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11 TEMAS IMPORTANTES DA (NOVA) LEI DE ABUSO DE

AUTORIDADE
@DICASJURIDICASFTO

Sumário

DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO E A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ............................................ 1


ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL NOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE ............................... 3
CRIME DE HERMENÊUTICA E A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE .................................................. 4
SUJEITO ATIVO E A POSSIBILIDADE DE CONCURSO DE PESSOAS.................................................. 7
EFEITOS DA CONDENAÇÃO ........................................................................................................... 8
OMISSÃO NA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE
ABUSO DE AUTORIDADE ............................................................................................................... 9
CRIME DO ART. 13, INCISO III E o “NEMO TENETUR SE DETEGERE” ........................................... 11
CRIME DO ART. 25 E O INSTITUTO DA “SERENDIPIDADE” ......................................................... 13
PROCEDIMENTO COM A NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................................ 15
LEI DE PRISÃO TEMPORÁRIA E A NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................... 18
LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E A NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ...................... 19

DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO E A LEI DE


ABUSO DE AUTORIDADE

Quando se fala em direito penal ou sistema penal, há uma ideia


de compreensão formal e oficial, ou seja, é aquela área do direito com
atuação desenvolvida pelo Estado, através de seus agentes.

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Corresponderia, pois, a um controle social institucionalizado, a


partir de agências estatais de controle, Poder Legislativo, Executivo,
aparato policial, juízes, membros do Ministério Público, agentes
penitenciários, etc.

No entanto, analisando de modo crítica a sociedade, o professor


Raúl Eugênio Zaffaroni passou a trabalhar com a ideia de um “direito
penal subterrâneo”.

A marca fundamental desse direito penal SUBTERRÂNEO é


uma espécie de hibridismo em sua essência, uma vez que ele está
intimamente atrelado a agentes e instituições estatais, mas em atuação à
margem da lei, na escuridão.

Isso porque ele seria exercido pelas mesmas agências e


instituições que compõem o sistema punitivo criminal formal e oficial, mas
com uma atuação arbitrária, marginalizada, ao arrepio da lei e dos aparatos
de controle, servindo a interesses pouco ou nada republicanos, amiúde com
a complacência do próprio Estado. Logo, trata-se de um exercício
IRREGULAR de poder punitivo estatal.

Ressalta-se que a expressão “Direito Penal Subterrâneo” é


coerente e correta, vez que se trata daquele “praticado ao arrepio da
legalidade”, às escuras (ou obscuramente), envolvendo tortura, arbítrio,
cárcere privado, sempre com o fim de “tutelar a interesse público e
combater a criminalidade”.

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Esse direito penal subterrâneo revela a falência do Estado


Democrático de Direito e suas instituições, razão pela qual deve ser
integralmente rechaçado e não tolerado. Infelizmente, no Brasil, sabemos
que ele existe e de maneira intensa.

Nesse contexto, nota-se que os delitos de abuso de autoridade


constituem expressão do “Direito Penal Subterrâneo”, uma vez que,
conforme supramencionado, essa terminologia se refere aos crimes
decorrentes do exercício arbitrário do direito de punir por determinados
agentes públicos, a exemplo de torturas e homicídios cometidos pelas
agências executivas de controle. Este fenômeno surge e ganha corpo
notadamente em face da ineficácia dos órgãos estatais (Polícias, Ministério
Público, Poder Judiciário, etc.).

ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL NOS CRIMES


DE ABUSO DE AUTORIDADE

Nos termos do art. 1º, § 1o, da Lei de Abuso de Autoridade, “as


condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade
quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho
ou satisfação pessoal”.

É possível notar que todos os delitos previstos na Lei de Abuso


de autoridade são dolosos e, ainda, exigem-se um elemento subjetivo

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especial (especial fim de agir, “dolo específico”), isto é, agir animado por
um dos elementos subjetivos descritos no parágrafo.

Assim, para restar caracterizado o crime de abuso de autoridade é


necessário que haja a finalidade específica (de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou
satisfação pessoal).

Neste ponto, para Rogério Sanches Cunha e Rogério Greco, a


exigência deste elemento subjetivo em todos os tipos incriminadores
restringe a norma de tal forma que o dolo eventual fica descartado,
devendo a finalidade específica ser apontada na peça inaugural, sob pena
de ser rejeitada, pois o réu não conseguirá se defender das acusações.

CRIME DE HERMENÊUTICA E A LEI DE ABUSO


DE AUTORIDADE

A atuação dos operadores do Direito envolve constantemente a


interpretação de leis e atos normativos e a apreciação de fatos e provas, por
isso o § 2o deixa claro que a lei de abuso de autoridade não trata de crimes
de hermenêutica, divergências na interpretação da lei ou na avaliação dos
fatos e provas. Tais condutas, por si só, não poderiam ser punidas como
abuso de autoridade.

O objetivo deste dispositivo foi o de evitar aquilo que Rui


Barbosa chamou de “crime de hermenêutica”, que ocorre quando o

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operador do Direito (em especial o magistrado) é responsabilizado


criminalmente pelo simples fato de sua intepretação ter sido considerada
errada pelo Tribunal revisor.

O tema não é novo e, como dito, Rui Barbosa, há muitos anos, já


condenava as tentativas de se criar o “crime de hermenêutica”:

“Para fazer do magistrado uma impotência equivalente, criaram


a novidade da doutrina, que inventou para o Juiz os crimes de
hermenêutica, responsabilizando-o penalmente pelas rebeldias
da sua consciência ao padrão oficial no entendimento dos textos.
Esta hipérbole do absurdo não tem linhagem conhecida: nasceu
entre nós por geração espontânea. E, se passar, fará da toga a
mais humilde das profissões servis, estabelecendo, para o
aplicador judicial das leis, uma subalternidade constantemente
ameaçada pelos oráculos da ortodoxia cortesã. Se o julgador,
cuja opinião não condiga com a dos seus julgadores na análise
do Direito escrito, incorrer, por essa dissidência, em sanção
criminal, a hierarquia judiciária, em vez de ser a garantia da
justiça contra os erros individuais dos juízes, pelo sistema dos
recursos, ter-se-á convertido, a benefício dos interesses
poderosos, em mecanismo de pressão, para substituir a
consciência pessoal do magistrado, base de toda a confiança na
judicatura, pela ação cominatória do terror, que dissolve o
homem em escravo. (...)” (Obras Completas de Rui Barbosa,
Vol. XXIII, Tomo III, p. 228).

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Na vigência da antiga Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº


4.898/65), a jurisprudência já rechaçava a possibilidade de se
responsabilizar criminalmente o magistrado pela mera divergência de
interpretação:

(...) 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com


o vício in judicando e in procedendo, razão por que, para a
configuração do delito de abuso de autoridade há necessidade
da demonstração de um mínimo de "má-fé" e de "maldade" por
parte do julgador, que proferiu a decisão com a evidente
intenção de causar dano à pessoa.
2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida
contra a atuação do magistrado sem a configuração mínima do
dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não
restou demonstrado na própria descrição da peça inicial de
acusação para se caracterizar o abuso de autoridade. (...)
STJ. Corte Especial. APn 858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 24/10/2018.

Ocorre que há casos em que não haverá como alegar


“divergência na interpretação”, nas hipóteses em que a ordem é
manifestamente ilegal. Um exemplo seria a decretação da prisão preventiva
em 2019 pela prática de um crime que ocorreu em 2010 por alguém que
não exerce mais cargo público ou função de poder, além disso, não há
notícia de reiteração criminosa. Nesses casos não há divergência, pois são
matérias pacificadas. A decisão foi teratológica.

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Importante: Qual a natureza jurídica do § 2o do art. 1? Há


divergência na doutrina. Para uma corrente, trata-se de exclusão de
ilicitude. No entanto, para Rogério Greco e Rogério Sanches, trata-se de
excludente do fato típico, pois elimina o dolo da conduta, razão pela qual
o § 2o foi colocado logo em seguida, topograficamente, ao artigo 2o que
trata da finalidade especial que deve animar o agente público.

SUJEITO ATIVO E A POSSIBILIDADE DE


CONCURSO DE PESSOAS

De acordo com o caput do art. 1o, da Lei de Abuso de


Autoridade, o agente público pode ser servidor público ou não e, para a
prática do crime de abuso de autoridade, é desnecessário que o sujeito
esteja no exercício das suas funções, bastando que ele abuse do poder a ele
conferido a pretexto de exercer essas funções.

Ademais, os crimes previstos na Lei no 13.869/2019 são crimes


próprios, isto é, só podem ser praticados por “agentes públicos”, nos termos
do art. 2o.

A questão seria: É possível o concurso de pessoas na prática


do crime de abuso de autoridade?

A resposta é positiva! Isso porque, embora sejam crimes


próprios, os delitos previstos na Lei no 13.869/2019 admitem a coautoria e

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a participação, pois a qualidade de “agente público”, por ser elementar do


tipo, comunica-se aos demais agentes, nos termos do art. 30 do Código
Penal, desde que eles tenham conhecimento dessa condição pessoal do
autor.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO

De acordo com o art. 4o da Lei de Abuso de Autoridade, “São


efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano
causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na
sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos por ele sofridos”.

A primeira parte deste inciso (“tornar certa a obrigação de


indenizar o dano causado pelo crime”) é um efeito automático da
condenação, de maneira que não precisa ser prevista expressamente na
sentença.

Já a segunda parte (“a requerimento do ofendido, fixar valor


mínimo para reparação dos danos...”) é um efeito específico e não
automático, que deve ser expressamente mencionado na sentença. Se a
vítima não requerer, caberá a ela tão somente liquidar no juízo cível seu
título executivo judicial, isto é, a sentença penal condenatória. Portanto,
prevalece que este pedido deve constar expressamente na denúncia ou
queixa.

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O inciso II do aludido artigo, por sua vez, trata da inabilitação


para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1
(um) a 5 (cinco) anos.

Estamos diante de efeito específico e não automático, que


depende de expressa motivação, sendo condicionado à reincidência em
crime de abuso de autoridade. Se o agente se exonerou, foi demitido ou
renunciou, antes da condenação, pode o juiz aplicar apenas este efeito.

Por fim, o inciso III dispõe ser efeito da condenação a perda do


cargo, do mandato ou da função pública. Trata-se de efeito específico e não
automático, que depende de expressa motivação, sendo condicionado à
reincidência em crime de abuso de autoridade. É efeito alternativo ou
cumulativo com o inciso II.

OMISSÃO NA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE


CUSTÓDIA E CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE
ABUSO DE AUTORIDADE

Caso haja omissão da realização da audiência de custódia, NÃO


há que se falar em crime de abuso de autoridade.

Os tribunais superiores não tem reconhecido ilegalidade, sequer


passível de concessão de habeas corpus. Logo, qualquer nulidade do
flagrante fica superada com a decretação da prisão preventiva.

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Nesse sentido vem entendendo o Superior Tribunal de Justiça,


senão vejamos:

A falta da audiência de custódia não enseja nulidade da prisão


preventiva, superada que foi a prisão em flagrante, devendo ser
este novo título de prisão aquele a merecer o exame da
legalidade e necessidade. STJ. 6a Turma. RHC 99.091/AL, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/09/2018.

A alegação de nulidade da prisão em flagrante em razão da não


realização de audiência de custódia no prazo legal fica superada
com a conversão do flagrante em prisão preventiva, tendo em
vista que constitui novo título a justificar a privação da
liberdade. STJ. 5a Turma. HC 444.252/MG, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 23/08/2018.

Por força do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, da Convenção


Interamericana de Direitos Humanos e como decorrência da cláusula do
devido processo legal, a realização de audiência de apresentação
(“audiência de custódia”) é de observância obrigatória.

Ademais, esta audiência não pode ser dispensada sob a


justificativa de que o juiz já se convenceu de que a prisão preventiva é
necessária.

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A audiência de apresentação constitui direito subjetivo do preso


e, nessa medida, sua realização não se submete ao livre convencimento do
Juiz, sob pena de cerceamento inconvencional.

A conversão da prisão em flagrante em preventiva não traduz,


por si, a superação da flagrante irregularidade, na medida em que se trata
de vício que alcança a formação e legitimação do ato constritivo.

Desse modo, caso o juiz não tenha decretado a prisão preventiva,


o Tribunal deverá reconhecer que houve ilegalidade e determinar que o
magistrado realize a audiência de custódia. STF. 1a Turma. HC 133992,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/10/2016.

CRIME DO ART. 13, INCISO III E o “NEMO


TENETUR SE DETEGERE”

Nos termos do art. 13, inciso III, da Lei de Abuso de Autoridade:


“Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou
redução de sua capacidade de resistência, a (...) III - produzir prova
contra si mesmo ou contra terceiro: Pena - detenção, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência”.

O inciso III consagra o direito fundamental a não


incriminação, prevê o direito de não produzir prova contra si mesmo,
conhecido através do brocardo “nemo tenetur se detegere”.

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O princípio nemo tenetur se detegere, tem um significado literal


de “não produzir provas contra si mesmo”, sendo chamado pela doutrina de
princípio da presunção de inocência ou ainda princípio do estado de
inocência.

O silêncio do acusado traduz-se como exercício da


individualidade e personalidade, inserindo-se também no direito à
privacidade e fulcrado no vetor maior que é o principio da dignidade da
pessoa humana, e que rege as relações entre o Estado e o indivíduo.

É corolário do princípio contra a autoincriminação traduzido pela


máxima latina nemo tenetur se detegere (ninguém está obrigado a se
descobrir), expressado também pelo nemo tenetur seipsum accusare
(ninguém está obrigado a se auto acusar), nemo tenetur prodere seipsum,
quia nemo tenetur detegere turpitudinem suam (ninguém está obrigado a
depor contra si próprio, porque ninguém é obrigado a revelar a sua
torpeza), nemo tenetur contra se facere (ninguém é obrigado a agir contra si
mesmo).

Na Lei de Abuso de Autoridade, entretanto, o legislador vai além


e afirma que haverá crime também quando o preso é forçado a
produzir prova contra terceiro.

Ocorre que, em virtude do princípio da legalidade estrita, se o


constrangimento se der em face de uma pessoa que está respondendo a
um processo em liberdade, não há crime. Logo, constranger um

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investigado, sob grave ameaça, a produzir prova contra terceiro não


caracteriza este crime.

CRIME DO ART. 25 E O INSTITUTO


DA “SERENDIPIDADE”

De acordo com o art. 25 da Lei de Abuso de Autoridade,


“Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou
fiscalização, por meio manifestamente ilícito: Pena - detenção, de 1 (um) a
4 (quatro) anos, e multa”.

Insta destacar que a obtenção de prova ilícita, que configura


crime, pode ocorrer em processo de investigação ou fiscalização em outros
âmbitos além do penal. Logo, o abuso de autoridade não se limita à
produção de prova ilícita na seara penal.

Nota-se que a pena é de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e


multa (infração de médio potencial ofensivo, sendo cabível a suspensão
condicional do processo).

O crime previsto no art. 25 está intimamente ligado com o


instituto da “serendipidade” (ou encontro fortuito de provas).

A serendipidade consiste, basicamente, no encontro fortuito de


provas. Se durante a diligência probatória, for acidentalmente descoberta

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outra prova, em regra, ela será aproveitada, desde que não exista desvio de
finalidade na diligência.

Não é possível posteriormente à localização dos objetos próprios


da busca e apreensão.

Ademais, não pode estar procurando em local em que seria


impossível encontrar o objeto real da busca e apreensão.

Classificação:
a) descoberta fortuita de novos infratores (serendipidade
subjetiva) – neste caso, segundo o entendimento prevalente, a interceptação
valerá contra todos; desde que haja conexão.

b) descoberta fortuita de novas infrações (serendipidade objetiva


– inclusive se o crime for apenado com detenção) – em que:

• Serendipidade objetiva de primeiro grau – Se as infrações são


conexas, a interceptação vale como prova para todos os delitos, mesmo
quando o delito conexo seja apenado com detenção;

• Serendipidade objetiva de segundo grau – Se as infrações não


são conexas, a interceptação funcionará como mera notícia crime,
permitindo a instauração de inquérito policial.

Desse modo, se a autoridade proceder a obtenção de prova, em


procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente

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ilícito, restará caracterizado o crime previsto no art. 25 da Lei de Abuso de


Autoridade.

PROCEDIMENTO COM A NOVA LEI DE ABUSO


DE AUTORIDADE

Nos termos do art. 39, “Aplicam-se ao processo e ao julgamento


dos delitos previstos nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-
Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da
Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995”.

É possível verificar que, positivamente, o legislador não criou


um procedimento próprio para a apuração de crimes de abuso de
autoridade, e determinou a aplicação do CPP e a Lei dos Juizados
Especiais, no que couber.

Ademais, a depender da situação, será aplicada a lei 8.038/90,


nos casos em que o sujeito ativo possui foro por prerrogativa de função, por
exemplo.

Segundo o STJ, o art. 6o da Lei no 8.038/90 prevê que o Tribunal


irá se reunir para analisar a denúncia ou queixa oferecida, podendo: 1)
receber a denúncia (ou queixa); 2) rejeitar a denúncia (ou queixa); 3) julgar
improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas. Logo,
o Tribunal, ao examinar se a denúncia tem ou não aptidão para ser recebida
(hipótese 2 acima), deverá se basear no art. 395 do CPP (que trata sobre as

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situações de rejeição da denúncia). Caso o Tribunal entenda pela


improcedência da acusação, essa decisão deve ser pautada pelo disposto no
art. 397 do CPP (que trata sobre absolvição sumária). Ao rito especial da
Lei no 8.038/90 aplicam-se, subsidiariamente, as regras do procedimento
ordinário (art. 394, § 5o, CPP), razão pela qual eventual rejeição da
denúncia é balizada pelo art. 395 do CPP, ao passo que a improcedência da
acusação (absolvição sumária) é pautada pelo disposto no art. 397 do CPP.
STJ. Corte Especial. APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
23/09/2019 (Info 657).

Nota-se que a lei de abuso de autoridade criou um padrão:

1. CRIMES SÃO PUNIDOS COM DETENÇÃO DE SEIS


MESES A DOIS ANOS: Crimes de menor potencial ofensivo – pena
máxima não superior a dois anos = aplica a Lei 9.099/95.

1. CRIMES SÃO PUNIDOS COM DETENÇÃO DE UM


A QUATRO ANOS: Crimes de médio potencial ofensivo – pena de
um a quatro anos = aplica o CPP.
Mas qual rito? Comum ordinário (art. 394 e ss.) ou
especial dos crimes funcionais próprios (arts. 513 e ss.)?
*Para Rogério Greco e Rogério Sanches deve ser aplicado
o rito especial dos crimes funcionais.

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O GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DE


CENTRO DE APOIO CRIMINAL – GNCCRIM trouxe alguns enunciados
relacionados a esse tema, senão vejamos:

a) ENUNCIADO 24 (art. 39) Os crimes de abuso de autoridade


com pena máxima superior a dois anos, salvo no caso de foro por
prerrogativa de função, são processados pelo rito dos crimes funcionais,
observando-se a
defesa preliminar do art. 514 do CPP.

b) ENUNCIADO 25 (art. 39) Por ser privativa do servidor


público, o particular concorrente no crime de abuso de autoridade não faz
jus à preliminar contestação prevista no art. 514 do CPP.

c) ENUNCIADO 26 (art. 39) A inobservância do disposto no


artigo 514 do CPP é causa de nulidade relativa, devendo ser alegada no
tempo oportuno, comprovando-se o prejuízo, sob pena de preclusão.

d) ENUNCIADO 27 (art. 39) A formalidade do art. 514 do CPP


é dispensável quando a denúncia envolver, além do crime funcional, delito
de outra natureza, ambos em concurso.

e) ENUNCIADO 28 Crimes de abuso de autoridade, cometidos


sem violência ou grave ameaça à pessoa, presentes os pressupostos do art.
18 da Res. 181/17 do CNMP, admitirão o acordo de não persecução penal,
salvo se a sua celebração não atender ao que seja necessário e suficiente
para a reprovação e prevenção do crime.

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f) ENUNCIADO 29 (representações indevidas) Representações


indevidas por abuso de autoridade podem, em tese, caracterizar crime de
denunciação caluniosa (CP, art. 339), dano civil indenizável (CC, art. 953)
e, caso o reclamante seja agente público, infração disciplinar ou político-
administrativa.

g) ENUNCIADO 30 (art. 256 CPP) A representação indevida por


abuso de autoridade contra juiz, promotor de Justiça, delegados ou agentes
públicos em geral, não enseja, por si só, a suspeição ante a aplicação da
regra de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, nos termos do
que disposto, inclusive, no art. 256 do CPP.

LEI DE PRISÃO TEMPORÁRIA E A NOVA LEI DE


ABUSO DE AUTORIDADE

A Prisão Temporária possui o prazo de 05 (cinco) dias nos


crimes comuns, prorrogável por igual período e de 30 (trinta) dias, também
prorrogáveis, nos crimes hediondos.

Acontece que os prazos legais comumente eram extrapolados,


desrespeitados, e, na maioria das vezes, era necessário a provocação do
juízo, ante a ausência de notícia de decretação de custódia preventiva, por
conta do evidente constrangimento ilegal configurado, seja por meio da
Defensoria Pública, seja por intermédio de um causídico particular
efetivamente contratado para tanto.

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Mas atenção: Com a nova regra, exige-se que o Mandado de


Prisão Temporária contenha necessariamente o período de sua
duração e, portanto, o dia em que o preso deverá ser libertado.

Após esse prazo, a Autoridade Coatora responsável pela custódia


deverá imediatamente proceder com a soltura do sujeito
independentemente de nova ordem da Autoridade Judicial (exceto se já
tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou da
decretação da prisão preventiva).

LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E A


NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE

Houve uma alteração muito importante neste ponto: A questão da


escuta ambiental sem autorização judicial ou com objetivos não previstos
em lei.

A gravação clandestina ambiental, a famosa “escuta”, dar-se-á


quando é feita alguma escuta telefônica em um determinado ambiente, sem
o uso de um aparelho de telefone. Realmente isso irá combater, ou, na pior
das hipóteses, inibir tais procedimentos.

Agora, com a nova Lei de Abuso de Autoridade, houve a


determinação de que sejam consideradas CRIME as interceptações

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telefônicas e as quebras de segredo de Justiça SEM autorização


judicial. Vejamos o tipo penal:

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações


telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental ou
quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos
não autorizados em lei: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que
determina a execução de conduta prevista no caput deste artigo com
objetivo não autorizado em lei.
Bibliografia

Abuso de autoridade. Lei 13.869/2019 Comentada artigo por


artigo – Rogério Greco e Rogério Sanches Cunha.

Julgados comentados pelo site Dizer o Direito e extraídos dos


sites dos Tribunais Superiores.

As 7 principais considerações na nova Lei de Abuso de


Autoridade, Renato Cunha (site: jusbrasil).

Material Lei de Abuso de Autoridade, Curso Ciclos.

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