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Problemas Metafísicos

Material Teórico
Problemas da Metafísica do ser e da existência

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Valter Luiz Lara

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Problemas da Metafísica do ser
e da existência

• Intrudução
• Termos Importantes Na Metafísica Do Ser
• O Problema Do Ser Como Questionamento Da Realidade
• A Compreensão Do Ser Na Metafísica De Aristóteles
• Conclusão

OBJETIVO DE APRENDIZADO
O objetivo desta unidade é aproximar e adequar em linguagem mais
acessível e familiar ao aluno a terminologia da ontologia clássica, da
metafísica desde as preocupações originais de Parmênides, Heráclito,
Platão e Aristóteles.

ORIENTAÇÕES
Preste muita atenção aos novos conceitos que serão apresentados nessa
unidade. Eles serão a condição para a continuidade dos seus estudos de
Problemas Metafísicos.

As atividades e leituras complementares devem ajudar a fixar e tornar mais


sólida sua aprendizagem. Os termos da Metafísica de Aristóteles podem ser
encontrados em outros manuais e livros didáticos de filosofia ou da história
da filosofia. Alguns deles estão sugeridos nas referências bibliográficas.

Você verá que a boa literatura faz uso de grandes dilemas da existência,
usando a linguagem do ser em contextos que ilustram através de situações
concretas o que a metafísica comunica necessariamente sob a forma mais
conceitual, teórica e abstrata.
UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

Contextualização
Faça um exercício de contextualização do que você aprendeu nessa Unidade.
Aplique o conceito das categorias de Aristóteles para qualquer situação, de
preferência um objeto a sua frente. Sugiro que você aplique a uma determinada
pessoa que você conhece e que esteja bem a sua frente, se ela não estiver, imagine-a
agora e descreva seguindo a ordem das categorias, alguns atributos que cada
categoria sugere. Veja que a pessoa em sua singularidade pode ser considerada
como identidade, ente, um Ser tomado como substância, uma das categorias de
Aristóteles. Crie uma frase com sujeito e predicado para cada categoria.

Exemplo para a categoria “qualidade”: Maria (sujeito) é (predicado) bonita;

Para a categoria “quantidade”: Maria é possui 49Kg. E assim por diante.

Faça esse exercício e verifique que as múltiplas manifestações do ser em cada


ente estão profundamente integradas a uma unidade substancial e essencial do
Ser de Maria.

Faça isso também com um objeto que não seja um ser humano. Por exemplo,
uma caneta que esteja a sua frente.

Outro exercício interessante de aplicação bem prática da Metafísica de


Aristóteles é a verificação das quatro causas para análise dos objetos, inclusive
para iniciar proposição de um projeto de pesquisa. Veja que elas são básicas e
fundamentais na constituição das coisas em sua estrutura de ser e existir. Comece
sempre perguntando:
1. O que é isso? (causa formal – sua essência – o que a coisa é em sua essência)
2. De que é feito (causa material)?
3. Quem fez ou de onde surgiu, isto é, qual é a sua origem? (causa eficiente – o
que ou quem reúne as condições materiais a sua forma singular)
4. Para que se fez? (causa final)

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Introdução
A questão do ser a partir de dilemas
existenciais
Comecemos por um exemplo bem conhecido da literatura: “Ser ou não ser, eis
a questão”.

O que você entende dessa que é uma das mais famosas frases da literatura
mundial? Pense um pouco... Não se apresse. Quais significados ela pode conter ou
sugerir a você?

Na peça “Hamlet” de William Shakespeare, esse


pensamento encontra-se na primeira cena do terceiro
ato. Na maioria das montagens da peça para o teatro e
o cinema, a frase aparece quando Hamlet acaba de
encontrar o crânio de um de seus criados - Yorick, o
bobo da corte que havia sido uma figura marcante em
sua infância - e com ele à mão começa a se questionar.
Onde havia vida agora só restam os ossos. Diante da
descoberta da morte do pai que havia sido assassinado
por causa da traição da mãe com o tio, a pergunta
aponta para o valor de todas as coisas: riqueza, poder,
status, saúde parecem de uma hora para outra se
transformar em nada, apenas ossos, morte e um cadáver Figura 1:To be or no to be,
inerte, imobilizado como o de Yorick.
this is the question
Fonte: iStock/Getty
Images

Você Sabia? Importante!

O nome completo da peça é “A Trágica História de Hamlet, Príncipe da Dinamarca” escrita


em Londres entre 1599 e 1607.
William Shakespeare (1564-1616) foi dramaturgo e poeta, reconhecido por muitos
como o maior dramaturgo de todos os tempos, autor de muitas obras, entre poemas,
comédias, dramas e tragédias mais conhecidas estão “O Mercador de Veneza”, “Sonho
de uma noite de verão”, “Romeu e Julieta”, “Julio César”, “Macbeth”, “O Rei Lear”, “Otelo”,
“Ricardo III” e “Hamlet”.

Neste contexto com o crânio à mão, surge a questão: ser ou não ser? O
significado se expande para inúmeras outros. Existir ou desistir de existir parece
fazer sentido. Sua sutileza e, ao mesmo tempo, gravidade filosófica a transformou
em questão metafísica, genérica, profunda e universal. É dessas frases que cabem
em qualquer lugar, a qualquer hora, para ilustrar qualquer polêmica cujo caráter é
a dúvida existencial, mas também a dúvida sobre tudo o que possa ser ou existir.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

Se o contexto da frase se dá não mais na cena em que Hamlet se vê diante


do crânio de Yorick, mas no momento que antecede sua visita a Ofélia quando
vai confessar-lhe que não a ama quando na realidade a ama verdadeiramente, a
frase pode sugerir outros significados. Veja como ela aparece no contexto mais
amplo daquele ato:
Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação. (Vê Ofélia rezando.)
Mas, devagar, agora!
A bela Ofélia! (Para Ofélia.) Ninfa, em tuas orações
Sejam lembrados todos os meus pecados.

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Você Sabia? Importante!

Muitas pessoas pensam que o famoso dilema “Ser ou não ser” surge na cena que Hamlet
segura a caveira do falecido bobo da corte, contudo o “dilema do ser” surge bem antes,
quando Hamlet percebe que precisa tomar uma atitude em relação ao que o fantasma
do pai havia lhe dito. A famosa frase “Ser ou não ser” surge no terceiro ato quando Hamlet
vai ao encontro de Ofélia dizer que não a amava. A questão é que ele pretendia colocar
em prática seu plano para vingar a morte do pai, e para tanto ele precisa se afastar de
Ofélia mesmo a amando, porque ela era filha do primeiro ministro, e ele iria atentar
contra a vida do próprio rei. Ele entra na casa de Polônio, pai de Ofélia, e enquanto a
aguarda chegar ele sofre porque vai dizer para a mulher que ama, exatamente o oposto,
que não a ama; então Hamlet começa a pensar no preço muito alto que estava tendo
que pagar para vingar a morte do pai. É neste momento que surge o monólogo do “Ser
ou não ser”” Cf. comentário de Marcus Azen, postado em 25/03/2013, Disponível em
http://eradaincerteza.blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-
ensaio.html Acesso em 23/07/2015

Alguns testemunhos apontam que a versão mais


antiga e original composta por Shakespeare, na
primeira edição da peça Hamlet publicada em
1603, lia-se em inglês “To be, or not to be, I,
there’s the point” (Ser ou não ser, eu, aí está o
ponto) . Embora seja semelhante, a mesma frase
agora em novo contexto, naquele que antecede
sua confissão de desamor a Ofélia, remete-nos a
uma nova possibilidade de interpretação: amar ou
não amar, confessar ou não confessar, assumir ou
não assumir a vingança proposta pelo fantasma do
pai? Defender seu amor, desistir dele em função
de outras tarefas mais importantes ou amar Ofélia
seria o mais importante? Figura 2: To love or no to love,
is the point
Fon te: Wikimedia/Commons

Veja que a questão “ser ou não ser” fora do contexto pode não dizer muita coisa
ou dizer outras coisas, exatamente porque parece pretender dizer tudo. Só quando
a colocamos num contexto mais preciso é que aparece o seu caráter concreto,
singular, pulsante e especificamente existencial. Tudo já não interessa, pois o que
importa é o que é preciso decidir naquele momento decisivo da existência. No caso
de Hamlet, trata-se da escolha entre o amor a Ofélia ou a fidelidade ao desejo de
vingança do fantasma do pai.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

Explor SHAKESPEARE, William. Hamlet. Ato III cena I, p. 51-52. Tradução de Millôr Fernandes,
disponível em: http://goo.gl/c0EKs

Não é uma escolha qualquer, pois uma vez feita, “tudo” (e agora sim a palavra é
universal e autêntica na singular vida de Hamlet) e definitivamente “tudo” mesmo
em sua vida pode mudar.

Com esse exemplo particular da literatura universal iniciamos o tema da


metafísica encarando as questões do ser e do existir. O intuito é apresentar os
problemas e a linguagem conceitual que permitiu principalmente a partir de
Aristóteles, compreender a manifestação diversa do ser.

Desse modo pretendemos capacitar você a superar a aparência de vazio que os


conceitos metafísicos podem sugerir à primeira vista. Os termos mais abstratos da
filosofia ao desejarem abarcar a totalidade das coisas como acabamos de ver em
Shakespeare, nascem quando assumimos um lugar bem definido no mundo dos
seres e mais ainda no mundo das relações com os outros e mais particularmente
das decisões que podem alterar nossas vidas.

Termos importantes na Metafísica do Ser


Para atualizar e facilitar a linguagem sobre o ser, as palavras “ser”, “realidade”
ou “real” serão empregadas na maioria das vezes com significados semelhantes e
por vezes como sinônimos. O mesmo se dará com as palavras “ente(s)” e “coisa(s)”.
Por isso, segue abaixo um pequeno glossário com a indicação dos significados de
alguns dos termos técnicos mais frequentes que serão usados nesta unidade. Se
você quiser pode pular esse tópico, vá direto ao segundo e volte apenas quando
achar que precisa entender melhor uma ou outra palavra de maior complexidade.

Você Sabia? Importante!

Glossário é um conjunto de palavras com o uso e significado mais comuns indicados


brevemente como um dicionário minúsculo para facilitar a compreensão dos termos
mais frequentes dentro de um texto. Este brevíssimo glossário é uma seleção de termos
retirado e adaptado livremente conforme os objetivos de nosso estudo, do Glossário
organizado pelo Professor Gilberto de Andrade Martins do Observatório USP de Educação
e Pesquisa Contábil da EAC E FEA e do Dicionário de Filosofia que se encontra no final do
livro de Theobaldo M. dos Santos (1972).
Outro glossário de termos metafísicos você pode acessar: https://goo.gl/aBq70q

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1. Abstração: peração mental que processa distinção e separação de certos
atributos ou características de objetos singulares para um nível em que eles
subsistem em si mesmos sem a necessidade de estarem ligados aos mesmos
objetos dos quais eles foram originalmente separados. Exemplo: a brancura
é uma abstração, pois é uma realidade que subsiste, ao menos mentalmente,
separadamente dos objetos que podem ser classificados como branco. Da
mesma forma, a beleza, negritude, bondade, justiça e outras realidades
podem ser abstraídas de objetos concretos, isto é, separada deles. Esse
processo de distinguir o objeto concreto de suas qualidades, transformando
as segundas em realidades autônomas é o que se chama de abstração.
2. Acidente: O que pode ser identificado ou suprimido sem que a coisa em
que existe mude de natureza ou desapareça. Acidente ou acidental é um
atributo ou característica secundária, não prioritária e não essencial de uma
determinada coisa. O contrário é a substância ou a essência de uma coisa.
3. Alegoria: Exposição de um pensamento sob forma figurada. 2.Ficção que
representa uma coisa para dar ideia de outra. 3. Sequência de metáforas
que significam uma coisa nas palavras e outra no sentido. 4. Obra de pintura
ou de escultura que representa uma ideia abstrata por meio de forma que
a toma compreensível. 5. Simbolismo concreto que abrange o conjunto de
toda uma narrativa ou quadro, de maneira que cada elemento do símbolo
corresponda um elemento significado ou simbolizado.
4. Categoria: Em grego significa atribuir uma qualidade ou atributo a um
ser ou realidade, As “categorias” são em Aristóteles as diversas maneiras
de atribuir qualidade, isto é características a um sujeito, ser ou realidade.
Aristóteles estabeleceu uma lista das diversas categorias que formam os
juízos sobre os seres ou coisas (dez, ao todo):
· a essência,
· a qualidade,
· a quantidade,
· a relação.
· a ação,
· a paixão,
· o lugar,
· o tempo,
· a situação,
· a maneira do ser.
5. Causalidade: Causa é a condição necessária para que se produza um
fenômeno qualquer. É ação pela qual se produz algum efeito. O princípio de
causalidade é a relação que une causa ao seu efeito: a toda causa corresponde
um efeito e reciprocamente.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

6. Conceito: Representação de um objeto pelo pensamento através de suas


características mais gerais. 2. Ação de formular uma ideia por meio de
palavras; definição, caracterização. 3. Pensamento, ideia, opinião, noção,
concepção. Um conceito é uma abstração, isto é, resultado do processo a
partir do qual se retira características comuns de seres particulares, de forma a
apontar, quando isto é possível, o que há de essencial e de idêntico entre eles.
7. Dedução: Método que consiste em procurar a confirmação de uma hipótese
através da verificação das consequências previsíveis de uma certeza já dada. Na
dedução parte-se de um conhecimento já admitido como certo e geralmente
mais amplo e universal e conclui-se outro conhecimento mais particular
derivado do primeiro. Por exemplo: se eu sei que hoje choveu (e não havia
evidentemente cobertura no quintal), consequentemente eu sei que o chão
ficou molhado (dedução). O método dedutivo é usado em todas as ciências,
mas é particularmente apropriado pelas ciências mais teóricas e formais como
a lógica, a matemática, a física teórica e a metafísica. E possível levar a efeito
provas formais nas quais se estabelece que as conclusões a que se chega são
formalmente válidas. O método dedutivo é o mais usado em Metafísica.
8. Definição: É a operação mental pela qual se determina e se enuncia a
compreensão de um conceito, isto é, o conjunto de suas características
essenciais. A ação de definir pressupõe a delimitação intelectual da essência
de uma coisa através de seu conceito. Toda restrição ou limitação do uso de
um termo em um determinado contexto. Uma boa definição deve revelar
a essência intima de uma coisa e expressar pelo conceito ou a definição da
coisa deverá ser tal que todas as suas propriedades, atributos, qualidades ou
características possam dele ser deduzidas.
9. Dialética: Em termos gerais, refere-se à arte do diálogo e da discussão, ou
seja, o raciocínio por meio de diálogos. A acepção da palavra tem variantes em
épocas distintas. 1) Para os gregos, desde Heráclito consistia no movimento
de forças contrárias que em última análise explicam o ser e o não ser e tudo
o que existe: fogo e água, sim e não, frio e quente, bem e mal, guerra e paz,
Consistia no método empregado por Sócrates, pelo qual ele demonstrava as
verdades que se propunha. Platão empregou-a largamente em seus diálogos,
nos quais, pela exposição e contra argumentação dos interlocutores, se extrai
do dado a essência. Aristóteles fez distinção entre analítica e dialética. A
primeira tem por objetivo as demonstrações rigorosas partindo de premissas
verdadeiras, enquanto a segunda refere-se a raciocínios sobre opiniões apenas
prováveis. 2) A Escolástica medieval distinguiu dialética retórica e gramática,
entendendo a primeira como os princípios da lógica formal. 3) Kant voltou
em parte ao critério aristotélico e chamou a dialética de raciocínio ilusório, ou
seja, ‘lógica de aparências’. 4) Hegel empregou a dialética em seu sentido mais
transcendental em filosofia, denotando o processo que emprega o espírito

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para o conhecimento do mundo, conhecida como dialética hegeliana, que
consiste em reconhecer a inseparabilidade dos contraditórios e em descobrir
o princípio de sua união em uma categoria superior. Em outras palavras, a
toda tese corresponde uma antítese, completando-se ambas em uma etapa
superior, chamada síntese. A dialética hegeliana parte da ideia vai à matéria
e retorna à ideia. Marx empregou a dialética hegeliana, porém, como ele
mesmo disse, ao contrário, partindo da matéria, indo à ideia e retornando
à matéria. Em outras palavras, não é mais a parte (o indivíduo) que explica
tudo, mas é o todo que deve explicar a parte.
10. Ente: Da palavra latina ens, significa “aquele que está sendo”, do verbo
esse, “ser”. É o particípio presente que corresponde ao verbo grego “on” que
tem o mesmo significado e que é traduzido por “ente”, na língua portuguesa.
A tradução literal seria “sendo”. Alguns filósofos fazem questão de distinguir
ente do ser como veremos mais a frente, pois se trata de diferenciar as coisas
singulares do ser que está presente como fundamento de todo ente que
(sendo) é o que é por que tem ser.
11. Essência: Aquilo que faz uma coisa ser o que ela realmente é em sua
identidade; é o caráter ou qualidade que determina o ser de uma coisa, sem
o qual ela deixaria de ser o é.
12. Existência: A palavra “existir” é composta do Latim “ex + sistere” =
“exsistere” que significa “aparecer, emergir, mostrar-se”. O “ex” dá o sentido
de sair e se mostrar, aparecder enquanto o “sistere” aponta para o manter em
pé. Existência é o estado do que existe, está, tem ser e se mostra subsistente,
aí, presente. Sinônimo também para expressar o que tem vida. Para alguns
filósofos é qualidade por excelência do ser humano. O existencialismo é a
filosofia que pensa o mundo a partir da “existência” como ponto de partida
e horizonte último de sentido para todas as coisas.
13. Ideia: Ideia é todo objeto do pensamento e, como tal, consiste em uma
representação. Em sua origem grega ideia é “eidolon” e denota imagem, forma
ou aspecto de uma coisa. É, pois, a maneira de se representar mentalmente
uma coisa real. Um dos problemas mais importantes em filosofia metafísica
se dá em torno da relação e correspondência que existe entre ideia e coisa. O
problema ganha dimensões as mais diversas conforme o foco de abordagem.
Se a preocupação é o conhecimento e sua verdade, trata-se de um problema
da teoria do conhecimento; se o foco é a realidade e a nossa capacidade de
corresponder ao que de fato ela é, o problema então é da ontologia como
parte da metafísica voltada para o estudo do ser enquanto ser.
14. Indução: Método que consiste em procurar a confirmação de uma hipótese
através da verificação e observação dos objetos ou coisas particulares e
através delas inferir consequências gerais. Trata-se de um modo de observar e

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

conhecer a realidade partindo-se de cada coisa ou fato individual e só depois


de reunir as informações extraídas de cada um deles poder concluir alguma
lei mais geral adequada a todos eles. É o método oposto ao da dedução.
Pela indução parte-se do particular para o universal. As ciências particulares
devotadas aos fenômenos que fazem parte da natureza física e que estão
ao alcance de nossa percepção sensível partem da indução como momento
fundamental da construção de seu conhecimento: ciências da natureza como
a física, biologia, medicina e as demais que fazem do fenômeno observável
seu objeto e fundamento.
15. Ser: Realidade última presente em tudo o que existe. Em metafísica não
é apenas o verbo em sua forma infinitiva, mas é, sobretudo, a substância,
o sujeito e o fundamento presente na totalidade de tudo o que pode ser
denominado no presente como “aquilo que é”. É a realidade mais universal
que se possa nomear e por isso é de uma definição extremamente abstrata
e genérica. Por isso, diz-se do “Ser” que é o conceito de maior extensão e
de menor compreensão possíveis. Maior extensão significa que dentro do
conceito “Ser” cabem todos os objetos que se possa igualmente pensar; por
outro lado é o de menor compreensão porque não se pode defini-lo de forma
abrangente a não ser como “tudo aquilo que é”.
16. Substância: O que existe por si e em si. O que é permanente nas coisas
que mudam. O contrário de acidente. É palavra que pode ser usada como
sinônimo da essência de uma coisa.

O Problema do Ser como Questionamento


da Realidade
O Ser como objeto de reflexão da Metafísica ou da Ontologia mais especificamente
pode ser substituído pela palavra realidade. Assim as coisas parecem ficar mais
fáceis para a comunicação e compreensão em campos de atuação que não se
restringem apenas ao uso dos termos filosóficos. Reflita um pouco o que é a
realidade em seu sentido mais abrangente possível. Já propusemos isso no início
da primeira Unidade. Volte agora a pensar a respeito.

De que realidade se trata? Social, política e econômica? É realidade sob a ótica


da conjuntura atual ou de algum outro momento da história? Essa realidade abrange
que região, cidade, território, Estado ou país? Trata-se da realidade global, de todo
o planeta? A dimensão cultural está incluída? O caráter ético está envolvido? O
olhar que retrata a realidade é prioritariamente científico? Qual ciência? Economia,
sociologia ou antropologia? Pode ser a psicologia? Pode-se falar da realidade sob
a ótica religiosa? A partir das ciências da religião ou da teologia? A poesia, o mito,
a música e outras artes plásticas e cênicas também podem produzir discurso e
interpretação da realidade? Ou ainda, elas podem criar realidade?

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Pois bem, o que é realidade se a todo momento somos desafiados à possibilidade
de ilusão, falsidade, erro, engano, mentira, ideologia e outras formas de ocultamento,
omissão e falseamento do real? É possível distinguir o que “é real” do que “é irreal”?

Mas o que significa isso: afirmar o que não é? Dizer que algo “é irreal” não
é o mesmo que afirmar o irreal e dar-lhe alguma consistência no nível do ser?
É um defeito de linguagem dizer que tal coisa “não é” ou essa é a sua suprema
qualidade? Como então se poderia nomear o vazio, o nada, o que está fora do
real ou aquilo que não existe? Nomear o nada não é cair em contradição e afirmar
a sua existência?

De algum modo é preciso admitir que sob certas circunstâncias o “não ser”
pertence ao “ser” como já havia admitido Heráclito, mas não quis aceitar Parmênides.
Se isso é uma questão de linguagem, o fato é que esse problema existe. O que é um
buraco senão um espaço cuja ausência da terra é sentida quando nele se cai? Ele
existe não é mesmo? Ou o que existe é apenas o que o circunda?

Imagine agora o problema do ser e do não ser, do real e do irreal como fonte
e fundamento para se pensar todos os problemas que evocam igualmente os
contrários: luz e sombra, presença e ausência, dor e prazer, amor e ódio, guerra e
paz, bem e mal, existir e não existir, viver e morrer.

Chegamos a um momento em que é necessário se tomar uma decisão: pensar


na prioridade da existência ou não de um ou outro desses pólos contrários. Eles
existem em plenitude de igualdade ontológica, isto é, de realidade, de ser? Ou, em
outras palavras, uma realidade só existe em relação à outra ou o que de fato tem
consistência de ser é apenas uma delas e assim, a outra é somente uma espécie
de ausência, degradação ou negação da primeira. Há quem pense o problema do
mal, do ódio, da morte e da doença como consequência da realidade suprema e
primeira do bem, do amor, da vida e da saúde.

E você o que pensa sobre tudo isso? Estamos no ponto alto da Metafísica do
Ser. Aqui se decide o fundamento de nossa visão sobre o mundo, a vida, a ética e
outros tantos problemas em que a ciência sozinha não dá conta de responder.

Essa linguagem sobre o ser e a realidade tomadas em sua totalidade não é nova
para os filósofos. Agora vamos ver como o filósofo Aristóteles tentou organizar
o problema do ser apontado pelos pré-socráticos nessa dualidade flagrante de
contrastes que confunde o pensar em sua ânsia de captar a realidade do ser na
multiplicidade de seu aparecer.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

A Compreensão do Ser na Metafísica


de Aristóteles
Metafísica no pensamento anterior a Aristóteles
Os pensadores gregos que foram chamados de Pré-socráticos queriam
compreender, numa comparação com os físicos atuais uma espécie de equação,
no caso deles, um elemento originário que pudesse explicar a causa de todas as
coisas. Essa causa não devia explicar somente a origem cronológica das coisas
como princípio no tempo, mas o fundamento de tudo o que existe e provê a
manutenção do ser que constitui e está presente em todos os seres. Esse elemento
era chamado de “arché”, palavra grega que traduzimos por princípio, mas pode
ser também fundamento.

A novidade dessa forma de pensar filosoficamente estava na forma de dispensar,


romper ou ignorar a linguagem simbólica, alegórica ou ainda metafórica do mito
e da fé religiosa. O pressuposto básico estava na admissão da capacidade da
razão lógica encontrar as respostas pelos princípios e causas originais. Água, ar,
indeterminação, terra, fogo, ser e não ser foram apresentados como elementos
originários. A dimensão metafísica dessa busca estava na ousadia de sua abrangência,
ou seja, sua pretensão de esgotar numa explicação, através da apresentação de um
elemento, de estrutura ou constituição de toda a realidade.

A ideia de metafísica como algo que investiga coisas que estão para além da
física não faz justiça a esse modo de pensar. Metafísica, nesse sentido, é antes, a
busca por uma explicação de tudo o que está na esfera da física, entendida aqui
como “physis” grega, isto é, “natureza” e tudo o que ela contém.

O problema maior para os pré-socráticos é explicar o movimento, a mudança


dos seres. O aparecer e o desaparecer das coisas, dos entes em sua multiplicidade.
Que ser, ou seja, qual realidade pode dar conta de explicar o movimento? Ou
será que o movimento é apenas uma ilusão dos sentidos. O histórico da resolução
desse problema produziu vários sistemas explicativos. Filósofos como Pitágoras,
Heráclito, Parmênides, Sócrates e Platão entre outros, deram, cada um a seu
modo, uma explicação metafísica para o problema da mudança. Admitir ou não o
movimento como realidade primeira, causa e fundamento de todos os fenômenos
até hoje continua produzindo sistemas de pensamento que reconhecem a natureza
contrária de seus pressupostos metafísicos. Ser ou estar ao lado de gente aberta,
favorável e acolhedora de mudanças é bem diferente de estar ao lado de pessoas
que as ignoram, resistem e são contra qualquer tipo de alteração do estado das
coisas não é mesmo?

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Diante da tendência já encontrada em Parmênides e radicalizada em Platão de
priorizar o caráter imutável do ser como ideia eterna alheia e superior ao mundo
dos sentidos, Aristóteles formulará nova forma de resolver o problema metafísico
da unidade do ser frente à realidade da mudança e da multiplicidade dos entes:
(...) diferentemente de seus dois predecessores, Aristóteles não julga o
mundo das coisas sensíveis, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório.
Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente,
a multiplicidade de seres e a mudança incessante.
Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões ou sombras
do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe, é real,
que seu modo próprio de existir é a mudança e que esta não é uma
contradição impensável. É possível uma ciência teorética verdadeira sobre
a Natureza e a mudança: a física. Mas é preciso, primeiro, demonstrar
que o objeto da física é um ser real e verdadeiro e isso é tarefa da Filosofia
Primeira ou da meta-física (CHAUÍ, 1994, p. 217).

A tarefa e os objetos da Metafísica segundo Aristóteles


Como assinalou Marilena Chauí, Aristóteles confere à física o estudo dos seres
em sua multiplicidade, isto é, dos entes e das coisas perecíveis. A física é Filosofia
Segunda, pois tem por objeto os entes sujeitos à corrupção, visíveis aos nossos
sentidos no tempo e no espaço, enquanto à Metafísica, chamada por ele de Primeira
Filosofia, cabe o estudo do Ser enquanto ser, isto é, daquilo que explica a unidade
dos entes, suas essências, causas e fundamentos.

Sendo assim, a Metafísica ou Filosofia Primeira para Aristóteles tem por objeto
de estudo três grandes realidades ou dimensões do Ser:

1. o ser de Deus, o primeiro motor imóvel que dá origem e movimento a tudo


o que nele encontra sua causa primária;
2. primeiras causas de todos os entes existentes;
3. essência ou substância e todas as categorias, isto é, suas propriedades e
4. atributos presentes em todos os entes existentes.

O estudo do Ser como causa primeira identifica-se com a Teologia; é o estudo


do Ser sem causa, perene e imutável. Esse estudo, discurso ou racionalidade (do
grego “logos”) sobre Deus (Theos) não tem nada a ver com o que o cristianismo
mais tarde definiu como Teologia. Teologia para o cristianismo é o saber sobre
Deus que parte da revelação, ou seja, da fé e do que a tradição afirma ser Sagrada
Escritura. De modo diferente, para Aristóteles, Teologia é a parte da Primeira
Filosofia que se ocupa da divindade em seus atributos e características de primeiro
Ser, causa primeira e motor imóvel que desencadeia toda a multiplicidade dos entes
existentes no mundo, bem como a própria ordem cósmica enquanto tal.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

As primeiras causas
O problema do movimento em Aristóteles encontra uma solução a partir de sua
concepção de causalidade. Causa é tudo aquilo que influi e produz a existência de
um ser. O movimento é real e sua explicação se encontra no fato inconteste da
mudança que vemos ocorrer nos entes e entre eles. São mudanças que acontecem
sempre a partir de um ponto rumo a outro. O primeiro destes pontos, o que dá
origem ao movimento é o que se chama de causa.

As mudanças podem ser acidentais ou substanciais. As primeiras transformam


nas coisas apenas o que é acidental, mas não alteram sua substância. As outras,
chamadas substanciais, alteram a própria essência das coisas, transformando a
substância, isto é, a coisa naquilo que ela é em si mesma. A água, por exemplo,
pode mudar de estado, de fria pode tornar-se quente e evaporar-se, mas a sua
substância que hoje sabemos se traduz pela fórmula química, H2O, se mantém
inalterada. Trata-se então de mudança acidental. Entretanto, quando se está diante
de movimento que supõe geração ou corrupção, ocorre uma alteração substancial.
A morte ou a geração de uma nova vida são exemplos de mudança substancial,
pois elas são demonstrações de transformação da substância: o que antes era agora
não é mais; ou simplesmente deixa de ser, ou então, se transforma em novo ente.

A partir da ideia de causalidade e da variedade das causas que explicam o


movimento dos seres, Aristóteles chega à concepção das principais, primeiras e
mais originais causas de tudo o que existe. São as quatro causas, os pilares da
Metafísica aristotélica:
1. Matéria. É o elemento de que tudo é feito na natureza e possui a
capacidade de alteração conforme a variedade das formas possíveis em que
se encontra. 2ª) Forma. É o que dá existência singular à matéria e constitui
a essência de cada ente. Através da forma a matéria se individualiza e dá
identidade aos seres.
2. Assim, matéria e forma são causas primárias, quando associadas dão
origem a tudo o que existe na variedade dos seres e na composição da
singularidade das substâncias, isto é, das coisas em si mesmas.
3. Potência. É o que a matéria contém em si mesma como possibilidade
escondida ainda não manifesta do que ela pode vir a ser, mas ainda não é.
O exemplo clássico é o da semente. A semente de uma árvore é a potência
da árvore, a possibilidade escondida ainda não manifesta que ela tem
para ser árvore.
4. Ato. É a potência manifesta, atualizada e transformada da matéria. Para
usar o mesmo exemplo, ato é a árvore, possibilidade concretizada da matéria
contida potencialmente na semente, agora transformada plenamente naquilo
que antes estava escondido; é a matéria em sua forma atual manifestando o
que virtualmente continha sua potência.

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Potência e ato são duas causas que completam o quádruplo dos princípios
fundamentais da metafísica de Aristóteles. Eles são princípios causais constituintes
da mesma realidade suprema, o Ser. Funcionam como conceitos que operam a
dinâmica do movimento no interior de todo ente, como dimensões do Ser que é
uno, perene e total, mas é também múltiplo, singular e submetido à realidade do
movimento exatamente porque explicam a própria possibilidade da mudança.

Outra maneira de entender as quatro causas se explica através da pergunta pelo


“o porquê” das coisas apontando para quatro diferentes sentidos: 1) A causa
material é identifica na coisa aquilo de que ela é feita. 2) A causa formal a sua
essência e o que ela realmente é. 3) A causa eficiente explica como uma matéria
recebeu tal forma como sua essência. O escultor é a causa eficiente que fez do
mármore uma obra de arte. 4) E finalmente, a causa final é o motivo e o para quê
das coisas, que explicam sua finalidade.
1. De que é feito? (Causa material)
2. O que é? (Causa formal)
3. Como ou quem fez? (Causa eficiente)
4. Para quê? (Causa final)

A Substância e demais categorias


O conceito de substância em Aristóteles assume dois sentidos
complementares. O primeiro se aplica aos indivíduos singulares e o outro aos
gêneros e espécies de indivíduos.
No primeiro sentido, a substância é um ser individual existente; no
segundo é o conjunto das características gerais que os sujeitos de um
gênero e de uma espécie possuem. Aristóteles fala em substância primeira
para referir-se aos seres ou sujeitos individuais realmente existentes, com
sua essência e seus acidentes; por exemplo, Sócrates; e em substância
segunda para referir-se aos sujeitos universais, isto é, gêneros e espécies
que não existem em si e por si mesmos, mas só existem encarnados
nos indivíduos, podendo, porém ser conhecidos pelo pensamento. Assim,
por exemplo, o gênero “animal” e as espécies “vertebrado”, “mamífero”
e “humano” não existem em si mesmos, mas existem em Sócrates ou
através de Sócrates (CHAUÍ, 1994, p. 220-221).

No conceito de substância está implicado o das categorias. São as categorias


que definem os modos como as substâncias podem ser qualificadas e por isso,
conhecidas. Elas expressam a variedade dos modos de ser e as características de
uma dada substância, sendo que a própria substância é uma modalidade do Ser.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

Categorias são os atributos ou predicados do Ser, formas a partir das quais se


pode descrever, qualificar, definir e compreender o Ser nas mais diferentes situações
possíveis. Aristóteles distinguiu dez categorias do Ser:
1. Qualidade
2. Quantidade
3. Relação
4. Ação
5. Paixão
6. Localização
7. Posição
8. Temporalidade
9. Hábito
10. Substância
1. Qualidade diz respeito a qualquer juízo que se faz sobre uma coisa especificando
algum atributo que o qualifique como feio, bonito, bom, mau etc.
2. Quantidade refere-se aos atributos capazes de definir as dimensões de
extensão, grande, pequeno, pouco, muito etc.
3. Relação insere o Ser na sua interação com os outros: diferente, igual,
superior, inferior etc.
4. Ação implica nos atos do Ser como sujeito: comer, jogar, chover, morrer,
nascer, viver, etc.
5. Paixão é a categoria que informa o modo como o Ser é afetado e sofre a
ação de outro: ser ferido, atormentado, aprisionado etc.
6. Localização diz respeito ao lugar que o Ser ocupa na geografia do espaço.
Trata-se do onde, cidade, região, país etc.
7. Posição é a categoria que informa o modo de se estar no lugar: em pé,
deitado, perto, longe etc.
8. Temporalidade é o indicador da situação no tempo: ontem, hoje, amanhã,
ao amanhecer, anoitecer etc.
9. Hábito indica o costume do Ser, seu modo regular ou costumeiro de
aparecer, sua forma mais frequente de ser e acontecer etc.
10. Substância: é o que existe no Ser como essência das coisas e constitui a
identidade dos entes por existirem por si mesmos sem depender da noção de
seus atributos acidentais.
Assim, concluímos esse tópico sobre os principais conceitos da Metafísica de
Aristóteles. Por meio desses conceitos de causalidade, substância e categorias, ele
conseguiu conciliar e resolver o problema do dualismo presente nas filosofias de
Parmênides e Platão, sem ter que sobrepor o mundo das ideias e das formas ao
mundo da matéria, privilegiando aquele em detrimento deste. De outro lado, não
precisou negar os sentidos como primeira fonte do conhecimento e muito menos o
movimento como realidade presente no mundo dos entes.

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Conclusão
Em forma de síntese apresentamos a seguir as principais ideias que você deve
retomar e fixar como aprendizado adquirido nessa segunda unidade.
· Primeiro. O problema do ser é metafísico por excelência e não deve
conduzir o sujeito a uma linguagem evasiva sobre as coisas só porque
exige o uso de um vocabulário extremamente abstrato. A abstração é
consequência da necessidade de abarcar com o pensamento e a reflexão
crítica os grandes dilemas da existência como foi demonstrado na célebre
inquietação de Hamlet. Ser ou não ser naquele contexto invade as mais
profundas angústias da alma humana, inclusive aquelas que nascem de
sentimentos como amor e ódio. Ser e não ser pode concretizar todas as
possibilidades existenciais, inclusive amar ou não amar...
· Segundo. Para pensar, refletir e analisar a diversidade do Ser sem correr
o risco de se perder na multiplicidade dos entes e do movimento constante
que provoca alterações em tudo o que vemos, sentimos e concebemos é
preciso adquirir e lançar mão de uma linguagem bem mais capacitada e
técnica, de modo a não permitir que o pensamento se disperse na busca
da realidade tal como ela é em suas diferentes manifestações. Essa é
a tarefa mais importante da Metafísica: distinguir a realidade suprema
do Ser no mundo da pluralidade dos entes sem deixar-se enganar pela
capacidade que o pensamento e a palavra têm de falsear, ocultar ou
produzir ilusão da realidade.
· Terceiro. Aristóteles com sua Filosofia Primeira realizou o esforço de precisar
a linguagem e descrever a realidade do Ser através de noções fundamentais
que integraram noções aparentemente inconciliáveis como de Ser e não ser,
movimento e imutabilidade, unidade e multiplicidade, Ser e ente.

As noções de princípio e causalidade, substância e acidente, matéria e forma,


ato e potência e as demais categorias do Ser representam o resultado dos primeiros
passos de nossa introdução à Metafísica de Aristóteles. Esse estudo vai ajudar você
a entender com maior clareza outros problemas metafísicos, alguns deles bem
próximos de nós e que serão objetos das próximas unidades.

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UNIDADE Problemas da Metafísica do ser e da existência

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Hamlet
Shakespeare, William

 Filmes
Hamlet
Veja a obra de Shakespeare, Hamlet, em alguma adaptação
para o teatro ou para o cinema

 Leitura

Hamlet
Shakespeare, William
http://goo.gl/c0EKs
Metafísica de Aristóteles Livro XII
A tradução do Prof. Lucas Angioni da UNICAMP
http://www.cle.unicamp.br/cadernos/pdf/LucasAngioni-Traducao.pdf
Aristóteles (384-322 A.C)
Tópicos; Dos argumentos sofísticos.
Pickard
São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção (Os pensadores)

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Referências
AZEN, Marcus Azen. Postado em 25/03/2013, Disponível em http://eradaincerteza.
blogspot.com.br/2013/03/ser-ou-nao-ser-eis-questao-um-ensaio.html

CASARIN, Rodrigo. http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/23

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 441p.

DUARTE JR., João Francisco. O que é realidade. 2.ed. São Paulo: Brasiliense. 103p.

GILES, Thomas Ransom. Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: E.P.U. -Editora
Pedagógica e Universitária Ltda/ EDUSP- Editora da Universidade de São Paulo.
1979. 324p.

GUEDES, Wagner (Org.). Ensaios Filosóficos. Sociedade, Ciência e Metafísica.


São Paulo: Dialógica Editora. 2013. 224p.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Glossário do Observatório da USP. EAC e FEA/


USP. Disponível em: http://www.eac.fea.usp.br/eac/observatorio/metodologia-
glossario.asp

MOLINARO, Aniceto. Léxico da Metafísica. São Paulo: Paulus, 2000. 144p.

RICKEN, Friedo (Org.). Dicionário de Teoria do Conhecimento e Metafísica. São


Leopoldo/RS: Unisinos, 2003. 308p.

SANTOS, Theobaldo Miranda. Manual de Filosofia. Introdução. Filosofia Geral.


História da Filosofia. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Companhia Editora
Nacional 17.ed. 1972. 272p.

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Texto disponibilizado no site de Millôr Fernandes:


www2.uol.com.br/millor/. Disponível em: http://goo.gl/c0EKs

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