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Orientações

Antropologia como uma prática da teoria

Antropologia: uma crítica do senso comum


A J.ntropologia :iocial c cul tural é "o estudo do senso comwl1". Contudo, o
\I:mo comum é, antropologicamente tàlando, scri.une nte chamado de uma ma­
tlI.~ira errada: ele nem é comum para rodas as culturas, nem é qualquer versão
disso p.u'ticularmente sensível a parti r da perspectiva de alguém fora do seu ( 0 11 ­
ll'xro cultural particular. Ele é a versão socialm ente aceidvç l de cultura, e assim é
tJ.o \·ari.ívcl quanto são as furmas cu lturais e também as regra..., sociais - estes ei­
\C), gêmeo.~ q ue defil1cm os objetos formais da teoria antropológica. Seja ele visto

como "Juroevidência" (DOUGLAS, 1975: 276-318) ou como "obvicdadc"', o


~l'IN) co mum - .1 compreensão cotidiana de como o mundo fu nciona - revela-se
I:xrr.lOrdinariamente diverso, enJouquecedoramcnte incoerente e altamente res is­
rente a q ualquer ti po de ceticismo. Ele está incorporado tanto na experiência sen­
sí"el quanto na prática política - rea lidades poderosas que o brigam e dão acesso
.10 w nhccimento. Como sabemos que os seres bwnanos realmente pousaram na
IU.I? bstamos (geralmcl1te) conve ncidos disso - mas como sJbemos que J nossa
l.:ol1\'icção não repousa em qualquer certeza extraviada das fo ntes de nossa infor­
l11.lção? Se tivelmos razão de duvidar que os outros sej<illl totahm:nte bem-sucedidos
1.:111 dar sentido ao mundo, como sabemos - dado que não podemos tacilmente
,>.lÍ r úo nm ~o quadro de referência - que estamOs faze ndo a.lgo mel hor?
G.'rtamente, este desafio ao que deveríamos chama.r de cn:d ulidade cientí­
fica e racional não era o q ue os primeiros ámropólogos (em q ualquer sentido
n:con hecido profissio na llllente) tinham em mente. Pelo co ntrário, eles estavam
convencidos de sua própria superioridade cultural em relação às pessoas que esm­
d.wam, e reagiriam com espanto a qualq uer sugestão de que a ciência pudesse ser
esrudacb da mcs m,l 111~U1ci ra C0 l110 "mag ia". Eles não viram esta di stinção com
<;endo propriamente simbólica; eles ach avam que ela era racio nal, literal e real.
Mas () seu pensan1cmo não estava menos atolado nas est11.I turas c nas ci rcunstân­
CIas da dominação colonial do que estava o pensamento dos povos colon izados

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que eles csulda";}I11, embora () seu flllgu lo de perspectiva f()$sC neccssar iJJl1cll tc questÕCs do COtiJillllO. O>l1tuJo, em \ez de sim pksl1lentc zombar da facilidade
diferente - de modo que é dificil mente ~lIrprec ndcl1re que eles chegassem a d ife­ com a qual os estud iosos são sed uzidos pela vaidade da sua especialidade., M iner
rentes concJusó~ , tivessem ou não estas conclusões qualquer validade em píri ca. levantou uma séria q uestão de epistemologia: Por q ue dev ia a suposta raciof1ali­
Reconhecendo esta em baraçosa descendência para o nosso campo, cu quero su ­ dLlde dos estilos de vida ocidentais escapar do olhar sarcástico do antropólogo? A
gerir mais uo q ue um mero exercício intclcl.·tual de imagi nação e ex:piação para os qucstão é séria porque é fundamentalmente po lítica, c a evidência c..ü.sso confronta
pecados coletivos do passado. Q uero sugeri r que a an tropologia aprendeu m ui­ ()~ :tntropólogos de \:ampo todas as vezes. Um cstudo (FERREfRA, 1997) das
to - e pode, portanto, ensi nar muito - tanto pela atenção dada a estes erros quanto rcspoSt:lS amazônicas para as co nvenções mateOláticas im posta:) pelo Ocidente,
pela celebraçao de suas rl.'alizações. Isto é, afinal de co m'as, () que ince.ntivamos po r exemplo, mostra q ue a negação das capacidades cogn iti vas dos nativos pode
os estudantes de antropol.ogia a fazer no cam po - de t,, 1 modo q ue as respostas ,cr parte integrante da sua exploração e mesmo do seu extermíni o pelos agentes
aos erros e julgamentos pobres podem freque ntemcnte scr mais instrutivas dl) locais dos interesses comerciais internacionais. A antropologia está freque nte­
que as respostas ao protocolo de entrevis ta mais cuidadosam ente fo rmulado. fu; mente exposta a incom preensões, incluindo as próprias incompreensões dos an­
realizações são em gran de parte os assuncos de gravações fatuais (e mesmo estes rrn pólogos, porq ue elas são comumente ()s resul tados da múma incomensurabi­
cstão frequcmem cnte em disputa); ma}; O cuáter social da teoria mais abstrata lidade de diferentes noçõcs de senso comum - o nosso objeto de estudo.
começou a ficar mu ito ma.i~ ev idente para nós e, paradoxalmcnte, esta consciên­ Connrdo, a tarefa se to rna proporcionalmente mais difícil à medida q ue a
cia de vinculação nos permitiu ser m u ito mai" rigorosamente comp:1rati vos do política e J. visão de mundo em estudo se m ovem para ma.is perto não somente
que jal11~li s fomos - para verificar ,1 n OSsa própria visão de mundo, com a antro­ dl' ( ,1S;1, mas dos centrOS do poder derivo. A <lJl trop() logia impôe a revelação
po logia como O seu instrumento e a sua expressão, nos mesmos tennos como de práticas íntimas que estio atrás dos pro testo:; retóricos da verdade eterna.,
nó~ vem os aq ueles outros distantes, sobre quem temos por tanto tempo fi xado () \'ariando "daqui lo <"l ue fo i sempre o nosso cosmmc", em quase toda sociedade
nosso olhar. Então, por que não csmdar a ciênci a como um objeto ctnográfico? .l ldei e tribal estudada pe los antropólogos no passado, até a evocação da ciência
O trabalho antropológico mais recente reaLmeme exami nou as reivindícações c dLI lógica po r toda a eli te polí6 ca moderna (cf. , p. ex., BALSHEM, 1993;
da tecnologia, da po ü6ca e da ciência modernas . P,lrticularmcnte, todo o c:un po ZA B USKY, 1995). Não ficaríamos surpresos se aq ueles cuja ~lll tori d ade pode
da antropologi a méd ica (cf. esp. KLEINMAN, 1995) desafio u as alegações d o estar comprometida por estas revelações Ila.o admite m tão facilmente se torna­
cientific isl1l o grosseiro que - como Nicholas T homas observa num contexto u m rem os objetOs da pesq uisa antropológica. C hamando a si mesmos de modernos,
pouco diferente - não consegu i.u acompanhar o ritm o dos desenvolvim entos da c:1c... reivindicaram principalmente terem alcançado um a racionalidade capa? de
própria ciência. H o uve d aramcnte uma enorme expansão do alca.nce temático da t"Tallscendcr as fronteiras clLlrurais (cf. TAMBlAH, 1990). Eles c41ra.c terizaram as
d isciplina, desde a preocupação dos vitorianos com () q ue eles cham avam de so­ llutr,Ui 'iociedadcs como se ndo pré-modcrna.'i, e atri buÍrem1 a estas últimas uma
ciedades selvagens. ESt~l expansão, além disso, ocasiono u mui to ma is do que uma (lira de especializ;lção em domínios que exigem atividade mental. Assim, a po­
sim ples ~l mpl iaç5.o dos bO lizontes fatuais ou mesmo teóricos. Ela é um rearranj I(tica roi considerada como estando intimamente incorporada no parentesco e
dos p róprios pri ncípios da perspectiva intelectual . 11l~lis geral mente no tecido soual destas sociedades. D a m esma maneira, a arte
A antropologia, unu d.isciplina que assim desenvolveu um sen tido irônico não f() i J.ifercno ada do artesanato ou da prQd ução ritual; a vidJ econômica foi
do seu próprio contexto social c cul tural, es tá particularmente bem equ ipada mantida por reciprocidades socia.is e sistemas de crenças; e a ciência tli o podia
para dCS3tiar a separação entl'e mode rn idade e trad ição e entre racionalidade e ~lIrgir como um campo autôno mo porque os sere.') humanos n50 tinham ainda
superstição - talvez, ironicllllcntc, em parte, porque ela desempenhou um papel encontrado maneira.'i dici e n~es de desembaraçar a prática do religioso (ou do
enormemente inl1uente na criação desta antinomia. A constante exposição de an­ ~ Llpc:rstici oso, tal como este domínio era às vezes chmllatlo, pressupondo uma
tropólogos no cam po da espcciricidade cultural dos seus p róprio~ fu ndamentos constante inc ~lpacidade de separar a crença cosmológica da pura filosofia, por lill1
indubitavelmente desempenh o u um im portante papel na geração de um se nti ­ L1do, e do con hecimento prático, do o ut ro). Assim, a princip"J tarefa da ano'o­
do - e desconforto - da vaidade cu ltural dos centros do poder mlUllÜ,,1. Realmen­ pologia foi vista como 'lendo o estudo dos domíni os d() social - políti ca, econo­
te, wna famosa t rapaça de Horace Miner (1956), num artigo 110 qu al d e ana lisava mia, parentesco, religião, estética e assim por di ante - naquelas sociedaJes cujos
os curiosos rituais do corpo Jos "Nacirema" (um grupo oibal bem con hecido, membros não tinham aprendido a hlZcr estas distinçôes abstratas. Muito dcpois
solco"ado para rd s), zom ba do modo forma l como os estudiosos [cori za m as d,l morte do evolucionismo como a teoria domin ~lntc da i>odcdadc e da cultura,

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CSl.l hipótese evo!m:ionistJ sustclltava as catcgoriJ:; da Moderni dade c da Trndi ­ 1:,tO significa es pecialmente dil.cr, como N6 to r Garda Cand ini cn!ntizou,
çJ:o como sendo a OOSl" para ensinar ~l. antropologia, e con,Sequentcrncl1tc também ljue o crescimento rápido das formas S()ci ~lis urbanas desferiu um go lpe decL~ivo
a ilusão de que as sociedades que tinh;un se anunciado como sendo mode rn as e nesta separação entre observador c observado (e no toco exclusivo de algu mas
avançadas tinh;un de algum modo conseguido se ckvar aci ma da incapacidade das mai~ tradicionais c "exóticas" formas de anrropo logia sobre O tr3.balho "scl­
parJ. conceituar o absrr.110 e assi m tinham alcançado C:xito em racional izar () <;ocial \'~lgem") . Tal como cle aponta, os próprios antropólogos c.~rão sujeitos à maioria
através da especialização das tarefas. d,lS forças que afetam as populações urbanas que eles estudam, Contudo, por isso
Contudo, estas hipótescs não podiam ser sustentadas por muito tempo. Elali n1t:')mo, a distinção entre o urbano e o rural, que (na forma binária na qual ela ~
rapidamente entraram em confronto com a experiência direta da pesqu isa de (rl'qucnremcnre aróculada) deve em alguma cxtensão simpl ificar um artefato da
campo, como T homas observa: a longa imersão nas populações para as quais cst-a história da própria antropologia., c.: também agora cada vez mais dilkil de SuSt(:J1­
condescendência estava dirigida solapava o sentido de absoluta superioridade e [.l r. Estas pcrccpçücs sublin ham :l impun::lncia de estar completamente conscien­

m pressupostos básicos foram émpi ricamemc desacrclUrados . De faro, como Sto­ n: das vinculações históricas da disciplina, Esta relação mais tl uida com O nosso
cking (1995 : 123,292) tinha notado, o retorno .10 trabalho de campo - mesmo rema surge como resu ltado de abordagens cada vez l113.is rdlc:\.'ivas. Como uma
ante.~ de Malinowski - era crucial para solapar as perspectivas evolucionistas, OIicmação básica na. antropologia, ela é tanto mais ti til .ulalitic:lmente quanto his­
ainda que o seu quadro organizador estivesse a ponto de provar uma persistência roricamcnte mais respomável do quc rejeitar O empreendimento inteiro como fa­
pemlrbadora: conhecer aqueles sobre quem se escrcve como vizinhos e amigos r.l1meote e irTemediavcJmeme falho ou pcl.} «contam inação" do observador (uma
torna as ide ias ctevad.ls sobre a hierarqu ia de culturas insustcndveis e mmbém (onsrruçâo simbólica encontrada COI11 surpreendente frequêr Ki"l nos escritos que
desagradáveis. Cada vez mais, os antropólogos começaram a aplicar em casa o re ivindicaram ser científicos) , ou por seu p3.Ssado hegemôn ico indiscutível (que
que eles tinh am encontrado de útil em sociedades supostamente si mples. Mary d e com partilh a com tOda a gam a das disciplinas acadêmicas). Tanto as respostas
Douglas (1966), defendendo uma definição cultur,ll c social d,l sujei ra contra pragm.iticas guanto as de rejeição podem certamente ser encontradas na litera lU­
wna defin ição puram ente bioquímica, desafiou profu ndamente as preocupações 1"1 ell1ogr.ruca, às VL'ZCS curiosamente juntas num ünico trabalho. Nesses momen­
centradas na higiene das sociedades cW'opeias e norte-americanas, llue Miner l OS contraditórios, de tato, podemos às vezes ver os primeiros estremecimentos
tão impiedosam cnte tinha sati ri7A'ldo. Marc Abéles percebe a política na Europa de uma abordagem mais flexível das confusões categóricas que, como Néstor
moderna, pelo menos em parte., como uma ressurreição dos valores e das relações García Canclini observa, proliferam na com plexidade da vida urbana.
em nível local, para cuja interpretação a perspectiva básica dos anrl'Opólogos pro­ Tomem, por exemplo, dois estudos grosseiros conremporâneos da sociedade
porcio na especialmente imediato acesso, marroguüu, runbos levando a inrrospecçáo a extensões que muitos acharam ser
No eot<Ulto, n50 podemos esperar um papel tão grande para a an tropolo­ excessivas. Contra a inl1exivel rejeição dos Moroccal'1 Dia/.lJgucs (1982) de Kevin
gi 3. 110 fu turo: es tc "o estranho relativiza o famili ar" é menos úti l e surpreen ­ Dwyer, uma o bra na qual uma única relação de etnógrafo e informante é- fei ta
dente hoje, q uando o conhecimento que os antropólogos produzem está ime­ para realizar o trabal ho de desestabilizar totalmente a disciplina, as manifesta­
diatamente aberto à critica por parte daqueles sobre q uem cle é produzido, mente niilistas & flectÜJns 011 Fieldwork in Mm'occo (1977) de Paul Rabinow colo ­
no momento em que d legam a compartilhar conosco uma extensão cada ve (<Im uma questão m ui to di fe rente: a sua contribuição para o pensamento antro­
mais ampla de tecnologia de comun icação. Não obstan te, esta mesma avaliação pológico atual vem menos através do desprezo do autor pelo método tradicional
devia ser causa de otimismo sobrc o potencial da antropologia para contribuir (ou melhor, pel3. ausência dele) do que através do seu reconhecimento perceptivo
proveitosamente para a crítica social e POlftiCl atu al. A inquietação a propósito de que O exausto estalajadeiro ex-colonialista francês era pelo menos um objcto
da crise de representação não deve o bscurecer o fàro de que algumas das crío ­ tão bom para a investigação ctnográfica qu anto os românticos habitantes bcrbc­
cas ma.is respeit3.das geraram novas pcn.:epliõcs e saíd as importantes, Mesmo I'c.s do kasbah c do suq . Estes movimentos ajudam a tornar oS portadores "sem
a desilusão com () trabalho de c;;un po que começou a aparecer 110S anos Je desig11ação" da modernidade tão visíveis quanto interessantes e a dcsmamcJar a
1960 - c especialmente com as suas reivind icações dI: rigor teórico o bjetivo ­ sua retó rica de neu tnllid"de cl1 lru ral. Assim como albruns críticos europeus, por
teve o efeito de fortalecer es ta rejeição lI:!. separação rad ical entre o observador exemplo, atacam os an tropólogos por ousarem estudar os próprios europeus nos
e o observado e assim criou mais, não menos, formas de conhecimento empi­ mesmos termos com que fazem com os exótico.,> selvagens, desse modo expondo
rica mente fundamentadas. uma hierarq uia culturaJ que de fato vaJe a pena estuda r no seu próprio conrexco

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culnrral e social, tam bém J. recente c rápida ilJtcnsiti cação deste toco no "Oci­ A pesquisa. de campo, ITIUit:1S vezes Il uma cobboraçãlJ carregada de ten'lã(
dente" ajudou .1 d.issolver muito do resíduo da., próprias origens racistas emba­ com a rcspeid "el grande teoria, foi sempre a pedra angllbr da antropolog ia. Ela
raçosas da antropologia. Felizmente, a ausência das assim cha madas sociedades produz u ma intim idade de foco - mudar maneiras de enquadrar o trabalho de
ocidentais no rol dos gemlmeme 'ldm itidos loca is etnográJicos, uma situação campo etI1ográfico torna a imagem mais espaci a.l de uma comunidade limi tada
qUl' impl ici tamente representava estas sociedades como tra nscendendo a própria de algum modo dc.<;aruali zada - que permite o reconheci mento da indetermina­
culm ra, está sendo agora incisivamente remediada. ção nas relações sociais. Esta é u rna preoCllpação em pírica que mll ito facilmen te
No li vro de Rabinow, além disso, vemos uma das mais perversas torças da escapa da visão mais am pla, mas que, não obstante, tcm enorm es consequênc ias
antropologia: a sua ca pacidade de alltoexame, incl usive bastante destrutiva, for­ para Wl1a descrição mais extensa (na previsão dos padrõcs eleitorais, por exem­
neceu uma ferramenta pedagógica de considerável valor. Além disso, a nova vi­ plo, onde C0rounidades isoladas com muitas tendênci as podem manter o voto de
~ão cética do racionalis mo da antropologia oferece um saudável antídoto para qualidade numa corrida apen ada ). A natureza da pesqllisa ctllográfica, atinnou
os pressupostos mais u niversalistns COl11lU1.<; em outras disci pünas das ciências Nicho b s T bomas, pode agora ser mudada, em resposta às \1o\'as maneiras de
'iociais, embora o seu persistente localismo forneça lU11a torte vacÜla contra a organizar a vida social c w ltu raJ. Realmente, há uma mudança pragmaticamen­
universaüzação de valores particu Laristas de cultllras que ocorrem ser politica­ te sensível da insistência no foco local da emogratia - uma mi núscu la unidade
mente domi nantes. Sempre que o fim da J11tropologia foi proclamado de dentro, frequentemente simada dentro de tUlla igualmente arbiO'ária "área cultural" e
tem h,lVido uma renovação tan to do interessc cnerno q uanto da energia teórica defi nida pcL:1S supostas p"1rticu laridades desta área - e na direção de novos esfor­
interna. Isto, eu afi rm o, é porque a antropologia tornece a única crítica e espaço ços de enco ntrar a intim idade nccessária para um trabalho de cam po de ~u cesso
emp írico no qual examinar as prete nsões universalistas do senso comll m - in­ nas cidades maiores, nos encontros eletrônicos, nos escri tóri os e laboratórios, em
cl ui ndo o senso comlUTl da teria social oci dental. ônibus e o-ens (cf. GUPTA & FERGUSON, 1997; HERZFELD , 1997a).
Embora eu seja cauteloso em relação ao risco de ideias empoladas sobrc o Con mdo, est.1 mudança não invalida a preferência antropológica pela amílisc
que a disciplina pode fazer para o mu ndo Cm geral, cu tam bém afi rmo que ­ microscópica. Bastante curiosamente, de fato, o enorme aumen to na escala da
pelo menos na sala de aula, d ificilmente u m lugar sem importância, mas tam­ interação global intensificou mais do que atenuou a necessidade desta perspectiva
bém em todas aS outras arenas de formação de opinião às quais os anrropólogos íntima, como observa T ho mas, e como veremos particularmen te no l-apítulo so­
têm acesso de tem pos etn tem pos - há lU1l grande v<tlor na desestabiüzação das bre a Mídia. Se os antropólogos ainda querem ser "observadores participantes",
ideias recebidas ram o através do exame de alternativas culturais quanto aO'avés escoodidos em aldeias, enquanto os próprios aldeões estão ativamente trocando
da exposição da fraqueza que parece ser inerente a todas as nossas tentativas de (cf. DE1TSOU , 1995) , rastreando velhos amigos através das autoestradas d a
an alisar OS vários mundos cultu rais, incluindo O nosso próprio. Precisanlos desse comunicação, ou recusa.ndo se envolverem com a miríade das agênci as nacionais
contrapeso diante da h()mogcneização cada vez mais burocrática das formas de e internac ionais que assistem e perturbam as vid as cotidian as das pessoas, isto
conhecimento_ não basta.
E u afirmari a, além d isso, q ue a pOstura característica desta discip li na tem
sempre ~ ido a sua propens.io dc considerar as com unidades marginais e usar esta História e o m ito de origens teóricas
margi nalidade para fazer perguntas sobre os centros de poder. Recllmell te, alguns A maiotia das sínteses da amropologia começa com uma expücação da :m a
dos mais excitan tes estudos etl1ogdlicos são aqueles que Jesati am a retórica ho­ história, ou pelo menos coloc~ esta história antes de qualquer discussão destes te­
mogeneizadora dos cst:l.dos-nação. Um rece.nte trabalho sobre ,I Indonésia - um mas cOl1tcmpor-Jneos, (omo ~q llelc da refl exão. Meu pensamento de aqu i inver­
país de variações turbu lentas - toma a qllestão com uma força cspecialmcme d ra­ ter parcialmente esta convenção deve ressa.ltar, como wn exemplo do que estou
rnáticl, t,UltO tematicamentc qU~Ul to conceitualmente (BOWEN , 1993; GEOR­ desc revendo, a tcndência de ver o crescimento da disciplina como lIm progresso
GE, 1996; STEEDLY, 1993; TSING, 1993). Mas mesmo no mu ndo do poder uni linear - em olltra~ palavras, co 111 o um exemplo de LUna das ma is antigas e
europeu, há espaços m:l.rginais que complicam a representação tÜ nac ionalidade, pri ncipais narrativas da discip lina, aquela do evolucionismo (às vezes também
da cul tura e da sociedade, de maneir:l. que desatia pressupostOs h" muito aca­ conhecido C0l110 dan..,iniSt110 social O l1 Teoria tb Sobrevivência) . Isto também
lentados no interior a disciplina (cf. ARGYROU , 1996a, 1997, sobre Chipre; torn~l mais Hci l enfatizar uma questão relacionada: longe de serem Jispostos
HERZFELD, 1987, sobre a Grécia). nu ma scquência ordell:lda, começando cm a.lgum ponto de origem míti co, os

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...·" " 151\);) uu pensamellto atltropológico frcquente mente sob repõcm, confun ­
U m~\ coisa é reconhece r informantes como prodlJ[ot'C.\ de conhecimento so­
dem as predições usuai<; da sua orJcm Je aparecimelJto, e reaparecem como ana ­ cial abstrato, m.lS, como Thumas observa, lima coisa muito dife rente é utili z~-Io
cronismos embaraçoso!> em meio aos supostos uc.senvolvÍmentos teóricos pro­ como a base da nossa compreensão teó rica. Não ?bs tantc, a crescente porosidade
gressivos. Assim, por exemplo, a compreensão .lparentemellte muito "rnoucrna" Jo mundo contemporâneo sign ifica que, então, seremos cada vez mais depen­
c p6s-colonial de que as categorias analíticas principais, como O parentesco e dentes da tolerância intclecnlal dos nossos info rmantes e que, portanto, quer
o casamento, não podem ser tão uni versalmente aplicáveis, como uma vez ti­ queiramos Ou não, nos encontraremos fazc ndo (:xaramentc isso. Pois, cada VCI.
nhamos imaginado, é antecipado nos escritOs de exploradores que tinham pra­ mais, eles "Icem O que escre\'emos" (BRETfELL, 1993). Além disso, eles tam­
ticanlente arrancado JS inadequações uestas categorias no campo há um sécuJo, bém escreve m, e alguns deles escrevem antropologia. Isto tom a o seu raciocínio
especialmente na AuStráJia (cf. STOCIGNG, 1995: 26). Ao conrráno, COlltuJo, 111,lis perceptível (cf. esp. REED-DANAHAY, 1997) , em bora istO também talve:
algumas ideias-chave associadas com O evolucionismo da Inglaterra vitoriana e -. ig nifiquc que a domi nação dos sistemas de escrita " modernos" deviam o bstruir
com os modos fum:.Íon:llistas de explicação sistcmati zado.~ por Malinowski no.) olltros modos de raciocinar. O surgimento de aJgumas ünguagens dominantes
anos de 1920 frequentemente reapa recem no estruru raLsmo dos anos de 1960, e e J e modos de representá -Ias é lun de.senvolvimcnto llue mais limitaria do que
mesmo nos seus seguidores, incluindo a historiografia reflexiva sobre o exemplo estenderia as nossas possibilidades intelectuais.
',lracterÍstico do c:strunmllismo de Lévi-Strauss.
A extensão do "sentido" do "senso comu m)) para "o sensóri o" e a co ncom I­
Entre as suas muitas contribuições para a teoria antropológica, CJaudc u­ tante rejeição de um compromisso a prioyi com a separação cartesi,ma de mente c
vi -Strauss avançOll a visão de CJ1IC o mi tO era "uma máqui na para ~l supressão do de corpo são vitais para expandir a nossa capacidade de avaliar a teorização prá­
tempo" e que ele tinha () efeito de ocultar as contradições levantadas pela própria rica dos atores sociais (JAC KSON l M., ] 989) . (Tal como ocorre com aJguns dos
existência da vida social (cf a discussão e as referências posteriores em LEACH, 'iistcmas de parentesco complexos estudados peJos prime iros antropólogos, caso
1970: 57-58, 112-J 19). Assim, por exemplo, a sociedade proíbe o incesto, rn:u, (l percebamos ou não, é a nossa incapacidade intdcctual que est;Í em questão. )
como explicar a reprodução a não ser através do ato primordiaJ do incesto? (Por As percepções naquelas áreas do sensório que resistem i redl1~ão a uma descr ição
extensão, deveríamos dizer que O nascimento de um a nova nação _ llma enti­ \'(~rbal são desafios à nossa capacidade para remover a descrença, mas, por esta
dade que caracteristicameme reivindica origens puras - deve pressupor um ato mesm a razão, elas pedem um a resposta menos solipsista do que aquele tipo de
de miscigenação cul tu ral ou mes mo genética. E, de fato, as visões do mito de objetivismo que apenas aceita como significativo o compasso li m itado da com­
origem dc Lévi-Srrauss são espcciaJm entc opostas às análises das histórias nacio­ preensão já circunscrita pelos valores de uma cultura (cf. CLASSEN , 1993a), Oll
nalistas.) Quilo diferente é isto da celebrada definição do m ito em M alínowski aquela su rpree ndente auroinduJgêl1cLa paralela de escrever sobre a cuJ tura a partir
1948) como sendo wn "'alvará" para a sociedade? Ou ainda, se os tabus do da segur~U1ça de LUTIa introspecção pura. Este últi mo ato é realm ente um retorno
incesto refletem J importância de manter claras as distinções categóricilili enn'c .1 "an tro pologia de gabi nete" vitoriana, em nome de Wll equivalente " pós-moder­
incluídos e exclufdos e ass im possibili tar a cada sociedade se rep roduzir casa ndo no", ta l como são os estudos cuJmrais.
tora (exogam ia), então, até onde isto escapa da implicação telcológica _ d pica da
A escassez dos csUldos ma i::; antigos do sensório é especiaJm enrc surpreenden­
mai or parte das formas do tUncionaJ ismo - de que este é o objetivo das regr.lS de
proibição do incesto? te, quando se considera que oS evolucionistas pro puser am numa data anrerior a
\'isáo de que os seres humanos se torn aram progressivamente menos dependentes
A evidência preocupante dessa recid iva in telectual tem um importante co­ da sensação física, !la momento em q ue a vida da mente ativa assumül () co ntrole.
rolário. Uma vez que vemos as teorias ma is co mo expressões de uma o rientação ConUldo, estes vitorianos autoSsõtisfeitos estavam, po r exem plo, pro fun damente
social e poüt ica e como dispos itivos heurísticos para explomr a realidaJe social interessados no ritual- o ritual daqui lo que era mais resistente c perene na d isci­
do que como instrumentos do puro intelecto, as teo rias se toma ram visíveis em pli na. Como D oo Handelrnan o bserva, o ritual deve em penhar rodos os sentidos
lugares até então insu.)peitos. Começam os a perceber, em outras pa.bvras, que os numa extensão não comumente imaginada nas rmodernas {ormas do ] espetácu­
próprios i.nformantes estão envohridos em pd ticas teóricas - não, na maio ria das lo. Contudo, não tem havido até reccnterneotc muita cu riosidade antropológica a
vezes, no sentido de um envolvimento protlssio nal, mas através da execução Je respeito do papel dos sentidos, a não ser o visuaJ e O auditivo, Das práti cas riulais,
operações imelccruais direta.mente comparáveis. Lévi-Strauss (1966) celebrou a c s()mente ten tativas mu ito moJcstas foram realizadas para analisar estes aspectos
dic;ti nção enrre sociedades "tI'ias" e sociedades "q uentes", que assim se torna uma como algo m ais do que meros apêndices da atividade principal da ação rin la!.
d isti nção mais de escala do que de espécie.

24 2S
~_. '~"'" "I Y"'''''~'~ "uur c c,sU:S a!i:;u n t ()!; rcvclJ Os limites dos canais pura mente.:
~nti dadcs maiores do q ue a comunidade local, exige habil idades dccOllific~ldoras
\'c.:rballi da invcsrigaç:io, e conscq uentemcntc coloca um desafio p rodutivo a todas
inteligentes, como uma ques tão de simp les sobrevivência política. Como rcsul­
as ciências sociais, espccialmenre aq uelas nas quais há alglU11 reconhecimen to
das próprias capacidades teóricas dos ,ltores soóais. 0011 H an deLman levaotOu t;ldo disso, os informantes podem apresentar um vi rruosismo exegético e Wl1
a questão da tcoria que está implícita no rintal, conntdo, ele argumenta que, ccletismo conceitual que poderi am, mlin antropólogo profiss ional, parecer como
~ ill ais de incoerênc ia, mas que, no contextO 10caJ, simplesmente exibe o desdo­
então, constru(mos um quadm teórico difere nte q ue nos pennite descocavar a
bramento pragmá tico da teoria nas suas l11ais variadas form as . Pode-se encontrar
teoria indígena das suas man ifestações como ritual. Mu ito bem _ mas isto exige
um equ ivalente de func ioJ1,tListas, evoluciollista.s e mesmo estrutu ral istas enm; os
um awnellto drásti co da nOSsa capacidade taoto para gravar quall to para analisar
informantes: os tipos de explicação respondem às necessidades da situação. Isto
CStas scrnióticas não verba is atr:wés das quais os pressupOstos conceituais e as
se torna um a q uestão ai nda mais complexa, quando lida com populaçücs cuja
percepções são expostOs, mani pulados e, para empregar a terminologia de H an­
interpretação, talvez imperceptíve l para eles, fo i inundada com o vocabulário das
dclman, transformados. Pois é pelo menos conccb{vcl q ue, ao (Yanst011l1ar a con­
antropologias do passado ~ c que inclui urna quota crescente das poplllaçôes do
dição de um grupo ou de um indj, ídl1o, a realização de lun rimal pode também
ll1undo. A<; explicações locais dos "costum es", por exemplo, são freq uentemente
transformar a maneira como os seus p ressupostos subjacentes são percebidos ou
conceintados - :t!go desse tipo está pressuposto n~l ideia de qLJC os riruais, fre­
legitimadas co m uma pesada dose de evolucionismo '\:ientífico" - e, já que a
tcoria muitas vezes se baseia em noções ge ralmente po pulares, é empiricam cnte
quentemente associados com a reprodução de sistemas de poder, podem t<1Jn bém
servir como veículos de mudança. ill ~ólito, nesses casos, rratar o discurso po pular e a teo ria antropo lógica como
dois domínios totalmente separados. Somente uma consideração histórica da rc­
Aqui, isto parece especialmente vital evi tar o erro comum de adm itir que
1.1Çâo entre eles torna possível desembaraçá-los dos pressupostos analíticos .
todo significado pode ser apresentado fielmen te na fcxm a linguística. Mui to do
É po r isso que eu gostaria de dar boas-vindas a uma his tória disc ipli nar que
que passa para a trnduçao pode mais precisamente ser chamado de exegese. Pa .
radoxalmente, esta consciência dos limites da linguagem requer }-Im com~U1do
desse uma atenção muito maior do que até agora foi accidvel para o papel que
O!-> nossos informantes desempenh am no desenvolvimento das nossas ideias. Po is
considerável da linguagem da cultura na qual se está trabalhando. E crucial, para
hi albruma evidência desse papel. Nos anos de 1960, por exem.plo, u ma grande
ser capaz de identificar a ironia, reconhecer a alusão (JS vezes a mudanças poli ti ­
disputa co locou os estruturalistas (como "teóricos da ali,Ulça") co ntra os funcio­
camente sig nificativas no uso da li.nguagem), e ir além das hipóteses simplistas de
na listas estmnlrais (como "teóricos da descendência") na expJ icação do parentes­
que uma linguagem que parece fW1dada na experiência .social é "menos" capaz de
co. Verific a-se que ~ com poucas, mas notáveis exceções ~ a maioria dos estrutu­
carregar um sig ni ficado abstrato do que a própria linguagem (cf LABOV, 1972) .
ra listas trabalhou na Amér ica do Sul e no Sudeste da & ia, enquanro a maioria
Assi m ta mbém, é a boa vontade de reconhecer que as ideias dos informantes

dos funci o m listas conduziu as suas pesquisas na África e Oriente Médio. Poderia
sobre O significado não devem correspo nder às hipóteses verbocên tricas com u­

isto não ser o resultado do impacto das tradições locais de exegese sobre o pen­
mente Sustentadas pelos imclecruais ociden tais. No m eu próprio trabalho numa

\ame nro dos antropólogos? Os rdatos emográfiws estão rep letos de indicações
C0ll111nidaue rural cretense, por exemplo, eu achei que a capaciuade dos babi­

da teoria local; lUl1 exemplo precoce, lllas fam oso disso, é aquele da ex periência
t.lntcs para decod ificar a scmiótica do se u próprio discurso, assin, como aqud a

de Evans-Pritchard com os N uer, que desenhou d iagram as no chão para ex pli­


do Estado-nação bl1rocnitico envolvente, é abastecida por um agudo sentiuo lIo

car os traços da estrutura de linhagem ideal -típica deles para si (EVANS-PRlT­


imaginclrio poütico. O utros exemplos são dados neste livro. O emprego local

CHARD, 1940: 202). Tratar esteS exerd cios mais co mo vinhetas ctnogdficas do
em algumas sociedades parece juntar duas variantes do significado lingtústico,
que como contribuições teó ri,Çãs parece mesqu inho pelos padrões do et!Jos m ais
co m obsen'açôcs casuais de que algo "importa" (ou "é significativo", como de­
retlcxivo amai.
veríamos ruzer) . Mas se estas visões refl etem de fàro o emprego local, talvez elas
1àlvez a antropologia moldada nestes term os seja ÍDcomull1 entre as ciências
possam também flzcr algo para afroUX~1J' a influência que o modelo centrado na
lillgttagem tem sobre a nossa imaginaçãointclectual. sociais, na medida em que os scus profissi onais admitem O co lapso da antiga
separação axiom~1tica d a teoria erudita e do "objcto" e rnográfi co. Significa isto
A ideia dos iletrados teó ricos da aldeia mio é especial mente espantosa quando que os seus modelos são fatalme nte falh os? Pelo cOlltdrio, eu afirmo, as suas
se considera que estas pessoas devem fiuar com enorme.s com plexidades soci ais.
reivindicações de ri gor intelccntal são rdo rçada:; por tais recon hecimentos do
A Sua si tuação, enredada em lealdades às Vl."Zes reciprocamente discordantes a
débi to intelectual ~ reconhecimcntos que simultaneamente m inam a arbi tra­

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27

Ilcuauc LIa U1slstcnCIJ. clcntl(JCísta (como oposta a cicntífica ) sobn..' J. perfe ita A etnia mmbém alcançou uma nova ubiquiJ aJc. O próprio conceito {'(li alvo
reprodUlibillúaue c do niiJlsmo igu'llmeme autorret'erenre na direção do qual de uma boa dose: de: de..<;col1smlção, mas clt' dificilmente morre. Embora os d.n­
,1Igumas fomus - ma.<; náo rodas - de pôs-modernismo ameaçam im pulsionar a rrop610gos tenh,un contribuido maciçamente para a sua aná li se, eles têm estado
disciplina.
especialmente atemos em relação à sua adoção política por um i.ncipiente nacio­
Entre c."tc.~ últimos, as avaliações da etnografia em WritÍ1w Ot/ttwc (CLIF­ n.l lilimo Cp. ex., JACKSON, J., 1995). Ele., portamo, con stirui uma ilustração
FORD & MARCUS, J 986) fora m es pecialmente c apropliadamcnte critica ­ t: ~pcciaJmenrc clara da dificuldade de separar anali ticamente () cm prcclldimcn­
das pelas fem inistas (MASCIA-LEES; SHARPE & COI-IEN, 1987-] 988; lO .:tntropológico do seu objeto de e<;tudo - uma d ificuldade que (como estou
BEHAR & GORDON) 1995) . Especialmente à luz destas críticas vindas daqueles Jli rmando aqui), longe de inval idar a disc iplina, corresponde especialmente e
que se devia esperar que fossem sim pát icos, seria fáci l rejeitar a tendê ncia rigorosamente às reaLidadcs empíricas. Realmente, não é apcnas o caso de LJue
pó<;-modema como sim plesmente outro discurso c:q)lorador. Mas isto seria rcpé­ o'" .1I1u·opólogos cada vez m:1ls se vejam repetin do o conhecimento que os atores
tir, majs uma Vt7., a ofensa qlle é l1uis co mumente colocada na soleira d é\ sua porta. IOCJjs já possuem, mima torma que os locais n3.o podem achar particul armente
Contudo, de fato, esses exemplos do que DOIl RObotham chamou de pós-moder­ rc\-clado ra de novas percepções. Este conhecimento pode também - na med ida
nismo "moderado" serviranl como provocaçücs para ampliar o espaço da investi ­ em que esCl produção antropológica se ja ainda tomada seri amente - servir para
galr'ão etnográf'ica, desse modo, eu argumentaria, tOI11a.ndo-o mais c nãe) menos k girimar identidades e práticas emergentes.
ern p{rico - um juJgamcnto com () qual os extremistas tanro das convicções positi­ Esta si tuação é algo como lima questão de teste para as forças e as fraquezas
vistas q uanto das pós-modcrna~ ficariam provavelmcnte e igualmente insatisfeitos. de lima perspectiva pós-moderna. Por um lado, a consciência de estar no quadro
Mas pode lima disciplina tão frequentemente forçada a se autoexamina r des­ o ferece um salutar corretivo à imagem habiutal de "culnu-as" como entidades
sa maneira con tribuir com algo para a compreensão humana, o u são as suas hermeticamente e inequivocamente lim itadas - o u como co munidades tribais
querelas internas simplesmcnte demasiado con1i.L~as o u paraliBantes? Certamente, fillicamcnte isoladas, ou como sociedades industriais severamente ddillidas (e
algum<L~ del as parecem perigosamente tolas. Ma~ a evidência dispo níve l sugere llluitas vezes literalmente cercadas) por fronteiras nacionai s. Ma!) ela também Stl­
que de fato o resultado fo i um aumento do trabalho etnográfico, m antido nwn gc re que qualquer tcntativa de negar a realidade destas frOnteiras para os próprios
padr ão elevado tanto em relação à responsabilidade científica ( /l O seu sentido .ltores é in defensávcl, e pode, com o no tou particl1 brmcnt~ Jean Jackson (1995),
mais geral) quanto em relação à responsabilidade moral. Se fo r assi m, h~i pel min<lJ' as suas tentati vas de autodeterm inação d iante d a brutalidade esmtal. Isto
m enos dois ganhos principais a serem discuti dos: primei ro, na percepção das também obriga os estudiosos a cnti-em,u' o p ro blema inevi tável de que a Iiberta­
riquezas inte lectuais q ue a humildade aum entada dos erudi tos devia torn ar geral­ ~ ;10 atual de um a população pode u":.\zer na sua :icquência o exterm ínio ou a escra­
mente d isponível e, segundo e por extensão, na tarefa pedagógica de lutar COntra \' ização de o utros. No m íni mo, os antropólogos podem fazer soar ad vertências
o racismo e Ou tros esscncialismos perniciosos num mundo q ue parece cad a vez \obre a realidade desse deslizamento.
m ais in clinado a retom ar a eles.
Em confonnidade com alta visão da interconexão das coisas, a discussão da
etn ia e do nacional ismo tlltra ntUlle rosos o utros tem as. Por exemplo, exami nam os
Antropologia e a política de identidade ~\~ conexões entre ritual, burocraci a, nacionalismo e a prod ução J e espct:icu lo em
A ênfàsc nn ação levou a uma parcial d issolução d as divisões que OUtrOra Cl ll1textos religiosos e nacionalistas - dois domínios que se apresentam revelan do
eram claras enn.·e os tem as antropológicos, definidos em tClmos de signifJcação semelha nças, particularmente na rdaçao enU'c o nacionalis mo c a produção de
institucional (parentesco, po títica. religião, economia e ass im po r diante). O pa­ ll1ilo. Aqui pode ser útil no ta r' :1 menção breve, porém esclarecedo ra, de S,lfol Di ­
rentesco, por exemplo, agora goza de uma VLJKu b ção mais orgânica em outras ckc\' aos csuldos de caráter nacional que contava com a mídia como sendo a sua
áreas de pe.~guisa. O u COmo uma dimensão da relação entre gênero e poder es tatal principal fonte de dados c q ue, eu acrescentarú, proprülmcnte com partilharam
Cp· ex., 130RNEMAi\l, 1992; YANAGISAKO & DELANEY, 1995), ou como a uma longa hi stória com os estu dos de f()ldore nacionalista (cf. COCCHlARA,
metáfora d Ü'ctora do nacionalismo, perdendo a Sua autonomia inicial, c1e ganhou 1952; CARO BAROJA, 1970). A antropologia esteve o utrora podcrosamcntt:
lima sign ifi cação sociocuJtur al ulli versal, muito além do que a sua r roemi llênci~l im plicada 0;:1 cons trução naci o n,tI c em em preendimentos correlatos, em que os
de o utrOra perm iti ra . Atualme nte, co mo veremos, ele pode estar extrem amente Seus profissio nais atu~Li s estão agora implicad os na críti ca "constru ri vista" - para
precisado de reenquadramen to; m as permanece surprecndentemente central. a allgústia de l11u itas coll1lUl idades an fi triãs, como observaram Argyrou (1996b),

28 29

, . ) .I"~U I I ~ I110m as C o utro,';. A posição construtivista não somc nte ques­


'Yy~) , 1
na qual podemos fuzcr rcivindic.lçÕCS, eq ui p-.lralldo'1 Modernidadc com alguma
tiona as uni<üdes .ltuais, mdS tàz L<>SO atrav6; da desagregação de l Ull passado 110 ­ noção universa l de racionalidade? O que signifiGl tratar as eli tes políticas das
minalmenre un ificado. Em p'lrticular, isto impõe questionar a ideia de um ún ico modernas sociedades industriais em termos uc parenrcsco ou de outros idiomas
ponto de pa rtida que cnconu-amos tanto nos mitos de o rigem quanto nas histó­ \..lc identidade diret,l, como Abélcs recomenda? E por que o pa rentesco retornou
ria'i nacionalistas, e isto pode colocar profu ndas e g raves ameaças para as novas t50 Jecisivamente ao centro do palco, em estudos quc vão desde o nacio nalismo
entidades que ainda não protegeram adequadamente os SeLL'i u·aços heterogêneos .Ire as tecno logias c as ideologias reprodutivas? (STR,I\.TI-IERN, 1989; GINS­
(talvez incluindo a pr6p ria antropologia?): O tempo é geralm ente uma fome de
HURG & RAPp, 1996~ GINSBURG, 1989; KAHN, 2000) . Se estes esu1dos
validação - wn meio de es tabelecer direitos cósmicos de mo, por assim dizer. cstJO baseados num a utilização metafísica do termo "a rcaico" em cada par, assim
A etn ia e o nacionalismo são ass im temas ubíq uos na antropologia: eles r.1ll1bém são as modern idades que cles analisam. A'i meraJoras do parenn:sco
circunscrevem [am o a sua agenda intelectuaJ quanto o seu potencial para um lI s,ldas na constnl's-ão do EstaJo-nação serão especialmente t:unilian:.\, a muitos
significativo engajamento político. Eles exigem de todos os antropólogos uma leitores Jcste livro.
vontade de considerar com boa-fé as consequênci as potenciais do que elcs escn.:­ A segund., questão diz respeito J. plmalidade de possíveis «modernidades".
vem e publicam, colocando O peso mora l da responsabilidade - UIl1 peso que não Pois a Modernidade não é uma tendência ul1iversaJ. A<;sill1 , se a sua variedade
pode ser ali\"iado por prescrições éticas apropriadas - igualmente nos o mbros mrbulcnta permite uma abundância de possibilidades para a ação humana, po­
dos antropólogos. Eles são, em mu itos sentidos, o pr6prio fun damento no qu al dcmos perguntar se de fato houve Jlgum dia sociedades tão conformista:, quanto
a antropologia como disciplina deve f.'lZcr dele o seu argumento principal _ ou .1quclas retratadas pelas fantasias positi \~sras e funcionalistas . A evidencia sugere
como objeto do seu estudo, a base da reflexão e da reaval iação históricas, ou 11.l() ~()mente que esta uniform idade e contorno lim itado são hi persimplificaçães
como contexto político para a ação.
g r()s~eiras, mas mmbém que a pe rsistência da diversidade social e cultural na
Portanto, nesse projeto, em conformidade co m o tema da antropo logia como ;t\sim chamada aldeia global do novo milên io pressagia Wl1 importante papel
uma crítica sistemática das noções de senso comul11, cu optei pelo nível organiza­ para uma antropologia novamente sensibi lizada pela ação e pela prática. hto
cio nal para enfatizar, ao co I1tdrio, cstes domínios menos "óbvios", como s50 os :-.eria um antídoto valioso para as análises sociais recenteme nte coopt.ldas pelos
sentidol>, as moderni dades e as mídias~ mas não há razão para preocupação, pois d i ~cursos do poder do Escado c do poder su pracsraral.
os temas "óbvios" demonstram a sua robustez reaparecendo sob novas fomlas A virada teórica para conceitos de ação e prática (cf. ORTNER, 1984)
dentro do quadro adot,lClo aqui. Estes rcajustes não são meramente cosméticos, 'l\s il1.1lou wn importante momento na autorreaLização da discipl1l1a. Ao me<;mo
nem meramente acidentais: e1e.s são intencionalm ente projetados para il1centiva r tempo em que a.lgwls observadores - aJegrememe ou tristemente, de acordo
tam bém a reavaliação teórica.
~o rn as suas próprias perspectivas - estavam prevendo que a crise da repre­
ma ,írca importante sobre a qua l todo esse projeto está focalizado bastante :-.cnt.lção etllogrófica c a crítica parcialmente autoinfligida da ano·opologia des­
deli beradamente é aquela da Mode rnidade - ou md hOI~ uma pJeto ra dc moderni­ truiriam a sua credibilidade, três importantes desenvolvimentos levaram a uma
dades. Dois temas aqui são centrais. Primeiro, há a questão de se a Modernidade dIreção oposta.
é radicalmentC diferente o u se, vista C0l11 0 uma pluralidade de acordo com a Em primeiro lugar, muitos estud iosos interpretaram as críticas como um
formulação de Don Robotham (com a sua rejeiçáo concomitan te das antinomi as dcsafio, mais para aprofundar c ampliar o alcance dJ. c.ulograJia do que para aban­
mais velhas e agora claramente simplistas, que colocam os subalternos contra dO I1.1r o navio; o res ultauo foi um significativo aumento na pu blicaçJo da etno­
as perspecti vas coloniais) , se pode vé-"l.a" co mo li ma entidade absolutam ente grafia teoricamente engajada. Eh; segundo lugar, mu ito.., daqu eles que concorda­
distinta. Isto é metodologicamente im portante, porque disso depende até o nde ram com as crítica..., não obst.1Ilte, perceberam que elas poderiam ser consu·uída.s
tratamos no mesmo quad ro estcs P<u·cs, como a burocracia estatal e a classifi­ e ll1 torn o do quadro teórico da dIsciplina, com isso permiti ndo maior sellsibili­
cação simbólica dos rin1ais tri bais; os sistcmas de divisão da descendênc ia do d.ldc para qucs tôcs que, em ültima <lllálise, ainda ti nham de lidar com a profun­
parentesco e dos regimes dc concorrência k gal do dircito dc fal11t1 ia e a ideologla Jidadc e a riqueza da Jesc ri ção emogrática. Em terceiro lugar, acbou-se que O
política (como em Berlim pré-1 989: cf. BORNEMAN, 1992); e também as ra­ \llrgimcnto de lU11a metáfora tcxn1.11 para a et nografi a possuía g raves lim ites (cf.,
cionalidades científicas e a prá tica religiosa. É a miStificação Nacirema de Miner p. ex., ASAD, 1993), contudo, pode Ser que alguma consciência dessas coisas
meramente uma pi lhéria elegantc, ou induz da a um a reflexão sobre a extcnsão rivc~se sido o (] ue forçou a discussão de \'olta para os próprios atores sociais - um

30 31
descnvolvlmenw que .:ombarclI a~ visóc.<; dCM.: ncarnadJ s C hipcrgcncraJ izad;l$ d.l seus maus u!>o~ . ESI:i1l> caracn:rísticas às vezes promovem lIm gr.ulue sofrimen to,
~ocicdaJe c da l:ultll ra geradas pelos extremos do textu alismo c do positivismcJo C0!l10 Vccna Das observcm, em nome da raciona lidade.
O tc>..walismo estava também associado a lUIla supcrdepcndência debilictnte Na medid<l em que as ideias do sensível são cada vez mais apresent.ldas cm
dos modelos de significado baseados na linguagem. Con tudo, a própria lingua­ termos globais, podemos agora também dizer que, ass im, a antropologia pode
gem fornece uma rota de ruga: a compTeensão, aindJ. demasia.do parcial, de que 'ier\'ir comO um discw'so de resistência critica à hegemonia conceitual e CO~ m () ­
as percepções da li nguagem comum - a mudança da referência para a utjli7.a­ h') gica desse senso com um global. Grande pm-te do que é discutido neste Iivl'(
ção - podem ser aplicada~ a todos os outros domínios, tal como o podem para dU 'itr<l como a antropologia poJ e proteger criticamente um impo rtante recurso:
a linguagem. A nova ênfase antropológica na rn fd ia visual e na análise multissen­ .1 própria possibilidade de questionar a lógica universal da "'globalização" e ex­
sória sublin ha a im portância de evi.tar wna visão refercncúJ J e significado q ue por a sua base historicamente estreita t culntralmente paroquial, ouvindo outras
reduz tudo a um puro texto - a prática da <H1 tropologia incJtúda . \oze~, fi«l preservada através da investigação cririca da antropologia. Se, por
N ão obstante, é importmuc não jogar tora a criança junto com a ág ua d exemplo, a racionalidade econômica pode ser vi sta como uma força l11oo-iz atr.1.~
bacia: a virada texnIJ. 1 nJ. antropologia, especia.lmente aq uela inaugu rada por d,l ~ representações correntes da racionalidade... as concepções locais da <;abedoria
C1ifford Geertz (1 973a) , fez muito para fo rçar a ate nção dos antropólogos para ewnômica tornam claro por que muitas pessoas do mundo não esw·iam COI1­
o sign.ificado como algo oposto a uma forma objerivada, ainda q ue fi zesse isto \ enLidas. O que da perspectiva do discurso dominante parece tradic.ionalismo
de LUna maneira que devia se mostrar como quase tão determ inística quanto o irr.lcio nal smge, nWl1a investigação mais incisiva, corno ltl11a lógica alternativa. A
que rin lu substituído. A crítica inicial do lireralismo de M aJcolm Crick (1 976 , comparação pode também coincidir com il evidéncia de que as agências estatais
/
um te>..1:O agora esquecido, mas fimdam cnralmenrc impo rr.ulte, pode se rvir como ~I() hai s não amam necessariamente em conformidade cOm a sua própria racio­
uma introdução úti l c bem-feita a estas preocupações. E esta cdtica do li tcralism na lidade afirmada, um a observação que subli nha a importância de conservar um
im põc reconhecer que um ato (verbal o u outrü) pode ser profundamente históri­ ,entido forte da di,'crsidade conceimal e social que ainda existe no mun do.
co; contudo, em nenhum sentido, rcdlltíve.1à enumeração de eventos que, então, Estas reivindicações são práticas, mas também acadêm.i .:as. O isolarnemo da
devíamos espe ra.r. A história pode ser dançada, sentida c mesmo falada; e todo "torre de madim" do "mundo real" foi realrnente wn desellvolvimento poUtico
ato c toda experiência sensorial são uma portadora potcncial de ligações co m \(Jbremaneirasign.ificativo, no qual os an tropólogo~ (entre ouo'os) se pcm1itiram
passado mais recente ou mais distan te.
um.l representação particular da realidade para marginalizm' as suas pcr<;pectivas
l' .Issim sufocar a sua contri buição crítica. Eles podem agora resistir a esse movi­
U m senso de aplicação !11ento, histOrianJ o e cOlltextl1.alizando os saberes convencionais que gan.harmll
Eu sugeri, a tindo de provocação, que a antropologia devia scr definida como l~t:cndência poütica na arena global.
o estudo comparativo J o senso comum . Es ta é luna importante ferramen ta para Assim, por exemplo, Arturo E~cobar J.b raçou explicitamente urna posiçã.o
se contrapor ao insistente racional ismo de am plo espectro das agênci as inter­ ·'pt',\-estruru ra.Lisra'" do tipo que os críticos dcs informados pa rtit.:\1hrmen te acu­
nacio na is, que procuram im por a capitulação particular do senso comum em ~.lm recus:mdo se envolverem com o "mundo real". De fJ.to, Escobar defendeu
sociedades que não aprovam aquelas ideias, sobre problemas aos quais elas estão ItIlU ativa o posição precisamente a esta fuJta Je engajam ento - e é im provável
mal-adaptadas por causa dos valores e das práticas locais, c sobre pessoas que res­ que os crítico" fiquem felizes com isso, pois, como resubdo, é a sua lógica que
pondem de man eiras inesperadas. Até cerro ponto, nanu-almente, isto é simples­ c,t.i sendo atacada. Para aqueles que estão preocu pados com o impactO cu ltural e
mente uma questão prática remediável: não adi ama m ~U1d ar ajuda de alimento ~t)cial do "desenvolvimento", as~rm como para aqueles que afi m lam que os pro­
para pessoas cuja re ligião não permitiria a elas tocar nesta doação. Mas, em OllW gramas ambientaIistas devem ser mu ito mais sensíveis ac)~ va lores culturais pm'a
senti do, isto mos tra que uma :llm-opologia orientada pela prá6ca pode c deve t\:rcm algum a chance de sucesso, esta é realmente uma mudança necessária para
também ser uma crítica dessa pdtica. A esse respeito, o bservaria particularmente I antropologia. Curiosamente, também encont ramos uma perspectiva ativista
O trabal ho recente de Arnlro Esco bar (1995), de James Ferguson (1 990) e de <;cl11e1hat.ltc afi rmada em árca~ da antropologia que no passado eram geralmente
Akhil Gupta (1998) , entTe muitos outros - trabaUlo que não nega a importância rdegadas J. ZOIU dos esmdos (LSpcci al mcnte o parcnrcsco) puramente acadêm i­
de vári as fo rmas de ajuda num l11undo que luta para sob reviver à extrema pobre­ (q~, para as quais Jo hn Borneman irL.'iistc que deveríamo'l buscar uma tran stor­
za e à rápida expansão demográfica, mas que bLL<;Gl eschlrecer <)s seus abusos e os l11ação que fosse intelecUla lmel1te mais defensável c também mais justa. Mesmo

32 33
as irea.' olltror.l pensadas como senuo o domtn io da estética pm'a e, ass im,

socialmente epifcl1omefl:Us c politicamente insign ificantcs, como a música, tor­

,,,~
~ ,
l.lra111aticamelln: re~umid() llJ. metáfora de fuucault (1975) do panóptico
Rcnlh.U11, do esper-.kulo que reduz o cidadão ao papel de testem unha passiva. Os
naram-se lug<ln:~ de um engajamento político, Isto rom a a separação analític'l
cid.ld.ios devem acrcdirnr que eles estilo assisti ndo a9 ShOTP; mas o Big Brocher está­
entre O intelectuaJ e O político caua vez menos convincente.
o U deve estar - olhando para eles. Isto não é (como na visão dos evo lucioniç tas )
Todos estes argumentos têm :1 ver cum a distli buição tk poder, c todos em
., hi~tó ria do surgimento da lógica dcsem:arnada, mas aquela da eme rgência his­
alg.um sentido refl etem uma consciência de desconforto com o faro de que a
roric.lmenrc conringe me de Wlla capat.:idade encarnada - a visão - que perm itia
globalização reduziu, ou pelo menos ameaça redwir, os campos de escolha p~a
U I11J tccnolog i'1 excepcionalmente abrangente de controle e, assim tam bém, tod:1
todas as sociedades, Assim, a antropologia se torna um reamo pnxi oço, não
Lllll,' tecJlologia de poder all torreprodutor,l. Esta telcologia - às vezc.~ dlrun.lda
somente por caLLsa do conhecimento esotérico que ela pode oferecer de diferen­
J e "'vi"llalismo" - permeia a antropo logia, tanto qUru1tO tàzem as outras ciências
tes cul nlr:ls estranhas (en,bom isto não seja trivial em si mcsmo), mas também
~()ci a i s (observe a expressão "0bservação participante", com umente usada para
porq ue as suas car.lCter{sricJ..ç técnicas de c.lcstàmiliari2'. ação podcm ser ativadas
Jcscre\'Cr o priJlCipal campo metodológico da disciplina); somente tazendo dos
para questionar os pressupostos g lobalizadores que cada vez m:uç dom inam d..\
\l'ntidos um tema empírico d:1 ava liação antropo lógica, como nu m capíndo deste
tomadas de decisão política.
li \'ro, podemos esperar recuperar um semo apropriado da disr;1 l1cia crítica. Há
Esta posnu-a crítica exigia um esforço consciente para livrar a antropoJogi.l ,1Ig() desproporcional, como Constance Classen e ouu·os obse rvaram , sobre o
de algu mJ..~ de sua.!> associaçõ~ bistoricanlenle acwl1uladas com o nacionalil;­ I!rau no (1ua1 a visão foi privilegiada como o lOCIt.f do conhecimentO autorizado.
mo, o colo nialismo c com o controle eco nôm ico global. Os antropólogos agora 11,1 também ltm perigo de que :1S an álises que parecem tratar da burocracia e
admitem livremente que a 1íua epistemologia é profimdamcme "ocidental" de do l"spetáculo, como espaços nos quais a ação não pode conseguir qualquer in­
origem - este reconhecimento deve ser o primei ro estágio para a criação de uma l1 ucncia, possam inadvertidrune nte es tar fazendo o próprio trlbaU,o do Estad
distância crítit.:3 necessária - e, como Escobar indica, o endosso ano·opológico de Jl' h()l1logeneização da sociedade. Mas pe rm anece útil - realmente vital - 110S
algu ns esforços iniciais de desenvolvim ento nos países do Terceiro Mundo subs­ le l11 Dr,ll"l110S de que a realização de espet<ÍLulo pode de fato fornecer aos regi mes
creveram formas muito particulares de ordem c racionalidade. Quando Escobar ,1LlLUriürios os meios de decretar lUna forma especialmente perniciosa de visua­
insiste que boje a distinção entre antropologia aplicada e antropologia acadêm ica lis ll10 - contm to que também nos lembremos de o Ular atrás liaS cenas e ca ptar
fi cou esgotada e improdutiva, ele desafia lima p<lrtc da ordem simbólica atual ­ ,\'i piscadelas intel igentes e os o lhares de censma cínicos dos espec tad()re.~, assim

mente dominante - da qual a lógica de desenvo lvimento co nstiO.li um o uo" como os sinais não visuais (como a gestão dos gostos alimentares) que podem
segmento. Voltando o holotote da anál ise an tropológica para esta cosmologia [r.1ll\ mitir mensagens ainda mais sutis e duráveis. E ass im, descenrrando o visua l,
global, podemos identificar os seus nlJlcio11amentos mais claramente c assim vol­ j1()dcl1ms também grul har lima influência mais crítica sobre o verb'l1 - outro be­
tarmos a tomar decisõcs mais inform:1das sobre a extensão 11,1 quaJ estamos pre­ lldici.irio das tecnulogias de informação ocidentais (ou mesmo "globais").
parados para acompanhá-Ia. t\ plimazia do visual no co ntrole social é um fenômeno relativamente recen­
te (século XVIII ) e localizado (Europa Ocidental), embora em algu mas regiões
Do senso comum aos múJtiplos sensos: praticar teoria em espaços am­ kO l11o naquelas do sul da Eu ropa e nas culturas do Orie nte Médio, nas quais o
pliados "tl),lu- olhado" traç,l os pad rõe..<; da inveja individua l) o si mbolismo ocular tenha
Os antropólogos têm boas razões para serem especialmente sensíveis às im ­ \ido durante mui to tempo associado com uma vigilância ma ligna. A antropo­
plicações do visualismo. Aqui se devia ver no argumento de DOn Handclman, lugi,l, da própria impl icada no ,}Jrojeto coloni;l1, não escapou desse prcconcl"i­
discutido em algum detalhe aqui e em maiores detalhes no seu Modcls and Mir­ to '\ 'isualista" (FABlAN, 1983). Realmente, isto aumenta a ma.rginalização de
'·01"5 (1 990, 1998), que o Estado moderoo, burocnítico util iza espedcuJos - re­ llU.llquer coisa que seja classifi cada como sendo "tradicjonal".
presentações visuais - em vez do ri rual, um a ilusu·ação do sw-gimento dramático Na medida em que os idiomas visuais de representação se torna.ram muito
do visual na economia de poder modem,!. Espetáculos, nesse (admitidamenre lilc r.llmente o senso comum do moderno mundo industrial, eles se tornaram
longe de ser exaustivo) sentido do termo, são um meio 'lO·,lVés do qual o poder, t.l1n bém rel ativamente invisíveis - uma metáfora reveladora em si mesma. A sc­
especialmente o poder burocdtico, se perpetua. A incerteza que Handelma.ll vê 111dlunça é geralmente construíd.1 como uma semelh,ll1ça de torma visível. Os
C01110 sendo LUll componente essencia l do ['irual é apagado pelo o lho que rudo .111 tropólogo; não se mostraram imunes a esta normalização do visual. É dign

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3S
tk nota que apesar dt.: - Oll rc.1.lmcntt.: porque - () visuaJismo rér substituído tão ~i ,,~Ullcntc deJ.il::ad.l ,10 corL~Um() c i1 culrurn m<1tcri.11 (p. ex., MTLLER, 1987) .
compl<:tamcnrc DUO'as preocupações semórias nas pnitica.~ reprcsenmcionais d.1 Numa outra dimensão, de poderia também ser comparado com n trabalho ex·
antropologia, contudo, a disciplina apcna.~ re<.:entemcme produziu um interc.'i'ie
IC tl'i(} ,>obre a aucoprodução c a ~ua relação com a produção de objetos artc..<;.ln:1is
anaHtico corrcspondcnremcntt.: intenso em rdação à mídia visual, embora a sin la.
(p. ex., KONDO, 1990). É claro que a produção de lllassa não significou neces·
ção esteja agora começando a muJar.
'i.t('l.ln1cntt: homogeneidade, seja da intcrpretação seja da t()rma, não mais do que
O atraso desse desenvolvimento não ~ tão estr.lI1ho como pmk inicialmelUt.: 1 flerSlstém::ia de um forte senso dc identidade cultural necessariamente impõe a
parecer. Não somente h" o curioso paradoxo da invisibi lidaJe do \risu:ll , m.1s ~ lIp rcss.10 da... tormas individuais de ação - apesar dos esrereótipos ocidentais dos
a mídia parecia demasiado "moderna" para se aiustar a uma disciplina ~upo~­ () lI tr()~ conformistas.
ta mente preocupada com ,1S sociedades arcaicas. Visualizar era algo dado mais Examinar os meios nos quais os espectadores SI: relacionam com a represcn­
pelos observadores ativos do qlle por sujeitos ernográficos passivos. Altlll tÜlis",
(,lÇ.10 de papós sugere também novos métodos de extrair as hipóteses subjacente,;
havia o problema de como lidar com :lS implicações manifestas do visual para a qUl .1') pessoas fazem a r~pcito daqueles papéis. Ao admitir Wl1a cultura popular
n:creação e o pcnsa.rncnw, o que sign ificava atribuir am bos aos povos exóticos.
h(1 l1ltl~C:llea, c<;taríamos caindo numa armadilha conceitual. Embora outrora se
Isto também levantou questões diHceis sobre como uma disciplina indispost.l .1I.. h.l ~ 'C que somente as sociedades '\u'caicas" eram verdadeiramente hOll1og(:nea.s
para sondar esrados psicolôgico:-. imernos, a não o;cr como objctos de representa­ ~ h !l meostitica.~, essa visão tcleol6gica da soóedade, da cu ltura e da estética é
ção (cf. NEEDHAl\tJ., 1972; ROSEN, 1995), podia falar sobre estes fenômeno:-. . 1I11l.1 ill"CllÇ:10 da imaginação industrial moderna sobre os "outros" exóticos - e,
Connldo, falar dessas qucstõcs é crucial para compreender <> papel sociJ.! da mídi.1 e () IlHI H~lI1ddman indicou, ela foi mais plenamente realizada 110S programas cs­
visual, como Sara Oickc" enfatizou. É também lU113 questão sensível, porque ela lctlem dc~s;J.s ideologias totalitárias modernas, como () nazismo.
rompe as defesas da intimidade cole ti va nas cu lturas que csnldamos, inclu ída a
O miro do Outro homogêneo está profunJamenrc arraigado, e tem exercido
nossa própria cultw"<l.
U I1U intluência duradoura na teoria antropológica, mesmo nestas arenas moder­
Mas a principal l11udwça, aquela que é centralmente importante para com­ ni... r~l~ como o estudo da mídia visual. Ele também gerou, nos anos recentes, fór­
preender a relevância da antropologia para o mundo contemporâneo, não pode rc~ )C.h/lCS . Mesmo deixando de lado a simples vastidão da indLlstria cinemato­
ser a percepção que d a produz nos espaços secretos das L"lllturas nacionais, por gr.Hic.1 indiana c {) seu complexo impacto em outras regiões do Terceiro MWldo,
mais importan te e interessante que isto seJa. A mudança que particularmentt' () lilCU do sul da Ásia nesse trabalho não é provavelmente, assim, por aca.~o. Os
distingue as abordagens amropológicas do visual c de outras mídias daquelas ctl1(1g r.Üe)s estão lutando com mui to afulCo para libertar a sua visáo desta região
das disciplinas mais fundadas textualmente foi um foco fortemente intensificado d ,l~ wmtruções longamente dominantes da ciência social ~obre a rígida hierar­
sobre a prática t: a aç.io. A<; mídias são agonl antropologicamente importantes qui,l l () conformismo ritua listico. A convergência dos t:smdos midjáticos e de
por dtlas mz6es principclis, ambas conectada.s com a pdtica c a ação : primciru, UIl1 IIltcresse ~lI1tropol6gico na ação dirige assim significativamente a sua atcnção
porque as mídjas frequentemente retratam mais as ações de diferentes sujeitos dt l p.lI·,l <1\ reabilitadas vozes locais (c também pa ra as maneiras como algumas dclas
que de membros de uma cultura supostamente "'homogênea"; segundo, porqllt: podclll "er privadas de direitos).
a mesma preocupação com a ação leva à pe.squis:l ctllogrática o modo C0l110 os
l-...,rJ nova individualização trabalha contra os idiomas mais antigos, nos
atorC$ social" rclat:1m o que eles encontram na mídia para as SU:lli próprias vidas
q U.lh I) Outro sempre foi rcpresl:ntado como homogêneo. Este processo de ho­
e ambientes sociais, assim gerando cada vez mais campos inesperados para novas
I1lQgt.:l1eização nem sempre diz respeito apena.,; à visão colooialisr-,l de populaçõcs
forma.... de ação. Ficou claro que a escala na qual as mídias de massa operam não
~l'qgr.1fi c.lmcnte distames, já qut pode tambt:ll1 ')er usado para "camponeses" e
resu ltou, em q ualquer sentjdo, numa homogeneização da ação; pelo conmírio, p .I I'.\ .'., classe operária" que vivem próximos, mas, C0l110 uma forma de rcprc­
el.ls forneceram um meio de aWl1entar :lS diferenças em muitos níveis .
~e l1l ,t~'à(), ela parece univcrsalmclltc servir tanto como instru mento quanto como
Aq u i, o novo trabalho etnográfico sobre a mídia, principalmente incluin­ \.·\prcs~ ã() lio poder.
do os trabal hos de Dickcy e Mankckar (1993a), vai particll l ~ume ll tc nessa dire­ Es t.l coincidênc ia de instrumental idade e significaJo é um aspel.1:o adicional
ção. Esse novo conhecimento, como Dickey observa, está comprome ti do com
do p.\llnrama intelectual atual da antropologia. Dcbatc.." estéreis colocaram du­
os papéis dos espectadores, assim como dos prod utores, c rClUlc uma literattl r;l r,llltc Illuito tempo .1S abordagens idealilitas contra a.<; abordagens materia listas.
mais ampla e crescente 'iobre a cultu ra marerial, q ue incl ui , mas rüo está excl u­ N l',
ó
' t c~ confrontos, o senso cartesiano de lima sepalêlção radical do menta l c do

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matcrial ro i rigidamcntc mantido, pelo mcnos até o s u rgi me nto de um cstrutu
- ( 0 111 0 sendo ilustrações elementares da ~U.l tese. Com o nacionalismo, .,abe m o~
.lI ismo crítico marxista (cf csp. GODELlER, 1984, para u ma crítica maior).
realmen te, em muitos casos, q ucm eram os demônios de DurkheiOl . De faro,
Contudo, já neSsa altura, na inlluência da herança da filosofi a da li nguagem co­
~,I gllns deles - como Ziya G6kalp, que e..lõrabelcccl1 o quadro da constimiçào sc­
mum em ambos os lados do Atlân tico (p. ex., ARDENER, 1989; BAUMAN,
cul.lI" da moderna Turquia - eram seus ardcntes admiradorcs. O estorço coloni al
1977; Nl-::EDHAM, ] 972), o reconhecimento dos efeitos semió ti cos com o cau­
ti',1I1Cês no Marrocos, do. mesma maneira, traduziu diretamente a reconstituição
s~ materiaL'i - o impacto da retórica na aÇ<lo poütica, por exemplo - colocou
rdco lógicJ til' Durkheim numa prescrição para o governo dos outros exóticos
um des~ülo produtivo para aquilo que era, apesar de tudo, a expressão de um
(RABINOW, 1989). Aqui vemos nova mente o poder de uma reflexão que é
quadro conceinl<ll particular dentro de lima trad ição culrural reconhecidamente
l~i.,tori cal11el1te e crnograficamenre fl1ndada.
dominante.
.)()mo~ aquilo que esuldamos. Isto está renetido no trabalho de campo da
Aqui, a significação antropológica da mídi,l se tOrnou especialm ente clara.
~\lm()p{Jlogia - um processo aparentado com a resolução de problema na vida so­
E o cnorme alcancc e poJer das mídüs qu e as transformou em algo como um
\.'ü l. J dlbrouillm'disc conceitualmcllcionado no Prefácio, no qual a aprendizagem
campo de teste para a <lnilise das formações sociais modern as. A visão conven
­ d., n tlrur.l pross~gul: 6rrandeIllente atr.wés de uma "edificação por perplexidade"
cionai [em sido que elas era m forças da homogeneidadc e da perda de autonom ia
(I-E RNANDEZ, ) 986: 172- 179). Como uma extensão de explicações mais am­
culntraL De tato, elas ampliaram a torça simbólica da ação política, servindo às
pl..1s e mais inclusivas da expericncia ao nívc:! tio localizado e do parti cular, isto
torm'lS cada vez maiores c mais abrangentcs de autoridade.
e t.lmbém e ao mesmo tempo um ql1cstionamento de ordem - c especialmente
Mas por isso mesmo, como Abélcs deixa claro, elas também ampli am o p" _ de pretensõcs de q ue uma dada ordem está enraizada na verdade ctema, ou cos­
der da retórica e do simbolismo até o ponto em que estas podem dilicilmente Illológica ou científica. N uma palavra, isto é a avaliação crítica do senso comum.
'ief ainda consideradas como meros fenô menos. A realização de um ato ritual na F ~l s~im lima fonte fundamental da compreensão humana, acessível apendS em
televisão podc ser uma peça importante de "ação política". É uma demonstração l11omentos em que a ordem categórica das coisas não mais parece segura - quan­
do quc a Jj nguagem comum dos filósofos já afirmou no domínio da intcração dll a tcoria não fornece muito mais à prática, ass im como se n::vcJa como lmla
cotidiana : () poder das palavras para a mudança d eriva, pretendida ou l1 ão. Por f'lI"Il1.1 de prática com seu próprio direito.
esta razão, o poder da m ídia mosu'OU especialmcnte a artificial idade da velha \ tcoria como prática: e~ta percepção e a intimidade da escala observaciu­
distinção entre o material e o simbó lico. Mas, insisti ndo na enorme variedade rui 1l.1 qual ela é ativada grandemente d istinguem a antropologia dos St LlS mais
das rcspostas de audiência às mídias e na agora dramática ampliação da ação, pn') ximO'i vizinhos quanto .10 mapa das ciências sociais. É abundantemente claro
assim como da normatividade, os antropólogos foram capazcl> de ir ainda mais lluC () \'<1sto aumento em tópicos, escal a e percepção disponíveis e a total compJc­
longe: elc... traçaram os complexos processos, às vezes culmimmdo em efeitOs sur­ \idaJe do tema não parecem estar obrigando a disciplina a uma aposentadoria
preendentemente radicais nos níveis nacional e internacio nal, com () que reaçôcs prematura. Pelo contrário, é precisamente nesse momento que um foco mais
extrem amente localizadas podem vir a afetar a vida das nações. ime nso da antropologia <ie torna especial mente valioso. A ampl iação das açõcs
A esse respeitO, é es pecialmente útil COntrastar a separação rad ical de Handcl ­ ~ i l11 hó licas nWl13 escala global dá a C!itas ações um a ressonância que talvez possa­
man do ritual e do espetáculo com a visão de M arc Abéle.s de um a modernidade 111 0\ \cntir somente através da intim idade - agora definida numa série de novas

na qual a relação entre O local c o nacional ou supranacional está em constante filrll1<1S - da pesqu isa ernogrática.
fluxo, c na qual os "rdercntes" mais antigos se com binam com "processos" mo ­
dernos para prod uzir uma especificidade modernJ que é, não obstante, anali­
sável com os instrumentos desenvolvidos nl1 ma antropologi a mais amiga para
o csmdo exclusivamente das sociedades de contato. Abélcs, tal como Bencdict

Allderson (1983) e Bruce Kapferer (1988), observou a semelhan ça entre nacio­

nn lismo c coml1 nidade religiosa. Eu ac rescentaria que o modelo du rk.heimiano

de religião como <;oc iedadc adorando a si própria (DURKHEIM, 1925 , 1915)

é muito rmús oposta ao caso do nacionalismo, como Gellncr ta mbém reconhe­

cc u (1 983: 56) , como janlais () foi p~u'a a religião australi~U1a que Durkhei m via

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