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Material Teórico
Problemas da Metafísica do ser e da existência
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Problemas da Metafísica do ser
e da existência
• Intrudução
• Termos Importantes Na Metafísica Do Ser
• O Problema Do Ser Como Questionamento Da Realidade
• A Compreensão Do Ser Na Metafísica De Aristóteles
• Conclusão
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O objetivo desta unidade é aproximar e adequar em linguagem mais
acessível e familiar ao aluno a terminologia da ontologia clássica, da
metafísica desde as preocupações originais de Parmênides, Heráclito,
Platão e Aristóteles.
ORIENTAÇÕES
Preste muita atenção aos novos conceitos que serão apresentados nessa
unidade. Eles serão a condição para a continuidade dos seus estudos de
Problemas Metafísicos.
Você verá que a boa literatura faz uso de grandes dilemas da existência,
usando a linguagem do ser em contextos que ilustram através de situações
concretas o que a metafísica comunica necessariamente sob a forma mais
conceitual, teórica e abstrata.
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência
Contextualização
Faça um exercício de contextualização do que você aprendeu nessa Unidade.
Aplique o conceito das categorias de Aristóteles para qualquer situação, de
preferência um objeto a sua frente. Sugiro que você aplique a uma determinada
pessoa que você conhece e que esteja bem a sua frente, se ela não estiver, imagine-a
agora e descreva seguindo a ordem das categorias, alguns atributos que cada
categoria sugere. Veja que a pessoa em sua singularidade pode ser considerada
como identidade, ente, um Ser tomado como substância, uma das categorias de
Aristóteles. Crie uma frase com sujeito e predicado para cada categoria.
Faça isso também com um objeto que não seja um ser humano. Por exemplo,
uma caneta que esteja a sua frente.
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Introdução
A questão do ser a partir de dilemas
existenciais
Comecemos por um exemplo bem conhecido da literatura: “Ser ou não ser, eis
a questão”.
O que você entende dessa que é uma das mais famosas frases da literatura
mundial? Pense um pouco... Não se apresse. Quais significados ela pode conter ou
sugerir a você?
Neste contexto com o crânio à mão, surge a questão: ser ou não ser? O
significado se expande para inúmeras outros. Existir ou desistir de existir parece
fazer sentido. Sua sutileza e, ao mesmo tempo, gravidade filosófica a transformou
em questão metafísica, genérica, profunda e universal. É dessas frases que cabem
em qualquer lugar, a qualquer hora, para ilustrar qualquer polêmica cujo caráter é
a dúvida existencial, mas também a dúvida sobre tudo o que possa ser ou existir.
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Você Sabia? Importante!
Muitas pessoas pensam que o famoso dilema “Ser ou não ser” surge na cena que Hamlet
segura a caveira do falecido bobo da corte, contudo o “dilema do ser” surge bem antes,
quando Hamlet percebe que precisa tomar uma atitude em relação ao que o fantasma
do pai havia lhe dito. A famosa frase “Ser ou não ser” surge no terceiro ato quando Hamlet
vai ao encontro de Ofélia dizer que não a amava. A questão é que ele pretendia colocar
em prática seu plano para vingar a morte do pai, e para tanto ele precisa se afastar de
Ofélia mesmo a amando, porque ela era filha do primeiro ministro, e ele iria atentar
contra a vida do próprio rei. Ele entra na casa de Polônio, pai de Ofélia, e enquanto a
aguarda chegar ele sofre porque vai dizer para a mulher que ama, exatamente o oposto,
que não a ama; então Hamlet começa a pensar no preço muito alto que estava tendo
que pagar para vingar a morte do pai. É neste momento que surge o monólogo do “Ser
ou não ser”” Cf. comentário de Marcus Azen, postado em 25/03/2013, Disponível em
http://eradaincerteza.blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-
ensaio.html Acesso em 23/07/2015
Veja que a questão “ser ou não ser” fora do contexto pode não dizer muita coisa
ou dizer outras coisas, exatamente porque parece pretender dizer tudo. Só quando
a colocamos num contexto mais preciso é que aparece o seu caráter concreto,
singular, pulsante e especificamente existencial. Tudo já não interessa, pois o que
importa é o que é preciso decidir naquele momento decisivo da existência. No caso
de Hamlet, trata-se da escolha entre o amor a Ofélia ou a fidelidade ao desejo de
vingança do fantasma do pai.
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Explor SHAKESPEARE, William. Hamlet. Ato III cena I, p. 51-52. Tradução de Millôr Fernandes,
disponível em: http://goo.gl/c0EKs
Não é uma escolha qualquer, pois uma vez feita, “tudo” (e agora sim a palavra é
universal e autêntica na singular vida de Hamlet) e definitivamente “tudo” mesmo
em sua vida pode mudar.
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1. Abstração: peração mental que processa distinção e separação de certos
atributos ou características de objetos singulares para um nível em que eles
subsistem em si mesmos sem a necessidade de estarem ligados aos mesmos
objetos dos quais eles foram originalmente separados. Exemplo: a brancura
é uma abstração, pois é uma realidade que subsiste, ao menos mentalmente,
separadamente dos objetos que podem ser classificados como branco. Da
mesma forma, a beleza, negritude, bondade, justiça e outras realidades
podem ser abstraídas de objetos concretos, isto é, separada deles. Esse
processo de distinguir o objeto concreto de suas qualidades, transformando
as segundas em realidades autônomas é o que se chama de abstração.
2. Acidente: O que pode ser identificado ou suprimido sem que a coisa em
que existe mude de natureza ou desapareça. Acidente ou acidental é um
atributo ou característica secundária, não prioritária e não essencial de uma
determinada coisa. O contrário é a substância ou a essência de uma coisa.
3. Alegoria: Exposição de um pensamento sob forma figurada. 2.Ficção que
representa uma coisa para dar ideia de outra. 3. Sequência de metáforas
que significam uma coisa nas palavras e outra no sentido. 4. Obra de pintura
ou de escultura que representa uma ideia abstrata por meio de forma que
a toma compreensível. 5. Simbolismo concreto que abrange o conjunto de
toda uma narrativa ou quadro, de maneira que cada elemento do símbolo
corresponda um elemento significado ou simbolizado.
4. Categoria: Em grego significa atribuir uma qualidade ou atributo a um
ser ou realidade, As “categorias” são em Aristóteles as diversas maneiras
de atribuir qualidade, isto é características a um sujeito, ser ou realidade.
Aristóteles estabeleceu uma lista das diversas categorias que formam os
juízos sobre os seres ou coisas (dez, ao todo):
· a essência,
· a qualidade,
· a quantidade,
· a relação.
· a ação,
· a paixão,
· o lugar,
· o tempo,
· a situação,
· a maneira do ser.
5. Causalidade: Causa é a condição necessária para que se produza um
fenômeno qualquer. É ação pela qual se produz algum efeito. O princípio de
causalidade é a relação que une causa ao seu efeito: a toda causa corresponde
um efeito e reciprocamente.
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para o conhecimento do mundo, conhecida como dialética hegeliana, que
consiste em reconhecer a inseparabilidade dos contraditórios e em descobrir
o princípio de sua união em uma categoria superior. Em outras palavras, a
toda tese corresponde uma antítese, completando-se ambas em uma etapa
superior, chamada síntese. A dialética hegeliana parte da ideia vai à matéria
e retorna à ideia. Marx empregou a dialética hegeliana, porém, como ele
mesmo disse, ao contrário, partindo da matéria, indo à ideia e retornando
à matéria. Em outras palavras, não é mais a parte (o indivíduo) que explica
tudo, mas é o todo que deve explicar a parte.
10. Ente: Da palavra latina ens, significa “aquele que está sendo”, do verbo
esse, “ser”. É o particípio presente que corresponde ao verbo grego “on” que
tem o mesmo significado e que é traduzido por “ente”, na língua portuguesa.
A tradução literal seria “sendo”. Alguns filósofos fazem questão de distinguir
ente do ser como veremos mais a frente, pois se trata de diferenciar as coisas
singulares do ser que está presente como fundamento de todo ente que
(sendo) é o que é por que tem ser.
11. Essência: Aquilo que faz uma coisa ser o que ela realmente é em sua
identidade; é o caráter ou qualidade que determina o ser de uma coisa, sem
o qual ela deixaria de ser o é.
12. Existência: A palavra “existir” é composta do Latim “ex + sistere” =
“exsistere” que significa “aparecer, emergir, mostrar-se”. O “ex” dá o sentido
de sair e se mostrar, aparecder enquanto o “sistere” aponta para o manter em
pé. Existência é o estado do que existe, está, tem ser e se mostra subsistente,
aí, presente. Sinônimo também para expressar o que tem vida. Para alguns
filósofos é qualidade por excelência do ser humano. O existencialismo é a
filosofia que pensa o mundo a partir da “existência” como ponto de partida
e horizonte último de sentido para todas as coisas.
13. Ideia: Ideia é todo objeto do pensamento e, como tal, consiste em uma
representação. Em sua origem grega ideia é “eidolon” e denota imagem, forma
ou aspecto de uma coisa. É, pois, a maneira de se representar mentalmente
uma coisa real. Um dos problemas mais importantes em filosofia metafísica
se dá em torno da relação e correspondência que existe entre ideia e coisa. O
problema ganha dimensões as mais diversas conforme o foco de abordagem.
Se a preocupação é o conhecimento e sua verdade, trata-se de um problema
da teoria do conhecimento; se o foco é a realidade e a nossa capacidade de
corresponder ao que de fato ela é, o problema então é da ontologia como
parte da metafísica voltada para o estudo do ser enquanto ser.
14. Indução: Método que consiste em procurar a confirmação de uma hipótese
através da verificação e observação dos objetos ou coisas particulares e
através delas inferir consequências gerais. Trata-se de um modo de observar e
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Pois bem, o que é realidade se a todo momento somos desafiados à possibilidade
de ilusão, falsidade, erro, engano, mentira, ideologia e outras formas de ocultamento,
omissão e falseamento do real? É possível distinguir o que “é real” do que “é irreal”?
Mas o que significa isso: afirmar o que não é? Dizer que algo “é irreal” não
é o mesmo que afirmar o irreal e dar-lhe alguma consistência no nível do ser?
É um defeito de linguagem dizer que tal coisa “não é” ou essa é a sua suprema
qualidade? Como então se poderia nomear o vazio, o nada, o que está fora do
real ou aquilo que não existe? Nomear o nada não é cair em contradição e afirmar
a sua existência?
De algum modo é preciso admitir que sob certas circunstâncias o “não ser”
pertence ao “ser” como já havia admitido Heráclito, mas não quis aceitar Parmênides.
Se isso é uma questão de linguagem, o fato é que esse problema existe. O que é um
buraco senão um espaço cuja ausência da terra é sentida quando nele se cai? Ele
existe não é mesmo? Ou o que existe é apenas o que o circunda?
Imagine agora o problema do ser e do não ser, do real e do irreal como fonte
e fundamento para se pensar todos os problemas que evocam igualmente os
contrários: luz e sombra, presença e ausência, dor e prazer, amor e ódio, guerra e
paz, bem e mal, existir e não existir, viver e morrer.
E você o que pensa sobre tudo isso? Estamos no ponto alto da Metafísica do
Ser. Aqui se decide o fundamento de nossa visão sobre o mundo, a vida, a ética e
outros tantos problemas em que a ciência sozinha não dá conta de responder.
Essa linguagem sobre o ser e a realidade tomadas em sua totalidade não é nova
para os filósofos. Agora vamos ver como o filósofo Aristóteles tentou organizar
o problema do ser apontado pelos pré-socráticos nessa dualidade flagrante de
contrastes que confunde o pensar em sua ânsia de captar a realidade do ser na
multiplicidade de seu aparecer.
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A ideia de metafísica como algo que investiga coisas que estão para além da
física não faz justiça a esse modo de pensar. Metafísica, nesse sentido, é antes, a
busca por uma explicação de tudo o que está na esfera da física, entendida aqui
como “physis” grega, isto é, “natureza” e tudo o que ela contém.
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Diante da tendência já encontrada em Parmênides e radicalizada em Platão de
priorizar o caráter imutável do ser como ideia eterna alheia e superior ao mundo
dos sentidos, Aristóteles formulará nova forma de resolver o problema metafísico
da unidade do ser frente à realidade da mudança e da multiplicidade dos entes:
(...) diferentemente de seus dois predecessores, Aristóteles não julga o
mundo das coisas sensíveis, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório.
Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente,
a multiplicidade de seres e a mudança incessante.
Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões ou sombras
do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe, é real,
que seu modo próprio de existir é a mudança e que esta não é uma
contradição impensável. É possível uma ciência teorética verdadeira sobre
a Natureza e a mudança: a física. Mas é preciso, primeiro, demonstrar
que o objeto da física é um ser real e verdadeiro e isso é tarefa da Filosofia
Primeira ou da meta-física (CHAUÍ, 1994, p. 217).
Sendo assim, a Metafísica ou Filosofia Primeira para Aristóteles tem por objeto
de estudo três grandes realidades ou dimensões do Ser:
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As primeiras causas
O problema do movimento em Aristóteles encontra uma solução a partir de sua
concepção de causalidade. Causa é tudo aquilo que influi e produz a existência de
um ser. O movimento é real e sua explicação se encontra no fato inconteste da
mudança que vemos ocorrer nos entes e entre eles. São mudanças que acontecem
sempre a partir de um ponto rumo a outro. O primeiro destes pontos, o que dá
origem ao movimento é o que se chama de causa.
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Potência e ato são duas causas que completam o quádruplo dos princípios
fundamentais da metafísica de Aristóteles. Eles são princípios causais constituintes
da mesma realidade suprema, o Ser. Funcionam como conceitos que operam a
dinâmica do movimento no interior de todo ente, como dimensões do Ser que é
uno, perene e total, mas é também múltiplo, singular e submetido à realidade do
movimento exatamente porque explicam a própria possibilidade da mudança.
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Conclusão
Em forma de síntese apresentamos a seguir as principais ideias que você deve
retomar e fixar como aprendizado adquirido nessa segunda unidade.
· Primeiro. O problema do ser é metafísico por excelência e não deve
conduzir o sujeito a uma linguagem evasiva sobre as coisas só porque
exige o uso de um vocabulário extremamente abstrato. A abstração é
consequência da necessidade de abarcar com o pensamento e a reflexão
crítica os grandes dilemas da existência como foi demonstrado na célebre
inquietação de Hamlet. Ser ou não ser naquele contexto invade as mais
profundas angústias da alma humana, inclusive aquelas que nascem de
sentimentos como amor e ódio. Ser e não ser pode concretizar todas as
possibilidades existenciais, inclusive amar ou não amar...
· Segundo. Para pensar, refletir e analisar a diversidade do Ser sem correr
o risco de se perder na multiplicidade dos entes e do movimento constante
que provoca alterações em tudo o que vemos, sentimos e concebemos é
preciso adquirir e lançar mão de uma linguagem bem mais capacitada e
técnica, de modo a não permitir que o pensamento se disperse na busca
da realidade tal como ela é em suas diferentes manifestações. Essa é
a tarefa mais importante da Metafísica: distinguir a realidade suprema
do Ser no mundo da pluralidade dos entes sem deixar-se enganar pela
capacidade que o pensamento e a palavra têm de falsear, ocultar ou
produzir ilusão da realidade.
· Terceiro. Aristóteles com sua Filosofia Primeira realizou o esforço de precisar
a linguagem e descrever a realidade do Ser através de noções fundamentais
que integraram noções aparentemente inconciliáveis como de Ser e não ser,
movimento e imutabilidade, unidade e multiplicidade, Ser e ente.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Hamlet
Shakespeare, William
Filmes
Hamlet
Veja a obra de Shakespeare, Hamlet, em alguma adaptação
para o teatro ou para o cinema
Leitura
Hamlet
Shakespeare, William
http://goo.gl/c0EKs
Metafísica de Aristóteles Livro XII
A tradução do Prof. Lucas Angioni da UNICAMP
http://www.cle.unicamp.br/cadernos/pdf/LucasAngioni-Traducao.pdf
Aristóteles (384-322 A.C)
Tópicos; Dos argumentos sofísticos.
Pickard
São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção (Os pensadores)
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Referências
AZEN, Marcus Azen. Postado em 25/03/2013, Disponível em http://eradaincerteza.
blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-ensaio.html
DUARTE JR., João Francisco. O que é realidade. 2.ed. São Paulo: Brasiliense. 103p.
GILES, Thomas Ransom. Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: E.P.U. -Editora
Pedagógica e Universitária Ltda/ EDUSP- Editora da Universidade de São Paulo.
1979. 324p.
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