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5 | DOAÇÃO DE SANGUE

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A doação de sangue deve ser um ato espontâneo, voluntário
e não remunerado. Trata-se de um procedimento totalmente seguro para o doador,
executado apenas com material descartável. A motivação da decisão de doar san-
gue deve ser o exercício da cidadania em sua forma mais nobre – a de salvar a vida de
uma pessoa.

ETAPA I

REQUISITOS PARA O C ANDIDATO

A DOADOR

O candidato(a) a doador(a) deve ter em mente que o recep-

tor de seu sangue, ou de derivados de seu sangue, será uma

pessoa fragilizada por alguma enfermidade. Portanto, o doa-

dor potencial deverá, desde a véspera, ou no mínimo quatro

horas antes da doação, não comer demais, não comer ali-

mentos muito gordurosos nem consumir bebidas alcoólicas,

porque isto pode interferir nos testes de triagem sangüínea + paraSabermais


e/ou prejudicar o receptor. Estima-se que apenas 2% da população brasileira doe sangue.

Alguns requisitos são necessários, visando proteger a saúde Segundo a Organização Mundial de Saúde, esse percentual

do doador: ele deve ter entre 18 e 65 anos, ter o peso pro- está bem abaixo do necessário, já que o número de doações

porcional à altura, deve estar se sentindo bem e com aparên- anuais deve representar de 3% a 5% da população de um

cia saudável. Além disso, o candidato é submetido a um teste país. O Brasil necessita diariamente de 5.500 bolsas de san-

de anemia e, caso se constate a doença, não haverá doação gue e, para suprir essa demanda, precisa de um número muito

para não agravar sua condição de saúde. maior de doadores. +

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ETAPA II ainda que não produzam os anticorpos detectados na triagem.

TRIAGEM CLÍNICA DO CANDIDATO A DOADOR Em outras palavras, devem ser identificados comportamentos que

Uma triagem clínica é realizada para determinar se o candida- aumentam as chances de contrair infecções.

to a doador esteve em risco de contrair alguma doença trans-

missível pelo sangue. Antes da doação, portanto, o candidato Há várias condições que excluem temporariamente o

será entrevistado por um profissional treinado e terá garantia candidato da doação, como gravidez, uso de certos medica-

de anonimato sobre as informações que forneceu sobre seu mentos, transfusão de sangue ou de hemoderivados nos últi-

histórico de saúde, hábitos e comportamentos. mos 12 meses, entre outros. O candidato recebe um folheto

explicativo e deve ter acesso a todas estas informações antes

fiqueligado da triagem clínica e coleta de sangue.

Importância da janela imunológica O questionário feito ao candidato busca identificar os se-

para a doação de sangue guintes grupos de pessoas que devem ser excluídos da doa-

Há um conceito fundamental para ajudar a compreender a ção de sangue:

importância da triagem e da obtenção de informações verdadei- • Pessoas que usam ou usaram, no passado, drogas
ras do candidato: janela imunológica é o nome dado ao período injetáveis.

de tempo que o nosso organismo leva para responder à presen- • Homens e mulheres que tenham feito sexo em troca de
ça de agentes infecciosos com anticorpos, em níveis detectáveis dinheiro ou de drogas; pessoas que tenham feito sexo com

pelos testes de triagem sangüínea. um ou mais parceiros ocasionais, sem uso do preservativo; os

Por exemplo, no caso do vírus HIV, a janela imunológica para a parceiros sexuais destas pessoas.

infecção do HIV é de aproximadamente 22 dias. Isto significa que, • Pessoas que foram vítimas de estupro.
se uma pessoa que foi infectada hoje doar sangue nos próximos • Homens ou mulheres que tenham tido relação sexual
22 dias, seu sangue será aceito para doação, já que os testes con- com pessoa com exame reagente para a detecção dos vírus

vencionais de triagem não vão detectar anticorpos anti-HIV. No causadores de AIDS, de hepatite B, hepatite C ou outras infec-

caso do vírus da hepatite C, a janela imunológica é ainda maior, ções de transmissão sexual e/ou sangüínea.

de dois meses e meio a três meses. Desta forma, o risco de um • Pessoas que tenham realizado piercing ou tatuagem
portador do HCV ser “falso-negativo” na triagem é ainda maior. sem condições de avaliação quanto à segurança do pro-

Por isso, a triagem clínica procura identificar candidatos que cedimento.

possuem comportamento de risco para os agentes infecciosos,

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ETAPA III

O VOTO DE AUTO - EXCLUSÃO

Ao terminar o questionário, o candidato passa a um local

isolado, no qual ele deve refletir sobre seu estilo de vida e,

de forma confidencial, decidir se apresenta ou não compor-

tamento de risco. Caso o candidato decida se auto-excluir

como doador, seu sangue será coletado, os testes da triagem

sorológica serão realizados, porém a sua bolsa será descartada

independentemente dos resultados dos testes.

Portanto, o candidato voluntário que se dirige ao banco

de sangue será, ou não, efetivamente um doador, dependendo

das três etapas de triagem: 1) avaliação de suas respostas ao

questionário clínico, 2) voto de auto-exclusão e 3) resultados

dos testes sangüíneos para os agentes infecciosos (que vere-

mos na Etapa V).

ETAPA IV

A COLETA DE SANGUE E O FRACIONAMENTO

EM HEMODERIVADOS

A coleta deve ser feita sob supervisão médica, em ambiente

confortável e limpo. Normalmente, o volume admitido por + paraSabermais


doação é de 450 ml a 500 ml e uma pequena quantidade de O volume de sangue total a ser coletado não pode exceder

sangue é coletada separadamente em tubos de ensaio para a 8 ml/kg de peso para as mulheres e 9 ml/kg de peso

realização dos testes de triagem sorológica. para os homens. +


O sangue coletado percorrerá um longo caminho até ser

liberado para a doação. A parcela coletada para a pesquisa

de doenças transmissíveis pelo sangue será enviada ao labo-

ratório de sorologia. Paralelamente, a bolsa contendo o maior

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O caminho do sangue coletado.

Orientação, recrutamento,
seleção e doação

Separação de
plaquetas

Testes obrigatórios no
Brasil:
. ABO e RhD
. Sífilis Separação dos componentes do sangue
. Doença de Chagas
. Malária *
. HIV Filtragem para remoção dos leucócitos
. Hepatites B e C
. HTLV I e II
. Hemoglobinas anormais
. Anticorpos irregulares
. TGP/ALT

* apenas nos estados


da Amazônia Legal

Plasma

Fracionamento
glóbulos vermelhos plaquetas plasma congelado

Derivados do plasma,
isto é, albumina,
imunoglobulina
4ºC / 35 dias 22ºC / 5 dias -30ºC / 12 meses
Confirmação de compatibilidade (Plaquetas) (Descongelar)

Doente

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volume de sangue será encaminhada à seção de fraciona-

mento dos componentes sangüíneos (também chamados de

hemoderivados ou hemocomponentes).

O sangue total, como coletado, tem um tempo de viabilidade + paraSabermais


muito curto e é raramente utilizado em transfusões. Portanto, O crioprecipitado é a fração do plasma que se obtém

o sangue passa por um processo de fracionamento antes de por meio de congelamento (daí o nome “crio”) seguido de

ser utilizado. Esse processo, além de aumentar a longevidade descongelamento, que contém os fatores de coagulação

das diferentes frações do sangue, otimiza sua utilização, uma do sangue. +


vez que os receptores, em sua grande maioria, não necessitam

do sangue total mas somente de componentes específicos

(veja a figura ao lado).

O sangue coletado é separado, basicamente, nos seguintes

hemoderivados: concentrado de hemácias, de plaquetas, de

plasma e o crioprecipitado (veja o quadro a seguir).

Principais hemocomponentes e suas aplicações


Componente/Produto Composição Aplicação ou indicação quando há necessidade de :
(volume aproximado)

Sangue total hemácias, plasma, leucócitos e plaquetas aumento da massa de hemácias e do volume de plasma
(500 ml)

Concentrado de hemácias concentrado de hemácias, com pequeno aumento do volume de hemácias em tratamento de certas anemias
(250 ml) volume de plasma, leucócitos e plaquetas

Concentrado de plaquetas cerca de 0,5x1010 plaquetas tratamento ou prevenção de sangramentos devido à diminuição do
(50 ml) número de plaquetas no sangue

Plasma fresco congelado Plasma, contendo todos os fatores da tratamento de problemas de coagulação do sangue e queimaduras
(220 ml) coagulação (menos plaquetas)

Crioprecipitado Fibrinogênio; fatores de coagulação VIII e IX deficiência do fator VIII (hemofilia A) e do fator IX (hemofilia B)
(15 ml)

Fator de coagulação VIII Fator VIII hemofilia A


(25 ml)

Fator de coagulação IX Fator IX hemofilia B


(25 ml)

Fatores II, VII, IX, X Fatores II, VII, IX, X deficiências hereditárias destes fatores
(25 ml)

Fonte site: http://www.hemonline.com.br/hemocomp.htm


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+ paraSabermais Na superfície das hemácias encontra-se também um

Grupos sangüíneos outro conjunto de substâncias antigênicas pertencentes a

São quatro os tipos de sangue com relação ao sistema ABO: vários outros sistemas, um dos quais é o conhecido como Rh.

A, B, AB ou O. Essas letras referem-se a duas substâncias, A mais importante delas é o chamado antígeno D. A presen-

designadas A e B, encontradas na superfície das hemácias e ça desse antígeno caracteriza o indivíduo “Rh Positivo” (Rh+)

que funcionam como antígenos. As hemácias de um indivíduo e a sua ausência, o “Rh Negativo” (Rh-). A transfusão de

podem possuir em sua superfície apenas um dos antígenos sangue de indivíduo Rh positivo para um Rh negativo oca-

(A ou B), ambos (AB), ou nenhum deles (O). Por outro lado, siona a formação de anticorpos anti-Rh. Se houver outras

no plasma dos indivíduos do tipo sangüíneo A estão presentes transfusões, isso também pode ocasionar problemas de aglu-

anticorpos anti-B, e nos indivíduos do tipo B, anticorpos anti-A. tinação e destruição de hemácias.

Os indivíduos do tipo sangüíneo AB possuem os dois tipos de O esquema a seguir mostra quais são as possibilidades

antígenos (AB) e nenhum dos anticorpos; já os pertencentes de doação entre os grupos sangüíneos que não resultam em

ao tipo O não possuem tais antígenos, mas apresentam aglutinação de hemácias. +


anticorpos anti-A e anti-B.

Numa transfusão de sangue entre indivíduos de grupos

sangüíneos diferentes, pode ocorrer a ligação do antígeno

com o anticorpo correspondente, causando a formação de

aglomerados das hemácias do doador, o que pode ser fatal.

Possibilidades de doação entre os tipos ABO e Rh.

- +

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ETAPA V sexualmente transmissível, a presença de anticorpos anti-tre-

TRIAGEM SOROLÓGIC A ponema no soro significa maior risco para a presença do HIV.

( TRIAGEM SANGÜÍNEA ) Dessa forma, as bolsas de sangue de indivíduos positivos para

Antes de o sangue e seus derivados provenientes de uma a sífilis (que poderiam estar no período da janela imunológica

determinada bolsa serem liberados para a doação, eles ficam do HIV) serão descartadas.

armazenados, aguardando os resultados dos testes generi- A maioria dos testes de triagem de doenças se baseia na

camente chamados de “sorológicos” – pois a maioria desses detecção da reação antígeno-anticorpo. No conhecido

testes consiste na pesquisa de anticorpos contra os agentes Teste de ELISA, um antígeno específico de um agente infec-

causadores das doenças relevantes na porção do sangue cioso é colocado em contato com o soro a ser testado. Caso

denominada “soro”. O soro, por sua vez, é o fluido provenien- o soro contenha anticorpos contra esse agente (e o soro só

te do plasma, após a coagulação do sangue, ou seja, desprovi- terá este anticorpo se o doador já tiver sido contaminado pelo

do de fatores de coagulação. agente infeccioso), haverá ligação entre antígeno e anticorpo e

Estes testes buscam a classificação dos grupos sangüíneos o resultado será positivo.

e a detecção das doenças transmissíveis pelo sangue. Além Há também testes em que anticorpos específicos são co-

disso, alguns testes servem como marcadores indiretos da pre- locados em contato com o soro e, portanto, eles detectam a

sença de doenças. Por exemplo, como a sífilis é uma doença presença de antígenos. Esses últimos indicam a presença do

agente propriamente dito e, assim, indicam a infecção ativa.

+ paraSabermais
Antígeno: Substâncias ou partes de microorganismos (bac-

térias, protozoários, vírus) que, introduzidas no organismo, são

capazes de estimular a formação de anticorpos específicos.

Anticorpo: Proteína sintetizada por um animal em

resposta a um antígeno que penetrou no corpo. A produção

de anticorpos pelos linfócitos ocorre quando entram em

contato com um antígeno. +

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fiqueligado ETAPA VI

Segundo a legislação brasileira, são obrigatórios em todo o territó- TESTES COMPLEMENTARES E DE

rio nacional testes para: BIOLOGIA MOLECULAR

1. Classificação sangüínea dos sistemas ABO e Rh Testes complementares são realizados quando o teste de

2. Pesquisa de Anticorpos Irregulares (anti-eritrocitários no soro ou triagem apresenta um resultado duvidoso ou dependente de

plasma, além dos anti-A e anti-B) confirmação. Pode-se recorrer então a técnicas que utilizam

3. Sífilis princípios de detecção diferentes, como buscar as proteínas

4. Doença de Chagas (antígenos) do agente, ao invés dos anticorpos. Nesse caso,

5. HIV também podem ser empregadas técnicas de biologia molecu-

6. HTLV I e II lar que detectam a presença de material genético do agente

7. Vírus da Hepatite B (DNA ou RNA). A detecção de antígenos e, principalmen-

8. Vírus da Hepatite C te, do material genético, permite encurtar o período em que

9. Pesquisa de hemoglobinas anormais agentes, como o HIV e HCV, passam despercebidos pelos tes-

10. TGP/ALT (transaminase glutâmica pirúvica / alanina amino- tes de sorologia.

transferase).

ETAPA VII

RESULTADOS E CONVOC AÇÃO

DO DOADOR

A bolsa de sangue “não reativa” para as doenças investiga-

das é distribuída aos hospitais para uso. Nesse caso, o doador

receberá uma “carteirinha”, atestando a sua condição de doa-

dor de sangue para a amostra colhida naquela data.

fiqueligado
Quando o resultado da triagem sorológica é positivo para

qualquer um dos agentes pesquisados, o mesmo é repetido. Se

o resultado for novamente positivo, a bolsa é descartada e o doa-

dor é convocado, de forma sigilosa, para tomar ciência do resulta-

do e ser orientado quanto a possíveis tratamentos.

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TRABALHANDO COM O TEMA EM SALA DE AULA

ATIVIDADE 1
REALIZANDO UMA C AMPANHA PUBLICITÁRIA

Neste capítulo, vimos a importância da doação de sangue, mas vimos também que no Brasil há

uma grande demanda por doadores. Assim, podemos sugerir a realização de uma “campanha

publicitária” para estimular e desmistificar a doação.

Antes de fazer a campanha propriamente dita, os alunos podem ir aos centros de doação,

anotar o endereço e o horário de funcionamento e investigar a demanda e a capacidade de

suporte da instituição. Podem pedir materiais informativos e, caso eles não existam, sugerir que

os mesmos sejam criados.

Com as informações, e em grupos, cada um realiza uma etapa da campanha:

a. Um comercial com 30 segundos de duração: os alunos podem encená-lo e até realizar uma

peça de teatro de maior duração.

b. Cartazes e panfletos: com todas as informações necessárias para o candidato a doador.

c. Discussão: apresentar a outros alunos algumas práticas que configurem o comportamento

de risco, incluindo temas como as DST/AIDS etc.

ATIVIDADE 2
DEB ATE

Discuta com os alunos o porquê do descarte da bolsa de sangue da pessoa que se auto-exclui

após a triagem clínica, mesmo nos casos em que todos os testes tenham sido negativos.

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B IBLIOGRAFIA S UGERIDA

Jornais e Revistas

Revista Ciência Hoje – Edição 156, dezembro 1999

Link: http://cienciahoje.uol.com.br/materia/resources/files/chmais/pass/ch156/entrevis.pdf

Trabalhos científicos

Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 23, n.2, 2001

A deficiência de ferro nos doadores de sangue - Rodolfo D. Cançado, Carlos S. Chiattone

e Dante M. Langhi

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842001000200009&lng

=es&nrm=iso&tlng=pt

Links

Hemonline

http://www.hemonline.com.br

Centro de Vigilância Sanitária

http://www.cvs.saude.sp.gov.br/legis.asp?classe=legis_hemo&name=Hemoterapia

Programa Nacional de DST e AIDS

Boletim Epidemiológico DST-AIDS

http://www.aids.gov.br/final/dados/BOLETIM2.pdf

Filantropia.org

http://www.filantropia.org/DoeSangue.htm

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CONSULTORIA ESPECIALIZADA

Departamento de Genética e Biologia Evolutiva – Centro de Estudos do Genoma Humano

Eliana Maria Beluzzo Dessen

Maria Gabriela Guimarães Ribeiro dos Santos

Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira

Regina Célia Mingroni Netto

REDAÇÃO E METODOLOGIA DO CADERNO DO PROFESSOR

Daniel Buss – Consultor de Educação e Meio Ambiente

REVISÃO FINAL

Sonia Cardoso

PROJETO EDITORIAL

C O M U N I C A Ç Ã O

EQUIPE DA SALA COMUNICAÇÃO:

Projeto gráfico – Adriana Amorim e Tetê Sá

Ilustrações – Marcelo Rivoli

Arte-final – Adriana Amorim, Filipe Chagas

e Manuela Roitman

FOTOLITO E IMPRESSÃO

Sol Gráfica Ltda.

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