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Resumo: Neste trabalho foi estudada a mudança de cor e a degradação termomecânica do polipropileno após vários
processamentos nas temperaturas extrusão de 180 e 220°C. A análise de cor foi realizada via colorimetria utilizando o
sistema CIELab e a degradação termomecânica foi analisada via FTIR. A degradação termomecânica do PP durante a
extrusão gera a formação de grupos carbonílicos e insaturações. A partir dos resultados conclui-se que compostos
carbonílicos como cetonas, aldeídos, ácidos carboxílicos e insaturações tendem a tornar o polipropileno, originalmente
de cor azul esverdeado, para uma cor amarelada esverdeada. Em amostras com espessuras abaixo de 18mm observou-se
uma mudança de cor influenciada pelo fundo, um fundo branco pode tornar a amostra mais amarela avermelhada e um
fundo preto mais azul esverdeado.
Palavras-chave: Polipropileno, degradação termomecânica, extrusão e variação de cor
Introdução
O polipropileno é um termoplástico semicristalino amplamente utilizado em diversas
aplicações, geralmente, após a sua síntese, esse polímero passa por diferentes etapas de
processamento que resultam em diversas reações que podem alterar sua estrutura e,
conseqüentemente, suas propriedades. A extrusora dupla rosca é um equipamento amplamente
utilizado na transformação de termoplásticos devido principalmente a sua versatilidade e melhor
eficiência na mistura que permitem uma maior distribuição e dispersão de cargas, reforços, aditivos
ou blendas poliméricas [1]. Durante o processo de extrusão, o polipropileno é exposto a severas
taxas de cisalhamento e altas temperaturas os quais causam a sua degradação termomecânica
[2,3,4]. O PP devido à presença de hidrogênio terciário em sua cadeia é altamente suscetível à
formação de radicais livres.
A degradação termomecânica do polipropileno leva à redução do peso molecular devido aos
mecanismos de cisão-β, ruptura de radicais peroxi e cisão de cadeia por cisalhamento. A partir
dessas reações, formam-se grupos oxigenados tais como ésteres, cetonas, aldeídos, ácidos
carboxílicos e γ-lactonas, e na ausência de oxigênio, pode formar-se insaturações [5]. Essas
mudanças químicas causadas ao polímero em geral podem levar a mudanças nas propriedades
reológicas, propriedades mecânicas e também formação de cor indesejada ao produto final [6,7].
O amarelecimento de polímeros geralmente é resultado da formação de produtos
conjugados, polienos, e grupos polieno-carbonil. No caso de polímeros aromáticos, devido à
oxidação, ainda pode haver formação de quinonas ou polifenóis [7,8], outros fatores externos que
podem levar ao aumento do amarelecimento são a presença de impurezas e heterogeneidades que
absorvem luz na região do espectro visível e produtos do consumo de estabilizantes e antioxidantes
[9]. De modo geral, pequenas concentrações desses cromóforos (inferior a 10-3 mol.Kg-1 ), que é
quase indetectável em infravermelho e NMR, já podem ser fonte de problemas visíveis industriais.
Neste trabalho, foi analisada a formação de cor e a degradação temomecanica no
polipropileno após múltiplas extrusões nas temperaturas de extrusao de 180 e 220°C. A análise foi
feita via colorimetria utilizando-se o sistema CIELab e a formação de compostos quimicos foi
analisada por espectroscopia na região do infra vermelho (FTIR).
Experimental
O polímero utilizado foi um polipropileno homopolímero comercial na forma de grânulos
(HP500N) fornecido pela Braskem S.A. com densidade de 0,905 g/cm3 e índice de fluidez de
11g/10min (ASTM D-1238). A extrusão foi realizada em uma extrusora dupla rosca co-rotativa
Werner & Pfleiderer modelo ZSK-30. Os parâmetros de processamento foram de uma taxa de
alimentação de 2kg/h e velocidade de rotação de rosca de 100 min-1. O PP foi extrudado em duas
temperaturas, 180 e 220ºC que foram mantidas constantes em todas as zonas de aquecimento.
Foram feitas múltiplas extrusões coletando amostras na 1ª, 3ª e 5ª extrusão para posterior
caracterização.
Foram preparados filmes/placas via termoprensagem nas espessuras de 1 e 3 mm, a
prensagem foi feita na temperatura de 200°C mantida nessa temperatura por um intervalo de tempo
de 2 minutos e depois resfriadas em água com gelo para dificultar a cristalização do polímero. As
analises de FTIR foram realizadas em um equipamento da marca Perkin Elmer, modelo Spectrum
1000, com uma resolução de 4 cm-1 e 32 varreduras na faixa de 4000-400 cm-1 em filmes de 1mm.
A formação de cor foi avaliada com um colorímetro portátil da marca BYK Gardner, usando-se o
Resultados e Discussão
Espectroscopia de absorção no infravermelho
A Fig. 1 mostra os espectros de infravermelho na região de 1800 a 1600cm-1 relativo à
formação de compostos carbonílicos e insaturações no polipropileno após múltiplas extrusões às
temperaturas de 180 e 220°C. Os espectros correspondem aos filmes com espessura de 1 mm.
A partir da figura, é possível notar que o polímero antes de reprocessado (PP) já apresenta
pequenas bandas de absorbância nesta região, que possivelmente são resultado da incorporação de
antioxidantes, estabilizantes e/ou degradação do polímero ou dos aditivos. Da terceira a quinta
extrusão observa-se um aumento significativo nas absorbâncias na região de comprimento de onda
entre 1700 e 1750cm-1 referentes aos grupos orgânicos éster (1733cm-1), aldeído (1725cm-1),
cetonas (1718m-1) e ácidos carboxílicos (1706cm-1). O processamento a 220°C proporcionou uma
Colorimetria
Na Fig. 1 é apresentada a influencia na cor e na luminosidade de acordo com a espessura da
amostra e da base utilizada como fundo (branco e preto). Para aumentar a espessura da amostra
varias placas de 3mm foram empilhadas. Na Fig. 1(a) observou-se um claro efeito do fundo nos
valores de luminosidade até uma espessura de 9mm e a partir de 12 ou 15mm o efeito do fundo
pode ser desconsiderado, mostrando que é uma espessura apropriada para determinar a
luminosidade das amostras de PP. Na Fig. 1(b) observou-se que a cor também é influenciada pelo
fundo, um fundo branco pode tornar uma amostra amarelo avermelhado e um fundo preto pode
torná-la azul esverdeada. Os resultados mostram que a partir de espessuras de 18mm o efeito do
fundo na cor da amostras passa a ser desconsiderado.
4
100
Fundo Branco +b*
Fundo Branco Fundo Preto
Fundo Preto
80 2
ra
su
es
Luminosidade (L*)
esp
60
da
to
0
en
m
-a* +a*
Au
40
-2
20
ra
essu
d a esp
ento
Aum -b*
0 -4
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 -2 -1 0 1 2
Espessura (mm)
a) b)
Figura 2. Mudança na luminosidade (a) e na cor (b) em função da espessura da amostra e do fundo preto ou
branco.
Para analisar o efeito das múltiplas extrusões na mudança de cor do PP foram empilhadas 6
placas de 3mm. O PP não extrudado tende a ter uma cor azul esverdeada e após multiplas extrusões
observa-se uma variação no sentido negativo de a* e uma variação no sentido positivo de b*. O PP
extrudado a 180oC só mostrou uma cor amarela esverdeada na quinta extrusão enquanto que o PP
extrudado a 220 oC o efeito já foi observado a partir da terceira extrusão. O índice de
PP220
N
2
o
de
ex
tr
4
us
1
õe
s
0 0
-a +a
-1 -4
-2 -8
-b
-3 -12
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 0 1 2 3 4 5
Número de Extrusões
a) b)
18 18
Refletância (%)
Refletância (%)
16 16
14 PP 14
PP
PP180-1x PP220-1x
PP180-3x PP220-3x
PP180-5x PP220-5x
12 12
400 450 500 550 600 650 700 400 450 500 550 600 650 700
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm)
c) d)
Figura 3 – Variação das coordenadas a*, b* com o número de extrusões (a), aumento do índice de
amarelecimento com o número de extrusões (b), espectros de refletância do PP após extrudado nas
temperaturas de extrusão de 180°C (c) e 220°C (d).
Conclusões
Agradecimentos
Os autores agradecem a Braskem S.A. pela doação do polímero, a FAPESP pela bolsa de iniciação
cientifica de D.C.G. (Processo nº 2010/15976-5) e a CAPES pela bolsa de estudos de C.A.C.
(Processo nº 02681/09-9)
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