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OS SINAIS

– O Senhor dá-se a conhecer com sinais suficientemente claros. Necessidade de boas


disposições interiores.

– Sentido sobrenatural para entender os fatos e acontecimentos que se dão na nossa vida e à
nossa volta. Humildade. Coração limpo. Presença de Deus.

– Conversão da alma para encontrarmos Jesus nos nossos afazeres.

I. O EVANGELHO DA MISSA1 apresenta-nos dois discípulos do Batista que


perguntam a Jesus: És tu o Messias que há de vir ou devemos esperar
outro? Devia rondar-lhes a alma alguma dúvida importante.

Nessa ocasião Jesus curou muitos das suas doenças, achaques e espíritos
malignos, e concedeu a vista a muitos cegos. Depois respondeu aos
enviados: Ide e contai a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a
vista, os coxos andam... Não há outro a quem esperar: Eu sou o Senhor e não
há outro2, declara-nos também na primeira leitura. Ele nos traz a felicidade que
esperamos e satisfaz todas as aspirações da alma. “Quem acha Jesus acha
um bom tesouro... E aquele que perde Jesus perde muito e mais do que todo o
mundo. Paupérrimo quem vive sem Jesus e riquíssimo quem está com Jesus”3.
Já não há nada mais alto a procurar. E vem como tesouro escondido4,
como pérola preciosa5, que é necessário saber avaliar.

Oculto aos olhos dos homens, que o esperam, Jesus nascerá numa gruta, e
uns pastores de alma simples serão os seus primeiros adoradores. A
simplicidade destes homens permitir-lhes-á ver o Menino que lhes anunciaram,
ajoelhar-se diante d’Ele e adorá-lo. Encontram-no também os Magos e o velho
Simeão, que esperava a consolação de Israel, e a profetisa Ana, e o próprio
João, que o identifica: Este é o Cordeiro de Deus..., e tantos que, ao longo dos
séculos, fizeram d’Ele o eixo e o centro do seu ser e da sua actuação. Também
nós o encontramos, e é a coisa mais extraordinária que nos podia ter
acontecido. Sem o Senhor, nada teria valor na nossa vida.

Deus sempre nos dá sinais suficientes para podermos descobri-lo. Mas são
necessárias boas disposições interiores para ver o Senhor que passa ao nosso
lado. Sem humildade e pureza de coração, é impossível reconhecê-lo, ainda
que esteja muito perto.

Pedimos agora a Jesus, na nossa oração pessoal, essas boas disposições


interiores e esse sentido sobrenatural de que precisamos para encontrá-lo
naquilo que nos rodeia: na natureza, na dor, no trabalho, num aparente
fracasso... A nossa própria história pessoal está cheia de sinais para que não
nos enganemos de caminho. Também nós podemos, pois, dizer aos nossos
irmãos, aos nossos amigos: Encontramos o Messias!, com a mesma segurança
e plena convicção com que André o disse ao seu irmão Simão.
II. TER SENTIDO SOBRENATURAL é ver as coisas como Deus as vê,
aprender a interpretar e julgar os acontecimentos sob o ângulo da fé. Só assim
entenderemos a nossa vida e o mundo em que estamos.

Às vezes, ouve-se dizer: “Se Deus fizesse um milagre, então, sim,


acreditaria n’Ele e o tomaria a sério”. Ou: “Se Deus me desse provas mais
contundentes da minha vocação, eu me entregaria a Ele sem reservas”.

O Senhor concede-nos luz suficiente para seguirmos o caminho. Luz na


alma e luz através das pessoas que Ele pôs ao nosso lado. Mas a vontade, se
não for humilde, tenderá a pedir novos sinais, que ela própria quererá julgar
outra vez se são ou não suficientes. Às vezes, por trás desse desejo
aparentemente sincero de novas provas para nos decidirmos a entregar-nos
mais plenamente a Deus, pode-se esconder uma forma de preguiça ou de falta
de correspondência à graça.

No começo da fé (ou da vocação), Deus geralmente acende uma pequena


luz que ilumina só os primeiros passos que temos que dar. Depois, é a
escuridão. Mas à medida que correspondemos com actos, a luz e a segurança
vão-se tornando maiores. E não há dúvida de que, perante uma alma que
procura cumprir generosamente a vontade divina, o Senhor sempre se
manifesta com toda a clareza: Ide e anunciai a João o que vistes...

O Senhor tem de encontrar-nos com essa disposição humilde e cheia de


autenticidade, que exclui os preconceitos e permite saber escutar. A linguagem
de Deus, ainda que ajustada ao nosso modo de ser, pode ser difícil de aceitar
em certas ocasiões, porque contraria os nossos projectos ou os nossos
caprichos, ou porque as suas palavras não são precisamente as que
esperávamos ou desejávamos ouvir... Às vezes, o ambiente materialista que
nos rodeia pode também apresentar-nos falsas razões contrárias à linguagem
com que Deus se manifesta. Escutamos então como que duas línguas
diferentes: a de Deus e a do mundo, esta última armada de razões
aparentemente “mais humanas”.

Por isso a Igreja nos convida a rezar: Ó Deus todo-poderoso e cheio de


misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma actividade terrena nos impeça de
correr ao encontro do vosso Filho, antes participemos da plenitude da sua vida,
instruídos pela vossa sabedoria6.

III. NÃO HÁ OUTRO por quem esperar. Jesus Cristo está entre nós e
chama-nos. “Ele deixou sobre este mundo as pegadas límpidas dos seus
passos, sinais indeléveis que nem o desgaste dos anos nem a perfídia do
inimigo conseguiram apagar. Iesus Christus heri et hodie; ipse et in
saecula (Heb 13, 8). Quanto gosto de recordá-lo: Jesus Cristo, o mesmo que
foi ontem para os Apóstolos e para as multidões que o procuravam, vive hoje
para nós e viverá pelos séculos. Somos nós, os homens, quem às vezes não
consegue descobrir o seu rosto, perenemente actual, porque olhamos com
olhos cansados ou turvos”7.

Foi com esse olhar turvo e de pouca fé que os conterrâneos de Jesus


olharam para Ele da primeira vez que voltou a Nazaré. Aqueles judeus só viram
em Jesus o filho de José8, e acabaram por expulsá-lo irritados; não souberam
ver mais. Não descobriram n’Ele o Messias que os visitava e que vinha redimi-
los.

Nós queremos ver o Senhor, relacionar-nos com Ele, amá-lo e servi-lo, como
objectivo principal da nossa vida. Não temos nenhum objectivo acima desse.
Que erro se andássemos com pequenezes, faltos de generosidade nas coisas
que se referem a Deus! “Abri totalmente as portas a Cristo! – anima-nos o
Sumo Pontífice –. Tende confiança n’Ele. Arriscai-vos a segui-lo. Isto exige
evidentemente que cada um saia de si mesmo, dos seus raciocínios, da sua
prudência, da sua indiferença, da sua auto-suficiência, de costumes não
cristãos que talvez tenha adquirido. Sim; isso pede renúncias, uma conversão,
que antes de mais nada deveis atrever-vos a desejar, pedir na oração e
começar a praticar.

“Deixai que Cristo seja o vosso caminho, verdade e vida. Deixai que seja a
vossa salvação e felicidade. Deixai que ocupe toda a vossa vida para
alcançardes com Ele as vossas máximas dimensões, a fim de que todas as
vossas relações, actividades, sentimentos e pensamentos sejam integrados
n’Ele ou, por assim dizer, sejam «cristificados». Eu vos desejo que, com Cristo,
reconheçais a Deus como princípio e fim da vossa existência”9.

Agora que está já próximo o Natal, devemos desejar uma vez mais uma
nova conversão, um regresso ao Senhor que nos permita contemplá-lo com um
olhar mais limpo, e nunca “com olhos cansados ou turvos”. Por isso
imploramos com a Igreja: Senhor nosso Deus, concedei-nos que esperemos
solícitos a vinda de Cristo, vosso Filho, a fim de que, ao chegar, nos encontre
vigilantes na oração e proclamando o seu louvor”10.

A Virgem Nossa Senhora ajudar-nos-á a lutar contra tudo o que nos afasta
de Deus, e assim poderemos preparar melhor a nossa alma para estas festas
que vamos celebrar, e guardar melhor os sentidos, que são como que as
portas da alma. Nunc coepi!: agora, Senhor, torno a começar, com a ajuda da
tua Mãe. Recorremos a Ela “porque Deus quis que não tivéssemos nada que
não passasse pelas mãos de Maria”11.

Como propósito deste tempo de oração, podemos oferecer a Deus o nosso


desejo de cumprir com fidelidade o plano de vida que tenhamos acertado com
o nosso director espiritual, ainda que talvez nos possa parecer difícil por
alguma circunstância.

A fortaleza da nossa Mãe, a Virgem, virá em ajuda da nossa debilidade e


nos fará compreender que para Deus nada é impossível12.
(1) Lc 7, 19-23; (2) Is 45, 7; (3) Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, II; (4) Mt 13, 44; (5) Mt
13, 45-46; (6) Oração do segundo domingo do Advento; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de
Deus, n. 127; (8) Lc 4, 22; (9) João Paulo II, Em Montmartre, 1-VI-1980; (10) Oração da
segunda-feira da primeira semana do Advento; (11) São Bernardo, Sermão 3, na Vigília do
Natal, 10; (12) Lc 1, 37.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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