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Supremo Tribunal Federal

AGRAVO DE INSTRUMENTO 858.582 ESPÍRITO SANTO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


AGTE.(S) : ESIO SOARES VIANA
ADV.(A/S) : MAURÍCIO GALANTE
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. ADMINISTRATIVO E
PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. IMPOSSIBILIDADE DE
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO: SÚMULA 279 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO
ART. 5º, INCS. LIV E LV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA:
NECESSIDADE DE ANÁLISE PRÉVIA DA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL.
OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA.
AGRAVO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra decisão que inadmitiu recurso


extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da
Constituição da República.

O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado do


Tribunal de Justiça do Espírito Santo:

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AI 858582 / ES

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


IMPROBIDADE. ALEGAÇÕES DE VIOLAÇÃO AO DEVIDO
PROCESSO LEGAL E CERCEAMENTO DE DEFESA:
INOCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DE NULIDADES: PRIMEIRO
MOMENTO ATRIBUÍDO À PARTE PARA SE MANIFESTAR
NOS AUTOS. LEI 8.429/92: APLICABILIDADE AOS AGENTES
POLÍTICOS. AUSÊNCIA DE CONTESTAÇÃO: REVELIA
CONFIGURADA. INÉPCIA DA INICIAL: NÃO
CONFIGURAÇÃO. PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL:
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DESPESAS: ATO
ÍMPROBO CONFIGURADO. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES DO
ART. 12, III, DA LIA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. Inexiste violação ao devido processo legal ou ao contraditório se o
ato praticado atinge suas finalidades precípuas e não chega a ensejar
real prejuízo à parte. De qualquer modo, as nulidades processuais
devem ser suscitadas no primeiro momento em que couber à parte
falar nos autos. 2. Não há que se falar em nulidade pela não apreciação
de requerimento de requisição de cópias de autos do Tribunal de
Contas se o réu não apresentou qualquer argumento que justificasse o
fato de ele próprio não haver obtido tais cópias. Entendimento à luz do
art. 396 do CPC. 3. Aplica-se a Lei de Improbidade (Lei 8.429/92) aos
agentes políticos. Não obstante haja sido adotado entendimento
diverso no julgamento da Reclamação 2138/DF pelo STF, aquele
pronunciamento do Pretório Excelso é desprovido de efeito vinculante.
Oportuno ressaltar que o referido julgamento se deu por estreita
maioria (6 x 5 votos), sendo que diversos Ministros presentes à sessão
não mais compõem aquela Corte Suprema. Não menos emblemático é
o fato de que, na mesma data, ao apreciar a Petição n. 3923/SP, o STF
adotou posicionamento distinto. 4. Consiste a revelia na ausência de
contestação. Assim sendo, em ação civil pública por ato de
improbidade administrativa, a existência de revelia deve ser aferida
com base no oferecimento ou não de contestação, e não no de defesa
prévia. Destarte, não tendo o réu contestado a ação, deve ser reputado
revel. 5. Não há que se falar em inépcia da inicial nem em pedido
genérico se o Ministério Público requer, na inicial, a condenação do

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réu nas sanções do art. 12, II, e III, da Lei de Improbidade


Administrativa. 6. É cabível, em ação civil por improbidade proposta
pelo Ministério Público, a condenação do agente ímprobo ao
pagamento de juros de mora e correção monetária. 7. Restando
comprovado, por meio de documentação técnica oriunda do Tribunal
de Contas, que o apelante ordenou despesas não comprovadas por
meios das notas fiscais respectivas, violando os princípios da
moralidade, eficiência, publicidade e legalidade, caracteriza-se a
conduta ímproba prevista no art. 11, IV, da LIA, sendo cabível a
condenação nas iras do art. 12, III, da LIA. 8. Não obstante o pequeno
valor do dano causado e a inexistência de comprovação de proveito
patrimonial individual para o agente, as sanções fixadas são
absolutamente razoáveis, já que fixadas nos mínimos legais. 9.
Recurso conhecido e improvido” (grifos nossos).

Os embargos de declaração opostos pelo Agravante foram rejeitados.

2. O agravante afirma que o Tribunal de origem teria contrariado o


art. 5º, incs. LIV e LV, da Constituição da República.

Assevera que “o Tribunal de Contas deu parcial provimento ao Recurso de


Reconsideração, mas, em sua decisão, é omissa quanto ao requerimento da defesa
de solicitação de sua cópia ao Tribunal de Contas. Não tendo ciência da decisão,
não pôde a defesa agravar. A sentença se baseou unicamente na prova unilateral
da Promotoria de Justiça que, por sua vez, só apresentou peças do processo do
Tribunal de Contas que interessavam à acusação”.

Argumenta que “tinha o direito de agravar daquela decisão consoante


permissivo inserto no art. 17, § 10 da Lei Federal nº 8.429/92. Mas para que
apresentasse o Agravo Regimental permitido seria necessário que seu advogado
fosse intimado da decisão”.

3. O recurso extraordinário foi inadmitido sob o fundamento “do


recorrente não se dedi[car] a demonstrar, em capítulo específico, a repercussão
geral das questões constitucionais”.

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Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.

4. Razão jurídica não assiste ao Agravante.

5. Concluir de forma diversa do que decidido pelas instâncias


ordinárias demandaria o reexame do conjunto fático-probatório e da
legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Lei n. 8.429/1992),
procedimento inviável de ser adotado nessa via recursal. Incide na
espécie a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE


DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO
REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DO ART. 14 DA CF. SÚMULAS 282 E
356 DO STF. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. OFENSA
REFLEXA. REAPRECIAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE
NORMA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA.
NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO IMPROVIDO”
(RE 631.228-ED, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski,
Segunda Turma, DJe 21.3.2012, grifos nossos).

“Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2.


Direito Administrativo. 3. Improbidade administrativa. 4.
Cerceamento de defesa decorrente do indeferimento de provas no
âmbito do processo judicial. Tema infraconstitucional. ARE-RG
639.228, rel. Ministro Presidente, DJe 31.8.2011. 5. Arts. 93, IX, e 5º,
XXXV, da Constituição Federal, exigem que as decisões sejam
fundamentadas, ainda que sucintamente, sem estabelecer, todavia, o
exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas. AI-QO-
RG 791.292 de minha relatoria, DJe 13.8.2010. 6. Controvérsia acerca
da existência dos atos de improbidade. Necessidade do reexame do
conjunto fático-probatório. Impossibilidade. Súmula 279. Precedentes.
7. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 8.

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Agravo regimental a que se nega provimento” (ARE 707.178-


AgR/MG, Relator o Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
DJ 18.12.2012, grifos nossos).

“EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONVERSÃO
EM AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. SÚMULA N. 279 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO
QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (ARE 687.571-ED/RO, de
minha relatoria, Segunda Turma, DJ 18.12.2012, grifos nossos).

“Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. NOMEAÇÃO DE
APADRINHADOS EM CARGOS DE CONFIANÇA. DESVIO DE
FINALIDADE. VIOLAÇÃO À MORALIDADE
ADMINISTRATIVA. PROVIMENTO MOTIVADO PARA
ATINGIR INTERESSES PESSOAIS. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 279 DO STF” (AI 842.925-
AgR/SP, Relator o Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ
14.9.2011).

6. Ademais, este Supremo Tribunal assentou que as alegações de


contrariedade ao art. 5º, inc. LIV e LV, quando dependentes de exame de
legislação infraconstitucional (no caso, o Código de Processo Civil),
podem configurar, se for o caso, ofensa constitucional indireta:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. FUNDAMENTAÇÃO
DO JULGADO RECORRIDO: INEXISTÊNCIA DE AFRONTA
AO ART. 93, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
PRECEDENTES. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO ART. 5º, INC.
XXXV, XXXVI, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA:

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OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. PRECEDENTES.


AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO”
(RE 603.357-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe
11.3.2010, grifos nossos).

“AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA AO ART.
93, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CIVIL.
INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS
E PROVAS: SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO ART. 5º,
INC. XXXV, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA:
NECESSIDADE DE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA CONSTITUCIONAL
INDIRETA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO”
(ARE 737.559/DF, de minha relatoria, Segunda Turma, DJ
22.03.2013, grifos nossos).

“AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
IMPROCEDÊNCIA DA ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE
AOS ARTS. 5º, INC. LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO: OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO” (ARE 700.348/SP, Relatora a Ministra Rosa
Weber, Primeira Turma, DJ 14.12.2012, grifos nossos).

7. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 557, caput , do


Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 28 de junho de 2013.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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