Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
blog.clippingcacd.com.br/cacd/o-principio-da-especificidade-e-as-aulas-para-o-cacd
4 de março de
2020
Marcílio Falcão
Estudar de forma autodidata ou fazer cursinho para o CACD? Ou seguir uma estratégia
intermediária entre o autodidatismo e as videoaulas? O Clipping convidou para falar sobre o
tema Marcílio Falcão, também conhecido por seus discípulos como [Tio Falcão]. Especialista
em aprendizado acelerado, Marcílio foi aprovado no CACD 2007 com uma estratégia 100%
autodidata. Sua opção pelo autodidatismo vale para todos? O tema é tabu, sobretudo para
cursinhos… Esse corajoso artigo, que o Clipping tem a honra de apresentar, desafia consensos
e amplia o debate sobre as diferentes formas que pode assumir uma preparação sólida para
o CACD. Preparação essa que, na nossa perspectiva, deve ser democrática e acessível,
possibilitando a todos – independente do tempo e do dinheiro que cada um dispõe hoje –
condições para avançar rumo ao Itamaraty – com ou sem cursinho!
1/14
E vamos de Marcílio Falcão! Comentários? Deixe um aí no final do post!
Quando inicia um estudo orientado, o candidato namora, adota e acaba por incorporar,
inconscientemente até, em suas práticas, os princípios epistemológicos relacionados ao
aprendizado que lhe parecem mais coerentes. É a principal razão pela qual me
procuram. Não somente querem saber como passar, mas como fazê-lo o mais
rapidamente possível. Ao mesmo tempo, uma opinião é um ato de arrogância e uma
ofensa em potencial. Para compartilhá-la, temos que pressupor que ela atende a pelo
menos um dos seguintes crivos de pertinência: é original e única e/ou melhor que todas
as outras. Por isso, apresento, sem a vergonha de soar arrogante, mas já sendo, o
melhor de todos os métodos, a saber, o princípio da especificidade.
3/14
— Quanto tempo dura o eterno?
4/14
um podcast ou ver um studygram; 8) Toma banho/fuma um charuto/toma uma
chá/passeia com o cachorro, tentando lembrar do que estudou; 9) Assiste ao Programa
do Bial; 10) Faz exercícios físicos.
As atividades listadas foram ficando cada vez menos específicas até que deixaram de ser
relacionadas à prova. Percebe a gradação? De nada.
Tudo isso, obviamente, ganha força com a proximidade da prova, de acordo com nosso
corolário temporal. O candidato em início de preparação terá, por sua conta e risco, mais
liberdade para jogar com esse arranjo, segundo sua conveniência e preferências
pessoais. Pode até sair ileso se, de vez em quando, começar o dia vendo aula, lendo
notícias ou revisando anotações. Claro que há um preço: o ingresso da zona de conforto
custa caro.
A busca pelo progresso constante compensa mais que a obsessão por metas abstratas.
Com tudo isso, fico bastante incomodado quando deparo com fórmulas rígidas e
genéricas de preparação para concursos públicos — ou para qualquer outra finalidade. É
irresponsável recomendar qualquer método, técnica, tarefa ou atividade de estudos
indiscriminadamente. Devem-se sem considerar o objetivo, as condições específicas em
que o candidato é avaliado e o quanto a atividade contribui no aprimoramento das
macro e micro-habilidades mais importantes para o sucesso do projeto. Mesmo o ato de
6/14
fichar, resumir, fazer mapas mentais, escrever, resolver questões, ver aulas ou até ler
pode não ser o mais recomendado, a depender de sua finalidade. Dar uma aula não é a
melhor forma de se preparar, se o objetivo não for aprender a dar uma aula. Do mesmo
jeito que escrever tampouco será o melhor método, se a escrita não for cobrada. Em
alguns concursos de nível médio, por exemplo, em que não é cobrada a escrita,
simplesmente resolver questões objetivas o dia inteiro pode ser mais do que suficiente
para alcançar um alto nível de competitividade. Não existe melhor método ou técnica em
termos genéricos. Existe a melhor técnica específica, porque tudo se relativiza sob a lupa
da especificidade.
Sometimes a flower is just a flower, and the best thing it can do for us is to die.”
Antes de avançar nos contras (e prós também) do estudo por aulas expositivas, deixo a
ressalva de que as opiniões que formei foram fruto do contato que mantive com
centenas de alunos de diversas carreiras e dos trabalhos que desenvolvi no campo da
autonomia e independência nos estudos, conduzidos em colaboração com dezenas de
outros profissionais da área de preparação para concursos públicos. Confesso, no
entanto, que minha experiência pessoal como candidato teve peso maior, e, por isso,
vou cansá-lo um pouco com um depoimento pessoal.
Desde o ensino fundamental até o curso de formação no Instituto Rio Branco, sempre vi
o fato de não conseguir nem querer ver aula alguma como um defeito meu, como se
fosse algum déficit de atenção ou transtorno de hiperatividade não diagnosticados.
Gosto menos de aulas do que de dançar. Nunca dancei, aliás. Demorei para respeitar
esse traço de minha personalidade. Evitava a todo custo atividades mais passivas, que
não requeriam meu engajamento direto relativamente a outras, em que seria
protagonista. Nunca me empolguei em ver partidas de futebol ou de basquete, esportes
com que já me envolvi em contextos de competição e que praticava rotineiramente por
várias horas seguidas. Nunca consegui parar por mais de uma hora para ouvir música,
nem tenho o hábito de baixá-las. Em meu celular, sequer tenho aplicativo de músicas. No
entanto, toco violão quase diariamente há uns 25 anos. Apenas escuto as músicas que
quero aprender a tocar. Tampouco tenho paciência para passeios em museus, mas
ficava horas de pé fazendo esculturas em argila ou sentado desenhando. Leio menos do
que gostaria, mas escrevo muito, não só por exigência do trabalho, mas por preferência
mesmo. Ler um livro sem tomar anotações jamais fez sentido para mim. Prefiro até
debater um tema ao próprio ato de leitura.
7/14
Esse bloqueio de não conseguir participar das aulas forçou-me a aprender de outras
formas, sobretudo daquelas em que não dependesse de outras pessoas. No fim das
contas, libertei-me daquele impulso do candidato iniciante, cuja primeira pergunta quase
sempre é: “Qual é o melhor cursinho [de aulas expositivas]? Desde o começo, eu sabia que
não faria essa pergunta. Apelo, então, para que não se deixe influenciar (tanto) pelo meu
depoimento e use os insumos apresentados aqui como variáveis de uma equação que
só você pode montar e resolver. Por outro lado, é inegável que o candidato que quer ter
alguma chance de sucesso em um projeto longo e complexo como o CACD terá que ser
autodidata, em muitos sentidos, dadas as particularidades do certame.
Há uma série de pontos polêmicos em relação às aulas. Após listar alguns, apresentarei
as condições em que esse tipo de serviço poderia converter-se em instrumento útil na
preparação para o CACD.
8/14
Um desserviço ao planejamento. Um curso de mil horas quase certamente seria um
desserviço, uma vez que o cumprimento do programa seria uma meta em si, à qual se
subordinaria toda a sua preparação. Isso ocorre quando o candidato delega cegamente
as rédeas de seu projeto a um curso que sequer sabe seu nome e que aplica soluções
generalizadas a problemas específicos. Ter um calendário ou cronograma rígido de aulas
pendentes e acreditar que ele deve ditar seu ritmo de leitura é extremamente prejudicial
à qualidade do conhecimento que você quer construir. Fico triste quando vejo postagens
de candidatos dizendo que “têm que correr atrás das aulas atrasadas”. Mesmo os
planos personalizados devem ser flexíveis e moldáveis às circunstâncias. Não faz sentido
avançar num tema que ficou mal digerido porque uma tabela na parede determina que
o faça. Se você dedica tanto de seu tempo a ver aula, em que momento vai se preparar
para se expressar sobre o que estudou?
Não quero convencer ninguém a abrir mão ou desdenhar das aulas, até em respeito às
dezenas de profissionais que se dedicam à docência com amor, que lhe darão dúzias de
razões para que me mandem ao inferno ou a outros lugares piores. O que me aflige é
que o nosso papel de professor mudou faz tempo, e poucos entenderam isso. Ainda
não conseguimos ajustar nossas práticas aos novos paradigmas de aprendizagem que
vêm tomando o palco desde a quebra do monopólio da informação provocada pela
Internet. Plataformas de comunicação modernas como Wikipedia, Evernote, YouTube,
Google Drive, Orkut, Reddit, Facebook, Instagram, Slack — cada uma cumprindo uma
função específica — colocam em xeque métodos vetustos de construção colaborativa, de
gestão, de transmissão e de organização de conhecimento. A informação, que queria ser
livre, agora já é: a resposta para qualquer problema que alguém já solucionou, tal como
passar no CACD, pode ser garimpada na rede ou está de posse de um bom samaritano
disposto a entregá-la gratuitamente.
Por tudo isso, apresento, como contraponto à seção anterior, algumas características de
um curso em vídeos que poderiam ter me convencido a contratar esse tipo de serviço no
início de minha preparação, observadas algumas condições pessoais…
11/14
O professor é espetacular. Convenhamos que alguns professores são tão geniais e
brilhantes que (quase) nenhum material didático se aproxima da qualidade da
apresentação daqueles profissionais. São as sumidades do mercado, figuras magnéticas.
Há algumas no mercado, e os ceacedistas acabam descobrindo quem são. Esses
profissionais trazem uma perspectiva original e sofisticada, que enriquecerá a
qualidade de seu texto e de sua argumentação, e não se propõem a substituir e competir
com os livros. Não me refiro só à didática, mas também ao papel de curador e
organizador dos estudos. Candidatos aprovados já me confidenciaram que o valor maior
que extraíram das aulas estava mais nas orientações de estudo do que no próprio
conteúdo da apresentação. Mesmo assim, se eu fosse um desses professores
extraordinários, começaria já a escrever e tentaria tornar-me prescindível nos cursos
gravados.
Procurei ater-me unicamente aos serviços de aulas em vídeo, sem abordar outros tipos
de programas, tais como consultoria, orientação, mentoria, tutoria, coaching, correção de
textos, oficinas de tradução, planos de estudos, plataformas de simulados etc., os quais
12/14
também produzem seus melhores efeitos em contextos específicos.
Não apenas tome notas, ou pior, assista passivamente (será que alguém ainda faz
isso?!). Trate de estar apto — ao final da aula, após revisar seus apontamentos — a
recontar, em detalhes, demonstrando capacidade analítica, a história que foi relatada
na aula. Todas as atividades que sucedem a aula devem concorrer para desenvolver
essa competência.
Trate a aula como uma fonte de informação como qualquer outra. Aplique técnicas de
estudo como fichamentos, anotações em estilo Cornell, mapas mentais, resumos e
busque testar sua habilidade de escrever redações sobre a aula que viu. Melhor ainda:
aproveite cada novo fragmento de informação para enriquecer os textos que você já
havia produzido sobre o tema, suas apostilas, lembra? Se viu uma aula sobre Direito
Internacional dos Direitos Humanos, por exemplo, vá ao texto de sua apostila ou
caderno pessoal e complemente-o à luz dos novos conhecimentos adquiridos.
Tome nota das melhores frases, dos pontos polêmicos, de como a visão do professor
entra em conflito ou se alinha com outras fontes de informação. Pergunte-se sempre o
que ficou de mais útil daquela exposição e como você poderia aplicar aquele novo
conhecimento em uma questão de prova. Essa técnica se chama accountability: o
momento em que presta contas para você mesmo do que estudou e, principalmente, do
que aprendeu. Fechar uma sessão de estudos que culmina com uma bateria de
13/14
perguntas de accountability tem um efeito poderoso na busca pelo significado e pela
relevância do conteúdo e, consequentemente, na sua retenção e eventual resgate na
hora da prova.
Por fim, seja seletivo: não saia assistindo a tudo que lhe recomendarem, mesmo que
você tenha pago por aquilo. Não faz sentido perder duas horas vendo um vídeo sobre
um tema com o qual você já se sente confortável. Reserve as aulas como um trunfo
adicional para os temas mais complexos, em que só os livros não foram suficientes para
lapidar sua compreensão do assunto.
Curtiram o post do Marcílio Falcão? Deixem aí um comment! Tem uma visão diferente sobre o
tema e quer compartilhar ela aqui no Blog? Só entrar em contato com a gente pelo
contato@clippingcacd.com.br ! Toda diversidade e todo mundo é bem vindo nesse espaço!
Marcílio Falcão
Marcílio Falcão (Instagram: @falcao.marcilio) é diplomata, orientador
para o CACD, professor e jornalista. Dedica-se, há vários anos, a
projetos de aprendizagem acelerada para concursos públicos, tendo
sido criador e coordenador do programa de coaching para concursos
da Ad Verum/Grupo CERS. É articulista da página Praeterea e
fundador do Grupo Ubique, que oferece um programa gratuito de orientação para
aspirantes à carreira diplomática.
14/14