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A VIDA COM TOQUES ESPECIAIS

Com certeza estamos aqui neste mundo por causa do toque. Tudo começou
com toques íntimos dos nossos pais. É claro que da qui para frente com o
avanço da ciência, talvez, esta afirmação seja falsa. Pode-se fecundar um
óvulo em laboratório, introduzi-lo, mas mesmo assim haverá toques. Até hoje
a vida existe com toque.
Depois da fecundação, nas trompas fomos conduzidos ao útero. Lá fomos
recebidos como reis e rainhas. Uma coisa foi marcante: fomos recebidos com
um forte abraço. Sim, foi um abraço tão forte e gostoso que devido a ele
estamos aqui!
Ao falar de abraço no útero estou dizendo que fomos envolvidos pela parede
do útero. Este envolver é como um abraço.
Penso que aqueles toques foram os mais intensos em nossas vidas. Imagine-se
recebendo um abraço tão envolvedor que afague e acalme até a alma. Se não
bastasse acrescente a este abraço um líquido que nutre e, é quente; uma
placenta macia e sedosa nos massageando todos os segundos da nossa vida. O
tempo passava e o toque aumentava. Mais líquido, mais calor humano e
materno, protegidos e massageados constantemente.
Com certeza, o tempo que passamos no útero foi marcante. Foi a base e o
início das nossas vidas. Estamos aqui vivos por causa destes momentos. Por
causa destes toques. Sem toque não há vida.
Nascemos num belo dia. Fomos tão bem recebidos que resolvemos ficar.
Fomos percebendo que o toque era uma preciosidade. Não gostávamos de
berço. Aquela coisa fria, não combinava muito com a nossa pele. Aprendemos
rapidamente que o colo reconfortava e aliviava as nossas dores, os cansaços
desapareciam e os medos não estavam mais lá. Como era bom. Como é bom
ser tocado e tocar. Toque é reprocidade.

Sinto você me tocando em cada olhar,


Em cada gesto, em cada expressão,
Em cada sorriso...
E quando falo em toque
Quero dizer ir até o íntimo
E mexer com o que esta lá,
Com a energia e a fazer vibrar.
Assim surgem respostas que
Convencionamos chamar de
Sentimentos. Ai procuro
Exterioriza-los, é uma resposta
De algo que encontrou ressonância
Em meu corpo.
Foi um toque.
Só resta saber
Qual qualidade deste toque.
Ao ser tocado se esta vivo, presente.
O ausente não pode ser tocado.

QUALIDADE DO TOQUE
É de essencial importância discorrer sobre a qualidade do toque. Quando
recebe-se um toque nem sempre diz-se que foi bom ou ótimo.
Ao tocar é importante perceber ou ter consciência da forma que toca-se a pele
do outro.
Cada ação do terapeuta ou de quem toca provoca uma reação. A reação são
sentimentos que precisam ser sentidos ou percebidos pelo tocado. Quem toca
precisa desenvolver cada vez mais a sensibilidade.
Certos sentimentos necessitam ser trabalhados posteriormente, no corpo e pelo
corpo do tocado. São sentimentos que quando afloram trazem consigo um
conteúdo vivenciado no passado. Contudo, estes sentimentos não foram
vivenciados de forma saudável.
Quanto ás reações são respostas que o corpo emite frente a uma ação que neste
caso é o toque.
Quando alguém toca com qualidade entra em sintonia com o corpo do tocado.
O corpo do tocado é o centro das atenções. O bem-estar esta no corpo de quem
recebe.
Aquele que toca esta relaxado, observando, tocando, sentindo o corpo do
tocado.
Qual a diferença entre um toque de qualidade e uma agressão? Há diferença?
Frédérick Leboyer em sua obra Shantala, expressa-se literalmente entre esta
diferença. Inicia discorrendo sobre o amor e ódio. Há uma diferença tenue.
Veja:
“Do amor ao ódio não há senão um passo.”1
Do aspecto sutil, Leboyer, passa para o toque:
“Do mesmo modo que só há um passo desta massagem para... a velha surra!”2
Há uma pergunta em seguida interessante: “é a mesma coisa?” e há uma
resposta enfática: “claro que não!”
Pense num torturador: este sente muito prazer ao ver o outro sofrendo.
“A surra proporciona grande bem-estar... em quem a dá.” Conclui Leboyer.

1
Frédérick Leboyer; Shantala – Uma Arte Tradicional: Massagem Para Bebês; Ed. Ground; São Paulo; SP.
1995. Pág. 113
2
Idem. Pág. 113
Por outro lado, sobre o toque que se diferencia da surra, Leboyer, afirma:
“Enquanto que aqui... aqui o que há é uma luta, uma batalha. Mas trata-se de
uma batalha de amor. Onde a fúria e a ternura são uma única coisa. Onde se
ganha certa plenitude à medida que se dá.”3
Aqui quem toca não descarrega sua violência em quem está tocando. Ao
contrário, seu corpo esta livre da vontade de agredir para cuidar. Esta
completamente relaxado. Seus músculos estão soltos e livres.
“A doçura, a calma não significam descuido ou apatia. E a energia fica mais
livre de aspereza, de violência, de agressividade.
Mais uma vez não se trata nem de carícia, nem de surra.
A energia passa por você. E ela não é sua. É ela que a guia. Com a condição de
você estar aberta a ser atenciasa. De algum modo, você é um instrumento. E
essa força se comunicará melhor quanto mais distensa você estiver.”4
No início da vida humana geralmente têm-se este tipo de toque. Somos
tocados qualitativamente. Há casos e toques que não são em essência de
qualidade. A vida vai passando e vamos perdendo este toque e nos afastando
cada vez mais da pele do outro.

UM BELO DIA, SEM TOQUE


Aos poucos, fomos perdendo o colo. Fomos ensinados que colo era para
criança. Como se colo para adulto fosse dispensável. Sim, a nossa cultura não
dá importância ao toque. Tentaram a alguns tempos atrás criar as crianças com
quase nada de toque. Tocar a criança era mimá-la. Seria uma criança fraca.
A pior e triste constatação é que isso era uma descoberta “científica”. Veja o
relato feito pelo autor, Ashley Montagu: “A América estava sob a maciça
influência dos dogmáticos ensinamentos de Luther Emmett Helt, pai,
professor de pediatria da Policlínica de Nova York e da Universidade de
Columbia.”5 Bom, o tal pai da pediatria esta apresentado. Vamos aos seus
ensinamentos desastrosos que parecem que influenciam o pensamento e a
cultura até hoje. O que é de lamentar. O tal pai da pediatria, “era o autor de um
panfleto intitulado Cuidados e Alimentação de Crianças, publicado pela
primeira vez em 1894 e que, em 1935, estava em sua décima quinta edição.
Durante seu longo reinado tornou-se a autoridade doméstica suprema sobre a
questão, o ‘Dr. Spock’ de seu tempo. Era nesse trabalho que ele recomendava
a abolição do berço-embaladeira, que insistia em não se pegar o bebê no colo
quando estivesse chorando, que ele fosse alimentado segundo o relógio, e que
ele não deveria ser mimado com abundância de carícias, e, no caso de a
3
Frédérick Leboyer; Shantala – Uma Arte Tradicional: Massagem Para Bebês; Ed. Ground; São Paulo; SP.
1995. Pág. 113
4
Idem. Pág. 109
5
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 105
amamentação natural ser a dieta escolhida, as mamadeiras não deveriam ser
abandonadas.”6
Montagu, comenta o panfleto e dos ensinamentos nefastos: “dentro deste
contexto, a idéia de um cuidado terno e amoroso teria sido considerada muito
‘anti-científica’, e por isso não foi sequer mencionada”7.
Parece-me, que estas idéias estão muito vivas entre nós. Veja, quantas mães
não amamentam. A mamadeira substitui o indispensável leite materno. Perde-
se os poderes fortalecedores da imunidade do leite materno, para dar-lhe a
mamadeira que prejudica até a formação dos dentes devida a não sucção. A
sucção fortalece a musculatura que influência na formação de uma boa arcada
dentária.
Como se isto não bastasse, olhe para muitas mães que rejeitam pegar seus
filhos no colo e ainda exclama: é um manhoso! A criança é sinsera, pede o
colo da mãe, esta nega-o. colo é toque, é afeto. O toque é uma necessidade.
Veja o que afirma Montagu: “Na realidade, quanto mais sabemos a respeito
dos efeitos da estimulação cutânea, mais descobrimos o quanto é
profundamente significativa para um desenvolvimento saudável.”8
Isso quer dizer, que falta de toque compromete o desenvolvimento de um ser
humano. O foco da obra de Montagu, é o desenvolvimento da criança. A
importância do toque neste desenvolvimento.
E nos, adultos, quais são as consequências da falta do toque? Na obra citada,
acima, estão relatadas as consequências da falta de toque na criança. Vamos ao
dramático texto:
“No século XIX, mais da metade dos bebês morriam durante o primeiro ano
de vida, geralmente de uma doença chamada marasmus, palavra grega que
significa ‘definhar’. A doença era conhecida também como atrofia ou
debilidade infantil. Inclusive na década de 20, a taxa de mortalidade para
bebês com menos de um ano, em diversas instituições e orfanatos espalhados
pelos Estados Unidos, rondava perto dos 100%.”9
Estes números assustam, pois parece que poucas crianças sairiam vivas dessas
instituições americanas. Contudo, o que comove é saber que as crianças não
morriam de doenças como uma infecção, devido a uma epidemia e sim, por
falta de toque. Como Montagu afirma: “bebês privados de seu contato
corporal costumeiro com a mãe podem acabar desenvolvendo uma profunda
depressão com falta de apetite, definhamento e até marasmo, levando-os à
morte.”10
6
Idem. Pág. 105
7
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 105
8
Idem. Pág. 43.
9
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 104
10
Idem. Pág. 104
Portanto, uma criança necessita de toque para viver e se desenvolver
saudavelmente. Há um relato impressionante de Montagu, onde um médico
norte americano chamado Dr. Fritz Talbot, de Boston, em visita à Alemanha
antes da Segunda Guerra Mundial, para conhecer as instituições daquele país
deparou-se com uma “cena de uma mulher gorda e idosa que carregava no
quadril um bebê bastante atacado pelo sarampo. ‘quem é?’ ‘oh, ela. É a Velha
Anna. Quando já foi tentado tudo que há para ser feito a nível médico e o bebê
mesmo assim não evolui satisfatoriamente, entregamo-lo para a Velha Anna, e
ela sempre tem êxito. (Fala o diretor da instituição alemã)”11
Entenda a palavra êxito como salvar a vida daquelas crianças. Havia um
poderoso remédio “para quando foi tentado de tudo”, que resolvia isto: o
toque. Tocar a pele de uma criança é um poderoso remédio capaz de salvar
vidas. Disto, não nos damos conta. Preferimos pagar caro remédios de
farmácia para tentar compensar a falta de colo, de afeto, de pele com pele, de
toque.

Toque... sai, não gosto, odeio quem me toca...


Oh... carência táctil!
Nanição, fome, sede por toque.
Ávidos por pele.
É morte, dor, cansaços sem toque.
Contudo, é fácil negar, reagir, gritar
Espernear, só para não ter a coragem
De dizer: me abrace,
Eu quero colo;
Eu quero afeto;
Eu quero toque.

UMA CONSTATAÇÃO...
Ao voltar o olhar para nossa realidade, perceberemos que somos muito frios
nos contatos. Pouco somos tocados e pouco tocamos. A ausência de contatos
de pele com pele é uma realidade. Para a nossa cultura, quanto menos toques,
melhor. Só não nos diz, melhor para que.

Corpo frio, gélido,


Expressão de um corpo sem vida e sem toque.
Pele sem viço.
Uma linguagem foi esquecida e repudiada.
Maldição imposta
11
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 105
Separação da pele do outro
Sem dó e piedade!
Deserto recescado e frio
Quando permitirá a flor brotar?
O toque voltar?
A vida ressurgir?

DA FANTASIA AO TOQUE
Ao olhar para a sociedade, observa-se indivíduos tão inibidos ao toque que
não se sentem nada a vontade em tocar e ser tocado.
O toque é a expressão do amor mais encarnada. Contudo, imagina-se, fantasia-
se muito e toca-se pouco ou nada. Num único toque comunica-se muita ao
corpo tocado. Se comparássemos um simples toque, com um discurso
sofisticado, mesmo assim o toque é mais expressivo ao corpo, à pele.
Num simples toque, atinge-se profundamente a pessoa tocada. Há muitos
significados num único toque. Para explicá-lo muitas palavras. Porém,
explicação que dificilmente convence. A palavra esvai-se e o que fica é o
toque.

Oh doce e terno toque


Tão pisado, recusado e evitado...
Manifesta-se tão inibido!
Quase expressão do nada!
Toque é comunicação.
Abandona-se uma linguagem
Expressiva, significativa.
Num simples toque transmite-se
Informações com significados profundos.
Certamente um discurso
Sofisticado não daria conta de
Transmitir o mesmo contêudo, ao corpo.
Toque é comunicação!
Toque impele e relaciona o ser com o
Mundo e com a vida.
Um corpo saudável físico e emocionalmente
Com um ato elementar: tocar-se, tocar e ser tocado.
Lembre-se: toque, toque-se e permita ser tocado.
Isto equivale a vida num simples tatear.

UMA DESCOBERTA
Ao olhar para minha vida percebo algo de vital importância: o toque. Tive a
oportunidade de ter contatos com pessoas extraordinárias que me ensinaram a
tocar o outro e me tocar.
O toque de que estou falando é o terapêutico. Não é qualquer tipo de toque, ou
tocar de qualquer forma. Posso afirmar sem medo que aprendi o toque
terapêutico e ressussitei.
Quando, falo ressucitar foi ter redescoberto o valor e a importância do toque
na minha vida. Em seguida, esta explicado o que é toque terapêutico. Este
toque foi revolucionário em minha vida. Estou vivendo cada dia de forma
mais plena e realizado, tocado e tocando.
Depois vem outra experiência importante: relatar as experiências tácteis.
Adoro escrever. Parece que estou conversando, olhando para os teus olhos e
sentindo as palavras tocando o teu corpo. Ao escrever um bom texto sobre o
toque também se toca.
Uma noite comecei a escrever. Me empolguei. As idéias, as lembranças dos
cursos sobre toque, Massagem e Sensibilidade12, as experiências de toque nas
salas de aula tanto como aluno ou professor, vinham e eu as digitava. Sentia
na pele cada toque, cada técnica aplicada, cada colega que me tocou. Fui
aprendendo tocando e sendo tocado. Parece-me que não há didática ou
pedagogia melhor. Me desculpem educadores se exagerei.
Engraçado, não lembro de todos os meus professores das matérias de colégio,
mas posso sentir a energia de cada professor que me tocou nos cursos de
massagem terapêutica. Como é bom ser tocado. Aprendi como é realizador
tocar e ser tocado. Além de ser realizador, o toque é profundo e marcante. Não
esquecemos experiências tácteis, ficam marcadas no nosso corpo para o resto
da vida. Talvez, aqui esteja a grande diferença na arte de educar: tocar é
profundo e encoraja as pessoas a manifestarem sua essência. Tornarem
manifesto aquilo que esta nelas.
Depois que aprendi fazer massoterapia, a minha vida mudou. Faço algo
extremamente prazeroso: tocar e ser tocado. O toque tem uma importância
vital em minha vida. Posso dizer que consigui algo quase impossível em
nossos tempos: trabalhar com algo prazeroso e ainda conseguir ganhar por
isso. Quando falo ganhar, não se trata somente do financeiro. Estou falando,
de trabalhar com motivação por aquilo que faço. Observar as pessoas
crescerem e eu cresço junto. Além disso, não gasto minha energia para
convencer alguém que estou fazendo algo prazeroso e me motiva a continuar.
É uma energia que me alimenta diariamente. E que alimento!
Vivo e invisto na minha vida tocando nos outros. Como dizia Bob Dilam: “o
sucesso é acordar e dormir fazendo o que você gosta”. Como é bom tocar
12
É o nome de um Curso de Massoterapia na Escola A.M.O.R., criado pelo Mestre: Armando Austregésilo.
durante o dia e dormir abraçado, isso é mais do que sucesso! É vida! É pura
energia! É Motivação, alimento dos mais saudáveis.

“Amor – pois que é palavra essencial


comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guaia,
Reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?


Quem não sente no corpo a alma expandir-se
Até desabrochar em pleno grito
De orgasmo, num instante de infinito?”13

O toque é profundo e mágico! É algo que marca as nossas vidas.

TOQUE QUE NUTRE E ACALMA


Ao tocar uma pele percebe-se como pode ser benéfico o toque. Geralmente,
observa-se o tocado ficando cada vez mais quieto tanto quanto fisica e
mentalmente.
As reações e os movimentos vão ficando cada vez mais lentos e tranquilos.
Surge um estado de relaxamento. O que impressiona é que geralmente o
tocado não percebe o tempo passar. Surpreende-se quando constata que o
tempo passou. Parece-me que o tocado alcançou um estado atemporal.
As percepções vão ficando cada vez mais lentas. Percebe-se com muita
intensidade o toque que remete ao interior, à energia vital.
A consciência corporal vai ficando aguçada. Sim o corpo esta ali, presente,
tocado. E, sente intensamente o toque penetrando pele a dentro.
O mundo ou a realidade do dia-a-dia vai ficando pequeno e aumenta o foco no
toque, no presente, no estar ali sem preocupações e tensões.
O bem estar, a tranquilidade vai tomando conta do corpo. A energia vital flui
livremente pelo corpo que às vezes chega a pulsar.
Este pulsar energético ativa o corpo e permite que o interior reaja e seja
revigorado e alcance o equilíbrio.
Acrescente a este estado de fluidez energética, a consciência corporal do corpo
do tocado. Pode-se observar um aumento na percepção do corpo e das
estruturas internas. Sente-se mais e com qualidade. Os sentimentos ficam mais
tranquilos e mais fáceis de serem percebidos.

13
Poesia de Carlos Drumond de Andrade
DA TEORIA À PRÁTICA
Uma grande dificuldade que temos é teoriazar menos e tocar mais. Menos
masturbação mental e mais pele com pele. Fantasiamos muito e tocamos
pouco esta é a realidade.
Contudo, depois que aprende-se a tocar, vão surgindo algumas práticas
cotidianas que chamo de manias tácteis.
Estou tão habituado ao toque que algumas manias tácteis vão surgindo. Como
gostar de tocar os ombros das pessoas que conversam comigo. Percebo que
consigo entende-las melhor. Muitos olhos brilham. Seus sofrimentos vão
sendo aliviados.
Como é bom quando estamos com algum problema e alguém nos toca, parace
o melhor conforto do mundo. O toque é um “remédio” da alma. Toca a alma e
mobiliza nossas energias internas para o crescimento do ser que esta ali, tão
pequeno e cheio de medo, dúvidas...
Quando falo em crescer quero dizer que o ser que está em nós e toda a energia
vital vão se manifestando na pele, se expressando.
À medida que manifestamos o ser e a energia vital que esta em nós, vamos
ativando um poder de expulsar aquilo que não é saudável para o ser.
Conseguimos perceber o que é bom ou não é saudável. São poucas as pessoas
que conseguem se expressar livremente, dizer aquilo que querem realmente,
pedir um colo, um abraço, uma massagem. Como é difícil para muitos admitir
que o toque é uma necessidade em nossas vidas.
Algo que é belo quando trabalha-se com o toque, é tocar a pele. A pele conta a
vida das pessoas. Tudo fica gravado na pele. É um “cérebro” externo, com
memória e com capacidade de provocar mudanças internas.
As mudanças são em relação a valores, conceitos, noções do mundo que vão
sendo incutidos dentro de nós. É só entender e compreender o ombro tocado,
a pele tocada, tudo está ali.
Quando acima falava de vícios tácteis esqueci de dizer que tenho por hábito
beijar no rosto como forma de cumprimento. É revelador como as pessoas
vêem isto. Algumas pessoas acham um encanto. Ficam fascinadas e comentam
a forma que eu cumprimento. Outras reagem com indiferença. Outras com
repulsa. Outras preferem passar longe, não verbalizam nada mas, percebo que
dizem: vá que este cara me agarre.
Muitas pessoas senten-se invadidas, incomodadas com o toque. As
experiências em relação ao toque não são iguais para todos. “O toque é
mágico. É misterioso porque é muito poderoso e importante, ainda que tão
insignificante. É simbólico, e poderá ser o sinal de coisa nenhuma. O toque é
extaticamente agradável, e também poderá causar dor torturante... causar o
‘beijo da morte’.”14
 A grande maioria das pessoas possuem experiências desagradáveis e o
toque é desconfortável. Há razões mais profundas. Não é aquele toque
em si que não foi bom, mas as lembranças e as experiências tácteis
passadas que não foram trabalhadas e resolvidas que se manifestam ao
ser tocado.
VOU APROFUNDAR MAIS.....
PARA O ARMANDO.... OU PARA O LEITOR DOS MEUS RASCUNHOS...
SINTA-SE TOCADO, O QUE FOI BOM, O QUE FALTOU INCLUIR,
QUER CONTAR ALGUMA EXPERIÊNCIA INTERESSANTE.
ALIÁS, TEREI UM CAPÍTULO SOBRE EXPERIÊNCIAS COM TOQUE.
SERAM DISTRIBUIDAS DA SEGUINTE FORMA: AQUELAS QUE
DESAFIARAM E FORAM BOAS PARA A SUA VIDA. E OUTRAS QUE
NÃO FORAM DE QUALIDADE. VOCÊ PODE ME AJUDAR CONTE AS
SUAS.... ME TOQUE.
Vou continuar aprofundando.... pode sugerir alguns pontos para que eu
desenvolva. Suas sugestões foram provocativas e muito boas. Percebi as
limitações e a pouca fundamentação do texto. Não sei se agora esta mais
fundamentado e mais coerente. Espero não ter perdido a leveza que o texto
possuia. Se quiser escrever algo ou desenvolver seria bom. Assim vamos
lapidando um texto táctil partilhado. É bom ter visões e pontos de vista
diferentes. O texto vai ficando mais completo. Se quiser usar o texto sinta a
vontade. Foi muito bom tê-lo conhecido. Foi uma experiência táctil impar.

UMA EXPERIÊNCIA CATIVANTE...


As grandes diferenças são definidas nos mínimos detalhes. Esta foi uma frase
que eu proferi depois de uma aula de filosofia que eu assistia. Partilhei esta
frase com um grande educador da faculdade. Este educador concordou com a
minha frase. Não sei por que mas esta frase me tocou. Geralmente, são coisas
“bobas” e simples que nos tocam. É igual ao toque é tão fácil e barato que
muitos não dão o valor adquado.
Em minha vida, o que fez uma grande diferença foi ser tocado e tocar.
Contudo, estou escrevendo sobre o toque, mas, me lembrei que foi exatamente
um pequeno detalhe que mudou a minha vida.
Num belo dia, aliás era de noite que eu ia a aula de um curso intrigante:
Massagem e Sensibilidade. Porém, naquele dia a professora era a mesma de
sempre mas, propos uma experiência táctil que nunca mais eu esqueceria: o
neuro-táctil.
14
Ronald B. Levy; Só Posso Tocar Você Agora; Editora Brasiliense; São Paulo; 1987; Pág. 86
O QUE É ISSO?
Talves, tenha que experienciá-lo, pois eu acho que as palavras serão
insuficientes para defini-lo.
Descrevo como é recebe-lo e assim terá uma idéia do que é. Um grupo de
pessoas com alguma experiência em toque terapêutico esta reunido em circulo
numa sala, com uma música calma e tranquila. Após, ter feito um exercício de
relaxamento para harmonizar emoções e sentimentos e acalmar a mente, uma
pessoa, deita-se no centro, em decúbito frontal.
Os outros atritam suas mãos para relaxar este instrumento táctil. Além disso,
explica a professora, “é para trazer a consciência às mãos e concentrar a
energia que será usada no tocar o corpo da pessoa ao centro”.
Lembro-me que fui o primeiro a deitar. Ao receber o primeiro toque das mãos
cheias de energia foi algo marcante. Cada toque era único, não por estar num
local do meu corpo diferente. Mas, por que cada toque era completamente
diferente.
Agora os toques tornam-se uma massagem. “Dêem o melhor de vocês neste
toque”, diz a professora. E, continua ela: “receba e perceba como este toque é
profundo e toca a tua alma”.
Realmente, não tocou só a alma, mas transformou a minha vida! Nutriu o meu
corpo e cativou-me a estudar e trabalhar com o toque terapêutico! Estes toques
foram muito cativantes.
Depois de bem massageado no meu dorso, a turma virou meu corpo sem o
menor sacrifício e sem minha ajuda. “Gilson, somente sinta seu corpo ser
virado”, diz a professora.
Em decúbito dorsal, os colegas de toque atritam as mãos e novo toque e a
experiência táctil continua. Ao terminar, mais uma sensação e experiência
difícil de descrever e marcante ao receber. “Agora todas as mãos envolvem o
corpo e dão apoio no dorso e o tiramos do chão. Vamos ergue-lo lá bem no
alto. Com um balanço como se este corpo fosse de um bebê, vamos acarinhá-
lo e balançá-lo”, diz a professora. Foram alguns minutos da minha vida onde
pude sentir todo meu corpo, cada osso, todos os músculos, de modo que esta
experiência me conduzio e me fez perceber o corpo. Sentia a energia fluir
livremente sem estagnações. Meu corpo pulsava. Estava bem vivo. Com
certeza, foi uma experiência táctil impar.
O CORPO E A MASSAGEM
No corpo registra-se tudo que se experiencia ao longo da vida. Tudo que se
experiencia de alguma forma passa pelo revestimento externo que chamamos
de pele, onde tudo é registrado.
As experiências registradas, criam uma memória corporal que pauta, molda a
postura corporal, reflete-se na postura emocional e tem reflexos até na energia
vital que flui e reflui pelo corpo.
As experiências corporais podem ser divididas em duas modalidades: aquelas
que impulsionam a vida; e, as que bloqueiam e promovem estagnações
limitando a vida.
Uma observação importante: as experiências vividas não são nem boas e nem
ruins. O importante é como são absorvidas e vistas pelo indivíduo.
Há uma tendência: tudo que não é bom procura-se esquecer, guardar, não falar.
Passa a ser um contêudo “morto”, ou melhor, um “arquivo morto”. Aquilo,
que não trabalha-se de forma natural, espontânea é algo que esta presente em
nossas vidas, mesmo que não admitimos.
Contudo, constitui um peso de algo que esta sempre presente influenciando as
novas experiências e comparando-as com as coisas que estão registradas na
pele. Isto, compromete a livre fluência da energia corporal. Esta limitação vem
em virtude de gastar-se parte da energia corporal para esconder o “lixo” ao
invés de limpá-lo.
Além de, consumir a energia corporal, o ser não será integral, inteiro. A
consequência desta postura pode ser dores corporais, desânimos, cansaços...
Algo inevitável é: todos temos experiências na vida. Nem todas são
agradáveis. Contudo, trazem lições para exercitar a sabedoria. Sábio é aquele
que experiência a vida e extrai lições vitais, sem perder a vida. E não perder a
vida é estar sempre em contato com a pele sua e do outro.
O toque proporciona vários benefícios. Dentre estes benefícios pode-se
enfatizar a integração de todas as experiências vividas e conseguir trabalha-las
de forma consciente.
“Os benefícios da massagem (do toque) são imensos. Ela relaxa o corpo,
assim reduzindo o estresse, não apenas na hora em que acontece, mas por
mostrar ao corpo o que é o relaxamento. Com o método, recondiciona-se o
corpo a reagir não com tensão, mas com relaxamento. A massagem também
ativa a circulação, dessa forma liberando as toxinas do corpo, aumenta a
sensação de energia e promove um bem-estar geral, quando realizada
adequadamente. O mais importante é que a massagem constitui uma
experiência de estimulação tátil maciça e pode aliviar a ânsia por pele, bem
como remediar a carência de contato físico.”15
Somente para ressaltar; a massagem, o toque “não é somente na hora” que ele
age. A integração das experiências e entende-las conscientemente no corpo é
algo que alcançamos quando somos terapeuticamente tocados.
Algo a destacar, em relação a afirmação da autora: o toque tem que ter
qualidade. A massagem tem que ser “realizada adequadamente para produzir
efeitos. Uma massagem pode reforçar a tensão e levar o indivíduo ao
afastamento do toque.

ALGUNS CONCEITOS
Para entender melhor o texto a seguir, vamos a algumas definições: na visão
de Montagu, a pele tem a seguinte conotação: “a pele é o espelho do
funcionamento do organismo: sua cor, textura, umidade, secura, e cada um de
seus demais aspectos refletem nosso estado de ser psicológico e também
fisiológico.”16
Aqui a pele é relacionada com a alma do indivíduo e com o funcionamento
das estruturas e órgãos internos. A pele é um reflexo do que há dentro do seu
corpo.
Mas, Montagu faz outras relações com a pele: “empalidecemos de medo e
enrubecemos de vergonha. Nossa pele formiga de excitação e adormece diante
de um choque; é espelho de nossas paixões e emoções.”17
Podemos dizer que somos nossa pele. Tudo está presente na nossa pele. É a
pele que nos “confere o sentido da realidade”, sabemos o que esta fora de nós
e, manifesta sobre ela o que esta dentro de nós. Como diz Montagu: “a pele é
em si mesma um órgão complexo e fascinante.”18
Na visão oriental, a pele é um reflexo das estruturas e órgãos internos.
Qualquer alteração interna será refletida nela. Por outro lado, as experiências
de toque no corpo influenciam as estruturas internas facilitando ou
dificultando seu funcionamento.
A dificuldade é entendida como um desequilibrio. O desequilíbrio prejudica a
fluência da energia que, com o tempo atinge o físico e o emocional do
indivíduo.
A energia é o CHI ou KI corporal, ou seja, a energia vital que formou e
mantem o corpo saudável.
A pele, na visão oriental, reflete o estado energético da pessoa.

15
Phyllis K. Davis; O Poder Do Toque; Ed. Best Seller; São Paulo; Pág. 146
16
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 30
17
Idem. Pág. 30
18
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 31
Ao massagear uma pele encontra-se “nós energéticos” que é energia
estagnada. Fica ali parada sem vida e sem movimento.
A energia deve fluir constantemente. Se não fluir surgem sinais físicos,
emocionais ou energéticos deste desequilíbrio.
A massoterapia é definida como um conjunto de técnicas através do toque em
áreas precisas do corpo, na pele, para promover o bem estar, integrar
memórias desagradáveis e limitantes presentes na pele e no corpo do tocado.
São toques que constituem uma forma de comunicação com o corpo do
tocado. Em outras palavras: o toque constitui-se numa linguagem táctil, ou
seja, num conjunto de sinais que exprimem sentimentos e sensações como se
fosse uma conversa sem palavras com a pele e o corpo do indivíduo, levando-
o a perceber e enteder que os desequilíbrios são causados por fatos anteriores
que bloquearam e estagnaram a energia corporal.
Quando falo de fatos estou me referindo da relação que o indivíduo possui
com ele mesmo. Esta relação constitui uma dinâmica energética interna. Outra
forma que influencia na energia, é como lida-se com as emoções. O ser está
em relação com o meio. Também, é um fato que atinge sua energia. O ser
humano é um ser que se relaciona afetiva, social e profissionalmente.
Portanto, as relações que ele possui, a qualidade delas são um fato importante
para entender como está sua energia. Outro fato é: o meio que vivemos possui
sua energia e pode afetar a energia corporal. Uma exemplificação: expor o
corpo ao sol pode fazer bem ou dar ensolação. Há outros fatos, como por
exemplo: com o que trabalho, a dinâmica postural, o tipo de alimento
escolhido... são fatores que influenciam a energia corporal.
A linguagem táctil é uma forma de expressão do indivíduo através da pele.
Um conjunto de sinais que exprimem suas emoções e sentimentos, sua energia
e sua condição e estado físico, emocional e energético.
O papel da massoterapia, está em atuar na pele do indivíduo para que as
experiências sejam trabalhadas. Reforça-se as experiências agradáveis e
atenuam-se as memórias limitantes.
O toque promove a integração de tudo o que foi vivenciado e experienciado e
auxilia no processo de conscientização corporal, aumenta a auto estima do
indivíduo. Em se tratando da massoterapia oriental, o toque em pontos e
meridianos promove a harmonização e o equilíbrio da energia corporal.
o que são pontos e meridianos?
E o que é ter consciência corporal?
Muitas pessoas não possuem a percepção do corpo, das suas tensões e dos
seus cansaços. Não conseguem perceber os sinais que o corpo emite para dizer
se está bem ou não. Os desequilíbrios energéticos sempre apresentam sinais na
pele e no corpo. Estes sinais podem ser sentidos e lidos pelo indivíduo e pelo
terapeuta.
A partir desta leitura, pode-se equilibrar a energia antes que surjam
desequilíbrios físicos. Este equilíbrio é atingido ao trabalhar na pele. Ou seja,
o toque na pele é que promove uma harmonização e equilíbrio interno ou,
aumenta sua vitalidade.
A massoterapia é um instrumento auxiliar para este leigo que ainda não possui
a consciência corporal e para aquele que a possui um instrumento de
manuteção. Massoterapia atua na pele. Pele a dentro pode-se ser mais
saudáveis.
A realidade vivida por muitas pessoas compromete sua auto estima,
comprometendo o equilíbrio energético corporal. Vou um pouco além disso,
quem é bem tocado têm auto estima.
O ser humano, é um ser em relação. É um ser social. Isso chamamos de
energia interpessoal. Pode-se ter mais energia ou a energia desgastada por uma
relação. Para relacionar-se de modo saudável é importante ter auto estima, é
importante ser qualitativamente tocado.
O que é auto estima? A auto estima pode ser definida como um conjunto de
eventos que juntos dão sentido à vida. Pode-se criar uma imagem para
exemplificar este conjuto de eventos: se jogassemos as peças de um navio ao
mar, uma a uma, todas afundam. Ao afundar ficam imóveis, paradas,
estagnadas. O mundo fica pequeno e limitado. Só temos um evento: ter sido
atirado ao fundo do mar. Não há movimento. A vida fica sem muito sentido.
Só há um evento. Não há toque e contato da peças atriradas ao mar. É energia
estagnada.
Contudo, se formamos um conjunto teremos o navio. Juntou-se as peças e
fazem o conjunto flutuar. Agora as milhares de toneladas são graciosamente
levadas de um lado para o outro. Pode-se dizer que isto é graça ao toque. Sem
toque de peça com peça, não há navio.
Agora o navio move-se quando há necessidade. Enfrenta tempestades, mas
elas são vencidas. Não é mais um fator limitante do ser.
As dificuldades são enfrentadas e superadas. Ao contrário, daquele ser sem
auto estima, sem toque que tudo é sacrifício, nada pode ser feito em função
das experiências vividas no passado. Agora são vários eventos que em relação
dão sentido e um toque especial a vida do navio.
O fato de unir as peças, ou integrar os eventos é desecadeado pelo toque. É o
contato que alguém teve com as peças. E, as peças foram se tocando uma a
uma até formar o navio. Toque é integrador.
Agora há contato, há pele com pele. O toque é o responsável direto pelo navio
flutuar.
A massoterapia com sua linguagem táctil promove a integração dos eventos
vivenciados pelo corpo. Atenua aqueles eventos sobrevalorizados e apresenta
outros para serem experiênciados.
Podemos dizer que “não existe ninguém comum”. Todos têm a possibilidade
de juntar os eventos da vida. Juntando os eventos surge o sentido da vida. O
toque promove esta harmonização e integração de eventos. Portanto, é
importante ser tocado para perceber o corpo, integrar todos os eventos,
aumentando a auto estima para que a energia corporal flua livremente sem
estagnações ou desequilíbrios.
A massoterapia deve superar as técnicas que parecem “tortura chinesa”. Deve-
se repudiar o toque agressivo, tanto quando se está tocando ou sendo tocado.
O toque agressivo acaba reforçando as sensações desagradáveis da vida e não
ajuda em nada para trabalhá-las ou integrá-las aos eventos da vida.
José Ângelo Gaiarsa, ao fazer a apresentação da edição brasileira da obra:
Tocar, de Montagu, faz uma dura crítica aos terapeutas. Diante de uma
realidade de afastamento um do outro e sem toque, quando tocamos ainda
provocamos dor, reforçando a solidão. Ele chama isto de “estranha maldição”,
vamos ao texto, à critica: “estranha maldição. Inclusive seus maiores
defensores – do contato e da carícia – não fizeram nada do que pregam, muito
pelo contrário. Falo de Reich e das muitas bioenergéticas que dele nasceram.
A maior parte delas parece cena de tortura, não de prazer. De solidão e não de
contato.”19
A massoterapia deve ser uma busca e um resgate de um toque profundo,
reparador e prazeroso. A massoterapia é a vivência da vida em contato, no tato
e no toque. É a superação das distâncias e dos abismos físicos, emocionais e
dos desequilíbrios energéticos.
Ao tocar e ser tocado é sentir-se vivo, com vida no toque. Ao massagear ou ser
massageado é experienciar o toque na sua plenitude, pois é uma possibilidade
de integração das experiências, vivenciando a pele com a pele sem esconder-
se ou reduzir-se. É um apoio táctil a nível emocional, energético, permitido e,
que possibilita a vivência das emoções e dos sentidos sem medos.
Toque o seu corpo e deixe-se tocar pelas outras pessoas e, também toque!
Desenvolva esta linguagem esquecida: a linguagem táctil. E va além: toque de
forma terapêutica para harmonizar a energia e o corpo.

O TOQUE TERAPÊUTICO
No mundo das terapias há algo que vai além da diversidade de métodos e
técnicas, capaz de deixar muitas pessoas intrigadas: o toque.

19
Cf. Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 14
Ele surgiu com a humanidade, desde da primeira gestação, pois somos
massageados durante os nove meses naquele ambiente protetor. Com esta
massagem surgiu uma linguagem, a táctil. No ambiente pós útero, pós natal
esta linguagem continua se desenvolvendo até a morte.
Contudo, nos tempos atuais o toque tornou-se algo abandonado e relegado a
uma linguagem sem muita expressão pessoal e social.
Ainda mais: o toque é algo perigoso e pernicioso para a sociedade. Segundo,
José Ângelo Gaiarsa, o toque deve proporcionar prazer e fazer as pessoas
felizes. Contudo, “fazer feliz é perigoso demais... o contato é impossível em
nosso mundo.”20
Pode-se afirmar que o toque é uma linguagem necessária e primordial para
mantermos um corpo saudável e equilibrado. Segundo Gaiarsa, “não pode
haver saúde, nem funcionamento pleno, se os sistemas vivos não estiverem ou
não mantiverem contatos frequintes.”
E continua, mostrando as consequências da falta de toque:
“Falta-nos proximidade, contato... por isso estamos tão doentes. Não trocamos
carícias nem gostamos que toquem em nós.
Quanto mais civilizados, mais asséptico, mais distante e mais frio. Só
palavras. Pouca mímica. Nenhum contato. Por isso foi tão fácil inventar
robôs.”21
Ao tocar e ser tocado surgem revoluções, segundo Nikki Giovanni. Veja a
afirmação de Nikki: “eu sei que tocar foi, ainda é e sempre será a verdadeira
revolução.”22
A revolução da linguagem táctil esta em quebrar os valores impostos pela
cultura ocidental baseada na visão e na observação. Assiste-se a vida passar.
Por que não sentimos a vida passar? Quando nos percebemos sem toque,
achamos ser tarde demais e desistimos facilmente. Morremos com nanição
táctil. Quer dizer: morremos com uma carência afetiva enorme. Talvez, de tão
carentes acabamos morrendo mais de pressa. Quando a conversa é prazerosa
ficamos mais tempo conversando. Será que não morremos muito novos sem o
toque? Fica como reflexão de cada um.
Reflita enquanto esta se tocando. Olhe menos e toque mais. Aproxime-se do
outro! Em contato sente-se melhor, entende-se melhor. Abandone o falatório e
a verbalização como a única forma de comunição. É melhor sentir a vida
passar do que ver a vida passar. É melhor tocar e ser tocado do que só
observar, olhar, ouvir...

20
Cf. Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 14
21
Idem. Pág. 13
22
A afirmação foi retirada da obra: Tocar, A. Montagu, ed. Summus, p. 18.
Outro aspecto importante em relação ao toque é a sua atemporalidade, nunca
será algo ultrapassado, desnecessário e sem valor. Ao contrário, o toque é uma
necessidade biológica, o ser humano não viveria sem toque.
Se o toque é uma necessidade para o ser humano sobreviver, usá-lo como
instrumento terapêutico, exige do massoterapeuta vivenciá-lo sempre e
exercitar-se constantemente para o desenvolvimento da sensibilidade e da
linguagem táctil, abandonado e relegado aos planos inferiores pela nossa
cultura.
O toque possui muitos significados e ao mesmo tempo há muitos tipos de
toques. Aqui, buscaremos o desenvolvimento do toque terapêutico e suas
habilidades, fundamentado e com técnicas aplicadas a pele, ao corpo; com o
objetivo de proporcionar equilíbrio energético, melhorar a qualidade de vida e
proporcionar uma manutenção da saúde. E, nutrir a pele com toques beneficos
e saudáveis.

O TOQUE TERAPÊUTICO E SEUS DESAFIOS


O primeiro desafio é conseguir superar as concepções culturais erotizadas de
que toque é estritamente sexual. O toque terapêutico não tem nenhum objetivo
sexual. Toca-se para proporcionar alívio da alma e equilíbrio energético,
emocional, sem a utilização do sexo.
O outro desafio é superar as distâncias que estabelecemos entre os seres
humanos. Parace que há um abismo entre as pessoas. Pouco toca-se e pouco se
é tocado. Vivemos um tempo onde há uma carência afetiva enorme. Veja a
afirmação de Montagu em sua obra, Tocar: “para se comunicar, o mundo
ocidental terminou por apoiar-se maciçamente nos ‘sentidos de distância’,
visão e audição; quanto aos ‘sentidos de proximidade’, paladar, olfato e tato,
em grande parte proscreveu o último.”23
Só para reforçar e entender bem a afirmação acima: proscrever quer dizer:
proibir, abolir e condenar, literalmente.
Isso quer dizer que além de dar-lhe uma conotação sexual, o toque está
relacionado com a violência, a força e a dominação.
Quando superamos o toque violento e dominador e tocamos carinhosa e
amorosamente é proibido e condenado.
Veja na reação das pessoas ao verem alguém com toques públicos que vão
além de um mero cumprimento social. Pensam em sexo e expressam sua ira e
fúria inquisidora verbal e até físicamente com agressões contra quem ousar em
se tocar demoradamente em público.

23
Montagu, p. 19
A nossa comunicação é estabelecida através dos órgãos dos sentidos. Eles são
os canais por onde estabelecemos a comunicação. Com certeza, melhoraria a
nossa comunicação e a vida, se nos tocássemos mais.
O resgate e o cultivo da linguagem táctil é sem dúvida um desafio muito
grande. Precisamos começar, precisamos ousar, precisamos nos tocar e
aprender a arte de bem tocar e ainda mais, tocar de forma segura e precisa, a
ponto de que este toque seja terapêutico.
Precisamos romper as prisões estabelicidas. Sim, há um abismo imenso entre
as pessoas. Talvez, nem tenhamos a consciência desta lacuna e de sua
dimensão.
Tente imaginar, a perda por abandonar o toque e, nos distanciarmos uns dos
outros. Entre tantas perdas, talvez, maior perda seja a afetiva. Ficamos cada
vez mais insensíveis e frios. Será que um dia recupera-se estas perdas? Será
que conseguiremos superar esta distância?
Hoje, é triste constatar que se sofre de um mal quase incurável: a carência
táctil.
Um belo dia estava lendo um livro de Gilberto Freire, levei um susto muito
grande. Ele falava que o pior castigo imposto para a humanidade foi surgir a
aids. Mas, o susto não foi esta afirmação. O susto foi outra afirmação dele, lá
vai: “prefiro morrer de aids do que morrer de solidão”.
Onde estamos indo? O que estamos fazendo? Estamos presos aos preconceitos
e a valores que nos matam, um pouco, todos os dias.
Recuperar o toque e sua linguagem e desenvolve-la é uma possibilidade de
que a humanidade resgate sua própria vida.
Ensinar o toque terapêutico é sem dúvida um ato educacional. É um ato de
grande amor para com o indivíduo.
Quando falo em educar, quero dizer que significa trazer à tona algo que está
no interior de uma pessoa, trazer seu centro para a superfície, para as bordas,
fazer com que seu ser se torne manifesto, por que ainda está latente, não
manifesto, está adormecido, tornando-o ativo e dinâmico.24
Tenho uma grande esperança que estejamos somente adormecidos em relação
ao toque. Espero que não estejamos secos como uma árvore sem vida. A
manifestação que acontece todos os dias nas salas, onde ensino o toque
terapêutico, faz com que eu afirme: ainda é tempo de se tocar, ainda é tempo
de se massagear e ser massageado, ainda é tempo de aprender e se educar com
o toque.
Toque e deixe ser tocado, vale a pena! Descobre-se que a vida não é só olhar,
ver. A vida é sentir a pele ser tocada por outra pele de modo tranquilo e
terapêutico.
24
cf. Osho de A a Z. Pág. 62
O TOQUE É MÁGICO25
Há várias razões para dizer que o toque é mágico. A magia do contato é que só
podemos estar ali naquele momento. O contato, o toque não têm passado ou
futuro.
São momentos únicos: pele com pele. Esses momentos podem ser lembrados,
que é passado. O toque pode deixar marcas tão profundas das experiências
tácteis. Posso querer estar sempre em contato que não deixa de ser futuro.
Contudo, ainda não é toque! Se estou sendo tocado é no presente, é um
presente!
Um aspecto mágico do toque é este: é melhor sentir a vida passar do que ver a
vida passsar. Quando escrevi esta frase não tinha consciência da dimensão
desta frase.
Só para exemplificar: imagine e sinta, a magia e a profundidade desta frase.
Ao tocar e ser tocado de forma terapêutica, saudável e protetora não
percebemos o tempo passar. Estamos ali, sendo tocados no âmago, na alma, na
energia.
Talvez, o corpo esteja reelembrando todos os toques recebidos. Será que o
corpo lembra dos toques intra-uterinos?
Ficamos lá por 9 meses, alguns ficam um pouco menos. Lá tínhamos o toque,
contato em tempo integral. Não havia pressa, ansiedade, tensão, violência...
Não havia contagem de tempo. Só alternávamos a vida entre despertar e
dormir e crescemos.
No útero havia algo de mágico: não há separação entre toque acidental e
essencial. Toque é toque.
Depois que nascemos descobrimos que havia regras, cultura, valores...
ensinaram que não podíamos tocar sempre, era perigoso.
Começamos separar os momentos, as pessoas que podemos tocar e o momento
certo.
Surgiu o toue acidental. O toque acidental é aquele que não queríamos tocar.
Tocamos e pedimos desculpa. Aliás, sentimos culpa. A forma de atenuar esta
culpa, pedimos clemência.
Mágico é perceber que não há local e tempo para o toque. Que toque é uma
necessidade fisiológica. O toque essencial é aquele afeto, pele com pele, que
necessitamos para viver. Sem toque não há vida.
Logo, o toque pode ser de qualidade ou não. Mas, dizer que o toque é
acidental é arbitrário e algo imposto e não condiz com a necessidade humana.
Necessitamos de bons contatos para viver. Não há vida sem toque.
25
esta é uma afirmação retirada da obra de: Ronald B. Levy; Só Posso Tocar Você Agora; Ed. Brasiliense; São
Paulo; 1987; Pág. 86
A magia esta em exercitar o toque diariamente, constantemente para
desenvolver a sensibilidade e torná-lo qualitativamente bom para nutrir as
necessidades vitais.
Só para exemplificar e você pensar: proponho-te a construção de duas cenas.
Procure olhar para o teu corpo em dois ambientes.
O primeiro ambiente é estar no colo da pessoa que ama. Estar sendo
massageado, acariciado, tocado. Não estou falando somente daquele toque
com objetivos excitatórios. Mas, estou falando daquele toque que temos
vontade só de ficar ali, sentir, viver. Parece que o tempo não é contado.
Quando percebemos passaram-se horas, sem preocupações, tensões, sem
ansiedade.
Contudo, imagine agora uma segunda cena: você esta naquela fila de banco
que todos estão ali. Têm pressa. Está atrasado para outras atividades e não têm
como furar a fila ou resolver amanhã. A espera pode ser torturante. Olha o
relógio de minuto em minuto. Não surgem outros caixas e a fila para.
Compare tuas sensações, emoções. como é mágico o momento que você esta
sendo tocado. É único.
Tocar tua pele sedosa e morena do sol,
Uma brisa que refresca a alma,
Tranquiliza o espírito, traz a paz.
É amor e convite para expressar
Sentimentos de afeto e paixão.
Teus beijos suaves e sedosos,
Cheios de brilho e gosto
Alimentam desejos ternos e profundos.
É adoração.
Sentir seu toque no meu corpo
Motiva para reações instintivas
De te envolver com os braços,
Aquecer-te como uma manta
Sedosa e aconchegante.

O PODER DO TOQUE TERAPÊUTICO


Este título é baseado na chamada de uma revista26. A chamada era “o poder
dos sentidos”. Folhei a revista rapidamente para chegar na matéria. Gosto de
ler sobre assuntos relacionados ao corpo humano. Tenho interesse especial
sobre o toque. Já de cara me deparei com o subitem da matéria que intrigava:
“o toque que salva”.

26
Revista da Folha de São Paulo; Edição número 572; São Paulo; junho, 2003.
O toque como instrumento terapêutico vai tendo sua eficácia comprovada na
prática. Na reportagem, relata os resultados da aplicação do toque em recém
nascidos. Além de benéfico e salutar, o toque cura.
A ciência confirma este benefício do toque. De um lado, é bom que os
resultados sejam bons e, divulgá-los. Contudo, é de lamentar que as pesquisas
e trabalhos científicos tenham que dizer isso às pessoas. Algo tão óbvio, mas
que não utilizamos e não faz parte da rotina de nossas vidas.
Imagine que se o toque é usado em centros médicos como um auxiliar aos
tratamentos convencionais e os resultados são animadores; imagine se o toque
fosse algo natural e constante em nosso dia-a-dia. Será que estaríamos menos
doentes ou menos carentes?
De imediato temos algumas vantagens na utilização do toque: tocar não custa
muito. É muito mais barato que uma aspirina e mais, não possui contra-
indicações. O importante é que este toque seja sem violência, agressões ou que
não ameaçe quem esteja sendo tocado.
E a reportagem continuava interessante: “um dos sentidos menos valorizados,
o tato virou um poderoso instrumento na recuperação de bebês prematuros em
algumas UTIs de hospitais brasileiros.”27
O toque é do ponto de vista médico um instrumento terapêutico. Isso deve ser
ressaltado, destacado. Contudo, pensa-se que este toque tenha algo de muito
especial para recuperar crianças prematuras. Mas, veja a continuação da
reportagem: “a técnica TAC-TIC (sigla em inglês para ‘tocando e acariciando-
cuidando com carinho’) estimula o desenvolvimento do sistema imunológico
do prematuro...”
Este toque carícia fortalece o sistema imunológico das crianças. Sem dúvida
isso é extensivo a todos os seres humanos. Em todas as idades pode-se
usufruir do toque para cuidar da saúde.
A técnica mencionada utiliza 22 toques no corpo da criança que agem “sobre
as terminações nervosas da pele, aumentando a produção de betaendorfina, um
anestésico natural produzido pelo organismo, e reduzindo as dores e o estresse
do nascimento prematuro. Outras consequências são o aumento da taxa de
imunoglobina no sangue (substância responsável pela defesa do organismo) e
a estabilização da pressão cardíaca.”28
Os resultados vão desde menores gastos, pois a criança fica 5 dias em média, a
menos, na unidade de tratamento intensivo; e, se benificia com o toque que vai
nutrindo a sua pele com afeto. O bebê vai sendo alimento táctilmente.

A PELE NA VIDA-SAÚDE PROPORCIONA MAIS EQUILÍBRIO?


27
Idem. Pág. 15
28
Ibidem. Pág. 15
Tudo passa pela pele. É a pele um órgão importante para coleta de
informações enviadas ao cérebro. Sem estas informações com certeza não
haveria vida, muito menos saúde. A pele é indispensável à nossa vida.
Na obra: Tocar, de Montagu, defende a seguinte tese: “que influência têm
sobre o desenvolvimento do organismo os vários tipos de experiências
cutâneas que o mesmo vive, principalmente no início da vida? Que tipos de
estimulação da pele são necessários ao desenvolvimento saudável, tanto físico
quanto comportamentalmente?”
Montagu, parte da experiência táctil. Como que o toque influência o
desenvolvimento. Que tipos de toques são necessários para desenvolver-se
com saúde. Com certeza, os toques são diferentes e há uma variação de toques
enorme. Parece-me que não há a necessidade discutir a ausência de toques em
nossas vidas, como algo insano de nossa parte. Isto, já foi visto
cientificamente. É só conhecermos as consequências nefastas se não somos
tocados. Veja um relato para conhecer as consequências, quando um animal
não é tocado: “num artigo datado de 1921-1922,de Frederick S. Hammett,
anatomista do Instituto Wistar de Anatomia, na Filadélfia. Hammett estava
interessado em descobrir quais seriam os efeitos da remoção total das
glândulas tireóide e paratireóide de ratos... Hammett observou que após a
operação animais não morreram, como era de se esperar. Havia sido
considerado até então que uma tireoparatireodectomia mostrava-se
invariavelmente fatal... após investigar esse resultado, Hammett descobriu que
os ratos submetidos à cirurgia total tinham sido recolhidos de duas colônias
separadas; o número maior de sobreviventes proviera da colônia considerada
experimental. Nesta, os animais eram habitualmente mimados e acariciados.
Por outro lado, os animais que apresentavam taxa de mortalidade mais elevada
haviam sido escolhidos do plantel considerado padrão; para esse grupo, o
único contato humano era o que acontecia incidentalmente... esses animais
eram tímidos; apreensivos e altamente sensíveis...”29
Era o toque que estabelecia uma diferença primordial e vital. Sem ele os ratos
morriam, com toques saudáveis os ratos resistiam a situação de risco de morte.
O próprio Montagu, comenta este relato afirmando: “O amistoso manuseio
desses animais pode ser a diferença fundamental entre a vida e a morte após a
remoção de importantes glândulas endócrinas.”30
O amistoso manuseio é um toque terapêutico que teve influências sobre o
organismo, órgãos, energia dos ratos.
Algumas pessoas mais críticas dirão ou perguntarão: o que tem a ver ratos
com humanos? Contudo, a obra citada deixa claro que o toque é necessário e
29
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 37.
30
Idem. Pág. 38.
vital em filhotes mamíferos. Somos mamíferos e necessitamos do toque como
os outros animais para viver. E para não deixar dúvidas veja o que Montagu
afirma: “Na realidade, quanto mais sabemos a respeito dos efeitos da
estimulação cutânea, mais descobrimos o quanto é profundamente
significativa para um desenvolvimento saudável. Por exemplo, num dos
primeiros estudos desse tipo, constatou-se que a estimulação cutânea em bebês
recém-nascidos exerce uma influência altamente benéfica sobre seu sistema
imunológico, o que tem importantes consequências para a resistência contra
doenças infecciosas e outras.”31
Ao longo dos anos, como massoterapeuta, percebi que os adultos que recebem
frequentemente a massoterapia e o toque ficam menos gripados e resfriados.
Nos últimos 5 anos trabalho dentro de uma grande empresa multinacional,
constatei que os sintomas do stress permanente que os funcionários são
submetidos não se manifestam naqueles que são constantemente massageados.
Quero dizer que aqueles que recebem massoterapia estão menos sujeitos a
vários tipos de problemas de saúde.

EXPRESSÕES COTIDIANAS E A PELE


A pele possui uma importância vital. Porém, é uma pena que a estimulamos
pouco ou quase nada. As expressões cotidianas utilizadas pelas pessoas
ressaltam e destacam a importância da linguagem táctil e do toque. Vamos
para algumas expressões utilizadas:
 Ao insensível, aplicamos nele o adjetivo duro, frio e empedernido
que do latin = callun = pele dura.
 “As palavras que descrevem a insensibilidade emocional e a
calosidade da epiderme (última camada de pele, a camada mais
externa), derivam ambas da mesma raiz. Falamos que alguém ficou
tão calejado que terminou por insensibilizar-se diante das questões
humanas.”32
 Agarrados, tocados nos sentimos mais seguros;
 Compreender algo é pegar direito o assunto;
 De mãos atadas ficamos em algumas situações;
 Quando sentimos muito afeto para com uma pessoa para demonstrar
este afeto a apertamos contra o peito;
 Buscar algo no escuro, é algo tateado;
 Quando estamos às cegas tateamos uma saída;

31
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 43.
32
Idem. Pág. 28.
 Se estamos longe da realidade é porque perdemos o contato com a
realidade.
 Quando estamos ausentes, longe com nossos pensamentos alguém
nos toca, para que voltemos à realidade.
 Para superar as distâncias entre duas pessoas devem estender os
braços, ficam mais próximas.
 Quando temos certeza de algo é quando a temos na ponta dos dedos.
 Lembrar daquela pessoa amorosa, carinhosa e amada faz a pele
arder.
 “O medo leva a pessoa sentir calafrios. Realmente a pele fica
arrepiada, pois se contrai e, quando isso acontece, os pêlos se eriçam
e a pessoa fica de cabelo em pé (reflexo pilomotor).”33
 Sentir as consequências na pele é realmente sofrer.
 Numa luta os perdedores são esfolados vivos, ou seja maltrata-se a
pele.
 Quando queremos repreender alguém damo-lhes uma esfregada.
 Algo bem pessoal, tem um toque pessoal.
 Querendo conscientizar uma pessoa é dar-lhe um toque.
 Para conhecer melhor um indivíduo, entramos em contato.
 As mãos com um toque de fada ou um toque mágico nutre a alma e
cura dores profundas.
 Elogiado é um homem que têm um toque feminino.
 Poucos são os que têm um toque humano.
 Dar um toque para alguém é avisá-lo.
 Contatar determinadas pessoas é duro ou mole, quer dizer é difícil ou
fácil entrar em contato.
 A pessoa sensível precisa ser tocada com luva de pelica.
 Há pessoas que tocamos e são casca grossa.
 Umas peles parecem pele de bebê.
 Há pessoas superficiais, ficam ao nível da pele, há outras que
penetram pele adentro, superam as expectativas, essas nos tocam
profundamente.
 Pense na reação dos intocados e como é difícil lidar com eles.
 Quando algo é possível de ser tocado é uma coisa palpável.
 Há coisas repugnantes ao serem tocadas, como as coisas viscosas,
grudentas e adesivas. Aliás, como alguns que grudam em nós.
 Uma sensação marcante que fica dos outros é belo toque.
33
Ashley Montagu; Tocar : O Significado Humano da Pele; ed. Summus; São Paulo; 1988. Pág. 29
 A primeira impressão é muitas vezes certa, só muda na convivência,
depois do toque.
 Aquela experiência profunda foi tocante e pungente que do latin
pungere significa: picar e tocar.
 Aconchegante é quando nos sentimos protegidos, abraçados e
próximos.
 Quando sentimos prazer ficamos arrepiados, é um toque profundo.
 Quando a pessoa é habilidosa tem tato.
 “Consideremos o seguinte: enquanto sistema sensorial, a pele é, em
grande medida, o sistema de órgãos mais importante do corpo. O ser
humano pode passar sua vida toda cego, surdo e completamente
desprovido dos sentidos do olfato e do paladar, mas não poderá
sobreviver de modo algum sem as funções desempenhadas pela
pele... Jacob Rodriguez Pereire (1715 – 1780), um espanhol que
trabalhou na França por volta da metade do século XVIII e com
grande sucesso demonstrou que os surdo-mudos poderiam ser
ensinados a falar por meio do tato... a estimulação contínua da pele
pelo ambiente externo serve para manter tanto o tônus sensorial
quanto o motor. O cérebro precisa ser realimentado por informações
oriundas da pele, a fim de efetuar os ajustamentos necessários em
resposta aos dados captados. O feedback da pele para o cérebro é
contínuo, mesmo durante o sono.” 34

Como afirmei acima: o toque é uma necessidade biológica. Como afirma


Montagu não vive-se sem toque. Pense na quantidade de toques que você
recebeu hoje. Foram suficientes para estar nutrido, saudável? Quantidade não
é qualidade! Os toques recebidos no teu dia-a-dia são protetores ou são
violentos e ameaçadores? Muitas vezes não somos honestos, em relação as
nossas necessidades corporais. Da qui para frente ao sentir falta de toque
procure-o, seja direto e verbalize sua necessidade. Ao pedir um colo, no
máximo que poderá acontecer é não recebe-lo. Insista ate alguém próximo o
faça sem sarcasmos ou chantagens.
À medida que for sendo tocado, toque mais. Permita que outros sejam
nutridos. Você também será beneficiado.
E para encerrar este item sobre expressões vai uma cativante: nem pensar nos
que não tem tato, seja alguém de muito tato!

TRISTE REALIDADE...

34
Idem. Págs. 34 – 35.
Os estudos científicos relacionados à pele são recentes. A maior parte dos
conhecimentos relacionados à pele são da década de 1940 para cá. Mesmo
assim, os conhecimentos e as pesquisas existentes são sobre a estrutura da
pele, a bioquímica e as funções físicas.
Contudo, os conhecimentos ainda são restritos. A pele merece mais estudos e
abranger o toque e sua linguagem.

UM REVESTIMENTO ESPECIAL
A pele possui multiplas funções e milhões de células. Pouco ou quase
nenhuma importância lhes atribuimos. Pouco nos voltamos para ela. Tocá-la é
uma dificuldade! É mais fácil agredi-la do que dar-lhe um aconchego.
Veja os tratamentos que damos a pele, parecem métodos de tortura. Dá-se
muita importância à aparência sem perceber que a pele reflete o interno. O
olhar também pode estar exclusivamente voltado para o interno. Estar
introspectivo demais também é um desequilíbrio.
O saudável é que a pele seja bem tratada, tocada pelo meio ambiente. Ao
mesmo tempo que a pele é tocada, as informações são conduzidas para o
interno e este responde ao meio, é a manifestação interna via pele.
O equilíbrio está na fluência entre o externo e o interno, dentro e fora.
Sabe quem desempenha um papel importante nesta comunicação? A pele! Ela
está entre estes dois mundos: o interno e o externo. A pele faz a ligação e
permite a comunicação destes dois mundos. A pele demarca estes dois
mundos: da pele para dentro é o ser, da pele para fora é o mundo. Ainda mais,
a pele bem tocada equilibra e harmoniza, vitaliza a energia interna.

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