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Bernie Sanders e o feminismo dos 99%

Esta eleição apresenta uma escolha clara. Qual é o


nosso objetivo principal ou mais urgente: instalar uma
mulher na Casa Branca e torcer para que os ganhos
cheguem a todas? Ou participar e ajudar a criar uma
campanha que priorize diretamente as necessidades e
esperanças da grande maioria das mulheres? Bernie
Sanders é a verdadeira escolha feminista.

Publicado em 13/02/2020 // 1 comentário

(https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2020/02/gettyimages-1164492971.jpg)
Apoiadoras em campanha para Bernie Sanders, 26 de julho de 2019, Santa Monica,
Califórnia. (Mario Tama / Getty Images)

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Por Nancy Fraser e Lisa Featherstone.

Publicado originalmente na Jacobin Mag (https://jacobinmag.com/2020/02


/bernie-sanders-feminism-2020-democratic-race-women). A tradução é de Cauê
Ameni, para a Jacobin Brasil (https://jacobin.com.br/2020/02/bernie-sanders-
e-o-feminismo-dos-99/).

Somos feministas e estamos votando em Bernie Sanders. Apoiamos Sanders


precisamente porque somos feministas.

Elizabeth Warren, Amy Klobuchar e seus apoiadores, incluindo os do conselho editorial


do New York Times, defendem fortemente que chegou a hora de uma mulher ser
presidente. Warren e seus apoiadores têm sido especialmente persistentes nesses
apelos à política de gênero. Se Bernie Sanders não estivesse na corrida eleitoral,
poderíamos concordar. Mas a campanha de Sanders representa uma oportunidade
histórica – sobretudo para as mulheres.

Não nos interpretem mal. Gostaríamos de ver uma mulher presidente tanto quanto
qualquer outra pessoa. Mas isso não pode nos custar a chance de construir um
movimento que possa realmente melhorar a vida da grande maioria das mulheres. A
campanha Sanders oferece exatamente essa chance.

Todo mundo sabe que Sanders defende os interesses dos 99% contra os da “classe
bilionária”. O que é menos compreendido é que sua campanha – e o crescente
movimento por trás dela – tratam efetivamente o sexismo, não apenas suas formas
cotidianas, mas também suas raízes mais profundas da sociedade capitalista.

Embora as políticas de Bernie – Medicare for All, mensalidade gratuita de faculdade


pública, salário mínimo de US $ 15, um Green New Deal, fortalecendo sindicatos – nem
sempre sejam reconhecidas como feministas, elas visam abordar questões sociais
causadas por gênero, mas também como por classe e raça.

Afinal, a grande maioria dos trabalhadores com baixos salários é formada por mulheres.
Aumentar o salário mínimo é aumentar imediatamente a liberdade feminina – tanto no
trabalho quanto em casa. E expandir os direitos de negociação coletiva é nos dar uma
arma poderosa na luta contra o assédio e agressão sexual no local de trabalho.

Da mesma forma, o Medicare for All, que Sanders apoia enfaticamente, beneficia
prioritariamente as mulheres, que usam mais serviços de saúde do que os homens e,
portanto, têm custos médicos mais altos. Os ganhos são especialmente altos para
mulheres negras, latinas e indígenas, que não têm seguro e normalmente são cobradas
com taxas mais altas do que as mulheres brancas no atual sistema com fins lucrativos.

Depois, há o Green New Deal, que é corretamente entendido para beneficiar a todos.
Mas isso ocorre porque a política não é apenas ecológica e pró-classe trabalhadora,
mas também anti-sexista e anti-racista. Atualmente, mulheres e negros são forçados a
lutar com unhas e dentes pelo básico da sobrevivência, como água limpa em Flint ou
Dakota. Ganharão mais com o investimento em infraestrutura verde – e com os
empregos
2 of 8 sindicais bem remunerados que o acompanham. O   Green18/03/2020
New Deal19:24
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incorpora uma promessa ativista – de enfrentar as políticas capitalistas que incendeiam
o planeta – e os tendões racistas e patriarcais entrincheirados que mantêm o sistema
estático no lugar.

(https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2019/11/capa.jpg)
No dia 8 de março de 2019, a Boitempo publicou o manifesto Feminismo para os 99%
(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/feminismo-para-os-99-um-
manifesto-849), escrito por Nancy Fraser, Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya.

De todos os candidatos na disputa atualmente, Sanders também é de longe o mais forte


no que costuma ser chamado de “questões de gênero”: direitos reprodutivos,
assistência à infância, licença familiar e direitos trans. É fácil expressar essas palavras,
e alguns dos outros candidatos o fazem, mas a campanha de Sanders identifica os
recursos sociais materiais necessários para transformar direitos no papel em
liberdades reais na prática. A versão de Bernie do   Medicare for All, por exemplo,
fornece acesso total aos cuidados de saúde reprodutiva, incluindo o aborto, algo pelo
qual as feministas lutam há décadas. Esta é a única posição verdadeiramente pró-
escolha: afinal, de que serve o direito ao aborto se você não puder pagar um ou
encontrar um provedor?

Certamente, Elizabeth Warren merece crédito por pautar questões sobre os cuidados
infantis e falar eloquentemente sobre isso na campanha. Mas Bernie Sanders vem
defendendo o cuidado universal das crianças há décadas, apoiando uma lei em 2011
com o objetivo de fornecer cuidados infantis e educação infantil a todas as crianças,
desde as seis semanas até o jardim de infância. Sanders também é o único candidato
sério na corrida para proteger, melhorar e organizar melhor a educação pública do
ensino fundamental e médio (a coisa mais próxima que nossa sociedade tem da
assistência universal à infância), inclusive aumentando o salário de sua força de
trabalho (majoritariamente feminina).

Em
3 of 8 geral, a campanha de Sanders não trata os “problemas femininos” 18/03/2020
como meros 19:24
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complementos. Diferentemente das propostas políticas da maioria de seus rivais,
Bernie presume que as reformas na organização do trabalho assalariado devem
acompanhar as reformas na organização do trabalho não remunerado – e vice-versa.
Expressam, assim, uma questão feminista central: os dois domínios estão tão
profundamente entrelaçados que nenhum deles pode ser transformado sozinho, isolado
do outro. Somente uma reforma coordenada de ambas ao mesmo tempo pode permitir a
participação plena e igual das mulheres na sociedade.

Sanders também é a melhor opção feminista em imigração e política externa. Nosso


país desencadeou uma violência militar catastrófica no Afeganistão, Iraque e em outras
partes do Oriente Médio; patrocinou incontáveis golpes e esquemas imperialistas
desestabilizadores na América Central e do Sul – todos com consequências diretas na
questão de gênero. Nessas regiões, como em outros lugares, as mulheres são as
principais responsáveis pela segurança e sobrevivência das famílias e comunidades.
Esse trabalho, sempre desafiador, torna-se punitivo, quando a violência, o conflito e a
repressão autoritária tornam impossível a vida cotidiana normal. As mulheres são as
responsáveis globalmente pela criação da próxima geração, tentando proteger as
crianças quando fogem da violência em casa e enfrentando uma fronteira militarizada
num regime norte-americano que prende até crianças. Sanders e o movimento por trás
dele são as únicas forças políticas que pretendem mudar nossa política externa e de
imigração assassinas, uma prioridade para qualquer movimento feminista sério.

Igualmente importante, a campanha de Sanders identifica corretamente as forças


sociais que impedem seus objetivos feministas e pró-classe trabalhadora. A classe
bilionária e as megacorporações (bancos, produtos farmacêuticos, TI, seguros e
empresas de combustíveis fósseis), como Bernie costuma enfatizar. As feministas têm
um dever especial de opor-se aos neoliberais progressistas na esquerda: aquelas que se
entusiasmam em conversar com plutocratas enquanto abandonam a grande maioria das
mulheres à predação corporativa. Também devemos nos opor àqueles que
instrumentalizam as queixas de gênero, empregando-as não para beneficiar as
mulheres, mas para minar Sanders, dividir a esquerda e reforçar as cabalas centristas
e conservadoras que nos prejudicaram repetida e insensivelmente nos últimos anos.

Por outro lado, a campanha Sanders identifica corretamente nossos aliados mais
prováveis e promissores: sindicatos, anti-racistas, imigrantes, ambientalistas e todo
tipo de “trabalhadores” – remunerados e não remunerados. Apenas aliando-se a essas
forças que as feministas podem reunir o poder que precisamos para derrotar nossos
inimigos e obter justiça social.

Na ausência de tal perspectiva e das alianças que ela ajuda a promover, as feministas
correm o risco de ser sugadas para o tipo de aliança profana com Wall Street que
garantiu a indicação de Hillary Clinton em 2016 e, assim, nos trouxe Donald Trump. A
última coisa que precisamos fazer agora é repetir esse desastre!

Por fim, as feministas devem considerar em quem se pode contar entre as candidatas
para lutar pelas mulheres – e por todos os 99%. Outros candidatos têm algumas
propostas feministas em seus programas. E eles simultaneamente sinalizaram sua
disposição de fazer as pazes com a classe doadora mais a frente. Entre os candidatos,
apenas Sanders entende a necessidade de uma luta popular de massas. Somente sua
campanha está comprometida em construir um movimento para o tipo de mudança
estrutural de que as mulheres precisam.
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A 8campanha de Sanders também entende que esse movimento exige a 18/03/2020
expansão 19:24
de
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nosso senso de solidariedade. Ao nos pedir para “lutar por pessoas que não
conhecemos”, desafia as feministas a participarem de ações anti-racistas, ecológicas, a
favor dos imigrantes, trabalhistas e outras lutas da classe trabalhadora, assim como
também a luta contra o sexismo.

Vamos enfrentar esse desafio?

Esta eleição apresenta uma escolha clara. Qual é o nosso objetivo principal ou mais
urgente: instalar uma mulher na Casa Branca e torcer para que os ganhos cheguem a
todas? Ou participar e ajudar a criar uma campanha que priorize diretamente as
necessidades e esperanças da grande maioria das mulheres? Da mesma forma, qual é o
verdadeiro significado do feminismo e da igualdade das mulheres: paridade
masculino/feminino dentro das classes privilegiadas? Ou igualdade de gênero em uma
sociedade organizada para o benefício dos 99%?

Em outras palavras: seremos sugados por invocações cínicas do feminismo daqueles


que buscam minar um movimento progressista de massas? Ou apoiaremos o único
candidato na corrida que está promovendo uma política que realmente melhorará a
vida de todas as mulheres que pertencem aos 99%?

Bernie Sanders é esse candidato. Portanto, como somos feministas, orgulhosamente


declaramos nosso apoio a ele.

Sanders é a verdadeira escolha feminista.

POR UM FEMINISMO PARA OS 99% | com Talíria Petrone

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Bernie Sanders e o feminismo dos 99% – Blog d... https://blogdaboitempo.com.br/2020/02/13/bern...

(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/capitalismo-em-debate-911)

Capitalismo em debate (https://www.boitempoeditorial.com.br/produto


/capitalismo-em-debate-911) faz ao leitor o irrecusável convite de se
juntar a uma conversa entre Nancy Fraser e Rahel Jaeggi. Construída de
modo não ortodoxo, a obra se apresenta como um verdadeiro debate entre
as filósofas em torno do contexto atual do capitalismo, levando em conta
problemas econômicos, sociais, políticos e ambientais.

Estruturada em quatro capítulos – “Conceitualizando o capitalismo”,


“Historicizando o capitalismo”, “Criticando o capitalismo” e, finalmente,
“Contestando o capitalismo” –, essa conversa na teoria crítica induz o leitor
a refletir sobre o que define o capitalismo, sobre as transformações e as
permanências desse modelo ao longo da história, sobre como criticá-lo e
como se contrapor a ele. Ao abordar temas de tamanha complexidade de
forma acessível, sem abrir mão do rigor conceitual, Nancy Fraser e Rahel
Jaeggi permitem-se aprofundamentos teóricos e críticos ao mesmo tempo
que se abrem a novos públicos. Uma obra essencial para tempos que,
cada vez mais, demandam uma transposição do conhecimento teórico para
além dos moldes acadêmicos tradicionais em busca de chaves de
compreensão e intervenção na contemporaneidade.
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(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/capitalismo-em-debate-911)

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Nancy Fraser é professora de filosofia e política na cadeira Henry and Louise A. Loeb
da New School for Social Research, na cidade de Nova York. Além de ter coescrito o
manifesto Feminismo para os 99% (https://www.boitempoeditorial.com.br/produto
/feminismo-para-os-99-um-manifesto-849), é autora, entre outros, de Fortunes of
Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis (Verso, 2013) e
Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica
(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/capitalismo-em-debate-911) (Boitempo,
2020), escrito com Rahel Jaeggi, que será publicado pela Boitempo em 2020. Grande
apoiadora da Greve Internacional das Mulheres, cunhou a frase “feminismo para os
99%”.

Liza Featherstone é colunista da Jacobin, jornalista freelancer e autora de Selling


Women Short: The Landmark Battle for Workers’ Rights at Wal-Mart.

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