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O Calendário

Amanheceu o dia e fui informado que o mais novo integrante da família estava a caminho: a cunhada havia
entrado em trabalho de parto com o rompimento da bolsa. Mesmo com essa notícia a vida continuou. Eu e
esposa fomos para o trabalho aguardando outras notícias.
Por volta das 13 horas recebi a confirmação de que o nascimento do sobrinho-afilhado fora agendado para às 17
horas e se quisesse acompanhar o parto era só estar presente no hospital maternidade da cidade de São José do
Rio Preto. Assim, eu e esposa fizemos nossa organização para sairmos de nossa casa em Araçatuba por volta das
15 horas em uma viagem que demoraria cerca de uma hora e meia até o local.
Entretanto, não contava com o tráfego intenso de caminhões na rodovia que escolhi acreditando ser a mais
rápida, para além disso a condição precária de vários trechos da pista e a dificuldade de ultrapassagem fazia com
que sequer andasse na velocidade permitida. Em um determinado ponto da estrada, na ânsia de chegar logo,
quase causei um acidente tentando fazer uma ultrapassagem em um local de pouca visibilidade. Mal havia me
refeito do susto quando a esposa recebeu a mensagem no celular de que o sobrinho houvera nascido.
Assim, uma “assembleia arquetípica”, com todas as vozes formadoras da pessoa que sou, reuniu-se em meu
cérebro fazendo surgir diversos questionamentos: qual a necessidade de se correr tanto para se colocar em risco
de morte? E se acontecesse um acidente? Vale a pena toda essa correria contra o tempo? Por quê? Para quê? Até
que, de súbito, todas as vozes se calaram e uma rompeu aquele silêncio ensurdecedor para sentenciar “correr pra
não chegar! Só você mesmo!”
A partir desse instante, que pareceu uma eternidade, mas ocorreu dentro de uma fração de segundos, passei a
me questionar o que é, como funciona, qual sua utilidade, de onde surge, para onde vai essa entidade chamada
tempo. Perguntas estas que ficaram sem respostas, mas me permitiram desacelerar o carro que conduzia e me
concentrar na estrada fazendo-me chegar são e salvo a meu destino para contemplar aquele ser que, com tão
pouco tempo de vida, já me ensinava que por mais que se corra na vida tudo acontece dentro de um espaço de
tempo em que você não controla absolutamente nada.
Toda essa organização de pensamentos foram potencializadas pelos estímulos recebidos no curso “Aprendendo a
Aprender”, ministrado pelos educadores de essencialidades Marlete Wildemberg e Lucas da Costa, onde os
cursandos foram convidados a organizar para si o que seja realmente o “período contínuo no qual os eventos se
sucedem” chamado tempo.
Dias mais tarde, fui surpreendido por três educadores do Sistema Tempo de Ser, Jane Lopes, Devair Muchiutti e
Lilian Flores, que apresentaram como organização da atividade Programa Empreender do Sistema Tempo de Ser
um calendário para o ano de 2018. Admirar essa grande obra desses três amigos queridos me trouxe algumas
respostas para aquelas indagações sobre o tempo e me permitiu elaborar os versos a seguir:

Nada como uma ferramenta


A marcar o tempo
Para mostrar
Que é preciso organizar
Cada momento
Dentro daquele intervalo de tempo
Caso contrário
Não haverá tempo necessário
Para se fazer o que é preciso
E o tempo, implacável que é,
Não espera que tenhamos tempo sequer
De lamentar a ausência sentida
A dor doída
De não se saber o que se é

Maurício Rogério Ribeiro de Jesus


Educador de Essencialidades N-BGU

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