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Resumo: Trata-se de uma discussão descritiva a respeito do Compliance, sua definição, relação com as normas
internacionais e leading cases. Para isto tematiza-se a evolução histórica do Compliance no mundo; a evolução do
Compliance no Brasil, incluindo sua abrangência na área do Direito do Trabalho e por fim estuda o Compliance e a
aplicação de normas internacionais. Enfim, a título de conclusão mostram-se as implicações e finalidade do
Compliance.
Abstract: It is a descriptive discussion about Compliance, its definition, relation with international norms and
leading cases. For this, the historial evolution of Compliance in the world is thematic; the evolution of Compliance in
Brazil, including its scope in the area of Labor Law and finally study compliance and the application of international
standards. Finally, by way of conclusion, the implications and purpose of the Compliance are shown.
I.
Introdução – Evolução Histórica e Conceitos.
Trabalho e Processo do Trabalho pela Rede de Ensino Uniderp e em Direito Público pela Escola Superior da
Magistratura Federal do Rio Grande do Sul.Possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007).
4 “cronologicamente são: a criação do Interstate Commerce Comission (ICC), um organismo regulador
administrativo federal nos EUA, criado pelo Interstate Commerce Act de 1887 e identificado como ponto de partida
dos transportes; o Movimento Progressita de 1890-1920, período da história americana que demonstrou uma
preocupação com a eliminação da corrupção e eficiência governamental, servindo como exemplos desse período
a publicação do Pure Food and Drug Act (1906), do Federal Reserve Act (1913), e do Clayton Anti-Trust Law
(1914); a era marcada pela Depressão e o New Deal dos anos de 1930, com o colapso do mercado financeiro e a
sua crise econômica, a qual implicou em reformas fundamentais no sistema financeiro. Entre outras leis
importantes que emergiram desse período, cita-se o “The Banking Act of 1933” e o The Securities Acts de 1933 e
1934”.
De acordo com a Rosana Jobim, cronologicamente os apontamentos históricos do
surgimento do Compliance ocorreram gradativamente no âmbito nacional e internacional da
seguinte forma:
5
“O contexto histórico em que surgiu a lei gira em torno do escândalo de Watergate, no qual a administração do
37º do Presidente dos EUA, Richard Nixon, restou marcada por atividades clandestinas e ilegais. (..) Isto
provocou um movimento que evoluiu para uma ‘revolução do Compliance’, na virada do século XXI, alterando
fundamentalmente os parâmetros de ação corporativa”.
2
risco de crédito. Em 1996, o Comitê publicou uma emenda ao Acordo de 88,
incorporando ao capital exigido cobertura dos riscos de mercado (Emenda de
96).
• 1994-1995: Escândalos corporativos no Brasil, como do caso Papa-Tudo,
administrado pela corretora Interunion; o Caso Nacional relativo à fraude do
banco;
• 1996: Convenção Interamericana contra a Corrupção (Convenção da OEA),
ratificada pelo Brasil em 2002;
• 1997: Convenção sobre o Combate à Corrupção de funcionários públicos
estrangeiros em transações comerciais internacionais (Convenção da OCDE),
ratificada pelo Brasil em 2000.
• 1998: Promulgação no Brasil da lei 9.613/1998 a respeito do crime de lavagem
de dinheiro ou ocultação de bens, e da Resolução nº 2.554 do Conselho
Monetário Nacional, do mesmo ano que dispõe sobre a implementação e
implantação do Sistema de Controles Internos, legislações marcadas pelo
estabelecimento dos “deveres de compliance” e pela criação de sistemas
internos preventivos à prática corruptiva, lavagem de dinheiro e outras condutas
que colocam ou possam colocar em risco a integridade do sistema financeiro.
• 2000: Escândalos corporativos envolvendo as empresas Enron – umas das
maiores companhias americanas de energia -, WordCom, Global Crossing and
Adelphia, tem-se a promulgação da Sarbanes-Oxley Act de 2002 (SOX), uma
das mais importantes leis de governança e compliance na história americana;
• 2003: Convenção Contra a Corrupção (CNUCC), adota pela Resolução das
Nações Unidas nº 58/4, de 31 de outubro de 2003;
• 2004: O BCBS (Basel Committee on Banking) divulgou revisão do Acordo de
Capital da Basileia, conhecida como Basileia II, com o objetivo de buscar uma
medida mais precisa dos riscos incorridos pelos bancos internacionalmente
ativos. Essa versão, juntamente com as anteriores de 1988 e 1996 e alguns itens
adicionais sobre risco de mercado e de crédito, foi compilada e publicada em
2006 como uma Comprehensive Version.
• 2007-2009: “bolha no mercado financeiro”, o que gerou uma preocupação com o
gerenciamento, regulamentação e monitoramento do sistema financeiro como um
todo;
• 2010: Escândalo no Brasil, do caso Banco Panamericano, onde houve fraude na
contabilidade;
3
• 2012: Lei de Lavagem de capitais, conhecida como “Lei Anticorrupção”
12.683/2012 no Brasil que alterou a lei 9.613/1998, tornando mais eficiente à
persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro e criou o Conselho de
Atividades financeiras;
• 2013: Promulgação da Lei Anticorrupção ou Lei da Empresa Limpa n°
12.846/2013, no Brasil, com previsão de responsabilidade objetiva das pessoas
jurídicas envolvidas, conforme previsto no artigo 186 e 932, III, do Código Civil e
Súmula 341 do STF.
• 2014: Deflagração da operação lava jato no Brasil, com a responsabilização
administrativa e judicial de várias empresas.
• 2015: Resolução da ONU, acerca dos” Objetivos de Desenvolvimento
Sustentáveis”, com 17 objetivos e 169 metas, com o título: “Transformar Nosso
Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, destinado a todas
as pessoas do planeta, incluindo empresas no âmbito nacional e internacional;
• 2015: Decreto lei nº 8.420/2015 que regulamentou a lei 12.846/2013, no Brasil.
• 2016: Resolução CMN no 4.539/16, no Brasil que consiste na regulamentação
exigindo que as Instituições Financeiras implementem política que garanta a
manutenção da transparência, responsabilidade e diligência na oferta e venda de
produtos e serviços a seus consumidores;
• 2017:Mais recentemente, no Brasil foram divulgadas a Resolução CMN no
4.595/17 e a Circular Bacen no 3.865/17 exigindo que Instituições Financeiras,
Administradoras de Consórcio e Instituições de Pagamento implementem Política
de Compliance (Conformidade).
Após a indicação dos acontecimentos históricos descritos acima podemos avançar
para o conceito de Compliance. De acordo com Tomaz (2018, p. 25), a abordagem etimológica
do termo Compliance é a seguinte:
A origem do termo compliance ao verbo inglês to comply que significa, basicamente, agir
de acordo com um comando ou uma regra, obediência a uma ação determinada.
Segundo o Dicionário Inglês Oxford o verbo to comply deriva de termos utilizados no final
do século XVI como do italiano complire, catalão complir, espanhol cumplir, do latim
complere ‘encher, atender’, mais tarde tomando sentido de cumprir os resquisitos de
cortesia, obedecer.
Para Giovanni (2014, p. 20), o conceito de Compliance vai além do escopo da
legislação e esclarece:
Um estar em consonância com as legislações e regulamentos internos e externos das
organizações. Extrapola, portanto, o simples acolhimento da legislação e tem por
objetivo em atuar de acordo com os princípios da empresa, com ética, moral,
honestidade e transparência, não só na condução dos negócios, mas também na atitude
de todas as pessoas envolvidas, revelando um comportamento empresarial responsável.
4
A Federação Brasileira de Banco – Febraban (Guia Compliance, 2018)6, define o
Compliance como uma atividade também consultiva, vejamos:
Compliance transcende a ideia de “estar em conformidade” às leis, regulamentações e
autorregulamentações, abrangendo aspectos de governança, conduta, transparência e
temas como ética e integridade. Além da atuação preventiva e detectiva, Compliance
cada vez mais tem se tornado uma atividade também consultiva, dando suporte aos
objetivos estratégicos e fazendo parte da missão, visão, valores, cultura e gerenciamento
de riscos das Instituições.
6
Disponível em:
<https://cmsportal.febraban.org.br/Arquivos/documentos/PDF/febraban_manual_compliance_2018_2web.pdf>
7
Sônia Mascaro Nascimento. Desembargadora do TRT2. Disponível em:
http://www.mascaro.com.br/noticia/noticias_site/lei_anticorrupcao_sob_a_otica_do_compliance_trabalhista__artigo
_de_sonia_mascaro_nascimento_no_site_do_juseconomico.html
8
Mestre em Direito do Trabalho na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especializada em Direito do
Trabalho e Processo do Trabalho pela Rede de Ensino Uniderp e em Direito Público pela Escola Superior da
Magistratura Federal do Rio Grande do Sul.Possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007).
5
surge como uma resposta às práticas negociais antiéticas baseada na criação de normas
que visam impedir ou minimizar as consequências econômico-sociais desta prática. Para
compreender o sentido diacrônico do compliance, faz-se imprescindível a análise dos
fatos econômicos sociais que originaram o seu novo significado.9
Neste sentindo o Compliance trabalhista pode ser entendido como um conjunto de controles e
diretrizes internas, bem como de outras normas e procedimentos que devem ser observadas
pelas empresas que atuam com trabalhadores, no sentindo mais amplo da prestação de
serviço, com a finalidade de prevenção ao descumprimento de leis trabalhistas, tais como
outros descumprimentos de outras normas na esfera administrativa ou legal que podem gerar
punições na esfera cível e no âmbito da justiça penal. O Compliance trabalhista surgiu no
período posterior a edição a Lei Anticorrupção, porém mesmo sem normas específicas, os
programas são orientados pela Legislação Trabalhista e Normas Regulamentadoras do
Ministério do Trabalho. O Tribunal Superior do Trabalho (TST, 2019)10, na pesquisa de
assuntos mais recorrentes aponta que no ano de 2019, mais precisamente até fevereiro de
2019, o nº 1 no ranking são processos envolvendo pedidos de horas extras, em que constam
6.821 ações trabalhistas, o que demonstra que o descumprimentos das normas trabalhistas é
uma realidade, no Brasil.
Não obstante a imperiosa necessidade de controles internos é importante ressaltar
que o Poder Diretivo e Fiscalizatório do Empregador também tem limites. Os instrumentos do
Empregador para realizar a fiscalização do cumprimento dos controles internos são diversos e
contam com recursos tecnológicos, tais como: câmeras de filmagem, rastreadores em veículos,
inspeção de correios eletrônicos. Outras formas de inspeção são de ordem clínica, como
exames de gravidez, toxicológicos, etc. Esse poder de controle do empregador tem respaldo
legal no direito de propriedade, juntamente com a sua função social, artigo 5º, caput, XXIII, da
CR/88. Quando se trata de Compliance, o controle é feito por meios de Canais de ética e ou
Canais de Denúncias (JOBIM, 2018, p.66), que pode ser feita de forma interna, quando a
denúncia é feita para um canal interno da empresa; e pode ser feita de forma externa, quando
são utilizados canais que não pertencem a empresa. O empregado por sua vez tem garantias
fundamentais inerentes à sua pessoa, uma dela é a preservação dignidade da pessoa humana.
É direito do empregado ter acesso à informação, artigo 5º, inciso XVI, da CR/88; o direito à
6
intimidade, artigo 5º, incisos X e XII da CR/88; direito ao contraditório e à ampla defesa,
previsto no artigo 5º, inciso LV, da CR/88.
Salles (2017, página 100), após tecer comentários acerca do conceito de
Compliance, aponta duas subdivisões que caracterizam o procedimento:
O compliance pode ser dividido em dois campos de atuação: um, de ordem subjetiva,
que compreende regulamentos internos, como a implementação de boas práticas dentro
e fora da empresa e a aplicação de mecanismos em conformidade com a legislação
pertinente à sua área de atuação, visando prevenir ou minimizar riscos, práticas ilícitas e
a melhoria de seu relacionamento com clientes e fornecedores. O outro campo de
atuação é de ordem objetiva, obrigado por lei, como é o caso da Lei de Lavagem de
Dinheiro.
Salles ainda adverte que o Compliance subjetivo possui característica ético-legal, sendo
facultativa a adoção pela empresa, e, no âmbito objetivo, por derivar de legislação estatal,
detém caráter obrigatório. Nesse panorama, o Compliance, segundo descrição de Salles (2017,
página 99-100, apud VALENTE), implica a responsabilização em três esferas:
Em termos gerais, o compliance abarca as seguintes responsabilidades jurídicas: (i) no
direito privado, por danos provocados em nível extracontratual, como ocorre no direito
civil, ou pelo descumprimento contratual, com a incidência de 34 Valuation poder ser
compreendido como o conjunto de elementos econômicos que compõem o valor (justo)
da empresa. 100 sanções indenizatórias preestabelecidas; (ii) no direito administrativo,
pelo descumprimento de normas legais e regulamentares, sobrepondo-se a função
administrativa sancionadora; e (iii) no Direito Penal, pela prática de infrações penais
legalmente reconhecidas (VALENTE, 2015, p. 138)11.
Verissimo (2017, página 91) lembra os objetivos do Compliance, destacando seu caráter
preventivo e sancionatório:
O compliance tem objetivos tanto preventivos como reativos. Visa a prevenção de
infrações legais em geral assim como a prevenção dos riscos legais e reputacionais aos
quais a empresa está sujeita, na hipótese de que essas infrações se concretizem. Além
disso, impõe à empresa o dever de apurar as condutas ilícitas em geral, assim como as
que violam as normas da empresa, além de adotar medidas corretivas e entregar os
resultados de investigações internas às autoridades, quando for o caso.
11VALENTE, Victor Augusto Estevam. Direito penal de empresa e criminalidade econômica organizada:
responsabilidade penal das pessoas jurídicas e de seus representantes face aos crimes corporativos. Curitiba:
Juruá, 2015.
7
II.
Compliance no Brasil
O direito positivo brasileiro, especialmente por meio da Lei n. 9.613/1998, instituiu mecânicos
de controle ou Compliance objetivo, estabelecendo obrigações para empresas, no sentido de
colaborar com as investigações de lavagem de dinheiro “[...] e de criar sistemas de controle
internos que previnam as práticas de corrupção, de lavagem de dinheiro e outras condutas que
possam colocar em risco a integridade do sistema financeiro [...]” (SAAVEDRA, 2014, página
169). Segundo Saavedra (2014, página 174), com o advento da Lei n.12.683/2012, que alterou
a Lei n. 9.613/1998, foram alterou os artigos 10 e 11, para estabelecer a obrigação da adoção,
pelas empresas, de sistema de controles internos visando aumentar os sistemas de controle:
“Art. 10. .................................................................................
........................................................................................................
III - deverão adotar políticas, procedimentos e controles internos, compatíveis com seu
porte e volume de operações, que lhes permitam atender ao disposto neste artigo e no
art. 11, na forma disciplinada pelos órgãos competentes;
IV - deverão cadastrar-se e manter seu cadastro atualizado no órgão regulador ou
fiscalizador e, na falta deste, no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),
na forma e condições por eles estabelecidas;
V - deverão atender às requisições formuladas pelo Coaf na periodicidade, forma e
condições por ele estabelecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos da lei, o sigilo das
informações prestadas.
.............................................................................................” (NR)
“Art. 11. .................................................................................
........................................................................................................
II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa,
inclusive àquela à qual se refira a informação, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a
proposta ou realização:
a) de todas as transações referidas no inciso II do art. 10, acompanhadas da
identificação de que trata o inciso I do mencionado artigo; e
b) das operações referidas no inciso I;
8
III - deverão comunicar ao órgão regulador ou fiscalizador da sua atividade ou, na sua
falta, ao Coaf, na periodicidade, forma e condições por eles estabelecidas, a não
ocorrência de propostas, transações ou operações passíveis de serem comunicadas nos
termos do inciso II.
12
TIEDEMANN, Klaus. Corporate criminal liability as a third track. In: BRODOWSKI, D. et. al. Regulating corporate
criminal liability. Cham: Springer, 2014.
9
III.
Compliance e Normas Internacionais
IV.
Compliance e a Jurisprudência dos Tribunais Superiores e Estaduais, leading
cases
Leading case n° 1:
EMENTA: PROGRAMA DE COMPLIANCE. MONITORAMENTO DA
CONTA CORRENTE DO EMPREGADO. VIOLAÇÃO AO ART. 5º,
INCISO X, DA CF/88. A adoção de programa de compliance, pelo
empregador, não institui, em seu beneplácito, carta branca que autorize
o monitoramento diuturno da vida bancária/financeira - do empregado e
auditoria em sua conta bancária. As instituições bancárias ou
financeiras devem adotar medidas que lhes permitam o controle das
operações bancárias e financeiras. No entanto, estas medidas devem
observar os limites e alcances da norma que instituiu esse tipo de
monitoramento, tendo em vista os fins nelas também previstos. As
empresas que praticam esse método de gestão devem cuidar de
estabelecer os critérios ou parâmetros do programa de compliance de
modo a preservar a intimidade e a vida privada do empregado, tal
como assegurado pela CF, no art. 5º, inciso X. Não se pode olvidar que
a subordinação do trabalhador ao empregador é jurídica, vale dizer,
nos estritos limites e contornos da lei (e aqui se incluem não só as
cláusulas contratuais como também todo universo de normas ou
regulamentos atinentes à regulação da relação jurídica empregado-
empregador). Logo, no caso de adoção de programa de compliance,
como um verdadeiro código de conduta e procedimentos no âmbito
empresarial, e como tal, com roupagem de norma contratual, impõe-se
a observação dos limites constitucionais e legais de proteção à
privacidade da pessoa. Sendo o empregador quem detém o poder de
comando da relação de emprego, a ele compete comprovar a
observação da legalidade, sem a qual se conclui pela abusividade inata
da conduta. O abuso decorre, natural e consequentemente, da
ausência de comprovação da legalidade, e não o pensamento reverso:
presume-se legal, se não se comprovou o abuso. Uma coisa é manter
o registro permanente das operações realizadas (por todo e qualquer
correntistas); outra é monitorar, diuturnamente, as movimentações
financeiras do empregado, inclusive impondo-lhe restrições nas
operações bancárias e até pessoais, em evidente sistema de auditoria
permanente sobre a vida privada (bancária e financeira) do trabalhador.
Nem mesmo na LC 105/2001 observa-se tão amplo poder de quebra
de sigilo bancário, que se obtém, pelo critério legal, mediante
autorização judicial, caso presentes indícios e circunstâncias que
recomendem ou imponham a derrocada da proteção de que trata o art.
5º, inciso X, da CF. (TRT 3ª Região. RO 02230-2014.008.03.00.1. Data
de Publicação:01/07/2016. Órgão Julgador:Primeira
11
TurmaRelator:Emerson Jose Alves Lage; Revisor:Jose Eduardo
Resende Chaves Jr.).
Leading case nº 2:
Leading Case nº 3:
Leading Case nº 4:
Nota: Repositório autorizado do STF nº 41/2009, do STJ nº
67/2008 e do TST nº 35/2009
68144034 - PROCESSUAL PENAL. EXCEÇÃO DE
SUSPEIÇÃO CRIMINAL. "OPERAÇÃO LAVA-JATO".
PARTICIPAÇÃO DO JUÍZO EM EVENTOS ACADÊMICOS OU
INFORMATIVOS. MANIFESTAÇÕES SEM ÍNDOLE PROCESSUAL.
QUEBRA DE IMPARCIALIDADE NÃO CARACTERIZADA.
INEXISTÊNCIA DE ANTECIPAÇÃO OU INTERESSE NA CAUSA. 1.
12
As hipóteses de impedimento e suspeição descritas nos arts.
252 e 254 do Código de Processo Penal constituem um rol exaustivo.
Precedentes do Tribunal e do STF. 2. Regras de titularização e
afastamento do magistrado são precisas e não admitem a integração
de conteúdo pelo intérprete, impedindo, assim, que juízes sejam
erroneamente mantidos ou afastados. O rol do art. 254, do CPP,
constitui numerus clausus, e não numerus apertus, sendo taxativas
as hipóteses de suspeição. Precedentes desta Corte e do STF. 3.
Eventuais manifestações do magistrado em textos jurídicos ou
palestras de natureza acadêmica, informativa ou cerimonial a
respeito de crimes de corrupção, não conduz à sua suspeição para
julgar os processos relacionados à Operação Lava-Jato. 4. A regra
de afastamento do art. 254, IV do Código de Processo Penal tem
natureza técnica-processual, não abrangendo manifestações do
magistrado externas e de caráter abstrato relativamente a crimes de
corrupção, medidas de compliance a serem adotadas no âmbito
administrativo e sem qualquer referência específica ao processo. 5. A
participação do excepto em eventos promovidos por entidades não
governamentais, mesmo com a presença de autoridades políticas,
não ganha contornos partidários ou revela antagonismo político do
excepto com relação ao excipiente, pois eventos com a presença de
políticos não se transformam em políticos partidários. 6. Exceção de
suspeição a que se nega provimento. (TRF4ª R.; EXSUSP 5021192-
71.2018.4.04.7000; PR; Oitava Turma; Rel. Des. Fed. João Pedro
Gebran Neto; Julg. 04/07/2018; DEJF 06/07/2018).
Leading Case nº 5:
88541406 - REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. Rescisão promovida
pela empresa representada. Sentença de procedência em parte,
condenando a parte ré ao pagamento de comissão referente ao
cumprimento integral de um dos contratos, sem considerar os
aditivos posteriores, e ao pagamento das diferenças de comissão,
nos termos originalmente pactuados em relação a outro contrato,
afastando a redução do percentual de comissão. Irresignação de
ambas as partes. Cabimento em parte apenas do recurso da parte ré.
Conduta do sócio da representante comercial, que se envolveu em
casos de corrupção e celebrou acordo de colaboração premiada com
o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava-Jato, que
afetou a imagem da empresa representada, alterando a classificação
desta no sistema de compliance da Petrobrás, e impedindo a priori a
sua participação nos processos licitatórios desta. Caracterizado o
descumprimento do contrato por afronta ao Código de Ética
integrante da relação contratual. Justo motivo para a rescisão do
contrato por parte da empresa representada caracterizado. Art. 35, b
e c da Lei nº 4.886/65. Hipótese, contudo, que não afasta a obrigação
em relação aos valores devidos a título de comissão pelos serviços já
realizados. Contrato de Frame Agreement que foi integralmente
cumprido, conforme provas que constam dos autos. Comissão devida
ao representante sobre as vendas efetuadas mesmo depois da
rescisão do contrato de representação, posto que feitas ainda em
razão do contrato celebrado pela empresa autora na condição de
representante da ré. Indevida, porém, qualquer remuneração em
decorrência de negociações posteriores, sem a atuação da autora,
relativamente aos aditivos celebrados ao contrato original.
Concordância da parte autora com a redução do percentual das
comissões que receberia pelo Projeto Golfinho que restou provada.
Condenação ao pagamento da diferença de comissão. De 2% para
4%. Afastada. Honorários advocatícios de ambas as partes
majorados para o importe de 12%, mantidos os parâmetros fixados
pelo Juízo de origem. Incidência da norma prevista no artigo 85, §11,
do CPC. Recurso da autora não provido e recurso da ré provido em
parte. (TJSP; APL 1076339-18.2016.8.26.0100; Ac. 12165131; São
Paulo; Vigésima Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Walter
13
Leading Case nº 7:
Magister: Repositório autorizado do STF nº 41/2009, do STJ nº
67/2008 e do TST nº 35/2009.
Leading Case nº 6:
17429914 - PROGRAMA DE COMPLIANCE. MONITORAMENTO
DA CONTA CORRENTE DO EMPREGADO. VIOLAÇÃO AO ART.
5º, INCISO X, DA CF/88. A adoção de programa de compliance, pelo
empregador, não institui, em seu beneplácito, carta branca que
autorize o monitoramento diuturno da vida bancária/financeira. do
empregado e auditoria em sua conta bancária. As instituições
bancárias ou financeiras devem adotar medidas que lhes permitam o
controle das operações bancárias e financeiras. No entanto, estas
medidas devem observar os limites e alcances da norma que instituiu
esse tipo de monitoramento, tendo em vista os fins nelas também
previstos. As empresas que praticam esse método de gestão devem
cuidar de estabelecer os critérios ou parâmetros do programa
de compliance de modo a preservar a intimidade e a vida privada do
empregado, tal como assegurado pela CF, no art. 5º, inciso X. Não
se pode olvidar que a subordinação do trabalhador ao empregador é
jurídica, vale dizer, nos estritos limites e contornos da Lei (e aqui se
incluem não só as cláusulas contratuais como também todo universo
de normas ou regulamentos atinentes à regulação da relação jurídica
empregado-empregador). Logo, no caso de adoção de programa
de compliance, como um verdadeiro código de conduta e
procedimentos no âmbito empresarial, e como tal, com roupagem de
norma contratual, impõe-se a observação dos limites constitucionais
e legais de proteção à privacidade da pessoa. Sendo o empregador
quem detém o poder de comando da relação de emprego, a ele
compete comprovar a observação da legalidade, sem a qual se
conclui pela abusividade inata da conduta. O abuso decorre, natural
e conseqüentemente, da ausência de comprovação da legalidade, e
não o pensamento reverso: presume-se legal, se não se comprovou
o abuso. Uma coisa é manter o registro permanente das operações
realizadas (por todo e qualquer correntistas); outra é monitorar,
diuturnamente, as movimentações financeiras do empregado,
inclusive impondo-lhe restrições nas operações bancárias e até
pessoais, em evidente sistema de auditoria permanente sobre a vida
privada (bancária e financeira) do trabalhador. Nem mesmo na LC
105/2001 observa-se tão amplo poder de quebra de sigilo bancário,
que se obtém, pelo critério legal, mediante autorização judicial, caso
presentes indícios e circunstâncias que recomendem ou imponham a
derrocada da proteção de que trata o art. 5º, inciso X, da
CF. (TRT3ª R.; RO 0002230-94.2014.5.03.0008; Rel. Des. Emerson
José Alves Lage; DJEMG 01/07/2016).
Leading Case nº 8:
62403698 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEMANDA PELO
PROCEDIMENTO COMUM. PEDIDO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER. Decisão que concede parcialmente tutela de urgência.
PETROBRAS. Licitação. Modalidade de convite. Atual prestadora do
serviço. Alegação de que novo procedimento licitatório constituiria
burla. A autora, ora agravada, ingressou com a demanda originária
sob alegação de que, muito embora seja a atual prestadora de
serviços de vigilância armada e desarmada nas unidades da ré na
bacia de campos, não foi convidada a participar de processo licitatório
para a renovação das atividades desempenhadas. A ré cancelou o
procedimento combatido e iniciou novo certame, mais abrangente,
14
novamente sem viabilizar a participação da autora. A decisão
recorrida deferiu tutela de urgência a fim de suspender os efeitos do
novo procedimento licitatório, sob fundamento de que a renovação do
certame implicaria em burla ao anterior. Com efeito, os procedimentos
licitatórios da PETROBRAS devem observar os ditames da Lei nº
13.303/2016 (Lei das estatais), eis que seu artigo 96, inciso II,
revogou expressamente as remissões legais ao Decreto nº
2.745/1998. Nesse passo, o artigo 31 da referida norma destaca a
necessidade de observância dos princípios administrativos, sobretudo
publicidade e impessoalidade, a fim de ser assegurada a proposta
mais vantajosa em julgamento objetivo, evitadas operações em que
se caracterize sobrepreço ou superfaturamento. No caso concreto,
todavia, há comprovação de que todos os licitantes foram
cientificados do cancelamento da licitação inicial, sendo certo que o
novo procedimento envolve um maior número de concorrentes, com
área de atuação mais abrangente, a caracterizar objetos distintos. Os
quais, inclusive, extrapolam os limites da lide. Note-se que além da
necessidade de observância à publicidade e impessoalidade, há que
ser igualmente resguardada a moralidade administrativa. Nesse
contexto, está descaracterizada a plausibilidade do direito diante da
demonstração de que a exclusão da autora está fundada em
elementos objetivos de compliance, especificamente pelo fato de o
grupo empresarial da autora estar diretamente envolvido nas
investigações da operação lava jato, cujas irregularidades implicaram
em ser considerada como elevado grau de risco. Reforma que se
impõe, para revogar a liminar concedida pelo juízo a quo. Recurso
conhecido e provido. (TJRJ; AI 0012786-47.2018.8.19.0000; Rio de
Janeiro; Décima Quinta Câmara Cível; Relª Desª Maria Regina
Fonseca Nova Alves; Julg. 17/07/2018; DORJ 18/07/2018; Pág. 268)
Leading Case nº 9:
46176518 - RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
DISCUSSÃO SOBRE A NECESSIDADE DE CAUÇÃO PARA
SUSTAÇÃO DE PROTESTO. HIPÓTESE EXCEPCIONAL.
IMPUTAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CORRUPÇÃO PRIVADA
PARA OBTENÇÃO DE CONTRATOS, CUJA RESCISÃO PLEITEIA-
SE COM BASE INFRINGÊNCIA DE CLÁUSULA DE COMPLIANCE.
DESNECESSIDADE DE CAUÇÃO. AGRAVO PROVIDO. 1. Na ação
ordinária, a Agravada pleiteou a rescisão de contratos que
alegadamente foram obtidos por meio de suborno a alguns dos seus
funcionários. A causa de pedir foi a infração a cláusula
de compliance, que obriga a adoção de comportamento empresarial
ético e estava presente em todos os contratos firmados. Foram
cumulados pedidos indenizatórios pelos danos sofridos; 2. O juízo a
quo deferiu medida liminar para obrigar que a Agravada abstenha-se
de protestar títulos contra a Agravada, mas condicionou a eficácia da
medida à prestação de caução em dinheiro; 3. Apesar da
necessidade de caução ser a regra geral para deferimento da
sustação de protesto, a decisão agravada contraria o precedente do
STJ que fixou tese sobre a matéria em sede de recursos repetitivos.
No voto condutor, foi consignado expressamente que é certo que, em
todo caso, o excepcional deferimento da medida sem contracautela
(resguardo dos interesses do credor) deverá ser devidamente
fundamentado pelo juiz (RESP 1.340.236 - SP); 4. Decisão agravada
reformada para, reconhecendo a situação excepcional, afastar a
necessidade de caução para que tenha efeito a sustação dos
protestos. 5. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E
PROVIDO. (TJBA; AI 0004364-10.2017.8.05.0000; Salvador; Quinta
Câmara Cível; Relª Desª Carmem Lucia Santos Pinheiro; Julg.
05/09/2017; DJBA 12/09/2017; Pág. 409).
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28252097 - DIREITO ADMINISTRATIVO. Polícia do trabalho.
Inclusão de empregador em lista suja de trabalho escravo.
Portaria interministerial mtps/mmirdh nº 4/2016. Tendo sido
comprovado que a inclusão da empresa no cadastro de
empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições
análogas à de escravo observou todas as exigências fixadas na
portaria interministerial nº4/2016, que regula a matéria, e inexistindo
prova de que a empregadora se enquadra em qualquer situação
prevista pela portaria que autorize a não inclusão em tal cadastro,
não há motivo para se determinar a exclusão requerida. Sentença
mantida. Recurso conhecido e desprovido. (TRT 10ª R.; RO 0000710-
86.2018.5.10.0001; Terceira Turma; Rel. Juiz Antônio Umberto de
Souza Júnior; Julg. 06/02/2019; DEJTDF 08/02/2019; Pág. 373)
85335334 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 E ANTERIOR À
LEI Nº 13.467/2017. AÇÃO INIBITÓRIA. CADASTRO DE
EMPREGADORES QUE TENHAM MANTIDO TRABALHADORES
EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. PORTARIA Nº
540/2004 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO. Trata- se de ação
inibitória em que a Parte pretende afastar os efeitos da Portaria nº
540/2004 do Ministério do Trabalho e da Portaria Ministerial nº
02/2011, por considera-las inconstitucionais e ilegais, e, assim, obstar
a inclusão de seu nome no cadastro de empregadores que mantêm
trabalhadores em condições análogas à de escravo. Contudo, no
caso concreto, obstar a inclusão do nome da Parte no cadastro de
empregadores, pela prática de condutas extremamente lesivas da
empresa em relação aos seus trabalhadores, em condições análogas
às de trabalho escravo, equivale a negar exigibilidade e eficácia à
Portaria nº 540/2004, bem como a contrariar os princípios basilares
da Constituição, mormente aqueles que dizem respeito à proteção da
dignidade humana e da valorização do trabalho humano (art. 1º, III e
IV, da CR/88). Agravo de instrumento desprovido. (TST; AIRR
0050021-47.2014.5.23.0026; Terceira Turma; Rel. Min. Mauricio
Godinho Delgado; DEJT 09/03/2018; Pág. 1389)
V.
Conclusão
Referências Bibliográficas
BORSATTO, Alana; SILVA, Rita Daniela Leite da. Compliance e a Relação de Emprego. In.
ANDRADE, Everaldo Gaspar Lopes de; CARVALHO NETO, Frederico da Costa; SCHWARZ,
Rodrigo Garcia (coord). Direito do Trabalho e meio ambiente do Trabalho. Florianópolis:
CONPEDI, 2015, p. 290.
BRASIL. Controladoria Geral da União. Instrução Normativa Conjunta CRG - OGU nº 01, de
24 de junho de 2014. CGU. Especificar o que você consultou. Disponível em: <
https://www.cgu.gov.br/sobre/legislacao/instrucoes-normativas >. Acessado em 29.03.2019.
GIOVANNI, Wagner. Compliance: a excelência na prática. São Paulo: Atlas, 2014, p. 20.
SAAD-DINIZ, Eduardo; SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Compliance, Direito Penal e Lei
anticorrupção. São Paulo. Saraiva, 2015, p.305.
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