Até agora foi admitido que existe uma ordem perfeita ao longo da totalidade da
extensão nos materiais cristalinos. Na realidade, este sólido idealizado não existe e todos os
materiais têm um grande número de uma variedade de defeitos ou imperfeições. Muitas das
propriedades dos materiais são sensíveis às imperfeições e defeitos e, nem sempre, a
influência destes é adversa. Freqüentemente, determinadas propriedades são intencionalmente
alteradas pela introdução de quantidades controladas de defeitos como, por exemplo, no caso
dos processos de cementação e nitretação de aços, dopagem de semicondutores,
endurecimento de metais e ligas por encruamento (deformação a frio)....
Denominamos "defeito cristalino" como sendo uma irregularidade na rede cristalina
com uma ou mais dimensões na ordem de um diâmetro atômico. Existem diferentes tipos de
imperfeições na rede e que são freqüentemente classificadas de acordo com a geometria ou
dimensionalidade do defeito. Assim temos:
1. vibrações da rede: quantizadas por fônons.
2. defeitos pontuais: Estão envolvidos individualmente átomos deslocados, átomos extras ou
falta de átomos. São eles: vacâncias (lacuna), átomos intersticiais, átomos substitucionais,
defeitos de Frenkel e de Schottky;
3. defeitos lineares: defeitos que envolvem a aresta de um plano extra de átomos, são as
discordâncias;
4. defeitos planares: superfície interna, superfície externa e interfaces (falhas de
empilhamento, contorno de fases, superfícies livres);
5. defeitos volumétricos: estruturas amorfas ou não-cristalinas.
1. Vibrações da Rede
Uma configuração cristalina ideal, com os átomos em posições estáticas, só ocorre
hipoteticamente, a temperatura de zero absoluto. Todos os átomos em um material sólido, que
não está à temperatura de zero absoluto, estão vibrando muito rapidamente em torno da sua
posição reticular e essas vibrações podem ser consideradas imperfeições ou defeitos já que
provocam distorções no cristal perfeito. À temperatura ambiente, uma freqüência de vibração
típica dos átomos está na ordem de 1013 vibrações por segundo e com amplitude de poucos
milésimos de nanômetro. À medida que ocorre um aumento da temperatura, a amplitude
vibracional dos átomos aumenta assim como a energia vibracional destes. Na realidade, a
temperatura de um sólido é apenas uma medida da atividade vibracional média dos átomos e
moléculas que compõe este sólido.
2. Defeitos Pontuais
2.1 Lacunas
O defeito pontual mais simples é a lacuna (do inglês: vacancy), ou seja, a ausência de um
átomo em uma posição atômica originalmente ocupada por um átomo. Este defeito pode
resultar do empacotamento imperfeito na solificicação do cristal ou decorrer de vibrações
térmicas dos átomos.
As lacunas constituem o ÚNICO tipo de defeito que está em equilíbrio com o cristal.
Assim o n° de lacunas para uma dada quantidade de material é função da temperatura de
acordo com a equação:
Nv = N.exp(-Qv/KT), onde:
N é o n° de átomos
T é a temperatura absoluta (K)
k é a constante de Boltzmann (1,38 10-23 J/átomo K ou 8,62 10-5 eV/átomo K)
Qv é a energia de ativação para a formação de uma lacuna (J ou eV)
Dessa forma, o número de lacunas aumenta exponencialmente com a temperatura.
Para grande parte dos metais, a fração de lacunas (Nv/N) logo abaixo da temperatura de fusão
é da ordem de 10-4, isto é, um sítio da rede cristalina em cada 10.000 sítios está vazio.
Impurezas em Sólidos
Os metais mais conhecidos não são altamente puros, eles são ligas, nas quais os
átomos de impurezas são adicionados intencionalmente para conferir características
específicas ao material. Muito comumente, a formação de ligas é utilizada em metais para
aumentar sua resistência mecânica, resistência à corrosão, aumentar a condutividade elétrica,
etc.
A adição de impurezas irá resultar na formação de uma solução sólida e/ou numa
nova segunda fase, dependendo do tipo de impurezas, de suas concentrações, e da
temperatura da liga.
Alguns termos empregados para as ligas:
Solvente – representa o elemento ou composto que está presente em maior quantidade; os
átomos de solvente são chamados de átomos hospedeiros.
Soluto – indica o elemento ou composto que está presente em menor concentração.
Fase - pode ser definida como uma porção homogênea de um sistema que possui
características físicas e químicas uniformes. Exemplo: solução de xarope açúcar-água é uma
fase, enquanto que o açúcar sólido é outra fase; ou ainda, quando uma substância pode existir
em duas ou mais formas polimórficas (ex: FeCCC e FeCFC), cada uma destas estruturas consiste
em um a fase separada, pois suas características físicas são diferentes.
2.6 Intersticial
Os átomos de impurezas preenchem os espaços vazios ou interstícios que existem
entre os átomos hospedeiros. Nos metais que possuem empacotamento atômico elevado, estas
posições intersticiais são pequenas e conseqüentemente, o raio atômico das impurezas deve
ser bem menor que o raio do hospedeiro. Geralmente, um máximo de 10% de impurezas é
incorporado nos interstícios.
Exemplo: aço – solução sólida intersticial de carbono no ferro. Apesar do raio atômico
do carbono (0,071 nm) ser muito menor que o do ferro (0,124 nm), a concentração
solubilidade máxima do C no Fe é de 2,1%.
3. Defeitos Lineares
Discordância ⇒ é um defeito linear ou unidimensional em torno do qual os átomos
estão desalinhados.
As discordâncias existem em materiais cristalinos. No caso de materiais cerâmicos,
como estes apresentam estruturas cristalinas mais complexas e ligações direcionais, as
discordâncias são imóveis. Já nos metais, o escorregamento de planos atômicos através da
movimentação de discordâncias é o principal fator envolvido na deformação plástica de
metais e ligas. Veja exemplo de discordância em cunha abaixo:
A região da direita é deslocada uma distância atômica para cima em relação à região
da esquerda. A distorção atômica associada a uma discordância espiral é linear e ao longo de
uma linha de discordância. A linha de discordância é paralela ao seu vetor de Burgers, ou
vetor-deslizamento, o que caracteriza por definição uma discordância-espiral.
A maioria das discordâncias encontradas em materiais cristalinos não é,
provavelmente, nem uma discordância puramente aresta nem espiral, porém exibe
componentes que são característicos de ambos os tipos; essas discordâncias são chamadas de
discordâncias mistas (veja representação abaixo).
5. Defeitos Volumétricos
Existem outros defeitos em materiais que são maiores do que os já discutidos. São
eles: poros, precipitados, trincas, inclusões exógenas, rechupes...
Estes são, normalmente, introduzidos durante as etapas de processamento e fabricação.