para a
maior parte da América do Sul. No que concerne ao ciclo hidrológico, isto pode indicar que as variações
acusadas nas reconstituições estão fortemente relacionadas a mudanças ocorridas no verão austral.

Figura 4.12. Anomalia de temperatura média


anual entre as simulações para o Último
Máximo Glacial e o tempo atual (direita)
e anomalia de temperatura do mês
mais frio entre ambas (esquerda). Figura
baseada em Farrera et al. (1998) e Kerry
Cook (http://www.nicholas.duke.edu/cgc/
groups/presentation/). K: graus na escala
Kelvin.

162 VOLUME 1
A Figura 4.12. representa as anomalias de temperatura média anual entre as simulações para o
UMG e o período atual, bem como para esta e a do mês mais frio – e.g., Farrera et al.,1999). Pode-se
observar uma razoável concordância entre os dois conjuntos de dados, principalmente no que concerne
à média anual. Os valores na região equatorial mostram anomalias de temperatura entre 4 e 6ºK – graus
da escala Kelvin –, enquanto que entre 10 e 25ºS elas se revelaram em patamares inferiores.


4.9.4 CONCLUSÕES

Registros paleoclimáticos fornecem diretrizes que servem para avaliar modelos numéricos do sis-
tema climático, assim como são ferramentas úteis, capazes de sugerir novos modelos, conceituais, para
se explicar as variações do clima. Estudos baseados em versões numéricas dessa mesma ferramenta de-
dicada ao sistema climático mostraram que a América do Sul foi genericamente dominada por condições
mais frias e secas durante o UMG, embora substanciais variações tenham sido notadas regionalmente e
como efeito da sazonalidade.

Neste cenário, as mudanças mais intensas ocorreram durante o verão austral. Outras investi-
gações, ainda em curso, visam caracterizar em detalhe a evolução climática do bioma Mata Atlântica
durante o Holoceno, com o auxílio de modelos numéricos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 163


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180 VOLUME 1
CAPÍTULO 5

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Autores principais: Luiz Antonio Martinelli – USP; Jean Pierre Henry Balbaud Ometto – INPE; Gabriela Bielefeld
Nardoto – UNB; Alexandre de Siqueira Pinto – UNB; Humberto Rocha – USP; Dora Maria Villela – UENF; Eduardo
Arcoverde de Mattos - UFRJ.
Autores colaboradores: Donato Abe – IIE; Roberto Antonio Ferreira de Almeida – INPE; André Megali Amado –
UFRN; Cimélio Bayer - UFRGS; Marcelo Correa Bernardes – UFF; Elisabete de Santis Braga – USP; Mercedes Maria
da Cunha Bustamante – UnB; Edmo José Dias Campos – USP; Patricia Pinheiro Beck Eichler - UFRN; Vinicius Fortes
Farjalla – UFRJ; Corina SidagisGalli – IIE; Vera Lúcia de Moraes Huszar - UFRJ; Ivan Bergier- Embrapa CPAP; Sílvia
Fernanda Mardegan – USP/INPE; Aldrin Martin Perez Marin – INSA; Guilherme Ruas Medeiros- IIE; Rômulo Simões
Cezar Menezes – UFPE; Paulo Nobre – INPE; Álvaro Ramon Coelho Ovalle – UENF; Vanderlise Giongo Petrere -
Embrapa Semiárido; Valério De Patta Pillar – UFRGS; Alex Enrich Prast- UFRJ; Carlos Alberto Quesada – INPA; Julio
Carlos França Resende – CLDF; Carlos Eduardo de Rezende – UENF; Enrique Ortega Rodriguez – UNICAMP; Fábio
Roland – UFJF; Cleber Ibraim Salimon – UFAC; Everardo Valadares de Sá Barretto Sampaio- UFPE; João dos Santos
Vila da Silva – CNPTIA; Weber Landim de Souza – INT; Frederico Scherr Caldeira Takahashi – UnB; Carlos Gustavo
Tornquist – UFRGS; José Galizia Tundisi – IIE; Marcos Djun Barbosa Watanabe–UNICAMP.
Autores revisores: Flavio Luizão – INPA; Regina Luizão – INPA.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 181


ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 183

5.1 INTRODUÇÃO 184

5.2. BREVE DESCRIÇÃO DOS BIOMAS BRASILEIROS 186



5.2.1 AMAZÔNIA 186

5.2.2 MATA ATLÂNTICA 187

5.2.3 PANTANAL 188

5.2.4 CAATINGA 189

5.2.5 CERRADO 189

5.2.6 PAMPA 190

5.3 BASE CONCEITUAL 190

5.4 PRINCIPAIS RESERVATÓRIOS E FLUXOS DE CARBONO E NITROGÊNIO NOS PRINCIPAIS


BIOMAS BRASILEIROS 192

5.5. IMPACTOS POTENCIAIS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 194



5.5.1 AMAZÔNIA 195

5.5.2 MATA ATLÂNTICA 196

5.5.3 CERRADO 197

5.5.4 CAATINGA 198

5.5.5 PANTANAL 199



5.5.6 PAMPA 200

5.5.7 ÁGUAS INTERIORES 200

5.6 CONCLUSÕES 202

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 202

182 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
No Brasil são esperadas mudanças profundas e variáveis no clima conforme a região do país,
afetando tanto os ecossistemas aquáticos como os terrestres. Neste quesito, o país é um dos mais ricos do
mundo, tendo seis biomas terrestres (Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa, Cerrado e Caatinga),
que englobam alguns dos maiores rios do mundo – como os Rios Amazonas, Paraná e São Francisco,
além de possuir uma costa com cerca de 8.000 km, contendo pelo menos sete grandes zonas estuari-
nas e toda a plataforma continental. O foco principal deste capítulo será investigar como os principais
processos biogeoquímicos seriam afetados pelas mudanças climáticas nos principais biomas e bacias
brasileiras. Devido à falta de informações espaciais compatíveis com as escalas dos biomas brasileiros, as
análises realizadas neste capítulo concentram-se nas regiões de cada bioma onde há informações dispo-
níveis. Ao mesmo tempo em que esse tipo de limitação nos impede de fazer uma generalização para um
determinado bioma, ela também serve como um alerta sobre a carência destas informações em escalas
compatíveis com as grandes áreas de nossos biomas. Observa-se uma crítica carência de informações
para determinados biomas – como o Pampa, o Pantanal e a Caatinga, contrastando com o volume maior
de informações observado para a Amazônia e, secundariamente, o Cerrado. Somente recentemente
estudos têm sido desenvolvidos na Mata Atlântica, mas ainda mostram-se concentrados em algumas
poucas áreas. Os maiores estoques de carbono e nitrogênio do solo foram encontrados na Mata Atlânti-
ca, seguindo-se a Amazônia e o Cerrado. Quanto aos estoques de carbono e nitrogênio acima do solo,
destacam-se a Mata Atlântica e, especialmente, a Amazônia como os biomas que possuem os maiores
estoques. Interessantemente, somente na Amazônia e no Pantanal os estoques de carbono e nitrogênio
são mais elevados na biomassa acima do solo em relação aos estoques do solo, divergindo dos outros
biomas em que os maiores estoques se concentram efetivamente nos solos. O retorno de carbono ao solo
via queda das folhas teve uma variação muito menos acentuada entre os biomas. Os sistemas florestais
tendem a ter uma transferência ligeiramente maior em relação aos sistemas herbáceos-arbustivos, mas
não tão mais elevado, se levarmos em consideração a maior biomassa acima do solo observada nos
sistemas florestais. Por outro lado, a transferência de nitrogênio é significativamente maior nos sistemas
florestados da Amazônia e Mata Atlântica em relação aos sistemas herbáceos-arbustivos como o Cerrado
e a Caatinga. A despeito das grandes diferenças nos estoques de carbono do solo, as variações nos fluxos
de CO2 para a atmosfera não foram elevadas entre os biomas, principalmente se excluirmos a Amazônia,
onde os fluxos de CO2 foram claramente maiores. O fluxo de N2O do solo para a atmosfera é também
considerado uma perda de nitrogênio do sistema. Neste caso as diferenças são mais acentuadas entre
os biomas, tendo a Amazônia os maiores fluxos, seguindo-se a Mata Atlântica; enquanto fluxos muito
baixos foram detectados para o Cerrado. No caso da fixação biológica de nitrogênio (FBN), as maiores
entradas estão associadas aos sistemas florestais da Amazônia e Mata Atlântica, seguindo-se o Cerrado
e, finalmente, o Pantanal e a Caatinga, com uma quantidade de nitrogênio fixada anualmente significa-
tivamente menor que os três biomas citados acima. Quanto à deposição atmosférica de nitrogênio, os
valores foram semelhantes entre biomas, sendo, na maioria dos casos, abaixo dos valores que entram
via FBN e ligeiramente mais elevados em relação aos fluxos de N2O para a atmosfera. A combinação
de mudanças climáticas globais com alterações dramáticas na cobertura do solo, com desmatamento
em larga escala, pode determinar alterações no regime climático local na região Amazônica e conse-
quentemente na estrutura e composição da vegetação nativa presente. O processo de “savanização”
da Floresta Amazônica, surgiu como importante alerta à uma possível alteração estrutural da cobertura
vegetal da região. Entretanto, estudos recentes, utilizando uma compilação maior de modelos climáticos
globais, não reproduzem as condições ambientais e de resposta da floresta para que este processo seja
estabelecido. No entanto deve-se salientar que uma profunda mudança na estrutura e funcionamento
dos ecossistemas Amazônicos acarretaria perdas significativas nos estoques de carbono tanto do solo
como da vegetação. Além das perdas de carbono, haveria outras mudanças fisiológicas e fenológicas
similares àquelas descritas mais adiante para o Cerrado brasileiro. Tais mudanças se refletiriam não so-
mente no ciclo do carbono, mas também no ciclo do nitrogênio. A Mata Atlântica estoca quantidades
apreciáveis de carbono e nitrogênio em seus solos, principalmente em maiores altitudes. Os aumentos
previstos para a temperatura do ar na Região Sudeste do Brasil levariam a um aumento nos processos de
respiração e decomposição, gerando um aumento nas perdas de carbono e nitrogênio para a atmosfera.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 183


A pergunta que permanece por falta de informações é se essas perdas seriam compensadas por um
aumento na produtividade primária líquida do sistema. Nos campos sulinos do Pampa, similarmente à
Mata Atlântica, os solos detêm um apreciável estoque de carbono. Portanto, aumentos na temperatura
previstos para o futuro aumentariam as emissões de CO2 para a atmosfera. O balanço entre a vegetação
lenhosa e a vegetação herbácea é um importante aspecto da da estrutura e funcionamento do Cerrado.
A vegetação lenhosa tem estoques de nutrientes mais recalcitrantes na forma de raízes profundas e caules,
enquanto a vegetação herbácea é mais prontamente decomposta. Em áreas onde a duração da seca
fosse maior, poderia haver, em tese, um aumento na incidência de fogo, que por sua vez, favoreceria o
aparecimento de uma vegetação herbácea, implicando em mudanças importantes no funcionamento do
Cerrado. A produtividade primária do Cerrado pode potencialmente ser reduzida frente às mudanças
climáticas projetadas para este bioma. O aumento da temperatura provavelmente resultará em uma
redução do processo fotossintético nas plantas do Cerrado, implicando em um possível decréscimo de
sua biomassa. Adicionalmente, na estação seca o Cerrado passaria a ser uma fonte de carbono para a
atmosfera. Portanto, um aumento na duração deste período implicaria também em uma redução na pro-
dutividade primária do Cerrado.O aumento na ocorrência de eventos de fogo resultaria, ainda, em uma
diminuição nos estoques de biomassa. De forma geral, há uma grande incerteza em relação aos efeitos
de alterações climáticas nos recursos hídricos do Brasil. As bacias hidrográficas mais importantes do país,
segundo seus atributos hidrológicos e ecológicos são a do Amazonas, Tocantins-Araguaia, Paraná, Para-
guai e São Francisco. Essas bacias cortam regiões que devem sofrer diferentes impactos relacionados às
alterações de temperatura e precipitação (volume e frequência de chuvas), com efeitos distintos na dispo-
nibilidade de água ao uso humano assim como à manutenção de processos ecológicos. Regionalmente,
o aumento de eventos extremos associados à frequência e volume de precipitação também é previsto. Os
cenários apontam para a diminuição na pluviosidade nos meses de inverno em todo país, assim como no
verão no leste da Amazônia e Nordeste. Da mesma forma a frequência de chuvas na Região Nordeste e
no Leste da Amazônia (Estados do Pará, parte do Amazonas, Tocantins e Maranhão) deve diminuir, com
aumento na frequência de dias secos consecutivos. Este cenário deverá impor um stress sério aos já es-
cassos recursos hídricos da Região Nordeste. Em contraste, o país deve observar o aumento da frequência
e da intensidade das chuvas intensas na região subtropical (Região Sul e parte do Sudeste) e no extremo
oeste de Amazônia.

5.1 INTRODUÇÃO
Após a publicação do quarto levantamento feito pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climá-
ticas (IPCC, 2007) ficou claramente demonstrado que nosso planeta passa por mudanças ambientais e
climáticas frutos das atividades humanas. Dentre elas, incluem-se um aumento crescente na concentração
de CO2 atmosférico e nas temperaturas. Adicionalmente, o aumento crescente na deposição de nitrogê-
nio em várias partes do globo define o cenário que teremos à nossa frente nos próximos 100 anos.

O dióxido de carbono (CO2) é o principal combustível utilizado pelas plantas que através de seus
aparatos fotossintéticos transformam um gás inorgânico em moléculas orgânicas constituintes dos tecidos
de organismos autotróficos. O processo de fotossíntese é limitado por uma série de fatores, incluindo o
fornecimento de nitrogênio para os organismos autotróficos. O fornecimento de nitrogênio para os or-
ganismos é regulado por uma série de reações de oxi-redução que ocorrem tanto no ambiente terrestre
como no ambiente aquático, que por sua vez, são mediadas por microorganismos em busca de energia
ou aceptores finais de elétrons. Todos esses processos acima mencionados são influenciados significativa-
mente pela temperatura. É amplamente conhecido que a temperatura limita não só o processo fotossin-
tético, como inúmeras reações que ocorrem nos sistemas aquáticos e terrestres.

Ao desenvolver atividades que buscam prover alimentos, fibras e energia e através de diversos
processos industriais, o homem vem, inadvertidamente, alterando a disponibilidade de dois elementos
fundamentais à vida: carbono e nitrogênio, além de alterar um dos parâmetros mais importantes no fun-
cionamento de sistemas aquáticos e terrestres: a temperatura do ar. Mudanças de temperatura afetam a

184 VOLUME 1
distribuição de energia em todo o globo, interferindo na distribuição de chuvas e, consequentemente, na
disponibilidade de água.

Interessantemente, assim como os aspectos econômicos e sociais, essas mudanças seguem as


tendências modernas de globalização e afetam, em maior ou menor grau, todo o planeta. Portanto, nun-
ca se observou uma mudança tão profunda, abrangente e rápida como essas que estamos vivendo.

Intuitivamente, pode-se imaginar que um aumento nas quantidades de carbono e nitrogênio


disponíveis e nas temperaturas levaria a um maior acúmulo de biomassa. No entanto, o crescimento de
biomassa depende de um balanço entre a quantidade de carbono adquirida pelo processo fotossintético
e a quantidade de carbono que é perdida pelos processos de respiração e decomposição. Um eventual
ganho de carbono poderia ser anulado por um aumento nas perdas desse elemento. Por outro lado, as
perdas poderiam ser mais elevadas que os ganhos, aumentando as emissões de CO2 para a atmosfera.

Experimentos recentes têm demonstrado que todas essas hipóteses são plausíveis e dependem de
vários fatores. Portanto, é esperado que as respostas às mudanças globais descritas acima sejam extre-
mamente variáveis entre ecossistemas. Nota-se também que, sem um conhecimento prévio das caracte-
rísticas de cada sistema, não há como avaliarmos detalhadamente os efeitos das mudanças globais sobre
os processos biogeoquímicos dos mesmos.

No Brasil, são esperadas mudanças profundas e variáveis no clima conforme a região do país
(Marengo et al., 2009), afetando tanto os ecossistemas aquáticos como os terrestres. Neste quesito, o
país é um dos mais ricos do mundo, tendo seis biomas terrestres (Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal,
Pampa, Cerrado e Caatinga), Figura 5.1, que englobam alguns dos maiores rios do mundo (Figura 5.2)
– como os Rios Amazonas, Paraná e São Francisco, além de possuir uma costa com cerca de 8.000 km,
contendo pelo menos sete grandes zonas estuarinas e toda a plataforma continental.

Figura 5.1. Biomas brasileiros.


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Adaptado de Walker
(2012).
Disponível em http://www.
ibge.gov.br/home/presidencia/
noticias/21052004biomashtml.shtm

Figura 5.2. Divisão hidrográfica brasileira.


Fonte: adaptado de Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (2009).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 185


Estes biomas têm características próprias e bem marcadas, tornando intuitiva sua divisão (Tabela
5.1). Por exemplo, quanto à vegetação, predominam as florestas com grande biomassa na Amazônia e
na Mata Atlântica; já no Pampa, Cerrado e Caatinga há o predomínio de uma vegetação tipo savana;
enquanto que o Pantanal mostra-se um misto dos dois. Para as variações de precipitação, temperatura e
evaporação total relacionadas aos biomas brasileiros foi usado como base o livro “Normais Climatoló-
gicas do Brasil: 1961-1990” (INMET, 1992). Dois deles são considerados de clima tipicamente úmido:
a Amazônia e a Mata Atlântica. Ainda dentro desta categoria, enquadra-se o Pantanal, cuja principal
característica é a importante alteração na coluna dá água, com inundação das planícies, sazonalmente.
O Cerrado, por sua vez, é parcialmente limitado pela disponibilidade de água e no outro extremo en-
contra-se a Caatinga, significativamente limitada pela disponibilidade de água. Quanto à temperatura, a
Amazônia e a Caatinga destacam-se pela exposição a temperaturas elevadas, contrapondo-se ao Pam-
pa, bioma brasileiro exposto às menores temperaturas. Situados entre estes dois extremos, encontram-se o
Cerrado e o Pantanal, ao passo que a Mata Atlântica, dada sua longa distribuição latitudinal, encontra-se
exposta a uma variação considerável nas temperaturas (Figura 5.3).

Figura 5.3. Domínios morfoestruturais


e morfoclimáticos brasileiros.
Fonte: Adaptado de Aziz Ab’
Saber, 1965.

Desta breve descrição acima, conclui-se que existem acentuadas variações ambientais, estruturais
e de funcionamento entre os biomas brasileiros. Como visto anteriormente, as respostas dos sistemas às
mudanças globais serão variáveis entre sistemas, sendo influenciadas pelas condições existentes anterior-
mente à pressão antrópica no meio. O foco principal deste capítulo será investigar como os principais
processos biogeoquímicos seriam afetados pelas mudanças climáticas nos principais biomas e bacias
brasileiras. Devido à falta de informações espaciais compatíveis com as escalas dos biomas brasileiros, as
análises feitas neste capítulo concentram-se nas regiões de cada bioma onde informações encontram-se
disponíveis. Ao mesmo tempo em que esse tipo de limitação nos impede de fazer uma generalização
para um determinado bioma, também serve como um alerta sobre a carência de informações em escalas
compatíveis com as grandes áreas de nossos biomas.

5.2. BREVE DESCRIÇÃO DOS BIOMAS BRASILEIROS


5.2.1 AMAZÔNIA

O bioma amazônico é composto por diversos ecossistemas abrangendo uma área total de apro-
ximadamente 7 milhões de km2, dos quais mais de 60% se encontram em território brasileiro. Estrutural-
mente é composto pela Cordilheira do Andes a oeste, pelo Escudo Brasileiro ao sul e pelo Escudo das
Guianas ao norte e pela bacia de sedimentação ao centro, onde se encontram os grandes rios da região
(Figura 5.1).

186 VOLUME 1
Quanto à precipitação, há uma tendência de declínio da região noroeste para a sudeste (e.g.,
Marengo et al., 2001; Ferreira e Rickenbach, 2011). As maiores precipitações são encontradas ao pé
da Cordilheira do Andes, atingindo até 8.000 mm por ano, enquanto que as menores precipitações são
encontradas no Estado de Roraima (<1.200 mm) (Sombroek 2001). Além dos totais de precipitação, é
importante notar que há uma variação acentuada também na sazonalidade das precipitações nessa re-
gião (e.g., Grimm, 2011). Por exemplo, algumas partes do sul e do oeste da Amazônica podem enfrentar
períodos de até cinco meses com menos de 100 mm de chuva. A evapotranspiração média medida na
Amazônia fica em torno de 3,4 mm/dia (aproximadamente 1240 mm/ano) e tende a ser um pouco maior
na época seca nas regiões de Florestas Ombrófilas Densas e em áreas de florestas abertas e savanas (da
Rocha et al., 2009). Quanto à dinâmica climática da atmosfera, Nobre et al. (2009) demonstraram como
a região Amazônica funciona como uma distribuidora de vapor d’água para a região sul do continente
sul americano.

Ao longo da Bacia Amazônia há uma grande variedade de tipos de solo, predominando, de uma
forma geral, solos altamente intemperizados, principalmente na porção central e leste da Bacia (Quesada
et al., 2010). Ainda que esta seja a predominância geral observada, em áreas menores, existe uma varie-
dade maior nos tipos de solos associada a características geomorfológicas destas localidades (Quesada
et al., 2009; Richter e Babbar, 1991; Sanchez e Buol, 1975; Sanchez, 1976), acarretando uma grande
variação nas propriedades químicas e físicas dos mesmos (Quesada et al., 2010). Enquanto que os solos
mais intemperizados e inférteis encontram-se associados aos Escudos Brasileiro e das Guianas e ao longo
das paleovárzeas localizadas ao longo dos principais rios da região (Quesada et al., 2009; 2010; Richter
e Babar, 1991; Irion, 1978; Sombroek, 1966), solos ligeiramente mais férteis geralmente ocupam níveis
pedogênicos intermediários que ocorrem exclusivamente nas vizinhanças dos Escudos ou próximos às
calhas dos Rios Juruá, Purus e Madeira (Quesada et al. 2009, 2010a). Os solos pedologicamente menos
desenvolvidos e mais férteis encontram-se próximos aos Andes e ao longo das várzeas dos rios que neles
se originam (rios de “água branca”), especialmente ao longo dos Rios Solimões e Amazonas.

Esta acentuada variabilidade na fertilidade dos solos da Amazônia implica na estratégia de so-
brevivência da vegetação nestes diferentes substratos. Por exemplo, plantas crescendo em solos inférteis
desenvolveram mecanismos eficientes para manter um nível adequado de suprimentos de nutrientes,
principalmente, via ciclagem interna, em oposição ao suprimento direto desses nutrientes via solo (Stark,
1971; Starke Jordan, 1978; Jordan e Herrera, 1981; Jordan, 1989).

Segundo a classificação de Veloso et al. (1991), o tipo de vegetação predominante na Amazô-


nia é a Floresta Ombrófila Densa, vegetação típica de clima úmido. O segundo tipo de vegetação mais
comum é a Floresta Ombrófila Aberta, que enfrenta algum nível de déficit hídrico durante a estação
seca. Estas florestas podem ser dominadas igualmente por bambus, como aquelas localizadas na região
oeste da Amazônia, ou por palmeiras, como aquelas localizadas na região sul do bioma. Outros três
tipos vegetacionais cobrem menores extensões, mas apresentam igualmente representativa biodiversida-
de. Primeiramente, observamos as Florestas Semi-Decíduas, que também se localizam na região sul da
Amazônia e enfrentam períodos de seca mais prolongados. Em seguida, as campinas e campinaranas,
que são vegetações que crescem sobre Espodosolos extremamente ácidos e pobres em nutrientes e ocor-
rem predominantemente na bacia do Rio Negro. Por fim, encontramos as savanas relíticas, que ocupam
pequenas áreas distribuídas por várias regiões da Amazônia.

5.2.2 MATA ATLÂNTICA

A Mata Atlântica, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,


2004), se estende desde o Cabo de São Roque, no Estado do Rio Grande do Norte, até o município
de Osório, no Estado do Rio Grande do Sul. Sua área de cobertura original era de aproximadamente
1,3 milhões de km². Atualmente há 12,5% de remanescentes sua cobertura original. Esta floresta é
composta por dois grandes tipos de vegetação: a Floresta Ombrófila Densa ou Floresta Atlântica Pluvial

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 187


Florestas da Serra do Mar e da Serra da Paranapiacaba, no Estado de São Paulo) e Floresta Estacional
Semidecidual (localizada no interior do país). A Floresta Atlântica Pluvial compreende, em maior parte, as
baixas e médias elevações (1000 m) da parte oeste da cadeia de montanhas que segue ao longo da linha
costeira do Brasil. Na região de ocorrência destas florestas, predominam temperaturas mensais médias de
pelo menos 18 °C e elevada precipitação (acima de 2000 mm anuais), a qual é bem distribuída ao longo
do ano (períodos menores que quatro meses com níveis mensais de precipitação abaixo de 100 mm).

A Floresta Ombrófila Densa da Mata Atlântica encontra-se subdividida em quatro faciações (Ve-
loso et al., 1991), as quais são ordenadas segundo a hierarquia topográfica e refletem em fisionomias e
composições diferenciadas de acordo com as variações das faixas altimétricas e latitudinais. Essa divisão
em faciações altitudinais não é somente importante em termos fisionômicos, mas também em termos de
funcionamento. Assim, tem-se: 1) Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas – 5 a 50 m de altitude sobre
o solo de restinga; 2) Floresta Ombrófila Densa Submontana – no sopé da Serra do Mar, com altitude
variando entre 50 e 500 m; 3) Floresta Ombrófila Densa Montana – 500 a 1.200 m; 4) Floresta Om-
brófila Densa Altimontana – no topo da Serra do Mar, acima dos limites estabelecidos para a formação
Montana, onde a vegetação praticamente deixa de ser arbórea, pois predominam os campos de altitude.

5.2.3 PANTANAL

O Pantanal é uma planície de inundação e está localizado entre os paralelos 15º e 20ºS e me-
ridianos 55º e 59ºW. Possui uma área de deposição de sedimentos arenosos derivados dos planaltos
localizados a leste, formando enormes leques aluviais e ambientes lacustres e fluviais. Estes sedimentos
são carreados principalmente pelo Rio Paraguai e seus afluentes (Alho, 2011), Figura 5.2. O relevo é
plano e a altitude varia predominantemente entre 100 e 150 m. Em termos geomorfológicos esta bacia
pode ser subdividida em sete classes: 1) Planície inundável do Rio Paraguai e Pantanal propriamente dito,
2) Depressão Cuiabana, 3) Depressão do Alto Guaporé-Cuiabá, 4) Depressão do Miranda, 5) Serra da
Bodoquena, 6) Platô do Alto Paraguai (onde se localizam as cidades de Corumbá e Ladário) e 7) Platô da
bacia do Rio Paraná (Mercante et al., 2011).

As chuvas anuais médias variam de 800 a 1600 mm concentrando-se preferencialmente no
verão austral. A planície pantaneira é marcada por um déficit hídrico acentuado, onde usualmente a
evapotranspiração é maior que a precipitação. A complexidade do regime hidrológico do Rio Paraguai
está relacionada à baixa declividade dos terrenos que integram as planícies e pantanais mato-grossenses
e também à extensão da área que permanece periodicamente inundada com grande volume de água
(Gonçalves et al., 2011).

A flora da planície inundável, com aproximadamente 2.000 espécies, é um encontro de elemen-


tos de ampla distribuição e de províncias fitogeográficas mais ou menos vizinhas, tais como o Cerrado,
Florestas Estacionais, Chaco, Amazônia e Mata Atlântica. O grupo mais numeroso de espécies é formado
por aquelas de ampla distribuição, enquanto que o segundo maior contingente é proveniente do Cerra-
do. As plantas endêmicas são raras, observando-se somente sete. A vegetação da planície sedimentar é
um mosaico de vegetações aquáticas, campos inundáveis, florestas ripárias, savanas (cerrados), cerra-
dão, floresta decidual, e uma grande parte de savanas e florestas pioneiras monodominantes (Pott et al.,
2011).

As paisagens vegetais marcantes no Pantanal são: 1) os Carandazais, localizados em zonas de


inundação mais frequentes e sendo formados excepcionalmente por palmeiras Copernicia alba; 2) os
Paratudais, também localizados em áreas de inundação e formados predominantemente pelo ipê ama-
relo, Tabebuia alba; e 3) Regiões de Cordilheiras, sendo estas mais elevadas em relação às vazantes e
baías e salinas, usualmente possuindo plantas de Cerrado e palmeiras das espécies Acrocomia aculeata
e Attalea phalerata. As espécies de plantas aquáticas são muito diversificadas (em torno de 50 espécies) e
cerca de 1% da produção líquida do ecossistema na planície é sazonalmente exportada na forma de ilhas

188 VOLUME 1
flutuantes de biomassa vegetal aquática (conhecidas por camalotes) pelo Rio Paraguai em direção à foz
da bacia do Prata (Bergier et al., 2012).

5.2.4 CAATINGA

O bioma Caatinga, localizado no Nordeste brasileiro, cobre uma área aproximada de 1 milhão
de km2, e representa a maior parte da região semi-árida do país. A maior parte deste bioma se encontra
em uma região onde a precipitação anual é inferior a 1.000 mm. Além da escassez, a marcada varia-
bilidade espacial e temporal é outra característica das chuvas desta região (Reddy, 1983). Em algumas
regiões, 20% da precipitação anual ocorrem em um único dia e 60% em um único mês (Sampaio, 1995).
As temperaturas médias anuais são elevadas, variando de 23 a 27 ºC e a umidade relativa geralmente
menor que 50%. Como consequência, a evapotranspiração potencial é alta, resultando em déficit hídrico
durante 7 a 11 meses por ano (Freitas et al., 2012).

A altitude média encontra-se próxima a 400-500 m acima do nível do mar, alcançando o nível do
mar em Estados como Rio Grande do Norte e Ceará, e cerca de 1.000 m de altitude, em alguns platôs.
Cerca de 37% da área é composta por vertentes com inclinações entre 4 e 12% e 20%, além de haver
vertentes com inclinações maiores que 12%. A Caatinga pode ser dividida em três áreas geologicamente
distintas em função do material de origem: (1) áreas sobre o escudo cristalino; (2) áreas sobre o escudo
cristalino cobertas com material arenoso; e (3) áreas de depósitos sedimentares (Jacomine, 1996). Quase
70% da área é coberta por quatro tipos de solos dominantes, a saber: os Latosolos e os Litosolos cobrem,
cada tipo, 20% da área; já os Argisolos cobrem 15%; enquanto que os Luvisolos cobrem 13%. Mais de
80% da área tem algum tipo de limitação em termos pedológicos, merecendo destaque a baixa fertilida-
de e a baixa profundidade, a drenagem dificultada e concentrações excessivas de sódio trocável (Silva,
2000).

5.2.5 CERRADO

O Cerrado é definido como uma savana sazonal úmida, com precipitação média anual que varia
de 800 a 1.800 mm conforme a região, sendo que 90% da precipitação ocorre na estação chuvosa entre
outubro e abril. Ainda que a média anual de temperatura fique entre 20 e 26 ºC no bioma, há uma acen-
tuada variação nas temperaturas devido às diferenças em altitude, que chegam a mais de 1.000 m (Eiten,
1972). Por exemplo, a temperatura mínima na parte sul do Cerrado, no Estado de São Paulo, alcança -4
ºC, enquanto que a temperatura mínima na porção norte do bioma, no Estado do Piauí, alcança 14 ºC.

Essa grande amplitude nas temperaturas, aliada a diferenças na precipitação e altitude, determi-
nam diferenças acentuadas na composição das espécies do Cerrado (Castro, 1994; Ratter et al., 2003).
A paisagem do Cerrado é composta por um mosaico de vegetação, indo de campos de gramíneas até
formações florestais, havendo tipos intermediários de vegetação. As vegetações mais graminosas e aber-
tas são os campos limpos e campos sujos; tornando-se a presença de arbustos e árvores mais frequentes
no cerrado sensu stricto e no cerradão (Ribeiro e Walter, 1998).

Dentre as savanas tropicais, o Cerrado se destaca pela sua grande diversidade de plantas, com
cerca de 12.000 espécies de angiospermas (Mendonça et al., 2008). Na porção herbácea do Cerrado,
há o predomínio da família Leguminosae, com cerca de 780 espécies, seguida pelas famílias Asteraceae
(560 espécies), Poaceae (500 espécies) e Orchidaceae (495 espécies) (Filgueiras, 2002).

O principal tipo de solo do Cerrado são os Latossolos, que cobrem cerca de 45% da região,
sendo seguidos pelos Neossolos quartzonoríticos, que cobrem aproximadamente 15% de sua extensão
(Reatto et al., 1998). Estes são solos geralmente ácidos, com alta concentração de alumínio e baixa con-
centração de nutrientes.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 189


5.2.6 PAMPA

Os campos sulinos são compostos sobretudo por gramíneas e estão incluídos principalmente no
bioma Pampa, localizados ao sul e ao oeste do Estado do Rio Grande do Sul e também de forma descon-
tínua na Mata Atlântica localizada nos platôs elevados do sul do Brasil.

Em algumas regiões, predominam os campos de gramíneas que formam a matriz principal da


região; enquanto em outras regiões, tanto no Pampa como na Mata Atlântica, esses campos formam
mosaicos associados a fragmentos isolados de florestas, localmente, denominado capões, e florestas
ripárias. Estas florestas são de diferentes tamanhos e áreas e contém elementos de florestas decíduas,
semi-decíduas, ou de florestas úmidas com a ocorrência de Araucaria angustifolia.

O clima na região do Pampa é considerado como de transição entre os clima sub-tropical, ao


norte, e o clima temperado, ao sul. A época mais chuvosa coincide com o verão, diminuindo no perí-
odo de inverno, entre os meses de abril e setembro. No entanto, a estação seca não é pronunciada. A
precipitação média anual varia de 1200 a 1600 mm, com temperaturas médias anuais variando de 13
a 17 ºC.

No bioma Pampa, com os limites definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2004), predominam Neossolos, Argissolos e Planossolos. De maneira geral, estas classes de solos, nas
condições em que ocorrem neste bioma, são de média a alta fertilidade, acidez moderada, apresentando
textura média a arenosa no horizonte superficial, característica que determina limitada capacidade de ar-
mazenagem de água. Também são encontrados, na região noroeste do Pampa, os Latossolos – solos com
textura argilosa, ácidos e naturalmente pobres em nutrientes, porém com maior capacidade de armaze-
nagem de água. Ao oeste do Pampa no Estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com Argentina, há
a ocorrência limitada de Chernossolos com caráter carbonático, bastante similares aos solos do Pampa
argentino.

5.3 BASE CONCEITUAL

A base conceitual nesta análise será a ecologia de ecossistemas, a qual, de acordo com Chapin et
al. (2002) investiga as interações entre organismos e o ambiente em um sistema integrado. Esta definição
implica que há uma ligação inerente entre os sistemas físicos e bióticos de um ecossistema. Os seres hu-
manos, como parte do sistema biótico, dependem do sistema físico, sobre o qual exercem uma influência
significativa. Neste sentido, a ecologia de ecossistemas aborda fatores que regulam reservatórios e fluxos
de energia e material fluindo entre o sistema biótico e físico, dos quais o ser humano participa intrinsica-
mente e, diretamente, os altera.

Uma maneira útil de se abordar as interações descritas acima é por meio dos cinco fatores de
estado que interferem na formação dos solos definidos por Jenny (1941). Estes fatores são: o clima re-
gional e global, o tempo, o material de origem e a topografia (Figura 5.4). Mais recentemente, Chapin
et al. (2002) adaptaram este conceito para a ecologia de ecossistemas. De acordo com esses autores,
além dos fatores de estado definidos por Jenny (1941), há ainda fatores interativos que atuam em escalas
locais e que interferem nos processos dos ecossistemas, regulando a dimensão de seus reservatórios. Estes
quatro fatores são: o clima local, o tipo de solo, os grupos funcionais de plantas e animais e perturbações
naturais e antrópicas (Figura 5.4).

190 VOLUME 1
Figura 5.4. Fatores de estado e fatores
interativos que interferem nos processos
ocorridos em nível de ecossistemas.
Fonte: adaptado de Chapin et al. (2002).

Apesar da utilidade da base conceitual descrita acima, é também importante o estabelecimento


de uma equação que relacione os processos básicos do ecossistema com a atmosfera, que é o loci das
mudanças climáticas. Para o carbono, dois processos básicos regulam a troca deste elemento com a
atmosfera: a fotossíntese e a respiração. A produtividade líquida do ecossistema, definida por Schulze et
al. (2000) e modificada por Randerson et al. (2002), interliga elegantemente a atmosfera com a biosfera
através da seguinte equação, simplificada para nosso propósito:

NBP = GPP – Rauto – Rhetero – Lfogo – Llixiviação– Lvoc± Llateral (1)

Onde:
NBP é a medida de balanço de carbono do ecossistema em escala regional;
GPP é a produtividade primária bruta (ganho de carbono pela fotossíntese);
Rauto é a perda de carbono pela respiração autotrófica;
Rhetero é a perda de carbono pela respiração heterotrófica;
Lfogo é a perda de carbono por combustão (queima de vegetação);
Llixiviação é a perda de carbono por lixiviação profunda;
LVOC é a perda de carbono pela emissão de compostos voláteis orgânicos;
Llateral é a perda de carbono pelo transporte lateral de carbono de outros ecossistemas na forma de carbo-
no orgânico dissolvido e particulado e carbono inorgânico dissolvido exportado e importado pelos rios.

Dependendo das magnitudes de perdas e ganhos de carbono, os principais reservatórios de carbono do


ecossistema podem ser alterados e essa alteração pode ser equacionada da seguinte forma:

ΔCecossistema= dCsolo/dt + dCveg/dt + dCaquat/dt (2)

Onde:
ΔCbioma é variação temporal no estoque de carbono em relação ao seu estado original;
dCx/dt é a variação temporal nos estoques de carbono no solo, vegetação e sistema aquático, respecti-
vamente.

Da mesma forma que para o carbono, é possível se investigar fluxos de nitrogênio em um bioma ado-
tando-se o ecossistema como principal unidade de estudo. O seguinte balanço pode ser considerado
(Howarth et al., 1996; Filoso et al., 2006):
ΔNecossistema = FBNF + Fatm-d – Fatm-e ± Flateral (3)

Onde:
ΔNecossistema é a variação no estoque de nitrogênio no ecossistema;
FBNF é a entrada de nitrogênio através da fixação biológica de nitrogênio;
Fatm-d, a entrada de nitrogênio por meio da deposição seca e úmida;

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 191


Fatm-e a perda de nitrogênio através da volatilização e emissões de NO, N2O e N2. Da mesma forma,
perdas ou ganhos significantes de nitrogênio podem acarretar variações significativas nos estoques de
nitrogênio nos principais reservatórios.
ΔNecossistema= dNsolo/dt + dNveg/dt + dNaquat/dt (4)

Onde:
ΔNbioma é variação temporal no estoque de nitrogênio em relação ao seu estado original;
dNx/dt é a variação temporal nos estoques de nitrogênio no solo, vegetação e sistema aquático, respec-
tivamente.

5.4 PRINCIPAIS RESERVATÓRIOS E FLUXOS DE CARBONO E NITROGÊNIO NOS PRINCIPAIS


BIOMAS BRASILEIROS

No geral, existem poucas informações sobre reservatórios e fluxos de carbono e nitrogênio em


nossos biomas. Os dados existentes são fragmentados em termos espaciais e sazonais. Biomas como o
Pampa são especialmente pobres em informações, como pode ser constatado nas Tabelas 5.2 e 5.3.
Portanto, resultados discutidos e conclusões alcançadas neste estudo devem ser vistos frente à escassez
de informações. No entanto, deve-se enfatizar que a escassez de dados básicos sobre nossos biomas
constitui-se em uma informação importante no sentido de orientar futuros estudos e investimentos.

Os mais importantes dos reservatórios de carbono e nitrogênio são aqueles oriundos do solos e
da vegetação. Ainda que haja dados a respeito dos estoques de nutrientes nos solos de todos os biomas
brasileiros, observa-se a ausência de uma padronização quanto à profundidade amostrada (Tabelas 5.2
e 5.3). Estoques de nutrientes nos solos são geralmente quantificados até 1,0m de profundidade. É impor-
tante salientar que há um decréscimo exponencial das concentrações de carbono e nitrogênio em relação
à profundidade do solo, tornando-se difícil qualquer tipo de extrapolação. Feita esta ressalva, nota-se que
os maiores estoques de carbono e nitrogênio até 1,0m de profundidade encontram-se na Mata Atlântica,
seguindo-se a Amazônia e o Cerrado. Comparando-se biomas em que os estoques do solo foram esti-
mados até 20 a 30 cm, observa-se que o maior estoque encontra-se no Pampa, seguindo-se o Pantanal
e a Caatinga, com estoques aproximadamente equivalentes (Tabelas 5.2 e 5.3).

Quanto aos estoques de carbono e nitrogênio acima do solo, destacam-se como biomas com
maiores estoques a Mata Atlântica e, especialmente, a Amazônia (Tabelas 5.2 e 5.3). Os estoques do
Pantanal são extremamente variáveis, em função da variação observada nos tipos de vegetação. Ainda
assim, observa-se que estes estoques são inferiores àqueles observados na Amazônia e na Mata Atlântica
(Tabelas 5.2 e 5.3). A Caatinga e o Cerrado têm estoques acima do solo semelhantes aos estoques ob-
servados no Pantanal. No Pampa, ainda que não haja informação disponível, por predominarem campos
graminosos, supõe-se que seus estoques de carbono e nitrogênio acima do solo sejam menores em rela-
ção aos demais biomas (Tabelas 5.2 e 5.3).

Interessantemente, somente na Amazônia e no Pantanal os estoques de carbono e nitrogênio são


mais elevados na biomassa acima do solo em relação aos estoques do solo; nos outros biomas, os maio-
res estoques concentram-se efetivamente nos solos (Tabelas 5.2 e 5.3).

Uma forma importante de reciclagem interna dos ecossistemas é a transferência de nutrientes via
queda das folhas. Ainda que diferenças acentuadas tenham sido observadas nos estoques de carbono
abaixo e acima do solo, a serapilheira produzida teve uma variação muito menos acentuada entre os
biomas (Tabela 5.2). Os sistemas florestais tendem a ter uma transferência ligeiramente maior em relação
aos sistemas herbáceos-arbustivos, mas não tão mais elevado, se levarmos em consideração a maior
biomassa acima do solo observada nos sistemas florestais (Tabela 5.2). Por outro lado, a transferência
de nitrogênio é significativamente maior nos sistemas florestados da Amazônia e Mata Atlântica, quando
comparados aos sistemas herbáceos-arbustivos, tais como o Cerrado e a Caatinga (Tabela 5.3).

192 VOLUME 1
O fluxo de CO2 do solo para a atmosfera é uma das maneiras pela qual carbono que foi fixado
através do processo de fotossíntese retorna a atmosfera. A despeito das grandes diferenças nos estoques
de carbono do solo, as variações nos fluxos de CO2 não foram elevadas entre os biomas, principalmente
se excluirmos a Amazônia – bioma onde os fluxos de CO2 foram claramente mais elevados (Tabela 5.2).
Ao tratar do nitrogênio, o fluxo de NO, N2O e N2 do solo para a atmosfera é também considerado uma
perda deste elemento do sistema. Neste caso, as diferenças são mais acentuadas entre os biomas, tendo
a Amazônia os maiores fluxos, seguindo-se a Mata Atlântica; fluxos muito baixos foram detectados para
o Cerrado (Tabela 5.3).

Ainda em relação ao nitrogênio, duas formas importantes de entrada deste nutriente nos ecos-
sistemas são a fixação biológica de nitrogênio (FBN) e a deposição atmosférica. No caso da FBN, as
maiores entradas estão associadas aos sistemas florestais da Amazônia e Mata Atlântica, seguindo-se o
Cerrado. Por fim, o Pantanal e a Caatinga apresentam uma quantidade de nitrogênio fixada anualmente
significativamente menor que os três biomas citados acima (Tabela 5.3).

Quanto à deposição atmosférica de nitrogênio, os valores foram semelhantes entre os biomas


e, na maioria dos casos, abaixo dos valores que entram via FBN, sendo ligeiramente mais elevados em
relação aos fluxos de N2O para a atmosfera (Tabela 5.3).

Tabela 5.1. Informações fisiográficas e climáticas sobre os principais biomas brasileiros.

Bioma Área Vegetação1 Solos2 Clima


(km2)
Amazônia 4,20 Florestal Tropicais de baixa fertilidade Equatorial
Mata Atlântica 1,11 Florestal Tropicais de baixa fertilidade Tropical úmido
Pantanal 0,15 Arbustiva-herbácea Tropicais de baixa fertilidade Tropical semi-úmido
Cerrado 2,04 Arbustiva-herbácea Tropicais de baixa fertilidade Tropical semi-úmido
Caatinga 0,84 Arbustiva-herbácea Tropicais férteis e inférteis Tropical semi-árido
Pampa 0,18 Arbustiva-herbácea Sub-tropicais férteis Sub-tropical

1
Tipo de estrato predominante da vegetação
2
Característica geral dos solos

Tabela 5.2. Estoque de carbono no solo e na biomassa e fluxo de carbono entre diferentes compartimentos do
ecossistema para os biomas brasileiros.

Bioma Estoques (Mg C ha-1) Produção de CO2– Res- Troca líquida


Serapilheira piração do do Ecossis-
Solos Biomassa Biomassa
(Mg C ha-1ano-1) solo (Mg C tema (Mg
acima do abaixo do solo
ha-1ano-1) C.ha-1ano-1)
solo
Amazônia1 85 – 100e 95 – 250 100e 2–7 12 – 17 -0,11 a -0,5
Mata Atlântica 2
190 – 280 e
90 – 130 20 – 29 a
2,6 – 4 3,6 ND
Pantanal 3
11,2 – 15,8 b
7,4 – 100,0 36,1 d
2,5 – 5,2 6,5 -1,0 a -1,3
Cerrado 4
72 – 120 e
10 – 35 15 f
1–4 6–8 - 0,1 a -0,3
Caatinga 5
25 b
15 – 25 3–6 e
1,0 – 3,0 2 – 10 ND
Pampa 6
68 c
ND ND ND ND ND

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 193


ND: não determinado
a.até 10 cm de profundidade
b.até 20 cm de profundidade
c.até 30 cm de profundidade
d. até 40 cm de profundidade
e. até 1 m de profundidade
f. até 2 m de profundidade
1. Ometto et al (2005) e outros autores (referências)
2. Villela et al. (2012)
3. Vários autores (referências)
4. Bustamante et al. (2012)
5. Menezes et al. (2012)
6. Pillar et al. (2012)

Tabela 5.3. Estoque de nitrogênio no solo e biomassa e fluxos de nitrogênio entre diferentes compartimentos do
ecossistema para os biomas brasileiros.

Bioma Estoques (Mg N ha-1) Produção de Fixação bi- Emissão de Deposição


Serapilheira ológica de N2O do atmosférica
Solos Biomassa Biomassa
(kg N ha-1 nitogênio solo (kg N ha-1
acima do abaixo do
ano-1) (kg N ha-1 (kg N ha-1 ano-1)
solo solo
ano-1) ano-1)
Amazônia1 1a 1,4 – 2,7 9c 60 – 180 ND 2–7 4
Mata Atlântica 2
14 – 20 c
0,8 – 1,6 0,25 – 0,4 a
90 – 170 ND 1–4 1–6
Pantanal 3
0,5 – 1,9 a
ND ND 64 – 208 2,6 22,2 7,3
Cerrado 4
4,6 c
ND 0,1 d
13 ND ALD 4
Caatinga 5
2,5 b
0,3 – 0,6 0,05 – 0,1 c
20 – 60 3 – 11 ND 5
Pampa ND ND ND ND ND ND ND

ALD: abaixo do limite de detecção do sistema de medição


ND: não determinado
a. até 10 cm de profundidade
b. até 20 cm de profundidade
c. até 1 m de profundidade
d. até 8 m de profundidade
1. Martinelli et al. (2012)
2. Vilella et al. (2012)
3. Watanabe et al. (2012)
4. Bustamante et al. (2012)
5. Menezes et al. (2012)

5.5. IMPACTOS POTENCIAIS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

É incontestável que ainda temos uma visão extremamente fragmentada sobre a ecologia de ecos-
sistemas dos principais biomas brasileiros. Há uma escassez de dados fundamentais que torna extrema-
mente complexa a tarefa de se prever prováveis efeitos das mudanças climáticas sobre os ciclos biogeo-
químicos que ocorrem nesses biomas. O maior volume de informações disponíveis para a Amazônia,
Mata Atlântica e Cerrado faz com que algumas previsões possam ser feitas para estes biomas. No en-
tanto, fica o alerta que tais previsões foram feitas sobre uma base de dados escassa frente ao tamanho e
complexidade desses biomas.

Além deste fato, deve ser também considerado que, devido a fatores relacionados às atividades hu-
manas, vários ecossistemas que compõem os biomas brasileiros se encontram profundamente modificados

194 VOLUME 1
em relação a suas condições naturais. Neste contexto, as paisagens tornam-se fragmentadas, constituin-
do-se de mosaicos compostos pela vegetação original, sendo entremeados por campos agrícolas e áreas
abandonadas. Previsões sob este tipo de paisagem são também extremamente complexas.

Ao mesmo tempo, a falta de informações revela a necessidade urgente do desenvolvimento de


estudos desta natureza em todos os biomas brasileiros, mas, principalmente no Pantanal, Caatinga e
Pampa.

5.5.1 AMAZÔNIA

O único bioma brasileiro onde há dados suficientes para tais simulações é a Amazônia. Nas
últimas décadas, por meio do projeto Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
– LBA (Keller et al., 2009), foram desenvolvidos estudos que incluem desde experimentos de campo em
parcelas de 1ha até o uso de vários modelos de circulação global. O acoplamento das observações de
campo com esses modelos tem produzidos resultados consistentes que permitem certas considerações
sobre mudanças climáticas e ciclos biogeoquímicos (Ometto et al., 2011).

Para a região Amazônia é previsto que para o final deste século haverá um aumento acentuado
na temperatura e uma diminuição na precipitação, principalmente na região leste do bioma (Marengo
et al., 2010). Mais importante ainda para esta região é o cenário extremo conhecido na literatura
como “Amazon dieback”. Neste cenário, previsto pelo modelo HadCM3 do Hardley Center, quando
a vegetação original decrescer aproximadamente pela metade na região leste da Amazônia o clima
mudaria a tal ponto que o resto da floresta seria substituído por uma vegetação tipo savana (Cox et al.,
2004; Marengo et al., 2009). No entanto, Huntingford et al. (2013), utilizando uma compilação maior
de modelos climáticos globais, contrapõem-se à ocorrência da ”savaniação” da Floresta Amazônica, ao
apresentar simulações que não reproduzem as condições ambientais e de resposta da floresta para que
este processo seja estabelecido.

Uma mudança tão profunda na vegetação acarretaria perdas significativas nos estoques de car-
bono tanto do solo, como da vegetação. As perdas de carbono no solo e vegetação são estimadas em 14
Gt e 36 Gt, respectivamente, totalizando 50 Gt de carbono perdidos até o final deste século (Cox et al.,
2004). Além das perdas de carbono, haveria outras mudanças fisiológicas e fenológicas similares àquelas
descritas mais adiante para o Cerrado brasileiro. Tais mudanças se refletiriam não somente no ciclo do
carbono, mas também no ciclo do nitrogênio.

Por exemplo, as florestas amazônicas são ecossistemas ricos em nitrogênio (Martinelli et al., 1999)
e parte desta riqueza advém dos aportes de nitrogênio pela fixação biológica (Tabela 5.3). Com a retirada
da floresta, haverá consequentemente um decréscimo considerado na entrada de nitrogênio no solo via
FBN. Provavelmente, a vegetação subsequente rica em plantas herbáceas será significativamente limitada
por este nutriente, como são as pastagens que substituem a floresta.

Mesmo que não haja uma mudança tão drástica na vegetação, a diminuição das chuvas levará a
um aumento na intensidade do período seco e na frequência de fogo, tanto acidental como intencional.
Após a severa seca de 2005, que novamente ocorreu em 2010, Lewis et al. (2011) estimaram que 1,6
a 2,2 Pg de carbono não foram transferidos da atmosfera para a vegetação, devido à ausência de cres-
cimento das árvores ou à mortalidade que se segue após esses eventos extremos. Por outro lado, o fogo
tem consequências imediatas sobre os estoques de nutrientes das florestas, pois grande parte do carbono
e do nitrogênio estocados na vegetação são perdidos para a atmosfera (Kauffmann et al., 1995), levan-
do a um decréscimo acentuado desses estoques e provocando uma limitação severa no crescimento da
vegetação, fruto da falta de nitrogênio nos solos após repetidos ciclos de fogo (McGrath et al., 2001).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 195


5.5.2 MATA ATLÂNTICA

Ainda temos um conhecimento escasso sobre o funcionamento do bioma Mata Atlântica. A maio-
ria das informações produzidas se concentrou sobre a zona costeira da Região Sudeste do Brasil. Há
também algumas informações disponíveis em relação à Região Nordeste.

Como a maioria dos dados disponíveis sobre os ciclos de carbono e de nitrogênio se refere à Re-
gião Sudeste, consideramos as mudanças climáticas previstas por Marengo et al. (2009, 2010) para esta
região. Consequentemente, esses resultados não se aplicam a latitudes menores do bioma Mata Atlânti-
ca, como é o caso do Nordeste, enfatizando mais uma vez a necessidade urgente de estudos a respeito
desse ecossistema do Brasil.

A mudança mais clara prevista pelos três modelos utilizados por Marengo et al. (2010) seria um
aumento, ao final deste século, da temperatura do ar por todo o País. As alterações de precipitação são
menos robustas, com alto grau de variabilidade entre as regiões brasileiras.

Levando-se em conta tais incertezas, a principal projeção feita seria a que aponta para um de-
créscimo nas chuvas durante o inverno - entre os meses de junho e agosto -, seguido por um aumento da
precipitação durante os meses de verão austral - entre os meses de dezembro e fevereiro (Marengo et al.,
2009).

Uma das mais notáveis características das florestas tropicais é sua habilidade em estocar grandes
quantidades de carbono e nitrogênio, tanto acima como abaixo do solo (Trumbore et al., 1995). Segundo
Meier e Leuschner (2010), um aumento na temperatura poderia transformar ecossistemas florestais em
fontes de carbono. Isto se deve ao fato de que as emissões do chão aumentariam por conta da elevação
da temperatura do ar e do CO2 lançado à atmosfera, o qual não seria compensado pela absorção pela
fotossíntese.

É muito bem estabelecido que as taxas de decomposição e respiração do solo aumentam com as
temperaturas do ar e do próprio terreno (Kirschbaum, 2000; Raich et al., 2006; Wagai et al., 2008). Por
sua vez, incrementos nessas taxas poderiam levar a uma perda de carbono do solo (Biasi et al., 2008;
Dorrepaal et al., 2009).

No caso das florestas de Ubatuba, localizadas no Nordeste do Estado de São Paulo, Sousa Neto
et al. (2011) encontraram um decréscimo consistente na temperatura do solo ao longo de um gradiente
altitudinal. Por conseguinte, houve correlação direta entre temperatura e emissões de CO2 para a atmos-
fera. Tal correlação foi posteriormente confirmada por meio de um experimento de campo conduzido
no mesmo local, onde terrenos a 1.000 m de altitude foram aquecidos artificialmente, observando-se
aumento significativo nas emissões de CO2 (Martins, 2011).

Finalmente, Vieira et al. (2011) encontraram correlação significativa entre estoques de carbono
e nitrogênio, tanto abaixo como acima da superfície, com a temperatura do solo no mesmo gradiente
altitudinal de Ubatuba. Utilizando uma curva de regressão entre estoques e temperatura, esses autores
concluíram que um aumento de 1 ºC na temperatura média do solo resultaria em uma transferência lí-
quida da floresta para a atmosfera de aproximadamente 17 megagramas de carbono por hectare - Mg
C ha-1 - e um megagrama de nitrogênio por hectare - Mg N ha-1.

Para efeito de comparação, vale mencionar que a produtividade de florestas amazônicas de terra
firme varia de aproximadamente 10 a 16 Mg C ha-1 (Aragão et al., 2009), ao passo que a produtividade
primária líquida em florestas montanas da porção andina do bioma varia de 6,0 a 6,5 Mg C ha-1 (Gi-
rardin et al., 2010). Portanto, a potencial perda de carbono e nitrogênio em decorrência do aumento da
temperatura pode ser considerável (Jobbagy e Jackson, 2000; Amundson et al., 2003), ainda que esses
cálculos não tenham levado em consideração eventuais aumentos na produtividade primária devido à

196 VOLUME 1
elevação do calor e concentração de CO2 na atmosfera.

Embora a tendência observada em Ubatuba seja inequívoca, essas conclusões ainda são prelimi-
nares, pois, como se sabe, o processo de decomposição e respiração do solo não depende unicamente
da temperatura (Davidson e Janssen, 2006).

Os ciclos biogeoquímicos são também fortemente afetados pela água, não apenas pela quanti-
dade total, mas pela sazonalidade das chuvas em florestas tropicais (Saiter et al., 2009). Tem sido verifi-
cado para a Mata Atlântica, que os processos de estoque, produtividade da biomassa e de dinâmica do
carbono e nitrogênio são fortemente influenciados pela pluviosidade (Villela et al., 2012). Tal fator climá-
tico altera de forma expressiva o processo de decomposição, já que uma rápida taxa de decomposição é
frequentemente o resultado de maiores quantidades de água, estimulando a quebra da matéria orgânica
e liberação de nutrientes, o que após um periodo de estiagem pode acarretar em pulsos de nutrientes
(Saiter et al., 2009). Tendo-se como base a previsão de intensificação das chuvas durante o verão no
sudeste brasileiro, pode-se esperar que houvesse um incremento nas taxas de decomposição da matéria
orgânica, com consequente perda de nutrientes neste período (Villela et al., 2012). O aprimoramento da
mensuração e estimativas de tais processos é necessário em diferentes tipos fisionômicos da Mata Atlân-
tica, para que seja possível prever com maior precisão os efeitos das alterações climáticas nos processos
biogeoquímicos da Mata Atlântica.

5.5.3 CERRADO

Para o Cerrado, as projeções mais severas indicam que a maioria do bioma sofrerá um aumento
de temperatura em torno de 4 ºC até o final deste século (Marengo et al., 2009), exceto na região de
transição com a Amazônia, onde o aumento da temperatura pode chegar a até 6ºC. As projeções menos
severas de temperatura apontam para um aumento de 2 ºC na parte leste do Cerrado. Quanto à precipi-
tação, as projeções mais severas indicam um decréscimo de 20 a 50% em relação aos valores atuais na
parte central e sul do Cerrado, e uma redução de aproximadamente 70% na porção norte. As projeções
menos severas indicam uma redução de 30% nas partes central e sul e uma redução de 40% na porção
norte.

Mudanças na distribuição das chuvas ao longo do ano também são esperadas no Cerrado brasi-
leiro (Marengo et al., 2010). Na região norte-nordeste do Cerrado, é esperado um aumento de 20 a 30
dias na duração da estação seca (entre os meses de maio e setembro). Da mesma maneira, espera-se um
decréscimo no número de eventos de chuva por ano no estado do Tocantins, nas regiões norte do Estado
de Goiás, nordeste do Estado do Mato Grosso e no centro do Estado de Minas Gerais. Por outro lado, um
aumento no volume de chuva na forma de tempestade é esperado para a região centro-sul do Cerrado.

O balanço entre a vegetação lenhosa e a vegetação herbácea é um importante aspecto da


fisionomia do Cerrado. Estes dois grupos de plantas têm diferentes características não somente no uso
dos recursos e resistência a mudanças, mas também têm diferentes papéis na ciclagem de nutrientes. A
vegetação lenhosa tem estoques de nutrientes mais recalcitrantes na forma de raízes profundas e caules,
enquanto a vegetação herbácea é mais prontamente decomposta (Miranda e Bustamante, 2002). O
aumento projetado da duração da estação seca pode resultar em uma maior incidência de fogo, que
por sua vez, pode favorecer a vegetação herbácea (Filgueiras, 1991), resultando em uma ciclagem de
nutrientes mais aberta em detrimento da vegetação lenhosa.

Outra mudança funcional importante envolvendo as espécies herbáceas seria a alteração da


proporção de espécies com metabolismo fotossintético do tipo C3 em relação a aquelas que apresentam
metabolismo fotossintético do tipo C4. As plantas C3 são inibidas por temperatura e luminosidade eleva-
das, apresentando maior taxa fotossintética sob condições moderadas. Já as plantas C4 são adaptadas
à luz intensa e a altas

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 197


temperaturas. Tais características tem implicações ecológicas importantes e são esperados em função de
um aumento na temperatura e na concentração atmosférica de CO2. Ambientes mais quentes favorecem
a produtividade de espécies C4 (Hattersley, 1983), enquanto ambientes com maiores concentrações de
CO2 tendem a favorecer a produtividade de espécies C3 (Collatz et al., 1998).

Dentre as plantas lenhosas, possíveis alterações climáticas podem afetar as estratégias fenológicas
das plantas. Por exemplo, espécies sempreverdes sofrendo falta de água durante a estação seca podem
perder suas folhas, considerando-se que muitas dessas espécies têm raízes pouco profundas (Goldstein
et al., 2008). Espécies brevidecíduas e decíduas podem também ter sua fenologia e, consequentemente,
seu balanço interno de carbono alterados, resultando no decréscimo da produtividade dessas espécies.
Outro aspecto importante das espécies decíduas, brevidecíduas e sempreverdes é a concentração de pro-
dução de folhas na estação seca (Lenza, 2005). Lenza (2005) sugere que um decréscimo na temperatura
no começo da estação seca pode representar um sinal para senescência e abscisão de folhas em plantas
decíduas e brevidecíduas, mesmo que o conteúdo de água no solo ainda seja alto. Adicionalmente, Lenza
(2005) cogitou a possibilidade que a produção de folhas em todos os grupos fenológicos poderia ser
estimulada pelo aumento da demanda evaporativa da atmosfera e pelo decréscimo do conteúdo de água
no solo. Caso esses fatores ambientais sejam os principais gatilhos para processos fenológicos, pode-se
supor que mudanças climáticas terão um impacto significativo sobre a fenologia das espécies vegetais do
Cerrado.

A produtividade primária do Cerrado pode potencialmente ser reduzida frente às mudanças cli-
máticas projetadas para este bioma. Ainda que possa ocorrer um aumento na eficiência fotossintética
devido ao aumento nas concentrações de CO2 na atmosfera, mudanças na disponibilidade de água e
aumentos da temperatura do ar poderão influenciar de uma forma negativa a produtividade primária
(Bonan, 2008). O aumento da temperatura provavelmente resultará em uma redução do processo fo-
tossintético relacionado com a afinidade da enzima rubisco por CO2 aliado a um aumento na demanda
evaporativa (Berry e Björkman, 1980). O aumento da demanda evaporativa resultará em menos água
para a vegetação e aumento das perdas de água por evapotranspiração. Portanto, haverá uma tendência
de menor abertura dos estômatos durante a fotossíntese, resultando em um decréscimo na taxa fotossin-
tética. Adicionalmente, na estação seca o Cerrado passa a ser uma fonte de carbono para a atmosfera.
Portanto, um aumento na duração deste período implicaria também em uma redução na produtividade
primária do Cerrado.

O mesmo aumento na duração do período seco pode potencialmente resultar em um aumento


na vulnerabilidade aos incêndios que ocorrem tipicamente neste período no Cerrado (Mistry, 1998). O
aumento na ocorrência de eventos de fogo resultaria em uma diminuição dos estoques de biomassa e nu-
trientes. Sob este cenário, os solos teriam um papel importante na manutenção dos estoques de carbono.

5.5.4 CAATINGA

De acordo com as projeções feitas por Marengo et al. (2009, 2010), espera-se para o bioma
Caatinga uma redução no valor total e o aumento da variabilidade nos padrões de precipitação, bem
como um aumento no número de dias secos e da temperatura do ar. As possíveis consequências dessas
mudanças no clima seriam secas mais intensas e frequentes, inundações e a perda de potência na gera-
ção de energia hidroelétrica (MMA, 2004). A produção de alimento também seria seriamente afetada e
o aumento na variabilidade das precipitações afetaria também a pecuária.

Em termos ecológicos, as projeções climáticas para o futuro sugerem uma redução dos já bai-
xos volumes de chuva e do aumento de temperatura, levando a um aumento na evapotranspiração.
Como esses são os parâmetros que mais interferem no funcionamento do bioma Caatinga, espera-se

198 VOLUME 1
mudanças significativas em seu funcionamento. Portanto, estratégias no sentido de aumentar a resiliên-
cia deste bioma são de fundamental importância. Por exemplo, diversos estudos demonstraram que a
regeneração da vegetação nativa aumentaria a eficiência no uso da água, a produtividade primária e os
estoques de carbono e nutrientes no solo. Adicionalmente, sistemas de uso do solo baseados em espécies
perenes podem aumentar a resiliência dos ecossistemas, sendo mais adequado para enfrentar futuras
mudanças climáticas.

A vegetação natural da Caatinga é relativamente bem adaptada à falta de água e altas tempera-
turas. No entanto, não se conhece os limites deste bioma, sendo possível levantar a seguinte questão: até
que ponto aumentos na temperatura e déficit hídrico acentuado afetarão os processos biogeoquímicos
que regulam o funcionamento da Caatinga.

Portanto, estudos de longo prazo sobre o funcionamento da Caatinga sob condições extremas
serão extremamente valiosos para a futura adaptação deste bioma às mudanças globais que se impõe no
futuro.

5.5.5 PANTANAL

Do ponto de vista biogeoquímico, alterações no Pantanal devem ser similares ao que pode ocorrer
no Cerrado devido à latitude e algumas semelhanças fitofisionômicas. Contudo, o Pantanal experimenta
naturalmente mudanças drásticas que podem estar ligadas ao tempo e posição média no verão austral
da banda de chuva da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Dependendo das temperaturas
da superfície do mar (TSM) equatorial no Atlântico e no Pacífico, as ZCAS podem estar mais perto (TSM
maior) ou mais longe (TSM menor) do Pantanal e isso deve refletir diretamente na intensidade e duração
do pulso de inundação anual, interanual, decadal, etc(Bergier e Resende, 2010). O pulso de inundação,
principal modulador da estrutura e função do bioma, sofre, portanto, naturalmente mudanças drásticas,
como pode ser visto na figura abaixo (Figura 5.5).

De 1900 a 1963 o Pantanal experimentou grande flutuação interanual de disponibilidade hídrica,


oscilando entre períodos cheios (> 3 metros na cidade de Ladário) e secos (< 3 metros na cidade de La-
dário) (Bergier e Resende, 2010). Todavia, de 1964 a 1973, as chuvas e os níveis máximos anuais foram
sempre relativamente mais baixos, restringindo a dinâmica temporal ao canto inferior esquerdo do espaço
de fase (em amarelo na Figura 5.5). Nesse período seco as queimadas devem ter sido mais frequentes e
mais acentuadas alterando a organização dos ecossistemas pantaneiros. De 1974 até 2006 as precipi-
tações sazonais estão usualmente acima dos 1000 mm e níveis máximos anuais quase sempre superiores
a 4 metros (Figura 5.2, em vermelho). A análise em espaço de fase revela, portanto, a possibilidade de
ocorrência de um dipolo ou oscilação bimodal nas escalas interanual e decadal.

Neste ano específico, o fato de o Pantanal estar relativamente mais cheio, limitando-se a um
modo do dipolo (em vermelho na Figura 5.2), pode ter diversas causas. Há a projeção de um aumento
da precipitação na região do Pantanal com as mudanças climáticas (Marengo et al., 2009), devido ao
aumento de temperatura dos oceanos e mudanças na circulação atmosférica sobre a América do Sul.Por
outro lado, a mudança no uso da terra no planalto, especialmente a partir da década de 60, de mata
de Cerrado para pastagens (em maior quantidade) e agricultura, pode refletir em um aumento do esco-
amento superficial de água (runoff) do planalto para a planície (Watanabe, 2012), mantendo, portanto,
as planícies relativamente mais cheias mesmo para precipitação anual inferior a 1000 mm (Bergier e
Resende, 2010).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 199


Figura 5.5. Dípolo de cheia ou sucessão da
estação de cheia para a seca no Pantanal,
revelado através de análise em espaço de
fase.
Fonte: adaptado de Bergier e Resende
(2010).

5.5.6 PAMPA

Não há ainda informações suficientes sobre os efeitos dos cenários de mudanças climáticas sobre o fun-
cionamento dos campos sulinos. No entanto, inequivocamente, os campos sulinos guardam apreciáveis
estoques de carbono em seus solos. As baixas temperaturas contribuem para o acúmulo de matéria or-
gânica no solo; portanto, um aumento nas temperaturas como previsto, levaria a um aumento nas taxas
de decomposição, aumentando as emissões de CO2 para atmosfera. Similarmente para a Mata Atlântica,
não é possível ainda prever se esse aumento nas emissões seria compensado por um aumento na produ-
tividade primária líquida do sistema.

5.5.7 ÁGUAS INTERIORES



O território brasileiro hospeda uma das mais densas redes de sistemas aquáticos de água doce
do planeta, contando com mais de 20% da água doce lançada aos oceanos anualmente. Apesar disto, a
distribuição e disponibilidade dos recursos hídricos no Brasil não ocorre de maneira uniforme, reflexo das
dimensões continentais do país. A região Amazônica hospeda a maior quantidade de água doce do país,
enquanto que, na Região Nordeste, encontram-se as maiores carências hídricas, tanto ao sistema natural
quanto ao uso humano.

De forma geral há uma grande incerteza em relação aos efeitos de alterações climáticas nos re-
cursos hídricos do Brasil (Roland et al., 2012). As bacias hidrográficas mais importantes do país, segundo
seus atributos hidrológicos e ecológicos são a do Amazonas, Tocantins-Araguaia, Paraná, Paraguai e São
Francisco. Essas bacias cortam regiões que devem sofrer diferentes impactos relacionados às alterações
de temperatura e precipitação (volume e frequência de chuvas), com efeitos distintos na disponibilidade
de água ao uso humano assim como à manutenção de processos ecológicos. Por exemplo, alterações na
vazão e na temperatura da água podem afetar negativamente a biota aquática.

Os efeitos das alterações climáticas globais em sistemas aquáticos brasileiros serão variáveis
em função dos diversos tipos de sistemas aquáticos. Por exemplo, alterações no padrão hidrológico, em
sistemas lóticos, podem alterar a qualidade do habitat da biota aquática, em sistemas lênticos processos
como eutrofização podem ser mais intensos, assim como, a estratificação na coluna d’água pode ser
mais pronunciada e prolongada, alterando a disponibilidade e qualidade do habitat e consequentemente
afetando as cadeias alimentares. Adicionalmente, esses processos podem favorecer blooms de cianobac-

200 VOLUME 1
-térias em águas eutróficas, acarretando em sério risco à saúde humana (PaerleHuismann, 2008, 2009).
É importante ressaltar que as alterações ambientais antrópicas atuais, que incluem uso do solo, fragmen-
tação da paisagem, represamento e desvio de corpos d’água, urbanização, esgoto e poluentes acarretam
pressões muito maiores aos ambientes aquáticos, a curto prazo, que alterações climáticas.

As projeções climáticas propostas por Marengo et al. (2010) para este século (até 2100), em
cenários de emissões de gases de efeito-estufa A2 (maiores emissões) e B2 (menores emissões), (IPCC,
2007), apontam para um aumento generalizado na temperatura do ar em todo país, assim como um
maior número de noites quentes em oposição à diminuição de noites frias, o que pode afetar a tempera-
tura média dos corpos d’água. Regionalmente, o aumento de eventos extremos associados à frequência
e volume de precipitação também é previsto. Os cenários apontam para diminuição na pluviosidade nos
meses de inverno em todo país, assim como no verão no leste da Amazônia e Nordeste. Da mesma forma
a frequência de chuvas na região Nordeste e no Leste da Amazônia (Pará, parte do Amazonas, Tocantins,
Maranhão) deve diminuir, com aumento na frequência de dias secos consecutivos. Este cenário deverá
impor um stress sério aos já escassos recursos hídricos da região Nordeste. Em contraste, o país deve
observar um aumento na frequência e intensidade das chuvas intensas na região subtropical (Região Sul
e parte do Sudeste) e no extremo oeste de Amazônia.

O efeito do aumento sistemático da temperatura na biota aquática de regiões tropicais é pouco


conhecido. Cussac et al. (2009), em uma revisão sobre peixes neo-tropicais, apresenta a dependência da
ecologia e morfologia destas espécies à temperatura da água, apontando como critica a biodiversidade
aquática o aumento da temperatura devido às alterações climáticas. Por outro lado alterações no meta-
bolismo dos peixes, pelo aumento na temperatura média dos corpos d’água pode determinar redistribui-
ção das espécies e dominação de algumas, mais resilientes, em relação a outras.

A intensidade dos eventos de precipitação, conjuntamente com padrões no uso do solo, define
o padrão do escoamento e o transporte de material orgânico e inorgânico da bacia de drenagem aos
corpos d’água (Johnson et al., 2008), e por conseqüência a dinâmica deposicional destes elementos/nu-
trientes nas áreas de várzea. Este aspecto é crítico na dinâmica dos corpos d’água da região Amazônica e
da Bacia do Paraná, onde os lagos de planície de inundação compõem uma das formas mais abundan-
tes de sistemas lênticos no Brasil. Esses lagos são profundamente afetados pelo pulso de inundação do
rio, desta forma alterações na frequência e intensidade da precipitação pode alterar drasticamente esses
ecossistemas. Da mesma forma as alterações na turbidez da água por aporte maior ou menor de sedi-
mento aos lagos rasos (Mooij et al., 2009), podem influenciar deleteriamente a biota aquática (Meerhoff
et al., 2007).

De acordo com Abe et al., (2009), o processo de eutrofização pode aumentar em regiões sujei-
tas a um aumento de temperatura e no aporte de nutrientes e matéria orgânica para os corpos d’água.
Farjalla et al. (2006) sugerem que o aumento no aporte de material alóctone nos ambientes aquáticos,
especialmente lênticos, pode estimular a produção primária bruta do sistema, no entanto a respiração
do sistema também seria favorecida pela disponibilidade de matéria orgânica autóctone de melhor qua-
lidade no ambiente. Entretanto, esses autores argumentam que a eficiência do sistema pode aumentar
(referenciando Doddse Cole, 2007), ou seja, apesar de haver uma maior disponibilização de matéria
orgânica alóctone, favorecendo a respiração, o resultado seria uma maior produtividade primária liquida
(PPL). Uma melhor compreensão da regulação da PPL é crucial na determinação dos fluxos de matéria
orgânica ao sedimento e da ação do sistema como acumulador de carbono (Thomaz et al., 2007).

O reconhecimento da importância do material alóctone para o metabolismo aquático é ampla-


mente reconhecido. Assim, a heterotrofia é padrão na maior parte dos corpos d’água no Brasil, padrão
semelhante ao encontrado globalmente (Cole et al., 1994). Este fato foi reportado para lagos Amazôni-
cos (Richey et al., 2002), lagos costeiros na região da mata Atlântica (Kosten et al., 2010; Marotta et al.,
2009). Kosten et al. (2010) e Marotta et al. (2009) encontraram a partir de uma base de estudos em 82
lagos rasos distribuídos entre as latitudes 5 e 55oS (Kosten et al., 2010) e 86 lagos de diferentes profun-
didades, forma e latitudes (Marotta et al., 2009) valores relativos de 80% e 87% de ambientes heterotró-

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 201


-ficos, respectivamente. Em sistemas tropicais o aumento na deposição de matéria orgânica ao sedimento
pode ocasionar maiores emissões de metano e dióxido de carbono (Conrad et al., 2010, 2011).

5.6 CONCLUSÕES

As alterações ambientais e climáticas correntes constituem um enorme desafio a curto, médio e
longo prazo à humanidade. A resiliência do ambiente a impactos frequentes e intensificados, constitui
uma questão crucial. Neste contexto, estudos sobre ciclagem biogeoquímica integram vários fatores, e
assim permitem identificar vetores críticos de perturbação do meio. Nossas observações indicam que
alguns sistemas naturais estão preocupantemente impactados no Brasil, como, por exemplo, sistemas
aquáticos continentais (com problemas sérios de poluição orgânica e inorgânica, excesso de nutrientes
e perda dramática de biodiversidade), sistemas estuarinos (com problemas semelhantes aos anteriores,
além de riscos associados à elevação do mares, turismo descontrolado, entre outros), sistemas flores-
tais, com perda de biomassa, biodiversidade e alterações na ciclagem de nutrientes. Em alguns casos,
os impactos são locais, afetando pouco a dinâmica regional destes sistemas, mas diversos casos já se
mostram críticos regionalmente, como o balanço de nitrogênio e carbono, ciclo hidrológico e deposição
atmosférica de aerossóis e particulados. Alterações regionais podem interferir em ecossistemas distantes
da causa do problema, como o desmatamento interferindo no fluxos hidrológicos, ou o fogo interferindo
no metabolismo vegetal pela produção de ozônio em baixa altitude ou de aerossóis que interferem no
balanço energético local.

Ressalta-se com este trabalho a necessidade clara e premente da geração de dados, espacial-
mente explícitos, referentes às alterações do uso e cobertura do solo, da ciclagem de carbono e de nu-
trientes em diversas regiões do Brasil, em especial nos biomas Pampa, o Pantanal e a Caatinga. Esforços
de síntese e compilação, como o protagonizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, são
essenciais para, não só a sistematização da informação, mas também para a identificação de lacunas
críticas da geração de conhecimento ambiental no Brasil. Da mesma forma, a apresentação das informa-
ções de maneira regular, com uma sistemática abrangente, identificando linguagem correta, stakeholders
chaves, e os diversos universos acadêmicos, é um passo importante que o país toma no sentido a difundir
sua base de conhecimento, de produção de novas informações e incentivo às novas gerações ao avanço
científico e tecnológico.

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Watanabe, M.D.B., 2012a: Agricultura, pastagens e mata nativa: cálculo e simulação dos valores mo-
netários dos fluxos hidrológicos e do carbono na Bacia do Taquarizinho utilizando a metodologia emer-
gética. Tese de Doutorado. Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Campinas, SP, 252 pp.

Watanabe, M.D.B. et al., 2012b: Nitrogen cycle and ecosystem services in the Brazilian La Plata Basin:
anthropogenic influence and climate change. Braz. J. Biol., 72(3), suppl., 691-708.

208 VOLUME 1
CAPÍTULO 6

AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS E NUVENS

Autores principais: Alexandre Araújo Costa – UECE; Theotonio Mendes Pauliquevis Júnior – UNIFESP
Autores colaboradores: Enio Pereira de Souza – UFCG; Jorge Alberto Martins – UTFPR; Marcia Yamasoe – USP;
Maria de Fátima Andrade – USP
Autores revisores: Henrique de Melo Jorge Barbosa – USP

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 209


ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 211

6.1 INTRODUÇÃO 211

6.2 AEROSSÓIS DE FONTES NATURAIS NA AMÉRICA DO SUL E EM REGIÕES QUE POSSAM AFETÁ-LA 213

6.3 FONTES ANTRÓPICAS: AEROSSÓIS DE QUEIMADAS E POLUIÇÃO URBANA 215

6.3.1 VISÃO GERAL DAS EMISSÕES ANTRÓPICAS NO BRASIL 215

6.3.2 VALORES TÍPICOS DE CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO 217

6.3.3 CONCENTRAÇÃO DE PARTÍCULAS 219

6.4 INTERAÇÃO AEROSSÓIS-NUVENS: AEROSSÓIS COMO CN, CCN E IN 219

6.5 MICROFÍSICA DE NUVENS E PRECIPITAÇÃO NA FASE QUENTE 222

6.6 MICROFÍSICA DE NUVENS DE FASE FRIA E MISTA 225

6.7 MODELAGEM DOS PROCESSOS ENVOLVENDO AEROSSÓIS, NUVENS E CONVECÇÃO 226

CONCLUSÕES 229

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 230

210 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
A existência permanente de nuvens cobrindo parcela significativa do planeta é uma característica
essencial da circulação geral atmosférica. O balanço de energia da troposfera terrestre mantém-se, em
grande parte, influenciado pela retenção de radiação de onda longa, reflexão para o espaço da radiação
de onda curta e liberação de calor latente associada às mudanças de fase da água. Em todos esses pro-
cessos as nuvens estão envolvidas. Particularmente nas regiões tropicais, a circulação de grande escala é
marcada por um movimento ascendente que leva ao resfriamento por expansão adiabático, concomitante
com uma convergência de vapor d’água. O resfriamento e umedecimento de grande escala precisam
ser compensados por processos de aquecimento e remoção do vapor d’água excedente. A condensação
com liberação de calor latente em nuvens convectivas profundas, o que produz aquecimento, seguida
por processos que levam à precipitação, removendo água da atmosfera, permitem que tal balanço seja
fechado.

Os aerossóis, por sua vez, também exercem papel fundamental no balanço radiativo por sua
complexa interação com a radiação solar, podendo espalhar ou absorver radiação de onda curta, alte-
rando a radiação incidente na superfície, e em circunstâncias específicas, também o perfil termodinâmico
da atmosfera.

Além destes papéis que exercem individualmente, aerossóis e nuvens interagem de maneira mútua.
Concentrações elevadas de partículas de aerossóis alteram propriedades microfísicas de nuvens, com
consequências importantes para a produção de precipitação e seu albedo. Por outro lado, nuvens também
alteram as propriedades de aerossóis, já que propiciam ambiente adequado para sua modificação,
incluindo a ocorrência de reações químicas que se dão preferencialmente em ambiente aquoso como na
produção de sulfato.

Neste capítulo é apresentada uma revisão de algumas das principais contribuições científicas para
a caracterização dos efeitos dos aerossóis atmosféricos sobre o Brasil, incluindo o papel exercido por
suas fontes naturais e antrópicas, como queima de biomassa, poluição urbana, dentre outras e para o
entendimento dos processos de microfísica de nuvens. O texto visa, ainda, identificar algumas lacunas do
conhecimento importantes que requerem avanços do ponto de vista teórico, observacional e de modelagem
com vistas ao seu preenchimento. Tais contribuições e lacunas encontram-se ligadas particularmente:

• Ao entendimento dos processos de produção e transporte de aerossóis sobre o continente


sulamericano, incluindo fontes naturais e antrópicas locais e remotas;

• À influência desses aerossóis na formação de nuvens, ao servirem como núcleos de condensação


(CCN) e de gelo (IN), incluindo o papel de sua variabilidade espacial e temporal, o que inclui contrastes
dramáticos como o identificado na Amazônia, associados à ocorrência de queimadas predominantemen-
te nas porções sul e leste dessa região e sobre o Brasil central, durante a estação seca;

• Às propriedades microfísicas das nuvens sobre o continente sulamericano, incluindo observações


em nuvens quentes e de fase mista já realizadas sobre território brasileiro, e as possíveis implicações sobre
as propriedades radiativas e sobre o ciclo hidrológico;

• Ao papel das nuvens e da convecção sobre a circulação e sobre a termodinâmica da atmosfera


em escalas maiores, bem como à representação das mesmas em modelos numéricos de circulação geral
e de área limitada.

6.1 INTRODUÇÃO
O termo aerossol refere-se a um sistema em que partículas, sólidas e/ou líquidas, estejam em
suspensão em um gás. Dentro desta definição, a própria atmosfera pode ser considerada um aerossol.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 211


Entretanto, o termo aerossol é mais comumente utilizado para se referir às partículas em si (inclusive gotas
de nuvens), e este é o significado adotado neste texto (Seinfeld e Pandis, 2006).

Os aerossóis exercem um papel importante no clima. Participam do balanço radiativo, espalhan-


do e/ou absorvendo radiação solar e terrestre. No balanço climático global, os aerossóis têm um papel
de resfriamento, já que sua forçante radiativa líquida é negativa (Solomon et al., 2007). Além de interagir
diretamente com a radiação, é sobre uma fração das partículas de aerossóis (os chamados CCN, do
inglês Cloud Condensation Nuclei) que se formam as gotículas de nuvens em seu estágio inicial de forma-
ção.

As partículas de aerossóis presentes na atmosfera provêm tanto de fontes naturais como antrópi-
cas. Como fontes naturais, podem-se citar os aerossóis marinhos, a poeira de solo, emissões vulcânicas
e biogênicas, entre outras. Como fontes antrópicas, destacam-se na América do Sul as emissões de
queimadas devido às mudanças de uso da terra (principalmente na fronteira agrícola na Amazônia) e as
emissões em áreas urbanas, com foco nas emissões veiculares. Importante ressaltar que além de serem
emitidas diretamente por suas fontes (os aerossóis primários), partículas também podem ser produzidas na
atmosfera livre pelo processo de “Conversão Gás-Partícula” (GPC, do inglês gas-to-particle conversion),
ou seja, gases que uma vez emitidos passam por processos químicos e físicos que tem como conseqüên-
cia final a sua transformação em partículas. Tais aerossóis são denominados “secundários”. O processo
GPC é importante tanto em condições poluídas como limpas, sendo, por exemplo, o mais importante me-
canismo de formação de CCN naturais na região amazônica (Poschl et al., 2010; Martin et al., 2010b).

As partículas de aerossóis também podem ser classificadas por sua faixa de tamanho. Aquelas
com diâmetro menor que 2,5 mm são da chamada “moda fina” ou fração fina, enquanto aquelas entre
2,5 mm e 10 mm constituem a “moda grossa”. Esta divisão tem duas razões. Primeiramente, em termos
de potencial de causar doenças no trato respiratório, pois as partículas da moda grossa são barradas no
trato respiratório superior. Já as da moda fina são capazes de penetrar até o nível de alvéolos pulmonares
sendo, portanto, potencialmente mais danosas à saúde. Tipicamente, os aerossóis gerados por processos
de combustão são predominantemente da moda fina.

Diferentemente dos gases de efeito estufa, que tem um tempo de permanência na atmosfera da
ordem de anos, os aerossóis tem um ciclo de vida na atmosfera da ordem de alguns dias, no máximo
semanas. Os mecanismos de remoção dos aerossóis são relacionados à sua faixa de tamanho. No caso
da moda grossa, a deposição gravitacional é muito importante. Já as partículas da moda fina, por terem
velocidades terminais de deposição gravitacional muito baixas, estão sujeitas ao transporte pelos ventos,
podendo ser levadas a milhares de quilômetros de onde foram produzidas. Exemplo disso são as plumas
de queimada que se espalham por milhões de km2 pelo continente sulamericano, nos meses da estação
seca (Freitas et al., 2005a, 2005b, 2009).

A remoção das partículas finas ocorre predominantemente pela deposição úmida, ou seja, por
sua interação com nuvens e precipitação. As partículas de aerossóis nucleiam gotículas, sendo incor-
poradas a estas já no processo inicial de formação da nuvem. Além disso, quando ocorre a chuva, as
partículas abaixo da nuvem são removidas por impacto com as gotas de chuva, limpando a atmosfera.

O 4º relatório do IPCC (Solomon et al., 2007) apresentou estimativas de magnitude para a forçante
radiativa de aerossóis (dividida nos efeitos direto e indireto1 ). Além de ser uma forçante que resulta em
resfriamento da atmosfera, sua barra de incerteza (principalmente para o chamado efeito indireto dos
aerossóis) é a maior de todas. De fato, o efeito radiativo dos aerossóis nas nuvens pode ser desde muito
pequeno, até atingir valores que confrontam o efeito da forçante do CO2, por exemplo. Além disso,
apesar do entendimento de que elevadas concentrações de aerossóis podem inibir a formação de chuva
quente, ainda é bastante incerto o seu efeito sobre o campo total de precipitação (Rosenfeld et al., 2008),
uma vez que a maior parte da chuva observada em superfície está associada a nuvens de fase mista. No
caso do efeito dos aerossóis na precipitação devido às queimadas, Vendrasco et al. (2009) discutem um
possível mecanismo dinâmico que explica os resultados contraditórios na literatura (aumento ou diminui

212 VOLUME 1
ção da precipitação) devido às queimadas. Estas são algumas das motivações para o grande interesse da
comunidade científica no aumento do conhecimento do efeito dos aerossóis no clima.

Neste capítulo, em cada seção, é dada ênfase a um dos aspectos descritos nesta introdução. Na
seção 6.2 é descrito o conhecimento atual sobre os aerossóis naturais. Na seção 6.3, são descritas as
propriedades dos aerossóis de origem antrópica. Nas seções 6.4 são descritas as propriedades de aeros-
sóis que são relevantes por seu papel como CCN e também como núcleos de gelo (IN, do inglês Ice Nu-
clei) e, nas seções 6.5 e 6.6, os seus efeitos nas propriedades micro e macroscópicas de nuvens quentes
(sem formação de gelo) e frias e de fase mista (com presença de gelo). As seções 6.7 e 6.8 descrevem as
consequências dessas alterações na circulação geral da atmosfera, bem como os desafios em se modelar
e compreender tais fenômenos.

6.2 AEROSSÓIS DE FONTES NATURAIS NA AMÉRICA DO SUL E EM REGIÕES


QUE POSSAM AFETÁ-LA
A importância de determinar corretamente a contribuição das fontes naturais para o balanço
de partículas de aerossóis na atmosfera se insere num contexto científico maior: o de conhecer como a
atmosfera funcionaria sem a contribuição de emissões antrópicas. Andreae (2007) assinala esta impor-
tância, particularmente quanto à magnitude da mudança climática, bem como as dificuldades inerentes
de se obter tal estimativa.

Diversos experimentos realizados na região amazônica foram capazes de qualificar e quantificar


de maneira bastante completa a composição do aerossol presente na atmosfera amazônica. As primeiras
campanhas intensivas de medidas aconteceram nos anos 80, com os experimentos ABLE (Amazonian
Boundary Layer Experiment) (Harriss et al., 1988, 1990). Os resultados obtidos nestes experimentos mo-
tivaram a criação do experimento LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera Atmosfera da Amazônia)
(Avissar e Nobre, 2002; Davidson e Artaxo, 2004), que consolidou um sólido corpo de conhecimentos
científicos nesta área.

No território nacional, fora da bacia amazônica há poucos trabalhos relacionados a aerossóis


de fontes naturais, sendo mais comuns os estudos focados em emissões de poluentes. Ainda que nestes
trabalhos também seja possível determinar a fração do material particulado que corresponde à contri-
buição natural via análise multivariada, sua caracterização completa torna-se muito mais complicada.
Por exemplo, Andrade et al. (2012) realizaram medidas empregando filtros em seis capitais brasileiras e
determinaram que, por exemplo, na cidade de Recife (PE), cerca de 24% do material particulado fino é
devido à presença de aerossol marinho e 8% devido à poeira de solo. Entretanto, variáveis importantes
como distribuição de tamanho, papel como CCN e processos de nucleação relacionados à componente
natural do aerossol atmosférico não podem ser corretamente determinadas, uma vez que em uma at-
mosfera urbana processos relativos à formação de aerossóis secundários ocorrem de maneira totalmente
distinta daquela que ocorreria em uma atmosfera remota. Devido a esta limitação, esta seção irá focar
nos estudos disponíveis para a região amazônica. Encerraremos a seção com indicações de regiões onde
medidas de aerossóis naturais podem e devem ser realizadas.

A composição do aerossol natural na região amazônica pode ser observada durante a esta-
ção chuvosa, quando atividades relacionadas às queimadas são desprezíveis. A conclusão geral dos
trabalhos focados na região é de que o aerossol natural amazônico é uma soma das contribuições

1
O efeito direto dos aerossóis corresponde ao espalhamento ou absorção de radiação de onda curta ou
longa. O efeito indireto é o mecanismo pelo qual os aerossóis modificam as propriedades microfísicas
das nuvens, com impactos sobre suas propriedades radiativas (especialmente o albedo, o que caracteriza
o chamado 1o efeito indireto, efeito Twomey ou efeito no albedo), a cobertura total de nuvens e o seu ciclo
de vida (2o efeito indireto, efeito Albrecht ou efeito no ciclo de vida)

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 213


do transporte de aerossol marinho para dentro do continente (4%), episódios de transporte de poeira
do Saara (9%) e emissões biogênicas da vegetação (87%) (Pauliquevis et. al., 2012). Em termos de con-
tribuição absoluta à massa do material particulado, as emissões biogênicas primárias são dominantes
(Pauliquevis et al., 2012; Artaxo et al., 2002; Gilardoni et al., 2011).

Medidas realizadas por três anos na Amazônia Central (Pauliquevis et al., 2012) mostram que a
massa total de aerossóis durante a estação chuvosa é dominada (74%) pela moda grossa, predominan-
temente por emissões biogênicas primárias. Tais emissões são devidas à própria vegetação, que contribui
com fungos, esporos, pólen, fragmentos de folhas, etc. Da moda fina (26% da massa total), 45% corres-
ponde à emissão biogênica, 17% poeira de solo e 38% composto de outra fonte de aerossóis biogênicos
ainda mal estabelecida, mas que exerce papel importante na absorção de radiação (Pauliquevis et al.,
2012). Esse comportamento óptico não ocorre com emissões biogênicas da fração grossa.

Nessa mesma região, de maneira geral as concentrações de partículas são muito baixas, da
ordem de 200 cm-3 (e.g.: Martin et al., 2010a, 2010b; Gunthe et al., 2009; Artaxo et al., 2002; Rizzo
et al., 2010; Ahlm et al., 2010a, 2010b). A fração destas partículas que atua como CCN foi explorada
por Roberts et al. (2001, 2002) e mais recentemente por Gunthe et al. (2009). Neste trabalho, os autores
mostram que o parâmetro de higrospicidade2 k típico do aerossol natural amazônico está no intervalo
0,16 +- 0,06, o que é muito abaixo da média mundial para regiões continentais (~0,4). Também mostra
que o aerossol orgânico corresponde a 90% das partículas na moda de nucleação (d~50 nm) e 80% na
moda de acumulação (d ~ 200 nm). Variações na higroscopicidade estão associadas ao aumento da
fração de sulfato na atmosfera, elevando o seu valor (Chen et al., 2009; Gunthe et al., 2009).

Assim como as concentrações de partículas, as de CCN também foram muito baixas, variando
entre 35 cm-3 até 160 cm-3 no intervalo de supersaturação 0,10% - 0,82%. Este resultado é importante,
em particular, para fins de modelagem global do efeito indireto de aerossóis, uma vez que o emprego do
valor médio de k levaria a uma superestimativa da capacidade de nucleação de gotas do aerossol natural.

Martin et al. (2010a) e Chen et al. (2009) mostram que na porção submicrométrica os aerossóis
orgânicos secundários (AOS) biogênicos compreendem a maior parte do número de partículas, ao invés
de emissões primárias. Tais resultados também são corroborados por Ahlm et al. (2009) e Rizzo et al.
(2010). Chen et al. (2009) também mostrou que a contribuição de AOS pode estar relacionada tanto
com partículas originadas na bacia amazônica, como também devido ao transporte de larga escala. Por
outro lado, partículas com diâmetro maior que 1 mm estão predominantemente associadas com emissões
diretas da vegetação (Poschl et al., 2010; Martin et al., 2010a, 2010b). Esta conclusão é importante,
pois como a fração submicrométrica domina a concentração de partículas, os mecanismos relaciona-
dos aos AOS são também os mais relevantes para a modulação da concentração de CCN na região.

Além de emissões biogênicas, a região amazônica também recebe episodicamente aerossóis de


poeira do Saara quando condições meteorológicas favoráveis ao transporte em escala intercontinental se
estabelecem. Diversos trabalhos documentaram este transporte tanto a partir de medidas in situ (Artaxo et
al., 1990; Formenti et al., 2001; Prenni et al., 2009; Talbot et al., 1990) como por sensoriamento remoto
(Baars et al., 2011; Ansmann et al., 2009; Ben-Ami et al., 2010; Kaufman et al., 2005). O papel des-
sas partículas no ecossistema amazônico ainda não é consensual. Há trabalhos que discutem seu papel
na “fertilização” por fósforo, micronutriente crítico para o funcionamento do ecossistema. Bristow et al.
(2010) sugere que a depressão de Bodelé, no Chade, pode ser a maior fonte individual de poeira mine-
ral da Terra, exportando cerca de 6,5 Tg de Ferro e 0,12 Tg de Fósforo. Como o caminho preferencial
dessa poeira passa pelo oceano Atlântico chegando até a América do Sul, parte desse particulado atinge
a Amazônia, depositando quantias significativas deste micronutriente no ecossistema. Em longo prazo,
este aporte pode ser crítico para a manutenção dos níveis mínimos de Fósforo para o funcionamento do
ecossistema. Indo um pouco mais além, Mahowald et al. (2005) mostra a partir de medidas in situ e de
modelagem que quantias significativas de fósforo são exportadas para outras regiões carregadas com as
plumas de queimadas. Este montante de fósforo é, então, depositado em outros lugares e, irremediavel-
mente, perdido pelo ecossistema. O impacto destas perdas para o ecossistema é uma questão em aberto.

214 VOLUME 1
Além deste papel, Prenni et al. (2009) mostrou que episódios de transporte de poeira do Saara
para a Amazônia estão relacionados também com aumento da concentração de IN, ou seja, a fração das
partículas de aerossol que são responsáveis por nuclear gelo dentro das nuvens. Mais medidas são ne-
cessárias neste sentido, dada a completa escassez de observações de IN tanto em escala nacional como
mundial. Os potenciais efeitos desse tipo de transporte para as nuvens da região também é uma questão
em aberto.

Para ampliar o conhecimento do papel das emissões naturais sobre o campo de aerossóis no
território brasileiro, é necessário realizar estudos sobre outros biomas, além do amazônico. Isto inclui
regiões oceânicas próximas (que influenciam o campo de aerossóis via transporte para a costa brasileira),
o interior do Nordeste (possivelmente influenciado por emissões biogênicas da caatinga e poeira de solo
regional), o Pantanal Mato-Grossense e os refúgios de Mata Atlântica ainda existentes, para as quais há
uma grande lacuna de medidas. Emissões vulcânicas de países vizinhos eventualmente alcançam o terri-
tório nacional, podendo influenciar a composição do aerossol observado e merecem mais estudos para
determinar sua real influência.

6.3 FONTES ANTRÓPICAS: AEROSSÓIS DE QUEIMADAS E POLUIÇÃO URBANA


6.3.1 VISÃO GERAL DAS EMISSÕES ANTRÓPICAS NO BRASIL

No Brasil, as principais fontes antrópicas de gases de efeito estufa estão relacionadas às mudan-
ças de uso da terra. Durante a estação seca, as queimadas constituem a principal fonte de partículas de
aerossol para a atmosfera de vastas áreas do Brasil, particularmente sobre o arco do desflorestamento
na região amazônica e áreas de cultivo de cana-de-açúcar. De acordo com o Inventário Brasileiro de
Emissões de Gases de Efeito Estufa (MCT, 2013) em 1994, cerca de 75% das emissões de CO2 estavam
relacionadas a este setor. Sabe-se que a parte predominante destas emissões ocorria no Arco do Des-
florestamento na Amazônia, onde a conversão de florestas em áreas agrícolas ou de pastoreio acontece
a taxas elevadas. Não há menção às emissões de partículas de aerossóis no Inventário. Entretanto, sa-
be-se que no caso de queimadas esta grande emissão de CO2 está fortemente vinculada a emissões de
partículas (Yamasoe et al., 2000), com fatores de emissão bem determinados. Soma-se a isso a grande
quantidade de biomassa envolvida nas queimadas quando se trata da região amazônica (da ordem de
200-400 ton ha-1) e a extensão das plumas de queimada, que alcança a escala continental, conforme
evidências a bordo de sensores orbitais (Freitas et al., 2005ª, 2005b, 2009).

Yokelson et al. (2008) estima que para a região amazônica o fator de emissão médio para partí-
culas com tamanho menor que 2,5µm é de 8 Tg ano-1 e para partículas com tamanho menor que 10µm
é da ordem de 10 Tg ano-1. Ainda que em anos recentes tenha sido observada uma redução nas taxas
de desmatamento (INPE, 2008; Koren et al., 2007), é certo que as queimadas na Amazônia são ainda a
principal fonte antrópica de partículas de aerossol em escala continental na América do Sul e no Brasil.
Em menor escala, mas com importante impacto no clima regional, também ocorrem queimadas nas cul-
turas de cana de açúcar (Lara et al., 2005; Vendrasco et al., 2005).

A importância das queimadas feitas na região amazônica pode ser observada através da Figu-
ra 6.1, referente ao ano de 2010. À esquerda, é mostrado o número total de focos de queimada no
ano de 2010 e, à direita, a profundidade óptica de aerossóis (AOD, λ = 550 nm), obtida pelo sensor
MODIS. Pode-se observar que, ainda que a maior concentração de focos ocorra no estado do Tocan-
tins, leste do Mato Grosso, sudeste do Pará, com quantias importantes de focos no Paraguai, Bolívia,
e São Paulo (porções leste e norte), os maiores índices de AOD ocorreram sobre Rondônia e Mato
Grosso, além da Bolívia. Essa discrepância é explicada pelo diferente conteúdo de biomassa queimada.

2
A higroscopicidade é uma medida da afinidade do aerossol com a água. Quanto maior a higroscopici-
dade, maior a habilidade da partícula em nuclear uma gota de nuvem.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 215


De fato, o impacto da queima de biomassa de floresta primária na Amazônia é muito maior do que em
outros tipos de vegetação como cerrado ou culturas agrícolas.

Figura 6.1. Acima (esquerda), número de


focos de queimada no ano de 2010
(fonte: http://sigma.cptec.inpe.br/
queimadas/); Acima (direita), valor médio
anual (2010) de profundidade ótica de
aerossóis na moda fina (fonte: NASA,
obtido em http://disc.sci.gsfc.nasa.gov/
giovanni/overview/index.html). A direita:
campo de ventos e concentração de
aerossóis em, um episódio de queimadas
em agosto de 2002, mostrando como
emissão e campo de ventos interagem
gerando a distribuição espacial da pluma.


Como pode ser deduzido pela mesma Figura 6.1 (acima a direita), as plumas de fumaça podem
se estender por centenas a milhares de quilômetros de distância dos focos emissores, podendo atingir
regiões ainda com vegetação intacta ao norte, a Cordilheira dos Andes, a oeste, as porções sul e sudeste
da América do Sul, passando, por exemplo, sobre Buenos Aires, na Argentina, e o oceano Atlântico, com
vários episódios de detecção sobre a cidade de São Paulo (Freitas et al., 2005a, 2009; Landulfo et al.,
2005). Esta extensão de cobertura da pluma de queimadas está associada com o padrão de ventos. Com
a alta pressão que se estabelece na região do Brasil Central na estação seca, o caminho preferencial das
plumas é no sentido anti-horário, seguindo o jato de baixos à leste da cordilheira dos Andes. Isto é o que
se pode ver na figura na parte inferior da figura 6.1 (Freitas et. al., 2012).

216 VOLUME 1
Por outro lado, há uma importante contribuição de emissões situadas em regiões urbanas, fruto
principalmente de emissões veiculares. Ainda que não sejam majoritárias no conteúdo total de emissões,
as partículas de aerossol das emissões urbanas exercem papel importante no clima urbano e na saúde
pública das metrópoles brasileiras (e.g: Andrade et al., 2012).

6.3.2 VALORES TÍPICOS DE CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO

A Tabela 6.1 mostra valores médios de concentração de material particulado inalável (PM10) e
fino (PM2.5) em regiões influenciadas por queimadas e por emissões urbanas. Pode-se observar que a
maior concentração de material particulado (tanto PM2.5 quanto PM10) ocorre nas regiões impactadas
por queimadas, em Rondônia e Alta Floresta durante o período seco, quando a concentração média foi
maior que o dobro do observado em São Paulo, a cidade com a maior frota veicular do País. Por outro
lado, a porcentagem de Black Carbon, que corresponde a fração dos aerossóis associada a processos de
combustão3 foi maior nas regiões urbanas.

Tabela 6.1. Concentração média, em μg/m3, de material particulado inalável, fino e BC medidos em seis
capitais brasileiras de 2007 a 2008, e em áreas sujeitas a queimadas com a contribuição relativa de BC no
PM2.5.

PM10 PM2.5 BC (moda fina) %BC


São Paulo 34 ± 5a1,a2 28 ± 14b 11 ± 6 38 ± 14
Rio de Janeiro 45 ± 18a2 17 ± 11b 3,4 ± 2,5 20 ± 7
B. Horizonte 20 ± 4a2 15 ± 8b 4,5 ± 3,3 31 ± 13
Curitiba 28 ± 8a2 14 +- 10b 4±4 30 ± 11
Porto Alegre 29 ± 7a2 13 ± 10b 5±4 26 ± 11
Recife N/A 7 ± 3b 1,9 ± 1,1 26 ± 12
Rondôniac 83 ± 64 67 ± 55 7±6 11 ± 2
(estação seca)
Alta Florestad 37 ± 25* 63 ± 55 8±6
(estação seca)

a1
CETESB (2011); ref. ano 2009
a2
Instituto de Energia e Meio Ambiente (2014) 1o Diagnóstico da rede de monitoramento de qualidade de
ar no Brasil (ref. ano 2009)
b
Andrade et al. (2012)
c
Artaxo et al. (2002)
d
Maenhaut et al. (2002)
*
Moda grossa

Estudos aplicando análise multivariada a estas bases de dados conseguiram avaliar a contri-
buição de diversas fontes de material particulado para o seu conteúdo total na atmosfera. A Figura 6.2
mostra resultados dessa análise para regiões urbanas e impactadas por queimadas para o particulado
fino. As emissões veiculares somadas às partículas de origem crustal (devidas à ressuspensão de poeira)

3
O Black Carbon, que em português tem diversos nomes (p.ex. “negro de fumo”, ou “carbono negro”) é a
fração do material particulado que tem a propriedade de ser forte absorvedor de radiação. Corresponde
a chamada fuligem, e tipicamente é associada a processos de combustão como motores a combustão e
queima de biomassa.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 217


são a contribuição majoritária em áreas urbanas. Nas cidades litorâneas, entretanto, parte importante
do particulado recebe contribuição (natural) do spray marinho. Com relação a regiões impactadas por
emissões intensas de queimadas, pode-se observar que o estudo conduzido em Alta Floresta (MT) nos
anos de 1996-1997 por Maenhaut et al. (2002) indicava que 70% do material particulado fino foi devido
às queimadas durante o período seco. A contribuição da fonte “solo” também é significativa e está asso-
ciada à própria turbulência gerada pela queimada, que atua no sentido de levantar particulado de solo.
No ambiente urbano, esta mesma porcentagem do material particulado fino (cerca de 70%) se deve às
emissões veiculares (Castanho et al., 2001; Andrade et al., 2012).

Pode-se observar também na Tabela 6.1 que a concentração de Black Carbon não é muito dife-
rente quando se compara regiões urbanas com áreas na Amazônia sujeitas às emissões de queimadas,
ainda que o total de PM10 e PM2.5 seja muito diferente. Essa similaridade está relacionada ao tipo de
processo de combustão. Nas cidades, a maior parte do Black Carbon está associada com veículos mo-
vidos a diesel, enquanto no caso de queimadas a origem é a queima de biomassa. Estes dois processos
de combustão ocorrem em temperaturas muito diferentes, sendo muito maiores, no caso dos motores a
diesel. Assim, enquanto nas emissões de queimadas há uma porcentagem alta (~80%) do material par-
ticulado que é de carbono orgânico (Artaxo et al., 2002), em áreas urbanas essa fração é muito menor.

Majoritariamente, tanto nas regiões urbanas como sob influência de queimadas, ocorre um acrés-
cimo significativo na massa de particulado na moda fina. A consequência disso é um impacto grande no
aumento da incidência de doenças respiratórias. Aliado a isto, o particulado fino tem tempo de residência
mais elevado, o que torna eficiente seu transporte a distâncias muito grandes da sua fonte. Em particular,
no caso de queimadas, as plumas oriundas da queima de biomassa na Amazônia atingem porções sig-
nificativas da América do Sul, tendo um grande efeito na forçante radiativa direta e indireta (vide capítulo
7). Além disso, como parte significativa do material particulado ocorre na forma de Black Carbon, quando
em suspensão esta pluma tem a capacidade de aquecer os níveis médios da troposfera gerando estabili-
dade atmosférica e inibição da convecção rasa (Koren et al., 2004; Feingold et al., 2005).

Figura 6.2. Contribuição


percentual de cada fonte
de particulado fino para o
total da massa de aerossóis
em 5 capitais brasileiras
(Andrade et al., 2012)
e em Alta Floresta (MT)
(Maenhaut et al., 2002),
região impactada por
queimada.

218 VOLUME 1
6.3.3 CONCENTRAÇÃO DE PARTÍCULAS

Enquanto do ponto de vista de incidência de problemas de saúde na população deve-se conside-


rar a massa do material particulado como o indicador mais adequado, no caso do efeito dos aerossóis
em nuvens a concentração (número) de partículas na atmosfera é o valor mais relevante. Isto se deve ao
fato de que para a formação de uma gota de nuvem deve haver uma partícula de aerossol aonde o vapor
de água possa se depositar. Assim, considerando a hipótese de que a quantia de vapor na atmosfera seja
a mesma, o número de gotas na base de uma nuvem será muito maior se ela se formar a partir de uma
massa de ar poluída do que quando comparada com uma massa de ar limpa. Consequentemente, o raio
efetivo da distribuição de gotas na base destas duas nuvens hipotetizadas acima será muito diferente –
devido à suposição de que o conteúdo de vapor se conserva.

Medidas realizadas na bacia amazônica durante o experimento LBA/SMOCC (Smoke Aerosols,


Clouds, Rainfall and Climate) 2002 (Fuzzi et al., 2007) em região de pastagem em Rondônia cobriram
um período com intensa atividade de queimadas (setembro), transição (outubro) e o início da estação
chuvosa (novembro). Rissler et al. (2006) obteve medidas in situ da distribuição de tamanho de partículas,
apresentada na Figura 6.3. Pode-se notar claramente o grande aumento no número de partículas no
período seco em função das queimadas. Observa-se também que esse grande aumento no número de
partículas ocorre principalmente a partir de 50 nm de diâmetro, uma faixa de tamanho na qual a partícula
de aerossol já tem significativa capacidade de atuar como CCN. Como parâmetro de comparação, o
número médio de partículas em região remota da Amazônia reportado por Zhou et al. (2002) é de 450
cm-3.

Período Concentração
média (cm-3)
Seco 5260
Transição 3270
Chuvoso 1242

Figura 6.3. Distribuição de tamanho de


partículas em diferentes condições,
verificadas durante o experimento LBA-
SMOCC. Ver texto para detalhes.

Em áreas urbanas, no Brasil, não há trabalhos que reportem medidas de concentração de par-
tículas. É importante que tal tipo de medida seja realizada para que seja possível criar estimativas da
influência das emissões urbanas na microfísica de nuvens.

6.4 INTERAÇÃO AEROSSÓIS-NUVENS: AEROSSÓIS COMO CN, CCN E IN

O papel dos aerossóis no balanço de energia do sistema Terra-Atmosfera é normalmente classifi-


cado como efeito direto e indireto, sendo o primeiro dado pela interação direta com a radiação (absorção
e espalhamento) e o segundo através da modificação das propriedades microfísicas e, por consequência,
na dimensão e no ciclo de vida das nuvens. Neste último caso, um parâmetro chave é o número de partí-
culas de aerossol com capacidade de atuar como CCN e IN. Existe ainda um terceiro efeito dos aerossóis,
comumente denominado de “semi-direto”. Este efeito consiste na absorção de radiação pelos aerossóis
troposféricos, tendo como consequência o aquecimento da camada na qual se encontram. Consequente-
mente, tais efeitos alteram a condição de estabilidade atmosférica, influenciando a formação das nuvens
(Hansen et al., 1997). Conforme já explicitado no texto, este efeito ainda é bastante incerto com rela-
ção à sua magnitude e mesmo com relação ao sinal de sua forçante radiativa, os efeitos indiretos dos
aerossóis têm papel relevante no ciclo hidrológico e no balanço de energia no sistema Terra-Atmosfera.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 219


Dessa forma, quando originário das atividades humanas, esse papel exercido pelos aerossóis torna-se
mais relevante ainda, razão pela qual diversos projetos de pesquisa se propõem à sua caracterização e ao
estudo de suas propriedades físico-químicas. Nesta seção, serão apresentados resultados de estudos re-
alizados na América do Sul investigando o papel dos aerossóis como CCN e, quando possível, como IN.

O primeiro efeito indireto dos aerossóis se caracteriza pelo aumento na concentração de CCN,
e por consequência gotículas de nuvem, para um conteúdo de água líquida mantido fixo. Neste caso,
gotículas menores e em maior número aumentam a refletividade das nuvens, efeito estudado inicialmen-
te por Twomey (1977), e que ganhou seu nome. O segundo efeito indireto, estudado inicialmente por
Albrecht (1989), se refere ao efeito causado pela maior concentração de gotículas sobre a estrutura de
desenvolvimento da precipitação. Neste caso, gotículas menores tem menor chance de colidir entre si e,
assim, evoluírem para a precipitação. Desta forma, o tempo de vida da nuvem é estendido, assim também
como sua dimensão e conteúdo de água líquida. A conseqüência destes acréscimos é uma maior reflexão
da radiação incidente, pois a nuvem se torna mais brilhante (pelo maior número de gotas) e pelo maior
tempo do seu ciclo de vida. Ambos são efeitos que contribuem para o resfriamento do planeta.

A maioria dos estudos das propriedades dos CCN e das nuvens na América do Sul se concentram
na Região Amazônica (e, em menor extensão, sobre o Nordeste). Constituem-se em trabalhos focando
análise de dados de satélite e, em menor número, campanhas intensivas de medidas de campo. Além
disso, trata-se de conhecimento recente, portanto insuficientemente aprofundado.

Kaufman e Fraser (1997) observaram, com base em dados do sensor AVHRR, sobre a bacia ama-
zônica, significativa anti-correlação entre espessura ótica dos aerossóis (AOT) e cobertura de nuvens, mas
com valores inferiores ao previsto por modelos. Por outro lado, Reid et al. (1999), com base em medidas
por avião, não observaram relação significativa entre AOT e cobertura de nuvens.

Mais recentemente, Koren et al. (2004), ao investigar a relação entre propriedades de nuvens e
AOD na bacia amazônica durante o período de seca (e, portanto, sob intensa atividade de queimadas),
observaram que para valores de AOT acima de 0,4 o aumento na concentração de aerossóis estava
correlacionado com a redução da fração de cobertura de nuvens. Em um estudo numérico subseqüente,
Feingold et al., (2005) concluíram que o efeito dominante para induzir esta redução na fração de nuvens
foi a maior estabilidade atmosférica, que é consequência do aquecimento da camada de aerossóis devi-
do a estes terem papel importante na absorção de radiação de onda curta.

Segundo Roberts et al. (2001, 2002), em regiões remotas da bacia amazônica, de floresta pre-
servada, a concentração de CCN pode ser muito baixa. Nesse caso, qualquer aumento na concentração
de CCN pode ter um impacto muito mais relevante na microfísica de nuvens do que sobre regiões já
influenciadas por emissões antrópicas de partículas de aerossóis.

Kawamoto e Nakajima (2003), com base nos horários que os satélites NOAA-9 e NOAA-11
cruzam o equador, encontraram certo decréscimo no valor do raio efetivo das gotículas à medida que se
avança no ciclo diurno. Observaram ainda que o decréscimo do raio efetivo é mais acentuado sobre os
oceanos que sobre os continentes. Os autores sugerem que este decréscimo no raio efetivo pode estar
associado ao aumento na concentração de aerossóis devido às atividades antrópicas. O fato de o decrés-
cimo observado ser mais pronunciado sobre os oceanos seria uma conseqüência de as nuvens oceânicas
apresentarem maior sensibilidade à poluição do que as continentais, que por sua vez já estariam satura-
das de aerossóis. Ao mesmo tempo, os autores encontraram que a maior variação sazonal dos efeitos dos
aerossóis está associada à região amazônica, apresentando maior raio efetivo durante a estação chuvosa
(em torno de janeiro) e menor na estação seca (em torno de julho) quando comparada ao leste asiático.

220 VOLUME 1
De acordo com Koren et al. (2004), imagens de satélite da floresta amazônica raramente mostram
fumaça e nuvens de cúmulos rasos simultaneamente. Em seu trabalho, o autor usa dados do MODIS-
AQUA para avaliar o impacto da fumaça das queimadas na formação das nuvens durante a estação seca
da região amazônica (agosto-setembro de 2002). Esse impacto é obtido através do cálculo da fração
de cobertura de nuvens em função da espessura ótica dos aerossóis. Na região de estudo predominam
nuvens identificadas pelo autor como cúmulos espalhados (cúmulos da camada limite). Costumam se
formar no período matutino sobre o leste da região amazônica chegando a cobrir extensa área por volta
do meio dia. O diâmetro típico dessas nuvens é de 2 a 3 km com uma refletância média em torno de
0,35 para a faixa visível do espectro solar. Ainda, segundo Koren et al. (2004), a redução da cobertura
de nuvens devido à presença da fumaça significa menos radiação sendo refletida para o espaço e mais
radiação sendo absorvida pela superfície, resultando em aquecimento. Em uma simulação numérica para
uma pequena área da região amazônica, com 40% de cobertura de nuvens, os autores estimaram que
as nuvens refletem 36 W m-2, enquanto que se a atmosfera fosse preenchida por fumaça (e sem nuvens)
a reflexão passaria a ser de 28 W m-2, mostrando que os aerossóis, além de poder resfriar a superfície do
planeta, também contribuem para o seu aquecimento através do efeito semi-direto.

Martins et. al., (2009) observou alguma evidência do possível efeito semi-direto dos aerossóis em
suprimir a convecção, conforme sugerido por Koren et al. (2004). O resultado reforça o fato de que o
aumento na concentração de CCN a partir da queima de biomassa pode estar diretamente associado a
um aumento simultâneo na concentração de partículas de carbono inorgânico que, por sua vez, podem
impedir o desenvolvimento das nuvens. Se as partículas de carbono elementar e os CCN estão espacial-
mente correlacionados, isso significa que, à luz do conhecimento atual sobre os efeitos indireto primário e
semi-direto, existe uma competição entre estes efeitos no contexto da queima de biomassa, um dos quais
contribuindo para o aumento na refletividade das nuvens (CCN) e o outro para a diminuição através da
redução na cobertura de nuvens (carbono elementar).

Andreae et al. (2004) realizaram medidas com aeronaves de parâmetros microfísicos na Amazô-
nia em nuvens formadas sob condição de atmosfera limpa e sob influência de grandes quantidades de
aerossóis originados de queimadas (os denominados pirocumulus). Os autores observaram que, no caso
da nuvem formada sob condição poluída, o diâmetro médio das gotículas crescia muito lentamente com
a altitude, mostrando que a alta concentração de aerossóis inibiu os processos de colisão e coalescência
através da drástica redução no tamanho das gotas.

Martins et. al., (2009), a partir de medidas com aeronave, estudaram as propriedades dos CCN
na Região Amazônica, comparando regiões limpas e regiões sob intensa atividade de queima de biomas-
sa. Observou-se um decréscimo generalizado na concentração de CCN desde o final da estação seca
até o início da estação chuvosa. A comparação entre dias poluídos e dias limpos mostra uma concen-
tração de CCN pelo menos cinco vezes maior para os dias poluídos. Diferenças ainda maiores foram
observadas quando áreas limpas e poluídas foram comparadas para uma mesma data. Valores médios
de concentrações menores que 200 cm-3 para as regiões limpas e maiores que 1200 cm-3 para as regi-
ões poluídas foram registrados. Os valores não incluem medidas realizadas diretamente sobre os focos
de queimada. Observou-se ainda que a concentração de CCN segue um ciclo diurno acompanhando a
queima de biomassa, ou seja, os valores se apresentaram maiores à medida que os voos foram realiza-
dos em horários mais tardios. As diferenças observadas entre os espectros de CCN de condições limpas
e poluídas indicaram que a atividade de queima de biomassa é mais eficiente em produzir, principal-
mente, partículas pequenas e com pequena fração solúvel. Por sua vez, Pöschl et al. (2010) mostraram
que partículas finas, faixa em que predominam os CCN, são predominantemente compostas de material
orgânico secundário formado pela oxidação de precursores biogênicos, enquanto que partículas gros-
sas, importantes nucleadores de gelo, consistem de material biológico emitido diretamente pela floresta.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 221


Ainda muito limitada é a compreensão acerca da ocorrência, concentrações típicas, composição
química de CCN gigantes (d > 10µm)(GCCN, do inglês giant cloud condensation nuclei) e IN. Os pri-
meiros, como apontado por Yin et al. (2000) e Costa e Sherwood (2005) e discutido em maior detalhe
na seção seguinte, aparentemente podem exercer um papel de se contraposição parcial à inibição da for-
mação da chuva quente em ambientes poluídos, a depender das condições dinâmicas e termodinâmicas
de desenvolvimento da nuvem.

6.5 MICROFÍSICA DE NUVENS E PRECIPITAÇÃO NA FASE QUENTE

Os chamados efeitos indiretos dos aerossóis constituem os mecanismos através dos quais estes
modificam a microestrutura das nuvens, com consequências para suas propriedades radiativas e seu ciclo
de vida. Os mais bem conhecidos são o 1º efeito indireto dos aerossóis ou “efeito Twomey” (Twomey,
1977; Ramaswamy et al., 2001; Lohmann e Feichter, 2005), que consiste na modificação do albedo das
nuvens ao se modificar o campo de aerossóis e nas alterações na duração do seu ciclo de vida e em sua
extensão – 2º efeito indireto dos aerossóis ou “efeito Albrecht” (Albretcht, 1989). No 4o relatório do IPCC,
os mesmos são referenciados, respectivamente, como o “efeito no albedo das nuvens” e como o “efeito
no tempo de vida das nuvens” (Forster, 2007).

A América do Sul, com destaque para a Amazônia, na qual a queima de biomassa é um fator
marcante do ciclo sazonal das emissões de aerossóis oferece exemplos dramáticos do potencial de modi-
ficação da microestrutura das nuvens e da precipitação resultante da ação humana. Foi particularmente
investigada, via experimentos de campo e estudos de modelagem, a influência sobre as chamadas “nu-
vens quentes”, isto é, aquelas formadas exclusivamente por hidrometeoros de fase líquida (gotículas de
nuvem e gotas de chuva).

Petersen et al. (2002) observaram que durante a estação chuvosa da Região Amazônica dife-
renças nas propriedades microfísicas das nuvens dependem dos regimes de ventos. Durante a estação
seca a atmosfera evolui para um quadro mais complexo, visto que a atividade de queimada injeta uma
surpreendente quantidade de aerossóis e gases que interagem com o processo de precipitação. De fato,
sobre a Amazônia, como indicado por Costa e Pauliquevis (2009), existe uma enorme diferença entre
as concentrações de gotículas encontradas durante os meses de setembro e outubro sobre os estados
de Rondônia e Mato Grosso e aquelas encontradas sobre o Oeste do estado do Amazonas, no mesmo
período (Andreae et al., 2004), e sobre várias localidades, incluindo Rondônia, no período chuvoso (Stith
et al., 2002; Santos et al., 2002), variando de poucas centenas por centímetro cúbico a mais de 3000
cm-3.

Jones e Christopher (2010), usando a técnica de análise das componentes principais aplicada
aos dados do MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), TRMM (Tropical Rainfall Mea-
suring Mission) e produtos de reanálises do NCEP, estudaram as propriedades estatísticas da interação
aerossóis-nuvens-precipitação sobre a América do Sul em busca de indicativos do efeito indireto dos
aerossóis sobre os processos associados a nuvens quentes. Os dados foram coletados durante o período
seco da região amazônica (setembro de 2006), época em que a espessura ótica dos aerossóis (AOT)
produz valores acima de 1.0 para extensas áreas da América do Sul, não se restringindo à região ama-
zônica. Os autores trabalharam com a hipótese de que se os efeitos indiretos (e também o semi-direto)
se manifestarem, em condições poluídas, como conseqüência da redução nos processos de colisão e
coalescência ou aumento na estabilidade, deveria haver uma diminuição na precipitação estratiforme em
comparação com condições mais limpas no mesmo ambiente. Comparando amostras sem chuva, com
chuva e com chuva intensa (>5 mm h-3), concluíram, porém, que as condições atmosféricas de maior
escala são mais importantes para o desenvolvimento da precipitação do que a concentração de aeros-
sóis. Os resultados de Williams et al. (2002) sugerem que a ausência de distinção entre os parâmetros
elétricos dos regimes poluído e limpo na bacia amazônica, coloca em dúvida o papel dos aerossóis na
intensificação da eletrização de nuvens e reforçam a idéia de um papel preponderante da dinâmica.

222 VOLUME 1
Por outro lado, Williams et al. (2002) também demonstram que, durante o período poluído, no
começo de outubro, observaram-se evidências do papel dos aerossóis em suprimir a formação de chuva
quente. Com efeito, a tese da inibição da chuva quente em associação com queimadas tem sido sucessi-
vamente verificada.

Andreae et al. (2004) sugerem que a fumaça produzida a partir das queimadas na Amazônia
produz efeitos significativos sobre a microestrutura das nuvens, com uma redução dramática no diâmetro
médio das gotículas, inibindo a colisão-coalescência. As estimativas dos autores são de que em nuvens
convectivas, dinâmica e termodinamicamente similares, a iniciação da precipitação deixa de ocorrer a
cerca de 1,5 km acima de sua base (como em nuvens marítimas) e passa a ocorrer a 5 km em nuvens po-
luídas ou ainda mais acima em pirocúmulos. Esta noção é corroborada tanto por Freud et al. (2008) que
discutem que há um aumento consistente em cerca de 350 m na altitude sobre a base da nuvem na qual
a colisão-coalescência dispara a formação de chuva quente para cada 100 núcleos de condensação (a
uma supersaturação de 0,5%) adicionados por cm3. Indícios no mesmo sentido são apresentados por
Costa e Pauliquevis (2009), cujos resultados apontam para altitudes de chuva quente (isto é, a altitude em
que o processo de formação de chuva quente se inicia) indo de 1200-2300 m em ambientes marítimos e
costeiros a 5400-7100 m em ambientes influenciados por queimadas (Figura 6.4), assim como por Costa
e Sherwood (2005) que sugerem uma relação praticamente linear entre a profundidade de chuva quente
(diferença entre a altitude de chuva quente e a altura da base da nuvem) e a concentração de gotículas,
pelo menos até valores de ordem de 3000 cm-3.

8000 Figura 6.4. Altitude de chuva quente e


7000
altitude da base da nuvem (em m) como
função da concentração média de
6000 gotículas (em cm-3). Os vários regimes
5000
de microfísica de nuvens aparecem
representados por cores diferentes:
4000 marítimo (azul), costeiro (ciano), “oceano
3000
verde” (verde), poluído (vermelho) e
transição (laranja). A profundidade de
2000 chuva quente (h) é indicada pela distância
1000
vertical entre a base da nuvem e o nível
de formação da chuva quente (Costa e
0 Pauliquevis, 2009).
0 500 1000 1500 2000

Há várias possíveis implicações para essa variabilidade, além do aumento do albedo das nuvens
e alterações na duração do seu ciclo de vida e extensão. Uma vez que menos material condensado é con-
vertido em precipitação no estágio inicial de desenvolvimento da nuvem convectiva e mais água líquida
permanece disponível para ser convertida em gelo, com a correspondente liberação de calor latente em
mais altos níveis, é possível que o próprio perfil de aquecimento convectivo seja modificado (Rosenfeld,
2006). Vale a pena frisar que há uma discussão em torno da inibição da convecção associada aos efeitos
radiativos dos aerossóis de queimadas (que tendem a estabilizar a camada-limite), mas que há indícios
apontados por Andreae et al. (2004) de que os efeitos microfísicos podem compensar a supressão radia-
tiva e produzir nuvens convectivas mais vigorosas do que as observadas em ambientes limpos.

Entretanto, é reconhecido que o papel dos aerossóis sobre o campo de nuvens vai bem além
da inibição dos processos de coalescência. Lin et al. (2006) estudou dados de satélite para avaliar os
potenciais efeitos dos aerossóis de queima de biomassa sobre a precipitação, propriedades de nuvens

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 223


e balanço radiativo na região amazônica, para os meses de agosto e outubro de 2000 e 2003, corres-
pondendo à estação seca. Os resultados indicaram que uma profundidade ótica elevada está associada
com o aumento na precipitação em ambos os anos estudados. Com o aumento da profundidade ótica,
a cobertura de nuvens aumentou de forma significativa enquanto que a temperatura/pressão do topo das
nuvens diminuiu, sugerindo topo de nuvens mais elevado. Os resultados são coerentes com efeitos dinâ-
micos dos aerossóis em intensificar a convecção produzindo nuvens mais altas, com maior cobertura e
precipitação mais intensa.

Feingold et al. (2005), com base em simulações da interação entre aerossóis de queimada e nu-
vem, estudaram a importância relativa de vários fatores responsáveis pela supressão da formação de nu-
vens na região amazônica. Os autores concluíram que a distribuição vertical dos aerossóis é crucial para
determinar o quanto a nebulosidade pode ser reduzida. Partículas emitidas na superfície podem reduzir ou
aumentar a nebulosidade enquanto que partículas residindo na camada de formação de nuvens inibem
a formação destas. Por outro lado, a redução nos fluxos de calor sensível e latente, devido à queima de
biomassa pode, por si só, reduzir a nebulosidade.

Outro aspecto importante a ser considerado, além da concentração de gotículas, é a variabilida-


de na forma de sua distribuição, que constitui ao mesmo tempo um fator fisicamente relevante no desen-
volvimento da precipitação e uma incerteza importante na modelagem dos processos de nuvens. Costa et
al. (2000a) discutiram a possibilidade de representação de distribuições de gotículas observadas por fun-
ções analíticas, o que permitiria simular processos em nuvens por meio de parametrizações de microfísica
“totalizada” (ou bulk). Os autores encontraram que essas distribuições só podem ser representadas com
um mínimo de adequação por funções analíticas que contenham dois ou mais parâmetros livres, com
destaque para as distribuições de Weibull e gama (casos particulares da distribuição gama generalizada,
e.g. Liu e Daum 2004) e lognormal. Ao contrário do que é tipicamente admitido, porém, não é possível
representar, com um mesmo parâmetro de forma, espectros de gotículas em nuvens formadas em diferen-
tes ambientes ou mesmo espectros de gotículas em regiões diferentes da mesma nuvem ou em estágios
diferentes do seu ciclo de vida. Costa et al. (2000a) chegam a discutir o papel exercido por processos
como o crescimento condensacional e a mistura de parcelas sobre a forma do espectro (e as implicações
disso sobre a modelagem). Santos et al. (2002), por sua vez, apontam o papel potencialmente exercido
por processos de mistura em nuvens cúmulos na configuração de regiões com diferentes propriedades
(uniformes ou variáveis com respeito à concentração de gotículas e à forma do espectro).

Costa e Pauliquevis (2009) mostraram que há diferenças significativas na forma da distribuição


do tamanho de gotas encontrado em ambientes distintos. Sobre o Oceano Atlântico e próximo à costa,
espectros largos estão presentes, com um crescimento rápido do diâmetro modal, acompanhando con-
centrações mais reduzidas de gotículas. Espectros observados sobre o oeste da Amazônia mostram um
alargamento do espectro de gotículas similar às condições marítimas. Partículas gigantes aparentemente
não exercem nenhum papel significativo em massas de ar marítimas, uma vez que as partículas com di-
mensões de gotas de chuva aparentemente surgem diretamente da “cauda” do espectro de gotículas. Em
contraste, espectros mais estreitos predominam em ambientes poluídos, com uma tendência à ocorrência
de bimodalidade nas distribuições em massa. Os reduzidos valores de diâmetro modal indicam uma
significativa inibição do desenvolvimento de “chuva quente” (como anteriormente apontado por diversos
autores como Andreae et al., 2004)

Espectros de gotículas de áreas limpas e poluídas também foram estudados por Martins e Silva
Dias (2009), desta vez sobre a Amazônia, e se mostraram completamente diferentes dependendo das
condições do ambiente (limpo ou poluído). Distribuições estreitas eram mais frequentes no ambiente in-
fluenciado pela queima de biomassa, enquanto distribuições mais largas predominavam num ambiente
limpo. Os resultados sugerem ainda que o aumento na concentração de CCN a partir da queima de bio-
massa pode causar um efeito adicional de inibição do processo de coalescência, através da diminuição
na dispersão relativa. Considerando que a disponibilidade de vapor é limitada durante a estação seca o
efeito na dispersão pode ser maior na Região Amazônica que em outras localidades poluídas.

224 VOLUME 1
A variabilidade significativa da forma do espectro de gotículas emr elação ao campo de CCN e
dos processos de condensação, colisão–coalescência e mistura evidenciam a importância da incerteza
em torno dessa variável e também uma limitação intrínseca das parametrizações de microfísica totalizada
(bulk), que é a dificuldade de representação realista da evolução das distribuições de hidrometeoros (mes-
mo considerando o possível uso de parametrizações em que a forma do espectro não seja constante).

Finalmente, é importante ressaltar que além da análise de dados de experimentos de campo e sa-
télite, estudos de modelagem também têm contribuído para o estudo do efeito de aerossóis na microfísica
de nuvens. Num desses estudos, Costa e Sherwood (2005) utilizaram um modelo de parcela com micro-
física detalhada para investigar a importância de vários processos na iniciação da precipitação na fase
quente usando dados do LBA-SMOCC-EMfiN (Large-Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazô-
nia – Smoke Aerosols, Clouds, Rainfall and Climate – Experimento de Microfísica de Nuvens, Costa et. al.,
2002; Andreae et. al., 2004; Freud et al., 2008; Martins e Silva Dias, 2009; Costa e Pauliquevis, 2009).
Os mesmos concluíram que, em ambientes poluídos, a ocorrência de CCN gigantes pode se contrapor
parcialmente à inibição da colisão-coalescência associada às grandes concentrações de gotículas, ao se
constituírem em embriões de precipitação. Ao mesmo tempo, demonstraram que a velocidade terminal
e a umidade no ambiente podem ser fatores críticos na determinação da chamada “altitude de chuva
quente” e que, portanto, alterações na microfísica de nuvens promovidas pela introdução de grandes
quantidades de aerossóis de origem antrópica são dependentes de fatores dinâmicos e termodinâmicos,
o que é corroborado pelo estudo de Jones e Cristopher (2010). Estudos de modelagem tridimensional
usando processos microfisicos simplificados foram realizados por Martins et. al., (2009). Seus resultados
indicaram que a quantidade média de “água de nuvem” (isto é, não precipitante) integrada na grade é
praticamente a mesma para cenários limpos e poluídos, mas que a “água de nuvem” está muito mais
dispersa em condições limpas, enquanto que houve redução de “água de chuva” (isto é, precipitante) nos
cenários de maior poluição, indicando uma maior eficiência de conversão de água de nuvem em água
de chuva em condições limpas. Com relação ao total de precipitação, estes autores verificaram que, em
média, em suas simulações, chove mais e de forma mais dispersa para uma baixa concentração de CCN,
mas que, em contrapartida, os maiores picos de precipitação e velocidade ascendentes significativamente
maiores foram encontrados em cenários poluídos.

6.6 MICROFÍSICA DE NUVENS DE FASE FRIA E MISTA

Menos estudado do que a influência que as alterações antrópicas sobre o campo de aerossóis
exercem sobre “nuvens quentes” (isto é, que contêm apenas material condensado na fase líquida) é o
papel que das alterações antrópicas sobre “nuvens frias”, compostas por cristais de gelo e “nuvens de fase
mista”. Como apontam Wang e Penner (2010), o fato de nuvens cirrus cobrirem tipicamente mais de 20%
do planeta faz com que as mesmas sejam importantes para o balanço radiativo planetário. Nuvens con-
vectivas profundas, particularmente nos trópicos, são responsáveis por mecanismos de transporte vertical
cruciais para a circulação geral atmosférica.

Como apontado por Sherwood (2002), ao analisar dados do Advanced Very High Resolution Ra-
diometer (AVHRR), os aerossóis cumprem um papel significativo na microestrutura de nuvens cumulonim-
bus, sendo que suas estimativas apontam para valores de diâmetro efetivo de 10 a 20% menores sobre o
continente do que sobre o oceano e com uma marcada variabilidade sazonal nessa variável em regiões
com queima de biomassa como a Amazônia.

Medidas in situ das propriedades microfísicas de nuvens frias e de fase mista sobre o Brasil,
no entanto, são extremamente limitadas, havendo dados coletados apenas durante um experimento de
campo, o TRMM-LBA. Stith et al. (2002) analisaram a microestrutura de três sistemas convectivos sobre
a Amazônia (medidas realizadas durante esse experimento), indicando a presença de gotículas super-
-resfriadas em temperaturas da ordem de -7oC, cuja presença se reduzia significativamente com a alti-
tude. Alguns aspectos apontados pelos autores são a ocorrência de cristais de gelo com formas distintas
daquelas previstas para as condições locais de temperatura coexistindo com gotículas super-resfriadas

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 225


(cujo formato quase circular indica que as mesmas não experimentaram crescimento na forma de cristal),
sugerindo transporte vertical dessas partículas em correntes ascendentes saturadas com respeito ao gelo.
A ocorrência de cristais de gelo com forma CP1a com placas crescendo nas extremidades de um cristal
originalmente em forma de coluna) sugere a possibilidade de múltiplos processos de crescimento. Estas
informações foram corroboradas por Costa et al. (2012) que analisaram um quarto caso, encontrando,
além de cristais CP1a, cristais do tipo CP2a. Ambos os trabalhos mostram que a distribuição de tamanho
dos cristais tende a um comportamento do tipo lei de potência, sendo que Costa et al. (2012) propõem
uma parametrização da distribuição de tamanho dos cristais com base nesse fato.

O trabalho de Stith et al. (2002) introduziu a hipótese da existência de um novo tipo de agregado
de cristais. Evidências posteriores sobre a existência desse agregado foram apresentados por Stith et al.
(2004), que, com base em imagens de cristais coletadas durante o TRMM-LBA e o KWAJEX (Kwajalein
Experiment), mostraram que a posição peculiar dos cristais no agregado aponta para que sua formação
possa ser atribuída à ação de forças elétricas. A implicação da existência desse agregado para o desen-
volvimento da nuvem ainda é ignorada.

A ocorrência de um grande número de cristais de gelo em nuvens convectivas profundas (Knol-


lenberg et al. 1993 e Sherwood, 2002) sugere que parte das mudanças associadas ao aumento da con-
centração de gotículas na fase quente pela introdução de aerossóis antrópicos simplesmente se propaga
para a fase fria. As vigorosas correntes ascendentes em nuvens cumulonimbus, ao transportarem a po-
pulação de gotículas até regiões cuja temperatura favorece a nucleação homogênea de gelo (próximo a
-40 oC) faz com que as camadas superiores dessas nuvens exibam concentrações relativamente elevadas
de cristais de gelo que guardam relação com as concentrações de gotículas em suas porções inferiores.
Nesse contexto, durante a estação chuvosa da Amazônia, concentrações de cristais de gelo da ordem de
dezenas por centímetro cúbico foram relatadas por Costa et al. (2012).

No entanto, como apontado por Rosenfeld et al. (2008), o processo de inibição da chuva quente
em nuvens rasas ou nos estágios iniciais de desenvolvimento de convecção profunda (Rosenfeld, 1999;
Andreae et al., 2004; Costa e Sherwood, 2005), dá lugar a processos bem mais complexos quando a
fase de gelo é introduzida. Incertezas associadas ao comportamento de nuvens convectivas profundas ao
serem influenciadas por aerossóis de origem antrópica são, portanto, bastante significativas. Aprofundar
a investigação das nuvens frias e, principalmente de nuvens convectivas de fase mista, é essencial para
melhor compreender como mudanças antrópicas sobre o campo de aerossóis pode interferir sobre a pre-
cipitação e a circulação atmosférica em maior escala face ao seu papel na microestrutura da convecção
profunda.

6.7 MODELAGEM DOS PROCESSOS ENVOLVENDO AEROSSÓIS, NUVENS E CONVECÇÃO

A modelagem de processos envolvendo nuvens e aerossóis e seus impactos sobre o tempo e clima
em escalas local, regional e global, tem recebido maior atenção recentemente. No que tange especifi-
camente sobre os aerossóis no Brasil e na América do Sul, estudos como os de Zhang et al. (2009) tem
evidenciado potenciais impactos dos aerossóis sobre a circulação atmosférica de grande escala, com
modificações no comportamento da monção da América do Sul devido ao aumento da estabilidade ter-
modinâmica sobre o Sul da Amazônia. Estes autores propõem que aumentos na estabilidade e pressão
à superfície, bem como um escoamento nessa região pode levar ao reforço de atividade ciclônica e au-
mento da precipitação no sudeste do Brasil, Paraguai e nordeste da Argentina. É particularmente impor-
tante nesse sentido o tipo de desenvolvimento de modelagem que vem sendo realizado, com a inclusão
de módulos complexos de química da atmosfera, emissão de aerossóis e outros processos envolvendo
queimadas, como o realizado por Freitas et. al., (2005, 2009).

Menos conhecido e possivelmente com ainda maior impacto sobre a circulação atmosférica, pelo
menos em escala regional sobre o Brasil e a América do Sul, é o efeito indireto dos aerossóis associado
às emissões dos centros urbanos e queimadas. Sabe-se que a forçante radiativa resultante associada

226 VOLUME 1
às nuvens advém da composição de dois termos: um negativo, associado ao espalhamento de radiação
de onda curta e outro positivo, que consiste em sua contribuição para o efeito estufa. Nuvens formadas
em altitudes diferentes apresentam contribuições para a forçante radiativa, sendo o contraste mais óbvio
o que se verifica entre nuvens cirrus (para as quais o efeito estufa é predominante) e stratocumulus (cujos
valores de fração de cobertura próximos da unidade e longo tempo de residência as tornam contribuintes
significativas para o albedo planetário). Mudanças mesmo sutis na distribuição espacial e nas proprie-
dades microfísicas das nuvens podem alterar sobremaneira o delicado balanço entre os dois termos ci-
tados acima. Não surpreendentemente, as maiores incertezas na forçante radiativa antrópica referem-se
ao papel direto e indireto dos aerossóis no clima. Os aerossóis emitidos em processos industriais e em
queimadas na Amazônia tem um papel fundamental no balanço radiativo terrestre, e nos processos que
regulam a microfísica de nuvens. Apesar de ter avançado de maneira significativa recentemente, o nível
de compreensão acerca do papel dos aerossóis e, principalmente, das nuvens sobre o sistema climático é
relativamente baixo, especialmente se comparado ao já bem entendido papel dos gases de efeito estufa.

Esse baixo nível de compreensão não chega a ser surpreendente, visto que a formação de nuvens
envolve uma ampla gama de escalas atmosféricas, desde a escala de micrômetros, em que se dá o apa-
recimento e crescimento inicial dos hidrometeoros, até a organização de sistemas de nuvens de grande
escala na escala de milhares de quilômetros. Em meio a esse largo espectro de escalas, se destacam
movimentos convectivos, cuja dimensão horizontal é tipicamente de dezenas de metros a poucos quilô-
metros, pois é através dessas estreitas correntes ascendentes que se dá grande parte do transporte vertical
no interior dos sistemas de nuvens, a liberação de calor latente associada à mudança de fase da água e a
produção de precipitação. Representar de maneira realista desde as fontes de aerossóis atmosféricos que
possam servir de CCN e IN até a organização das nuvens na grande escala e sua influência na circulação
geral atmosférica e no balanço energético global são grandes desafios colocados para o futuro.
A discretização dos modelos numéricos faz com que a representação dos fenômenos atmosféricos seja
truncada em harmônicos cujos comprimentos são, na maior parte dos casos, maiores do que os da es-
cala convectiva. Como a representação da atividade convectiva é fundamental para a energética e ciclo
hidrológico do modelo, o efeito da convecção é representado através de parametrizações dos processos
convectivos. As parametrizações convectivas permitem então obter o efeito dos fenômenos não resolvíveis
na grade dos modelos em função das variáveis que são resolvidas. Há uma série de abordagens propos-
tas na literatura. Todas elas são derivadas de três tipos básicos: 1) Esquemas do tipo ajuste convectivo:
proposto por Manabe et al. (1965) esse tipo de esquema supõe que sempre que os efeitos radiativos e/
ou dinâmicos reduzem a taxa de resfriamento da troposfera abaixo de um certo nível crítico, é feito um
ajuste de massa e energia de modo que um perfil estável é recuperado. Problema típico com esse tipo de
esquema é a arbitrariedade da determinação do perfil para o qual o modelo é ajustado. 2) Esquemas do
tipo Kuo (1965, 1974): relacionam a ocorrência e a intensidade da convecção com a convergência de
umidade de grande escala. O esquema depende de um parâmetro b, que define o porcentual da conver-
gência de umidade que vai ser usada para umedecer a coluna atmosférica, enquanto o restante é usado
para aquecer a coluna por liberação de calor latente. A dificuldade em determinar o valor de b é uma
das limitações desse tipo de esquema. 3) Esquemas do tipo fluxo de massa: proposto inicialmente por
Arakawa e Schubert (1974), esse tipo de esquema supõe que o conjunto de nuvens em uma região está
em quase equilíbrio com as forçantes de grande escala. Neste esquema, as nuvens consomem a energia
potencial produzida pelo efeito desestabilizador de grande escala. Conforme a intensidade da forçante
de grande escala, o fluxo de massa convectivo necessário para manter a convecção em equilíbrio pode
ser calculado. Em tese, o efeito radiativo das nuvens está incorporado no esquema clássico proposto
por Arakawa e Schubert (1974) através do efeito radiativo na estabilidade termodinâmica. Entretanto, o
detalhamento do efeito radiativo é, em geral, muito primitivo nos modelos atmosféricos usados na escala
climática.

Neste contexto, fica evidente que a modelagem dos processos envolvendo nuvens na maior parte
dos modelos globais e regionais utilizados para previsão de mudanças climáticas no Brasil e no mun-
do ainda se caracteriza pela utilização de um grande número de simplificações nos processos envol-
vendo nuvens. É particularmente significativo que as escalas dos movimentos convectivos não sejam
explicitamente resolvidas na grande maioria desses modelos, em função de recursos computacionais e

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 227


de que os modelos atualmente disponíveis para os estudos de tempo e clima estejam quase todos presos
ao paradigma da utilização de parametrizações de convecção. Ao mesmo tempo em que há uma varie-
dade de hipóteses de fechamento dessas parametrizações, com os modelos comumente exibindo grande
sensibilidade à escolha do esquema de convecção, tal paradigma é evidentemente limitado em função
dos artificialismos subjacentes à fragmentação dos processos físicos envolvendo nuvens em diferentes
componentes dos modelos atmosféricos (comumente, os modelos possuem esquemas separados para
cobertura de nuvens, nuvens estratiformes, nuvens convectivas rasas e/ou profundas).

Existe uma tendência a se contornar essa limitação intrínseca das parametrizações de convecção,
resolvendo explicitamente as nuvens ou pelo menos construindo representações fisicamente consistentes
das mesmas, através de uma das seguintes estratégias, como sugerido, por exemplo, por Adams et al.
(2009):
1. Melhorar a resolução espacial ao ponto de dispensar inteiramente as parametrizações de convecção,
mesmo em simulações da circulação geral. Isso foi o que se obteve, por exemplo, através do Earth Si-
mulator, em que simulações globais com espaçamento de grade de 3,5 km foram realizadas com êxito
(Tomita et al., 2005).

2. Usar modelos de conjunto de nuvens na construção de parametrizações de convecção. Definidos como


“modelos capazes de resolver nuvens individuais, cujo domínio é grande o suficiente para conter várias
nuvens e cujo tempo de execução é longo o suficiente para conter vários ciclos de vida de nuvens” (Ran-
dall et al., 1996). Os modelos de conjunto de nuvens encontram usos variados, dentre eles, contornar a
chamada “via empírica” para construção de parametrizações, adotando uma “via física” (Randall et al.,
1996; Moncrieff et al., 1997).

3. Uso de modelos de conjunto de nuvens em substituição direta das parametrizações de convecção,


constituindo a chamada superparametrização (Randall et al., 2003; Khairoutdinov e Randall, 2001; Gra-
bowski, 2001, 2003). Na superparametrização, a coluna do modelo de maior escala, é substituída por
um modelo de conjunto de nuvens, geralmente bidimensional, que passa a responder pelo conjunto dos
processos físicos em escala de sub-grade. De imediato, a interação das nuvens com a radiação, o efeito
de rajadas de sistemas precipitantes sobre os fluxos de superfície, o transporte de energia, momentum e
água por tais sistemas e o cálculo da precipitação são todos representados de forma coerente entre si, por
meio de um único modelo físico e não através de parametrizações que não se intercomunicam. Segundo
Khairoutdinov e Randall (2001), Grabowski (2003) e Randall et al. (2003), o uso da superparametrização
tem assegurado êxito na representação de processos que envolvem a interação entre nuvens e fenômenos
de grande escala (como ondas planetárias).

Em todos esses casos, a adoção de modelos com capacidade de explicitamente resolver nuvens,
como “modelos de conjunto de nuvens” (MCNs) faz com que as incertezas relativas à microfísica sejam
trazidas à tona irremediavelmente.

Num primeiro momento, a mais óbvia questão que surge é a da concentração de CCN e toda
sua influência no desenvolvimento das nuvens e no estabelecimento das propriedades ópticas e microfí-
sicas, incluindo a eficiência de precipitação. Existe ainda uma evidente lacuna nas medições de CCN e
de microfísica de nuvens em grande parte do território brasileiro, aonde são desconhecidas a distribuição
espacial e sazonal dessas variáveis. Como apontam Costa et al. (2012), destacam-se, no Brasil, os dados
coletados nas seguintes campanhas: o Experimento do Ceará em 1994 (Costa et al., 2000a), o LBA-TR-
MM (Stith et al., 2002), o EMfiN!-Ceará (Costa et al., 2002) e o LBA-SMOCC-EMfiN!, que se concentra-
ram sobre a Amazônia e o Nordeste. Esse número limitado de experimentos de campo e a inexistência de
medidas em grande parte do Brasil impõem óbvias limitações à representação dos processos microfísicos
em modelos aplicados sobre o território nacional.

Outro aspecto importante a ser considerado é a variabilidade na forma da distribuição de tamanho das
gotículas, que constitui ao mesmo tempo um fator fisicamente relevante no desenvolvimento da precipitação
e uma incerteza importante na modelagem do ciclo de vida de nuvens. Estratégias envolvendo o uso direto de

228 VOLUME 1
esquemas de microfísica detalhada (bin microphysics, e.g. Costa et al., 2000b) envolvem um grande custo
computacional, mas simulam a evolução explícita da função-distribuição de hidrometeoros em função
de processos de nucleação, crescimento condensacional, colisão-coalescência, colisão-ruptura, ruptura
espontânea, etc. Seu uso, ainda que geralmente proibitivo mesmo em modelos de área limitada, pode
representar uma alternativa para a calibração, aperfeiçoamento e desenvolvimento de parametrizações
de microfísica totalizada (bulk), sendo utilizado em modo off-line em modelos de LES ou MCNs.

Há ainda grande incerteza na representação dos processos envolvendo a fase de gelo em mode-
los de diversas escalas. Por exemplo, Costa et al. (2012) analisam um sistema convectivo, formado no
“regime de leste” da Amazônia, com elevadas concentrações de partículas em todos os níveis, especial-
mente no interior dos núcleos adiabáticos, da ordem de centenas por centímetro cúbico. Nesse sistema,
os autores verificaram a existência de uma grande variedade de formas de cristais, sem uma correspon-
dência muito óbvia entre esta e alguma variável ambiental, como a temperatura (o que se esperaria, caso
o crescimento dos cristais se desse em condições controladas de temperatura e supersaturação). Isso im-
plica em uma dificuldade significativa em representar parâmetros cruciais para a evolução microfísica de
uma nuvem fria ou de fase mista, como a própria velocidade terminal de queda dos cristais, a eficiência
de colisão entre estes e outros hidrometeoros, etc. Lang et al. (2007) aplicaram um MCN na simulação
de diferentes casos de convecção amazônica (observados durante a campanha do TRMM-LBA) e concluí-
ram que o uso de espaçamentos de grade muito finos (250 m), em comparação com os tradicionalmente
utilizados em MCNs e em esquemas de superparametrização (da ordem de 1km ou mais) é importante
para melhor representar a passagem gradual do regime de convecção rasa para profunda em um caso
do “regime de oeste”. Além disso, também apontaram que provavelmente o esquema de interação entre
as partículas de gelo e gotículas em seu modelo exagerava a coleta destas últimas pelas primeiras, resul-
tando em um exagero na estimativa da presença de granizo mole ou de neve.

Um exemplo interessante sobre o papel da interação nuvem/radiação no contexto do efeito da


emissão de aerossóis por queimadas é encontrado em Vendrasco et al. (2009). Neste trabalho é discu-
tido o efeito da escala e intensidade das fontes de emissão de aerossóis na precipitação. O aumento
da intensidade das fontes de pequena escala espacial leva à formação de plumas de escala espacial
suficientemente longa para gerar gradientes horizontais de temperatura que sustentam circulações termi-
camente induzidas que, por sua vez, intensificam a precipitação. Fontes de emissão de aerossóis de menor
intensidade e de maior escala espacial tendem a aumentar o efeito estabilizador dos aerossóis e, portan-
to, diminuem a precipitação. Entretanto, Vendrasco et al. (2009) não incluem o efeito dos aerossóis de
queimada de biomassa na microfísica das nuvens e recomendam explorar o mecanismo das circulações
térmicas geradas pelo efeito radiativo com o efeito da microfísica.

CONCLUSÕES

Este capítulo sintetiza o conhecimento recente em aerossóis e nuvens obtido em trabalhos cientí-
ficos mais recentes, com foco no Brasil e na América do Sul.

Com relação ao conhecimento em aerossóis atmosféricos, observa-se que a região amazônica


tem sido bem coberta com medidas, apesar das grandes dificuldades logísticas inerentes a realização de
experimentos nesta região. Este esforço científico é plenamente justificável, quando nota-se o papel da
bacia amazônica no balanço climático global. Investigar efeitos de alterações neste ecossistema torna-se,
portanto, crucial.

Com respeito às regiões urbanizadas e as emissões relacionadas com suas atividades típicas,
tais como transporte, indústrias, geração de energia, etc., observou-se que há um universo de medições
mais restrito a despeito das dificuldades logísticas serem muito menores. O monitoramento de material
particulado em geral limitou-se à fração PM10. Já a fração fina (PM2.5), cujo monitoramento não é
obrigatório pela legislação, tem sido quantificada preponderantemente por projetos de pesquisa pontu-
ais, que são menos abrangentes tanto em termos espaciais quanto temporais. Ainda assim, os trabalhos

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 229


citados neste relatório mostraram um fato importante: que parte significativa da fração fina de emissões
urbanas é composta por Black Carbon, em porcentagem muito mais elevada do que nas emissões oriun-
das de queimadas na Amazônia. Como em termos climáticos o Black Carbon tem potencial significativo
de alterações devido a seu forte caráter absorvedor de radiação, o real papel de emissões urbanas pode
estar sendo subdimensionado. É, portanto, fundamental estender este tipo de monitoramento ao maior
número possível de regiões urbanizadas, inventariar suas emissões e estimar o seu papel no clima. Isto se
torna mais importante à medida que o Brasil vem, paulatinamente, reduzindo o desmatamento na Amazô-
nia, e há o aumento do número de pessoas vivendo em áreas urbanas Consequentemente, a contribuição
relativa das emissões urbanas aumenta em comparação ás emissões associadas com as queimadas da
bacia amazônica.

Com relação aos efeitos em nuvens, tais efeitos ainda constituem um grande tema em aberto.
Ainda que efeitos indiretos de aerossóis em nuvens já sejam bem conhecidos, o real comportamento
das nuvens em um planeta mais quente ainda é incerto. Os efeitos de aerossóis em nuvens atualmente
conhecidos consideram situações meteorológicas idênticas, apenas mudando as propriedades de aeros-
sóis. Todavia, há significativa incerteza sobre a manutenção dos atuais padrões de circulação geral da
atmosfera em um planeta com temperaturas médias mais elevadas. Uma vez respondida esta pergunta, o
efeito real dos aerossóis poderá ser então melhor estimado. Esta área ainda demandará grandes esforços
de pesquisa, globalmente coordenados, para termos uma resposta minimamente satisfatória sobre alte-
rações no padrão das nuvens tanto na escala planetária quanto regional.

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236 VOLUME 1
CAPÍTULO 7

FORÇANTES RADIATIVAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

Autores principais: Alexandre L. Correia - USP; Marcia A. Yamasoe - USP


Autores colaboradores: Henrique M. J. Barbosa - USP; Simone S. Costa - INPE; Luiz Augusto T. Machado - INPE;
Aline S. Procópio - UFJF; Rita Y. Ynoue – USP
Autores revisores: Juan C. Ceballos - INPE; Marcelo P. Corrêa - UNIFEI; Maria Assunção F. Silva Dias - USP; Fernan-
do R. Martins – INPE

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 237


ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 239

7.1 INTRODUÇÃO 242

7.1.1 OBJETIVOS E ESTRUTURA DO CAPÍTULO 242

7.1.2 O CONCEITO DE FORÇANTE RADIATIVA 244

7.2 FORÇANTE RADIATIVA NATURAL 245

7.2.1 EFEITOS CLIMÁTICOS ORBITAIS 246

7.2.2 EFEITOS CLIMÁTICOS DEVIDO A VARIAÇÕES DA ATIVIDADE SOLAR 248

7.2.3 EVIDÊNCIAS DO APORTE DE AEROSSOL MINERAL DA ÁFRICA PARA O BRASIL 249

7.2.4 O EFEITO RADIATIVO DE NUVENS 250

7.3 FORÇANTE RADIATIVA ANTRÓPICA 253

7.3.1 FORÇANTE RADIATIVA DIRETA DO AEROSSOL ANTRÓPICO 255

7.3.2 FORÇANTE RADIATIVA INDIRETA DO AEROSSOL ANTRÓPICO 256



7.4 EFEITOS DA QUÍMICA ATMOSFÉRICA NA COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE GASES DE EFEITO
ESTUFA E AEROSSÓIS 258

7.5 MÉTRICAS E MEDIDAS DO IMPACTO DE GASES DE EFEITO ESTUFA 262



7.5.1. AS FONTES DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA 264

7.6 OBSERVAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 267

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 270

238 VOLUME 1
SUMÁRIO EXECUTIVO
O clima é controlado por diversos fatores, chamados agentes climáticos, que podem ser natu-
rais ou originados de atividades humanas (antrópicas). Um certo agente climático pode contribuir para
aquecer o planeta, como por exemplo os gases de efeito estufa antrópicos, enquanto outro agente pode
tender a resfriá-lo, como as nuvens. Ao tomador de decisões seria conveniente conhecer qual a influência
quantitativa de cada agente climático para que suas ações possam ser baseadas em resultados científicos,
e não apenas em questões de natureza política. Frente à magnitude numérica dos efeitos de um dado
agente climático, o tomador de decisões poderá analisar o custo∕benefício de determinadas ações para
diminuir tais efeitos, ou eventualmente buscar soluções de adaptação a um cenário decorrente desses
efeitos. Por exemplo, é importante conhecer qual a contribuição de cada agente climático para as varia-
ções de temperatura na superfície do planeta, ou mesmo no Brasil. No entanto, como qualquer ferramenta
de modelagem do clima, os modelos climáticos atuais mais avançados, que vêm progressivamente forne-
cendo resultados cada vez mais confiáveis e consistentes para previsões de mudanças climáticas, devem ser
alimentados com estimativas seguras das forçantes radiativas.

O conceito de forçante radiativa, definida no Painel S1, é um passo intermediário que não ne-
cessita, em princípio, de modelos climáticos para seu cálculo, por isso os valores de forçante radiativa
podem ser interpretados de maneira mais objetiva. Uma forçante radiativa positiva significa que um agen-
te tende a aquecer o planeta, ao passo que valores negativos indicam uma tendência de resfriamento.
Uma inconveniência do conceito de forçante radiativa é que em geral ela é expressa em termos de W m -2
(Watt, ou potência, por metro quadrado), que é uma unidade menos familiar que temperatura em graus
Celsius, por exemplo. Se um agente climático representa uma forçante radiativa de +2 W m -2, isso indica
que ele tende a aquecer o planeta. Uma vez determinado o valor da forçante radiativa de um agente,
pode-se usar esse valor em modelos climáticos que procurarão traduzi-lo, por exemplo, como mudanças
de temperatura à superfície, ou mudanças no volume de chuvas, etc. Como os modelos climáticos ainda
apresentam resultados bastante divergentes, um mesmo valor de forçante pode dar origem a diferentes
previsões, dependendo do modelo climático escolhido e das condições em que ele é utilizado. É nesse
contexto que o conceito de forçante radiativa oferece um meio de comparação entre diferentes agentes
climáticos, independentemente da precisão dos modelos climáticos atuais. A quantificação numérica da
intensidade da forçante radiativa permite ao tomador de decisão visualizar quais os agentes mais signi-
ficativos, classificando-os por ordem de magnitude relativa. Calcular a forçante radiativa de um agente
climático é como definir uma escala padrão, que permite a possibilidade de se estimar a intensidade de
sua perturbação sobre o clima, para algum local ou região do globo.

Painel S1 – Definição de forçante radiativa


A forçante radiativa devido a um agente climático é definida como a diferença em irradiância líquida na tropopausa, entre um
estado de referência e um estado perturbado devido ao agente climático. As temperaturas de superfície e da troposfera são
mantidas fixas, mas permite-se que a estratosfera atinja o equilíbrio radiativo. O estado de referência pode ser a ausência do
agente climático, ou seu impacto em uma dada situação ou época, como, por exemplo, no início da Revolução Industrial (ca.
1750) adotado pelo IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change (Forster et al., 2007).

Além de agentes climáticos independentes, ocorrem também situações de inter-dependência entre


agentes, chamados processos de retroalimentação, que tornam ainda mais complexa a compreensão
de qual o efeito climático final de um certo agente. Alguns agentes climáticos podem influenciar o ciclo
hidrológico. Por exemplo, alguns estudos mostram que a fumaça emitida em queimadas na Amazônia
pode alterar o funcionamento natural das nuvens, diminuindo o volume de chuvas que essas nuvens po-
dem produzir. Se isso acontece, então a menor ocorrência de chuvas pode favorecer a ocorrência de um
número ainda maior de queimadas, e assim se estabelece um ciclo de retroalimentação. Em tais ciclos de
retroalimentação, as relações de causa e efeito são complexas, e por esse motivo a avaliação do impacto
sobre o clima é denominada efeito radiativo, e não uma forçante radiativa. Essa distinção é utilizada de
forma rigorosa neste capítulo: agentes climáticos que atuam de forma independente exercem forçantes
radiativas; aqueles que interferem em ciclos de retroalimentação exercem efeitos radiativos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 239


É importante levar em consideração escalas de tempo e espaço. Mudanças climáticas que
ocorrem em longo prazo, em escalas de milhares a milhões de anos, são controladas por variações
orbitais do planeta. No entanto, numa escala de centenas de anos as mudanças orbitais são virtualmente
irrelevantes, e outros fatores predominam. Um exemplo é a influência antrópica sobre o clima devido à
emissão de gases de efeito estufa, que vem causando um aumento anômalo da temperatura média na
superfície do planeta.

Este capítulo apresenta a definição formal de forçante radiativa, do potencial de aquecimento global
e do potencial de temperatura global, que são grandezas utilizadas para padronizar uma metodologia
de comparação, e que permitem estimar quantitativamente os efeitos de diferentes agentes climáticos.
O capítulo apresenta uma revisão bibliográfica de estudos recentes, efetuados sobre o Brasil ou sobre a
América do Sul, que identificaram alguns dos principais agentes climáticos naturais e antrópicos atuantes
no país. Embora a intenção fosse apresentar, em números, a contribuição para a forçante radiativa
atribuída aos diferentes agentes, a inexistência de trabalhos científicos no país para vários deles trouxe
outra dimensão ao capítulo.

Os efeitos climáticos mais significativos em escalas de dezenas a centenas de anos, no Brasil, são
os efeitos radiativos de nuvens, a forçante radiativa dos gases de efeito estufa, a forçante de mudança
de uso do solo, e a dos aerossóis (fumaça) emitidos em queimadas por fontes antrópicas. A Tabela S1,
discutida em detalhe no texto do capítulo, apresenta uma compilação de resultados encontrados na
literatura científica sobre os principais efeitos radiativos de agentes climáticos no Brasil.

Nuvens exercem um efeito radiativo natural, mas suas propriedades podem ser alteradas pela
ação humana (e.g. efeitos indiretos de aerossóis, mudança de propriedades da superfície, entre outros).
Essas alterações podem envolver processos de retroalimentação, com possíveis impactos sobre o ciclo
hidrológico, causando alterações na disponibilidade de água doce, ou na frequência de ocorrência de
eventos extremos de precipitação, como secas ou tempestades severas. Os resultados compilados neste
capítulo mostram que as nuvens constituem o agente climático mais importante do ponto de vista de balanço
de radiação sobre a Amazônia, reduzindo em até 110 W m-2 a radiação à superfície, e contribuindo com
cerca de +26 W m-2 no topo da atmosfera. Isso significa que as nuvens na Amazônia atuam causando
em média um resfriamento da superfície, mas um aquecimento do planeta. Cabe ressaltar que o modo de
distribuição vertical das nuvens desempenha um papel fundamental nos resultados obtidos: nuvens altas
tendem a contribuir com um efeito de aquecimento do planeta, enquanto nuvens baixas tendem a resfriá-
lo. Desse modo, é importante destacar que esse resultado não pode ser automaticamente estendido para
outras regiões, com padrões de nuvens e características de superfície diferentes da região amazônica.

No Brasil, a principal fonte de gases de efeito estufa e aerossóis antrópicos é a queima de


biomassa, utilizada como prática agrícola ou na mudança da cobertura do solo. Como técnica agrícola,
as queimadas são empregadas no combate de pragas e na limpeza de lavouras com objetivo de facilitar a
colheita, como no caso do cultivo da cana de açúcar. O uso de queimadas para alteração do uso do solo
é observado especialmente na região amazônica. No caso dos gases de efeito estufa, grande parte do
esforço das pesquisas no Brasil atualmente se concentra na elaboração de inventários de emissão. Não se
encontram na literatura científica estimativas de cálculos da forçante radiativa desses gases considerando
as condições das emissões brasileiras.

Aerossóis antrópicos, emitidos principalmente em queimadas, podem absorver e refletir


a radiação solar. Essa interação direta entre aerossóis e a radiação solar define a forçante radiativa
direta de aerossóis. Vários estudos quantificaram essa forçante de aerossóis antrópicos, sobretudo na
Amazônia. Uma média ponderada de alguns dos resultados compilados neste capítulo resultou em uma
forçante radiativa de -8,0±0,5 W m-2, indicando que, em média, a fumaça emitida em queimadas
contribui para resfriar o planeta, contrapondo-se parcialmente ao aquecimento causado por gases de
efeito estufa antrópicos. É muito importante, no entanto, ressaltar que aerossóis e gases de efeito estufa
têm escalas de tempo e espaço muito diferentes: enquanto gases de efeito estufa tendem a se espalhar
aproximadamente de modo uniforme sobre o planeta, e têm tipicamente vida média de centenas de anos,

240 VOLUME 1
aerossóis emitidos em queimadas na Amazônia espalham-se sobre grande parte do continente da Améri-
ca do Sul, e têm vida média de dias (são removidos da atmosfera e depositam-se sobre a superfície).
Assim, a comparação das forçantes de aerossóis e gases de efeito estufa não pode ser feita diretamente.

Tabela S1. Quantificação da forçante radiativa do aerossol antrópico, da mudança no uso do solo e
do efeito radiativo de nuvens sobre o Brasil e a América do Sul.

Agente Região Condiçãoa Valorb (W m-2) Fonte de dados Referência


Amazônia SUP, 24h c
[-110; -50] Modelo climático Betts et al., 2009
Nuvens Amazônia SUP, 24hc -76 Modelo climático Miller et al.,
TDA, 24hc +26 2012
Amazônia TDA -23,7±2,8 Satélite, modelo Sena et al.,
Uso do Solo
-7,3±0,9 radiativo 2013

Amazônia SUP, 24hd -39,5±4,2 Sens. remoto, Procópio et al.,


ATM, 24hd +31,2±3,6 modelo radiativo 2004
TDA, 24hd -8,3±0,6
Amazônia TDA, 24h c
-16,5 Modelo climáti- Liu, 2005
co, medidas
in-situ
Aerossol Atlântico tropical TDA, 24he -1,8 Satélite, modelo Kaufman et al.,
Antrópico: ATM, 24h e
+2,9 radiativo 2005
América do Sul TDA, 24h [-8; -1] Modelo climáti- Zhang et al.,
efeitos
diretos SUP, 24h [-35; -10] co, satélite 2008
América do Sul TDA, anual [-1,0; -0,2] Satélite Quaas et al.,
2008
Amazônia TDA -13,0±3,9 Satélite, modelo Patadia et al.,
TDA, 24h -7,6±1,9 radiativo 2008
Amazônia TDA, 24h -5,6±1,7 Satélite, modelo Sena et al.,
Floresta -6,2±1,9 radiativo 2013
Cerrado -4,6±1,6
Hemisfério Sul TDA, 24h , alb c
-0,70±0,45 Revisão da Lohmann e
Global, sobre TDA, 24h , ind c
-1,9±1,3 literatura Feichter, 2005
Aerossol continentes
Antrópico: Atlântico tropical TDA, 24he, alb -1,5 Satélite, modelo Kaufman et al.,
TDA, 24h , ind e
-9,5 radiativo 2005
efeitos
indiretos América do Sul TDA, 24h, ind [-5; +20] Modelo climático Zhang et al.,
2008
América do Sul TDA, anual, alb [-0,10; -0,02] Satélite Quaas et al.,
Atlântico tropical [-5,00; -0,05] 2008
Amazônia TDA, 24hc -9,8 Modelo climáti- Liu, 2005
co, medidas
in-situ
Total
Aerossóis e Atlântico tropical TDA, 24he -11,3 Satélite, modelo Kaufman et al.,
Nuvens radiativo 2005
SUP, 24he -8,4
América do Sul TDA, 24h [-10; +15] Modelo climáti- Zhang et al.,
[-35; -5] co, satélite 2008

a) Indica a posição vertical na coluna atmosférica (TDA: topo da atmosfera; SUP: superfície; ATM: coluna atmosférica) para a estimativa em questão, o domínio
temporal de cálculo (valor instantâneo, média de 24h ou média anual), e o componente do efeito indireto analisado (alb: albedo; ind: total dos efeitos indiretos);
b) Valores entre colchetes indicam intervalos de mínimo e máximo apresentados nas referências. Quando disponíveis, as incertezas apresentadas pelos autores são
indicadas; c) Domínio temporal presumido (não informado explicitamente na referência); d) Estado de referência com profundidade óptica de aerossóis de 0,11; e)
Estado de referência com profundidade óptica de aerossóis de 0,06.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 241


As mudanças antrópicas no uso do solo como, por exemplo, o processo de longo prazo de
urbanização das cidades brasileiras, ou a conversão de florestas para a agropecuária na região amazônica
desde 1970, resultaram em modificações de propriedades da superfície vegetada como, por exemplo,
o albedo (refletividade da superfície). No caso da Amazônia, em geral, substitui-se uma superfície mais
escura (floresta), por superfícies mais brilhantes (e.g. plantações, estradas, construções, etc.), o que
implica em uma maior fração da radiação solar sendo refletida de volta ao espaço. Encontrou-se um
trabalho sobre a mudança de albedo em regiões desmatadas desde 1970 na Amazônia, que estimou
em -7,3±0,9 W m-2 como a magnitude dessa forçante antrópica. Note-se que esse valor é semelhante
à forçante de aerossóis antrópicos, porém, é importante salientar que o desmatamento na Amazônia
tem caráter virtualmente “permanente” (i.e. a maioria das áreas degradadas em geral não volta a ser
recomposta como floresta primária), enquanto aerossóis de queimada têm vida média da ordem de dias.
Essas observações indicam a necessidade de se realizar estudos mais aprofundados sobre essa forçante
originada nos processos de mudança de uso do solo, em especial, incluindo-se o efeito da urbanização
histórica e da expansão agropecuária em nível nacional e em várias escalas temporais.

Aerossóis também interagem com nuvens, modificando suas propriedades. As nuvens modificadas,
por sua vez, interagem com a radiação solar. Dessa forma, define-se a forçante indireta (i.e. mediada
pela interação com nuvens) de aerossóis. As estimativas de forçante radiativa para os efeitos indiretos de
aerossóis encontradas na literatura apresentaram uma ampla gama de valores. A maioria dos resultados
tem sinal negativo, variando entre cerca de -9,5 a -0,02 W m-2 para diferentes tipos de superfície,
indicando condições de resfriamento climático. Este é um tópico que ainda necessita de mais estudos de
caracterização e verificações independentes, para que esse componente da forçante antrópica sobre o
Brasil possa ser adequadamente representado em modelos climáticos.

Não foram encontrados trabalhos avaliando a forçante radiativa no Brasil devido ao aerossol
de origem urbana, ao aerossol natural de poeira oriunda da África, ou de erupções vulcânicas, nem à
formação de trilhas de condensação pelas atividades da aviação comercial. Essas forçantes radiativas,
por hora desconhecidas, podem, ou não, serem comparáveis àquelas devido a gases de efeito estufa e
aerossóis de queimadas. Os trabalhos analisados na elaboração deste capítulo evidenciam a existência
de lacunas significativas em estudos de forçantes radiativas no Brasil. Conhecer com precisão a magnitude
dessas forçantes, e aprimorar a compreensão de seus impactos, resultará em melhorias nos modelos de
previsão de tempo e clima. Tais modelos são ferramentas importantes para instrumentalizar a tomada de
decisões políticas e econômicas diante das mudanças climáticas que vêm atuando no país.

7.1 INTRODUÇÃO
7.1.1 OBJETIVOS E ESTRUTURA DO CAPÍTULO

Este capítulo discute estimativas da forçante radiativa e efeitos radiativos, sobre a atmosfera e
a superfície, causados por agentes naturais e antrópicos sobre o Brasil. Resultados de medições in situ,
inferências obtidas com sensoriamento remoto, e esforços de modelagem são considerados. As discussões
deste capítulo abarcam estimativas para condições presentes. Observações climáticas sobre o passado
são discutidas no capítulo 5 e cenários futuros de impacto climático são abordados no capítulo 9.

O capítulo inicia com a definição do conceito de forçante radiativa, explicando as sutilezas


envolvendo essa definição, e o tipo de caracterização a ser considerada quando se comparam
diferentes estimativas da forçante radiativa para um agente climático. O capítulo então aborda
a importância da forçante radiativa devido às variações climáticas naturais, tais como a intensidade
da atividade solar e o impacto de erupções vulcânicas, assim como a forçante de gases e aerossóis
emitidos naturalmente por florestas, oceanos e a superfície terrestre. Efeitos radiativos importantes, tais
como aqueles devidos às variações orbitais e ao efeito radiativo de nuvens, também são discutidos.

242 VOLUME 1
A forçante radiativa antrópica associada aos diversos agentes climáticos recebe ênfase destacada,
uma vez que muito da literatura disponível cobre esse tópico. A mudança no uso do solo é a principal
responsável pela emissão antrópica de CO2 no Brasil, fazendo com que o país seja atualmente um im-
portante emissor mundial desse gás (Cerri et al., 2009). Represas e barragens construídas para a geração
de energia hidroelétrica contribuem com a emissão de CH4 devido à decomposição de matéria orgânica
em vastas áreas alagadas (Fearnside, 2004; Rosa et al., 2004). A quantificação e o monitoramento da
forçante antrópica positiva (i.e. aquela que favorece um aumento das temperaturas na superfície do pla-
neta) originada da emissão de gases de efeito estufa (GEE) são, portanto, relevantes para o país devido
ao potencial impacto de grande escala dessas emissões. Mudanças do uso do solo na Bacia Amazônica
também causam uma forçante radiativa devido à mudança do albedo de superfície. Em geral, essa mu-
dança parte de uma condição de floresta, representada por baixo albedo, que é transformada em uma
pastagem ou plantação com albedo mais elevado que o original (Sena et al., 2013). Mudanças de tem-
peratura, umidade, e fluxos de calor latente e sensível são também consequências de atividades de mu-
dança do uso do solo (Von Randow et al., 2004), mas não podem ser definidos como agentes de forçante
radiativa uma vez que essas modificações são consideradas parte da resposta climática (cf. definição de
forçante radiativa na seção 7.1.2).

Aerossóis emitidos em atividades de queima de biomassa no Brasil, e particularmente, na Amazônia


e região central do país, são transportados até grandes distâncias das localidades originárias dos focos
de incêndio. A fumaça cobre milhões de km2 todos os anos, por cerca de 3 a 4 meses durante a estação
seca (agosto a novembro) (Freitas et al., 2009a; Martin et al., 2010; Pereira et al., 2009). Aerossóis de
queimadas interagem diretamente com a radiação solar por absorção e espalhamento (efeitos radiativos
diretos de aerossóis). Dependendo de características físicas e químicas das partículas de aerossóis e
das propriedades de refletância da superfície, o efeito direto dos aerossóis pode exercer uma forçante
radiativa significativa no topo da atmosfera. Em geral, isso representa um efeito líquido de resfriamento
sobre o Brasil que se opõe parcialmente ao aquecimento induzido por emissões de GEE, embora as
escalas temporais e espaciais de vida média de aerossóis e gases sejam muito diferentes. Aerossóis
também interagem indiretamente com a radiação solar, causando a modificação de propriedades de
nuvens que, por sua vez, exercem efeitos radiativos sobre o clima (efeitos radiativos indiretos de aerossóis).
O efeito sobre o albedo de nuvens, também conhecido como efeito Twomey ou primeiro efeito indireto
de aerossóis, refere-se à influência exercida por uma população aumentada de partículas de aerossóis,
que causa a redução do raio efetivo de gotas de nuvens, sob a condição de manter-se fixo o conteúdo
de água líquida em uma nuvem (Twomey, 1974). Gotas de nuvens menores resultam em nuvens mais
brilhantes quando observadas do espaço, se comparadas a nuvens não perturbadas (Twomey, 1974). Isso
resulta em um aumento líquido do albedo de nuvens que corresponde a uma forçante radiativa negativa,
ou um efeito de resfriamento sobre o clima, já que uma maior fração da radiação solar é espalhada de
volta ao espaço. O efeito de aumento do tempo de vida médio de nuvens (efeito Albrecht, ou segundo
efeito indireto de aerossóis) postula que nuvens com gotas menores são menos eficientes na produção
de precipitação, resultando numa extensão de seu tempo de vida médio, que contribui com um efeito
de resfriamento sobre o clima, uma vez que mais radiação é espalhada de volta ao espaço devido
ao maior período em que a nuvem está presente (Albrecht, 1989). O efeito semi-direto de aerossóis
indica que a absorção e o espalhamento de radiação solar por aerossóis podem modificar o perfil de
temperatura e de umidade na atmosfera, além de propriedades de superfície como temperatura e fluxos
de umidade, calor sensível e latente (Hansen et al., 1997). As características alteradas da atmosfera e
da superfície acarretariam então em modificações em escala micro e macrofísica de propriedades de
nuvens, que por sua vez induziriam efeitos climáticos. Ambos os efeitos, sobre a vida média de nuvens e
o efeito semi-direto, não podem ser considerados agentes de forçante radiativa, uma vez que implicam
em modificações de características atmosféricas e de superfície, as quais têm impacto sobre o ciclo
hidrológico, levando inevitavelmente a processos de retroalimentação (cf. seção 7.3.2). Esses efeitos são,
no entanto, discutidos neste capítulo, uma vez que esforços buscando sua quantificação são relevantes
para estudos climáticos sobre o Brasil.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 243


Este capítulo também discute a quantificação de efeitos da química atmosférica sobre a concen-
tração e a distribuição espacial de aerossóis e GEE, que constituem os mais relevantes agentes antrópicos
de forçante climática sobre o Brasil. Modelos numéricos regionais como o CATT-BRAMS (Coupled Aerosol
and Tracer Transport model to the Brazilian developments on the Regional Atmospheric Modeling System)
(Freitas et al., 2011; Longo et al., 2010) têm sido desenvolvidos particularmente ao longo da última dé-
cada para a incorporação de processos físicos e químicos específicos para o país, procurando reproduzir
as complexas trocas de energia, matéria e momento através do sistema acoplado superfície-atmosfera no
Brasil. O modelo trata fontes e sumidouros de aerossóis e GEE, levando em consideração padrões de uso
da terra e modelos de emissão devido à combustão de biomassa, a maior fonte de aerossóis antrópicos e
GEE no país. Esses esforços tornam possíveis investigações de padrões espaciais e temporais da forçante
radiativa devido a essas duas classes de agentes climáticos, permitindo um melhor conhecimento de seu
impacto em escalas regionais.

O capítulo também trata da quantificação de métricas de emissão para GEE no Brasil. Essas mé-
tricas permitem definir um arcabouço numérico comum contra o qual o impacto de diferentes emissões
de GEE pode ser avaliado e apoiar a definição de políticas climáticas por tomadores de decisões. O
Potencial de Aquecimento Global (PAG), mede quanto um dado volume de um GEE contribui fisicamente
para o aquecimento global. Essa métrica é uma medida relativa que compara o potencial de aquecimen-
to de um gás àquele causado por um mesmo volume de um gás de referência, tipicamente o CO2. Um
intervalo de tempo (e.g. 100 anos) deve ser definido para o cálculo do PAG. O Potencial de Temperatura
Global (PTG) indica como a emissão de um dado GEE pode modificar a média global da temperatura
da superfície, também usando um gás específico para comparação, usualmente tomando o CO2 como
referência (Shine et al., 2005).

O capítulo conclui com observações finais e considerações, resumindo os principais resultados


de pesquisas recentes sobre a forçante radiativa natural e antrópica, e efeitos climáticos sobre o Brasil.
Recomendações de tópicos que necessitam de maior cobertura e considerações para próximos passos
em pesquisas são indicados, procurando reduzirem-se as incertezas que são mais relevantes para estudos
climáticos no Brasil.

7.1.2 O CONCEITO DE FORÇANTE RADIATIVA

O Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC AR4) define o conceito de forçante radiativa
(FR) como a diferença em irradiância líquida na tropopausa, em unidades de W m-2, entre um estado de
referência e um estado perturbado. A perturbação ocorre pela ação de um agente forçante enquanto as
temperaturas de superfície e da troposfera são mantidas fixas, mas permitindo-se que a estratosfera atinja
o equilíbrio radiativo (Forster et al., 2007). O relaxamento da temperatura estratosférica é importante em
processos que modificam o perfil de temperatura nessa camada da atmosfera (e.g. FR devido à redução
de ozônio estratosférico) (Haywood e Boucher, 2000). Por exemplo, uma forçante negativa indica um
maior fluxo de energia deixando o Sistema Terrestre na tropopausa em um estado perturbado devido a um
agente climático, comparado ao estado de referência. Com isso, tal agente representaria um efeito líqui-
do de resfriamento sobre o clima, enquanto um agente com FR positiva indica um efeito de aquecimento
climático. A escolha de um estado de referência pode ser subjetiva, sendo que alguns autores definem a
era pré-industrial, ou então o ano de 1750, como tal estado (e.g. IPCC AR4). Uma caracterização climá-
tica da era pré-industrial depende, no entanto, de um conjunto de hipóteses e considerações para sua
modelagem e, necessariamente, essa escolha carrega certo grau de arbitrariedade. Outra opção é con-
siderar a completa ausência do agente forçante como estado de referência (e.g. atmosfera sem aerossóis
quando se avalia a FR de aerossóis, Forster et al., 2007), ou ainda alguma definição de um nível “natural”
ou não perturbado para o agente forçante (Forster et al., 2007). Avaliações da FR feitas com definições
diferentes sobre o estado de referência resultam em valores diversos para a mesma forçante, portanto
qualquer comparação entre estimativas da FR deve esclarecer se a mesma referência foi utilizada.

A definição da FR delineada acima exclui processos de retroalimentação em estimativas de forçante,

244 VOLUME 1
uma vez que esses processos envolvem mudanças (i.e. respostas do sistema) em propriedades atmosféri-
cas ou de superfície, que levam a modificações no agente em si. A distinção entre o quê exatamente cons-
titui um agente forçante do clima, e o quê são as respostas climáticas ou processos de retroalimentação,
pode estar sujeita a debate na comunidade científica (Forster et al., 2007). Respostas do sistema climático
e sua retroalimentação exercem um papel fundamental e precisam ser levados em consideração quando
se pretende avaliar cenários climáticos completos e seus padrões espaciais e temporais. No entanto, não
são considerados agentes de FR neste capítulo, assim como não o são no IPCC AR4. Pode-se discutir o
“efeito radiativo” devido a uma resposta climática iniciada por um agente climático, mas é importante
distinguir esse termo do conceito de FR (Haywood e Boucher, 2000). Neste capítulo, os termos “efeito
radiativo” e “forçante radiativa” são empregados rigorosamente seguindo a definição acima, em acordo
com o utilizado pelo IPCC AR4.

A utilidade do conceito de FR vem da ideia de linearidade entre a resposta climática e a forçante.


Nesse modelo simplificado uma mudança na temperatura da superfície média global pode ser calculada
pela multiplicação de um coeficiente linear (o parâmetro de sensibilidade climática) pela FR devido a um
dado agente e, em princípio, a eficácia de diferentes agentes pode então ser comparada. Entretanto,
em geral as comparações não são diretas, uma vez que os padrões espaciais e temporais da FR global
podem diferir significativamente entre agentes. O conceito de FR tem a limitação de não descrever a res-
posta climática completa devido a certo agente. Porém, por outro lado, os modelos climáticos necessários
para se avaliar tal resposta climática ainda têm grandes divergências. Assim, ultimamente, o conceito de
FR, por ser mais simples que a resposta climática, representa, na verdade, uma ferramenta mais confiável
para se medir e comparar os efeitos de agentes climáticos.

Outras considerações devem ser levadas em conta ao se comparar diferentes avaliações da FR de


um agente climático. Em geral, a FR depende do comprimento de onda da radiação; assim, uma distin-
ção sobre o regime radiativo de ondas curtas, ondas longas 1 ou um intervalo específico de comprimento
de onda deve ser discutido. É possível definir ainda a forçante à superfície ou um perfil atmosférico da
forçante para um agente, mas apesar dessas definições serem úteis para a quantificação de saldos de
energia na interface superfície-atmosfera, elas não podem ser diretamente comparadas aos valores de
FR que se referem estritamente à região da tropopausa (Forster et al., 2007). A FR de um agente pode
ainda ser avaliada instantaneamente, ou em médias temporais diárias, mensais, ou considerando outros
intervalos de tempo. A variabilidade espacial da FR pode ser avaliada para uma região específica, ou
uma estimativa global da FR pode ser estimada. É, portanto, necessário destacar possíveis divergências
na metodologia usada para o cálculo de médias temporais e espaciais quando se comparam diferentes
avaliações da FR.

7.2 FORÇANTE RADIATIVA NATURAL

O clima do Sistema Terrestre é controlado por diversos agentes e processos naturais, envolvendo
relações complexas entre subsistemas e efeitos de retroalimentação. Alguns agentes climáticos naturais
atuam modificando a irradiância líquida na tropopausa. Assim, é possível definir para tais agentes uma
FR natural sobre o Sistema Terrestre, para os quais o estado de referência em geral é considerado como
a ausência do agente em questão, ou uma estimativa de sua condição na era pré-industrial.

A importância relativa entre as várias FR naturais depende da escala de tempo considerada. Em


escalas de milhares a milhões de anos o principal agente climático natural são as variações orbitais,
que contribuem com uma FR pela modificação da irradiância descendente na tropopausa em razão de
mudanças da geometria orbital (Le Treut et al., 2007). Mudanças solares internas ou externas (e.g. ciclo
de 11 anos do vento solar) contribuem também modificando a irradiância descendente na tropopausa e
representam assim uma FR importante em escalas de dezenas a centenas de anos (Laut, 2003; Tinsley,

1
Termos em geral utilizados ao se referir à radiação solar e à radiação terrestre, respectivamente.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 245


2008). Há estudos que buscam quantificar a influência de raios cósmicos na nucleação de partículas de
aerossóis na atmosfera, com impacto sobre a microfísica de nuvens e, portanto, sobre o clima (e.g. Dor-
man, 2006; Enghoff et al., 2011). No Brasil, há ainda uma lacuna no estudo de efeitos de raios cósmicos
sobre o clima, e em particular da quantificação dessa FR natural.

Na ausência de perturbações antrópicas, a influência de emissões de gases e aerossóis por flo-


restas, solos (aerossóis minerais), e pela superfície oceânica traduz-se em uma FR natural, pela interação
desses aerossóis e gases com a radiação solar. Em regiões da floresta amazônica foram identificadas
partículas de aerossol natural provenientes de áreas desérticas na África (Ben-Ami et al., 2010), o que
pode ter influências na biogeoquímica da região amazônica, mas também apresentar uma FR com im-
pacto importante em escalas de tempo geológicas, apesar de não haverem quantificações dessa forçante.
Emissões vulcânicas de gases e aerossóis exercem uma FR natural devido à absorção e ao espalhamento
de radiação solar, podendo modificar o equilíbrio radiativo da atmosfera globalmente após grandes
erupções (Gleckler et al., 2006), inclusive com impactos sobre a precipitação (Trenberth e Dai, 2007). Os
efeitos dessas emissões podem durar de meses até décadas (Gleckler et al., 2006), porém ainda não são
encontrados trabalhos mostrando estimativas dessa FR natural no Brasil.

Até a presente data os estudos efetuados no Brasil sobre agentes climáticos naturais, a serem
discutidos nas próximas seções, não buscaram estimar sua contribuição para a FR natural, mas inferir sua
influência sobre partes isoladas do sistema climático brasileiro. Alguns trabalhos, por exemplo, estudaram
as variabilidades observadas na quantidade de precipitação (Souza Echer et al., 2008) e na espessura de
anéis de crescimento de árvores (Nordemann et al., 2005; Rigozo et al., 2007, 2008), considerando dis-
tintas escalas temporais. Esses trabalhos avaliaram principalmente a influência de variações na irradiân-
cia solar através da análise de manchas solares sobre as variáveis estudadas. A influência das partículas
de aerossol natural sobre o clima acontece tanto do ponto de vista radiativo, quanto por afetar o ciclo
biogeoquímico de alguns elementos essenciais ao ecossistema terrestre. Do ponto de vista de ciclos bio-
geoquímicos, estudou-se o aporte de minerais a partir do transporte de poeira do deserto do Saara para
a região amazônica (Ansmann et al., 2009; Ben-Ami et al., 2010; Huang et al., 2010). A quantificação
da FR exercida por agentes naturais sobre o Brasil constitui assim um tópico ainda incipiente na literatura
científica.

7.2.1 EFEITOS CLIMÁTICOS ORBITAIS

Para ilustrar o impacto causado pelas variações da órbita terrestre ao redor do sol, cuja teoria foi
proposta por Milankovitch em 1941, a Tabela 7.1 apresenta valores da irradiância média incidente sobre
uma superfície horizontal no topo da atmosfera, para os meses de junho e dezembro sobre as latitudes de
0º (equador), 30ºS e 60ºS, de acordo com Berger e Loutre (1991) 2. Para efetuar as estimativas dessa ta-
bela, Berger e Loutre (1991) adotaram o valor de 1360 W m -2 para a constante solar 3 . Embora já men-
cionado no IPCC AR4, acrescenta-se, a título de comparação, que os valores médios diários da constante
solar oscilaram entre 1363 a 1368 W m -2 em medições efetuadas com satélites de 1979 a 2003 (Fröhlich
e Lean, 2004). Tais variações foram atribuídas ao ciclo de aproximadamente 11 anos da atividade solar.
Na Tabela 7.1, são comparados, para cada latitude, os valores médios de irradiância solar para o milênio
atual, os valores mínimos e máximos mais recentes (isto é, referentes ao ciclo, de máximo e mínimo, que
antecedeu o tempo presente) e os valores mínimos e máximos observados em toda a série de um milhão
de anos, nos meses considerados. Para referência é indicado o milênio de ocorrência de cada máximo e
mínimo. Nota-se que, quanto mais distante do equador, a diferença sazonal é mais significativa do que a
diferença causada pelas variações orbitais num mesmo mês. Cabe ressaltar, obviamente, que as escalas
temporais são ordens de grandeza distintas.

2
Valores obtidos em ftp://ftp.ncdc.noaa.gov/pub/data/paleo/insolation/

246 VOLUME 1
Tabela 7.1. Valor da irradiância solar média diária no topo da atmosfera quando a distância Terra-Sol
é igual a uma unidade astronômica, ou 1,49598 x 1011 m”.

Equador
Junho Dezembro
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m )
-2
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m-2)
atual 384,5 atual 410,7
-1 383,6 a
-11 380,2a
-11 410,7b -22 414,6b
-209 357,9c -959 357,4c
-600 445,1 d
-970 445,1d
30º S
Junho Dezembro
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m )
-2
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m-2)
atual 212,6 atual 506,6
-2 210,7 a
-12 474,1a
-12 223,3b -1 507,5b
-210 193,7c -600 439,3c
-600 251,8d -209 546,8d
60º S
Junho Dezembro
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m )
-2
Quando (x 1000 anos) Quanto (W m-2)
atual 22,8 atual 508,5
-8 19,9 a
-12 482,3a
-30 31,0b -2 511,9b
-211 17,0c -600 433,4c
-600 32,0d -209 558,4d

a) valor mínimo do último ciclo; b) valor máximo do último ciclo; c) valor mínimo observado no último
milhão de anos; d) valor máximo observado no último milhão de anos.

As variações sazonais, como pode ser visto na própria Tabela 7.1, sempre ocorreram e têm duração
de meses, ao passo que o efeito das variações orbitais tem duração de pelo menos mil anos. Exemplos de
evidências paleoclimáticas dos efeitos das variações orbitais no Brasil são discutidos no Capítulo 5.

No próximo tópico são discutidos alguns efeitos climáticos associados às variações na atividade
solar. Note-se que vários podem ser os fenômenos climáticos que afetaram as variáveis analisadas. Dis-
cussões mais aprofundadas sobre as observações de mudanças climáticas sobre o Brasil são discutidas
no Capítulo 2.

3
Irradiância solar incidente sobre uma superfície horizontal no topo da atmosfera quando a distância Terra-Sol é
igual a uma unidade astronômica, ou 1,49598 x 1011 m.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 247


7.2.2 EFEITOS CLIMÁTICOS DEVIDO A VARIAÇÕES DAS ATIVIDADES SOLARES

Souza Echer et al. (2008) analisaram totais anuais de precipitação em uma escala temporal
de cem anos a partir de medidas realizadas na região de Pelotas, Rio Grande do Sul, e utilizaram as
técnicas espectrais clássicas, de ondeletas e de potência cruzada de ondeletas. A potência cruzada
indica a escala de alta covariância entre duas séries temporais. A série temporal de precipitação cobriu
os anos de 1895 a 1994 e os agentes climáticos naturais analisados foram o El Niño, a partir do índice
de oscilação sul, oscilação quase bienal e atividade solar, esta, a partir da série temporal de manchas
solares (Rz4 , com ciclo característico de aproximadamente 11 anos e Rz22, ciclo de aproximadamen-
te 22 anos, também denominado ciclo duplo de manchas solares). A análise clássica mostrou que
a precipitação, durante o período coberto pela análise, apresentou vários ciclos de períodos curtos,
entre 2,2 e 5,6 anos e períodos de 8,9 a 11,7 anos. A análise de ondeletas identificou um ciclo in-
termitente com período de aproximadamente 2 a 8 anos. A análise de potência cruzada mostrou que
a precipitação e a oscilação quase bienal apresentaram correlação em períodos de 2 a 3 anos de
forma contínua ao longo do intervalo temporal analisado. A precipitação e o índice de oscilação sul
apresentaram potências cruzadas maiores ao redor de 4 a 8 anos, de forma esporádica. O número
de manchas solares e a precipitação apresentaram elevada potência cruzada ao redor do período de
11 anos do ciclo solar, embora de forma esporádica. Finalmente, com Rz22 a potência cruzada com
a precipitação mostrou-se elevada ao redor de 20 a 22 anos, com duração mais persistente quando
comparada ao ciclo de 11 anos.

Souza Echer et al. (2008) concluíram que o principal agente climático a influenciar a variabili-
dade da precipitação observada em Pelotas é o El Niño, com aumento da quantidade de precipitação
na região durante a fase quente do fenômeno. A dependência multilinear simples entre a atividade
solar, El Niño e oscilação quase bienal explicou apenas 30% da variabilidade observada. Os 70%
restantes poderiam estar associados a acoplamentos não lineares entre a atividade solar, El Niño, os-
cilação quase bienal, e outros fatores ainda passíveis de investigação. No entanto, cabe notar que a
influência de outros agentes climáticos, inclusive antrópicos, não foi considerada pelos autores.

Gusev et al. (2004) estudaram a variabilidade da precipitação em três localidades no Brasil, em


Pelotas, no Rio Grande do Sul, Campinas, em São Paulo, e em Fortaleza, no Ceará, de 1849 a 2000.
Os autores encontraram uma periodicidade bidecadal pronunciada ao longo de até 150 anos, com
correlações significativas com o ciclo solar de 22 anos, exceto para Campinas. Gusev et al. (2004)
advertiram, no entanto, que para se obter tais correlações é necessário impor uma mudança arbitrária
da fase de correlação entre as séries temporais de precipitação e de número de manchas solares. Para
Fortaleza, os autores impuseram a ocorrência de uma mudança de fase localizada entre os anos de
1942 e 1945, e com isso a correlação obtida foi de aproximadamente 0,80, significativa5 ao nível de
0,1%. Para Pelotas, Gusev et al. (2004) situaram uma mudança de fase entre 1920 e 1922, e assim
a correlação entre precipitação e manchas solares atingiu patamares entre 0,60 e 0,80, significativa
ao nível de 0,1%. As fases de correlação foram distintas para as duas localidades, isto é, enquanto em
Fortaleza no início da série temporal notou-se uma anticorrelação entre o número de manchas solares
e a precipitação, em Pelotas as duas séries temporais foram inicialmente correlacionadas positivamen-
te. A ocorrência de fases distintas para cada localidade, juntamente com a necessidade de imposições
artificiais de mudanças de fase, são pontos controversos desse estudo de Gusev et al. (2004). Essas

4
Rz é o número relativo de manchas solares (Izenman, 1983).
5
A significância estatística indica a probabilidade de que a correlação seja devido unicamente a flutuações espúri-
as. Alguns autores apresentam como significância o valor complementar, e.g. 99,9% ao invés de 0,1%.

248 VOLUME 1
questões apontam para a necessidade de mais investigações visando o estudo dos potenciais meca-
nismos físicos que possam explicar os fenômenos observados nas interações entre atividade solar e
precipitação.

Estudos da influência de agentes climáticos naturais sobre a espessura de anéis de crescimen-


to de árvores também foram baseados em análise espectral e de ondeletas. Amostras foram coletadas
no Brasil e no Chile (Nordemann et al., 2005; Rigozo et al., 2007) e apenas no Brasil (Rigozo et al.,
2008). No estudo de Nordemann et al. (2005), as árvores analisadas tinham cerca de 200 anos
(brasileira) e 2500 anos (chilena). No trabalho de Rigozo et al. (2007) as árvores analisadas tanto
brasileiras quanto chilenas correspondiam ao período entre 1837 e 1994. Finalmente, as árvores
analisadas no trabalho de Rigozo et al. (2008) representaram o período entre 1741 e 2004. As ár-
vores brasileiras foram coletadas em localidades do sul do país, mais especificamente dos estados
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os agentes avaliados foram a atividade solar, através do
número de manchas solares, e o El Niño, a partir do índice de oscilação sul. Os resultados mostraram
que as árvores sofreram influência tanto da atividade solar quanto de efeitos locais, como o El Niño,
sendo que as árvores brasileiras são mais sensíveis à variação na atividade solar, ao passo que as
espécies chilenas apresentaram maior variabilidade associada aos períodos característicos do El Niño.
Vale ressaltar que a influência do número de manchas solares diretamente sobre o crescimento das
árvores ainda não é bem compreendida. A variabilidade na irradiância solar total, devido ao ciclo de
manchas solares, em princípio é desprezível no que diz respeito à atividade fotossintética e, por esse
motivo, argumenta-se sobre a possibilidade de que variações na atividade solar causem alterações
no padrão de precipitação ou do perfil vertical de temperatura, afetando indiretamente o crescimento
das árvores.

7.2.3 EVIDÊNCIAS DO APORTE DE AEROSSOL MINERAL DA ÁFRICA PARA O BRASIL

Desde a década de 1980, vários autores discutiram o transporte de poeira do deserto do Saara
para a região amazônica (e.g. Swap et al., 1992), a partir de medidas in situ ou a bordo de aeronaves.
Huang e colaboradores (2010) analisaram inferências da profundidade óptica do aerossol a partir de
medições realizadas pelo sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), a bordo
do satélite Aqua, e de perfis verticais de poeira obtidos com o sensor CALIPSO (Cloud-Aerosol Lidar
and Infrared Pathfinder Satellite Observation). As imagens analisadas foram obtidas durante os anos de
2003 a 2007. Os autores observaram que a pluma de poeira viaja a uma velocidade média de 1000
km por dia e atinge a América do Sul em média uma semana após sua emissão. Os eventos que atingem
a América do Sul são mais frequentes nos períodos de verão e outono no Hemisfério Sul (entre dezem-
bro e maio), e estão relacionados ao movimento sazonal da ZCIT (Zona de Convergência Intertropical).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 249


Ben-Ami e colaboradores (2010) analisaram um evento de transporte de poeira para a Amazônia
entre os dias 11 e 27 de fevereiro de 2008. Nesse estudo analisaram imagens dos satélites Terra, Aqua,
do sensor CALIPSO e a concentração de elementos químicos em amostras coletadas em filtros durante o
experimento AMAZE-08 (Amazonian Aerosol Characterization Experiment), realizado entre 7 de fevereiro
e 14 de março de 2008, em um sítio experimental localizado a 60 km de Manaus. A partir da emissão,
detectada por meio de imagens de satélite, os autores acompanharam a pluma durante o deslocamento
sobre o oceano Atlântico, incluindo informações sobre a profundidade óptica do aerossol obtida, ainda
sobre o continente africano, em Ilorin, Nigéria, a partir de um fotômetro da rede AERONET (Aerosol
Robotic Network). Após a chegada da pluma sobre a Amazônia, a análise elementar dos filtros permitiu
a observação do aumento das concentrações de metais traçadores de poeira, como Al, Si, Ti, Fe e Mn,
em aproximadamente uma ordem de magnitude. Finalmente uma análise de trajetórias obtidas com o
modelo HYSPLIT (Hybrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory) corroborou o trabalho de Koren
et al. (2006) que indicaram a origem das massas de ar sobre a depressão de Bodélé, na África, uma das
mais ativas fontes de poeira, cuja emissão é máxima durante os meses de verão no Hemisfério Sul.

Cabe ressaltar que durante o verão no Hemisfério Sul a região do Sahel africano produz grandes
quantidades de aerossol devido à queima de biomassa e, portanto, grande parte do transporte de poeira
chega à América do Sul misturada com a fumaça das queimadas. Em alguns casos, a contribuição de
partículas oriundas das queimadas pode ser maior que a de poeira, conforme discutido por Ansmann et
al. (2009). Esses autores estudaram o transporte de partículas de aerossol de poeira e de queimadas utili-
zando dois instrumentos Raman Lidar, um deles instalado em Praia, Cabo Verde, e o segundo em Manaus,
Brasil, também durante o mês de fevereiro de 2008. Na região de Cabo Verde, a pluma de aerossóis
consiste de várias camadas, atingindo altitudes de até 5,5 km. Com a chegada de tais plumas à região
amazônica, a profundidade óptica do aerossol pode chegar a 0,3 na faixa espectral de 550 nm, com a
pluma distribuída de forma mais uniforme verticalmente e com altura máxima de 3,5 km.

Nos trabalhos relacionados ao aporte de aerossóis de poeira de deserto da África para a região
amazônica não há discussões ou tentativas de se estimar a FR natural devido ao impacto desse agente cli-
mático. Por outro lado, uma vez que o aporte de poeira pode conter contaminação importante de fumaça
de queimadas na África, a obtenção de uma estimativa da FR natural sobre a região amazônica devido
ao transporte de poeira é dificultada pela presença desse aerossol de origem antrópica.

7.2.4 O EFEITO RADIATIVO DE NUVENS

Segundo a definição apresentada na seção 7.1.2, formalmente os efeitos radiativos de nuvens


não se ajustam à definição de FR devido à incidência de processos de retroalimentação climática através
de sua influência sobre o ciclo hidrológico. No entanto, esses efeitos radiativos naturais são fundamentais
para o clima em escalas de tempo de décadas a séculos, sendo um dos tópicos que mais necessitam de
estudos e avanços conceituais em modelos climáticos.

As nuvens constituem um dos principais componentes do sistema climático para a determinação da


quantidade de energia solar absorvida pela superfície terrestre, da radiação térmica emitida para o espa-
ço e dos processos de retroalimentação do sistema climático. Enquanto as nuvens controlam a energia do
sistema climático, elas são extremamente dependentes da superfície e das condições atmosféricas que ori-
ginam diferentes tipos de nuvens, com diferentes propriedades radiativas. A convecção na região tropical é
o principal mecanismo para exportar o excesso de energia para as regiões com déficit de energia. Neelin e
Held (1987) argumentaram que a divergência do fluxo de energia radiativa no topo da atmosfera foi posi-
tiva se os fluxos na superfície (latente e sensível) foram maiores que o resfriamento radiativo da troposfera.
Os fluxos na superfície são as principais fontes de energia estática úmida na camada abaixo da nuvem.

250 VOLUME 1
Esses fluxos geram movimentos ascendentes e formam nuvens convectivas, modificando os processos de
resfriamento e aquecimento radiativo da atmosfera. Esse complexo sistema radiativo é acoplado ao siste-
ma dinâmico e termodinâmico que determinam a dinâmica das nuvens. O conhecimento dos processos
de interação das nuvens com a radiação, e vice-versa, é fundamental para simular com precisão os dife-
rentes cenários de mudanças climáticas. Os processos de retroalimentação entre nuvens e radiação estão
relacionados ao tipo de nuvens, à sua interação com aerossóis naturais e antrópicos (cf. seção 7.3.2.) e
aos processos de formação dos diferentes hidrometeoros.

Um aumento da temperatura média do planeta poderia gerar uma mudança no comportamento


e na distribuição das nuvens e de suas propriedades. Tais mudanças podem ser significativas através de
uma retroalimentação positiva ou negativa, favorecendo ainda mais o aquecimento, ou agindo como
um termostato, resfriando a temperatura do planeta de forma a compensar parcialmente o aumento
devido aos gases do efeito estufa. Para a análise específica do efeito de retroalimentação das nuvens,
foram concebidos vários sensores orbitais, como o ERBE (Earth Radiation Budget Experiment, cf. Barkstrom
(1984) para uma descrição detalhada). Os radiômetros desenvolvidos para esse fim medem basicamente
a radiação emergente no topo da atmosfera na banda das ondas curtas (a radiação solar refletida pelo
sistema terrestre) e no infravermelho (a radiação emitida pelo sistema terrestre). Atualmente o radiômetro
orbital que é a referência para esse tipo de estudo é o CERES (Clouds and the Earth’s Radiant Energy
System) (Wielicki et al., 1996). Esse sensor está instalado nos satélites polares Terra, Aqua e no satélite
equatorial TRMM atualmente em órbita, e está previsto também para a próxima geração de satélites
NPP (National Polar-orbiting Operational Environmental Satellite System (NPOESS) Preparatory Project).
O GERB (Geostationary Earth Radiation Budget), (Harries et al., 2005) é outro sensor do mesmo tipo, a
bordo do satélite MSG (Meteosat Second Generation), sendo o primeiro radiômetro para avaliação do
balanço de radiação em um satélite geoestacionário, portanto, com medidas de grande resolução tem-
poral comparadas a medidas efetuadas em satélites polares. A resolução temporal é um aspecto muito
importante no estudo do balanço radiativo do planeta dado que o tempo de vida médio de nuvens varia
entre minutos e horas. Com base nas medidas disponíveis, diversos grupos se esforçaram para compilar
resultados globais buscando avaliar o balanço de radiação do planeta e compreender os possíveis efeitos
de retroalimentação das nuvens. Dois conjuntos de dados podem ser considerados como os mais impor-
tantes à disposição, o ISCCP (International Satellite Cloud Climatology Project) (Schiffer e Rossow, 1983)
e o ERBE (Wielicki e Green, 1989).

Além da observação com o uso de satélites, o efeito radiativo das nuvens pode ser analisado por
intermédio da combinação de propriedades médias das nuvens e da atmosfera, e pelo uso de modelos
radiativos. Esses modelos permitem simular o balanço de radiação e estudar em detalhes o efeito de
cada tipo de nuvem e seus mecanismos de retroalimentação. Modelos de circulação geral da atmosfera
(MCGA) descrevem as propriedades físicas da atmosfera, e modelos radiativos acoplados aos MCGA
permitem avaliar o efeito no clima devido a mudanças antrópicas ou naturais. Embora tenha havido um
significativo aumento no conhecimento que permitiu desenvolver tais modelos, ainda existem muitas in-
cógnitas para descrever com precisão os processos que controlam a interação da radiação solar e térmica
com a superfície da Terra, atmosfera e nuvens. Existem incoerências entre observações e as simulações
utilizando esses modelos radiativos. As nuvens são as principais fontes de incertezas desses modelos prin-
cipalmente na quantificação dos processos de gelo (cristais de gelo com diferentes formatos e diferentes
densidades) e na camada mista água-gelo, isto é, ainda há divergências significativas na determinação
e na parametrização dessa camada no interior de nuvens. Além disso, os efeitos tridimensionais dos pro-
cessos de espalhamento radiativo das nuvens e sua interação com os outros campos de nuvens precisam
ser ainda muito aprimorados (Cahalan et al., 2005). Mesmo a parametrização dos processos que envol-
vem a radiação de céu claro na faixa do infravermelho, também importante no balanço radiativo, e que
atingiu significativo avanço em modelos radiativos (Turner et al., 2004), ainda apresenta discrepâncias
importantes devido ao complexo espectro de absorção do vapor d’água (Ptashnik et al., 2004). Machado
e Rossow (1993) apresentaram um estudo discutindo o efeito dos sistemas convectivos nos mecanismos
de retroalimentação das nuvens para a região tropical, levando em conta não somente o efeito no topo
da atmosfera, como é comumente analisado, mas os efeitos do aquecimento na coluna atmosférica
que podem estabilizar ou instabilizar a coluna inibindo ou auxiliando o desenvolvimento da convecção.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 251


Esses estudos concluíram que o efeito radiativo médio diário das nuvens no topo da atmosfera devido aos
sistemas convectivos é relativamente pequeno: a parcela composta por nuvens cirrus contribui com um
efeito radiativo positivo, mas nuvens convectivas e estratiformes apresentam efeitos negativos, resfriando o
sistema terrestre. Essa ação média quase nula é resultado de um ajuste de efeitos que aquecem e resfriam
em diferentes níveis da atmosfera. O efeito médio geral das nuvens de resfriarem a superfície e aquecerem
a atmosfera contribui para a estabilização da atmosfera e pode favorecer o decréscimo da ocorrência de
nuvens rasas e assim gerar um importante efeito de retroalimentação com o resfriamento do planeta. Os
perfis verticais de aquecimento e resfriamento radiativo podem ser importantes para sistemas convectivos
de longa duração. Por exemplo, o ciclo diurno da convecção nos oceanos, com máximo no período da
noite, pode ser explicado pelo efeito de aquecimento da coluna atmosférica e resfriamento do topo da
atmosfera gerando uma circulação direta (Gray e Jacobson, 1977).

Além disso, Chen e Cotton (1988) mostraram que o efeito radiativo das nuvens pode ser impor-
tante para a dinâmica dos sistemas de mesoescala e, consequentemente, para a circulação geral do
planeta. Nesses sistemas, o efeito radiativo age para instabilizar as camadas médias da atmosfera, que
reforça a circulação em mesoescala, que por sua vez sustenta uma maior intensidade de convecção. Em-
bora mencionado que o efeito radiativo líquido do sistema convectivo no topo da atmosfera é praticamen-
te nulo (um pequeno resfriamento), esses resultados foram obtidos considerando as propriedades médias
de nuvens e as mantendo durante todo o dia. Contudo, esse efeito deve ser considerado regionalmente
e em função do ciclo de vida do sistema convectivo e do ciclo diurno. Sistemas noturnos tendem a ter um
efeito radiativo líquido positivo, enquanto nuvens diurnas tendem a apresentar efeitos radiativos negati-
vos. Miller et al. (2012) estimaram o efeito radiativo de diferentes tipos de nuvens em diferentes regiões.
Na região amazônica os cálculos mostraram que as nuvens contribuíram com -76 W m-2 para o balanço
radiativo à superfície e com +26 W m -2 no topo da atmosfera. A Figura 7.1, extraída do trabalho de
Betts et al. (2009), mostra o efeito radiativo médio mensal das nuvens sobre a região amazônica a partir
da análise de dados de 1990 a 2001 do ISCCP (curvas verdes) e de reanálises de modelos hidrológicos
(curvas azuis e vermelhas). Foram comparadas as situações de céu claro com situações nas quais foi de-
tectada a presença de nuvens. Na Figura 7.1a, concentrando-se apenas nos resultados do ISCCP (curva
verde) observa-se que a presença de nuvens reduziu significativamente a irradiância solar incidente em
superfície, podendo causar um déficit médio da ordem de 50 W m -2 nos meses de junho e julho a até
aproximadamente 110 W m -2 em fevereiro.

Figura 7.1. Ciclo médio anual e a)


irradiância solar descendente em
superfície para situações de céu
claro e na presença de nuvens;
b) albedo efetivo de nuvens (vide
definição no texto); c) saldo de
radiação líquida para céu claro e
na presença de nuvens; d) fração
de cobertura de nuvens. Extraída de
Betts et al. (2009).

252 VOLUME 1
A presença das nuvens reduziu a quantidade de radiação solar incidente na superfície de 20 a 35%. O
efeito pode ser observado na Figura 7.1b, que mostra a variação mensal no período analisado do albedo
efetivo das nuvens para radiação solar descendente, definido na equação 7.1:

eq. 7.1

onde Irradiância (nuvem) é a irradiância solar descendente em superfície para situações com nuvens e
Irradiância(céu claro) é a irradiância solar descendente em superfície na ausência total de nuvens. O
déficit de radiação solar em superfície claramente afetou o saldo líquido de radiação (Figura 7.1c), isto
é, a quantidade de energia disponível em superfície para gerar os fluxos turbulentos de calor sensível e
latente. Finalmente, a Figura 7.1d mostra que durante todos os meses do ano, a fração média mensal de
cobertura de nuvens na Amazônia é significativa, mesmo nos mais secos, entre julho a setembro.

7.3 FORÇANTE RADIATIVA ANTRÓPICA

As atividades humanas induzem mudanças em componentes-chave do Sistema Climático Terres-


tre, conforme discutido no IPCC AR4 (Le Treut et al., 2007). De acordo com a definição apresentada na
seção 7.1.2, algumas dessas modificações podem ser quantificadas e expressas em termos de FR, signifi-
cando alterações líquidas na irradiância total descendente à tropopausa. As escalas de tempo em que os
agentes antrópicos exercem sua influência são consideravelmente heterogêneas, podendo variar desde
dias a séculos. Similarmente, as escalas espaciais da atuação de agentes responsáveis pela FR antrópica
podem variar desde centenas de quilômetros até extensões globais, como no caso da emissão de GEE.

As atividades de uso do solo e sua modificação são responsáveis pela maior contribuição brasilei-
ra para o aquecimento global antrópico devido à emissão de GEE em queimadas, tais como CO2, CH4 e
N2O (Cerri et al., 2009, cf. seção 7.5). Ainda assim não foram encontradas referências sobre cálculos da
FR antrópica sobre o Brasil devido à emissão desses gases. Por hora há apenas um esforço para a organi-
zação de inventários de emissões de GEE, que constitui um passo anterior necessário à quantificação da
FR devida a esses gases. Além de GEE, as queimadas originadas de atividades antrópicas emitem grande
quantidade de aerossóis, partículas microscópicas que constituem a fumaça originada em processos de
combustão. Essas partículas são agentes que influenciam o clima devido à sua interação direta com a
radiação solar, ou indireta pelo fato de causarem perturbações em nuvens, que por sua vez interagem
com a radiação solar e terrestre (Kahn et al., 2009). No Brasil, a FR antrópica, devido às interações direta
e indireta de aerossóis com a radiação solar vem sendo estudada há décadas, utilizando-se combinações
de resultados de medidas in situ, sensoriamento remoto e modelos radiativos. Dentre todos os agentes
climáticos antrópicos, a FR de aerossóis no Brasil é a melhor conhecida, com resultados que mostram
seu impacto à tropopausa (i.e. definição formal da FR), seu efeito radiativo sobre a coluna atmosférica,
sobre a superfície, interações indiretas envolvendo nuvens e alterações de sua microfísica (e.g. Martins et
al., 2011). Mais recentemente, há trabalhos que procuram explorar a variabilidade espacial e temporal
da FR antrópica devido a aerossóis (e.g. Patadia et al., 2008; Rosário, 2011). O monitoramento desse
componente da FR antrópica é essencial para conhecer o balanço de radiação sobre o Brasil e suas con-
sequências climáticas.

Em contraste com a FR de aerossóis, a FR para o Brasil devido a outros agentes climáticos de


origem antrópica ainda é pouco conhecida. Algumas vezes a FR não é nem mesmo mencionada na lite-
ratura científica, de modo que sua importância relativa não pode ser quantificada: não há números que
permitam comparar sua magnitude com a FR devido a outros agentes antrópicos ou naturais. Por exem-
plo, o impacto radiativo do ozônio estratosférico, ou efeitos radiativos do ozônio fotoquímico troposférico,
ainda não parecem ter sido adequadamente estudados. No setor de transportes, a aviação é responsável
pela injeção de vapor d’água na região da tropopausa, com a formação de trilhas de condensação de
vapor e nuvens cirrus persistentes. Isso pode contribuir com uma FR positiva resultando em aquecimento
da superfície terrestre, mas não há resultados disponíveis para o impacto climático do tráfego aéreo no
Brasil.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 253


As mudanças antrópicas no uso do solo como, por exemplo, o processo de longo prazo de
urbanização das cidades brasileiras a partir de 18086 , ou a conversão de florestas para a agropecuária
na região amazônica desde 1970, resultaram em modificações de propriedades da superfície vegetada.
Vários estudos realizados nas últimas décadas estudaram mudanças de propriedades da superfície, como
o albedo, fluxos de umidade, calor sensível e latente (Alvalá et al., 2002; Fisch et al., 2004; Loarie
et al., 2011; von Randow et al., 2004). Recentemente, Loarie et al. (2011) analisaram o impacto da
conversão de cerrado para produção agrícola ou pastagem, e destes para cana-de-açúcar, em cinco
estados brasileiros. De acordo com seus resultados, a conversão da vegetação natural para agricultura ou
pastagem causou aumento da temperatura e do albedo da superfície e diminuição da evapotranspiração.
Por outro lado, a conversão de pastagem ou outro produto agrícola para cana-de-açúcar, resultou em
diminuição da temperatura da superfície e aumento da evapotranspiração e do albedo da superfície.
Essas alterações podem afetar os fluxos turbulentos em superfície que controlam processos de formação
de nuvens e precipitação. Note-se que, segundo a definição discutida na seção 7.1.2, os efeitos radiativos
decorrentes de mudanças em fluxos de umidade, calor sensível e latente, embora importantes para o
balanço de radiação, não podem ser considerados como FR uma vez que tais fluxos modificam a estrutura
do perfil termodinâmico atmosférico influenciando a formação de nuvens e o ciclo hidrológico.

A mudança do albedo da superfície, decorrente de alterações antrópicas no uso do solo, resulta


numa FR devido à substituição de uma superfície, em geral mais escura (floresta), por superfícies mais
brilhantes (e.g. plantações, estradas, construções, etc.), o que implica em uma maior fração da radiação
solar sendo refletida de volta ao espaço. Do ponto de vista histórico, o processo de modificação do al-
bedo da superfície vegetada no Brasil decorre da expansão da ocupação urbana, da industrialização e
da intensificação da agropecuária, particularmente desde o início do século XIX. A literatura não registra
trabalhos que avaliem o impacto radiativo da mudança histórica de albedo da superfície para o Brasil
nesse período. Na Amazônia, o processo de ocupação intensificou-se desde 1970, com a abertura de
estradas e a adoção de políticas de favorecimento de colonização. Segundo Fausto (2002), o número de
habitantes em Rondônia passou de cerca de 110 mil em 1970 para cerca de 1,1 milhão em 1990. O
INPE monitora o desflorestamento na Amazônia desde 1988 utilizando instrumentos a bordo de satélites.
Estima-se que cerca de 7000 km2 de floresta foram desmatadas em 20107 . O desmatamento na Amazô-
nia é motivado por razões econômicas, com a conversão de florestas para pastagens e campos agrícolas.
Sena et al. (2013) estudaram a FR de mudança de albedo em regiões desmatadas da Amazônia usando
medidas efetuadas pelos sensores CERES e MODIS a bordo do satélite Terra. Esses autores analisaram a
irradiância ascendente no topo da atmosfera em condições de céu limpo (sem nuvens e sem aerossóis)
ao longo de dez anos entre 2000 e 2009 (meses de agosto e setembro), para duas regiões próximas em
Rondônia. Uma das regiões tem cobertura vegetal de floresta primária, representando a mata nativa, en-
quanto a outra foi desmatada após 1970. A diferença na irradiância média no topo da atmosfera entre a
área de floresta primária e a área desmatada representa o efeito radiativo devido à mudança de albedo
da superfície decorrente da modificação do uso do solo. Sena et al. (2013) estimaram em -7,3±0,9 Wm
-2
como a intensidade média de 24h dessa FR antrópica. Esse valor é da mesma ordem de grandeza que
a FR direta de aerossóis antrópicos, conforme discutido na próxima seção. Não há outros trabalhos que
avaliem essa fração da FR antrópica devido à mudança do albedo de superfície na Amazônia.

Para o tomador de decisão, a quantificação e o monitoramento de todos os aspectos da FR


antrópica é fundamental, por se tratar de uma esfera em que a sociedade organizada tem a capacidade
de agir de forma a minimizar impactos deletérios sobre o meio ambiente. Por esse motivo é essencial
conhecer e comparar a FR dos diversos agentes antrópicos para se determinar sua importância relativa e
elaborar cursos de ação política que sejam realmente eficazes numa escala de tempo determinada.

6
A data corresponde à chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, iniciando uma fase de desenvolvimento
econômico acelerado (Fausto, 2002).
7
Estimativas anuais de desflorestamento disponíveis em http://www.obt.inpe.br/prodes/index.html

254 VOLUME 1
7.3.1 FORÇANTE RADIATIVA DIRETA DO AEROSSOL ANTRÓPICO

Aerossóis naturais ou antrópicos podem afetar o sistema climático interagindo diretamente com a
radiação, pelo espalhamento e absorção de radiação solar e terrestre. A esse efeito pode corresponder
tanto uma FR positiva, contribuindo para o aquecimento da superfície terrestre, quanto uma FR negativa,
correspondendo ao resfriamento da superfície, dependendo ultimamente das propriedades ópticas dos
aerossóis e da refletância da superfície. O estado de referência pode variar entre trabalhos distintos,
dificultando a comparação entre eles. Os autores adotam diferentes cenários, que variam desde uma
comparação com uma atmosfera sem a presença de aerossóis a uma atmosfera com concentração de
fundo de aerossóis. Esta concentração de fundo é subjetiva, pois pode ser a concentração da era pré-
industrial (referência adotada no IPCC AR4), que, por sua vez, depende de várias hipóteses consideradas
nos modelos, ou pode ser a concentração natural dos aerossóis na atmosfera, antes da perturbação
imposta pela atividade antrópica em questão.

Patadia et al. (2008) utilizaram observações por satélite com o uso de múltiplos sensores (MODIS,
MISR – Multi-angle Imaging Spectroradiometer e CERES, a bordo da plataforma Terra) sobre a região
amazônica para a estimativa das médias diurnas da FR direta dos aerossóis no topo da atmosfera para
dias sem nuvens. A FR foi encontrada pela diferença entre as irradiâncias obtidas pelo CERES na ausência
e na presença de aerossóis. Estes valores não podem ser obtidos simultaneamente para um mesmo pixel.
Portanto foi utilizada uma aproximação para a irradiância quando a profundidade óptica dos aerossóis
fosse igual a zero, através da intercepção da linha de regressão entre a profundidade óptica do aerossol
e a irradiância solar, obtidas, respectivamente, pelo MISR e pelo CERES. Os autores analisaram ob-
servações de cinco anos entre 2000 a 2005 (com exceção de 2004), obtendo a FR antrópica do aerossol
entre -5,2 W m-2 a -9,4 W m-2, com média no período de -7,6±1,9 W m-2. A profundidade óptica do
aerossol (em 560 nm) variou de 0,15 a 0,36, sendo a média dos cinco anos para os meses de agosto e
setembro8 igual a 0,24.

Utilizando uma metodologia semelhante àquela de Patadia et al. (2008), Sena et al. (2013)
calcularam a forçante direta de aerossóis antrópicos sobre a Amazônia entre 2000 e 2009, sobre regiões
com cobertura vegetal de floresta primária e de cerrado. Esses autores utilizaram medidas dos sensores
CERES e MODIS para avaliar a FR direta instantânea do aerossol antrópico, e desenvolveram um modelo
radiativo para a descrição do albedo de superfície para cálculos da FR média de 24h. Sobre a Amazônia
como um todo, Sena et. al., (2013) estimaram a FR de aerossóis como 5,6±1,7 W m-2, semelhante
ao valor encontrado por Patadia et al. (2008). Sena et al. (2013) estimaram a FR em 6,2±1,9 W m-2
sobre pixels classificados como floresta, e em 4,6±1,6 W m-2 para pixels sobre o cerrado. As diferenças
entre intensidades da FR sobre floresta e cerrado refletem heterogeneidades em escalas regionais, devido
principalmente a diferenças no albedo de superfície e na profundidade óptica média do aerossol antrópico
sobre esses biomas.

Zhang et al. (2008) utilizaram simulações com o modelo climático regional RegCM3 para estimar
a distribuição espacial da FR antrópica direta dos aerossóis sobre a América do Sul. O sensor MODIS e
o modelo global GOCART (Goddard Chemistry Aerosol Radiation and Transport) forneceram dados de
entrada da distribuição espacial da profundidade óptica dos aerossóis (em 550 nm), do fator de assimetria
e do albedo simples para o mês de setembro de 2002. A FR foi calculada considerando uma pluma de
fumaça distribuída homogeneamente na vertical em uma camada de 3 km de altitude e adotando-se,
como estado de referência, a ausência de aerossóis atmosféricos. Os autores obtiveram resultados que
apontam valores da FR direta dos aerossóis sem a presença de nuvens variando entre cerca de -8 a -1 W
m-2 no topo da atmosfera, e um efeito radiativo à superfície entre cerca de -35 a -10 W m-2. A eficiência
da FR direta sem nuvens, definida como a FR normalizada pela profundidade óptica dos aerossóis (t),
foi de aproximadamente -10 a -15 W m-2 t-1 no topo da atmosfera, e a eficiência do efeito radiativo à
superfície foi de -70 a -80 W m-2 t-1.

Agosto e setembro são os meses com maior concentração de aerossóis na atmosfera devido à estação seca e da
8

maior ocorrência de queimadas (Martin et al., 2010).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 255


Liu (2005) efetuou cálculos com um modelo climático regional acoplado a um modelo de trans-
ferência radiativa na coluna atmosférica (ambos do NCAR – National Center for Atmospheric Research,
Estados Unidos), considerando como estado de referência a ausência de aerossóis. Assim, estimou a FR
dos aerossóis sem a presença de nuvens e o efeito radiativo de aerossóis com a presença de nuvens,
para os meses de agosto e setembro de 1995 na região amazônica. O autor obteve a FR regional média
no topo da atmosfera para o caso sem nuvens de -16,5 W m-2, enquanto com a presença de nuvens
e considerando retroalimentações atmosféricas, o efeito radiativo foi de -9,8 W m-2. Nas simulações, a
pluma de fumaça foi distribuída homogeneamente em uma camada de 2,5 km de altitude e a profundi-
dade óptica dos aerossóis foi considerada constante e igual a 0,75 (no visível médio). O albedo simples
adotado foi de 0,88 (em 550 nm) e a dependência espectral das propriedades ópticas dos aerossóis foi
determinada com base em polinômios de quarta ordem.

Procópio et al. (2004) utilizaram medidas de sensoriamento remoto obtidas através da AERONET
do MODIS (satélite Terra) para realizar análises temporais e espaciais da FR dos aerossóis na região ama-
zônica. Os autores apresentaram uma análise de sete anos (de 1993 a 1995 e de 1999 a 2002) das mé-
dias diárias da FR dos aerossóis sem a presença de nuvens para dois locais impactados pelas partículas
de queimadas. A FR diária foi calculada com um modelo de transferência radiativa (SBDART). Adotou-se
a condição de referência de profundidade óptica do aerossol igual a 0,11, no comprimento de onda de
500 nm, valor médio obtido para os períodos de estação úmida, através da AERONET. A pluma de fuma-
ça foi distribuída homogeneamente em uma camada de 1,6 km de altitude. A FR foi parametrizada em
função da profundidade óptica dos aerossóis, considerando-se, nos cálculos, a dinâmica espectral das
suas propriedades ópticas. As médias calculadas da FR dos aerossóis durante a estação seca (de agosto
a outubro) variaram entre -5,3 e -12,0 W m-2, no topo da atmosfera, e o efeito radiativo à superfície
variou entre -21,5 e -73,6 W m-2, para profundidades ópticas médias, observadas pela AERONET, entre
0,52 e 1,83 no comprimento de onda de 500 nm. A distribuição espacial da FR derivada das profundida-
des ópticas obtidas pelo MODIS sobre a Amazônia mostrou que a área afetada é de cerca de 1,2 a 2,6
milhões de quilômetros quadrados.

Os trabalhos que avaliaram a FR direta de aerossóis antrópicos sobre o Brasil apresentaram


discrepâncias entre os valores estimados, que ocorreram principalmente em função das diferentes meto-
dologias adotadas nos estudos, e ilustram a complexidade da determinação deste impacto. Na região
amazônica, a queima da biomassa afeta significativamente o balanço regional de radiação solar, sendo
fundamental o monitoramento contínuo desse componente da FR antrópica para possibilitar um melhor
entendimento de como o funcionamento do ecossistema pode ser alterado e quais suas consequências
climáticas.

7.3.2 FORÇANTE RADIATIVA INDIRETA DO AEROSSOL ANTRÓPICO

Além da interação direta entre aerossóis e radiação solar e terrestre, os aerossóis também in-
fluenciam o clima indiretamente, por atuarem como núcleos de condensação de nuvens e de gelo, com
o potencial de modificar a estrutura micro e macrofísica de nuvens, que por sua vez interagem com a
radiação solar e terrestre. Esses mecanismos são chamados coletivamente de efeito indireto de aerossóis
sobre o clima.

O efeito de aumento do tempo de vida médio de nuvens (efeito Albrecht, ou segundo efeito in-
direto de aerossóis) considera que a redução no tamanho das gotas afeta a eficiência de precipitação,
aumentando o conteúdo de água líquida e o tempo de vida médio de nuvens (Albrecht, 1989). O efeito
semi-direto de aerossóis (Hansen et al., 1997) considera que a interação de aerossóis com a radiação
solar modifica o perfil de temperatura e de umidade da atmosfera e propriedades da superfície, tais como
temperatura e fluxos de umidade, calor sensível e latente, fundamentais na determinação de propriedades
de nuvens. Ambos os efeitos, sobre a vida média de nuvens e o semi-direto, não podem ser considerados

256 VOLUME 1
agentes de FR de acordo com a definição da seção 7.2.1, uma vez que implicam modificações sobre o
ciclo hidrológico que levam a processos de retroalimentação climática.

Lohmann e Feichter (2005) analisaram trabalhos publicados após 2001, com estimativas da FR
indireta global devido ao efeito de albedo de nuvens, encontrando uma FR média de -1,0±0,4 W m-2.
Para o Hemisfério Sul, a FR indireta devido ao albedo foi de -0,70±0,45 W m-2, enquanto no Hemisfério
Norte foi de -1,7±0,2 W m-2. Trabalhos que consideraram o aerossol composto apenas de sulfato (e.g.
Quaas et al., 2004) apresentaram maiores valores da razão entre a FR no Hemisfério Norte e no Hemis-
fério Sul porque as emissões de queimadas, predominantes no Hemisfério Sul, foram modeladas como
pobres em sulfato e ricas em carbono.

Em escala regional, os efeitos radiativos indiretos dos aerossóis podem ser consideravelmente
maiores que as médias globais. Kaufman et al. (2005) estudaram os efeitos dos aerossóis em nuvens rasas
sobre o Oceano Atlântico usando inferências de cobertura de nuvens e de aerossóis do sensor MODIS
entre junho e agosto de 2002. Reanálises do NCEP-NCAR e uma regressão multivariada foram utilizadas
para separar a influência da meteorologia e isolar o efeito dos aerossóis. Os autores identificaram um
aumento da cobertura de nuvens rasas associado ao aumento da concentração de aerossóis. A média
do efeito radiativo total no topo da atmosfera devido aos aerossóis foi de -11±3 W m-2, sendo cerca de
2/3 devido ao efeito indireto e 1/3 devido à FR direta. Na região entre o Brasil e a África (20°S a 5°N),
que sofre grande influência de aerossóis de queimadas, Kaufman et al. (2005) encontraram um aumento
de 0,30±0,07 na cobertura de nuvens rasas ao comparar os casos poluídos e não poluídos. A FR devida
apenas ao efeito de aumento do albedo de nuvens foi estimada em -1,5 W m-2. Incluindo-se também o
aumento do conteúdo de água líquida e a mudança na cobertura de nuvens rasas, o efeito indireto total
chegou a -9,5 W m-2 nessa região. Este esfriamento é apenas parcialmente compensado pela absorção
de +2,9 W m-2 ao longo da coluna atmosférica. Um efeito semelhante pode ser esperado para regiões
do Pacífico Leste e da costa Sudeste do Brasil que sofrem influência das queimadas na Amazônia.

Zhang et al. (2008) estudaram o impacto de queimadas sobre as interações biosfera-atmosfera


na América do Sul. Os autores realizaram dois conjuntos de simulações com o RegCM3 (Pal et al., 2007)
para o período da campanha LBA-SMOCC 2002, um considerando os aerossóis de queimada e outro
excluindo-os. A diferença entre as simulações com e sem aerossóis para o fluxo resultante no topo da
atmosfera variou entre cerca de -8 e -1 W m-2, correlacionada com a distribuição espacial da profundi-
dade óptica de aerossóis. Já para céu com nuvens, a diferença ficou entre cerca de -10 a +15 W m-2 na
América do Sul, e cerca de +5 a +15 W m-2 na parte sul do arco do desmatamento, mostrando uma do-
minância do efeito das nuvens. A diferença entre os dois resultados de efeitos radiativos das nuvens entre
simulações com e sem aerossóis, que os autores interpretaram como o efeito total indireto dos aerossóis,
variou entre cerca de +5 a +20 W m-2 na região amazônica.

Ten Hoeve et al. (2011) usaram inferências da profundidade óptica de aerossóis, nuvens, vapor
de água e temperatura do sensor MODIS para examinar o efeito de aerossóis nas nuvens durante a es-
tação de queimada na Amazônia de agosto a outubro de 2004 a 2007. Os resultados foram analisados
separadamente para diferentes conteúdos de água na coluna atmosférica para isolar o efeito dos aeros-
sóis do efeito meteorológico. Os autores encontraram que a profundidade óptica das nuvens aumentou
com a profundidade óptica do aerossol até o limiar de aproximadamente 0,25, devido ao primeiro efeito
indireto. Acima deste limiar, a profundidade óptica das nuvens diminuiu, devido à inibição de formação
de gotas pelo efeito semi-direto. Os autores, entretanto, não forneceram estimativas numéricas da FR
indireta.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 257


No estudo de Quaas et al. (2008), no qual foi feita a primeira estimativa global dos efeitos indi-
retos dos aerossóis com uma metodologia inteiramente observacional, o globo foi dividido em 14 regiões
e as quatro estações do ano foram analisadas. De particular interesse para o Brasil, foram as regiões:
Pacífico tropical (20°S-20°N), América do Sul e Atlântico tropical (20°S-20°N). A partir de cinco anos de
dados dos sensores CERES e MODIS, os autores estimaram valores anuais da FR devido ao efeito de al-
bedo de nuvens entre -0,5 e -0,01 W m-2 para o Pacífico, -0,1 e -0,02 W m-2 na América do Sul, e entre
-5 e -0,05 W m-2 no Atlântico. O resultado foi bastante diferente do obtido por Zhang et al. (2008). Isso
aconteceu em parte porque a média estimada foi anual e sobre toda a América do Sul, e não apenas
sobre a estação de queimada da Amazônia; e em parte porque o modelo de Zhang et al. (2008) não
utilizou observações experimentais ou inferências de satélites.

Efeitos de retroalimentação podem atuar simultaneamente aos efeitos indiretos de aerossóis. An-
dreae et al. (2004) observaram que queimadas na Amazônia reduziram o tamanho de gotas de nuvem
e tenderam a inibir a precipitação, sugerindo que esse processo elevaria a altitude do início da precipi-
tação, de 1,5 km acima da base das nuvens, típica da precipitação quente amazônica, para 5 km em
nuvens poluídas, e para mais de 7 km em pirocumulus. A liberação de calor latente em níveis mais altos
tornaria a convecção mais vigorosa provocando tempestades de raios e formação de granizo. Um estudo
observacional, realizado por Lin et al. (2006), mostrou, a partir da análise de dados obtidos via satélites,
a existência de correlações entre o aumento da concentração dos aerossóis emitidos por queimadas na
Amazônia e (1) o aumento da taxa de precipitação, (2) o aumento da ocorrência de eventos extremos
de precipitação, (3) aumento da cobertura de nuvens, (4) aumento da altura do topo das nuvens, (5)
aumento do conteúdo de água dentro das nuvens e (6) maior formação de gelo. Do ponto de vista de
estudos numéricos, Martins et al. (2009) obtiveram resultados similares num estudo de caso, no qual o
aumento da concentração de núcleos de condensação de nuvens, devido ao aumento da concentração
de aerossóis emitidos pelas queimadas na Amazônia, intensificou a taxa de precipitação de chuvas inten-
sas, ao passo que reduziu a probabilidade de ocorrência de nuvens precipitantes de intensidade baixa e
moderada. Segundo os autores, o aumento da poluição contribuiu para alterar o processo de formação
de chuva, de quente para frio, isto é, envolvendo a fase de gelo, embora apresentando grande varia-
bilidade espacial e temporal. Esses resultados mostraram o quão complexas são as interações entre os
diversos agentes climáticos e os efeitos que precisam ser entendidos e quantificados, e as dificuldades em
separá-los dos mecanismos de retroalimentação.

7.4 EFEITOS DA QUÍMICA ATMOSFÉRICA NA COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE GASES DE


EFEITO ESTUFA E AEROSSÓIS

A emissão de GEE e de aerossóis corresponde a uma das parcelas mais significativas da FR antró-
pica. Designados em geral como poluentes atmosféricos, esses gases e aerossóis costumam ser divididos
em duas categorias: poluentes primários ou secundários. Poluentes primários são aqueles diretamente
emitidos por uma fonte. O carvão negro9 (aerossol produzido em processos de combustão) e o monóxido
de carbono (CO), por exemplo, são poluentes primários, ambos resultantes diretos da queima de matéria
orgânica. Já os poluentes secundários são aqueles formados na atmosfera através de reações químicas
entre poluentes primários e/ou componentes naturais da atmosfera. O ozônio (O3), um importante GEE,
é um dos principais poluentes secundários, resultante de reações químicas que envolvem óxidos de nitro-
gênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COV) na presença de radiação solar. Material particulado
secundário também pode ser formado na atmosfera a partir de reações químicas que envolvem gases
como dióxido de enxofre (SO2), NOx e COV. A concentração atmosférica desses poluentes depende de
vários fatores e processos físicos: intensidade de emissões, reações químicas das fases gasosa e aquosa,
conversão gás-partícula, crescimento do aerossol por condensação ou dissolução, nucleação homogê-
nea e heterogênea, coagulação, transportes advectivo, convectivo e turbulento e remoções seca e úmida.
No Brasil, esses processos físico-químicos da atmosfera têm sido estudados tanto através de modelos
numéricos de dispersão e qualidade do ar quanto em campanhas experimentais.

9
Usualmente em publicações científicas no Brasil utiliza-se o termo original em inglês “black carbon”.

258 VOLUME 1
Recentemente realizaram-se campanhas experimentais para o estudo de poluentes atmosféricos
em diferentes ambientes, tais como: região amazônica (e.g. Ahlm et al., 2010; Artaxo et al., 2005; Carmo
et al., 2006; Chen et al., 2010; Gatti et al., 2010; Soto-García et al., 2011), área urbana (e.g. Albuquer-
que et al., 2011; Andrade et al., 2012; Martins et al., 2008; Miranda et al., 2012; Paulino et al., 2010;
Sánchez-Ccoyllo et al., 2009), região industrial (Quiterio et al., 2004), áreas de cultivo de cana-de-açú-
car (Lara et al., 2005), cerrado (Metay et al., 2007), entre outras. Nessas campanhas, em geral de curta
duração, monitoraram-se a concentração de gases traço (CO, NOx, O3, COV, SO2, CO2, CH4, N2O) e
foram realizadas diversas análises físico-químicas do material particulado. A Tabela 7.2 mostra resumida-
mente a variedade de equipamentos, condições de amostragem e poluentes monitorados em campanhas
recentes, indicando-se as concentrações médias e estimativas de emissões de espécies químicas.

Modelos numéricos, por sua vez, permitem uma avaliação mais ampla da distribuição dos po-
luentes em comparação com as medidas realizadas em campanhas experimentais, i.e., possibilitam uma
maior cobertura, tanto no espaço quanto no tempo, da evolução de concentração de poluentes. Essa
evolução é realizada através da solução numérica da equação da continuidade, na qual a concentração
de uma espécie química é função da sua dispersão pelo vento, sua produção ou consumo, sua emissão
e remoção. Atualmente, os modelos numéricos de dispersão e/ou de qualidade do ar têm sido divididos
em modelos acoplados (on-line) ou não acoplados (off-line).

Normalmente, nos modelos não acoplados o campo de vento e outras propriedades que descre-
vem a atmosfera são fornecidos por um campo numérico meteorológico externo. O modelo de dispersão
ou qualidade do ar considera as fontes emissoras de uma espécie química e os processos que controlam
a dispersão, as reações químicas e a sua remoção da atmosfera. Os primeiros estudos numéricos de
qualidade do ar para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) foram realizados no final da década
de 1990 com o modelo fotoquímico não acoplado CIT, desenvolvido no California Institute of Technolo-
gy, apenas para os poluentes gasosos. No estudo de Martins (2006) o modelo CIT, alimentado com as
saídas meteorológicas dos modelos RAMS (Regional Atmospheric Modeling System, http://rams.atmos.
colostate.edu/) e BRAMS (Brazilian developments on the Regional Atmospheric Modeling System, http://
brams.cptec.inpe.br/), foi utilizado para avaliar a sensibilidade da formação do ozônio troposférico às
emissões veiculares de COV e NOx na RMSP. O modelo CMAQ (Community Multiscale Air Quality, http://
www.cmaq-model.org/) é o modelo de qualidade do ar atualmente recomendado pela Agência de Prote-
ção Ambiental dos Estados Unidos para a descrição da formação de partículas de aerossol e de ozônio
troposférico. O CMAQ é um modelo não acoplado que utiliza as saídas meteorológicas do modelo WRF
(Weather Research and Forecasting Model, http://wrf-model.org) e as emissões geradas pelo modelo
SMOKE (Sparse Matrix Operator Kernel Emissions, http://smoke-model.org). Sua estrutura conta com um
modelo de transporte químico (CMAQ Chemical Transport Model – CCTM), responsável pela simulação
dos processos químicos, de transporte e deposição envolvidos na modelagem da qualidade do ar. São
consideradas as reações químicas na fase gasosa, a influência de nuvens no transporte, a química da fase
aquosa e a remoção úmida dos gases e aerossóis, além da modelagem do aerossol (nucleação, conden-
sação, coagulação, distribuição de tamanho, composição química, deposição seca e úmida). Albuquer-
que (2010) utilizou este modelo para avaliar a sensibilidade da formação dos aerossóis inorgânicos finos
na RMSP ao controle da emissão de seus precursores, os gases SO2, NOx e NH3.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 259


Tabela 7.2. Concentração e emissão de gases e aerossóis em campanhas experimentais no Brasil.

Região Período Plataformaa Espécieb Concentração ou emissão Referência


CH4 (2000) 1707,3±8,4ppb
Nov2000 navio, n=9
Atlântico CO (2000) 52,7±6,5ppb Alvalá et al.,
Sul CH4 (2001) 1688,8±7,3ppb 2004
Mar2001 navio, n=7
CO (2001) 41,1±7,6ppb
CO2 400,59±0,09 ppm Chen et al.,
Mai2009 avião, cont
CH4 1950,07±0,68 ppb 2010
Mar-Mai2008 c
CO2 392±41 ppm Ahlm et al.,
in situ, cont
Jul-Ago2008 d
CO2 368±18 ppm 2010
Amazônia MP2,5, mf 59,8±41 μg m-3
MP2,5-10, mg 4,1±2 μg m-3
Soto-García
Set-Out2002d in situ, n=6 C, mf; mg 44±18 μg m-3; 3±2 μg m-3
et al., 2011
CE, mf; mg 18±9 μg m-3; 1,1±0,6 μg m-3
BC, mf; mg 3,6±0,9 μg m-3; 0,6±0,4 μg m-3
MP2,5, mf 28,1±13,6 μg m-3
São Paulo
BC, mf 10,6±6,4 μg m-3
Rio de MP2,5, mf 17,2±11,2 μg m-3
Janeiro Jun2007- BC, mf 3,4±2,5 μg m-3 Miranda et
in situ, 24h
Belo Hori- Ago2008 MP2,5, mf 14,7±7,7 μg m -3 al., 2012
zonte BC, mf 4,5±3,3 μg m-3
MP2,5, mf 7,3±3,1 μg m-3
Recife
BC, mf 1,9±1,1 μg m-3
MP2,5-10, 22,6±14,4 μg m-3; 68,1±43,2
mgc;d μg m-3
SE do Brasil Abr1997- Lara et al.,
in situ, cont 11,6±5,9 μg m-3; 22,7±14,5
(cerrado) Mar1998 MP2,5, mfc;d 2005
μg m-3
BC, mfc;d 2,1±0,9 μg m-3; 4,2±2,2 μg m-3
E N2O, NA 35,3±31,46 g N ha-1 ano-1
E N2O, AA 30,7±39,19 g N ha-1 ano-1
Ago2002- câmara, E CH4, NA 403±683 g C ha-1 ano-1 Metay et al.,
Goiânia
Jul2003 sem E CH4, AA 245±572 g C ha ano
-1 -1 2007
Total GEE, NA 7,8±9,4 kg CO2–e ano-1
Total GEE, AA 6,0±9,6 kg CO2–e ano-1
16±5 mg km-1; 452±112 mg
E BC, vl; vp
km-1
197±118 mg km-1; 755±401
E MP10, vl; vp
túnel, n=10 mg km-1
a 18 E MP2,5-10, 127±67 mg km-1; 715±585 mg
mg, vl; vp km-1 Sanchez-
Mar e
São Paulo E MP2,5, mf, 92±20 mg km-1; 588±364 mg Ccoyllo et al.,
Mai2004
vl; vp km-1 2009
E NOx, vl 1,6±0,3 g km-1
E NOx, vp 22±10 g km-1
túnel, cont
E CO, vl 15±2 g km-1
E CO, vp 21±5 g km-1

260 VOLUME 1
a) número de amostras (n) e frequência de amostragem: contínua (cont), diária (24h), ou semanal (sem); b) concentração de
material particulado com diâmetro aerodinâmico 2,5 µm (MP2,5) ou 10 µm (MP10), moda fina (mf) ou grossa (mg), carbono
total (C), carbono elementar (CE), Black Carbon (BC). Emissão (E) de GEE em áreas aradas (AA) ou não aradas (NA), e emissão
de gases e aerossóis por frota predominante de veículos leves (vl) ou pesados (vp); c) estação chuvosa; d) estação seca.

Os modelos não acoplados são ferramentas importantes no estudo de reatividade atmosférica,


considerando principalmente uma escala espacial mais regional e uma escala de tempo da ordem de
dias. Entretanto, nestes modelos, o efeito da variação das concentrações dos gases e dos aerossóis não é
incorporado à simulação meteorológica. O modelo SPM-BRAMS (Simple Photochemical Module, Freitas
et al., 2005) é um modelo on-line que realiza as reações químicas na fase gasosa de poluentes como
CO, NOX, SO2, O3 e COV, simultaneamente aos processos atmosféricos. Balbino (2008) fez um estudo
do impacto de intensa atividade convectiva ou de períodos secos em concentrações simuladas de ozônio,
e Carvalho (2010) aplicou-o às Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro. O CATT-BRAMS
(Coupled Aerosol and Tracer Transport model to the Brazilian developments on the Regional Atmospheric
Modeling System, http://meioambiente.cptec.inpe.br/) é um modelo de transporte 3D acoplado com um
modelo de emissões. As emissões de material particulado fino (i.e. partículas de aerossol com diâmetros
aerodinâmicos menores que 2,5 µm, ou MP2,5) e de CO oriundas de queimadas são alocadas espacial-
mente conforme a posição de focos de queimadas obtidos por imagens de satélite. Existem evidências ex-
perimentais que mostram que a queima de biomassa afeta a convecção profunda (Roberts et al., 2003), o
que requer um aperfeiçoamento das parametrizações de convecção em modelos. Freitas e colaboradores
(2007) incluíram no CATT-BRAMS a formação de pirocumulus, introduzindo um modelo de levantamento
de pluma, considerando que a temperatura das queimadas pode chegar a 1800 K. A inclusão desse
efeito tornou possível a obtenção de simulações mais precisas da injeção de aerossóis no nível correto
da atmosfera, e a obtenção de resultados numéricos compatíveis entre as observações de profundidade
óptica do aerossol do sensor MODIS e aquelas preditas pelo modelo CATT-BRAMS (Longo et al., 2010).
Um estudo sobre o impacto dos aerossóis na precipitação utilizando o CATT-BRAMS foi apresentado por
Freitas et al. (2009b). Neste mesmo trabalho foram apresentados resultados obtidos com um mecanismo
químico da fase gasosa, mostrando a formação de ozônio a partir dos precursores emitidos tanto em
queimadas quanto em regiões urbanas.

Finalmente, o WRF-CHEM é o modelo meteorológico WRF acoplado a um módulo de processa-


mento de reações químicas (http://www.acd.ucar.edu/wrf-chem/). O modelo simula a emissão, o trans-
porte, a mistura e transformações químicas de gases traço e aerossóis simultaneamente à meteorologia,
com variações de escala espacial de nuvens a escalas regionais. Silva Júnior (2009) utilizou o WRF-CHEM
para avaliar o impacto na simulação dos poluentes fotoquímicos, do uso de diferentes parametrizações
da camada limite planetária na RMSP. Este modelo também pode ser utilizado para o estudo de processos
importantes para as mudanças climáticas globais, incluindo a FR direta e indireta dos aerossóis, entretan-
to o custo computacional para isto ainda é elevado.

Até o momento, os trabalhos encontrados na literatura científica têm se limitado à aplicação de


modelos numéricos em regiões delimitadas (e.g. CATT-BRAMS para a América do Sul e Oceano Atlântico,
SPM-BRAMS e WRF-CHEM para regiões Sul e Sudeste do Brasil), e simulações com duração temporal de
dias. Como se tratam de modelos de qualidade do ar, o objetivo principal das análises é acompanhar as
espécies poluentes que exercem impacto sobre a saúde humana. Os GEE, com exceção do ozônio, são
considerados pouco reativos (daí sua longevidade na atmosfera e significância sobre o clima). Desta for-
ma, a dispersão é considerada o principal processo físico a que os GEE estariam submetidos. Além disso,
o domínio vertical dos modelos normalmente se restringe à troposfera, sendo poucos os estudos numéri-
cos que incluem a interação com a estratosfera e a camada de ozônio, outro fator que pode influenciar
o clima.

As principais limitações apontadas em estudos realizados no Brasil são: a falta de um inventário


de emissões com alta resolução espacial e temporal para as várias espécies químicas (GEE, especiação
dos compostos de carbono orgânico voláteis, caracterização química dos aerossóis, em especial sua
composição orgânica; produtos dos vários processos de combustão, especiação das emissões biogêni-
cas); alto custo computacional dos módulos responsáveis pelas reações químicas, do módulo de aerossol
e sua interação com a radiação; e carência de observações experimentais para validar os resultados dos

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 261


modelos com maior abrangência espacial e temporal.

No que concerne a representação de aerossóis em modelos computacionais, atualmente a maio-


ria dos modelos inclui aerossóis de sulfato, sal marinho, carvão negro e alguma forma de aerossol orgâ-
nico. A falta de inventários de emissão confiáveis (Bond et al., 2004) dificulta a simulação numérica dos
processos radiativos. Recentemente houve uma melhora na representação dos inventários de queimada
no Brasil e na América do Sul (Hoelzemann et al., 2004), mas esse fator ainda representa uma grande
fonte de incertezas. Outra limitação está relacionada ao fato que a maioria dos modelos numéricos não
leva em consideração a crescente evidência de que partículas de aerossóis são compostos principalmente
de aglomerados de diferentes substâncias químicas misturadas (Kojima et al., 2004). Alguns modelos
usados no Brasil incluem corretamente o grau de mistura dos aerossóis (Freitas et al., 2011; Longo et al.,
2010), algo que precisa ser feito por todos os modelos para melhorar a descrição da interação aerossol-
-radiação e aerossol-nuvens, e assim buscar a redução das incertezas devido à descrição de processos
físicos envolvendo aerossóis em previsões climáticas.

7.5 MÉTRICAS E MEDIDAS DO IMPACTO DE GASES DE EFEITO ESTUFA

O impacto de GEE no sistema climático pode ser expresso em termos de métricas de emissões, as
quais avaliam simultaneamente a quantidade de gás emitido e seu potencial impacto climático global. A
estimativa do volume emitido de cada GEE é apenas um indicativo quantitativo da presença de gases na
atmosfera. A contribuição efetiva de cada gás na atmosfera deve ser ponderada pelo seu peso molecular,
seu tempo médio de permanência na atmosfera e pelo efeito de aquecimento cumulativo de cada gás.
As métricas de emissão permitem comparar o efeito potencial da emissão de vários GEE e auxiliam nas
formulações de políticas públicas em relação às mudanças do clima. Diferentes formulações de métricas
de emissão são apresentadas na literatura (Kandlikar, 1996; Manne e Richels, 2001; Shine et al., 2005),
e aquelas utilizadas em inventários e relatórios oficias brasileiros são apresentadas no Painel 7.1.

Há um grande esforço nacional para se estimar a emissão de GEE no território brasileiro. O Bra-
sil, como signatário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC,
da sigla em inglês), tem como uma de suas principais obrigações a elaboração e a atualização periódica
do Inventário Nacional de Emissões e Remoção Antrópica de Gases de Efeito Estufa. O primeiro inven-
tário brasileiro de GEE foi publicado em 2004 (MCT, 2004), e incluía dados de emissão e sequestro de
GEE para o período entre 1990 e 1994. Dados mais recentes foram publicados no Segundo Inventário
Nacional, que apresenta valores referentes aos anos de 1990 e 2005, e que utiliza a metodologia do
IPCC e da UNFCCC (MCT, 2009).

262 VOLUME 1
Painel 7.1 - Métricas de Emissão: Definições e Formulações
Diferentes formulações de métricas de emissão são encontradas na literatura. As adotadas pelo
IPCC são apresentadas abaixo.

Potencial de Aquecimento Global (PAG) é uma métrica que estima a contribuição relativa de
um determinado gás de efeito estufa para o aquecimento global em relação à mesma quantida-
de de um gás de referência, geralmente CO2, cujo PAG é definido como 1. A definição do PAG
para um composto i é apresentada na equação 7.2:

(eq. 7.2)

onde FRi é a FR do composto i ao longo do tempo t, FRr é a FR do gás de referência r ao longo


do tempo t, e tf é o período de tempo para o qual se pretende estimar o PAGi.

O Potencial de Aquecimento Global é calculado sobre um intervalo de tempo específico, o


qual deve ser declarado juntamente com o valor de PAG. Como exemplo, o potencial de
aquecimento global do gás metano em 100 anos é 21 vezes maior do que o potencial do CO2,
o que significa que uma tonelada de metano absorve 21 vezes mais radiação do que uma
tonelada de CO2. Interessante observar que o PAG do óxido nitroso (N2O) é 310.

Potencial de Temperatura Global (PTG) indica o potencial da variação da temperatura à


superfície devido à emissão de um determinado gás de efeito estufa, tendo como referência a
emissão de um gás adotado como referência, comumente o CO2 (Shine et al., 2005). A defini-
ção do PTG para um composto i é apresentada na equação 7.3:

(eq. 7.3)

onde ΔTitf é a variação de temperatura à superfície devido ao composto i no intervalo de tempo


tf e ΔTrtf é a variação de temperatura à superfície devido ao gás de referência r no mesmo
intervalo de tempo tf.

Dióxido de Carbono Equivalente (CO2-e) é uma métrica obtida através da multiplicação


das toneladas emitidas de GEE por seu potencial de aquecimento global. Esta métrica é
utilizada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa baseado no potencial de
aquecimento global de cada gás em um horizonte de tempo determinado.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 263



Os GEE incluídos nos inventários oficiais são mostrados na Tabela 7.3, juntamente com suas
principais fontes de emissão. Esses GEE são aqueles reconhecidos internacionalmente pela ratificação
do Protocolo de Quioto: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hexa-fluoreto de
enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFC) e perfluorcarbonos (PFC). Outros gases que influenciam as reações
químicas que ocorrem na atmosfera, como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e
compostos orgânicos voláteis que não contêm metano (NMVOC, da sigla em inglês), também poderão ser
incluídos no inventário brasileiro futuramente. A Figura 7.2 apresenta dados preliminares do inventário de
emissões de GEE (MCT, 2009), agrupando-os em termos de emissão segundo setores socioeconômicos.
Na Figura 7.2 nota-se que, em 2005, o setor que mais contribuiu para a emissão de GEE no Brasil foi o de
mudança do uso do solo e floresta (58% das emissões totais do país). O segundo setor foi a agricultura (22%
do total), seguido pelos setores energético (16%), tratamento de resíduos (2%) e atividades industriais (2%).

Outro esforço nacional para contabilizar a emissão de GEE é o Programa Brasileiro GHG Protocol,
implementado em 2008. Este programa é uma iniciativa do Centro de Estudos em Sustentabilidade,
da Fundação Getúlio Vargas, e do World Resources Institute (WRI)10 , em parceria com o Ministério
do Meio Ambiente, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e o World
Business Council for Sustainable Development. Esse programa tem o objetivo de promover, por meio de
engajamento e capacitação técnica e institucional, uma cultura corporativa de caráter voluntário para a
identificação, o cálculo e a elaboração de inventários de emissões de GEE (http://www.ghgprotocolbrasil.
com.br/; Rusilo e Mañas, 2010).

Associado ao desenvolvimento metodológico (Brasil et al., 2007, 2008; Carvalho Jr. et al., 2007),
à elaboração e à atualização de inventários para estimar a quantidade de emissão e remoção de GEE,
existe um grande esforço da comunidade científica brasileira para identificar e estudar o perfil das fontes
de emissão dos GEE. Na seção seguinte são apresentados alguns desses trabalhos.


7.5.1. AS FONTES DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

Os estudos e dados obtidos pela comunidade científica têm contribuído para a elaboração do
inventário nacional de emissões de GEE, sob coordenação do Ministério de Ciência e Tecnologia. O
conhecimento do perfil de emissões de GEE ajuda a estabelecer estratégias, metas e planos para a
redução e a gestão das emissões. A metodologia adotada para contabilizar essas emissões foi baseada em
observações experimentais locais ou regionais durante períodos limitados do ano, que foram extrapoladas
para todo o país. Essa metodologia inviabiliza uma análise temporal detalhada do comportamento das
emissões. Adicionalmente, observou-se que os inventários não apresentaram as incertezas experimentais,
inerentes a todo processo de medida, associadas às emissões. Resultados de emissão de GEE e suas
incertezas são importantes para identificar e avaliar o perfil das fontes de emissões e também para
projetar cenários futuros de emissões ou reduções das concentrações de GEE. As estimativas das emissões
são necessárias para a análise de medidas mitigadoras dos efeitos do aquecimento global, sejam elas
a escolha de tecnologias de controle, as avaliações de custos de abatimento, ou as ponderações da
participação de cada fonte e de cada país nas emissões globais (OECD, 1991).

10
O WRI é referência internacional para elaboração de inventários corporativos de GEE. Os inventários corpora-
tivos têm como principal relator as indústrias (privadas ou publicas) de diversos setores econômicos.

264 VOLUME 1
Tabela 7.3. Gases responsáveis pelo efeito estufa no Brasil e suas respectivas fontes de emissão.

GEE Fontes de Emissão


CO2 - Mudança no uso do solo e desflorestamento
- Queima de combustíveis fósseis (uso de combustíveis fósseis, principal-
mente pelos setores energético, industrial e de transportes)
- Emissões fugitivas (mineração de carvão, extração e transporte de
petróleo e gás natural)
- Processos industriais (produção de cimento, cal, amônia, alumínio)
CH4 - Mudança no uso do solo e desflorestamento
- Queima de combustíveis fósseis (uso de combustíveis fósseis, principal-
mente, pelos setores energético, industrial e de transportes)
- Agropecuária (fermentação entérica, manejo de dejetos de animais, cul-
tura de arroz, queima de resíduos agrícolas)
- Tratamento de resíduos (lixo e esgoto industrial e doméstico)
- Emissões fugitivas (mineração de carvão, extração e transporte de
petróleo e gás natural)
- Processos industriais (indústria química)
N2O - Agropecuária (principalmente associado ao manejo de dejetos de ani-
mais, solos agrícolas, queima de resíduos agrícolas)
- Mudança no uso do solo e desflorestamento
- Processos industriais (indústria química - produção de ácido nítrico e
adípico)
- Tratamento de resíduos (esgoto doméstico)
HFC, PFC, SF6 - Estes gases não existiam originalmente na natureza, sendo produzidos
em processos industriais, principalmente no consumo em equipamentos de
refrigeração e elétricos, e na produção de alumínio.
GEE Indiretoa
CO - Queima de combustíveis fósseis (uso de combustíveis fósseis principal-
mente pelos setores energético, industrial, de transporte e residencial)
- Processos industriais (indústria química, indústria de alumínio e papel e
celulose)
- Agropecuária (queima de cana-de-açúcar na colheita)
- Queimadas em mudança no uso do solo e desflorestamento
NOX - Queima de combustíveis fósseis (uso energético de combustíveis fósseis
principalmente nos setores energético, industrial, de transporte e residen-
cial)
- Processos industriais
- Agropecuária (queima de resíduos de cana-de-açúcar e algodão)
- Queimadas em mudança no uso do solo e desflorestamento
NMVOCb - Queima de combustíveis fósseis (uso energético de combustíveis fósseis
principalmente nos setores energético, industrial, de transporte e residen-
cial)
- Processos industriais (indústria química, de alumínio, papel e celulose, e
de alimentos e bebidas)
- Uso de solventes

a) Gases que influenciam as reações químicas na troposfera, e que indiretamente exercem


aquecimento da atmosfera; b) Compostos orgânicos voláteis exceto metano, da sigla em inglês.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 265


Emissões de gases de efeito estufa no Brasil

Figura 7.2. Resultados preliminares


do Ministério da Ciência e
Tecnologia das emissões de gases
de efeito estufa no Brasil, por setor
econômico. (Fonte: adaptação de
MCT, 2009).

Os resultados comunicados pelos inventários de emissões de GEE indicam que o Brasil contribui
significativamente para as emissões globais desses gases (Campos et al., 2005; Cerri et al., 2009). As
fontes de emissões advêm principalmente do uso do solo e da mudança de cobertura do solo (USMS)
(51,9% do total de emissões de GEE), queima de combustíveis fósseis (16,8%), fermentação entérica
devido ao manejo de gado (12,0%), solos agrícolas (9,3%), e outras fontes (10,0%). No contexto geral,
a emissão total de GEE em equivalente de CO2 aumentou em 17,0% durante o período de 1994-2005
(Cerri et al., 2009), sendo o CO2 responsável por 72,3% do total. De acordo com os autores houve uma
pequena diminuição em relação aos outros GEE, uma vez que em 1994 sua participação foi de 74,1%.
O aumento de todas as fontes dos GEE, excluídos a mudança do uso do solo e o desmatamento, foi de
41,3% durante o período de 1994-2005. O Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) do World Resources
Institute estimou um crescimento maior desse subconjunto de fontes, equivalente a 48,9% das emissões
em 2009 (WRI, 2009). O total de emissão apresentado nessa referência foi de 1005 Mt CO2-e, incluindo
as emissões de CH4 e N2O, mas excluindo USMS. A maior parcela de emissões de CO2 no Brasil é
devido a USMS (76% das emissões totais de CO2), em particular associada à conversão da floresta
em agropecuária (MCT, 2004, 2009). O desmatamento é causado pelo processo de derrubamento de
árvores e por incêndios florestais.

Reservatórios de hidroelétricas são sistemas aquáticos artificiais e têm sido identificados como
emissores de quantidades significativas de GEE (Fearnside, 2004; Kemenes et al., 2007; Rosa et al.,
2004; Santos et al., 2005, 2006, 2008; St Louis et al., 2000), principalmente CO2 e CH4. A emissão
de CO2 em reservatórios ocorre devido à decomposição aeróbica de biomassa de floresta morta. O
CH4 é produzido principalmente por bactérias que participam do ciclo de decomposição subaquática do
carbono existente na matéria orgânica remanescente da época da formação da represa, ou na matéria
transportada, na forma de sedimentos, pelos rios que deságuam no reservatório (Giles, 2006; Rosa et al.,
2004). Em estudo realizado numa hidroelétrica localizada em área de floresta boreal, Teodoru et al. (2012)
estimaram que as emissões de CO2 e CH4 se estabilizariam num intervalo de 10 a 15 anos, embora em
patamares acima dos valores emitidos antes da inundação. Os autores sugerem que em regiões tropicais
o tempo necessário pode ser ainda maior, devido aos maiores valores de temperatura dessas regiões. Um
levantamento efetuado por Barros et al. (2011) mostrou alta variabilidade de emissões de CO2 e CH4 em
função do tempo de inundação e da latitude das hidroelétricas, com concentrações elevadas em algumas
das regiões estudadas mesmo após 40 anos da inundação. Fearnside e Pueyo (2012) também estimaram
que as emissões após a inundação de hidroelétricas nas regiões tropicais podem continuar elevadas
por décadas. O CH4 permanece dissolvido na água, principalmente nas camadas mais profundas do
reservatório, e escapa para a atmosfera quando passa pelas turbinas e pelos vertedouros de usinas
hidrelétricas. As estimativas oficiais brasileiras apenas consideraram as emissões que ocorreram

266 VOLUME 1
na área superficial da represa, o que representa uma fração relativamente pequena do impacto total do
gás (Fearnside, 2004). Santos (2000) apresentou uma metodologia para contabilizar as emissões de GEE
derivadas de diferentes reservatórios hidrelétricos brasileiros e extrapolar os valores para o parque hidrelé-
trico do país. As estimativas das taxas de emissão foram baseadas em dados observados em experimentos
realizados em sete hidrelétricas brasileiras com características distintas. O estudo mostrou que a fonte de
emissão advinda de hidrelétricas variou de acordo com o tipo de ecossistema pré-existente inundado (e.g.
floresta, cerrado, caatinga, etc.), idade do lago (anos), potência gerada (MW) e densidade superficial de
potência de funcionamento (Wm -2). A metodologia usada foi por amostragem em diversos pontos da
represa e extrapolada para toda represa. Diversos estudos têm concentrado particular atenção à emissão
de GEE nos afluentes do Rio Amazonas (Devol et al., 1988; Kemenes et al., 2007; Richey et al., 2002;
Santos et al., 2008). Devol et al. (1988) mediram fluxos de CH4 em áreas de alagamento pelo Rio Amazo-
nas durante o início do período chuvoso. A emissão média encontrada foi de 75 kg C km-2 dia-1 em área
de floresta alagada, 90 kg C km-2 dia-1 em lagos, e 590 kg C km-2 dia-1 em áreas de plantas flutuantes.

7.6 OBSERVAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Este capítulo apresentou uma revisão de trabalhos científicos e documentos que analisaram di-
versos aspectos relacionados à forçante radiativa de agentes climáticos naturais e antrópicos. Uma parte
significativa dos trabalhos avaliou efeitos climáticos relevantes sobre o Brasil, sem, no entanto, quantificar
a FR propriamente dita. Com relação a efeitos climáticos devido à atividade solar, identificam-se duas
questões, ainda em aberto, complementares à estimativa de sua FR: 1) Qual a influência da atividade
solar sobre a atmosfera superior, incluindo a ionosfera e a camada de ozônio estratosférico, e a interação
dessas camadas atmosféricas com a circulação troposférica global?; 2) As periodicidades observadas
no registro de variáveis meteorológicas e ambientais, no Brasil, e eventualmente correlacionadas com a
atividade solar, são estatisticamente coerentes com registros de outros locais do planeta? Essas questões
subjacentes são relevantes para a discussão da FR, uma vez que a atividade solar pode exercer impactos
globais em escalas de décadas a séculos, e os fenômenos físicos que descrevem as interações entre o Sol
e a atmosfera terrestre, incluindo processos de retroalimentação do ciclo hidrológico, ainda não foram
adequadamente estudados.

Em escalas de milhares de anos, as oscilações orbitais são determinantes para o clima do pla-
neta, mas no presente, em escalas de tempo relevantes para a vida humana, sua influência é mínima.
Dentre os agentes climáticos atuais discutidos neste capítulo, os mais significativos em magnitude, no
Brasil, são os efeitos radiativos de nuvens, a forçante radiativa dos gases de efeito estufa, a forçante de
mudança de uso do solo, e a dos aerossóis emitidos por fontes antrópicas. No caso das nuvens, esse
efeito radiativo é natural. Quando suas propriedades são alteradas pela ação humana (e.g. efeitos in-
diretos de aerossóis, mudança de propriedades da superfície, entre outros) podem haver processos de
retroalimentação com impactos sobre o ciclo hidrológico, causando alterações na disponibilidade de
água doce, ou na frequência de ocorrência de eventos extremos de precipitação, como secas ou tem-
pestades severas.

No Brasil a principal fonte de gases de efeito estufa e aerossóis antrópicos é a queima de


biomassa, utilizada como ferramenta de limpeza de área de cultivo, na mudança da cobertura do solo,
especialmente na região amazônica, e também devido ao cultivo de cana-de-açúcar. No caso dos gases
de efeito estufa, grande parte do esforço das pesquisas no Brasil se concentra na elaboração de inven-
tários de emissão, não se encontrando estimativas da forçante radiativa desses gases. Com relação aos
aerossóis antrópicos existem estimativas de suas forçantes radiativas, direta e indireta, especialmente para
emissões de queimadas, inclusive avaliando-se sua distribuição espacial e temporal.

A Tabela 7.4 mostra a compilação das estimativas, apresentadas neste capítulo, de efeitos ra-
diativos e da forçante radiativa natural e antrópica, com ênfase sobre o Brasil e a América do Sul. A
tabela indica a região geográfica para a qual as estimativas foram realizadas, o nível vertical na atmos-
fera a que se referem, seu domínio temporal (impacto instantâneo, médias de 24 horas, ou de 1 ano),
e as fontes principais de dados utilizadas nos cálculos (resultados de modelo, dados de satélite, etc.).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 267


Note-se que apenas estimativas para o topo da atmosfera (TDA na Tabela 7.4) correspondem à definição
formal de forçante radiativa. Alguns autores apresentam intervalos de estimativas, denotados por valores
entre colchetes. Para a aplicabilidade em modelos climáticos, convém apresentar forçante radiativa em
médias diárias, como efetuado pela maioria dos autores na Tabela 7.4, mas em alguns trabalhos o in-
tervalo de tempo utilizado para a obtenção da estimativa não é explicitado. Nas referências indicadas na
Tabela 7.4, muitas vezes a estimativa é obtida sem informar o intervalo de comprimento de onda conside-
rado nos cálculos. Cabe ainda notar que o tipo de superfície considerado nas estimativas é fundamental
para a interpretação do resultado. Por exemplo, tipicamente para um mesmo aerossol de queimadas na
Amazônia, a forçante radiativa direta apresenta maior magnitude sobre superfícies de baixa refletância
(e.g. florestas), e menor sobre superfícies mais brilhantes (e.g. cerrado).

Figura 7.4. Quantificação da forçante radiativa do aerossol antrópico, da mudança no uso do solo e do efeito radiativo de
nuvens sobre o Brasil e a América do Sul.

Agente Região Condiçãoa Valorb (W m-2) Fonte de dados Referência


Amazônia SUP, 24h c
[-110; -50] Modelo climático Betts et al., 2009
Nuvens Amazônia SUP, 24h c
-76 Modelo climático Miller et al.,
TDA, 24h c
+26 2012
Amazônia TDA -23,7±2,8 Satélite, modelo Sena et al.,
Uso do Solo
-7,3±0,9 radiativo 2013

Amazônia SUP, 24hd -39,5±4,2 Sens. remoto, Procópio et al.,


ATM, 24h d
+31,2±3,6 modelo radiativo 2004
TDA, 24hd -8,3±0,6
Amazônia TDA, 24h c
-16,5 Modelo climáti- Liu, 2005
co, medidas
in-situ
Aerossol Atlântico tropical TDA, 24he -1,8 Satélite, modelo Kaufman et al.,
Antrópico: ATM, 24he +2,9 radiativo 2005
América do Sul TDA, 24h [-8; -1] Modelo climáti- Zhang et al.,
efeitos
diretos SUP, 24h [-35; -10] co, satélite 2008
América do Sul TDA, anual [-1,0; -0,2] Satélite Quaas et al.,
2008
Amazônia TDA -13,0±3,9 Satélite, modelo Patadia et al.,
TDA, 24h -7,6±1,9 radiativo 2008
Amazônia TDA, 24h -5,6±1,7 Satélite, modelo Sena et al.,
Floresta -6,2±1,9 radiativo 2013
Cerrado -4,6±1,6
Hemisfério Sul TDA, 24hc, alb -0,70±0,45 Revisão da Lohmann e
Global, sobre TDA, 24h , ind c
-1,9±1,3 literatura Feichter, 2005
Aerossol continentes
Antrópico: Atlântico tropical TDA, 24he, alb -1,5 Satélite, modelo Kaufman et al.,
TDA, 24h , ind e
-9,5 radiativo 2005
efeitos
indiretos América do Sul TDA, 24h, ind [-5; +20] Modelo climático Zhang et al.,
2008
América do Sul TDA, anual, alb [-0,10; -0,02] Satélite Quaas et al.,
Atlântico tropical [-5,00; -0,05] 2008

268 VOLUME 1
Amazônia TDA, 24hc -9,8 Modelo climáti- Liu, 2005
co, medidas
in-situ
Total
Aerossóis e Atlântico tropical TDA, 24he -11,3 Satélite, modelo Kaufman et al.,
Nuvens radiativo 2005
SUP, 24h e
-8,4
América do Sul TDA, 24h [-10; +15] Modelo climáti- Zhang et al.,
[-35; -5] co, satélite 2008

a) Indica a posição vertical na coluna atmosférica (TDA: topo da atmosfera; SUP: superfície; ATM: coluna atmosféri-
ca) para a estimativa em questão, o domínio temporal de cálculo (valor instantâneo, média de 24h ou média anual),
e o componente do efeito indireto analisado (alb: albedo; ind: total dos efeitos indiretos); b) Valores entre colchetes
indicam intervalos de mínimo e máximo apresentados nas referências. Quando disponíveis, as incertezas apresenta
das pelos autores são indicadas; c) Domínio temporal presumido (não informado explicitamente na referência); d)
Estado de referência com profundidade óptica de aerossóis de 0,11; e) Estado de referência com profundidade
óptica de aerossóis de 0,06.

A Tabela 7.4 indica que as nuvens constituem o agente climático mais importante do ponto de vis-
ta de balanço de radiação, reduzindo em até 110 W m-2 a incidência de radiação à superfície (Betts et al.,
2009), e contribuindo com cerca de +26 W m-2 no topo da atmosfera (Miller et al., 2012). Cabe ressaltar
que a partição, ou a distribuição vertical de nuvens, desempenha um papel fundamental na quantificação
desse efeito radiativo: nuvens altas tendem a contribuir com um efeito de aquecimento da coluna atmos-
férica, enquanto nuvens baixas tendem a resfriá-la. Justamente pelo fato das nuvens desempenharem um
papel tão significativo no balanço de energia do planeta, as incertezas na sua distribuição vertical, bem
como nas estimativas de suas demais características físicas, precisam ser adequadamente exploradas em
modelos climáticos para que os cálculos de transferência radiativa na atmosfera sejam consistentes com
medidas experimentais.

Para o efeito direto de aerossóis sobre a Amazônia, considerando-se a média ponderada dos
valores no topo da atmosfera, para autores que informaram as incertezas de suas estimativas (Patadia et
al., 2008; Procopio et al., 2004; Sena et al., 2013), obtém-se -8,0±0,5 W m-2. Esse valor é compatível
com a estimativa da forçante radiativa de mudança do uso do solo na Amazônia, de cerca de -7,3±0,9
W m-2 (Sena et al., 2013), devido ao desmatamento de uma região florestada em Rondônia.

As estimativas de forçante radiativa para os efeitos indiretos de aerossóis apresentaram uma am-
pla gama de valores. A maioria dos resultados tem sinal negativo, variando entre cerca de -9,5 a -0,02 W
m-2 para diferentes tipos de superfície, indicando condições de resfriamento climático. No entanto, Zhang
et al. (2008) obtiveram valores positivos para essa forçante sobre a Amazônia. Este é um tópico que ainda
necessita de mais estudos de caracterização e verificações independentes, para que esse componente da
forçante antrópica sobre o Brasil possa ser adequadamente representado em modelos climáticos.

Não se encontrou trabalhos discutindo a forçante radiativa no Brasil devido ao aerossol de origem
urbana, ao aerossol natural de poeira oriunda da África, ou de erupções vulcânicas, nem à formação
de trilhas de condensação pelas atividades da aviação comercial. Essas forçantes radiativas, por hora
desconhecidas, podem, ou não, serem comparáveis àquelas devido a gases de efeito estufa e aerossóis
antrópicos, que foram identificadas pelo IPCC AR4 como os dois principais agentes climáticos antrópi-
cos para o planeta. A única estimativa da forçante radiativa antrópica devido à alteração do albedo da
superfície, numa região de desflorestamento na Amazônia, mostra esse agente climático com magnitude
semelhante à da forçante radiativa de aerossóis de queimada. Porém, cabe ressaltar que o desmatamento
na Amazônia tem caráter virtualmente “permanente” (i.e. a maioria das áreas degradadas em geral não
volta a ser recomposta como floresta primária), enquanto aerossóis de queimada têm vida média da or-
dem de dias. Essas observações indicam a necessidade de se realizar estudos mais aprofundados sobre

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 269


essa forçante, originada nos processos de mudança de uso do solo, em especial incluindo-se o efeito da
urbanização histórica e da expansão agropecuária em nível nacional, em várias escalas temporais.

A análise dos trabalhos utilizados na elaboração deste capítulo coloca em evidência a existência
de lacunas significativas em estudos de forçantes radiativas no Brasil. Conhecer com precisão a magni-
tude dessas forçantes, e aprimorar a compreensão de seus impactos, resultará em melhorias nos modelos
de previsão de tempo e clima. Tais modelos são ferramentas importantes para instrumentalizar a tomada
de decisões políticas e econômicas diante das mudanças climáticas que vêm atuando no país.

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 277


CAPÍTULO 8

AVALIAÇÃO DE MODELOS GLOBAIS E REGIONAIS CLIMÁTICOS

Autores principais: Sin Chan Chou e Paulo Nobre – INPE.


Autores colaboradores: Aline Maia – EMBRAPA; Edmilson Freitas – USP; Gilvan Sampaio – INPE; Iracema F. A.
Cavalcanti – INPE; Juan Ceballos – INPE; Manoel A. Gan – INPE; Marcos H. Costa – UFV; Marcus J. Bottino – INPE;
Ricardo Camargo – USP; Silvio Nilo Figueiroa – INPE; Wagner Soares – INPE.
Revisores: Felipe Pimenta – UFRN e Maria Valverde – UFABC.

278 VOLUME 1
ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 280

8.1 INTRODUÇÃO 280

8.2 A HIERARQUIA DOS MODELOS ACOPLADOS, GLOBAIS E REGIONAIS, INCLUINDO MÉTODOS


DE DOWNSCALING ESTATÍSTICO 281

8.2.1 MODELAGEM ATMOSFÉRICA GLOBAL 281

8.2.2 MODELAGEM ACOPLADA OCEANO-ATMOSFERA 282

8.2.3 MODELAGEM ATMOSFÉRICA REGIONAL OU DOWNSCALING DINÂMICO 283

8.2.4 MÉTODOS DE DOWNSCALING ESTATÍSTICO 286

8.3 REPRESENTAÇÃO DE PROCESSOS DE RETROALIMENTAÇÃO NOS MODELOS CLIMÁTICOS 288

8.3.1 OCEANO-ATMOSFERA 288

8.3.2 RADIAÇÃO-NUVEM 289

8.3.3 BIOSFERA-ATMOSFERA 291



8.4 SIMULAÇÕES DE FENÔMENOS METEOROLÓGICOS 295

8.4.1. EL NIÑO-OSCILAÇÃO SUL (ENOS) 295

8.4.2 ZONAS DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL E DO ATLÂNTICO SUL 295

8.4.3 CICLONES EXTRATROPICAIS 297

8.4.4 MODO ANULAR DO HEMISFÉRIO SUL 298

8.4.5 JATO DE BAIXOS NÍVEIS 298

8.5 ALGUNS IMPACTOS 299

8.5.1 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA 299

8.5.2 ILHAS DE CALOR 300



8.5.3 AUMENTO DO NÍVEL MÉDIO DO MAR 301

8.6 DISCUSSÃO A CERCA DAS INCERTEZAS EM SIMULAÇÕES DO CLIMA PRESENTE 302


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 304

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 279


SUMÁRIO EXECUTIVO
Neste capítulo é apresentado um resumo da habilidade de modelos numéricos em reproduzir o
clima presente da América do Sul. São descritas características e desenvolvimentos do Modelo Brasileiro
do Sistema Terrestre (BESM), do modelo atmosférico global do Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos (CPTEC) e modelos regionais climáticos visando estudos de mudanças climáticas. No modo
climático os modelos globais utilizam resolução horizontal de cerca de 200 km enquanto os modelos re-
gionais geralmente utilizam a resolução de cerca de 50 km. Métodos estatísticos de downscaling e resulta-
dos sobre o Brasil são apresentados. Processos de retroalimentação oceano-atmosfera, radiação-nuvem
e biosfera-atmosfera são discutidos e resultados de simulações numéricas são apresentados. Também é
discutida a habilidade dos modelos globais atmosféricos, acoplado oceano-atmosfera e regionais em
representar fenômenos meteorológicos que atuam na região, tais como o El Niño-Oscilação Sul (ENOS),
Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Ciclones
extratropicais, Modo Anular do Hemisfério Sul e Jato de Baixos Níveis. Apesar dos modelos globais do
Coupled Model Intercomparison Project 3 (CMIP3) não representarem adequadamente a intensidade e
posição da ZCIT e extensão da ZCAS, estes fenômenos foram melhores simulados pelo BESM que mos-
trou a importância dos processos de interação oceano-atmosfera na simulação da ZCAS e a importância
da melhora no balanço radiativo para simular a migração sazonal da ZCIT sobre o Oceano Atlântico.
Simulações utilizando modelos regionais apresentaram erros comuns como subestimativa da precipitação
sobre a Amazônia e superestimativa sobre os Andes. Problemas de poluição atmosférica e do efeito da
ilha de calor são simulados para a megacidade de São Paulo, apesar destes resultados serem aplicados
para integrações de curto prazo, as consequências para mudanças climáticas são discutidas. A proble-
mática da elevação do nível do mar é discutida, embora sua simulação numérica ainda seja uma ativi-
dade incipiente no Brasil. Incertezas em simulações do clima presente são exploradas a partir do uso de
vários modelos globais atmosféricos, globais acoplados oceano-atmosfera e regionais climáticos, além
de variações da perturbação da física de um mesmo modelo. As perturbações aplicadas na física de um
mesmo modelo resultam em um pequeno espalhamento dos membros para o clima presente, apesar de
produzirem grande espalhamento do conjunto de simulações no clima futuro.

8.1 INTRODUÇÃO
Modelos climáticos globais e regionais têm tido grandes avanços nos últimos anos em termos
da representação de processos e fenômenos críticos para estudo das mudanças climáticas globais, seus
impactos sobre o Brasil e ações de mitigação. Parte do avanço vem do aumento da resolução espacial e
parte da inclusão de controles climáticos provenientes de novas componentes do sistema e da interação
entre elas. O Brasil tem se destacado nesta área, através do desenvolvimento de modelos atmosféricos
globais e regionais, a exemplo dos modelos atmosféricos globais do INPE/CPTEC e do modelo regional
Eta. Como fruto da maturidade em modelagem atmosférica e ambiental brasileira, surgiu e está em pleno
desenvolvimento o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (Brazilian Earth System Model - BESM), coorde-
nado pelo INPE com participação de diversas Universidades e instituições de pesquisa no Brasil e no exte-
rior, com suporte do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), Instituto
Nacional de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (INCT-MC) e a Rede Brasileira de Pesquisa em
Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA). O BESM é baseado no modelo acoplado oceano-atmosfera
global do INPE/CPTEC, ao qual estão sendo integrados componentes de química atmosférica e aerossóis,
vegetação dinâmica, fogo e hidrologia continental, gelo e biogeoquímica marinha, além da descarga flu-
vial nos oceanos. Característica marcante do BESM é sua ampla gama de atuação, abrangendo escalas
de tempo de dias à paleoclimática.

Este capítulo sintetiza a produção brasileira do conhecimento sobre a modelagem climática glo-
bal e regional, e a avaliação do desempenho destes modelos pertinente às mudanças climáticas globais.

280 VOLUME 1
8.2 A HIERARQUIA DOS MODELOS ACOPLADOS, GLOBAIS E REGIONAIS, IN-
CLUINDO MÉTODOS DE DOWNSCALING ESTATÍSTICO
8.2.1 MODELAGEM ATMOSFÉRICA GLOBAL

Até o presente, o único modelo de circulação geral da atmosfera (MCGA) desenvolvido na Améri-
ca do Sul com resultados publicados sobre estudos do clima é o modelo atmosférico global do INPE/
CPTEC (Cavalcanti et al., 2002; Marengo et al., 2003).

O MCGA do INPE/CPTEC tem sido desenvolvido pelo CPTEC desde a sua versão inicial do Center
for Ocean–Land–Atmosphere Studies (COLA) de 1994. As características atmosféricas climatológicas glo-
bais representadas com a primeira versão brasileira do MCGA do COLA, referido como MCGA CPTEC/
COLA foram apresentadas em Cavalcanti et al. (2002), onde há uma descrição detalhada desta versão do
modelo. A variação sazonal da precipitação, pressão ao nível do mar, ventos em altos e baixos níveis, bem
como a estrutura vertical dos ventos e temperatura é bem simulada pelo MCGA CPTEC/COLA. Os princi-
pais centros associados a ondas estacionárias nos dois hemisférios são razoavelmente bem reproduzidos.
Entretanto a precipitação é subestimada principalmente na região da Indonésia, da Amazônia e centro-sul
da América do Sul e superestimada no Nordeste do Brasil, na zona de convergência intertropical (ZCIT) e na
zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Embora erros sistemáticos ocorram nas regiões tropicais, as
melhores correlações entre anomalias de precipitação do modelo e as anomalias observadas ocorrem na
região que inclui o norte do Nordeste do Brasil, leste da Amazônia e Região Sul do Brasil.

Análises dos fluxos de radiação solar que chegam à superfície simulados pelo MCGA CPTEC/
COLA indicaram valores maiores que os observados nas situações com céu claro e com nuvens (Tarasova e
Cavalcanti, 2002). O viés nos fluxos com céu claro ocorria devido à falta do efeito de aerossóis no código
de radiação de ondas curtas do modelo, enquanto o viés nos fluxos quando as nuvens estão presentes era
associado às deficiências na simulação das nuvens. O excesso de radiação de onda curta que chega à su-
perfície foi reduzido com a implementação de um esquema de parametrização de radiação de ondas curtas
-CLIRAD- em uma nova versão do modelo MCGA CPTEC/COLA (Tarasova et al., 2007). A mudança de
parametrização, além de aproximar os fluxos de radiação simulados aos observados, apresentou impactos
na precipitação, reduzindo o viés na Indonésia e na região da ZCAS (Barbosa e Tarasova, 2006; Barbosa et
al., 2008). O esquema de radiação utilizado pelo modelo unificado do UK Met Office, o qual inclui ondas
curtas e longas, foi também implementado como uma outra opção no MCGA CPTEC/COLA (Chagas e
Barbosa, 2008). Este esquema produziu fluxos mais próximos aos observados, comparados com os esque-
mas anteriores, com impactos tanto positivos quanto negativos na precipitação.

A comparação dos dois esquemas de convecção originalmente incluídos no MCGA, Relaxed


Arakawa-Schubert (RAS) (Moorthi and Suarez 1992) e KUO (Kuo 1974), com uma versão ajustada do RAS
mostrou que o esquema KUO apresenta déficit de precipitação na região da Amazônia e excesso no setor
sul da ZCAS, enquanto que o esquema RAS apresenta bandas com sinal alternado de erros que se esten-
dem desde a Amazônia até o Nordeste (Pezzi et al., 2008). A implementação do esquema de convecção
GRELL (Grell and Devenyi 2002) no MCGA tem mostrado uma melhor representação da precipitação de
verão, principalmente sobre a América do Sul (Figueroa et al., 2006), apresentando boa representação
da precipitação sobre a Amazônia e ZCAS.

O MCGA do CPTEC originado do COLA (Cavalcanti et al. 2002) (MCGA CPTEC -V.1.0)
sofreu muitas modificações durante a última década. Com novas físicas na convecção e radiação
o modelo passou para a versão MCGA CPTEC -V.3.0. Esta versão é utilizada pelo Brazilian Earth
System Model Ocean–Atmosphere version 2.3 (BESM-OA2.3) em simulações decadais e centeniais
(Nobre et al, 2013). Nos últimos três anos a versão MCGA CPTEC -V.3.0 sofreu profundas modifi-
cações de suas formulações dinâmica e física, entre elas a formulação espectral Divergência-Vorti-
cidade foi modificada para formulação espectral U-V e foi excluída a difusão na umidade espectral,
tratando este em pontos de grade. Na parte física foram excluídas parametrizações obsoletas e incor-
porados esquemas mais sofisticados e modernos de superfície, camada limite, microfísica, proprieda-
des óticas, ondas de gravidade, etc. Adicionalmente, nesta versão, com uso de Cloud Resolving Model

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 281


o esquema de Grell-Devenyi tem sido melhorado e modificado incorporando novos fechamentos e rees-
crito o código (MCGA CPTEC -V.4.0), cujos resultados de validação estão reportados em Figueroa et al
(2013). As modificação serão incorporadas ao BESM.

O MCGA do CPTEC possui uma versão para estudos do paleoclima em que foram inseridos os
parâmetros orbitais para a integração por milhares de anos (Melo e Marengo, 2008). Os resultados desta
versão podem ser encontrados no Capítulo 5 deste relatório.

8.2.2 MODELAGEM ACOPLADA OCEANO-ATMOSFERA

Os campos de temperatura da superfície do mar (TSM) sobre os oceanos Atlântico Tropical e Pa-
cífico equatorial são importantes condicionantes do estado médio do clima e sua variabilidade interanual
sobre a América do Sul (Moura and Shukla 1981; Nobre and Shukla 1996; Shukla 1981, 2000; Shukla
and Fennessy 1988; Ward and Folland 1991). Estudos que utilizam modelos acoplados oceano-atmosfera
de complexidade intermediária sugerem que a variabilidade interannual das TSM no oceano Atlântico é
mantida através de perturbações atmosféricas de origem remota (Zebiak 1993, Nobre et al. (2003).

O estudo de variabilidade sazonal da ZCAS utilizando o BESM (Nobre et al., 2012), mostrou des-
treza de previsibilidade das anomalias de precipitação sobre águas frias no Atlântico Tropical Sul, fenômeno
este não simulado por modelos atmosféricos globais forçados por campos observados de TSM (Marengo et
al. 2003; Nobre et al. 2006). Este foi o primeiro resultado publicado utilizando um modelo acoplado oce-
ano-atmosfera suportando as indicações anteriores da importância dos processos de acoplamento oceano-
-atmosfera sobre o Atlântico Sul relativos à dinâmica da ZCAS (Chaves and Nobre 2004; De Almeida et al.
2007), os quais necessitam ser considerados para a modelagem do sistema climático global. Tal evidência
é suportada pelos resultados de investigação com modelo acoplado oceano-atmosfera sobre o papel da
Corrente das Agulhas no transporte meridional de calor e modulação das TSM sobre o Atlântico Sul utili-
zando o modelo acoplado oceano-atmosfera SPEEDO (Haarsma et al., 2008, 2011) e sobre a importância
em corretamente simular os processos dinâmicos e termodinâmicos no Atlântico Tropical e América do Sul
na modulação da ZCIT (Bottino and Nobre 2013; Rodrigues et al. 2011). A capacidade de modelagem do
Oceano Austral pelo modelo acoplado CCSM4 é abordado por Weijer et al. (2012) e os efeitos da cober-
tura de gelo Antártico no clima do Hemisfério Sul pesquisado por Raphael et al. (2010).

As principais características do BESM estão listadas na Tabela 8.1. A contribuição pioneira do Bra-
sil para os cenários globais de mudanças climáticas foi realizada com os cenários gerados pelo modelo
BESM-OA2.3 com participação no projeto CMIP5 (Nobre et al 2013).

Tabela 8.1 Características do modelo BESM

MCGOA Referências Componentes Resolução Acoplador Prazo Convecção Ra-


espacial integração cumulus diação
BESM [1, 2] Atmos: CPTEC; Atmos FMS [3] 1961-2105 Grell [4] Lacis &
Oceano: T062L28; Hansen
MOM4p1 [5] Oceano ~1x1 [5]
L50

1. Nobre, P., et al., Climate simulation and change in the Brazilian Climate Model. J. Climate, 2013: p.
26: p. 6716- 6732
2. Nobre, P., et al., Coupled ocean-atmosphere variations over the South Atlantic ocean. J. Climate, 2012.
25(18): p. 6349-6358.
3. Griffies, S.M., Elements of MOM4p1., in GFDL Ocean Group Technical Report No. 62009, NOAA/
Geophysical Fluid Dynamics Laboratory. p. 444.

282 VOLUME 1
4. Grell, G.A. and D. Devenyi, A generalized approach to parameterizing convection combining ensemble
and data assimilation techniques. Geophys. Res. Lett., 2002. 29(14).
5.Lacis, A.A. and J.D. Hansen, A parameterization of the absortion of solar radiation in the Earth’s atmos-
phere. J. Atmos. Sci., 1974. 31: p. 118-133.

8.2.3 MODELAGEM ATMOSFÉRICA REGIONAL OU DOWNSCALING DINÂMICO

A informação sobre cenários climáticos futuros, derivada de modelos de circulação geral, os


MCG, apresenta-se em escalas espaciais (240 a 600 km) geralmente incompatíveis com as escalas re-
queridas para estudos de impactos. O refinamento de escala (downscaling) das projeções de mudanças
climáticas produzidas pelos MCG requer a incorporação de informações locais e é particularmente im-
portante para áreas de topografia complexa, ilhas e regiões costeiras ou ainda áreas com cobertura do
solo/uso da terra extremamente heterogêneos (Murphy, 1999; Wilby et al., 2004; Vrac et al., 2007). Os
métodos de downscaling podem ser de natureza temporal ou espacial.

Há dois tipos básicos de abordagem utilizados para downscaling: a abordagem dinâmica, dis-
cutida nesta seção, e a estatística, discutida na próxima seção. A primeira abordagem inclui o desen-
volvimento de modelos (dinâmicos) climáticos regionais (MCR) utilizando condições iniciais e de contorno
oriundas de MCG. Tais modelos têm a capacidade de representar fenômenos meteorológicos de escala
global e com o aninhamento de grades refinadas conseguem também representar de forma mais acurada
os fenômenos de escala local.

As primeiras tentativas de autores brasileiros em estender o prazo de previsão de modelo regional


sobre América do Sul para escalas mensal e sazonal (Chou et al., 2000; Nobre et al., 2001; Chou et al.,
2002; Chou et al., 2005; Fernandez et al., 2006) demonstraram a utilidade da técnica de downscaling
dinâmico em melhorar a qualidade da previsão de precipitação do modelo global utilizado como forçante
lateral.

O modelo espectral regional RSM (Regional Spectral Model) (Juang e Kanamitsu, 1994) tem sido
empregado em previsões climáticas no Nordeste do Brasil (Nobre et al, 2001; Sun et al, 2005). Nobre et
al. (2001) aninharam o modelo RSM a 3 membros de previsões do ECHAM3 (Roeckner et al. 1992) para
o período de janeiro a abril de 1999, a estação chuvosa do Nordeste do Brasil. Eles mostraram que o
RSM melhorou a posição da ZCIT e consequentemente melhorou a distribuição das chuvas na região. Sun
et al. (2005) produziram integrações de seis meses para a estação chuvosa do período de 1971-2000, e
encontraram que o RSM corrigiu a posição da ZCIT do ECHAM4.5, mas que subestimou a precipitação
na região.

Da Rocha et al. (2009) utilizaram o modelo RegCM3 forçado com reanálises do NCEP-NCAR
(Kalnay et al., 1996) como condições de contorno e TSM observada para reproduzir o clima de verão nos
meses de dezembro, janeiro e fevereiro sobre uma área que cobria grande parte do território brasileiro.
Nestas simulações mostrou-se que o modelo é capaz de reproduzir as principais características de cir-
culação de verão como a banda de precipitação associada à ZCAS e o ciclo diurno da precipitação em
diferentes áreas do domínio. Diagnosticou-se como uma das principais falhas do modelo a produção de
precipitação particularmente sobre o Oceano Atlântico que foi em grande parte gerada pelo esquema
de precipitação explícita do modelo, havendo reduzida precipitação pelo esquema de parametrização
convectiva.

Pilotto et al. (2012) mostraram que o aninhamento do modelo atmosférico regional Eta nos cam-
pos de saída do modelo global atmosférico e do modelo acoplado oceano-atmosfera do INPE produziu
uma melhora significativa nos fluxos de calor e momento na superfície e nos campos de precipitação
sobre o Atlântico Tropical, relativamente aos resultados de ambos modelos globais. Os resultados do
modelo Eta aninhado no modelo acoplado apresentaram os menores erros quando comparados com
observações.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 283


A geração de cenários de mudanças climáticas em maior resolução sobre América do Sul foi
iniciada a partir do projeto “Cenários Regionalizados de Mudanças Climáticas para América do Sul”
(CREAS) -(Marengo e Ambrizzi, 2006; Ambrizzi et al., 2007). Neste projeto foram utilizados três mode-
los regionais climáticos, RegCM3 (Giorgi e Mearns, 1999), HadRM3 (Collins et al., 2006) e Eta-CCS
(Pisnichenko e Tarasova, 2009), e 2 cenários de emissões propostos pelo IPCC, o A2 e B2 (Nakicenovic
et al., 2000). As condições de contorno foram fornecidas pelo modelo global atmosférico do Centro
Britânico, HadAM3P. Os modelos foram rodados na resolução horizontal de 50 km para os períodos de
1961-1990 (clima presente), e de 2070-2100 (clima futuro). Marengo et al. (2010) mostraram que os
modelos têm um viés negativo de precipitação na parte mais norte da América do Sul, presente também
em quase todo o continente, com exceção da parte mais central, onde dependendo da estação do ano
observou-se mais neutralidade ou mesmo valores positivos, mas não significantes.

A versão Eta-CCS utilizada no projeto CREAS foi desenvolvida por Pisnichenko e Tarasova (2009).
Esta versão reproduzia os padrões de precipitação sobre o continente, apesar da subestimativa durante
o verão. Uma nova versão do modelo, o Eta-CPTEC, foi desenvolvida (Pesquero et al., 2009), indepen-
dentemente, da versão Eta-CCS e sob encomenda do Ministério da Ciência e Tecnologia para apoiar a
elaboração da Segunda Comunicação Nacional (Brasil, 2010). A versão Eta-CPTEC inclui o aumento dos
níveis de concentração de CO2 segundo o cenário de emissão, variação diária do estado da vegetação
ao longo do ano, que são características importantes para estudo em integrações de mudanças climáti-
cas e que são algumas das características que distinguem a versão Eta-CPTEC do Eta-CCS. O modelo
Eta-CPTEC foi utilizado para produzir a regionalização do cenário A1B fornecido pelo modelo HadCM3,
em 4 versões de perturbação do modelo global. Nesta nova versão do modelo, foi incluída a incerteza
das condições de contorno provenientes dos 4 membros do cenário A1B do modelo HadCM3. O mo-
delo regional foi integrado na resolução horizontal de 40 km, para os períodos de 1961-1990 (Chou et
al., 2012) e os cenários futuros em 3 períodos de 30 anos, de 2011-2040, 2041-2070 e 2071-2100
(Marengo et al., 2012). O clima presente reproduzido pelo Eta-CPTEC mostrou boa concordância com
as observações disponíveis de temperatura e precipitação, e com a circulação de altos e baixos níveis dos
dados de reanálises (Chou et al., 2012).

O programa europeu 7th Framework Programme financiou um estudo de impactos e vulnerabi-


lidade em cenário futuro de mudanças climáticas na Bacia do Rio da Prata. É um trabalho importante
devido ao emprego de vários modelos regionais para reproduzir o clima sobre América do Sul, a saber:
MM5 (Grell et al. 1994), RegCM3, RCA (Samuelsson et al. 2011), REMO (Jacob et al, 2001), PROMES
(Sanchez et al, 2007), Eta (Chou et al, 2012), e LMDZ (Li, 1999). Apesar do foco sobre a Bacia do Rio
da Prata, o domínio utilizado pelos modelos cobria toda América do Sul. Os modelos climáticos regionais
produziram simulações do clima presente utilizando as reanálises do Era-Interim (Dee et al., 2011) no
período de 1989-2008. Estas simulações permitiam identificar os principais erros dos modelos regionais.
Solman et al (2013) mostraram que o conjunto desses modelos regionais reproduziu bem o ciclo anual da
temperatura e precipitação, sendo os erros em torno de ±2oC na temperatura e ±20% na precipitação,
e que os maiores erros foram encontrados nas regiões tropicais.

As principais características dos modelos regionais utilizados por grupos brasileiros para geração
de cenários de mudanças climáticas estão resumidas na Tabela 8.2.

284 VOLUME 1
MCR Instituição Referência Resolução Prazo in- Con- Microfísi- Radiação Esquema Condição Camada
espacial tegração vecção ca de de su- de contor- limite
cumulus nuvens perfície no planetária
sobre América do Sul.

Eta- INPE Pesque- 40km/38L 1961- Betts e Zhao Lacis e Chen e Mesinger Mellor
CPTEC ro et al. 1990; Miller scheme Hansen Dudhia (1977) Yama-
(2009); 2011- (1986); (Zhao et (1974); (2001; da 2.5

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL


Chou 2040; Janjic al., 1997) Fels e NOAH) (Mellor e
et al. 2041- (1994); Schwarzkopf Yamada,
(2012); 2070; (1975); 1974)
Maren- 2071-
go et al. 2100
(2012);
Eta-CCS INPE Pisnichen- 50km/38L 1961- Betts e Ferrier Lacis e Chen e Mesinger Mellor
ko e 1990; Miller scheme Hansen Dudhia (1977) Yama-
Tarasova 2071- (1986); (2002) (1974); (2001; da 2.5
(2009); 2100 Janjic Fels e NOAH) (Mellor e
(1994); Schwarzkopf Yamada,
(1975); 1974)
HadRM3P UKMO Collins 50km/L19 1961- Gregory e Smith Edwards e Cox et al. Davies Smith
et al. 1990; Rowntree (1990) Slingo (1996) (1999) (1976) (1990)
(2006); 2071- (1990); 4lyrs,
Alves e 2100 Gregory (MOSES I)
Marengo e Allen
(2010); (1991);
RegCM3 ICTP Giorgi e 50 km / 1961- Grell Pal et al. Kiehl et al. Dickin- Davies Holtslag
Mearns L30 1990; (1993) (2000) (1996) son et al. (1976) 5 et al.
(1999); 2071- (1993; rows buff- (1990)
Da Rocha 2100 BATS) er zone
et al.
(2009);
Tabela 8.2 Modelos climáticos regionais (MCR) com integrações de cenários de mudanças climáticas

285
Alves e Marengo (2010) avaliaram o clima presente reproduzido pelo modelo HadRM3P aninha-
do nas simulações globais geradas pelo HadAM3P (Gordon et al., 2000) e encontraram erros sistemáti-
cos negativos na temperatura em áreas tropicais. A precipitação por sua vez apresentou erros sistemáticos
negativos durante a estação chuvosa, portanto subestimativa, na parte central do continente, e erros de
pequena magnitude na mesma região durante a estação seca.

Pesquero et al. (2009) utilizaram o Modelo Eta para reproduzir o clima presente sobre América do
Sul, na resolução de 40 km, 38 camadas verticais e condições de contorno do modelo HadAM3P para
o período de 1979-1989. Os resultados apresentaram subestima­tiva da precipitação sobre a Amazônia
no período chuvoso. Este erro apresentou menor magnitude que o erro dos modelos globais utilizados
como condição de contorno lateral. Também, uma superestimativa da precipitação na região central do
país e sobre regiões de montanhas foi observada, apesar de que a escassez de observações em regiões
de montanha limita a confiabilidade da estimativa do erro. Estes resultados foram confirmados por Chou
et al (2012), no seu trabalho Downscaling of South America present climate driven by 4-member HadCM3
runs.
No uso de um conjunto perturbado de condições de contorno, Chou et al. (2012) mostraram que
o espalhamento entre os 4 membros das simulações de precipitação e de temperatura do Modelo Eta
era menor que a raiz do erro quadrático médio daquelas variáveis no clima presente. Comparando estes
resultados com aqueles do modelo global que forneceu as condições de contorno lateral, mostrou-se que
espalhamento e os erros eram de magnitude comparável ao do HadCM3, o que indica que o conjunto
simulado do clima presente pelos modelos regionais herdou as mesmas características do conjunto de
modelos globais.

8.2.4 MÉTODOS DE DOWNSCALING ESTATÍSTICO

São também conhecidos como métodos de desagregação ou refinamento estatístico e podem ser
de natureza temporal, como, por exemplo, em Mendes e Marengo (2010), espacial (Ramos, 2000) ou
ainda envolvendo os dois tipos de dimensões (escalas) simultaneamente. Uma revisão detalhada sobre
métodos para downscaling estatístico é apresentada em Fowler et al. (2007).

A abordagem estatística (downscaling estatístico) baseia-se no princípio de que o clima local é


condicionado por dois tipos de fatores: os fatores de larga escala que medem aspectos da circulação
global (ex. El Niño/Oscilação Sul, ENOS) e características fisiográficas locais tais como topografia, al-
ternância terra/mar nas regiões costeiras e uso da terra (Wilby et al., 2004).

Wilby et al. (2004) classificam os métodos de downscaling estatístico em três categorias, a) Méto-
dos baseados na classificação de padrões de tempo: nesta abordagem, variáveis climáticas locais são
relacionadas com classes de tempo de escala sinótica (Fowler et al., 2007); b) Geradores de tempo: são
modelos que produzem séries temporais sintéticas de variáveis meteorológicas para uma determinada
região; e c) Modelos de Regressão: estimam relações quantitativas entre preditores oriundos de MCG
e variáveis prognósticas locais utilizando modelos empíricos (Fowler et al., 2007; Mendes et al., 2009).
Uma quarta abordagem conhecida como análise de sobrevivência (Maia e Meinke, 2010) também pode
ser usada para downscaling estatístico. No Brasil esse tipo de modelo estatístico foi usado para gerar
projeções de início de estação chuvosa em função de preditores derivados do fenômeno ENOS (Maia et
al., 2011).

Algumas experiências de downscaling estatístico para o Brasil estão sumarizadas na Tabela 8.3. A
variável prognóstica mais frequente é a precipitação; entre os métodos utilizados, há uma predominância
do uso de redes neurais artificiais e análise de regressão.

286 VOLUME 1
Tabela 8.3 Exemplos de publicações sobre experiências de downscaling estatístico para o Brasil.

Região Variáveis Método Referência Principais resultados


prognósticas
Estado do Precipitação Modelos de ca- Robertson et al. As simulações são capazes de capturar re-
Ceará diária deias de Markov (2004) lativamente bem mudanças interanuais de
precipitação e ocorrência diária de chuva
em sequências de 10 dias em algumas
estações individuais.
Bacia do Precipitação Redes neurais e Ramos (2000) O método de redes neurais apresentou
Piancó, sazonal regressão linear desempenho superior ao de regressão line-
Paraíba múltipla ar. Ambos apresentaram boa performance
para precipitação mensal e sazonal.
Regiões Vento (10m) Redes neurais Gonçalves et al. Resultados preliminares indicam um leve
Sudeste e (2010) aumento da velocidade do vento de su-
Nordeste perfície no Sudeste e Nordeste.
Regiões Precipitação Redes neurais e Valverde et al. O método de redes neurais mostrou
Sudeste diária regressão linear (2006) tendência de predizer chuvas de modera-
múltipla das a intensas com maior acurácia durante
o verão austral.
Bacia Precipitação Redes neurais e Mendes e O método de redes neurais apresentou de-
amazônica diária modelo de auto- Marengo (2010) sempenho superior ao de autocorrelações.
correlações
Região de Precipitação Redes neurais e Valverde et al. O método de redes neurais apresentou de-
São Paulo diária regressão linear (2005) sempenho superior ao de regressão linear
múltipla múltipla, que apresentou viés elevado para
os dias sem ocorrência de chuva.

As vantagens e limitações dos principais métodos de downscaling estatístico, de acordo com Wilby et al.
(2004), estão resumidos na Tabela 8.4.

Tabela 8.4. Sumário de vantagens e limitações dos principais métodos de downscaling estatístico (adapta-
do de Wilby et al., 2004).

Tipo de método Vantagens Limitações


Métodos baseados na classi- - resulta em relações com interpre- - requer a tarefa adicional de
ficação de padrões de tempo tação física entre os preditores de classificação de padrões de tempo
(weather typing) larga escala e variáveis climáticas - Esquemas baseados em padrões
da superfície de circulação podem ser insensíveis
- São versáteis, podendo ser aplica- a forçantes climáticas futuras
dos para diferentes tipos de estudos - Talvez não capturem variações de
(qualidade de ar, erosão, enchentes, tempo dentro dos diferentes padrões
etc.) de classificação.
- Uma composição desses méto-
dos é útil para análise de eventos
extremos

Geradores de tempo (weather -há produção de informação para - há ajustamento arbitrário de


generators) análise de incertezas parâmetros para condições de clima
- permitem interpolação espacial de futuro
parâmetros do modelo - diversas variáveis são modeladas
- podem produzir informação em separadamente, sem que suas inter-
escala de horas dependências sejam consideradas

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 287


Tipo de método Vantagens Limitações
Métodos de análise de regressão - de aplicação relativamente fácil - Alguns modelos explicam apenas
- podem utilizar todos os preditores uma pequena fração da variabili-
disponíveis para posterior seleção dade observada
dos mais importantes - Alguns desses métodos requerem
- são de fácil entendimento e há relações lineares entre respostas e
grande disponibilidade de softwares preditores e normalidade da variável
para análise resposta
- De um modo geral, não repre-
sentam adequadamente eventos
extremos

A principal vantagem do downscaling estatístico em relação ao uso de modelos dinâmicos é


quanto ao requerimento de recursos computacionais, o que facilita o uso de preditores derivados de
grande número de MCG. No entanto, além de requerer a existência de séries longas de dados locais
para as variáveis de interesse, o downscaling estatístico baseia-se na pressuposição de que a relação entre
os preditores e a variável-resposta seja estacionária (i.e., tenha a propriedade de invariância temporal).
Esse pressuposto é questionável para cenários de mudanças climáticas de maior magnitude (Wilby et al.,
2004).

8.3 REPRESENTAÇÃO DE PROCESSOS DE RETROALIMENTAÇÃO NOS MODELOS


CLIMÁTICOS
8.3.1 OCEANO-ATMOSFERA

Os oceanos representam o maior reservatório de calor do sistema climático global, modulando


processos atmosféricos de escalas temporais que variam de horas a milhares de anos. A base física de
controle climático pelos oceanos reside na absorção de grande parte da energia solar na região equato-
rial do planeta e sua redistribuição através do sistema de correntes oceânicas de superfície e profundas.
No entanto, o próprio sistema de correntes oceânicas é gerado pela interação com a atmosfera, através
não somente dos fluxos de calor, mas também de momento e água. Assim, a atmosfera e o oceano for-
mam um sistema complexo acoplado com processos de retroalimentação que contribuem para modular o
clima do planeta. Modelos acoplados oceano-atmosfera constituem, desta forma, um conjunto de ferra-
mentas imprescindíveis para o estudo do clima, sua variabilidade e mudança. Através do ciclo hidrológico
global, os oceanos, continentes e atmosfera formam um sistema complexo acoplado com inter-relações
múltiplas.

O trabalho de Nobre et al. (2009) de desflorestamento da Amazônia no modelo acoplado oceano-at-


mosfera do INPE exemplifica o processo de retroalimentação oceano-atmosfera. Este trabalho mostra como
uma redução da cobertura florestal na Amazônia acarreta na redução da precipitação local por diminuição
da convergência de umidade à superfície, a qual ocasiona um relaxamento dos ventos alísios sobre o Pacífi-
co Equatorial, resultando na diminuição da ressurgência equatorial e afloramento da subcorrente equatorial
no Pacífico. Tais anomalias na circulação oceânica resultam no aumento da TSM sobre o Pacífico Leste e o
deslocamento do máximo de precipitação equatorial do Pacífico oeste para leste, a qual acarreta aumen-
to da subsidência atmosférica induzida sobre a Amazônia com acentuada redução da precipitação, em
comparação a um experimento numérico no qual as TSM globais são mantidas em valores climatológicos.
Assim, os autores apresentam evidências de modelagem global de que a substituição da Floresta Amazôni-
ca por vegetação de savana afeta o sistema climático global através da alteração nos padrões globais de
circulação atmosférica e oceânica, com aumento da frequência de eventos El Niño no Pacífico. Os autores
mostram também que o efeito acoplado da atmosfera e dos oceanos, num caso de redução da cobertura
florestal Amazônica, ampliaria a redução da precipitação média anual sobre a Amazônia, dos ~20% esti-
mado por estudos de modelos atmosféricos (e.g. Gash et al., 1996; Nobre et al., 1991; Shukla et al., 1990)
para uma redução de aproximadamente 40% nas simulações com o modelo acoplado oceano-atmosfera
do INPE (Nobre et al., 2009).

288 VOLUME 1
A importância de processos de retroalimentação oceano-atmosfera também foi explicitada por vá-
rios trabalhos no caso da formação da ZCAS. Chaves e Nobre (2004) foi o primeiro trabalho que sugeriu
que a ocorrência de precipitação sobre águas mais frias observadas no caso de ocorrência de ZCAS,
documentada por Robertson e Mechoso (2000) é uma decorrência de um processo de retroalimentação
radiação solar-nuvens-TSM, com o aumento da nebulosidade associada à ocorrência da ZCAS, redução
da radiação solar incidente sobre o oceano e consequente esfriamento e queda das TSM. O trabalho de
De Almeida et al. (2007) utiliza um oscilador estocástico não linear para mostrar que processos de retroali-
mentação oceano-atmosfera explicam parte da variabilidade na TSM e nebulosidade do Atlântico Sudoeste
associados à ZCAS durante o verão austral. Nesse estudo a presença de uma anomalia de TSM positiva no
Atlântico sudoeste aumenta a formação de nebulosidade na região da ZCAS, a qual por sua vez diminui o
fluxo de radiação de onda curta à superfície do oceano, acarretando o resfriamento da superfície do mar. Já
as evidências mais contundentes sobre a importância dos processos de retroalimentação oceano-atmosfera
para a formação e manutenção da ZCAS foram apresentadas por Nobre et al (2012). Utilizando dados de
bóias do Projeto PIRATA no Atlântico Sudoeste e resultados do modelo acoplado global BESM, os autores
demonstraram que a ZCAS representa um processo termodinâmico indireto, com aumento da precipitação
e movimento vertical ascendente sobre águas mais frias, somente representável pelo modelo acoplado oce-
ano-atmosfera, uma vez que modelos atmosféricos forçados por campos prescritos de TSM geram aumento
hidrostático, termicamente direto, de precipitação sobre águas mais aquecidas, como é o caso da ZCIT
ambos sobre o Atlântico e o Pacífico. Assim, Nobre et al (2012) agregaram evidências observacionais e
de modelagem numérica às hipóteses de processos de retroalimentação oceano-atmosfera levantados nos
trabalhos de Chaves e Nobre (2004) e De Almeida et al. (2007) descritos acima.

O trabalho de Nobre et al (2013) analiza os cenários globais de mudanças climáticas gerados pelo
modelo BESM-OA2.3, utilizando os “Radiative Concentration Pathways” - RCP 4.5 e RCP 8.5 do projeto
CMIP5. Neste trabalho, os autores demonstram a capacidade do modelo BESM representar o clima atual
da Terra, assim como prever mudanças climáticas induzidas pelo aumento do CO2 atmosférico prescritos,
para o período de 2010 a 2100. Dentre os principais resultados encontrados está a capacidade do BESM
em reproduzir o padrão de dipolo de TSM e ventos sobre o Atlântico Tropical (Nobre and Shukla, 1996) no
clima presente, porém sugerindo uma redução do período característico de oscilação decadal deste padrão
climático. Além deste, o BESM-OA2.3 prevê um maior aquecimento atmosférico sobre as regiões polares
do Hemisfério Norte, similarmente ao previsto por outros modelos do projeto CMIP5.

8.3.2 RADIAÇÃO-NUVEM

O IPCC (2007) reporta que progressos substanciais têm sido obtidos na compreensão das diferenças
entre modelos no que concerne à sensibilidade do sistema climático frente à forçante radiativa das nuvens.
Atualmente, a média global da forçante radiativa devido às nuvens é negativa (elas exercem um efeito de
resfriamento no clima). Em resposta ao aquecimento global, o efeito de resfriamento pode ser fortalecido ou
enfraquecido e produzir uma retroalimentação radiativa variável no próprio aquecimento do clima. Estudos
recentes mostram que diferenças nos processos de retroalimentação das nuvens permanecem como a prin-
cipal fonte de incerteza na sensibilidade climática dos modelos de circulação geral (e.g., Dufresne e Bony,
2008). Zhang et al. (2010) observam que estas questões estão relacionadas com vários fatores: 1) o sinal
de retroalimentação das nuvens é pequeno e a variabilidade temporal e espacial das nuvens são tipicamente
muito maiores; 2) as nuvens são altamente interativas com a dinâmica da circulação atmosférica; 3) em um
MCGA, as nuvens são simuladas com uma trama interativa de parametrizações da estrutura da subgrade,
microfísica de nuvens, mistura turbulenta, convecção cúmulos, radiação e fluxos na superfície, os quais não
são muito bem resolvidos pela grade do modelo. Pesquisas coordenadas no âmbito da retroalimentação
das nuvens em mudanças climáticas estão sendo realizadas por iniciativas como o Cloud Feedback Model

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 289


Intercomparison Project (CFMIP) (ver URL HTTP://cfmip.metoffice.com/index.html). O projeto de experimen-
tos numéricos idealizados pelo CFMIP propõe o uso de simuladores de dados de satélite (i.e., algoritmos
que geram um campo de radiância no topo da atmosfera a partir dos campos numéricos de coberturas
de nuvens geradas pelos modelos de circulação geral, que simula a visada que um satélite teria daquela
distribuição tridimensional de nuvens) - (Masunaga et al. 2010) e outros diagnósticos, para compreender
melhor os mecanismos físicos associados às diferentes formas de retroalimentação das nuvens nos mode-
los climáticos. A parametrização da cobertura de nuvens nos MCGA atuais segue estratégias baseadas
em métodos diagnósticos ou prognósticos. Métodos diagnósticos usam relações empíricas ou funções
de distribuição de probabilidade das variáveis estudadas, definidas pelas condições da grande escala.
Métodos prognósticos utilizam uma equação prognóstica para cobertura de nuvens que leva em conta
processos de advecção, fontes e sumidouros (Jakob, 2001). Simulações efetuadas com a versão original
do modelo MCGA CPTEC V1.0 mostraram desvios com relação às observações obtidas pelo Earth Ra-
diation Budget Experiment. A causa dos desvios foi atribuída aos esquemas de parametrização de ondas
curtas e de parametrização de nuvens (Cavalcanti et al., 2002). O uso de outros esquemas de radiação
conseguiu aprimoramentos nos fluxos radiativos para céu claro e com nuvens, conservando erros cujas
causas seriam as deficiências na simulação das nuvens (Barbosa et al., 2008; Chagas e Barbosa, 2008).

Nos modelos numéricos, a propagação de radiação de onda curta e longa na atmosfera é des-
crita numa coluna dentro de uma célula de grade, considerando uma atmosfera representada por cama-
das horizontais dentro de cada coluna atmosférica. Os códigos radiativos associados a esses modelos
necessitam de informação sobre gases e aerossóis em cada camada, além de propriedades microfísicas e
macrofísicas das nuvens tais como raio efetivo de gotas e cristais, fração de fase líquida e sólida, coluna
de água líquida/sólida associada, e fração de cobertura de nuvens na célula de grade. A propagação de
radiação solar em cada camada é descrita por sistemas de equações de dois fluxos e a equação de pro-
pagação para radiação difusa descreve a radiação térmica. A partir das soluções gerais dessas equações,
as irradiâncias que ingressam e emergem em cada camada podem ser obtidas por diversos algoritmos.
Os resultados permitem avaliar a divergência vertical do fluxo radiativo e a taxa de aquecimento associa-
da, assim como os saldos de radiação à superfície e a radiação emergente no topo da atmosfera. Assim,
estudar as relações radiação/nuvem/clima implica considerar os modelos de propagação adequados e
sua parametrização para diversos esquemas microfísicos e macrofísicos na atmosfera. Isto sugere a con-
veniência de estudos específicos que contemplem, por exemplo, os códigos radiativos adequados para
propagação de radiação em gases, o efeito intra-grade e inter-grade da interação lateral entre nuvens, os
efeitos de descrever a cobertura parcial como uma única “nuvem equivalente” plana, e os efeitos direto e
indireto de aerossóis nas propriedades radiativas de nuvens e atmosfera.

No Brasil, tais estudos específicos não são numerosos. Por exemplo, em relação à radiação solar em
atmosfera com aerossol de queimadas, Tarasova et al. (1999) publicaram diversas descrições da atenuação
de radiação solar durante o experimento Amazon Boundary Layer Experiment (ABLE). Rotinas desenvolvidas
na NASA (National Aeronautics and Space Administration) para estimativa de espessura óptica e outros
parâmetros de aerossol a partir de imagens MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) foram
implementadas pelo INPE (ver URL HTTP://satelite.cptec.inpe.br). Por um lado, os dados gerados sobre o
território brasileiro podem ser utilizados como fonte de informação para estudos de impacto do aerossol em
forçantes radiativas; por outro lado, o propósito inicial foi desenvolver estudos das características físicas do
aerossol sobre o Brasil, que impliquem em mudanças dessas rotinas (Rosário et al., 2011).

Em relação à acurácia das parametrizações que avaliam transmitância do vapor d’água para ra-
diação solar (Plana-Fattori et al., 1997; Tarasova e Fomin, 2000) foram desenvolvidos códigos radiativos
“exatos” parametrizando a integração de transmitâncias line-by-line sobre intervalos espectrais escolhidos. O
código FLISS (Fast LIne-by-line satellite Signal Simulator; Fomin e Correa, 2005) é um exemplo com relevân-
cia potencial no aprimoramento de rotinas nos modelos de PNT e na simulação de radiância emergente na
atmosfera (potencialmente importante em processos de assimilação de dados de satélites em modelos).

Algoritmos de estimativa de perfis de absorção da radiação solar em atmosfera multicamada


também foram desenvolvidos. Um modelo estocástico de dois fluxos (Ceballos, 1989; Souza et al., 2008)
tem potencial de aprimoramento da eficiência de algoritmos utilizados nos modelos numéricos.


290 VOLUME 1
Pode-se citar como exemplos de aprimoramentos no MCGA CPTEC/COLA: o trabalho de Chagas
et al. (2004) que substituíram o cálculo de absortância do vapor d’água pelo algoritmo de Ramaswamy e
Freidenreich (1992) produzindo uma pequena redução no viés da irradiância média solar do modelo, e
o trabalho de Tarasova et al. (2007) em que foi incluída a componente de onda curta do CLIRAD (Chou
e Suarez, 1999) com funções de transmitância aprimoradas por Tarasova e Fomin (2000).

Em geral, os aprimoramentos testados nos códigos de radiação tiveram impacto positivo sobre os
modelos. No entanto, a modelagem explícita da relação modelo de nuvem/ radiação/ impacto climático
foi escassamente abordada nos estudos realizados pela comunidade brasileira, podendo-se citar estudos
numéricos das propriedades óticas da cobertura de nuvens e a dinâmica de larga escala (Bottino e Nobre,
2013).

Estudos recentes mostraram que as simulações dos modelos diferem mais e são menos realísticas
em regiões de subsidência, o que enfatiza a necessidade de aprimorar a representação e avaliação dos
processos de nuvens nos modelos climáticos, especialmente aquelas da camada limite (IPCC, 2007,
seção 8.6.3.2). Os processos de retroalimentação das nuvens baixas têm sido discutidos em termos do
efeito de duas variáveis de nuvens primárias: a quantidade de nuvens e a espessura óptica das nuvens
(Stephens, 2010). Sobre os oceanos, os estratocúmulos em regiões de intensa subsidência têm forte im-
pacto no balanço radiativo. Por outro lado, a pequena espessura das nuvens estrato cúmulos as torna
sensíveis a mecanismos de retroalimentação como os processos turbulentos da camada limite e resfria-
mento/aquecimento radiativo.

Alguns esquemas baseados na estrutura termodinâmica de grande escala foram elaborados


para avaliar a cobertura das nuvens estratocúmulos nos MCGA (Slingo 1987; Klein e Hartmann, 1993;
Wood e Bretherton, 2006). Esses esquemas apresentam sinais diferentes na retroalimentação das nuvens,
afetando sensivelmente as previsões climáticas de um modelo acoplado.

8.3.3 BIOSFERA-ATMOSFERA

Um dos assuntos científicos de crescente interesse mundial trata das interconexões entre a biosfera
terrestre e a atmosfera. Uma das manifestações mais claras das interações da atmosfera com a biosfera é
a relação entre o padrão global da cobertura vegetal e o clima. O clima é o fator que mais influencia na
determinação da distribuição de vegetação e suas características num contexto global (Prentice, 1990). A
localização de diferentes biomas é ditada pelas características do clima e, portanto, mudanças no clima
afetam a distribuição geográfica da vegetação global. Por outro lado, mudanças na distribuição e na
estrutura da vegetação por sua vez também influenciam o clima. As características físicas da vegetação
e dos solos têm grande influência nas trocas de energia, água e momentum entre a superfície terrestre
e a atmosfera. Mudanças na vegetação implicam em mudanças das propriedades físicas da superfície,
incluindo o albedo superficial, a rugosidade da superfície, o índice de área foliar, a profundidade das
raízes, e a disponibilidade de umidade do solo (Prentice et al., 1992).

Desde o final da década de 1980 diversos experimentos com modelos de circulação geral da
atmosfera foram utilizados para avaliar os impactos dos desflorestamentos no clima global e regional
(Nobre et al., 1991; Shukla et al., 1990; Werth e Avissar, 2002). Estudos de sensibilidade com modelos
climáticos estabeleceram a importância das florestas tropicais em influenciar o clima da Terra. De forma
geral, Foley et. al. (2003) afirmam que as alterações no uso e na cobertura do solo podem alterar os
fluxos biofísicos em superfície através da alteração do albedo ou da rugosidade da superfície. Uma mo-
dificação do albedo em superfície acarreta uma modificação do balanço de energia e da temperatura
em superfície. Este, em troca, afetaria como a superfície se resfria, pela mudança no balanço entre perda
de calor sensível e perda de calor latente. Modificações na altura e a densidade da vegetação afetam a
rugosidade da superfície, que por sua vez influencia na turbulência próxima ao chão. Superfícies mais ru-
gosas misturam o ar com mais eficiência, melhorando o processo de resfriamento. Mudanças no albedo,
na rugosidade da superfície, e na razão entre perda de calor sensível e calor latente podem afetar, então,
os fluxos entre a superfície e a atmosfera e, como resultado, modificar o clima.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 291


Em MCGA, a interação biosfera-atmosfera pode ser representada de duas formas: unidirecional
(desacoplado), no qual a vegetação é mantida fixa e força a atmosfera durante a integração do mode-
lo, ou bidirecional (acoplado), no qual a vegetação pode ser modificada de acordo com as condições
climáticas simuladas durante a integração do modelo. Na interação biosfera-atmosfera unidirecional,
realizam-se estudos de sensibilidade do clima à mudança de biomas. Na interação biosfera-atmosfera
bidirecional, procura-se determinar as situações de equilíbrio - instável ou estável - do sistema biosfera-at-
mosfera. Utiliza-se a interação unidirecional para estudos de sensibilidade do clima à mudança de bio-
mas, ou seja, procura-se responder à seguinte questão: se a vegetação de certa região for alterada, por
ação antrópica ou natural e essa alteração for mantida, quais seriam os impactos no clima? Na interação
biosfera-atmosfera bidirecional, ou acoplada, procura-se estudar a existência de situações de equilíbrio,
estável ou instável, e para isso é preciso que a vegetação seja dinâmica, ou seja, que os biomas possam
ser modificados de acordo com as condições climáticas simuladas (Sampaio, 2008).

Um grande número de modelos de superfície hoje é empregado em MCGA, tais como o SiB
(Simple Biosphere Model - Sellers et al., 1986), o SSiB (Simplified Simple Biosphere – Xue et al., 1991 -
utilizado no MCGA CPTEC/COLA), o BATS (Biosphere-Atmosphere Transfer Scheme – Dickinson et al.,
1993), IBIS (Integrated Biosphere Simulator) – (Foley et al., 1996; Kucharik et al., 2000), entre outros.

Os modelos numéricos do sistema climático terrestre devem considerar a atmosfera e a biosfera


terrestres como um sistema acoplado com os processos biogeofísicos e biogeoquímicos que ocorrem
numa certa escala de tempo. Na escala de tempo de curto prazo, isto é, segundos a horas, o sistema
acoplado é dominado pelos rápidos processos biofísicos e biogeoquímicos que trocam energia, água,
dióxido de carbono e momentum entre a atmosfera e a superfície terrestre. Na escala de tempo inter-
mediária, isto é, dias a meses, os processos incluem mudanças na quantidade de umidade do solo,
mudanças na alocação de carbono e fenologia da vegetação. Em escalas de tempo mais longas, isto é,
estações, anos e décadas, podem ser fundamentais as mudanças na estrutura da vegetação causadas por
distúrbios, mudanças no uso do solo, e interrupção no crescimento, entre outros. Para considerar todos
os processos acoplados biosfera-atmosfera, é necessário que os modelos climáticos sejam capazes de
simular fenômenos ecológicos intermediários e de longo prazo (Foley et al., 2000).

Recentes estudos têm confirmado que alterações nos ecossistemas terrestres afetam o clima re-
gional, ou até mesmo global (Costa e Foley, 2000; Werth e Avissar, 2002; Costa et al., 2007; Sampaio et
al., 2007). Os efeitos do desmatamento no clima têm sido geralmente analisados através da utilização de
um modelo climático global acoplado a um modelo biofísico de superfície que representa explicitamente
as características da mudança de cobertura do solo (altura do dossel, densidade de folhas e profundidade
de raiz, por exemplo) (Dorman e Sellers, 1989; Xue et al, 1991; Foley et al., 2003). De acordo com os re-
sultados de muitos destes modelos, por exemplo: Dickinson and Henderson-Sellers, 1988; Hahmann and
Dickinson, 1997; Costa and Foley, 2000, Sampaio et al., 2007), os padrões de desmatamento em larga
escala causam uma tendência a um aumento considerável de temperatura e um decréscimo de evapo-
transpiração, escoamento superficial e precipitação anual média. Já observações de mudanças climáticas
sobre áreas desmatadas confirmam o aumento na temperatura e a diminuição da evapotranspiração,
embora mudanças na precipitação tenham sido mais difíceis de detectar (Nobre e Borma, 2009).

O bioma brasileiro mais estudado é a floresta Amazônica, que abriga aproximadamente um


quarto de todas as espécies existentes no mundo (Dirzo e Raven, 2003) e é responsável por 15% de toda
a fotossíntese terrestre (Field et al., 1998), configurando-se em um reservatório de carbono significativo.
Com relação à precipitação da região, muito importante na definição dos padrões de vegetação, as
conclusões mais comuns dentre os numerosos estudos de modelagem climática são que o desmatamento
moderado e localizado aumenta a convecção e a precipitação, mas perdas de floresta em larga escala
tendem a reduzir significativamente a precipitação (Avissar et al., 2002, 2004, 2006; Moore et al., 2007;
Cohen et al., 2007; Costa et al., 2007; Sampaio et al., 2007; Ramos da Silva et al., 2008; Mei e Wang,
2009; Walker et al., 2009). Esses estudos mostram que os mecanismos que levam à diminuição da pre-
cipitação envolvem: 1) o aumento do albedo da superfície (que reduz o saldo de radiação, resfriando a
alta troposfera, provocando subsidência, que reduz a precipitação), 2) o aumento da Razão de Bowen

292 VOLUME 1
(ou diminuição da evapotranspiração, diminuindo o fornecimento de umidade à atmosfera), e 3) diminui-
ção da rugosidade da superfície (que leva a uma diminuição do coeficiente de arraste aerodinâmico, o
que contribui para uma diminuição na evapotranspiração e para um aumento do vento). As reduções na
precipitação são mais pronunciadas nos meses de transição entre a estação seca e a chuvosa na floresta,
levando a um prolongamento na duração da estação seca (Costa e Pires, 2010). Além do desmatamento
da própria floresta, o desmatamento de regiões vizinhas à floresta, como o Cerrado, também contribui
para uma estação seca mais longa (Costa e Pires, 2010).

Com o avanço dos modelos numéricos de mesoescala (ou modelos de área limitada) simulações
climáticas de alta resolução foram realizadas para a Amazônia. Por exemplo, Gandu et al. (2004) re-
alizaram um dos primeiros estudos usando um modelo de mesoescala (de 50 km de resolução) para
avaliar o efeito do desmatamento completo na parte oriental da Amazônia. Os autores encontraram que
a presença de orografia, proximidade da costa litorânea e distribuição de rios, alteravam os resultados
encontrados anteriormente nas simulações de larga-escala, não se observando, em particular, redução
da precipitação em toda a Amazônia. Posteriormente, Correia et al. (2007) utilizaram um modelo MCGA,
acoplado a um modelo de transferência de energia com a superfície unidimensional (SiB) e analisaram o
desmatamento completo da Amazônia em três cenários de ocupação da Amazônia, sendo um gerado a
partir do projeto PROVEG (Sestini et al., 2002) do INPE, outro para o ano de 2033 (Soares-Filho et al.,
2004) e um último para uma total conversão da floresta amazônica em pastagem. Em todos eles, a troca
de vegetação (de floresta para pastagem) reduziu a rugosidade da superfície, intensificou o vento e au-
mentou a convergência de umidade. De certo modo, isto minimiza a redução da evapotranspiração, em
função da menor capacidade de gramíneas/culturas baixas em extrair água do solo. Este resultado reduz
o impacto dos resultados obtidos por Cox et al. (2004) para a morte da floresta Amazônia. As questões
da extensão do período de seca e da possibilidade de fogo (natural e antrópico) também são investiga-
das em Correia et al. (2007). Ramos da Silva et al. (2008) também utilizaram um modelo atmosférico
de mesoescala (20 km de resolução horizontal) para avaliar o impacto da ocupação da Amazônia nos
elementos do balanço hídrico para a estação chuvosa. Dois cenários de crescimento socioeconômico e
populacional que levam em conta os planos de construção e pavimentação de rodovias, melhoria de por-
tos marítimos e fluviais, expansão do setor energético para os anos de 2030 e 2050 (Soares-Filho et al.,
2004; Ramos da Silva et al., 2008), bem como um cenário de desmatamento total, foram estudados. Os
resultados mostram que a precipitação decresce conforme a área desmatada é aumentada, porém existe
uma grande variabilidade espacial. Em particular, os autores mostram uma diminuição da frequência de
ocorrência (e da velocidade de propagação) de linhas de instabilidade que se formam na costa litorânea
e induzem a chuva nas partes leste e central da Amazônia.

Saad et al. (2010) usaram o modelo BRAMS (Brazilian contributions to the Regional Atmospheric
Modeling System - Freitas et al., 2009c) para analisar o impacto de rodovias no clima local e de mesoes-
cala, utilizando o caso da BR-163 (rodovia que liga Cuiabá a Santarém, cortando uma boa área intacta
da Amazônia) e que está sendo pavimentada. Neste caso, houve uma extensa área de floresta tropical
desmatada (na forma de linha) para a construção da rodovia. A formação de precipitação foi associada
com a forma, área e posicionamento das estradas em relação ao vento predominante, sugerindo que
a presença da estrada pode aumentar (ou reduzir) a precipitação local. A quantidade de água no solo
também se mostrou importante em disparar os processos de convecção. Este tipo de estudo é importante,
pois, com o desenvolvimento econômico, ocorre abertura de novas estradas. Atualmente, têm-se a pavi-
mentação da BR-163 e a reconstrução da rodovia BR-369 (que liga Manaus a Porto Velho).

Betts e Silva Dias (2010) sintetizam o acoplamento dos processos de superfície e camada limite,
baseados nos resultados de pesquisas anteriores na Amazônia (projetos ABRACOS e LBA). Claramente há
uma ligação forte entre a quantidade de água no solo (proveniente da precipitação), a partição de ener-
gia na superfície (particularmente o fluxo de calor sensível), o aquecimento da atmosfera e a evolução da
espessura da camada limite, a formação das nuvens (com a presença de aerossóis oriundos de queima-
das) e a ocorrência da precipitação, fechando este ciclo (Figura 2 do artigo de Betts e Silva Dias, 2010).
Estas inter-relações possuem diferentes escalas de tempo (diurna, sazonal e mesmo decenal) que precisam
ser analisadas em qualquer modelo para simular o clima da Amazônia.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 293


As mudanças de uso do solo e o efeito que exercem no clima possuem o potencial de fazer com
que partes da Amazônia atravessem os chamados pontos de desequilíbrio (tipping points – Lenton et al.,
2008). Estes pontos de desequilíbrio do sistema clima-vegetação se referem, em termos quantitativos, à
probabilidade de um elemento do sistema terrestre cruzar um limite crítico, que poderia fazer com que o
mesmo salte para outro estado de equilíbrio estável. Estudos durante a última década (Sternberg, 2001;
Higgins et al., 2002; Oyama e Nobre, 2003; Salazar e Nobre, 2010) fornecem evidências teóricas da
existência de estados de equilíbrio alternativos entre o clima e a vegetação da floresta em geral, e em par-
ticular na região de transição entre a floresta e o Cerrado. Oyama e Nobre (2003) sugerem que o sistema
acoplado clima-biosfera na Amazônia tem dois estados de equilíbrio estáveis: um é obviamente o estado
presente de clima e vegetação, com a floresta tropical cobrindo a maior parte da bacia Amazônica; o
segundo estado de equilíbrio estável estaria associado a uma savana tropical cobrindo parte da bacia (ou
outro tipo de vegetação adaptado à seca e ao fogo), com baixa precipitação durante a estação seca. A
probabilidade de transpor o ponto de desequilíbrio do sistema clima-vegetação pode ser causada pelo
desmatamento, podendo ainda ser intensificada pelas mudanças climáticas causadas pela modificação
da composição atmosférica.

Scheffer et al. (2001) fazem uma revisão sobre a existência de múltiplos estados de equilíbrio em
ecossistemas, como em lagos, corais, regiões com arvoredos, desertos e oceanos. Por exemplo, anali-
sa-se uma região que passou por um processo de desertificação antrópica e, por isso, teve redução de
precipitação. Essa redução poderia impedir o desenvolvimento da vegetação, o que sustentaria o deserto.
Quando há a perda de vegetação, há aumento do escoamento superficial e a água entra no solo rapi-
damente desaparecendo e indo para camadas profundas às quais as plantas não tem acesso. Portanto,
o novo clima não procuraria restituir o bioma original da região, ou seja, haveria uma irreversibilidade
climática ao processo de desertificação, o que seria claramente catastrófico para a região. Na verdade,
passou-se de um estado de equilíbrio para outro, mais seco.

Os modelos globais de vegetação dinâmica consideram a cobertura vegetal como sendo uma
fronteira superficial interativa, a qual pode mudar em resposta às mudanças no clima. Tais modelos per-
mitem projetar respostas transientes dos ecossistemas terrestres, sob condições de mudanças climáticas
abruptas, e são capazes de representar processos que contribuem para a dinâmica da estrutura e da
composição da vegetação de uma forma mais detalhada, e por isso com um maior número de variáveis
e parametrizações de processos eco-fisiológicos e eco-climáticos, envolvendo maior complexidade (p.ex.,
modelo IBIS – Foley et al., 1996; modelo LPJ – Haxeltine e Prentice, 1996). Esforços têm sido feitos para
melhorar os parâmetros destes modelos para a América do Sul, por exemplo, para a região Amazônica
com o modelo IBIS, mas ainda restam deficiências de ajuste para outros biomas tropicais da América do
Sul.

Os ecossistemas terrestres também afetam o clima alterando a concentração atmosférica de CO2


através da fotossíntese e da respiração. Dessa forma, mudanças no ciclo do carbono terrestre afetam
diretamente a atmosfera. Por exemplo, a floresta Amazônica intacta assimila aproximadamente 0,6 Pg-C
ano^-1 (P = Peta = 10^15) (Baker et al., 2004). A simples remoção desta floresta (desconsiderando
os gases emitidos durante a queima ou preparo de áreas) implicaria em uma menor quantidade de car-
bono sendo removido da atmosfera, causando efeitos no clima. Essas alterações no armazenamento de
carbono terrestre podem afetar ainda mais o montante de CO2 presente na atmosfera, intensificando o
efeito estufa.

Os ecossistemas podem resistir às intensas mudanças do clima e de uso do solo se o efeito de fer-
tilização do CO2 – cuja concentração atmosférica aumentou drasticamente desde a Revolução Industrial
– se confirmar. Neste caso, a eficiência do uso da luz e da água aumentaria na maioria das plantas, o que
estimula a fotossíntese líquida (Polley et al., 1993; Field et al., 1995; Curtis, 1996; Sellers et al., 1996) e
poderia modificar a composição e estrutura dos ecossistemas (Betts et al., 1997). Porém, este efeito pode
ser compensado por aumentos contínuos da temperatura, alterações na sazonalidade da precipitação e
incêndios florestais (Nobre e Borma, 2009; Cardoso et al., 2009). É válido lembrar que essas alterações
na vegetação, por sua vez, tendem a exercer influência sobre o clima, o que acarretaria em um processo
de retroalimentação.

294 VOLUME 1
Enfim, os próximos anos representam uma oportunidade única de manter a resiliência e a biodi-
versidade dos ecossistemas brasileiros, frente à ameaça crescente das mudanças climáticas e da devas-
tação humana. Dessa forma, a perspectiva das mudanças climáticas causadas pela modificação antrópi-
ca da composição atmosférica não deve ser considerada de forma isolada. Deve-se considerar também
o fato de que a atmosfera é afetada pelos ecossistemas terrestres, e as retroalimentações que exercem no
clima podem intensificar os efeitos do aquecimento global.

8.4 SIMULAÇÕES DE FENÔMENOS METEOROLÓGICOS

Nesta seção são apresentados os desempenhos dos diferentes modelos, atmosféricos, acoplados
oceano-atmosfera e regionais na simulação de fenômenos meteorológicos que mais afetam a América
do Sul.

8.4.1. EL NIÑO-OSCILAÇÃO SUL (ENOS)

Os padrões de variabilidade sazonal a interanual são bem simulados pelo MCGA CPTEC/COLA
forçado com campos observados de Temperatura Superficial do Mar (TSM) globais. Alguns desses pa-
drões são associados à variabilidade da TSM, campo que é introduzido como condição de contorno
para as integrações. Assim, o Índice de Oscilação Sul, associado ao padrão ENOS, é bem simulado pelo
MCGA CPTEC/COLA como mostrado em Cavalcanti et al. (2002). A variabilidade interanual das ano-
malias de precipitação simuladas na região Nordeste são comparáveis às observações (Marengo et al.,
2003) e quando o sinal de ENOS é forte, ou seja, quando as anomalias de TSM são intensas no Oceano
Pacífico Equatorial, as anomalias de precipitação simuladas sobre a Região Sul do Brasil correspondem às
observações. O modelo reproduz o padrão observado de anomalias de precipitação sobre a América do
Sul associado ao ENOS, com excesso de precipitação no Sul do Brasil e déficit no Nordeste (Cavalcanti
e Marengo 2005), sendo que este depende do tipo de ENOS, conforme analisado em Rodrigues et al
(2011) e mencionado no capítulo 2. Experimentos com o MCGA CPTEC/COLA realizados para analisar
o impacto da TSM do Pacifico na precipitação sobre a América do Sul mostraram as características dinâ-
micas associadas com os campos de TSM e precipitação (Pezzi e Cavalcanti, 2002), através das anoma-
lias na célula de Walker, com movimento subsidente sobre a América do Sul tropical nos casos de El Niño.

Grimm e Natori (2006) utilizaram o modelo ECHAM5-OM e por meio de análise de componentes
principais relacionaram a variabilidade interanual da precipitação no verão sobre a América do Sul com
a TSM. No clima presente os primeiros modos representaram bem a precipitação observada embora o
modelo tenha subestimado o número de eventos ENOS principalmente no verão. A subestimativa no
número de eventos ENOS no clima presente também foi identificada no modelo HadCM3 por Chou et al
(2012). Para avaliar a capacidade do modelo regional Eta em reproduzir as anomalias de precipitação
e temperatura na América do Sul associadas aos fenômenos El Niño e La Niña no clima presente, no
período de 1961-1990, Chou et al. (2012) aplicaram o critério de Trenberth (1997) baseado nas anoma-
lias de temperaturas da superfície do mar na região Niño 3.4 geradas pelo modelo acoplado HadCM3
para contabilizar os eventos. Os autores encontraram que o modelo HadCM3 subestima a frequência de
ocorrência tanto dos eventos El Niño quanto dos eventos de La Niña. As anomalias de precipitação e de
temperatura reproduzidas pela média do ensemble de quatro membros do modelo regional apresentaram
padrões típicos de eventos de El Niño e La Niña, mas com ligeiro deslocamento para o norte na posição
das anomalias. Os quatro membros gerados pelo Modelo Eta foram produzidos forçando as condições
laterais por quatro membros do Modelo HadCM3 perturbados em parâmetros da sua física.

8.4.2 ZONAS DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL E DO ATLÂNTICO SUL

A ZCIT constitui o principal mecanismo modulador da estação chuvosa sobre o semiári-


do do Nordeste do Brasil, tendo sido extensivamente estudada na literatura (e.g. Folland et al. 2001;

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 295


Harzallah et al. 1996; Hastenrath and Greischar 1993; Mechoso et al. 1990; Moura and Shukla 1981;
Nobre and Shukla 1996; Rao et al. 1999; Wainer and Soares 1997; Ward et al. 1988), sendo de funda-
mental importância na determinação da variabilidade interanual da estação chuvosa sobre o Nordeste
do Brasil. O deslocamento sazonal da ZCIT do Atlântico em simulações climáticas com o MCGA CPTEC/
COLA reproduz bem ao observado, como visto em Souza (2008). O deslocamento da ZCIT ao norte
ou ao sul do equador nos resultados do modelo é consistente com os campos de confluência em baixos
níveis e anomalias da TSM. Já a migração sazonal da ZCIT é raramente capturada em modelos acoplados
oceano-atmosfera, que a posicionam anomalamente ao sul do equador, resultado de erros sistemáticos
crônicos da simulação das TSM sobre o Atlântico Equatorial por modelos acoplados oceano-atmosfera
globais (Richter and Xie, 2008).

Os mais recentes avanços implementados no Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM),


documentados em Bottino e Nobre (2013), resultaram numa melhora substantiva do modelo acoplado
em representar a convecção atmosférica e precipitação sobre a Amazônia e Atlântico tropical, reduzindo
os erros sistemáticos da representação dos campos de TSM sobre o Atlântico Tropical, com notável
impacto na representação da migração sazonal da ZCIT, como mostrado na Figura 8.1.

Figura 8.1. Série temporal da componente


meridional do vento a 10 m, indicativo da
migração meridional da ZCIT na latitude
5N, média para as longitudes 28-32W
para as simulações do BESM-OA2.3
(Nobre et al (2013) - vermelho), BESM-
OA2.3.1 (Bottino e Nobre (2013) - azul)
e Reanálise Era Interim (preto). Fonte:
Bottino e Nobre (2013).

Um dos mais importantes componentes do Sistema de Monção na América do Sul durante o


verão, no Hemisfério Sul, é a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). O interesse
pelo estudo das ZCAS cresceu nos últimos anos devido à sua importância na distribuição de precipitação
sobre a América do Sul. O período médio de permanência desta zona de convergência é de cinco a dez
dias e contribuindo, desta forma, com grande precipitação na faixa central e sul da região Sudeste do
Brasil. O padrão da ZCAS, com um dipolo de precipitação ou de radiação de onda longa emergente
observado entre o sudeste e sul da América do Sul é representado pelo MCGA CPTEC/COLA na escala
de tempo interanual e intrasazonal (Cavalcanti e Castro, 2003; Cavalcanti e Cunninghamm, 2006;
Cavalcanti e Vasconcellos, 2009; Meira e Cavalcanti, 2010). Análises de anomalias de radiação de
onda longa emergente nos resultados do MCGA, na banda intrasazonal indicaram que as características
dos campos climatológicos e de variância foram semelhantes às observadas, porém com intensidades
diferentes (Meira e Cavalcanti, 2010). Entretanto, o padrão típico da Oscilação de Madden e Julian
identificado nas observações na região da Indonésia não é reproduzido.

Os aspectos dinâmicos da gênesis da ZCAS foram abordados por vários estudos (Figueroa et al.
1995; Gandu and Dias 1998; Grimm and Dias 1995; Kodama et al. 2012; Silva Dias et al. 1983) e
apontam para o papel da distribuição vertical do aquecimento diabático associado à precipitação sobre
a porção tropical da América do Sul como fator de ancoragem e formação da ZCAS.

A variabilidade sazonal de precipitação sobre a América do Sul é bem representada por Modelos
Globais Atmosféricos e acoplados, principalmente as grandes diferenças entre verão e inverno. Contudo,
a intensidade ou configuração do campo de precipitação do verão não é bem representada por alguns
modelos. Vera et al. (2006) e Vera e Silvestri (2009) analisaram sete modelos do WCRP-CMIP3 para o
século XX e mostraram que alguns modelos representam a variabilidade da precipitação, indicada pelo

296 VOLUME 1
desvio padrão e um máximo de chuva associado à ZCAS nos períodos de janeiro a março e de outubro a
dezembro, mas com diferentes intensidades comparando com as observações. Em Seth et al. (2010) a média
de nove modelos do WRCP-CMIP3, para o século XX, nas estações de setembro-outubro-novembro e de-
zembro-janeiro-fevereiro também se comparou razoavelmente bem com as observações, embora algumas
características específicas como a intensidade e posição da ZCIT e extensão da ZCAS sobre o oceano não
foram apropriadamente representadas. Outras comparações de resultados dos modelos CMIP3 com observa-
ções, por exemplo como em Bombardi e Carvalho (2008), mostram que alguns modelos usados no IPCC AR4
(IPCC, 2007) capturam as principais características do Sistema de Monção da América do Sul, como a banda
NW-SE da Amazônia para sudeste, representando as ocorrências da ZCAS e também a ZCIT. Entretanto, as
intensidades e posições das precipitações máximas não são bem representadas. O ciclo anual da precipitação
tem uma boa representação no sul da Amazônia e Brasil central pela maioria dos modelos, mas em outras
áreas o ciclo não é bem simulado. A duração da estação chuvosa é superestimada sobre o oeste da América
do Sul e subestimada sobre o Brasil central nos modelos CMIP3, segundo Bombardi e Carvalho (2008). Usan-
do o modelo global atmosférico com alta resolução MRI e TSM de resultados do CMIP3, Kitoh et al. (2011)
indicaram uma melhor representação do campo de precipitação sobre a América do Sul do que a obtida com
mais baixa resolução. Valverde e Marengo (2010) avaliaram cinco modelos do IPCC AR4 sobre a América do
Sul: MIROC, HadCM3, GFDL, GISS e CCCMA, e notaram que em geral os modelos tiveram dificuldade em
configurar a ZCAS se estendendo da Amazônia até o Sudeste do Brasil e que todos subestimam a precipitação
sobre a Amazônia em proporções maiores ou menores. O modelo HadCM3 simulou melhor o padrão da
banda da ZCAS, entretanto com máximo de chuvas sobre Goiás e a região Sudeste.

No Brasil, gênesis e comportamento da ZCAS têm sido estudados através do uso de modelos aco-
plados oceano-atmosfera, indicando de forma pioneira a importância do acoplamento oceano-atmosfera
para a ocorrência da ZCAS (Chaves e Nobre, 2004; De Almeida et al., 2007, Nobre et al., 2012). O
processo de formação da ZCAS descrito nesses estudos evidencia a natureza acoplada oceano-atmosfera
do fenômeno ZCAS, onde as anomalias de TSM resultam da modulação da radiação solar pela presença/
ausência de nebulosidade causada pela ZCAS. Assim, diversamente do que ocorre com a ZCIT do Atlânti-
co e Pacífico, as quais são moduladas pelos gradientes meridionais de TSM, a ZCAS modula as anomalias
de TSM sobre o Atlântico Tropical.

Pilotto et al. (2012) aninharam o Modelo Eta ao modelo global do CPTEC e ao modelo global
acoplado oceano-atmosfera do CPTEC e produziram previsões de três membros para a região do Atlân-
tico entre América do Sul e África para a estação dezembro-janeiro-fevereiro para o período de 10 anos.
Seus resultados mostraram que o aninhamento produziu melhor distribuição espacial da precipitação as-
sociada à ZCIT e à ZCAS, com os melhores resultados gerados com o aninhamento no modelo acoplado
oceano-atmosfera global.

A partir de uma integração contínua do Modelo Climático Regional Eta forçado pelo modelo
HadAM3Ppara o período de 1961-1970, Pesquero et al. (2009) encontraram a frequência simulada de
ZCAS de aproximadamente 1,7 por mês na América do Sul, baseado na metodologia de detecção usa-
do por Gan et al. (2004). Comparando a frequência detectada a partir de reanálises ERA-40 para duas
estações chuvosas consecutivas, os autores encontraram valores observados em cerca de 1,5 eventos de
ZCAS por mês, o que mostra boa concordância da simulação com os dados de reanálises. Os fluxos de
umidade durante períodos de ZCAS ativo também se apresentaram comparáveis com os valores estima-
dos por reanálises. Projeções para o período de 2079-2099 em cenário A1B como modelo Eta, indica-
ram redução na duração do período chuvoso e no número de eventos de ZCAS (Pesquero, 2009).

8.4.3 CICLONES EXTRATROPICAIS

Matos et al. (2011) avaliaram a representação dos ciclones extratropicais no membro controle
das simulações do Eta forçado pelo HadCM3 (Chou et al., 2012). Eles aplicaram o esquema CYCLOC
(Murray e Simmonds, 1991) de detecção de centros de pressão atmosférica nas reanálises do NCEP
(Kalnay et al., 1996) e nas simulações do Eta-HadCM3 no clima presente, de 1961-1990. Os resultados
mostraram que a trajetória dos ciclones, predominante para leste, foi bem simulada pelo Eta.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 297


Enquanto as simulações sugerem uma pequena tendência de redução de ocorrência de ciclones nas altas
latitudes, as simulações não capturaram a tendência de aumento na frequência de ciclones nas baixas
latitudes observadas nas reanálises do NCEP para o mesmo período de 1961-1990.

Reboita et al. (2010) apresentaram uma climatologia detalhada de ciclones no Oceano Atlântico Sul
para o período de 1990 a 1999 em simulações do modelo regional RegCM3 que utilizaram as condições ini-
ciais e de contorno da reanálise do NCEP. Inicialmente validou-se a climatologia simulada pelo RegCM3 que,
de forma geral, mostrou padrão espacial sazonal das variáveis similar às análises, porém com diferenças em
intensidade. Neste estudo, os autores identificaram os ciclones utilizando um esquema automático que identifica
mínimos de vorticidade relativa no campo de vento a 10 m. Assim, os sistemas com vorticidade relativa menor
ou igual a −1.5 × 10−5 s−1 e com tempo de duração maior que 24 horas foram considerados na climatologia.
Nos 10 anos analisados, os autores detectaram 2760 (dados do NCEP) e 2787 (simulações do modelo regional)
ciclogênesis, com média anual de 276.0 ± 11.2 and 278.7 ± 11.1 no Oceano Atlântico Sul. Assim, sugerindo
que o modelo regional possui uma boa destreza na simulação da climatologia da ciclogênese. Porém, o estudo
mostrou uma grande subestimação nos valores da vorticidade ciclônica relativa simulados pelo modelo (-9,8%)
no inicio dos sistemas e foi observado que sobre o Oceano Atlântico Sul, o ciclo anual da ciclogênesis é de-
pendente da intensidade inicial. Já os sistemas mais intensos têm uma boa caracterização da alta frequência da
ciclogênesis que ocorre durante o inverno tanto nos dados do NCEP quanto nas simulações do modelo regional.

Na escala temporal de processos que ocorrem na escala diária em simulações climáticas, o modelo
MCGA CPTEC/COLA representa bem os campos associados a sistemas frontais (Cavalcanti e Coura Silva,
2003), sendo que o número de frentes frias sobre a região sudeste do Brasil é maior no outono e primavera
nos resultados do MCGA CPTEC/COLA, diferente do observado quando o maior número ocorre no inverno.

8.4.4 MODO ANULAR DO HEMISFÉRIO SUL

O modo anular do Hemisfério Sul ou Oscilação Antártica, o qual é o modo de variabilidade interanual
dominante no Hemisfério Sul também é reproduzido pelo MCGA CPTEC/COLA Outro modo de variabilidade
que ocorre na escala interanual e intrasazonal e que afeta a América do Sul é o padrão Pacifico-América do
Sul, o qual é bem simulado pelo MCGA CPTEC/COLA (Cavalcanti e Castro, 2003; Cavalcanti e Cunningham,
2006; Cavalcanti e Vasconcellos, 2009). As características atmosféricas associadas à ZCAS em casos extremos
de precipitação no Sudeste, como o padrão Pacífico-América do Sul e o modo anular do Hemisfério Sul,
obtidas em análises observacionais (Vasconcellos e Cavalcanti, 2010), foram reproduzidas nas análises de
casos extremos selecionados em resultados de simulação climática com o MCGA CPTEC/COLA (Cavalcanti e
Vasconcellos, 2009).

8.4.5 JATO DE BAIXOS NÍVEIS

Em simulação produzida por Da Rocha et al. (2009) utilizando o RegCM3, o jato de baixos níveis (JBN)
a leste dos Andes se posicionou corretamente com relação às reanálises do NCEP na média de 17 verões, ape-
sar de ter subestimado a magnitude do núcleo do jato.

Soares e Marengo (2008) utilizaram o modelo regional HadRM3P com as condições de contorno dos
modelos globais HadCM3 e HadAM3P, ambos do Hadley Centre, e dados de reanálises do NCEP com o propó-
sito de avaliar os fluxos de umidade e o Jato de Baixos Níveis da América do Sul em dois períodos. O primeiro
pode ser entendido como o clima atual e abrange o período de 1980 a 1989. O segundo abrange o período
de 2080 a 2089 e projeta um possível clima de aquecimento global a partir do cenário de altas emissões de
gases de efeito estufa SRES A2 do IPCC. A detecção dos eventos de JBN foi baseada no critério 1 de Bonner
(Bonner, 1968) modificado por Saulo et al. (2000). Na situação do clima atual, foram detectados 28 casos
de JBN durante DJF, 18 para MAM, 5 para JJA e 9 para SON com um total de 60 jatos desde 1980 a 1989
nas reanálises do NCEP. Enquanto que para o HadRM3P, 169 jatos foram detectados durante o mesmo perí-
odo. O resultado sugere que o modelo regional tende a superestimar o número de eventos de jatos no clima
atual em relação às reanálises, entretanto, há que se considerar a baixa resolução dos dados da reanálise.

298 VOLUME 1
As simulações do modelo regional indicaram aumento na frequência de JBN no clima de aque-
cimento (SRES A2) em relação ao clima atual, com transporte de umidade mais eficiente em direção
à região da bacia Paraná-Prata. Os resultados também demonstraram que devido ao fato do fluxo da
umidade na baixa atmosfera (oriundo dos ventos alísios que passam sobre a Amazônia e interage com
este bioma) se tornar mais intenso no cenário de aquecimento. O fluxo que sai da região Amazônica
incrementa a convergência horizontal de umidade sobre a bacia Paraná-Prata, conduzindo em aumento
de chuvas nesta região. É necessário enfatizar que as aquelas simulações não consideram mudanças na
vegetação nem desflorestamento da Amazônia, somente o impacto do cenário de aquecimento.

8.5 ALGUNS IMPACTOS


8.5.1 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

As áreas urbanas desempenham um papel importante na emissão de poluentes atmosféricos, incluin-


do gases de efeito estufa (GEE). Conforme destacado por Freitas (2008), a representação da estrutura física
das cidades e a inclusão de todos os produtos gerados pelas mesmas, tais como calor, umidade e poluentes,
constitui um dos maiores desafios para a modelagem numérica na atualidade. Neste sentido, trabalhos impor-
tantes vêm sendo realizados no Brasil em diversas instituições de ensino e pesquisa, com maior destaque para o
CPTEC-INPE, IAG-USP e UTFPR. Os trabalhos realizados nestas instituições podem ser divididos em duas linhas
principais: 1) aplicação de modelos de qualidade do ar já existentes, como o CIT (Caltech Institute of Technology,
McRae et al., 1982, 1992) e o WRF/Chem (Weather Research and Forecasting/Chemistry; Grell et al., 2005); 2)
desenvolvimento de novos módulos ou parametrizações para estudos de qualidade do ar dentro dos modelos
de mesoescala, basicamente, o modelo BRAMS. Nesta última abordagem, destaca-se o desenvolvimento do
módulo CATT (Coupled Aerosol and Tracer Transport model)-BRAMS (Freitas et al., 2005b; Freitas et al., 2009c;
Longo et al., 2010) e do módulo SPM (Simple Photochemical Model) -BRAMS (Freitas et al., 2005a).

Estudos de modelagem da qualidade do ar sobre as regiões urbanas de São Paulo e do Rio de Janeiro
têm revelado aspectos importantes relativos à composição dos combustíveis, das circulações atmosféricas e o
impacto desses sobre a qualidade do ar. Martins e Andrade (2008a) mostraram, através do uso do modelo CIT,
a importância dos compostos orgânicos voláteis (VOC) sobre a formação do ozônio na Região Metropolitana
de São Paulo (RMSP), sendo os compostos como aromáticos, olefinas, eteno e formaldeído, os mais importantes
para a formação deste poluente. Utilizando o mesmo modelo, Martins e Andrade (2008b) estudaram o impacto
do uso do etanol e da gasolina (contendo cerca de 22% de etanol) sobre a formação do ozônio à superfície e con-
cluíram que o uso do etanol pode contribuir para uma melhoria na qualidade do ar na RMSP. Além dos estudos
sobre a importância do tipo de combustível para a qualidade do ar, alguns estudos têm destacado a importância
das circulações atmosféricas sobre as concentrações de poluentes e identificando algumas condições críticas
para a dispersão. Balbino (2008) mostrou, através do uso do modelo SPM-BRAMS, que as circulações atmosfé-
ricas observadas sobre a RMSP podem contribuir para a recirculação de poluentes e alterar significativamente a
qualidade do ar, em particular, durante o período noturno. Em suas análises, foi observado que picos noturnos
de ozônio podem ser observados próximos à superfície em virtude do transporte vertical deste poluente, o qual é
trazido de níveis mais altos da atmosfera e de outras regiões para os baixos níveis da atmosfera urbana. Tais picos
noturnos são frequentemente observados através das medidas realizadas pela CETESB (Companhia de Tecno-
logia de Saneamento Ambiental) em sua rede operacional. Resultados semelhantes foram obtidos em Freitas et
al. (2005a), Carvalho (2010) e Itimura (2010). Mazzoli et al. (2008) fizeram uma comparação entre os modelos
CIT, WRF/Chem e SPM-BRAMS para a representação das concentrações de ozônio em superfície na RMSP. Em-
bora todos os modelos fornecessem uma boa representação das concentrações de ozônio observadas, o módu-
lo SPM-BRAMS apresentou resultados ligeiramente melhores. Tal resultado motivou a utilização deste modelo em
estudos de qualidade do ar em outras regiões, como o Rio de Janeiro (Carvalho et al., 2009; Carvalho, 2010) e
Campinas (Freitas, 2009). Carvalho et al. (2009) aplicaram o modelo SPM-BRAMS para avaliar o impacto das
emissões industriais sobre a qualidade do ar na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Embora as emis-
sões industriais na RMRJ representem apenas 23% das emissões totais de poluentes na região, foi observado que
estas emissões podem contribuir para concentrações de ozônio acima dos padrões nacionais de qualidade ar
(160 µg m-3). Carvalho (2010) usou o mesmo modelo, considerando uma melhor representação das emissões

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 299


veiculares, para simular episódios significativos de concentrações de ozônio, comparando as concentra-
ções simuladas com as medidas realizadas nas estações de monitoramento da qualidade do ar operadas
pela FEEMA (atual INEA – Instituto Estadual do Ambiente). Considerando os resultados obtidos para a
RMRJ, a autora indica a necessidade de expansão da rede de monitoramento da qualidade do ar, princi-
palmente, focando como áreas prioritárias a região litorânea da Bacia Aérea I, os municípios localizados
ao norte da Baía de Guanabara, como Magé e Guapimirim, além de parte da região serrana, localizada
a noroeste da RMRJ. Nessas áreas, que ainda não possuem estações de monitoramento, foram estimados,
através da modelagem, valores de concentração de ozônio acima dos PNQA estabelecidos para o Brasil.

Vendrasco et al. (2005) exploram o efeito das queimadas de cana no Estado de São Paulo na for-
mação de ozônio troposférico. Esses estudos indicam que a concentração de ozônio na baixa atmosfera
é altamente dependente do horário da queimada e que picos na concentração de ozônio podem ocorrer
à longa distância (centenas de km) do local de emissão dos gases precursores do ozônio em queimadas
de cana.

8.5.2 ILHAS DE CALOR

Talvez uma das mais nítidas e significativas alterações impostas pelo homem ao ambiente seja
o processo de urbanização. Ligados a esse processo, um grande número de efeitos sobre padrões at-
mosféricos têm sido identificados em diferentes escalas de tempo e espaço. Um dos mais conhecidos é o
estabelecimento das ilhas de calor urbanas (Lombardo, 1984; Freitas, 2003; Freitas e Silva Dias 2005;
Freitas et al., 2007). Ilhas de calor são definidas através dos gradientes de temperatura observados entre
os centros urbanos e as áreas rurais adjacentes.

O estabelecimento de ilhas de calor altera significativamente os padrões de circulação atmosféri-


ca em mesoescala, criando zonas de convergência e divergência de massa nas regiões de influência da
área urbanizada. Embora existam algumas associações com padrões de convergência no centro urbano
e de divergência nas áreas adjacentes, conforme mostrado em Freitas (2003), a configuração dessas
zonas é bem mais complexa, podendo existir pequenas zonas de convergência/divergência alternadas
em diversos pontos da área urbanizada. Tal configuração é determinante para diversos processos ligados
à condição do tempo (Freitas et al., 2009a) e de dispersão de poluentes (Freitas, 2003; Freitas et al.,
2005a; Balbino, 2008, Itimura, 2010, Carvalho, 2010). Por exemplo, Freitas et al. (2009a) mostraram
que eventos de tempestade severa são fortemente determinados pelo aquecimento gerado nas cidades,
em combinação com a chegada de massas de ar instáveis sobre alguns pontos das áreas urbanizadas. Em
alguns desses pontos na Região Metropolitana de São Paulo, essas condições contribuem para um maior
levantamento de massas de ar úmidas, contribuindo para o desenvolvimento de super-células. Resultados
semelhantes foram obtidos por Hallak (2007) que, além dos aspectos citados anteriormente, também
destacou a importância da topografia na formação de eventos de tempo severo. Freitas et al. (2007)
mostraram também que a interação entre as circulações geradas pela ilha de calor e a circulação de brisa
marítima produzem correntes ascendentes mais intensas na região de contato entre as duas circulações,
mesmo em períodos de menor instabilidade atmosférica, tendo esta interação um impacto maior sobre
processos ligados à dispersão de poluentes.

Conforme enfatizado em Freitas (2003), vários fatores podem contribuir para o surgimento e
desenvolvimento de ilhas de calor urbanas, tais como a concentração relativamente alta de fontes de
calor nas cidades, as propriedades térmicas dos materiais das construções urbanas, as quais facilitam a
condução de calor, a menor perda de calor durante a noite, por radiação infravermelha para a atmosfera
e para o espaço, a qual é parcialmente compensada nas cidades pela liberação de calor das fontes antró-
picas, tais como veículos, indústrias e construções em geral, metabolismo humano, entre outros. Ferreira
et al. (2011) apresentam valores para esta contribuição antrópica na cidade de São Paulo, indicando que
durante o verão esta pode atingir cerca de 9% da radiação líquida e que durante o inverno esta contri-
buição é de cerca de 15%. Freitas e Silva Dias (2003) sugerem que a contribuição das fontes antrópicas

300 VOLUME 1
de calor pode gerar diferenças de temperatura entre 1 e 4 ºC, dependendo da hora do dia e período
do ano. Obviamente, quanto maior e mais desenvolvida for a área urbana considerada, maior será a
contribuição desses fatores para o aquecimento da atmosfera, podendo este ter impactos desde a micro
até a grande escala.

Cidades com população superior a 10 milhões de habitantes, definidas pela Organização das
Nações Unidas como Megacidades, apresentam uma grande demanda por alimentos, água, combus-
tíveis e energia, sendo também as maiores contribuintes para o aquecimento anômalo observados em
ilhas de calor. Segundo esta classificação, teríamos as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro como as
maiores candidatas às ilhas de calor no Brasil. Entretanto, cidades um pouco menores, como Campinas,
São José dos Campos, Curitiba, Porto Alegre, entre outras, podem contribuir de maneira significativa para
o aquecimento da atmosfera. Por exemplo, Freitas (2009) mostrou, através do uso do modelo BRAMS,
com a ativação de parametrização específica para o tratamento de áreas urbanas (o esquema Town Ener-
gy Budget – TEB, proposto por Masson, 2000), que o município de Campinas – SP, com uma população
de cerca de 1 milhão de habitantes, também apresenta condições para a formação de uma ilha de calor
urbana, sendo as diferenças de temperatura observadas na cidade com relação ao entorno da ordem de
3 graus, valor este um pouco menor do que aquele obtido para a Região Metropolitana de São Paulo,
através de metodologia semelhante com o mesmo modelo (Freitas, 2003; Freitas e Silva Dias, 2005).

Vários trabalhos têm sido dedicados à modelagem da estrutura urbana e de outros aspectos li-
gados às ilhas de calor no Brasil, principalmente sobre a RMSP. Como exemplo, Marciotto et al. (2010)
mostraram, através de modelagem numérica, que, durante o dia, construções mais altas podem levar a
uma diminuição na temperatura do ar entre os prédios e, durante a noite, se gera um aquecimento devi-
do às múltiplas reflexões de radiação de onda longa emitida dentro do cânion quando se tem valores de
razão geométrica (altura x largura das construções, h L-1) menores que 4. Neste mesmo período e quando
a razão geométrica é maior que 4, observa-se um resfriamento do ar, porém, de menor intensidade do
que o registrado durante o dia. Desses resultados fica claro que não só a extensão da área urbana é um
aspecto importante, mas que a estrutura e o tipo de construção são determinantes para a formação e de-
senvolvimento de ilhas de calor. Outro fator importante, observado em boa parte das cidades brasileiras,
é a pequena quantidade de vegetação no interior das áreas urbanas. Gouvêa (2007) constatou, através
do uso de imagens de satélite, que a fração vegetada sobre a área urbanizada da RMSP é inferior a 20%.

Conforme ilustrado no trabalho de Gouvêa (2007) e em Marciotto (2008), a vegetação desempe-


nha papel importante na diminuição da temperatura do ar. Por exemplo, Gouvêa (2007) mostrou, através
do uso do modelo BRAMS, com a ativação do esquema TEB, que um aumento para 25% na fração vege-
tada na área urbanizada da RMSP contribuiria para uma redução de temperatura da ordem de 2,5 ºC, o
que poderia reduzir o efeito de ilha de calor.

8.5.3 AUMENTO DO NÍVEL MÉDIO DO MAR

A simulação das variações de longo período do nível do mar representa uma notável ausência de
trabalhos de simulação numérica no Brasil. A representação do nível do mar em modelos numéricos de
circulação oceânica de larga escala vem sendo explorada mundialmente (Bindoff et al., 2007). A dispo-
nibilidade de duas décadas de informações altimétricas permite identificar padrões médios de compor-
tamento assim como estimar tendências da altura da superfície do mar para todos os oceanos, as quais
possuem grande correspondência com dados de marégrafos ao redor do globo.

A configuração espacial da elevação da superfície do mar nas bacias oceânicas está diretamente
relacionada à estrutura tridimensional do campo de massa do oceano e, sendo assim, possui importan-
tes informações sobre os processos oceânicos subsuperficiais relacionados ao conteúdo armazenado de
calor. Além disso, o campo de vento em larga escala sobre a superfície oceânica também é determinante
para a configuração espacial do nível do mar, cujas inclinações têm relação direta com as correntes ge-
ostróficas (Bindoff et al., 2007).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 301


Esforços de modelagem numérica do nível médio do mar em escala global e no Atlântico Sul vêm
sendo desenvolvidos na última década. De modo geral, os resultados mostram-se compatíveis com as
observações, sendo notados interessantes padrões espaciais que merecem atenção (Bindoff et al., 2007).

A configuração global apresenta evidentes desníveis da superfície marinha, com dominância de


valores elevados no Pacífico e no Índico, enquanto menores valores de elevação são encontrados no
Atlântico Norte, no Mediterrâneo e em todo o cinturão das altas latitudes do Hemisfério Sul. Apesar de
ínfimos em relação à inclinação real, estes desníveis da superfície do mar estão associados com a circula-
ção geral dos oceanos, com marcada presença dos giros subtropicais e subpolares, o complicado sistema
de correntes equatoriais e a Corrente Circumpolar Antártica (Bindoff et al., 2007).

Já para o Atlântico Sul e Tropical, vale salientar a assinatura do giro subtropical com gradientes de
elevação associados às Correntes do Brasil, Sul-Equatorial e Sul-Atlântica. Além destas feições, a Retrofle-
xão da Corrente das Agulhas, a Corrente Circumpolar Antártica e a Confluência Brasil-Malvinas também
se destacam em termos de gradientes de elevação da superfície do mar. A deflexão e divisão da Corrente
Circumpolar Antártica após passar pelo Estreito de Drake fica notável, com uma parte que segue para
leste e outra que segue para norte, sendo que este ramo separa-se em dois para formar a Corrente das
Malvinas e para alimentar a Corrente Sul-Atlântica. Outras feições de interesse são as menores elevações
nas regiões de ressurgência na costa africana entre 30°S e 20°S e entre 20°N e 30°N e a presença de
parte equatorial do giro subtropical do Atlântico Norte (Bindoff et al., 2007).

Desta forma, é importante que modelos numéricos de circulação oceânica de grande escala re-
presentem toda a combinação de efeitos de maneira adequada e coerente, para que seja possível evoluir
na compreensão dos processos físicos associados e analisar projeções climáticas com maior embasamen-
to conceitual. Não é preciso mencionar que os aumentos de temperatura e o degelo de glaciares podem
alterar esta distribuição de maneira heterogênea, o que pode alterar significativamente a distribuição
espacial de elevações e suas correspondentes inclinações, mas estes aspectos ainda não estão sendo
incluídos nas simulações apresentadas (Bindoff et al., 2007).

8.6 DISCUSSÃO A CERCA DAS INCERTEZAS EM SIMULAÇÕES DO CLIMA PRESENTE

Existem três principais tipos de incertezas inerentes às simulações do clima: 1) as concentrações


e emissões dos gases de efeito estufa, 2) a arquitetura do modelo numérico e 3) as parametrizações dos
processos que ocorrem em escala inferior à da grade dos modelos. Em relação às incertezas na modela-
gem do clima, segundo Ambrizzi et al. (2007), toda técnica de regionalização ou “downscaling” contém
erros derivados do modelo global que força o modelo regional, e ainda que isto não seja um erro na re-
gionalização, precisa ser levado em conta. Técnicas diferentes de regionalização podem produzir diferen-
tes simulações do clima local ainda que todas fossem forçadas pelo mesmo modelo global. Em relação
às incertezas nas parametrizações, não há uma solução unânime que resolva corretamente os processos
físicos.

Adicionalmente, vários outros fatores contribuem para as incertezas nas simulações do clima
como os processos estocásticos e não-lineares do sistema climático, aspectos randômicos das forçantes
naturais e antrópicas, desconhecimento da completa condição inicial do sistema climático e a não repre-
sentação de todos os processos atmosféricos em um modelo numérico.

Mendes e Marengo (2010) realizaram um downscaling por meio de redes neurais artificiais e
autocorrelações em cinco modelos globais (CGCM3, CSIRO, ECHAM5, GFDL2.1 e MIROC-m) do
IPCC-AR4 para a bacia Amazônica. Na comparação com dados observados, constataram um ajuste
muito bom nos dados indicando a técnica de redes neurais como uma alternativa viável na modelagem
da precipitação. Também foram observadas pequenas diferenças entre as duas metodologias utilizadas
sendo que a rede neural teve melhor desempenho para o clima atual.

302 VOLUME 1
Utilizando cinco modelos globais do IPCC-AR4 (CCCMA, GFDL, HadCM3, MIROC e o GISS),
Valverde e Marengo (2010) apontaram que os modelos climáticos globais utilizados ainda não conse-
guem reproduzir com alto grau de confiabilidade o padrão sazonal de precipitação que a climatologia
dos campos observados apresenta. No entanto, os modelos utilizados conseguem simular coerentemente
o ciclo anual da precipitação, apesar dos erros sistemáticos encontrados. Para o clima presente, em ter-
mos de precipitação, os cinco modelos apresentaram em maior ou menor proporção a diminuição de
chuva sobre a Amazônia e o excesso de chuva sobre os Andes.

Alves (2007) avaliou o modelo regional HadRM3P, em simulações da variabilidade sazonal dos
principais padrões climatológicos sobre a região da América do Sul e oceanos adjacentes, através de si-
mulações numéricas de longo prazo (1961-1990). Neste estudo foi possível concluir que o modelo simula
razoavelmente bem o padrão espacial e temporal da precipitação e temperatura. Contudo o autor cons-
tatou, que regionalmente há erros sistemáticos que podem estar relacionados à física interna do modelo
(esquema de convecção, de superfície e topografia) e/ou das condições de fronteira herdadas do modelo
global utilizado nas condições de contorno.

Na comparação realizada por Pesquero et al. (2009) entre as simulações do modelo regional
Eta-CPTEC forçadas pelo modelo global HadAM3P e as observações CRU, em geral, a precipitação de
grande escala e a variação sazonal foram bem representados pelo Eta. Segundo os autores, o modelo
regional tem uma topografia mais detalhada do que o modelo global usado nas condições de contorno
podendo gerar maiores quantidades de precipitação, próximo de áreas mais elevadas. Em relação à
temperatura durante DJF, o modelo Eta mostrou viés positivo sobre o Paraguai e viés negativo sobre a
Amazônia, ou seja, um padrão similar ao do viés do modelo global HadAM3P. Durante DJF e JJA no sul
e sudeste do Brasil, foram observados valores muito semelhantes ao observado. De forma geral o Eta
mostrou melhorias em representar a temperatura sobre toda a América do sul em relação ao HadAM3P.

Chou et al. (2012) avaliaram simulações climáticas sobre a América do Sul no modelo regional
Eta com quatro condições de contorno fornecidas modelo global HadCM3. Os quatro membros foram
utilizados com o objetivo de englobar as incertezas em relação ao conjunto das simulações do modelo
global utilizadas nas condições de contorno lateral. Neste estudo foi observada uma boa concordância
nos padrões de temperatura e precipitação simulados pelo modelo regional em relação aos dados ob-
servados do CRU. A comparação entre o desvio padrão entre os membros do conjunto e erro quadrático
médio indicou pouca dispersão dos membros no clima presente, dispersão similarmente pequena ocorreu
também nos membros do HadCM3. O espalhamento das simulações do modelo HadCM3 demonstra a
incerteza em torno da escolha dos valores dos parâmetros do modelo mais adequados.

A Tabela 8.5 lista técnicas para tratar as incertezas. A destreza dos modelos regionais na América
do Sul tem sido similar à obtida com modelos globais no clima do presente (Ambrizzi et al., 2007). Assim,
regiões como o Nordeste, a Amazônia, o Sul do Brasil, o Noroeste do Peru-Equador e o Sul do Chile apre-
sentam uma previsibilidade melhor no clima do presente, comparada com regiões como o sudeste-centro
oeste do Brasil. Supondo que a capacidade para simular o clima no futuro seja a mesma que no presente,
então podemos dar maior credibilidade às projeções de clima para o futuro nas áreas de menores erros.
Os aspectos listados na Tabela 8.5, adaptada de Ambrizzi et al., 2007, buscam identificar alguns dos
problemas relacionados à incerteza na construção de cenários climáticos.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 303


Tabela 8.5 Cadeia de incertezas na construção de cenários em modelos climáticos regionais (MCR)
(adaptado de Ambrizzi et al., 2007).

Fonte da Incerteza Representação no MCR Como tratar incerteza


Utilizar modelos para uma variedade de
Emissões futuras Sim
cenários de emissão
Uso de modelos de ciclo de carbono e
Taxa de emissão à concentração Não
modelos de química atmosférica
Pouco entendimento, representação
Uso de projeções de vários modelos
imperfeita de processos em modelos Em desenvolvimento
globais de clima
de clima (incerteza científica)
Uso de conjunto de simulações de MCG
Variabilidade natural do clima Sim
com várias condições iniciais
Acrescentar detalhe espacial e tem- Usar outros modelos regionais de clima
Não
poral + “downscaling” estatístico

Com o intuito de incluir alguma informação da incerteza de modelagem numérica nas projeções
regionalizadas (downscaling) o projeto CREAS utilizou três modelos regionais nas simulações do clima
presente para o período de 1961-1990. Erros em comum entre os modelos regionais foram identificados,
bem como erros característicos de cada modelo.

Os resultados mencionados acima são exemplos de que não há uma metodologia ideal, ou mo-
delo numérico preferencial. Todos apresentam erros e acertos. Além do modelo numérico, também se
desconhece a resolução espacial suficientemente adequada para resolver o sistema climático.

A incerteza nas formulações dos modelos numéricos para resolver o sistema climático se reflete na
magnitude dos erros sistemáticos das simulações. Estas avaliações dos erros por sua vez também contém
incertezas na qualidade das observações, cuja rede sobre América do Sul é deficiente do ponto de vista
espacial e temporal. As incertezas sobre as medidas observacionais afetam diretamente a robustez da
avaliação dos modelos climáticos.

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 319


CAPÍTULO 9

MUDANÇAS AMBIENTAIS DE CURTO E LONGO PRAZO: PROJEÇÕES,


REVERSIBILIDADE E ATRIBUIÇÃO

Autores principais: Everaldo Barreiros de Souza – UFPA; Antonio Ocimar Manzi – INPA
Autores colaboradores: Gilvan Sampaio – INPE; Luiz Antonio Cândido – INPA; Edson José P. da Rocha – UFPA; José
Maria Brabo Alves – FUNCEME; Manoel Ferreira Cardoso – INPE; Adriano Marlisom L. de Sousa – UFRA; Mariane M.
Coutinho – INPE
Autores revisores: Alan Cavalcanti da Cunha – UNIFAP

320 VOLUME 1
ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 322

9.1 INTRODUÇÃO 324

9.2 CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS DE EMISSÕES E SUAS INCERTEZAS 325

9.3 AVALIAÇÃO DE METODOLOGIAS DE PROJEÇÕES 326



9.4 ATRIBUIÇÃO DE MUDANÇAS AMBIENTAIS 327

9.5 PROJEÇÕES REGIONAIS DAS MUDANÇAS AMBIENTAIS PARA O SÉCULO XXI 329

9.6 COMENTÁRIOS FINAIS 336

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 336

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 321


SUMÁRIO EXECUTIVO
Cenários futuros do clima são previsões geradas por modelos climáticos que levam em
consideração os diferentes cenários de emissões globais de gases do efeito estufa (GEE) propostos pelo
IPCC. Atualmente, a melhor ferramenta científica disponível para a geração das projeções de mudanças
ambientais é o downscaling (regionalização) dinâmico, cuja técnica consiste em usar um modelo climático
regional “aninhado” a um modelo climático global (maiores detalhes sobre modelagem encontram-se no
Capítulo 8). Basicamente, os dados dos conjuntos (ensembles) de modelos globais com baixa resolução
espacial (~ 100 a 200 km2) são utilizados como condições de fronteira para o modelo regional que realiza
as simulações em alta resolução espacial (~ 25 a 50 km2). Diversos estudos sugerem que o downscaling
proporciona uma representação mais realística do clima nas diversas regiões do território Brasileiro, onde
fatores regionais (proximidade com o oceano, topografia acentuada, solo e vegetação, dentre outros)
funcionam como importantes moduladores das condições de tempo e clima, adicionados às forçantes
de grande escala que são capturadas pelos modelos globais. Os resultados científicos consensuais das
projeções regionalizadas de clima nos diferentes biomas do Brasil, considerando os períodos de início
(2011-2040), meados (2041-2070) e final (2071-2100) do século XXI, são resumidos na Figura 9.1.
As mudanças percentuais na chuva e temperatura (ºC) são relativas aos valores do clima atual (final do
século XX). A Figura 9.1 mostra projeções de mudanças na chuva e temperatura para os períodos de
verão (Dezembro a Fevereiro – DJF) e inverno (Junho a Agosto – JJA). Dependendo do cenário futuro de
aquecimento global com baixa ou alta emissão de GEE, tais valores podem respectivamente oscilar entre
~5% e ~20% em precipitação e ~1ºC e ~5ºC na temperatura. Um aspecto consensual a se ressaltar,
observado nas publicações recentes da comunidade científica brasileira e internacional, é a expectativa
de diminuição significativa das chuvas em grande parte do centro-norte-nordeste do território Brasileiro.
Os modelos de previsão de clima sugerem alta probabilidade de aumento dos eventos extremos de
secas e estiagens prolongadas principalmente nos biomas da Amazônia, Cerrado e Caatinga, sendo
que tais mudanças acentuam-se a partir da metade e final do século XXI. No que se refere à temperatura
do ar na superfície, todas as projeções indicam condições de clima futuro mais quente, em função não
só do aquecimento induzido pelas emissões antrópicas de GEE como também por processos regionais
(urbanização, desmatamento, dentre outros) que alteram o balanço de energia propiciando aquecimento
da superfície.

Em geral, as projeções climáticas possuem desempenho (skill) relativamente melhor nos setores
norte/nordeste (Amazônia e Caatinga) e sul (Pampa) do Brasil e desempenho inferior no centro-oeste e
sudeste (Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica). Conforme ilustra a Figura 9.1, as projeções consensuais
para os biomas brasileiros, baseadas nos resultados científicos de modelagem climática global e regional,
são as seguintes:

AMAZÔNIA: Reduções percentuais de 10% na distribuição de chuva e aumento de temperatura de 1º a


1,5ºC até 2040, mantendo a tendência de diminuição de 25% a 30% nas chuvas e aumento de tempe-
ratura entre 3º e 3,5ºC no período 2041-2070, e redução nas chuvas de 40% a 45% e aumento de 5º
a 6º C na temperatura no final do século (2071-2100). Enquanto as modificações do clima associados
às mudanças globais podem comprometer o bioma em longo prazo (final do século), a questão atual do
desmatamento decorrente das intensas atividades de uso da terra, representa uma ameaça mais imediata
para a Amazônia. Estudos observacionais e de modelagem numérica sugerem, que caso o desmatamen-
to alcance 40% na região, estima-se mudança drástica no padrão do ciclo hidrológico com redução de
40% na chuva durante os meses de Julho a Novembro, prolongando a duração da estação seca, além
do aquecimento superficial em até 4ºC. Assim, as mudanças regionais decorrentes do efeito do des-
matamento somam-se àquelas provenientes das mudanças globais, constituindo condições propícias à
savanização da Amazônia, um problema que tende a ser mais crítico na região oriental.

CAATINGA: Aumento de 0,5º a 1ºC da temperatura do ar e decréscimo entre 10% e 20% da pre-
cipitação durante as próximas três décadas (até 2040), com aumento gradual de temperatura

322 VOLUME 1
de 1,5º a 2,5ºC e diminuição entre 25% e 35% nos padrões de chuva no período de 2041-2070. No
final do século (2071-2100) as projeções indicam condições significativamente mais quentes (aumento
de temperatura entre 3,5º e 4,5ºC) e agravamento do déficit hídrico regional com diminuição de prati-
camente metade (40 a 50%) da distribuição de chuva. Essas mudanças podem desencadear o processo
de desertificação da caatinga.

CERRADO: Aumento de 1ºC na temperatura superficial com diminuição percentual entre 10% a 20% na
chuva durante as próximas três décadas (até 2040). Em meados do século (2041-2070) estima-se au-
mento entre 3º a 3,5ºC da temperatura do ar e redução entre 20% e 35% da chuva. No final do século
(2071-2100) o aumento de temperatura atinge valores entre 5º e 5,5ºC e a diminuição da chuva é mais
crítica, entre 35% e 45%. Acentuação das variações sazonais.

PANTANAL: Aumento de 1ºC na temperatura e diminuição entre 5% e 15% nos padrões de chuva até
2040, mantendo a tendência de redução nas chuvas para valores entre 10% e 25% e aumento de 2,5º a
3ºC da temperatura em meados do século (2041-2070). No final do século (2071-2100) predominam
condições de aquecimento intenso (entre 3,5º e 4,5ºC) com diminuição acentuada dos padrões de chuva
de 35% a 45%.

MATA ATLÂNTICA: Como este bioma abrange áreas desde o sul, sudeste até o nordeste brasileiro,
as projeções apontam dois regimes distintos. Porção Nordeste (NE): aumento relativamente baixo nas
temperaturas entre 0,5º e 1ºC e decréscimo nos níveis de precipitação em torno de 10% até 2040,
mantendo a tendência de aquecimento entre 2º e 3ºC e diminuição pluviométrica entre 20% e 25%
em meados do século (2041-2070). Para o final do século (2071-2100) estimam-se condições de
aquecimento intenso (aumento de 3º a 4ºC) e diminuição de 30% e 35% na chuva. Porção Sul/Sudeste
(S/SE): até 2040 as projeções indicam aumento relativamente baixo de temperatura entre 0,5º e 1ºC
com um aumento de 5% a 10% na chuva. Em medos do século (2041-2070) mantêm-se as tendências
de aumento gradual de 1,5º a 2ºC na temperatura e de aumento de15% a 20% nas chuvas, sendo que
essas tendências acentuam-se ainda mais no final do século (2071-2100) com padrões de clima entre
2,5º e 3ºC mais quente e entre 25% a 30% mais chuvoso.

PAMPA: No período até 2040 prevalecem condições de clima regional de 5% a 10% mais chuvoso e até
1ºC mais quente, mantendo a tendência de aquecimento entre 1º e 1,5ºC e intensificação das chuvas
entre 15% e 20% até meados do século (2041-2070). No final do século (2071-2100) as projeções são
mais agravantes com aumento de temperatura de 2,5º a 3ºC e 35% a 40% de chuvas acima do normal.

Figura 9.1. Projeções


regionalizadas de clima
nos biomas brasileiros
da Amazônia, Cerrado,
Caatinga, Pantanal, Mata
Atlântica (setores nordeste
e sul/sudeste) e Pampa para
os períodos de início (2011-
2040), meados (2041-
2070) e final (2071/2100)
do século XXI, baseados
nos resultados científicos
de modelagem climática
global e regional. As regiões
com diferentes cores no
mapa indicam o domínio
geográfico dos biomas. A
legenda encontra-se no
canto inferior direito.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 323


Em virtude do alto grau de vulnerabilidade das regiões norte e nordeste do Brasil, ressalta-se que
as projeções mais preocupantes para o final do século são para os biomas Amazônia e Caatinga. Ambas
apresentam tendências de aquecimento na temperatura do ar e de diminuição da chuva maiores do que
a variação média global. Em termos de atribuição de causa física, sugere-se que essa mudança climática
de redução na chuva associa-se aos padrões oceânicos tropicais anomalamente mais aquecidos sobre
o Pacífico e Atlântico (ver discussões de anomalias de TSM no capítulo 3) esperados num clima futuro
de aquecimento global. Por sua vez, estes modificam o regime de vento de forma a induzir diminuição
no transporte de umidade e a prevalência de circulação atmosférica descendente (células de Hadley e
Walker) sobre o Brasil tropical, inibindo a formação de nuvens convectivas e explicando assim as condi-
ções de chuva abaixo do normal (ver capítulo 8 para outras discussões).

Incertezas: embora na última década tenha havido melhorias substanciais na ciência do sistema terrestre
(com formulações mais completas dos processos físicos, químicos e biológicos, incluindo suas complexas
interações, dentro dos modelos do sistema climático global), aliado ao significativo avanço tecnológico
em simulação computacional, as projeções climáticas e ambientais geradas pela modelagem climática
trazem consigo diversos níveis de incertezas, cujas categorias principais são: Incerteza sobre os cenários
de emissões: as emissões globais de GEE são difíceis de prever, em virtude da complexidade de fatores
socioeconômicos, como demografia, composição das fontes de geração de energia, atividades de uso
da terra e do próprio curso de desenvolvimento humano em termos globais; Incerteza sobre a variabili-
dade natural do sistema climático: os processos físicos e químicos da atmosfera global são de natureza
caótica, de forma que o clima pode ser sensível às mudanças mínimas (variações não-lineares) de difícil
mensuração tanto nos dados observacionais como nos resultados dos modelos;
Incertezas dos modelos: A capacidade de modelar o sistema climático global é um grande desafio
para a comunidade cientifica, sendo fatores limitantes a representação ainda incompleta de processos
como o balanço de carbono global e regional, o papel dos aerossóis no balanço de energia global,
a representação dos ciclos biogeoquímicos e fatores antrópicos como desmatamento e queimadas (as
nuvens também são importantes fontes de incerteza nos modelos climáticos). Por outro lado, ainda que
sejam usados os mesmos cenários de emissões, diferentes modelos produzem diferentes projeções das
mudanças climáticas, constituindo assim outra fonte de incerteza, a qual pode ser avaliada através da
aplicação de conjuntos de simulações (ensembles) de modelos globais e regionais.

Em geral os modelos proporcionam resultados satisfatórios sobre o comportamento do clima


presente (século XX). Portanto, a despeito das incertezas citadas, as projeções sobre a análise consistente
das mudanças climáticas futuras ao longo do século XXI são plausíveis e necessárias. Estas se constituem
em informações inovadoras e valiosas tanto para fins de mitigação de impactos e vulnerabilidade junto à
sociedade que habita os diferentes biomas brasileiros quanto para aperfeiçoar o planejamento de ações
de adaptação e minimização dos efeitos das mudanças climáticas. Considerando as diferenciadas pro-
jeções resultantes de potenciais impactos socioeconômicos e ambientais devido às mudanças do clima
nos diferentes biomas brasileiros, já é possível (e recomendável) o planejamento e tomada de decisão
imediata e de longo prazo.

9.1 INTRODUÇÃO
Diante da preocupação mundial concernente à problemática do aquecimento global e indicações
de mudanças climáticas significativas no decorrer do século XXI (IPCC, 2007), há urgente necessidade
de se elaborar as bases técnico-científicas que auxiliem o planejamento governamental nas questões
de mitigação e estudos científicos de impactos, adaptação e vulnerabilidade. O Brasil possui um vasto
território com diferenças regionais pronunciadas das quais algumas são particularmente vulneráveis aos
eventos climáticos extremos. Assim sendo, as projeções de clima futuro fornecem informações valiosas
constituindo-se em ferramentas úteis ao planejamento estratégico e à tomada de decisão visando
minimizar impactos potencialmente desastrosos nas atividades socioeconômicas e no próprio meio
ambiente.

324 VOLUME 1
O presente capítulo tem como objetivo a apresentação das projeções geradas por modelos glo-
bais e regionais que levam em consideração os diferentes cenários de emissões globais de gases do efeito
estufa (GEE) propostos pelo IPCC. Atualmente, uma das ferramentas científicas mais usadas na geração
das projeções de mudanças ambientais é o downscaling (regionalização) dinâmico. Esta técnica consiste
em usar um modelo climático regional “aninhado” a um modelo climático global (maiores detalhes sobre
modelagem encontram-se no Capítulo 9). Basicamente, as saídas dos conjuntos (ensembles) de modelos
globais com baixa resolução espacial (~ 100 a 200 km2) são utilizadas como condições de fronteira den-
tro do modelo regional que realiza as simulações em alta resolução espacial (~ 25 a 50 km2). Diversos
estudos sugerem que o downscaling proporciona uma representação mais realística do clima nas diversas
regiões do território Brasileiro, onde fatores regionais (proximidade com o oceano, topografia acentuada,
solo e cobertura superficial, dentre outros) funcionam como importantes moduladores das condições de
tempo e clima, adicionados às forçantes de grande escala que são capturadas pelos modelos globais.

Um ponto relevante a ser abordado neste capítulo, é a discussão sobre a acúmulo de incertezas
envolvidas na geração das simulações e projeções do clima presente e futuro. Tais incertezas são de di-
versas origens e categorias: cenários de emissões globais, a natureza caótica da variabilidade climática,
e o nível de complexidade física dos modelos que incluem representação ainda incompleta de processos
como o balanço de carbono global e regional, a influência de aerossóis no balanço de energia global,
ciclos biogeoquímicos e fatores antrópicos como desmatamento e queimadas.

9.2. CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS DE EMISSÕES E SUAS INCERTEZAS


O IPCC (IPCC 2007) através de seu Relatório Especial sobre Cenários de Emissões – SRES (sigla
em inglês de Special Report on Emissions Scenarios) elaborou projeções das emissões dos principais gases
de efeito estufa (GEE) para serem usados nas integrações dos modelos climáticos e ambientais globais. Os
cenários futuros elaborados no SRES compreendem diferentes projeções temporais de emissões de GEE
durante o século XXI. Cada cenário corresponde a diferentes níveis globais de desenvolvimento social,
econômico e tecnológico, crescimento populacional, preocupação com o meio ambiente e aspectos
regionais. Estas são consideradas como as principais forças motrizes mantenedoras das tendências de
emissões globais. Quatro famílias de cenários foram criadas: A1, A2, B1 e B2. A família A1 consiste
de três cenários diferentes caracterizados por diferenças nas tecnologias usadas no futuro para geração
de energia: A1FI (intensivo em combustível fóssil), A1B (balanceado), e A1T (predominantemente
combustíveis não fósseis). Cada um dos seis cenários é igualmente possível e serve de base para que
os modelos climáticos globais realizem as previsões quantitativas do clima global atual e futuro (IPCC,
2007). A Figura 9.2 ilustra graficamente o aquecimento global durante o século XXI previsto para cada
cenário de emissões do IPCC (IPCC 2007). Na literatura, os estudos de impactos ambientais consideram
principalmente os cenários A1B e A2. A história de futuro da família de cenários A2 descreve um mundo
muito heterogêneo baseado na autosuciência das nações e na preservação de identidades locais. Neste
cenário o aumento contínuo da população global aliado à lentidão de avanços tecnológicos dão lugar
a um grande aumento nas emissões de GEE até o ano 2100. A concentração de CO2 na atmosfera
aumenta de um valor de aproximadamente 370 partes por milhão em volume (ppmv) em 1999 para
cerca de 550 ppmv em 2100 (cenário B1) e para mais de 830 ppmv (cenário A2), ou seja, cerca de três
vezes maior do que a concentração antes da era industrial que era cerca de 280 ppmv. A concentração
dos outros GEE (principalmente CH4, N2O e O3) também aumenta no cenário A2. Os demais cenários
(B2 e A1) são semelhantes entre si e intermediários entre o cenário de baixa emissão B1 e o cenário de
alta emissão A2 (IPCC, 2007). Ao divulgar os resultados do quarto relatório, o IPCC (2007) afirmou que
a maior parte do aumento na temperatura global observado nos últimos 50 anos (aumento da ordem
de 0,5ºC) é devido à intensificação do efeito estufa associado ao aumento significativo das emissões de
GEE provenientes primordialmente de atividades antrópicas. Para o século XXI, as projeções obtidas por
ensembles de multi-modelos globais baseados nos diferentes cenários do IPCC indicam um aumento
sistemático de temperatura do ar próximo à superfície terrestre que varia de aproximadamente 2ºC
(no cenário de baixa emissão) até 4ºC (no cenário de alta emissão), conforme ilustra a Figura 9.2,

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 325


sendo que o aumento de temperatura é consideravelmente maior sobre os continentes (maior número de
dias quentes e ondas de calor em todas as regiões continentais) do que sobre os oceanos. Neste cenário
de clima futuro mais quente, há probabilidade significativa de aumento na frequência e intensidade dos
eventos extremos como furacões, inundações e secas prolongadas, além do aumento de precipitação em
regiões muito chuvosas e diminuição nas regiões que sofrem com a escassez de água.

Figura 9.2. Projeções de aumento


de temperatura global para
o século XXI geradas por
conjuntos de modelos globais
levando-se em consideração
os diferentes cenários de
emissões do IPCC. Fonte:
Adaptado de IPCC (2007).

9.3. AVALIAÇÃO DE METODOLOGIAS DE PROJEÇÕES


Nas últimas duas décadas houve avanço significativo tanto na tecnologia e arquitetura computa-
cional de integração numérica dos modelos, como na representação matemática dos processos físicos,
químicos e biológicos e suas complexas interações dentro do sistema climático global. Com isso, os
modelos climáticos globais e regionais são a melhor ferramenta disponível para a geração de cenários
futuros de mudanças climáticas e ambientais. Adicionalmente, estudos com abordagem de downscaling
estatístico (ver capítulo 8, seção 8.2.4), que utilizam dados observacionais, são igualmente importantes
na geração de simulações do clima presente e futuro. Não obstante, apesar dos avanços científicos e
tecnológicos, os resultados dos modelos devem ser usados com cautela, em virtude das incertezas de
origem variadas. Como os próprios cenários futuros do IPCC, em que os modelos se baseiam, são
prováveis de acontecer, consequentemente as projeções climáticas e ambientais extraídas dos modelos
também trazem consigo diversos níveis de incertezas. Outros aspectos ligados à física e funcionamento do
sistema climático, por exemplo, mudanças nos padrões de temperatura da superfície do mar (TSM) sobre
os Oceanos Pacífico e Atlântico, representação simplista do efeito das nuvens e aerossóis na dinâmica
e química da atmosfera, bem como os processos de retroalimentação da superfície ligados ao fecha-
mento dos balanços de energia e de carbono em termos global e regional - não totalmente resolvi-
dos nos modelos, se somam as principais fontes de incertezas nas previsões de mudanças ambientais.

Mesmo que modelos climáticos produzam impactos semelhantes na mudança de temperatura, os


impactos regionais na mudança da precipitação podem variar significativamente (Li et al., 2006) em parte
devido à natureza caótica intrínseca da atmosfera e a ausência de processos físicos atuantes em várias
escalas. Isto apresenta um problema quando se avalia os impactos das mudanças climáticas sobre os
sistemas naturais. Além disso, a resolução espacial dos modelos climáticos globais é baixa, o que reduz
muito o realismo das projeções locais da mudança climática, especialmente para o Brasil que possui
biomas diferenciados com fisiografia complexa e características de superfície diversificadas. A limitação
das projeções climáticas de grande escala (extraídas dos modelos globais) tem levado a geração de
cenários regionalizados para a América do Sul (Ambrizzi et al., 2007) baseado na técnica de downscaling
dinâmico (ver capitulo 8, seção 8.2.3), cuja metodologia consiste em utilizar um modelo climático regional
em alta resolução espacial (para “enxergar” e simular o papel dos efeitos regionais, como topografia e
cobertura de superfície, entre outros atributos físicos), forçado com condições de contorno advindas dos
modelos globais (que por sua vez “enxergam” o efeito dos processos ou mecanismos globais).

326 VOLUME 1
Ambrizzi et al. (2007) apresentaram cenários regionalizados do clima futuro gerados por três mo-
delos regionais: HadRM3P, RegCM3 e ETA integrados com 50 km de resolução espacial e condição de
fronteira do modelo HadAM3P para os cenários futuros B2 e A2. Os resultados de Ambrizzi et al. 2007
consideram 30 anos do século XX (1960-1990), denominado de clima presente, em que verificaram-se
algumas diferenças entre os três modelos ao simular o clima de verão. Por exemplo, a distribuição de
chuvas ao longo da posição climatológica da ZCAS parece ser mais bem representada pelo HadRM3P
que nos outros dois modelos, sendo que o RegCM3 concentra mais chuva no noroeste da Amazônia e
menos no sudeste, ao passo que o ETA tem um comportamento inverso. Por outro lado, é visível que o
HadRM3P superestima a precipitação ao longo dos Andes, o que é menos acentuado nos outros dois
modelos regionais (Ambrizzi et al. 2007). Para o final do século XXI (2071-2100), os modelos HadRM3P,
RegCM3 e ETA indicam impactos distintos na precipitação regional, principalmente a projeção de di-
minuição acentuada na precipitação em toda a Amazônia. Alves e Marengo (2009) também utilizaram
o modelo regional (HadRM3P), com resolução horizontal de 40 km, para gerar downscaling dinâmico
do clima presente, a partir dos resultados do modelo climático global HadAM3P no período de 1961 a
1990. Os resultados mostram que o modelo regional HadRM3P tem bom desempenho no prognóstico
de precipitação apenas na parte norte da região, semelhante ao apresentado tipicamente pelos modelos
climáticos globais. No estudo de Pesqueiro et al. (2009), o downscaling do clima presente (1961-1970)
para a América do Sul foi obtido usando o modelo regional Eta com condições de fronteira do modelo
HadAM3P. Durante os meses de verão o modelo regional apresentou redução do erro na estimativa de
precipitação comparado ao modelo HadAM3P. As correlações das anomalias de precipitação da estação
de verão foram superiores para as áreas leste e sul da Amazônia. Os trabalhos científicos que aplicaram
o downscaling usaram resolução não superior a 40 km, com impactos diferenciados na representação
da chuva durante a estação de verão da América do Sul. Em geral, os modelos regionais apresentaram
melhor desempenho na representação da precipitação, comparados aos modelos globais. Nestes estudos
pouco se avaliou sobre a capacidade dos modelos em representar a ocorrência de eventos extremos de
precipitação, associados a sistemas de menor escala. Isso indica uma limitação e a necessidade de refinar
ainda mais as escalas nos estudos com modelos regionais.

9.4 ATRIBUIÇÃO DE MUDANÇAS AMBIENTAIS


Não obstante, os cenários de emissões nos estudos de impactos ambientais se baseiam em apli-
cações de metodologias empírico-estatísticas (Mendes e Marengo, 2010), modelos climático-ambientais
aninhados (Oyama, 2003; Salazar et al., 2007) e modelos ambientais (Streck e Alberto, 2006) forçados
por bases de dados de cenários climáticos. Os melhores exemplos de aplicação estão nas áreas de re-
cursos hídricos com ênfase na demanda hídrica e geração de energia, na agricultura com foco no estudo
do impacto na produção agrícola das principais culturas e no impacto na cobertura vegetal dos biomas
(Salazar et al., 2007). Através de simulações considerando aumentos na concentração de CO2 para 700
ppmv e aumentos de temperatura de 2 a 6°C, Streck e Alberto (2006) indicam que pode haver aumento
na produtividade do trigo se a temperatura for elevada em até 3°C. Já para o milho, o incremento na
temperatura superior a 2°C anula o efeito do aumento da concentração de CO2 (Streck e Alberto, 2006).
A cultura da soja foi a que mais resistiu ao maior aquecimento da atmosfera, em que a redução no rendi-
mento ocorreu apenas quando o incremento na temperatura atingiu 6°C (Streck e Alberto, 2006). Streck e
Alberto (2006) concluem que mesmo existindo alguns benefícios referentes à maior concentração de CO2
na atmosfera, o aumento da temperatura resultante pode impedir o aumento na produtividade e os im-
pactos associados à alteração da precipitação foram pequenos quando comparados ao do aquecimento.
Algumas interações fundamentais ainda precisam ser consideradas nos estudos de impacto climático na
agricultura, tais como: o acoplamento de modelos de cultura no desenvolvimento de cenários climáticos;
a consideração da incidência de pragas e plantas daninhas ainda não contempladas nos modelos de
cultura; e a prática do cultivo envolvendo métodos de plantio e uso de irrigação. Para isso as escalas dos
cenários climáticos terão de ser mais apropriadas (refinadas) à agricultura.
Em relação à dinâmica do desmatamento na Amazônia, os modelos consideram a incorporação de
processos antrópicos como a criação de estradas em associação com a implantação de áreas de proteção
permanente, com o objetivo de estimar as emissões de GEE evitadas. Por exemplo, Fearnside et al. (2009b)

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 327


utilizando um modelo de dinâmica de desmatamento estimou para meados do século XXI (2050)
o avanço do desmatamento na Amazônia, considerando dois cenários: um denominado de “busi-
ness-as-usual” (que significa manutenção das tendências atuais de desmatamento) e outro de con-
servação (o que implica na implantação de áreas protegidas seguindo a agenda do governo através
de seus projetos de conservação para a Amazônia programados para até 2050), sendo que os
resultados indicam que tal proposição de conservação pode contribuir com a redução das taxas de
desmatamento, com uma redução das emissões de GEE por desmatamento evitado.

A demanda de biocombustível e o seu impacto na mudança de cobertura e uso do solo é


foco de vários estudos (Lapola et al. 2010; Loarie et al. 2011; Cabral et al. 2003) avaliando os efei-
tos diretos e indiretos no desmatamento em outras áreas. Lapola et al. (2010) aplicaram um modelo
de mudança de cobertura e uso do solo para projetar o impacto da expansão da área de cultivo
da cana-de-açúcar para produção de etanol no Brasil. Segundo os autores os cenários de aumento
da área produtora de cana-de-açúcar no sudeste do Brasil pode intensificar o desmatamento na
Amazônia até 2020, o que pode inviabilizar a contribuição por emissões evitadas dos processos de
biocombustíveis.

Os efeitos provenientes das ações humanas estão difusos e misturados aos decorrentes de
fatores naturais ou mesmo intensificados pelo aumento da temperatura média da atmosfera global.
O melhor exemplo de impacto da ação antrópica é a mudança de cobertura e uso do solo associa-
do à agricultura e pecuária. No Brasil o aumento da demanda por biocombustíveis, particularmente
derivado da cana-de-açúcar, tem levado a hipótese de que irá aumentar a mudança de cobertura
vegetal na região do cerrado, com possibilidade de reduzir a área de plantio destinada à alimen-
tação, e que podem ter efeitos indiretos inclusive na Amazônia através da intensificação e migração
do desmatamento para outras fronteiras (Nepstad et al., 2008).

Estudos dessa dinâmica territorial da cobertura vegetal apontam para impactos locais ime-
diatos que já podem ser estimados através de dados de satélites que mostram não só as mudanças
na cobertura vegetal, mas também seus efeitos em propriedades físicas como refletividade e tempe-
ratura. Assim, esses dados têm sido utilizados recentemente para avaliar o impacto no clima local
da substituição de áreas naturais e de agricultura de alimentos por cana-de-açúcar no cerrado
brasileiro. Loarie et al. (2011) utilizaram dados históricos de satélite de temperatura, refletividade e
evapotranspiração sobre áreas naturais, de pastagem e de cana-de-açúcar e avaliariam as mudan-
ças provocadas pelas transformações associadas à produção da cana. Os resultados mostram que
a substituição de áreas naturais por pastagens contribui para um aquecimento de 1,5ºC, enquanto
a mudança subsequente de áreas de pastagens para canavial a temperatura reduz 0,9ºC. O res-
friamento é ocasionado pela perda por evapotranspiração da cana-de-açúcar, cujos resultados são
também consistentes com as análises experimentais feitas por Cabral et al. (2003). Tais análises su-
gerem que o efeito local da expansão da cana-de-açúcar promove um menor aquecimento quando
comparado à pastagem. Portanto, além de permitir o estudo do impacto local associados às ativi-
dades antrópicas, esse tipo de estudo representa um bom exercício metodológico para a questão de
atribuição, permitido quantificar as mudanças de origem antrópica devido à alteração da cobertura
superficial do solo.

Mudanças nos sistemas físicos e biológicos só podem ser atribuídas às mudanças climáticas
regionais com base em análises estatísticas bem documentadas, confirmadas por nível de com-
preensão dos processos e interpretação dos resultados. A atribuição de mudanças nos sistemas
naturais pelo aquecimento antrópico requer uma abordagem interdisciplinar aprofundada com inte-
gração de dados físicos-ambientais (clima, solo, propriedades do ecossistema) e sociais (atividades
produtivas humanas, incluindo dinâmica de ocupação). Assim, a abordagem para a atribuição con-
junta envolve a ligação de modelos climáticos com modelos ambientais dos sistemas naturais cau-
sadas por diferentes fatores. Essa estrutura de estudo ainda não é explorada em estudos de impacto
nos ecossistemas brasileiros.

328 VOLUME 1
9.5. PROJEÇÕES REGIONAIS DAS MUDANÇAS AMBIENTAIS PARA O SÉCULO XXI
Conforme mencionado anteriormente, a melhor ferramenta para projetar cenários de alterações cli-
máticas para o futuro constitui-se nos modelos matemáticos do sistema climático global, os quais consideram
os aspectos quantitativos (numéricos) dos componentes do sistema climático global (atmosfera, oceanos, crios-
fera, vegetação, etc.) e suas interações. Porém, há duas grandes fontes de incertezas ao utilizar estes modelos.
A primeira é que não sabemos precisamente a trajetória futura das emissões dos GEE, que depende de de-
cisões humanas sobre o caminho sócio-econômico-ambiental desejado que venha a ser efetivamente imple-
mentado. A segunda advém do fato que diferentes modelos climáticos simulam condições futuras divergentes
(na previsão de chuva), dado o mesmo cenário do IPCC. Assim, uma maneira de abordar estas duas incerte-
zas é utilizar vários cenários de emissões de GEE em diferentes conjuntos (ensemble) de modelos climáticos.

Uma discussão sobre as projeções climáticas anuais e sazonais para meados e final do século XXI pode
ser encontrada em Marengo et al. (2009) baseado nos resultados de modelos globais forçados com cenários
A2 (manutenção dos padrões de emissões de GEE observados nas últimas décadas, chegando em 2100 com
concentrações atmosféricas de CO2 de 850 ppmv) e B2 (estabilização das emissões de GEE com concentração
no final deste século atingindo 550 ppmv). As análises destes cenários mostram maiores diferenças nas
anomalias de precipitação e temperatura entre os diferentes modelos do que entre os diferentes cenários para
o mesmo modelo. O aquecimento projetado para América do Sul varia de 1º a 4ºC para o cenário de baixa
emissão e de 2º a 6ºC para o cenário de alta emissão. Em resumo, as projeções indicam a prevalência de
um clima substancialmente mais quente para qualquer dos cenários e modelos climáticos considerados. Esta
análise é mais complicada para as mudanças na precipitação, uma vez que os diferentes modelos apresentam
diferenças no valor e no sinal da anomalia de precipitação. Em termos gerais para o Brasil as regiões mais
afetadas seriam a Amazônia e o Nordeste Brasileiro, em processos relacionados com o provável enfraquecimento
da célula de Hadley no Hemisfério Norte (ocasionando uma ZCIT mais ao norte, já que o gradiente de
temperatura neste hemisfério diminuiria) e aumento da concentração de vapor de água atmosférico na região
equatorial. Porém, a discordância entre os modelos é significativa: enquanto alguns modelos apontam para
anomalias positivas (Li et al. 2006) de precipitação sobre a Amazônia e Nordeste Brasileiro, outros apontam
para anomalias negativas (Giorgi e Francisco, 2000; Oyama e Nobre, 2003), muito embora ambas as regiões
sejam consideradas como locais de previsibilidade climática mais alta em comparação com as demais regiões
do Brasil (Moura e Hastenrath, 2004). O que entra em cena aqui são as diferentes parametrizações que cada
modelo utiliza para representar os processos de superfície, culminando na representação limitada de sistemas
convectivos de escala regional (como complexos convectivos de mesoescala ou linhas de instabilidade). Tanto
na Amazônia, como no Nordeste Brasileiro, os sistemas convectivos de mesoescala, junto com a ZCIT, são de
suma importância para os regimes de precipitação em escala local (Cohen et al. 1995; Satyamurty et al., 1998).

Os resultados dos modelos climáticos globais que são utilizados para elaborar as projeções futuras pos-
suem resolução espacial entre 100 e 200 km de latitude/longitude, ou seja, constituem baixa resolução espacial.
A regionalização, ou downscaling, das projeções dos modelos globais através do uso de modelos climáticos re-
gionais de alta resolução sobre a área de interesse é a técnica mais aceita para escalonar as variáveis climáticas
da relativamente baixa resolução espacial dos modelos climáticos globais para escalas locais mais refinadas.
Na técnica de downscaling, os modelos regionais utilizam como condições de fronteira (ou de contorno) nas
laterais do domínio geográfico, os dados provenientes dos modelos climáticos globais. Com o objetivo de pro-
duzir cenários de mudança climática em escala regionalizada (50 km) para América do Sul, o projeto “Caracte-
rização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território Brasileiro ao longo do Século XXI”,
financiado pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO
(Marengo, 2003) e com o apoio do MMA/BIRD/GEF/CNPq e pelo Global Opportunity Fund do Reino Unido,
através do projeto “Using Regional Climate Change Scenarios for Studies on Vulnerability and Adaptation in Bra-
zil and South América” (Marengo e Ambrizzi, 2006) utilizaram três modelos regionais (ETA/CPTEC, RegCM3 e
HadRM3P) para elaborar cenários de mudança climática. Estes modelos regionais projetam para o final século
XXI um aumento médio de temperatura para a Amazônia de 2° a 4°C e diminuição de precipitação de 1 mm/
dia a 4 mm/dia, principalmente no leste da Amazônia, conforme mostra a Figura 9.2. Segundo Ambrizzi et al.
(2007), as mudanças climáticas mais intensas para o final do século XXI, relativo ao clima atual vão acontecer

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 329


na região tropical, principalmente na Amazônia e Nordeste do Brasil, as quais são regiões atualmente.
consideradas como “Climate Change Hot Spot” em virtude das mesmas apresentaram alto grau de vul-
nerabilidade às mudanças climáticas, tanto na componente social como em termos da biodiversidade.

Figura 9.3. Anomalias de precipitação em mm/dia (painel superior) e temperatura do ar em ºC (painel inferior) para
o período 2071-2100 considerando os cenários A2 e B2. As projeções representam a média de três modelos
regionais Eta/CPTEC/RegCM3/HadRM3P com resolução de 50 km. Fonte: Ambrizzi et al. (2007).

Em princípio, o avanço do conhecimento científico sobre o funcionamento do complexo sistema


climático em termos globais pode levar, em pouco tempo, à diminuição das incertezas nas projeções das
alterações das mudanças climáticas em escala regional. Entretanto, experimentos em diversos estudos
numéricos demonstraram sinais de que o aumento na resolução espacial e na complexidade física torna
os modelos mais realistas, mas isso não necessariamente implica em diminuição da incerteza (Silva Dias
e Dias, 2007).

De qualquer maneira, uma das projeções importantes (Vincent et al., 2005; Marengo et al. 2009)
é a que diz respeito a maior ocorrência de extremos climáticos tais como secas, veranicos, vendavais,
tempestades severas, inundações, dentre outros, com alta probabilidade de aumento em um planeta
mais aquecido. A ocorrência de eventos extremos registrados no Brasil nos últimos anos, com todas as
suas gravíssimas consequências sociais e ambientais, ilustra bem a necessidade de uma estratégia de
adaptação para o país nos vários setores de atividades econômicas (Vincent et al. 2005; Marengo et al.
2009). Eventos extremos como a seca de 2005 no oeste e sudoeste da Amazônia, num cenário futuro de
aquecimento global devido à intensificação do efeito estufa ocasionados pelas altas emissões de CO2 na
atmosfera global, podem se tornar mais frequentes até o final do século XXI.

A questão das possíveis alterações nos biomas brasileiros como resposta aos cenários de mu-
danças climáticas tem sido recentemente investigada através de modelos biogeográficos ou modelos de
biomas (Oyama e Nobre 2003; Salazar et al., 2007). Estes modelos usam como tese central que o clima

330 VOLUME 1
exerce o controle dominante sobre a distribuição da vegetação. Os modelos biogeográficos podem simu-
lar a vegetação potencial (sem os efeitos dos usos da terra e do solo) baseando-se em alguns parâmetros
climáticos, tais como a temperatura e a precipitação. Devido a simplicidade destes modelos e a existência
de regras empíricas globais entre a vegetação natural e o clima, estes modelos têm sido utilizados para
a estimativa de impactos das mudanças climáticas na cobertura vegetal (King e Neilson, 1992; Claus-
sen e Esch, 1994, Nobre et al., 2004, Salazar et al., 2007). Oyama e Nobre (2003) desenvolveram um
modelo de vegetação potencial (CPTEC-PVM) que consegue representar a distribuição global e regional
dos diferentes biomas, particularmente os biomas da América do Sul onde outros modelos extensamente
utilizados como o BIOME (Prentice et al., 1992) e o BIOME3 (Haxeltine e Prentice, 1996) têm algumas
deficiências. Preliminarmente, deve-se mencionar que ecossistemas naturais não têm capacidade intrín-
seca de migração ou adaptação a mudanças climáticas na escala de tempo em que estão ocorrendo,
isto é, da ordem de décadas. Ecossistemas migram ou se adaptam naturalmente a flutuações climáticas
ocorrendo na escala de muitos séculos a milênios (Haxeltine e Prentice, 1996). Portanto, devemos esperar
rearranjos significativos dos biomas, com sérias consequências para a manutenção da mega-diversidade
biológica dos biomas brasileiros, com o resultado de sensível empobrecimento biológico (Nobre et al.,
2004). Para avaliar quantitativamente as prováveis alterações e redistribuições dos biomas na América
do Sul para o século XXI, em resposta aos cenários de mudanças climáticas, Salazar et al. (2007) utili-
zaram o modelo de vegetação potencial CPTEC-PVM (Oyama e Nobre, 2003) forçado com resultados
das previsões de precipitação e temperatura de quinze modelos climáticos forçados com os cenários do
IPCC/AR4. Foram analisados os cenários A2 e B1 que representam cenários de alta e baixa emissão de
CO2, respectivamente. A resolução horizontal dos modelos varia entre 1 e 2 graus de latitude e longitude.
A Figura 9.3 apresenta a vegetação potencial atual e a redistribuição de biomas projetados para o final
do século XXI (2090-2099). Para a América do Sul Tropical, tomando-se uma média destas projeções,
os resultados indicam a projeção de aumento na área de savanas (com o cerrado invadindo o Pará) e
substituição da área de caatinga por semideserto no núcleo mais árido do Nordeste do Brasil (Nobre et
al., 2004). Em particular, o modelo HADCM3 é o que projeta o cenário mais extremo para a Amazônia,
chegando a se especular um possível completo desaparecimento da floresta Amazônia (Cox et al., 2000).
O aumento de temperatura induz uma maior evapotranspiração (soma da evaporação da água à super-
fície com a transpiração das plantas), reduzindo a umidade do solo mesmo que as chuvas não diminuam
significativamente. Este fator pode por si só desencadear a substituição dos biomas existentes hoje por
outros mais adaptados a climas com menor disponibilidade hídrica para as plantas (por exemplo, savanas
substituindo florestas, caatinga substituindo savanas, semideserto substituindo caatinga).

Figura 9.3. Distribuição projetada dos


biomas naturais na América do sul
para o período 2090-2099 gerados
em 15 modelos para o cenário A2. O
painel superior esquerdo representa os
biomas potenciais em equilíbrio com o
clima atual (biomas potenciais, mais
não a distribuição atual da vegetação,
que é resultado das mudanças na
cobertura vegetal e nos usos do solo).
Fonte: Salazar et al. (2007).

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 331


A Figura 9.5 apresenta os pontos de grade onde mais de 75% dos 15 modelos (> 11 modelos)
coincidem na condição futura (onde um determinado bioma permanece, desaparece, aparece ou não
existe consenso entre os modelos da sua condição futura) da floresta tropical e da savana para os dois
cenários analisados em três períodos de tempo no século XXI (Salazar et al. 2007). Para a América do
Sul tropical, os resultados indicam que para os cenários analisados, os modelos apresentam regiões
de consenso de substituição da floresta tropical por savana. Esta redução da floresta tropical aumenta
com o tempo através do século XXI. Para o bioma catinga não existe consenso da sua condição futura,
especialmente para o período 2090-2099. Este “não-consenso” está relacionado com as diferenças nas
projeções de precipitação e temperatura entre os modelos para esta região. Para o período 2090-2099
nos dois cenários, a floresta tropical no Oeste da Amazônia é mantida e a mata Atlântica estende-se
para o sul do Brasil. Outras projeções de mudanças na vegetação mostram redução das áreas de floresta
na América do Sul (e.g., Scholze et al., 2006, Cook e Vizy, 2007) ou um dieback da floresta amazônica
(e.g. Cox et al., 2000; 2004),muito embora hajam diversos níveis de incertezas (Rammig et al., 2010).
Em termos gerais, é possível que exista uma redução de áreas cobertas por floresta tropical e um corres-
pondente aumento de áreas cobertas com savana. Outros experimentos com uma versão atualizada do
CPTEC-PVM que inclui o ciclo de carbono e o bioma de floresta tropical sazonal foram feitas por Lapola
(2007). Os resultados indicaram que no Sudeste da Amazônia não existe consenso entre os modelos, em
relação à substituição da floresta por savana. Este resultado mostra o efeito de fertilização do CO2 o que
favoreceria a manutenção ou mudança para biomas de maior porte nas áreas onde a temperatura au-
menta, portanto a diminuição da precipitação precisa ser maior para substituição de floresta para savana.
Isto mostra que a resposta da floresta tropical para valores elevados de CO2 é uma questão crítica que
precisa ser estudada mais profundamente.

Figura 9.5. Pontos de


grade onde mais de
75% dos modelos
(> 11 modelos)
coincidem na projeção
da condição futura da
floresta tropical e da
savana, em relação à
vegetação potencial
atual, resultando
nas seguintes
possibilidades: A
floresta tropical
permanece; a savana
permanece; mudança
da floresta tropical para
savana; mudança da
floresta tropical para
não-floresta tropical.
A figura também
apresenta os pontos
de grade onde não
existe consenso entre
os diferentes modelos
para os períodos (a)
2020-2029, (b) 2050-
2059 and (c) 2090-
2099 para o cenário
B1 e (d), (e) e (f) para
o cenário A2. Fonte:
Salazar et al. (2007).

332 VOLUME 1
Além das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, há que se adicionar aquelas
devido às alterações da cobertura da vegetação por atividades de uso da terra. Há projeções que os
desmatamentos da floresta tropical amazônica levarão a um clima mais quente e seco na região (Nobre
et al., 1991; Gandu et al., 2004; Sampaio et al., 2007, Costa et al., 2007; Correia et al., 2007; Cohen
et al. 2007; Ramos da Silva et al., 2008). As várias simulações dos efeitos climáticos da substituição da
floresta por pastagens na Amazônia produzidas por tais estudos e as observações dos projetos ABRACOS
(Gash et al., 1996; Gash e Nobre, 1997) e LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na
Amazônia) indicam que há um aumento da temperatura entre 0,3°C e 3°C, redução da evapotranspiração
entre 15% e 30% e redução da precipitação entre 5% e 20% devido à mudança de vegetação de floresta
para pastagem. Este aumento de temperatura é maior do que aquele projetado pelo cenário B1, mas
bem inferior àquele previsto pelo cenário A2 para o final do século XXI. Provavelmente os efeitos de
aumento de temperatura induzidos pelas mudanças globais e aqueles advindos dos desmatamentos se
somariam, aumentando o risco de incêndios florestais porque o secamento da vegetação na estação
seca e sua flamabilidade são maiores com temperaturas mais altas (Nepstad et al. 2004), aumentando
a vulnerabilidade dos ecossistemas tropicais. Em Scholze et al. (2006), o risco de perda da floresta em
algumas partes da Amazônia é de mais de 40% para os cenários que apresentam uma anomalia de
temperatura maior que 3°C. Por outro lado, se houver tendência ao aumento das precipitações, estes
atuariam para contrabalançar a redução das chuvas devido ao desmatamento e o resultado final seria mais
favorável à manutenção dos ecossistemas e espécies. Adicionalmente, alguns estudos têm mostrado que
os estômatos das plantas abrem menos com altas concentrações de CO2 (Field et al., 1995), o que reduz
diretamente o fluxo de umidade da superfície para a atmosfera (Sellers et al., 1996). Isto pode aumentar a
temperatura do ar próximo da superfície pelo aumento da razão do fluxo de calor sensível. Numa região
como a Amazônia, onde muito da umidade para a precipitação advém da evaporação da superfície, a
redução da abertura estomatal pode também contribuir para um decréscimo na precipitação (Betts et al.,
2004). Se grandes áreas da Amazônia forem substituídas por savana, a aridez poderá aumentar já que a
vegetação adaptada ao fogo tem uma menor transpiração. Segundo Scholze et al. (2006) conclui-se que
é provável uma maior frequência de fogo (risco >60% para aumento da temperatura > 3°C) em muitas
zonas da América do Sul. Em Hutyra et al. (2005) é mostrado que as florestas presentes em áreas com alta
frequência de secas (>45% de probabilidade de seca) podem mudar para savana, se a aridez aumentar
como previsto pelos cenários de mudança climática (Cox et al., 2004; Friedlingstein et al., 2003). Portanto
cerca de 600.000 km2 de floresta estarão em potencial risco de desaparecer (> 11% da área total
vegetada). O aumento da aridez, portanto, pode levar à divisão da Amazônia (Hutyra et al., 2005).

Outro aspecto relevante a se considerar quando a floresta está sujeita a períodos anomalamente
secos, é o aumento da probabilidade de ocorrência de queimadas que podem destruir centenas de
milhares de hectares de floresta e injetar na atmosfera grandes quantidades de fumaça e aerossóis que
poluem o ar em extensas áreas, afetando a população e com potencial de afetar o início da estação
chuvosa e a quantidade de chuva na região (Andreae et al. 2004). Considerando os cenários de mudança
climática do modelo do HadCM3 para o IPCC/AR4 (Li et al., 2006), a duração da estação seca poderia
aumentar em até dois meses ou mais na maior parte da Amazônia, o que levaria ao aumento da estação
seca dos atuais 3-4 meses para 5-6 meses na Amazônia central e oriental. Esse expansão do período
seco da estação seca implicaria num aumento do risco da ocorrência de queimadas e mudança na
climatologia da chuva o que favoreceria a substituição da floresta por savana (Li et al., 2006). Esses
impactos ecológicos afetam a possibilidade de manejo sustentável da floresta na região, o que é uma
premissa básica para a economia regional (Brown et al., 2006).

A floresta Amazônica contém uma grande parte da biodiversidade do mundo, pois mais de 12%
de todas as plantas com flores são encontradas na Amazônia (Gentry, 1982). Sendo assim, ameaças à
existência da floresta amazônica indicam sérias ameaças à biodiversidade global. Entretanto, existem
poucos estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas na distribuição de espécies. Em nível global,
Thomas et al. (2004) avaliaram o risco de extinção de espécies para áreas que cobrem cerca de 20%
da superfície terrestre, e encontraram que entre 15% e 37% das espécies estariam comprometidas com
risco de extinção até o ano de 2050. Esse trabalho foi feito considerando três cenários de mudança
climática: (i) mínima mínima (aumento da temperatura de 0.8-1.7°C e aumento de CO2 de 500 ppmv.),

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 333


(ii) média (aumento de temperatura de 1.8-2.0°C e aumento de CO2 de 500-550 ppmv.), e (iii) máxima
(aumento de temperatura de mais de 2°C e aumento de CO2 de mais de 550 ppmv). Em nível regional, as
simulações de Miles et al. (2004), baseando-se no cenário climático futuro gerado pelo modelo HADCM2,
considerando um aumento anual de 1% na concentração de CO2, analisaram como a distribuição de 69
espécies de angioespermas na Amazônia responderia a alteração nos níveis de CO2 da atmosfera entre
1990 e 2095. Chegaram à conclusão que 43% das espécies poderiam tornar-se inviáveis até 2095, com
máximo impacto no nordeste da Amazônia e melhores condições para preservação de espécies da planície
amazônica nos extremos ocidental da Amazônia, e recomendaram a extensão de áreas protegidas para
o oeste da região como forma de manter grande resiliência da biodiversidade Amazônica às mudanças
climáticas. Essencialmente, esta é a mesma conclusão que se segue aos resultados com modelos de
biomas mencionados acima. Para que as espécies afetadas possam atingir novas zonas bioclimáticas,
a dispersão e migração deverão ser feitas em centenas de quilômetros (Hare, 2003). Muitos destes
experimentos de modelagem não têm considerado as influências não-climáticas como as mudanças do
uso do solo, o desmatamento, a disponibilidade de água, as pestes e doenças, queimadas, e todas as
outras que possam limitar a migração e dispersão de espécies (Case, 2006). Sala et al. (2000) estudaram
a mudança na biodiversidade para o ano 2100, considerando alguns destes aspectos e identificaram
que para os biomas tropicais os principais agentes que afetam a biodiversidade são o uso do solo e as
mudanças climáticas.

Recentemente, dois eventos meteorológicos de grande escala tiveram impactos importantes na di-
nâmica da precipitação na Amazônia: um evento El Niño em 1998 (Sampaio, 2001; Satyamurty, P. et al.,
1998) e a Seca de 2005 (Marengo et al. 2008). Nos dois eventos houve diminuição da precipitação, o
que por sua vez teve impactos importantes sobre as características dos ecossistemas da região. Um destes
efeitos é a diminuição da umidade do solo que afeta a condição das folhas da vegetação sobre estresse
e consequentemente contribui para o aumento da flamabilidade à superfície do solo, o que pode levar ao
aumento da ocorrência de fogo nestes ecossistemas (Cochrane, 2003). De fato, de acordo com observa-
ções feitas por sensoriamento remoto (por ex. Giglio et al. 2003), houveram mudanças substanciais nos
padrões de ocorrência de fogo sobre a região. Para uma análise da ocorrência de fogo nestes períodos,
considerou-se três sub-regiões da Amazônia (Figura 9.6). De acordo com as descrições do impacto da
seca em 2005 da Amazônia (CPTEC e INMET 2005, ANA 2006), a região mais afetada pela redução de
chuvas naquele período incluiu as sub-bacias localizadas a oeste e sudoeste, correspondendo à região
O-SO da Figura 9.6a. Em anos de El Niño esperam-se impactos pronunciados nas regiões ao norte e
partes ao leste da bacia (Sampaio, 2001) que neste estudo correspondem às regiões N e L, respectiva-
mente. As informações sobre atividade de fogo são provenientes de detecções de calor feitas pelo Tropical
Rainfall Measuring Mission Visible and Infrared Scanner (Giglio et al. 2003) (Figura 9.6b). Para uma visão
geral da ocorrência de fogo, foram calculadas médias espaciais mensais do número de focos para quatro
períodos: 1998, 1999-2003, 2004 e 2005. O ano de 1998 representa condições de El Niño. Os anos
1999-2003 representam anos onde não houve eventos meteorológicos de grande escala com impactos
intensos sobre a flamabilidade da vegetação (considerado aqui como um período de referência). No
ano de 2004 ocorreu um El Niño pouco intenso, e em 2005 houve a estiagem descrita acima. O uso de
médias espaciais é também justificado pela necessidade de se usar um índice da intensidade de atividade
de fogo que possa ser comparado entre as regiões de estudo. Pode-se verificar que o padrão de ocor-
rência de fogo segue a dinâmica da precipitação, coincidindo de uma forma geral com os períodos mais
secos nestas sub-regiões. Em específico, a maior parte da atividade de fogo na região N da Amazônia
foi detectada entre os meses janeiro-março (Figura 9.7a). Na sub-região L, as detecções indicam maior
atividade de fogo entre os meses de maio e dezembro (Figura 9.7b), e na porção O-SO a maior parte
dos focos de calor foram identificados no período junho-novembro (Figura 9.7c). Temporalmente, porém,
algumas variações importantes podem ser notadas. Primeiramente, verifica-se que a atividade de fogo foi
maior fora do período de referencia (1999-2003), indicando um impacto importante dos fenômenos que
causaram secas em todos os casos. Entre as sub-regiões, há indicação de impacto diferenciado destes
fenômenos.

Na região N, o ano de 1998 apresentou os valores máximos de detecções de focos de calor, e os


de 2004 e 2005 apresentaram valores menores do que o período 1999-2003. Na região L, os valores

334 VOLUME 1
máximos de detecção de fogo ocorreram nos anos de 1998 e 2005, seguidos pelo ano de 2004. Na
região O-SO, o maior número de focos de calor foi detectado no ano de 2005 seguido pelos anos
de 2004 e 1998. Estes resultados indicam que houve diferenças importantes entre a atividade de fogo
nos períodos analisados e nas sub-regiões da Amazônia, e sugerem ligações entre estas diferenças às
condições meteorológicas predominantes. Em síntese, o El Niño teve potencialmente uma importância
maior na região N do que em outras regiões. Na região L, há indicações de que o fenômeno que causou
a estiagem de 2005 teve impactos que foram tão importantes quanto os do El Niño. Na região O-SO,
por outro lado, os impactos sobre a atividade de fogo foram potencialmente maiores durante a seca de
2005 do que no El Niño em 1998. Uma das implicações destes resultados é talvez o fato de que outros
fenômenos climáticos além do fenômeno El Niño também devem ser levados em conta nas projeções de
atividade futura de fogo na Amazônia, reforçando a importância das previsões climáticas nos estudos
ambientais nesta região.

Figura 9.6. (a) Bacia do rio Amazonas subdividida em três regiões de Figura 9.7. Média espacial do número de focos
estudo. Sub-bacias ao norte (N) em amarelo, sub-bacias ao leste (L) detectados pelo TRMM-VIRS nos períodos
em azul, e sub-bacias na região oeste-sudoeste (O-SO) em verde, 1999-2003 (azul, média temporal), 1998
conforme Mayorga et al. (2005) e mapas da Agência Nacional de (vermelho), 2004 (marrom) e 2005 (laranja).
Águas. (b) Síntese do número de focos de calor detectados usando (a) Região de análise Norte, (b) região de
o sensor VIRS a bordo do satélite TRMM (Giglio et al. 2003), entre análise Leste e (c) região de análise Oeste e
1998 e 2005 com resolução de 0,5º, em unidades de focos de Sudoeste, conforme definição na Fig. 9.6. O
calor por mês. Coordenadas em longitude oeste são indicadas pelos mês 1 corresponde ao mês de Janeiro, 2 a
valores W (West). Fevereiro, até o mês 12 ou Dezembro.

PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL 335


9.6. COMENTÁRIOS FINAIS
Durante as últimas duas décadas, embora tenha havido melhorias substanciais na ciência do siste-
ma terrestre (com formulações mais completas dos processos físicos, químicos e biológicos, incluindo suas
complexas interações, dentro dos modelos do sistema climático global), aliado ao significativo avanço
tecnológico em simulação computacional, as projeções climáticas e ambientais geradas pela modelagem
climática trazem consigo diversos níveis de incertezas, cujas categorias principais são: Incerteza sobre os
cenários de emissões: as emissões globais de GEE são difíceis de prever, em virtude da complexidade de
fatores socioeconômicos, como demografia, composição das fontes de geração de energia, atividades
de uso da Terra e do próprio curso de desenvolvimento humano em termos globais; Incerteza sobre a
variabilidade natural do sistema climático: os processos físicos e químicos da atmosfera global são de
natureza caótica, de forma que o clima pode ser sensível às mudanças mínimas (variações não-lineares)
que são difíceis de serem mensuradas tanto nos dados observacionais como nos resultados dos modelos;
Incertezas dos modelos: A capacidade de modelar o sistema climático global é um grande desafio para
a comunidade cientifica, sendo fatores limitantes a representação ainda incompleta de processos como
o balanço de carbono global e regional, o papel dos aerossóis no balanço de energia global, a repre-
sentação dos ciclos biogeoquímicos e fatores antrópicos como desmatamento e queimadas. Por outro
lado, ainda que sejam usados os mesmos cenários de emissões, diferentes modelos produzem diferentes
projeções das mudanças climáticas (particularmente, os padrões regionais de precipitação), constituindo
assim outra fonte de incerteza, a qual pode ser avaliada através da aplicação de conjuntos (ensembles)
de modelos globais e regionais.

Em geral, os resultados dos modelos descreveram com melhor qualidade o comportamento médio
do clima presente (século XX) e, embora os modelos apresentem ainda muitas incertezas (ver discussões
no capítulo 8), as projeções de mudanças climáticas futuras ao longo do século XXI são coerentes com as
forçantes físicas impostas nos mesmos. Tais projeções constituem-se em informações valiosas tanto para fins
de mitigação como planejamento de ações de adaptação e minimização de impactos e vulnerabilidade
junto ao conjunto da sociedade habitante nos diferentes biomas brasileiros. Levando em conta as projeções
diferenciadas que implicam em potenciais impactos socioeconômicos e ambientais nos diferentes biomas
brasileiros, já é possível (e recomendável) o planejamento e tomada de decisão agora e no futuro.

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PRIMEIRO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO NACIONAL SUMÁRIO EXECUTIVO347
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Ciência, Tecnologia
e Inovação
eio Ambiente

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