Material Teórico
Problemas Metafísicos Cosmológicos
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Problemas Metafísicos Cosmológicos
• Introdução
• Problemas Cosmológicos em Forma de Pergunta
• Modelos Cosmológicos Religiosos
• A Cosmologia segundo a Razão Filosófica
• Modelos Cosmológicos Filosóficos e Científicos
• Conclusão
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os objetivos desta Unidade são:
· Problematizar e esclarecer os conceitos próprios da cosmologia em filosofia;
· Aprender a formular de maneira metafísica as principais questões da cosmologia;
· Reconhecer as diferentes linguagens e pressupostos dos sistemas e modelos
de explicação do universo;
· Aprender a distinguir modelos mítico-religiosos, filosóficos e científicos de
explicação do universo;
· Aproximar o aluno de alguns dos conceitos metafísicos que são instrumentos
para o reconhecimento dos modelos de representação de mundo, bem
como dos autores que mais influenciaram o modo como concebê-lo.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade você vai aprender a lidar com as questões fundamentais da
investigação sobre o universo que envolve a todos e a tudo o que existe. O
horizonte será esse vasto mundo externo que se abre para além desse planeta
e atinge o espaço incomensurável das estrelas e das galáxias... Evitou-se a
linguagem fechada e extremamente especializada da física e da astronomia
atuais para facilitar a compreensão dos diferentes sistemas ou modelos que
a razão humana tem desenvolvido para tentar compreender essa imensidão
cósmica que nos envolve e da qual fazemos parte como consciência a procura
de respostas: de onde tudo isso surgiu? De onde viemos e para onde vamos?
Contextualização
Procure aplicar os conceitos e pensar nas questões que foram levantadas no
texto teórico ao ouvir a entrevista. Independentemente de qualquer que seja a
sua confissão de fé ou sua postura em relação à religião, essa entrevista coloca
em questão a relação entre ciência cosmológica (em especial a astronomia) e os
modelos cosmológicos oferecidos pela religião. Vale a pena pensar como a religião
lida com possíveis conflitos trazidos por novos modelos cosmológicos, embora
nenhum deles seja ainda definitivo.
Veja também no Youtube vídeo que mostra contradições e problemas implicados na teoria
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Introdução
O problema metafísico fundamental da cosmologia
Você já parou para se perguntar qual seria a maior de todas as questões? Das
muitas questões qual seria aquela que explicaria a razão de ser e a condição para a
resposta de todas as outras? Pense um pouco. A forma de perguntar pode variar,
mas ao final todas as questões chegam a uma que é fundadora de todas as outras?
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Mitos cosmogônicos (cosmos = universo + gônicos = derivado da palavra “genea”
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atenção para o interior da matéria. O mesmo mundo fantástico, misterioso
e complexo pode ser notado tanto no universo infinitamente grande como no
infinitamente pequeno da matéria subatômica.
E que problemas são esses? Veremos mais adiante. Visões e teorias que
explicam o universo, tempo e espaço, matéria, natureza e outros conceitos que
intrigam nossa compreensão sobre a realidade do ponto de vista de suas origens:
acaso, necessidade, criação e evolução. São muitos os problemas e as perguntas,
mas selecionamos aqueles cuja relevância para a compreensão do nosso lugar no
mundo, bem como do sentido que damos a nossa existência continuam a provocar
não só os curiosos e apaixonados pela filosofia e pela ciência mais avançada, mas
inquieta qualquer que seja o ser humano que tenha vontade de entender o sentido
e a razão não só do seu estar no mundo, mas do próprio mundo.
1. Qual é a origem do universo? Ele tem começo? Se ele tem um começo, qual
é? Quando? Onde? Como? Quem? Se há um começo, o que havia antes?
Há alguma ordem ou lei geral que possa abarcar essa totalidade mundo?
2. Se há uma ordem ou lei geral que perpassa o universo desde sua origem,
então há um criador? O universo é obra de criação ou é produto do acaso?
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calendário, isto é, o tempo. Ao contrário do que muitos pensam, é um texto que
revela um conhecimento alinhado com o que havia de mais avançado no campo
da cosmologia da época. O pressuposto - independentemente da fé religiosa que
dirige a linguagem do texto e de sua aceitação como verdade sobre a realidade -
tem por fundamento uma visão sistêmica e bem ordenada do mundo.
“cosmovisão” é sempre uma noção mais completa e ampla de tudo o que envolve nosso
lugar no mundo, incluindo as relações entre indivíduo e sociedade, sujeito humano e os
outros na ordem social, no mundo da natureza, das tarefas, atitudes e os significados que
são atribuídos a tudo isso nas mais diferentes esferas da vida: econômica, social, política,
cultural, religiosa, etc.
Tempo: Na mitologia grega tempo é o nome atribuído a um de seus deuses primordiais:
Cronos. Aliás, é desse termo que derivam as palavras cronologia e cronômetro, o tempo que
se mede, o tempo do relógio que marca o movimento.
Sem cair numa leitura literal, mas procurando entender a metafísica cosmológica,
isto é, a cosmovisão que textos como este em diferentes tradições religiosas
apresentam sobre a ordem do mundo, a seguir apresentamos na forma de
esquema um painel que demonstra alguns dos grandes e mais conhecidos sistemas
cosmológicos que orienta a humanidade segundo a lógica da razão mítica, isto é,
segundo a fé de tradições religiosas antigas que permanecem no horizonte da visão
de mundo de muita gente ainda hoje e que de certa forma, oferece respostas para
algumas das perguntas levantadas no tópico anterior.
Existe um começo?
Sim Não
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O esquema acima pode ser exemplificado por dois relatos sobre as origens. O
primeiro é o já mencionado e bem conhecido relato da criação no livro de Gênesis.
Quando Deus iniciou a criação do céu e da terra, a terra era deserta e vazia, e havia
treva na superfície do abismo; o sopro de Deus pairava na superfície das águas e Deus
disse: “Que a luz seja!”. E a luz veio a ser [...]
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Na mentalidade bíblica expressa por esse texto, a cosmologia tem por fundamento
a ideia de um começo em que Deus cria o mundo e ordena o caos original dominado
pelas trevas que representa a escuridão. A luz é o primeiro ato criador a partir do
qual o vazio da escuridão será ocupado pelas demais obras que em seguida são
criadas. Muitos relatos míticos seguem esse padrão para responder a pergunta
fundamental da cosmologia. Deus ou um grupo de deuses criam o mundo do nada
ou da reunião e composição de elementos retirados do caos primitivo.
Tradições védicas referem-se aos textos, hinos e narrativas legadas pela civilização milenar
que transmitiu seu saber em Sânscrito e que deu origem às crenças e práticas religiosas
hindus presentes principalmente na Índia que hoje conhecemos.
A visão Védica recorrente do universo exige que o próprio universo passe por ciclos
de criação e destruição. [...]. Assim, na cosmologia hindu o universo tem uma natureza
cíclica. A unidade de medida usada é a “kalpa”, que equivale a um dia na vida de
Brahma, o deus da criação. Uma kalpa tem aproximadamente 4,32 bilhões anos. O
final de cada “kalpa”, realizado pela dança de Shiva, é também o começo da próxima
kalpa. O renascimento segue à destruição. Shiva é representada tendo na mão direita
um tambor que anuncia a criação do universo e na mão esquerda uma chama que
destruirá o universo. Muitas vezes Shiva é mostrada dançando num anel de fogo que se
refere ao processo de vida e morte do universo.
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A Cosmologia segundo a Razão Filosófica
A filosofia em sua atitude de ruptura com a razão mítica procura outra forma de
entender o universo. A origem deve ser encontrada na própria natureza e não mais na
ação dos deuses. Dessa forma, os antigos filósofos desenvolveram diferentes sistemas
de compreensão do mundo, alguns buscando o elemento original que explicasse o
todo e outros, além desse esforço, tentaram propor uma visão do todo onde todas as
coisas, terra, céu, estrelas, planetas e demais seres pudessem ser concebidos segundo
uma ordem minimamente plausível dentro da totalidade cósmica.
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Tales de Mileto, Fragmento nº 8, Cf. BORNHEIM, 1977, p. 23.
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plana (BETTO, 2012, p. 56-57). Mas a comprovação da forma esférica da Terra
só viria com Fernão de Magalhães que navegando deu uma volta completa sobre
a terra em 1522.
Figura 3
Fonte: Wikimedia/Commons
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Cf. GLEISER, 1997, p. 367: “O modelo cosmogônico de Lemaître, uma espécie de híbrido
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levantadas no primeiro tópico desse texto, proponho derivar como pressuposto dos modelos
cosmológicos apresentados até aqui, as seguintes questões como as mais importantes na
determinação desses modelos:
1ª) Segundo o critério do espaço que ele ocupa, o universo é finito ou infinito?
2ª) Segundo o critério do tempo que ele abarca, o universo tem um começo ou é eterno? Se
tem um começo, o que havia antes? E se houve um começo, haverá um fim?
3ª) Segundo o critério da matéria e de seu conteúdo, ele é limitado ou é ilimitado? O planeta
Terra, por exemplo, é limitado, mas e o universo, também é?
4ª) Segundo o critério da forma, o universo é esférico, tem forma de disco como as galáxias,
é fechado (limitado e finito) ou é curvo e aberto (ilimitado e infinito)?
5ª) Segundo o critério do movimento, o universo se expande infinitamente ou haverá
um limite em que a expansão dará lugar ao movimento de retração, que por sua vez,
atingirá o ponto originário de matéria hipercondensada que novamente irá reproduzir
outra grande exlosão?
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Conclusão
O campo dos problemas cosmológicos do ponto de vista da reflexão metafísica
torna-se cada vez mais desafiador e instigante com as novas descobertas da
astronomia e da pesquisa sobre a natureza do mundo subatômico. A teoria clássica
da gravitação universal de Newton não prevalece no mundo infinitamente pequeno
do átomo e a teoria da relatividade de Einstein alterou profundamente o quadro
da compreensão que tínhamos do tempo, do espaço e da própria concepção de
matéria. A teoria da incerteza de Werner Heisenberg (1901-1976) aplicada ao
mundo subatômico mexeu com as verdades absolutas sobre a natureza do átomo
e deixou em aberto nosso desconhecimento sobre o modo como funcionam e se
articulam esses dois mundos, o do macrocosmo e o microcosmo.
O fato é que a pergunta por uma inteligência criadora não é somente uma
questão da religião, da ciência ou da filosofia. Trata-se de um problema metafísico
que perpassa, antecede e abarca todas as questões e por mais que tentemos evitá-la
ou ignorá-la, somos irremediavelmente levados a buscar um sentido que dê razão
para tudo: matéria, vida, morte, inteligência, consciência, acaso, necessidade,
criação, evolução, espaço e tempo.
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Quem sabe talvez seja esse o propósito de nossa condição: aventurar-se pelos
espaços e tempos que nos concedeu a natureza em busca de uma teoria geral. Essa
teoria não seria uma espécie de “fórmula mágica” capaz de unir essa totalidade
complexa e ao mesmo tempo apaziguar nossa sede de saber que nos consome
diante de tantos mistérios que ainda há entre nós, o céu e a Terra?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Telescópio Hubble - A última missão
Assista ao documentário “Telescópio Hubble - A última missão” postado por Wlamir
Araújo, produzido e dirigido por Dana BERRY para a National Geographic sobre o
que o Telescópio Hubble é capaz de enxergar no espaço interestelar e reflita sobre os
mistérios e problemas que a astronomia mais avançada ainda não conseguiu desvendar.
Disponível em: https://goo.gl/OUz2hD
Acesso em 24/09/2015 às 11h40
Livros
Breve história do tempo ilustrada de Stephen HAWKING
Leia e aprecie a obra “Breve história do tempo ilustrada de Stephen HAWKING.
Tradução de Clara Allain. Edição atualizada, revista e ampliada. Curitiba/PR: Editora
Albert Einstein, 1997, 248p.
Trata-se de uma obra com linguagem acessível, figuras e ilustrações belíssimas sobre os
problemas e soluções que a ciência moderna e contemporânea têm levantado através
de seus grandes autores como Newton, Hubble, Einstein e tantos outros.
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Referências
A BÍBLIA. Tradução Ecumênica. TEB. São Paulo: Paulinas/Loyola, 1996.
BETTO, Frei. A Obra do Artista: uma visão holística do Universo. 4.ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2012. 286p.
_____. Theilhard de Chardin. Sinfonia Universal. São Paulo: Letras & Letras,
1992. 78p.
PILLING, Diana Paula Andrade & DIAS, Penha Maria Cardoso. “A hipótese
heliocêntrica na Antiguidade”. In: Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29,
n. 4, p. 613-623, 2007. Disponível em PDF em: http://www.sbfisica.org.br/rbef/
pdf/070708.pdf Acesso em 04/09/2015 às 18h09.
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