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O Estoicismo
03/08/2002 Por Emile Bréhier,
O
Antigo Estoicismo
por
Émile Bréhier
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I
– Os Estóicos e o Helenismo
Quanto à filosofia, é evidente que toma uma forma completamente nova e não
continua nenhuma das direções que até então tinha tomado. Os grandes
dogmatismos
que vemos nascer então – estoicismo e e epicurismo – em nada se parecem ao
que lhes precede; ainda que sejam muitos os pontos de contato com seus
antecessores,
seu espírito é completamente novo. Este é caracterizado por dois traços brilhantes:
o primeiro é que é impossível ao homem encontrar regras de conduta ou alcançar
a felicidade sem apoiar-se em uma concepção do universo determinada pela razão;
a investigação acerca da natureza das coisas não tem um fim em si mesma, na
satisfação da curiosidade intelectual, mas exigem também a prática. O segundo
traço, mais ou menos manifesto, é a tendência à disciplina de escola, segundo
o qual o novo filósofo não tem que buscar o que já foi encontrado antes e
a razão e o raciocínio só servem para consolidar nele os dogmas da escola
e dar-lhes uma segurança inabalável; mas nestas escolas não se trata, muito
menos, da investigação livre, desinteressada e ilimitada da verdade, mas de
se assimilar uma verdade já encontrada.
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Tantos traços novos não foram aceitos sem resistência, e já veremos que continua,
no século III, por debaixo dos grandes dogmatismos, a tradição dos socráticos.
Para compreender bem o alcance e o valor destes dois traços, convém perguntar
quem eram os homens que introduziram estas novidades e como reagiram ante
as novas circustâncias históricas criadas pela hegemonia macedônica.
Atenas continua sendo o centro da filosofia, mas nenhum dos novos filósofos
é ateniense, nem mesmo grego continental. Todos os estóicos conhecidos do
século III são metecos vindos de países que estão às margens do helenismo,
da grande tradição cívica e pan-helênica, influenciados por muitas outras
correntes que não a helênica, em especial a dos povos vinhos da raça semita.
Uma cidade de Chipre, Citio, deu nascimento a Zenão, o fundador do estoicismo,
e a seu discípulo Perseo; o segundo fundador da escola, Crisipo, Antipater
e Arquedemo também são de Tarso. De países propriamente semitas vem Herilo
de Cartago, discípulo de Zenão, e Boeto de Sidón, discípulo de Crisipo. Os
procedentes das comarcas mais próximas são Cleantos de Assos (costa eólia)
e outros dois discípulos de Zenão, Estero de Bósforo e Dionísio de Heraclea,
em Bitinia, sobre o Ponto Euxino. Na geração que se segue à de Crisipo,
Diógenes da Babilônia e Apolodoro de Selêucia vem da remota Caldéia.
A maior parte destas cidades não tinha atrás de si, como as cidades da Grécia
continental, longas tradições de independência nacional, e seus habitantes
estavam acostumados a viajar até os mais longínquos países por motivos comerciais.
Se diz que o pai de Zenão de Cítio era um comerciante chipriota que, quando
vinha a Atenas para seus negócios, comprava livros dos socráticos, cuja leitura
inspirou no filho o desejo de escutar tais mestres. [1]
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para recuperar sua independência, Atenas se entrega, pela paz de Demades (322),
ao macedônico Antipater, que estabelece ali o seu governo aristocrático e
torna-se dono de toda a Grécia. Há um momento em que o regente da Macedônia
que o sucede, Polispercón, restabelece a democracia em Atenas, para assegurar
uma aliança (319); mas Cassandro, o filho de Antipater, expulsa a Polispercón,
restabelece o governo aristocrático em Atenas, sob a presidência de Demetrio
Faléreo, e se mantém na Grécia apesar dos esforços dos outros diádocos, Antígono
da Ásia e Ptolemeu, que se apóiam na liga das cidades eólias contra ele. Em
307 verifica-se nova mudança. Demetrio Faléreo é expulso de Atenas pelo filho
de Antígono da Ásia, Demetrio Poliorcetes, que devolve a Atenas sua liberdade,
desempossa o macedônio da Grécia inteira e se proclama seu libertador. Os
atenienses, abandonados por ele, são bastante fortes para deter, com o auxílio
da liga etólia, a Cassandro da Macedônia, que passa as Termópilas em 300 e
é derrotado em Elateia. Alguns anos (295) depois da morte de Cassandro, Demetrio
Poliorcetes toma o trono da Macedônia, que seus descendentes conservarão.
A partir desse momento, a influência macedônica predomina em Atenas quase
sem oposição; apenas em 263, no reinado de Antígono Gonatas, filho de Demetrio,
Ptolemeu Evergetes se declara protetor de Atenas e do Peloponeso e Atenas,
sustentada por ele e pela Lacedemônia, faz um último e vão esforço para recuperar
sua independência (Guerra de Cremônides). Desde então, não encontra mais sucesso.
Contudo, a resistência aos macedônicos ainda está viva no Peloponeso, onde
a Macedônia planeja apoiar sua influência nos tiranetes das cidades. Em 251,
Arato de Sicione estabelece a democracia em sua pátria, e depois, tomando
a presidência da liga aquéia, expulsa os macedônicos de quase todo o Peloponeso
e reconquista Corinto. Mas, apesar de seus esforços, e ainda que planeje corromper
com dinheiro o governador macedônico da Ática, não pode fazer entrar na liga
os atenienses e busca apoio em Ptolemeu. É conhecido o triste fim deste último
esforço da Grécia pela sua independência; Arato encontra ante si um inimigo
grego, Cleómenes, rei de Esparta, renovador da antiga constituição espartana
e aspirante a exercer de novo a hegemonia no Peloponeso. Contra tal inimigo,
Arato chama como aliado os reis da Macedônia, que, desde a morte de Policrates,
eram tradicionais inimigos das liberdades gregas. Antígono Doson e seu sucessor,
Felipe V, o ajudam, efetivamente, a derrotar Cleómenes, mas voltam a se apoderar
da Grécia até Corinto. Arato é vítima de seu protetor, que o envenena, bem
como a dois oradores atenienses que gostavam do povo em demasia. Por fim,
os romanos, no ano 200, livram os atenienses do jugo macedônico, mas não para
lhes dar a independência.
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Assim como Zenão envia a Perseu Antígono, Cleanto envia Esfero Ptolemeu
Evergetes.
Este Esfero era o mestre estóico que havia ensinado filosofia em Esparta,
onde contava entre seus alunos Cleómenes, [5] que restabeleceu em Esparta
a constituição de Licurgo e se inspirou, talvez, no estoicismo para suas reformas
políticas; mas na realidade, carecia do espírito helênico que animava seu
inimigo, o chefe da Liga Aqueía, Arato de Sicione.
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II
– Como Conhecemos o Antigo Estoicismo
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seus nomes, muitas vezes fica difícil fazer uma separação entre as opiniões
dos estóicos antigos, os do século III a. C, e as opiniões dos estóicos médios,
os do século II e I a.C. Há também no desenvolvimento do Antigo Estoicismo
divergências que diminuem a concordância geral. Não se deve, pois, disfarçar
o caráter algo artificial de uma exposição panorâmica do estoicismo, já que
é feita com tão poucos dados. Partindo da doutrina de Zenão, indicaremos
aproximadamente
o que seus sucessores Cleanto, ou Crisipo, modificaram nela.
III
– As Origens do Estoicismo
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Devemos procurar suas origens no solo grego? Provavelmente sim, pelo menos
em parte. O pensamento do século IV não se esgota nem no conceitualismo de
Aristóteles e de Platão e nem nos ensinamentos dos socráticos, mas se mostra
muito mais diversificado. As escolas médicas eram prósperas, e se ocupavam
cuidadosamente das questões da natureza da alma e da estrutura do universo.
Recordemos as inesperadas aparições da medicina no Fedro e, sobretudo,
no Timeu de Platão.
Em seu livro Contra Juliano, o médico Galeno, uma das melhores fontes
para a história do estoicismo, nos ensina que Zenão, Crisipo e outros estóicos
escreveram amplamente sobre as doenças; que, de resto, uma escola médica,
a escola metódica, se dizia inspirada por Zenão, e finalmente, que as teorias
médicas dos estóicos eram as mesmas de Aristóteles e de Platão. Ele as resume
assim: Há no corpo vivo quatro qualidade opostas, duas a duas: o quente e
o frio, o seco e o úmido; estas qualidades tem como suporte quatro humores:
bílis e atrabílis, o fleuma ácido e o fleuma salgado; a saúde se deve à mistura
acertada destas quatro qualidades, e a doença (ao menos a doença de regime)
se deve ao excesso ou carência de uma destas qualidades, ainda que outras
enfermidades se originem na ruptura da continuidade das partes do corpo. Acontece
também que estas e outras opiniões físicas dos estóicos (sobre o assento da
alma no coração, sobre a digestão, sobre a duração da gravidez), são afastadas
por Fílon de Alexandria [9]
como opiniões tomadas dos médicos pelos filósofos da natureza.
Se pode precisar o alcance destes exames graças aos fragmentos que restam
da obra de Diokles de Karystos, um médico do século IV citado por Aristóteles.
Segundo esta doutrina fisológica atribuída aos estóicos, Diokles pensava que
todos os fenômenos da vida dos animais são governadas pelo quente e o frio,
o seco e o úmido, e que há em cada corpo vivo um calor inato que, ao alterar
os alimentos ingeridos, produz os quatro humores: o sangue, a bílis e os dois
fleumas, cujas proporções explicam a saúde e a doença. Mas, por outro lado,
vemo-os admitir que o ar externo, atraído até o coração pela laringe, o esôfago
e os poros, se converte dentro do coração no sopro psiqúico em que reside
a inteligência, dá temperatura e sustenta o corpo, se estendendo por todo
ele, e origina os movimentos voluntários. "Os corpos vivos, diz Diokles,
são assim compostos de duas coisas, o que conduz e o que é conduzido. O que
conduz é a potência, o que é levado ao corpo". Muitas doenças devem-se
à obstrução desta potência, idêntica ao sopro, quando impedida de circular
pelos vasos por causa da acumulação de humores.
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Análogas são as teorias dos estóicos sobre o ser vivo, mas a explicação para
eles se generaliza e todo corpo, animado ou inanimado, é concebido à maneira
de um ser vivo. Há nele um sopro (pneuma) cuja tensão sustenta as partes.
As diversas gradações de tensão explicam a dureza do ferro assim como a solidez
da pedra. O universo todo (como no Timeu, tão impregnado de idéias
médicas) é também um ser vivo cuja alma, sopro ígneo estendido através de
todas as coisas, sustenta as partes.
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evidentemente de uma tradição jônica, visível, por outro lado, até no mundo
matematizado de Platão, considerado no Timeu como um ser vivo. Mas,
ainda que admitidas estas influências, o principal continua sem se explicar.
No lugar que os estóicos dão a Deus, na maneira como concebem a relaçao de
Deus com o homem e com o universo, há traços novos que jamais havíamos
encontrado
entre os gregos. O Deus helênico, o do mito popular, igual ao bem de Platão
ou o pensamento de Aristóteles, é um ser que tem, por assim dizer, sua vida
a parte e que, em sua existência perfeita, ignora as agitações e os males
da humanidade, bem como as vicissitudes do mundo; é o ideal do homem e do
universo, mas não atua sobre ele a não ser pela atração de sua beleza; sua
vontade nada tem a ver com eles e Platão condena os que crêem que se pode
comovê-lo com preces. Também havia condenado Platão, por certo, as velhas
crenças que admitiam um deus cioso de suas prerrogativas; mas a bondade que
ele opunha a este zelo é uma perfeição intelectual que nada tem de bondade
moral, e a cujo respeito a ordem do mundo é como uma irradiação sua. Sem dúvida
também, ao lado destes Olímpicos, os gregos reconheciam em Dionisos um deus,
cujas mortes e renascimentos periódicos davam um ritmo à vida dos seus fiéis;
a fé se associa ao drama divino; sofrendo e gozando de algum modo a paixão
de deus, se identifica com ele mediante a orgia mística; tampouco no culto
báquico o deus desce até o homem, mas deixa que o homem se eleve até ele.
Mas o deus dos estóicos não é um olímpico nem um Dionisos, é um deus que vive
em sociedade com os homens, com os seres racionais, e que dispõe todas as
coisas do universo em favor deles. Sua potência penetra todas as coisas e
nenhum detalhe, por ínfimo que seja, escapa à sua providência. É uma maneira
completamente nova de conceber a relação divina com o homem e com o universo.
Já não é aquele solitário estranho ao mundo que atrai por sua beleza, ele
é o autor mesmo do mundo, cujo plano concebeu em seu pensamento. A virtude
do sábio não é nem a assimilação de Deus que sonhava Platão, nem a simples
virtude cívica e política que pintava Aristóteles; ela é a aceitação da obra
divina e a colaboração desta obra graças à inteligência do sábio. Está aqui
a idéia semítica do Deus todo-poderoso que governa o destino dos homens e
das coisas, tão diferente da concepção helênica. Zenão, o fenício, vai dar
o tom ao helenismo. Certamente, esta não é uma importação brusca dentro do
pensamento grego: o Deus de Platão, no Timeu, é um demiurgo, o das
Leis se ocupa dos homens e dirige o Universo em todos os detalhes,
e o deus de Sócrates e de Xenofonte, que deu aos homens seus sentidos, inclinações
e inteligência, os guia também mediante os oráculos e a adivinhação. Anunciava-se
assim o tema demiúrgico e providencialista que com Zenão se converte na chave
da filosofia. Veremos, na continuação desta história, como estas duas concepções
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IV
– O Racionalismo Estóico
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